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Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências da Informação e Documentação - FACE Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais - CCA Danielle Montenegro Salamone Nunes O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto no Basiléia 2: um estudo de caso no Conglomerando Banco do Brasil Brasília, 2005

O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências da

Informação e Documentação - FACE Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais - CCA

Danielle Montenegro Salamone Nunes

O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto no Basiléia 2: um estudo de

caso no Conglomerando Banco do Brasil

Brasília, 2005

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Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências da

Informação e Documentação - FACE Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais – CCA

Danielle Montenegro Salamone Nunes

O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto no Basiléia 2: um estudo de

caso no Conglomerando Banco do Brasil

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília.

Prof. Ilan Bruno Guimarães de Souza (Orientador) Universidade de Brasília

Brasília, 2005

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FOLHA DE APROVAÇÃO

DANIELLE MONTENEGRO SALAMONE NUNES O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto no Basiléia 2: um estudo de caso no Conglomerando Banco do Brasil

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília.

Brasília, 25 de Janeiro de 2005.

APROVADA POR:

Prof. Ilan Bruno Guimarães de Souza (Orientador) Universidade de Brasília

Prof. José Aísio Catunda Aragão (Membro) Banco Central do Brasil

Prof. Cláudio Moreira Santana (Membro) Universidade de Brasília

Page 4: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

Agradecimentos

Ao orientador deste trabalho, Prof. Ilan Bruno Guimarães de Souza, por

todo conhecimento transmitido e pela dedicação durante todas as etapas da

construção desta Monografia.

Aos professores do curso de Graduação em Ciências Contábeis, pela

contribuição a minha formação educacional e pessoal.

Aos amigos e colegas da PricewaterhouseCoopers, em especial à

André Canavarro, pelas sugestões e ensinamentos para este trabalho e para minha

vida profissional.

À minha família e amigos, pela paciência, compreensão e apoio.

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“Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de

tentar”. W. Shakespeare

Page 6: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

Resumo

O Novo Acordo de Capitais, o Basiléia 2, traz uma nova metodologia de análise dos riscos envolvidos na atividade financeira. A inclusão do risco operacional demonstra uma preocupação com a gestão dessas instituições e as perdas que podem advir da incapacidade de sistemas e de mão-de-obra. O presente trabalho visa analisar, no caso do Banco do Brasil, se a inclusão do risco operacional já não se fazia necessária quando da emissão do acordo de 1988 e se o método padronizado proposto pelo novo acordo seria suficiente para cobrir as perdas operacionais do Banco do Brasil, buscando evidenciar a necessidade de se desenvolver controles internos eficientes de forma a mitigar os riscos aos quais está exposto. Embora a hipótese levantada não tenha sido comprovada, tampouco refutada, devido à dificuldade em obter as informações necessárias para uma análise mais acurada, a manutenção de níveis de capital suficientes para cobrir as perdas ocorridas não deve ser a única ferramenta utilizada para garantir a manutenção e o fortalecimento das instituições financeiras. O próprio acordo demonstra a necessidade de desenvolvimento de uma política de gestão de riscos eficiente, com o objetivo de mitigar os riscos aos quais as instituições estão expostas, reduzindo a probabilidade de ocorrência das perdas. Palavras-chave: Banco do Brasil. Basiléia 2. Controles Internos. Instituições Financeiras. Método Padronizado. Risco Operacional.

Page 7: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

Lista de Figuras

Figura 1 – Relação entre os pilares do novo acordo de capitais – Basiléia 2. ..........36 Figura 2 – Comparação entre as perdas incorridas e a exigência de capital – Risco

Operacional........................................................................................................51 Figura 3 – Comparação entre as perdas incorridas e a exigência de capital pelo

Acordo de 1988..................................................................................................54 Figura 4 – Comparação entre as perdas incorridas e a exigência de capital

considerando a inclusão do risco operacional....................................................55

Page 8: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Fator β por Linha de Negócio ..................................................................24 Tabela 2 – Mapeamento das Áreas de Negócio .......................................................42 Tabela 3 – Requerimento Mínimo de Capital para o Risco Operacional do Banco do

Brasil ..................................................................................................................49 Tabela 4 – Impacto da Inclusão do Risco Operacional na Exigência de Capital

(saldos em R$ mil) .............................................................................................50 Tabela 5 – Perdas Incorridas no Banco do Brasil (saldos em R$ mil).......................53

Page 9: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

Lista de Abreviaturas e Siglas

AMA – Método de Mensuração Avançada

BB – Banco do Brasil

BACEN – Banco Central do Brasil

CMN – Conselho Monetário Nacional

CVM – Comissão de Valores Mobiliários

EAD – Estimativa de Exposição ao Inadimplemento

ECAI – Agência de Classificação de Risco de Crédito

FCO – Fundo Constitucional do Centro-Oeste

IRB – Método Baseado em Classificações Internas

LGD – Perdas Devidas a Inadimplemento

M – Vencimento das Operações

PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

PCLD – Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa

PD – Probabilidade de Inadimplemento

PIB – Produto Interno Bruto

RB – Resultado Bruto

TVM – Títulos e Valores Mobiliários

Page 10: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

Sumário

Agradecimentos ..........................................................................................................4 Resumo.......................................................................................................................6 Lista de Figuras...........................................................................................................7 Lista de Tabelas ..........................................................................................................8 Lista de Abreviaturas e Siglas .....................................................................................9 Sumário.....................................................................................................................10 1 Introdução ..............................................................................................................11

1.1 Objetivo principal e objetivos secundários .......................................................11 1.2 Problema e Hipótese .......................................................................................12 1.3 Relevância do trabalho ....................................................................................13 1.4 Divisão do trabalho ..........................................................................................14

2 O Novo Acordo de Capitais – Basiléia 2 ................................................................15 2.1 Pilar 1 - Exigência Mínima de Capital ..............................................................17

2.1.1 Risco de crédito.........................................................................................18 2.1.1.1 Método Padronizado...........................................................................18 2.1.1.2 Método Baseado em Classificações Internas – IRB ...........................19

2.1.2 Risco Operacional .....................................................................................21 2.1.2.1 Método Indicador Básico ....................................................................22 2.1.2.2 Método Padronizado...........................................................................23 2.1.2.3 Método de Mensuração Avançada – AMA .........................................24

2.1.3 Risco de Mercado .....................................................................................25 2.2 Pilar 2 – Supervisão Bancária..........................................................................26 2.3 Pilar 3 - Disciplina de Mercado ........................................................................29

3 Risco Operacional ..................................................................................................32 3.1 A inclusão no novo Acordo ..............................................................................33 3.2 A complementaridade dos Pilares do Basiléia 2..............................................35 3.3 A Importância da inclusão do Risco Operacional ............................................37 3.4 A gestão dos riscos .........................................................................................39

4 Estudo de Caso......................................................................................................41 4.1 Metodologia utilizada .......................................................................................42

4.1.1 Resultado de Operações de Crédito .........................................................43 4.1.2 Resultado das Operações de Arrendamento Mercantil.............................44 4.1.3 Resultado das Operações com Títulos e Valores Mobiliários ...................45 4.1.4 Resultado das Operações com Instrumentos Financeiros Derivativos .....45 4.1.5 Resultado das Operações de Câmbio.......................................................45 4.1.6 Resultado das Aplicações Compulsórias ..................................................46 4.1.7 Resultado das Operações de Captação no Mercado................................46 4.1.8 Resultado das Operações de Empréstimos e Repasses ..........................47 4.1.9 Receitas de Prestação de Serviços...........................................................48

4.2 Cálculo do Requerimento Mínimo de Capital...................................................49 4.3 Análise dos Resultados ...................................................................................50

5 Considerações Finais.............................................................................................56 Referências ...............................................................................................................58 Glossário ...................................................................................................................61

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1 Introdução

A atuação do contador, nos dias atuais, pode ir além da simples prática

de registro e controle do patrimônio das empresas. As rápidas mudanças ocorridas

no bojo da sociedade vêm impondo a esse profissional a necessidade de se interar

sobre as atividades e o cenário em que as empresas estão envolvidas, pois, desse

entendimento depende a própria manutenção de sua razão de ser profissional, qual

seja, a continuidade do patrimônio e o suporte as decisões administrativas.

No âmbito das instituições financeiras, a emissão do Novo Acordo de

Capitais torna evidente a necessidade do profissional de contabilidade desenvolver a

capacidade de avaliar o perfil de risco das instituições. Conhecer as perdas que

podem advir da posição de exposição ao risco assumida por essas instituições é

pressuposto para o desenvolvimento de controles internos e políticas de gestão que

venham a mitigar esses riscos, protegendo o patrimônio dessas instituições e

garantindo sua continuidade.

1.1 Objetivo principal e objetivos secundários

A presente monografia visa verificar se a inclusão do risco operacional no

cálculo da exigência mínima de capital se fazia necessária quando da emissão do

Acordo de 1988, e caso necessária, se a exigência de capital para esse risco,

calculada com base na metodologia padronizada prevista pelo Novo Acordo de

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Capitais, o Basiléia 2, se mostra suficiente para cobrir as perdas incorridas no

Conglomerado Banco do Brasil S.A.

Com o intuito de atingir o objetivo geral apresentado, foram estabelecidos

alguns objetivos secundários, que serão alcançados no decorrer dessa monografia,

quais sejam: (a) apresentar o Novo Acordo de Capitais, o Basiléia 2; (b) conceituar o

risco operacional na metodologia padronizada; (c) discutir o impacto da inclusão do

risco operacional no cálculo da exigência de capital; e (d) aplicar a metodologia

padronizada proposta pelo Basiléia 2 no estudo de caso.

1.2 Problema e Hipótese

A problemática a ser respondida consiste na seguinte questão: a

aplicação da metodologia padronizada proposta pelo Basiléia 2, para o cálculo do

risco operacional, irá evidenciar a necessidade do Conglomerado Banco do Brasil

S.A. adequar seus controles internos?

