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4165 O CONSUMO PELO PRISMA DO DIREITO ECONÔMICO: OS CASOS DA SOJA TRANSGÊNICA E DA QUEBRA DE PATENTES DOS MEDICAMENTOS PARA O TRATAMENTO DA AIDS * EL CONSUMO POR EL PRISMA DE DERECHO ECONÓMICO: EL CASO DE LA SOJA TRANSGÉNICA Y DE LA QUEBRA DE LAS PATENTES DE DROGAS PARA EL TRATAMIENTO DEL SIDA Edson Luciani de Oliveira RESUMO Tradicionalmente o Direito Econômico Brasileiro é estudado reunindo-se, sob a premissa do capitalismo e do livre-mercado, vários ramos disciplinares num feixe catalogado de assuntos ligados à concorrência, iniciativa privada, defesa e interesse do consumidor, meio ambiente, dentre outros, onde sua autonomia é dada por sua finalidade: “tradução normativa dos instrumentos de política econômica do estado” na acepção de Fábio Konder Comparato (O indispensável direito econômico..., 1978, p. 471), e sob o manto do art. 170 da Carta Magna Brasileira. Ocorre que, para o Direito Econômico, novos prismas de estudo surgem, sugerindo-se que se observe tal panorama não mais pelo modelo lógico de imputação “falso ou verdadeiro” mas, pelo sociológico “depende” que tem em vista o interesse coletivo, não individualizado, regrado pela ótica e pela lógica de um grupo ou sociedade e não de uma situação específica, particular. Este será o modelo que se buscará seguir no presente texto, onde se qualifica epistemologicamente um determinado ramo do Direito, no caso, o do Consumo, por sua estrutura, pelas tendências macroeconômicas envolvidas. Sabe-se que os já abalados fundamentos do estudo do Direito Civil (propriedade e contratos, principalmente) constitucionalizados, passam agora a ter influência das relações de consumo. Este, por seu turno, pode ser observado pela visão de conjunto, de mercado, sem perder sua identidade, seu eixo. Nesse contexto (e talvez esta imagem não seja nova) há que se ver o Direito do Consumo, assim como outros direitos ditos tradicionais, girando em seu próprio eixo de rotação exibindo a relação jurídica consumidor?fornecedor (ou a relação contribuinte?fisco para o Direito Tributário); o movimento de translação de todos os ramos do Direito poderia, então, ser mostrado pela influência do Direito Econômico dada pelos instrumentos de política econômica do Estado, conforme dito. Nosso Sistema tem seus movimentos vinculados ao Sol-Direito numa galáxia que se chama Ciências Sociais. Os movimentos (rotação e translação) são as relações jurídicas existentes que não se chocam, apenas se dão em órbitas diferentes. Casos como o de quebra de patentes, autorização para plantação de sementes trangênicas, servirão de base para o presente estudo, sem a pretensão de se defender o Estado ou as atitudes empresariais. Este estudo será pontuado com casos práticos para consolidação da lógica que, pelo relevo dado, aparecerá para justificar o modelo proposto. * Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.

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O CONSUMO PELO PRISMA DO DIREITO ECONÔMICO: OS CASOS DA SOJA TRANSGÊNICA E DA QUEBRA DE PATENTES DOS

MEDICAMENTOS PARA O TRATAMENTO DA AIDS*

EL CONSUMO POR EL PRISMA DE DERECHO ECONÓMICO: EL CASO DE LA SOJA TRANSGÉNICA Y DE LA QUEBRA DE LAS PATENTES DE

DROGAS PARA EL TRATAMIENTO DEL SIDA

Edson Luciani de Oliveira

RESUMO

Tradicionalmente o Direito Econômico Brasileiro é estudado reunindo-se, sob a premissa do capitalismo e do livre-mercado, vários ramos disciplinares num feixe catalogado de assuntos ligados à concorrência, iniciativa privada, defesa e interesse do consumidor, meio ambiente, dentre outros, onde sua autonomia é dada por sua finalidade: “tradução normativa dos instrumentos de política econômica do estado” na acepção de Fábio Konder Comparato (O indispensável direito econômico..., 1978, p. 471), e sob o manto do art. 170 da Carta Magna Brasileira. Ocorre que, para o Direito Econômico, novos prismas de estudo surgem, sugerindo-se que se observe tal panorama não mais pelo modelo lógico de imputação “falso ou verdadeiro” mas, pelo sociológico “depende” que tem em vista o interesse coletivo, não individualizado, regrado pela ótica e pela lógica de um grupo ou sociedade e não de uma situação específica, particular. Este será o modelo que se buscará seguir no presente texto, onde se qualifica epistemologicamente um determinado ramo do Direito, no caso, o do Consumo, por sua estrutura, pelas tendências macroeconômicas envolvidas. Sabe-se que os já abalados fundamentos do estudo do Direito Civil (propriedade e contratos, principalmente) constitucionalizados, passam agora a ter influência das relações de consumo. Este, por seu turno, pode ser observado pela visão de conjunto, de mercado, sem perder sua identidade, seu eixo. Nesse contexto (e talvez esta imagem não seja nova) há que se ver o Direito do Consumo, assim como outros direitos ditos tradicionais, girando em seu próprio eixo de rotação exibindo a relação jurídica consumidor?fornecedor (ou a relação contribuinte?fisco para o Direito Tributário); o movimento de translação de todos os ramos do Direito poderia, então, ser mostrado pela influência do Direito Econômico dada pelos instrumentos de política econômica do Estado, conforme dito. Nosso Sistema tem seus movimentos vinculados ao Sol-Direito numa galáxia que se chama Ciências Sociais. Os movimentos (rotação e translação) são as relações jurídicas existentes que não se chocam, apenas se dão em órbitas diferentes. Casos como o de quebra de patentes, autorização para plantação de sementes trangênicas, servirão de base para o presente estudo, sem a pretensão de se defender o Estado ou as atitudes empresariais. Este estudo será pontuado com casos práticos para consolidação da lógica que, pelo relevo dado, aparecerá para justificar o modelo proposto.

* Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.

