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Destas três constelações de lég-ein nos vários níveis da experiência criadora vive e se realiza a poética. Dela poderemos colher, seguindo a experiência originária dos gregos, quatro determinações essenciais para o desempenho criador do poético em todos os exercícios de invenção e descoberta da verdade do real: I') lég-ein vive em toda força de reunião como a conjuntura de integração. É a conjugação ontológica de ser e pensar em tudo que, de alguma maneira, é e se realiza; 2') pertencem a tég-ein coesão e consistência de estruturação; 3') lég-ein diz sempre a realidade que impera na totalidade do real e no universo das criações; 4') a Linguagem é a operação primordial nas línguas e nos discursos deste légein inaugural que instala ordem e coesão no mundo. 38 R e v i s t a TB, Rio de Janeiro, 171: 33/38, out.-dez., 2007 O DESAPRENDIZADO DO SÍMBOLO (A POÉTICA DO VER IMEDIATO) Gilvan Fogel Sob ete título, far-se-ão algumas considerações sobre um aspecto, a nosso ver decisivo, da poesia de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Trata-se da fala, ou melhor, da experiência de ver i-mediatamente ou do poder ver superfície. Trata-se, pois, de caracterizar uma compreensão de realidade mareada pela expe- riência de aparecer, isto é, de ser como aparecer. Decisiva será a compreensão/determinação de aparecer ou mostrar-se como super- fície —a linha limiar da consangüinidade do raso e do profundo. Na evidência dessa linha ou na força condutora dessa experiência, revela- se que "as coisas não têm significação: têm existência" 223l'. "Exis- tência", aqui, diz a presença, que é a imposição da hora ser-aparecer pura superfície ou presença entornada, sem ser nenhuma "expressão", "imagem" ou "símbolo". Ver isso, ser nisso, dizer isso e, assim, cultivar a poética (o dizer arcaico ou imediato) como insistente desaprendizado do símbolo —este é, para nós, o espírito, ou seja, a vida, a força do dizer poético de Alberto Caeiro. Com estas poucas linhas, sintetizamos uma "tese". Agora, tentaremos brevemente traçar uma linha de demonstração desta "tese". "Demonstrar" quer dizer: a partir do fenômeno em questão, a saber, a partir da poesia de Caeiro, mostrar o que cabe mostrar, isto é, a sua própria poética do ver superfície ou do tão-só "apreciar presença" [232]. Ver superfície ou, como diz ainda Caeiro, "pensar como sentir". Para tanto, vamos ler e tentar comentar alguns versos de Caeiro e, assim, embarcar, entrar nessa viagem, que é o ver, o sentir, o pensar. Revista TB, Rio de Janeiro, 171: 39/51, out.-dez., 2007 3 9

O desaprendizado do símbolo

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Destas três constelações de lég-ein nos vários níveis da experiênciacriadora vive e se realiza a poética. Dela poderemos colher, seguindo aexperiência originária dos gregos, quatro determinações essenciais parao desempenho criador do poético em todos os exercícios de invenção edescoberta da verdade do real:

I ') lég-ein vive em toda força de reunião como a conjuntura deintegração. É a conjugação ontológica de ser e pensar em tudo que, dealguma maneira, é e se realiza;

2') pertencem a tég-ein coesão e consistência de estruturação;3') lég-ein diz sempre a realidade que impera na totalidade do real e

no universo das criações;4') a Linguagem é a operação primordial nas línguas e nos discursos

deste légein inaugural que instala ordem e coesão no mundo.

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O DESAPRENDIZADO DO SÍMBOLO(A POÉTICA DO VER IMEDIATO)

Gilvan Fogel

Sob ete título, far-se-ão algumas considerações sobre um aspecto,a nosso ver decisivo, da poesia de Alberto Caeiro, um dos heterônimosde Fernando Pessoa. Trata-se da fala, ou melhor, da experiência dever i-mediatamente ou do poder ver superfície. Trata-se, pois, decaracterizar uma compreensão de realidade mareada pela expe-riência de aparecer, isto é, de ser como aparecer. Decisiva será acompreensão/determinação de aparecer ou mostrar-se como super-fície — a linha limiar da consangüinidade do raso e do profundo. Naevidência dessa linha ou na força condutora dessa experiência, revela-se que "as coisas não têm significação: têm existência" 223l'. "Exis-tência", aqui, diz a presença, que é a imposição da hora ser-aparecer— pura superfície ou presença entornada, sem ser nenhuma"expressão", "imagem" ou "símbolo". Ver isso, ser nisso, dizer issoe, assim, cultivar a poética (o dizer arcaico ou imediato) como insistentedesaprendizado do símbolo — este é, para nós, o espírito, ou seja, avida, a força do dizer poético de Alberto Caeiro.