Esta monografia baseia-se na hipótese de que, com advento da

implementação do Basiléia 2, previsto para o final de 2006, a inclusão do risco

operacional no cálculo da exigência mínima de capital vem corroborar a necessidade

do Conglomerado Banco do Brasil S.A. aprimorar seus controles internos a fim de se

estabelecer mecanismos efetivos para a gestão dos risco e sua conseqüente

mitigação.

Page 13: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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1.3 Relevância do tema

A relevância das instituições financeiras na economia global vai além da

simples tarefa de unir os que demandam crédito àqueles que o tem para oferecer.

Sendo este um dos setores que mais crescem, os bancos são grandes

conglomerados que prestam diversos serviços a seus clientes, postura que alavanca

seus rendimentos, mas, por outro lado, os expõe a riscos cada vez mais latentes.

A preocupação de outrora em se avaliar apenas os tomadores e sua

capacidade de honrar com seus compromissos evoluiu para a necessidade, num

mundo globalizado, de se controlar todo ambiente em que o sistema financeiro está

envolto. A quebra de uma instituição financeira, independentemente de onde essa

se encontra ou opera, representa uma ameaça em potencial para todo o sistema,

podendo desencadear um processo que afetaria não só as instituições financeiras,

mas a economia como um todo.

Nesse contexto, a proposta de se ter um parâmetro de boas práticas e

conduta administrativa na gestão dessas instituições vem ao encontro dos

pressupostos do Comitê da Basiléia para a necessidade de firmar as regras que

devem nortear o sistema financeiro. Ademais, os recentes acontecimentos (falências

de instituições) justificam a constante necessidade desses princípios serem

atualizados e revistos.

Page 14: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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1.4 Organização do trabalho

O presente estudo está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo, já

apresentado, introduziu o problema da pesquisa, os objetivos do trabalho, sua

relevância e campo de estudo. No segundo capítulo, efetuou-se a revisão

bibliográfica do tema estudado, apresentando a estrutura do Novo Acordo de

Capitais, o Basiléia 2. No terceiro capítulo é efetuada uma descrição do risco

operacional e apresentado os possíveis cenários a serem estudados com a inclusão

dessa forma de risco no cálculo da exigência mínima de capital, pelo Basiléia 1.

O quarto capítulo compreende o estudo de caso proposto. São

apresentadas a metodologia utilizada para se calcular o risco operacional do

Conglomerado Banco do Brasil, e a análise dos resultados obtidos. Por fim, no

quinto e último capítulo são apresentadas as conclusões, sugestões e

recomendações para pesquisas futuras no âmbito do Basiléia 2.

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2 O Novo Acordo de Capitais – Basiléia 2

Em setembro de 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumulado

do ano apresentava crescimento de 5,3% em relação a igual período de 2003. Em

relação aos Serviços, o subsetor das Instituições Financeiras também apresentou

taxa positiva de crescimento de 4,0% (IBGE, 2004). Além do crescimento

apresentado, atualmente, o estoque de crédito do sistema financeiro representa

26,4% do PIB (BACEN, 2004). No entanto, a importância das instituições financeiras

pode ser observada não apenas pela sua contribuição direta ao PIB, mas também

por estarem diretamente ligadas aos demais setores da economia por meio da

intermediação financeira.

As instituições financeiras são instituições alavancadas e possuem um

alto nível de endividamento em relação ao tamanho do capital próprio. Essas

instituições, por sua natureza de operação, são sujeitas a um risco elevado de

insolvência e, a falência de uma delas pode ocasionar um grande impacto no

sistema financeiro como um todo.

Com o objetivo de tornar o sistema mais sólido e evitar o chamado risco

sistêmico, o Comitê da Basiléia1 criou, em 1988, o Acordo de Capitais. Esse acordo,

ainda vigente, obriga as instituições financeiras participantes a manterem um nível

mínimo de capital de forma a cobrir um determinado percentual dos riscos aos quais

estão expostas.

1 O Comitê da Basiléia sobre Fiscalização Bancária é um comitê de autoridade de fiscalização bancária, estabelecido pelos dirigentes dos bancos centrais dos países do Grupo dos Dez, em 1975. Ele é composto de altos representantes das autoridades de fiscalização bancária e dos bancos centrais da Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Ele normalmente se reúne no Bank for International Settlements na Basiléia, onde está localizada a sua Secretaria permanente. (BIS, 2001 b, p.1).

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Contudo, devido às significativas transformações ocorridas no mercado

financeiro e nas práticas de administração de riscos desde a criação do acordo de

1988 e posteriores alterações, o Comitê decidiu, em junho de 1999, lançar uma

proposta para substituição desse acordo. A versão final do novo acordo, chamado

de Basiléia 2, foi divulgada em 26 de junho de 2004, após anos de discussões e sua

implementação está prevista para o final de 2006.

A aplicação do Basiléia 2 será obrigatória apenas para as instituições

financeiras internacionalmente ativas dos países que fazem parte do Grupo dos Dez

(grupo de países que compõem o Comitê da Basiléia) e empresas controladoras que

sejam matrizes de grupos bancários. No entanto, o Comitê espera que os princípios

básicos do novo acordo sejam aplicados nos mais diversos bancos, independente

do nível de complexidade desses bancos. O Brasil, apesar de não fazer parte do

Grupo dos Dez, aderiu ao Acordo de 1988 e tende a aderir ao novo acordo proposto.

O Basiléia 2 está calcado em três pilares estruturais. O primeiro pilar

estabelece os requisitos mínimos de capital, o segundo corresponde à supervisão

bancária e o terceiro pilar à disciplina de mercado. Os três pilares juntos formarão a

base do sistema financeiro, trazendo mais solidez e segurança para o mercado. A

aplicação dos três pilares se faz, então, necessária, podendo a falha na aplicação de

um desses pilares comprometer essa estrutura como um todo (Figura 1, pág.36).

A nova estrutura prevê o aprimoramento das formas de mensuração da

exigência mínima de capital, trazendo o fim da padronização das metodologias de

cálculo e possibilitando as instituições financeiras desenvolverem metodologias mais

compatíveis com o seu perfil de risco. Esse aperfeiçoamento, associado a uma

supervisão bancária eficiente e à disciplina de mercado, busca a criação de uma

estrutura mais perceptível ao risco.

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2.1 Pilar 1 - Exigência Mínima de Capital

O primeiro pilar refere-se ao requerimento mínimo de capital, ou seja, o

mínimo de capital que uma instituição deve manter para fazer frente às perdas

decorrentes dos riscos inerentes as suas atividades. O Comitê da Basiléia define

que uma instituição deve manter um nível de capital que corresponda a, no mínimo,

8% desses riscos. No Brasil, atualmente, o índice de capital mínimo estabelecido

pelo Banco Central do Brasil é de 11%.

O Novo Acordo de Capitais traz algumas novidades ao cálculo do

requerimento mínimo de capital, como a inclusão do risco operacional e o fim da

padronização na mensuração do risco de crédito. Quanto ao risco de mercado,

adicionado ao cálculo do requerimento mínimo de capital em 1996, o novo acordo

não prevê nenhuma alteração. O cálculo do índice de capital previsto pelo Basiléia 2

pode ser expresso pela fórmula 2.1, a seguir:

=++ cadoRiscodeMercionalRiscoOperaditoRiscodeCré

Capital % Índice de Capital (2.1)

O capital utilizado para fins de cálculo do índice de capital proposto pelo

Acordo de 1988 compreende o capital social e as reservas livres. O antigo acordo

prevê ainda a inclusão de formas suplementares de capital como outras

modalidades de reserva e instrumentos híbridos de capital. Essa definição de capital

foi mantida pelo novo acordo, o Basiléia 2.

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2.1.1 Risco de crédito

As instituições financeiras exercem papel fundamental no mercado

financeiro, sendo responsáveis pela intermediação financeira. Essas instituições

captam recursos dos poupadores por uma taxa, denominada de taxa de captação, e

emprestam esses recursos para aqueles que os necessitam mediante a cobrança de

juros. Nesse processo de financiamento de seus clientes, os bancos estão sujeitos

ao risco de crédito definido por Boechat e Bertolossi (2004, p.2) como as “perdas

possíveis decorrentes da impossibilidade de o contratante liquidar uma obrigação no

momento esperado ou de não fazê-lo a qualquer tempo.”

O Comitê da Basiléia propõe duas metodologias para o cálculo do risco

de crédito, o método padronizado e o método baseado em classificações internas. A

utilização do método baseado em classificações internas, como o próprio nome diz,

consiste no desenvolvimento, por parte das instituições, de metodologias internas de

classificação de risco e, por isso, está sujeita a avaliação e aprovação por parte do

órgão de supervisão bancária.

2.1.1.1 Método Padronizado

O método padronizado, assim como a metodologia vigente (Basiléia 1),

consiste na ponderação dos ativos das instituições. No entanto, no método proposto

pelo Novo Acordo, a ponderação dos ativos é feita com base na classificação do

Page 19: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

19

tomador, ao contrário do acordo atual, em que a ponderação é feita com base na

categoria do ativo.

No acordo vigente, as operações de um mesmo tipo são tratadas de

forma igual e classificadas na mesma categoria. Por outro lado, a nova proposta

permite que operações do mesmo tipo sejam classificadas em categorias diferentes

tornando a metodologia proposta pelo Basiléia 2 mais sensível ao risco e mais

adequada aos anseios do Comitê da Basiléia.

Os ativos das instituições, pelo método padronizado, podem ser

classificados em quatro categorias de ponderação de risco, quais sejam: 20%, 50%,

100% e 150%. A classificação dos ativos em uma das quatro faixas de ponderação é

feita com base no risco que os seus tomadores representam. Essa avaliação do

risco que cada tomador representa é realizada utilizando as informações

disponibilizadas pelas agências externas de classificação de rating, denominadas

pelo novo acordo de Agências de Classificação de Risco de Crédito – ECAI’s (BIS,

2004).