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Em razão da exposição efetuada, ainda não se teria como afirmar se o novo prisma de estudo seria o mais adequado, consolidando e justificando a “nova” disciplina do Direito Econômico. De qualquer modo, serve para expressar o mais importante que é a primazia do interesse coletivo que deve pautar as ações do Estado no seio do mercado. PALAVRAS-CHAVES: DIREITO ECONÔMICO; CONSUMO; INSTRUMENTOS ESTATAIS; LIVRE-INICIATIVA; SAÚDE; SOJA TRANSGÊNICA; QUEBRA DE PATENTES; MEDICAMENTOS PARA AIDS. RESUMEN Tradicionalmente el Derecho Económico de Brasil, se estudia, reuniendose bajo la premisa del capitalismo y del libre mercado, las diversas ramas disciplinarias en un mazo catalogado de asuntos relacionados a la concurrencia, la iniciativa privada, defensa y el interés del consumidor, medio ambiente, entre otros, donde la autonomía es dada por su objetivo: "traducción normativa de los instrumentos de política económica del Estado" en el sentido de Fabio Konder Comparato (O indispensável direito econômico ..., 1978, p. 471), y bajo el manto del art. 170 de la Constitución Brasileña. Sucede que, para el Derecho Económico, nuevos prismas de aprendizaje surgen, lo que sugiere que se observe tal situación no por el modelo lógico de significación "falso o verdadero", sino, por el sociológico "depende", dirigido a los intereses colectivos, no individualizado, disciplinado por la óptica y por la lógica de un grupo o sociedad y no de una situación específica, en particular. Este será el modelo que se buscará seguir en este texto, que describe epistemologicamente una rama particular del Derecho, en el caso, del consumo, por su estructura, por las tendencias macroeconómicas en cuestión. Se sabe que las bases ya inestables del estudio del Derecho Civil (propiedad y los contratos, principalmente) constitucionalizados, ahora passan a tener la influencia de las relaciones de consumo. Esto, a su vez, se puede observar en la visión de conjunto del mercado, sin perder su identidad, su eje. En este contexto (y tal vez esta imagen no sea nueva) hay que ver el Derecho de Consumo, así como otros derechos dichos "tradicionales", girando sobre su eje de rotación a mostrar la relación jurídica proveedor?consumidor (o la relación contribuyente? fisco para el Derecho Tributario); el movimiento de traslación de todas las ramas del Derecho podría, entonces, ser mostrado por la influencia del Derecho Económico dada por los instrumentos de la política económica del Estado, según ya dicho. Nuestro sistema tiene sus movimientos relacionados con el Sol-Derecho, en una galaxia llamada Ciencias Sociales. Los movimientos (rotación y traslación) son las relaciones jurídicas existentes que no se chocan, solamente se dan en diferentes órbitas. Casos como de la quebra de patentes, autorización para la plantación de semillas transgénicas, constituyen la base para este estudio, sin ninguna pretensión de la defensa del Estado o de las actitudes empresariales. Este estudio será puntuado con estudios de casos prácticos para consolidación de la lógica que, por el relieve dado, despunta para justificar el modelo propuesto. Debido a la exposición realizada, aún no se tendría como afirmar si el nuevo prisma de estudio sería el más apropiado, a consolidar y justificar la "nueva" disciplina de Derecho Económico. En cualquier caso, sirve para expresar el más importante, es decir, la primacía del interés colectivo que debe cumplir el Estado en el mercado.

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PALAVRAS-CLAVE: DERECHO ECONÓMICO, CONSUMO; INSTRUMENTOS ESTATALES, LIBRE EMPRESA, SALUD, SOJA TRANSGÉNICA, QUEBRA DE PATENTES; DROGAS PARA EL SIDA.

Introdução

Conceitos iniciais - objetivos do texto

Antes de se indagar acerca da lógica que sustenta normas de Direito Econômico na seara do Consumo, deve-se questionar, a título de nota, se o Brasil realmente teria um mercado maduro ou ideal que desse suporte a tal lógica respeitando-se o fim último desse tema que é o legítimo interesse do consumidor.

Miguel Reale (1984, p. 320-321) ensina que:

o Estado deve sempre ter em vista o interesse geral dos súditos, deve ser sempre uma síntese dos interesses tanto dos indivíduos como dos grupos particulares [...] , porquanto cabe ao governo decidir segundo o bem comum, o qual, nessa hipótese, se identifica com o “interesse geral” dos consumidores.

Hayek, acerca da concepção de “justiça social”, a partir de suas premissas liberdade individual/mercado verificadas em sua obra, Derecho, Legislacion Y Libertad. Nueva Formulacion Principios Liberales Justicia Economia (2006, p. 269), entendia que: “o conceito de ‘justiça social’ é por força de um conceito vazio e carente de significado, porque nele não há nenhuma vontade que possa determinar os ingressos relativos das distintas pessoas ou evitar o feito de que dependam em parte da casualidade.”.1

E em 1980, Washington Peluso Albino de Souza (p. 607) já considerava que:

A regulamentação jurídica da política econômica do consumo torna-se delicada desde o momento em que a liberdade de escolha seja eregida em princípio fundamental, tanto para o produtor como para o consumidor. E, na sociedade capitalista liberal, quando se costuma alegar que os diferentes poderes aquisitivos dos segmentos da sociedade se encarregam de estabelecer o equilíbrio desejado para o consumo, vê-se que habitualmente tanto falta o essencial à sobrevivência para alguns deles, como se possibilita o esbanjamento a outros.

[...]

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O Instituto do Consumo, em Direito Econômico, procura tratar o tema nas suas diversas manifestações, pois só desta visão completa e inteiriça é que se chegará à política econômica do consumo, inevitavelmente ligada a fundamentos da justiça distributiva, pelo que tem de justiça social. (negritos nossos)

Atualmente o estudo do Direito Econômico se dá pela observação das regras estatais que terão reflexo no comportamento econômico de mercado.

A questão preliminar que surge, portanto, seria essa: como se comporta o mercado brasileiro e seus consumidores em decorrência das regras estatais impostas? Qual o perfil atual, mesmo (que se mostre) perfunctório desses mercados: distribuição de medicamentos contra AIDS e produção de soja transgênica frente à soja convencional?

Bastante oportuno constatar que tais temas, AIDS e soja transgênica, chegam a se relacionar, embora, em princípio não tenham nenhuma relação e, aliás, o objetivo dessas linhas não é demonstrar tal entrelaçamento. Sucede que, hoje, existem pesquisas indicando que a partir do desenvolvimento da soja transgênica se vislumbraria a possibilidade de neutralizar a ação do vírus da AIDS.

Note-se:

Soja transgênica pode neutralizar ação do vírus da aids

As plantas, desenvolvidas pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, servirão como fábricas vivas do princípio ativo de um gel anti-HIV

[...]

O trabalho é fruto da cooperação do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos com a Embrapa. O instituto americano tem realizado um grande inventário de potenciais microbicidas naturais. Duas proteínas mostraram particular eficácia no combate ao HIV: a cianovirina-N - extraída da alga azul Nostoc ellipsosporum - e a griffithsina - obtida de algas vermelhas do gênero Griffithsia. Elas aderem à cápsula do vírus e impedem que invada as células. O NIH patenteou os genes que produzem as duas substâncias.2

Mas, voltando a individualizar os dois assuntos e pontualmente sobre a AIDS, aduz Maria Beatriz Penteado de Camargo Lemos (2008, p. 79-91):

Dos 17 medicamentos que formam o coquetel contra a AIDS, oito são fabricados no Brasil e custam entre 140% e 369% mais caro que os mesmos produtos produzidos na Índia.

[...] chegamos ao século XXI fortemente dependentes de outros países para a obtenção de insumos farmacêuticos e medicamentos, especialmente aqueles que são frutos de P&D [pesquisa e desenvolvimento].

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A incapacidade da indústria farmacêutica para ser auto-suficiente decorre de um processo histórico que criou uma dependência do país em relação às indústrias transnacionais para a obtenção dos medicamentos inovadores. Com aproximadamente quatrocentas empresas farmacêuticas instaladas no Brasil, vinte transnacionais são responsáveis por cerca de 80% do mercado inovador.

[...]

A indústria nacional trilhou o caminho comercial, comprando insumos, processando, embalando e vendendo, e não desenvolvendo P&D. Para alterar o percurso, o custo e o risco são altíssimos, o que inviabiliza a mudança e determina o path dependence[3].

