24
1 O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS GEOGRÁFICAS NA GEOGRAFIA BRASILEIRA: REFLEXÕES PRELIMINARES MATHEUS DA SILVEIRA GRANDI 1 Resumo A questão escalar, que envolve o problema da articulação de unidades espaciais em totalidades internamente coerentes, foi respondida de diferentes maneiras no decorrer da história do pensamento geográfico (hierarquias de regiões, “o problema da escala”, geossistemas, etc.). Após ser apresentado como um problema metodológico sob inspirações neopositivistas em meados do século XX, as influências críticas e humanistas na geografia possibilitaram que a questão da escala passasse a ser considerada também como epistemológica e, consequentemente, essencialmente política. A chamada “abertura” do conceito de escala geográfica no ambiente anglófono da década de 1990 se deu especialmente sob a influência de trabalhos de autores como Peter Taylor, John Hart e Neil Smith da década anterior ―ainda que nos anos 2000 tenham se destacado as influências das abordagens feministas, decoloniais, pos-estruturalistas e não-representacionais, dentre outras. Em outros contextos linguísticos, no entanto, tais debates trilharam caminhos diferentes. Este texto tem como objetivo caracterizar a trajetória do debate sobre a escala geográfica no âmbito da geografia brasileira do último meio século. Nesse ambiente acadêmico, apesar de contribuições pioneiras e originais serem vistas já nas décadas de 1970 e 1980, o investimento no debate sobre tal conceito foi disperso. Apesar disso, a questão escalar permaneceu no campo de visão das reflexões geográficas do país, sendo abordada, por exemplo, enquanto questão metodológica (ligada à visibilidade dos fenômenos), desde perspectivas conceituais que visavam incorporar a ela a dimensão temporal (ou seja: enquanto escalas espaço-temporais) ou mesmo como parte do pano de fundo de horizontalidades e verticalidades que significam e materializam a produção do espaço de maneira geral. As publicações mais influentes sobre esse debate no país, por outro lado, dialogavam especialmente (ainda que não exclusivamente) com trabalhos francófonos, seguindo uma das tradições da geografia brasileira. Somente no início dos anos 2000 surgem algumas menções ao debate anglófono recente, motivadas sobretudo pelo interesse no tema da política de escalas. Entidades nacionais da geografia (Associação de Geógrafos Brasileiros e Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia dentre elas) passaram também a incorporar com maior ênfase o tema das escalas geográficas como parte dos temas centrais abordados em seus eventos periódicos, além da maior frequência da aparição do termo em periódicos de circulação nacional. Desde então a preocupação com as escalas geográficas ganhou destaque parcial e vem se inserindo vagarosamente nos debates nacionais, apresentando características e constituindo trajetórias particulares. Por meio do estudo sistemático das obras que abordaram o tema, se almeja contribuir com a reflexão sobre tais particularidades e com o estabelecimento de um diálogo profundo e necessariamente crítico com as produções estrangeiras sobre a dimensão escalar da espacialidade. Palavras-chave: Escalas geográficas; Geografia brasileira; História da Geografia; Teoria e Método 1 Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Departamento de Geografia da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Contato: [email protected]

O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

1

O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS

GEOGRÁFICAS NA GEOGRAFIA BRASILEIRA: REFLEXÕES

PRELIMINARES

MATHEUS DA SILVEIRA GRANDI1

Resumo A questão escalar, que envolve o problema da articulação de unidades espaciais em totalidades internamente coerentes, foi respondida de diferentes maneiras no decorrer da história do pensamento geográfico (hierarquias de regiões, “o problema da escala”, geossistemas, etc.). Após ser apresentado como um problema metodológico sob inspirações neopositivistas em meados do século XX, as influências críticas e humanistas na geografia possibilitaram que a questão da escala passasse a ser considerada também como epistemológica e, consequentemente, essencialmente política. A chamada “abertura” do conceito de escala geográfica no ambiente anglófono da década de 1990 se deu especialmente sob a influência de trabalhos de autores como Peter Taylor, John Hart e Neil Smith da década anterior ―ainda que nos anos 2000 tenham se destacado as influências das abordagens feministas, decoloniais, pos-estruturalistas e não-representacionais, dentre outras. Em outros contextos linguísticos, no entanto, tais debates trilharam caminhos diferentes. Este texto tem como objetivo caracterizar a trajetória do debate sobre a escala geográfica no âmbito da geografia brasileira do último meio século. Nesse ambiente acadêmico, apesar de contribuições pioneiras e originais serem vistas já nas décadas de 1970 e 1980, o investimento no debate sobre tal conceito foi disperso. Apesar disso, a questão escalar permaneceu no campo de visão das reflexões geográficas do país, sendo abordada, por exemplo, enquanto questão metodológica (ligada à visibilidade dos fenômenos), desde perspectivas conceituais que visavam incorporar a ela a dimensão temporal (ou seja: enquanto escalas espaço-temporais) ou mesmo como parte do pano de fundo de horizontalidades e verticalidades que significam e materializam a produção do espaço de maneira geral. As publicações mais influentes sobre esse debate no país, por outro lado, dialogavam especialmente (ainda que não exclusivamente) com trabalhos francófonos, seguindo uma das tradições da geografia brasileira. Somente no início dos anos 2000 surgem algumas menções ao debate anglófono recente, motivadas sobretudo pelo interesse no tema da política de escalas. Entidades nacionais da geografia (Associação de Geógrafos Brasileiros e Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia dentre elas) passaram também a incorporar com maior ênfase o tema das escalas geográficas como parte dos temas centrais abordados em seus eventos periódicos, além da maior frequência da aparição do termo em periódicos de circulação nacional. Desde então a preocupação com as escalas geográficas ganhou destaque parcial e vem se inserindo vagarosamente nos debates nacionais, apresentando características e constituindo trajetórias particulares. Por meio do estudo sistemático das obras que abordaram o tema, se almeja contribuir com a reflexão sobre tais particularidades e com o estabelecimento de um diálogo profundo e necessariamente crítico com as produções estrangeiras sobre a dimensão escalar da espacialidade.

Palavras-chave: Escalas geográficas; Geografia brasileira; História da Geografia; Teoria e

Método

1 Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Departamento de Geografia

da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Contato: [email protected]

Page 2: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

2

Abstract The scalar question, which involves the problem of articulation of spatial units in internally coherent totalities, has been answered in different ways throughout the history of geographical thought (hierarchies of regions, "the scale problem", geosystems, etc.). After being presented as a methodological problem under neopositivist inspirations in the mid-twentieth century, critical and humanist influences in geography have enabled the theme of scale to be considered as epistemological and therefore essentially political. The so-called "openness" of the concept of geographic scale in the English-speaking environment from the 1990s onwards was especially influenced by what authors such as Peter Taylor, John Hart, and Neil Smith have writen during the previous decade ― although in the 2000s new influences from feminist, decolonial, poststructuralist, and non-representational approaches, among others, have reached the debate. In other linguistic contexts, however, such debates have gone on different ways. This text aims to characterize the trajectory of the debate on geographic scale within the scope of the Brazilian geography of the last half century. In this academic environment, although pioneering and original contributions were seen in the 1970s and 1980s, investment in the debate on such a concept was dispersed. In spite of this, the scalar question remained in the field of vision of the geographic reflections of the country, being approached, for example, as a methodological question (linked to the visibility of the phenomena), from conceptual perspectives that aimed to incorporate to it the temporal dimension (that is: space-time scales) or even as part of the background of horizontalities and verticalities that signify and materialize the production of space in general. The most influential publications on this debate in the country, on the other hand, were especially (although not exclusively) dialoguing with francophone works, following one of the traditions of Brazilian geography. It was only in the early 2000s that some mentions the recent Anglophone debate, motivated mainly by the interest in the topic of policy of scales. National entities of geography (Association of Brazilian Geographers and National Association of Postgraduate Studies and Geography Research) also began to incorporate with greater emphasis the theme of geographical scales as part of the central themes addressed in their periodic events, besides the higher frequency of the appearance of the term in periodicals of national circulation. Since then the concern with the geographical scales has gained partial prominence and has been slowly inserting itself in the national debates, presenting characteristics and constituting particular trajectories. Through a systematic study of the works that approached the theme, it is hoped to contribute with the reflection on such particularities and with the establishment of a deep and necessarily critical dialogue with the foreign productions on the scalar dimension of the spatiality.