As ECAI’s desempenham papel fundamental no cálculo do risco de

crédito pelo método padronizado. A eficiência desse método depende da

transparência e confiabilidade das informações divulgadas por essas agências,

cabendo às autoridades bancárias sua supervisão e fiscalização.

2.1.1.2 Método Baseado em Classificações Internas – IRB

O risco de crédito, pelo método baseado em classificações internas, é

calculado levando em consideração, além da Probabilidade de Inadimplemento (PD)

Page 20: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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associada a cada tomador, fatores como as Perdas Devidas a Inadimplemento

(LGD), o Vencimento das Operações (M) e a Estimativa de Exposição ao

Inadimplemento (EAD) (BIS, 2004, p.8). Para entender a metodologia proposta, é

preciso entender a definição de inadimplemento. Segundo o Comitê da Basiléia

(BIS, 2004, p.92-93),

[...] 446. A default is considered to have occurred with regard to a particular obligor when either or both of the two following events have taken place. The bank considers that the obligor is unlikely to pay its credit obligations to the banking group in full, without recourse by the bank to actions such as realizing security (if held). The obligor is past due more than 90 days on any material credit obligation to the banking group.82 Overdrafts will be considered as being past due once the customer has breached an advised limit or been advised of a limit smaller than current outstandings. [...]

O método baseado em classificações internas, proposto pelo novo

acordo, é subdividido em duas opções: a básica e a avançada. Na opção básica, a

instituição é responsável pelo desenvolvimento de uma metodologia de classificação

de risco, ou seja, pela estimativa da PD, sendo os demais quesitos fornecidos pelo

gestor. Já na metodologia avançada, todas as estimativas são calculadas com base

em metodologias desenvolvidas pela própria instituição.

A possibilidade de utilização de uma abordagem básica permite que um

maior número de instituições utilizem a metodologia IRB, metodologia mais sensível

ao risco, para fins de cálculo do risco de crédito (BIS, 2004, p.56).

No Brasil, a Resolução 2.682 de 21 de dezembro de 1999, emitida pelo

Conselho Monetário Nacional – CMN, dispõe sobre a classificação das operações de

crédito e regras para a constituição da Provisão para Créditos de Liquidação

Duvidosa – PCLD.

Page 21: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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A resolução em questão prevê a classificação tanto das operações em si,

como dos tomadores e fez com que as instituições brasileiras desenvolvessem

metodologias próprias de classificação de risco de crédito, uma vez que esta define

os aspectos mínimos a serem analisados para classificação dos tomadores, sendo

os demais itens definidos pela própria instituição.

Apesar da emissão dessa resolução ter como objetivo principal o cálculo

da PCLD, que representa o percentual esperado de inadimplemento, esta torna as

instituições financeiras brasileiras aptas a aderirem à metodologia baseada em

classificações internas prevista pelo Novo Acordo de Capitais.

2.1.2 Risco Operacional

O risco operacional pode ser definido como “a possibilidade de perdas

diretas ou indiretas devido a deficiências de sistemas, pessoas e controles internos

ou por eventos externos” (BOECHAT; BERTOLOSSI, 2001, p. 2).

A consideração do risco operacional pra fins de cálculo do requerimento

mínimo de capital consiste em uma das maiores inovações trazidas pelo Novo

Acordo e demonstra uma preocupação não apenas com os riscos decorrentes das

operações das instituições, como o risco de crédito e o risco de mercado, mas

também com o risco decorrente da forma como essas instituições operam.

O Basiléia 2 prevê três métodos de cálculo para a mensuração do risco

operacional: o método de indicador básico, o método padronizado e o método de

mensuração avançada – AMA. É importante destacar que após a utilização de

metodologias mais avançadas de cálculo do risco operacional, como o método de

Page 22: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

22

mensuração avançada e o método padronizado, as instituições não poderão passar

a utilizar metodologias mais simples.

2.1.2.1 Método Indicador Básico

O método de indicador básico é o mais simples dos métodos propostos

pelo novo acordo e consiste na média da aplicação de um percentual fixo,

denominado ∂, aos Resultados Brutos positivos dos últimos três anos. O capital

requerido pode, então, ser expresso pela fórmula 2.2 (BIS, 2004):

( )[ ] nRBK n /...1∑ ∂×= (2.2)

onde, K é igual ao capital requerido pelo utilização do método de indicador básico,

RB é igual aos Resultados Brutos positivos, n é igual ao número de RB positivos

obtidos nos últimos três anos e ∂ é igual ao percentual fixo de 15% estipulado pelo

Comitê.

O Comitê da Basiléia, no documento International Convergence of Capital

Measurement and Capital Standards, define o conceito de Resultado Bruto utilizado

para fins de calculo do risco operacional (BIS, 2004, p.138).

[…] 650. Gross income is defined as net interest income plus net non-interest income.93 It is intended that this measure should: (i) be gross of any provisions (e.g. for unpaid interest); (ii) be gross of operating expenses, including fees paid to outsourcing service providers;94 (iii) exclude realised profits/losses from the sale of securities in the banking book;95 and (iv) exclude extraordinary or irregular items as well as income derived from insurance. [...]

Page 23: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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O Resultado Bruto corresponde ao resultado direto das operações da

instituição e sua utilização como indicador básico para o cálculo do risco operacional

pode ser explicado pelo fato de que maiores resultados correspondem a estruturas

mais alavancadas e potencialmente mais sujeitas a perdas operacionais.

2.1.2.2 Método Padronizado

O método padronizado também utiliza o resultado bruto como indicador

básico. Porém, o resultado é segregado em oito linhas de negócio e o percentual β

aplicado varia de acordo com a linha de negócio específica.

O capital requerido corresponderá à média do somatório dos últimos três

anos dos resultados decorrentes da aplicação dos fatores betas aos resultados

brutos correspondentes, considerando a segregação em linhas de negócio e

desconsiderando os anos em que o somatório resultar em valores negativos. O

capital requerido pode, então, ser expresso pela fórmula 2.3 (BIS, 2004):

( )[ ] 3/0,max31

8181

×= ∑ ∑−

−−anos

RBK β (2.3)

onde, K é igual ao capital requerido pelo utilização do método padronizado, RB

corresponde ao Resultados Bruto em um determinado ano para cada linha de

negócio, cuja definição já foi abordada no item anterior, e β é um percentual fixo

determinado pelo Comitê.

Page 24: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

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O método padronizado consiste num aprimoramento do método de

indicador básico, uma vez que trata o risco que cada tipo de operação representa de

forma diferenciada, por meio da segregação do resultado bruto nas oito linhas de

negócio. A Tabela 1 demonstra as linhas de negócio previstas pelo Comitê e seus

respectivos fatores β:

Tabela 1 – Fator β por Linha de Negócio

Linha de Negócio Fator β Finanças Corporativas 18% Comércio e Vendas 18% Banco de Varejo 12% Banco Comercial 15% Pagamentos e Liquidações 18% Serviços de Agência 15% Administração de Ativos 12% Corretagem de Varejo 12%

Fonte: Comitê da Basiléia sobre Fiscalização Bancária (BIS, 2004, p.140, tradução nossa).

Apesar do método padronizado representar um aprimoramento do método

de indicador básico, ainda nesse método é o Comitê que determina a quantidade de

capital regulador que será mantido a fim de cobrir eventuais perdas decorrentes do

risco operacional, visto serem eles os responsáveis pela determinação dos

percentuais aplicados.

2.1.2.3 Método de Mensuração Avançada – AMA

O método de mensuração avançada (AMA) ou método de mensuração

interna é o mais avançado dos métodos propostos pelo novo acordo e prevê o

desenvolvimento por parte das instituições de uma forma de cálculo dos riscos

operacionais aos quais estão expostas. As metodologias desenvolvidas devem ser

Page 25: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

25

baseadas no histórico de perdas operacionais internas e externas, análise de

cenários e ambiente de negócios, sem deixar de analisar fatores como adequação

dos controles internos, item essencial na mensuração do risco operacional.

As metodologias desenvolvidas pelas instituições para mensuração do

risco operacional deverão ser avaliadas pelo órgão de supervisão bancária e só

poderão ser utilizadas se consideradas adequadas. As instituições que utilizarem

esse método de mensuração, assim como aquelas que utilizarem o método

padronizado, terão ainda que atentar para o previsto no Sound Practices for the

Management and Supervision of Operational Risk emitido pelo Comitê da Basiléia.

2.1.3 Risco de Mercado

As instituições financeiras também enfrentam o risco de mercado, definido

por Boechat e Bertolossi (2001, p.2) como o “risco de perdas em posições no

Balanço Patrimonial resultante de movimentos diversos nos preços de mercado dos

ativos dos bancos”. Não apenas dos ativos dos bancos, uma vez que os passivos

também estão sujeitos ao risco de mercado.

Esse risco pode ser bem exemplificado pelo risco decorrente das

variações cambiais. Supondo que uma instituição brasileira adquira um empréstimo

em dólar a uma cotação de R$ 2,00 para US$ 1,00 e que, no momento do

vencimento do empréstimo, a cotação esteja em R$ 4,00 para US$ 1,00. Nesse

caso, a instituição brasileira teria que pagar o dobro do que ela esperava pagar

quando tomou o empréstimo, incorrendo em uma perda decorrente da flutuação do

câmbio.

Page 26: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

26

O risco de mercado é de difícil mensuração e as perdas decorrentes

desse tipo de risco podem chegar a mais de 100%. No entanto, existem

instrumentos financeiros de proteção para o risco de mercado, os chamados

instrumentos de hedge. A utilização desses instrumentos diminui a exposição das

instituições a esse risco e, por isso, devem ser considerados quando da mensuração

do mesmo.

O risco de mercado foi introduzido ao cálculo do requerimento mínimo de

capital em 1996 pelo Amendment to the Capital Accord to Incorporate Market Risk e

a metodologia proposta por esse aditivo permanece inalterada com a inclusão do

Novo Acordo de Capitais.

