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Ano IV - n O 15 - mar/2013 - R$ 3 lcligacomunista.blogspot.com - [email protected] Caixa Postal 09, CEP 01031-970, São Paulo, Brasil Orgão de propaganda da Liga Comunista O Bolchevique Professores/SP - Metalúrgicos/Campinas Tragédia em Santa Maria - Dia das Trabalhadoras Teoria Trotskista: Ditadura e Democracia Mali e Frente Única Antiimperialista Argentina: Fora a polícia da Universidade! Campanha de solidariedade contra a demissão de Gerry Downing + NESTA EDIÇÃO Carta ao Leitor: Drones e Luta de Classes METALÚRGICOS - GM Acordo escravocrata entre Sindicato do PSTU e a multinacional GM aumenta a jornada de trabalho, reduz o salário e permite a demissão de centenas de operários pais de família Contribuição Solidária R$ 5

O Bolchevique # 15

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Jornal da Liga Comunista

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O Bolchevique No15 - março de 2013 1

Ano IV - nO15 - mar/2013 - R$ 3

lcligacomunista.blogspot.com - [email protected]

Caixa Postal 09, CEP 01031-970, São Paulo, Brasil

Orgão de propaganda da Liga Comunista

O Bolchevique

Professores/SP - Metalúrgicos/CampinasTragédia em Santa Maria - Dia das Trabalhadoras

Teoria Trotskista: Ditadura e Democracia Mali e Frente Única Antiimperialista

Argentina: Fora a polícia da Universidade!Campanha de solidariedade contra a demissão de Gerry Downing

+ Nesta edição

Carta ao Leitor:

Drones e Luta de Classes

METALÚRGICOS - GMAcordo escravocrata entre Sindicato do PSTU e a multinacional GM aumenta a jornada de trabalho, reduz o salário e permite a demissão de centenas de operários pais de família

Contribuição Solidária R$ 5

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2 O Bolchevique No15 - março de 2013

CARTA AOS LEITORES 1

Um povo que oprime outros com drones, será também oprimido pelos drones operados por sua

burguesia imperialista

Os drones (zangões em inglês) ou os VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) são instrumentos de espionagem e/ou ataques militares possíveis graças ao desenvolvimento de tecnologias de informação, coleta de dados e de destruição cada vez menores e mais leves

que por isto podem ser acopladas ao aeromodelismo. A eminente expansão da utilização dos drones pelas polícias dos EUA e logo de muitos outros paí-ses segue as tendências de aumento do controle social que a burguesia e seu Estado necessitam exercer cada vez maior sobre a população. Seu atual uso em grande escala no Paquistão e em menor no Oriente Médio e África corresponde as demandas militares, políticas e econômicas do imperialismo.

Obama ascendeu em meio ao abalo no equilíbrio capitalista provocado pela crise econômica de 2008, e o descontentamento mundial contra o in-tervencionismo militar de Bush. Na relação entre os Estados, o rompimento deste equilíbrio pode ocasionar guerras ou, de forma menos intensa, guerras cambiais, bloqueios econômico,... e o estabelecimento de áreas de domínio blindado a um país imperialista, ou a um bloco de países imperialistas. A CRISE DE 2008 AQUECEU UMA NOVA GUERRA DE MOVIMENTOS NO OCEANO PACÍFICO

Aproveitando-se do desequilíbrio capitalista, emergem a China e a Rússia, dois Estados de formação histórica excepcional pelo fato de terem realizado as tarefas democráticas burguesas de libertação nacional (tarefas pendentes e não realizadas pelos países semi-coloniais), mediante ditaduras proletárias burocratizadas. Estes dois países, mais a China que a Rússia, canalizaram, até agora, a decadência da restauração capitalista através da extrema cen-tralização política, de grandes reservas energéticas ou de enormes exércitos de trabalho, além de permanecerem sendo potencias nucleares em expansão de suas capacidades militares [1].

Se é verdade que paulatinamente a restauração capitalista consome as vantagens comparativas através, por exemplo, da apropriação privada das terras no campo ou pela privatização do que é oferecido como salário indi-reto (baixos custos de habitação, transporte, moradia, saúde e educação), aumentando os custos de produção e os preços dos alimentos e da terra e, logo, contratendenciando o crescimento excepcional até agora.

Até 2020, Washington pretende reposicionar 60% dos seus 285 porta-aviões, navios e submarinos no Oceano Pacífico. Atualmente, a frota de gue-rra norte-americana divide-se equitativamente entre o Atlântico e o Pacífico. Tem havido um significativo aumento do número de exercícios militares na região dos EUA, Coréia do Sul, Taiwan, Japão, Coreia do Norte, Austrália. Obama girou o foco das intervenções militares diretas do Oriente Médio para a guerra de posições em torno da China (não por acaso o contingente militar no Afeganistão triplicou na gestão do democrata). Também reorienta a tática imperialista para a chamada de “liderança na retaguarda” de outras nações cujas tropas assumem a linha de frente intervencionista, como a França, Tur-quia, Israel, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, contra a Líbia e agora na Síria e o Mali.

No entanto, longe de diminuir as odiadas torturas e execuções “cirúrgi-cas” por bombardeios de aviões praticadas pela administração Bush, Obama ampliou-as com menor custo financeiro e político. É então que entram em cena os drones, um aeromodelismo militar para espionagem e assassinato em todo planeta, de forma furtiva, sem deslocamento de tropas por ar ou por mar, nem baixas humanas. AEROMODELISMO ASSASSINO IMPERIALISTA

Entre identificar e destruir um alvo inimigo dos EUA, antes a CIA levava em média três dias. Agora, com os aviões-robôs, bastam cinco minutos. Há 7.000 deles em operação. Relatórios da Agência de Jornalismo Investigativo Britânica (BIJ, na sigla em inglês) mostram que “no mínimo 2.629 pessoas foram mortas até agora por ataques de drones da CIA no Paquistão”. Todavia, o governo colaboracionista do Paquistão discorda deste número e diz que fo-ram aproximadamente quatro mil mortes. Mas o senador republicano Lindsey Graham, um partidário do uso dos drones, citou abertamente número que su-peram até os do governo Paquistanês e das agências de notícias: ‘Matamos 4.700’, afirmou Graham em estimativas citadas pelo site informativo Easley Patch. O senador nazi-ianque disse que o programa drone “tem sido muito

eficaz, nós não temos quaisquer tropas naquela área...” e antecipa os planos contra os imigrantes latinos: “Drones são necessários ao longo da fronteira com os EUA: Eu não quero armá-los, mas precisamos de drones ao longo da fronteira, para que possamos realmente controlar a imigração ilegal”. [2]

Ao nomear John Brennan, um defensor dos drones e das técnicas de tortura, para o comando da CIA, Obama ratificou sua aposta nesta como a sua principal arma de guerra. A “guerra ao terror” rebatizada por Obama de uma abstrata e singela denominação de “operações de contingência no além-mar” é agora muito mais eficaz embora menos visível como o são os próprios drones.

No dia 20 de outubro de 2011, quando o governante líbio Muamar Kadafi fugia da cidade de Sirte em um comboio, foi um drone Predator, americano, que primeiro disparou um míssil e interceptou os carros. Em setembro de 2012, um drone bombardeou o carro de Anwar al Awlaki, o americano de origem árabe no Iêmen. Ele e mais três outros posteriormente identificados como membros da Al Qaeda foram fulminados. OBAMA AGORA APONTA SEUS VANTs ASSASSINOS CONTRA OS PRÓ-PRIOS ESTADUNIDENSES

A partir do último precedente Obama quer lançar seus aviões robôs que custam 1/3 dos caças comuns a caçada de “terroristas” estadunidense dentro do próprio território. E logo adaptá-los para o combate policial nas cidades. Como um tubo de ensaio do imperialismo, o enclave militar sionista, uma extensão avançada do Estado policial imperialista contra os povos oprimidos já está com movimentos bastante avançados para lançar enxames de drones e quadrotors voadores, drones vespas para vigilância, ataques seletivos, in-jeções letais, etc.

“Um povo que subjuga outro forja suas próprias cadeias”, parafraseando esta antiga formulação marxista, um povo que caça e mata outros com dro-nes será também caçado e morto pelos drones operados por sua burguesia imperialista. Enquanto seguir sendo intoxicado por sua burguesia imperialista e pela aristocracia sindical que também estimula a xenofobia e os preconcei-tos criminosos contra os povos oprimidos, o proletariado estadunidense tem como destino ser monitorado pelo “grande irmão”, agora também via drones, e ser alvo dos disparos dos mesmos. Somente a unidade internacional do proletariado de todos os países em uma grande conflagração revolucionária antiimperialista e anticapitalista poderá estabelecer que serão nossos inimi-gos os esmagados e não nós por sua parafernalha destruidora.

RQ-170

Enquanto os pacifistas se preocupam em pedir explicações e esclare-cimento sobre o uso dos drones (com o quê o próprio Obama demagogi-camente concordou [3]) e realizar impotentes manifestações para conter o uso desta tecnologia militar, os marxistas devem encarar esta arma de forma como encaram todas as armas que possam ser usadas em favor do combate ao imperialismo e seu aparato repressivo. Em que pese nossas diferenças de classe inconciliáveis com a burguesia teocrática e reacionária iraniana, saudamos que o Irã, nação oprimida e sob a mira da próxima guerra impe-rialista, tenha conseguido abater um drone RQ-170 e que após exibi-lo como troféu de guerra, tenha estripado o artefato, apropriado-se de sua tecnologia e vendido para outras nações oprimidas como parte da “guerrilha tecnológica e informática”.

Existindo em um infinito número de variedades e tamanhos, os drones são muito mais baratos e, portanto acessíveis aos países oprimidos (o Bra-sil desenvolve várias modalidades). Assim como utilizam-se de mísseis cuja plataforma de lançamento são jumentinhos, logo os guerrilheiros palestinos, trucidados por bombardeios mortíferos de urânio empobrecido da aviação isralense, também terão seus aeromodelos militarizados ou “drones caseiros” [4].

