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O CAJU DA GUINÉ-BISSAU (análise da fileira) D R A F T Bissau, Março de 2004

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O CAJU DA GUINÉ-BISSAU

(análise da fileira)

D R A F T Bissau, Março de 2004

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INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................4 METODOLOGIA...................................................................................................................................................4 SUMÁRIO EXECUTIVO ........................................................................................................................................4

CONTEXTO.........................................................................................................................................................6 PRODUÇÃO.........................................................................................................................................................8

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DO CAJUEIRO ....................................................................................................8 Tamanho e Repartição Geográfica do Cajueiro...........................................................................................8 Idade das Árvores .........................................................................................................................................9 Taxa de Expansão das Plantações................................................................................................................9 Variedades Cultivadas................................................................................................................................10

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO .................................................................................................................................11 Plantações Tradicionais .............................................................................................................................11 Lugar de plantação das árvores .................................................................................................................11 Plantação e Sementes .................................................................................................................................12 Densidade da plantação .............................................................................................................................12 Tratamento das árvores ..............................................................................................................................13 Plantações Modernas(agro-industriais) .....................................................................................................13

A PRODUÇÃO ...................................................................................................................................................16 Estado Sanitário da Árvore ........................................................................................................................16 Rendimento da Castanha e do Falso Fruto ................................................................................................16

PERSPECTIVAS DA EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO .................................................................................................20 COLECTA DO CAJU .......................................................................................................................................21 TRANSFORMAÇÃO/PROCESSAMENTO ...................................................................................................23

O PROCESSAMENTO DA CASTANHA DE CAJU .....................................................................................23 A Fábrica do GETA-BISSAU......................................................................................................................23 A Abordagem do TIP’S e da ENTREPRISEWORKS ..................................................................................24 AGRI/BISSAU e FUNDEI..........................................................................................................................24

O PROCESSAMENTO DO SUMO DE CAJU ...............................................................................................26 COMERCIALIZAÇÃO.....................................................................................................................................27

COMERCIALIZAÇÃO DO FALSO FRUTO (PÊRA).....................................................................................27 COMERCIALIZAÇÃO DA CASTANHA DE CAJU (“IN NATURA”) ............................................................27

A Estrutura do Sistema Comercial .............................................................................................................27 O Funcionamento do Sistema .....................................................................................................................30 As Políticas Sectoriais ................................................................................................................................36 Exportação da Castanha de Caju ...............................................................................................................41

COMERCIALIZAÇÃO DA AMÊNDOA.......................................................................................................46 Comércio interno da amêndoa ...................................................................................................................46 Comércio mundial da amêndoa..................................................................................................................46

COMERCIALIZAÇÃO DO VINHO ..............................................................................................................46 COMERCIALIZAÇÃO DO AGUARDENTE DO CAJU...............................................................................46

MARKETING ....................................................................................................................................................47 EMPRESAS, SERVIÇOS E NOVAS DINÂMICAS.......................................................................................48

B&B: ...............................................................................................................................................................48 AGRI-BISSAU ...................................................................................................................................................49 SICAJU ...........................................................................................................................................................49

POTENCIALIDADES.................................................................................ERREUR ! SIGNET NON DEFINI. CONSTRANGIMENTOS............................................................................ERREUR ! SIGNET NON DEFINI.

CASTANHA DE CAJU ................................................................................... ERREUR ! SIGNET NON DEFINI.

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A Montante da Produção....................................................................................Erreur ! Signet non défini. Na Fase da Produção .........................................................................................Erreur ! Signet non défini. A Juzante da Produção (Comercialização) ........................................................Erreur ! Signet non défini.

CONSTRANGIMENTOS............................................................................ERREUR ! SIGNET NON DEFINI. AMÊNDOA...................................................................................................... ERREUR ! SIGNET NON DEFINI.

A Montante da Processamento ...........................................................................Erreur ! Signet non défini. Na Fase do Processamento.................................................................................Erreur ! Signet non défini. A Juzante do Processamento ..............................................................................Erreur ! Signet non défini.

OUTROS SUB-PRODUTOS DO CAJU.......................................................... ERREUR ! SIGNET NON DEFINI. PROPOSTAS DE SOLUÇÕES...................................................................ERREUR ! SIGNET NON DEFINI.

CASTANHA DE CAJU ................................................................................... ERREUR ! SIGNET NON DEFINI. Aumento da Produção ........................................................................................Erreur ! Signet non défini. Melhoria das Condições de Comercialização ....................................................Erreur ! Signet non défini. Melhoria do Marketing do Caju .........................................................................Erreur ! Signet non défini. Aparecimento de Novas Empresas/Serviços/ONG’s de Apoio ao Caju..............Erreur ! Signet non défini.

AMÊNDOA...................................................................................................... ERREUR ! SIGNET NON DEFINI. Aumento da Produção ........................................................................................Erreur ! Signet non défini. Criação/Estabelecimento de Novas Unidades de Processamento ......................Erreur ! Signet non défini. Melhoria das Condições de Comercialização ....................................................Erreur ! Signet non défini. Melhoria do Marketing.......................................................................................Erreur ! Signet non défini. Aparecimento de Novas Empresas/Serviços/ONG’s de Apoio ao Caju..............Erreur ! Signet non défini.

OUTROS SUB-PRODUTOS DO CAJU.......................................................... ERREUR ! SIGNET NON DEFINI. BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................................70

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INTRODUÇÃO Objectivos do Estudo O objectivo deste estudo é a elaboração de um documento de reflexão destinado à Conferência Nacional, donde se espera obter um Plano de Acção para a programação das acções a implementar no quadro da fileira do caju. O documento deve realizar um diagnóstico da situação actual da fileira em cada uma das suas diferentes componentes e, sobretudo, propor recomendações de política. Metodologia Para a realização de uma reflexão desta natureza, previa-se essencialmente a consulta bibliográfica. Dado a escassez de estudos detalhados para todas as dimensões da cadeia deste produto, a equipe teve necessidade de realizar algumas entrevistas1. Para essas entrevistas previligiou-se as pessoas ou entidades que possuam experiências práticas reconhecidas sobre a matéria. Sumário Executivo No capítulo relativo ao contexto, os dados demonstraram que a exportação da Guiné-Bissau começou ainda antes da independência. Questionou-se sobre os créditos recebidos nos finais da década de 80, perante a actual incapacidade de descascar e exportar amêndoa para o mercado americano. Relativo à produção, constataou-se que as árvores ainda são novas, na sua maioria. E apresentam um bom ritmo de expansão. O maior problema está relacionado com a distância entre as plantas, no que se refere às plantações dos camponeses. Confirmou-se a inexistência de substâncias químicas nas plantações quer na sua fase de produção como na fase relativa ao tratamento de doenças. Na colecta, cada pessoa consegue apanhar uma média de 25 Kga 40 Kg por dia, de castanha de caju. O grande problema está relacionado com os roubos. No capítulo da transformação, duas experiências opostos e extremos serviram para orientar o país. Agora, procura-se uma abordagem intermédia, onde se dá a devida importância quer às micro-empresas, familiares, como as indústrias de tamanho médio. Isto é, aquelas capazes de produzir, pelo menos, 1 contentor cada mês. A grande questão em aberto está relacionada

1 Dado os condicionalismos do financiamento, não é possível produzir dados a partir de inquéritos próprios. Portanto, o estudo assenta as suas reflexões e conclusões sobre os dados já disponíveis e algumas entrevistas pontuais.

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com a fonte de energia. Confirma-se que o gasóleo não é a fonte aconselhável. É preciso experimentar a própria casca da castanha de caju. A comercialização abriu um debate sobre a necessidade de permitir a intervenção directa dos processadores na compra. Como forma de começar a educar os plantadores. No sentido de se cuidar da qualidade da castanha. Recomedou-se a viragem da equação preço/quantidade para uma nova: preço/qualidade. No marketing confirmou-se o excelente trabalho que a EnterpriseWorks está a desenvolver, nomeadamente com a aproximação à empresa ROTA Internacional. Possibilitando a abertura do mercado americano aos produtos naturais da Guiné-Bissau. E relativamente às novas inciativas e empresas o destaque foi para as 3 empresas novas que abriram a porta para a necessidade de se avançar para a média indústria. Felizmente, surgiu a abertura do mercado americano. Isto abre enormes perspectivas ao país e a todas as empresas que tomaram o risco de avançar no processamento. Finalmente apresenta-se as potencialidades, seguido dos contrangimentos e propostas de soluções.

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CONTEXTO A Guiné-Bissau entrou para o mercado internacional da castanha de caju ainda antes da independência política (1974). As primeiras exportações foram verificadas em 1966, altura em que se registou a exportação de 770 M/T. Como se pode constatar a partir do gráfico a seguir, foi com o intensificar da Guerra, nos anos 70 que o país suspendeu as exportações da castanha, para vir a retoma-las nos inícios dos anos 80.

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EXPORTAÇÕES DA GUINÉ-PORTUGUESA

Fonte: Junta de Investigação Ultramar, “Prospectivas do Desenvolvimento Económico e Social da Guiné, 1972 Pelo gráfico, não só se regista uma presença constante da castanha de caju no quadro das exportações entre 1966 a 1970, como este produto ocupou sempre o quarto lugar em termos de volume de exportação, logo a seguir ao amendoim, coconote e seus derivados e da madeira serrada. Em 1970 o país exportou 1.200 ton de castanha de caju. Terá sido a escassez da castanha no mercado internacional, decorrente da queda brusca da produção de Moçambique um dos factor que terá facilitado o reaparecimento da castanha da G.B. no mercado internacional. Não gostaríamos de terminar esta contextualização sem colocar dois questionamentos:

• parece milagre que um país como a Guiné-Bissau possa ter a oferta de mercado imediato para colocar toda a sua produção de castanha transformada

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num país como os Estados Unidos!!! Lamentavelmente, constatamos que não se pode dar uma resposta positiva a esta oferta, pelo simples facto de não existir, no país, capacidade para descascar toda a castanha produzida.

• Quando observamos os dados relativos aos créditos atribuídos só para o sector da agro-indústria, entre os anos 1987 a 1990, ficamos estupefactos: o governo disponibilizou directamente ao sector privado, em forma de crédito, uma média de 2,5 milhões de Usd por ano!!!!!

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PRODUÇÃO O planta do cajueiro, denominado de Anacardium occidentale, L., foi trazida do Brasil pelos portugueses, por volta do século XVI e disseminada em todas as administrações de Posto, actuais Sectores, embora os melhores resultados, em termos de adaptação se tenham registado nas Regiões do litoral, especialmente nas actuais Regiões de Cacheu, Biombo e Oio.

Características Essenciais do Cajueiro

Tamanho e Repartição Geográfica do Cajueiro Estima-se em cerca de 103.000 há a dimensão da plantações de cajueiros ao nível nacional, em 19952. A um crescimento de cerca de 10.000 ha/ano, estima-se que neste momento o país deverá estar a alcançar, pelo menos, cerca de 200.000 há de plantações de cajueiros. Dessa totalidade, a parte camponesa ocupa cerca de 85% das plantações enquanto que os ponteiro preenchem o resto, equivalente a cerca de 15.000 há. Com a particularidade de os ponteiros possuírem áreas individuais/empresas superior (14,2 há/média por exploração) às áreas das explorações familiares camponesas (1,6 há/média por exploração). Uma observação da repartição das plantações pelas diferentes Zonas Agrárias permite concluir o seguinte:

DISTRIBUIÇÃO DAS PLANTAÇÕES DE CAJUEIRO POR ZONAS (1996)

Zona IZona IIZona III

2 Segundo os dados contidos no inquérito realizado pelo Vayssié e Camará, em 1996. Op. Cit, pp. 26

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A Zona Norte é a maior produtora de caju do país, ocupando 55% da totalidade da área plantada de cajueiro e onde 88% dos seus camponeses estão ocupados com esta plantação, numa média de 1,3 há por cada exploração. A Zona Leste representa 27% da superfície plantada de cajueiros. Mas pouco mais de metade da sua população (56%) está relacionada com esta plantação, numa média de 1,4 há por exploração. Enquanto a Zona Sul e o Arquipélago dos Bijagós ocupam 18% da totalidade da superfície de cajueiros do país, implicando 58% dos seus camponeses, numa média de 2,2 há por cada exploração.

Idade das Árvores Categorizando os actores em ponteiros e camponeses, os resultados do inquérito demonstraram que, as plantações dos ponteiros são mais antigas, porque a média de idade dos seus cajueiros ronda os 17 anos, e mais de ¼ das suas plantações já ultrapassaram a idade normal de vida económica. Enquanto que, no meio camponês a idade média das plantas é de 6 anos (1996), distribuídos como se segue, em função de cada uma das zonas: Zona I – 7 anos; Zona II – 5 anos; e Zona III – 6 anos3

Taxa de Expansão das Plantações Pelo inquérito realizado em 1996, e tomando como base os anos de 1986 a 1995, concluiu-se que o crescimento das áreas plantadas cresciam a um ritmo de cerca de 20% em média. O que se explica, em parte, pelo facto de nos encontrarmos perante um processo na sua fase de arranque. Desse crescimento médio, os ponteiros cresciam a um ritmo mais baixo do que os camponeses, em cerca de 8 pontos percentuais. Observando o comportamento dos camponeses na perspectiva das Províncias, constatamos que a Zona I é aquele que cresce ao ritmo mais baixo (18%) comparado com o a Zona Leste (II) que crescia mais de ¾ em média (34%), enquanto que o Sul (mais o Arquipélago) crescia anualmente em cerca de ¼ em média. Este ritmo diferenciado de crescimento, deixa a entender que, eventualmente, o Norte não cresce a um ritmo mais acelerado porque defronta sérias limitações no capítulo do fundiário. 3 Chamamos a atenção para o facto de estarmos a citar dados recolhidos em 1995/96.

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Variedades Cultivadas Pelos estudos realizados, confirma-se o facto de que não existe uma pré-selecção das sementes durante a plantação do cajueiro. Isto quer em relação aos ponteiros como em relação aos camponeses. Portanto, isto significa que, não é possível, em qualquer inquérito de terreno determinar as variedades plantadas, dada a sua enorme mistura. Critérios como as diferenças de precocidade, da duração da produção, da forma e dimensão da polpa, da forma e dimensão da castanha acabam por se revelar pouco úteis. Restando só a cor, como o critério mais pertinente, perante esta realidade de ausência de selecção de variedades de sementes. Neste contexto, e utilizando o critério da cor vermelha e amarela, foi possível destinguir o “cajueiro da terra” e o “cajueiro de moçambique”. A partir desta primeira destrinça, chegou-se à seguinte caracterização para cada uma destas grandes espécies:

Cajueiro da Terra: é o mais comum na maior parte das plantações existentes no país; A polpa apresenta uma cor vermelha, com uma dimensão média, é muito doce e possui pouca fibra; As castanhas são pequenas e muito pequenas, apresentam peso médio entre 4 a 5 gramas; A sua polpa é muito apreciada para fabrico de sumo, vinho, a aguardente; As suas árvores dão muitos frutos e apresentam elevada produtividade.

Cajueiro de Moçambique: É mais recente no país, com uma média de cerca de dez

anos; A sua polpa apresenta a cor amarela, e é mais grossa; As castanhas são de dimensão média, pesando entre 6 a 8 gramas; Demonstram uma produtividade muito fraca e a polpa é menos apreciada, porque menos suculenta e mais fibrosa; O seu vinho é de menor qualidade.

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Técnicas de Produção

As diferenças que se encontram, relativamente ás técnicas de produção, variam conforme se trata de plantações tradicionais ou modernas. As técnicas de produção utilizadas nas plantações tradicionais são rudimentares, porque, para os seus praticantes4, trata-se de uma cultura semi-extensiva que se assemelha mais a uma plantação de colecta. Enquanto que as técnicas de produção das plantações modernas já apresentam características de uma agro-indústria, com a utilização de técnicas intensivas destinadas a tirar o máximo benefício da terra e da planta. No que refere à distribuição do peso de trabalho entre o homem e a mulher, os dados relativos à produção, isto é, referentes à desmatação, (trouaison) plantação, limpeza e colocação de pára-fogos, demonstra que a actividade da produção é praticamente masculina, registando uma presença quase nula das mulheres.5

Plantações Tradicionais Tal como ficou dito atrás, este ponto não se refere somente às populações camponesas. Inclui também a maioria dos ponteiros plantadores de cajueiros.