Keywords: Geographical scales; Brazilian geography; History of geography; Theory and Methods.

1. Introdução

A questão da articulação de unidades espaciais em totalidades internamente

coerentes foi respondida de diferentes maneiras no decorrer da história do pensamento

geográfico (hierarquias de regiões, “o problema da escala”, geossistemas, etc.). Em

meados do século XX, sob inspirações neopositivistas, tal questão foi apresentada como

um assunto metodológico que, caso não fosse levado à sério, tinha o potencial de

macular as regularidades com sobreposições de dados e com as chamadas falácias

ecológicas, o que resultaria na invalidação das extrapolações almejadas pelos ímpetos

Page 3: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

3

nomotéticos.2 Tal risco, que ficou conhecido desde então como o “problema da escala”,

ancorava-se sobretudo nos equívocos que o mal uso dos dados poderia acarretar para

as análises e intervenções espaciais ― particularmente explícito no âmbito das

atividades de planejamento e gestão territorial. As influências críticas e humanistas na

geografia, especialmente marcantes a partir da década de 1970, possibilitaram que o

problema da escala passasse a ser considerado também como epistemológico e,

consequentemente, como essencialmente político. Ao buscar ampliar as perspectivas de

debate sobre a questão escalar no pensamento geográfico, autores como Peter Tay lor,

John Hart e Neil Smith influenciaram de maneira decisiva o ambiente anglófono a partir

de meados da década de 1980, cumprindo papel importante na “explosão” de trabalhos a

esse respeito na década de 1990. Na virada do século, o tema das escalas geográficas

seguiu reverberando naquele ambiente acadêmico e passaram a incluir reflexões

alimentadas pelas perspectivas feministas, decoloniais, pos-estruturalistas e não-

representacionais, dentre outras.

Em outros contextos linguísticos, no entanto, tais debates trilharam caminhos

diferentes. Retrospectivamente, por exemplo, é marcante o fato de que as escalas

geográficas não se estabeleceram como parte dos debates centrais das pesquisas

geográficas brasileiras, embora não haja dúvidas de que a importância de tal conceito se

manteve no campo de visão das reflexões sobre a dimensão espacial da sociedade. O

resgate das produções sobre o assunto e a realização de reflexões teórico-conceituais

mais sistemáticas sobre a trajetória das contribuições brasileiras ao debate sobre as

escalas geográficas, no entanto, ainda se mostra como uma tarefa por fazer. É nesse

sentido que se apresenta este texto, cujo objetivo é contribuir preliminarmente para a

compreensão do caminho traçado pela geografia brasileira nas últimas décadas no que

diz respeito às discussões sobre as escalas geográficas. Tal ímpeto foi operacionalizado

por meio da organização das primeiras sistematizações do estudo bibliográfico em

andamento de materiais publicados em periódicos acadêmicos da geografia brasileira,

2 Ver Grandi (2016).

Page 4: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

4

livros e capítulos de livros, todos selecionados a partir da reconstrução bibliográfica de

referências constantes em obras recentes que abordam o tema das escalas geográficas 3.

As próximas páginas se iniciam com o esboço cronológico preliminar de algumas das

principais contribuições ao tema elaboradas no contexto da geografia brasileira4 até o

final da primeira década dos anos 2000. Em seguida indico alguns aspectos inovadores

das reflexões brasileiras resgatadas das décadas de 1970, 1980 e 1990. Na terceira

parte apresento uma síntese preliminar das principais características dessa trajetória,

dando destaque à situação atual do debate. Finalizo apontando para alguns desafios que

o debate sobre as escalas geográficas enfrenta no final desta segunda década dos anos

2000 no Brasil.

2. Resgate cronológico: contribuições anteriores à década atual

Ao se resgatar algumas das primeiras obras a serem mencionadas na literatura

brasileira como parte do debate sobre escalas geográficas, são frequentemente

lembrados os trabalhos de Fany Davidovich (1978), Milton Santos (1986) e Luis

Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986).5

As ideias de David Harvey (1973) serviram de inspiração para o artigo de

Davidovich,6 pioneiro em alguns aspectos importantes. Nesse artigo a autora explora

determinadas características dos núcleos que compunham a rede urbana brasileira

(nominalmente: o tamanho urbano, a dinâmica populacional, as condições de renda e a

posição na atividade industrial) para elaborar a proposta de escalas de urbanização

como ferramenta para a intervenção sobre o espaço: a escala de metropolização, escala

de tangenciamento à metropolização, escala das funções regionais e a escala da

3 Como Corrêa (2003, 2006), Souza (2006, 2013), Santos (2011), dentre outros. 4 Não foram incluídos neste trabalho as traduções de textos estrangeiros sobre o assunto

publicadas em português. Dentre esses trabalhos estão: Racine, Ruffy e Raffestin (1983[1980]), Smith (1988[1984], 2000[1997]), Masson (2006[2006]), Brenner (2013, 2018), Moore (2018[2008]), Swyngedouw (2018) e Velázquez (2018)

5 Ver considerações mais detidas sobre as contribuições de Davidovich e Bahiana para o debate teórico-conceitual sobre as escalas geográficas no âmbito brasileiro em Grandi (2014).

6 Ver Davidovich (1978).

Page 5: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

5

fronteira de recursos). Em meados da década de 1980, novas reflexões reconheciam a

importância das escalas geográficas na busca por compreender as mudanças nas

dinâmicas territoriais que ocorriam mundialmente naquele período. É o caso do esforço

de Milton Santos (1986) em rediscutir as categorias de análise geográfica à luz da

intensificação do processo de transformação do espaço geográfico em meio técnico-

científico segundo as diversas escalas. Para refletir sobre o processo de empiricização

da universalidade derivado do processo de globalização, Santos destaca a relevância de

se abordar o tema a partir de ao menos três níveis analíticos: planetário; nacional; e

regional e local. A partir desses níveis, portanto, ele sugere que os indicadores

geográficos que melhor reflitam as condições da modernidade sejam tratados,

organizando suas indagações em quatro grandes grupos temáticos: os problemas gerais;

as relações cidade-campo; as relações interurbanas; e a organização interna das cidades

e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti

da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu diretamente ao debate da escala

geográfica no Brasil. Bahiana toma a iniciativa de situar a problemática das escalas no

interior da história do pensamento geográfico pós-institucionalização da disciplina. Além

disso, inspira-se especialmente nas considerações de Lacoste para não só afirmar a

coexistência das escalas geográficas em cada recorte do real, como também para

destacar a importância dessa abordagem para o desenvolvimento de estudos no espaço

urbano.

