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O Brasil Holandes - Gaspar Barléu - parte 01

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Edição de 1940

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  • Ao

    O BRASIL HOLANDESSOB~ ,

    O CONDE ]AO MAURICIO DE NASSAU

  • (MINISTRIO DA EDUCAO,-

    GASPAR BARLEU

    / ,,

    H 1ST O R 1 Ado~ feitos recentemente praticados

    durante oito anos no

    BRASILe noutras partes

    sob o govrno do ilustrssimo

    ora governador de VIeseJ'l Tenente-General de Cavalariadas Provncias Unidas sob o Prncipe de Orange

    TRADUO E ANOTAES DE CLUDIO BRANDO

    RIO DE JANEIRO

    Servio Grfico do M I N 1ST R I O D A EDU C A OMCMXL

  • ~~~~~.rJe

    S lauris que, na parte superior, encer-ram no centro os lees, (1) quiseramassim aludir ao seu titular.

    Fulge, de um lado, a coroa mural,'~~1ZW.'S~~iA que se confere em recompensa das portas

    entradas j do outro, adorna, por cima, os espores dosnavios o prmio com que se honram as vitrias navais.

    A virgem pernambucana mira os seus olhinhos,e, graciosa, ergue a miJo, a qual segura uma cana.

    Prxima, a fecunda Itamarac exibe os seus nec-trios racimos e os magnificos dons do prprio solo.

    Junto a ela, a Paraba pe nas frmas o dul-cssimo acar e o torna grato aos povos.

    O avestruz, errante habitador do Rio Grande,foge correndo, e falsamente imagina que se lhe d decomer.

    Destarte se ufana o Nvo Mundo com os brasesbatavos, e, sob o govrno. de Maurcio, florece-Ihe agleba feraz. As gentes que a terra distingue defende-as um s Chefe. E a Nau de Marte sulca as guasocidentais,fazendo conhecidos os seus mercantes e os se-nhores do mar.

    Em frente pasma-se o Sol ante as armas, aindaque violentas.

    'Tu, Sergipe, pes em ~(ace de tuas moradas asIlamas de Febo, e szinho queres ser chamado de el Rei.

    7 eus so, Iguarass, os caranguejos.A ti, Prto Calvo, aprazem os cimos: al

    ests sobranceiro, tu, que deves ser temido daquelascumeadas.

    O gnero escamgero mergulha-se nas rdias dasA lagoas. (2)

    Contra Serinham relincha o belicoso corcel.Crava a ancora na areia os dentes entravados e

    quer se nos deem al reinos diuturnos.A bssola aponta o Ocidente, mas no olha para

    o Levante. Por qu? Porque reina cada um em pla-gas distintas.

    A fama, que vs soprar os clarins e as tubas,mostra no o esfro, mas o ar de quem apregoa tograndes cousas.

    G. BARLU(1) Da Cssa de Nsssau.(2) Metfora forada e deselegante para signifi(./il' que os peixes figuram no braso

    das AlagoS3.

  • st;; '0 u:ne "ch~.svgistr8dosob n ii mar o ...--3....,.-1!:--::----do ano de /f!-f-9

    AO MUITO ILUSTRE

    CONDE

    JOO MAURCIODE NASSAU,

    EX-GOVERNADOR SUPREMOA

    DO BRASIL HOLANDES. ETC.

    de, o Brasil engrandecido pela vossa, ~ autoridade e pelas v~ssas armas. Se

    o le pudesse falar e fITmar convosco~~;;"'.(Jl)~~~ um tratado, por si mesmo se entre-garia a vs, que, com insigne galhardia, defendes-tes e exaltastes a Holanda e enc estes a Espanhacom a fama e o temor da guerra por vs dirigida.Vingando uma, fostes o terror da outra e o assom-bro de ambas.

    O que nem esta nem aquela podem fazer,f-Io-ei por uma e outra, escrevendo uma histriana qual nem sero esquecidos os feitos praticados,nem omitido o autor dles. Os escritores antigosque transmitiram posteridade fatos dignos deatravessar os sculos no transpuseram os trmi-.nos do velho mundo. Ns, audazes, buscmos con-vosco um mundo que, apartado de nossas plagaspor um oceano inteiro, parece ter a Naturezaguardado e escondido para honra vossa e glria

    da

  • x DEDICATRIA

    da casa de Nassau. Atenas, Lacedemnia, Cartago,Roma, o Lcio, as Glias e a Germnia constituemo assunto dos escritores gregos e romanos. Olinda,Pernambuco, Mauricipole, I tamarac, Paraba,Loanda, S. Jorge da Mina, o Maranho, nomesdesconhecidos dos antigos, sero o nosso tema. Osbeligerantes de ento eram os assrios, os persas,os gregos, os macednios, os italianos, os cartagi-neses, os gauleses, os queruscos. Os de agora soos tapuias, os mariquitos, os potigares, os caribas,os chilenos, os peruanos. No Brasil no se com-bate apenas entre gentes diversas, mas tambm en-tre dois continentes. Outrora o Reno, o Istro, oRdano, o Indo, o Ganges foram testemunha degrandes acontecimentos. Agora so os rios ara-nho, da Prata, de Janeiro, dos Afogados, de Pr-to Calvo, Capibaribe, Beberibe. No conheceu Po-lbio mulatos, nem Lvio patages, nem Tcito a -golenses, nem Floro mamalucos, nem Suetnio o

    A

    Justino negros. Estes nomes, porm, aparecena nossa histria. Os soldados descritos por ehistoriadores iam para a guerra vestidos ou coi-raados; os guerreiros de que trato vo combaterat mesmo nus. Aqueles causavam terror com oseus dardos, broquis, sarissas, bipenes e carrosfalcatos; os meus so temveis pelo arco e pelaclava. Aqueles mostravam o seu esfro com osassdios e com as mquinas de ataque e de defe-sa; stes, pelejando s com as mos, carecem de

    tais

  • DEDICATRIA XI

    tais cousas. Outrora os romanos venceram os lusi-tanos junto ao Tejo; hoje stes so no ultramaros irmos e os aliados dos romanos.

    E' novo quanto se me oferece pena: o cu,o solo, os povos, os seus costumes, a sua alimen-tao, as suas armas.

    Miam os brbaros a espada contra umaraa capaz de disciplina e de costumes puros. Elaresiste a sses homens ferozes, que no somenterenunciaram a humanidade, mas tambm inten-tam destruir o homem habitador dos palmares ecom le os prprios sentimentos de humanidade.

    Indo para to longe da morada da virtude,engrandeceste a assa irtude, sendo brando en-tre cru'i , ci iI entre agrestes, manso entre san-g , ri ,piedo o en re ignorantes da erdadeira

    idade. Fize tes fora da Ptria o que antes nelaati a te : toma te ar a em favor da Religio,

    da Ptria e da Igreja, da salvao dos homensdo int r A e do omrcio, assim procedendo,

    n a e no tra parte, para a glria das Provnciasnida. o tra te - o oldado contra os mais va-

    lara o do e panhis: Bagnuolo, Conde da Trre,Barbalho, ene ,astros que surgiram no Oci-dente. o desliga tes os ossos exrcitos da lei,da disciplina e da ordem, mas, a exemplo dosvossos maiores, os mantivestes zelosamente nos li-mites do direito.

    ,

    Ereis luz no reino das trevas, compatriotaentre estrangeiros, guia entre transviados, e, no

    IDeIO

  • XII DEDICATRIA

    meio de povos to diversos, fostes para todos omesmo senhor.

    Com Marte que ia domar a terra levastesCristo para domar as almas, e entre tantas vit-rias que meditveis incluu-se a que dos erros al-canastes. Demonstrastes com brilho a vossa heroi-cidade e a vossa percia militar: de tantos Nas-saus que na Ptria provaram sua valentia contrao inimigo, de tantos parentes conspcuos nas cam-panhas europias, fostes vs o primeiro que eanimou a levar a guerra para alm dos mares e ainvestir o inimigo no seu prprio territrio. Certoaprendestes dos antigos stes planos estratgico .Dles usaram os romanos contra os macednio ,Anbal e Antoco contra os romanos. Todos stesjulgavam nada fariam de memorvel, se no trans-portassem para outro lugar a iolncia da gu r a.Os grandes capites, encerrados nos e treito co -fins da ptria, buscam de ordinrio espao aiamplo fora dela para ostentarem a sua bra ura emrito. Seguindo-lhes o exemplo, foste no o o

    "Mundo qual Metelo nas Glias, Mrio na frica,na Germnia Druso e na Pannia Trajano. As imcomo stes inscreveram em suas colunas os triunfocontra os estrangeiros, assim tambm vs hav"eide grav-los nos nimos e nos fastos da Holanda.

    H muito j conhecem os americanos os no-mes e os ttulos da vossa famlia, mas no tinhamainda recebido a nenhum dos Nassaus, e assimdevia ser para que, no Brasil, vos tornsseis co-

    nhecido,

  • DEDICATRIA XIII

    nhecido, no pelas narraes dos outros, mas pes-soalmente e por vossas aes belicosas. Onde vsmesmo construistes fortalezas e cidades, onde ven-cestes os inimigos, a deixastes impresso o nomede Maurcio, merecendo sozinho, entre tantos he-ris da vossa casa, o cognome de Americano. Nocorrer das lutas, quando chegava a poderosssimaarmada espanhola, edificastes, mostrando que novos retir eis inconsideradamente por temor doad ersrio e que no desesperveis de salvar a re-pblica. Destarte, reconheceriam os antropfagos,

    endo Friburgo e Boa Vista, o fausto de assaue a re idncia de to ilustre personagem. De ossaindstria falaro as maravilhosas pontes lanadaspor sbre os rios para a utilidade e segurana p-blicas. Prto Cal o, Cear, as costas de Itamarac,da Paraba, do Rio Grande, Loanda, Guin, Ma-ranho, tdas esta regies, sabedoras das bata-lhas na ais e terrestres travadas sob vs, procla-maro o vosso valor militar.

    Por outro lado, sero testemunhas da vossapiedosa e prudente moderao povos discordes nareligio e na polcia. Os governadores das cidadese provncias izinhas lou aro a vossa eqidadeno territrio inimigo, e os estrangeiros exaltaro avossa clemncia e humanidade.

    Quando, aps alguns sculos, os indgenas,o portugus e o brbaro virem, por tdas as pro-vncias, os brases que lhes destes; quando viremos domnios holandeses por vs dilatados e engran-

    decidos

  • XIV DEDICATRIA

    decidos, ho de memorar o poder, a prudncia ea felicidade do General. Quando, nos desertos deCopaoba, divisar o caminheiro as insgnias da Com-panhia suspensas em cips e lpides, h de admi-rar a indefessa atividade do Administrador es-trangeiro e os cometimentos de um povo que pene-trou em paragens nvias, levado pela avidez doganho. Quando os silvcolas, pejando-se de se ernus entre os nossos, se vestirem, agradecero aorecato dos vossos europeus os us com que r-guardava o primitivo pudor.

    A prpria Olinda, cidade outrora linda nonome e no aspecto e ora afeada com o entulho desuas runas, achou, na sua grande calamidade,motivo de gratular-se consigo mesma: no oddo manter-se erecta e inclume, por t r'-J-'l..-'l..-"-rumado as vitrias alheia, foi bra d t t -tada pela vossa comiserao. endo-Ihe, o'nuo, o lamentvel infortnio, condoe te - o dsorte de to nclita cidade. Confronte- o a e tode Olinda caindo e de Mauricipole urgindo .vossa honra: no se hesitar em decidir qu dodois espetculos mais deleitvel. Se de lamen-tar o tomarem-se armas contra os agrados na-tes, de certo ser grato e louvvel o ha erdesconstrudo templos para Deu e casas para os ci-dados, primeiro, para o vosso amor refletir-se noprprio Criador; segundo para alcanar le tam-bm os homens, imagem do mesmo Deus.

    Assim,

  • DEDICATRIA xv

    Assim, com umas virtudes intimidastes osvossos inimigos e com outras ganhastes os vos-SOS. concidados, granjeando daqueles uma glriaimensa e dstes um afeto e bem-querena geral.Encontrastes o meio trmo entre os inimigos e osnossos, entre os ferozes e os brandos para honrar-des com a doura batvica aqueles que vencestescom o dendo batvico.