2.2 Pilar 2 – Supervisão Bancária

A supervisão bancária visa assegurar a saúde e segurança do sistema

financeiro, buscando o equilíbrio entre os interesses dos participantes do mercado.

Segundo Xavier (2004, p. 8), “a supervisão bancária, em sentido amplo,

compreende: autorização para funcionamento, regulamentação prudencial,

avaliação dos riscos assumidos e da administração da instituição”.

O conceito de supervisão bancária foi incorporado pelo Comitê da Basiléia

em seu novo acordo de capitais, o Basiléia 2. A necessidade de supervisão bancária

fica clara no primeiro pilar, quando o novo acordo determina que as instituições

financeiras que optarem pelos métodos mais avançados de cálculo de risco de

crédito e operacional tenham suas metodologias avaliadas e aprovadas pelos

órgãos de supervisão bancária.

Page 27: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

27

No entanto, a garantia de que as instituições financeiras mantêm níveis

adequados de capital de forma a fazer frente aos riscos inerentes as suas atividades

não substitui uma política de gestão de riscos eficiente. Reconhecendo essa

necessidade das instituições desenvolverem políticas de gestão eficientes de forma

a mitigar os riscos aos quais estão expostas, fez com que o Comitê desenvolvesse

uma proposta de supervisão bancária que conta com a participação dos gestores da

instituição.

Nessa nova abordagem, a alta administração, os diretores e a auditoria

interna deverão avaliar os controles internos e assegurar que os dados utilizados

para o cálculo do requerimento mínimo de capital e as informações utilizadas para

as divulgações exigidas pelo pilar três desse acordo são consistentes e verazes. O

maior envolvimento por parte da alta administração das instituições busca incentivar

a melhoria dos sistemas de controles internos e o constante monitoramento dos

níveis de capital.

O Comitê da Basiléia, com o objetivo de auxiliar nesse processo de

supervisão e fiscalização bancária estabeleceu, em seu novo acordo de capitais,

quatro princípios chaves, que deverão ser observados em consonância com os

demais princípios divulgados pelo Comitê nos documentos Core Principles for

Effective Banking Supervision e Core Principles Methodology (BIS, 004, P.159).

Princípio 1: determina a necessidade das instituições financeiras

desenvolverem um processo de avaliação da adequação de

capital global em relação ao seu perfil de risco, buscando

estratégias que visem à manutenção dos níveis de capital em

patamares aceitáveis.

Page 28: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

28

Princípio 2: estabelece a necessidade dos órgãos fiscalizadores

avaliarem a adequação de capital das instituições e suas

estratégias para a manutenção de níveis adequados de capital,

tomando as medidas apropriadas caso não se satisfaçam com os

resultados obtidos.

Princípio 3: as autoridades de supervisão bancária devem

desenvolver formas de exigir ou encorajar os bancos a manterem

níveis de capital acima do mínimo requerido, caso esses não o

façam de forma voluntária.

Princípio 4: prevê a intervenção das autoridades de supervisão

bancária em estágios iniciais, oferecendo suporte e evitando a

manutenção de capital abaixo do mínimo requerido. Segundo

esse princípio, as autoridades devem, ainda, exigir que sejam

tomadas ações corretivas no caso dos níveis de capital não

serem mantidos ou recuperados.

Nesse contexto, verifica-se que o processo de supervisão bancária além

de garantir a adequação ao capital mínimo requerido pelo primeiro pilar, também

poderá auxiliar na aplicação do terceiro pilar, encorajando as instituições a

cumprirem com as recomendações de divulgação estabelecidas pelo pilar da

Disciplina de Mercado.

Page 29: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

29

2.3 Pilar 3 - Disciplina de Mercado

A evidenciação visa apresentar as informações quantitativas e qualitativas

que sejam essenciais para o entendimento por parte dos usuários das informações

contábeis (IUDÍCIBUS, 2000). Segundo Uema (2000), “o nível de evidenciação nos

diversos mercados é afetado principalmente por dois fatores: exigências legais e

exigências de mercado”.

As exigências legais referem-se às exigências de divulgação requeridas

pelos órgãos regulamentadores por meios dos dispositivos legais. No Brasil, o

Conselho Monetário Nacional – CMN é o órgão responsável pela normatização e o

Banco Central do Brasil – Bacen pela fiscalização das instituições financeiras e a

Comissão de Valores Mobiliários – CVM pela normatização e fiscalização das

instituições de capital aberto.

O segundo fator determinante para o nível de evidenciação das

instituições é a exigência de mercado, ou seja, as exigências que os participantes do

mercado fazem em termos de divulgação. Essas exigências variam de acordo com a

concorrência enfrentada pelas instituições e pelo nível de desenvolvimento dos

usuários das informações contábeis (UEMA, 2000).

A proposta do Comitê da Basiléia consiste em utilizar os dispositivos

legais como forma de garantir que as instituições divulguem informações quanto às

metodologias utilizadas para mensurar os riscos e o nível de capital requerido para

fazer frente a eventuais perdas decorrentes desses riscos, incentivando a disciplina

de mercado. A divulgação dessas informações dará subsídios aos participantes do

mercado para analisarem a real situação das instituições e exigirem que essas

Page 30: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

30

utilizem metodologias acuradas de cálculo de risco e políticas de gestão de riscos

eficientes.

No entanto, a quantidade excessiva de informações divulgadas pode

dificultar a compreensão por parte dos usuários das informações, levando ao não

atendimento do objetivo da disciplina de mercado. Com o intuito de evitar esse

problema, o comitê segregou as exigências de divulgação em principais e

complementares. As informações principais são fundamentais para o processo de

disciplina de mercado e deverão ser divulgadas por todas as instituições.

No caso das informações complementares, a necessidade de divulgação

dependerá do perfil de risco da instituição, adequação de capital e métodos

adotados para o cálculo da necessidade de capital. Devem ser observados, ainda,

fatores como (BIS, 2004, p. 176-177):

Materialidade – o Comitê não estabelece diretrizes quantitativas,

sendo as necessidades dos investidores fator determinante na

distinção do que é material;

Freqüência – o Novo Acordo de Capitais requer que a divulgação

seja trimestral para as informações que se tornem obsoletas

rapidamente e semestral para as demais informações, mas

também aceita que a divulgação seja feita anualmente no caso

das instituições menores que não possuam grandes alterações

em suas posições;

Informações Exclusivas e Confidenciais – apesar das

divulgações propostas irem além do que as instituições estariam

dispostas a fazer, o Comitê acredita que as evidenciações

Page 31: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

31

requeridas não ultrapassam o limite de proteção das informações

de propriedade exclusiva.

As instituições que não cumprirem com as exigências de divulgação

prevista pelo terceiro pilar do novo acordo estarão sujeitas a sansões que vão da

intervenção bancária leve, por intermédio de conversas entre os representantes do

órgão supervisor e a alta administração da entidade, à cobrança de multas. O tipo de

sansão aplicado dependerá da importância da informação omitida, podendo o órgão

supervisor proibir a utilização de metodologias mais avançadas de mensuração de

risco, caso a informação omitida represente umas das informações requeridas para

utilização de tal metodologia.

As exigências de informações a serem divulgadas podem constituir uma

das maiores barreiras a serem enfrentadas pelas instituições financeiras no intuito

de se adequarem ao novo acordo, visto que a maioria das informações exigidas pelo

Basiléia 2 não fazem parte do grupo das informações atualmente divulgadas ao

mercado (FERREIRA; ARAUJO, 2004). Além disso, a adaptação de sistemas e

processos para que esses capturem as informações com um padrão

adequadamente elevado e no nível de detalhamento exigido pelo acordo pode

representar um custo elevado para essas instituições.

Page 32: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

32

3 Risco Operacional

Risco é um conceito antigo, no entanto, por estar presente em todas as

operações do mercado financeiro continua na pauta das discussões mais atuais

desse setor. Os riscos podem ser definidos como a probabilidade de um evento

negativo ocorrer e são divididos em quatro grandes grupos: risco de crédito, risco de

mercado, risco legal e risco operacional.

Segundo Duarte Junior, “risco operacional está relacionado a possíveis

perdas como resultado de sistemas e/ou controles inadequados, falhas de

gerenciamento e erros humanos” e pode ser dividido em três subgrupos:

Risco organizacional – refere-se à probabilidade de perdas

decorrentes de uma gestão ineficiente, administração sem

objetivos definidos, problemas no fluxo de informações internas e

externas;

Risco de operações – refere-se à probabilidade de perdas

decorrentes de falhas operacionais, incapacidade de sistemas

computacionais e de telefonia ou, ainda, utilização de sistemas

falhos que possibilitam a ocorrência de fraudes e erros;

Risco de pessoal – refere-se à probabilidade de perdas

decorrentes da não capacitação dos funcionários.

A mensuração desses riscos aos quais as instituições financeiras estão

expostas é fundamental para a saúde do sistema financeiro e requer conhecimentos

Page 33: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

33

sobre a mecânica dos mercados de interesse, sistemas de informação e

computacionais confiáveis, além de sofisticação matemática.

3.1 A inclusão no novo Acordo

O Acordo emitido pelo Comitê da Basiléia em 1988 tinha como foco

principal o risco de crédito. A grande preocupação consistia em não emprestar para

tomadores que representassem risco para a instituição e, no caso de se optar pela

concessão do empréstimo, que a instituição se resguardasse por meio da

manutenção de capital. Após as crises ocorridas na década de 90, com a falência de

diversas instituições financeiras e o conseqüente impacto que isso provocou no

sistema financeiro, sentiu-se a necessidade de se preocupar não apenas com o risco

de crédito, mas também com o risco que uma gestão ineficiente pode ocasionar.

A preocupação deixou, então, de ser focada apenas no banco como uma

instituição individual e independente, passando a visar o sistema como um todo e o

impacto que a falência de um dos integrantes desse sistema pode ocasionar. Isso

fica claro com a inclusão do risco operacional no cálculo da exigência mínima de

capital no Novo Acordo de Capitais, o Basiléia 2.