É na década de 1990, porém, que começam a ser publicadas as reflexões que se

mantiveram até hoje como aquelas mais comumente lembradas na literatura brasileira

contemporânea. Dentre estes trabalhos que, embora lembrados, não são tão

frequentemente mencionados estão os trabalhos de Cláudio Egler (1990, 1992) e de

Rogério Haesbaert (1993). Nos primeiros, Egler elabora dois investimentos distintos: um

empírico (Egler, 1990), enfatizando a importância das escalas geográficas para a ação

sobre o espaço ao abordar o “território das novas tecnologias” a partir de uma diacronia

em três escalas (esforço no qual demonstra seu contato com reflexões de Immanuel

Page 6: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

6

Wallerstein, importante influência nos debates sobre as escalas geográficas anglófonas a

partir da década de 1980 ―sobretudo por meio das produções de Peter Taylor [1981,

1982]); e outro teórico-conceitual (Egler, 1992), no qual realiza reflexões inspiradas em

Yves Lacoste para sugerir que a geografia poderia contribuir para analisar situações de

conjunturas econômicas críticas ao realizar análises que estabelecessem relações entre

as distintas escalas geográficas. Ele reforça que a questão passa não somente por

diferenciar os níveis de análise espacial (expressão utilizada como sinônimo de escalas

geográficas, sob inspiração lacosteana), mas também por articulá-los ―atentando para

os riscos de abordagens herméticas e mecânicas sobre eles. Tais níveis de análise

espacial deveriam ser entendidos, segundo ele, como “(...) instrumentos interpretativos

do processo de desenvolvimento desigual do capital em sua dimensão territorial” (Egler,

1992 ,p. 231), deixando entrever a influência do trabalho de Neil Smith (1988 [1984]).

Embora também se valha das três escalas sugeridas por Peter Taylor —urbana, Estado-

nação e global―, Egler não deixa de lembrar dos três níveis de análise interdependentes

propostos por Milton Santos (1986). Por fim, concebe as escalas como “(...) níveis de

abstração do raciocínio geográfico (…)” (Egler, 1992, p. 243) que, ao serem colocadas

em diálogo com as teorias sobre a dinâmica econômica capitalista, reforçariam a

importância da Geografia Econômica na busca por alternativas de reestruturação

econômica nacional.

Outro exemplo de trabalho original da década de 1990 são as colocações feitas por

Milton Santos (2002 [1996]) em seu livro “A natureza do espaço” a respeito das escalas

geográficas. Uma das maneiras como Santos trabalha tal questão é por meio de suas

discussões sobre as horizontalidades (continuidades) e verticalidades (descontinuidades)

dos acontecimentos. Para ele, o surgimento de horizontalidades e verticalidades é parte

integrante do processo espacial e liga-se às dinâmicas do acontecer solidário, através do

qual subespaços como a região e o lugar são criados. Esse processo, por sua vez, é

mutável com o passar do tempo, conferindo à escala um caráter eminentemente

temporal: “Em cada momento, há sempre um mosaico de subespaços, cobrindo

Page 7: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

7

inteiramente a superfície da terra e cujo desenho é fornecido pelo curso da história: a

escala deixa de ser uma noção geométrica para ser condicionada pelo tempo.” (Santos,

2002 [1996], p. 168)

A originalidade também marca outra das contribuições elaboradas na década de

1990 e pouco lembradas pela literatura brasileira sobre o tema: o trabalho de Rogério

Haesbaert (1993) publicado no Boletim Fluminense de Geografia e parte da compilação

organizada pelo autor anos depois (Haesbaert, 2002), no qual o autor introduz a ideia de

escalas espaço-temporais. Para isso, parte do diálogo com com Fernand Braudel, Yves

Lacoste e Jacques Le Goff para reconhecer duas formas de se interpretar as escalas:

uma estável e outra mutável. A primeira conceberia o espaço e o tempo como absolutos

e homogêneos e a segunda ressaltaria o caráter relativo, mutável, instável e

qualitativamente heterogêneo dessas duas dimensões da existência. Enquanto a

primeira perspectiva corresponderia espacialmente ao conceito de escala cartográfica (e

em termos temporais àquele de escala cronológica), a segunda remeteria aos conceitos

de escala geográfica e escala histórica. Ressaltando a indissociabilidade entre as

dimensões espaciais e temporais, o autor segue seu texto refletindo sobre as relações

não-lineares entre o tempo breve e a “escala local”, cujos limites tenderiam a ser mais

facilmente delimitados. Isso não conferiria maior ou menor importância a priori às

análises desses recortes, já que segundo ele as escalas espaço-temporais mais gerais

“(...) abriga[m] sempre, em diferentes níveis de interação, as escalas locais de espaço e

tempo (‘lugares’ e ‘acontecimentos’), sem as quais aquelas não existiriam.” (Haesbaert,

1993, p. 110-1) Ao final, Haesbaert reafirma o entrecruzamento das diferentes escalas

espaciais e temporais como um caminho fértil às pesquisas, destacando que

[n]ão há nenhum espaço regional ou nacional estanque, ou que se disponha numa hierarquia perfeitamente sobreposta. O que deve nos perturbar e incitar ao trabalho é perceber que muitos fenômenos participam de redes locais ou regionais, outros de redes nacionais/mundiais, e muitas são as descontinuidades e os entrelaçamentos. Delineá-los, destrinchar este confuso ‘novelo’ é o que a questão das escalas e da própria região nos propõe. (Haesbaert, 1993, p. 114)

Page 8: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

8

Não há dúvidas, porém, de que as reflexões que ganharam maior destaque no

âmbito das reflexões brasileiras sobre o conceito de escala geográfica na década de

1990 foram aquelas elaboradas por Iná Elias de Castro (1992, 1995), em especial o

capítulo intitulado “O problema da escala” do livro “Geografia: conceitos e temas”.

Beneficiando-se da difusão que tal livro teve em nosso ambiente acadêmico, tal capítulo

é até hoje bastante mencionado tanto por suas formulações nítidas quanto à diferença

entre a escala cartográfica e a escala geográfica, quanto por apresentar a acepção das

escalas geográficas entendidas como diferentes níveis de apreensão do real ―ou seja:

enquanto um elemento marcadamente epistemológico que cumpre, em decorrência

disso, papel metodológico central nas pesquisas. A autora enfatiza que os fenômenos

observados se modificam ao serem alteradas as escalas geográficas a partir das quais

eles são analisados.7 Por isso Castro defende a importância da busca por identificar a

escala ideal para o estudo de cada processo sócio-espacial, uma vez que tal escolha

define quais aspectos específicos seriam visibilizados e invisibilizados pelas pesquisas.8

A partir da primeira década dos anos 2000, porém, a temática das escalas

geográficas começou a ganhar uma nova cara no âmbito da geografia brasileira.9 Mais

contribuições passam a ser observadas, envolvendo reflexões teórico-conceituais e

aplicações a contextos empíricos específicos. Além de alguns trabalhos pontuais,10 uma

autora e dois autores merecem destaque: Maria Laura Silveira, Marcelo Lopes de Souza

e Roberto Lobato Corrêa.

Maria Laura Silveira (2004) remete suas reflexões inicialmente à discussão

anglófona e francófona sobre as escalas geográficas para justificar a problematização

7 Tal abordagem tem pontos de convergência com as colocações de Yves Lacoste (1988), embora

a autora direcione críticas a este autor. 8 A preocupação de Castro parece especialmente legítima se considerada no mesmo sentido

operacional das escalas apontado por Lam e Quattrochi (1992), Lam (2004) e McMaster e Sheppard (2004).

9 Também são observadas contribuições em áreas afins que iniciam um diálogo profícuo com o tema. Veja-se, por exemplo, os trabalhos de Carlos Vainer (2006) e de Carlos Brandão (2007, 2009, 2018), particularmente atentos às perspectivas interessadas na economia política de escalas.