    Direi em resumo: chegando ao Brasil, reer-guestes o que estava derrudo, corrigistes o queestava viciado, reavivastes o que estava morto.Tornando para a Ptria - clama-o a realidade -,parece, a um s tempo, ter o Conselho perdidoo seu defensor, o povo um pai, a repblica a or-dem, as leis 11m guarda, a piedade um exemplo, oholands o respeito, o portugus a lealdade.

    Oferecendo estas pginas aos vossos olhos,fao reviver os servios por vs prestados glorio-

    ~

    samente Repblica e Companhia das IndiasOcidentais; sujeitando-as ao julgamento dos ho-landeses, impetro da estima que vos consagramum prmio para o osso esfro; entregando-as aojuzo dos estrangeiros, convencerei da fortuna edos prosprrimos sucessos da guerra os que noforem de todo injustos; submetendo-as Compa-nhia e aos seus prudentes Diretores, mostro-lhesas causas que lhes alcanaram, no aparato detantos cometimentos, bastante glria marcial emenor soma de proveitos.

    Acolhei

    ..

  • XVI DEDICATRIA

    Acolhei sob o vosso patrocnio o escritor,apesar de ter le escrito com to remisso espritoo que praticastes com to vigoroso nimo. Conce-dei verdade, concedei a esta histria sereni ade,pois tda ela trata de vs, tda dedicada ao vossopreclaro nome. Recebei-a. Ela se funda mais notestemunho e na f alheia do que na minha: a-cilar, quando a inveja, a perversidade, a credu-lidade argirem de mentira as bcas e os olhosdaqueles que governastes, daqueles pelos quai I -tastes e at mesmo dos inimigos que encest .

    Amsterdam, 2O de abril de 1647.DE VOSSA EXCEL~NCIA

    ILUSTRSSIMAvenerador humlimo

    ,;

    GASPAR BARLEU

  • SERIES TABULARUMQuibus quae que loeis inferi debeat

    167175183191199207207215215223231

    3 9367

    239247255263271279287295295303311327335347351351

    omitemPatriamqure ml'evexi .

    Dillenbu1'gum .

    *

    30 FI. Granclis.31 UlU' OmniUlll anctOl'um .32 I mu Olllillum anctorum.3.. Insula Antonii Vamo34 Arx Principio Guilielmi.3- {:MalU,itiPolis.

    Reciffa.36 aput Augu tini.37 aput Augustini.38 Friburgum.39 Friburgum.40 ~fauritiopolis eciffa et circumja-

    centia ca tra,41 Boa-vista.42 Pl'imum P1'relium ... a,ale.43 ~ eC1Uldum prrelium.44 Te1'tium p1'relium.-l5 Quartum prrelium.46 Incendia mola1'um.47 {Loanda.

    . Pauli.48 Loanda.49 ln uIa ThoIll.ID.-O rb ThoIll.ID.51 ~aragnon .

    1'b LodoTIci.'x Monti alvarire Regnulll.

    hili.- .la

    152331

    7

    3947556717179878799

    103

    1031111111191271351371511511591591 9167

    Ante ela pg.

    vii.

    Mina.1in

    lar1. ara. ba.

    ara)~ba.. til1111 flumini Paraybre,a b.'lllll uill Ri rund

    ]0J11""

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    lirjij .Paruambur'um .Parllalll Tamari -a.Para. ba t Ri iraml

    lIa.. i llaVlUlll qua hin' di c it'om. :J1anritiu .

    ti Pr lium prop'. Portulll alvi.7 P !tu. nIvu

    1 idi xpugnatio rtu. 'ah'i.'ivita Olinda.linda.

    :taram.rinhailll.

    1, 'i ita.' l'lll erinhre m nsi.]4 a0'11, ~ la n tralir Ala U ~ 1 trali1 u.. trull1 Mauritii.17 'a trum _lauritii ad ripam

    1'an1 TUlllari a.19 I ula ama1'i a.

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  • IHISTORIADOS

    FEITOS PRATICADOS

    B R ANO

    s I L,durante oito anos, sob o govrno do Ilustrssimo Conde

    POR"GASPAR BARLEU

    ~~~~~~~..)~' ~ ESDE que o espanhol se tornou inimigo nosso e Guerra holan-G . ,.. desaos Estados eralS das Provlnclas UnIdas se in-

    surgiram contra os Felipes, com fortuna vriatem-se batalhado, animosa e diuturnamente, naterra e no mar, dentro da Ptria e fora dela,sob o comando de mais de um general, entre a

    esperana da liberdade e os riscos da servido.A cau s desta guerra, expostas por tantos autores (1), so Causas

    assaz conhecidas, diferindo nuns e noutros, segundo as suas sim-patias partidria~.O nimo apaixonado dos homens leva-os a cul-par das calamidades pblicas aqueles a quem odeiam, julgandoidnticos os princpios e as causas da guerra. Muitos, por ignoraremo poderio dos Pases-Baixos, consolidado por privilgios reais (2),emitem juzos pouco justos. Ao rei no faltaram pretextos paraatacar a mo armada a Repblica, tomando m parte, sob colarde rebelio, os fatos ocorridos. Aos neerlandeses no faltaram ra-zes e coragem para repelir as hostilidades, de dio contra os do-minadores e vingando a liberdade, pois, ofendida esta, se tornamagastadios e valentes.

    A

  • 2 o BRASIL HOLAND~S SOBExtenso

    Fa'm,a

    DU1'ao

    Doeito

    Virtudes e viGios

    Generais

    A extenso e violncia da guerra envolveu no s os Pa-ses-Baixos, mas tambm a Alemanha, a Frana, a Inglaterra, a Es-panha e alguns lugares vizinhos, enfim a Europa quasi tda, atque, aumentado o seu furor, desencadeou-se nos confins da Asia,nas costas da Africa e no Novo Mundo. E' mau costume dos prnci-pes o descurarem-se de atalhar os males nascentes, porque, medra-dos, mal o podem e, inveterados, desesperam de o conseguir.

    A fama desta guerra perdura em tdas as partes por ondeela se estendeu.

    A sua diuturnidade resulta dos seus prprios motivos. In-sistindo o rei em recuperar o que perdeu, ns nos defendemos; usoude violncia, ns o repelimos. Desde os primeiros levantes tem-seprolongado a luta at hoje, sem esper na de f ou de concrdia, ano ser que as trguas dos doze anos (3) tenham concedido descan-so s armas e s animosidades. Duram, assim, ainda mesmo almdo perigo, os dios oriundos da liberdade oprimida e no cessam,nem depois de desaparecidos os primeiros opressores.

    O direito .desta guerra baseia-se todo nas leis ptrias e nosforais rgios. Violados les, esta Repblic de tantos sculos, aexemplo dos nossos maiores, que tomaram armas contra os roma-nos, deps o rei e declarou-lhe guerra, tanto mais honrosamentequanto parecia no s legtimo e necessrio, mas tambm gloriosodefender a Ptria, a liberdade, a vida e a fazenda dos cidados,cousas que os homens julgam superiores a tudo.

    Durante sses tumultos dos Pases-Baixos, andaram de mis-tura com grandes e assinaladas virtudes vcios iguais: os furorespopulares com o zlo da piedade e da religio, a soberba dos es-panhis com o amor ao seu rei, a licena com a liberdade} o des-przo das prerrogativas reais com o respeito da realeza, a impie-dade e a beatice com a uno religiosa, a perfdia com a lealda-de pblica, a ferocidade infrene da soldadesca contra as cousas di-vinas e humanas com a bravura e a disciplina militar.

    Foi grande a influncia dos generais: usando uns de alvi-tres astutos,' outros de conselhos ferozes;, stes de sugestes maisbrandas) ou promoveram ou prejudicaram os intersses do seu rei.A principal fra das Provncias-Unidas procedeu da ordem, dadisciplina, do dinheiro, das alianas com os prncipes vizinhos eda fidelidade, prudncia e galhardia dos capites nassvios. Com

    tais

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 3tais auxlios, mostraram-se os neerlandeses terrveis para os ini-migos, e, entre os assombrosos infortnios da nao em luta, de-ram a segurana e tranqilidade aos seus compatriotas.

    No primeiro perodo da contenda} a situao da Repbli- Perodos daca foi de abatimento e de opresso, sob o despotismo do Duque guerra.de Alba. Enviado com poderes tirnicos, sendo le prprio um tira-no, proclamava que tinha ordens do rei para encarniar-se contraa vida e os bens da nobreza e da burguesia. Alm disso, cercando-se s com o terror inspirado pela sua ferocidade, mandou-se re-presentar pisando os nobres numa esttua insolente e indigna (4),e provocava, com sua antiptica jactncia, um renome odioso e ocastigo do destino.

    No segundo perodo, ressurgia a nacionalidade e de novose agitava sob o prncipe Guilherme de OrangeJ cujas faanhas emfavor dos aflitssimos neerlandeses ainda no lograram exprimir osengenhos dos mais ilustres escritores. Sob ste e o filho, herdeirodo psto paterno, hesitava a sorte sbre quem nos daria por sobe-rano, pois recusavam os reis o poder que se lhes oferecia (5) e in-citavam ao frenes homens desesperados e quasi vencidos simult-neamente pela fortuna e pela potncia dos inimigos. Buscou-sefora quem assumisse o regimento da nascente repblica e no sepde encontrar, tornando-se manifesta a doutrina de ser a autori-dade outorgada por determinao divina e no humana.

    As fras dos insurrectos, a princpio exguas, circunscre- Guerra doms-veram-se de preferncia nos limites de Holanda e de Zelndia, veri- tica.ficando-se logo a adeso de Guldria, Over-Issel, parte da Frsia etda a Groninga, at que ocuparam com fortes guarnies certospontos do litoral do Brabante e tambm de Flandres. Assim, o povo,pronto para acelerar os seus triunfos, mostrou a sua fra e, pro-tegido por Deus, se engrandeceu mais do que o poder cr:er a pos-teridade.

    No terceiro perodo, a Repblica, robusta e triunfante sobos nclitos irmos Maurcio e Frederico Henrique (6), prncipes deOrange, no smente se defende, mas leva tambm as armas parafora de suas fronteiras. Dilatando por tda a parte o nosso terri- G1l rra ext rna e

    , . f I d ' ultrama1'ina.torto como por um fluxo crescente da ortuna, expu san o exer-citos, ferindo prsperamente tantas batalhas, tolerando herica-mente tantos cercos, pondo outros mais hericamente ainda, j

    livres

  • o BRASIL HOLAND~S SOBlivres dos temores domsticos, levmos nossa bandeira e nossasesquadras Espanha, frica, ao Ocidente e a um mundo igno-rado dos antigos, e j desta sorte, revidmos ao rei a guerra quenos fizera. Atravs de vastos reinos estrangeiros, divulgou-se onome dos Estados Gerais; construram-se cidades e fortalezas,de um lado nas regies da Aurora, de outro sob os tlamos deFebo; gravou-se o nome dos Oranges e dos Nassaus nas ilhas,nos promontrios; nos litorais, nos fortes, nas cidades; reduzi-ram-se a provncias os pases brbaros; despojaram-se dos te-souros asiticos e americanos as naus espanholas, que foram quei-madas diante das prprias costas do Brasil. Revelara-se-nos, en-fim, o segrdo da dominao: - podermos vencer o Ocidente. Jdeixava de ser verdade o que de Roma escrevera outrora DionsioHalicarnsseo: ter sido a primeira e a nica que fez do oriente edo ocidente o trmino do seu poderio. Chegmos, de feito aos tem-pos em que vemos, felizes, o sol, testemunha de tantas vitrias, no

    Guerra dupla/o ter ocaso tambm nos nossos domnios (7). Demos um exemplomais eloqente que os dos antigos e enumerado entre as maravilhasda nossa poca: - um povo, envolvido em tantas guerras, apenascom o dinheiro de alguns particulares, como que cotizados para aruna do inimigo comum, vexar e abater um rei poderosssimonuma guerra dupla, em partes do mundo separadas por todo umhemisfrio, para igualar hoje a extenso do imprio holands quasicom a redondeza da terra.