Com estas poucas linhas, sintetizamos uma "tese". Agora,tentaremos brevemente traçar uma linha de demonstração desta"tese". "Demonstrar" quer dizer: a partir do fenômeno em questão,a saber, a partir da poesia de Caeiro, mostrar o que cabe mostrar,isto é, a sua própria poética do ver superfície ou do tão-só "apreciarpresença" [232]. Ver superfície ou, como diz ainda Caeiro, "pensarcomo sentir". Para tanto, vamos ler e tentar comentar alguns versosde Caeiro e, assim, embarcar, entrar nessa viagem, que é o ver, osentir, o pensar.

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1. E esta viagem precisa ser a insistente caminhada do aprendér adesaprender!

O que nós vemos das coisas são as coisas.

O essencial é saber verSaber ver sem estar a pensar

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),'Isso exige um estudo profitndo,Uma aprendizagem de desaprender 1217.1

Aprender a desaprender! É, subdiz o poeta, despir a a ln ‘. A almaque, "infelizmente", trazemos vestida. Na verdade, vestida demais; porisso o infelizmente. Este demais se refere ao uso abusado dos "sentidos",quer dizer, dos valores, das interpretações, das significações, enfim, dahistória, da cultura, criando assim uni calo. O calo é o hábito — o hábitocultural — e, porque hábito, automático, mecânico, imediato esquemaestímulo-resposta, embotador e gerador de apatia, indiferença, lassidão.Vê-se então como habitualmente se vê ou como todo mundo vê. Assimse sente, assim se pensa. Impera a atitude que uni- forrniza, uni-dimensionaliza, homo-geneiza e que é a vigência do raso, do plano, daplanície, ou seja, a apatia ou a indiferença do tudo igual, do medíocre.Disso, para ver, precisamos nos despir — perder, esquecer, desaprenderDesaprender para ver como se fora pela primeira vez. Desaprenderpara, das coisas e nas coisas, ver as coisas — somente as coisas!

O fato é que nós nunca sentimos a pura ou mera coisa. Sempresentimos, vemos sentidos, isto é, sentimentos, pois coisa nenhuma écoisa alguma, mas sempre já um sentido, um afeto, que é o ver, o olhar— ou melhor, o que torna visível tudo que se faz visível ou aparece. Oolhar, o ver já é sempre um tal sentir ou um tal sentido. Por isso é ver, ésentir. Não vemos ou pensamos com afeto, isto é, não somamos ouacrescentamos ao pensar ou ao ver um afeto, um sentimento. Vemosou pensamos sempre já a partir de afeto, de sentimento, co mo afeto,portanto, desde ou através dele. Isso, esta estruturação, porém,consolidada ou cristalizada no uso público, no social, no "político", faz-seentão norma, uso, hábito e, daí e por isso, embota, indiferencia toda aforça do e no ver.

Desaprender o social, o coletivo, o público e o hábito, que é este vere interpretar publicamente, socialmente, habitualmente — isso quer, pois,dizer: retirar-se do uso abusado; retrair-se para o só, ensozinhar-se, ou

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seja, singularizar-se, fazer-se um e só. Aprender a desaprender é igual esimultaneamente aprender a ser só, é exercício de encaminhamento dasolidão para a solidão —o l u g a r e a h o r a d o v e r . D i z o p o et a :

Vivo no cimo dum outeiroNuma casa caiada e sozinha,E essa é a minha definição. 12201

Mas, como retirar-se, como ensozinhar-se como desaprender?! Nãoé tornar-se ou fazer-se só no sentido da introspecção, da mórbidainteriorização no recolhimento na miudeza de um eu. Isso seria doença,a grande doença dos olhos, que sempre já estão na(s) coisa(s) — nooutro, na transcendênc ia. Fazer-se só, realizar solidão e assimdesaprender o vulgar e o habitual, é atender à exigência, ao imperativovital de fazer o próprio caminho, ou seja, cumprir-se a exigência deandar e ver, isto é, ser, só poder ser desde e como caminho, viagem,e x p e r i ê n c i a . Só issoémétodo. Este, só este é o cimo do outeiro,que é a "casa" e a "definição" do poeta.