Lugar de plantação das árvores Pelos resultados do inquérito Vayssié e Camará (1996) a maioria das plantações de cajueiros (72%) é realizada nas terras do planalto, onde, normalmente os camponeses realizam a maior parte das suas culturas agrícolas. Da restante, 22% é plantada à volta da Tabanca e cerca de 6% nas inclinações para as terras baixas. Lido de uma outra forma, isto significa que, esta árvore do cajueiro está a ocupar a maior parte das terras normalmente destinadas às culturas alimentares, nos planaltos.!!!! Aprofundando esta constatação, os dados demonstram que, para além da ocupação das terras que já se encontravam bastante usadas com as culturas alimentares (60%), o cajueiro está a invadir as terras virgens, através da desmatação de florestas (38%). E até as terras que se encontravam em pousio (2%) também estão a ser utilizadas par a plantação de cajueiros.6Uma nuance importante acontece com os ponteiros tradicionais. São pessoas que, em princípio se instalam em territórios estranhos, portanto, onde não possuem laços de

4 São praticantes das técnicas de produção tradicionais as plantações dos camponeses, e da maior parte dos ponteiros. Isto porque a maior parte dos ponteiros nacionais são camponeses que habitaram, durante algum tempo os centros urbanos. O que os difere dos camponeses tradicionais é que, o conjunto das suas produções está essencialmente voltada para o mercado e não essencialmente para o consumo, como acontece com os camponeses tradicionais. 5 Vayssié e camará, Op cit., pág 62 6 Op. Cit., pág. 30

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parentesco. Por isso, tendem a procurar terras a partir da desmatação da floresta. O que acontece com 56% desta categoria de actores. Toda esta informação confirma a velocidade com que esta árvore do cajueiro está a invadir as terras anteriormente destinadas às culturas alimentares. Do ponto de vista do fundiário, temos informações que confirmam o recrudescer de conflitos fundiários entre Tabancas devido ao problema da crescente demanda de terras por parte de populações que possuem pouca terra, e que por causa dessa carência, tentam invadir e ocupar terrenos pertencentes ao território de outras Tabancas e/ou outras Moranças. São problemas característicos da Zona Norte, e especialmente em relação aos Balantas, tradicionais ocupantes das terras baixas (bolanhas de água salgada), mas que agora, por causa da febre do cajueiro, pretendem expandir-se para as terras altas. E são problemas típicos da Região de Oio, onde o avanço das plantações de cajueiros estão a bloquear os corredores de passagem da transumância criando inúmeros conflitos, todos os anos, com consequência que atingem o nível de mortes entre as partes.

Plantação e Sementes A maior parte das plantações são se fazem em linha, e são feitas de forma directa. A semente é colocada no início da parte final das chuvas (finais de Agosto), em associação com outras culturas alimentares durante os primeiros anos de desenvolvimento da planta. Não se faz qualquer selecção de sementes no momento de sua recolha e no momento de sua colocação no solo. Daí, a frequência com que encontramos uma variedade enorme de plantas, de polpas e de tamanhos de castanha numa mesma plantação.

Densidade da plantação Somente ¼ das plantações respeitam a plantação em linha. O que significa que a maioria realiza uma plantação aleatória. Contudo, quando se observa esta correlação em termos de zonas agrícolas, constata-se que as zonas com plantações mais recentes apresentam tendências de um maior alinhamento das árvores (Zona II e III apresentam 35% de plantações alinhadas, enquanto a Zona I mal chega aos 15%). A densidade média nacional, excluindo sempre as plantações agro-industriais, apresentam a média de 420 pés de árvores por cada há. O que significa cerca de 4,9m.x4,9m. por cada árvore, com extremos que variam entre 2m. a 6m. conforme as plantações. Com estas médias, os camponeses conseguem reduzir o tempo trabalho de limpeza, os riscos de propagação do fogo e as árvores começam a produzir de forma substancial logo após o terceiro ano. A desvantagem é que os potenciais dos níveis de produção esperados decrescem antecipadamente, devido à forte concorrência entre as árvores.

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Tratamento das árvores

Não há pratica de tratamento das árvores nem prática de adubação das árvores em qualquer momento do ciclo da árvore. Aliás, para evitar a aumento do volume de trabalho nas plantações, nomeadamente com a monda, os camponeses preferem realizar plantações praticamente sem espaçamento, com a intenção inicial de vir a cortar as árvores excedentárias. Contudo, a prática tem demonstrado que quando chega o momento do corte surgem bloqueios de natureza psicológica que a impedem.

Plantações Modernas(agro-industriais) Grosso modo, existem dois grandes sistemas de produção na Guiné-Bissau: o sistema camponês e o agro-industrial, mais conhecido pela designação de “ponteiro”. Relativamente a este grupo de indivíduos ou entidades, “ponteiros”, a Guiné-Bissau realizou um grande esforço financeiro nos finais da década de 80. Foram atribuídos créditos directamente a estas entidades ou empresas do sector privado, com o objectivo de estimular o aparecimento e consolidação deste grupo de actores. Do ano 1987 a 1990 foram atribuídos ao sector privado em geral cerca de $ 67.153.832 Usd dos quais 14,3% foram destinados às empresas da área da agro-indústria.7 Para além da agro-indústria, as áreas contempladas com créditos foram as seguintes: pescas, indústria, construções, transportes e comunicações, comércio interno, comércio externo, turismo e hotelaria, prestação de serviços e outras.

Ano 1987Ano 1988

Ano 1989Ano 1990

S1

S20

5,000,000

10,000,000

15,000,000

20,000,000

25,000,000

Global

Agro-Industria

CRÉDITOS AO SECTOR PRIVADO (Em USD)

7 “Análise das Contas Monetárias e Balança de Pagamentos (1986-1994),” Bxo, Outubro, 1991

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Parece inacreditável que, quase $10 milhões de dólares teriam sido atribuídos, em forma crédito, aos “ponteiros”, num período de apenas 4 anos. Estamos a referir ao período antes da entrada em funcionamento pleno do BIGB. Para que tipo de resultados? Em 1992, pelos dados do Cadastro, estimava-se em cerca de 300.000 há a quantidade de há disponibilizados aos “ponteiros”. O inquérito do Departamento de Estatísticas Agrícolas concluiu que somente 8.400 há, portanto menos de 5%, teriam sido plantados de facto8. Agora pergunta-se: aonde estarão os $10 milhões de USD investidos durante estes primeiros 4 anos de crédito agrícola, se também ao nível da indústria de transformação nada existe, se exceptuarmos o ‘elefante branco’ do GETA-Bissau!? Em 1996, portanto já bastante longe desses créditos, estimou-se que as plantações dos “ponteiros” teriam já atingido cerca de 15.000 há. Precisamos investigar os créditos atribuídos a partir do BIGB para o sector agrário a partir dos anos 1991. Perante estes montantes de crédito, parece que a Guiné-Bissau teria perdido oportunidade soberana para garantir o arranque do seu desenvolvimento. O país realizou um enorme esforço de investimento, em termos de crédito, que não surtiu os resultados mínimamente esperados. O estudo do Vayssié e do Camará inquiriu 4 grandes plantações consideradas modernas, em distintas zonas agro-ecológicas do país: Carlos Capé no Leste, São Francisco da Floresta no Sul ADPP no Norte e Agri-Bissau no Centro.9 Os resultados podem ser resumidos como se segue: Tamanho das Plantações:

ADPP e Agri-Bissau possuem as maiores plantações. Acima dos 1.000 há. E a Agri-Bissau, que já tem 1.300 há plantados, ainda tem a possibilidade de aumentar a sua área de plantação; São Francisco é uma pequena plantação de cerca de 175 há, enquanto que Carlos Capé ascende a 500 há. Idade das Plantações: As idades variam entre os 20 anos, caso Capé, os 14 anos da ADPP e os cerca de 7/8 anos para a Agri-Bissau. Objectivos da Plantação: Á excepção do caso Capé, em que os objectivos estão mais voltados para a ocupação de espaço, tendo em conta a procura de segurança, em todos os outros casos, os objectivos estão directamente relacionados com os resultados directos, quer

8 Vayssié e Camará, “La filière anacardier en G.B.”, MRDA, Nov., 1996 9 De todas estas empresas inquiridas, eventualmente só a do Capé teria sido contemplado com os famosos créditos atribuídos nos finais da década de 80 e inícios da década de 90.

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previligiando a feitura do aguardente de cana, caso São Francisco, ou a obtenção do sumo e o processamento da castanha (Agri-Bissau); Métodos de Plantação: Á excepção do caso da Agri-Bissau, que realiza uma transplantação da planta, todas as outras empresas adoptaram o método característico dos camponeses, isto é, a plantação directa da semente. Relativamente ao espaçamento, só a plantação do Capé não obedeceu aos critérios mínimos esperados neste tipo de produção, uma vez que não só não respeitou a selecção das variedades locais, como também não realizou o espaçamento necessário entre as plantas. Todas as outras empresas, respeitaram espaçamentos de 9m. a 12m. entre as plantas, e procederam a uma selecção mínima da qualidade das sementes, em especial, respeitando o critério do peso e do tamanho da semente.

Em conclusão:

Todas as empresas com plantações agro-industriais utilizaram sementes locais nas suas plantações e a maioria pretende não só o aproveitamento da castanha de caju para descasque, mas também, o processamento do sumo e do aguardente do caju10, cujas margens são o dobro do da comercialização simples da castanha de caju. E todas usam elevada intensidade de mão de obra: São Francisco usa cerca de 8 trabalhadores por há, enquanto a ADPP vai até 11 e a Agri-Bissau atinge os 17 trabalhadores permanentes por cada há de plantação. Nenhuma das empresas utiliza adubos ou fertilizantes. O que transforma em produto bio a nossa castanha de caju.

10 Para a produção do aguardente da cana de caju é necessário, para cada L. de cana cerca de 6 L. de vinho fermentado. E como resultado, esse aguardente atinge os 40º de álcool.

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A Produção

Estado Sanitário da Árvore

Tal como todas as plantas, o cajueiro também tem inimigos que se apresentam quer em termos de agentes patogénicos como de insectos. Pelo resultado do estudo Vayssié e Camará os danos ocasionados pelos insectos ainda são bastante residuais. Contudo, o mesmo já não se pode dizer em relação às doenças. Sem querermos entrar muito em detalhe neste assunto, bastaria referir que existem 4 grandes doenças que têm interferido de forma bastante significativa no crescimento e rendimento das plantas de cajueiro. São elas: a antracnose, o oidium, a pestalotiose e a “fausse rouille” ????? ???. Sendo as duas primeiras as mais frequentes e perigosas. Existe ainda uma última doença, que provoca a secagem prematura da floração. Ainda não foi identificada com precisão o seu agente patogénico, apesar dos seus efeitos começarem a colocar algumas preocupações sérias. Relativamente aos métodos de luta contra estas doenças, algumas indicações foram apontadas na seguinte direcção:

(i) evitar de forma muito radical, qualquer tendências de utilização de métodos químicos no combate a qualquer destas doenças. Não só não são rentáveis como criam um ciclo de dependência incontrolável ao nível local;

(ii) o respeito pelo espaçamento mínimo, como forma de permitir às árvores

condições normais de desenvolvimento e de resistência naturais;

(iii) privilegiar os solos com boa drenagem para a plantação do cajueiro, entre outras medidas.

Tal como em relação às doenças, também em relação aos insectos, sobretudo o ???????? selenothrips rubrocinctus e a raphidopsis melaleuca, relativamente aos quais também se recomenda a não utilização de métodos químicos. Na mesma linha, recomenda a criação de boas condições para o desenvolvimento vegetativo da planta, nomeadamente através do respeito pelas técnicas culturais performantes e alguns cuidados especiais com as plantas atacadas, nomeadamente o corte, e a queima das partes afectadas, afim de lhes destruir os ovos e limitar a sua capacidade de contaminação.

Rendimento da Castanha e do Falso Fruto Parece surpreendente que, os cajueiros da Guiné-Bissau, sem qualquer tipo de adubos químicos e, numa boa parte dos casos, sem o mínimo respeito pelas regras agronómicas básicas, possam atingir rendimentos tão interessantes.

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Estes resultados11 foram obtidos a partir de uma amostra de 860 árvores, com uma idade entre os 5 e os 30 anos. Não foram destacados outros elementos tais como: os tipos de solos, as variedades, espaçamentos, etc. À primeira vista, esta amostra nos parece muitíssimo insignificante, se considerarmos 80.000 M/T como volume de produção, a uma média de 2,2 Kg por árvore. O que faria 36 milhões de árvores. Ou seja, uma amostra de 0,002% sobre o universo das plantas. Seja como for, concluiu-se que, na Guiné-Bissau, os cajueiros atingem rendimentos médios de 897 Kg por Há. Segundo a mesma fonte, em média, cada árvore rende cerca de 2,2 Kg de castanha de caju, e estima-se em 407 o número de árvores por Há. Estes dados colocam alguns problemas e vários questionamentos, no momento de sua análise. A primeira pergunta é a seguinte: como é que é possível plantar, num há de terreno, 407 árvores de cajueiro? Pelas informações obtidas a partir da experiência da Agri-Bissau, no respeito pelas normas agronómicas de espaçamento 10 m. a 12 m. não é possível alcançar esse número. No máximo, caberiam 159 árvores por há. E mesmo nas situações dos camponeses, em que não se respeitam as regras agronómicas, consideramos muito elevado esse número. Isso significaria uma árvore por cada 3 m.12???? Utilizando a mesma experiência de plantação, a da Agri-Bissau, também de questiona o rendimento médio por há, indicado pelo inquérito Vayssié. Nas plantações da Agri-Bissau, respeitando todas as exigências agronómicas, está-se a conseguir rendimentos médios de 397,5 Kg/há, em árvores com idade média de 7 a 8 anos. Portanto, que ainda não atingiram a sua plena maturação. E pelas suas expectativas, esperam atingir, em plena maturação da plantação, valores em torno dos 600 Kg/há. Isto é, uma média de 3,7 Kg por cada árvore. Observando nossa experiência empírica, questionamos se não será baixo uma produção média de 3,5 Kg de castanha por árvore. Quando temos escutado vários opiniões que apontam para situações em que existem árvores que podem atingir 25 Kg, naturalmente. Os dados retirados dos estudos do TIP’s13 apontam para rendimentos que variam entre os 574 Kg a 981 Kg/há. Segundo os mesmos estudos, entre 1994/97 a média da rentabilidade por há atingia cerca de 711 Kg/há. Entre os anos 1983/85 a média subiu para 933 Kg/há. Estamos em crer que, com esta disparidade de números e de posicionamento, este aspecto do rendimento das árvores e, consequentemente, do rendimento por há, deverá ser um dos assuntos a estudar com a maior atenção nos próximos tempos.

11 Segundo o inquérito n.3 do estudo “La filière anacardier en G.B.”, MDRA, Nov. 1996 12 É preciso lembrar que uma plantação em linha, com espaçamentos de 10m./10m. só permite 100 plantas de cajueiro. Então, em que condições é que se poderia atingir as 400 plantas? 13 Fonte: LaFleur, James, “Contribuição da castanha de caju para a economia da Guiné-Bissau”, Anexos, Março 98, pp.____

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Para nos situarmos no mundo, citemos exemplos de outros países produtores de castanha de caju14, observando os extremos alcançados: PAÍS Rendimentos Extremos

(em plena produção, por árvore) Rend. Médio/Há.

(plantações naturais) Rend. Médios/Há

(plantações adubadas)

Guiné-Bissau 0,8 – 7,9 Kg 897 Kg ou 450 Kg Moçambique 3,6 – 11,3 Kg Índia Brasil 250 Kg Relativamente à polpa, os resultados apontam para um peso médio de 41 gramas cada uma. Tendo em conta que o peso médio da castanha se situa em torno dos 4,45 gramas, concluiu-se que o caju da Guiné não foge à regra de 1-9, na relação entre a polpa e a castanha. O que, em outras palavras significa dizer que, cada Kg de castanha proporciona cerca de 9Kg de polpa de caju. Sem pretender fazer qualquer avaliação apressada desta questão dos dados, apresentamos o gráfico que segue, onde se observa a distribuição dos rendimentos das árvores em função da idade das plantas:

1/2

anos

3 an

os

4 an

os

5 an

os

6 an

os

7 an

os

8 an

os

9 an

os

10/2

0 an

os

21an

os

22 a

nos

23 a

nos

24 a

nos

25 a

nos

>26

anos

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

RENDIMENTO DOS CAJUEIROS POR IDADE (Kg/Ha)

Fonte: Inquérito n.3, “La Filiere Anacardier en G.B.”, pág. 38/39 (Campanha 1995/96)

Algumas conclusões podem ser retiradas deste gráfico:

14 É preciso lembrar que esta comparação é feita entre plantadores que utilizam adubação química e os da Guiné-Bissau que não utilizam esses imputs.