10 Ver, por exemplo, Araujo (2009).

Page 9: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

9

desse conceito. A autora apresenta a ideia de escalas do império como úteis para se

pensar as escalas da ação. Por fim, explicitando sua compreensão das escalas

geográficas enquanto elemento fundamentalmente temporal, de maneira muito similar

àquela verbalizada por Milton Santos:

Se uma noção de escala geográfica pode ser construída, ela será, sobretudo, uma noção de tempo, os tempos dos lugares. Periodizações mundiais, nacionais e regionais serão, assim, fundamentais para descortinar as funcionalizações do tempo. (Silveira, 2004, p. 94)

Ao apresentar o pano de fundo ético-político, epistemológico e conceitual de seu

livro “Mudar a cidade”, Marcelo Lopes de Souza (2002), por sua vez, explicita sua

preocupação com a identificação das escalas de análise e de planejamento de

intervenções. Antes de apresentar sua proposta de tipificação escalar, ele lembra das

proposições pioneiras de Lacoste e de alguns dos trabalhos elaborados sobre o tema na

literatura anglo-saxã. Souza destaca a importância de uma abordagem relacional das

classificações das escalas geográficas e, em seguida, apresenta suax proposta inicial de

tipificação escalar. Tal proposta de tipificação contava inicialmente com sete escalas ou

níveis que, após atualizações,11 passou a incluir um total de seis escalas ou níveis —

alguns deles subdivididos.12 Quatro anos depois o autor traz referências mais

aprofundadas sobre o debate anglófono da década de 1990 (Souza, 2006). Suas

considerações, então, davam maior atenção à importância da atuação em escalas

distintas para a eficácia das práticas políticas de ativismos sociais, especialmente

preocupado com a chamada política de escalas. Ao mesmo tempo, discutindo diferentes

implicações políticas do “particularismo militante” em contraste com o “corporativismo

territorial”, o autor afirmava que “[a] articulação de escalas permite uma junção das

'grandes questões' com a revalorização do local.” (Souza, 2006, p. 312) O tema voltaria a

11 Ver Souza (2008). 12 A sugestão mais atualizada se encontra em Souza (2013), compreendendo: (1) escala ou nível do

corpo; (2) escala ou nível dos “nanoterritórios”; (3) a escala ou nível local —subdividida em (3a) microlocal, (3b) mesolocal e (3c) macrolocal; (4) a escala ou nível regional; (5) a escala ou nível nacional; e (6) a escala ou nível a internacional —subdividida em (6a) grupos de países e (6b) global.

Page 10: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

10

ser foco de suas reflexões no início da década seguinte, a respeito do que falaremos

mais adiante.13

No mesmo período no qual Souza desenvolve tais ideias, Roberto Lobato Corrêa

(2003, 2006) também traz à literatura brasileira as referências dos debates anglófonos

das décadas anteriores sobre a construção social das escalas geográficas em ao menos

dois diferentes trabalhos. Nesses trabalhos Corrêa destaca a polissemia das escalas,

compreendendo-a como possuindo ao menos três acepções em termos espaciais:

entendida enquanto escala dimensional, cartográfica e conceitual. Com especial foco

sobre o espaço urbano, Corrêa afirma que os processos de diferenciação sócio-espacial

e as práticas espaciais que acontecem nesses espaços podem ser analisados a partir de

duas escalas geográficas conceituais distintas: a escala da rede urbana e a escala intra -

urbana.

Se a primeira década dos anos 2000 contou com menos de uma dezena de

trabalhos na Geografia dedicados ao tema, a segunda década trouxe uma maior difusão

do debate sobre as escalas geográficas. Reflexões que compuseram livros, 14 capítulos,15

artigos16 e teses17 passaram a ser incorporadas à trajetória brasileira do assunto,

introjetando a preocupação com a dimensão escalar da espacialidade desde diferentes

perspectivas. Apesar da diversidade de embasamentos e interesses, porém, a politização

da dinâmica escalar se apresenta como elemento transversal à imensa maioria dos

trabalhos. Na próxima seção algumas características gerais do debate da última década

serão esboçadas.

3. Síntese preliminar das principais características dos trabalhos recentes

13 Ver Souza (2013). 14 Ver Santos (2011) e Souza (2013), por exemplo. 15 Ver Corrêa (2011), Dias (2012), Neto (2017) e Santos (2018), por exemplo. 16 Ver Castro (2014), Grandi (2014, 2016), Lopes (2014), Rambo e Filippi (2014), Melazzo e Castro

(2015), Soerterik e Santos (2015), Souza (2015), Horta (2016), Neto (2017) e Sposito e Sposito (2017), por exemplo.

17 Ver Martins (2010), Neto (2013) e Grandi (2015), por exemplo.

Page 11: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

11

Torna-se possível e pertinente apontar alguns traços gerais do debate brasileiro

sobre a questão escalar da última década no âmbito acadêmico da geografia,

identificados de maneira articulada aos aspectos que se destacam nas décadas

anteriores.

Considerando-se as produções indicadas na bibliografia como pioneiras,

dispersas entre as décadas de 1970 e 1980, percebe-se que as reflexões sobre as

escalas geográficas eram embebidas de preocupações a respeito da possibilidade de

intervenção estatal no espaço, sob influência dos conceitos de região homogênea e

polarizada. Destacam-se, portanto, as ênfase no planejamento e gestão do território

articulada com o papel dos agentes na criação e definição das escalas geográficas. Isso

permitia às reflexões reconhecerem tais recortes como desdobramentos da ação dos

atores sociais, sobretudo ao ocuparem posições sociais hegemônicas. Ao mesmo tempo

que, durante a década de 1990, a escala geográfica passava a ser destacada como

aspecto a ser considerado nas relações local-global (tema com relevância crescente à

época) e que eram inauguradas as abordagens explicitamente epistemológicas a seu

respeito, as reflexões metodológicas pragmáticas perdiam força, contribuindo para que

tal conceito fosse visto enquanto um “problema” cuja complexidade impactava sua

operacionalidade.

Diante disso, embora seja inegável a importância, profundidade e fecundidade

dos aportes trazidos pelas reflexões de Egler (1991, 1992), Castro (1992, 1995)

―principal referência do período―, Haesbaert (1993) e Santos (1996), infelizmente os

principais legados que esses e outros escritos da década de 1990 aparentemente

lograram enraizar na pesquisa sócio-espacial brasileira em geral sobre as escalas

geográficas foram dois: o reforço da diferenciação conceitual enfática entre a escala em

seu sentido cartográfico e em sua acepção geográfica; e a preocupação de parte

significativa das pesquisas em explicitar a “escala de pertinência” de cada investigação

realizada.

Page 12: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

12

A explicitação da escala geográfica das pesquisas nas investigações da geografia

brasileira recente, no entanto, se consolidou como uma preocupação metodológica,

quando muito, meramente instrumental e pro forma. Tal abordagem tende a agir como

uma barreira ao engajamento em perspectivas mais interessadas no caráter socialmente

construído das escalas geográficas, nas discussões epistemológicas atreladas a esse

tema e na construção de alternativas metodológicas que superem dito esvaziamento.

Esse risco parece estar sendo contornado na última década, processo para o qual a

politização em curso do conceito no Brasil se mostra crucial. Afinal, foi somente a partir

da primeira década dos anos 2000 que surgem as primeiras referências à expressões

como “construção social da escala”18 e “política de escalas”. A preocupação crescente

com a dimensão política da escalaridade,19 portanto, ocorre concomitantemente à

ampliação das publicações interessadas pela questão escalar no Brasil, podendo agir

como fator de estímulo à consolidação dos debates nacionais sobre o tema.

Outra característica que salta aos olhos é a predominância de referências

estrangeiras (sobretudo anglófonas) nas publicações recentes no país. Na década de

1990 os principais trabalhos publicados sobre a questão das escalas geográficas ― cujo

destaque se devia inclusive ao caráter inovador de algumas das reflexões ― já pouco

dialogavam entre si ou com pesquisas nacionais anteriores. O subaproveitamento das

possibilidades de diálogo sistemático entre referências nacionais dificultam avanços do

ponto de vista teórico-conceitual, dos desdobramento dessas discussões em

investimentos empíricos sistemáticos (que contribuiriam também no sentido de explorar

instrumentos metodológicos especificamente preocupados em incorporar os debates

sobre as escalas geográficas) e da elaboração de um corpus teórico-metodológico

derivado e adaptado às trajetórias e questões que interpelam a geografia brasileira.

