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FERNANDO DE CAMPOS CORTEZ O DARWINISMO SOCIAL NA INFLUÊNCIA DA EFICÁCIA DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS PÓS – GRADUAÇÃO EM DIREITO CONSTITUCIONAL UNISO/ESDC – SOROCABA 2005

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FERNANDO DE CAMPOS CORTEZ

O DARWINISMO SOCIAL NA INFLUÊNCIA DA

EFICÁCIA DOS DIREITOS E GARANTIAS

FUNDAMENTAIS

PÓS – GRADUAÇÃO EM DIREITO CONSTITUCIONAL

UNISO/ESDC – SOROCABA 2005

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FERNANDO DE CAMPOS CORTEZ

O DARWINISMO SOCIAL NA INFLUÊNCIA DA

EFICÁCIA DOS DIREITOS E GARANTIAS

FUNDAMENTAIS

Monografia apresentada como exigência parcial para aprovação no curso de Pós – Graduação de Direito Constitucional na Universidade de Sorocaba, sob a orientação do Prof. Dr. João Antonio Wiegerinck.

UNISO/ESDC – SOROCABA 2005

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À Eruska, fiel companheira

de todos os momentos.

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Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, que sempre me apoiam, e ao Prof. Dr. João A. Wiegerinck, que me fez

resgatar o pensamento filosófico, ainda que modestamente.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO, 6

1. CHARLES DARWIN E A TEORIA DA EVOLUÇÃO, 8

1.1. Breve biografia de Darwin, 5

1.2. Contexto histórico, 11

1.3. Teoria da evolução, 14

1.4. Seus efeitos nas ciências modernas, 16

2. O DARWINISMO SOCIAL, 22

2.1. Conceituação, 22

2.2. O empréstimo da teoria de Darwin para a explicação da evolução

do homem em sociedade, 23

2.3. Pontos relevantes para o direito, 25

3. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, 27

3.1. Conceituação, 27

3.2. Localização no sistema normativo, 29

3.3. Eficácia e aplicabilidade, 30

4. INFLUÊNCIA DO DARWINISMO SOCIAL, 34

4.1. Influência na sociedade e no direito atual, 34

4.2. Influência na eficácia dos direitos e garantias fundamentais, 38

CONCLUSÃO, 42

BIBLIOGRAFIA, 45

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INTRODUÇÃO

Ainda que se pense que Charles Darwin foi apenas um naturalista, que

observou plantas e animais, - pois era bastante criterioso - chegou a uma teoria

que explicasse apenas sobre essas espécies pesquisadas, e viveu

modestamente, num sítio próximo de Londres, no século XVIII.

Engana-se, pois Darwin, deixou um legado de inúmeras obras, e abriu

as portas para uma pergunta, onde inúmeros filósofos, até então, se

debruçaram em responder: De onde viemos?

Nessa ordem de idéias, os fundamentos de sua teoria têm valores

relacionados a diversas áreas do saber, considerados como fatores históricos,

culturais, econômicos, políticos, religiosos, biológicos, psicológicos, e assim

por diante.

No presente trabalho, abordaremos aspectos dessa teoria, chamada de

darwinismo social, suas manifestações com outras ciências e na sociedade

atual, principalmente, sua relação e influencia com o direito, mais

precisamente com a eficácia dos direitos e garantias fundamentais.

O panorama retratado, segundo a concepção darwínica, é o resultado de

milenar ganância, dominação, violência e exploração, exercidas pelos mais

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aptos, audazes e astutos, ao longo dos séculos, em detrimento dos mais fracos,

débeis, submissos.

Finalmente, cumpre ressaltar que o texto não alimenta ilusões da idéia

de possibilidade de igualização humana, numa sociedade livre, fraterna, justa e

solidária, mas, sim, num esforço à reflexão de que se realmente os direitos e

garantias fundamentais cumprem esses ideais.

O que se vislumbra é se os direitos e garantias aparecem no mundo

jurídico, primeiramente, para assegurar proteção para as classes dominadas e,

em seguida, para reafirmação das classes dominantes, que concedem proteção

jurídica e, logo após, utilizam em seu favor, através da alienação massificada.

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1. CHARLES DARWIN E A TEORIA DA EVOLUÇÃO

1.1. Breve biografia de Charles Darwin

Ninguém esperava, nem ele próprio e muito menos seu pai, cuja

vontade é que seguisse carreira eclesiástica na Igreja Anglicana, fosse Charles

Robert Darwin conhecido como um dos maiores naturalistas de todos os

tempos, considerado mesmo em sua época.

Nascido em 12 de fevereiro de 1809, seu nome é associado

freqüentemente ao surgimento da teoria da evolução, que por diversos fatores

contribuíram para tornar Darwin a figura mais importante da história da

biologia e sua obra mais conhecida, A origem das espécies por meio da

seleção natural, num best-seller traduzido para mais de 30 idiomas, com 6

edições publicadas durante sua vida.

O ambiente familiar onde cresceu foi decisivo para sua formação, pois

era neto do eminente botânico Eramus Darwin e filho do notável médico

Robert Waring Darwin; guiado por sua tendência estudou, por prazer,

geologia, zoologia e botânica, desinteressando-se dos estudos que estava

cursando.

Outro fator, curiosamente, decorreu de sua vida de estudante displicente

e foi o convite para embarcar no navio Beagle, que ia dar volta ao mundo com

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fins cartográficos: a função do mundano Charles Darwin era de servir de

companheiro para o capitão Robert Fitzroy, embora seu posto oficial fosse de

“naturalista do navio”.

A viagem durou 5 anos (de 27 de setembro de 1831 a 30 de outubro de

1836) e forneceu a Darwin sua formação como naturalista ao permitir-lhe

observar a natureza; forneceu-lhe também as bases para muitos de seus

trabalhos futuros.

De um estudante acomodado transformou-se num trabalhador zeloso,

enviando à sua pátria inúmeras notas e valiosas coleções de rochas, plantas e

animais procedentes dos diversos lugares onde se deteve ao longo de sua

viagem. Após retornar à Inglaterra, Darwin utilizou os próximos 20 anos para

coordenar seus dados.

Mas, foi em visita às Ilhas de Galápagos, em setembro de 1835 – um

ano antes do término de sua viagem –, que a grande dúvida se instalou em sua

mente. O Arquipélago de Galápagos, situado no Pacífico, exatamente na linha

do Equador é um conjunto de muitas ilhas que, naquela época eram

pouquíssimo visitadas pelo homem do continente. Sua flora e principalmente a

fauna são muito interessantes e peculiares, especialmente as gigantescas

tartarugas galápagos, que deram o nome às ilhas, e os lagartos negros, mais

parecidos com dinossauros antidiluvianos, despertaram o interesse de Darwin.