    Causas da nave- Poderia, sem dvida, a nossa bravura cingir-se necessi-~~~~o para a ln- dade de se defender, contentando-se com os limites costumados do

    oceano. Entretanto) vedada por ordens rgias a navegao dos nos-sos compatriotas para a Espanha e depois para o Oriente. comeouela a estender-se mais. E esta raa criada entre as guas) como separtisse o freio imposto sua ambio, demandou as plagas longn-quas do orbe, ainda mesmo usurpando vias que a Natureza negouao homem.

    O esprito mercantil, frustrado na esperana do ganho, acir-ra-se e incita-se com os prprios perigos. Pensava-se assim: queno lcito, por uma lei pessoal dos soberanos, impor servido aomar, franqueado a todos; que se carecer no pas das cousas neces-srias, se no se forem buscar a outras partes; que ainda mesmo nalndia engendra o Criador produtos teis aos neerlandeses; que so

    sempre

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 5sempre mais aItos os preos das mercadorias vindas de longe; que,estabelecido o comrcio com o Oriente, seria de proveito ir-se ter, . . . ".,.. .

    as terras Inimigas; que) com a nossa navegaao, se arruinaria a opu-lncia do rei da Espanha; que, ocupado le em outros lugares, fica-ria mais quieto no seu reino e, assim, o bom nome do povo holan-ds se espalharia amplamente entre os estrangeiros, e o do rei seriaverberado.

    Dos exemplos alheios tinham aprendido os holandeses adescobrir mundos novos com o auxlio das naus e a levar a povosdistantes e vivendo sob outros cus a religio, as riquezas, as leis,os bons costumes e a polcia.

    A liberdade comercial foi sempre o baluarte de uma gran-de potncia. Com ela cresceram os trios, os cartagineses, os per-sas) os rabes, os gregos e os romanos. Por isso, os nossos naviosmercantes, comboiados pelas nossas armadas, navegaram primeiropara o Oriente, depois para o Ocidente, fundando fora da Europa,como que dois imprios, sustentados por duas companhias. O ho- ausas justas eI d" O d . . equitativas.an es tentou no ceano errotas tanto mais extensas quanto maIsenclausurado se sentia nas acanhadas fronteiras de seu pas, espa-lhando o seu trfico e poderio por tda a parte onde brilha o sol.Discutiram os castelhanos e os portugueses se era isso jurdico,como se, aps as batalhas e a guerra, houvesse lugar para as leise para as incertas controvrsias dos juris nsultos. No obstou atais empreendimentos nem a doao feita p lo papa Alexandre VIaos portugueses e aos espanhis, pois permitido a algum serliberal do seu e no do alheio; nem a prescrio aquisitiva, ina-plicvel as cousas pertencentes a todo o gnero humano; nem odescobrimento, o qual nenhum direito d sbre terras que sempretiveram donos; nem o direito de guerra, o qual foi para ns to jus-to contra os portugueses quanto o foi para stes contra os ndios.Fomos para onde nos chamava o direito natural e o das gentes ea carncia mtua de produtos, porquanto o ganho poderoso in-centivo para se tentarem os mais arrojados cometimentos. Umaplebe faminta e desprovida dos regalos e comodidades da vidaignora o que temer: o desejo de ter e de dominar impele a co-ragem humana aos mais arriscados lances. Por onde abre caminhoa cobia das riquezas, por a tambm o abre a ambio do mando;onde encontra aquela a sede da sua mercancia, acha esta a da sua

    domi-

  • 6 o BRASIL HOLAND~S SOBdominao. E' fato antigo que so mais renhidas e certas as lutasonde so mais crescidos os despojos e os lucros.

    Impedida a na- E' parecer das pessoas sensatas que pssimos conselheirosveqa.o e o co- ouviu O rei quando proIbiu aos holandeses o acesso Espanha emercw p01' '1naus 'conselhos. s lndias. Sempre lhes foi fcil tolerar os medidores da terra, mas

    nunca os do mar. Portanto, propelidos pela necessidade~ rumarampara donde as incertezas do mar, as distncias imensas e mais ain-da a novidade do tentame os dissuadiam de ir, para trazerem lesmesmos as mercadorias que estavam acostumados comprar, pri-meiro aos venezianos e depois aos espanhis e portugueses. Ale-gavam-se exemplos da idade antiga e da moderna, nos quais se

    Oontendas dos mostrava haverem sido perniciosos aos imperantes os mares fecha-~::~'1~:O tobr;;,a1~ dos e o trfico dificultado, pois a audcia e o desespro no res-

    peitam semelhantes obstculos e franqueiam aos navios a entradanos portos. Aos cretenses, senhores do mar, no os sofreram os l-dios, nem os pelasgos aos ldios, nem os rdios aos pelasgos, nemos frgios aos rdios. A dominao dstes provocou a rivalidadedos cprios e a dstes a dos fencios. Enquanto ste povo se apro-pria do mar inteiro e da pesca e com editos exclue os outros, con-quistam o senhorio das ondas os egpcios; depois os milsios, os c-rios, os lsbios, os foceenses e os corntios. Arrogando-se os lace-demnios o predomnio do mar circunjacente, navegaram-no maisaudazes os atenienses, impondo leis a Lacnia assim como a Egina.Como sujeitassem os trios ao seu poder no s o mar que com lesvizinhava, mas tambm todo aquele que suas frotas tinham percor-rido, os cartagineses:, donos do mar da Siclia e da Africa J estimu-lados, freqentaram as mesmas paragens que os trios. Destruramos romanos a potncia martima de Cartago. Tinham com les pac-teado os cartagineses no ultrapassassem o "Promontorium Pul-chrum" na frica. Envergonhou-se, porm, aquele nobre povo deque, tirando-se-Ihe o mar e sendo-lhe arrebatadas as ilhas, pagassetributos que costumava exigir. E quando senhoreou o mar inteiro,assim o que se estende aqum das Colunas de Hrcules, comotodo o Oceano onde fsse navegvel, dle receberam leis martimasAntoco e Anbal.

    Consta de narraes verdicas que, por causa da interdiodos portos e do comrcio, surgiram guerras entre israelitas e amor-reus, gregos e misos, megarenses e atenienses, bolonheses e vene-

    .Zlanos

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  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAUzianos, cristos e sarracenos. E quasi a mesma razo, isto , seremprivados do uso comum dos portos e das costas, tiveram os pr-prios castelhanos de atacar a mo armada os habitantes da ndiaOcidental. Injusta no a censura de Tcito aos romanos, dizendoque les estorvavam o intercmbio das naes e de certo modo im-pediam a utilizao das ondas e dos ventos, franca a todos. J sepode, pois, admirar essa casta de homens aos quais apraz o brba-ro costume de proIbir aos estrangeiros a hospitalidade das praias.Mas, por um revs, por uma contra-volta da fortuna I acontece que,reclamando s para si a terra e a gua, so privados de ambas,porque se irrita a ousadia dos menos poderosos com a ambio demando dos mais poderosos. Nem tolera o Criador do universo queum s povo desfrute e poucos potentados repartam entre si asguas criadas para o bem de todos e destinadas utilidade geral.

    A relao dstes exemplos me trouxe a esta digresso parano se queixarem os reis da Espanha ou de trmos tentado algumanovidade ou de lhes ter acontecido uma cousa inaudita. Passam ossculos e os homens~ mas repetem-se os fatos e suas causas.

    Volto agora ao meu assunto.Aps algumas viagens incertas e isoladas ao Oriente, cons- Navegao da

    ., f' nh' '" I COMPANHIAtltulu-se en 1m uma compa la com capItaIS partlcu ares, e, no ORIENTALano de 1602, decidiu-se ir at l. pa1"a as lndias.

    Nestas expedies precederam-nos os portugueses e caste-lhanos, e a stes os venezianos, que, durante cento e tantos anos,foram os senhores da navegao das ndias atravs do Mar Ver-melho at os emprios de Alexandria. Sabe-se, porm, com certeza,que anteriormente os rabes, os persas e os chineses, de vrios s-culos atrs at hoje, teem comerciado com os indianos, e antesdstes povos, j o faziam Cartago e Roma. Estrabo, escritor asi-tico, e os mapas de Ptolomeu mostram a derrota de Hano desdeGades at os extremos da Arbia, as embaixadas dos ndios aos im-peradores Augusto e Cludio e a viagem descrita por Plnio. No preciso invocar para to grandioso feito o testemunho do poetavenusino (8), em cujo tempo um mercador ativo chegou aos con-fins da ndia atravs de mares, de pedregais e sob os ardoresdo sol.

    Nas primeiras expedies. nem sempre tivemos fortunaprspera, e ficaram duvidosos os resultados dessas audazes empr-

    sas

  • 8A

    O BRASIL HOLANDES SOB

    Mercadorias doOriente.

    sas, conta dos trabalhos, despesas e perigos. Entretanto~ aumen-tando com os prprios prejuzos a coragem dos mercadores ebuscando-se esperana no prprio desalento, venceram-se as difi-culdades que os estorvavam, e cresceram desde ento os lucros atal ponto que as aes de cada um dos scios da Companhia subi-ram a mais do qudruplo. No tambm a temeridade e a con-fiana dos mercantes que j tornam vendvel a colheita do ano,quando ainda objeto das esperanas e dos temores?Celebes~ Gilolo

    JDespenseiros agora e distribuIdores de tantas riquezas,Cei?'~ Filipinas. vendemos a outras naces as mercadorias dantes compradas aos ve-

    ->

    nezianos e espanhis, e monopolizamos algumas que foram antes aveniaga de outros. E no insignificante hoje o nosso trfico e do-mnio no Oriente. Navegamos o Golfo Arbico e Prsico e as cos-tas da Prsia. Fizemos nossas as mais das Molucas. Edificmos emvrias ilhas: Taprobana, hoje Samatra (9), Java, a maior, Tajo-vana ou Formosa e outras. Ficmos sabendo quais so as Sindas eBarussas de Ptolomeu. Entabolmos relaes comerciais com oschins e japes. Mandamos frotas para aqum e para alm do Indoe do Ganges. Conquistmos a urea Quersoneso ou (10) Malaca.

    Amplitude do Comerciando al, damos notcia dos reinos de Cambaia, Narsnga,cornrcio noOriente. Malabar, Orix (11), Bengala, Peg, Sio e Camboja. Visitmos ou

    admirmos Ormuz, Ispao, Coromandel, Goa, Calecute, os emp-rios de Aiderabade (12) s margens do Indo, de Bengala junto aoGanges e de Banto noutra parte. Afizemo-nos a ouvir os ttulosdos soberanos asiticos: "sufs" (13) ou reis da Prsia, o ' gro-mo-gol", o "micado" ou imperador do Japoo Ligados) em muitos lu-gares, aos reis por laos de amizade e por tratados: defendemo-lhes as cidades e as fortalezas da violncia e ciladas de inimigosmais poderosos.

    Os tesouros e o dinheiro da Companhia, fra e nervo do co-mrcio, j em localidades do litoral) j do interior, ocupam agen-tes, institores e contabilistas, para que o Oriente inteiro, dominadopelo trfico dos nossos patrcios, se desenvolva com os capitais dosholandeses e se enriquea com os seus negcios. E assim, fundandocolnias, j no seremos tidos por estrangeiros) mas por nacionais.Nos armazns e trapiches da Holanda, vemos todos os produtos dasvastas plagas orientais, e ns, filhos do Norte, comemos os frutosnascidos no Levante. -So veniagas nossas a pimenta, o macs, a noz

    moscada

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 9moscada, a canela) o cravo, o brax, o benjoim, o almscar, o esto-raque, o sndalo, a cochonilha, o ndigo, o bezoar, o sangue de dra-go, a goma-guta) o incenso, a mirra, as cubebas, o ruibarbo, oacar, o salitre, a goma-laca, o gengibre, o diamante, muita sdabruta e tecida, taptes, porcelana da China, que talvez sejam osvasos mirrinos (14) dos antigos. Carregamos anualmente as nossasnaus com sses produtos e os transportamos para as terras s quais Porque o Orien-

    A te p1'oduz drogasnegou o Autor da natureza esses temperadores dos frIos dos nossos quentes.climas. Admire-se nisto a sabedoria de Deus: - quis que nasces-sem as drogas quentes nas regies trridas, e as frias nas regiesfrgidas; sem dvida para que, trocando-se os produtos necessriosaos homens, se aproximassem os povos, obrigados pela mngua co-mum a tornarem-se amigos.