Além disso, o investimento sistemático e prolongado neste tema tampouco

caracteriza as trajetórias das pessoas que em algum momento contribuíram com o

18 Ver Marston (2000). 19 Ver Souza (2006, 2010, 2013), Santos (2011), Neto (2013, 2017), Grandi (2015), Soerterik e

Santos (2015), dentre outros.

Page 13: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

13

assunto. Obviamente isso não impacta a qualidade e a importância das contribuições,

apenas ressalta que não há autoras ou autores cuja trajetória seja estruturada pela

preocupação com a dimensão escalar da espacialidade, embora sejam identificáveis

algumas das obras de maior influência sobre o assunto.

O balanço preliminar desses trabalhos permite observar na literatura da geografia

brasileira elaborações que abordam diferentes aspectos do debate sobre a escalaridade.

Tal diversidade pode ser introdutoriamente sumariada por meio da identificação de três

faces frequentemente presentes de maneira concomitante nas publicações: uma face

classificadora; uma face teórico-conceitual; e uma face político-pragmática.

A face classificadora se caracteriza pela preocupação em identificar e classificar

as escalas geográficas. Nesse sentido, há aquelas contribuições que, por um lado,

buscam classificar os recortes espaciais e caracterizar cada uma das escalas ou níveis

que compõem suas totalidades. Um exemplo desse tipo de interesse pode ser visto na

proposição elaborada por Souza (2002, 2013) quando enuncia e discute as

características das seis escalas geográficas (ou níveis) por ele identificadas como

relevantes aos debates sobre o planejamento e a gestão urbanas. Esse ímpeto dialoga

diretamente com a busca por definir a escala geográfica dos fenômenos estudados a

partir de classificações específicas, algo bastante difundido na geografia brasileira a partir

das proposições de Castro (1992, 1995). Tais tipos de reflexões também trazem

frequentemente consigo concepções de arranjos ou configurações escalares hierárquicas

verticalizadas.20 Por outro lado, essa face se apresenta também em contribuições que

buscam classificar os processos espaciais, perspectiva inicialmente mais suscetível ao

reconhecimento do potencial das práticas sócio-espaciais na construção das escalas

geográficas. Dois exemplos dessas contribuições são os trabalhos de Davidovich (1978)

― com as escalas da urbanização no Brasil (metropolização, tangenciamento à

20 Em tais tipos de arranjos ou configurações escalares, “(…) as escalas são vistas geralmente em

termos topográficos e representadas por metáforas como a escada, a pirâmide, os patamares ou os fractais. Nos casos em que as escalas são vistas enquanto nós em redes espaciais, no entanto, esses arranjos tendem a ser representados de maneira diferente —como as raízes de árvores, que apresentam uma centralidade clara.” (Grandi, 2015, p. 124)

Page 14: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

14

metropolização, funções regionais e fronteira de recursos) ― e de Corrêa (2003) ― com

as escalas do urbano (intraurbana e da rede urbana).

Pode-se identificar também uma face teórico-conceitual que constitui parte das

reflexões no âmbito das pesquisas geográficas brasileiras. Essa face se expressa na

dedicação em problematizar as questões relacionadas à natureza, forma de organização

e trajetória do debate sobre as escalas geográficas. É o que ocorre em trabalhos como

os de Castro (1992, 1995, 2014), Haesbaert (1993), Santos (1996), Silveira (2004),

Corrêa (2011), Santos (2011), Dias (2012), Souza (2013), Grandi (2015, 2016, 2018),

Neto (2017b) e Santos (2018), dentre outros.

Alguns trabalhos também se preocupam em experimentar arranjos metodológicos

que se propõem a “traduzir” o debate teórico-conceitual recente sobre as escalas

geográficas em procedimentos aplicados a estudos empíricos. Tal enfoque ressalta a

face político-pragmática das pesquisas recentes sobre a questão escealar. Dentre as

pesquisas que trazem reflexões nesse sentido é possível mencionar os estudos de

Martins (2011), Grandi (2015, no prelo), Souza (2015), Sposito e Sposito (2017), Neto

(2013, 2017a), Rambo e Filippi (2014), dentre outros. Por outro lado, essa face também

destaca a relevância das escalas geográficas nos processos marcadamente ligados a

dinâmicas e tensões políticas. Isso se dá ora por meio da ideia de política de escalas,

perspectiva atualmente mais difundida em nosso ambiente acadêmico e que podemos

exemplificar com considerações presentes em Souza (2006, 2010, 2013), trabalhos como

o de Santos (2011), Soerterik e Santos (2015), Neto (2017); e ora utilizando-se da ideia

de política escalar (perspectiva que ressalta a importância da dimensão escalar para as

ações sociais, inspirada sobretudo nas ponderações de MacKinnon [2011]),

exemplificado por trabalhos como de Grandi (2015, no prelo).

Esse esboço preliminar a respeito do debate sobre a questão escalar na

geografia brasileira contemporânea está, obviamente, distante de conter em si a

totalidade das questões que podem ser observadas no decorrer do aprofundamento da

leitura das obras que contribuem com o assunto. Ainda assim, permite sistematizar de

Page 15: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

15

forma introdutória algumas das reflexões do campo e, ao mesmo tempo, identificar

alguns desafios para as produções futuras interessadas pelo “problema” da escala

geográfica ― tema da seção final deste artigo.

4. Considerações finais e breves apontamentos sobre desafios do debate sobre

escalas geográficas no Brasil

Apesar da necessidade de se aprofundar os estudos sobre a literatura nacional, um

rápido resgate das produções brasileiras aponta contribuições pioneiras e originais sobre o

tema das escalas geográficas já nas décadas de 1970 e 1980.21 Isso, porém, não definiu as

escalas como um debate conceitual central nas pesquisas sócio-espaciais brasileiras, que já

na década de 1990 tomaram outros rumos e distanciaram-se da temática. Para ser justo,

porém, não é possível dizer que o tema não foi trabalhado durante aquela década. Algumas

produções trouxeram inclusive contribuições inovadoras ao debate e mantiveram o conceito ao

menos no campo de visão das reflexões sobre a dimensão espacial da sociedade.22

Acontece que de fato não foram levadas adiante reflexões teórico-conceituais mais

sistemáticas sobre as escalas geográficas no Brasil. Os motivos disso não ter ocorrido ―

sobretudo após a década de 1990, quando já havia disponível um rol interessante de

formulações promissoras nesse sentido na literatura nacional e internacional ― ainda não são

nítidos, embora o levantamento de hipóteses possa estimular o raciocínio sobre essa

dúvida da história da trajetória do pensamento geográfico brasileiro.

A predominância de outros debates conceituais, como aqueles derivados das discussões

sobre o conceito de território, poderia ser um caminho de reflexão sobre essa questão? Uma

das suposições a serem melhor investigadas, por exemplo, tem a ver com o reconhecimento

ou não de um caráter eminentemente político no conceito de escala geográfica, aspecto que

pode ter retirado parte do interesse da comunidade acadêmica geográfica brasileira no debate

sobre esse conceito em um período politicamente efervescente no país ―no qual a

intensificação da implementação de políticas neoliberais em um contexto imediatamente “pós-

21 Ver Grandi (2014). 22 Ver Haesbaert (1993) e Castro (1995).

Page 16: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

16

ditatorial” e “pós-constituinte” fermentava uma série de conflitos sócio-espaciais urbanos e

rurais que fortaleciam a demanda social (oficial e não-oficial) pela produção de reflexões

capazes de compreender, analisar e sustentar ações de intervenção sobre uma realidade

social profundamente atravessada por contrastes, tensões e embates. Vale investigar o papel

que determinadas obras tiveram na conformação e consolidação do vínculo direto entre

determinados conceitos e dimensões específicas das relações sociais. O rol desempenhado,

por exemplo, pelo livro intitulado “Geografia: conceitos e temas” na formação básica da

geografia brasileira não pode ser ignorado. A abordagem predominantemente epistemológica e

timidamente politizada sobre o “problema da escala” no livro (Castro, 1995), ao ser contrastada

com a perspectiva fundamentalmente política apresentada sobre o conceito de território no

mesmo volume (Souza, 1995), poderia ter contribuído para esvaziar momentaneamente o

conceito de escala geográfica das relações de poder às quais esse conceito é hoje tão

fortemente atrelado? Afinal, a recente proliferação de trabalhos na geografia brasileira sobre as

escalas geográficas na primeira década dos anos 2000 teve como traço marcante o esforço de

ressaltar tal caráter político, característica que se mantém na segunda década deste século.

