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6 O Código Visual Gráfico O capítulo anterior se encarregou de apresentar e discutir o processo de comunicação da informação como um todo. Nele, viu-se que a tarefa cognitiva que as pessoas desempenham para obter as informações transportadas pelos sinais físicos – sons, grafismos, gestos etc. – é chamada de decodificação. Como o objeto de estudo da presente pesquisa é a interação das pessoas com os infográficos na tarefa de decodificação da informação contidas nestes, faz-se necessário um exame minucioso do código visual gráfico, para que se possa entender como os sinais gráficos se articulam para compor signos gráficos e mensagens visuais. Esta é a proposta do presente capítulo. 6.1. Caracterização do Código Visual Gráfico Conforme discutido no capítulo anterior, os códigos são compostos por signos e cada código possui seu próprio conjunto de signos e de normas de regulação destes signos. Sendo assim, o que caracteriza primordialmente um código visual é a natureza de seus signos que, como seu próprio nome indica, são captados através dos órgãos sensoriais da visão – os olhos – e interpretados através do subseqüente processamento dos estímulos luminosos pelo cérebro. O que os olhos captam é, na verdade, apenas um dos elementos correlatos do signo visual: seu representamen ou aspecto perceptível. Deste modo, a característica principal de um signo pertencente a um código visual é ter como representamen sinais físicos passíveis de serem percebidos pela visão. Estes sinais físicos podem ser gestos feitos com as mãos, expressões faciais, letras impressas numa folha de papel ou sulcos feitos na areia, por exemplo. No caso do presente estudo, interessam apenas os signos captados pela visão que são expressos por meio de sinais feitos sobre superfícies. A este tipo de signo é atribuído o nome de

O código visual gráfico

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  • 6 O Cdigo Visual Grfico

    O captulo anterior se encarregou de apresentar e discutir o processo de comunicao da informao como um todo. Nele, viu-se que a tarefa cognitiva que as pessoas desempenham para obter as informaes transportadas pelos sinais fsicos sons, grafismos, gestos etc. chamada de decodificao. Como o objeto de estudo da presente pesquisa a interao das pessoas com os infogrficos na tarefa de decodificao da informao contidas nestes, faz-se necessrio um exame minucioso do cdigo visual grfico, para que se possa entender como os sinais grficos se articulam para compor signos grficos e mensagens visuais. Esta a proposta do presente captulo.

    6.1. Caracterizao do Cdigo Visual Grfico

    Conforme discutido no captulo anterior, os cdigos so compostos por signos e cada cdigo possui seu prprio conjunto de signos e de normas de regulao destes signos. Sendo assim, o que caracteriza primordialmente um cdigo visual a natureza de seus signos que, como seu prprio nome indica, so captados atravs dos rgos sensoriais da viso os olhos e interpretados atravs do subseqente processamento dos estmulos luminosos pelo crebro.

    O que os olhos captam , na verdade, apenas um dos elementos correlatos do signo visual: seu representamen ou aspecto perceptvel. Deste modo, a caracterstica principal de um signo pertencente a um cdigo visual ter como representamen sinais fsicos passveis de serem percebidos pela viso. Estes sinais fsicos podem ser gestos feitos com as mos, expresses faciais, letras impressas numa folha de papel ou sulcos feitos na areia, por exemplo. No caso do presente estudo, interessam apenas os signos captados pela viso que so expressos por meio de sinais feitos sobre superfcies. A este tipo de signo atribudo o nome de

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  • O Cdigo Visual Grfico 152

    signo visual grfico, ou simplesmente signo grfico. Signos visuais grficos

    devem ser entendidos como signos cujo representamen so sinais produzidos pelas pessoas mo ou por meio de mquinas sobre uma superfcie de qualquer espcie (pedra, barro, madeira, papiro, casca de rvore, pergaminho, papel, parede etc.). Por esta razo, sinais, que embora captados pela viso, como os gestos e expresses faciais, no sero abordados em profundidade aqui, sendo tratados como signos visuais no-grficos apenas em contraposio aos signos visuais grficos.

    No entanto, antes de prosseguir a discusso, vlido que se faa um adendo. importante esclarecer que o termo sinal empregado de diversas maneiras nos estudos semiticos, significando em alguns casos o representamen do signo, em outros um estmulo fsico (a corporificao material do signo) ou, ainda, uma espcie elementar de signo, caracterizado por ter seu desenho constitudo de formas bsicas (setas, crculos, quadrados, tringulos). Para o presente estudo, reservou-se a nomenclatura sinal para os traos materiais que compem os

    representamens dos signos visuais grficos. Feito o adendo e concluindo-se em cima do que foi exposto at o momento,

    pode-se dizer que h mais de um tipo de cdigo visual: os visuais grficos e os visuais no-grficos. O que todos os cdigos visuais tm em comum que todos operam no canal da viso. Em oposio aos cdigos visuais, existem os cdigos auditivos, entre os quais se destacam a fala e a msica, cujo canal a audio e os cdigos tteis, como o Braile, que tem como canal o tato. Um aspecto importante a ser ressaltado que o cdigo auditivo da fala possui um cdigo visual grfico que lhe equivale: a escrita. Em decorrncia disso, os signos lingsticos manifestam-se de dois modos: um grfico, a palavra escrita, e um auditivo, a palavra falada.

    No cdigo visual grfico so utilizados signos provenientes dos cdigos lingsticos (as letras, as palavras, as pontuaes), signos pictricos (desenhos representacionais) e signos esquemticos (que no so nem palavras, nem algarismos, nem figuras). Conforme TWYMAN (1985, p. 247), a linguagem grfica pode ser subdividida em trs categorias: verbal, pictrica, e esquemtica. Sendo assim, para o cdigo visual grfico a elaborao das mensagens pode se dar de maneira verbal (escrita), pictrica (imagem) ou esquemtica (diagramas), ou, ento, nas possveis combinaes destes trs modos. O cdigo visual grfico

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    empregado para a composio dos infogrficos em meio impresso costuma utilizar uma confluncia destas trs categorias visando a empregar as vantagens inerentes de cada uma para comunicar a informao de maneira mais clara, dinmica e completa.

    O que se percebe na subdiviso do cdigo visual grfico em trs categorias que cada uma delimita um nvel de iconicidade dos signos grficos. O modo verbal contm as palavras escritas, circunscrevendo, desta forma, os signos mais simblicos e, portanto, menos icnicos. O modo pictrico abrange as imagens, tais como desenhos e fotografias e contm, desta maneira, os signos mais icnicos. J no modo esquemtico esto os signos icnicos diagramticos e os signos indiciais, revelando um nvel intermedirio de iconicidade. Naturalmente, as fronteiras entre estas categorias so tnues e se sobrepem, o que torna infrutfero querer classificar um signo grfico em apenas uma delas. Como foi explicado no captulo anterior, os signos mais complexos, tais como os smbolos, englobam graus de iconicidade e indexicalidade. O objetivo da classificao evidenciar as particularidades do cdigo visual grfico, que ocorre no canal da viso e acomoda os modos verbal, pictrico e esquemtico, que, por sua vez, indicam os diferentes nveis de iconicidade presentes em seus signos.

    6.2. Os Sinais Grficos

    Conforme exposto anteriormente, de acordo com o modo, o signo visual grfico pode ser verbal, pictrico ou esquemtico. Qualquer que seja sua categoria, o signo grfico tem como caracterstica principal o fato de ter seu representamen composto a partir de sinais grficos. Os sinais grficos so aqueles que se materializam nas superfcies, gerando impresses ou gravaes sobre estas, e cuja corporificao pode se dar por adio ou subtrao de material. Exemplo do primeiro caso a tinta adicionada ao papel, e exemplo do segundo a escavao de sulcos na madeira.

    Os sinais grficos podem ser entendidos, portanto, como marcas ou vestgios deixados na superfcie e correspondem a grafismos, tais como: pontos, linhas, traos, cinzeladas, pinceladas e coisas do tipo. Dentro do cdigo visual

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    grfico estes grafismos podem ser considerados elementos sgnicos da segunda articulao, as chamadas figuras ou componentes sgnicos, conforme exposto no captulo anterior. Como visto, os componentes sgnicos so unidades distinguveis que formam os signos, mas que no possuem, a princpio, significado dentro destes. Porm, mais adiante ser mostrado que os sinais grficos possuem valores semnticos inerentes, que em um maior ou menor grau afetam o significado do signo grfico que ajudam a conformar.