2. Retirar-se das coisas, dos sentidos ou das significações habituais,instituídas coletivamente e que valem porque valem, que são porquesão. Tal retraimento, tal retirada, quer também dizer: não conhecer,não pensar. Melhor: "saber ver sem estar a pensar", a conhecer. Aqui,pensar não é o pensar que dissemos ser o ver, o sentir, mas pensar, aqui,fala do que habitualmente se pensa ser o pensar, a saber, representaçãoconceptual e, aí e assim, conhecer. Pensar como sistematização oureunião (composição, síntese) de conceitos e, então, definição deconhecer como constituição de um corpo doutrinal, de uma doutrina arespeito de um algo qualquer. Este pensar ou este conhecer é o que"está doente dos olhos" e que Caeiro, enfiando tudo no mesmo saco, dizser a metafísica:

Há metafflica bastante em não pensar em nada 12061(Pensar é estar doente dos olhos)12051

O conceito, índice elementar de todo pensamento representativo oudo chamado conhecimento representativo-conceptual, é o velho, ohabitual. O conceito é a coisa sempre já vista, sempre já sabida, umavez previamente constituído como universal abstrato, ao qual todo novo,melhor, todo indivíduo é reduzido ou reconduzido e, assim, esvaziadoenquanto concreto e individual ou singular d o indivíduo não há ciência,

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Condição para toda e qualquer massificação.
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Mediocrity is everywhere!
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o indivíduo é inefável! Em linguagem filosófica, esta redução ourecondução chama-se subsunção. O novo, isto é, o súbito, o inesperadoé subsumido ao conceito, quer dizer, reduzido ao já sabido, re-conduzidoao já visto, já conhecido — a saber, ao conceito.

Por isso:

Não basta abrir a janelaPara ver os campos e o rio.Não é bastante não ser cegoPara ver as árvores e as flores.É preciso também não ter filosofia nenhuma.Com filosofia não há árvores: há idéias apenas. 12311

Em lugar de "idéias", poderia, deveria ter sido dito "conceitos". Nãoter nenhuma filosofia para poder ver quer dizer: não estar, por antecipação,instalado num corpo doutrinal, num sistema de conceitos já constituídose dados, uma vez que com isso, por isso o conceito (i. é, as ciências, osaber) instaura o universal, ou seja, o homogêneo, o "objetivo" ou omundo, no qual todos vêem a mesma coisa e no qual todos se instalamde maneira igual — isto é, objetivamente... — tal como nos instalamosnum hábito, numa coisa feita, pronta, acabada, enfim, nas coi si-fi cações.Sim, morre-se também e talvez sobretudo de hábito, isto é, de e naapatia, indiferença, lassidão.

É verdade: não há vida sem hábito, ou seja, sem cristalizações, semesquecimentos, sem rotina. Este é um primeiro momento. Segundo: não hávida que seja só hábito, quer dizer, só sedimentação e só rotina, que é oeterno retorno do igual, gerador do tédio, da lassidão, da total indiferença.Na vida movida e promovida pela disposição do ver inaugural — isto é, vidaque se faz desde e como criação — o mal, o demônio, o elemento desintegradore diluidor ou amolecedor de tudo é o hábito. Na vida do saber, doconhecimento, este habitual tende a ser o conceito, a partir do qual e com oqual todo conhecimento se faz, se organiza, se estrutura e também seinstrumentaliza. Em qualquer dimensão ou instância do viver, precisamossempre e insistentemente nos medir e nos confrontar com o hábito. Estaconfrontação é já o insistente movimento de sua superação ou da auto-superação da vida mesma. Trata-se de uma superação ou de umultrapassamento que, na verdade, é insistente retomada do movimento aquémda sedimentação, da cristalização. É retomada de vida como movimentopara a forma, isto é, a dinâmica ser-aparecer ou a superficialização.

Também neste movimento é preciso que esteja incorporado o conceito.É preciso sempre medir-se com ele e, assim, superá-lo sempre, exigindo

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que ele, a cada passo, se re-inaugure ou para que ele, também ele, seja"como se fora pela primeira vez". Mas, habitual mente (! ! ) nãoacontecendo isso, há que render-se ao dizer do poeta:

Vale mais a pena ver uma coisa sempre pela primeira vez que conhecê-la.Porque conhecer é corno nunca ter visto pela primeira vez,E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar. [232]

Ver pela primeira vez é ver des-habitualmente, ver i-mediatamente, ouseja, ver, ter presente e evidente sem a mediação, sem a inter-mediação dovelho, do já visto e já sabido, porquejá dado e já previamente constituído, aoqual é reduzido ou reconduzido — subsumido! — o novo, o inédito, que étambém sempre singular. Enfim, ver pela primeira vez é não ter e não veratravés da mediação do conceito, do símbolo. Conceito é símbolo. O saberrepresentativo-conceptual — o conhecimento — é simbólico.