Dessa forma, o comitê prevê nesse novo acordo, três formas de cálculo

para o risco operacional. O método de indicador básico é o mais simples de todos e

foi desenvolvido com o objetivo de atender as necessidades das instituições

menores, visando à aderência de um maior número de instituições ao Novo Acordo.

Já o método padronizado propõe uma forma mais apurada de cálculo.

Page 34: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

34

A divisão do resultado em linhas de negócio e aplicação do percentual de

acordo com o risco representado por cada linha visa abranger de forma mais

eficiente os riscos decorrentes das operações da instituição, podendo resultar em

uma exigência de capital maior do que o risco obtido pela aplicação do método de

indicador básico, dependendo do perfil da instituição no que tange a distribuição por

linha de negócio (Tabela 1, pág.24).

O Novo Acordo prevê ainda a possibilidade de utilização do método de

mensuração interna, método desenvolvido pela própria instituição adaptado a sua

realidade. A utilização desse método, no entanto, implica na obtenção de capital

intelectual com competência para desenvolver uma metodologia que seja capaz de

abranger um maior número de eventos passíveis de ocorrer, sem, no entanto, exigir

que a instituição mantenha níveis de capital superiores ao necessário, visto que a

imobilização do capital resulta em um menor grau de alavancagem e possível

diminuição dos resultados.

Com a proposta do novo acordo de permitir a utilização de metodologias

desenvolvidas pela própria instituição, sem, no entanto, perder o controle, uma vez

que essas metodologias terão que passar pela avaliação e aprovação dos órgãos

supervisores, o Comitê pretende manter no mercado apenas os profissionais

capazes de entender e operar dentro do sistema, mitigando os riscos operacionais

decorrentes da incapacidade da mão-de-obra.

Assim, verifica-se que as metodologias mais avançadas procuram

abranger um maior número de eventos passíveis de ocorrer, conseguindo mensurar

o risco de forma mais acurada e, por isso, podem resultar em uma exigência de

capital maior, dependendo de como essa metodologia seja desenvolvida e do perfil

da instituição.

Page 35: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

35

3.2 A complementaridade dos Pilares do Basiléia 2

Uma questão que se põe na discussão do Basiléia 2 é como conseguir

que as instituições financeiras utilizem métodos que sejam compatíveis com o seu

tamanho e representatividade dentro do sistema. Ou seja, como conciliar um maior

número de instituições utilizando os métodos de cálculos propostos de maneira que

as grandes corporações reconheçam o risco que elas representam para o sistema e

as pequenas não deixem de participar por ser oneroso manter essas metodologias.

A preocupação do Comitê em desenvolver um mecanismo capaz de

solucionar essa problemática de compatibilidade de incentivos, ou seja, instituições

de grande porte utilizem os métodos avançados e as de pequeno, o método básico,

está presente no novo acordo e fica evidente quando se observa a interação entre

os três pilares que fundamentam o acordo.

O Basiléia 2 propõe requisitos mínimos de divulgação às instituições, que

serão obrigadas a disponibilizar informações quanto à metodologia de cálculo

utilizada, perdas incorridas e exigência de capital, trazendo maior transparência ao

mercado e permitindo aos participantes avaliar os riscos incorridos por elas.

Dessa forma, o Comitê pretende incentivar a disciplina de mercado e, por

conseqüência, instituir um mecanismo onde as instituições irão revelar seu perfil de

risco garantindo que cada instituição integrante do sistema tenha o incentivo para

adotar a metodologia compatível com o seu porte.

A influência exercida pela disciplina de mercado poderá afetar ainda os

órgãos supervisores, uma vez que os participantes do mercado poderão exigir

desses órgãos que exerçam uma supervisão pró-ativa e eficiente.

Page 36: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

36

Compreendendo a importância do grau de transparência das informações

prestadas pelo banco para se chegar ao resultado esperado pelo Novo Acordo,

pode-se entender de que forma a supervisão bancária auxiliará esse processo. Os

órgãos supervisores terão a responsabilidade de garantir que as instituições

financeiras divulguem as informações exigidas, além de supervisionar a adequação

do requerimento mínimo calculado. Essa relação entre os três pilares do Novo

Acordo está ilustrada na figura 1.

PILAR 1 - REQUISITO MÍNIMO DE CAPITAL

PILAR 3 - DISCIPLINA DE MERCADO

PILAR 2 - SUPERVISÃO BANCÁRIA

Figura 1 – Relação entre os pilares do novo acordo de capitais – Basiléia 2.

Page 37: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

37

3.3 A Importância da inclusão do Risco Operacional

Se a virtude do Novo Acordo de Capitais está na inclusão do risco

operacional no cálculo da exigência mínima, será que essa inclusão não estaria

sendo feita com atraso? Para se verificar essa situação, pode-se comparar a

adequação do requerimento mínimo de capital pelo novo acordo e pelo acordo

vigente, ou seja, mantendo-se a metodologia de cálculo do Basiléia 1 para risco de

crédito e risco de mercado e utilizando a metodologia do Basiléia 2 para o cálculo do

risco operacional, a agregação do risco operacional a exigência mínima de capital

pelo Basiléia 1 pode resultar em três cenários.

No primeiro cenário, supõe-se que o capital requerido pelo Acordo de

1988, Basiléia 1, seja suficiente para cobrir as perdas decorrentes das atividades

das instituições financeiras. Nesse caso, a inserção do risco operacional aumentaria

o requerimento mínimo de capital e essa alteração viria penalizar as instituições,

causando a redução de seus resultados. Portanto, não seria necessário à época do

Basiléia 1, e o fato de o Basiléia 2 trazer o risco operacional pode está associada a

uma mudança no cálculo do risco de crédito.

No segundo cenário, supõe-se que o requerimento mínimo de capital

calculado pelo Acordo de 1988 não seja suficiente para cobrir as perdas ocorridas e

que a inclusão do risco operacional consiga cobrir essas perdas. A inclusão do risco

operacional e alterações na forma de cálculo do risco de crédito trazidas pelo

Basiléia 2 poderiam, então, ser suficientes para corrigir as falhas do antigo acordo,

abrangendo os riscos de forma mais completa. Dessa forma, o Novo Acordo de

Page 38: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

38

Capitais conseguiria atender as expectativas do Comitê da Basiléia trazendo mais

solidez e segurança para o sistema financeiro.

No terceiro e último cenário a ser analisado, considera-se a possibilidade

de que a soma do risco operacional a exigência mínima de capital calculada pelo

Basiléia 1 não seja suficiente para cobrir as perdas realizadas. Neste contexto, as

alterações trazidas pelo Novo Acordo de Capitais podem não ser efetivas para

corrigir as falhas do acordo anterior, evidenciando a necessidade das instituições

financeiras desenvolverem controles internos eficientes de forma a mitigar os riscos

aos quais estão expostas.

Portanto, para se verificar, em um caso concreto, a importância da

inclusão do risco operacional no cálculo da exigência mínima de capital será

realizado um estudo de caso no Conglomerado Banco do Brasil. Há que se ressaltar

que a análise será baseada nesses cenários propostos, ou seja, a comparação será

feita mantendo-se o cálculo do Basiléia 1 e somando a parcela referente ao risco

operacional pela metodologia proposta pelo Basiléia 2.

O intuito é verificar se o risco operacional já deveria ter sido incluído no

primeiro acordo. Dessa forma, os dados trabalhados serão os referentes a períodos

já encerrados e a intenção é tentar quantificar o grau de importância do risco

operacional na gestão da matriz de risco das instituições financeiras. Embora no

mercado financeiro essa não seja uma prática que deva nortear as ações, a análise

do passado pode trazer importantes lições para o futuro.

Page 39: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

39

3.4 A gestão dos riscos

Segundo o Comitê da Basiléia (BIS, 2001 a, p.120), “também devem ser

considerados outros meios para solucionar riscos, como o fortalecimento da

administração de riscos, a aplicação de limites internos e a melhoria de controles

internos” (grifo nosso). O aprimoramento das técnicas de administração de riscos é

essencial para mitigar os riscos aos quais a instituição está exposta, adequando o

capital mínimo exigido ao seu perfil de risco.

O desenvolvimento de um processo de administração de risco eficiente e

aprimoramento dos controles internos não é uma preocupação apenas do Comitê da

Basiléia. A emissão da Sarbanex-Oxley Act nos Estados Unidos, em 2002, e da

Resolução CMN 2.554, em 1998, já demonstravam uma preocupação com a

estrutura de controles internos das entidades. Essa preocupação fica clara no

parágrafo 1º. da Resolução CMN 2.554/98:

[...] Parágrafo 1º. Os controles internos, independentemente do porte da instituição, devem ser efetivos e consistentes com a natureza, complexidade e risco das operações por ela realizadas. [...]

No entanto, a grande inovação trazida por esses dispositivos está

retratada no parágrafo 2º dessa Resolução:

[...] Parágrafo 2º. São de responsabilidade da diretoria da instituição: I – a implantação e a implementação de uma estrutura de controles internos efetiva mediante a definição de atividades de controle para todos os níveis de negócios da instituição; II – o estabelecimento dos objetivos e procedimentos pertinentes aos mesmos; III – a verificação sistemática da adoção e do cumprimento dos procedimentos definidos em função do disposto no inciso II. (grifo nosso). [...]

Page 40: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

40

A responsabilização da alta administração pelos problemas decorrentes

das falhas dos controles internos das entidades reflete a necessidade de um maior

envolvimento dos responsáveis por dirigirem as entidades no processo de

administração de riscos.

A alta administração é responsável pelas decisões estratégicas de uma

entidade (MARCASSA, 2004). Essas decisões levam as entidades a assumirem

perfis de risco diferentes, podendo colocar estas em posições de maior ou menor

exposição aos riscos. A conscientização da alta administração quanto ao papel

fundamental que ela exerce no processo de administração de riscos é essencial para

o desenvolvimento de políticas de monitoramento de riscos eficiente e adequação do

requerimento mínimo de capital.