E quanto ao mercado de soja, pode-se destacar recente pesquisa4:

O Rio Grande do Sul é o maior estado produtor de soja transgênica. [...] na Região Sul, a presença de transgênicos foi verificada em 82,1% das amostras de soja. No Brasil, a prevalência de lavouras de soja transgênicas é de 59,1%. O produtor de transgênicos também arca com um custo maior na aquisição de sementes já que são impedidos de multiplicá-las pela lei de patentes.

Não é impreciso observar que a abertura comercial do país é bastante recente. Entretanto, não se pode atribuir somente aos empresários, ou então, especificamente aos governantes, a falta de compromisso com os interesses sociais de longo prazo. A conjugação do ainda incipiente mercado brasileiro (disciplinado e respeitado), com a estreita visão governamental e empresarial, somando-se à pouca articulação da sociedade (universidades, ONGs, associações de consumidores, etc.) em cobrar por um melhor desenvolvimento, levam o Brasil a depender de pesquisas e decisões externas, deixando à sorte o futuro da saúde de seus cidadãos. Há que se ter sempre em conta o equilíbrio que deve existir entre interesse empresarial e social, dadas as necessidades e anseios da população e não apenas do mercado consumidor, pois é a dignidade do homem que está em jogo mediante seu direito inalienável de qualidade de vida. Inicialmente, portanto, pode-se inferir que o Brasil ainda não conta, completamente, com um mercado que possa abrir mão da coordenação estatal.

Como destaca Fábio Konder Comparato (A proteção do consumidor..., 1978, p. 477):

Em 1973, a Comissão das Nações Unidas sobre Direitos do Homem, em sua 29ª sessão, em Genebra, considerou que todo o consumidor deve gozar de quatro direitos fundamentais: o direito à segurança; o de ser adequadamente informado sobre os produtos e os serviços, bem como sobre as condições de venda; o direito de escolher entre bens alternativos de qualidade satisfatória a preços razoáveis; e o direito de ser ouvido no processo de decisão governamental. (negritos nossos)

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Observe-se que a Constituição em seu art. 5º, XXXII já prevê a defesa do consumidor como tarefa do Estado, ratificada pelos fundamentos insculpidos nos incisos II, III e IV, do art. 1º, também da Carta Magna, cidadania, dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

O art. 4º do Código de Defesa do Consumidor não deixa dúvidas quanto às ações do Estado nas relações de consumo:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.

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Mas, apresente-se um conceito inicial que diga respeito à relação jurídica de consumo, com base no raciocínio de Antônio Carlos Efing (2007, p. 46): “objeto do regramento instituído pelo CDC, a relação jurídica estabelecida entre consumidor(es) e fornecedor(es) tendo por objeto produto ou prestação de serviço, segundo as conceituações do CDC brasileiro.”.

E em que momento tal relação de consumo passa a ser alcançada pelo Direito Econômico?

Mais uma vez tem-se as palavras de Fábio Konder Comparato (A proteção do consumidor..., 1978, p. 482):

A evolução jurídica contemporânea [...] engendrou, também, novas formas protetoras, sem precedentes históricos, unindo estritamente o interesse público à atividade privada. É aí, justamente, que se pode identificar o surgimento desse novo direito econômico, como sistema de regulação pública da atividade econômica [...]. Ele se manifesta, nesse capítulo da defesa do consumidor privado, sob a forma de um dirigismo contratual, de uma disciplina de publicidade e apresentação de produtos, mercadorias ou serviços, assim como sob a forma de normas especiais de defesa da saúde e segurança do consumidor.

Enfim, pode-se afirmar, portanto, que, no momento em que haja repercussão coletiva das relações individuais de consumo, o Direito Econômico se mostrará presente, por meio de “um dirigismo contratual, de uma disciplina de publicidade e apresentação de produtos, mercadorias ou serviços, assim como sob a forma de normas especiais de defesa da saúde e segurança do consumidor.”. (COMPARATO, A proteção do consumidor..., 1978, p. 482)

Tal entendimento não destoa do de Luis Cabral de Moncada (2003, p. 15) que leciona: “O direito económico assim perspectivado, afirma-se fundamentalmente como o direito público que tem por objectivo o estudo das relações entre os entes públicos e os sujeitos privados, na perspectiva da intervenção do Estado na vida económica.”.

Não se pode conceber a dissociação entre o mercado e o interesse social. Ao mesmo tempo, não se deve olvidar que por trás do preço de um medicamento está a dedicação de pesquisadores, pessoas ligadas a testes laboratoriais, investimentos não apenas financeiros, mas de horas de estudo, sempre tendo-se em conta a função social que ultrapassa o mero interesse mercadológico.

Estas, portanto, serão as balizas demarcadoras do presente trabalho: verificar as ações de governo que denotem intervenção do Estado no mercado e que tratem, predominantemente, do interesse do consumidor.

1. Transgenia - sementes geneticamente modificadas - soja5

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Assunto relativamente novo, extremamente importante, uma vez que envolve aspectos de consumo, saúde pública, mercado (royalties, concorrência com produtos convencionais), direito de patentes, direito internacional, e naturalmente meio-ambiente, dentre vários outros temas.

Indo diretamente ao mais importante:

O Estado deve, sob o ponto meramente de consumo, (embora haja o importantíssimo aspecto sanitário e de saúde) estabelecer limites na distribuição de sementes, produção e comercialização de alimentos geneticamente modificados, no caso, a soja?

A questão passa a ser bastante importante quando se parcializa o raciocínio: os alimentos transgênicos poderiam, por um lado, ser a solução para a fome6 e por outro, representar futuros problemas de saúde.7

Dado este quadro, o mercado é que deve regular ou o Estado deve necessariamente interferir?

Em primeiro lugar, cabe destacar que a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005 estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGMs e seus derivados.

OGM (art. 3º, V): organismo cujo material genético tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética.

Quadra ainda lembrar que (art. 10) a CTNBio - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, é instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo, que presta apoio técnico e assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente. Este seria o regramento técnico sobre o assunto.

Acontece que os mecanismos de mercado ligados ao consumo são estabelecidos, basicamente pelo governo mediante normas ou limitações administrativas.

Tome-se como exemplos alguns temores e expectativas da sociedade sobre o processo de consumo dos OGM8:

Argumentos favoráveis

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1. O alimento pode ser enriquecido com um componente nutricional essencial. Um feijão geneticamente modificado por inserção de gene da castanha do Pará passa produzir metionina, um aminoácido essencial para a vida. Um arroz geneticamente modificado produz vitamina A;

2. O alimento pode ter a função de prevenir, reduzir ou evitar riscos de doenças, através de plantas geneticamente modificadas para produzir vacinas, ou iogurtes fermentados com microorganismos geneticamente modificados que estimulem o sistema imunológico;

3. A planta pode resistir ao ataque de insetos, seca ou geada. Isso garante estabilidade dos preços e custos de produção. Um microorganismo geneticamente modificado produz enzimas usadas na fabricação de queijos e pães o que reduz o preço deste ingrediente; Sem falar ainda que aumenta o grau de pureza e a especificidade do ingrediente e permite maior flexibilidade para as indústrias;

4. Aumento da produtividade agrícola através do desenvolvimento de lavouras mais produtivas e menos onerosas, cuja produção agrida menos o meio ambiente.

