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BOLETIM DE CONJUNTURA NERINT Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n. 3 | p. 1-74 | nov/2016 | ISSN: 2525-5266 33 O CONFLITO NO IÊMEN (2015-PRESENTE): CARACTERÍSTICAS DOMÉSTICAS, RE- GIONAIS E INTERNACIONAIS DE UMA GUERRA DESCONHECIDA João Paulo Alves 1 e Patrícia Graeff Machry 2 O Iêmen é estruturalmente afetado por dificuldades na constituição de um governo central, e consequentemente no controle e unificação de seu território. A Guerra Civil no Iêmen iniciou-se em 2015 após as ofensivas Houthis sobre a capital iemenita, e tem raízes históricas profundas que remontam ao contestado processo de unificação e às divisões políticas, religiosas e regionais do país. As recentes ações dos Estados Unidos e da Arábia Saudita trazem à tona a importância estratégica do país para a balança de poder regional. . 1 Graduando em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected] 2 Graduanda em Relações Internacionais pela UFRGS. Contato: [email protected] Apresentação No último dia 12 de outubro, quarta-feira, o Pentágono anunciou que os Estados Unidos da América lançaram ataques no Iêmen, destruindo três radares costeiros controlados pelo movimento rebelde Houthi. O bombardeio foi justificado como sendo uma retaliação ao lançamento de dois mís- seis por parte dos Houthi contra navios de guerra americanos localizados no Mar Vermelho, no final de semana anterior. À luz dos debates presiden- ciais que ocorriam nos Estados Unidos, pouco ou nada foi falado a respeito deste envolvimento no Iêmen, e o secretário de imprensa do Pentágono afirmou que se tratou de uma ação de autodefesa para proteção de seu pessoal, seus navios e seu direito de livre navegação, violados pelas ações dos Houthi. Ele também endossou o discurso nor- malmente defendido pela Arábia Saudita, de que o Irã tem tido envolvimento direto em apoio ao grupo dos Houthi, e convidou todas as partes envolvidas a voltarem à mesa de negociações para retoma- rem as conversações de paz interrompidas em agosto de 2016, após o desrespeito ao cessar-fogo por todas as partes. O que fica aparentemente omisso, contudo, nes- tas declarações, é o fato de que esse ataque es- tadunidense contra as posições controladas pelos rebeldes marca o primeiro envolvimento de fato do país na guerra civil em curso no Iêmen desde o começo de 2015. Até então, apesar de apoiar a coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita que ataca o Iêmen desde março de 2015, a atuação direta estadunidense ainda era majoritariamente circunscrita no contexto da guerra contra o terro- rismo, com ataques aéreos com drones realizados contra as posições, principalmente, da Al-Qaeda

o Conflito no iêmen (2015-Presente): CaraCterÍstiCas ... · Contato: [email protected] 2 Graduanda em Relações Internacionais pela UFRGS. Contato: [email protected] Apresentação

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o Conflito no iêmen (2015-Presente): CaraCterÍstiCas doméstiCas, re-gionais e internaCionais de uma guerra desConheCida

João Paulo Alves1 e Patrícia Graeff Machry2

• O Iêmen é estruturalmente afetado por dificuldades na constituição de um governo

central, e consequentemente no controle e unificação de seu território.

• A Guerra Civil no Iêmen iniciou-se em 2015 após as ofensivas Houthis sobre a capital

iemenita, e tem raízes históricas profundas que remontam ao contestado processo de unificação

e às divisões políticas, religiosas e regionais do país.

• As recentes ações dos Estados Unidos e da Arábia Saudita trazem à tona a importância

estratégica do país para a balança de poder regional.