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1. As árvores de caju começam a produzir muito cedo, logo a partir do terceiro

ano.;

2. A produção vai aumentando cada ano, até atingir a fase madura ao décimo ano; É uma progressão muito viva durante os primeiros anos (3 a 6), depois continua a crescer mas a um ritmo menos acelerado, entre os 7 aos 10 anos;

3. Durante a sua fase adulta, que se estabelece entre os 10 e os 20 anos de idade,

a planta atinge a fase de plena maturação, alcançando quase 1.300 Kg por Há; Nesta altura, a produção média por cada árvore alcança os 3,1 Kg de castanha de caju;

4. A partir dos 20 anos de idade, a planta começa a envelhecer e o seu rendimento também começa a baixar. Dos 20 aos 25 anos a produção diminue rapidamente;

5. A partir dos 26 anos a produção quase que desaparece.

Em termos de conclusão, a ser verdade esta tendência na queda da produção das plantações em função das respectivas idades, e tendo em conta que as plantações da Guiné-Bissau já apresentam cerca de 1/3 das suas árvores com idades acima dos 20 anos, pode-se estimar que nos encontramos nas vésperas do início da curva descendente para cerca de 1/3 das plantas. Em termos de valor acrescentado, as conclusões do estudo Vayssié são muito reveladores. Antes de mais, é preciso diferenciar três casos distintos: (i) casos em que o camponês aproveita, ele próprio, as duas partes da fruta, isto é, a polpa e a castanha de caju; (ii) os casos em que o camponês aproveita o conjunto das duas peças, embora com um certo nível de perda (considerados os casos mais frequentes); e finalmente, (iii) os casos em que o camponês só aproveita a castanha de caju, (situação típica das zonas do interior da linha limite das marés, caracterizadas pela predominância da religião islâmica). Considerando o primeiro caso, aproveitamento integral da fruta, concluiu-se que o rendimento bruto, anual, por Há, é de 330.914 Fcfa, distribuídos como segue: Castanha 684Kg x 200 Fcfa = 136.800 Fcfa Sumo 2.734 L. x 71 Fcfa = 194.114 Fcfa Se a este montante retirarmos as despesas realizadas, nomeadamente aquelas relacionadas com as sementes, os consumíveis e equipamentos que suportam a fabricação do sumo, conclui-se que, as despesas totais, por Há, são de 10.759 Fcfa proporcionando um rendimento anual de 320.115 Fcfa. Concluiu-se assim, que o valor acrescentado por dia de trabalho possa ser estimado em 2.710 Fcfa. Ou seja, 320.155 Fcfa dividido por 118 H/D trabalho.

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Quanto ao terceiro caso, tendo em conta que não realizam qualquer aproveitamento da polpa, regista-se uma substancial redução do tempo de trabalho utilizado assim como também do rendimento bruto. Passa-se de 118 homem/dia para 23 H/dia e de um rendimento de 320.115 Fcfa para 134.767 Fcfa, representando assim um valor acrescentado de 5.860 Fcfa por dia de trabalho.

Perspectivas da Evolução da Produção Dado a inexistência de dados fiáveis relativos à produção nacional, optamos pelo recurso aos dados relativos às exportações, que devem ser tomados como meros indicadores das tendências registadas ao nível da produção.

1983

-84

1984

-85

1985

-86

1986

-87

1987

-88

1988

-89

1989

-90

1990

-91

1991

-92

1992

-93

1993

-94

1994

-95

1995

-96

1996

-97

1997

-98

1998

-99

1999

-200

2000

-200

1

2001

-200

2

2002

-200

3

2003

-200

4

0

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

80,000

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES 1983 A 2003

Fonte: James LaFleur, TIPS-USAID, 1998; BCGB e BCEAO; Min. Comércio (1998/2003)

Neste capítulo relativo às perspectivas da produção, convém recuperar a conclusão retirada da relação entre as idades das plantas e o rendimento. Aí, a tendência é para uma queda relativamente acentuada a partir da idade dos 20 anos. Tendo em conta que, segundo nossas estimações, cerca de 1/3 das nossas plantações estão a entrar nessa fase etária, recomenda-se uma tomada de atenção particular sobre eventuais necessidades de políticas visando estimular os camponeses sobre a necessidade de cortes e replantações de cajueiros.

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COLECTA DO CAJU A colecta é uma tarefa realizada pelas sobretudo pelas mulheres e crianças, de forma quotidiana, porque o fruto começa a apodrecer após 2 a 3 dias, em condições normais. A tarefa da colecta dura cerca de 4 meses (15 de Março a início de Junho), dado haver uma variação de 10 a 20 dias entre as árvores de floração precose e as de floração normal. Daí haver dois picos importante a registar na colecta: trata-se dos meses de Abril e Maio. Altura em que a floração atinge o seu auge. Assim que as chuvas começam, e a humidade do ar aumente, os frutos do caju começam a apodrecer ainda nas árvores, antes da plena maturação das sementes. Daí que, quer o fruto para o sumo ou para o vinho, perderem qualidade imediatamente, como a semente imatura também não ser da melhor qualidade. Nem para sementeira nem para a procura da amêndoa. Em termos médios15, cada pessoa gasta cerca de 7 a 8 horas para a apanha de 250Kg de fruta. Isto é, o equivalente a cerca de 25Kg de castanha por dia. E, normalmente esta tarefa implica muita movimentação da mão de obra durante o período de sua vigência. Deverá ser um dos momentos mais intensos da mobilidade da mão de obra no país. É frequente a maioria dos jovens que trabalham como domésticas em Bissau despedirem-se dos empregos durante esse período, com a justificação de que vão apoiar os seus familiares na colecta da castanha. Os dados recolhidos a partir da experiência da Agri-Bissau apresentam algumas diferenças relativamente aos dados do estudo Vayssié e Camará. Os dados da Agri-Bissau apontam para rendimentos diários de cerca de 30 a 40Kg no máximo para os guineenses que procuram trabalho nas suas instalações, enquanto que os estrangeiros, gente que vem de Kolda, Saliquenhi atingem valores mais altos, que chegam aos 70 e 80 Kg/dia. É preciso referir neste caso, que essas pessoas estrangeiras deslocam-se normalmente com filhos que as ajudam na colecta. Seja como for, é verdade que por serem estrangeiras, não só trabalham mais, como também não roubam16. Em média, a percentagem de estrangeiros na actividade da colecta ronda os 55% de todos os participantes na actividade. A remuneração conseguida nesta tarefa é bastante mais interessantes do que qualquer trabalho normal nos centros urbanos. Voltando, mais uma vez à experiência da Agri-Bissau, o pagamento é feito da seguinte forma: 15 Dados retirados do estudo Vayssié e Camará, “A Fileira do Caju na G.B.”, Novembro, 1996, pág.61 16 Nesta actividade da colecta, o problema maior que os empresários e proprietários confrontam está relacionado com o roubo de parte, as vezes significativa, do resultado da colecta diária.

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2 Com almoço incluído: 45Fcfa/Kg de castanha colhida 2 Sem almoço incluído: 50 Fcfa/Kg de castanha colhida Perante estes valores, uma pessoa que consiga colher 80 Kg de castanha por dia arrecada, por dia, 4.000 Fcfa, se não tiver acesso ao almoço da empresa. O que perfaz um rendimento bruto mensal de 120.000 Fcfa/mês. Na visita feita aos padres de Cumura, tendo em conta o carácter social das suas acções, constatamos valores que rondam os 150 Fcfa/Kg. Após a apanha e a separação da polpa da castanha de caju, este é secado, pelo menos durante um dia, e só depois guardado. O grande problema encontra-se ao nível stocagem da castanha recolhida em casa. É que estamos a falar de cerca de 30 a 40 Kg de castanha por dia, e de casas que não foram concebidas com espaço para guardar esse tipo de produto. Como resultado desta pressão, algumas famílias utilizam tambores de ferro para stocagem o produto, outras reutilizam os sacos de nylon que continham arroz. E na maior parte dos casos, se decidem guardar por algum tempo a sua produção, tendo em vista melhores preços, são obrigados a dormir na rua para deixar os quartos às suas castanhas. No que refere à distribuição do peso de trabalho entre os sexos, quanto à actividade da colecta, os dados demonstram que, esta actividade da colecta é essencialmente feminina, com uma quase nula presença de elementos do sexo masculino. Quando se juntam as actividades relacionadas com a produção e as relacionadas com a colecta do fruto, então conclui-se que, excluídas todas as actividades relacionadas com o processamento, os dois sexos apresentam um peso mais ou menos idêntico em termos de contribuição Homem/Dia: 45,2% para o sexo masculino e 54,8% para feminino.

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TRANSFORMAÇÃO/PROCESSAMENTO Tal como visto na parte anterior deste relatório, o caju é um fruto com duas partes principais: a semente e o falso fruto. Para este relatório, vamos considerar o processamento somente destas duas partes do fruto. Com a semente do caju é possível realizar o descasque e comercializar a amêndoa; com o falso fruto obtêm-se o sumo do caju, a partir do qual se poderá extrair o vinho, o aguardente e o champanhe. O PROCESSAMENTO DA CASTANHA DE CAJU Este é o futuro sector dinamizador da economia do país. Neste momento, algumas modificações importantes estão a acontecer no mercado:

• A Índia foi obrigada a declarar e precisar a origem da castanha que transforma. Para não ter de o fazer, a partir do ano 2006, o que o levaria a promover os produtos de países como a Guiné-Bissau, preferiu investir milhões de Usd na plantação de árvores de caju, com o intuito de substituir as importações que faz, sobretudo a partir da África;

• A Guiné-Bissau, apesar da sua condição de atraso tecnológico, no que se

refere às condições de produção e processamento, e por causa desse aparente atraso, tem hoje, a oportunidade de poder exportar a sua amêndoa para o mercado de produtos naturais dos Estados Unidos; É que esse mercado de produtos naturais, não exige contentores de mesmo calibre de castanha. Exige sim, que o mesmo calibre de castanha esteja em pacotes diferentes, embora num mesmo contentor. O que conta, para esse mercado, é a qualidade ‘limpa’ da terra em que planta o cajueiro: sem adubos, sem conservantes, sem pesticidas, etc.

Estas duas alterações são importantes para enquadrar o que se vai passar, nos próximos tempos neste sector. No entanto, vejamos ainda os principais passos dados neste domínio da transformação e/ou processamento:

A Fábrica do GETA-BISSAU Esta foi a primeira iniciada no país. Tendo apercebido rapidamente do valor acrescentado que a Guiné exportava para a Índia, com a exportação pura e simples da castanha de caju, a Geta decidiu investir no processamento deste produto. A falta de experiência, o desconhecimento do sector do processamento e as armadilhas da industrialização fizeram-no falhar. A fábrica, importada da Itália, não conseguiu descascar nem uma tonelada de castanha. Custou mais de 3 milhões de US$ e representa hoje mais dos elefantes brancos do país.

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A Abordagem do TIP’S e da ENTREPRISEWORKS O TIP’S quis evitar o erro do GETA-Bissau e fez justamente o contrário: preferiu optar pela micro-empresa como dimensão de base para assentar toda a sua política de desenvolvimento do sector. Foi-se buscar a experiência tecnológica brasileira neste domínio. Partiu-se do pressuposto que, unidades pequenas de processamento, mesmo familiares, poderiam dar melhor resultado tendo em conta a especificidade deste mercado e do país. Preferiu apoiar-se no desenvolvimento de empresas perfeitamente artesanais e investimentos de tamanho minúsculo. Suponha-se que, iriam aparecer muitas ‘empresas’ interessadas nesta experiência micro. Portanto, haveria suficiente quantidade de amêndoa descascada que, por sua vez, justificaria o aparecimento de organizações especializadas só na recolha e comercialização de toda essa amêndoa. Foram construídos centros de formação; houve apoios na importação da maquinaria e na sua adaptação à realidade do país. O país passou a poder fabricar todos os equipamentos básicos para o processamento da castanha. Mas, eventualmente, devido ao ambiente envolvente, não se garantiu todos os pressupostos indispensáveis ao sucesso da experiência. A guerra de 98, por exemplo, foi um dos factores que perturbaram e colcaram em risco os investimentos realizados pelas diferentes entidades. Quando se olha os resultados desta experiência, hoje, concluiu-se que, também aqui, alguma coisa falhou. A maior parte das unidades desapareceram. Quase nenhuma conseguiu honrar os seus compromissos com o crédito. O mercado que parecia ser tão próximo e fácil de atingir, passou a ser o maior estrangulamento das unidades: nenhuma possuía capacidade para respeitar as quantidades mínimas exigidas pelos contratos de exportação (1 contentor/mês).

AGRI/BISSAU e FUNDEI

A experiência da Agri-Bissau parece ter sido a fórmula mágica que se procurava durante anos. Uma análise dessa experiência permite concluir que, houve algum erro na opção 100% micro, adoptada pelo Projecto TIPS. Eventualmente, será preciso rever a questão da dimensão-base ou dimensão-ideal do investimento a realizar neste sector. Dito de outro modo, qualquer unidade que se fosse a instalar, teria de garantir que, ao menos, se transformasse o equivalente a 1contentor/mês. Que é a quantidade mínima exigida neste negócio da exportação.

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A ideia das unidades artesanais e familiares, eventualmente, não deveria ser a base da orientação política desta estratégia. É que essas unidades só podiam entrar neste jogo, enquanto elementos de complemento às unidades “pivot”, que seriam as Fábricas de Base. Mas também ela, as Unidades Base, apresentam outras limitações, nomeadamente os altos custos relacionados com a energia eléctrica. O que nos leva a considerar a necessidade de aproveitar-mos, de forma aprofundada de todas estas experiências, e com base nos resultados, adoptar políticas e estratégias adaptadas e coerentes, capazes de assegurar um crescimento seguro e sustentado do sector. Recentemente foi criada uma Associação voltada para a defesa dos interesses dos transformadores da castanha de caju (ATCC). Está a negociar um Protocolo de Acordo com o Governo que, entre outras aspectos realça a necessidade de se conseguir a estocagem de 2.000 M/T de castanha, em Bissau, para servir as diferentes unidades de processamento existente.17 Neste momento, já existem cerca de 18 unidades de processamento, sem contar com as de maior vulto: o B&B, a Agri-Bissau, e a SICAJU (que vai entrar em funcionamento já no mês de Abril/Maio). Durante a campanha de 2003 foram processadas e exportadas cerca de 26 Ton. de amêndoa, sem contar com a Agri-Bissau que já está a conseguir cerca de 1 contentor/mês (14 M/T), e já vai na sétima exportação. Portanto, pode-se estimar uma exportação global de cerca de 124 M/T, durante o ano 2003. Os principais destinos de exportação foram: Portugal, Cabo-Verde, Senegal, Mali, França, Guiné-Conakri, Gâmbia. Como era de supor, os preços não foram muito interessantes. Os principais problemas que o sector da transformação enfrenta, estão relacionados com (i) os preços das matérias primas, tendo em conta que o Governo interfere nos preços, estabelecendo os níveis mínimos a praticar no mercado; (ii) o problema da qualidade, isto porque ainda não é prática a comercialização do valor da amêndoa. O que se comercializa é a castanha crua. Talvez a entrada dos processadores na compra directa, e as exigências que poderão vir a colocar possa estimular os plantadores a passarem a olhar com maior atenção os aspectos relativos ao tamanho da castanha e à sua qualidade; e com o problema da (iii) stocagem da matéria prima necessárias às indústrias de transformação, de maneira a poderem laborar durante todo o ano. A grande oportunidade que se abre a este sector, está substanciada na presença da empresa ROTA Internacional, americana, que pretende estimular toda a cadeia a produzir castanha biológico para forncimento ao mercado de produtos naturais dos Estados Unidos. Pelo que

17 Para além dos aspectos relativos à stocagem da matéria prima, o Protocolo refere-se ainda a: atribuição de Alvarás anuais para a realização da compra directa no produtor; a centralização dos assuntos relativos ao processamento numa única entidade estatal; a criação de incentivos fiscais, económicos e financeiros para as indústrias de processamento, através de isenções totais de 10 anos; a prospecção e promoção da castanha de caju da Guiné; além de subvenções às empresas processadoras que adquiram o produto a preços acima dos 150 Fcfa o Kg.