Argumentos desfavoráveis:

1. O lugar em que o gene é inserido não pode ser controlado completamente, o que pode causar resultados inesperados uma vez que os genes de outras partes do organismo podem ser afetados.

2. Os genes são transferidos entre espécies que não se relacionam, como genes de animais em vegetais, de bactérias em plantas e até de humanos em animais. A engenharia genética não respeita as fronteiras da natureza – fronteiras que existem para proteger a singularidade de cada espécie e assegurar a integridade genética das futuras gerações.

3. A uniformidade genética leva a uma maior vulnerabilidade do cultivo porque a invasão de pestes, doenças e ervas daninha sempre é maior em áreas que plantam o mesmo tipo de cultivo. Quanto maior for a variedade (genética) no sistema da agricultura, mais este sistema estará adaptado para enfrentar pestes, doenças e mudanças climáticas que tendem a afetar apenas algumas variedades.

4. Organismos antes cultivados para serem usados na alimentação estão sendo modificados para produzirem produtos farmacêuticos e químicos. Essas plantas modificadas poderiam fazer uma polinização cruzada com espécies semelhantes e, deste modo, contaminar plantas utilizadas exclusivamente na alimentação.

5. Os alimentos transgênicos poderiam aumentar as alergias. Muitas pessoas são alérgicas a determinados alimentos em virtude das proteínas que elas produzem. Há evidências de que os cultivos transgênicos podem proporcionar um potencial aumento de alergias em relação a cultivos convencionais.

Pode-se citar, ainda, como desvantagens, a preocupação da dependência tecnológica, e a vinculação comercial, posto que, normalmente, o produtor deverá pagar, além de royalties pelas sementes, mais um percentual de sua produção9 para a empresa elaboradora das sementes.

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Ademais, mesmo que um agricultor não produza soja modificada, mas sua produção convencional seja misturada com a fecundação da transgênica, a amostragem final indicará transgenia, o que implicará no pagamento de royalties à companhia que produz tal semente e possui a respectiva patente10.

Constate-se, portanto, o grande impacto na cadeia comercial e de consumo a espera do disciplinamento estatal11.

É bastante conhecido o polêmico e histórico embate travado entre o governador do estado do Paraná, Roberto Requião, e as empresas produtoras de sementes12:

Requião alerta para os riscos da disseminação de transgênicos no Paraná

Data 8/4/2005 14:22:00 | Assunto: SEAB O governador Roberto Requião alertou ontem (07/04) os agricultores paranaenses sobre os riscos pela opção de alguns setores em plantar soja transgênica no Estado e que poderá gerar uma devastação na produção de grãos no Paraná."Os mercados rejeitam, populações inteiras boicotam. Mas aqui no Paraná um grupo de políticos, em parcerias com multinacionais de sementes e cooperativas mercenárias, insistem em defender a soja transgênica, afirmou o governador. Segundo Requião, os últimos números oficiais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) revelam que as exportações de soja mostram que por só dispor de soja transgênica os americanos estão sofrendo dramáticas perdas de mercados. Pelos números do Usda, as exportações totais de soja norte-americana caíram de US$ 7,959 bilhões em 2003 para US$ 6,672 bilhões em 2004. As vendas do produto para a União Européia despencaram de US$ 1,113 bilhão em 2003 para US$ 863 milhões em 2004. E as exportações para a China caíram de US$ 2,888 bilhões em 2003 para US$ 2,328 bilhões em 2004. O governador lembra que o comportamento e tendência mundial consolidam o crescimento da rejeição à soja transgênica e que o momento é bom negócio para quem produz soja convencional, e melhor ainda para os produtores paranaenses. Péssima escolha para quem ainda pretende produzir soja transgênica, declarou Requião. Segundo ele, a humanidade caminha para banir totalmente o consumo de produtos geneticamente modificados, e isto já é fato consumado na Europa, Austrália, Japão. E também a China, onde o governador chefiou recentemente uma missão empresarial, caminha nesta direção. Nos Estados Unidos, diz Requião, também já está em andamento um movimento contra os transgênicos. Nesta semana nove Estados norte-americanos estabeleceram restrições para os produtos transgênicos: Pennsylvania, Georgia, North Dakota, Iowa, Idaho, Indiana, Oklahoma, Arizona e West Virginia". O governador lembrou também o atual drama dos agricultores argentinos de soja transgênica que agora estão reféns da Monsanto. Os argentinos querem impedir que a Monsanto cobre royalties pela soja embarcada para a Europa. A multinacional americana disse que vai evocar seus direitos de patente perante cortes européias para receber pelo uso não autorizado de sua tecnologia da soja transgênica Roundup Ready. A Monsanto pretende cobrar US$ 15 dólares por tonelada nas cargas de soja argentina que sejam desembarcadas em portos europeus. Requião argumentou que produzir soja transgênica no Paraná é um bom negócio para os agricultores norte-americanos, que não terão que disputar espaços garantidos da soja convencional, e um excelente negócio para a Monsanto que aumentará seus lucros com a patente compulsória do Round Up. E um negócio rendoso, sem riscos - para políticos que buscam apoios momentâneos para suas ambições

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eleitorais, não se importando com os prejuízos que nossos agricultores e nossa economia sofrerão com o inevitável debacle que representa uma irresponsável aventura de uma eventual produção de soja transgênica".

Face a todos esses elementos, o Estado do Paraná poderia tomar ações (considerando-as formalmente aceitáveis) por intermédio de ato declaratório, proibição de entrada no Porto de Paranaguá, etc., no sentido de impedir que o OGM chegue ao consumo?

O conjunto de consumidores poderia adquirir produtos geneticamente modificados e aprovados pelo CTNBio (o Direito administrativo já chancelara), mas o governo de um estado poderia impedir tal acesso ao mercado, sem ouvir a população ou seus produtores?

Este é precisamente o corte que devemos extrair: a intervenção governamental no mercado pelo viés coletivo do Direito Econômico e não da imputação lógica, nesse caso, do Direito Administrativo (CTNBio) que permitira a utilização da transgenia para as sementes de soja.

Eis o cerne da discussão. O consumidor, então, não pode ter acesso a produtos mais baratos, mesmo com tecnologia ainda criticável, mas aparentemente segura?

O Estado deve intervir realmente? E se a tecnologia se mostrar confiável no futuro? Como estarão os países que não aderiram aos transgênicos com suas tecnologias defasadas?

E uma última questão: o Estado, em nome do interesse social, poderia quebrar a patente de tais sementes no futuro?

Acreditamos que, uma vez autorizado o uso das sementes transgênicas pelo Estado, os consumidores passam a ter a garantia e naturalmente a “fiança governamental” para suas atuações futuras. De fato, o ideal seria a convicção da confiabilidade e segurança de tais produtos, algo que ainda não temos.