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1 Graduando em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected]

2 Graduanda em Relações Internacionais pela UFRGS. Contato: [email protected]

Apresentação

No último dia 12 de outubro, quarta-feira, o Pentágono anunciou que os Estados Unidos da América lançaram ataques no Iêmen, destruindo três radares costeiros controlados pelo movimento rebelde Houthi. O bombardeio foi justificado como sendo uma retaliação ao lançamento de dois mís-seis por parte dos Houthi contra navios de guerra americanos localizados no Mar Vermelho, no final de semana anterior. À luz dos debates presiden-ciais que ocorriam nos Estados Unidos, pouco ou nada foi falado a respeito deste envolvimento no Iêmen, e o secretário de imprensa do Pentágono afirmou que se tratou de uma ação de autodefesa para proteção de seu pessoal, seus navios e seu direito de livre navegação, violados pelas ações dos Houthi. Ele também endossou o discurso nor-malmente defendido pela Arábia Saudita, de que o Irã tem tido envolvimento direto em apoio ao grupo

dos Houthi, e convidou todas as partes envolvidas a voltarem à mesa de negociações para retoma-rem as conversações de paz interrompidas em agosto de 2016, após o desrespeito ao cessar-fogo por todas as partes.

O que fica aparentemente omisso, contudo, nes-tas declarações, é o fato de que esse ataque es-tadunidense contra as posições controladas pelos rebeldes marca o primeiro envolvimento de fato do país na guerra civil em curso no Iêmen desde o começo de 2015. Até então, apesar de apoiar a coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita que ataca o Iêmen desde março de 2015, a atuação direta estadunidense ainda era majoritariamente circunscrita no contexto da guerra contra o terro-rismo, com ataques aéreos com drones realizados contra as posições, principalmente, da Al-Qaeda

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na Península Arábica.

Qual é, então, a importância do Iêmen e quais os impactos da guerra civil em andamento no país? Quais as motivações que levam à intervenção de grandes potências como os Estados Unidos e de potências regionais como a Arábia Saudita e o Irã? Quais as disputas internas e os grupos de interesse domésticos que protagonizam este conflito? Reco-nhecendo a importância de todas essas questões, o presente boletim tem como objetivo respondê--las, contextualizando o papel histórico e geoestra-tégico do Iêmen e esclarecendo a dinâmica e as características do atual conflito.

Breve história do Iêmen

O território iemenita localiza-se na região sudoeste da península arábica. Faz fronteira com a Arábia Saudita e com o Omã, e é banhado pelo Mar Vermelho e pelo Mar Arábico. É uma posição de enorme importância estratégica em virtude do estreito de Bab el-Mandeb, que conecta o Oceano Índico ao Mar Vermelho - e, consequentemente, ao Mediterrâneo.

Figura 1- Localização do Iêmen na Península Arábica

A maioria dos iemenitas são muçulmanos sunitas que seguem a escola chafeíta, mas há, também, uma parcela minoritária da população que segue o ramo zaidita do xiismo, principalmente no Norte. O ramo zaidita é minoritário no xiismo e possui mais semelhanças com o próprio sunismo do que com outros ramos xiitas, como o dos duodecimanos, que são majoritários no Irã e no Iraque, e é encon-trado, hoje em dia, apenas no Iêmen (Day 2012; Demant 2004; Etheredge 2011).

Nem sempre o território iemenita foi unificado como o é hoje em dia. Pelo contrário, historicamen-te encontrou-se quase sempre dividido entre inú-meras tribos regionais e, desde o início do século XX, entre Norte e Sul. A divisão entre o Norte e Sul começou quando os impérios Otomano e Britâni-co desejaram estabelecer-se no território iemeni-ta, respectivamente ao Norte e ao Sul, em virtude da importância estratégica do Mar Vermelho, e traçaram uma linha fronteiriça para evitar conten-das. No Sul, a maioria da população era sunita, ao passo que no Norte, a população era dividida entre sunitas e os xiitas zaiditas (Day 2012; Etheredge 2011; Held e Cummings 2014).

Com o fim do Império Otomano ao final da Primeira Guerra Mundial e a consequente retirada de suas tropas do Norte do Iêmen, a região passou a ser dominada por imãs zaiditas. Esse domínio foi pos-to à prova com a revolução de 1962, que fundou a República Árabe do Iêmen - mais comumente chamada simplesmente de Iêmen do Norte. A re-volução do Norte inspirou os povos sulistas, ainda dominados pelos britânicos, levando à eclosão de outra revolução, desta vez no Sul, em 1963, que buscava a descolonização, e acabaria por fundar a República Democrática Popular do Iêmen (RDPI), de orientação socialista. O Iêmen do Sul passou a receber apoio soviético e a modernizar-se, rea-lizando reforma agrária, investindo em educação e defendendo a emancipação feminina. A Repúbli- Fonte: Wikimedia Commons