Um fato, porém, chamou a atenção do jovem Darwin e passou a

constituir motivo de muitas meditações ao longo de sua vida. As ilhas do

arquipélago ficavam a dezenas de quilômetros uma das outras, os pássaros

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tartarugas, lagartos e plantas existentes em cada uma delas, embora

semelhantes entre si, apresentavam pequenas diferenças, que permitiam aos

nativos reconhecer facilmente a sua procedência.

Como teriam se dado essas transformações e quais seriam suas causas?

Foi o que Darwin se perguntou insistentemente, com o espírito perturbado,

durante três anos que se seguiram.

Em 1838, teve a oportunidade de ler o livro de um sociólogo –

reverendo Thomas Robert Malthus (1766-1834) que escrevera, em 1800, um

livro polêmico, com um longo título, à moda da época: Um ensaio sobre o

princípio da população e de como ele afeta o aperfeiçoamento futuro da

sociedade, e o próprio Darwin afirmava que foi o que despertou nele a

“centelha” que o levaria à teoria da seleção natural.

Darwin, porém, não gozava de boa saúde, provavelmente em

conseqüência de doenças tropicais que contraíra durante sua longa viagem.

Por isso, passou a viver em um pequeno sítio afastado de Londres. Ali passou

o resto de sua vida, estudando e descrevendo todo o material que recolhera na

expedição.

Talvez utilizando sua debilidade como arrimo psicológico que lhe

permitisse afastar-se da sociedade, queixando-se de vômitos e insônias

constantes, restringiu suas viagens e sua vida social.

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Seus dias, cheios de sofrimentos, eram preenchidos com breves, se bem

que intensos, períodos de trabalho que lhe permitiam oferecer ao mundo a

obra que tornou seu nome imortal. Faleceu em 19 de abril de 1882.

1.2. Contexto histórico

No ano de 1800 – pouco meses após o famoso 18 Brumário, em que

Napoleão Bonaparte foi conduzido ao posto de primeiro-cônsul da França,

iniciando o processo de consolidação dos princípios liberais defendidos pela

Revolução Francesa –, uma conferência de abertura dos cursos do Museu de

História Natural, na Universidade de Paris, é dedicada, pela primeira vez, a

uma teoria científica sobre a evolução das espécies vivas.

O conferencista era Jean-Batiste de Monet, acrescido do título de

“cavalheiro de Lamarck”, conhecido naturalista, que já havia desenvolvido um

importante trabalho no campo da botânica e que ocupava, desde 1793, a

cadeira de zoologia dos invertebrados, no famoso museu de Paris, também

considerado o “pai da biologia”, pois foi o primeiro a empregar o termo

biologia para designar o conjunto de disciplinas dedicado ao estudo dos seres

vivos.

Era difícil de explicar a evolução, segundo a versão bíblica da criação

das espécies (versão criacionista, como foi denominada). A teoria de Lamarck

– ele não usava o termo evolucionismo, mas sim a denominação de

transformismo – considerava as modificações nas espécies como sendo o

resultado direto de ações do meio, ou mesmo de um esforço interno para

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reagir e adaptar-se a essas solicitações do ambiente, que paulatinamente

obrigavam a mudar de forma e de estrutura, de maneira a manter-se sempre

adaptados às novas condições.

As recentes contribuições da genética molecular acabaram

demonstrando definitivamente que não há maneira de alcançar os genes por

manipulação do meio ambiente e sepultaram as noções lamarckianas sobre a

herança das características adquiridas; no entanto, a reputação de Lamarck

como pioneiro da moderna biologia e sua influência como taxionomista

persistem, com justiça, até hoje.

A teoria das catástrofes – das quais, a última teria sido o dilúvio

universal – teve grande aceitação na época. Primeiro, por representar uma

reação às idéias materialistas que tendiam prevalecer desde as transformações

culturais que acompanharam a Revolução Francesa. Segundo, porque Cuvier,

reconhecido por sua competência científica, era um notável orador e utilizava

recursos da retórica sempre que lhe faltavam os argumentos científicos, seu

principal opositor, Étienne Geoffroy de Saint-Hilaire (1772-1844), discípulo e

continuador de Lamarck, tinha dificuldade de expor suas idéias em público,

sendo sistematicamente derrotado nas grandes discussões na Academia de

Ciências de Paris, no decorrer do ano de 1830.

Saint-Hilaire, defendia a existência de mudanças bruscas, ocorridas

principalmente na fase embrionária. Foi o precursor da teoria das mutações,

hoje aceita amplamente.

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A derrota de Saint-Hilaire na Academia Francesa provocou um atraso

de quase trinta anos nas idéias evolucionistas. O grande poeta alemão, Johann

Wolfgang von Goethe (1749-1832), que também se dedicou à física e a

biologia – tendo publicado alguns trabalhos no final do século XVIII, que

permitem considerá-lo como um dos precursores do evolucionismo-, foi um

dos que manifestaram grande consternação pela derrota das teorias

transformistas.

Em 1833, com a publicação do livro Princípios de geologia, do famoso

geólogo escocês sir Charles Lyell (1797-1875), professor do Colégio Real de

Londres, a teoria das catástrofes havia sofrido um rude golpe. A obra refutava

frontalmente o catastrofismo, demonstrando que a maioria dos processos de

transformação de grande extensão da superfície da Terra, como a formação de

cordilheiras, mares e outros acidentes geográficos, ocorreu e continua

ocorrendo de maneira extremamente lenta e mais ou menos contínua.

Em 1859, no entanto, as idéias transformistas ressurgiram com um

impacto gigantesco, no livro Origem das espécies por meio da seleção

natural, de autoria do grande naturalista inglês Charles Darwin, considerado

um dos mais criteriosos e argutos observadores da natureza. Demonstrou que a

adaptação ao meio ambiente decorre da ação da seleção natural e foi o

seguidor e terminador de uma teoria científica que, antes dele, vinha

germinando ou que, pelo menos, já tinha sido vaticinada filosoficamente.

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1.3. Teoria da evolução

Charles Darwin, ao partir a bordo do Beagle, não tinha idéias

transformistas: era fixista, isto é, acreditava que as espécies não se alteravam a

longo dos tempos, como lhe haviam ensinado e como a maior parte dos

naturalistas pensava em sua época.

Alguns fatos e anotações suas, no entanto, fazem supor que se a

hipótese evolucionista ainda não existia, na sua cabeça, ela surgiu logo aos

primeiros anos de observações na viagem ao redor do mundo.

O fato marcante foi de ter observado, no Arquipélago de Galápagos, as

tartarugas, os pássaros, os lagartos e as plantas, que embora semelhantes entre

si, apresentavam pequenas diferenças, que permitiam aos nativos reconhecer

facilmente a procedência.

Era um fato surpreendente, considerando que o clima, a origem e a

conformação geológica de todas a ilhas eram os mesmos. A única explicação

possível era a dificuldade de comunicação entre esses animais, e Darwin

chegou à conclusão de que o isolamento geográfico das espécies teria feito

com que elas, progressivamente, adquirissem formas e características diversas,

a partir de ancestrais comuns. Para isso, no entanto, seria necessário admitir

que as espécies haviam sofrido transformações ao longo do tempo.