    Destas expedies adveio Repblica no pequena fra e Interessa a fr-1 b . . .. f ,. a glria daustre, no momento em que com atIa contra ImmIgo ortlsslmo; R~pblica na te-porquanto, desbaratando-se no Oriente os exrcitos do rei, se lhe goa~-se para o

    nente.arrebataram ilhas J portos e fortalezas, e se desfizeram tratados quecelebrara com povos e soberanos. Nossos mercadores se fizeram A Companhia

    . . f' f comercial eguerreIrOS, e nossos guerreIros se Izeram mercadores, de endendo guerreira.uns o seu bom nome e segurana, e os outros os seus intersses. Efica em dvida quem alcanou maior glria, se os mercantes, se osbatalhadores, pois ~J1ercrio e Marte prestaram-se mtuos auxlios,aquele com o dinheiro, ste com as armas. De fato, no se abriusem armas a via para o comrcio livre, nem se pde defender stesem o valor militar. Diferimos dos gregos e dos romanos nisto: Em que d1ferem

    I d'" I' . . . . f A o mercadoresaque es Irlglram para a g orla os seus prrnclpals es oros., e estes holandeses dosPara a utilidade' em ns se rene o desejo da celebridade e o do gregos e romrl-, no .proveito. Somos cpidos onde o inimigo rico; inofensivos, onde pobre; vitoriosos, onde belgero. Outro era o carter dos ger- Em que diferemmanos e gauleses entre os quais no tinham acolhida os mercado- do germanos os

    , gauleses. Por-res. Entre ns, o comerciante no s mantm o Estado. mas ainda que aqul o mcr-

    , cador participnparticipa do govrno. Temiam aqueles dois povos que as superflui- do govrno.dades quebrantassem os nimos e afrouxassem as virtudes. Ns,talvez por sermos mais firmes contra os vcios, pela nossa doutri-nae hbitos de inteireza. no detestamos sses sustentculos doEstado, mas, ao contrrio, julgamo-los capazes de praticar not-veis atos de virtude. Os romanos consideravam indecoroso paraos senadores qualquer negcio, Mas aos senadores neerlandeses se

    permite

  • 10 o BRASIL HOLANDS SOBpermite, pois nles a ambio condenada pela liberalidade, e asovinice pela magnificncia, e a vulgaridade da mercancia com-pensada pela aprovao dos governantes e pelo respeito do povo.No vivemos em uma monarquia, mas numa repblica aristocrti-ca, onde} por serem menos numerosos os nobres, assumem a go-vernana os cidados mais honrados, muitos dos quais dados vidacomercial. Como os venezianos, florentinos, genoveses, crescemostambm ns pelo comrcio. A quem disso duvidasse, a esto parao provar as imensas riquezas assim de particulares) como de cida-des' sobretudo martimas; cujos permetros mais de uma vez j sealargaram. Portanto, no reputamos injusto obtermos o ouro me-diante guerras legtimas, nem espantoso buscarmo-lo pelos maresem fora) nem vergonhoso ganharmo-lo comerciando) nem desagra-dvel tomrmo-Io ao inimigo.

    Importncia da O fato seguinte exprime bem a grande importncia que onavegao da rei da Espanha dava s nossas expedies para a ndia. Discutindo-lndia.

    se o tratado das trguas, nada reclamaram os embaixadores espa-nhis com maior empenho que o abstermo-nos de relaes comer-ciais com os indianos, para que~ s com a esperana disto, se pudesseacreditar que le renunciava seus direitos sbre os Pases-Baixos,onde a realeza j era uma fico, e nos tratava como provncias in-dependentes. J antes, Felipe II, encanecido no ofcio de reinar, re-servara para si, como um segrdo de domnio, a navegao da n-dia; porquanto, transferindo para sua filha, a infanta Clara Isabel,que ia casar com o arquiduque Alberto d'ustria, as provncias neer-landesas) vedou expressamente que, de modo algum, nem ela, nemo arquiduque, nem seus sucessores mantivessem quaisquer relaesmercants com os povos da ndia Oriental ou da Ocidental, nem aspermitissem aos seus sditos. Se procedessem de outra forma} se-riam privados do seu domnio sbre os Pases-Baixos, conforme de-clara, em trmos claros, o solene instrumento de cesso.

    Ningum melhor que os inimigos sabe quanta fra, gran-deza e prestgio deu nossa Repblica o trato das ndias Orientaise quanto perdeu com isto a coroa espanhola. Muitas vezes aprende-ram, custa de ingentes prejuzos, da pilhagem de suas naus y da

    pe~da de suas fortalezas; o que pode, com o dendo marcial} a franaval de batavos.

    Grande

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 11Gr?nde e invejvel conquista foi que uma sociedade parti-

    cular de comerciantes haja sujeitado ao seu poder vastssimas re-gies do Oriente; que al dependam da sua vontade os cabedais detantos indivduos; que cause ela as alegrias e as tristezas dos povos;que tire a coroa aos reis e a coloque na cabea de outros; que, sobo seu imprio, cresam umas naes e caiam outras; que a umasse conceda a liberdade, e a outras se arrebate ou cerceie.

    Por muito tempo tranqilo, no tinha ainda o Ocidente Navegao daexperimentado, num desbarato notvel, as armas holandesas. En- ~~f%t:rHjftretanto) o povo neerlands, estimulado pelos seus prsperos suces- para o Ocidente.sos no Oriente, constituu uma nOva companhia com os cidadosmais opulentos e tambm mais infensos Espanha. Denominou-se"Companhia das ndias Ocidentais"} porque se propunha tentar noOcidente a sorte da guerra e do comrcio. Reniu-se para esta em-prsa soma considervel de capitais, superior quela que inspiraraconfiana para se realizar no Oriente idntico objetivo.

    Os defensores da iniciativa aduziam estas razes: que as Discusso sbred B '1 b -' .. a sua convenin-costas o raSI estavam a ertas e sem proteao contra o InImIgo cia. Razes

    externo; que, apartadas das outras terras e atemorizadas com a suasrias.fama dos nossos guerreiros, poderiam devastar-se com a improvi-sa chegada de nossas armadas; que as naus do rei, conduzindo noPacfico os tesouros do Per, bem como as da Nova Espanha eda Terra Firme, seriam do primeiro que delas se apoderasse; queas guerras europias eram feitas pelos espanhis com essas rique-zas, e por issoJ espoliados delas, se tornariam aplacveis e menosterrveis; que os percalos e despojos esperados bastariam para re-mir as despesas da guerra e dos mercadores; que s os rditos doacar j poderiam aliviar os gastos; que a natureza no era paraos ocidentais mais madrasta que para os levantinos; que os selv-colas, impacientes com o poder e o domnio portugus

    7sacudiriam

    o jugo do rei; que a derrota para as plagas do Novo Mundo nemera demorada nem de tanto riscOj que no havia mais numerosasrazes contra a navegao americana do que contra a asitica; que,no aprsto de to importante emprsa, se poderiam utilizar milha-res de homens, os quais; pela sua indigncia e planos sediciosos; se-riam de temer, se no fssem desviados da ociosidade e das revolu-es por trabalhos dessa espcie; que til, numa populao den-sa, fazer-se o expurgo da ral e afastarem-se os elementos nocivos,

    como

  • 12 o BRASIL HOLANDS SOB

    Razes dissuas-nas.

    como nos corpos enfermos cumpre retirar o sangue vicioso:, j porser excessivo~ j por ser de m qualidade. Insistiam em que as Pro-vncias-Unidas se sustentavam com o comrcio, fazendo-se, pois,mister alargar para todos os lados, em favor dos mercadores, asreas onde pudessem granjear os seus proventos. Isto haviam ten-tado e conseguido os ingleses. Os gregos e os romanos tinham in-vadido assim os territrios inimigos para do solo ptrio afastaremas guerras. Tnhamos soldados e marinheiros aparelhadssimos pa-ra os trabalhos da mareagem e das campanhas. Nenhum outro fei-to daria maior glria e renome s Provncias-Unidas que o teremligado o Velho e o Novo Mundo pelos laos do comrcio e da na-vegao. No se devia desprezar essa liberdade comum de comer-ciar, concedida a todos por uma lei natural e defendida com tantasvitrias brilhantes e desbaratas infligidos aos inimigos.

    Alm dstes, traziam-se outros argumentos aptos para per-suadirem aos espritos vidos de lucros. Os mais reli~iosos pediamsuas razes religio e convenincia de se propagar uma doutri-na mais pura, alegando se deveria acender o facho da f para guiaros povos que tacteavam no reino das trevas; que no se deveria es-tender s o imprio humano, seno tambm o de Cristo; que eranecessrio e' possvel associar s vantagens dos comerciantes o cui-dado de se salvarem tantas naes; que assim os negcios seriampios, e a piedade til.

    Os opugnadores da iniciativa levantavam estas objees:que a Companhia ia ser de guerra e no de comrcio; que o interiordo Ocidente, invencvel por causa de seus fortes e guarnies, des-denharia do inimigo externo; que o litoral brasileiro poderia serconquistado, mas defendido nem tanto, conta da multido dos sel-vagens e da continuidade da terra; que no havia al ilhas para seexpugnarem, como no Oriente, protegidas pelo mar circunjacente,e sim um continente exposto s incurses dos habitantes do ser-to; que os brbaros, havia mais de um sculo, tinham aceitado aconvivncia, os costumes e a religio dos portugueses, e por issomostrariam nimo hostil contra ns; que tais empreendimentos se-riam danosos Companhia das ndias Orientais, dispersando osseus marinheiros e armamentos por vrias esquadras e partes domundo; que entre uma e outra Companhia seriam fceis as rivali-dades, suscitadas pela inveja dos lucros, e bem assim por algumas

    merca-

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 13mercadorias comuns e por idnticas necessidades da guerra e dotrfico, a saber j armas, soldados, petrechos nuticos e marujos; quedo Ocidente no se poderiam esperar rditos bastantes para prote-ger-se militarmente a boa fortuna, ainda quando ela se alcanasse;que no convinha irritar com mais lutas o poder de rei to forte,nem era prudente mostrar os pontos em que somos desiguais; quesemelhantes tentames j feitos pelos inglses, tinham tido xito maisde temer que de desejar.

    Diziam os escrupulosos que cumpria pr freio paixo dedominar e conter a ambio de chamar tudo a si; que era tentati-va estulta e contrria religio despojar o rei da Espanha de tdasas suas possesses; que os batavos tinham cobia bastante para seapropriarem de tudo.. mas no fras para o guardarem; que umagrande potncia provoca, a princpio, a inveja e logo os dios dosvizinhos e que, portanto, devia ser a fortuna tratada com respeitopor aqueles que, de uma situao humilde, se haviam elevado aofastgio da segurana; que valia mais decidir onde nos fixaramosdo que ficarmos sempre procurando para onde ir; que esto em ter-reno mais resvaladio os que mais conquistaram, e mais em seguroos que traam limites s suas fras; que os neerlandeses, afeitosao trabalho e ao sofrimento, iriam corromper-se e embotar-se com ocontgio dos deleites exticos e com a ociosidade.

    Os versados em histria e nos exemplos da antigidade de-claravam serem estas as palavras dos' povos brbaros: "Guardar oque seu basta a um particular; ser honroso aos reis o pugnarempelo que dos outros; julgarem estar a sua mxima glria num vas-tssimo imprio (15)". Um povo prudente deve acautelar-se de per-der, por uma cobia desmarcada, o que ganhou, e mormente um povocristo, para no lhe quadrar o que dos romanos disse Glgaco (16),capito dos britanos: - no os haver saciado nem o Oriente, nemo Ocidente, a les que tinham por magnfico tudo quanto lhes eradesconhecido, e que, depois de lhes faltarem as terras velhas paravencerem, iriam descobrir novas, ainda mesmo alm dos mares.Ambio assim exprobaram-na os Citas a Alexandre, porque force-java para segurar com uma das mos o Oriente e com a outra oOcidente. Tambm Sneca julga infelizes aqueles que aspiram a Seno 113.levar para alm do mar o direito de soberania.