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consta, pretendem abrir uma janela de 10 contentores por mês de todos os produtos naturais que a Guiné possa exportar para o mercado americano. A presença desta empresa, neste momento na Guiné, tem a ver com as visitas de certificação quer das empresas produtoras de castanha como as empresas processadoras, de maneira a dar substância a essa ideia de exportação de 10 contentores por mês. Pretendem certificar 20% das unidades de produção e de processamento e, a seguir, criar condições, para que entidades locais possam continuar o processo de certificação de todas as empresas a respeitar as normas pré-estabelecidas. O grande problema está, por um lado na potência instalada, cerca de 150 máquinas, sem contar com a Agri-Bissau, nem a SICAJU. O que perfaz uma capacidade mínima de, pelo menos, três contentores por mês, se todas as máquinas estiverem a operar normalmente. O PROCESSAMENTO DO SUMO DE CAJU Por dia, em média, faz-se uma colecta de cerca de 250Kg de caju, o que equivale dizer 25Kg de castanha. Por cada 2,25 Kg da polpa de caju pode-se extrair uma média de 1L. de sumo. O ritmo de extracção varia em torno de 40L. de sumo por cada pessoa/dia. O equivalente a um processamento de 90 Kg de polpa/dia. Esta é uma actividade essencialmente feminina. Lamentavelmente, existem escassos dados primários sobre o assunto.

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COMERCIALIZAÇÃO COMERCIALIZAÇÃO DO FALSO FRUTO (Pêra) Na verdade, praticamente não há comercialização da polpa do caju, salvo em pequenas quantidades para os mercados locais. E não se pode dizer que é por falta de mercado. O mercado existe porque, praticamente, todos os guineenses consomem normalmente o fruto do caju, sempre que o encontram em condições higiénicas e de conservação apropriadas. Um dos maiores obstáculos relaciona-se com a capacidade de embalagem do fruto e sua colocação nos mercados potenciais; e o segundo obstáculo prende-se com a capacidade de conservação da polpa, que, em estado natural, não ultrapassa 2 dias. Perante esta limitação, torna-se compreensível a razão porque não se regista uma expansão deste mercado da polpa do caju, apesar de todo o potencial que oferece, nomeadamente na Província Leste, onde a maioria dos camponeses não se dedica à produção vinho de caju. COMERCIALIZAÇÃO DA CASTANHA DE CAJU (“in natura”)

A Estrutura do Sistema Comercial A estrutura do sistema comercial ligado ao caju apresenta quatro principais pilares: as instituições do Estado, as instituições privadas, as associações privadas e os operadores, no sentido amplo do tempo. As instituições do Estado que intervenientes, de forma directa ou indirecta são:

(i) Secretaria de Estado do Comércio. É a instituição pública responsável pela gestão global do comércio, em particular aquela relacionada com a castanha de caju. Concebe políticas, implementa e fiscaliza. Para isso, utiliza como instrumentos de política os seguintes: a atribuição anual de Alvarás de Comercialização e de Exportação da Castanha de Caju, a fixação do preço base de comercialização e a colocação de mais de duas centenas de fiscais em todo o território nacional.

(ii) Ministério da Economia e das Finanças, intervém neste negócio através de

duas das suas Direcções Gerais (as Alfândegas e a das Contribuições e Impostos). Enquanto as Alfândegas se engaja na cobrança das percentagens exigidas como contrapartida das exportações ( cerca de _____???); e a Direcção das Contribuições e Impostos que procede à cobrança da Contribuição Predial Rústica (cerca de ____???), Imposto de Tonelagem, o ACI e o Imposto Marítimo.

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(iii) Ministério do Equipamento Social e das Obras Públicas, garante o bom estado das estradas e das telecomunicações, especialmente nos locais de ligação marítima garantidas pelas jangadas.

(iv) A APGB, enquanto entidade protegida no sentido de poder ser a única via de

evacuação de toda a produção nacional, mas que apresenta uma performance duvidosa e custos extremamente elevados.

(v) Ministério do Desenvolvimento Rural, através da inspecção dos armazéns e

certificação sanitária do produto.

(vi) Os Serviços de Emigração e Fronteiras, acabam por entrar de forma bastante controversa neste negócio por causa da participação dos estrangeiros. Por causa do mau funcionamento deste serviço, qualquer estrangeiro pode chegar ao país com um visto de turista e intervir no negócio da castanha, dada a permissividade deste serviço.

(vii) A Polícia Fronteira, devido ao controle que realizam nos limites fronteiriços,

com o objectivo de facilitar e garantir a evacuação da maioria do produto através de um único local: o Porto de Bissau.

(viii) Polícia de Trânsito, aparentemente não parece pertinente a consideração

deste serviço. Contudo, dado a enorme perturbação que estes polícias provocam durante a fase de transporte do produto, torna-se importante avaliar a sua presença.

(ix) Ministério da Justiça (Tribunais) (Legalização das empresas, )pelo facto de

serem a instituição responsável pelo dirimir de conflitos entre operadores. É importante referir que, apesar de todas as perturbações e abusos provocados pelos serviços públicos, estas instituições nunca são levadas a Tribunal. E mais grave que isso, o Estado criou o seu próprio Tribunal (o Fiscal), para accionar julgamentos e cobrança dos operadores.

As instituições privadas que intervêm no negócio são: o Banco Central e o BAO, enquanto único banco comercial da Praça, as agências seguradoras, os despachantes, e os estivadores dos armazéns enquanto mão-de-obra que assegura a manipulação de todo o produto. As associações privadas que intervêm neste negócio são:

(i) A CCIA, (Câmara Comércio, Indústria e Agricultura) que começou por ser a única instituição representativa do Sector Privado, mas que agora defronta uma reforma interna bastante profunda, uma vez que cada um dos seus ramos de actividade já possui a sua própria instituição associativa.

(ii) ANAG, (Associação Nacional dos Agricultores) é a instituição representativa

dos plantadores de caju. Com uma sede nacional e representações por todas as

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Regiões é uma organização dinâmica particularmente nos inícios da campanha de comercialização da castanha de caju, pela sua luta no sentido da manutenção de preços elevados ao produtor, para além de outras actividades, especialmente relacionadas com a formação.

(iii) AGEX é a associação guineense dos exportadores da castanha de caju. Nos períodos iniciais da campanha, ela é uma das instituições que se confronta com a ANAG na disputa de influências junto as instituições públicas, relativamente a política e aos preços de base da comercialização da castanha.

Os operadores económicos intervenientes neste negócio da castanha de caju são os seguintes: os camponeses, os agricultores (ponteiros), os intermediários, os grossistas, os exportadores, os processadores e os brokers. Os camponeses são a base do todo o sistema. Garantem, pelo menos cerca de 80% da produção da castanha. São entidades autónomas, nuclerarizadas, organizadas em termos de família e assente nos valores comunitários e tradicionais. Infelizmente, não possuem organizações económicas locais de defesa de seus interesses, nomeadamente, em termos de concertação, união do produto, cooperativas, etc., para conseguirem melhor capacidade negocial. A ANAG, enquanto estrutura nacional, embora com as representações regionais, acaba por não ser muito eficiente neste aspecto concreto do combate negocial dos preços, a este nível de intervenção. Os agricultores são designados, em linguagem corrente, de ponteiros. Apresentam graus diferentes de destribalização relativamente às suas origens étnicas e podem ser agrupados em três distintos grupos: um primeiro grupo, a maioria, que continua bastante próxima aos seus valores étnicos. Migraram de uma zona rural para outra, praticamente sem passar pelos centros urbanos; um segundo grupo que representa os originários dos centros urbanos que, por razões diversas decidiram investir na agricultura. E o último grupo, os estrangeiros, ainda bastante exíguo em termos de números, mas que representam a face mais modernizada deste grupo de operadores agrícolas, em termos de inovações (poucas) introduzidas na plantação do cajueiro. Os intermediários são a base do sistema comercial da castanha de caju. Eles são a primeira categoria de comerciantes e os mais próximos aos camponeses. Referimo-nos a aqueles que se encontram estabelecidos nos últimos centros de comércio da cadeia. Lamentavelmente, este categoria de intervenientes está sendo muito rapidamente substituída pelos mauritanianos. E estão a ser fragilizados pelos “postos avançados” criados pelos grossistas ou mesmo exportadores, que concorrem de forma desigual com eles, devido ao facto de não suportarem os custos resultantes da permanência durante todo o ano no local. Os grossistas representam uma nova categoria de intervenientes que está a surgir na cadeia deste negócio. São ainda em número bastante reduzido e têm como lema negociar a maior quantidade possível de castanha sem qualquer ambição de realizar sua exportação. Portanto,

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é um tipo de grupo que chega a manipular quantidades superiores a uma boa parte dos exportadores, sem contudo ambicionar engajar-se, ela própria, na sua exportação. Os exportadores são pouco mais de 3 dezenas e representam a parte final da cadeia deste negócio. Ao realizarem a exportação da castanha de caju, e tendo em conta o sistema fiscal adoptado pelo Governo, acabam por ser a classe que, mais directamente, estabelece uma relação com o Estado no capítulo relativo aos impostos. Os processadores são a mais recente e a menos uniforme das classes interventoras neste negócio. Grosso modo são de dois tipos: o primeiro grupo é composto de entidades que realizam grandes investimento, na base de créditos bancários avultados. Mesmo aqui, também se registam grandes disparidades em relação aos níveis de investimento, de tecnologia e de tamanho das unidades fabris; o segundo grupo é composto de entidades que, no quadro da intervenção do Projecto TIPS, montaram as suas pequenas unidades de processamento. Embora pioneiras nesta actividade, com o fim do projecto que os apoiava, e as crises económicas cíclicas, ou desapareceram ou estão a sobreviver com inúmeras dificuldades. Finalmente temos os brokers, entendidos como os compradores da castanha exportada pela classe dos exportadores. É uma actividade dominada em 99% pelos operadores indianos. Basta referir que a Índia é o único mercado comprador da castanha ‘in natura’ da Guiné-Bissau. Estes representam a cadeia de intermediários que vende aos grandes compradores indianos para estes venderem, por sua vez, às fábricas que realizam o processamento da castanha de caju. A cadeia de operadores apresentado desta forma pode induzir em erro, se se entender que tudo funciona de forma clara e com fronteiras bem delimitadas. Não é verdade. Assim como, no mercado interno, notam-se casos de entidades que acumulam várias etapas da cadeia, podendo ser exportador e intermediário ao mesmo tempo, também já se nota, do lado dos operadores indianos, a preocupação de suas fábricas quererem instalar-se no país, com o objectivo de evitar, saltando, todos os intervenientes anteriormente referidos.

O Funcionamento do Sistema A castanha de caju “in natura” apresenta-se, neste momento, como a principal actividade da fileira, e aquela que mais rendimento tem trazido para o sector do comércio. A comercialização da castanha de caju deve ser analisada em quatro momentos distintos: (i) no momento em que o produto sai dos produtores para o intermediários (pequenos comerciantes), (ii) no momento em que sai dos intermediários para os grossistas, (iii) no momento em que sai dos grossistas para os exportadores e, finalmente, no momento em que (iv) sai dos exportadores para o brokers (compradores FOB). Algumas vezes, estas etapas podem não ser respeitadas.

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(i) Momento da Venda do Camponês:

Não existem organizações camponesas de nível local, para a comercialização da castanha de caju. Da mesma forma que cada uma das famílias evidencia total autonomia na produção e colecta da castanha, assim também acontece no momento da comercialização. Apesar de existir uma associação, a ANAG18 que tem tentado desempenhar um papel mais interventor no momento da comercialização. Esse papel acaba por se resumir à disputa sobre os preços de base a serem praticados durante a campanha, sem qualquer poder de fiscalizar o seu cumprimento ou não, e, em caso de não cumprimento, sem qualquer possibilidade de intervir no negócio, de modo a assegurar aos camponeses a evacuação segura do seu produto. Normalmente, o camponês não vende o seu produto imediatamente após a sua colecta. Para a satisfação de necessidades muito pontuais e urgentes, ele decide vender imediatamente uma pequena parte da castanha colhida. Caso contrário, prefere acumular uma certa quantidade antes de decidir pela sua comercialização. Nestes últimos anos, devido às enormes perturbações relacionadas com o preço, os camponeses ficam bastante indecisos sobre o momento apropriado para a colocação do seu produto no mercado. Sabem que, normalmente, os preços são relativamente baixos, no início da campanha, e que podem subir no meio da campanha. Contudo, a grande incógnita é o advinhar se os preços, na fase final da campanha, irão subir ou baixar. Durante a década de 80 e de 90, os preços do final da campanha costumavam ser mais elevados. Nestes primeiros anos da década de 2000 tem havido muita incerteza e muita variação dos preços nessa fase final da campanha. Uma outra prática corrente, neste momento da campanha, está relacionada com a troca directa entre o arroz/castanha. Duas razões explicam a sustentação desta prática: a primeira tem a ver com a segurança alimentar dos camponeses. É mais seguro ele trocar a sua castanha com arroz, como garantia da sua base alimentar para o resto do ano19; a segunda razão prende-se com a manifesta insuficiência de dinheiro líquido, durante a operação da campanha. Dado os problemas relacionados com o sector bancário do país, agravados com as consequências da Guerra de 98, o único Banco Comercial (BAO) existente na Praça não consegue disponibilizar a quantidade suficiente de dinheiro-fresco para a campanha da castanha de caju. Esta limitação objectiva, obriga os operadores a articularem os argumentos para o crédito bancário em torno da manipulação de arroz. Portanto o arroz, embora intervenha como um factor de financiamento, acaba por

18 ANAG- Associação Nacional dos Agricultores da Guiné 19 É ainda recente, na memória das nossas populações camponesas, o problema da ruptura de stock do arroz, ou simplesmente, a não existência de arroz nas localidades próximas às suas Tabancas, onde normalmente realizam as suas compras, especialmente no período da lavoura (Agosto/Setembro). Portanto, guardar o dinheiro da comercialização da castanha não lhe dá garantia suficiente de que poderá vir a comprar o arroz, quando precisar e na quantidade desejada.

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funcionar também como um elemento de garantia para os credores, dado a possibilidade de permitir a realização de controles de stock por parte das empresas ou entidades financiadoras.