A POSIÇÃO DOS MARXISTAS SOBRE OS DRONES Como bem identificou Karl Marx em sues estudos sobre o cruel domínio bri-tânico sobre a Índia:

“na história humana há qualquer coisa semelhante a retribuição; e uma

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das regras da retribuição histórica é que o seu instrumento seja forjado não pelos agredidos mas pelos agre-didos” (A revolta na Índia, Londres, 4/09/1857).Como parte das próprias leis da luta

de classes, o proletariado não poderia ter ralizado as revoluções que realizou abrindo mão das armas mais destrui-doras desenvolvidas pelas classes do-minantes e limitando-se as pouco ofen-sivas pedras, arco e flexas, etc. Assim como defendemos o direito dos Estados operários burocratizados e nações opri-midas desenvolverem plenamente a tec-nologia de guerra nuclear, a insurgência antiimperialista e anticapitalista terá de se apropriar cada vez mais das novas tecnologias militares “forjadas pelos agressores”, como parte da guerra de classes mundial e nacional.

Diante de tão avançada máquina de destruição nas mãos de nossos pio-res inimigos alguns céticos poderão objetar que a revolução social que já tá difícil torna-se impossível. Contra este argumento invocamos a resposta de Trotsky para os filisteus de sua época:

“Mas de onde tirar armas para todo o proletariado? objetam novamente os céticos, que tomam sua inconsistência interior por uma impossibilidade ob-jetiva. Esquecem que a mesma questão foi colocada em todas as revoluções ao longo da história. E, apesar de tudo, as revoluções triunfantes marcam etapas importantes no desenvolvimento da humanidade.

O proletariado produz armas, transporta-as, constrói os arsenais em que são depositadas, defende esses arsenais contra si mesmo, serve no exército [5] e cria todo o equipamento deste último. Não são fechaduras nem muros que separam as armas do proletariado, mas o hábito da submissão, a hip-nose da dominação de classe, o veneno nacionalista. Basta destruir esses muros psicológicos e nenhum muro de pedra resistirá. Basta que o proleta-riado queira ter armas e as encontrará. A tarefa do partido revolucionário é despertar no proletariado essa vontade e facilitar sua realização.

Eis porém que Frossard e algumas centenas de parlamentares, jorna-listas e funcionários sindicais assustados lançam seu último argumento, o de mais peso: ‘Podem as pessoas sérias, em geral, pôr suas esperanças no êxito da luta física depois das últimas experiências trágicas da Áustria e da Espanha? Pensai na técnica atual: os tanques! os gases! os aviões!!!’ Este argumento demonstra somente que algumas “pessoas sérias” não só não querem aprender nada como, medrosas, esquecem o pouco que aprende-ram em outros tempos. A história dos últimos vinte anos demonstra, de modo particularmente claro, que os problemas fundamentais nas relações entre as classes, assim como entre as nações, são resolvidos pela força. Os pacifistas esperaram durante muito tempo que o progresso da técnica militar tornasse a guerra impossível. Durante décadas, os filisteus repetiram que o progresso da técnica militar tornaria impossível a revolução. No entanto, guerras e re-voluções seguem seu caminho. Nunca houve tantas revoluções, até mesmo revoluções vitoriosas, como depois da última guerra, que exatamente revelou toda a força da técnica militar.

Sob a forma de novidades, Frossard e Cia. apresentam velhos esque-mas: se limitam a invocar, em lugar de fuzis automáticos e metralhadoras, tanques e aviões de bombardeio. Respondemos: atrás de cada máquina há homens, e esses homens não são apenas instrumentos técnicos, mas pos-suem também laços sociais e políticos. Quando o desenvolvimento histórico coloca diante da sociedade uma tarefa revolucionária inadiável, como ques-tão de vida ou morte, quando existe uma classe progressiva a cuja vitória se encontra ligada a salvação da sociedade, a própria marcha da luta política abre diante dela as possibilidades mais diversas: assim que paralisar a força militar do inimigo, apoderar-se dela, ao menos parcialmente. Na consciên-cia de um filisteu, essas possibilidades se apresentam sempre como “êxitos ocasionais”, devidos ao acaso, que nunca mais se repetirão. De fato, em toda grande revolução verdadeiramente popular, abre-se todo tipo de possibi-lidade, nas combinações mais inesperadas, porém no fundo completamente naturais. Mas, apesar de tudo, a vitória não se produz por si mesma. Para uti-lizar as possibilidades favoráveis, é preciso uma vontade revolucionária, uma firme resolução de vencer, uma direção sólida e audaciosa.” (Trotsky Leon, O armamento do proletariado, em Aonde vai a França, outubro de 1934). [5].

“LOGO VERÁ QUE NOSSAS BALAS SÃO PARA OS NOSSOS GENERAIS!”

Um dos elementos destacados acima por Trotsky e também contido na letra da “Internacional”: “Se a raça vil, cheia de galas, Nos quer à força cani-bais, Logo verá que as nossas balas, são para os nossos generais!” que induz aos alto comandos capitalistas a tendência de substituição dos

exércitos regulares por exércitos mer-cenários e destes por ciborgs ou drones para diminuir a influência da insurgên-cia antiimperialista sobre o elemento humano (e portanto passivo das contra-dições da luta de classes) que está por trás das armas do imperialismo. LIBEDADE PARA BRADLEY MANNIN

Bradley Mannin é um caso típico em

que os esforços do imperialismo não foram suficiente para conter as con-tradições dentro da inteligência militar imperialista. Mannin era analista de inteligência lotado no batalhão de su-porte da 2ª Brigada da 10ª Divisão da

Estação de Operação de Contingência dos EUA no Iraque. Foi preso desde 2010, acusado pelo vazamento de um vídeo do ataque de um helicóptero a ci-vis em 12 de julho de 2007 em Bagdá e de 150 mil documentos ao Wikileaks.

Por permitir o livre acesso de informações (habeas data) sobre parte dos crimes cometidos pela máquina mortífera da grande burguesia ianque, Man-nin foi detido sob condições desumanas e ilegais na base militar de Quantico (no estado de Virginia): apesar de ter sido acusado, não lhe é permitido falar com um juiz, e em vez disso, ele fica preso e torturado, contra o princípio de habeas corpus, em confinamento solitário. [6]

Os revolucionários de todo mundo devem lutar pela libertação de Mannin como de todos os soldados que de uma forma ou de outra voltaram as armas para os seus generais imperialistas. Mannin é um preso político da guerra de classes do século XXI. Notas:[1] Só em 2012 a China pôs em funcionamento seu primeiro porta-aviões, o “Liaoning”, contra 12 dos EUA (10 nucleares e 2 convencionais). A quantidade de porta-aviões e secundariamente a de seus submarinos nucleares representam a capacidade de projeção de força do país e define seu status enquanto potência militar. Superpotência, no caso dos EUA. França, Reino Unido, Rússia e China são grandes potências. Não por acaso apenas estes 5 países fazem parte como membros permanentes e com poder de veto do Conselho de Segurança da ONU. Uma vez que os porta-aviões são a principal plataforma militar de expansão do domínio terrestre de um país sobre as águas oceânicas. Além disto, a China vem criando outras armas capazes de diminuir esta desvantagem. http://www.youtube.com/watch?v=wVwQAHsaDmM[2] http://easley.patch.com/articles/sen-graham-i-support-drone-strikes[3] http://www.googes.com.br/obama-americanos-merecem-saber-mais-sobre-guerra-com-drones/[4] http://futurepredictions.com/2012/11/wired-magazines-chris-anderson-takes-leave-to-focus-as-ceo-on-3d-robotics-drone-sales-to-demilitarize-and-democrati-ze-drones-for-mass-consumption/#comment-337504[5] http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1934/franca/cap02.htm#ti11[6] http://www.bradleymanning.org/

CARTA AOS LEITORES 2

Logo no primeiro mês de 2013, quando o governo ainda comemora-va seu suposto “pleno emprego”, prognosticamos (O Bolchevique #14) a elevação do desemprego e explicamos porque os capita-

listas e o governo Dilma recorreriam ao mesmo para, chantageando os trabalhadores, obrigá-los a submeter-se a trabalhar mais por menores salários e direitos. Desgraçadamente, os dados revelados agora pelo CAGED confirmam nossas previsões com a queda de 75,7% (!) na ge-ração de vagas em comparação a janeiro de 2012. Trata-se do pior ín-dice desde quando os efeitos da crise mundial de 2008 se refletiram no janeiro seguinte na economia do Brasil.. (“Geração de emprego formal no Brasil tem pior janeiroem 4 anos”).

Ao mesmo tempo e aparentemente contraditório (menos emprego e maior produção) a produção industrial disparou no mesmíssimo mês de janeiro, alcançando a maior alta em quase 3 anos.

Concomitantemente, investimento em máquinas e equipamentos, especialmente os voltados à construção civil e ao transporte, a ca-tegoria bens de capital subiu 8,2% em janeiro, registrou seu melhor desempenho desde junho de 2008 e foi o destaque do crescimento da produção industrial.

A chantagem do desempregocomo dínamo da economia brasileira

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Como todos os anos a mídia e o go-verno burguês de plantão de Dilma, num misto de demagogia e júbilo real, comemora a ampliação da par-

ticipação da mulher no mercado de trabalho. Enquanto a demagogia tenta criar a ilusão de que o capitalismo vem atenuando o machis-mo, supostamente, permitindo que a mulher conquiste independência financeira que por muito tempo foi exclusiva do universo mas-culino. O “capitalismo permite” como se fosse um favor que está fazendo as mulheres. As razões do júbilo real do capital com a “inse-rção feminina” são ainda que patentes muito pouco abordadas inclusive pelos movimentos que se dizem defensores dos interesses das trabalhadoras.

É bem verdade que a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou ao longo do tempo. Neste mês de março, um estudo feito por um tal Instituto Data Popular, muito difundido pelo conjunto da mídia pa-tronal e pelo marketing dilmista, nos últimos vinte anos, 11 milhões de brasileiras passa-ram a integrar o mercado de trabalho formal. Com isso, o aumento das carteiras assinadas para as mulheres foi de 162%. Isto quer dizer que o capitalismo avança para liquidar com a desigualdade de direitos entre homens e mulheres no mercado de trabalho? Significa que um dia o capital pagará salário igual para trabalho igual? De modo algum, na verdade, mais do que todos os anos e décadas an-teriores na história, nos últimos vinte anos de ofensiva capitalista “neoliberal” no planeta, o capital substituiu trabalhadores por trabalhadoras, precarizou a mão de obra se apoiando no machismo, como mecanismo para multiplicar seus lucros à custa da força de trabalho feminina para quem paga em média 72,7% do que paga aos homens (segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, IBGE, de 2012).