    Tendo isso em vista, o que se prope para o momento uma identificao e discusso dos sinais grficos elementares e suas gradaes de valor semntico, para que se verifique tanto a maneira como eles conformam os signos grficos

    quanto o modo como influem em seus significados. Antes disso, entretanto, pertinente mencionar que vrios autores buscaram estabelecer quais seriam os componentes sgnicos do cdigo visual grfico. O presente trabalho se baseia principalmente nas idias de Fayga Ostrower (1983), Adrian Frutiger (2007), Donis A. Dondis (1997) e Jacques Bertin (1977) a fim de estabelecer uma sntese que colabore para um entendimento satisfatrio do cdigo visual grfico.

    OSTROWER (1983, p. 65) e DONDIS (1997, p. 51) procuraram identificar os elementos visuais de uma suposta linguagem visual. A primeira autora os definiu como cinco: a linha, a superfcie, o volume, a luz e a cor. A segunda identificou dez: o ponto, a linha, a forma, a direo, o tom, a cor, a textura, a dimenso, a escala e o movimento. FRUTIGER (2007), por sua vez, estudou a fundo os sinais e smbolos grficos para entender como eles so construdos e como transmitem significados. O autor estabeleceu como elementos grficos fundamentais o ponto e a linha, que geram um terceiro elemento: a superfcie. Estes trs elementos, segundo o autor, compem as imagens que variam em forma e em aspecto de acordo com o tipo de trao, as cores e os meios-tons. J BERTIN (1977, p. 187), desenvolveu uma semiologia grfica fundamentada em componentes de duas naturezas: as variveis de imagem e as variveis de separao (figura 12). As variveis grficas de imagem so a localizao no plano, o tamanho e o valor de tonalidade. As variveis grficas de separao so a textura, a cor, a direo e a forma.

    No cabe ao presente estudo discutir exaustivamente a concepo de cada um dos autores citados acima e, sim, propor uma sntese ampla do que seriam os sinais grficos elementares, estabelecida a partir do estudo de suas idias. Como a

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    semiologia grfica de BERTIN (1977) foi desenvolvida justamente para dar conta da questo da representao visual da informao estatstica, ela se adqua bem aos objetivos desta pesquisa e servir como eixo conceitual para a sntese a ser apresentada nos prximos pargrafos.

    Figura 12 Variveis grficas de Jacques Bertin (1977).

    Sintetizando-se as concepes dos autores supracitados, pode-se dizer que os sinais grficos elementares so o ponto, a linha e a superfcie. Pontos, linhas e

    superfcies variam de valor em funo de suas gradaes de forma, de localizao, de direo, de tamanho, de tonalidade, de cor e de textura. Tais sinais grficos elementares, atravs de suas variaes e agrupamentos, compem os representamens dos signos visuais grficos e conformam, segundo DONDIS (1997, p. 51), a matria-prima de toda informao visual em termos de opes e combinaes seletivas. Ou seja: em toda mensagem visual grfica possvel se distinguir os sinais grficos elementares nas suas diversas variaes, j que tais mensagens so construdas a partir destes.

    Em uma analogia com uma lngua, os sinais grficos equivalem aos traos

    distintivos, ou seja, aos fonemas, e, sendo assim, das suas possibilidades de combinao se originam unidades de significado mais complexas (da mesma forma que da unio de fonemas surgem palavras e da unio destas surgem discursos). Logo, das composies que agregam pontos, linhas e superfcies nas

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    mais diversas formas, localizaes, tamanhos, direes, tonalidades, cores e texturas brotam os discursos visuais grficos. Naturalmente, esta analogia no deve ser vista de maneira extremamente rgida, pois os elementos visuais no se combinam da mesma forma que os elementos lingsticos, visto que suas regras sintticas no so exatamente as mesmas. Ela serve apenas para ilustrar e destacar o fato de que no cdigo visual grfico, da mesma forma que no cdigo auditivo verbal (fala), elementos simples so agregados para gerar valores semnticos mais complexos. Enquanto nas lnguas os valores semnticos atribudos aos traos distintivos so rigidamente convencionados, tendendo a interpretaes unvocas, no cdigo visual grfico a conveno de significados bem mais flexvel, sustentando-se em atribuies de sentido tacitamente implantadas. A figura 13 apresenta os sinais grficos elementares e algumas de suas possveis variaes segundo o tamanho, a tonalidade, a cor, a forma, a textura e a direo.

    Figura 13 Os sinais grficos elementares o ponto, a linha e a superfcie e suas variaes, segundo o tamanho, a tonalidade, a cor, a forma, a textura e a direo.

    Identificados os sinais grficos elementares, apresenta-se agora uma anlise individual de cada um destes, para que se conheam algumas de suas propriedades sintticas e semnticas mais importantes. De incio, analisa-se o ponto.

    Segundo FRUTIGER (2007, p. 7) o ponto, a menor unidade grfica e, por assim dizer, o 'tomo' de toda expresso pictrica. De fato, toda imagem inclusive um texto lingstico (enquanto imagem da palavra falada) pode ser reduzida a pontos, fato comprovado pela expresso artstica dos pontilhistas e pela tecnologia de impresso grfica, baseada no uso de retculas (de pontos) para a

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    reproduo de imagens. Isso porque os pontos, quando agregados uns aos outros, no so mais vistos como pontos propriamente ditos e, sim, como linhas ou como superfcies. Algumas vezes, dentro de uma representao grfica, um signo pictrico pode se comportar como um ponto, caso seja repetido diversas vezes, tornando-se a unidade de um todo maior, como se verifica nos padres ou patterns. Por exemplo, o desenho de uma flor, repetido vrias vezes, passa a ser a unidade (o ponto) do padro que sua reproduo seqencial produz.

    Fora isso, um signo pictrico tambm pode se manifestar como um ponto quando aparece isolado em relao aos demais elementos presentes, direcionando, desta forma, o olhar do espectador para ele. Neste caso, este signo estar exercendo uma propriedade do ponto identificada por DONDIS (1997, p. 53): qualquer ponto tem grande poder de atrao visual sobre o olho. Isso se deve ao fato do ponto, como elemento visual, atuar como uma referncia ou indicador de espao. Ou seja, a um espao real ou representado s se pode atribuir um valor de tamanho e posicionamento atravs dos pontos nele localizados. A figura 14 ilustra as questes apresentadas sobre o ponto.

    Figura 14 O ponto.

    Derivada do ponto, tem-se a linha, como segundo sinal grfico elementar. Segundo DONDIS (1997, p. 55) possvel definir a linha como um ponto em movimento, ou como a histria do movimento de um ponto. A linha , portanto, a descrio da trajetria de um ponto e essa noo de movimento que lhe inerente lhe concede significados, em primeira instncia, de energia e dinamismo. Outro aspecto interessante em relao linha que muitas vezes ela no precisa

    estar traada para ser percebida por uma pessoa. Conforme indica FRUTIGER (2007, p.7), de um ponto para outro, o observador traa uma linha imaginria. Logo, se numa superfcie h dois pontos presentes, uma pessoa tende a perceber

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    uma linha entre eles. OSTROWER (1983, p. 66) destaca, ainda, outro aspecto importante da linha: ela vai configurar um espao linear, de uma dimenso.

    Em um segundo momento, outros significados podem ser atribudos s linhas, de acordo com seus atributos formais: sendo ela reta ou curva; horizontal, vertical ou diagonal; contnua ou interrompida; grossa ou fina; e etc. Tais variaes semnticas da linha so determinadas pelas variveis grficas de forma e de direo. Neste sentido, por exemplo, linhas horizontais e verticais tm forte conotao de estabilidade, enquanto diagonais causam tenso. Linhas retas denotam apuro e preciso tcnica. J linhas curvas podem significar espontaneidade e naturalidade. Linhas contnuas desvelam nitidez e concretude enquanto as interrompidas trazem a noo de permeabilidade e translucidez. Deste modo, a linha manifesta um grande poder expressivo, abrindo um leque extenso de valores semnticos. A figura 15 exemplifica visualmente algumas das questes apresentadas sobre a linha.

    Figura 15 A linha.

    Em seqncia linha, tem-se a superfcie como terceiro sinal grfico

    elementar. A superfcie um sinal grfico derivado dos pontos e das linhas. Como visto, pontos agregados configuram superfcies. O mesmo ocorre quando se agregam linhas. Alis, um dos empregos mais corriqueiros da linha na construo de mensagens visuais o de circunscrever superfcies. Quando atravs de uma linha se cerca uma rea, o espao circunscrito ativado, tornando-se independente do resto do campo visual e se configura numa superfcie. A partir deste momento, os elementos visuais dispostos entre as linhas que demarcam a superfcie sero entendidos como dentro dela ou como sobre ela. Do mesmo modo, o que no estiver entre as linhas da superfcie ser compreendido como fora desta. Isso vale

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    tanto para pontos, linhas e outras superfcies dispostas dentro das superfcies, como tambm para os atributos de cor, tom e textura. Logo, o que se deduz desta constatao que as superfcies, por descreverem formas fechadas, possuem uma forte conotao de materialidade, sendo assim relacionadas com objetos ou entidades autnomas.