Nesse contexto, verifica-se a necessidade de se ter à frente das

instituições financeiras pessoas capazes de interpretar os números e tomar decisões

que não comprometam a solvência dessas instituições. O capital intelectual, mais

uma vez, demonstra ser peça fundamental para a segurança e solidez do sistema

financeiro.

Page 41: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

41

4 Estudo de Caso

O presente estudo de caso tem como objetivo analisar o impacto do risco

operacional, utilizando o método padronizado, no cálculo do requerimento mínimo de

capital (Basiléia 1) do Consolidado Banco do Brasil S.A. Atualmente, o

conglomerado financeiro Banco do Brasil é classificado, pelo Banco Central do

Brasil, como o maior consolidado do Sistema Financeiro Nacional em relação ao

Resultado Bruto da Intermediação Financeira.

O Banco do Brasil S.A. é uma companhia aberta de direito privado, regida

pela legislação das sociedades por ações, sendo as suas demonstrações financeiras

elaboradas de acordo com a Lei 6.404/76, observando ainda as instruções emitidas

pelo Banco Central do Brasil – Bacen e pela Comissão de Valores Mobiliários –

CVM.

O Consolidado do Banco do Brasil compreende as agências no país e no

exterior e as subsidiárias BB – Ag. Viena, BB Leasing Company Ltd. e Brazilian

American Merchant Bank – BAMB do exterior, e BB Leasing S.A. – Arrendamento

Mercantil, BB Administradora de Ativos – Distribuidora de Títulos e Valores

Mobiliários S.A., BB Banco de Investimentos S.A., Brasil Aconselhamento Financeiro

S.A. e BB Banco Popular do Brasil S.A., no país.

Serão analisados os requerimentos mínimos de capital dos últimos cinco

anos, anteriores a 31.12.2003. Para tanto, serão utilizadas as demonstrações

contábeis do Consolidado do Banco do Brasil referentes aos exercícios findos em

1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002 e 2003, incluindo as notas explicativas, posto

que para o cálculo da exigência de um ano é preciso os dois anteriores.

Page 42: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

42

4.1 Metodologia utilizada

De acordo com o Comitê da Basiléia (BIS, 2004, p.140), “the total capital

charge is calculated as the three-year average of the simple summation of the

regulatory capital charges across each of the business lines in each year”. O primeiro

passo, para fins de cálculo do requerimento mínimo de capital referente ao risco

operacional, utilizando o método padronizado, consiste, então, na segregação do

resultado bruto nas oito áreas de negócio previstas pelo Basiléia 2. A tabela 2

relaciona as áreas de negócio e os respectivos grupos de atividades.

Tabela 2 – Mapeamento das Áreas de Negócio

Áreas de Negócio Grupos de Atividades Finanças Corporativas Fusões e aquisições, subscrição, securitização,

pesquisas, dívidas patrimoniais (governo, rendimento elevado), equivalência patrimonial, associações, captações privadas secundárias.

Comércio e Vendas Renda fixa, equivalência patrimonial câmbio, commodities, crédito, captação, TVM – carteira própria, operações a termo, câmbio, corretagem, dívidas e corretagem primária.

Banco de Varejo Serviços bancários, operações de crédito e depósitos de varejo, fundos e imóveis e consultoria em investimentos.

Banco Comercial Operações de arrendamento mercantil, empréstimos, garantias, letras de câmbio, financiamento de projetos, financiamento imobiliário, financiamento a exportação, financiamento e factoring.

Pagamentos e Liquidações Transferência de fundos, pagamentos e cobranças, compensação e liquidação.

Serviços de Agência Custódia em garantia, Recibos de Depósitos, empréstimos por títulos (clientes) de operações corporativas, agentes de emissões e pagamentos.

Administração de Ativos Conjuntos, segregados, varejistas, institucionais, fechados, abertos, de capital privado.

Corretagem de Varejo Execução e serviços integrais. Fonte: Comitê da Basiléia sobre Fiscalização Bancária (BIS, 2004 p. 221, tradução nossa).

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43

O Resultado Bruto utilizado para realização do cálculo do risco

operacional foi o Resultado Bruto da Intermediação Financeira ajustado pelo

acréscimo das receitas de prestação de serviços e pela exclusão das receitas e

despesas de provisões para operações de crédito, conforme definição do Comitê da

Basiléia (BIS, 2004, p. 138).

Os ganhos e perdas na venda de títulos não foram excluídos do

Resultado Bruto, uma vez que as Demonstrações do Resultado do Exercício e as

Notas Explicativas divulgadas não possuem o nível de abertura necessário para

obtenção desses valores.

Como as notas explicativas do Banco do Brasil sofreram alterações ao

longo dos anos de análise, foi preciso utilizar métodos diversos a fim de segregar o

resultado bruto da intermediação financeira ajustado nas oito linhas de negócio

(Tabela 2). Destacam-se, a seguir, as contas da Demonstração do Resultado do

Exercício que compõem o Resultado Bruto da Intermediação Financeira Ajustado e a

metodologia utilizada em cada ano ou grupo de anos, para segregar os saldos das

respectivas contas.

4.1.1 Resultado de Operações de Crédito

O resultado de operações de crédito inclui, além das receitas decorrentes

dos juros das operações de crédito, as rendas decorrentes da recuperação de

créditos baixados como prejuízo e as rendas de créditos por avais e fianças

honrados (outros créditos com características de concessão de crédito).

Page 44: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

44

Com base no total da carteira de crédito segregada por setor de atividade,

efetuou-se o cálculo do percentual das operações de crédito pessoas físicas e

pessoas jurídicas, incluindo o setor público. O percentual encontrado foi aplicado no

resultado de operações de crédito, sendo a parcela referente às pessoas físicas

classificada na área Banco de Varejo e a outra parcela classificada na área Banco

Comercial.

Como as notas explicativas de 1997 a 1999 não apresentam a carteira de

crédito com a informação da parcela do setor privado correspondente a pessoas

físicas, estando a carteira segregada apenas por setor de atividade, foi aplicado o

mesmo percentual de 2000 (percentual referente à parcela de pessoa física em

relação ao setor privado). A estrutura da carteira de crédito do Banco do Brasil

mudou significativamente de 2000 a 2003, ocorrendo um aumento considerável nos

créditos concedidos ao setor público – pessoas jurídicas, por isso acredita-se ser a

carteira de 2000 uma proxy para a estrutura das carteiras de 1997 a 1999.

4.1.2 Resultado das Operações de Arrendamento Mercantil

O resultado das operações de arrendamento mercantil compreende as

receitas e despesas decorrentes das operações de leasing e, apesar de não ser

considerada uma atividade de banco comercial no Brasil, foi classificada nessa área,

conforme previsto pelo Comitê da Basiléia (BIS, 2004).

Page 45: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

45

4.1.3 Resultado das Operações com Títulos e Valores Mobiliários

Essa conta de resultado é composta pelos ganhos, perdas e rendas

originadas das operações com títulos e valores mobiliários, sendo o saldo

classificado na área Comércio e Vendas.

4.1.4 Resultado das Operações com Instrumentos Financeiros Derivativos

A conta em questão compreende as receitas e despesas decorrentes das

operações com derivativos e foi classificada em sua totalidade na área de Comércio

e Vendas, onde estão os grupos de atividades: commodities e operações a termo.

4.1.5 Resultado das Operações de Câmbio

O resultado das operações de câmbio inclui as receitas decorrentes de

adiantamento a contratos de câmbio, considerado um tipo de financiamento a

exportação, e por isso, foi segregado entre as áreas de Comércio e Vendas e Banco

Comercial.

A fim de segregar a parcela do resultado referente à conta adiantamento

sobre contrato de câmbio, calculou-se, com base nas informações constantes nas

notas explicativas, o percentual que essa conta representa no total da carteira de

câmbio (outros créditos e outras obrigações), considerando os valores absolutos. O

Page 46: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

46

percentual calculado foi aplicado no saldo do resultado das operações de câmbio,

sendo o valor encontrado classificado na área de Banco Comercial e o restante em

Comércio e Vendas.

4.1.6 Resultado das Aplicações Compulsórias

O resultado das aplicações compulsórias é composto pelas receitas

decorrentes dos depósitos compulsórios efetuados no Bacen e foi classificado na

área Banco Comercial.

4.1.7 Resultado das Operações de Captação no Mercado

O resultado das operações de captação no mercado inclui as despesas

decorrentes dos depósitos de pessoas físicas, depósitos de varejo, e, por isso, foi

segregado entre as áreas Comércio e Vendas e Banco de Varejo.

A fim de obter a parcela referente às despesas de depósitos de varejo, foi

calculada a média aritmética dos depósitos de poupança – pessoa física, com base

nas informações constantes nas notas explicativas, e ao resultado obtido, aplicou-se

a taxa anual de poupança2. O resultado decorrente desse cálculo foi classificado na

área de Banco de Varejo e a diferença entre o total do resultado das operações de

captação no mercado e esse valor foi classificado na área de Comércio e Vendas.

2 As taxas anuais de poupança foram obtidas da base Índices e Moedas disponível aos funcionários da PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes.

Page 47: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

47

As notas explicativas referentes ao exercício de 1997 não possuem as

informações dos depósitos de poupança segregados em pessoa física e jurídica.

Alternativamente, efetuou-se a apuração da média do percentual que os depósitos

de pessoa física representam no total de depósitos de poupança dos exercícios

seguintes e aplicou-se o percentual encontrado (96%) como uma proxy para as

informações constantes nas notas explicativas de 1997.

É importante ainda ressaltar que as despesas decorrentes de depósitos a

prazo não foram segregadas entre as áreas Banco de Varejo e Comércio e Vendas,

devido à dificuldade encontrada em obter as informações necessárias para tanto.