AUMENTO DA MASSA DA RENDA FEMININA E PAUPERIZAÇÃO RELATIVA DAS TRABALHADORAS

Então, aumentou mais do que uma vez e meia a quantidade de mulheres trabalhando no “mercado formal” (em que pese o fato das mulheres “domi-narem” os empregos mais precários e piores do “mercado informal”) porque uma trabalhadora custa ¾ de um trabalhador.

Buscando induzir a conclusão de que as mulheres estão ganhando mais, o mesmo Instituto Data Popular prevê, com base nos dados do IBGE, que, no final de 2013, a massa de renda do conjunto das mulheres no Brasil deve atin-gir 1 trilhão de reais, tendo crescido 83% nos últimos 10 anos – o equivalente a massa de renda dos homens em 2003. A previsão é que a renda masculina seja de 1,6 trilhões de reais em 2013. A massa de renda dos homens subiu 45%, segundo o Data Popular.

Primeiramente deve-se desconfiar das estatísticas encomendadas pela burguesia e seu governo voltadas a ocultar o aumento real da inflação, dimi-nuir a pobreza, aumentar a classe média, multiplicar o número de analfabetos diplomados e por aí vai, mas sobre tudo dar uma aparência de que os trabal-hadores estão ganhando mais do que antes.

Em segundo lugar, sobram estatísticas propalando o crescimento da ren-da dos trabalhadores e quase inexistem as que tratam da lucratividade do capital acessíveis às massas, porque nem de longe o aumento salarial dos explorados acompanha os lucros dos exploradores. O primeiro não passa de um “cala boca” em favor da tranquilidade do segundo. Por exemplo, entre 2003 e 2011 o lucro dos bancos cresceu 11 vezes mais que a renda dos trabalhadores, segundo dados do Banco Central, o lucro do sistema bancário cresceu 250% enquanto a renda do trabalhador subiu 22,24% no mesmo pe-ríodo. Aí que está o pulo do gato dos capitalistas o qual os marxistas chamam

de pauperização relativa (aumento da distân-cia entre o valor produzido pelo trabalhador e a parcela dessa riqueza produzida da qual este se apropria). Neste sentido, se as trabal-hadoras recebem menos do que ¾ do que re-cebem os trabalhadores, a lucratividade pela incorporação das mulheres no mercado de trabalho é muito maior. Tudo isto não melhora as condições de vida das trabalhadoras, ape-nas aumenta sua jornada fora de casa sem liberá-las das jornadas domésticas, ou seja, jornada dupla de trabalho, e o pior é que gan-ha por menos da metade de uma.

A INTERVENÇÃO DO ESTADO CAPITALIS-TA SÓ AGRAVA A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Os patrões lucram com super exploração da força de trabalho feminina através do exer-cício do machismo cotidiano nos locais de trabalho. Ao mesmo tempo em que vendem o corpo da mulher como uma mercadoria, os patrões proíbem que ela decida sobre seu próprio corpo, criminalizando o aborto, condenando a morte (pelo menos 10% das

mães) ou a bárbaras sequelas por toda vida a milhares de mulheres [1].Cretinamente, em nome do combate ao machismo incentivam a guerra dos sexos para dividir a classe trabalhadora e ampliar os aparatos coercitivos e repressivos estatais [2]. Para isto instituem leis como a Maria da Penha, criam delegacias de mulheres, aumentam o controle social sobre as massas des-agregando ainda mais as famílias operárias. Os partidos de esquerda burgue-ses (como o PT e PCdoB) e pequenos burgueses (PSOL e PSTU) [3] apoiam entusiasticamente estas medidas de repressão policial que divide a classe trabalhadora. Esses partidos maquiam o feminismo burguês de socialista e com isto subordinam a luta pela emancipação das trabalhadoras à medidas cosméticas-administrativas como a utilização de cotas de representação (go-vernos como o de Dilma, recheado de mulheres em todos seus ministérios demonstram que estas medidas apenas camuflam o machismo crescente) e ao recrudescimento da coerção judicial e da repressão policial. As ilusões do feminismo burguês são destroçadas pela realidade do aumento vertiginoso dos estupros, da violência e assassinato de mulheres. Todavia, novamente o regime trata de apelar para o ilusionismo dizendo que os índices são maiores só porque agora a “mulher tem mais coragem para denunciar”. Mentira. Em sua fase decadente, o capitalismo acentua a exploração e a opressão das mulheres e o aumento da violência contra as trabalhadoras revela o agrava-mento da barbárie social.

Há quase dois séculos os verdadeiros revolucionários acreditam que o grau de emancipação da mulher é a medida mais segura para mostrar o nível de emancipação humana. A desvalorização da força de trabalho feminina está na raiz de toda a ideologia dominante machista. Não há como liquidar com o machismo sem cortar pela raiz todo modo de produção explorador que se beneficia dele, tendo como vanguarda desta luta, as mulheres trabalhadoras, revolucionárias e comunistas.►Por um dia de folga extra por semana para as trabalhadoras;►Salário igual para trabalho igual;►Salário mínimo vital;►Licença-maternidade por 2 anos com pagamento integral de salário pelo estado mais auxílio-maternidade de mais 60% do salário;►Licença-paternidade de 3 meses intercambiável com o tempo de licença maternidade com salário integral mais auxilio paternidade de 60% do salário;►Por escolas, creches, hospitais, restaurantes, lavanderias e modernas bi-bliotecas com pleno acesso à internet pública, gratuita e estatais controladas pela classe trabalhadora;

DIA INTERNACIONAL DE LUTA DAS TRABALHADORAS

“Inserção feminina no mercado de trabalho” ou barateamento machista da força de trabalho?

Pela unidade da classe trabalhadora contra a superexploração e a violência machista!

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►Pleno direito aos métodos contra-ceptivos e ao aborto legal, seguro, gratuito e estatal para as mulheres trabalhadoras;►Combater machismo entre trabalha-dores no local de trabalho e a violência doméstica no âmbito dos representan-tes por local de trabalho, comitês po-pulares e associações de moradores.

Notas[1] Uma em cada 10 mulheres mortas no ano passado em decorrência de problemas na gestação sofreu um aborto, espontâ-neo ou provocado. O aborto é uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil: em 10% dos casos, a expulsão prematura do feto é a razão dos óbitos, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. O SIM revela que 2.010 mulheres que abortaram morreram nos últimos 15 anos. Esses são os casos que chegaram à rede pública de saúde. Na clandestinidade, muitas mulheres morrem sem que façam parte das estatísticas oficiais. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/bra-sil/2010/09/06/interna_brasil,211655/index.shtml[2] Jogando para o público a ser convenci-do de que o regime burguês é contrário à violência contra a mulher, providencialmen-te coincide com o “dia da mulher” a con-denação do goleiro Bruno. O caso “Eliza Samúdio” personifica de forma emblemáti-ca o espiral de barbárie que combina a lum-penização feminina, o uso da maternidade como meio de ascensão social na socieda-de machista com o crime praticado por um prestigiado jogador de futebol que mandou capangas policiais esganar, esquartejar e oferecer para seus cães rotweilers o corpo da ex-namorada, modelo e atriz de filmes pornôs que lhe pressionava por dinheiro pela paternidade que ele negava a recon-hecer. Antes de ser assassinada, Eliza ha-via denunciado Bruno por agressões físicas em uma Delegacia Especializada de Aten-dimento a Mulher (Deam) de Jacarepaguá (bairro nobre de classe média e média alta da Zona Oeste do município do Rio de Ja-neiro) onde a delegada proibiu o goleiro de se aproximar da modelo por menos de 300 metros. Esta medida, apenas sugeriu que o crime a que Bruno visava realizar deveria ser executado por outros.[3] O PSTU, chega a ir além do próprio PT em suas campanhas eleitorais oportunistas e policialescas sobre o tema como a que a candidata Ana Luiza a prefeita de São Pau-lo ostentou em 2012 com o slogan “basta de impunidade e machismo, é preciso de-nunciar e punir os agressores” http://www.youtube.com/watch?v=zufMNydv6mU. Outros grupos pequenos burgueses, em busca de votos ou de simpatias para montarem coletivos de mulheres como o PCO ou a LER-QI possuem uma posição ambígua, às vezes chegando a criticar o judiciário pela falta de rigor na aplicação da legislação sexista, ou seja, apoiando as medidas capitalistas para acabar com o machismo que discrimina e mata milhares de trabalhadoras. http://www.pco.org.br/co-noticias/imprimir_materia.php?mat=27360

Segundo a Secreta-ria de Educação Estadual (S.E.E.), fazem parte da rede estadual aproximada-mente quatro milhões de alunos e 230 mil professo-res, que, a grosso modo, dá uma média de 17 alunos por professor. Mas, as salas são superlotadas com mais de 35 alunos, ou seja, o do-bro do que seria possível se o governo seguisse uma matemática mais sadia para nós e para os alunos.

Todos sabemos que sobram alunos e faltam professores. No entanto, o Estado faz de tudo para parecer o contrário: que sobram professores e faltam vagas de trabalho nas escolas. Mas a realidade des-mente o Estado nas atribuições semanais ou quando o governo abre as contratações emergenciais após o início do ano letivo.

Mesmo assim, em seu manejo burocrático, a S.E.E. superlota as salas de aulas, impõe uma alta rotatividade nas escolas impedindo a manutenção do vínculo do docente com seu local de trabalho, divide-nos em inúmeras categorias (efetivos, licenciatura plena, bacharéis, F, O, alunos, do último semestre, alunos de todos os anos, desta diretoria, da outra diretoria, etc., etc, etc.), submete-nos a provinhas externas, para aprofundar a divisão (entre aprova-dos ou reprovados, por pontuação e classificação) e acentuar seu assedio moral; demite e ainda põe de quarentena sem poder pegar novas aulas por 200 dias e até 5 anos a dezenas de milhares de profes-sores de contrato temporário; joga professor contra professor na disputa das poucas vagas ofertadas nas atribuições,... tudo isto para nos desvalorizar e assim nos pressionar a trabalhar mais tempo por um menor salário.