    Tais

  • 14 o BRASIL HOLANDS SOBTais eram as consideraes que ocorriam tanto na conver-

    sao do vulgo, como na prtica das pessoas avisadas, no grmiode uma nao em extremo zelosa dos seus intersses e empenhadanos danos do seu inimigo.

    Edito dos E. Ge- Depois de longas deliberaes, prevaleceu o sentir dos quert~is que perm!- aconselhavam a expedio Amrica. Ratificou-a um edito solene'/,u a navegaao

    do Ocidente d~~- dos Estados Gerais, dispondo que a nenhum sdito holands seriarante 24 anos.

    lcito, dentro de vinte e quatro anos, demandar com objetivos co-merciais o Novo Mundo e as costas fronteiras da Africa, exceto osscios da Companhia. Obtiveram-se para a emprsa autorizao eauxlios pblicos, adstrita a expedio s condies fixadas na pa-tente expedida pelos Estados Gerais.

    Teria sido co- A Amrica ficou oculta aos antigos, que no curso de tantosnt.hecidaAdo,s .an; sculos, nem mesmo a notcia dela nos transmitiram. O que diz Pla-'/,gos a menca.

    to no Crtias e no Timeu (17), segundo a descrio de Solon, que,por sua vez, a ouviu dos sacerdotes egpcios, refere-se Atlntida,situada a.lm das Colunas de Hrcules. Distaria da Espanha poucosdias de viagem e igualaria em tamanho Europa e sia. Teriapossudo pelas armas a Africa at o Egito e a Europa at o mar Tir-rnio. Era feraz de ouro e de prata. Esta fico, misto de fbula ede exuberncia de imaginao, indica dubiamente a Amrica, e commais certeza algum reino da Utopia (18), sonhado pelo gnio fan-tasioso de Plato. So opinies dos intrpretes e no uma sria in-

    Diiod. Sculo. ferncia da verdade ser a Amrica a grande ilha de que fala Diodo-L. IV. ro Sculo (19), situada para oeste, aonde foram ter, segundo le, os

    fencios; arrastados por uma tempestade, quando percorriam o li-toral africano. Em verdade, no havia receio de que os Cartagine-ses, mais civilizados, abandonando Cartago, emigrassem para omeio de povos antropfagos e de naes de ndole feroz, a pontode se tornar preciso proibir-se-Ihes, por editos dos sufetas, a emi-

    Na Media. grao para aquela ilha. Os versos em que Sneca (20), o trgico,diz que, alargados os limites do Oceano, se descobririam novos

    ml~ndos, deixando de ser Tule (21) a ltima terra, conteem apenasuma profecia potica e votos adulatrios dirigidos ao imperador

    Liv. 19 dn His- Cludio. A histria contada por Lcio Marieno Sculo (22), em suatria dc~ Espa- C A d E h A d d d f' dnha. ranIca e span a, acerca e certa moe a mostran o a e 19le o

    imperador Augusto e achada numas minas de ouro de um lugarqualquer da Amrica, uma narrativa graciosa, mas por ingenui-

    dade

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  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 15

    dade se lhe daria crdito. Tal tambm a seguinte lenda muitoagradvel aos espanhis: - que numa provncia do Chile, chamadaCauten, h uma cidade de nome Imperola, assim designada porse encontrarem, em quasi tdas as suas casas e portas, guias bic-pites, quais ainda se vem nos estandartes do Imprio Romano.Sem dvida, fato assim notvel no o envolveriam no silncio quan-tos escritores narraram com diligncia os fastos de Augusto e dosRomanos; nem Tcito, ilustre senador e cnsul da repblica roma-na, teria julgado extraordinrio haverem os Uspios (23) costeadoa Britnia, se realmente j se houvesse chegado Amrica. De-mais, no teria le chamado Britnia e ao Mar Glacial os confinsda terra e o trmino da natureza: "ILLUC USQUE ET FAMAVERA, TANTUM NATURA" (24).

    No merece maior f o que traz Amiano (25): verem-se es- L. 17.culpidas nos obeliscos egpcios aves e feras e muitas espcies de ani-mais pertencentes a um outro mundo. Foi-lhe fcil designar com onome de outro mundo os africanos transmarinos, os europeus ouos mais longnquos indianos. Deve-se tambm negar crdito a AriasMontano (26), autor noutros pontos criterioso e srio. le diz quea frota de Salomo navegou de Heziongaber para a Amrica e quea demora trienal da navegao, a variedade das mercadorias e aposio de alguns lugares e das ilhas interjacentes conveem si-tuao daquele continente. Entretanto, os conhecedores da artenutica no podem compreender como teria sido possvel atraves-sar os imensos espacos ocenicos, sujeitos a fluxos e refluxos, semo emprgo da bssola. As mercadorias a que se refere o escritor sa-cro poderiam ter sido buscadas urea Quersoneso, hoje Malaca,ou costa austral da Africa.

    E' conjectura frgil identificar-se Parvaim (27), de que falaa Bblia, com o Per ou a Nova Espanha. Se uma comunidade deletras tem importncia em to grave assunto, prefiro acreditar queSalomo foi ter Africa, seguindo-lhe o litoral, pois as palavrasOfir e Afer divergem menos do que Per e Parvaim. Isto, porm,me est cheirando a controvrsia de gramticos.

    A descrio de Aristteles a respeito da ilha descoberta pe- 1ist.} De admi-1 . 1' d C 1 d H ' I I . h . ran L 8 DeOS cartagIneses a em as o unas e ercu es, a qua tln a rIOs crel~ II~ c. v.navegveis e selvas e dal distava alguns dias de derrota (28), pa-rece quadrar mais Britnia e s Canrias que Amrica.

    No

  • 16 o BRASIL HOLANDtS SOB

    Quest. Nat. S.O. ltimo.

    LiV'to VII,Quest. Nat.}c. 31.

    P';'imeiros des-cobrido,;es.OOLOMBO

    No. posso negar que os cosmgrafos antigos, mais peloraciocnio do que pela experincia ou pela fama) sabiam existia ou-

    Ocero} no So- tra terra oposta quela por les conhecida e ser o mundo partidonho de Oipio.

    em dois hemisfrios habitveis, sendo um aquele onde vivemos~ SI-tuado sob o palo rtico, ao setentrio; o outro austral, a ns igno-to. Foi nisso que se inspiraram os versos de Sneca vaticinandoo descobrimento de novos mundos para no ser mais Tule a l-tima das ilhas, e estoutros de Verglio: "... IACET EXTRA SIDE-RA TELLUS, EXTRA ANNI SOLISQUE VIAS..." (29).

    Sneca (30) tambm se mostra poeta e no testemunha daverdade, quando escreve estas palavras: "A humanidade porvindoi-ra conhecer muitas cousas a ns ignotas, e muitas conquistas estoreservadas para os sculos futuros} quando nem sequer subsistir alembrana de ns. Seria o mundo uma insignificncia, se no conti-vesse em si o que o mundo inteiro procura". .

    E noutra parte: "Como poderia eu saber agora se o senhorde uma grande nao; estanciada nalguma regio oculta, j noquer, arrogante com o favor da fortuna, conter suas armas dentrodas prprias fronteiras e) maquinando planos ignorados; no esqui-pa uma armada? Como posso saber se ste ou aquele vento queme trar a guerra?".

    A Amrica foi Entretanto, no s muitas circunstncias atestam que ahabitada desde a A ,. hd h b d d d . .. .d d . . Iantigidade. merlca ten a SI o a lta a es e a antlgul a e, mas prlnclpa-

    mente um sistema de govrno determinado e constante, a soberbaconstruo de cidades e de vias, a magnificncia dos edifcios, adensidade das populaes e os seus costumes, os quais nada apre-sentam de modernos. S poderiam os americanos chegar a stegrau de civilizao num longo lapso de tempo.

    O primeiro que~ segundo a memria dos nossos antepassa-dos, descobriu com certeza terras e povos alm do Atlntico, parao ocidente, foi o genovs Cristvo Colombo. Homem de agudssimoengenho, observou, navegando para l do estreito de Gibraltar e deGades, serem freqentes os ventos do oeste, os quais, segundoaprendera com grande tino, somente sopram da terra. Depois debaldadas solicitaes a diversos prncipes, enfim, sob os auspciosdos reis Fernando e Isabel, chegou em 1492, depois de percorrer ovasto oceano, s ilhas ocidentais de Hispanola, Cuba e Jamaica.

    VESPUOOIO. Seguiu-o o florentino Amrico Vespuccio, que ligou o seu nome Am-

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 17Amrica. Fez le, a mandado de D. Manuel, rei de Portugal) a mes-ma viagem, e foi o primeiro que abicou ao golfo de Pria (31) e aoBrasil no Novo Continente. Aps stes, l\Aagalhes) Drake, Caven- MAGALHES

    . h F b' h d e outros.dish, Van der Noort, RaleIg, or ISC er e outros argonautas e-ram a conhecer outras regies americanas) freqentadas posterior-mente por mercadores portugueses, castelhanos, holandeses, ingl-ses, e franceses, dando-lhes no s farta esperana de lucros, masainda a matria dstes. Possuindo, tantos anos mediante suas co-lnias, armas, fortalezas, quasi tda a Amrica, a encontrou o reidas Espanhas a grande fra do imprio austraco) e) pelos rendi-mentos anuais das imensas riquezas que ela lhe dava~ tornou-se oterror e o flagelo de tantos povos europeus.

    Os limites traados nova Companhia pelos Estados Gerais Determinao. 'd ' f . ,. d C" dos lim,ites daforam os segUIntes: quanto as costas a A rIca, o tropIco e ancer navegao do

    E ' A ,. I d I d Ocidentee o Cabo da Boa sperana; quanto a merIca, o a o austra a .Terra Nova e o estreito de Anian (32), sendo concedidos aos queiam para o Ocidente os mares a compreendidos, ao norte e ao sul,os estreitos de Magalhes e de Le Maire e tdas as ilhas, assim comoa costa da Terra Austral, que se estende desde o citado cabo afri-cano at os confins orientais da Nova Guin.

    Corria o ano de 1623, quando partiu para o Brasil, onde Primeira expe-, . f' '1 d E N M d d d dico da Compa-e maIs aCI o acesso a uropa ao ovo un o) po erosa arma a, n7;ia ao Brasilsob O comando de Jac Willekens) homem valente sem ostenta- ;~tt%~ENS.o e apto para srios cometimentos. Dentro de poucos meses, fun-deou na prpria Baa de Todos os Santos, a qual d o seu nome ve- Todos os Santos.

    , I "d .. Ad" A ODE 1623.nerave a to a a capItanIa. terra os com a ImpreVIsta chegadados holandeses, sentiram os baianos fundados temores dos malesque os ameaavam e refugiaram-se nos matos e florestas. Acoro-oados os nossos com a esperana de glria e tambm de presa,desembarcaram alegres. A tomada de S. Salvador, metrpole da ca- Tom,ada de Sopitania, que custou pouco trabalho, e bem assim a dos fortes cir- SBalyaddor nTa d

    aw e o os

    cunjacentes, fadaram a emprsa com felizes auspcios, divulgando o Santos.entre os brbaros a fama do povo ultramarino, j to firme comos primeiros sucessos. Comandava as tropas o coronel Joo vanDorth, militar experimentado e valoroso, que, com sorte igual deProtesilau (33), apenas se afastou at as cercanias da cidade, foivisto e morto pelo inimigo.

    Os

  • 18 o BRASIL HOLAND~S SOB

    Sua perda.

    Os vencedores no se defenderam com a mesma coragemcom que triunfaram. Efeminando-se e entregando-se licena, en-golfaram-se em inslitos prazeres tanto mais vidamente quantomais bravamente se haviam portado. Perdeu a lascvia a cidadeganha pelo valor e fez para os nossos uma Canas desta Cpua vo-luptuosa, como outrora para Anbal a Cpua da Itlia.