    Figura 16 A superfcie.

    Os trs sinais grficos elementares o ponto, a linha e a superfcie so os instrumentos bsicos para se configurar o espao plano da superfcie material onde se manifestam as representaes visuais grficas. No espao plano, o ponto tem a funo bsica de localizar; a linha de apontar direo; e a superfcie de identificar entidades discernveis. O ponto demarca o espao disponvel, a linha o apreende em uma dimenso e a superfcie o apreende em duas. Como pode ser notado, o espao bidimensional das superfcies materiais o fator de restrio primordial s representaes grficas. Cabe a estas tentarem trazer para o plano a riqueza dimensional da realidade perceptvel e, para tanto, empregam os pontos, linhas e superfcies nas suas diversas gradaes. Tais gradaes se do atravs das variveis grficas de forma, localizao, direo, tamanho, tonalidade, cor e textura, a serem discutidas a seguir.

    Pontos, linhas e superfcies apresentam distines e gradaes de valor semntico de acordo com sua forma. A forma, enquanto aspecto exterior dos pontos, linhas e superfcies se configura na primeira varivel grfica. DONDIS

    (1997, p. 57) identifica trs formas bsicas: o quadrado, o crculo e o tringulo eqiltero. Segundo a autora, a partir de combinaes e variaes infinitas dessas trs formas bsicas, derivamos todas as formas fsicas da natureza e da imaginao humana (ibidem, p. 59). Por esta razo, BERTIN (1977, p. 187) destaca a forma como uma varivel de separao das imagens, j que uma infinidade de formas possveis pode ser utilizada para a identificao e

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    discernimento de elementos e entidades autnomas nas representaes grficas. Fora isso, a cada uma das formas bsicas podem ser atribudas significaes mais complexas atravs de associaes, vinculaes arbitrrias ou percepes psicolgicas ou fisiolgicas. Conforme aponta DONDIS (1997, p. 58) ao quadrado se associam enfado, honestidade, retido e esmero; ao tringulo, ao, conflito, tenso; ao crculo, infinitude, calidez, proteo.

    Como toda representao grfica se d no espao bidimensional das superfcies materiais, a localizao dos elementos representados sempre expressa um valor. Da tem-se a localizao como a segunda varivel grfica. A posio em que pontos, linhas e superfcies se apresentam dentro do espao da representao grfica pode variar: uns podem estar no centro, outros na margem superior esquerda, outros na margem inferior direita. O fato que a localizao dos elementos representados no irrelevante. Ela estabelece relaes de importncia e confere valores semnticos. Para DONDIS (1997, p. 39), por exemplo, o olho favorece a zona inferior esquerda de qualquer campo visual. Assim, para esta autora, elementos localizados nesta regio podem ter mais peso na composio visual. OSTROWER (1983, p. 47), por sua vez, afirma que quando percebemos um plano, sua linha de base (a margem horizontal inferior) e tambm toda a rea que a acompanha tornam-se visualmente mais pesadas. Sendo assim, para esta autora, toda marca visual que entre na rea baixa de um plano ficar imediatamente carregada de peso e densidade (ibidem, p. 47). Sintetizando a viso das duas autoras, pode-se destacar o centro perceptivo (um ponto pouco acima do centro geomtrico) como uma localizao de grande importncia no campo visual, e a base do campo visual como uma regio que confere peso aos elementos representados. Para BERTIN (1977, p. 186), autor mais dedicado s representaes diagramticas, tais como grficos estatsticos e mapas, a localizao tem uma forte conotao de valor. De fato, num espao ordenado pela abscissa x e pela ordenada y, as posies assumidas no so gratuitas nem derivadas de foras compositivas e descrevem acima de tudo um valor quantitativo. Por esta razo, a localizao para BERTIN (ibidem, p. 186) uma varivel de valor.

    A terceira varivel grfica a direo. Linhas e superfcies se manifestam no espao assumindo uma direo, ou seja, indicando uma orientao atravs de um ngulo de inclinao ou atravs de um percurso (retilneo, curvilneo,

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    ondulado). As direes bsicas presentes nos discursos visuais so a horizontal, a vertical, a diagonal e a curva. BERTIN (1977, p. 187) notou que as linhas e superfcies se distinguem entre si em termos de direo e, portanto, a exemplo da forma, tambm apontou esta com uma varivel de separao. J DONDIS (1997, p. 60) argumenta que as formas bsicas manifestam naturalmente uma direo: o quadrado, a horizontal e a vertical; o tringulo, a diagonal; o crculo, a curva. A referncia horizontal/vertical tem uma forte conotao de estabilidade e segurana por estar vinculada com a percepo fisiolgica e psicolgica de equilbrio que vital para as pessoas. Por esta razo, a direo diagonal instvel e perturbadora, pois indica desbalanceamento, o que denota uma situao possivelmente ameaadora. J as orientaes curvas podem ser associadas suavidade, abrangncia e aos movimentos cclicos.

    O tamanho a quarta varivel grfica. O tamanho estabelece o quanto de espao um elemento representado ocupa no campo visual. Logo, o tamanho tem a ver com a medida, em termos de rea ocupada, dos elementos representados. No entanto, os valores absolutos das medidas no so to importantes quanto seus valores relativos. Isso porque a intensidade de tamanho de um item aferida, em primeira instncia, pela comparao com o tamanho dos outros itens representados. Sendo assim, s possvel, por exemplo, dizer que um quadrado grande se ele estiver junto a outros elementos que lhe so menores em tamanho. O tamanho, enquanto varivel grfica, estipula uma escala de valores que vai do maior (tamanho) ao menor, o que, por sua vez, determina uma hierarquia de importncia. Por esta razo, para BERTIN (1977, p. 186), o tamanho uma varivel de valor da imagem: quanto maior o tamanho de um elemento grfico (um retngulo, por exemplo) maior o valor quantitativo do item que tal elemento grfico representa (como ocorre num grfico de barras, por exemplo).

    Como quinta varivel grfica tem-se a tonalidade. O tom o grau de luminosidade presente num elemento grfico. Nas palavras de DONDIS (1997, p. 60-61), o tom a intensidade da obscuridade ou claridade de qualquer coisa vista. Sendo a viso a captao sensorial dos estmulos luminosos, o tom, enquanto quantidade de luz, que distingue os objetos em mais ou menos visveis. Logo, a tonalidade desempenha um importante papel na elaborao das mensagens visuais grficas, pois atravs dela que os elementos representados estaro mais ou menos perceptveis viso. Alm disso, com as alternncias de

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    claro para escuro, as imagens materiais grficas ganham profundidade e dimensionalidade, abrindo as portas para a volumetria e para a representao de diversos planos dimensionais. Conforme OSTROWER (1983, p. 226), um maior grau de claridade corresponde a um nvel de aproximao, assim como um escuro mais profundo corresponde a um afastamento maior.

    Tambm se pode acrescentar que, por ser a viso humana to sensvel s tonalidades, o tom fornece uma escala para distino dos elementos grficos indo da ausncia total de luz at sua presena macia, passando por um significante leque de pontos intermedirios. Decorre dessa sensibilidade ao tom o fato das representaes monocromticas serem to bem aceitas pelas pessoas. Devido extensa e gradual variao de tons, BERTIN (1987, p. 186) distingue a tonalidade como uma varivel grfica de valor, pois esta denota espontaneamente uma escala de mais a menos (no caso, de mais luz a menos luz, que pode ser facilmente atribuda a outros objetos numa analogia). Em termos de significao, o tom denota: o prximo e o afastado; o iluminado e o obscurecido; o principal e o secundrio; a quantidade maior ou menor; e as gradaes hierrquicas de importncia.