(ii) Do Intermediário para o Grossista

O momento em que o produto passa do intermediário para o grossista é algo relativamente complicado de perceber neste momento. Para sua melhor compreensão faremos recurso ao período colonial, como elemento de comparação e de reflexão. Durante o período colonial, a cadeia comercial existente entre a empresa mãe, as filiais das regiões e os postos satélites, distribuídos pelos Postos Administrativos era clara e transparente. Era do conhecimento público a elevação de uma localidade para a categoria de centro comercial. Porque só a partir desse momento é que as casas comerciais eram autorizadas as estabelecerem-se nesse local. Digamos que, uma das condições básicas para o desenvolvimento da concorrência era assegurada através de uma definição geográfica precisa dos limites da concorrência. Era possível ao comerciante realizar a sua actividade fora do seu local de estabelecimento. Podia ter um posto avançado ou uma pequena loja na Tabanca. Mas só no interior do território que lhes havia sido atribuído. Caso necessitasse de trabalhar fora desse limite, e ainda dentro do território do Posto, teria que pedir a autorização do Chefe de Posto para o efeito. Havia critérios rigorosos para o estabelecimento das casas comerciais nas localidades previamente seleccionadas para o efeito. Mas, era claramente interdito, a toda e qualquer pessoa que não estivesse estabelecida na localidade, a realização de qualquer actividade comercial na mesma, sob pena de incorrer em sanções. Com a independência política, a estatização da actividade comercial, aliada à nacionalização das infraestruturas das grandes casas comerciais, registou-se uma espécie de substituição dos antigos operadores e comerciantes-retalhistas, a diferentes níveis, para uma política claramente voltada para a criação de operadores comerciais/funcionários públicos. A todos os níveis. Inspirados a partir da experiência dos Armazéns do Povo dos anos da Luta Armada. No momento do desengajamento do Estado das actividades relacionadas com o comércio, nomeadamente com a reorganização do sector comercial, iniciada nos anos 1984, e apoiada na privatização imediata e brusca das lojas públicas do interior antigas instalações dos A.P. e da Socomin, não houve muita preocupação com os pequenos comerciantes do interior. Especialmente no que se refere à atribuição de créditos. Partiu-se do pressuposto de que, com a facilitação de créditos aos grandes operadores de Bissau, a cadeia seria restabelecida de forma mais ou menos automática. Não aconteceu o esperado. Em resultado, os mauritanianos foram ocupando gradualmente os espaços vazios, relacionados com o comércio a retalho no interior. Esta dinâmica de ocupação, que já havia começado na capital e muito

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rapidamente se expandiu para diferentes localidades do interior, especialmente as capitais das Regiões, só numa fase mais avançada, isto é com o “boom” da castanha de caju, nos anos 90, é que atingiu os Sectores Administrativos, abrindo possibilidades de, pontualmente, realizarem ‘extensões do Alvará’ para as Tabancas consideradas estratégicas. Numa fase subsequente, esta estratégia de ocupação, do interior e da capital, estendeu-se a outras nacionalidades, nomeadamente aos senegaleses e guineenses de Conakri. Em conclusão, esta cadeia do intermediário ao grossista apresenta ainda limitações sérias em algumas localidades do país, uma vez que, ainda não se consegue garantir o abastecimento das populações, de forma permanente, durante todo ao ano. As extensões de Alvarás representa uma actividade pontual, executada somente durante a campanha da castanha de caju.

(iii) Do Grossista para o Exportador

O grossista é uma categoria nova, que aliás ainda nem sequer se encontra disseminada no mercado. De uma forma geral, as pessoas entendem não existir grandes diferenças na figura do intermediário, isto é, aquele que garante a transferência do produto do camponês para o exportador. No entanto, a verdade dos factos exige que se introduza uma distinção no interior desta categoria, como forma de destacar uma realidade importante a considerar no desenho de qualquer política comercial. Trata-se do grossista. Tal como se disse anteriormente, trata-se de um grupo ainda bastante reduzido em termos numéricos. Em Cantchungo encontra-se cerca de 4 ou 5, em Bissorã uns 2 ou 3, em Bafatá uns 4 e em Ingoré 1 ou 2. Possuem uma extensa rede de contactos com as Tabancas, alimentada a partir de um conjunto de serviços que lhes oferecem. De entre estes serviços destaca-se o de banco de pequeno crédito, quer em dinheiro como em géneros. Através da oferta destes serviços, consegue “amarrar” os camponeses não só no que respeita à fidelidade do negócio, como em relação aos preços. Digamos que, os camponeses ficam à mercê destes comerciantes pelo facto destes lhes terem pré-financiado suas necessidades. No momento da comercialização da castanha, os termos de troca são inteiramente ditados pelos comerciantes, criando assim um mecanismos de permanente endividamento e dependência. Outra particularidade deste grupo recai sobre a sua capacidade financeira. Na sua maioria são estrangeiros (libaneses, portugueses, mauritanianos...), possuem relações exteriores que lhes permitem, nesta ausência de créditos internos, ter acesso a créditos de bancos externos. Este facto, permite-lhes, com toda a autonomia possível, manipular quantidades de castanha que ultrapassam uma boa maioria dos chamados exportadores. Estes

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grossistas são empresas que manipulam uma média de 2.000 a 2.500 Ton./M de castanha numa única campanha. O grande problema coloca-se ao nível do fisco. Acredita-se que não é possível cobrar cada operador em função do seu rendimento anual. Então o sistema fiscal adoptado para a comercialização da castanha de caju, está assente no princípio de que, existe uma cadeia de actores a manipular o mesmo produto, e que a cobrança na fase final da cadeia obrigaria todos os intervenientes a suportarem, de forma equitativa, os custos fiscais. Estes pressupostos seriam verdadeiros numa situação em que somente os exportadores estariam a manipular grandes quantidades de castanha de caju. No entanto, alterações dos últimos tempos, permitem constatar o aparecimento deste segmento de intermediários, capaz de manipular quantidades muito acima das 2.000 T/M de castanha, sem pagarem impostos sobre os seus rendimentos, porque se supõe que o exportador que vier a comprar essa castanha, ao pagar, incluiria os custos fiscais.

(iv) Do Exportador para os Brokers

Até os anos 1998, esta classe de exportadores encontrava-se em processo de depuração natural, onde somente os mais eficientes eram capazes de se manter no mercado. As poucas empresas que se destinguiam no mercado, eram empresas, de nacionais na sua maioria, com acesso normal aos créditos bancários. Com a Guerra de 07 de Junho (1998), o endividamento insustentável das empresas que se encontravam em franca expansão, e o encerramento dos dois principais bancos da Praça, a componente nacional desta classe de exportadores viu-se em risco de ser expulsa deste mercado20. Daqui tiveram início as disputas relacionadas com a reivindicação da nacionalidade dos operadores exportadores, no intuito de se impedir a expulsão dos exportadores nacionais deste mercado. Na proposta de recomendações endereçadas pela AGEX, ao Ministério do Comércio, para a campanha 2003, os dados apresentados aparentavam melhorias na participação e permanência das empresas nacionais. Não só recuperaram metade da participação no mercado, quando comparado com o ano anterior:

20 A explicação deste risco de expulsão nada tem a ver com a performance das empresas. A única grande diferença é que, as empresas estrangeiras, após o fim do conflito armado e seus efeitos nefastos na situaçào global das empresas, receberam créditos bonificados dos seus respectivos países, para lhes permitir a retoma normal das actividades. Facto que não ocorreu com as empresas dos guineenses. Este desequilíbrio de tratamento tem originado sistemáticos conflitos de interesse entre as nacionalidades.

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12

Nacionais

Estrangeiras

0

10

20

30

40

50

60

70

COMPARAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS NAS EXPORTAÇÕES (2001 e 2002)

Como também conseguiram melhorar, substancialmente a sua cota de participação no volume total da castanha exportada:

0

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

2001 2002

COMPARAÇÃO VOLUMES DE CASTANHA EXPORTADA

EstrangeiNacionais

Apesar destes sinais positivos, no que se refere a esta problemática da protecção (pós-guerra) das empresas e dos nacionais, não se conseguiu controlar de forma eficiente a penetração de

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algumas fábricas indianas na comercialização da castanha. Fixaram-se no mercado, apesar de todas as complicações regulamentares, devido à possibilidade de “capas” oferecidas por alguns nacionais, na busca do dinheiro fácil.

As Políticas Sectoriais

Contexto Aparentemente, uma observação desatenta sobre a evolução do caju na Guiné-Bissau proporciona a falsa ideia de que o Estado nada ou pouco contribuiu para o desenvolvimento desta plantação. Até porque, mais de 85% das plantações pertencem aos camponeses, e são o resultado dos seus esforços. Mas então, como é que se explicam os elevados créditos distribuídos ao sector privado moderno (‘ponteiros’) para as actividades relacionadas com a agricultura, especialmente as plantações de cajueiros e mangueiros, durante os finais dos anos 80 (1987/1990)? Com uma média de 2,5 milhões de Usd de créditos distribuídos por cada ano ao sector privado ligado à agricultura, entre 1987/90, uma constatação é inevitável:

o sector privado moderno falhou na sua ambição de investir na plantação de cajueiros e mangueiros, como previsto21.

Crescimento das plantações camponesas foi de

1983- 10.198 há 1996- 87.550 há

Crescimento dos Ponteiros:

1983 – ?? 1996- 15.450 (1/4 poderá ter beneficiado dos créditos) – 3.862,5 há

3.1-1.1. Políticas do Ministério/Secretaria de Estado do Comércio De uma forma geral, as políticas desenvolvidas pelo Ministério/Secretaria de Estado do Comércio incidem sobre: a selecção dos operadores, através do mecanismo dos Alvarás; a delimitação das fronteiras de intervenção entre os operadores, de modo a evitar confrontos de interesse; a manutenção do Porto de Bissau como único ponto de escoamento de toda a castanha produzida no país; a protecção dos camponeses através do estabelecimento de um preço mínimo de comercialização da castanha; e a questão da qualidade da castanha comercializada. 21 “Análise das Contas Monetárias e Balança de Pagamentos (1986-94)”, Out. 1991, p.18

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3.1-1.1.1. Selecção dos Operadores Comerciais Tal como dissemos atrás, a selecção dos operadores económicos que intervêm neste negócio procede-se através do instrumento dos Alvarás. Estes constituem uma espécie de autorização anual que se dá para as operações de exportação e de comercialização. No ano passado, por exemplo (2003), o Ministério do Comércio decidiu retirar a presença dos estrangeiros na comercialização da castanha. Este medida visava conter a aumento substancial da participação dos estrangeiros, sobretudo os mauritanianos, senegaleses e guineenses de Conakri, na perspectiva de oferecer alguma protecção aos operadores nacionais. Da mesma forma, nos anos anteriores, sobretudo a partir da campanha do ano 2000, houve toda uma movimentação da classe dos exportadores nacionais, com o objectivo de conseguirem lobbys para bloquear e reduzir as vantagens que os estrangeiros estavam a levar, no negócio. Tudo começou com a Guerra de 7 de Junho e seus prejuízos. Os operadores obtiveram apoios de seus países e bancos, enquanto os operadores nacionais ficaram simplesmente descapitalizados, e limitados na sua capacidade de intervenção. Constatando os riscos de uma substituição da classe nacional de exportadores, como consequência da Guerra de Bissau, a classe política também foi sensível a estas preocupações e, como resultado, surgiu a primeira lei para o comércio do caju, que vedava o acesso às empresas que possuíam a maioria de sócio estrangeiro. No ano seguinte a polémica continuou. Devido às pressões, sobretudo do Banco Mundial, entendeu-se que se deveria evitar tratar a questão dos acessos ao negócio da castanha em termos da nacionalidade do operador. Para a campanha 2001 surgiu então uma reforma da lei, assente na alteração do critério base para a selecção e filtragem dos intervenientes. Foi neste novo quadro que surgiu o factor “investimento”, como um dos critérios básicos para o acesso a este negócio. Contudo, dado a não retroactividade das leis, considerou-se que todas as empresas interessadas deveriam apresentar um Plano de investimento, que deveria servir de base de apreciação no momento da atribuição de Alvarás da campanha seguinte, isto é 2002. A campanha de 2003 não só representou uma continuidade da linha de orientação traçada nas campanhas anteriores, como tentou-se aplicar os critérios de selecção dos intervenientes, também ao nível da comercialização. Porque, até esta campanha, os maiores lobbies eram feitos pela classe dos exportadores. Nesta ano, a Associação Nacional dos Comerciantes decide investir politicamente em jogos de lobbie com o objectivo de garantir a sua manutenção no negócio, através do bloqueamento da participação dos estrangeiros no comércio interno da castanha. O argumento principal assenta no facto de a maioria dos estrangeiros participantes na comercialização serem autênticos turistas da campanha, isto é pessoas que viajam para a Guiné durante o período da campanha, com o seu capital,

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participam no negócio e voltam a partir com o capital e lucros, impedindo assim que os benefícios obtidos na campanha tivessem reflexos directos na economia doméstica. Foi uma medida bastante contestada. O seu erro principal foi a interpretação incorrecta que o serviu de pressuposto: a presença de mauritanianos no mercado não está a retirar os intermediários nacionais do mercado. Está sim, a ocupar um lugar deixado vazio. Impedi-los significa, na prática, deixar vazio o mesmo espaço. Qualquer um destes mecanismos e instrumentos adoptados por lei, revelou-se ineficaz porque foram sempre contornados. A solução deveria ser buscada nas causas do problema, isto é na capitalização dos operadores nacionais.

Delimitação das Fronteiras dos Territórios Comerciais Desde os primeiros anos após a Guerra de Bissau tem-se registado alguma pressão sobre o Governo, no sentido de proteger os interesses dos intermediários que, de um lado recebem financiamentos da parte do exportadores e, no terreno, constatam a concorrência dos exportadores, não através dos postos avançados mas, através de postos móveis. Visto de um outro ângulo, os pequenos comerciantes queixam-se que não podem fixar-se numa localidade durante todo o ano, aceitando os custos fixos que essa fixação acarreta, quando, durante a campanha, qualquer entidade móvel, originário de qualquer ponto do país, pode penetrar a localidade e realizar a sua operação sem quaisquer custos indirectos. Por todas estas razões, o governo entendeu que, durante a última campanha (2003), iria impedir os exportadores de realizarem compras directas no interior, deixando assim a oportunidade à concorrência entre iguais. E, da mesma forma, impediria a intervenção directa dos indianos no mercado, limitando suas compras às condições FOB. Numa conjuntura de saída brusca dos mauritanianos, esta tentativa de deixar o espaço de intermediação só para os intermediários, revelou a fragilidade de intervenção imediata daqueles que podiam operar legalmente, criando a sensação da indispensabilidade da presença dos mauritanianos. Consideramos importante esta medida de política pelas seguintes razões: (i) é preciso sedentarizar os pequenos comerciantes nas localidades, de modo a cobrirem todo o ano civil; (ii) para conseguir essa sedentarização, é indispensável uma sedentarização do lucro na localidade, ou seja, somente as pessoas com estabelecimento na localidade poderão operar num determinado território previamente delimitado, que, eventualmente, poderá ser correspondente a uma secção ou a um Sector Administrativo; (iii) a sedentarização do lucro estimula os investimentos na localidade. Esta medida só poderá funcionar de forma eficaz e sustentável, se se envolver as autoridades administrativas locais na sua fiscalização. Só estas autoridades podem garantir que, a

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castanha do território possa ser negociada somente pelos comerciantes estabelecidos de forma perene na localidade.

Concentração do Local de Escoamento Apesar de o país fazer parte de uma zona monetária comum, e de se pretender respeitar as regras da união, que estabelecem, por exemplo, que os produtos de um país circulem sem restrições de um país para o outro, o caso da castanha da Guiné-Bissau, tendo em conta o facto de representar um dos principais factores estruturantes da economia não reúne as condições de segurança mínimas que possibilitem essas movimentações livres. O grande bloqueio reside no facto de, uma parte substancial do orçamento geral do estado, depender das receitas retiradas dos impostos sobre a exportação da castanha. A abertura da possibilidade de exportação para os países vizinhos, onde não se pagam impostos relativos às exportações, provocaria uma tendência de escoamento da maioria da castanha para o Senegal, com a simples intenção de se evitar o pagamento dos impostos. Duas podem ser as soluções para o problema: (i) ou se uniformiza o tratamento fiscal deste produto entre os países com fronteira, o que lavaria o Senegal a introduzir um imposto parecido ao da Guiné-Bissau; ou então (ii) a Guiné eliminaria os impostos cobrados sobre a exportação da castanha. Enquanto uma destas soluções não é encontrada, na pratica, continuará a ser obrigatório para a Guiné a obrigatoriedade de exportação somente no Porto de Bissau. Aliás, a experiência registada durante o período do conflito político-militar, com a aceitação de duas portas para a exportação (Porto de Bissau e linha de fronteira com o Senegal), revelou a enorme fragilidade e promiscuidade das estruturas administrativas das alfândegas regionais.

Qualidade da Castanha A qualidade da castanha não é um assunto que tem merecido atenção, do ponto de vista de políticas comerciais. Aliás, a sensação que temos, é de que o senso-comum acredita que o negócio da castanha é feita a partir da quantidade da castanha. Existe todo um trabalho a ser feito, para se preparar a passagem da fase em que o valor da castanha se mede a partir da quantidade, isto é a fase da relação Quantidade/Preço para uma fase mais equilibrada, onde, o valor do produto em negociação não é a quantidade mas sim a qualidade da amêndoa que se encontra no interior da casca. Ou seja, a fase da relação Qualidade/Preço. Nesta fase, os preços deixam de ser standart para passar a valer o correspondente ao resultado do teste de qualidade. O que implica que todos os actores teriam de aprender a realizar o teste de qualidade, se quiserem participar do negócio de forma responsável.

