O Dilema do Crescimento da Igreja Evanglica Brasileira

Com base nas projees estatsticas que utilizam informaes constantes do

IBGE, em 2015, os evanglicos chegaro a 25% da populao brasileira. Isso

representa a marca de mais de 50 milhes de evanglicos. Dentre este

universo est uma srie de denominaes evanglicas que no abriram

novas unidades, mas que aumentaram em seus templos, num curto espao

de tempo, a quantidade de membros sob a liderana espiritual de um pastor

ou conjunto de pastores.

Neste nterim, os problemas de ordem pastoral, eclesial ou de ambos

comeam a surgir em vrias denominaes que experimentam este crescimento. Uma espcie de retorno aos

conceitos de clero e leigo tendem a ser um fenmeno bastante comum neste contexto, onde a dificuldade do leigo

comunicar as suas necessidades ou pedido de orientao aos integrantes do clero, em especial ao pastor titular,

torna-se um problema de ordem recorrente no seio da igreja.

Um efeito imediato deste crescimento o acmulo de responsabilidades e compromissos dos quais os pastores

devem assumir e gerir com zelo. Este efeito compara-se a uma via de duas mos, onde o pastor se v com a

necessidade de articular aes para manter toda a estrutura eclesistica operante em detrimento do cuidado com

as ovelhas e suas eventuais demandas de ordem espiritual. De maneira silenciosa e gradativa, esta situao acaba

por minar a f de muitos que se desanimam pela falta de acompanhamento ou feedback durante a caminhada

crist.

Em meio a este pernicioso processo de afastamento entre fiis e lderes espirituais, pelo menos, trs barreiras

virtuais so criadas. A primeira barreira a psicolgica, onde o fiel observa o acmulo de atividades importantes

que o pastor assume e deixa transparecer durante suas exposies, e conclui que a sua demanda espiritual no

suficiente para acionar ou incomodar o ento ocupado pastor.

A segunda barreira a social, onde a liderana da igreja assume uma melhor condio financeira entre seus

integrantes dificultando a comunho ou o acesso dos membros de condio mais humilde, que no se vm no

direito de requisitar alguma ajuda ou orientao para os casos dramticos do exerccio da sua f. Ainda neste caso,

a intensa quantidade de pessoas envolvidas nos mais variados departamentos da igreja, quase sempre tomam o

tempo do pastor para discutir o andamento dos trabalhos e eventos programados.

Por fim a terceira barreira a prpria viso pastoral. Esta a mais graves de todas, pois o fiel entende que precisa

compartilhar algum anseio pessoal com o pastor, mas no consegue ter o acesso para uma conversa mnima de

quinze minutos. O pastor, de maneira consciente ou inconsciente, ingnua ou intencional, acaba pastoreando

compromissos ao invs de ovelhas e considera que o tempo gasto para a execuo das aes administrativas,

burocrticas e de visibilidade eclesial mais importante do que o tempo disposto para alimentar ou curar as

ovelhas feridas.

Naturalmente que o membro cristo maduro deve buscar em Deus, atravs da orao e da Sua Palavra, a soluo

para os seus problemas. Enquanto isso no ocorre, um dever da liderana caminhar junto at que esta ovelha

tenha condio de avanar por conta prpria. Felizmente, ainda h igrejas com lideranas firmes neste propsito

Sendo assim, percebe-se que nem todo o crescimento para a glria de Deus. preciso considerar todos os

ngulos na busca por encher o templo com novos crentes, pois, ao invs de serem libertos de uma vida de pecados,

se decepcionam e acabam agravando ainda mais as suas feridas, a ponto de se juntarem a um crescente grupo

social, os intitulados desigrejados.

Por fim, a pergunta que fica esta: Ser que vontade de Deus que as igrejas estejam lotadas de membros,

todavia, sem serem assistidos de modo coerente em suas necessidades e anseios espirituais ?