Após ler o livro de Malthus – Um ensaio sobre o princípio da

população e de como ela afeta o aperfeiçoamento futuro da sociedade -, em

1838, que demonstrava que os meios de subsistência na natureza e na

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sociedade não conseguem crescer na mesma proporção em que se multiplicam

as populações. Por conseguinte, se os povos de todo o mundo continuassem a

crescer continuamente, deveria ocorrer um colapso, isto é, a fome

generalizada, pobreza e guerras. Se isso não ocorria, dizia Malthus, era devido

à existência de limitações naturais (ou sociais, no caso de humanos)

restringindo a natalidade ou a proporção de nascidos que cheguem à idade

adulta.

Darwin imaginou, pois, que a transformação das espécies não seria

resultado de um “esforço ativo” da própria espécie, no sentido de adaptar-se,

mas sim de um processo em que seria viável apenas a forma de melhores

condições de sobrevivência apresentasse em função das características do

meio. No caso de essas características mudarem, por força de alterações de

clima, de disponibilidade de alimentos ou outras quaisquer, sobreviveriam

sempre – e apenas – as espécies mais capazes de aproveitá-las.

Comparou ao modo como os agricultores e criadores de animais, havia

séculos, realizavam o aperfeiçoamento das variedades de animais ou do gado.

Quando se deseja, por exemplo, obter uma variedade de árvore que produza

frutos maiores, ou mais doces, devem-se selecionar e plantar apenas as

sementes dos frutos que melhor atendam àquela necessidade, enquanto as

outras são eliminadas. No processo natural, a eliminação se dá pela própria

incapacidade da espécie menos apta em competir com as outras.

Percebeu aí uma explicação para a evolução: o crescimento das

populações tende a ser maior do que dos escassos recursos, de modo que nem

todos os indivíduos podem sobreviver, o que leva, nas palavras de Darwin, “a

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uma luta pela sobrevivência, ou de um indivíduo com outro da mesma espécie,

ou com indivíduos de espécies diferentes, ou com as condições físicas de vida.

Esta é a doutrina de Malthus aplicada...”. Na verdade, após tantos anos

procurando as causas da evolução, para dele extrair o princípio da seleção

natural: já que os indivíduos de uma mesma espécie são diferentes entre si,

aqueles que tiverem características mais vantajosas terão mais possibilidade

de sobreviver.

Em síntese, o ponto fundamental de suas conclusões científicas foi o

princípio de todas as espécies – animais ou vegetais –, com as respectivas

características diferenciais, pois, todas as preditas espécies saíram umas das

outras, por geração regular, modificadas e transformadas, sucessivamente, ao

longo do tempo.

Outro aspecto essencial da teoria de Darwin é o que diz respeito à luta

pela vida, ou concorrência vital: os seres vivos tendem a multiplicar-se em

proporção geométrica, daí a enorme destruição de seres, o que denuncia o

fenômeno marcante da luta pela existência, quer entre os indivíduos da mesma

espécie, quer em relação aos de espécies distintas.

1.4. Seus efeitos nas ciências modernas

Nesse contexto, o evolucionismo, ou o darwinismo, é uma corrente de

pensamento, que abrange aspectos filosóficos, sociológicos, naturalistas ou

biológicos, fundados na idéia da evolução das espécies, concepção essa

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aprimorada no século XIX, embora com antecedentes remotos, desde a

Antigüidade.

Foram precursores dessa corrente de pensamento os filósofos

Anaximandro (610-547 a.C.), para quem os seres vivos saíram da vasa

marinha (espécie de lama fina e inconsistente); Empédocles (490-430 a.C.),

segundo o qual todo fenômeno natural é mescla de outro fenômeno;

Aristóteles (384-322 a.C.), que afirmava o estado de guerra entre os animais,

que se sustentam com o mesmo alimento, lutando pela própria subsistência.

As concepções de Aristóteles foram assimiladas pelo cristianismo

através da escolástica na Idade Média dos séculos IX a XVII, caracterizadas

sobretudo, pelo problema da relação entre a fé e a razão, atribuídas ao monge

Tomás de Aquino (1225-1274).

Na época do Renascimento, Francis Bacon (1561-1626) preconizou

experiências para variar as espécies. Por sua vez, intuitivamente, Hobbes

(1588-1679), teórico do absolutismo do Estado acolheu o brocardo Homo

hominis lupus (O homem é um lobo para o homem), exprimindo o cerne da

teoria darwiniana, ou seja, a luta sem trégua entre as espécies para a

sobrevivência, em que acaba triunfando o mais apto.

No século XVIII, Diderot (1713-1784), um dos famosos enciclopedistas

franceses, sustentou princípios acerca das funções dos órgãos, idéia

aproveitada por Lamarck (1744-1829).

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Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895), receberam de braços abertos a

teoria de Darwin, quanto a explicação de origem materialista das diversas

espécies, lançando por terra, definitivamente a criação divina do homem.

Entretanto, silenciaram sobre a feição determinista do darwinismo, no que diz

respeito à luta e o predomínio dos mais aptos sobre os menos aptos,

abrangendo inclusive o aspecto daqueles superiormente dotados, do ponto de

vista da inteligência, aspecto esse objeto de estudos da Psicologia a partir de

1900.

Note-se, porém, que desde 1848, com a publicação do Manifesto do

Partido Comunista, Marx e Engels já haviam ressaltado o seguinte:

“A história de toda a sociedade até hoje tem sido a história das lutas de

classes. A sociedade moderna burguesa não aboliu os antagonismos de classe.

Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas

de luta em lugar das velhas.”

Hoje em dia, a Biologia, que compreende a Biologia Geral, a Zoologia e

a Botânica, se divide em vários ramos, dentre os quais a Fisiologia, a

Genética, a Ecologia, o Biodireito, etc., sofrem profunda influência das

vertentes do darwinismo.

Seja na preocupação da Genética para se determinar a carga da

hereditariedade, a variação e o desenvolvimento dos seres organizados; seja no

aspecto das repercussões biológicas no campo jurídico, como por exemplo o

DNA, na investigação de paternidade.

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Na Eugenia, ciência que estuda e aplica um conjunto de medidas

médicas, de natureza profilática, ou seja, preventiva, contra determinados

males, prejudiciais às futuras gerações humanas, posta em prática por

diferentes países, com idéias de classes economicamente fortes e

politicamente dominantes, que engendram tais concepções no controle da

geração de filho que não acarrete males à sociedade, ou seja, que não seja

aleijado, degenerado, deficiente mental, epiléptico, para sustentar a pretensa

superioridade de certas raças.