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ca do Norte, por sua vez, permanecia majoritaria-mente agrária, analfabeta e ainda permeada por disputas de líderes tribais, cujo poder nenhum pre-sidente conseguiria controlar até a ascensão, em 1978, de Ali Abdullah Saleh (Halliday 1990; Ethe-redge 2011; Visentini et al. 2013). Apesar de os territórios permanecerem separados, as Revolu-ções ocorridas em ambos os lados da linha divisó-ria haviam propagado ideias de unidade nacional, especialmente devido à influência dos ideais dos nacionalismos árabes e do pan-arabismo que che-gavam na região desde os anos 1950.

Com o enfraquecimento da União Soviética na me-tade final dos anos 1980, a ajuda recebida pelo Iêmen do Sul diminuiu enormemente. Ao mesmo tempo, atividades de prospecção de petróleo na região de fronteira indicavam para a existência de campos na região Sul. Tendo em vista o pos-sível colapso da RDPI e as vantagens que o Norte obteria de uma exploração conjunta do petróleo, as lideranças de cada país optaram pela unifica-ção, que se deu oficialmente no dia 22 de maio de 1990. Ali Abdullah Saleh, presidente do Iêmen do Norte, tornou-se presidente da nova República do Iêmen, cuja capital é Sanaa (Brehony 2011; Ethe-redge 2011; Visentini et al 2013).

A unificação, porém, não eliminou as diferenças en-tre ambas as partes. Desde a unificação, a popula-ção no Sul passou a manifestar descontentamento com sua representação nas instâncias políticas, uma vez que a população do Norte era cinco vezes maior que a do Sul, e, consequentemente, os polí-ticos do Norte obtinham maioria no parlamento. A insatisfação levaria à eclosão de uma guerra entre os dois lados em 1994, que foi vencida pelo Norte, mas não cessou os descontentamentos,

Nos anos 2000, novas forças surgiriam para de-

safiar o domínio do presidente Saleh no Iêmen: o movimento insurgente zaidita Houthi, o Movimento Separatista do Sul, e o estabelecimento da al-Qae-da na Península Arábica (AQPA). O governo de Sa-leh travou diversas guerras com os Houthis entre 2004 e 2010 no Norte do Iêmen, ao mesmo tempo em que se tornou um aliado exemplar dos Estados Unidos na Guerra ao Terror, permitindo ataques aéreos contra as posições da al-Qaeda.

Em 2011, os protestos da Primavera Árabe atin-giram o Iêmen, levando a população às ruas para contestar o domínio de Saleh, que já se mantinha em posição de poder a 33 anos. O aumento da violência levou a Arábia Saudita e os EUA a pres-sionarem Saleh a abandonar o poder, o que foi feito após uma negociação com o Conselho de Co-operação do Golfo. Eleições ocorreram em 2012 e elegeram o vice-presidente de Saleh, Abdu Rabbu Mansour Hadi. Reconhecendo que seria difícil con-quistar a confiança do povo iemenita após a Prima-vera Árabe, Hadi seguiu sendo um aliado essencial dos Estados Unidos, para garantir que teria apoio externo (Visentini 2014).

Durante 2013 e 2014, Hadi realizou a Conferência do Diálogo Nacional, um fórum com todos os gru-pos políticos existentes no Iêmen, em uma tentati-va de chegar a um acordo para formar um Iêmen “pós-Saleh” que agradasse ao povo. Os acordos finais propunham um sistema federativo, mas eles rapidamente fracassaram: enquanto alguns seto-res do Sul não abririam mão de suas ambições se-paratistas, os povos do Norte jamais concordariam em deixar determinadas regiões ricas em petró-leo e gás natural às federações do Sul (Salisbury 2015). As discordâncias acirraram ainda mais as tensões entre os rebeldes Houthis no Norte e os separatistas do Sul, e a dificuldade de Hadi em conciliar o território permitiu também um cresci-

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mento da al-Qaeda.