Quais condições empíricas e teóricas tornaram o ambiente acadêmico da geografia brasileira

mais receptivo (e mais sedento!) nos anos 2000 à ampla problematização da questão escalar?

A não-proliferação de estudos sobre as escalas geográficas no Brasil entre a

década de 1990 e o final da primeira década dos anos 2000 teria sido influenciada pelas

pelas referências teóricas predominantes no debate brasileiro? No caso anglosaxão, por

exemplo, a chamada “abertura” do conceito de escala geográfica se deu especialmente a

partir da influência da geografia marxista, em especial através das reflexões de Yves

Lacoste, David Harvey, Peter Taylor e Neil Smith —sendo este último sem dúvida o mais

influente naquele ambiente acadêmico. No contexto brasileiro, as reflexões mais

inovadoras foram elaboradas entre o final da década de 1970 e o início da década de

1990, dialogando especialmente com Lacoste, Harvey, Taylor ou outros autores.23

Curiosamente, no entanto, percebe-se que não houve diálogo intenso com as ideias de

23 Ver Haesbaert (1994).

Page 17: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

17

Neil Smith sobre as escalas geográficas, à exceção de casos encontrados em campos

científicos vizinhos à geografia.24 Além disso, seguindo a tradição da geografia brasileira,

duas das principais contribuições ao debate desse conceito no país dialogavam muito

mais diretamente com a literatura francófona do que anglófona —os trabalhos de

Bahiana (1986) e de Castro (1992, 1995). Ainda assim, mesmo a referência francófona

não inspirou um grande debate sobre o conceito no Brasil.

Somente no início dos anos 2000 é que novos ventos começaram a soprar nesse

sentido em meio às pesquisas brasileiras, especialmente motivadas pelo interesse nas

relações entre as escalas geográficas e as práticas políticas, parcialmente alimentadas

pelas discussões fermentadas no meio anglosaxão mas —importante destacar— também

com contribuições inovadoras. Desde então a preocupação com as escalas geográficas

parece vir ganhando os debates nacionais, ainda que parcial e vagarosamente. As

reflexões teórico-conceituais sobre o assunto, no entanto, ainda são pontuais por aqui,

embora em alguns casos bastante robustas. Diante disso, sistematizar caminhos

possíveis de pesquisa traz o potencial de arejar os olhares e suscitar novos olhares e

reflexões.

Desde uma perspectiva da história do pensamento geográfico, é crucial aprofundar

a compreensão da trajetória do debate sobre as escalas geográficas na geografia brasileira. A

importância desse investimento está não somente na postura autoreflexiva sempre frutífera

para de uma comunidade acadêmica, mas também porque tais tipos de conhecimentos

24 Importante reconhecer que no âmbito de debates não restritos à literatura geográfica, temos

reflexões que também dialogam com o tema das escalas geográficas (em geral denominando-as como “escalas espaciais”, à revelia da nítida espacialidade que constitui as escalas cartográficas). Algumas dessas reflexões destacam a relevância de se compreender o desenvolvimento teórico-metodológico dessas discussões por conta de suas implicações e desdobramentos práticos a nível analítico e de intervenção sobre a realidade. Dois exemplos disso são os trabalhos de Carlos Vainer (2006) e de Carlos Brandão (2007, 2009, 2018), ambos do campo do planejamento e desenvolvimento territorial (urbano e regional) e que estabelecem estreito diálogo com a literatura geográfica anglófona sobre a escalaridade. Nesses casos o interesse especial é pelas perspectivas que desenvolvem as ideias de economia política de escalas e processos de reescalonamento, como aquelas elaboradas por Peter Taylor (1981, 1982, 1987), Neil Smith (1992, 1993), Erik Swyngedouw (1997a, 1997b, 2000, 2003, 2004), Neil Brenner (2000), dentre outros.

Page 18: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

18

potencializam a avaliação crítica e criteriosa da pertinência de aspectos elaborados por

produções estrangeiras sobre o tema para a realidade semiperiférica brasileira. Além disso, é

complexificando o entendimento sobre esse caminho que se poderá também aprimorar

metodologicamente o engajamento empírico que a realidade e o saber acadêmico demandam,

enriquecendo nossos instrumentos analíticos e de ação. Para isso, cabe caracterizar com

maior atenção quais produções brasileiras elaboraram reflexões inovadoras em termos teórico-

conceituais e sugestões originais em termos metodológicos em seus momentos de produção.

São necessários também estudos sobre a rede de citações das publicações brasileiras sobre a

questão das escalas geográficas, visando qualificar a predominância de referências

estrangeiras nas produções nacionais. Como determinadas contribuições estrangeiras foram

assimiladas no país, quais foram os centros de recepção, tradução e emissão de reflexões,

bem como os aspectos histórico-geográficos que interferiram nessa trajetória própria do tema

em nosso contexto, são questões a serem investigadas com maior afinco.

Diante da recente proliferação de trabalhos explicitamente interessados na

questão escalar, vale se questionar sobre se o atual aumento de trabalhos sobre o tema

(ou que adotem preocupações ligadas ao debate das escalas geográficas) empreenderá

um maior diálogo com a literatura nacional. Também faz sentido perguntar-se sobre se as

publicações dos próximos anos superarão os desafios de, por um lado, criar estratégias

metodológicas para empiricizar as pesquisas de maneira mais consistente e, ao mesmo

tempo, evitar a instrumentalização empobrecedora do “problema da escala” que a reduz

ao imperativo formal da explicitação dos recortes espaciais das pesquisas.

Por fim, são também particularmente interessantes três possíveis

questionamentos que derivam de estudos anteriores.25 Primeiramente, caberia indagar-

se sobre como a articulação entre unidades de área em totalidades espaciais

(considerado aqui e em outros trabalhos como o cerne do mecanismo escalar) aparece

ou dialoga com os debates sobre as escalas geográficas na literatura geográfica

brasileira. Outra pergunta relevante no âmbito da produção geográfica brasileira diz

25 Ver Grandi (2015).

Page 19: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

19

respeito a identificar quais leituras sobre as escalas geográficas predominam: se vistas

enquanto unidades espaciais com limites e formas de articulação pré-estabelecidos pela

pesquisadora ou pesquisador (portanto como meras categorias analíticas); ou como

recortes resultantes das ações dos agentes sociais (vendo-as, então, enquanto

categorias da prática social)26. No que se refere à politização explícita das escalas

geográficas, resta saber também se as abordagens brasileiras tendem a destacar o uso

estratégico das escalas (inspiradas nos debates sobre a política de escalas); ou se em

geral apontam para como as práticas dos agentes sociais escalarizam suas ações

(enfatizando assim o caráter escalar da política).

Embora sejam ainda tênues os sinais de incorporação efetiva de perspectivas

que se preocupem em observar e problematizar as dinâmicas sócio-espaciais

responsáveis pela intrincada construção social das escalas e de seus arranjos nas

pesquisas sócio-espaciais brasileiras, é fundamental investir no potencial que a

compreensão da escalaridade enquanto dimensão intrínseca da espacialidade humana

traz para a complexificação de nossa compreensão da ação sobre / com / através do

espaço. Estas páginas, portanto, vêm no sentido de contribuir com algumas reflexões

que possam instigar a pensar sobre alternativas para contornar ao menos algumas das

barreiras enfrentadas pelas produções dedicadas à questão escalar e brevemente

apontadas aqui, visando alimentar investigações futuras sobre esse debate no país.