    Enquanto se cuidava mais das delcias do que da utilidade,quebrantados, na ociosidade e na intemperana} os nimos dos che-fes e dos soldados} o espanhol recuperou a cidade com um rpidocrco, efetuado pelo general D. Fadrique de Toledo (34). Vencidosos holandeses mais pelos vcios do que pelas armas; voltaram para sua terra inteis Companhia, vergonhosos para a Ptria, des-prezados pelo inimigo, sofrendo, assim, o infamante castigo de seudesleixo e perfdia.

    Segunda expedi- Seguiu-se, em psto mais elevado, Balduno Henrique, ma-o ao Ocidente ,.. Ad ..- dsob BALDUl rltlmo experiente; que, por to a a parte, espreitava ocasloes e pra-~gE~ENRI- ticar faanhas. Combateu com fortuna vria na Amrica Setentrio-ANO DE 1625. nal, depois de atacar as costas do Brasil em expedies incertas, di-

    rigidas para onde as levava a sorte e a prudncia. Morreu prximodo prto de Havana, e a sua esquadra, to bem apercebida, inspi-rando grandes esperanas de danos contra o inimigo, no corres-pondeu com proveito algum s despesas com ela feitas. Voltoupara a Holanda pelas desinteligncias dos comandantes, motivadaspela discrdia e rebeldia dos piores elerp.entos da marinhagem. En-tanto, recebeu-se uma lio nova: ser difcil manter-se dentro daordem uma multido distante da Ptria e do respeito da autori-dade suprema, a qual a que, em maior grau, pode conter a fide-lidade da soldadesca.

    Navegaode PIETERHEYN para oOcidente.

    Jlelicidade doAlmirante.

    Brilhou depois mais venturoso o astro Pieter Heyn, to c-lebre pelos seus sucessos faustos e infaustos. Com felicidade nica,refez o tesouro exausto e restabeleceu o crdito abalado da Com-panhia. Antes} num extraordinrio exemplo de bravura, investiu,com hercleo esfro, a armada espanhola, incendiando-a na pr-pria Baa de Todos os Santos, para que no se jactasse a antigi-dade sozinha de Temstocles, Dulio, Atlio e Xantipo"

    Exercendo j o almirantado com admirvel exemplarida-de, sob o seu comando dirigiu-se para o Ocidente a fortuna da guer-

    ra.

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 19

    ra. Como primeiro e oportunssimo despjo, caram-lhe nas mos Toma-se a frota. d d . da Nova Espa-dIVerSaS naus grossas, carrega as e ouro) prata e precIosas merca- nha prximo ao

    dorias da Nova Espanha. Ofereciam-lhe os fados a opima tomadia, prto de Matan-zas.

    renidas as frotas no prto de Matanzas, no de propsito, mas pe-lo mpeto da mar. Desde ento, mais tranqila se tornou a situa-o da Companhia e mais certa a sua boa fortuna, amparada porimensas riquezas. Logo, porm, aluram-na a cobia e a desconfian-a do futuro, que se insinuara no esprito de muitos. Com efeito,o dinheiro consumido em gastos intempestivos e imdicos, quandoa Companhia, no nascedouro, ainda no firmara o seu poder nasterras estrangeiras, enfraqueceu-a e f-la inapta para combater pormuito tempo o inimigo. Assim, enquanto se tratava de aumentaro patrimnio privado, faltou o pblico, e a precipitada avidez depossuir e de recuperar sacrificou a esperana de futuros lucros.

    Quero) de passagem) consignar aqu algumas palavras em Elogio do Alrni-louvor do almirante Pieter Heyn. Nenhum homem de qualquer na- rante.o perpetuou o seu nome por mais famosas tomadias! fazendo quesua Ptria jamais deixe de se ufanar de tal filho. Dificilmente sepoder encontrar algum cuja sorte se iguale de Heyn. Depois deter sido grumete, de ter so(rido algemas e crceres do inimigo enaufrgios, alcanou honras elevadssimas, triunfos notveis e, sobo Prncipe de OrangeJ a mais alta patente da marinha. Morreu vi-torioso, pelejando gloriosamente pela salvao da Ptria. Foi se-pultado a expensas pblicas, havendo o govrno mandado erigirna catedral de Delft uma lpide, que testemunhasse perenemente oseu destino e subidos mritos> Nascido em Delft, fez conhecer a doismundos a fama do solo ptrio. Ultrapassando pela grandeza donimo a humilde condio dos pais, ensinou que os homens no nas-cem heris, mas se tornam tais pelo prprio esfro.

    Por essa poca (1629), a Companhia Ocidental provou elo- A Companhiaqentemente O seu poder e a sua fidelidade Ptria (o que fez tam- auxLd7~fa.a ;dtd'ria

    em ~ WUIJ a es.

    bm a Oriental), quando o inimigo invadiu Veluwe (35) e ocupouAmersfoort (36). Perturbando-se um pouco a situao no canal doIssel, pela improvisa passagem dos inimigos, quando todo o exr-cito das Provncias-Unidas se empenhava no crco de Bois-Ie-Duc,ela empregou as suas milcias, destinadas para a expedio do Bra-sil, em guardar as localidades fronteirias, e acudiu fartamente snecessidades pblicas com o dinheiro ento abundante em conse-

    A quencIa

  • 20 o BRASIL HOLANDS SOBqncia da presa recente ganha por Heyn. Todo o direito assiste,pois, Companhia, ora em situao precria, para receber da P-tria inclume os servios que antes) quando as suas condies es-tavam slidas e garantidas, prestou nao oprimida.

    Expedio de Aps Heyn, partiu para a Amrica;, investido no comando~~:g~ ao supremo, Henrique Loncq, veterano da marinha de guerra e compa-

    nheiro dos labres e das honras de Pieter Heyn. Atacando o Brasilpela segunda vez e tomando Olinda, capital da capitania de Per-nambuco, deu Companhia ste refgio para a esquadra e esta nova

    A de ADRIA- base de operaes para a guerra americana. Sucedeu-lhe, em igualNO PATER. psto e mostra de valor, o almirante Adriano Pater, clebre pelas

    muitas derrotas que., no Ocidente, infligiu aos espanhis. Ousandopelejar - tamanha a confiana inspirada pela bravura! - com apoderosa armada sob o comando de D. Antnio Oquendo, confun-diu-se, na cruenta refrega~ com os mais ardorosos combatentes; mas,abandonado pelos seus e repartindo quasi a vitria com o advers-rio, tombou gloriosamente~infeliz smente por no sobreviver ba-talha. A fortuna salvou a Oquendo para que le desse ensejo assazbrilhante glria futura dos holandeses. Foi dle, com efeito, quetriunfamos alguns anos depois; na batalha ferida por Tromp juntos Dunas da Inglaterra (37), quando ainda era recente a fama dasua. vitria sbre ns.

    No tempo intercorrente e no imediato a sses aconteci-mentos, diversos comandantes, em portos diferentes, praticaramna Amrica faanhas notveis, na terra e no mar, no continente e

    J o o D E nas ilhas;, e bem assim nas costas fronteiras da frica. J foram pu-LdAEdT) h~f'st?tria- blicadas, com a devida justia, em livros de outros e por isso nelas

    or os e~ os

    prati?ado~ no tocaremos de vo. Escreveu-as o eminente e autorizado Joo deBras~l ate o anode 1636. Laet, dizendo livremente a verdade, no de simples outiva ou com

    fcil credulidade, mas segundo a relao dos que participaram dossucessos e segundo os dirios respectivos. Para imortalizar-se foibastante a cada um o ter triunfado de uma partezinha do Novo

    Elogio de out?os Mundo. Al ainda os mais remissos nimos encontravam estmuloscomandantes. d' Cd' I b .para gran es arroJos. a a qual aspirava a ce e rlzar~se com aque-

    las proezas, para as quais se diria em tda parte haver nascido~ pa-gando com elas o preo do nascimento. A emulao alimenta asmais luzidas galhardias~ e aquele fastgio de glria que algum nopde galgar vencendo, pode ultrapassar ousando.

    Dif-

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 21

    Dificilmente se poderia avaliar se to perfeita milcia maisacertadamente viu nascer no Ocidente tamanha coragem ou semais eficazmente a inflamou. E porque era odioso s Provncias-Unidas. o nome espanhol, esforaram-se todos por arrancar um pe-dao ao poder da Espanha, sem se contentarem com aes medo-cres. Alguns, j ilustres nas campanhas neerlandesas) entrelaaramos trofus da Amrica com os da Europa, sendo os primeiros emmostrar aos brbaros a nossa soldadesca e o aspecto das batalhas.

    Lendo sses feitos, viro ao pensamento os antigos capitesque passaram s terras inimigas para desviarem da ptria a violn-cia da guerra. Rgulo, Cipio, Mnlio, Paulo Emlio; Metelo, Pom-peu foram como os Willekens, os Heyns, os Loncqs, os Baldunos,os Paters daqueles tempos, e assim como, a conselho dos primei-ros, foraln os antigos guerrear no ultramar, assim tambm, a con-selho dos ltimos, fizeram o mesmo os nossos contemporneos. An-tigos embora, a les muito nos avantajmos, assim pela imensa dis-tncia dos lugares aonde fomos, como pela fereza e barbrie doshomens com os quais combatemos.

    Por assunto da minha histria escolh os feitos que~ em fa- Assunto destad h 1 d" f . d d "d'l Histria: os fei-vor O pOVO O an eSJ oram pratIca os urante o governo o I us- tos do Conde

    trssimo conde Joo Maurcio de Nassau, em outro continente, en- Md AURt lC!tOuran e 01, otre brbaros e espanhis, adversrios duvidosos ou declarados. Co- anos.mo dependem as guerras da fama que delas corre e como no depequena importncia o seu generalssimo, despachou-se Nassaupara o Novo Mundo como comandante supremo do exrcito de ter-ra e mar. Parece que na sua estirpe colocou a Providncia Divina adignidade e a fra dos Estados Neerlandeses.

    E'-me livre calar ou falar. Feitos assinalados provocam-me Motivos e esc-- 1 d f I f l' 'd d 'bl' 1 - po do historia-a nao ca ar, e or ena-me a a ar a e ICI a e pu Ica) a qua nao quer dor.

    sejam fraudados do seu louvor aqueles a quem ela devida. As guer-ras domsticas arrastam-nos admirao, e quanto mais as exter-nas, consumadas sob outros cus e com insigne dendo. Negue-sea Nassau o seu prmio - a memria da posteridade -, e esta se en-tibiar, sucumbindo por causa do silncio guardado pela inrcia dosescritores. Onde tem ela ante os olhos os exemplos dos maiores,cresce com singular emulao e procura imitar com ardor as aesgloriosas que l. Nada concederei adulao, cujas causas despre-zo, nem to pouco) por desafeio a ningum, nada tirarei verda-

    de,

  • 22 AO BRASIL HOLANDES SOB

    de, para no ser tachado de inverdico por dio iguaL Quem pre-tender versar ste mesmo assunto para granjear renome literrio efama de talento, ostente a sua eloqncia. A mim bastar uma nar-rao singela7 inspirada na realidade dos fatos. Escrevem-se maislivremente os feitos praticados sculos atrs, quando j desapare-ceram seus autores e testemunhas. Eu, porm, vivo entre aquelesmesmos que obraram os atos por mim referidos ou nles intervie-ram, e eu escrevo para os seus olhos.

    Aos documentos pblicos dou o crdito que lhes do os ami-gos da verdade} e no desejo para mim crdito maior: relato aqu,no o que viram vagamente os olhos, mas o que escreveram~ duran-te a paz espritos serenos e acalmados. Farei uma seleo no enor-me acrvo dos fatos e nos numerosos maos de documentos paraevitar aos curiosos dstes assuntos a fadiga de uma longa indaga-o; mas usarei tal brevidade que no furte aos sucessos nada de re-levante ou memorvel. Julguei intil tratar de mincias. A dilign-cia ansiosa um rro de diligncia, e tanto mais se prejudica oassunto principal, quanto mais se desce a pontos menos necess-.

    rios.Antes de entrar no meu assunto~ devo recordar o que e

    como o Brasil, qual foi, nessa poca, o estado da nossa Repblicae do nosso exrcito, quais as vantagens e desvantagens nossas e doinimigo, quais os intentos da Companhia e do espanhol. Assim co-nhecer-se-o no s os eventos e a sua sucesso, mas tambm o sis-tema, as causas e o teatro das guerras, bem como os portos, as cida-des, as populaes da Provncia, que se celebrizaram pelos seusinfortnios e prosperidades.