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Acreditamos que, com o desenvolvimento da indústria do processamento da castanha, o país entrará de forma gradual nessa nova relação Qualidade/Preço no momento da realização da campanha da castanha.

Preços Mínimos Este é, sem dúvida alguma, um dos instrumentos mais fortes utilizados pelos sucessivos Governos nas políticas relativas à comercialização da castanha da caju. Sendo um país de tradição socialista, onde a memória sobre a fixação de preços é ainda muito recente, acredita-se que esse instrumento permite, de facto, alguma possibilidade de manipulação do mercado. A história recente da intervenção do Governo nos preços apresenta dois momentos bem distintos: (i) um primeiro momento em que, num contexto de liberalização completa do monopólio de estado e da fixação administrativa dos preços, nos meados dos anos 80, o Governo deixa livre a questão dos preços da castanha; e num segundo momento, sobretudo a partir dos anos 93, o Governo, através do apoio do TIPS e da recém criada ANAG se lança numa guerra contra os exportadores no sentido da melhoria dos preços ao plantador.

1983-8

4

1984-8

5

1985-86

1986-87

1987-8

8

1988-89

1989-9

0

1990-9

1

1991-92

1992-9

3

1993-9

4

1994-95

1995-96

1996-9

7

1997-98

1998-9

9

0

200

40 0

6 00

80 0

10 00

1 20 0

14 00

C o m p a r a ç ã o P r e ç o s n o P ro d u to r e no P o r to(E m U s d / T .M .)

Na verdade, os resultados foram muito positivos. Como se pode constatar pelo gráfico, a partir do ano 1992/93, verificou-se uma forte aproximação entre os dois preços, com nítida vantagem para os plantadores.

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Exportação da Castanha de Caju

Tal como se escreveu atras, as exportações da castanha da Guiné não tiveram início no pós-independência, como o senso comum acredita, mas no ano de 1966. Os destinos de exportação variaram ao longo dos anos, registando os seguintes países: Portugal, Cabo-Verde, Angola, Moçambique, e Índia.

1966 1967 1968 1969 19701979 1980 1981 1982 1983 1984

CASTANHAAMENDOIM

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

EVOLUÇÃO COMPARADA AMENDOIM/CASTANHA (entre 1966 a 1984)

Fonte: Junta Inv. Ultramar, “Prospectivas do Desen. Económico e Social da Guiné” (1972); SCET AGRI “Etude des Prix et Incitation aux Produteurs Ruraux”, 1986

É do conhecimento geral em como toda a economia agrícola da Guiné esteve assente na monocultura do amendoim, pelo menos durante todo o período colonial. Este gráfico tem o mérito de evidenciar, com enorme clareza, o momento em que o país se transferiu da economia do amendoim para a economia da castanha. O ano de 1984 foi o ano de viragem na estrutura de base das exportações do país. A partir desse ano, o amendoim diminui o seu peso nas exportações até desaparecer completamente nos inícios dos anos 1990.

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0

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

80,000

EXPORTAÇÃO DA CASTANHA DE CAJU (Entre 1983/2003)

Como se pode constatar pelo gráfico, registou-se um sistemático aumento da exportação da castanha de caju ao longo destes das duas décadas, exceptuando algumas pontuais quedas derivadas de factores diversos. Contrariamente a esta tendência de crescimento sistemático, do ponto de vista dos Preços FOB verifica-se uma tendência justamente contrária. Tal como já havíamos constatado aquando do tratamento da questão da relação entre Preço Mínimo e FOB. Sobre o financiamento da campanha de caju há uma constatação a fazer: até a Guerra de 1998, havia empresas nacionais com capacidade para buscarem crédito ao nível bancário, realizar suas operações de compra da matéria prima e vender o seu produto aos indianos. Após esta Guerra, a situação altera-se substancialmente. Os indianos passam a poder controlar toda a cadeia do pré-financiamento da castanha de caju, com todas as vantagens e riscos inerentes. A fuga pela fronteira de uma parte da castanha de caju continua a ser uma das preocupações principais do Estado, tendo em conta que, é a partir das taxas recolhidas a partir do negócio que se apoia uma grande parte das despesas de funcionamento do Estado. Com a contínua degradação do Aparelho de Estado, e consequente fragilização, é cada vez mais frequente as informações dando conta da permissividade das fronteiras terrestres, nomeadamente com destino a Portos de Exportação da Gâmbia e do Senegal.

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Comércio Mundial da castanha de caju: (86)

A produção mundial tem registado alterações bastante profundas. Duas delas merecem uma atenção particular: trata-se do aumento da produção global e a mudança da principal zona de produção. Relativamente a produção, confirma-se uma duplicação da produção mundial entre 1975 e 2000. Em 1975 esta produção atingia as 510.000 Ton. Moçambique contribuía com uma média de 215.000 ton. anual, entre os anos 1972 e 1974. No ano 2000, a produção mundial alcançou os 1.090.000 ton. A segunda alteração importante a referir é a mudança do eixo de produção: em 1970, a África contribuía com 78% da produção mundial. Vinte e seis anos mais tarde (1996) a África passou a contribuir somente com 30,1% da produção mundial. Enquanto que, na Ásia, a contribuição passou de 15% para 46,4% no mesmo período. Os principais contribuintes para este crescimento foram, por ordem de importância, a Índia, o Vietname, a Indonésia e a Tailândia. Relativamente as importações de castanha ‘in natura’ já se nota uma tendência contrária nesse crescimento. Para uma melhor compreensão desta relação introduzimos o gráfico a seguir:

Pro

duçã

o

Impo

rtaçã

o 1993/94

1994/95

1995/96

1996/97

1997/98

1998/99

1999/00

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

MERCADO INDIANO DA CASTANHA 'IN NATURA'

Fonte: Direcção Geral do Comércio e Estatística da Calcutá, in Plant Horti Tech Vol.2, N.4, Janeiro-Fevereiro 2001, pág 17, 18.

Como se pode constatar de uma forma bastante clara, assiste-se a uma ligeira redução das importações indianas da castanha e, simultaneamente, um aumento considerável da sua capacidade de produção interna. Em 1993/94 as importações representavam quase metade das suas necessidades em castanha ‘in natura’. Já em 1999/2000, essa importação decresceu

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cerca de 12%, passando representar 38,2% da totalidade das suas necessidades em matéria prima. O que confirma a posição política defendida pela Ministra durante a cerimónia de abertura, em que insiste sobre a substituição das importações pelo aumento da produção nacional indiana nos próximos tempos. A importação indiana da castanha de cajú ‘in natura’ é extremamente importante para a Guiné-Bissau por se tratar do único mercado mundial disponível para o país. Toda a produção da Guiné-Bissau é vendida somente na Índia.

19931994

19951996

19971998

19992000

Guiné-Bissau

Global

0

50000

100000

150000

200000

250000

GUINÉ-BISSAU E A IMPORTAÇÃO GLOBAL DA ÍNDIA

Fonte: Tips-USAID, James LaFleur 1998 e Plant Horti Tech Vol.2,N.4 Jan-Fev 2001

Uma análise atenta deste gráfico revela que a Guiné-Bissau foi ocupando cada vez maior espaço no mercado indiano da castanha ‘in natura’. Em termos percentuais, verifica-se que em 1994 a importação guineense ocupava 15,5% da totalidade das importações indianas e no ano 2000 passou a ocupar 36,5%, não tendo nunca registado qualquer regressão. Será este ano 2001 o ano da regressão? Será que vai sobrar castanha na Guiné?

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A produção da Ásia

Como já foi referido, a Ásia aumentou a sua contribuição mundial de 15% de 1970 para quase metade (46,4%) nos anos 1996. A particularidade deste crescimento é que este foi acompanhado de um aumento da capacidade de processamento nos respectivos países. Esta situação coloca a Índia face ao risco de competir cada vez com maior número de países no mercado da amêndoa.

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

África Ocidental

África Oriental

ÁsiaOutros0

20,000

40,000

60,000

80,000

100,000

120,000

EXPORTAÇÕES PARA ÍNDIA

África Ocidental

África Oriental

Ásia

Outros

Fonte: Edible Nut Market Report, N.144 July 1997

O gráfico anterior testemunha a forma impressionante como a castanha ‘in natura’ da Ásia deixou de ser exportada para a Índia. Se em 1991 a Ásia ocupava quase a metade das exportações para a Índia, em 1997 só passou a exportar 9,7% de todas as exportações para a Índia, enquanto a África passou a ocupar o primeiro lugar com 88,8% da totalidade das exportações para a índia.

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COMERCIALIZAÇÃO DA AMÊNDOA Comércio interno da amêndoa O comércio doméstico da amêndoa é ainda muito incipiente. Contudo, devido a pressão em que os processadores foram colocados, na ausência da possibilidade de colocarem os seus produtos no mercado internacional, essencialmente, devido às limitações de recursos, estão a colocar uma boa parte das suas produções no mercado interno. Agora já é possível encontrar amêndoa descascada pelas unidades fabris em diferentes estabelecimentos comerciais. Na opinião global dos processadores, a subvenção que o Estado está a fazer nos preços do produtor, sobretudo quando se confundem os preços mínimos com os preços máximos, como tem acontecido nestes últimos anos, pode ser contraproducente para o crescimento desta indústria. Comércio mundial da amêndoa O comércio mundial da amêndoa é a única solução durável e rentável. Apesar de se notar uma interessante exportação em relação aos países vizinhos, Portugal e França, a esperança de uma solução sustentável e interessante, do ponto de vista económico, depende, em grande medida, dos resultados do trabalho que a ROTA Internacional está a realizar no país, neste momento. Ter a possibilidade de exportar contentores com diferentes calibres de amêndoa, é uma oportunidade especial! Poder exportar para um mercado de produtos naturais, a preços 10% mais altos dos preços normais dos Estados Unidos é, na verdade, um milagre! Esperemos que esta oportunidade possa ser acarinhada pelo Governo, de maneira a encotrar todas as facilidades necessárias ao seu desenvolvimento. COMERCIALIZAÇÃO DO VINHO A comercialização do vinho é uma actividade completamente da esfera do informal. Portanto não dispomos de bibliografia alguma referente ao assunto. No entanto, dado o seu potencial, é aconselhável começar a olhar este sub-sector com muito maior atenção em termos de política. COMERCIALIZAÇÃO DO AGUARDENTE DO CAJU O mesmo acontece com o aguardente do caju

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MARKETING No domínio do marketing pouco se tem feito. Apesar disso, pode-se destacar duas experiências que, embora não tenham sido programadas e executadas pela Governo estão a resultar bastante positivos para o sector: trata-se da Agri-Bissau e da AGAG. Em relação à Agri-Bissau, é de se destacar o esforço que fizeram para conseguir penetrar a mercado americano da amêndoa. E o mais importante, não é só o facto de terem conseguido entrar, é o facto de terem conseguido o certificado de amêndoa-biológica. O que, só por si, já significa conseguir preços muito mais interessantes do que as amêndoas resultantes de processos químicos elaborados. Como é o caso do Brasil e da Índia. Lamentavelmente, não conseguimos informações exactas sobre os preços conseguidos pela Agri-Bissau. Como se calcula, isso entra no domínios privados da empresa. Contudo, as indicações recebidas apontam para preços bastante mais interessantes do que os normais. A segunda experiência de marketing com algum resultado potencial está relacionada com a viagem do Presidente da ANAG aos estados Unidos e a oportunidade que teve em fazer provar o sabor da amêndoa da Guiné a uma amostra interessante de americanos, ligados a diferentes círculos do negócio do caju. As reacções foram de surpresa e de um convencimento total sobre as características particulares da amêndoa da Guiné. Para além destas experiências, através da Secretaria de Estado do Comércio tem havido vários grupos de interesse a avançarem com propostas concretas, e muito atractivos, sobre as possibilidades reais de apoiarem, em forma de crédito, os operadores nacionais, na realização da campanha de comercialização da castanha. Pelo menos dois destes contactos já se encontram em fase de negociação com os Bancos, no sentido de se encontrarem formas mais interessantes e engenhosas para disponibilizar os montantes necessários ao financiamento da campanha de 2004. E este novo ambiente político, resultante da postura muito positiva dos novos responsáveis do país, está a ajudar muito a atracção de investidores para um sector tão rentável como este do cajú. E o mais interessante para o país, é a demanda de mercado, solicitado por várias empresas sobre a amêndoa da Guiné. Só a empresa que trabalha com a Agri-Bissau está a pedir 80 contentores/mês! Quando a Agri-Bissau só pode oferecer 1 contentor/mês!??? Será que temos alguma necessidade de marketing?? Não. Temos sim, é uma enorme necessidade e urgência de aumentar a nossa capacidade de transformação para ser capaz de satisfazer, pelo menos, 10% da demanda! Para se ter uma ideia sobre as ofertas de mercado que existem neste momento, em relação somente à empresa Agri-Bissau, passamos a cita-las:

• De Portugal existem ofertas para para 10 a 12 contentores/mês;

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• Espanha, só uma empresa, solicitou 20 contentores/mês; • Da Holanda, uma empresa pediu a oferta de 50 contentores/mês; • Dos Estados Unidos, uma outra empresa, que também precisa de amêndoa-bio,

precisa de 150 a 200 contentores/mês. A pagar preços bio, que são bastante mais interessantes.

EMPRESAS, SERVIÇOS E NOVAS DINÂMICAS No capítulo da produção/plantação, as tendências de aumento continuam perenes. Embora, seja mais uma dinâmica ao nível dos camponeses e muito menos ao nível dos ponteiros. No capítulo da do processamento/transformação, a guerra de 1998 constituiu, de facto, um elemento bastante perturbador de todo o processo de desenvolvimento do sector da castanha. E como resultado concreto dos seus efeitos, a maior parte das micro-empresas ficaram desamparadas, especialmente no contexto do vazio deixado pelo projecto TIPS. Felizmente que, algumas empresas do sector privado conseguiram recuperar o sector, inovando a abordagem e introduzindo novas perspectivas sobre a tecnologia e sobre as dimensões requeridas para uma garantia mínima de sucesso. Referimo-nos a três experiências em concreto: ao caso B&B, a Agri-Bissau e a SICAJU.

B&B: Numa conversa com o proprietário (Fernando Flamengo), este revelou a situação complicada em que se encontrava a sua empresa, nestes termos: “...sem incluir os juros bancários, as amortizações, focalizando somente o custo directo do processamento da castanha, cada Kg de amêndoa atinge o valor de 2.000 fcfa.”

Tendo em conta que o preço a que vende a castanha quebrada é de 1.315 Fcfa, e a castanha quebrada representa cerca de 32%. Chegou a esta simples conclusão: por cada contentor que vende está a perder cerca de 4.300.000 Fcfa. Lembrou a experiência do Cote D’Ivoire, Benin e Togo, onde o Estado atribui subsídios aos processadores no momento da compra do produto no mercado. Por exemplo, se o preço mínimo for de 250 F/Kg, então os processadores teriam uma compensação, de modo que, na prática, estariam a comprar a castanha a 150F/Kg. Com medidas como estas, entende o empresário, o Estado não deixaria de defender os camponeses, mas também estaria a proteger os processadores, através da redução do seus custos de processamento. Só nestas condições de subvenção, é que, na opinião do empresário, seria possível acarinhar e incentivar o processamento interno no país.

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Citamos este exemplo, para não termos que citar as micro-empresas. A verdade é que, os dados parecem indicar que, a Guiné-Bissau errou na escala das unidades de processamento a introduzir no país. A manter-se estas condições, esta fábrica vai ter que fechar as suas portas nos próximos tempos.

Agri-Bissau

Contrariamente ao caso da B&B, a Agri-Bissau é uma empresa em franca expansão, com bons resultados e óptimas perspectivas de futuro. A fábrica ficou pronta em Agosto de 2002, e em Outubro do mesmo ano começaram as exportações. Neste momento já devem estar a alcançar cerca o 14° contentor. Teve a vantagem, contrariamente á fábrica anterior, de, na sua concepção, ter garantido o mínimo de 1 contentor/mês para exportação. Ficando assim em condições de estabelecer contratos de forma completamente autónoma, sem ter necessidade de recorrer à colaboração de outras empresas para garantir os contratos mínimos exigidos neste negócio. Apesar de terem conseguido um bom mercado (mercado bio) e terem conseguido óptimos preços, lamentam os elevados custos relacionados com o porto de Bissau. Citam como exemplo o porto de Banjul, onde, comparativamente a Bissau, os custos ficam reduzidos a 50%. Um das razões que também encarece muito o processo de transformação da castanha está directamente relacionada com os custos da energia.

