2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1154 Dezembro/2013 Tauá Coragem e disposição para o trabalho não faltam na família do seu Francisco Alves Pedrosa, 65 anos e dona Omenegilda Maria da Conceição, 67 anos, assentados no Angico II no município de Tauá. Seu Francisco Alves considera a esposa um braço forte, afirma: “não sei como seria sem ela que tem contribuído muito nesse trabalho, tem trabalhado muito, principalmente nesses anos de seca”. O casal teve oito filhos, dois moram em Tauá e seis moram em São Paulo. Ele faz questão de dizer que foi criado sem pai, tomou cedo a responsabilidade de casa com 12 anos, os irmãos mais velhos todos foram para São Paulo, ele ficou cuidando da mãe e casou-se em 1966 com 18 anos. Na época morava em São João dos Cândidos no distrito de Marruá. O casal possui um quintal produtivo, onde cultivam hortaliças: macaxeira, beterraba, cenoura, abobrinha, cebola, coentro, pimenta malagueta, pimenta de cheiro, couve, berinjela; frutas: goiaba, siriguela, banana, cajá; forragem para os animais: palma forrageira, capim elefante, sorgo. Todo o plantio no quintal é feito de forma consorciada. Seu Francisco Alves lembra da dificuldade para criar os filhos. Em 1970 se deslocava 70 km para trabalhar no povoado Furtuna, hoje chamada Vila Joaquim Moreira, e trabalhava a semana toda para no final da semana trazer uma feirinha nas costas para alimentar a família. Na época não tinha transporte para a viagem. Toda a viagem era feita a pé. Antes do assentamento, o sonho do casal era ter uma casa e uma área de terra para trabalhar do jeito que gostavam, preservando o meio ambiente, sem o uso dos agrotóxicos, evitando as grandes queimadas, enfim, ter uma vida melhor. O desejo de permanecer na terra, produzindo em harmonia com a natureza Seu Francisco colhendo macaxeira Banana produzida no quintal

O desejo de permanecer na terra, produzindo em harmonia com a natureza

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1154

Dezembro/2013

Tauá

Coragem e disposição para o trabalho não faltam na família do seu Francisco Alves Pedrosa, 65 anos e dona Omenegilda Maria da Conceição, 67 anos, assentados no Angico II no município de Tauá. Seu Francisco Alves considera a esposa um braço forte, afirma: “não sei como seria sem ela que tem contribuído muito nesse trabalho, tem trabalhado muito, principalmente nesses anos de seca”. O casal teve oito filhos, dois moram em Tauá e seis moram em São Paulo. Ele faz questão de dizer que foi criado sem pai, tomou cedo a responsabilidade de casa com 12 anos, os irmãos mais velhos todos foram para São Paulo, ele ficou cuidando da mãe e casou-se em 1966 com 18 anos. Na época morava em São João dos Cândidos no distrito de Marruá.

O casal possui um quintal produtivo, onde cultivam hortaliças: macaxeira, beterraba, cenoura, abobrinha, cebola, coentro, pimenta malagueta, pimenta de cheiro, couve, berinjela; frutas: goiaba, siriguela, banana, cajá; forragem para os animais: palma forrageira, capim elefante, sorgo. Todo o plantio no quintal é feito de forma consorciada.

Seu Francisco Alves lembra da dificuldade para criar os filhos. Em 1970 se deslocava 70 km para trabalhar no povoado Furtuna, hoje chamada Vila Joaquim Moreira, e trabalhava a semana toda para no final da semana trazer uma feirinha nas costas para alimentar a família. Na época não tinha transporte para a viagem. Toda a viagem era feita a pé.

Antes do assentamento, o sonho do casal era ter uma casa e uma área de terra para trabalhar do jeito que gostavam, preservando o meio ambiente, sem o uso dos agrotóxicos, evitando as grandes queimadas, enfim, ter uma vida melhor.

O desejo de permanecer na terra, produzindo em harmonia

com a natureza

Seu Francisco colhendo macaxeira

Banana produzida no quintal

Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Realização

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Antes de participar do movimento sindical teve que ir muitas vezes a São Paulo em virtude das grandes secas. Segundo ele, aqui não tinha condições de manter a família. Os filhos eram pequenos, teve que ir buscar “ganhar o pão de cada dia”. Em São Paulo a vida era muito diferente daqui, avaliava que se fosse ficar permanente em São Paulo, não tinha condições de alimentar os seus filhos. Afirma: “lá a vida era muito difícil, o ganho era pouco e mal dava para pagar a alimentação e a condução”. Fez essa maratona de viagens ainda umas 10 vezes.

Depois fez uma análise e concluiu que seu lugar era aqui, ficou e já faz mais de 20 anos que não foi mais para São Paulo, entrou de vez no trabalho com a terra. Ele destaca: “essa mesma situação foi a que fez os meus filhos irem morar em São Paulo, fico triste em não ter como manter eles aqui no estado do Ceará”. Alguns dos filhos há mais de 30 anos moram lá, sempre que podem vêm passear e alimentam o desejo de levar o casal.

No início da luta para conquistar a terra contaram com alguns apoios como o da Comissão Pastoral da Terra - CPT na discussão sobre reforma agrária, que chamava atenção sobre o uso intenso dos agrotóxicos, as queimadas que vinham provocando a destruição da natureza, do meio ambiente. Contaram também com o apoio das organizações não governamentais, a exemplo do ESPLAR, tiveram também o apoio de um programa chamado Terra dos Homens. Destaca ainda na sua fala: “o apoio da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará - FETRAECE que sempre recebeu a gente de braços abertos em Fortaleza e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG, pois a gente foi muitas vezes a Brasília para discutir e ver como enfrentar os nossos problemas enquanto trabalhadores (as) rurais”. Tiveram e continuam tendo o apoio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, contam também com um pequeno apoio do Instituto Agropolos.

A situação da água é muito difícil. Quando chegaram ao assentamento, havia uma pequena cacimba que abastecia as famílias. O casal avalia que durante os últimos 15 anos, houve apenas 04 anos de inverno, os outros todos foram secos. Lembraram ainda que, no ano em que chegaram ao assentamento, essa cacimba foi que garantiu o abastecimento para a construção das primeiras casas. Quando os açudes finalmente encheram, já estavam lá há 04 anos. Quando tem um bom inverno esses açudes sustentam a água por um ano e meio. Hoje com a dificuldade de água, alguns carregam água por até 6 km para seus animais.

Sobre a comercialização dos produtos produzidos no quintal, no início vendiam para a feira em Tauá, hoje estão vendendo para o PAA. Uma dificuldade que seu Francisco Alves tem encontrado é que quando precisa levar os produtos para a feira sofre com a fiscalização nas estradas, pois não é ainda habilitado.

Está esperando renovar o contrata com o Programa deAquisção de Alimentos - PAA, para isso conta com o trabalho técnica da Organização Não Governamental Inhamuns Assessoria.

Hoje seu Francisco Alves e dona Omenegilda não pretendem sair do assentamento, mesmo com a insistência dos filhos, pois reconhecem que é possível obter uma renda e uma alimentação saudável e isso é mais importante para eles.

Apoio

Tratos culturais e o cuidado com o solo

Placa de identificação da parceria.