Toda esta pressão tem conseguido impor a ab-surda situação da precariedade extremada dos professores categoria “O”, sem direito a assistência médica pelo IAMPSE, só podendo dispor de 2 abo-nadas durante todos os 200 dias de contrato, sendo submetidos a demissões em massa no final do ano.

Esta política alimenta um ciclo caótico onde os baixos salários e a decadência das condições de tra-balho provocam a evasão do docente que deteriora ainda mais o ensino e conduz à evasão dos alunos da escola.

CNTE E APEOESP FINGEM QUE SÃO ENGANA-DAS PELOS GOVERNOS BURGUESES E FAZEM “PARALISAÇÕES” DE MENTIRINHA

A ultra-personalista presidenta da Apeoesp, Be-bel, enviou uma carta para os filiados para se passar mais uma vez de “enganada” pela S.E.E. que teria se recusado a cumprir “compromissos de discutir” sobre a jornada do piso, o reajuste salarial e o plano de carreira. Em seu teatrinho Bebel descobre finalmente que “a única ação possível, necessária, neste mo-

mento é a greve”, instrumen-to maior da categoria que a diretoria (PT, PCdoB, PSTU, PSOL) tem sabotado desde sempre.

A direção da CNTE - braço dos governos federal e estaduais do PT que não cumprem nem o piso sala-rial estipulado pelo próprio MEC - convocou uma “greve nacional” para os dias 23

a 25 de abril. Lamentavelmente tudo indica que os pelegos pensam em realizar a mesma palhaçada de 2012 apenas para descomprimir a pressão das bases. Necessitamos de uma greve nacional de ver-dade, com toda a estrutura do sindicato realizando divulgação em toda a mídia, disponibilizando trans-porte necessários para trazerem os professores de todas as partes do estado.

ESTABILIDADE PLENA PARA TODOS OS PRO-FESSORES

A divisão e precarização da categoria impostas pelo governo tucano pressionam para nivelar por baixo as condições de trabalho e os salários do con-junto dos professores. Por mais que faltem profes-sores nas escolas e ainda existam mais de 600 mil alunos em idade escolar mas sem ensino, o Estado mantém artificial e criminosamente um “exército de professores desempregados” ao mesmo tempo em que aumenta um contingente de temporários. Lutar contra isto é uma tarefa de todos os trabalhadores em educação.

No entanto, a direção da Apeoesp (PT, PCdoB, PSTU e PSOL) se opõe a reivindicar a plena efeti-vação imediata e incondicional de todos os profes-sores que apesar de realizarem o mesmo trabalho que os demais são condenados a precariedade da categoria “O”. Sendo assim, tendem a conter a pró-pria luta nos estreitos marcos discriminatórios que o próprio governo impõe.

Não por acaso, a Apeoesp indicou o ato do dia 22 apenas porque a puteza dos trabalhadores tem-porários chegou ao limite após as demissões do final do ano, a quarentena (de 200 dias) e a humilhante atribuição de 2013. Uma demagogia sem maiores efeitos práticos como o “dia do índio” em meio ao massacre do povo indígena.

Para acabar com o massacre sofrido em varia-dos graus mas por todos os professores precisamos de uma forte greve pelo fim da quarentena, reinte-gração, estabilidade, trabalho, salários e direitos iguais para todos, acesso ao IAMPSE; redução da jornada a 1/3 fora da sala de aula, tendo como meta 1/2 da jornada extra-classe; pela saída imediata da Apeoesp da “Comissão Paritária”, reposição de to-das as perdas salariais, salário vital calculado pelos próprios trabalhadores (com incorporação de todas as gratificações e bonificações) e aprovado em as-sembleia; máximo de 25 alunos/sala; etc.

Construir uma greve de verdade pela efetivação plena de todos os professores, redução da jornada, reajuste salarial e contra o arrocho de Alckmin e a inflação maquiada de Dilma!

PROFESSORES - SP

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6 O Bolchevique No15 - março de 2013

Acordo escravocrata entre Sindicato do PSTU e a multinacional GM aumenta a jornada de trabalho, reduz o salário e permite a

demissão de centenas de operários pais de família

METALÚRGICOS - GM

Desde meados de 2012 se arrastava uma ne-gociação entre a maior indústria automobilís-

tica do planeta, a multinacional General Motors, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SJC). De lá para cá, representados pelo principal Sindicato da CSP-Conlutas, os operários metalúrgicos sofreram suas piores perdas até chegar a um desfecho humilhante no dia 28 de janeiro, quando foi fechado o acordo que estabelece, entre outras condições que: 1) os ope-rários da fábrica de SJC serão submetidos a uma jornada de trabalho extraordinária de 2 ho-ras por dia e ainda terão que trabalhar aos sábados [1]; 2) os novos contratado passarão a receber apenas R$ 1.800, quase metade do piso atual que é de R$ 3.100; 3) poderão ser de-mitidos aproximadamente 650 trabalhadores que ficaram sob layoff durante todo este período [2] e 4) o pagamento da PLR está atrelada a metas de produtividade, favorecendo assim o aumento dos ritmos de produção e o assédio moral.

Contratar pagando aos novos metalúrgicos quase metade (apenas 58%) do que paga aos que vai demitir era o grande objetivo da empresa, conquistado graças ao “combativo” Sin-dicato da CSP-Conlutas. Em outras palavras, foi fechado um acordo escravocrata para aprofundar a exploração da mais va-lia absoluta (extensão da jornada de trabalho e horas extras) e garantir a contratação de novos trabalhadores com salários muito menores para substituir as centenas de operários pais de família que foram ou que serão demitidos.

Desde a crise de 2008, a GM teve como meta reduzir os salários e operar uma rotatividade de mão de obra, livrando-se de boa parte dos antigos e “caros” funcionários e substituindo-os por novos mais baratos. Por isto, choramingava contra o alto custo da mão-de-obra chantageando desde julho com o fecha-mento do setor de Montagem de Veículos Automotores (MVA)

Mais uma vez o PSTU faz das suas em São José dos Campos-SP, depois das mais de 4 mil demissões na Embraer em 2009, depois do culto à justiça burguesa e à ilusão da in-

tervenção do governo federal petista que levaram à derrota da resistência no Pinheirinho, agora, o PSTU vende os trabalhadores em layoff da GM, permitindo sua demissão

ou até ameaçando o fechamento de toda a fábrica que possui sete mil operários. Em 2012 a planta deixou de produzir três dos quatro modelos do MVA: Meriva, Zafira e Corsa hatch, mantendo apenas a produção do Classic. O MVA ope-rava com 3.000 funcionários, mas depois da abertura de um primei-ro Programa de Demissões Vo-luntárias (PDV), demissões avul-sas e transferências para outros setores, em agosto este número caiu a cerca de 1.840 funcioná-rios. Nos últimos meses, 940 tra-balhadores foram pressionados a ingressar em PDVs e 780 subme-

tidos ao layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho). Agora, com mais centenas de demissões previstas, a GM che-gará próximo de sua meta e ainda conseguirá impor ritmos de produção e um piso salarial que considera ideal.

A direção da empresa ficou tão feliz que o diretor de relações internacionais da GM, Luiz Moan, declarou saltitante um in-vestimento de R$ 500 milhões na planta ressaltando que “até este acordo, não estava previsto um centavo de investimento para a planta de São José” (Do G1 Vale do Paraíba e Região, 28/01/2013) [3]. O desânimo da montadora para não investir nem “um centavo”, graças ao PSTU, converteu-se em euforia com o novo acordo trabalhista e ela resolveu enfiar o pé na jaca e investir 500 milhões!

Antes do acordão “a direção [da GM] considerava a planta de São José pouco competitiva por conta do elevado custo da mão de obra em comparação com a concorrência.” (idem), mas agora a multinacional fez barba e cabelo e conseguiu que, em nome do combate às demissões, o Sindicato fizesse lobby a seu favor junto à prefeitura de SJC e o governo federal, garan-tindo não apenas benesses, financiamentos e mais isenções fiscais (redução do IPI) mas sobretudo ganhando em competiti-vidade graças ao acordo escravocrata que ampliará a jornada, reduzirá o piso salarial e possibilitará trocar um trabalhador “vel-ho e caro” por 2 jovens e baratos que além de custarem quase a metade à patronal, ainda trabalharão duas horas a mais por dia.

Toda a campanha contra as demissões na GM seguiram o mesmo script da derrota das campanhas contra as demissões na Embraer e contra o despejo da ocupação do Pinheirinho [4], nenhuma confiança na mobilização, na unidade e nos métodos da classe trabalhadora (greve, piquete, ocupação da fábrica, etc.) e todas as fichas apostadas na pressão sobre os governos Lula, Dilma, Alckmin e nos prefeitos Cury (PSDB) e Carlinhos (PT). Na GM, o eixo era reivindicar de Dilma uma medida pro-visória proibindo as demissões. Como as derrotas anteriores comprovaram e como elas tornaram a categoria cada vez mais desconfiada do sindicato, o resultado da campanha contra as demissões na GM só poderia ser este acordo vergonhoso.

Neste meio tempo ocorreu a campanha salarial unificada dos metalúrgicos de São José, Campinas, Santos e Limeira,

Zé Maria do PSTU/CSP-Conlutase o pelego Pau-linho da Força Sindical“contra as demissões na Embraer”,resultado: 4.300 demissões

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O Bolchevique No15 - março de 2013 7

todavia, por pressão da GM, o Sindicato da CSP-Conlutas fez um acordo antecipado e rebaixado, prejudicando o acordo nas bases metalúrgicas de Campinas, San-tos e Limeira, e contribuindo para nivelar por baixo os acordos dos outros sindica-tos. Vale destacar que o PSTU rompeu a campanha salarial unificada para fa-zer sua base aprovar em SJC um índi-ce de reajuste salarial e um abono tão miseráveis que foram rechaçados pela base metalúrgica da GM de São Cae-tano cuja direção é da Força Sindical. O PSTU conseguiu aprovar junto à sua base o que nem os pelegos da Força Sindical conseguiram impor a sua em São Caetano!