    A sexta varivel grfica a cor. A cor o resultado da captao sensorial da luz emitida ou refletida pelos objetos. No a quantidade de luz (esta seria o tom) e sim a qualidade de luz. Esta qualidade de luz pode ser aferida atravs das trs dimenses da cor: o matiz, a saturao e o brilho. O matiz , segundo DONDIS (1997, p. 65), a cor em si, ou seja, a prpria impresso sensorial que a luz provoca na mente. Deste modo, tm-se como exemplos de matizes o amarelo, o vermelho e o azul, tambm classificados como cores primrias. Outros exemplos seriam as cores secundrias: o laranja, o verde e o violeta. No entanto, os matizes no se restringem a estes, e da combinao destas cores surgem diversas outras. A saturao , conforme DONDIS (1997, p. 66), a pureza relativa de uma cor, do matiz ao cinza. Logo, uma cor saturada aquela percebida no valor mximo de sua intensidade e uma dessaturada, aquela que esmaecida. Quanto mais dessaturado um matiz, mais sua percepo se aproxima de um cinza mdio. J o brilho a dimenso relativa s gradaes tonais ou de valor da cor, segundo DONDIS (1997, p. 66). Assim, o brilho equivale quantidade de luz presente numa cor, ou seja, o quanto ela clara (aproximando-se do branco) ou escura (aproximando-se do preto).

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    Decorrente das inmeras possibilidades de valor que a cor pode assumir ao variar dentro de suas trs dimenses, h uma igualmente infinita gama de possibilidades de significao e diferenciao por ela propiciadas. Por esta razo, DONDIS (1997, p. 64) aponta que a cor uma das mais penetrantes experincias visuais que temos todos em comum. De fato, a cor se configura como um estmulo visual muito forte, que pode desencadear diversas reaes nas pessoas que as percebem, sendo assim um elemento grfico de grande importncia para a expresso da informao visual. Uma evidncia disso a diversidade de significados atribudos s cores, seja por associao, seja por conveno. Por exemplo, ao vermelho atribui-se a idia de calor, emoo, atividade e ameaa; ao amarelo, as noes de conforto, proximidade e ateno; ao azul, as qualidades de frieza, suavidade, passividade e tranqilidade. Vale observar que, no caso das cores, os significados no so de forma alguma absolutos e variam de acordo com os contextos e com os cdigos dentro do cdigo empregados. Um exemplo de cdigo dentro dos cdigos (subcdigos) seria a atribuio de significados s cores nos grficos estatsticos, que feita de maneira arbitrria e de modo que a um item corresponda uma cor. Tais correspondncias de cores no so uniformes e costumam variar bastante de um grfico para outro, de acordo com a organizao estabelecida pelo elaborador da representao grfica. Conforme OSTROWER (1983, p. 235), o vermelho, o verde, ou qualquer outra cor pode vir a ter significados mltiplos e at bem diversos, uma vez que a expressividade da cor depender das funes que desempenhe.

    Ainda em relao cor, alm do amplo leque de significados que podem ser derivados desta varivel grfica, esta funciona como um eficiente fator de diferenciao dos elementos presentes numa representao grfica. Como os valores que a cor pode assumir so inmeros, BERTIN (1977, p. 187) a distinguiu como uma varivel de separao. Por isso, em muitos casos, a funo principal da cor nas mensagens visuais grficas o de distinguir os elementos presentes. Por exemplo: elementos preenchidos de verde so facilmente distinguidos daqueles em vermelho ou amarelo numa representao cartogrfica.

    A textura surge como a stima varivel grfica. A textura tem a ver com a

    formao de padres sobre as superfcies dos artefatos produzidos pela espcie humana em decorrncia dos processos, das intenes, dos materiais e dos instrumentos empregados em sua construo. Deste modo, em um tecido, por

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    exemplo, a textura determinada, entre outros fatores, pelo tipo de linha empregada (de algodo, de l) e pela juno das linhas. De maneira similar, a textura de um texto conseqncia da disposio de linhas em espaos regulares, sendo cada linha uma seqncia regular de palavras. Utilizando um exemplo dentro do contexto visual grfico, em uma pintura a textura conformada pela superfcie da tela utilizada, pela viscosidade da tinta e pelas pinceladas.

    Em termos de percepo, a textura algo que pode ser captado tanto pelo tato quanto pela viso. por este motivo que a textura, quando captada visualmente, pode despertar sensaes tteis. Sendo assim, uma textura, mesmo que somente vista, pode ser interpretada como spera, rugosa, macia, suave ou lisa, por exemplo. Fora isso, os elementos representados numa mensagem visual podem ser diferenciados entre si, e at mesmo categorizados, atravs do emprego de texturas. Por esta razo, BERTIN (1977, p. 187) classifica a textura como uma varivel grfica de separao. Um exemplo disso a utilizao de hachuriados no desenho tcnico, onde o tipo de hachura grafado denota um tipo de material (metal, plstico, madeira etc.). Resumindo a questo, dentro do cdigo visual grfico, a textura se apresenta como uma varivel que suscita significaes de uma ordem bem especfica a ttil alm de ser, tambm, um meio propcio para diferenciar e qualificar os elementos presentes em uma representao visual.

    6.3. Relaes Dinmicas entre os Sinais e Signos Grficos

    Conforme visto, so trs os sinais grficos elementares: o ponto, a linha e a superfcie. Tais sinais variam de acordo com a forma, a localizao, o tamanho, a direo, a tonalidade, a cor e a textura. A partir da combinao destes sinais nas suas mais diversas variaes so configurados os signos visuais grficos, que podem ser entendidos como uma unidade distinguvel e portadora de significado especfico dentro de uma mensagem visual. Pontos, linhas e superfcies ao conformarem um signo visual grfico concedem a este seus valores semnticos primrios. Por exemplo, num pictograma que representa uma pessoa do sexo masculino pode-se discernir uma superfcie que apresenta forma similar a de um corpo humano, preenchida por uma cor. A cor empregada e o tipo de trao

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    utilizado (regular ou irregular, feito mquina ou mo) concedem alguma espcie de valor semntico que no mais entendido como se fosse do sinal grfico e, sim, do signo grfico. Os signos grficos, por sua vez, podem se agrupar para formar mensagens visuais mais complexas. Sendo assim, pictogramas de pessoas do sexo masculino podem ser reunidos a outros pictogramas para conformar uma mensagem visual com um significado prprio. Do agrupamento de sinais grficos (unidades de segunda articulao) entre si, como tambm do agrupamento dos signos grficos (unidades de primeira articulao) para originar mensagens visuais surgem trs conceitos importantes, tanto sintaticamente quanto

    semanticamente, para o cdigo visual grfico: a escala, a dimenso e o movimento. Estes conceitos podem ser tratados como relaes dinmicas que surgem das conjunes de fora entre os sinais e signos grficos.

    A escala trata das relaes de proporo que se estabelecem entre os elementos presentes numa mensagem visual. Ela estabelece que a intensidade (de tamanho, de distncia, de luminosidade, de matiz etc.) de um elemento s pode ser avaliada em comparao com os demais elementos presentes dentro de um campo visual. a mesma relao verificada na varivel grfica de tamanho (um elemento s entendido como grande se estiver junto a outros elementos que lhe so menores em tamanho) aplicada a todas as outras variveis grficas. Por exemplo, uma cor s pode parecer brilhante se ela possuir uma tonalidade clara e estiver justaposta a cores escuras. importante ressaltar, conforme indica DONDIS (1997, p. 75) que a medida parte integrante da escala, mas sua importncia no crucial. Ou seja, o que vale na escala so os valores relativos e no os absolutos: considera-se grande um quadrado de 10 cm se prximo a ele estiver um outro quadrado de 1 cm, mas ele ser considerado pequeno se for disposto ao lado de um quadrado de 50 cm.

    A escala tem uma grande importncia na atribuio de significados a uma imagem, uma vez que manipular a escala dos elementos manipular o espao. De acordo com as relaes de tamanhos e de tons dos elementos, o espao poder parecer mais largo ou mais apertado, mais luminoso ou mais escuro, o que remete s significaes de liberdade ou sufoco, de clareza ou lugubridade, entre tantos outros. Alm disso, a escala atribui sentidos hierrquicos aos elementos: os de maior tamanho estabelecem uma relao de superioridade em relao aos de

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    menor tamanho; os mais escuros esto mais afastados em relao aos mais claros; e etc.

    Outra relao dinmica derivada dos conjuntos de sinais e signos grficos a dimenso. O mundo como as pessoas o percebem pleno de dimenso, j que as coisas se materializam nas chamadas trs dimenses altura, largura e profundidade e ocupam, desta forma, o espao disponvel no mundo. Sendo assim, a dimenso nas representaes grficas se configura num modo de transportar para o espao bidimensional, certas qualidades percebidas no espao real, tais como planos relacionados em diagonal, superposies, profundidade e o cheio/vazio (OSTROWER, 1983. p. 82).