Trata-se do ver que sempre vê pela primeira vez, que pode semprever pela primeira vez porque sempre perde o visto, o já visto, em favordo ver e re-ver. Pois bem, este ver, este saber, não é simbólico.Desaprender é também e principalmente desaprender o símbolo. Nãover algo através de outro algo, não ser imagem. Poesia, arte, não éver (algo) através de (outro algo). Arte, poesia, não é imagem. A poesia,a arte, de modo geral, não significa, não simboliza nada.

Mas, esperemos. Façamos, antes e com Caeiro, o seu caminho deperda, de desaprendizagem do símbolo.

3.Criança desconhecida e suja brincando à minha porta.Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.

Aprecio a tua presença só com os olhos. 123112.1O símbolo, por definição, não é a própria coisa, mas evocação,

substituição ou representação da coisa ausente. Representar, aqui,significa: estar no lugar de ou passar por. Sim, substituir o ausente. Ea palavra da poesia, a palavra poética, i.é, instauradora ou realizadora,que, por isso, é a palavra essencial, esta está subdizendo o poema, nãoé símbolo, não é representação ou evocação da coisa ausente, mas aprópria coisa, isto é, a própria presença. Portanto, palavra poéticanão é recado, mensagem, aviso de nada. O poeta não é moleque derecado! Não é instrumento, mediação ou intermediação de nada. Apalavra poética é a própria coisa em sua plena, plenificada presença.

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4. Ver, todo e qualquer ver (=ser=aparecer=fazer-se visível), é ver porquejá é sempre afeto. Ver é concretização ou realização do afeto que a coisaé. "Coisa" jamais é coisa alguma, mas sempre afeto, quer dizer, força,"anima", "psyché" "aquilo que ela é que a anima" l2451, diz o poeta.

Se não há ou se não se faz afeto, nada se dá, nada há. Realidade a-páticaseria a realidade antes e fora de toda e qualquer condição para que realidadepossa se dar ou ser. Portanto, realidade, "coisa" a-pática seria realidade;"coisa" nenhuma. Realidade (coisa!), toda e qualquer, e afeto é um único emesmo ato — uma única e mesma coisa! O mesmo lugar, a mesma hora.

Ver algo, algo nele mesmo, uma coisa nela mesma, é ver este algoou esta coisa desde ele mesmo ou ela mesma. E, para tanto, é precisotrans-por-se subitamente para a dimensão própria deste algo ou destacoisa. "Dimensão" é outro nome para dizer afeto — ou interesse, ou"sentimento", como prefere e insiste Caeiro. Portanto, "apreciar a (tua)presença só com os olhos" quer dizer: pôr-se, trans-por-se para a própriacoisa e, assim e por isso, vê-la. Vê-la e tê-la só aí. Isto é: apreciar, gozar,desfrutar só de sua presença. Ser todo só a força (apreciação) dapresença (afeto) que ela é, que ela precisa ser. O olhar, o ver é oiluminar-se, o fazer-se visível do próprio afeto.

Tal transposição se faz subitamente, isto é, i-mediatamente ou num salto.Salto é milagre. E milagre é o que se dá sem razão nenhuma para que se dê.É pura gratuidade — desde nada, para nada. Irrupção súbita doação. Todacoisa, cada coisa, é sempre um milagre — um salto. Por isso, "até quandonada acontece, há um n milagre que não estamos vendo"!'

A passagem para a coisa, a transposição que inaugura a coisa nelamesma ou desde ela mesma — o só ver — se faz, paradoxalmente, desdeou a partir de espera, de escuta, que é o tempo do deixar-se tomar elevar pela possibilidade da própria coisa, isto é, do afeto que ela é. Como?

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Toda jogada, largada, abandonada, exposta. Assim é a coisa — ela jaz, é.Por isso, diz o poeta:

Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos,

Aprecio a tua presença só corno os olhos.

A palavra poética é aparição — dir-se-ia: celebração e festa — daprópria coisa em sua presença no ver; só no ver. A palavra poética é acoisa em sua presença ou nela mesma como potência no e do ver — sóno ver, só do ver.