Esta é uma derrota de proporções enormes para todo o ope-rariado brasileiro, pois, a partir de agora, tanto o conjunto do patronato multinacional instalado aqui e os empresários locais, quanto os pelegos de todos os matizes e em particular os da CUT e da Força Sindical, se sentirão muito mais a vontade para trair também sua base e empurrar goela abaixo o Acordo Cole-tivo Especial defendido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, ligado a CUT pelega.

Afinal, este acordo do PSTU não é apenas mais um acordo, este é “O” acordo por excelência do sindicato mais forte dirigido pelo PSTU, ao operariado metalúrgico da maior indústria auto-mobilística do planeta, a GM [5]. O oportunismo da coligação comEdmilson (PSOL) e o PCdoB em Belém é nada (embora seja complementar) frente aisto. O apoio aos “rebeles” da CIA na Líbia e na Síria também são complementares a esta trajetó-ria assumida pelo PSTU contra os interesses dos trabalhadores e em favor das multinacionais imperialistas (sejam elas automo-bilísticas ou petroleiras). Com esta política, que se somam as mais 4.000 demissões da Embraer e a derrota da ocupação do Pinheirinho dentre tantas outras menores, o PSTU consolidou um curso de derrotas para os setores da classe trabalhadora para quem o partido assumiu alguma responsabilidade política dirigente.

Para reverter esta derrota, e evitar outras futuras, os tra-balhadores da GM e das demais fábricas da região precisam organizar-se por fora do controle dos patrões e do PSTU, a partir de CIPAs e comissões de fábricas combativas, na luta

pela reconquista do sindicato tanto para a defesa das rei-vindicações mais elementares como o emprego, o salário e a redução da jornada de trabalho quanto dos interesses históricos da classe trabalhadora, ou seja, a construção de um partido revo-lucionário dirigido pela vanguar-da mais consciente e classista do operariado e que tenha por finali-dade a nossa emancipação da ex-ploração imposta pelo capital, seu Estado e seus pelegos, incluindo os que se disfarçam de esquerda.

Notas [1] Vale lembrar que um dos primeiros acordos em que os metalúrgicos conseguiram reduzir a jornada de trabalho foi através da greve da

GM de São José dos Campos em abril de 1985, quando os metalúrgicos fizeram uma ocupação da empresa que prenderam inclusive a chefia da empresa. Agora é o PSTU quem ajuda a GM a destruir as conquistas operárias e no sentido contrário a ampliar a jornada de trabalho.[2] 150 dos quais estão em situação menos ruim porque estão lesionados, com auxílio acidente (código b-94) ou estão próximos a aposentadoria[3] http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/01/acordo-entre-gm-e-sindicato-possibilita-corte-de-650-funcionarios.html[4] Como agora em que os trabalhadores que estão de layoff e estiveram na linha de frente da luta (foram a Brasília, trancaram a Dutra, fizeram protesto em SJC debaixo de chuva, etc.) sentem-se usados como isca e traídos pelo Sindicatos que não garantiu seus empregos quando assinou o acordo, esta sequência de derro-tas causa desconfiança na base em relação a direção e gera um ciclo vicioso que a própria direção se utiliza para alegar que a base não quer fazer greve. Há um ano a Liga Comunista cantou a bola em meio ao despejo do Pinheirinho e início da ofensiva da GM no artigo: Lições da derrota: O papel da direção - o PSTU - e do Estado capitalista no Pinheirinho - http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2012/02/especial-pinheirinho-especial.html[5] Leia abaixo os principais pontos do acordo:· Investimento de R$ 500 milhões direcionados às áreas do Powertrain (motores e transmissão), Estamparia e S10, no período de 2013 e 2017. · Produção do Classic até dezembro, com 750 trabalhadores. Após esse período, haverá nova negociação.· Férias coletivas entre os dias 29 de janeiro a 14 de fevereiro para os trabalhadores da produção do Classic. · Quem está em layoff terá extensão do processo por dois meses. Ao final, se a empresa demitir, terá que pagar uma multa de três salários. O trabalhador poderá optar por sair imediatamente e receberá cinco salários, além dos direitos trabal-histas.· Renovação das cláusulas sociais na data-base da categoria para 2013 a 2015. As cláusulas econômicas serão negociadas em setembro. Nesse período não ha-verá abono.· PLR igual a de 2012 mais R$ 3.200, totalizando cerca de R$ 16 mil. Em maio, haverá negociação das metas. A primeira parcela será de R$ 6,6 mil.· Discussão entre GM e Sindicato sobre formas de antecipação da aposentadoria para quem estiver prestes a se aposentar.· A GM se compromete a negociar, em primeiro lugar, com o Sindicato, caso haja projeto de investimento em um novo veículo no Brasil.· Nova grade salarial para funcionários admitidos a partir da assinatura do acordo, apenas na fábrica de componentes (Powertrain, Estamparia e Plástico), com piso de R$ 1.800.· Jornada de trabalho que possibilita duas horas extras por dia e trabalho extraor-dinário aos sábados, alternadamente. Poderá haver folga em até 12 dias por ano, que serão compensados posteriormente. · Reaproveitamento de lesionados em atividades compatíveis, devendo ser defini-das em conjunto com o sindicato.· Garantia do nivel de emprego até dezembro de 2013 no MVA e dezembro de 2014 para o restante da planta de São José dos Campos.· Ajuste na cláusula de nível de emprego da área de manuseio de materiais, de 1203 para 900 empregados.· Garantia de renovação/extensão dos acordos de jornadas diferenciadas de tra-balho (6 x 1; turno de revezamento e jornada de domingo mediante pagamento de hora extra e com folga na semana) pelo período de dois anos. · Inclusão em cláusula de acordo coletivo, reconhecendo que o período de minu-tos que antecedem e sucedem a jornada contratual, limitados a 40 minutos diá-rios, não serão considerados como tempo a disposição da empresa. Na hipótese de ocorrer desligamento da fábrica, o Sindicato ajuizará ação referente ao período anterior a esta negociação.· O acordo terá duração de dois anos.(Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região)

Para o PSTU o combate às demissões não sefaz com greve mas com ilusões em Dilma

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O Bolcheviquelcligacomunista.blogspot.com

As opiniões expressas nos artigos assinados ou nas correspondências não expressam necessariamente o ponto de vista da redação.

Orgão de propaganda da Liga ComunistaAno IV - NO14 - janeiro de 2014

A Liga Comunista é membro do Comitê de Ligação pela IV Inter-nacional (CLQI) juntamente com o Socialist Fight da Grã Bretanha e a Tendencia Militante Bolchevique da Argentina.

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8 O Bolchevique No15 - março de 2013

TEORIA TROTSKISTA

Ditadura e Democracia [1]

Leon Trotsky, 23 de outubro de 1937

Em épocas como a atual em que a ideologia imperialista busca expandir seus domínios tapeando as massas em nome da defesa da “democracia”; no momento em que arrastados por esta pressão do inimigo, muitos dos que ainda se dizem “marxistas” substituíram a política revolucionária pela venal demagogia populista; quando todos os revisio-nistas se unificam em torno do ódio a ditadura do proletariado e ainda mais contra a “ditadura do partido” (combaten-do o bolchevismo, identificando-o falsamente com stalinismo), os ensinamentos de Trotsky chamam a atenção para

elementos fundamentais da política na história moderna. Reproduzimos abaixo uma magnífica carta do revolucionário russo a sua leitora Margaret de Silver com lições obtidas a partir da derrota do proletariado na Guerra Civil espanho-la. Agradecemos ao camarada Erivaldo Costa pela meticulosa tradução do texto, pela primeira vez apresentado em

língua portuguesa.

Minha querida camarada Margaret de Silver,

Gostei muito de ler sua carta, tão fraternal e ao mes-mo tempo tão franca. Demais será dizer quão grato me pa-receu o fato de que meu livro lhe interessasse tanto, até o ponto de dedicar-lhe muito tempo a sua leitura. Os lei-tores atentos são muito es-cassos, quase tão escassos como os autores sérios, mas por isso mesmo são tão va-liosos.

As objeções que você for-mulou se revestem grande importância teórica e política. Em meu último trabalho [Estalinismo e Bolchevismo] tentei me referi a esta questão de forma por demais concisa e – recon-heço – demasiado insuficiente. Não sei se você já recebeu meu folheto. Anexo-lhe uma cópia. Aqui tratarei de formular alguns pontos suplementares em apoio a minha posição.

Para mim a ditadura revolucionária de um partido proletário não é algo que alguém possa aceitar ou rechaçar livremente: é uma necessidade objetiva que nos impõem as realidades so-ciais – a luta de classe, a heterogeneidade da classe revolucio-nária, a necessidade de uma vanguarda selecionada assegu-rar a vitória. A ditadura de um partido, como o próprio Estado, pertence à pré-história bárbara, mas não podemos saltar este capitulo que pode abrir (não de um só golpe) a autêntica história humana.

Os dirigentes da CNT espanhola renunciavam em todo mo-mento participar em “política” e renunciavam a ter algo que ver com o Estado, porém a realidade social é mais poderosa que qualquer dessas negações abstratas. Durante a guerra civil, os dirigentes da CNT se tornaram ministros burgueses, mas, ai!, ministros secundários e impotentes. Em maio os operários anarquistas iniciaram uma poderosa insurreição. Se tivessem contato com uma direção adequada seguramente poderiam ter conquistado o poder na Catalunha e, com seu exemplo, levan-tar as massas trabalhadoras da Espanha inteira. Solidaridad Obrera disse em centenas de ocasiões: “A acusação de que nós provocamos o movimento é totalmente falsa. Se tivésse-mos provocado ou simplesmente orientado, seguramente tín-hamos conseguido a vitoria. Mas não queremos uma ditadura, por isso renunciamos dirigir a insurreição”. Qual foi o resultado? Ao renunciar a ditadura para si, os dirigentes da CNT deixaram o campo livre para a ditadura estalinista: a natureza social como a física não tolera o vazio.