4.1.8 Resultado das Operações de Empréstimos e Repasses

O resultado das operações de empréstimos e repasses é constituído

pelas despesas decorrentes das obrigações por empréstimos, incluindo obrigações

em moeda estrangeira (câmbio), e repasses. O resultado em questão foi segregado

em duas parcelas, a parcela referente a câmbio, classificada na área de negócio

Comércio e Vendas, e a outra parcela, considerada um tipo de financiamento de

projeto, foi classificada na área de negócio Banco Comercial.

Com o objetivo de efetuar a segregação em questão, foram utilizadas as

informações constantes nas notas explicativas de Obrigações por Empréstimos e

Obrigações por Repasses. Com base nessas informações, o percentual que a

parcela referente a câmbio (moeda) representa no total foi calculado e aplicado no

saldo do resultado das operações de empréstimos e repasses.

Page 48: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

48

Como as notas explicativas referentes às demonstrações financeiras de

1997 a 2001 não possuem essa informação aberta, foram utilizadas as informações

constantes no balanço patrimonial consolidado, considerando o saldo dos

empréstimos em moeda estrangeira – curto prazo como uma proxy para a parcela

referente a câmbio (moeda).

4.1.9 Receitas de Prestação de Serviços

A conta em questão abrange todas as receitas decorrentes da prestação

de serviços. A fim de segregar o saldo dessa contas nas oito linhas de negócios

previstas pelo Basiléia 2, foram utilizadas as informações constantes nas notas

explicativas do Banco do Brasil S.A.

Os valores referentes à administração de fundos de Investimento,

administração de Pasep, comissão pela administração do FCO e comissão sobre a

administração de dívidas do setor público foram classificados na linha de

Administração de Ativos. Já as receitas decorrentes de cobrança, transferência de

fundos e serviços de compensação de cheques e outros papéis foram classificadas

na linha de Pagamentos e Liquidações. Por fim, as receitas de garantias prestadas,

serviços prestados a ligadas e serviços de comércio exterior foram classificadas na

linha de Banco Comercial, sendo as demais receitas classificadas na linha de Banco

de Varejo.

Como as notas explicativas referentes às demonstrações financeiras de

1997 e 1998 não possuem o saldo das receitas de prestações de serviços aberto,

utilizou-se a média aritmética dos percentuais dos demais anos como uma proxy.

Page 49: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

49

4.2 Cálculo do Requerimento Mínimo de Capital

Depois de efetuada a segregação do resultado bruto da intermediação

financeira ajustando nas oito linhas de negócios, calculou-se o requerimento mínimo

de capital para o risco operacional dos últimos cinco anos, aplicando a fórmula 2.3,

aqui transcrita:

( )[ ] 3/0,max31

8181

×= ∑ ∑−

−−anos

RBK β (2.3)

Os resultados negativos decorrentes do somatório da aplicação dos

fatores ß às respectivas linhas de negócio, em um determinado ano, foram

desconsiderados, conforme destacado no Novo Acordo de Capitais:

[…] 654. […] In any given year negative capital charges (resulting from negative gross income) in any business lines may offset positive capital charges in other business lines without limit. However, where the aggregate capital charge across all business lines within a given year is negative, then the input to the numerator for that year will be zero. (BIS, 2004, p.140) […]

A tabela 3 traz os resultados obtidos aplicando-se a formula 2.3 e

levando-se em conta a metodologia apresentada.

Tabela 3 – Requerimento Mínimo de Capital para o Risco Operacional do BB (saldos em R$ mil)

Exercício Requerimento Mínimo de Capital Risco Operacional

1999 1.359.592

2000 1.458.095

2001 1.360.849

2002 1.559.981

2003 2.053.652

Page 50: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

50

4.3 Análise dos Resultados

Por meio da análise dos dados obtidos, verifica-se que a inclusão do risco

operacional, pelo método padronizado, no cálculo do requerimento mínimo de capital

feito pelo Basiléia 1 ocasionaria um impacto significativo na exigência de capital do

Conglomerado Banco do Brasil, chegando esse acréscimo a 16% no exercício de

1999. A tabela 4 mostra o percentual para cada ano que essa inclusão provocaria no

período analisado.

Tabela 4 – Impacto da Inclusão do Risco Operacional na Exigência de Capital (saldos em R$ mil)

Exercício Exigência de Capital Acordo de 1988

Exigência de Capital Risco Operacional % Acréscimo

1999 8.551.700 1.359.592 16%

2000 9.802.489 1.458.095 15%

2001 10.471.089 1.360.849 13%

2002 12.023.862 1.559.981 13%

2003 13.771.687 2.053.652 15%

Assim, caso a metodologia de cálculo do risco operacional tivesse sido

apresentada no primeiro acordo (Basiléia 1), o Conglomerado Banco do Brasil teria

uma exigência de capital 14% superior, em média. É preciso verificar se essa

inclusão seria necessária. Para tanto, inicialmente, comparou-se às perdas

reconhecidas pelo Banco do Brasil como sendo decorrentes de fatores operacionais

com o montante calculado, pelo Basiléia 2, para o risco operacional.

Há que se ressaltar que o risco operacional está presente em todas as

operações da instituição, existindo uma parcela desse risco embutida tanto nos

riscos de crédito como nos riscos de mercado, posto que, caso haja um

Page 51: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

51

inadimplemento em uma operação de crédito, por exemplo, esta pode ser fruto tanto

da incapacidade do tomador em honrar seus compromissos, mas também da falha

dos mecanismos de avaliação do tomador e da decisão de se emprestar.

As perdas operacionais consideradas para efeito de comparação foram às

perdas resultantes de falhas e fraudes e decorrentes de assaltos e arrombamentos.

Foram incluídas, ainda, as perdas decorrentes de demandas judiciais, uma vez que,

no conceito do Comitê da Basiléia o risco legal está inserido no conceito de risco

operacional.

Como o Banco do Brasil não apresenta o valor das perdas decorrentes

das demandas judiciais de forma analítica na Demonstração do Resultado do

Exercício, considerou-se a provisão efetuada no exercício como uma proxy dessas

perdas. A comparação efetuada está ilustrada na figura 2.

-

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

em R

$ m

il

Perdas Operacionais Divulgadas

848.683 1.160.704 1.902.916 2.433.490 2.474.195

Exigência de Capital Risco Operacional

1.359.592 1.458.095 1.360.849 1.559.981 2.053.652

1999 2000 2001 2002 2003

Figura 2 – Comparação entre as perdas incorridas e a exigência de capital – Risco Operacional

Page 52: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

52

Por meio da análise do gráfico, pode-se verificar que a exigência de

capital para o risco operacional calculada com base no método padronizado

proposto pelo Basiléia 2 não seria suficiente para cobrir as perdas incorridas nos

últimos três anos no Conglomerado Banco do Brasil. Por outro lado, nos anos de

1999 e 2000, a exigência mínima foi suficiente para arcar com as perdas incorridas.

No entanto, para se constatar a necessidade de utilização de

metodologias mais avançadas por parte do Banco do Brasil, faz-se necessária à

análise do requerimento mínimo de capital de forma global, comparando a exigência

de capital pelo Acordo de 1988 e a exigência de capital considerando a inclusão do

risco operacional, com o total das perdas incorridas.

Como visto ao longo do trabalho, a exigência de capital representa a

parcela de capital mantida de forma a garantir a liquidez das instituições financeiras

frente às perdas decorrentes dos riscos inerentes as suas atividades. O total das

exigências deve corresponder a no mínimo o valor das perdas incorridas. A

comparação efetuada baseou-se, então, na fórmula 4.1 a seguir:

∑= CapitaldeExigênciaIncorridasPerdas ___$ (4.1)

Para se chegar ao valor das perdas incorridas no exercício, foi preciso

efetuar algumas considerações, uma vez que nem todas as perdas estão retratadas

de forma direta nas notas explicativas do Banco do Brasil. O valor das perdas

utilizado para fins de comparação corresponde, então, ao valor das perdas

operacionais anteriormente descritas somadas aos valores das perdas decorrentes

da marcação a mercado dos títulos e valores mobiliários e instrumentos financeiros

derivativos registradas no resultado do Banco (decorrentes da variação cambial

negativa) e da despesa de provisão para operações de crédito (valor que inclui as

Page 53: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

53

despesas de provisão tanto das operações de crédito como das operações de outros

créditos com características de concessão de crédito e de arrendamento mercantil).

Consideram-se, ainda, os valores das perdas não realizadas decorrentes

da marcação a mercado dos títulos e valores mobiliários e, para os exercícios de

1999, 2000 e 2001, os valores das provisões para desvalorização de títulos e

derivativos, visto que nessa época as instituições ainda não utilizavam o

procedimento de marcação a mercado. A tabela 5 demonstra os valores das perdas

incorridas no período de 1999 a 2003:

Tabela 5 – Perdas Incorridas no Banco do Brasil (saldos em R$ mil)

Exercício Perdas Incorridas no Conglomerado Banco do Brasil

1999 7.382.366

2000 2.751.021

2001 6.391.154

2002 7.755.132

2003 5.447.211

Após a realização do cálculo das perdas incorridas pelo Banco do Brasil

nos últimos cinco anos, efetuou-se a comparação com o valor da exigência de

capital pelo Acordo de 1988.

Page 54: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

54

-

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

12.000.000

14.000.000

16.000.000em

R$

mil

∑ Exigência de Capital 8.551.700 9.802.489 10.471.089 12.023.862 13.771.687

$ Perdas 7.382.366 2.751.021 6.391.154 7.755.132 5.447.211

1999 2000 2001 2002 2003

Figura 3 – Comparação entre as perdas incorridas e a exigência de capital pelo Acordo de 1988

A figura 3 demonstra uma grande discrepância entre a exigência de

capital e as perdas divulgadas pelo Banco do Brasil. Essa discrepância observada

pode ser fruto de duas situações distintas.