6. Referências bibliográficas

Araujo, James Amorim (2009): A escala geográfica a partir do local: as mediações da conjuntura frente às determinações da estrutura. Anais do Encontro de Pós-graduandos da FFLCH / USP. São Paulo: USP.

BAHIANA, Luis Cavalcanti da Cunha (1986): Contribuição ao estudo da questão da escala na geografia: Escalas em geografia urbana. Dissertação (Mestrado em Geografia), Programa de Pós-graduação em Geografia / UFRJ, Rio de Janeiro.

26 Essa questão deriva das reflexões elaboradas por Adam Moore (2008) que, inspirado em

Brubaker e Cooper (2000), apresenta o debate sobre as escalas geográficas como podendo ser organizado em perspectivas que assumem tais recortes enquanto categorias da prática ou enquanto categorias analíticas. No Brasil essa abordagem já foi utilizada por algumas pesquisas, como as de Brandão (2009), Neto (2013, 2017b) e Grandi (2015, 2018, no prelo).

Page 20: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

20

BRANDÃO, Carlos (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas: Editora da Unicamp.

BRANDÃO, Carlos (2009): Desenvolvimento, territórios e escalas espaciais: levar na devida conta as contribuições da economia política e da geografia crítica para construir a abordagem interdisciplinar. In: RIBEIRO, M. T. F.; MILANI, C. R. S. (Orgs.). Compreendendo a complexidade socioespacial contemporânea: o território como categoria de diálogo interdisciplinar. Salvador, EDUFBA, p. 151-186.

BRANDÃO, Carlos (2018): Anotações para uma geoeconomia política transescalar do subdesenvolvimento histórico-geográfico desigual na periferia do capitalismo: lições para América Latina? In: BRANDÃO, Carlos; FERNÁNDEZ, Victor Ramiro; RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (org.): Escalas espaciais, reescalonamentos e estatalidades: lições e desafios para América Latina. Rio de janeiro: Letra Capital / Observatório das Metrópoles, p. 326-360.

BRENNER, Neil (2000): The urban question as a scale question: reflections on Henri Lefebvre, urban theory and the politics od scale. Antipode, v. 24, n. 2, pp. 361–378.

BRENNER, Neil (2013): Reestruturação, reescalonamento e a questão urbana. GEOUSP, n. 33, pp. 192-220.

BRENNER, Neil (2018): Perguntas abertas sobre o reescalonamento de Estado. In: BRANDÃO, Carlos; FERNÁNDEZ, Victor Ramiro; RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (org.): Escalas espaciais, reescalonamentos e estatalidades: lições e desafios para América Latina. Rio de janeiro: Letra Capital / Observatório das Metrópoles, p. 107-139.

BRUBAKER, Rogers. COOPER, Fredrick (2000): Beyond “identity”. Theory & Society, v. 29, pp. 1–47.

CASTRO, Iná Elias de: Análise geográfica e o problema epistemológico da escala. Anuário do IGEO / UFRJ, v. 15. 1992.

CASTRO, Iná Elias de (2014): Escala e pesquisa na geografia: problema ou solução? Espaço Aberto, v. 4, n. 1, pp. 87-100.

CASTRO, Iná Elias de. O problema da escala. In: CASTRO, Iná Elias de. et al. (orgs.): Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1995.

CORRÊA, Roberto Lobato (2003): Uma Nota sobre o Urbano e a Escala. Território, no 11-12-13, pp. 133–136.

CORRÊA, Roberto Lobato (2006): Diferenciação Sócio-Espacial, Escala e Práticas Espaciais. Cidades, v. 3, no 6.

CORRÊA, Roberto Lobato (2011): Sobre Agentes Sociais, Escala e Produção do Espaço. In: CARLOS, Ana Fani et al. (org): A Produção do Espaço Urbano: Agentes, Processos, Escalas e Desafios. São Paulo: Contexto.

DAVIDOVICH, Fany (1978): Escalas de urbanização: Uma perspectiva geográfica do sistema urbano brasileiro. Revista Brasileira de Geografia, v. 40, n. 1, pp. 51–82.

DIAS, Leila Christina (1992): Redes, territórios e o problema da escala. In: RIBEIRO, Ana Clara Torres; EGLER, Tamara Tania Cohen; SÁNCHEZ, Fernanda (org.). Política

Page 21: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

21

governamental e ação social no espaço. Rio de Janeiro: Letra Capital / Anpur, 2012, v. 1, p. 79-94.

EGLER, Cláudio (1990): Diacronia em Três Escalas. In: RIBEIRO, Ana Clara Torres; PINHEIRO, Denise (Org.): Metropolização e Rede Urbana: perspectivas para os anos 90. Rio de Janeiro: UFRJ.

EGLER, Cláudio (1992): As Escalas da Economia: Uma Introdução à Dinâmica Territorial da Crise. Revista Brasileira de Geografia, v. 53, n. 3, pp. 229–245

GRANDI, Matheus da Silveira (2014): As contribuições de Davidovich e Bahiana ao debate das escalas geográficas no Brasil. GEOUSP – Espaço e tempo, v. 18, n. 2, pp. 253–268.

GRANDI, Matheus da Silveira (2016). Escalaridade: notas sobre a divisão e a articulação do espaço. Anais do IV Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico & II Encontro Nacional de Geografia Histórica. Belo Horizonte: COLTEC/UFMG; IGC/UFMG; UFU; PUCMINAS; AGB, 2016.

Grandi, Matheus da Silveira (no prelo): Escalas geográficas, escalarização e práticas sócio-espaciais cotidianas no movimento dos sem-teto. In: OLIVEIRA, Anita Loureiro de; SILVA, Cátia Antônia da (org.): Metrópole e crise societária. Rio de Janeiro: Consequência.

HAESBAERT, Rogério (1993): Escalas Espaco-Temporais: Uma Introdução. Boletim Fluminense de Geografia, v. 1, n.1, pp. 31–51.

HAESBAERT, Rogério: Territórios alternativos. São Paulo: Contexto. 2002. HARVEY, David (1973): Social justice and the city. Oxford: Blackwell. HORTA, Célio Augusto da Cunha (2016): O neopositivismo regional na geografia humana

e os (des)interesses pela macroescala. GEOgraphia, v. 19, n. 41, pp. 80-94. LAM, Nina (2004): Fractals and Scale in Environmental Assessment and Monitoring. In:

SHEPPARD, Eric; McMASTER, Robert (2004) (org.): Scale & Geographic Inquiry: Nature, Society, and Method. Oxford: Blackwell, p. 23–40.

LAM, Nina. QUATTROCHI, Dale (1992): On the issues of scale, resolution, and fractal analysis in the mapping sciences. The Professional Geographer, v. 44, n. 1, pp. 89–99.

LOPES, Francisco Clébio Rodrigues (2014): O bairro como escala. GEOUSP, v. 18, n. 2, pp. 288-297

MacKINNON, Danny (2010): Reconstructing scale: Towards a new scalar politics. Progress in Human Geography. v. 35, n. 1. pp. 21–36.

MARTINS, Flávia Elaine da Silva (2010): A (re)produção social da escala metropolitana: um estudo sobre a abertura de capitais nas incorporadoras e sobre o endividamento imobiliário urbano em São Paulo. Tese (Doutorado em Geografia Humana), FFLCH / USP. São Paulo.

MARSTON, Sallie (2000). The social construction of scale. Progress in Human Geography, v. 20, n. 2, pp. 219–242.

MASSON. Dominique (2006[2006]): Escala geográfica e transnacionalização: análise sobre movimentos sociais e de mulheres. Caderno CRH, v. 19, n. 48, pp. 445-459.