O partido revolucionário (vanguarda) que renuncia sua pró-

pria ditadura entrega às mas-sas à contrarrevolução. Tal é o ensinamento de toda a história moderna.

Falando em termos abs-tratos, seria muito bom que a ditadura do proletariado pudesse ser substituída pela ditadura de povo trabalhador em seu conjunto, sem parti-do, porém isso implica um nível de desenvolvimento das massas tão elevado que jamais se pode alcançar sob as condições criadas pelo capitalismo. A revolução é consequência também do fato de o capitalismo não permite o desenvolvimento

material e moral das massas.A ditadura não pode resolver todos os problemas nem impe-

dir novos reveses (reação, termidor, contrarrevolução). O des-envolvimento da humanidade é muito contraditório, porém não podemos renunciar a dar um passo adiante com o fim de impe-dir meio passo atrás. Apesar da ditadura desonesta da burocra-cia termidoriana na União Soviética, a Revolução de Outubro em seu conjunto significa um progresso imenso na história da humanidade. Inclusive agora sob o tacão de ferro da nova casta privilegiada, a URSS não é a mesma que a Rússia czarista. E graças à Revolução de Outubro a humanidade é incomparavel-mente mais rica em experiências e possibilidades.

Gostaria muito de me reunir alguma vez com o camarada Carlo Tresca. Logicamente não com o fim ingênuo de convertê-lo (nós, velhos revolucionários somos pessoas cabeça dura), mas sim para discutir as possibilidades para a ação conjunta contra a gangrena estalinista. Zamora, o membro mexicano da comissão [Dewey] voltou muito satisfeito com a comissão e to-talmente cativado por Tresca.

Minha esposa e eu guardamos uma gratíssima recordação de sua breve visita ao México e esperamos que essa visita não seja a última.

Meu mais caloroso agradecimento por sua carta e por sua amizade em geral.

Fraternalmente,León Trotsky

Nota:[1] Ditadura e Revolução. Do arquivo de James P. Cannon. Com a autori-zação da Library of Social History. Carta a Margaret Silver, membro da CN-DLT e viúva de Albert Silver, fundador da American Civil Liberties Union. Car-los Tresca era seu companheiro.

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MALI E FRENTE ÚNICA ANTIIMPERIALISTA

Para derrotar a “austeridade” imperialista que lhe rouba salário, emprego e conquistas históricas, o proletariado francês precisa

aliar-se a seus irmãos oprimidos africanos

O ministro da Defesa fran-cês, o “socialista” Jean-Yves Le Drian, declarou sobre a intervenção no

Mali: “O objetivo é a conquista total. Nós não vamos deixar bolsões de resistência”. Para bom entendedor, a “conquista total” significa muito mais do que a derrota da resistência. A partir desta campanha militar a luta inter-imperialista mundial pode gan-har uma nova dinâmica que precisa ser acompanhada mais de perto sem a exclusão de alternativas até então menos prováveis.

De certo modo, a crise econômica nos EUA, consumindo grande parte das preocupações da era Obama, que busca manter uma liderança na retaguarda mili-tar dentro da OTAN e pela larga ampliação do uso de drones, substituindo missões com soldados, tem favorecido as iniciati-vas francesas que expande seus domínios coloniais em meio à crise econômica na UE e os limites históricos pós-II Guerra impostos a maior potência econômica do continente, a Aleman-ha [1].

É possível que a partir de um salto de qualidade na África, da provável retirada da Inglaterra de dentro da UE, e do estrei-tamento de seus laços comerciais com a America Latina [2], onde disputa influencia com os EUA em vários setores indus-triais, o imperialismo francês busque assumir cada vez mais o papel de coringa na disputa entre os blocos mundiais. Se o próprio Obama ou um governo republicano que lhe suceder resolver retomar o protagonismo ianque no Ocidente, tentando recuperar inclusive áreas onde a França avançou, o conflito de interesses pode aprofundar-se a uma posição em favor de um alinhamento oposto, em que Paris avalie que a perda de hege-monia dos EUA lhe seja imensamente mais vantajoso.

Mas, até agora, com os EUA ocupando um papel secundá-rio no controle do espaço ocidental por ter deslocado a maior parte de seu arsenal para a região do pacífico e costa da Chi-na, tem sido vantajoso para a França assumir o protagonismo na região mediterrânea e africana como principal força militar da OTAN em atividade recolonialista desde 2011. Mas os EUA tratam de por as barbas de molho, na última semana de feve-reiro, Obama ordenou o envio de tropas e drones para o Níger com a vaga justificativa de “promoção dos interesses nacionais dos EUA de segurança.” [3]. Fato é, como bem destacara o jor-nalista John Pilger que uma nova invasão da África de grandes proporções está em andamento [4].

A França amplia seus domínios na África como aríete do bloco imperialista ocidental contra a China tomando espaço antes dominados por seus “aliados” europeus, agora em deca-dência econômica como a Itália. É bem sabido que a França se apoderou de imensas fatias de contratos de petróleo e gás da Líbia que antes pertenciam ao imperialismo italiano.

As legiões estrangeiras francesas não são conhecidas na África por levar a civilização e boas maneiras. A França terá de impor este método de ocupação para evitar a retomada do controle secular do deserto pelos tuaregues. Por isto, a propa-ganda de guerra da campanha francesa, mais do que apelos humanitários, precisa da risível justificativa de preservação do patrimônio histórico da região e o combate ao terrorismo.

O governo “socialista” até se esforça para tentar convencer “nossa intervenção não tem outro objetivo que a luta contra o terrorismo”, declarou Hollande no dia 12 de janeiro, mas tem sido impossível ocultar as ambições da 5ª República que al-meja sair da crise econômica ampliando sua rapina imperial.

Afinal, o Mali parece ser um país realmente pobre. Mas não é exata-mente assim. É o terceiro produtor de ouro africano, depois de Gana e África do Sul. A produção anual é 52 toneladas de ouro, o que, segundo especialistas, pode ser aumentada para 100 toneladas em 2-3 anos (para comparação, a Rússia produz anualmente cerca de 200 tonela-das). Mali também é o Eldorado do urânio. A francesa Areva, líder mun-dial de energia nuclear, já começou a explorar Saraya situada na fron-teira senegalesa. Em 15 de novem-bro 2012, assinou um acordo com

o estudo de viabilidade do Sul Africano DRA Grupo com foco em produção de prata, urânio e cobre. Segundo estimativas, os depósitos contêm cerca de 12 mil toneladas de urânio, quatro vezes mais do que a mina Areva no Níger produzido em 2012.

Hollande espera sair da crise econômica atirando para cata-pultar a participação francesa na recolonização planetária já di-namizando sua economia apostando em forças destrutivas [5]. Mas, em seu intento distracionista da luta de classes internas o “social-imperialista” francês pode colher efeitos colaterais bem mais convulsivos do que os que vem colhendo os governos da Grécia, Espanha, Portugal e Itália com seus planos de ataque econômico contra as massas de seu próprio país. Mas, como muitos analistas já comentam, o Mali pode se conveter no Afe-ganistão francês, ou pior. Hollande pode colher a combinação da revolta proletária interna que estão sendo executados com a luta anti-imperialista dentro de seu próprio território, através de levantes populares e ações de guerrilha das imensas co-munidades africanas periféricas, cidadão de 2º categoria de Paris e adjacências ou nem sequer reconhecidos como cida-dãos franceses. Dentre as massas francesas existem milhares de argelinos, tunisianos, africanos em geral e também muitos trabalhadores e dezenas de milhares de alunos secundaristas nascidos no Mali ou descendentes de malineses. No caldo de insatisfações contra a intervenção militar se combinam razões étnicas, de libertação nacional e de classe.

O neocolonialismo da OTAN e Frankafrica já foi capaz de realizar proezas maiores em tempo recorde: unificou em uma frente panafricana e antiimperialista a jihadistas que ajudaram o CNT a derrubar Kadafi com Tuaregs que eram aliados do regi-me do caudilho líbio. Foram unidos pela miséria crescente que a França e seus aliados acentuam por seu parasitismo secular e suas aventuras militares no continente e agora voltam às ar-mas para seus antigos generais.

Em sua ultima reportagem sobre o tema a revista Time le-vanta dúvidas sobre a saída das tropas francesas anunciadas para este mês de março: “É cada vez mais improvável que esta intervenção militar da França no Mali será breve. Apesar de comentários de autoridades francesas no início deste mês que Paris espera começar a retirar as tropas, em março, pare-ce agora evidente a resistência enrijecimento dos grupos jiha-distas no Sahel – empurrado para fora das cidades do norte do Mali pela expedição francesa liderada mês passado – vai exigir uma persistente presença francesa por meses, talvez até anos.” (“The War in Mali: Does France Have an Exit Strategy?”, Time, 17/02/2013) [6].

Apesar da crise econômica e dos cortes aos gastos públi-cos que a União Europeia vem exigindo, Le Drian, o ministro francês da Defesa, informou que as operações da “conquista total” contra os “terroristas” custaram, até o momento mais de 100 milhões de euros à França. “Hoje podemos estimar em

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pouco mais de 100 milhões de euros [aproxima-damente 260 milhões de reais] o que se gastou a partir de meados de janeiro,” quando começou a intervenção militar no Mali, disse Le Drian na entrevista concedida à emissora RTL. Se um povo que oprime outro forja suas próprias cadeias, as cadeias da austeridade que aterrorizam o proleta-riado europeu se tornam mais insuportáveis para pagar os esforços de guerra da burguesia france-sa para aumentar seu saque a África. Em janeiro, centenas de trabalhadores da planta da Peugeot de Aulnay que ocupam a empresa para evitar seu fechamento se somaram aos e da planta da Ren-ault de Flins que lutam contra as 7.500 demissões anunciadas pela multinacional automobilística até 2016. Ao contrário de exterminar a resistência no deserto africano o imperialismo está fustigando os “bolsões de resistência” proletários em suas pró-prias cidades.