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5. Um mestre zen, que ensinava a um discípulo a arte de atirar com oarco, viu, entreviu, que ele estava "querendo demais", isto é, estavafazendo demais, no sentido de que estava aplicado demais, empenhadodemais, fazendo uso de muitas técnicas, regras, artifícios, talvezteorias. Tudo isso, que era com o intuito de fazer bem e acertar, o faziaforte demais e, justamente por isso, ele estava mau no exercício. Omestre então o advertiu: "Você está querendo demais!" Ou seja, vocêestá forte demais! Isso, aos olhos do mestre, o tornava afoito, apressado,descompassado, desajustado em relação à coisa, a saber, o atirar. Ele, odiscípulo, estava sem escuta, sem o tempo da própria coisa. Ao adverti-lo, é como se o mestre estivesse a subdizer: "Queira menos!", "Façamenos!", "Seja fraco!" ou pelo menos não tão forte, não forte demais...

Algum tempo depois, na seqüência da aprendizagem, o mestre constatouuma virada, ou seja, o discípulo, de repente, ficara frouxo, lasso, apático,indiferente, isto é, o discípulo tornara-se fraco demais, o que igualmentenão permitia que ele estivesse bem no exercício. Atirar bem, deixava omestre entrever, é colocar-se, pôr-se ou transpor-se para a própria coisa,para o próprio atirar, para o instante do disparar-se (il) do arco. E. paratanto, é preciso pôr-se à escuta e, então, em obediência, em acolhimento eassentimento, com certeza com o con-sentimento do tempo certo ("kairós")da própria coisa (a coisa, cada coisa tem seu tempo, seu tempo próprio!)—portanto, consentindo, deixando ser ou obedecendo, que é o modo de serlivre sob a lei! Liberdade nobre, aristocrática!

Mas como ouvir? Como, desde escuta, na escuta, transpor-se para aprópria coisa? Como ganhar este salto? Como entrar em sintonia e emsincronia com a própria coisa?

Para isso, o mestre sugeriu ao discípulo que observasse, num diasereno, calmo, parado, sem sequer uma única aragenzinha, como a nevecai da folha do bambu. E disse ao discípulo: "A flecha precisa partir doteu arco tal como a neve cai da folha do bambul"3

6. Assim se dá o salto, assim se faz a transposição para a coisa, queentão é vista nela mesma: tal salto, tal transposição, dá-se, faz-se talcomo neve cai da folha do bambu! Mas c o mo neve cai da folha dobambu? Vem-nos a redundância, o repetitivo estúpido: neve cai da folhado bambu tal como n e ve cai da folha do bambu!! Na evidência de umtal acontecimento, impõe-se este trufsmo, esta banalidade, pois a nevecai sem querer, isto é, sem intenção, sem propósito, sem fito ou fim.Mas também sem não-querer, sem não-intenção, sem não-fito. Semímpeto, mas também sem apatia, sem indiferença, sem lassidão. Trata-

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Desconstrução da proposição demonstrativa, do lógos apofântico.
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Aragem: bafagem, bafejo, bafuge, bafugem, brisa, fresca, sopro, viração; ver tb. sinonímia de zéfiro e antonímia de desdita
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se de um puro, de um mero acontecimento inútil, gratuito — abandonado,largado, jogado tal como vida que, na serenidade tormentosa de umanatureza-morta (Stil-leben), jaz.

Assim, desde escuta, desde espera, desde o abandono à escuta ou àespera cai-se na própria coisa, a qual, desse modo, se faz visível nelamesma e desde ela mesma. A escuta, a espera, o abandono à escuta e àespera para deixar a coisa ser o que é e assim transpor-se para ela edela ou nela assim participar (=ver!) é algo para o qual querer e/ou não-querer, ativo e/ou passivo, não é medida, não é critério — portanto, não émétodo ou via de acesso. Não é a boa hora e o bom caminho.

Isso, a saber, "neve cai da folha do bambu", não significa nada, querdizer, não remete a nada para além e para fora deste puro, meroacontecimento, que é todo centrado em si e desde si. Assim, em si e porsi, todo só sentido. "Neve cai da folha do bambu" é um acontecimentotodo centrado só nele mesmo e, assim e por isso, absoluto, inocente —um instante redondo, esférico, parmenídeo! Assim se faz a coisa vistanela mesma e desde ela mesma u m acontecimento desta ordem, destatextura. Pura, mera, inteira e absoluta presença — como a escultura deFídias, no olhar de Rodin, que disse ser aquele o maior escultor de todosos tempos, pois fazia a coisa, o corpo, visível em sua pura e só presença—, serenidade'. Todo só presença — o que aí jaz como o jogado desdenada e para nada. Sim, Stilleben, vida-serenada. A um passo, a umfiapo do morto, do cadáver...