Dentro ainda, da Biologia, há os estudos sobre os alimentos

geneticamente mudados – Transgênicos – para obtenção de alimentos mais

robustos, resistentes a pragas e adaptados às exigências de mercado.

Há estudos na relação de alimentação e capacidade individual do

alimentando, voltados aos problemas relacionados à subnutrição e desnutrição,

no aumento populacional e no desperdício de alimentos.

Sobre o prisma da Filosofia, a contribuição de Darwin, consistiu na

explicação materialista acerca das diversas espécies animais e vegetais,

opondo-se assim ao denominado criacionismo, ou seja, a concepção segundo a

qual houve um ente superior sobrenatural responsável pela criação de todas as

coisas.

Ora, essa teoria repercutiu, profundamente, no campo filosófico, dando

sustentação ao materialismo científico, que substituiu o materialismo vulgar,

adequando-se perfeitamente à lógica dialética de Hegel (1770-1831) e

aprimorada por Marx e Engels.

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Para a Psicologia, o fator inteligência ou intelectual, se insere no

contexto dos aspectos fundamentais, afetos às relações inter-humanas e ao

progresso social. Dessa forma, é notório que a ignorância, o atraso, o

analfabetismo e mediocridade de bilhões de seres humanos, por todos os

países, constituem deploráveis fatores, que beneficiam os exploradores e

opressores.

Quanto a Política, na origem do fenômeno da organização social, teve-

se o poder por balizador da sociedade, e aí surge um dado biológico: a

necessidade de dominação, que em determinados seres – homens ou animais

em geral – é acentuado o instinto de dominação, o que inspira a Ciência

Política, no tocante à origem, estrutura, justificação e fins do Estado e de suas

instituições, como fenômeno gerador de poder, exercendo-se através do

controle social.

A influência foi marcante para a Sociologia, seja nos seus diversos

campos de estudos, baseando-se em diferentes fatores, como o fisiológico, o

econômico, o político, o intelectual, o geográfico, como responsáveis pelos

estágios das lutas de classes. Sustenta que a minoria prestigiada e dominante,

numa determinada sociedade ou grupo, considerada, simbolicamente, a nata, a

fina-flor, o escol, é constituída de indivíduos mais aptos ou também mais

poderosos, donos do poder, privilegiados pelo nascimento, favoritismo, tráfico

de influência, e assim por diante, o que é resultante do darwinismo social.

Na Economia, o darwinismo revela sua influência nos diversos ciclos

econômicos – caça, pesca, agricultura, pecuária, mineração, industrialização,

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comércio, etc. – se desenvolveram, via de regra, desordenada e furiosamente,

movidas principalmente pela avidez de lucro e propósito hegemônicos, sendo

os maiores responsáveis pela depredação da Natureza, provocando cadeias de

calamidades de toda ordem.

Finalmente, o Neo-Darwinismo, é o nome correntemente dado a teoria

dita “sintética” da evolução. A teoria sintética reconhece um papel

preponderante à seleção natural; faz inclusão das leis da hereditariedade de

Mendel; bem como outras concepções: a especiação geográfica, o isolamento

sexual das espécies, a evolução filética, etc.; tudo na área da Biologia.

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2. O DARWINISMO SOCIAL

2.1.Conceituação

O conceito de darwinismo social pode ser sintetizado como o transporte

da teoria darwínica, partindo dos fundamentos de Darwin, como teoria

biológica sobre a origem das espécies animais e vegetais, chegando-se ao

conceito do darwinismo social, como teoria complexa, abrangendo os

fenômenos sociológicos, políticos, filosóficos, econômicos, jurídicos e

cósmicos.

Em outras palavras, o aspecto biológico, consiste na luta e seleção

natural, dentre as diversas espécies, pela sobrevivência, acabando no triunfo

do mais apto, aspecto esse que se transporta – no plano social – na disputa

pelo poder político-jurídico-econômico, resultando daí a dominação,

exploração e opressão do menos aptos, débeis, inaptos, subservientes.

Cumpre salientar, porém, que a expressão luta pela vida, na acepção

darwínica, corresponde uma metáfora, não equivalendo, necessariamente, a

contenda, guerra ou derramamento de sangue. Assim, animais e plantas lutam

para evitar perigos do calor, do frio, da desidratação, do afogamento, dos

tufões e de outros fatores adversos.

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Por sua vez, a expressão seleção natural não significa selvageria, ou

condições que precedem ou excluem mudanças introduzidas no meio

ambiente pelo homem, e sim reprodução diferenciada de portadores de dotes

genéticos diferentes, devido à sua adaptação ou inadequação a dado ambiente.

O darwinismo social é, pois, uma realidade científica, decorrente de leis

biológicas, genéticas cósmicas, que determinam as condições psicossociais da

existência humana e se agrupa dentre as ideologias e teorias deterministas, em

oposição às teorias religiosas e possibilistas, as quais têm predominado ao

longo dos séculos.

2.2. O empréstimo da teoria de Darwin para explicar a evolução do

homem em sociedade

Como vimos no capítulo anterior, a importante influencia da teoria de

Darwin nas ciências modernas, onde em diversas passagens dos estudos e

pesquisas darwínicas, encontramos elementos e subsídios, que permitem

deduzir a conclusões a que esse cientista foi conduzido.

A teoria do darwinismo social põe a nu a realidade política, jurídica e

econômica, consistente no determinismo, de natureza biológica, pelo qual

alguns indivíduos se revelem mais aptos do que outros para o exercício do

poder, daí a explicação para a milenar divisão dicotômica da sociedade em

classes dominantes, em indivíduos ricos e pobres.

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Desde a pré-história, na formação dos primeiros grupos sociais ou

bandos, houve o sistema de prêmios e castigo que, basicamente, consiste na

concessão de determinadas recompensas a quem se distingue pelos méritos,

coragem, bravura, retidão, espírito público, assim como a quem inflige as leis,

que cause malefícios ou que descumpre as regras de conduta social, sofrendo

sanções ou penas.

Nesse contexto, é inevitável a adoção de critérios, quanto à hierarquia e

distinção dentre as diferentes camadas ou grupos sociais, em função da

capacidade individual, criatividade e produtividade, como formas de

contribuição pessoal, para a realização do bem comum.

Na esteira desse raciocínio, justificam-se dentre outras medidas de

saneamento social, a adoção dos princípios de eugenia, a eutanásia, o aborto, a

esterilização (masculina e feminina), a supressão da vida, a título de pena de

morte, que levam a chamada depuração social, indispensável sob

determinados aspectos, sob pena de continuarmos mantendo o status quo

atual.

O grande salto, e esse é o empréstimo teórico de Darwin para explicar a

evolução humana, foi de trazer à tona a realidade científica, apresentando o

homem em sua constante luta contra as desigualdades, as discriminações

raciais, para sobreviver, mesmo em sociedade, ainda que intelectuais a serviço

das classes dominantes preferem manter oculta a realidade científica, contida

no darwinismo social, alimentando com isso as ilusões duma possível e futura

igualização dentre os seres humanos.