    Descrio do E' O Brasil limitado ao oeste pelas nvias terras dos caribas,BRASIL. Sit~ta- I P' . b ,. d d N M d do e limites. e pe o eru, a mais no re provlnCla e to o o ovo un o, e e

    longe por elevada cordilheira; ao sul, por ignotas regies, ilhas, ma-res e estreitos. O Oceano Atlntico banha-lhe as costas orientais, eo Oceano Setentrional as do norte. Demarcam-nas os portuguesescom o rio Maranho e com o esturio do rio da Prata.

    Forma. Tem o Brasil a configurao de um tringulo, cuja base) vol-tada para o Equador e para o Setentrio, se dirige em linha retado Oriente para o Ocidente, at o cabo Humos (38) ou at o Mara-nho, ou se cremos a Nicolau de Oliveira, at o Par. O vrticemorre nas regies austrais.

    No

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 23No de crer que a populao do Brasil, como tambm a da POp1-tlao.

    Amrica inteira, seja aborgene, pois de f que tda a humanida- .de provm de pais asiticos. No se sabe com certeza quais os pri- Gomo do Velho

    Mundo se che-meiros que al chegaram, nem como, se pelo estreIto de AnIan, se gou a le.atravs das terras contnuas situadas ao norte da Europa e entreela e a Amrica, se pela passagem das ilhas setentrionais, se pelaAtlntida, outrora vizinha do estreito de Gibraltar e fronteira a le(a qual dizem ser propriamente a Amrica, conforme o Crtia e oTimeu de Plato), nem a poca de tal migrao. Cada um~ na me-dida do seu engenho, aceite ou rejeite tantas opinies. Quanto amim, no tenciono tomar partidos e, em tamanha caligem da ver-dade, impugnar ou defender uma concluso de preferncia a outra.

    Vicente Pinzon e Diogo Lopez foram os primeiros que, sob Primeiros desco-. . '1 F d I b 1 d h bridores.os auspcIOS dos reIs cato ICOS ernan o e sa e, eram a con ecer

    o BrasilJ e depois Cabral e Amrico Vespuccio, a mandado do rei dePortugal.

    A regio amenssima e salubrrima pela brandura do cli-ma, e disto indcio a longa vida dos naturais} a qual atinge s ve-zes cem anos. Nem o frio, nem o calor so excessivos. H extensosperodos de sca e de chuva. Mal se distinguem das noites os cre-psculos, e do dia os dilculos; porque o nascer e o pr do sol somais verticais do que entre ns. O inverno comea em maro e aca-ba em agsto. As noites, quasi iguais aos dias, conhecem, de umaa outra estao, apenas a diferena de uma hora. A temperaturahibernal assemelha-se estival nossa.

    Os habitantes so antecos dos espanhis, mouros e etopes,e periecos dos africanos mais orientais e dos javaneses, e antpodasdos povos da urea Quersoneso.

    Conquanto sujeita a nevoeiros, a terra recreada com osbafejos placidssimos dos ventos mareiros; que dissipam os vaporese nvoas matutinas, fazendo brilhar um sol lmpido e esplendoro-so. Durante o inverno, sopram os ventos do sul e do sueste, e du-rante o vero cursam o nornordeste e o lesnordeste. E' a regio nu-mas partes vestida de matas, noutras plana e tapizada de pasta-gens e noutras ergue-se em colinas. Chuvas freqentes regam-lhea gleba feraz e sempre verdejante. Por isso mais para admirarque, sendo-lhe to fecundos os campos e to salubre o clima, tenhaa sua gente carter cruel e fero, A principal riqueza '0 acar e o

    pau

  • 24 o BRASIL HOLANDtS SOBpau brasil, prprio para tingir panos. Entretanto, a diligncia dosportugueses para al transportou quasi todos os cereais e frutas daEuropa. Escondeu a natureza sse acar em canas elevadas, de quese extrai um suco muito doce e agradvel, melhor que o mel daAtica (39). Fervido em caldeiras e tachas de cobre, cristaliza-seem pes semelhana de medas ou pirmides, ou, estilado o mel,deixa-se em lascas (40). Para esta indstria h por tda a parte ofi-cinas a que os portugueses chamam ENGENHOS, porque tais ma-quinismos e construes foram inventadas por engenhos agudos,e contam-se entre as novidades dos ltimos sculos. Dsses enge-

    ~

    nhos tira o mercador ativo, com o trabalho dos negros, o mximolucro, e anualmente vende, na Europa inteira e por muito dinhei-ro, o acar que as naus atulhadas dle transportam.

    Oolnias. Sedes Tdas as colnias que existiram antes da nossa chegadadao bispado e do eram portuguesas. A sede do bispado e do govrno geral a Baa

    overno.

    de Todos os Santos e a cidade de S. Salvador. Atualmente, o Bra-sil espanhol obedece a uns governadores~ e o holands a outros.Uma a sede do govrno lusitano e outra a do batavo.

    A lngua dos indgenas difcil de aprender~ e mostra-sequasi a mesma para todos os que al at hoje se conhecem, aindaque para certas cousas existam vocbulos diferentesJ usados uns pe-los homens e outros pelas mulheres.

    Os costumes, o carter, o trajar dos brasileiros ou so co-muns a tdas as naes ou peculiares a algumas, conforme a sua

    Lnguas. diversidade. Se damos crdito a Maffeu, falta a essas lnguas o usodas trs letras F, L, R (41), porque, segundo observam alguns comagudeza, carecem de f, de lei e de rei. Alguns dos ncolas teem g-

    Oostumes. nio mais bravio, e outros o possuem mais brando, uns so claros,outros escuros. Andam nus homens e mulheres, exceto os moradoresda capitania de S. Vicente, que, mais civilizados, se cobrem com pe-

    Traje. les de animais. Pintam a cres o corpo assaz robusto ou o afeiamcom o suco negro do jenipapo e o enfeitam com penas de aves va-riegadas. Do alto da cabea deixam cair somente um negalho de ca-belo, depilando as mais partes do corpo. O nariz chato como odos chins. O modo de cortar o cabelo diferente para os homens,para com le se distinguirem as tribus. As mulheres trazem cabe-leira comprida, menos durante o luto ou na ausncia do marido.

    No

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 25No honram nenhumas potncias sobrenaturais, nenhuns Religio.

    deuses, a no serem os troves e os raios, aos quais votam grande ve-nerao. Teem horror dos espritos malignos. Dados aos pressgios,agoiros, sortilgios at loucura, envolvem numa treva lucrativao esprito leviano e ignorante dos seus com a mentirosa interpreta-o dos prognsticos. Prezam os feiticeiros. Gostam da poligamiae do divrcio. No tratam mal as espsas, antes as cortejam, menosquando embriagados, o que tambm freqente com os holandeses.Em pblico, comprazem-se em t-las por companheiras} usando estaordem: se vo para o campo, precede o homem, pronto para inves-tir uma fera ou enfrentar o inimigo; se esto de volta, caminha frente a mulher, seguindo-a o homem, para ela escapar mais de-pressa de um perigo que sobrevenha. Em casa, teem-nas sob osolhos, receosos dos amores dos outros.

    No conhecem hora certa de se alimentarem. Na mesma Alimentao.casa, muito comprida, em forma de uma querena virada e cobertade palma, vivem juntas muitas famlias. Dormem tranqilos e des-cuidosos em rdes suspensas bem acima do cho para evitarem denoite os animais daninhos, assim como os vapores malficos quesobem da terra. Antes desconheciam o trigo e o vinho. Alimentam-se com uma raiz sativa, qual, reduzida a farinha, chamam MAN-DIOCA. Nadam admirvelmente, e, s vezes, ficam horas inteiras Os Brasileiros

    lh ' h so nadadores~a mergu ar na agua com os 01 os abertos. Atiram flechas com es- pescadores~ at.i-tupenda habilidade e so dextros pescadores 'radores de fle-

    chas.Vivem dia por dia, bebendo valentemente e entregues a Bebedores.

    desordenada alegria, sendo depois muito tolerantes do trabalho eda falta de comer. Na caa atingem velocidade igual dos prpriosanimais bravios.

    Com grande tripdio matam os prisioneiros, tendo-os en- Oruis.gordado cuidadosamente por alguns dias, e comem-nos assados emespetos. Marcham alegres para a morte aqueles a quem est reser-vado tal destino, e, publicando, como de uma resenha~ as faanhaspraticadas contra os seus prprios verdugos, ufanam-se de no mor-rer sem vingana.

    Moram em habitaes esparsas e viajam em ranchos, numa Habitaes.s fileira e em admirvel silncio, belicosos e sanguinrios.

    So muito afveis com os hspedes e estrangeiros e de Hospitaleiros.excessiva cortesia. Lanando-lhes os braos ao pescoo e apertan-

    do-lhes

  • 26A

    O BRASIL HOLANDES SOB

    Armas.

    Deveres paracom os mortos.

    Misturando-seaos europeus,torna'ram-semais brandos.

    do-lhes a cabea ao peito, recebem-nos com lgrimas e suspiros,lastimando-lhes os incmodos e embaraos da jornada. Depois, como semblante j exercitado para isto, enxugam os olhos e tomam oar e os gestos de quem se alegra.

    As mulheres grvidas no sofrem muitas dres com o parto,porque a temperatura quente lhes ajuda os trabalhos.. No gostamabsolutamente de passar em casa o prazo decorrido desde o puer-prio, como fazem as nossas patrcias, mas, ao contrrio, levantam-se logo fortes e firmes e se ocupam sem preguia dos servios ca-seiros. Amam muito aos filhinhos, amamentam-nos durante um anoe negam-lhes outros alimentos. Sempre que saem, levam-nos pen-durados s costas numa redezinha a que chamam TIPIA (42).

    As armas dos homens so clavas de pau, arcos e setas.Pem nestas uma ponta de ossinhos ou de estrepes muito durospara elas atravessarem os escudos e as rodelas de coiro.

    No admitem haja para as boas ou ms aes prmios oucastigos depois da morte. Crem que os mortos descem aos infer-nos com o corpo inteiro, ou com os membros mutilados" ou tras-passados de feridas. Assim, enterram os cadveres sem queim-los, colocando junto dles uma rde para dormirem e alimentopara alguns dias, pois esto persuadidos de que as almas dos de-funtos comem durante sse tempo. Choram imoderadamente a mor-te dos seus, passam em pranto um ms inteiro) atiram-se ao chocomo loucos, terminando stes trgicos transportes com um festime com danas.

    Propensos melancolia, procuram dissip-la com cantile-nas e instrumentos msicos, que teem prprios} e, tanto quanto osoutros homens) intercalam os entretenimentos com as cousas srias.

    O gentio do serto e todo aquele que conserva os costu-mes ptrios aproximam-se, na crueldade, mais das feras que doshomens. So avidssimos de vingana e de sangue humano, teme-rrios e pressurosos para os combates singulares e para as batalhas.

    Depois de se haver introduzido entre sses selvagens a re-ligio e os estudos das artes liberais, foram distribudos em aldeiase vilas os que moram beira-mar, e adotaram os costumes dos eu-ropeus, de sorte que tambm aqu se aplica esta observao de T-cito: ORLA DO OCEANO VIVE-SE COM MAIS DOURA.

    Onde,

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 27Onde, porm., a barbaria, que, para vergonha do gnero hu-

    mano, no se peja da sua nudez, embruteceu o esprito dos natu-rais, sem temper-los com boas leis algumas, com cultura alguma,obstinam-se os povos selvagens em guardar o carter conformeaos costumes e ao natural dos seus maiores. Consideram inimigosos desconhecidos que com les vo ter, julgando-os~ as mais dasvezes, uns como insidiadores da liberdade. No falta a espritos torudes astcia para o mal} e no raro a crueldade e a perfdia subs-tituem nles a valentia e a prudncia. Tudo isto so observaesdos europeus, que a esperana de enriquecer leva l.