A escultura de Rdias c' a i diante de nossos olhos , toma-os, tal comoneve cai da folha do bambu...! O olhar pagão de Fídias não é místico.Ele é frio, gelado, parado. Frio para fora, incandescente para dentro..,Sobretudo não é místico como o cristão o é, todo intimidade, intimismo,interior, sub, atrás e além

Tu, místico, vês significação em todas as coisas.Para ti tudo tem um sentido velado.Há uma coisa oculta em cada coisa que vês.O que vês, vê-lo sempre para veres outra coisa.

Para mim, graças a ter olhos só para ver,Eu vejo ausência de significação em todas as coisas;Vejo-o e amo-me, porque ser unia coisa é não significar nada.Ser unia coisa é não ser susceptível de interpretação. [2331

Em todas as coisas ver significações quer dizer: sempre, por constituiçãoe princípio — o símbolo! — remeter o que vê para fora e para além do visto,

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isto é, enviar sempre para outra coisa que não a vista, para a significada, asubstituta ou aquela coisa da qual esta é o recado...! Por isso, "Há sempreuma coisa oculta em cada coisa que vês. O que vês, vê-lo sempre paraveres outra coisa!" E, ainda, desde a constituição própria ou a estruturaçãode sinal, de símbolo, a tendência é o remetimento tomar-se infinito, ilimitado,e, então, o não deter-se em nada, o não satisfazer-se com coisa alguma.Insaciedade, insatisfação, cobiça... Neste contexto, diria Álvaro de Campos:o pensamento simbólico, a cobiça do sinal e do signo é um ópio, um ópio quebusca consolo em

Um Oriente ao oriente do Oriente [op. cit. 3011

E, nesta busca, nesta insana e insaciável busca, vem sempre um suspirolangoroso e acusador, cheio de uma incontornável melancolia —ou melhor,nostalgia. Tristonho, lamuriento, jururu — à corvo!:

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,Muito a leste não fôsse o oeste já! lop.cit.3031

Esta alma, este modo de ser ou esta atitude vital é doente an tes doópio, isto é, já na vontade, já no élan e na necessidade incontida do signo,do sinal, da significação d o ópio!

Com a significação, isto é, movido pela vontade de significação oupela busca incontida, pela incontida projeção antecipada de intenção, desentido oculto, velado, assim, o que se vê, se vê sempre para ver outracoisa — para fora, para além... Sempre e infinitamente para fora e paraalém... Insaciedade, insatisfação... Aqui enche-se toda a fala serena econtida de Caeiro: "O que não tem limites não existe!" [2491

Por outro lado, ter olhos só para ver é pôr-se todo na, transpor-setodo para a própria coisa e contentar-se, satisfazer-se só com ela. Nãoprecisar de outra coisa para ver o visto, a coisa vista. Não ver, não co-ver significação, não ver ilimitado remetimento para fora e para alémdela. Satisfazer-se, diz: fazer o bastante, o suficiente. A coisa basta.Ela é o suficiente. Sim, ver uma coisa é vê-la sendo em seu abandono,em puro abandono de jogado inútil e gratuito. Vendo assim, evidencia-seque "ser uma coisa é não ser susceptível de interpretação".

Mas como?! Não dissemos que coisa já é sempre afeto, sempre jáinteresse, quer dizer, sempre já desde o medium que a faz visível, que ela é,ou seja, sempre já como e desde interpretação?! Sim, assim énecessariamente. E isto, a saber, esta interpretação (na qual e desde a qualcoisa é ou faz-se visível) basta, é suficiente, justamente porque necessária

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A linguagem como operador do símbolo, da significação.
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ou irrevogável. Justamente por isso, não cabe sobrecarregá-la com mais,com outra e outras significações, remetimentos, interesses para fora e paraalém dela mesma, nela mesma.