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Contudo, os princípios do darwinismo social oferecem possíveis

alternativas ou soluções para os problemas ou situações, que mais contribuem

para o agravamento dessa dicotomia, fonte de tantos conflitos e antagonismos,

sobretudo de ordem econômica.

2.3. Pontos relevantes para o direito

As diversas correntes do pensamento adotam determinadas concepções

ou tendências específicas, que as caracterizam, constituindo-se assim nas

chamadas Escolas, nas diferentes áreas do saber.

Nessa ordem de idéias, surgiu a Escola de Direito do Evolucionismo,

cuja corrente de pensamento se inspirou no evolucionismo spenceriano, ao

qual tiveram filiados no Brasil, dentre outros, Sylvio Romero e Clóvis

Beviláqua, apesar da influência comteana , que os acompanhou sempre.

Antes que se notabilizasse como civilista, o autor do projeto primitivo

do nosso Código Civil, Beviláqua, formou uma sólida base filosófica, que

certamente influenciou, de maneira decisiva, as convicções jurídicas que

sustentou magistralmente ao longo dos anos.

Mas, em essência, estamos diante da problemática, que traduz o

confronto e o predomínio de uma lei biológica, expressa pelo darwinismo

social, sobre as leis jurídicas as quais representam o complexo do

ordenamento jurídico, como símbolo da organização do Estado, no tempo e no

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espaço. Concluí-se que a lei biológica tem se sobreposto à lei jurídica, visto

que esta constitui uma criação meramente ideológica.

Assim, desde os primeiros agrupamentos humanos, mesmo em suas

fases primitivas, encontram-se “relações de convivência” e “necessidade de

respeito mútuo” e o inquestionável milenar e contínuo processo de

concentração da riqueza, do poder político, da hegemonia, em proveito de

camarilhas, de monopólios e de indivíduos afortunados e astutos, que têm

dirigido povos e exércitos, valendo-se disso para promover guerras e saques.

Justamente, nesse contexto, está a relevância para o Direito, na busca do

justo e o resgate da dignidade humana, para a redemocratização das leis,

possibilitando a transformação social, através de mecanismos legais. A lei

deve existir para servir ao homem e não o homem à lei.

E foi com essa preocupação, que se buscou, na redação de nossa Carta

Política, atentar para tal circunstância, estendendo-se a proteção do

ordenamento jurídico, sobretudo, dos direitos e garantias fundamentais, até

porque, sob uma ótica formal, nosso Estado se organiza sob a forma de um

Estado Democrático de Direito.

Exatamente aí, é o ponto fulcral: encontradas e determinadas as

diferenças sociais, procura-se, então, criar leis que as atenuem, ou pelo menos

que tentem aproximá-las. Porém, há quem legisle procurando distanciá-las,

tornando as diferenças mais acentuadas, que escondem a realidade na

opressão, fazendo com que haja aqueles para os quais os direitos se efetivam,

e aqueles para os quais a existência é a própria opressão.

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3. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

3.1. Conceituação

Os direitos e garantias fundamentais são hoje o parâmetro do grau de

democracia de uma sociedade. Ao mesmo tempo, a sociedade democrática é

condição imprescindível para a eficácia dos direitos e garantias fundamentais,

porém, antes de mais nada, faz-se necessário a separação entre direitos e

garantias para podermos conceituá-los em breve linhas.

Os direitos fundamentais são bens e vantagens conferidas pela norma

jurídica constitucional formalmente consagrados como fundamentais

apresentando ou não ligação direta com princípio da dignidade humana, é esse

princípio que inspira os típicos direitos fundamentais, atendendo à exigência

de respeito à vida, à integridade física e íntima de cada ser humano e à

segurança. Em suma, os direitos fundamentais podem ser considerados

concretizações das exigências dos princípios da dignidade da pessoa humana.

Direitos fundamentais são considerados indispensáveis à pessoa

humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual.

Não basta ao Estado reconhecê-los formalmente; deve buscar concretizá-los,

incorporá-los no dia-a-dia dos cidadãos e dos seus agentes.

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São instituições constitucionais que se inserem no mecanismo de freios

e contrapesos dos poderes e, assim visam impedir o arbítrio, com o que

constituem ao mesmo tempo técnicas assecuratórias de eficácia das normas

conferidas dos direitos fundamentais.

Já as garantias fundamentais são os meios destinados a fazer valer os

direitos, são instrumentos pelos quais se asseguram o exercício e gozo

daqueles bens e vantagens. São prescrições constitucionais que conferem, aos

titulares dos direitos fundamentais meios, técnicas, instrumentos ou

procedimentos para imporem o respeito e a exigibilidade desses direitos; são

prescrições do Direito Constitucional positivo, que, limitando a atuação dos

órgãos estatais ou mesmo de particulares, protegem a eficácia, aplicabilidade e

inviolabilidade dos direitos fundamentais de modo especial.

Pode-se, ainda, classificar as garantias constitucionais em individuais,

coletivas, sociais e políticas, tendo em vista a natureza do direito garantido.

Em síntese, conforme as lições de Ruy Barbosa, que empreendeu um

confronto entre direitos e garantias separando-os nas disposições meramente

declaratórias que são as que imprimem existência legal aos direitos

reconhecidos, e as disposições assecuratórias que são as que, em defesa dos

direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias;

ocorrendo não raro juntar-se na mesma disposição constitucional ou legal, a

fixação da garantia, com a declaração do direito.

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3.2. Localização do sistema normativo

Observa-se que, dentro da sistemática adotada pela Constituição

brasileira, o termo direitos fundamentais é gênero abrangendo as seguintes

espécies: direitos individuais, coletivos, sociais, nacionais e políticos. As

Constituições escritas estão vinculadas às declarações de direitos

fundamentais. A própria Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

proclamada, após a revolução francesa, em 1789, estabelecia que se o Estado

não possuísse separação de poderes e um enunciado de direitos individuais

não teria uma Constituição.

No ordenamento jurídico brasileiro os direitos e garantias fundamentais

encontram-se no Título II da Constituição brasileira e é dividido em cinco

capítulos: I- Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; II- Dos Direitos

Sociais; III- Da Nacionalidade; IV- Dos Direitos Políticos ; e V- Dos Partidos

Políticos.

A Constituição de 1988 inovou em diversos aspectos em relação as

anteriores: a) foi a primeira a fixar direitos fundamentais antes da organização

do próprio Estado, realçando a importância deles na nova ordem democrática

estabelecida no país após longos anos de autoritarismo; b) tutelou novas

formas de interesses, os denominados coletivos e difusos; c) impôs deveres ao

lado de direitos individuais e coletivos.

O artigo 5º da Constituição arrola o que denomina de direitos e deveres

individuais e coletivos, não menciona aí as garantias dos direitos, mas estão

também presentes, implicitamente. O dispositivo começa enunciando o direito

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de igualdade de todos perante a lei sem distinção de qualquer natureza.