    Para levar toda a dimensionalidade do mundo real para as superfcies planas, como o papel e a tela, preciso o emprego de certos artifcios. O principal artifcio utilizado neste sentido a perspectiva, que cria a iluso de que h trs dimenses numa imagem bidimensional. A perspectiva se escora principalmente no emprego de linhas em diagonal, na sobreposio de superfcies, na manipulao do tamanho (o que est prximo fica em maior tamanho) e na utilizao do claro/escuro. Percebe-se com isso que, para conferir dimenso a uma representao grfica, preciso conjugar as qualidades dos sinais e signos grficos em termos de suas variveis grficas, principalmente, as de direo, de tamanho e de tonalidade.

    No entanto, o ato de trazer um objeto do mundo real para a bidimensionalidade da folha de papel implica necessariamente numa reduo da realidade, j que no possvel levar todos os ngulos de visualizao disponveis. Deste modo, cabe ao criador da imagem saber captar o ngulo mais informativo e significativo de um objeto, dentro de um contexto especfico. Ou, ento, os ngulos, como o caso da pintura cubista, que exemplifica um tipo de representao onde se busca, mesmo com a limitao dimensional da superfcie plana, mostrar um objeto de vrios pontos de vista.

    Vale destacar ainda, o valor semntico da dimenso. As representaes que claramente assumem a bidimensionalidade do papel, ou seja, que no procuram simular a terceira dimenso, costumam ter um carter de abstrao, simplificao, de clareza, de sntese e de artificialidade. J as representaes tridimensionais, conotam concretude, veracidade, equiparao com a realidade e complexidade.

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    Tambm deriva do relacionamento dinmico entre sinais e signos grficos, o movimento. Assim como a dimenso, o movimento algo que no pode ser plenamente transportado para as superfcies planas e estticas. No entanto, da mesma forma que a dimenso, o movimento pode ser sugerido. Isso porque, conforme afirma DONDIS (1997, p. 80), o movimento talvez seja uma das foras visuais mais dominantes da experincia humana. Sendo assim, as pessoas esto predispostas a perceberem, cinestesicamente e psicologicamente, o movimento ao mais nfimo sinal. Por esta razo, pequenos indcios so o bastante para despertar a sensao de movimento, mesmo numa imagem esttica.

    A repetio de elementos, por exemplo, um meio adequado para se despertar a sensao de movimento. De acordo com OSTROWER (1983, p. 32), ao se repetir qualquer elemento numa composio visual, no simplesmente a mesma coisa mais uma vez. Sempre adquire o significado de uma nova vez e de uma outra coisa. Tal fato pode ser exemplificado por uma seqncia de quadrados que aparecem repetidos um ao lado do outro com mudanas de inclinao. A impresso que se tem no a da existncia de vrios quadrados e, sim, de um quadrado que rotaciona. Isso se deve ao fato da experincia de tempo, seqencialidade e transformao ser muito forte para as pessoas, o que as torna perenemente alertas para mudanas nos padres dos estmulos percebidos.

    A repetio, no entanto, no a nica forma de se conferir movimento a um elemento grfico. Figuras inclinadas, que fogem da estabilidade dos eixos vertical e horizontal tambm sugerem movimento. Outros truques visuais, tais como o emprego de linhas para indicar o movimento feito, imagens mltiplas em posies variadas e efeitos fotogrficos como o desfoque e a imagem tremida, tambm ajudam a criar a sensao de movimento. Neste sentido, nota-se que variaes de forma e direo nos elementos representados so cruciais para a sugesto de movimento nas representaes visuais grficas. Tambm valido considerar que, em termos semnticos, o uso ou no do movimento sugerido nas imagens materiais grficas ajuda a criar os sentidos de estabilidade ou mudana, tranqilidade ou agitao e permanncia ou deslocamento.

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    6.4. Relaes Sintticas entre os Sinais e Signos Grficos

    A partir da combinao dos sinais grficos elementares em suas diversas gradaes so construdos os signos visuais grficos e, com estes, so elaboradas as mensagens visuais grficas. Tanto a combinao dos sinais grficos quanto a combinao dos signos grficos obedecem a alguns parmetros de ordenao determinados pela forma como as pessoas percebem os estmulos visuais. Entre estes fatores de percepo visual humana se destacam o equilbrio, a tenso, o nivelamento e aguamento, a atrao e agrupamento, o positivo e negativo e o

    contraste. A partir destes fatores so estabelecidas as relaes sintticas do cdigo visual grfico, que determinam como as mensagens podem ser construdas por seu intermdio. importante destacar que estas normas sintticas no so absolutas, uma vez que no so deliberadamente arbitradas, mas sim tacitamente constitudas a partir dos aspectos fisiolgicos e psicolgicos da percepo humana, assim como de questes culturais e sociais. A seguir, uma breve descrio de cada um destes parmetros sintticos.

    Conforme DONDIS (1997, p. 32), a mais importante influncia tanto psicolgica como fsica sobre a percepo humana a necessidade que o homem tem de equilbrio. Esta necessidade se deve capacidade humana de andar apoiado apenas nos membros inferiores, o que exige um controle constante do equilbrio a fim de se evitar tombos. A necessidade de equilbrio se reflete nas composies visuais humanas, onde os sinais e signos grficos so dispostos no espao disponvel obedecendo a eixos verticais e horizontais, mesmo que implcitos. Segundo DONDIS (ibidem) o construto horizontal-vertical constitui a relao bsica do homem com seu meio-ambiente e essa relao transparece nos artefatos construdos pelas pessoas. Por esta razo, uma imagem material tende a parecer equilibrada ou desequilibrada para a pessoa que a observa. De acordo com isso, o equilbrio tende a ser percebido como a construo correta e o desequilbrio como perturbao da ordem ou emprego equivocado do cdigo (em outras palavras, erro de sintaxe). Conforme ARNHEIM (2001, p. 13), uma composio desequilibrada parece acidental, transitria, e, portanto, invlida.

    A norma de tenso deriva da norma de equilbrio. Uma pessoa inicialmente contextualiza tudo o que v a partir dos eixos vertical e horizontal para ento

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    inferir se o objeto visualizado tem equilbrio ou no. A tenso surge quando algo percebido como desequilibrado ou irregular. Quando h equilbrio e regularidade o cdigo parece empregado com propriedade e isso causa relaxamento e tranqilidade. Quando o que se tem desequilbrio e irregularidade, o cdigo parece afrontado e isso proporciona tenso. Numa composio visual, os elementos tensionados tendem a captar a ateno do espectador, o que semelhante ao que acontece nas lnguas. Nestas, o cdigo quando corretamente empregado passa despercebido. Na maior parte das vezes, o cdigo somente percebido quando quebrado por um erro, como, por exemplo, o de ortografia ou o de concordncia.

    Tambm da noo bsica de equilbrio surgem os parmetros de nivelamento e aguamento. O nivelamento se refere ao que estvel e harmnico e o aguamento ao que inesperado e destoante. Num campo visual retangular, um ponto um pouco acima do centro est em perfeito nivelamento, pois se encaixa com perfeio aos eixos vertical e horizontal, percebidos implicitamente. J um ponto prximo ao vrtice superior direito est em pleno aguamento, por estar completamente fora dos eixos vertical e horizontal. Numa composio visual grfica, se o que se intenciona no causar surpresas, deve-se optar pelo nivelamento. Quando se deseja um efeito mais estimulante, deve-se escolher o aguamento. No entanto, tal escolha deve ser clara. A percepo humana estabelece, em primeira instncia, uma distino entre o equilbrio ou a ausncia marcante deste. Nas ocasies em que um elemento no esteja nitidamente nivelado ou aguado, tem-se ambigidade, o que uma indesejada falha sinttica. A ambigidade visual, assim como a verbal, obscurece toda a mensagem e seu significado. Conforme DONDIS (1997, p. 39), em termos ideais, as formas visuais no devem ser propriamente obscuras; devem harmonizar ou contrastar, atrair ou repelir, estabelecer relao ou entrar em conflito.

    A atrao e o agrupamento outro parmetro de combinao dos sinais e signos grficos que exerce grande influncia na composio das mensagens visuais grficas. Segundo esta norma compositiva, que, como visto, constitui um dos princpios da Gestalt, quanto mais prximos dois elementos estiverem, maior ser a atrao que exercem um sobre o outro. Da mesma forma, quanto mais afastados, mais parecero se repelir. Da a tendncia das pessoas em agrupar visualmente os elementos que esto prximos, de constituir conjuntos a partir de

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    unidades. Um bom exemplo disso quando se tem trs pontos no muito prximos nem muito afastados e consegue-se enxergar um tringulo formado pelas linhas que os conectam. Outra questo importante para o princpio da atrao e agrupamento a similaridade. Segundo DONDIS (1997, p. 45), Na linguagem visual, os opostos se repelem, mas os semelhantes se atraem. Sendo assim, as pessoas tendem a agrupar visualmente os elementos que possuem formas, tamanhos e cores similares. Por exemplo, constata-se a tendncia de se agrupar quadrados com quadrados, crculos com crculos, elementos vermelhos com elementos vermelhos e assim por diante.