Em linguagem fria, o próprio consumidor passa a ratificar ou a rechaçar o desenvolvimento da transgenia pela adoção ou não de seus produtos. Como visto em linhas anteriores, se teme pelo eventuais malefícios futuros dos produtos transgênicos. Mas para a surpresa de alguns, a soja transgênica poderia ser útil até mesmo para o tratamento da AIDS, como destacado anteriormente. Aqui não se pode simplesmente verificar a relação de consumo na imputação bom ou mal resultado, uma vez que são vários elementos envolvidos e, justamente, sobre o futuro não se tem uma previsão concreta. Não se pode dar o mesmo tratamento para este caso, como na compra de um telefone celular, em que o usuário se mostra satisfeito com a qualidade das ligações efetuadas, rejeitando ou promovendo o objeto.

Ora, fazendo-se uma simples análise de mercado de consumo, poder-se-ia concluir que as sementes transgênicas são mais resistentes, e sob esse prisma, frise-se, seriam mais eficientes, baratas e até mesmo ecologicamente sustentáveis, uma vez que necessitariam de menos água e agrotóxicos para sua existência. A relação de consumo estaria

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atendida, sem efeitos colaterais imediatos, a produção estaria sendo incentivada e o mercado alimentado. Ou seja, produtos mais baratos, eficientes e sustentáveis. Esta seria a visão de mercado.

Agora, mencione-se a segurança e a saúde dos consumidores, os royalties envolvidos, a dependência nacional frente à propriedade intelectual externa (“path dependence”), o interesse no desenvolvimento da pesquisa nacional, a inserção de produtos estranhos ou nocivos no solo brasileiro. São prováveis objurgações extremamente importantes.

As questões estão postas. A lógica do Direito Econômico, nesse caso, está delineada.

2. Quebra de patentes – remédios - AIDS

Outro tema bastante interessante e que repercute na seara do consumo e da saúde pública: a necessidade de se quebrar patentes de remédios para doenças graves como a AIDS.

Aqui, mais do que nunca, existirá a vulnerabilidade acentuada do consumidor uma vez que sua qualidade ou a própria vida estará em jogo.

Imagine-se um paciente (consumidor/contratante) que depende da continuação de seu tratamento por meio de um remédio que, abruptamente, sobe de preço.

No item que trata da vulnerabilidade e sob a ótica individual e do consumidor, Claudia Lima Marques (2006, p. 318) explica:

No caso dos contratos, o problema é o desequilíbrio flagrante de forças dos contratantes. Uma das partes é vulnerável (art. 4º, I do CDC), é o polo mais fraco da relação contratual, pois não pode discutir o conteúdo do contrato: mesmo que saiba que determinada cláusula é abusiva, só tem uma opção “pegar ou largar’, isto é, aceitar o contrato nas condições que lhe oferece o fornecedor [...]. Este desequilíbrio de forças entre os contratantes é a justificação para um tratamento desequilibrado e desigual dos co-contratantes, protegendo o direito aquele que está na posição mais fraca, o vulnerável, o que é desigual fática e juridicamente. Aqui os dois grandes princípios da justiça moderna (liberdade e igualdade) combinam-se para permitir o limite à liberdade de um, o tratamento desigual a favor de outro (favor debilis) [...]. (negritos nossos)

Do ponto de vista da relação de consumo (direito tradicional) a questão seria a seguinte: se o consumidor não tem como pagar, não poderá consumir. E a saúde pública? Daí a demanda de estudo pelo prisma do Direito Econômico.

Como se sabe13:

4177

a aids é uma doença que se manifesta após a infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, mais conhecido como HIV. Esta sigla é proveniente do inglês - Human Immunodeficiency Virus.

Também do inglês deriva a sigla AIDS, Acquired Immune Deficiency Syndrome, que em português quer dizer Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Síndrome Grupo de sinais e sintomas que, uma vez considerados em conjunto, caracterizam uma doença.

Imunodeficiência Inabilidade do sistema de defesa do organismo humano para se proteger contra microorganismos invasores, tais como: vírus, bactérias, protozoários, etc.

É oportuno que se verifique o panorama da AIDS no mundo e particularmente no Brasil:

Mundo: hoje a população mundial conta com 6,6 bilhões de pessoas e mais de 35 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV da AIDS14;

Outro número bastante triste: o número de jovens menores de 18 anos que se tornaram órfãos devido à AIDS na África subsariana em 2007: 14 milhões;

Brasil: em torno de 0,1% da população brasileira está infectada com o vírus da AIDS (200 mil pessoas); morrem por dia no Brasil cerca de 30 pessoas; a maior incidência está nas classes menos favorecidas.

O quadro que se pode estabelecer envolvendo o assunto (em qualquer país do mundo) é o seguinte: em um flanco a indústria farmacêutica alegando o direito às patentes, à invenção, à iniciativa de pesquisa, o risco da prática dos valores abaixo de preço de custo que comprometeriam a manutenção industrial e farmacêutica; em outro, os consumidores/pacientes que precisam do medicamento muitas vezes inacessível em razão do preço, mas com direito à saúde. No centro, talvez, o Estado tentando equilibrar tais direitos, seja mediante ações de governo, decisões judiciais e pela expedição de leis.

Aliás, no tocante aos direitos humanos, todos os poderes estatais podem ser responsabilizados, sejam ligados ao executivo, legislativo ou judiciário. Assim pensa, por exemplo, Louis Henkin15:

A separação dos poderes no plano nacional afeta a forma de responsabilização do Estado? No que se refere à atribuição de responsabilidade, não faz qualquer diferença se o órgão é parte do Executivo, Legislativo ou Judiciário. Não importa ainda se o órgão tem, ou não, qualquer responsabilidade em política internacional. Um Estado pode ser internacionalmente responsabilizado em virtude de agentes oficiais que atuavam inteiramente no plano das obrigações domésticas, independentemente de suas condutas terem sido endossadas ou conhecidas por oficiais responsáveis pelos assuntos internacionais. (...) Estados Federais por vezes têm buscado negar sua responsabilidade em relação a condutas praticadas por estados ou Províncias. Um Estado Federal é também responsável pelo cumprimento das

4178

obrigações no âmbito de seu território inteiro, independentemente das divisões internas de poder. (...)”.

Do mesmo modo Kathryn Sikkink16: “Os direitos individuais básicos não são do domínio

exclusivo do Estado, mas constituem uma legítima preocupação da comunidade internacional.”.

Nesse diapasão, a Constituição Brasileira estabelece por meio do art. 4º, II, art. 5º, caput, e o art. 196:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

[...]

II - prevalência dos direitos humanos;

[...]

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

O art. 25 da Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê:

Art. 25

Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à seguranca em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

E o art. 10 do Protocolo adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), ratificado em 21 de agosto de 1996 pelo Brasil:

4179

Artigo 10 Direito à saúde

1. Toda pessoa tem direito à saúde, entendida como o gozo do mais alto nível de bem-estar físico, mental e social.

2. A fim de tornar efetivo o direito à saúde, os Estados Partes comprometem-se a reconhecer a saúde como bem público e especialmente a adotar as seguintes medidas para garantir este direito:

a) Atendimento primário de saúde, entendendo-se como tal a assistência médica essencial colocada ao alcance de todas as pessoas e famílias da comunidade;

b) Extensão dos benefícios dos serviços de saúde a todas as pessoas sujeitas à jurisdição do Estado;

c) Total imunização contra as principais doenças infecciosas;

d) Prevenção e tratamento das doenças endêmicas, profissionais e de outra natureza;

e) Educação de população sobre a prevenção e tratamento dos problemas de saúde, e f) Satisfação das necessidades de saúde dos grupos de mais alto risco e que, por suas condições de pobreza, sejam mais vulneráveis.