Embora seja uma declaração formal, não deixa de ter sentido especial essa

primazia ao direito de igualdade, que, por isso, servirá de orientação ao

intérprete, que necessitará de ter sempre presente o princípio da igualdade na

consideração dos direitos fundamentais do homem. Em seqüência, o

dispositivo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos dos incisos que integram o artigo e seus parágrafos.

3.3. Eficácia e aplicabilidade

Os direitos e garantias fundamentais, conforme dispõem o art. 5º, § 1º,

da Constituição Federal, possuem aplicabilidade imediata, o que significa

dizer que são auto-aplicáveis, ou seja não dependem da edição de norma

regulamentadora para que possam ser exercidos. Somente quando a

Constituição expressamente exigir uma regulamentação e o direito individual

não puder ser efetivado sem a existência de uma legislação infra

constitucional, é que a norma pode ser interpretada como não auto-executável.

A eficácia e a aplicabilidade das normas que contêm direitos e garantias

fundamentais dependem muito de seu enunciado, pois se trata de assunto que

está em função do Direito positivo. A Constituição é expressa sobre o assunto

quando estatui que as normas definidoras dos direitos e garantias

fundamentais têm aplicação imediata.

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Mas certo é que isso não resolve todas as questões, porque a

Constituição mesma faz depender de legislação ulterior à aplicabilidade de

algumas normas definidoras de direitos sociais, enquadrados dentre os

fundamentais.

Por regra, as normas que consubstanciam os direitos fundamentais

democráticos e individuais são de eficácia contida e aplicabilidade imediata,

enquanto as que definem os direitos econômicos e sociais tendem a sê-lo

também na Constituição vigente, mas algumas especialmente as que

mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada de princípios

programáticos e de aplicabilidade indireta, mas são tão jurídicas como as

outras e exercem relevante função porque, quanto mais se aperfeiçoam e

adquirem eficácia mais ampla, mais se tornam garantias da democracia e do

efetivo exercício dos demais direitos fundamentais.

A aplicabilidade, portanto, no sentido jurídico, é a possibilidade que a

norma tem de ser aplicada, isto é, de ter a capacidade de produzir efeitos

jurídicos. Não se cogita de saber se ela produz efetivamente esses efeitos,

basta haver a possibilidade de produzir.

Todavia, em nossos estudos, trataremos da eficácia social da norma,

uma vez que, é na sociedade que reflete os efeitos da norma e, sob a ótica do

Darwinismo, poderemos aferir sua efetividade.

A eficácia social designa uma efetiva conduta em sintonia com o que

prevê a norma, refere-se ao fato de que a norma é realmente obedecida e

aplicada.

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Nesse sentido a eficácia da norma diz respeito ao fato de que ela é

efetivamente aplicada e seguida, nas circunstâncias em que a conduta humana

(se) verifica a norma na ordem dos fatos. É o que tecnicamente se chama

efetividade da norma.

Eficácia é a capacidade de atingir objetivos previamente fixados como

metas. Tratando-se de normas jurídicas, a eficácia consiste na capacidade de

atingir os objetivos nela traduzidos, que vêm a realizar os ditames do

legislador.

A eficácia jurídica de uma norma, portanto, designa a qualidade de

produzir, em maior ou menor grau, efeitos jurídicos, ao regular as situações de

comportamento humano. Nesse sentido a eficácia diz respeito à aplicabilidade,

exigibilidade ou executoriedade da norma, como possibilidade de aplicação

jurídica.

Por isso é que se fala em eficácia social, tratando-se de norma jurídicas,

em relação à efetividade. Porque o produto final objetivado pela norma se

consubstancia no controle social que ela pretende, enquanto que eficácia

jurídica é apenas uma possibilidade de que isso venha a acontecer. Uma

norma pode ter eficácia jurídica sem ser socialmente eficaz.

O termo efetividade exprime tecnicamente essa qualidade jurídica da

norma. Efetividade significa, portanto, a realização do Direito, o desempenho

concreto de sua função social. Representa a materialização, no mundo dos

fatos, os preceitos legais e simboliza a aproximação entre o dever ser

normativo e o ser da realidade social.

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Nesse sentindo temos uma Constituição formal, solene, promulgada, e

outra eficaz, isto é, desde logo aplicável, com força obrigatória. Estas são as

vertentes da diferença social: numa, o idealismo (utópico?) e noutra, a

realidade racional.

Sociologicamente, pode-se dizer que as normas Constitucionais, como

outras, são eficazes e aplicáveis, na medida em que são efetivamente

observadas e cumpridas.

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4. INFLUÊNCIA DO DARWINISMO SOCIAL

4.1. Influência na sociedade e no direito atual

O filósofo britânico Hebert Spencer (1820-1903) admitia, em seu livro

intitulado Princípios de biologia, publicado em 1864, que, à medida que os

organismos foram se tornando mais complexos, sobretudo quanto aos órgãos

neuromusculares, observou-se uma diminuição dos efeitos indiretos da seleção

natural, dando lugar a influências diretas, mais conscientes, ou pelo menos

espontâneas, sobre o processo evolutivo.

Essas influências diretas tinham atingido sua eficiência máxima no

homem civilizado, mas passaram a interferir na sua evolução. Segundo

Spencer, a criação de leis sociais de proteção aos “menos aptos” força a

sobrevivência das raças inferiores, dos criminosos e dos indivíduos de

condições sociais precárias. Estes, geralmente com menos obstáculos à

reprodução, acabariam se impondo e prevalecendo nas sociedades humanas.

Spencer apregoava, pois, a necessidade de deixar que as leis da “luta

pela vida” agissem sem qualquer favorecimento institucional dos mais fracos,

como único recurso à preservação da raça e de uma elite social, suas idéias

tiveram ampla repercussão em sua época, favorecendo sobremaneira as

tendências racistas e os preconceitos sociais.

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Os movimentos teóricos do início aos meados do século XX, tiveram

por finalidade explícita a “depuração da raça” e conseguiram reunir inúmeros

adeptos. Alguns sustentaram que era necessário que se criasse leis universais e

inflexíveis que impedissem os casamento interracial, Charles Richet, Prêmio

Nobel de Medicina em 1913, dizia em uma de suas obras: “Está mais do que

provado, por todo um conjunto de provas irrefutáveis, que a raça amarela e,

sobretudo, a raça negra são absolutamente inferiores à raça branca. Não se

trata de martirizá-las, nem de combatê-las. Não! É preciso muito

amigavelmente, muito simpaticamente mantê-las à distância, isso é tudo. Pois

a raça mista que resulta de toda união com uma raça inferior, será

forçosamente inferior.” E, em outra parte da mesma obra cita: “Nós

deveríamos considerar a normalidade como um mínimo necessário...se os

aleijados, os lábios-leporinos, os polidáctilos, os hidrocéfalos, os idiotas, os

surdos-mudos, os raquíticos, os cretinos, fossem suprimidos, as sociedades

humanas nada perderiam”.