A Guerra Civil Iemenita e a sua dimen-são doméstica

O conflito atualmente em curso no Iêmen iniciou-se em janeiro de 2015, quando os Houthis tomaram o palácio presidencial de Sanaa e toma-ram as posições da guarda presidencial. O grupo, originário da região de Saada, vinha avançando ao Sul em direção à Sanaa desde 2014, dada a impossibilidade de se chegar a acordos com o go-verno Hadi sobre uma maior participação Houthi no governo e sobre as reformas econômicas e mili-tares desejadas pelo grupo (IHS 2015; IISS 2016). Com a tomada da capital por parte dos Houthis, a cidade de Aden bloqueou todos os seus acessos por mar, terra e ar, sinalizando um apoio do Sul para o presidente. Os Houthis realizaram discur-sos pedindo que se chegassem a acordos com os partidos do Sul e que se melhorasse a situação securitária da região de Marib, para proteger a po-pulação da al-Qaeda - altamente presente naquela região -, em uma clara tentativa de tentar ganhar a simpatia da população.

No dia 22 de janeiro, o presidente e o primeiro--ministro renunciaram, tentando negociar com os Houthis que eles teriam maior participação nas instituições do Estado se concordassem em retirar suas milícias da capital. Os Houthi, porém, estabe-leceram um governo interino no mês de fevereiro, e o presidente Hadi fugiu para Aden, onde infor-mou que anulava sua decisão inicial de resignar e se afirmou como o presidente legítimo do Iêmen. Como resultado desses desdobramentos, a guerra civil em curso no Iêmen é complexa em sua dinâ-mica interna, uma vez envolve uma série de partes que disputam umas com as outras e cujas alianças são bastante porosas.

Os Houthis, já mencionados, são um grupo insur-gente de orientação zaidita que é comumente ro-tulado pela mídia internacional como “grupo xiita rebelde” ou “milícia xiita”, normalmente em uma tentativa de associá-los com o Irã. O xiismo zaidi-ta, porém, como explicado acima, pouco tem em comum com o xiismo seguido pelos iranianos, o que torna fraca a afirmação de associação entre ambos puramente por termos religiosos. Os Hou-thi começaram a organizar-se como um grupo de estudos religioso que defendia o renascimento do zaidismo no Iêmen - que havia esmorecido após a queda do último imã em 1962, e que é um objetivo temido e fortemente rejeitado pela maioria sunita do país. O nome Houthi passou a ser usado apenas depois de um tempo, em referência ao fundador Hussein Badr al-Din al-Houthi, que foi assassinado pelas forças do governo Saleh em 2004, tornan-do-se um mártir. O grupo identifica-se oficialmente como Ansar Allah, ou “Partidários de Deus” (IHS 2015, Phillips 2011). O Movimento Separatista do Sul, ou al-Hirak, sur-giu nos anos 2000 como um movimento de con-testação ao domínio do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, que os povos do Sul consideravam corrupto e ilegítimo. O Movimento do Sul, porém, tinha uma abordagem diferente dos Houthi, e defendiam manifestações pacíficas e sem armas. O al-Hirak organizou enormes protestos ao longo de 2008 e 2009, mas, eventualmente, passaram também a recorrer a ataques contra o governo, tendo em vis-ta a enorme repressão que sofreram pelas forças de segurança de Saleh. Atualmente, o Movimento Separatista não possui uma liderança, e, portanto, tem tido uma voz menor no conflito em curso. Ape-sar de serem contrários ao governo de Hadi, que consideram uma continuação de Saleh, os sepa-ratistas do Sul também se opõem fortemente ao movimento Houthi (Day 2012; IISS 2016).

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As forças do governo de Hadi, principal oponente dos Houthis no atual conflito, são defendidas pelo exército iemenita e por uma coalizão militar lide-rada pela Arábia Saudita que atua no solo ieme-nita desde março de 2015. Internamente, porém, as Forças Armadas encontram-se fortemente di-vididas, com diversos quadros dissidentes tendo migrado para outro lado do conflito, em defesa do ex-presidente Ali Abdullah Saleh. Esses, em uma tentativa de enfraquecer o presidente, vem forne-cendo apoio aos Houthi, em uma virada bastante curiosa da situação, considerando o fato de que, enquanto presidente, Saleh também lutava contra o Ansar Allah.