Mais uma vez o proletariado francês é chama-do a lutar contra suas próprias cadeias e contra as cadeias forjadas da política neocolonial da re-pública burguesa francesa e constituir uma Frente Única Antiimperialista (FUA) com seus irmão gue-rrilheiros e oprimidos africanos.

A quase totalidade da esquerda mundial, re-fém da pauta midiática imperialista, já abandonou qualquer referência a luta contra a intervenção im-perialista no Mali, enquanto a esquerda francesa apoia a carnificina em curso. Como denunciamos em nossa declaração, para o NPA, por exemplo, que se declara formalmente contra a invasão mili-tar ao Mali, “a questão não é conformar uma Fren-te Unida Anti-Imperialista contra a invasão fran-cesa, mas limitar-se a apoiar aos agrupamentos de esquerda e as forças progressistas enquanto o imperialismo pode bombardear e mandar para o inferno os reacionários e assim se pode apro-veitar-se da nação e de seus recursos realmente sem qualquer objeção uma vez que se trata de uma guerra contra os tais reacionários.” (MALI: Derrotar a invasão imperialista francesa!, Decla-ração do Comitê de Ligação pela IV Internacional, 25/01/2013) [7]

É somente superando seus próprios “socialis-tas”, stalinistas e pseudo-trotskistas cúmplices da campanha de guerra contra os povos oprimidos africanos que poderemos construir um partido que unifique valentemente a luta antiimperialista com a luta pela revolução social, seguindo o caminho trilhado pela Comuna de Paris que as massas francesas demonstrarão mais uma vez que me-recem o posto de “país em cuja história a luta de classes, mais do que em qualquer outro, foi reso-lutamente conduzida até o fim” (F. Engels, trecho do prefácio do 18 Brumario de Marx).

Notas:[1] Enquanto a França já não possui mais bases aéreas dos EUA instaladas em seu território desde 1967, é na Aleman-ha (Ramstein) que está instalado o centro de operações da Força Aérea estadunidense na Europa. Isto é um sintoma do grau de independência militar que possuem as duas nações imperialista em relação aos EUA.[2] http://www.global-approach-consulting.com/brasil/valor-economico-franceses-ampliam-investimentos-no-brasil[3] http://www.globalresearch.ca/us-deploys-troops-drones-to-niger/5324273#sthash.tHMFP6AT.dpuf[4] “The real invasion of Africa is not news and a licence to lie is Hollywood’s gift” em http://www.marchaverde.com.br/2013/02/a-invasao-da-africa-que-nao-esta-nos.html[5] http://www.portugues.rfi.fr/geral/20120714-le-figaro-de-talha-grandes-mudancas-na-politica-de-defesa-do-governo-hollande[6] http://world.time.com/2013/02/26/the-war-in-mali-does-france-have-an-exit-strategy/[7] http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2013/01/mali.html

‘No princípio era o Verbo’ vejo escrito,E aqui já tropeço! Quem me ajuda?

Tão alto sublimar não posso o verbo,Devo de outra maneira traduzi-lo...

Devera estar – ‘Era ao princípio a Força!’No momento, porém em que isto escre-

vo...Solução enfim acho: satisfeito,

‘No princípio era Ação’ – escrever devo. (GOETHE in Fausto)

Que o PT há muito deixou de repre-sentar os interesses dos trabalhadores, isto mais ninguém duvida. Porém, ser esse partido perseguidor de pais e mães de família que lutam para ter seus salá-rios em dia, supera todas as expectativas, até mesmo dos eleitores mais à direita no espectro burguês. A perseguição aos ope-rários das obras do PAC e aos servidores federais nas últimas greves é a prova in-conteste que este partido não só abando-nou a defesa dos trabalhadores, como é o primeiro a imputar-lhes culpa pela luta.

Assim ocorre em Cubatão governada pela petista Márcia Rosa em seu segun-do mandato. Doze profissionais em edu-cação são hoje acusados por essa “dig-níssima prefeita” de “baderneiros” devido às manifestações em frente à Câmara de Vereadores e na porta da prefeitura. Essa Senhora se utiliza de uma lei arcaica pu-blicada em 1959 para silenciar a categoria de servidores municipais, que inconfor-mada luta por um Plano de Carreira de-cente; pelo aumento e reposição salarial, já que não recebe nem mesmo repasse da inflação oficial. Os trabalhadores do município vêm sendo tratados à base de “chicote” desde o início de 2012, quando já naquela época a ex-companheira e também professora na cidade, deu falta

in jus t i f i cada a todos ser-vidores que reivindicavam melhores con-dições de tra-balho.

Em 4 de-zembro de 2012, organi-zados a partir de chamados no Facebook, pois o sindi-cato compro-metido com o

governo não mobiliza os trabalhadores, os servidores de diferentes secretarias se di-rigiram à Câmara Municipal para pressio-nar os vereadores que queriam aprovar o aumento salarial da prefeita Márcia Rosa e de seus secretários, além da criação por volta de 80 cargos comissionados, entre eles a de um cargo denominado “chefe do mestre de cerimônia” e da majoração abusiva do IPTU para 2013. Na Câmara os servidores encontraram os vigilantes da Empresa Marvin que não recebiam sa-lários há mais de dois meses. Os trabalha-dores lançavam palavras de ordem e exi-giam serem atendidos em seus interesses elementares: pagamento do salário atra-sado; depósito em dia do 13º salário e das férias de janeiro, bem como o pagamento do Planvale e de outros benefícios atra-sados; entre esses itens também exigiam a abertura de discussão do Plano de Ca-rreira engavetado pela prefeita em 2012.

Em perseguição, dentre 150 manifes-tantes escolheu-se 12, 10 de uma mes-ma escola para responderem inquérito administrativo, indicando a absurda pena de demissão a bem do serviço público. A partir de então se instaurou em Cubatão um clima de terror: CIPs – Comunicação Interna de Pessoal - dos envolvidos deixa-ram de ser aceitas, médicos de pacientes em tratamento há mais de três anos, por temer represálias, negaram atendimento aos acusados; os doze passaram a ser difamados como baderneiros. A adminis-tração procurada por várias autoridades e políticos se negou a discutir a situação, não atentando ao principio da razoabili-dade. E o pior, através de Resolução da Secretaria da Educação, de 28/01, vés-peras do inicio do ano letivo, desmontou

PT em Cubatão persegue trabalhadoresPROFESSORES - CUBATÃO

Reproduzimos nota dos camaradas do NATE contra a perseguição desproporcional sofrida pelos professores de Cubatão que lutam contra o arrocho salarial da prefeita petisa, Márcia Rosa.

Discípula do Ministro da Educação de Dilma, Aluísio Mercadante, Rosa támbém é carrasca do ensino público, do direito de greve e realiza uma caça às bruxas para demitir 12 dos professores que protestaram contra o atraso de seus salários enquanto a própria prefeita fazia a Câmara dos Vereadores da cidade aprovar o aumeto do seu próprio salário e o dos vereadores, além de criar

mais 80 cargos comissionados.

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O Bolchevique No15 - março de 2013 11

METALÚRGICOS - CAMPINAS

Um país das horas extras...

O Brasil tem uma das maiores jornadas de trabalho do mun-do. Segundo estudo do DIEE-SE, “A queda da remuneração

nos últimos anos, as altas taxas de des-emprego e a pressão patronal, fazem o trabalhador aceitar o prolongamento da sua jornada como forma de retomar o antigo poder aquisitivo e diminuir o risco de demissão”, diz o estudo.

A reestruturação produtiva e a falta de limites às horas extras são apontadas como os principais meios para o aumen-to da exploração. “O tempo de trabalho total, além de extenso, está cada vez mais intenso, em função de diversas ino-vações técnico-organizacionais (kaizen e Lean manufacturing), implementadas pelas empresas. Também em muito tem contribuído para essa intensificação a implementação do assédio moral como forma de obrigar os trabalhadores a trabalharem mais rápido e desprezan-do as medidas de segurança”, conclui o Dieese. O insti-tuto ainda calcula que o número de horas extras feitas no Brasil chega a 52,8 milhões por semana.

Na CAF-Brasil, a empresa demitiu mais de 500 tra-balhadores entre 2011, 2012 e 2013. Os que ficam, são pressionados a trabalhar ainda mais, em um ritmo mais alucinante e sem direito a recusar-se aos “convites” para fazer as horas extras.

Mês passado na CAF, tivemos uma verdadeira violên-cia à dignidade humana, às leis trabalhistas e aos acor-dos coletivos: uma equipe de mecânicos, trabalhou de 07

horas da manhã de um dia, até às 03 horas da madrugada do dia seguinte, e teve apenas 3 horas de “descanso”, pois às 07 horas do mesmo dia, já esta-vam na CAF para continuar a trabalhar. Ou seja, algo quase que escravo.

O mais patético é que o gerente ge-ral da empresa, teve a cara de pau de descer no chão da fábrica e agradecer a esses trabalhadores pela jornada quase que escrava de trabalho. Com certeza, na hora do facão, ele vai se es-quecer desses funcionários.

...E DAS DOENÇAS DOS TRABALHA-DORES!

As jornadas extensas e imprevisíveis têm resultados trágicos para os trabal-hadores, que são afetados por doenças

como, estresse, depressão, hipertensão, distúrbios no sono e lesão por esforços repetitivos, entre outras.

Na CAF-Brasil houveram vários lesionados no trabal-ho demitidos, e de forma grosseira e prepotente, a em-presa orientou que eles procurem seus direitos na justiça do trabalho, algo que expõem a arrogância e a falta de respeito a laudos e definições médicas que a CAF sim-plesmente não reconhece.

É impressionante a quantidade de trabalhadores da CAF que têm problemas que antes eram relacionados a doença de ‘velho’ como hérnia de disco, bursite, tendinite e surdez. Esta é a prova de como a fábrica leva os trabal-hadores a níveis de vida cada vez mais precários.