    Outro importante parmetro de composio visual grfica o positivo e negativo. atravs do positivo e negativo que se estabelecem quais so os elementos que transmitem a informao principal numa imagem e quais so os

    elementos que a contextualizam. Em outras palavras, o que figura e o que

    fundo, como discutido no captulo 4. Logo, neste caso, positivo e negativo no o mesmo que claro e escuro, mas, sim, o que principal e o que secundrio. Sendo assim, de acordo com DONDIS (1997, p. 47), o que domina o olho na experincia visual seria visto como elemento positivo, e como elemento negativo

    consideraramos tudo aquilo que se apresenta de maneira mais passiva. Conforme as normas tcitas da sintaxe visual grfica deve haver uma distino clara entre o que positivo e o que negativo numa imagem. No entanto, como visto, so comuns as composies visuais onde no possvel assinalar com exatido o que figura e o que fundo. Nestes casos, tem-se tambm ambigidade visual, o que deve ser evitado em benefcio da clareza na transmisso da mensagem. Segundo DONDIS (1997, p. 48) o olho procura uma soluo simples para aquilo que est vendo, e, embora o processo de assimilao da informao possa ser longo e complexo, a simplicidade o fim que se busca.

    Por fim, tem-se o contraste como o parmetro sinttico mais importante. De

    acordo com DONDIS (1997, p. 108), em todas as artes, o contraste um poderoso instrumento de expresso, o meio para intensificar o significado, e, portanto, simplificar a comunicao. por intermdio do contraste que as polaridades de significados (grande/pequeno, claro/escuro, ordenado/desordenado etc.) so intensificadas ou amenizadas. E so exatamente estas polaridades o que permite estabelecer significaes. Sendo assim, o contraste que determina o

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    quanto um elemento parece equilibrado ou desequilibrado, claro ou escuro, grande ou pequeno, tenso ou harmnico e assim por diante.

    por intermdio do contraste que atua, no cdigo visual grfico, a lgica significacional e sua natureza binria, segundo a qual um signo tudo aquilo que ele no . Conforme este raciocnio, equilbrio tudo o que no desequilbrio; claro tudo o que no escuro; e tenso tudo o que no relaxado. deste modo que, por exemplo, linhas curvas contrastam com linhas retas, quadrados contrastam com crculos, direes horizontais contrastam com verticais e diagonais, tons claros contrastam com tons escuros, vermelhos contrastam com verdes, texturas lineares com texturas granulares, elementos grandes com elementos pequenos, elementos bidimensionais com elementos volumtricos, elementos estticos com elementos em movimento e assim por diante. Por isso, numa composio visual, as mensagens so estruturadas em conformidade com as possibilidades de combinao de elementos e a manipulao de significados propiciados pelo contraste.

    O objetivo de apresentar cada um dos sinais grficos e suas formas de gradao e combinao foi o de identificar alguns dos valores semnticos que lhes so inerentes e de mostrar algumas das normas sintticas mais importantes que regem o cdigo visual grfico. Com isso, adquire-se um domnio maior deste cdigo e se consolida o entendimento de como as mensagens visuais grficas transportam significados. Tais conhecimentos so cruciais no emprego do cdigo visual grfico para o armazenamento e transporte de informaes.

    6.5. Signos Grficos

    Conforme visto, o cdigo visual grfico composto por signos grficos verbais, pictricos e esquemticos. Vale ressaltar que esta diviso dos signos grficos em trs categorias se baseia no trabalho de TWYMAN (1979 apud TWYMAN, 1985, p. 247). Os sinais grficos verbais so aqueles de carter extremamente simblico, definidos por convenes. So as letras, as palavras, os nmeros e qualquer outro signo grfico que represente os signos de um lngua e suas qualidades acsticas. Os sinais grficos pictricos so as imagens materiais

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  • O Cdigo Visual Grfico 172

    grficas propriamente ditas. So as fotos, os pictogramas, as ilustraes, os desenhos e etc. Os signos grficos esquemticos so os diagramas, ou seja, so os signos cujo objeto representado a relao entre vrios itens e no os itens por si mesmos. Naturalmente, as fronteiras que separam os trs tipos de signos grficos so muito tnues e esta classificao tem o objetivo maior de viabilizar a manipulao conceitual do fenmeno. Em primeira instncia, todo signo grfico uma imagem material, mesmo sendo ele verbal ou esquemtico. Por exemplo, a palavra escrita a imagem da fala, e qualquer diagrama, antes de discernidas as relaes entre seus elementos, visto tambm como uma imagem. A seguir, cada um dos tipos de signo grfico discutido separadamente.

    6.5.1. Signos Grficos Verbais

    De acordo com o que j foi discutido, os signos grficos verbais so a expresso grfica dos signos de uma lngua. Em outras palavras, eles representam a dimenso grfica da lngua falada: a escrita. A partir dos signos grficos verbais, as mensagens compostas por meio de uma determinada lngua, podem ser transmitidas pelo canal visual grfico. Os signos grficos verbais correspondem, portanto, grafia das palavras, dos nmeros e de outros signos convencionados arbitrariamente. No caso da palavra, sua grafia traz consigo toda sua dimenso acstica.

    Quando grafadas, as palavras, os nmeros e os demais signos lingsticos so afetados pelos sinais grficos utilizados para seu registro grfico e transmisso por meio do canal visual. Sendo assim, a palavra perigo, por exemplo, quando grafada em caixa baixa, numa famlia tipogrfica de linhas leves e informais, na cor verde, transmite uma mensagem diferente do que quando grafada em caixa alta, numa tipologia mais pesada e rgida, na cor vermelha. Ou seja, quando grafadas, as palavras, os nmeros e demais signos verbais transmitem mais informaes do que meramente seus significados inatos e suas qualidades acsticas. Isso porque, quando graficamente representados, estes so antes de tudo, imagens.

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    Figura 17 Duas grafias diferentes para a palavra perigo.

    Por esta razo, os signos grficos verbais tm seus significados diretamente vinculados ao desenho da famlia tipogrfica, ao tamanho das letras, diagramao (alinhamento, tamanho das linhas, rea das colunas de texto etc.), aos grifos e realces (letra condensada, letra expandida, sublinhado, itlico, negrito etc.) e a outros atributos tais como as cores, as texturas, o grafismo das linhas etc. A discusso dos significados e da composio dos signos grficos verbais um assunto vasto que tratado de forma mais completa no mbito da tipografia e da lingstica. Dada a complexidade deste tema, a presente pesquisa no ir abord-lo de maneira profunda, j que sua discusso renderia desdobramentos que fugiriam ao escopo aqui pretendido. O que se faz aqui demarcar a grande importncia do signo grfico verbal na composio das mensagens visuais, principalmente naquelas destinadas a passar informaes tcnico-cientficas, como o caso dos infogrficos.

    6.5.2. Signos Grficos Pictricos

    De maneira geral, e sem se aprofundar muito numa discusso mais ampla sobre o conceito de imagem, os signos grficos pictricos so as imagens materiais grficas, tais como as ilustraes, as pinturas, os desenhos, as fotografias, etc. A principal caracterstica dos signos grficos pictricos sua semelhana, em termos de forma, com os objetos que esto substituindo, ou seja, seu pertencimento classe dos cones. Sendo assim, no toa, portanto, que signos grficos pictricos tais como os pictogramas sejam chamados comumente de cones.

    A capacidade dos signos grficos pictricos de representar por similitude formal os objetos reais ou imaginrios os torna fundamentais para a produo de mensagens grficas. De maneira geral, sua utilizao nas mensagens grficas

    permite economia de espao (atravs da substituio de grandes conjuntos de

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    palavras), maior rapidez de leitura (menos elementos na pgina para serem visualizados), uma descrio mais sucinta e precisa das caractersticas formais de um objeto (uma foto informa melhor sobre o rosto de uma pessoa do que uma descrio verbal, por exemplo) e facilidade de localizao (reconhecimento com um vislumbre).