O conflito, porém, não se limita a suas fronteiras domésticas. Além dos atores domésticos que se confrontam pelo poder no Iêmen, atores transna-cionais como a al-Qaeda e o Estado Islâmico tam-bém tem presença dentro do território iemenita. A al-Qaeda atua diretamente no país desde 2009 através da al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), que foi criada em 2002 na Arábia Saudita. A AQPA tem presença em uma porção significativa do ter-ritório, especialmente na porção Leste, e controla diversas cidades na região de Marib, que é uma das regiões mais ricas em petróleo do Iêmen. Este braço da al-Qaeda é considerado um dos mais po-derosos da organização, e foi o responsável pelos ataques contra o Charlie Hebdo, em Paris, em ja-neiro de 2015.

O Estado Islâmico, por sua vez, anunciou ter se es-tabelecido no Iêmen no ano de 2015, e, embora não se tenha ainda certeza do real tamanho do seu poder no país, especula-se que tem conquis-tado militantes dissidentes da AQPA para atuar no Iêmen (IHS 2014; IISS 2016).

Figura 1- Localização do Iêmen na Península Arábica

Fonte: Stratfor 2016.

A dimensão internacional do conflito

Compreendida a dimensão interna do con-flito, parte-se para uma análise da sua extensão a nível internacional. Entende-se que a Guerra Ci-vil Iemenita é, essencialmente, resultado das di-nâmicas e disputas internas de poder - conforme foi apresentado na seção anterior. Não obstante, é evidente que esse fenômeno atrai a atenção de alguns atores internacionais com interesses espe-cíficos: regionalmente, encaixa-se em uma disputa histórica e geopolítica mais ampla envolvendo o Irã e a Arábia Saudita; e globalmente, insere-se nos interesses estratégicos dos Estados Unidos e da Europa na região.

A República Islâmica do Irã apresenta visíveis in-teresses estratégicos na alteração do presente status quo e na potencial reorientação da políti-ca iemenita em uma estratégia simultaneamente ofensiva e defensiva. Por um lado, Teerã aproveita--se das divisões sectárias entre sunitas e xiitas do país para prestar suporte ideológico e político às reivindicações Houthis - ganhando acesso a mais uma área importante que poderia ser usada como instrumento de pressão contra as suas rivalida-

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des regionais. Por outro, ainda há repetidas acu-sações, partindo de Washington e Riade, quanto à prestação de assistência material e financeira para os rebeldes iemenitas, na forma de quantidades significativas de dinheiro e equipamentos militares - supostamente com o intuito de criar focos de re-taliação contra seus opositores e aumentar a sua capacidade dissuasória (Juneau 2016).

Já o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), e em especial a Arábia Saudita, vislumbra o Iêmen praticamente como uma extensão de suas preocu-pações domésticas, como um “quintal estratégico” na península. Dessa forma, Riade possui interes-ses originários desde a independência iemenita, tendo propugnado o Wahhabismo - a sua vertente oficial do Islã - como modelo religioso a ser segui-do, e estabelecido um “sistema de patronagem” sobre a balança de poder doméstica no país. Mais especificamente, os sauditas buscam refrear o for-talecimento do grupo rebelde, a fim de evitar que o Irã realize uma espécie de flanqueamento político do qual pudesse se aproveitar posteriormente. Na presente conjuntura, portanto, a consecução dos seus objetivos passa invariavelmente pela defe-sa do governo de Abd Mansur al Hadi (LSE Middle East Centre 2014).

Em função disso, e após as ofensivas Houthis so-bre a parte sul do país e a consequente ameaça de conquista sobre um dos últimos redutos do gover-no central (a cidade de Aden), o CCG percebeu a necessidade de defender seus interesses através do uso da força. No início de 2015, o Conselho de Segurança das Nações Unidas passou a criticar fortemente os avanços rebeldes, aprovando a Re-solução 2201 e demandando a retirada dos insur-gentes das áreas ocupadas. Em março, a Arábia Saudita organizou uma coalizão de países - forma-

da pelos Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Egito, Jordânia, Kuwait, Marrocos, Senegal e Su-dão - para realizar a intervenção militar, e auxiliar o governo na recuperação do terreno perdido (Reis, Machry e Prates 2015).