Eram esses, pois os princípios que os darwinistas sociais imaginavam

ser originários da doutrina de Darwin. Em vez de exaltar os princípios morais

decorrentes do próprio desenvolvimento da inteligência e da cultura, voltados

para uma sociedade que protegesse os menos favorecidos – como sugerira

Darwin –, propunham uma sociedade altamente seletiva, desenvolvida à custa

da supressão dos menos aptos ou inferiores. A lei do mais forte aplicada à

sociedade.

Esses caminhos do darwinismo social teve fundamentos robustecidos,

na orla jurídica em face dos acontecimentos ocorridos, sobretudo após a

Revolução Socialista (1917), na extinta URSS, com a ascensão do nazismo na

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Alemanha e a chegada de Hittler ao poder (1933) apregoando a superioridade

da raça ariana, tudo isso fez com que os democratas e não-racistas se

desinteressassem pelo darwinismo social, receosos de serem considerados

adeptos do nazismo.

No ano de 1975, surgiu uma nova teoria sobre a evolução e a formação

das sociedade intitulada sociobiologia, a qual teve, e vem tendo ainda hoje,

grande repercussão nos meios científico. Segundo essa teoria, a rivalidade

entre os homens ou entre os grupos humanos constituiriam um dos mais

poderosos motores da evolução das sociedades. Baseada em princípios

puramente genéticos de evolução do comportamento. Assim existiriam, nos

seres humanos, genes para determinar a tendência ao alcoolismo, ao

homossexualismo, ao conformismo, à agressividade, e essas tendências

poderiam ser modificadas pelo emprego de técnicas de engenharia genética no

sentido de se chegar a uma “sociedade ideal”. Mas, no caso da formação de

comportamento do ser humano, é de natureza muito mais complexa o que vem

sendo demonstrado pelos psicólogos desde Sigmund Freud (1856-1939).

Outra influência na sociedade atual, com reflexos no campo jurídico, é a

massificação dos meios de comunicação em poder de uma minoria dominante,

que mantêm a alienação e opressão dos menos favorecidos intelectualmente,

repercutindo diretamente sobre o processo eleitoral na influência do poder

econômico, em relação ao apoio financeiro aos cargos eletivos, e também

expondo, com sensacionalismo a vulgaridade explícita, instigando-a ao

consumo desenfreado.

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Os meios de Comunicação Social, que inegavelmente se ampliaram e se

aperfeiçoaram, tornando possível a instantaneidade da comunicação, das

reações, da universalidade de participação do homem nos conhecimentos, nos

acontecimentos, nos problemas, nas ações e nos movimentos sociais, são

alguns dos fenômenos, característicos do mundo contemporâneo, da chamada

“massificação” da sociedade moderna.

Com a propagação desses instrumentos de comunicação, sob a

aparência e o pretexto de progresso, exibe-se tudo, penetra-se no mais íntimo

do recesso dos lares e recantos do corpo humano, violentando-se brutalmente

a sua privacidade, tudo com o deliberado propósito de provocação de

escândalo e sensacionalismo, em torno principalmente da sexualidade,

apresentada e justificada em nome da liberdade de comunicação, como

pretenso liberacionismo sexual e para melhores relações entre ambos os sexos.

Como se sabe, no aparato judicial, os quadros jurídicos e os órgãos

policiais têm por missão manter a ordem estabelecida; daí decorre que o Poder

Judiciário é, necessariamente, um instrumento político, ou seja,

ideologicamente identificado com as estruturas econômicas, culturais e sociais

do respectivo Estado, tornando-se num rendoso negócio o controle do crime,

seja na repressão do crime, na fabricação de armas, e na infinidade de

variedade de produtos e serviços de segurança.

Ademais, as atividades criminosas proporcionam ocupação para muitos,

servindo de estímulo para numerosos negócios, iniciativas e providências,

utilizadas como pretexto para combatê-las.

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Todos esses aspectos são claras manifestações da luta e do êxito

daqueles que se revelam mais aptos para o crime, como forma de afirmação

individual e predomínio sobre os menos aptos, débeis, especialmente no caso

de lutas entre quadrilhas, famílias coronelistas, facções criminosas, etc.

Muitas outras são as influências do darwinismo social na sociedade e no

direito atual, podemos citar como exemplo os avanços da genética, das

técnicas de trabalho, das telecomunicações, das relações de consumo e das

relações interpessoais no campo psíquico.

4.2. Influência na eficácia dos direitos e garantias fundamentais

Como aludimos anteriormente, conhecidas as diferenças sociais entre

classes, tornou-se por bem legislar por leis que, ao menos, atenuassem essas

desigualdades.

Quando a maioria dominada, chegou ao poder – raras, mas de grandes

repercussões para a humanidade –, uma das primeiras preocupações era em

proteger aqueles desafortunados socialmente, os pobres, os proletários, a

plebe, ainda que no segundo momento, devolviam o poder aos que o detinham

antes.

As Declarações de Direitos de Virgínia (1776) e as Declarações dos

Direitos do Homem e do Cidadão (1789), já apontavam que o homem por sua

natureza livre possui direitos inatos que não podem ser despojados, limitando-

se, apenas, às restrições necessárias para assegurar a vida em sociedade.

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Nesse contexto, que os direitos e garantias fundamentais, aparecem no

mundo jurídico: primeiramente, por lutas das classes dominadas em conquistar

a elaboração de leis que lhes assegurem proteção jurídica; e segundo, para a

reafirmação das classes dominantes, em conceder a proteção jurídica e, logo

após, utilizar em seu favor, através da alienação massificada.

Como lembramos anteriormente, os meios de comunicação, que de um

lado exercitam o seu direito, trazendo incalculáveis benefícios à divulgação da

cultura, porém, também serviram para introduzir nos lares hábitos e exemplos

dos mais nocivos, ferindo o direito à privacidade, na mais profunda intimidade

do ser humano.

Quanto à educação, é fácil, pelos governantes, apresentar números,

informando a quantidade de crianças nas escolas ou sendo alfabetizadas, mas

não precisa ir tão longe para ter ciência da descontinuidade no estudo por

grande parte de crianças que iniciam o ensino fundamental, sem contar a

queda do nível de ensino, tornando-se numa máquina de cabeças alienadas.

Verifica-se também, que as diferentes classes sociais (considerados os

interesses que as mesmas representam) não desfrutam de um acesso

igualitário. Isso implica a necessidade de freqüência a cursos especializados, a

custo elevado, para que se consiga uma vaga na Universidade, em geral

dominada por concessionárias particulares, que cobram altas taxas de

matrículas e de mensalidades, sem falar nas despesas com aquisição de livros,

transportes e outras, tornando o ensino universitário um privilégio das classes

médias altas e das famílias burguesas.