Diego Cabeção

Os combativos estudantes da Universidade Nacional de Lujan, dirigidos por varios Centros de Estudantes (que correspondem aos CAs, Centros Acadêmicos no Bra-sil), dentre os quais o Centro de Estudantes em Educação (do qual fazem parte da di-reção militantes da TMB e independientes) lograran rechaçar as tentativas da Reitoria daa UNLU para ini-ciar aulas de “Tecnicatura en Seguridad Publica” no Cen-tro Regional Campana para a polícia de Buenos Aires, a assassina “buenairense”. Assim, os camaradas conse-guiram frear simultáneamen-

te os planos de mercantilizar as instalações da UNLu e de submete-la a policialização de seus discentes.

Por uma universidade a serviço da luta pela emancipação social e não

do aparato policial assassino!

UNIVERSIDADE DE LUJÁN - ARGENTINA o projeto pedagógico da es-cola em que trabalham os 10 processados. Isto resultou em enormes prejuízos aos docen-tes da escola e da rede que já tinham programado a sua vida funcional para 2013, com aulas atribuídas desde 2012. Os alu-nos também foram prejudicados uma vez que, mesmo diante dos resultados educacionais e dos prêmios obtidos ainda em dezembro de 2012 pelo Con-selho Municipal de Educação e pela Assembleia Legislativa do Estado, não prosseguirão com o projeto construído cole-tivamente pelos professores, alunos e pais. Com isto perde não só a comunidade escolar, mas a cidade de Cubatão e, em particular os trabalhadores com o fim de um projeto pedagógico reconhecidamente consistente e de qualidade. A retaliação se deu por razões políticas e não

por razões pedagógicas.Estes são os “crimes” co-

metidos pelos LUTADORES de Cubatão. A perseguição contra os servidores é o requinte da po-lítica petista do século XXI. Aqui aprimoram um bordão usado pelos militares do tempo da di-tadura: aos amigos (burgueses), tudo, aos trabalhadores e seus autênticos representantes, a lei que criminaliza as lutas.

PELA RETIRADA IMEDIATA DOS PROCESSOS!CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DAS LUTAS DOS TRABALHA-DORES!PELO ATENDIMENTO IMEDIA-TO DAS REIVINDICAÇÕES DOS SERVIDORES DE CUBATÃO!

NATE – NÚCLEO DE ESTU-DOS E AÇÃO DOS TRABAL-HADORES EM EDUCAÇÃO

Page 12: O Bolchevique # 15

12 O Bolchevique No15 - março de 2013

Gerry Downing, dirigente do Socialist Fight britânico (agrupamento membro do CLQI, do qual faz parte a LC brasileira e a TMB ar-gentina) presidente do agrupamento sindical,

Grass Roots Left (Esquerda de Base) foi sumariamente demitido na terça-feira, 12 de março pela Empresa de ônibus de Londres, Metroline, sob a acusação espúria de “comportamento inadequado para com um passageiro enquanto conduzia a linha 210”.

A demissão teve claros motivos políticos e ocorreu durante a campanha eleitoral por Jerry Hicks (candidato da oposição de esquerda) para secretário-geral do Unite (A maior federação sindical britânica). Este ataque se se-gue a acusação de difamação movida pela atual direção da Unite contra Gerry e o Weekly Worker (jornal mensal do Partido Comunista da Grã Bretanha). A acusação de difamação partiu de uma subsede da Unite, dirigida por Wayne King, Diretor Industrial da Federação contra uma carta de Gerry defendendo outro trabal-hador de ônibus que foi demitido em 12 de janeiro de 2012: Abdul Mohsin Omer.

Sua carta ao Unite do Secretário General e ao Conselho Executivo envia-da no dia 30 de Dezembro permanece sem resposta.

Gerry tem sido também uma pedra no sapato da patronal Metroline há mais de duas décadas, como ele diz em sua defesa:

“Este salto de qualidade no ataque em questão não pode ser separado da minha história anterior contra a Metroline – eu já fui demitido duas vezes pela Metroline no passado e, posteriormente, re-empregado pela mesma devido à compra de pequenas empresas de ônibus em que eu trabalhei pela Me-troline. Primeiro foi o caso West Periperi onde eu foi injustamente acusado gravemente por racismo, acusação que foi abandonada sem explicação. Em seguida, fui novamente acusado, mas não demitido. Houve também a acu-sação de um assalto contra Rep Lamont Jackson, que mostrou-se falsa uma vez que eu tinha sido a vítima. O assunto foi abandonado sem nenhuma ação adicional pelo Gerente Sampandia da Garagem de Willesden. Em seguida, fui acusado de distribuir panfletos em Cricklewood, acusação contra a qual entrei com recurso e que posteriormente foi anulada”.

Esta demissão também deve ser vista no contexto do grande aumento das demissões na Metroline como consequência da introdução dos terríveis novos contratos que começaram em janeiro de 2012. Trata-se de fazer eco-nomia demitindo um “motorista sênior” com custos e direitos trabalhistas rela-tivamente bons para substituí-lo por um novo motorista com custos e direitos muito inferiores. Um exemplo disto foi a recente demissão de uma motoris-ta de origem indu por três pequenos acidentes com o retrovisor com vinte anos de serviços prestados a Metroline. Oscar Alvarez, um membro do IWW (Industrial Workers of the Word, agrupamento internacional do sindicalismo autogestionário) que trabalhava na garagem Periperi da Metroline também foi recentemente demitido por uma acusação semelhante após uma colidir seu ônibus com um carro dirigido por uma motorista que admitiu ter cortado o ônibus dirigido por Alvarez, provocando o acidente.

A condenação de Gerry no processo disciplinar que o demitiu foi consu-mado pela inclusão ao mesmo de uma carta do Chefe de Garagem, Leroy Webley, em resposta a uma de duas reclamações de um passageiro sobre um incidente que teve lugar na linha de ônibus 210 em 15 de fevereiro.

A resposta de Webley a reclamação do passageiro dizia: “Assim, os moto-ristas devem se comportar de uma maneira educada e profissional em todos os momentos.

Nós não agimos assim nesta ocasião, e peço desculpas por qualquer transtorno / sofrimento que você possa ter sofrido como resultado do mal atendimento ao cliente realizado pelo condutor.”

12 dias antes Gerry foi encarregado de apresentar sua versão dos acon-tecimentos:

Este é o relato de Gerry no processo:

Pela reintegração do camarada Downing, motorista de ônibus, demitido por perseguição política pela empresa Metroline

CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE CONTRA A DEMISSÃO DE GERRY DOWNING

“A audiência durou quase oito horas e três processos disciplinares também previstos para aquele dia tiveram de ser adiados porque o experimentando Sr. Hill teve uma considerável dificuldade em justificar a minha de-missão. Ele passou quase uma hora e meia de consultar o Gerente de Garagem, Leroy Webley, antes de entregar o veredicto depois de seis horas, e mais de uma hora extra após o horário que ambos deveriam estar em casa.

Ridiculamente o julgamento queria saber se eu es-tava estressado porque a criança mentalmente doente gritou dentro do ônibus por meia hora tomando o ônibus tanto na ida quanto da vinda de seu trajeto, para o Hospi-tal Whittington em Archway, ou se eu estava preocupado com a segurança da criança. Eu tinha afirmado que esta última foi a minha preocupação, mas de nada adiantou e ele insistiu eu tinha agido por causa do estresse da

situação e dos meus próprios problemas domésticos (minha companheira está prestes a passar por uma grande operação de câncer de garganta) e eu não tinha legítimas preocupações com a segurança da criança. Ele também rejeitou o meu apelo para que entendesse que o estresse prejudica a saúde e a segurança, podendo levar que o motorista cometa um acidente.

Eu não tinha conhecimento da relação entre a criança e o adulto e, no final da audiência, o gerente admitiu que, se o homem que acompanha a criança era um educador e não o pai, o fato de que ele continuamente cobria a boca da criança e enrolava um cobertor muito apertado na mesma constituiria um abuso. Por isso não equivaleria a abusar independentemente da relação ele não explicou.

Antes da conclusão da audiência, enquanto aguardava o veredicto, outro motorista da linha 210 veio a mim e contou como ele tivera o mesmo homem em seu ônibus de algumas semanas antes e ele havia gritado da mesma maneira. Ele disse que ficou claro que o garoto era doente mental e precisava de uma necessária assistência. No meu caso, depois de três paradas sob aquela tensão eu parei o ônibus e chamei um táxi, perguntando se o homem não preferia chamar uma ambulância para o garoto. O homem disse: ‘Não, não, não, a criança está apenas chateada.’

Ele disse que a segurança da criança parecia estar em perigo e parecia que ele estava sendo mal tratado pelo homem. O motorista relatou o fato em detalhes e estava disposto a mostrar estas evidência na audiência, mas o gerente se recusou a ouvi-lo e ele disse que o caso estava encerrado. O outro motorista se dispôs a apresentar seu testemunho como recurso.

Tudo ficou evidente e até a minha linguagem corporal e o tom de voz que eu usei quando fiz duas perguntas ao homem. Mas este tratamento foi consi-derado tão grosseiro e ofensivo que eu tinha que ser demitido imediatamente para proteger o público.

Em qualquer situação, a condução de um ônibus é um trabalho muito estressante. No dia 15 de fevereiro estava a menos de uma semana antes de minha companheira enfrentar uma grande operação para remover de sua garganta um câncer. Isto ocorreu no dia 21/02. O processo da operação consumiu um dia inteiro e os médicos nos disseram e suas chances de so-brevivência eram de apenas 30%. Tornava-se quase impossível continuar a conduzir com aquela intensidade de gritos dentro do ônibus. Isso poderia causar-me um acidente, e eu não tinha conhecimento de quanto tempo isso poderia durar, talvez todo o caminho até Brent Cross. Eu não poderia ter con-tinuado por muito mais tempo dirigindo sob aquela pressão e a criança pre-cisava de ajuda urgente, por isto eu interpelei o homem que claramente não estava à procura de assistência médica para a criança o mais rápido possível – ele tinha vindo do Hospital Whittington e tinha passado em frente a clínica médica de Almington, a caminho do Parque Finsbury. E mesmo assim, estou apenas especulando que quando ele saiu da estrada de Almington foi para levar a criança para alguma clínica médica, mas teria se perdido na viagem de Archway e por isto estivesse angustiado. Nunca no passado, fui conside-rado culpado de qualquer comportamento inadequado para os passageiros.”