Nesse contexto, foi lançada a Operation Decisi-ve Storm. Na fase inicial da operação, o objetivo central foi a garantia da superioridade operacional aérea da coalizão, através do estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, e a reversão da si-tuação no conflito, através de bombardeios loca-lizados. Assim, aeronaves da coalizão passaram a atacar as posições de bases militares, linhas de suprimento, equipamentos antiaéreos e galpões de munição Houthis em Sana’a, Taiz e Aden3, con-forme mostra a Figura 1. Ademais, embarcações de guerra egípcias e sauditas aproximaram-se da costa sul do país e garantiram reforço na defesa da cidade portuária. Gradualmente, a situação foi sendo revertida e as tropas leais ao governo inicia-ram uma contraofensiva (Mello e Knights 2015)

Figura 3 - Localização dos bombardeios da coalizão

Referência:Levett et al. 2016

Além disso, foram empregadas forças convencio-nais de países da coalizão em batalhas terrestres no país. Nesse esforço de combate, destaca-se o envio de sistemas mecanizados, incluindo tanques de guerra, veículos blindados médios, veículos de

3 Segundo o Yemen Data Project, uma iniciativa de coleção de dados relativos à Guerra do Iêmen com o intuito de torná-la mais transpa-rente, há uma ampla controvérsia acerca da efetividade dos bombardeios da coalizão. De acordo com a organização, dos 8.600 in-cidentes registrados, 3.577 atingiram instalações militares, 3.141 atingiram localizações civis, e 1.882 atingiram pontos não identificados. As regiões de Saada e Taiz foram especialmente afetadas por esses ataques indiscriminados (Levett et al. 2016).

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combate à infantaria e muitos caminhões de trans-porte. Do mesmo modo, foram enviados batalhões de soldados - boots on the ground - para auxiliar nas escaramuças de “reconquista”, destacando-se a participação de tropas iemenitas especializadas e treinadas em campos sauditas e emiradenses, e batalhões de operações especiais nacionais da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos com armamentos de alta tecnologia - totalizando um acréscimo de aproximadamente 150.000 solda-dos nos campos de batalha (Mello e Knights 2015).

Em uma segunda fase da operação, as disputas pareceram chegar a um impasse: o conflito tornou--se basicamente uma guerra de atrito e as movi-mentações de ambos os lados foram significativa-mente reduzidas. Como último esforço, houve um enfrentamento breve entre a Arábia Saudita e os Houthis ao longo da ampla fronteira que divide os dois países, com mobilização de forças de respos-ta rápida, troca de disparos de artilharia pesada e evacuação de cidades limítrofes. Nesse contexto de estagnação, houve uma significativa expansão da participação indireta de ambas as potências regionais, através da provisão de suporte para as suas respectivas facções - pelo envio de armamen-tos, munições, suprimentos médicos e inclusive comida (Reis, Machry e Prates 2015).

Por fim, a coalizão lança-se em um novo empre-endimento de guerra através da chamada Opera-tion Restoring Hope que dura até os dias de hoje - teoricamente finalizando as operações militares e bombardeios aéreos, e dando prosseguimento ao processo por vias diplomáticas4. Assim, segundo porta-vozes da coalizão, iniciou-se uma nova opera-ção com objetivos majoritariamente humanitários: reavivar o diálogo político, fortalecer o combate ao terrorismo, facilitar a evacuação de nacionais para

outros países e intensificar a assistência médica para a população civil (Banco 2015). Não obstan-te, até o presente momento não houve iniciativas no sentido de um cessar-fogo formal entre as par-tes que se mostrassem duradouras.

A nível global, a atual situação no Iêmen também desperta interesses específicos - particularmente do Ocidente - quanto à posição estratégica da pas-sagem marítima no estreito de Bab-el-Mandeb. O canal separa a África e o Oriente Médio, ao mesmo tempo em que conecta o Mar Vermelho e o Golfo de Aden - e posteriormente, o Oceano Índico. Além disso, é de suma importância para a economia in-ternacional, sendo o 4º estreito mais utilizado no planeta: anualmente, aproximadamente 14.000 embarcações, com 14% de todo o comércio global, atravessam essa passagem; diariamente, em tor-no de 3.8 milhões de barris de petróleo refinado e produtos derivados fazem o mesmo caminho em direção aos mercados industrializados ocidentais (Rocha et al. 2016).