SICAJU Uma nova fábrica irá começar a funcionar nos próximos meses. Ela possui uma capacidade de 1.000 T./M. por ano, com possibilidade de ser expandida até os 1.800 M./T. Tem o dobro da capacidade da Agri-Bissau. É financiado com fundos próprios da FUNDEI e da MCI Caju. Tal como a anterior, ela não é totalmente manual. Já introduz sistemas mecânicos em 40% do seu processo de produção. E incorpora a casca da castanha para a produção do vapor para as estufas. Todas estas inovações que estão a ser registadas ao nível do sector privado, necessitam ser incorporadas, capitalizadas pelo Estado, através de políticas e instrumentos apropriados. O importante a sublinhar neste ponto, é o facto de o país, ter evoluído muito em termos de experiências, sobretudo tecnológicas e de gestão, que precisam ser conhecidas, divulgadas, discutidas e incorporadas nas opções de política a serem adoptadas. O próximo passo que se está a preparar, é a total incorporação da casca da castanha, como matéria prima para a produção da energia dos geradores que alimentam a fábrica. Tem-se

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constatado que, os custos relativos à energia são muito importantes. Podem representar um dos factores que encarece o valor final da nossa amêndoa. E para além do aspecto da redução dos custos da produção, existe ainda um outro, sobre o qual não se tem fiado muito: trata-se do simples facto de que a casca da castanha da Guiné poderia ser o nosso gasóleo ou o fuel para alimentarem todo o país. Ficaria resolvido, definitivamente, o problema básico relacionado com a produção da energia no país. A cogeração, não só tornava menos custosa o processamento da castanha de caju, como tornaria as fábricas em verdadeiras empresas fornecedoras de energia eléctrica em todo o país. Tendo em conta que, as mesmas deveriam ser distribuídas por todas as Regiões. Informações recolhidas junto do técnicos da área permitem concluir, sem margens para dúvida, de que, o caju atingiria o seu valor total quando:

2 formos capazes de exportar amêndoa, em vez da castanha de caju;

2 e cobrirmos toda a necessidade energética do país, utilizando

como matéria prima base a casca da castanha de caju.

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VI. POTENCIALIDADES Na Guiné-Bissau, a produção de caju faz-se sem a utilização de adubos, fertilizantes e herbicidas. Aquilo que parecia ser um ‘atraso’ relativamente aos outros países, apresenta-se hoje como um potencial inacreditável:

1. A amêndoa da Guiné-Bissau pode entrar, imediatamente, no mercado dos Estados Unidos, um dos mais exigentes mercados do mundo. Porque, contrariamente às exportações normais, que exigem mesmo calibre de amêndoa para cada contentor, no mercado de produtos bio, aceita-se que um contentor transporte amendoas de diferentes calibres, desde que cada um esteja na sua caixa, separadamente;

2. A mesma amêndoa, que era vendida no mercado português a preços pouco

interessantes, passa agora a ser comercializado no mercado norte americano não só a um preço superior mas, com mais 10% sobre esse preço, motivado pelo facto de ser um produto bio;

3. É possível começar imediatamente o processamento e exportação com a actual

capacidade de processamento existente. O que, aliás, está muito aquém da procura;

Em termos de rendimento, a castanha da Guiné-Bissau apresenta alta taxa de rendimento, comparado com o dos outros países:

1. Por cada 100 Kg obtem-se como resultado cerca de 24 Kg de amêndoa; Enquanto que no Brasil, por exmplo, com a mesma quantidade de castanha só se obtém 20 Kg. Em Moçambique consegue-se só 18Kg. Parecendo que não, esta pequena diferença de 4Kg e de 6Kg em cada 100Kg de castanha é muita!

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V. CONSTRANGIMENTOS CASTANHA DE CAJU A MONTANTE DA PRODUÇÃO

1. O acesso à terra para plantação de cajueiros começa a escassear. Contudo, em função da zona, ainda pode ser fácil a sua aquisição. Existem zonas onde, devido a densidade demográfica elevada, a escassez de terra já se começa a sentir (Região de Cacheu).

2. No aspecto da segurança, apesar de ainda não estar em vigor a nova Lei da

Terra, devido à não finalização do seu Regulamento, a segurança fundiária existe, especialmente, para os pequenos agricultores, que vivem no próprio local. Relativamente aos investidores de fora, a segurança depende muito dos procedimentos adoptados durante as negociações para o seu acesso. Se esse procedimento tiver envolvido todas as partes a segurança do investimento fica garantido. Qualquer tentiva de forçar os interesses das partes, ou de sua não consideração pode fragilizar a segurança do investimento. Essa insegurança pode manifestar-se através da colocação de fogo nas plantações, do corte das plantas durante a noite, etc.

NA FASE DA PRODUÇÃO

1. A duração média da vida económica de uma plantação é de 25 anos. O país já a está a exportar desde os anos 1982/85. Portanto, à cerca de 20 anos. Isto significa que, a partir dos anos 2010 cerca de ¼ dos nossos cajueiros estarão numa fase descendente de produção.

2. Uma boa parte das plantações dos pequenos camponeses não respeita as

distâncias mínimas entre as àrvores. Facto que obriga a planta a crescer na verical, reduzindo o tamanho da sua copa e dimuindo drásticamente a sua capacidade de produção;

3. Devido à situação de pobreza, os plantadores são obrigados a endividarem-se

junto dos intermediários, e levados a suportar elevados juros. Tudo porque têm necessidades, que vão desde a limpeza das plantações até as relacionadas com a alimentação;

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4. O tamanho da castanha da Guiné-Bissau representa um sério handicap para o negócio. Urge dar-lhe uma solução. A maioria da castanha é pequena, como se pode ver pelo gtráfico que segue:

TAMANHOS DE CASTANHA PRODUZIDA NA GUINE (em %)

Tipo 1

Tipo 2

Tipo 3

Tipo 4

• O tamanho 1, conhecido com o nome de cajuí, não tem utilidade alguma, em termos de processamento. Isto quer dizer que, 5% de toda a castanha produzida no país é para deitar fora;

• O tamanho n.2, conhecido pelo designação comercial de w450

representa 1/3 de toda a produção do país. Esta percentagem é preocupante;

• O W320, aquele que é considerado como o tamanho médio,

representa cerca de 55% de toda a produção do país. Um tamanho já aceitável, e com um valor interessante no mercado;

• Finalmente, temos o tipo 4, maiores mas com muito pouca

representação: só cerca de 10%. Este é a castanha com maior valor no mercado internacional da amêndoa.

Para completar 1Kg de amêndoa, o Brasil precisa de menos castanha (o peso médio é de 9 gramas por castanha) do que a Guiné (cujo peso médio é de 5 gramas, por castanha).

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A JUZANTE DA PRODUÇÃO (Comercialização) Comercialização Interna: O Governo da Guiné-Bissau, através do Projecto TIP’S, realizou um estudo em 199422 que permitiu estabelecer um cenário de evolução do sector, caso o Governo não viesse a tomar nenhuma das medidas estruturantes para o sector. Passados um década, vejamos quais eram as recomendações para as confrontarmos com a situação actual:

1. Previa-se um aumento acelerado da oferta da castanha “in natura” e uma redução dos preços ao nível do produtor.

Sobre este cenário, a situação confirma a previsão, embora com uma particularidade: a queda de preços registada verificou-se não só ao nível do produtor mas também ao nível de todos os actores intervenientes no mercado até à condição FOB. De facto, a média do preços FOB saíram de $1.200 M./T. para cerca de $600M./T. E do ponto de vista da produção, verificou-se uma aparente estagnação, em torno de setenta e poucos mil toneladas23. Ainda não se sabe quais as razões dessa constatação. Tanto pode ser devido ao aumento das exportações via terrestre; como pode ser devido a factores climatéricos; ou ainda devido ao início dos efeitos de envelhecimento das primeiras árvores de caju. Ou ainda a conjugação simultânea desses vários factores. Lamentavelmente não dispomos de resposta sobre esta questão da aparente estagnação.

2. Previa-se também uma “Procura muito instável pela castanha da Guiné-Bissau, por ter apenas um comprador (Índia), a uma distância superior a duas mil milhas”

Esta previsão também se confirma. Neste últimos anos tem-se constatado uma enorme perturbação no mercado da exportação da castanha, com efeitos fortemente penalizantes ao nível dos preços. É de registar que, apesar de o estudo ter constatado este estrangulamento da existência deste único mercado, não havia sugerido, na altura, a procura de outros mercados para a castanha ‘in natura’. Talvez porque possuía a informação detalhada sobre as condições de comercialização da castanha no Brasil, especialmente no que se refere a eventuais importações de países terceiros.

22 TIP’S, Caju da Guiné-Bissau, Potencialidades e Entraves”, 1994 23 Ano 2000- 72.724 M./T.; Ano 2001- 78.000 M./T.; Ano 2002- 72.866 M./T. e Ano 2003- 77.724 M./T.

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3. “Baixa internalização da renda com a exploração do caju

em razão da castanha ser exportada na forma ‘in natura’ e empobrecimento dos recursos naturais do país decorrente do esgotamento dos solos cultivados com caju sem a compensação em outras actividades económicas.”

Esta constatação não só se confirma como manifesta indicadores de se ter agravado em termos de unidades de processamento existente. Foi visível, logo a seguir à guerra, o desaparecimento da maioria das micro-empresas de processamento artesanal e familiar anteriormente existentes. Uma ressalva deve ser feita em relação a entrada em cena das empresas médias. Refiro-me a fábrica da Agri-Bissau que iniciou a exportação de 1 Contentor/mês, a fábrica B&B, que neste momento parece apresentar alguns problemas de rentabilidade e a fábrica da SICAJU que deverá entrar em funcionamento nos próximos meses.

4. “Alta dependência do produtor e, consequentemente do

país, ao caju o que enseja elevados riscos de colapso nas exportações decorrente contigenciamentos externos, por forças de eventos políticos/sanitários ou na produção provocado por pragas e/ou doenças”

Apesar da Carta de Política Agrícola ter considerado esta preocupação de evitar a mono plantação do caju, a verdade é que, a situação de hoje confirma este cenário previsto pelo estudo em questão. A Guiné-Bissau não exporta nada mais, para além da castanha de caju.

5. “Formação de cartel dos exportadores da castanha “in

natura” para reduzir os preços pagos aos produtores”

Este cenário foi verdade enquanto o TIP’S não havia intervido no sector, nomeadamente com a criação da ANAG (1993). Uma observação do gráfico dos preços confirma que a inversão registou-se a partir do ano 1993/94, em que os preços dos produtores começou a acompanhar mais de perto a evolução e tendências registadas ao nível dos preços FOB.

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COMPARAÇÃO DOS PREÇOS NO PORTO E NO PRODUTOR

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1983-84

1984-85

1985-86

1986-87

1987-88

1988-89

1989-90

1990-91

1991-92

1992-93

1993-94

1994-95

1995-96

1996-97

1997-98

1998-99

6. Perpectuação dos incipientes conhecimentos técnicos científicos de ordem agronômica dos vários segmentos da cajucultura guineense.

Pouco ou nada mudou a este nível. Exceptuando o caso da Agri-Bissau, que mantem um programa de pesquisa, especialmente relacionado com o aspectos sanitário das plantas, mas também os relativos à produtividade, gestão, etc., desconhecemos outras experiências em que estejam a ser devidamente controlados todos os passos.

7. Reduzido poder de barganha dos produtores por falta de agremiações associativas, o que facilita a manipulação dos preços da castanha por parte dos compradores; a ineficiência dos serviços de apoio governamental e a alta incidência dos impostos.

Quanto ao poder de barganha, o aparecimento da ANAG revelou-se de uma importância fundamental. De facto, uma observação do gráfico da evolução dos preços permite concluir, sem margens para dúvida, a inversão da correlação de forças. Contudo, só este aspecto não basta. A ANAG fica muito fragilizada quando defende, junto dos produtores, a não venda dos seus produtos, por exemplo, por causa de preços desfavoráveis. Chegados as chuvas, o que é que a ANAG pode fazer para

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essa gente a quem havia aconselhado a não comercialização das suas castanhas? Este aspecto acaba por limitar a sua capacidade de intervenção. O problema da capacidade de barganha, neste momento, também já se coloca ao nível dos exportadores nas suas relações com os compradores indianos. Devido ao factor guerra de 1998, e a consequente destruição do capital da maior parte das empresas nacionais, a maior parte destes operadores ainda não resolveram a sua situação em relação aos Bancos. Facto que os expulsa de qualquer sistema bancário. Perante o impasse no pagamento da dívida interna, componente relacionada com a comercialização da castanha de caju, estas empresas encontram-se à mercê dos indianos, quer do ponto de vista do crédito, como da compra do produto. Portanto, as suas capacidades de negociação efectiva dos preços, encontra-se bastante limitado. Como consequência, efectivamente, os preços têm-se mantido muito baixos, desde que saímos da guerra, em 1998.

8. Perpectuação dos conflitos entre os agentes da actividade

(produtores, intermediários, exportador e governo), com clara desvantagem para o produtor.

A perpectuação dos conflitos é uma verdade. Contudo, a valorização ou julgamento introduzido, sobre quem ganha ou perde nessa disputa, já parece ser uma assunto mais complexo. É do conhecimento público o facto de, em várias ocasiões, um ou outro exportador ter permanecido com a sua castanha até o ano seguinte; ou ter sido obrigado a vende-lo em condições piores do que aquelas em que as comprou24.

Para além destes contrangimentos identificados em 1994, algumas outras podem ser apontadas como se segue:

1. O negócio do caju, em nosso entendimento, vai tender a normalizar-se, isto é, de uma fase de margens muito interessantes para uma nova fase, onde as margens serão menos interessantes.

2. Os territórios de intervenção de cada classe participante da cadeia

também tende para uma maior definição. Isto na perspectiva de uma evolução normal sem quaisquer perturbações importantes.

3. É precivo rever a política fiscal. A introdução do imposto de

tonelagem e o do comércio marítimo veio agravar de forma insustentável os custos relativos ao fisco

24 Sem pretender polemizar sobre este assunto, é preciso ainda fazer cálculos sobre os custos reais da produção da castanha? Os dados fornecidos pela empresa Agri-Bissau permitem concluir que, a castanha vendida entre os 150 e os 175 Fcfa/Kg, o produtor já não estaria a perder dinheiro. Talvez os economistas tenham alguma explicação para o fenómeno mítico dos 300 Fcfa/Kg, permanentes, como se de um produto agrícola não se tratasse!

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Comércio Externo: Relativamente ao comércio internacional, previa-se:

1. Um aumento da produção mundial da castanha ‘in natura’. Esta previsão confirmou-se. De uma produção de cerca de 348.000 M/T em 1988, passou-se para 600.000 M/T em 1992, e para cerca de 1.200.000 25M/T no ano 2001. Perante estes dados, confirma-se a tendência para uma maior estabilização da oferta da castanha visto que a produção dos países emergentes está a crescer devagar mas de forma estável.

2. Menores oscilações e estabilidade dos preços da amêndoa em baixos patamares como decorrência do aumento e da regularidade da oferta, especialmente devido ao incremento da produção originária dos países produtores emergentes.

Paralelamente a esta previsão também correcta, é preciso introduzir uma leitura paralela: a a amêndoa é vendida no mercado internacional em US$. O preço da ACC do tipo “count 350” na Bolsa de Londres deverá manter-se na faixa dos US$ 4 a 5 por Kg. Com estes níveis de preços torna-se necessário que os países produtores tradicionais reduzam drasticamente os seus custos médios de produção e de processamento para se manterem no mercado. Sobretudo perante esta insistente queda do dólar americano relativamente às outras moedas. O que implica uma continuada queda dos preços. No ano 2002 o dólar valia 700 Fcfa [Kg da amêndoa era de 3.500 fcfa]; No ano 2003 o dólar passou a valer 545 Fcfa [ Kg da amêndoa passou a valer 2.725 Fcfa].