    O carter dsses povos ministra-nos matria para utils-sima considerao e para admirarmos a sabedoria da natureza, aqual cobriu, com a mesma semelhana de membros, to diversostemperamentos, to diversas inclinaes de almas. Isto nos ensinaa darmos tratamento diferente a naes diferentes e a conhecer-mos o que se pode esperar de bom ou temer de mau em qualquerpovo. Nenhum se poderia achar de ndole to perfeita que no des-cobrisse alguma falha, nem to rude que se no recomendasse poralguma boa qualidade.

    A fra de armas defendem os indgenas do serto as suasterras contra os portugueses. Os do litoraI vivem misturados comles e sujeitos ao seu domnio.

    Com extraordinria variedade de formas, produz a regiogneros prprios de quadrpedes, serpentes, aves, peixes, rvores eplantas, cuja descrio, deixada aos especialistas, oferece matriaagradvel de versar" Brotam al fontes e rios notveis. Dles omais clere chamado rio DA PRATA, o qual entra no Oceano Rio da Prata.quarenta lguas da foz e com tanto mpeto que os marinheiros jbebem gua doce, antes de avistarem, do alto mar~ a terra. Sotambm rios afamados: o Real, o S. Francisco, o de Janeiro, o de Rio de Janei'lo.S A '" G de'b .b' R. Gttande.~ tO. ntonlo ran e~ O apl arl e, o Beberlbe, o das Ilhas, o das Rio Real.' RioC T , d P" C I C 'b F das Ilhas.ontas, O lnguarl, O e orto a vo, o amaragl e) o ormoso, oMamanguape (43), o Paraba e outros mencionados nesta histria Rio Grande.e conhecidos pela fama dos acontecimentos desenrolados juntodles e pelas desgraas da guerra. Seria intil citar mais por midotdas essas cousas j expostas por outros.

    Todo o Brasil se divide em colnias e capitanias, algumas 14 OAPITA-d . h h ,. NIAS.as quals recon ecem sen ores proprlos, outras teem o rel por se-

    nhor.

  • 28 o BRASIL HOLANDS SOB

    Diviso '1'ecentedo Brasil.

    }IAURICIOmandou r'epre-sentar o B'I"asilHolands emquat'l"o mapas.

    nhor. So~ "Par, Maranho, Cear, Rio Grande, Paraba, Itamarac,Pernambuco, Sergipe, Baa de Todos os Santos, Ilhus, Esprito Santo, PortoSeguro, Rio de 'Janeiro e S. Vicente."

    As naes disseminadas por elas e pelo serto diferem nonatural" nos dialetos e nos nomes: "Potigares, Viats, Tupinambs, Cae-ts, Tupiniquns, Tupiguais, Apigapigtangas, Muriapigtangas, Itats, Temimi-ns, Tamios, Carijs e os clebres Tapuias, Tucanuos, Nacais, Cuxars, Guaia-ns, Gaians (27), Pigrs, Canuuaras" e mais algumas enumeradas emparticular por outros escritores (44).

    No carregues o sobrolho, leitor: estamos fora do Lcioe da Grcia. No foi permitido inventar palavras s para os povosdo Velho Mundo. Tambm para as cousas da Amrica foroso ejusto criar trmos para exprim-Ias adequadamente.

    Seria apenas descrever o Brasil e no historiar os fatos nlesucedidos dar-se uma relao completa de cada uma dessas cou-sas. Ser suficiente indicar-lhe a posio, os limites, as capitanias,a populao e as riquezas. Caber talvez a outros, que falam nestamesma histria, darem, por dever de ofcio, notcia mais circuns-tanciada de tais matrias (4S).

    H muito a cincia dos gegrafos dividiu o Brasil em ca-pitanias do norte e do sul. A diviso recente , porm~ a que o dis-tingue em Brasil Espanhol e Brasil Holands. A primeira dessas di-vises a natural; a segunda feita pela fra e valor dos homens.Aquela a do Criador; esta a da partilha entre os prncipes. Uma perptua e imutvel; a outra passageira e varivel, segundo a for-tuna da guerra. Os quatro mapas juntos, devidos munificncia deNassau, representam o Brasil Holands. Nem a Amrica, nem a Eu-ropa viram at hoje outros mais completos. O primeiro estende-sedo rio Potipeba at o S. Francisco. abrangendo o Sergipe deI Rei,

    Oliveira inclue o anexado ao domnio da Companhia pelas armas de Maurcio. Cha-Sergipe ent'l'e as C' d C"" . d d' .capitanias. ma-se apltanla o "lr11, a conta o nome o rio. Neste mapa, o rio

    de S. Francisco, celebrado nos livros dos espanhis e dos nossos pa-trcios, afamado pelas suas ilhas, penedos e vausJ abre a sua barra epenetra) com vrios rodeios, pelo' serto do Brasil. O segundo e oterceiro mapa pem ante os olhos tda a capitania de Pernambuco,bem como a de Itamarac. O quarto mostra a Paraba e a capitaniado Rio Grande. Em cada um dles encontram-se, marcados com si-nais prprios, os engenhos de acar, os currais, as cidades; vilas e

    aldeias

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 29

    aldeias, os fortes, os rios, as baas, os cabos, sinais sses que tra-zem luz e f narrao.

    Os portugueses e os holandeses possuam o pas com gover-nos distintos e contrrios, Quatro capitanias eram da nossa juris-dio: Rio Grande, Paraba, Itamarac e Pernambuco. As demaisobedeciam a PortugaL Ns as garantamos com fortificaes toma-das ao inimigo ou construdas pelos nossos contra os generais espa-nhis Albuquerque e Bagnuolo, clebre pelo seu renome militar.Aquele defendia as suas prprias terras, ste as do rei.

    A capital da capitania de Todos os Santos havia de novo Estado do Bra-Passado para os portugueses, mais pelos vcios dos nossos do que si! e dta Pdosshes-sao an es a c e-pelo valor dos portugueses. Entretanto, estavam em poder dos ho- gada do Conde.landeses as principais terras da colnia de Pernambuco, assim comotodos os fortes destinados a presidi-la.

    O comrcio da Nova Holanda nem diminua por derrotassofridas pelos nossos) nem aumentava por vitrias dignas de no-ta. Os reinos do Per e do Mxico e tdas as regies que se esten- Estado da

    O .d f , . A Guerra.clem para o Cl ente o ereclam oportuna materla para a guerra. spartes boreais e austrais do Atlntico eram guardadas por naus eesquadras, que iam e vinham conforme as circunstncias. O terrorinspirado pelo nome batavo invadira tdas as ilhas setentrionaisda Amrica - Hispanola, Cuba, Jamaica e prto-Rico. Campeche eTrujillo no golfo de Honduras tinham experimentado as nossas ar-mas. Com fortalezas e guarnies ocupvamos as ilhas de Sta. Mar-garida e de Sta. Marta, terrveis ,pela sua cidadela, e a de Curaau Curaau.no mar setentrional. recente e brilhante a fama da batalha tra-vada com D. Luiz Borja, mestre de campo dos espanhis> saindo vi-toriosos os holandeses.

    De contnuo os generais da Companhia infestavam com es-quadras tdas as costas do continente americano. Brilhavam soboutros cus os nomes principescos de Frederico, Orange, Amlia,postos em castelos e fortalezas. No havia descansar das hostes edos assaltos diurnos e noturnos dos inimigos, que incendiavam osengenhos e devastavam as vizinhanas. Por tda a parte, fumega-vam tambm, com os incndios ateados pelos nossos, as cidades) vi-las, aldeias, oficinas e lojas dos portugueses, e no mar ardiam-lhesos navios e frotas, porque a vingana, raivando, acendia o facho daguerra. Estvamos em luta com alguns dos portugueses e dos br-

    baros

  • 30 o BRASIL HOLANDS SOB

    O. JOL.

    SIGISMUN-no VANSOHKOPPE,ORIST.ARTIOHOF.

    baros e em paz com outros. Atrados stes ltimos ao nosso conv-vio e aliana, deixamo-lhes salva a religio; os lares, as leis e os cos-tumes. Prometeu-se liberdade aos oprimidos, comrcio aos nego-ciantes, fidelidade aos aliados. Mais uma vez, porm, quebraram oslusitanos a f do juramento, mais por temerem que por amarem

    .

    ao rei.De todos foram os tapuias os mais dedicados a ns. Com

    o auxlio de suas armas e fras, comandadas por 1andov (46),pelejamos contra os portugueses.

    Tambm os povos da Guiana (47) aceitaram pacatos o do-mnio holands. Alegravam-se todos com a expectativa de que, emchegando os nossos, se preparasse no a sua segurana, mas a vin-dicta contra os espanhis.

    Situao poUtica Na provncia de Pernambuco, estava frente da adminis-trao pblica o chamado Conselho Poltico, que no s regia a re-pblica, mas ainda os negcios da guerra e do comrcio, segundoas leis neerlandesas. Era igualmente exercido o poder dos magis-trados inferiores, com jurisdio no cvel e no crime. Entretanto,as leis no eram acatadas pela corrupo dos sditos e ainda mes-mo de alguns dos governantes. Mudando-se a condio dos lugareschega-se aos piores desmandos. Os indivduos de pssima estofa} te-mendo transformaes por desconfiana da presente repblica~ in-sinuavam-se nas boas graas dos portugueses, no por escrpulosde fidelidade, mas por esperanaB de impunidade.

    Padecia o povo de grande carestia, por devastarem os ini-migos os lugares prximos. Com o maior gasto e diligncia poss~vel, atalhava sse mal a Companhia. Sigismundo van SchkoppeJconspcuo por suas muitas e brilhantes faanhas, comandava as fr-as de terra. Presidia marinha 10o Lichthart, conhecido maispelos seus servios e insignes proezas contra o inimigo do que pelosfavores da fortuna. Artichofski, militar de vocao, j muito ex-perimentado, era coronel de um regimento de infantaria,

    A derrota soirida por Adriano Pater era considerada um dosdesastres mais graves para o nascente imprio batavo do Brasil.

    101, inculto, mas arrojado e entranhadamente infenso aonome espanhol, depois de ter aprisionado, aqu e acol, naus inimi-gas, enchia, como triunfador, todo o Ocidente com a sua glria mar-cial. Em Serinham, Terra Nova, Tapecerica, Alagoas e outros lu-

    gares,

  • .,

    c A p I T A N I A D

    ~.

    -

    E

  • o CONDE JOO MAURICIO DE NASSAU 31

    gares, com riscos vrios e xito desigual, guerreavam os ditos co-mandantes Schkoppe e Artichofski com Camaro e outros capites

    , .

    contrarlOS.Na Holanda achavam os diretores da Companhia que fsse

    parecer de todos defender-se o Brasil e as conquistaf'; realizadas edilatarem-se as possesses, discutindo-se seriamente a quem se de-veria confiar al o govrno e a quem se reconheceria capaz de toimportante provncia. Deliberava-se miudamente sbre abasteci-mento de vitualhas, sbre armas, emprstimos contrados e por con-trair, rendas e impostos, e bem assim crca do trato africano e dotransporte de escravos para a Amrica.

    No era menor a diligncia do rei da Espanha, que se a-prestava para embaraar os planos dos holandeses, recuperar aspossesses perdidas, munir as periclitantes e utilizar-se das fortifi-cadas. Entrementes, um general no s prudente, seno tambmatrevido; preparava importante matria para novos tentames. Direi Importncia dos

    . b. feitos da Com-sem receIo que foram tamanhos os aperce Imentos para esta guer- panhia ociden-ra at o ano de 1636 que levam de vencida os empreendimentos dos ;~~:~ o ano demais poderosos reis. O vulto da emprsa faz-lhe perigar o crdito N' d

    umero as

    nos ignorantes e nos invejosos. Foi ingente o nmero das naus: se- naus.gundo os registros oficiais (48), mandaram-se mais de oitocentaspara a guerra e o trfico do Ocidente, para frica e outros lugarese custaram mais de 45.000.000 de florins j levando-se em conta opreo das naus, os soldos, os bastimentos. Tomaram-se ao inimigo s tomada.s ao547 naus} acarretando-selhes um prejuzo calculado em seis mi- tntmtgo.lhes. Da tomadia reverteram em utilidade pblica mais de trinta Soma dos despo-milhes de florins, soma muito superior que Paulo Em