Na primeira, pode ter ocorrido uma subestimação das perdas divulgadas

pelo Banco do Brasil. Para se ter uma proxy mais acurada, as perdas divulgadas

poderiam, além das perdas efetivas, trazer a mensuração do custo de oportunidade,

ou seja, o valor que a instituição deixou de ganhar com a ocorrência dessas perdas.

Na segunda situação, pode ser que a exigência de capital esteja

superestimada. Nesse caso, os percentuais propostos pelo Comitê da Basiléia não

estariam retratando a realidade das perdas ocorridas no Banco do Brasil, estando a

exigência de capital acima do necessário para cobrir essas perdas.

Nesse contexto, a inclusão do risco operacional não se faz necessária,

uma vez que a exigência de capital pelo Acordo de 1988 se demonstra suficiente

para cobrir inclusive as perdas operacionais. A inclusão da exigência de capital para

Page 55: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

55

o risco operacional proposta pelo Novo Acordo de Capitais, o Basiléia 2, poderia

aumentar o gap existente entre a exigência e as perdas, conforme demonstrado pela

figura 4 diminuindo a margem de capital disponível sem haver a necessidade para

tanto.

-

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

12.000.000

14.000.000

16.000.000

18.000.000

em R

$ m

il

∑ Exigência de Capital + RO 9.911.292 11.260.584 11.831.938 13.583.843 15.825.339

$ Perdas 7.382.366 2.751.021 6.391.154 7.755.132 5.447.211

1999 2000 2001 2002 2003

Figura 4 – Comparação entre as perdas incorridas e a exigência de capital considerando a inclusão

do risco operacional

Page 56: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

56

5 Considerações Finais

O Novo Acordo de Capitais, previsto para entrar em vigor em 2006, traz à

reflexão uma nova metodologia de análise dos riscos envolvidos na atividade

bancária. Calcado em três pilares que atuam de forma complementar, buscando o

equilíbrio do sistema financeiro. O Basiléia 2 visa atualizar as práticas vigentes no

mercado a fim de se mitigar os riscos e garantir a manutenção e o fortalecimento das

instituições financeiras.

O que vem chamando a atenção dos profissionais da área financeira é a

inclusão do Risco Operacional no cálculo da Exigência Mínima de Capital trazida

pelo novo acordo. Com o intuito de englobar o maior número de instituições, sem

com isso perder a essência desse acordo, qual seja, a solidez e o crescimento do

sistema financeiro mundial, são apresentadas três formas de se calcular o risco

operacional.

Falar em risco operacional é mencionar qual a adequação dos controles

internos dentro de uma empresa, posto que, esse risco decorre das práticas, dos

sistemas e das pessoas que compõem as entidades. Mensurar o risco operacional

significa mensurar quanto uma pessoa mal instruída ou um sistema mal

dimensionado gera de perda para entidade.

No entanto, simplesmente saber que a empresa está sujeita a perdas e

manter uma parcela de capital para arcar com essas perdas, quando as mesmas se

realizarem, não pode ser a postura adotada pelas entidades. Além da quantificação,

é preciso estabelecer mecanismos que possam mitigar os riscos, isto é, que sejam

capazes de reduzir as probabilidades das perdas se concretizarem.

Page 57: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

57

Tomando-se como base à análise feita sob os dados do Conglomerado

Banco do Brasil disponíveis em suas Demonstrações Financeiras pode-se inferir que

há a necessidade de se estabelecer mecanismos de reconhecimento dos riscos

operacionais, não só as perdas realizadas, mas também o custo de oportunidade e

as parcelas embutidas no risco de crédito e de mercado.

Embora não fique claro que com a implementação do Basiléia 2 a

inclusão do risco operacional no cálculo da exigência mínima de capital vem

corroborar a necessidade do Conglomerado Banco do Brasil S.A. aprimorar seus

controles internos a fim de se estabelecer mecanismos efetivos para a gestão dos

riscos e sua conseqüente mitigação - hipótese levantada nesse trabalho - os

resultados obtidos nos últimos anos indicam que talvez este seja o caminho a ser

seguido.

A não abertura das informações de forma satisfatória pode ser uma das

justificativas do porquê a hipótese não tenha sido comprovada, tampouco refutada.

A falta de informações divulgadas pelo Banco do Brasil dificultou o reconhecimento

das perdas incorridas e a análise dos cenários propostos. Torna-se evidente a

necessidade de melhoria das informações divulgadas, permitindo a análise do perfil

de risco da instituição e a prática da disciplina de mercado proposta pelo pilar 3

desse novo acordo.

Fica evidente que essa é uma temática que precisa ser melhor trabalhada

e que ainda há várias questões a serem respondidas, como por exemplo: de que

forma a contabilidade bancária irá evidenciar as perdas operacionais? Como alinhar

a gestão de controle interno com a gestão dos riscos sem perder o foco nos

negócios das empresas?

Page 58: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

58

Referências

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Page 59: O Cálculo do Risco Operacional pelo Método Padronizado proposto

59

_______________. O Método Padronizado para Risco de Crédito. Produzido por membros do Comitê da Basiléia. Tradução Ernest & Young do Brasil em colaboração com a Febraban. 2001. (BIS, 2001 e). _______________. Pilar 2 (Processo de Revisão de Fiscalização). Produzido por membros do Comitê da Basiléia. Tradução Ernest & Young do Brasil em colaboração com a Febraban. 2001. (BIS, 2001 f). _______________. Pilar 3 (Disciplina de Mercado). Produzido por membros do Comitê da Basiléia. Tradução Ernest & Young do Brasil em colaboração com a Febraban. 2001. (BIS, 2001 g). BOECHAT, D.; BERTOLOSSI, F. M. Basiléia II - uma avaliação do impacto das novas regras nas regulações vigentes e captações externas. Disponível em: <http://www.andima.com.br>. Acesso em: 29 set. 2004. BRASIL. Conselho Monetário Nacional. Resolução 2.554, de 24 de setembro de 1998. Dispõe sobre a implantação de sistema de controles internos. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2004. BRASIL. Conselho Monetário Nacional. Resolução 2.682, de 22 de dezembro de 1999. Dispõe sobre critérios de classificação das operações de crédito e regras para constituição de provisão para créditos de liquidação duvidosa. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2004. CHIANAMEA, D. R.; ONISHI, N. S. Risco operacional nos bancos brasileiros: impacto do uso da abordagem de indicador básico. In: SEMANA DE CONTABILIDADE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, 10., 2004, Brasília. Anais eletrônicos. Brasília, 2004. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 10 jan. 2005. DUARTE JUNIOR, A. M. Risco: Definições, Tipos, Medição e Recomendações para seu Gerenciamento. Disponível em: <http://www.risktech.com.br/>. Acesso em: 23 dez. 2004. DUARTE JUNIOR, A. M. et al. Gerenciamento de Riscos Corporativos: Classificação, Definições e Exemplos. Disponível em: <http://www.risktech.com.br/>. Acesso em: 23 dez. 2004.

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60

FERREIRA, C. A. A.; ARAÚJO, E. D. Disclosure em instituições financeiras: uma análise comparativa entre Basiléia II e a prática brasileira. In: SEMANA DE CONTABILIDADE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, 9., 2000, Brasília. Anais eletrônicos. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2004. GARCIA, M. G. P. Regulação e supervisão bancária no Brasil: algumas reflexões. Rio de Janeiro: PUC. Departamento de Economia, 1995. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 330p. MARCASSA, A. C. Mecanismos de governança corporativa em bancos. In: SEMANA DE CONTABILIDADE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, 9., 2000, Brasília. Anais eletrônicos. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2004. SANTOS, S. M.; FERREIRA, J. A. Atuação da Auditoria Interna com foco em riscos. In: FORUM ESTADUAL DE AUDITORIA, 3.; SEMINÁRIO REGIONAL DE AUDITORIA E CONTROLADORIA, 1., 2003, Fortaleza. Anais. Fortaleza, 2003. UEMA, R. K. Disclosure: fundamental para transparência no sistema financeiro – recomendações internacionais. In: SEMANA DE CONTABILIDADE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, 9., 2000, Brasília. Anais eletrônicos. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2004. XAVIER, P. H. M. Transparência das Demonstrações Contábeis dos Bancos no Brasil: Estudo de Caso sob a Perspectiva do Acordo “Basiléia 2”. In: SEMANA DE CONTABILIDADE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, 9., 2000, Brasília. Anais eletrônicos. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2004.

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61

Glossário

Capital Intelectual – “materialização da aplicação do conhecimento mais tecnologias

disponíveis, empregadas para atuar num ambiente globalizado, produzindo

benefícios intangíveis que agregam valor às organizações” (ANTUNES, 2000).

Hedge – operação feita para diminuir a exposição da instituição aos riscos de

mercado.

Rating – classificação de risco de crédito.

Risco de Crédito3 – medida numérica da incerteza relacionada ao recebimento de

um valor contratado/compromissado, a ser pago por um tomador de um empréstimo,

contraparte de um contrato ou emissor de um título, descontadas as expectativas de

recuperação e realização de garantias.

Risco Legal3 – medida numérica da incerteza dos retornos de uma instituição caso

seus contratos não possam ser legalmente amparados por falta de

representatividade por parte de um negociador, por documentação insuficiente,

insolvência ou ilegalidade.

Risco de Mercado3 – medida numérica da incerteza relacionada aos retornos

esperados de um investimento, em decorrência de variações em fatores como taxas

de juros, taxas de câmbio, preços de ações e commodities.

Risco Operacional3 - medida numérica da incerteza dos retornos de uma instituição

caso seus sistemas, práticas e medidas de controle não sejam capazes de resistir a

falhas humanas, danos a infra-estrutura de suporte, utilização indevida de modelos

matemáticos ou produtos, alterações no ambiente dos negócios, ou a situações

adversas de mercado. 3 Conceitos retirados de DUARTE JUNIOR, A. M. et al. Gerenciamento de Riscos Corporativos: Classificação, Definições e Exemplos. Disponível em: <http://www.risktech.com.br/>. Acesso em: 23 dez. 2004.