3. Forte aumento da demanda mundial, no médio prazo, decorrente dos menores preços,

Prevê-se, no final da recessão dos principais países consumidores, a entrada de novos consumidores (tigres asiáticos), novos usos da ACC e a perda de competitividade de algumas nozes concorrentes da amêndoa do caju.

4. Estagnação e perda de competitividade internacional dos países

produtores tradicionais, no caso, Índia, Brasil, Moçambique, Kênia e Tanzânia.

A cajucultura desses países é fragilizada com secas frequentes, incidência de pragas e doenças além da avançada idade dos plantios, do esgotamento dos solos cultivados com caju e do aumento no consumo interno da amêndoa (Brasil e Índia) 25 Índia ….???????

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5. Os últimos acordos do GATT estabeleceram a redução dos subsídios e eliminação gradual das barreiras tarifárias no comércio internacional, factos que deverão repercutir no comércio externo da ACC, o que vai agravar a situação da algumas nozes comtempladas com subsídios.

Para além deste aspecto, nestes últimos anos (2001/2003) a adopção de novas normas internacionais está a originar novas adaptações aos actores relacionados com a exportação da castanha;

a. A Índia, a partir do ano 2006, já vai ter que distinguir as castanhas que

transforma, conforme as suas origens (exigência do mercado consumidor); Para evitar ter de promover a castanha de outros países, Índia decidiu produzir a quantidade em défice que costuma importar.

b. O mercado indiano, está a exigir, a partir deste ano, que o embarque das

castanhas se faça somente depois de se ter vendido as mesmas. Fica proibido os barcos flutuantes, cheios de castanha, à procura de comprador; A confirmar a implementação desta decisão vai colocar sérios problemas às exportações da castanha da Guiné, que não tem capacidade de stocagem interna da castanha que produz.

6.

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CONSTRANGIMENTOS AMÊNDOA A MONTANTE DO PROCESSAMENTO

1. Nos últimos anos, o Governo tem fixado o preço mínimo, com o objectivo de “proteger” os interesses dos plantadores, contra o poder dos brokers indianos;

Esta decisão de ‘proteger’ os interesses dos plantadores tem registado um sério handicap no momento da decisão sobre qual deverá o valor do preço mínimo. Os critérios não são claros. E tudo deixa a perceber que, essa decisão é estabelecida de maneira ad-doc. Principalmente, sem se tomar em consideração as tendências relacionadas com os preços da amêndoa, ou com os preços praticados na Índia sobre a castanha ‘in natura’. Essa informação não se encontra disponível. O estabelecimento do preço mínimo, sem consideração do comportamento tendencial do mercado pode prejudicar sériamente os processadores e colocar em sério risco a actividade dos exportadores e intermediários.

2. O Governo tem classificado e delimitado as fronteiras de intervenção dos diferentes actores, impedindo, nomeadamente, os exportadores de comprarem directamente no plantador;

Por tabela, os processadores entram na categoria dos exportadores. Ficando assim impedidos de comprarem directamente

3. A comercialização da castanha ‘in natura’ não se faz com base no critério da qualidade da amêndoa, ou do tamanho da castanha. Mas sim, com base na quantidade;

4. Indisponibilidade de informação e de conhecimentos sobre o processamento e os mercados da amêndoa;

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5. Ausência de créditos virados para a agro-indústria da castanha, apesar das enormes oportunidades de negócio que se têm revelado;

NA FASE DO PROCESSAMENTO

1. O previligiar das micro-empresas de processamento levou o país rumo a uma situação real de incapacidade de exportação da amêndoa;

2. A situação de ausência de crédito para a constituição de um fundo (em stock)

de matéria prima destinada ao processadores é um sério handicap;

3. A JUZANTE DO PROCESSAMENTO

1. Falta de apoio abrangente ao processo de certificação das plantações consideradas orgânicas;

2. Ausência de investimentosna procura de novos mercados;

3.

OUTROS SUB-PRODUTOS DO CAJU ( Sumo de caju, Aguardente de caju, Casca da castanha, Pêra do caju, ...)

1. Todos estes sub-produtos acima referidos, têm sido considerados como pertencentes ao sector informal da economia, onde o Estado, praticamente não interfere; Lamentavelmente, também ao nível das organizações da sociedade civil não se regista presença de qualquer neste domínio específico de intervenção.

Este ponto refere-se aos outros produtos que se podem conseguir a partir do fruto do caju: é o caso da pêra do caju, do sumo de caju, do aguardente, da casca da semente, do líquido da casca, da folha do cajueiro. Todos estes sub-produtos são considerados como pertencentes ao mundo do informal, relativamene aos quais não existem nem políticas, nem enquadramento programático, nem

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legislação. Digamos que o Governo não tem pensado e nem agido sobre estes domínios de actividade.

2.

Sobre o conjunto das actividades no campo relacionadas com a produção (desmatação, plantação, limpeza, manutenção e colocação de pára-fogos), a colecta e a produção do sumo de caju, os dados demonstraram que, em termos de género, a exploração do cajueiro é uma actividade essencialmente feminina, com as mulheres a ocuparem 81% da totalidade de H/D de trabalhos necessários sobre 1Ha de plantação durante toda a vida económica da mesma.

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VI. PROPOSTAS DE SOLUÇÕES CASTANHA DE CAJU AUMENTO DA PRODUÇÃO

1. O facto de não se utilizar adubos e fertilizantes potencia o nosso caju para o mercado bio. Nesta perspectiva, s sobretudo porque já existem sinais a confirmar a existência do mercados bio, é de todo recomendado a continuidade desta política de evitar, expressamente e radicalmente, qualquer tentação de introdução de adubos químicos nas plantações de cajueiros.

2. Combater as pragas e doenças a partir de métodos agronómicos e

biológicos, evitando a todo o custo, iniciar o processo cíclico do tratamento químico, que é muito custoso e nunca tem fim.

3. Recuperar o procedimento da quarentena nos postos fronteiriços, em

relação às sementes de caju. Proibir a importação de sementes de outras origens. Garantir o controle do estado sanitário das plantações que possuam sementes importadas.

4. Através de políticas concretas, estimular a “atracção” da mão-de-obra

da vizinhança, Kolda, Saliquenhi, etc., para as actividades relativas à colecta da castanha de caju. Já é manifesta a insuficiência de mão de obra neste período da fileira do caju. Basta observar os elevados preços praticados na ocasião. A penetração da mão de obra da sub-região, para esta actividade em concreto, poderia aliviar a pressão sobre o campo, e possibilitar não só a redução dos custos relativos à apanha, como aumentar o volume da colecta.

5. Introduzir a necessidade da secagem da castanha após a apanha,

através de mecanismos de penalização ao nível dos preços.

6. Estimular a criação de novas plantações, tendo em vista a necessidade de substituição dos primeiros quartos das plantações mais antigas.

7. Avançar com uma Programa Nacional de Redução da Densidade das

plantações dos cajueiros, pelo menos naquelas com mais de 10 anos de idade.

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8. Criação de mecanismos de micro-crédito para os plantadores, como forma de reduzir a sua dependência extrema em relação aos intermediários

MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE COMERCIALIZAÇÃO INTERNA

1. Contrariamente ao que o senso comum pode acreditar, a Guiné-Bissau não pode dar-se ao luxo de, nesta fase, retirar a protecção aos camponeses que é realizada através do estabelecimento do preço mínimo ao produtor.O mercado da castanha ‘in natura’ ainda não obedece aos critérios de mercado normal, onde os intervenientes reagem com avontade no mercado por saberem que, no final da cadeia existem vários mercados em competição. O mercado final desta castanha é um único: a Índia. Mais especificamente, um grupo de 7 famílias. Neste contexto, pelo menos enquanto não se garante uma maior capacidade de processamento interno da castanha, permitindo melhorar a nossa capacidade de intervenção no mercado, seria indispensável a continuidade desta política de estabelecimento de preços mínimos ao produtor.

2. Relativamente à ‘protecção’ dos operadores nacionais que intervêm

neste mercado, convém lembrar que é uma medida pontual, relativa a uma fase de transição do pós-guerra, em que o Governo nada conseguiu fazer para potenciar a continuidade da participação das empresas nacionais em pé de igualdade com as outras, como ocorria antes da guerra. Para a ultrapassagem deste período de transição, recomenda-se a procura de fontes de financiamento alternativos ao dos indianos, que possibilitem ao sector privado nacional melhorar a sua capacidade negocial e competitiva no mercado.

3. A manter-se a subvenção dos preços no produtor, convém encontrar

mecanismos de compensação para as entidades que compram a castanha para processar. De maneira a não terem de a comprar nas mesmas condições que os exportadores.

4. Substituir, gradualmente, a base da equação:

Preço/quantidade Preço/qualidade

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5. Urgente instalação de outros Bancos na Praça e nas cidades do interior é um imperativo, como forma, nomeadamente, de reduzir os elevados custos bancários dos operadores económicos. Durante a fase de transição, seria conveniente equacionar a utilização de Bancos no Senegal, nomeadamente em Zeguinchor e Kolda;

6. A resolução definitiva do problema da falta de créditos para a

comercialização da castanha de caju é indispensável;

7. Acabar com a constante falta de liquidez (dinheiro fresco) durante a campanha de comercialização da castanha de caju;

8. Interditar a utilização de sacos de juta de 100 Kg. Em sua substituição

divulgar os sacos da mesma qualidade, mas de tamanho menor (50Kg), como forma de tornar mais rápida a manipulação do produto, mas e sobretudo, pela necessidade de acautelar a saúde dos trabaladores dos armazéns e da estiva do Porto de Bissau;

9. Aliviar o peso da fiscalização em todo o sistema. O seu tamanho e

ineficácia só complicam e prejudicam a actividade comercial. Uma reforma do sistema de fiscalização seria de reocmendar;

10. A criação de laboratórios simples e formação dos diferentes actores,

quanto às técnicas de análise da qualidade da castanha de caju, de modo a evitar manipulações de preços da parte dos compradores indianos, a partir de critérios de análise não dessiminados;

11. Redução da carga fiscal, nomeadamente, através da eliminação do

Imposto de Tonelagem e do Imposto de Comércio Marítimo. Quanto à base tributária, aconselhamos a sua manutenção nos $600 M/T ligado e um Imposto Extraordinário que não ultrapasse os 6%.

INTERNACIONAL

1. Aproveitar-se do ainda sistema estatal da China para abrir, definitivamente, o mercado da China à castanha da caju;

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2. Publicar uma revista trimestral onde se colecta e se interpreta informações actualizadas sobre os preços e a situação dos mercados da castanha de caju ‘in natura’, no mundo;

MELHORIA DO MARKETING DO CAJU

1. Uma publicação anual dos relatórios de avaliação de cada campanha da castanha de caju seria recomendável. Era uma boa forma de, ao menos, sistematizar as informações que acabam por se perder entre os técnicos dos Ministérios.

2. Divulgar a ideia, ao nível internacional, em como a nossa castanha

de caju é 100% natural, e que por isso, deve ser considerado como um produto bio;

APARECIMENTO DE NOVAS EMPRESAS/SERVIÇOS/ONG’s DE APOIO AO CAJU

1. Finalizar o processo de aprovação do Regulamento da Lei da Terra; 2. Divulgar ao máximo o conteúdo da Lei da Terra e do seu Regulamento,

sobretudo no estrangeiro, como forma de atrair investimentos na área da plantação industrial de cajueiros. Pode-se tomar como referência as plantações da Agri-Bissau;

3. Criar programas de rádio, ao nível nacional, informando e estimulando

investimentos na área da plantação de cajueiros;

4.

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AMÊNDOA AUMENTO DA PRODUÇÃO

1. Criar linhas de crédito especiais só para a instalação de unidades industriais, de médio porte, para o processamento da castanha de caju, como forma de garantir sucesso à proliferação das unidades micro de processamento e estabilizar o aumento da quantidade de castanha disponibilizada no mercado;

2. Disseminar em todo o país, a tecnologia do processamento da castanha de caju e

estimular a instalação das mesmas nas unidades domésticas seleccionadas para o efeito;

3. Conceber uma política de redistribuição geográfica das unidades industriais,

médias, de processamento, como forma de estimular a redistribuição equilibrada do emprego no mercado nacional;

4. Isentar do pagamento de quaisquer impostos, todas as empresas que avancem para

a exportação da amêndoa, durante os primeiros 5 anos. Após esse período, introduzir taxas moderadas e graduadas, até virem a atingir os níveis desejados, tendo em devida conta, os rendimentos reais obtidos pela comercialização deste produto estratégico;

5. Criação de um fundo para a compra e stocagem, no país, da matéria prima

necessária ao funcionamento anual de todas as unidades de processamento existentes no país.

CRIAÇÃO/ESTABELECIMENTO DE NOVAS UNIDADES DE PROCESSAMENTO

1. É desejável e é de estimular. Políticas concretas deveriam ser elaborados visando este objectivo;

2.

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MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE COMERCIALIZAÇÃO

1. Nesta primeira fase, todos os esforços deveriam ser concentrados na comercialização internacional deste produto;

2. A experiência iniciada com a Enterprise Works, nomeadamente as

negociações que decorrem com a ROTA Internacional, para a exportação de 10 contentores mensais de produtos naturais para o mercado dos Estados Unidos é um exemplo a apoiar, acarinhar e divulgar ao máximo;

3. Clarificação da política fiscal do sector da indústria de processamento da

castanha. Nomeadamente, nos aspectos relativos aos custos de legalização de terrenos, legalização da indústria, e os custos relacionados com a exportação da amêndoa.

MELHORIA DO MARKETING

1. Divulgar a ideia, ao nível internacional, em como a castanha de caju da Guiné-

Bissau é 100% natural, e que por isso, deve ser considerado como um produto bio;

2. Aproveitar-se deste potencial e negociar com parceiros a experimentação de

programas de marketing orientados para o mercado dos Estados Unidos e para a Europa, relativamente a este produto 100% natural da Guiné-Bissau;

3.

APARECIMENTO DE NOVAS EMPRESAS/SERVIÇOS/ONG’s DE APOIO AO CAJU

1. De maneira urgente, facilitar a disponibilização de créditos para financiar o arranque da industrialização do processamento da castanha de caju no país. Deveriam ser seleccionadas, pelo menos umas 10 empresas nacionais e criar-lhes condições, a partir de critérios pré-estabelecidos, para que consigam entrar para o processamento da

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castanha, tendo como imagem ideal, a experiência da Agri-Bissau e a capitalização dessa experiência através da nova fábrica da SICAJU.

2. Acarinhar e seguir mais de perto, o trabalho que a EnterpriseWorks

está a realizar na Guiné, como forma de potenciar os seus aspectos positivos;

3. Apoiar a ANAG de maneira a melhorar os resultados do seu trabalho

ao nível nacional, especialmente, nos programas relativos à formação e dessiminação de conhecimentos agronómicos relativos ao cajueiro;

4. Estimular o sector privado nacional a entrar na área da

comercialização da amendoa, de maneira a incentivar e encorajar mais empresas a investirem no processamento da castanha de caju;

OUTROS SUB-PRODUTOS DO CAJU

1. Da mesma forma, em relação ao Vinho de caju e ao Aguardente da Cana,é urgente a introdução de tecnologia melhorada para proporcionar melhores e mais rentáveis condições para o processamento do suco extraído do falso fruto do caju.

2. Ainda nesta matéria, convém iniciar o processo de divulgação e

sensibilização junto às empresas privadas nacionais, no sentido de “descobrirem” que o bagaço do falso fruto do caju representa um potencial valioso para exportação na qualidade de ração alimentar para gado. O mercado existe, os preço são atractivos (?????) e o país está a deitar fora todo o bagaço porque não tem utilidade no mercado interno. E é uma actividade que não exige investimentos importante, mesmo na sua fase de arranque.

3. No capítulo da energia, a montagem das primeiras fábricas

acopoladas à cogeração é um imperativo nacional. Estudos técnicos ainda não divulgados, permitem concluir, com firmeza, que afinal não estamos a exportar só a amêndoa para a Índia. As 56.000 T./M. de casca que os oferecemos, poderiam suportar o fornecimento anual, em energia, a todas cidades e vilas do país.

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