Page 22: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

22

McMASTER, Robert; SHEPPARD, Eric (2004): Introduction: Scale and Geographic Inquiry In: SHEPPARD, Eric; McMASTER, Robert (2004) (org.): Scale & Geographic Inquiry: Nature, Society, and Method. Oxford: Blackwell, p. 1–22.

MELAZZO, Everaldo Santos; CASTRO, Alexandre Castro (2015): A escala geográfica: noção, conceito ou teoria? Terra livre, v. 2, n. 29, pp. 133-142.

MOORE, Adam (2008): Rethinking scale as a geographical category: from analysis to practice. Progress in Human Geography, v. 32, n. 2, pp. 203–225.

MOORE, Adam (2018[2008]): Repensar a escala como uma categoria geográfica: da análise para a prática. GEOgraphia, v. 20, n. 42, pp. 3-24.

NETO, Agripino Souza Coelho (2013): A trama das redes socioterritoriais no espaço sisaleiro da Bahia. Tese (doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia / UFF.

NETO, Agripino Souza Coelho (2017a): Políticas de escala e a conformação de estratégias-rede das ações coletivas no espaço sisaleiro da Bahia. GEOgraphia, v. 19, n. 41, pp. 40-53.

NETO, Agripino Souza Coelho (2017b): Escala: um debate teórico político. In: VARGAS AGUIRRE, Mónica et al. (org.): Territorio y Prácticas Socioculturales en debate: Aportes desde América Latina. Nouvelle édition. Santiago : Ariadna Ediciones, p. 12-22.

RACINE, Jean-Bernard; RAFFESTIN, Claude; RUFFY, Victor (1983): Escala e ação, contribuições para uma interpretação do mecanismo de escala na prática da geografia. Revista Brasileira de Geografia, v. 45, n. 1, pp. 123–135.

RAMBO, Anelise Graciele; FILIPPI, Eduardo Ernesto (2014): A análise escalar nos estudos da dinâmicas territoriais: considerações a partir de experiências de desenvolvimento rural no Rio Grande do Sul. GEOUSP, v. 18, n. 2, pp. 269-287.

SANTOS, Milton (1986): O Período técnico-científico e os estudos geográficos. Seminário interamericano sobre ensino dos estudos sociais. Washington: OEA.

SANTOS, Milton (2002 [1996]): A natureza do espaço. 4a ed. São Paulo: Edusp. SANTOS, Renato Emerson Nascimento dos (2011): Movimentos Sociais e Geografia:

Sobre a(s) espacialidade(s) da ação social. Rio de Janeiro: Consequência. SANTOS, César Simoni (2018): Escalas geográficas: instrumento de observação ou

objeto da investigação? In: CARLOS, A. F.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. Geografia urbana crítica: teoria e método. São Paulo: Contexto, p. 89-108.

SILVEIRA, Maria Laura (2004): Escala geográfica: da ação ao império? Revista Terra Livre, v. 2, n. 23, pp. 87–96.

SMITH, Neil (1988 [1984]): Desenvolvimento desigual – Natureza, Capital e a produção de espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

SMITH, Neil (1992): Geographhy, difference and the politics of scale. In: DOHERTY, Joe et al. (orgs.) (1992): Postmodernism and the social sciences. Londres: Macmillan.

SMITH, Neil (1993): Homeless / global: scaling places. In: BIRD, John et al. (org.) (1993): Mapping the futures: Local cultures, global change. Londres e Nova York: Routledge.

Page 23: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

23

Smith, Neil (2000 [1997]): Contornos de uma política espacializada: veículos dos sem-teto e produção de escala geográfica. In: ARANTES, Antonio (org.): O espaço da diferença. Campinas: Papirus. p. 132-175.

SOETERIK, Inti Maya; SANTOS, Renato Emerson Nascimento dos (2015): Escalas da ação política e movimentos sociais: o caso do movimento negro brasileiro e a emergência de políticas educacionais de combate ao racismo. GEOgraphia, ano 17, n. 33, p. 69-97.

SOUZA, Marcelo Lopes de (1995): O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, Iná Elias de et al. (orgs.) (1995): Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

SOUZA, Marcelo Lopes de (2002): Mudar a cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. SOUZA, Marcelo Lopes de (2006): A Prisão e a Ágora. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. SOUZA, Marcelo Lopes de (2008a): Fobópole: O medo generalizado e a militarização da

questão urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. SOUZA, Marcelo Lopes de (2010): Com o Estado, apesar do Estado, contra o Estado: os

movimentos urbanos e suas práticas espaciais, entre a luta institucional e a ação direta. Revista Cidades – Formas Espaciais e Política(s) Urbana(s), v. 7, n. 11, pp. 13–48.

SOUZA, Marcelo Lopes (2013): Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

SOUZA, Audes André Leopoldo de (2015): A expansão metropolitana de Fortaleza: Eixos, níveis e escalas na produção do espaço. GEOgraphia, v. 17, n. 34, pp. 121-140.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; SPOSITO, Eliseu Savério (2017): Articulação entre múltiplas escalas geográficas: lógicas e estratégias espaciais de empresas. GEOUSP, v. 21, n. 2, pp. 462-479.

SWYNGEDOUW, Erik (1997a): Excluding the other: the production of scale and scaled politics. In: LEE, Roger; WILLS, Jane (ed.) (1997): Geographies of economies. Londres: Arnold, p. 167–176.

SWYNGEDOUW, Erik (1997b): Neither global or local: “glocalisation” and the politics of scale. In COA, Kevin (ed.): Spaces of Globalisation: Reasserting the Power of the Local . New York: Guilford, pp. 138–166.

SWYNGEDOUW, Erik (2000): Authoritarian governance, power, and the politics of rescaling. Environment and Planning D: Society and Space, v. 18, n. 1, pp. 63–76.

SWYNGEDOUW, Erik (2003): Urban political ecology, justice and the politics of scale. Antipode, v. 35, n. 5, pp. 898–918.

SWYNGEDOUW, Erik (2004): Scaled geographies: Nature, place, and the politics of scale. In: SHEPPARD, E. McMASTER, R. (orgs.) (2004): Scale and Geographic Inquiry. Oxford: Blackwell, p. 129–153.

Swyngedouw, Erik (2018): Globalização ou glocalização? Redes, territórios e reescalonamento. In.: BRANDÃO, Carlos; FERNÁNDEZ, Victor Ramiro; RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (org.): Escalas espaciais, reescalonamentos e estatalidades:

Page 24: O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS ESCALAS … · e os novos papeis da metrópole. As dinâmicas urbanas também incitam Luis Cavalcanti da Cunha Bahiana (1986), outro autor que contribuiu

24

lições e desafios para América Latina. Rio de janeiro: Letra Capital / Observatório das Metrópoles, p. 71-106.

TAYLOR, Peter (1981): Geographical Scales within the World-Economy Approach. Review (Fernand Braudel Center), v. 5, n. 1, pp. 3–11.

TAYLOR, Peter (1982): A Materialist Framework for Political Geography. Transactions of the Institute of British Geographers, v. 7, n. 1, pp. 15–34.

TAYLOR, Peter (1987): The paradox of scale in Marx's politics. Antipode, v. 19, n. 3. pp. 287–306.

VAINER, Carlos (2006): Lugar, Região, Nação, Mundo: explorações históricas do debate acerca das escalas da ação política. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 8, n.2, pp. 9-29.

VELÁZQUEZ, Blanca Rebeca Ramírez (2018): Do debate sobre as escalas à apologia localista na América Latina. In.: BRANDÃO, Carlos; FERNÁNDEZ, Victor Ramiro; RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (org.): Escalas espaciais, reescalonamentos e estatalidades: lições e desafios para América Latina. Rio de janeiro: Letra Capital / Observatório das Metrópoles, p. 13