    Naturalmente, para que sejam realmente vantajosos, os signos visuais grficos requerem que os receptores da mensagem conheam seus significados ou, ento, que lhes atribuam significados similares aos intencionados pelo emissor. Como os significados das imagens nem sempre so convencionados, os signos grficos pictricos so ainda mais polissmicos do que os signos grficos verbais. Por esta razo, muitas vezes imagens e palavras so utilizadas conjuntamente para que estas ltimas fechem as possibilidades interpretativas das primeiras. Mas no se deve perder de vista que o inverso tambm pode acontecer: a utilizao de signos grficos pictricos restringe igualmente a interpretao dos signos verbais. Por exemplo, se numa notcia de jornal se l que dois carros colidiram, o leitor completa a mensagem imaginando como eram os veculos envolvidos na coliso. Se uma foto mostra os dois carros, o significado da notcia fica menos aberto s interpretaes subjetivas do leitor, pois ele estar vendo o modelo dos automveis, seus tamanhos, cores e demais caractersticas.

    Outro aspecto digno de nota em relao aos signos grficos pictricos que, em alguns casos, estes recebem uma nomenclatura prpria que se confunde em demasia com as classificaes de signos estabelecidas pelos estudiosos da semitica. o caso dos chamados cones, empregados habitualmente nas pginas da Internet. Muitas vezes eles no so necessariamente cones, no sentido semitico da palavra. A fim de reservar as nomenclaturas cone, ndice e smbolo para a discusso semitica dos signos grficos, na presente pesquisa foi feita a opo por se chamar os tais cones da Internet e de outras mdias de pictogramas. Nesta viso, os pictogramas podem ser tratados como cones ou ndices ou smbolos ou, ainda, como um pouco de cada um destes.

    Alm dos pictogramas, dois tipos de signos grficos pictricos comumente utilizados para a composio de mensagens visuais, incluindo aquelas destinadas a passar informaes tcnico-cientficas como o caso dos infogrficos so a ilustrao e a fotografia. As ilustraes, de maneira resumida, podem ser entendidas como imagens materiais grficas produzidas a partir de tcnicas de

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    representao tradicionais, tais como a pintura, a colagem e o desenho, entre tantas outras, assim como de tcnicas mais recentes, tal como a computao grfica. J as fotografias so imagens materiais grficas obtidas atravs de um processo mecnico viabilizado pela mquina fotogrfica. Como os pictogramas, ilustraes e fotografias so os trs tipos de signos visuais grficos mais comumente utilizados nos infogrficos, eles so discutidos com um pouco mais de detalhe a seguir.

    6.5.2.1. Pictogramas

    Os pictogramas so desenhos figurativos estilizados onde se procura representar de maneira sinttica algum objeto, real ou imaginrio, com a menor quantidade possvel de sinais grficos. Em muitos casos, os poucos sinais grficos empregados procuram passar as caractersticas formais do objeto representado (como nos pictogramas utilizados na sinalizao de banheiros) e, desta forma, os pictogramas podem ser considerados cones. Em outros casos, a relao entre os pictogramas e seus objetos puramente convencional, e estes podem ser classificados como smbolos. Naturalmente, tambm existem as situaes onde os pictogramas so ndices. Dado o seu carter de estilizao e de economia de traos, os pictogramas podem ser vistos como um meio termo entre os signos grficos verbais e os pictricos.

    Os pictogramas mais elementares so constitudos de notaes geomtricas bsicas como pontos, linhas (retas e curvas), quadrados, retngulos, crculos, elipses, tringulos e demais polgonos. Um bom exemplo de pictograma elementar a seta, bastante empregada como indicao de direo e movimento. Dentro de uma classificao semitica, a seta pode ser considerada um signo indicial. Os chamados sinais de trnsito so outros exemplos de pictogramas compostos apenas por formas geomtricas simples.

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    Figura 18 Sinais de Trnsito.

    Os pictogramas que so cones representam de maneira simples e estilizada objetos ou conceitos. Sua configurao remete forma do objeto ou conceito representado, sendo uma reduo desta a seus elementos essenciais, ou seja, aos detalhes que lhe permitem o reconhecimento. Um exemplo so os pictogramas que representam a figura humana, como os presentes na sinalizao de banheiros. Outros exemplos so os pictogramas de animais, tais como macacos, quatis e jaguatiricas, presentes na sinalizao de trnsito das rodovias brasileiras, e os pictogramas de transporte, mostrados na figura 19.

    Figura 19 Pictogramas que so cones.

    H pictogramas que so claramente smbolos, representando de maneira imagtica objetos ou conceitos sem lhes ser anlogos no aspecto fsico. Nestes, a relao entre o representamen e o objeto representado se d por fora de uma conveno. Como exemplos de pictogramas que so smbolos, pode-se mencionar alguns cujos significados so bastante conhecidos e partilhados por um grande nmero de pessoas: os smbolos da paz (pomba carregando um ramo de oliveira), de perigo (crnio humano com dois ossos cruzados logo abaixo), de assistncia mdica (cruz vermelha), de reciclagem (trs setas, uma apontando para a outra e configurando um tringulo), do cristianismo (cruz), do judasmo (estrela de David), do islamismo (lua crescente e estrela) e do comunismo (foice e martelo).

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    Figura 20 Pictogramas que so smbolos.

    Os pictogramas, em decorrncia de sua simplicidade, possuem algumas similaridades com os signos grficos verbais. Tal como letras e palavras, os pictogramas podem ser combinados para compor mensagens ou para gerar novas significaes. Por isso, da mesma forma que os signos grficos verbais, os pictogramas so muito suscetveis s espessuras de linhas, cores, tamanhos e demais atributos, podendo ter seus sentidos alterados em funo destes. Quando pictogramas so empregados num infogrfico, por exemplo, importante se manter uma consistncia de estilo, para evitar ambigidade e poluio visual. A figura 21 mostra um exemplo de um infogrfico que utiliza pictogramas.

    Figura 21 Exemplo de infogrfico que utiliza pictogramas. Fonte: Understanding USA. WURMAN, 1999. Infogrfico de Nigel Holmes com Meredith Bagby.

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    6.5.2.2. Ilustrao

    A ilustrao uma imagem material grfica concebida por uma pessoa ou equipe de pessoas (desenhista, arte-finalista e colorista, por exemplo) atravs do emprego de uma ou mais tcnicas de representao pictrica, tais como a colagem, a pintura, o desenho e a computao grfica, entre tantas outras. Uma ilustrao habitualmente concebida para atender a uma demanda originalmente funcional: representar algo ou ornar uma pgina, por exemplo. Dependendo da direo artstica ou do intuito da ilustrao, o estilo pode variar bastante, indo desde as representaes mais naturalistas que pretendem imitar a forma como as imagens so captadas sensorialmente pelos rgos da viso at as mais simblicas e abstratas.

    Toda ilustrao tem incio no trabalho intelectual da pessoa ou pessoas que a concebem. o ilustrador, ou a equipe de arte, que define, em esboos ou num esforo de imaginao, quais so as tcnicas, as expresses, os estilos, os pontos de vista e os tratamentos a serem utilizados. Tambm cabe aos elaboradores da ilustrao escolher quais elementos sero usados e quais sero deixados de lado na construo de uma determinada mensagem. Este mtodo de trabalho, caracteristicamente compositivo, onde se podem acrescentar elementos ausentes e/ou retirar os que esto presentes, permite um maior controle sobre os resultados e sobre as intenes de uma ilustrao, que tende, assim, a produzir um efeito especfico e predeterminado. Sendo assim, na ilustrao h uma grande liberdade de manipulao, principalmente quando comparada com a fotografia, o que a torna mais adequada para a comunicao de conceitos abstratos e para a obteno de imagens impossveis ou muito difceis de serem fotografadas.

    Enquanto signo grfico pictrico, a ilustrao permite mltiplas leituras.

    Ela pode ser vista como um signo s, ou como um conjunto de signos. Por exemplo, a ilustrao mostrada na figura 22, pode ser um signo de menina desenhando. Mas, dentro deste signo maior, podem ser identificados outros signos como os de lpis, pincel, menina, gato, mapa, estojo, concentrao (o gesto facial da menina) e desenhar (a mo da menina segurando um lpis). A ilustrao traz consigo, portanto uma caracterstica

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    inerente a toda imagem material: ser vista como signo ou como texto (no caso, um texto imagtico).

    Figura 22 - Exemplo de ilustrao - Fonte: Meu 1o Atlas. IBGE, 2005, p. 12. Ilustrao de Martha Werneck.

    Figura 23 Exemplo de infogrfico que emprega ilustrao - Fonte: Information Design Workbook. BAER, 2008, p. 13. Infogrfico de Fernando Gmez Baptista.