Portanto, todo o ordenamento prevê direitos aos cidadãos que lhes garantam o acesso à saúde.

Patentes e quebras - histórico

Inicialmente cabe lembrar que em 1994 houve a assinatura do Acordo Relativo aos aspectos de Direito de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio – ADPIC (ou em inglês: TRIPs - Agreement on Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights).

Tal Acordo se deu no âmbito da Organização Mundial do Comécio - OMC e, em resumo, serve para disciplinar as relações comerciais, sendo que em sua parte introdutória apresenta o seguinte texto:

Desejando reduzir distorções e obstáculos ao comércio internacional e levando em consideração a necessidade de promover uma proteção eficaz e adequada dos direitos de propriedade intelectual e assegurar que as medidas e procedimentos destinados a fazê-los respeitar não se tornem, por sua vez, obstáculos ao comércio legítimo;

4180

Como ensinam Samira Guennif e Julien Chaisse no artigo “L'économie politique du brevet au sud : variations Indiennes sur le brevet pharmaceutique” (2007, p. 186 e 187) 17:

[...] as patentes são originadas de interesses comuns entre a sociedade e os inventores.

[...]

Deste modo, a patente é definida como uma incitação essencial à inovação de um setor ou empresas as quais estão expostas a problemas de apropriação.

[...]

os países do Norte [...] passaram a conceder patentes a partir da década de 1950.

[...]

a partir da década de 1980 que tal sistema de concessão de patentes passa a receber novidades e melhorias.

Sob a pressão da indústria farmacêutica, passou-se a adotar a concessão de patentes com duração de 20 anos nos países desenvolvidos.

[...]

Ocorre a ratificação do mencionado ADPIC em Marraqueche em abril de 1994. E na prática, os países desenvolvidos, depois de janeiro de 1996, submetem sua legislação ao ADPIC.

Em contrapartida, foi dada uma moratória de 20 anos aos países menos avançados.

[...]

Embora tenham assinado tal acordo, os países menos desenvolvidos, incluindo-se o Brasil, passam a demandar por uma flexibilização nas regras de tal acordo.

Sempre existe a preocupação em reforçar os direitos de patentes. É o que se extrai, por exemplo, do mencionado ADPIC, embora existam resistências dos países menos desenvolvidos baseados principalmente na circunstancial e titubeante legislação internacional.

Acompanhe-se.

O art. 33 do citado acordo prevê 20 anos para o uso da patente. Ocorre que o início se dá pelo pedido e este prazo muitas vezes é reduzido em razão da burocracia de cada país.

4181

Artigo 33 Vigência

A vigência da patente não será inferior a um prazo de 20 anos, contados a partir da data do depósito.

Em contrapartida, o art. 27 prevê:

[...] as patentes serão disponíveis e os direitos patentários serão usufruíveis sem discriminação quanto ao local de invenção, quanto a seu setor tecnológico e quanto ao fato de os bens serem importados ou produzidos localmente.

As condições para se conceder uma patente são as seguintes, segundo o entendimento da Organização Mundial do Comércio - OMC:

1. o processo ou produto deve ser novo; 2. o critério de criação corresponda ao da não-evidência; 3. é suscetível de aplicação industrial e; 4. os membros exigirão que o depositante da demanda da patente divulgue a

invenção de uma maneira suficientemente clara e completa para que uma pessoa possa executá-la e exigir que ela execute da melhor maneira possível.

Agora as exceções às proteções conferidas à patente. O artigo 30 prevê algumas exceções para a concessão de patentes.

Artigo 30 Exceções aos Direitos Conferidos

Os Membros poderão conceder exceções limitadas aos direitos exclusivos conferidos pela patente, desde que elas não conflitem de forma não razoável com sua exploração normal e não prejudiquem de forma não razoável os interesses legítimos de seu titular, levando em conta os interesses legítimos de terceiros.

Importante destacar o art. 31, embora longo:

Artigo31 Outro Uso sem Autorização do Titular

4182

Quando a legislação de um Membro permite outro uso (7) do objeto da patente sem a autorização de seu titular, inclusive o uso pelo Governo ou por terceiros autorizados pelo governo, as seguintes disposições serão respeitadas:

(a) a autorização desse uso será considerada com base no seu mérito individual; (b) esse uso só poderá ser permitido se o usuário proposto tiver previamente buscado obter autorização do titular, em termos e condições comerciais razoáveis, e que esses esforços não tenham sido bem sucedidos num prazo razoável. Essa condição pode ser dispensada por um Membro em caso de emergência nacional ou outras circunstâncias de extrema urgência ou em casos de uso público nãocomercial. No caso de uso público nãocomercial, quando o Governo ou o contratante sabe ou tem base demonstrável para saber, sem proceder a uma busca, que uma patente vigente é ou será usada pelo ou para o Governo, o titular será prontamente informado; (c) o alcance e a duração desse uso será restrito ao objetivo para o qual foi autorizado e, no caso de tecnologia de semicondutores, será apenas para uso público não-comercial ou para remediar um procedimento determinado como sendo anticompetitivo ou desleal após um processo administrativo ou judicial; (d) esse uso será não-exclusivo; (e) esse uso não será transferível, exceto conjuntamente com a empresa ou parte da empresa que dele usufruir; (f) esse uso será autorizado predominantemente para suprir o mercado interno do Membro que autorizou; (g) sem prejuízo da proteção adequada dos legítimos interesses das pessoas autorizadas, a autorização desse uso poderá ser terminada se e quando as circunstâncias que o propiciaram deixarem de existir e se for improvável que venham a existir novamente. A autoridade competente terá o poder de rever, mediante pedido fundamentado, se essas circunstâncias persistem; (h) o titular será adequadamente remunerado nas circunstâncias de cada uso, levando-se em conta o valor econômico da autorização; (i) a validade legal de qualquer decisão relativa à autorização desse uso estará sujeita a recurso judicial ou outro recurso independente junto a uma autoridade claramente superior naquele Membro; (j) qualquer decisão sobre a remuneração concedida com relação a esse uso estará sujeita a recurso judicial ou outro recurso independente junto a uma autoridade claramente superior naquele Membro; (k) os Membros não estão obrigados a aplicar as condições estabelecidas nos subparágrafos (b) e (f) quando esse uso for permitido para remediar um procedimento determinado como sendo anti-competitivo ou desleal após um processo administrativo ou judicial. A necessidade de corrigir práticas anti-competitivas ou desleais pode ser levada em conta na determinação da remuneração em tais casos. As autoridades competentes terão o poder de recusar a terminação da autorização se e quando as condições que a propiciam forem tendentes a ocorrer novamente; (l) quando esse uso é autorizado para permitir a exploração de uma patente ("a segunda patente") que não pode ser explorada sem violar outra patente ("a primeira patente"), as seguintes condições adicionais serão aplicadas:

(i) a invenção identificada na segunda patente envolverá um avanço técnico importante de considerável significado econômico em relação à invenção identificada na primeira patente;

4183

(ii) o titular da primeira patente estará habilitado a receber uma licença cruzada, em termos razoáveis, para usar a invenção identificada na segunda patente; e (iii) o uso autorizado com relação à primeira patente será não transferível, exceto com a transferência da segunda patente.

