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o Carvalho Da Floresta

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Page 1: o Carvalho Da Floresta

O CARVALHO DA FLORESTA

Havia na floresta um roble cheio de anos,

Vestido de hera anciã, decano entre os decanos

Dos bosques do arredor. Raízes colossais

Prendiam-no à terra; ao ar descomunais Os braços elevava, e ao vê-lo assim dir-se-ia

Que aos outros vegetais as bênçãos estendia.

Velho, e ainda a Primavera o vinha requestar;

O Outono desfolhava-o em último lugar;

Opunha ao sol do Estio a fronde espessa e bela; Respeitava-o no Inverno o raio da procela.

Viu passar gerações após de gerações

Em risos e em choro, em festas e orações;

Viu crianças pedir-lhe a sombra grata e amena

Que, amantes ao depois, naquela mesma cena

Viu a falar d'amor, e no seu tronco abrir

Duas iniciais que liam a sorrir;

E mais tarde ainda os vira, velhos, encanecidos,

Pedir-lhe em vão alento aos lânguidos sentidos,

A repousar ali. A coma erguida ao céu,

De longe se mostrava envolta ainda no véu

De névoas da distância. Ao regressar à aldeia,

Ansiava o lavrador por avistá-lo, e a ideia

De tudo quanto amava o vinha comover:

Do lar, do velho pai, dos filhos, da mulher.

Que olhos de tanto amor, de penas e esperanças

Lhe enviavam também saudosas as crianças Ao deixarem a casa, a Pátria, irmãos e mãe.

Indo tentar porvir por esse mundo além!

Em que tempo nascera esta árvore gigante?

Que época viu crescer o arbusto vacilante,

Curvando-se por terra a cada viração,

Page 2: o Carvalho Da Floresta

Esse que já nem teme ameaças do vulcão?

Quem o pode dizer? Nas trevas se envolvia A infância do colosso. E quando acabaria? Que audaz raio do céu, que convulsão fatal Por terra lançará o enorme vegetal?

Mas, ai, o que a tormenta e o tempo não consomem

Muitas vezes destrói a ousada mão do homem; Em vão a tempestade incólume o deixou:

O golpe do machado um dia o derrubou,

E ao braço do homem cai, dos homens o amigo.

Ouvi a narração do caso, que eu prossigo.

É pela madrugada! hora que a amar induz;

Tudo é verdura o campo, o céu é todo luz.

O roble colossal no tronco encarquilhado

Sente a seiva girar. Das aves o trinado

Se ouve na espessa copa, e ao festival clamor Respondem num sorriso a borboleta e a flor.

Como um velho entretido a ouvir cantar os netos,

Que lhe passam nas cãs os dedos desinquietos,

Assim ele também, vulto austero e senil,

Se compraz a escutar a música d'Abril,

Os trinos e o bater das asas da folhagem, A turba jovial, da infância alada imagem.