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    Quando aplicada aos infogrficos, a ilustrao tem como finalidade prioritria informar. Sua funo esttica fica em segundo plano. No entanto, bom que se ressalte, o infogrfico ganha qualidade quando conta com uma ilustrao de grande valor esttico. S no se recomenda a priorizao do efeito esttico em detrimento da informao que se quer comunicar. Sendo assim, geralmente so utilizadas ilustraes mais tcnicas e ricas em detalhes, como desenhos de anatomia humana ou animal ou desenhos tcnicos de equipamentos, mquinas e prdios. A figura 23, na pgina anterior, mostra um exemplo de infogrfico que utiliza uma ilustrao.

    6.5.2.3. Fotografia

    A fotografia uma tecnologia de registro de imagens por meios mecnicos e qumicos ou digitais, baseada na sensibilizao de um suporte (o filme fotogrfico, por exemplo) por uma exposio luminosa. Tal tecnologia permitiu que imagens fossem obtidas atravs da operao da mquina fotogrfica, dispensando o domnio de tcnicas de representao pictrica tradicionais, tais como a pintura e o desenho, por parte das pessoas.

    O aspecto mais relevante das imagens fotogrficas que elas reproduzem de maneira bastante convincente o modo como o olho humano capta informaes visuais na realidade fsica. Conseqentemente, a imagem fotogrfica tem uma caracterstica que a destaca em relao s demais imagens materiais grficas: a crena em sua veracidade. Por ser uma imagem obtida por meios mecnicos e simular como o olho v, a fotografia parece estar livre da subjetividade humana, o que , naturalmente, bastante questionvel. No entanto, questionamentos parte, a imagem fotogrfica largamente aceita como um retrato fiel da realidade e as pessoas tendem a acreditar no que vem em fotografias.

    Por esta razo, quando empregada em infogrficos, a fotografia extremamente apropriada para representar objetos concretos e acontecimentos reais. Graas sua pretensa veracidade, uma imagem fotogrfica aproxima da realidade seu espectador e, deste modo, o torna uma testemunha ocular dos fatos.

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    Tal artifcio faz com que o espectador se sinta mais envolvido com a informao veiculada, o que pode auxiliar na memorizao desta.

    Figura 24 Exemplo de fotografia. Fonte: www.morguefile.com, 2007.

    Outra caracterstica a ser considerada em relao fotografia seu mtodo compositivo, que , geralmente, subtrativo. Como a lente da cmera fotogrfica no pode captar todos os objetos presentes num campo visual, preciso escolher quais destes vo compor a foto. Sendo assim, cabe ao fotgrafo fazer sempre uma seleo dos elementos: o enquadramento de uma foto supe que muitos elementos foram deixados de fora e que restaram apenas os mais interessantes dentro de um determinado contexto. Alm disso, em muitos casos a fotografia est submetida a circunstncias externas incontrolveis e, portanto, nem sempre possvel

    adicionar elementos cuja presena seria desejada. Nestas situaes, onde extremamente difcil, ou mesmo impossvel, se obter uma imagem por meios fotogrficos, geralmente se opta pela produo da imagem atravs da ilustrao.

    Da mesma forma que as ilustraes, a fotografia tambm permite mltiplas leituras. A foto de uma pessoa, no mbito geral, pode funcionar como um signo desta. No entanto, a expresso facial e outros signos perceptveis dentro da foto carregam outros significados como por exemplo: ele ou ela estava triste neste dia ou ele ou ela est envelhecendo (por causa dos cabelos brancos).

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    Figura 25 - Exemplo de infogrfico que emprega fotografias - Fonte: Information Design Workbook. BAER, 2008, p. 112. Infogrfico de 50,000feet, Inc.

    6.5.2.4. Relaes entre Signos Grficos Verbais e Signos Grficos Pictricos

    Os signos grficos verbais e os signos grficos pictricos estabelecem entre si algumas relaes importantes: as relaes de palavra e imagem. A princpio pode-se pensar que a utilizao de textos lingsticos com imagens apenas uma forma de trazer redundncia comunicao, j que um estaria duplicando as informaes presentes no outro. No entanto, nem sempre a mescla de palavras e imagens redundante. Em muitos casos as imagens trazem informaes ou detalhes que o texto lingstico no tem, assim como as palavras do preciso a aspectos ambguos das imagens. Conforme SANTAELLA & NTH (2008, p. 54), as relaes de palavra e imagem ocorrem num contnuo que vai da redundncia informatividade. No extremo inferior deste contnuo, texto e imagens carregam praticamente as mesmas informaes e so, portanto,

    redundantes. No extremo superior, a imagem pode estar, em alguns casos, subordinada ao texto e simplesmente ilustrar situaes descritas neste. Em outros

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    casos, a imagem pode ser mais informativa que o texto, e este apenas guia a interpretao da mesma ou d algumas informaes adicionais. No meio-termo esto as situaes em que texto e imagem tm a mesma importncia e se

    determinam mutuamente. Existem ainda circunstncias em que h discrepncia ou contradio entre as informaes contidas no texto e na imagem.

    Dentro do contnuo que vai da redundncia informatividade, BARTHES (1964 apud NTH, 1995) identifica duas formas de relao entre palavras e imagens: a ancoragem e a complementaridade. Na ancoragem, as palavras levam o leitor a perceber determinados significados embutidos na imagem qual estas se referem. Neste caso, o entendimento da imagem depende das palavras. Na complementaridade, palavra e imagem se determinam reciprocamente, ou seja, a mensagem no entendida se faltar uma ou outra. Neste caso, tantos os signo verbais quanto os pictricos so indispensveis para a interpretao da mensagem.

    Nos infogrficos, o que se deve fazer justamente explorar de maneira efetiva as relaes de ancoragem e complementaridade entre os signos grficos verbais e os signos grficos pictricos. No caso da ancoragem, podem ser utilizados textos que guiam o espectador do infogrfico descoberta de determinados significados presentes na imagem. No caso da complementaridade, busca-se na construo do infogrfico um controle da redundncia para se obter o mximo de informatividade. Deste modo, sempre que possvel, textos e imagens devem ser usados de forma complementar, com o intuito de reduzir a quantidade de signos grficos utilizados, e de forma a aproveitar ao mximo os potenciais de expresso destas duas formas de representao.

    6.5.3. Signos Grficos Esquemticos

    De maneira geral, os signos grficos esquemticos so aqueles que no

    podem ser propriamente definidos nem como signos grficos verbais nem como signos grficos pictricos. Isso porque eles so constitudos de palavras, algarismos e imagens, no para representar um objeto em si, mas para representar as relaes entre vrios objetos. Sendo assim, os signos grficos esquemticos so

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    os diagramas, ou seja, as representaes grficas com o propsito de mostrar relaes de semelhana, de ordem ou de proporo entre os itens descritos nestas.

    A principal caracterstica dos signos grficos esquemticos (dos diagramas) que eles demandam duas etapas de percepo: a primeira para se perceber o tipo de diagrama e a segunda para se perceber as relaes entre os itens representados. No primeiro tempo de percepo identificada a natureza do diagrama (se ele um mapa, um grfico estatstico, um fluxograma etc.) para se saber como ler as informaes contidas neste. No segundo tempo de percepo, so notadas as relaes entre os sinais e signos grficos, de modo que se possam extrair informaes destas.

    Os diagramas e, por conseqncia, os infogrficos, conforme discutido no prximo captulo, podem ser vistos, no mbito geral, como signos grficos esquemticos. Isto porque sua funo primordial a de permitir a percepo das relaes entre os objetos representados pelos outros signos grficos presentes dentro destes. Os dois prximos captulos aprofundam esta discusso ao analisar os infogrficos e apresentar alguns dos tipos de diagrama mais usuais.

    6.6. Concluses deste captulo

    O presente captulo procurou caracterizar o cdigo visual grfico atravs da apresentao dos tipos de sinais grficos que o constituem e de algumas das regras tcitas que o regulam. Foram identificados como sinais grficos elementares o ponto, a linha e a superfcie. A partir destes sinais grficos elementares e de suas variaes de forma, localizao, tamanho, direo, tonalidade, cor e textura so constitudos os signos grficos, que podem ser verbais, pictricos ou esquemticos.

    Os signos grficos verbais so a expresso grfica dos signos de uma lngua (a palavra escrita). Os signos grficos pictricos, por sua vez, so as imagens materiais grficas (pictogramas, ilustraes, pinturas, desenhos, fotografias etc.). J os signos grficos esquemticos so os diagramas (no representam objetos, mas, sim, as relaes entre objetos). Da organizao e gravao de signos grficos

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    destas trs espcies na superfcie plana so efetivadas as representaes grficas da informao, tais como os infogrficos.

    Uma vez caracterizado o cdigo visual grfico, possvel se empreender com maior propriedade a discusso conceitual dos infogrficos, assunto do prximo captulo.

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