Conclui-se que o presente dispositivo tentou conciliar a promoção do acesso aos medicamentos com a proteção às patentes. Note-se a grande subjetividade e circunstancialidade presente no texto acima.

Mas em 2002 houve mais uma flexibilização devido à declaração de Doha: Em caso de urgência os países poderão importar paralelamente produtos e determinar licenças obrigatórias.

E em contrapartida, em 2003 foi feita uma nova rodada para tranqüilizar países, como os EUA, para evitar excessos dessa flexibilização e uma série de condições foram criadas:

volume determinado de produção; discriminação clara do produto; notificação do país destinatário; e remuneração adequada.

Para se entender a possibilidade de flexibilização prevista na declaração de Doha de 2002 faz-se necessário discorrer acerca de dois princípios18: Princípio da exaustão (esgotamento) e importação paralela.

Importação paralela: é a importação realizada à margem do circuito oficial de distribuição de um produto. Ou seja, efetuada por um terceiro independente do fabricante dos produtos e dos seus distribuidores.

Princípio da exaustão: Quando um produto protegido é colocado no mercado, pelo titular do direito ou por alguém com o seu consentimento, esse mesmo titular deixa, a partir desse momento, de poder controlar a circulação desse produto (isto é, do exemplar concreto que foi posto em circulação), não podendo opor-se a que esse produto seja revendido em qualquer outro lugar. Uma vez exercido, pelo titular ou por alguém com o seu consentimento, o direito exclusivo à primeira colocação de um produto no mercado, cessa com tal colocação a prerrogativa legal de resolver onde, quando, ou por que preço é que esse mesmo produto poderá ser vendido. Cada vez que é utilizado, o direito esgota-se, em relação ao produto concreto que foi posto em circulação.

Portanto, respeitando-se tais princípios, os governos poderiam quebrar patentes.

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Ocorre que o governo brasileiro já quebrou as patentes de remédios para o combate à AIDS19 para atender as pessoas mais carentes:

Lula quebra patente de remédio de combate à aids

Sexta, 4 de maio de 2007, 12h49 Atualizada às 13h54

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou no começo da tarde de hoje o decreto que concede licenciamento compulsório (quebra de patente) ao medicamento do anti-retroviral Efavirenz, droga usada no tratamento da aids. Com esse decreto, o Brasil poderá comprar versões mais baratas do remédio de outras empresas ou ainda produzi-lo.[...]"É importante deixar claro: não importa se a firma é americana, alemã, brasileira, francesa ou argentina. O dado concreto é que o Brasil não pode ser tratado como se fosse um País que não merece respeito, ou seja, pagarmos quase US$ 1,60, quando o mesmo remédio é vendido para outro país a US$ 0,60. É uma coisa grosseira, não só do ponto de vista político e econômico. É um desrespeito. Como se o doente brasileiro fosse inferior ao doente da Malásia. Não tem nenhuma possibilidade de aceitarmos isso", disse Lula.

Há três indústrias da Índia dispostas a oferecer o mesmo produto a US$ 0,45 (por cápsula) para o programa brasileiro de combate à aids. O Merk vende cada comprimido por US$ 1,59 ao Brasil e só aceitou aplicar uma redução de 30%, que foi descartada pelo governo brasileiro. Segundo Lula, seria necessária uma redução mínima de 60%.

Com o licenciamento compulsório, termo usado pelo governo para a quebra da patente, o Ministério da Saúde vai economizar cerca de R$ 30 milhões por ano só na compra desse medicamento. O dinheiro, segundo o ministro José Gomes Temporão, continuará sendo aplicado no programa de combate à aids.

[...]

Com a medida, o Brasil continuará pagando royalties de 1,5% ao Merk, mas com base nos valores pagos aos laboratórios indianos. Além do Brasil, a Tailândia já quebrou a patente do Efravirenz. Porém, o Merk fez uma oferta melhor e o País seguiu comprando o medicamento do laboratório norte-americano. Temporão disse que nesse momento não há nenhuma proposta formal ao Brasil para evitar que o contrato que termina em agosto seja rescindido.

Esta é a primeira vez que o País recorre ao licenciamento compulsório, previsto no acordo de propriedade intelectual (Trips) da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ao assinar o decreto, Lula foi aplaudido por representantes dos 200 mil pacientes portadores de HIV atendidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

E agora se pode voltar a questionar a viabilidade da quebra de patentes por parte dos governos.

Eis o surgimento do Direito Econômico pela problemática envolvida.

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É legítima a quebra de patentes tendo-se em conta os interesses dos consumidores carentes, notadamente sua saúde e comprometimento financeiros, frente aos interesses das indústrias farmacêuticas como o direito às patentes, à invenção, à iniciativa de pesquisa, o risco da prática dos valores abaixo de preço de custo que comprometeriam a manutenção industrial e farmacêutica?

Note-se que a indústria do país que quebrou a patente de remédios para tratamento da AIDS saiu beneficiada como narram Samira Guennif e Julien Chaisse (2007, p. 191) no caso da indústria farmacêutica indiana20:

Em 1950 existiam na Índia 1752 empresas do setor.

Hoje são mais de 20.000 e 260 de grandes unidades.

[...]

Em 1950 havia déficit no setor. Nos anos 1980 já havia excedente comercial.

[...]

Ou seja, a indústria farmacêutica indiana cresceu 13,7% ao ano no período de 1970 a 2003.

Hoje sua produção é a 4ª em volume e a 13ª em valor na cifra de 8 bilhões de dólares.

[...]

Melhorou sensivelmente sua auto-suficiência: fabrica 70% da matéria prima e 80% de seus medicamentos.

Será que a indústria da Índia teria o mesmo sucesso se tivesse que criar os medicamentos cujas as patentes foram quebradas?

De fato, pode a indústria farmacêutica internacional conviver com tamanha intervenção e não se rebelar?

Aqui, em comparação com o caso dos trangênicos, a situação é ainda mais delicada pois envolve risco de morte previsível e a respectiva saúde social.

Mas a mesma lógica está presente: a necessidade (ou não) de intervenção do Estado para atendimento público. Nas mãos tem o estado a possibilidade de melhorar a saúde da população para atender a necessidade de consumo, mas interferindo no legítimo interesse dos fabricantes e inventores dos remédios contra a AIDS.

Para o Direito comercial, civil ou particularmente de consumo e sob o ponto de vista do fabricante, as questões seriam facilmente resolvidas: o consumidor teria que pagar pelo remédio pelo preço de mercado, as patentes e invenções deveriam ser respeitadas e o mercado deveria se manter aberto. Ocorre que (mais uma vez) o interesse do

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consumidor/paciente está em jogo. A simples imputação de consumo não pode prevalecer. Há que se verificar a necessidade coletiva, a saúde pública que precisa ter acesso ao adequado consumo de medicamentos.