Quando o verso diz "ser uma coisa é não ser susceptível de interpretação",o que realmente está sendo dito é: não ser susceptível ou passível deou trainterpretação (afeto, interesse) além desta que ela necessariamente já é— para ser ou poder ser isso que é! Ou seja, trata-se de não acrescentar ouso ma t t o isa O u t ra coisa (=interpretação, afeto, sentimento!) maispara ela ser isso (a saber, a coisa) que é. Isso seria demais. Uma carga,uma sobre-carga que coisa alguma suporta Ela se esvazia, pois perde seulimite. Não ser susceptível de interpretação para ser uma coisa ou a coisaque é, que aparece, quer igualmente dizer que não é preciso, não é necessárioe por isso não se deve perguntar quem interpreta, q u e m vê, pois issoseria o mesmo que acrescentar (somar) à interpretação (à coisa) uma outrainterpretação (i.é, uma outra coisa!), a saber, o intérprete. A própria coisa,isto é, o próprio afeto ou interesse, em sua atividade de fazer-se visível ouaparecer, é interpretação. Ee la ,esta interpretação basta, é suficiente —melhor: eia é tudo! O próprio intérprete, o que vê, não sub- ou pré-existeà interpretação, mas ele é obra do e no interpretar. Na obra, que é o jogo oua dinâmica do aparecer, ele é obra de obra.

É esta compreensão, é esta pré-compreensão que sustenta, queescreve os seguintes versos:

48

Pensar no sentido íntimo das cousasÉ acrescentado, como pensar na saúdeOu levar um copo à água das fintes.

O único sentido íntimo das cousasÉ elas não terem sentido íntimo nenhum,[207]

Nenhum sentido íntimo, nenhum além, atrás, para fora da própria coisa.Ser uma coisa, esta coisa, é não ser susceptível de outra interpretação,além desta que ela necessariamente já é, para poder ser isso que é. Assim,neste sentido, toda coisa, tudo, é, precisa ser singela, franciscana superfície.Sim, os gregos foram superficiais, muito superficiais — por profundeza, "ausTiefel". A fala de Nietzsche a respeito dos gregos, claro, vale também paraCaeiro, que é grego... Esta, a saber, a da superfície, é uma experiênciasingular, extraordinária — do singular, do extraordinário. Mas é esta aexperiência, quer dizer; o olhar do poeta. Só esta experiência, só este olhar.E só isso é medida, critério para ler sua poesia; só este o lugar e a hora paraouvir sua palavra, para ver com ele e a partir dele o que ele vê, o que elefesteja e celebra no seu ver, no seu olhar.

Revista Til, Rio de Janeiro, 171 39/5 1 , out.-dez., 2007

É espantoso, é extraordinário poder não ver sentido íntimo nenhum. Épreciso ser muito profundo, muito intenso, muito grave para ver só aintensidade da superfície, o cheio que é a linha de limiar de umasuperfície...

Aprende a desaprender:

Sê anônimo, súbito e criança. [Op.cit. 692]

7. Escreveu-se acima: a poesia, ou melhor, a arte, de modo geral, nãosignifica, não simboliza nada. Isto quer, pois, dizer que ela não rep r e-senta nada, ou seja, ela não envia a nenhuma outra coisa além daquiloque nela, como obra, aparece e se mostra; ela não remete a nada a lém ea nada estranho a isso mesmo que nela e desde ela — arte, poesia —aparece, se mostra, se faz visível. Arte não representa nada — istoquer ainda dizer: a obra de arte, isso que na obra aparece é só einteiramente isso que aparece e se dá. O que aparece na obra e comoobra não está no lugar de nada, não é embaixador (representante!) decoisa outra alguma. Assim, no âmbito da experiência artística, revela-seque nenhuma coisa substitui (representa!) ou está no lugar de nenhumaoutra coisa. Daí dizer algo, que tem tudo a ver com a banalidade dotruísmo, mas que precisa ser ouvido para além da postura rasa eacachapante do senso comum, responsável por todo truismo: cada coisaé cada coisa! Cada coisa é ela mesma e só ela mesma! Ela, na instânciada arte e como obra, é toda a sua presença. É isso que ouvimos deCaeiro, nos versos:

Si,;;, eis o que os Pneus sentidos aprenderam skinhos: —As cousas não têm significação: têm existência.As cousas são o único sentido oculto das cousas. [223]

Que os sentidos tenham aprendido sozinhos, quer dizer: vendo,considerando tão-só desde as próprias e sós sensações (afetos), quesão as próprias coisas, ou seja, desaprendendo tudo que não seja ospróprios sentidos. Assim, no ver, desde o ver, evidencia-se que: "as coisasnão têm significação: têm existência". E "existência" diz: ép resença .É preciso poder ver cada coisa nela mesma, desde ela mesma, isto é,em toda sua presença ou existência própria. Ela, assim, tem, é existência,presença própria e não significação, representação ou ainda imagem.Poesia, arte, não é imagem, expressão de nada. E presença é isso que,com uma certa rabujice, chamamos a coisa nela mesma e desde elamesma. Mas a coisa, lembremos sempre, é afeto, "páthos" — sentimento,

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Desconstrução do sujeito do conhecimento
Page 7: O desaprendizado do símbolo

na linguagem de Caeiro. Portanto, a coisa nela mesma é a coisa no edesde o seu próprio afeto, sentimento, o qual se conquista por passagem,ultra-passagem, trans-posição ou salto para o "páthos" próprio ou paraesta possível dimensão, modo de ser, verbo da vida, da existência, dapresença humana.