Esses fatores são acrescidos à chamada Guerra Global ao Terror (GWOT), que contribui para que haja uma forte atração dos Estados Unidos e da Europa em direção à atual situação no Iêmen. A deterioração política e econômica e a segregação do país em facções combatentes criaram um cená-rio fértil para a ascensão de grupos fundamentalis-tas e utilitários de estratégias terroristas, que tem sido os maiores beneficiários desse conflito. Nesse contexto, tem-se a Al Qaeda da Península Arábica (AQAP) e, em alguma medida, o Estado Islâmico (EI) como outras fontes de instabilidade e de ame-aça à segurança internacional - tanto através dos tradicionais atentados levados à cabo globalmen-te, quanto através da militarização das passagens marítimas e dos potenciais ataques às embarca-

4 A despeito das declarações oficiais de interrupção dos bombardeios, os sauditas deram continuidade praticamente irrestrita às operações de ataque às cidades iemenitas, destruindo inclusive o aeroporto da capital Sana’a.

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ções cruzando a região (Cordesman 2015).

Justamente em função disso, os Estados Unidos participaram do esforço de guerra da coalizão. Ini-cialmente, o país atuou de forma indireta, sendo responsável pelo fornecimento de equipamentos militares de alta tecnologia - como os F15 e F16 utilizados nos bombardeios aéreos sauditas - e pela utilização de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT’s) no suporte logístico e de inteligência. Em Outubro de 2016, Washington assumiu uma parti-cipação mais direta no conflito, utilizando mísseis Tomahawk para bombardear radares rebeldes na costa do país, em um alegado ato limitado de au-todefesa para proteção de sua equipe militar, de suas embarcações e da liberdade de navegação (Ackerman 2016).

Considerações finais

O conflito iniciado em 2015 no Iêmen trou-xe à tona as intensas divisões existentes dentro do jovem país. Tais divisões, contudo, não são recen-tes, tendo origens na época em que o território era ainda dividido entre Iêmen do Norte e Iêmen do Sul e intensificando-se após a unificação, em es-pecial nos anos 2000. Elas demonstram um forte conteúdo regional e aparecem também claramen-te na esfera religiosa, a qual, contudo, é dotada de objetivos políticos e estratégicos bastante claros. Para além dos numerosos e complexos elementos internos em jogo, a guerra civil também envolveu atores regionais e internacionais. Nesse sentido, destaca-se a atuação da Arábia Saudita, que histo-ricamente exerceu enorme influência no território iemenita, tanto antes quanto após a unificação, e que atualmente manifesta a importância que impri-me à estabilidade da região por meio da interven-ção militar que lidera. A contenda regional entre Irã e Arábia Saudita se manifesta através do apoio a diferentes partes em disputa, embora a atuação

desse, ao menos no que se tem provas, seja signi-ficativamente menor do que a do reino saudita. A recente participação mais ativa dos Estados Uni-dos na guerra comprova a importância estratégica da região, a qual já era alvo da política externa de Washington desde o início da Guerra Global ao Ter-ror.

É impossível prever quais serão os desdobramen-tos desse conflito. As conversações de paz, mo-mentaneamente paradas, podem ser retomadas a qualquer momento, e seus resultados podem va-riar de um simples cessar-fogo a um acordo real de transição política e pacificação do território. As his-tóricas dificuldades em se chegar a um consenso entre o governo iemenita e as forças de oposição, somadas à crescente ameaça terrorista, tornam pequenas as esperanças em uma solução no curto prazo. Portanto, cabe ao seguir observando aten-tamente os próximos eventos e o comportamento dos atores envolvidos, reconhecendo a importân-cia do conhecimento sobre cada um deles - tanto os domésticos quanto os externos.

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Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n. 3 | p. 1-74 | nov/2016 | ISSN: 2525-5266

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