Conclusão

Como fora alertado no início, não se tinha a pretensão de se defender ou atacar o posicionamento estatal devido às ações públicas envolvendo questões de consumo.

O compromisso foi no sentido de verificar a lógica diferenciada do Direito Econômico frente à lógica do consumo. A equação simples, a relação jurídica consumidor/fornecedor não se dá do mesmo modo quando um conjunto de pessoas tem seu interesse implicado.

Pelo exposto, tem-se a impressão que a intervenção estatal se faz necessária. O mais difícil, porém, é encontrar a dose correta, da intervenção mínima, mas necessária.

Na realidade, o tema se volta às políticas públicas, que por sua vez tem vinculação com o modelo de estado existente, com as condições de vida da população.

Em um estado de cunho mais social, onde as “rédeas” das ações públicas são mais curtas, existirá uma rápida intervenção, com a recepção (presume-se) mais aceita pela população. Tal recepção, todavia, passa pela capacidade de entender a importância de se permitir ou não pesquisas e avanços tecnológicos em seus países. Por seu turno, em um estado de cunho liberal, tal intervenção talvez não se dê da mesma maneira, principalmente porque a idéia de intervenção mínima de estado é grande e muitas vezes a participação dos próprios cidadãos nos interesses das empresas também se faz presente.

Enfim o dirigismo estatal estará limitado por muitas variáveis: a consciência da sociedade por meio da receptividade da intervenção, a necessidade dos cidadãos pelos produtos em questão, o poder de compra e de reinvidicação dos cidadãos, o poder das empresas frente aos Estados envolvidos, a dependência tecnológica que possui cada país e, com certeza, o perfil ideológico de cada nação.

Com efeito, conseguiu-se extrair mais indagações que conclusões e talvez seja esse mesmo o perfil do estudo do Direito Econômico que, dessa forma, buscará encontrar a medida certa da intervenção do estado no mercado de consumo para atender o bem comum, de seus cidadãos consumidores.

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SOUZA, Washington. Peluso Albino de. Direito Econômico. São Paulo: Saraiva, 1980, 626 p.

1 el concepto de “justicia social” es por fuerza un concepto vacío y carente de significado, porque en él no hay ninguna voluntad que pueda determinar los ingresos relativos de las distintas personas, o evitar el hecho de que dependan en parte de la causalidad. (tradução livre)

2 Disponível em: http://www.bemparana.com.br/index.php?n=104361&t=soja-transgenica-pode-neutralizar-acao-do-virus-da-aids. Acesso em 28.06.09.

3 “Caminho da dependência” Expressão utilizada ao longo do trabalho da autora ao final catalogado.

4 Disponível em http://www.emater.df.gov.br/sites/200/229/00001271.doc. Acesso em 28.06.09.

5 A apreciação do presente assunto (Transgenia - sementes geneticamente modificadas– soja) neste artigo se deu em virtude da interessante apresentação do artigo: “’Princípio da Precaução’ e proteção ao consumidor”, do juiz de direito Dr. Roberto Grassi Neto realizada no XVII CONPEDI – Congresso Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, no dia 20.11.08, em Brasília.

6 “muitos estudos, inclusive o do ganhador do Prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen, revelam que o problema da fome no mundo hoje não é ligado à escassez de alimentos ou à baixa produção, mas à injusta distribuição de alimentos em função da baixa renda das populações pobres. Dessa forma questiona-se a alegação de que a biotecnologia poderia provocar uma redução no problema da fome no mundo.” Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transg%C3%Aanico. Acesso em: 23.11.08.

7 Como no antigo caso invocado da talidomida em que se prescreviam medicamentos para enjoos na gravidez e não se sabia das futuras consequências para a saúde da mulher e do desenvolvimento e formação do feto. Hoje se atribui à talidomida vários problemas da má formação congênita.

8 Disponível em: http://www.websitesaude.kit.net/transgenicos.htm. Acesso em: 22.11.2008.

9 Ver por exemplo: “Monsanto quer taxa extra”. Disponível em: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/economia/conteudo.phtml?id=481281. Acesso em: 22.11.08.

4189

10 Informação dada na apresentação mencionada na nota de rodapé n. 5.

11 Inclusive, não é necessário qualquer intervenção de governo mediante produção normativa, basta burocratizar o processo para arrefecer a pesquisa. Observe-se: http://www.terra.com.br/reporterterra/transgenicos/burocracia.htm. Acesso em: 22.11.2008.

12 Diponível em: http://www.seab.pr.gov.br/modules/noticias/print.php?storyid=1666. Acesso em: 22.11.08.

13 Disponível em: http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISBF548766PTBRIE.htm. Acesso em: 23.11.08.

14 Disponível em: http://data.unaids.org/pub/GlobalReport/2008/JC1511_GR08_ExecutiveSummary_es.pdf. Acesso em: 23.11.08.

15 apud Flávia Piovesan (2006, p. 279).

16 Apud Flavia Piovesan em “Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional” (2006, p. 315, nota de rodapé n. 1.)

17 Texto original:

Le brevet d’invention trouve son origine dans une communauté d’intérêts entre la société et l’inventeur.

[...] le brevet est défini comme une incitation essentielle à l’innovation dans un secteur où le entreprises sont exposées à des problèms d’appropriation.

les pays du Nord [...], jusqu’à la concession de brevets sur les produits à partir des années 1950.

À partir des années 1980, le brevet a été soumis à de nouvelles modifications majeures. Sous la pression soutenue de l’industrie pharmaceutique, la durée du brevet a été allongée jusqu’à atteindre 20 ans les pays développés.

[...]

avec la ratification de l’Accord sur les aspects des droits de propriété intellectuelle qui touchent au commerce (Accord ADPIC) à Marrakech en avril 1994. En pratique, depuis le 1er janvier 1996, les pays développés ont mis leur législation nationale en conformité avec l’Accord ADPIC.

[...]

les craintes et les protestations s'affirment de la part du Brésil, de l'Inde ou encore du groupe africain à l' OMC. Les flexibilités prévues par l'accord ne semblant pas rassurer les pays du Sud.

4190

(tradução livre)

18A partir de: http://apdi.pt/APDI/DOUTRINA/O%20esgotamento%20do%20direito%20e%20as%20importa%C3%A7%C3%B5es%20paralelas.pdf. Acesso em: 21.09.08.

19 Disponível em: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1592991-EI298,00.html. Acesso em 21.09.08

20 Texto original:

Au début des années 1950, le secteur se composait de 1752 entreprises. Aujourd’hui, il en compte 20000, dont 260 grandes unités.

[...]

Le dynamisme des exportations est tel que les déficts chroniques du secteur font place dès la fin des années 1980 à des excédents commerciaux.

[...]

En somme, inexistante au début des années 1970, l’industrie pharmaceutique indienne a crû à un rythme de 13,7% par an, sur la période 1970-2003. Sa production s’elève actuellement à 8 milliard de dollars, ce qui la classe au 4e rang mondial en volume et au 13e rang en valeur.

L’autosuffissance sanitare du pays et l’accessibilité des médicaments se sont sensiblement améliorées. D’une part, l’industrie fabrique 70% des matières de premières et 80% des médicaments disponibles sur le marché indien.

(tradução livre)