Na vigência da experiência da poesia, da arte, coisa não é significação,representação ou imagem - expressão de nada. Isto é, a poesia, a arteé o próprio real, a própria coisa. Na vigência da experiência da arte, dapoesia - e só isso pode e precisa ser aqui a medida, o critério - faz-seevidente que fora da obra, ou seja, antes, depois, aquém ou além dela ede sua absoluta necessidade, fora de obra, pois, não há nada. Naobra, desde obra há só sentido, só a realização, a concretização desentido e sua evidência, quer dizer, desde experiência (r-- evidência!),seu crescer e aparecer conto isso, como aquilo, nisso, naquilo. Só aí eassim ele é e há. A irrevogabilidade e a suficiência deste acontecimentose faz patente quando, p. ex., para o pintor, na experiência da pintura, acor, o fazer-se de cor, torna-se o elemento, a natureza. Ou, para o poeta,quando a palavra se faz tal elemento; quando ela, no seu dizer, se fazhora, princípio de realização de toda realidade possível. No começo é overbo! No começo é a ação - a ação, que é o verbo! Assim lêprodigiosamente Goethe, no Fausto.

Na vigência desta experiência fundadora, inauguradora, se não sefaz palavra ou se não se faz cor não há real. Desfaz-se, esvazia-se oreal. Fora de uma tal experiência instauradora há n a d a ! Ou sóobjetividades, que é a mesma coisa! Realidade começa, isto é, abre-se, inaugura-se e impõe-se onde e quando começa, irrompe palavra;ela acaba, se desfaz, inexiste quando e onde desfaz-se, inexiste palavra- ou a cor, se a fala for a da experiência da pintura. Palavra, por exemplo,desaparece, se desfaz se for dita, pronunciada fora de coisa, fora depresença. É quando palavra mergulha na apatia, na indiferença - no rasoniilista da significação e da comunicação. Palavra, assim, é o l i m i t e,quer dizer, a hora, o lugar da coisa. "O que não tem limite, não existe!",dizia Caeiro. O limite é o nome, a palavra. Cabe dizer, nomear. Dizer épreciso. Viver não é preciso...!

"As coisas não têm significação: têm existência" - isso quer, pois,dizer: estando-se junto à coisa, na vigência da experiência poética (e sódisso é aqui a fala!), está-se só junto dela. Mais nada. Mais seria demais.É isso que é mostrado, que é dito, quando o poeta, com comoventesingeleza, fala do "rio da minha aldeia- à d i f e r e n ç a , p . e x . , d o T e j o , d o

grande Tejo, do Tejo cheio de história, todo memória - todo remetimentose significações para muito além do Tejo...:

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Notas

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeiaPorque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes naviosE navega nêle ainda,Para aquêles que vêem em tudo o que lá não está,A memória das naus.

O Tejo desce de EspanhaE o Tejo entra no mar em Portugal.Diria gente sabe isso.Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeiaE para onde êle vaiE donde Ne vem.E por isso, porque pertence a menos gente,É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo va i-se p a r a o m u nd o .

Para além do Tejo há a AméricaE a fortuna daqueles que a encontram.Ninguém nunca pensou no que há para alémDo rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.Quem está ao pé dêle está só ao pé dêle. 1215/61

'Cf. PESSOA, Fernando. Obra Poética em um Volume, Rio de Janeiro: JoséAgui lar, 1974. Todas as citações terão esta edição como referência. O númeroentre colchetes, após a citação, estará se referindo à página.

Cf • ROSA, Guimarães. "O Espelho". In: Primeiras Estórias.'Referência livre à estória narrada em LIERRIGEL, E., A Arte Cavalheiresca do

Arqueiro Zen. São Paulo: Edit. Pensamento, 1983.4 Cf. RODIN, Auguste. "Cap. X - Rdias e Miguel Ângelo". In: A Arte -Conversas

com Paul Gsell. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

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