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A propriedade, desde que surgiu, de sociedades primitivas, sempre foi

fator de domínio sobre aqueles que não a possuem, pois para que pudessem

ocupar um pedaço de terras, eram expropriados em suas forças de trabalho,

submetendo-se aos que possuiam as terras.

Na Constituição pátria, está assegurado o direito à propriedade,

vinculando ao atendimento da sua função social, contudo sofre influências

darwinícas pelo desinteresse político dominante.

Da mesma forma, os vários exemplos nos dias atuais de trabalho

escravo, juntamente com a propriedade privada, representa a afirmação da

supremacia exercida por uns poucos (os mais aptos, astutos e audazes), sobre a

maioria (menos aptos, submissos), o que confirma na prática, a teoria do

darwinismo social.

A saúde, por seu turno, também apresenta notável influência do

darwinismo social, pois classes economicamente fortes detêm todos os tipos

de assistência médica, tirando vantagens de diversas maneiras, seja nos

atendimentos ambulatoriais, seguros de saúde, entre outros.

Vários são outros direitos e garantias fundamentais que sofrem

influências perceptíveis do darwinismo social, dentro dos quais vale destacar

os direitos sociais fundamentais, que elencam as primícias básicas para a

sobrevivência do nacional ou do estrangeiro, ainda que de passagem pelo

território brasileiro, objetivando a implantação duma ordem jurídica igualitária

e fraterna, inspiradas nas construções ideológicas, essas influências caem por

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terra diante do aumento da criminalidade, da corrupção, dos interesses das

grandes potências industriais.

Quanto mais se acentuam as diferenças sociais, mais aumenta a

criminalidade, fato visivelmente comprovado, que determinados grupos de

depuração social, clamam por penas mais severas, inclusive a pena de morte,

para crimes bárbaros. Contudo, a minoria dominante, antevendo, que é

possível chegar um dia em que se imporá pena de morte aos crimes de

“colarinho branco”, preferem contornar com outras medidas.

A propósito, assinalou Beccaria (1738/1794), arauto do humanitarismo

penal:

“A maior parte das leis penais não foi senão privilégio, isto é, tributo

imposto à massa da nação em favor de pequeno número de senhores”.

Outro fato, recente, que põe em dúvida a eficácia dos direitos e

garantias fundamentais, é o Estatuto do Idoso. A crítica que se faz, é o fato de

o legislador brasileiro ter que editar leis que a Constituição Federal já

assegurou, desde sua promulgação. Parece que os preceitos constitucionais

somente têm valor se ratificados por lei infraconstitucional, mesmo quando

tais mandamentos não dependam desta última para sua eficácia. Basta a breve

leitura do art. 230 em combinação com o art. 5º da Carta Magna, percebe-se

claramente que as garantias de respeito à terceira idade prevista no Estatuto,

essencialmente, já existiam.

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CONCLUSÃO

Passados tantos séculos, perduram os mesmos clamores por justiça

social, na atualidade.

Acontece que, numa sociedade dividida em classes – exploradores e

explorados –, as concepções de justiça não são iguais para as mesmas, que só

se fala de justiça entre homens, quando entre elas há força igual.

A Justiça só se justifica quando serve à dignidade e à natureza humana.

Todavia, em não servindo à dignidade e à natureza humana, pode ser utilizada

para justificar verdadeiros absurdos jurídicos que, na maioria das vezes, em

sendo legalizados, transformam-se em formas de exploração econômica,

social e política.

Destarte, acabaram prevalecendo as astúcias e artimanhas dos

poderosos, fazendo que os juízes representam o ideal de justiça, decidindo

com imparcialidade, em nome do Estado.

Por falta de consciência, ou mesmo de alternativa de sua classe, muitos

dominados acabam defendendo os interesses da classe que os explora. A

transformação das condições de vida dos explorados não acontece como num

passe de mágica: sua libertação necessita de um grau cada vez mais elevado de

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consciência da opressão, capaz de superar uma constatação ingênua para

amadurecer uma visão crítica.

Aos dominantes, interessa reduzir a consciência dos dominados a

amontoado de preconceitos, capazes de reduzi-los à infantilidade alienada.

Mas, para poder assumir a direção da sociedade, a classe dominada precisa de

muita maturidade e de competência. Isso não se dará sem uma profunda

formação cultural, política, social e econômica que hoje serve apenas para que

a classe dominante aumente seu poder.

Enquanto há avanços no social, há um profundo retrocesso no político-

econômico. Vejam-se pelas campanhas governamentais de combate à fome e à

miséria, por outro lado, para se adequar ao mundo globalizado, as proteções

garantidas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e, principalmente,

pela Carta Magna, perdem sua eficácia diante da chamada flexibilização das

leis trabalhistas. Ora, o Estado dá, em tese, o pão, quando deveria dar os meios

de se obter o pão, ou seja, através de empregos fixos.

O processo se articularia de modo a causar sensações no inconsciente

coletivo e no imaginário de cada indivíduo, até como forma de buscar sua

legitimação, que estaria presente desde a indumentária dos operadores, até a

utilização de um palavreado próprio, rebuscado, com o papel de infundir certa

respeitabilidade naquele que não seja operador, ou seja, na generalidade dos

destinatários, que disporiam de uma visão externa do direito.

A compreensão do homem de sua perspectiva produtiva, de classe,

clareia rapidamente as posições em jogo, são os compromissos ideológicos

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envolvidos em cena. A defesa da justiça como defesa da humanidade genérica,

e não do homem em concreto (desprovido do acesso efetivo à distribuição das

necessidades) é a defesa filosófica mais bem acabada que os tempos

reacionários e neoliberais conseguem empreender.

O fundamento para a classe dominada não é aumentar o seu saber para

vender sua força de trabalho por um preço mais elevado, para melhor servir

aos dominantes. Precisa conquistar maturidade suficiente para enfrentar a

exploração e tornar-se, também, classe dirigente, sem cair num ciclo vicioso,

de abandonar os seus ideais quando participam do poder.

Em síntese, fica claro que a teoria da seleção natural de Charles Darwin,

pode ser encontrada viva no nosso meio. Oculta e silenciosa, acompanha a

evolução do homem em sociedade, o seu verdadeiro habitat, na constante luta

pela sobrevivência, os mais aptos sobrepondo aos menos aptos.

Finalmente, a garantia das garantias consiste na eficácia e aplicabilidade

imediata das normas constitucionais. Os direitos, liberdades e prerrogativas

consubstanciadas no título II, caracterizados como direitos fundamentais, só

cumprem sua finalidade se as normas que os expressem tiverem efetividade.

As críticas acima acerca da ordem jurídica, não esgotam o assunto, mas

constituem um desafio e um convite à reflexão interdisciplinar do conteúdo e

fundamentos da Teoria da Evolução.

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