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O Diogo, apesar de ainda não ser adulto e não saber por ... · te dizer. Sabemos que vais ficar muito triste mas é o melhor para todos. De uma coisa não te podes esquecer: eu

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Esta história poderia começar por Era uma vez mas as histórias que começam assim aconteceram há muito, muito tempo e esta aconteceu recentemente.

O Diogo é um menino que sempre foi muito amado pelos pais: sempre o mimaram muito, sempre cuidaram muito bem dele quando ele ficava doente e sempre fizeram os possíveis para que nada lhe faltasse, dando-lhe todas as condições para ser um menino feliz. E a verdade é que o Diogo nunca se sentiu, nem por um momento, infeliz; no entanto, chegou o dia em que o Diogo se apercebeu que os pais comaçavam a discutir cada vez mais a cada dia que passava; quando chegava a casa da escola já não existia o silêncio pacífico a que se habituara, bem pelo contrário, sempre que chegava a casa só ouvia os pais a gritar um com o outro e, como estavam sempre muito zangados, acabavam por gritar ao mesmo tempo e ele nunca conseguia perceber por que discutiam. Então, ele ia para o seu quarto e colocava o volume da televisão tão alto, tão alto que os pais até paravam de discutir só para irem ao quarto pedir-lhe para diminuir o volume, evitando, assim, as queixas dos vizinhos. O Diogo apercebeu-se que colocar o volume da televisão no máximo era a estratégia ideal para que os pais deixassem de discutir e começou a fazê-lo cada vez com maior frequência, até que um dia os pais foram ao seu quarto, não só para lhe pedirem, uma vez mais, para baixar o volume da televisão mas também para lhe dar uma notícia:

-Filho, - disse-lhe a mãe. – eu e o pai estivemos a conversar e temos uma coisa para te dizer. Sabemos que vais ficar muito triste mas é o melhor para todos. De uma coisa não te podes esquecer: eu e o pai vamos amar-te sempre muito.

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O Diogo, apesar de ainda não ser adulto e não saber por que é que os pais discutiam tanto, sabia que se gritavam tanto um com o outro é porque já não se amavam como antes e então ocorreu-lhe que a notícia que a mãe lhe ia dar era a que ele menos queria ouvir:

- Vocês vão separar-se? – perguntou ele aos pais, já com uma lágrima a formar-se, timidamente, em cada olho.

Vendo que a mãe estava a perder a coragem de contar a decisão que tinham tomado, o pai explicou, calmamente, ao Diogo o que tinha acontecido para se zangarem tanto ultimamente:

- Sabes filho, quando casei com a tua mãe gostava muito dela mas com o passar dos anos, fui-me apercebendo que eu não era completamente feliz, sempre senti que faltava qualquer coisa para ser feliz. E, no meu trabalho, conheci uma pessoa que me faz sentir feliz a toda a hora, é alguém com quem me sinto melhor quando estou com ela do que quando estou com a tua mãe, percebes? É por isso que eu e a mãe não podemos continuar juntos. Tu gostavas de viver com alguém com quem não te sentes feliz?

- Não! – respondeu o Diogo com uma tristeza serena.

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- Pronto, eu gosto da mãe mas não da forma como deveria gostar para ser feliz com ela. O pai descobriu que é feliz ao lado de outra pessoa.

- Isso significa que tens uma namorada. Então agora vou ter duas mães? – perguntou o Diogo confuso.

A mãe do Diogo não esperou para ouvir a resposta do pai. Começou a chorar e saiu do quarto.

O pai do Diogo tentou explicar-lhe da melhor maneira que pôde qual era a relação que mantinha com a pessoa que tinha conhecido no trabalho:

- Nós já fomos a alguns casamentos, não fomos filho?

- Sim. – respondeu o Diogo.

- Os casamentos aos quais fomos eram entre um homem e uma mulher, não eram?- Eram.

- Mas sabes, há pessoas que não se apaixonam por alguém do sexo oposto. Às vezes, há homens que acabam por se apaixonar por homens e mulheres que se apaixonam por mulheres. Há quem pense que isso vai contra a lei da natureza mas…

O pai do Diogo parou de falar uns segundos para engolir em seco; estava muito emocionado por ter esta conversa com o filho; por um lado, tinha receio da reação dele, por outro lado, receava o impacto que uma notícia como aquela poderia ter na vida dele, principalmente na escola.

- Mas… - insistiu o Diogo com o pai par que ele continuasse a falar.

- Filho, tu gostas de mim e da mãe, não gostas?

- Gosto. – respondeu.

- E foste tu que fizeste por gostar de nós? Obrigaste-te a ti próprio a gostar de nós?

- Eu gosto de vocês, simplesmente. Não me posso obrigar a mim mesmo a gostar de alguém.

- É isso filho. Não podemos controlar de quem gostamos. Simplesmente gostamos. E eu comecei a gostar de outra pessoa… Mas não é como a mãe. É um homem como eu!

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O Diogo ficou apático durante algum tempo, embora o pai esperasse uma reação, não a obteve: nem tristeza, nem choro, nem sorriso, nem suspiro. Então, o pai achou que talvez o Diogo não tivesse percebido o que ele tinha acabado de dizer.

- Percebeste o que eu disse, filho?

- Percebi. – respondeu o Diogo. – mas isso não pode ser. Um homem não pode gostar de um homem.

- Achei que seria difícil entenderes, não esperava outra coisa. – admitiu o pai. – Infelizmente, a sociedade ensina muita coisa mas não ensina que o amor é amor, independentemente de quem ama.

O pai do Diogo olhou-o e reparou que ele estava com um ar confuso, não sabendo como reagir à notícia que o pai acabara de lhe dar e, por isso, achou melhor não continuar a conversa, acreditando que, com o tempo, o Diogo iria acabar por gostar do seu namorado e que iria acabar por compreender que gostar de alguém vai muito além da vontade de cada um.

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Nos dias seguintes, o Diogo andava muito triste, sentia muitas saudades do pai porque entretanto ele havia saído de casa. Até que um dia, à saída da escola, o Diogo esperava que a mãe o fosse buscar para irem os dois juntos para casa mas, nesse dia, teve uma surpresa porque quem foi buscá-lo à escola foi o pai. Ele estava acompanhado por um outro senhor.

- Diogo, este é o Gustavo. O meu namorado. É com ele que o pai está agora.

- Olá Diogo. – cumprimentou-o o Gustavo.

- Olá! - respondeu o Diogo, educadamente.

Nesse dia, foram os três lanchar. O pai do Diogo achou que seria uma boa forma de tentar que o seu namorado e o filho travassem amizade e podia ser que o Diogo começasse a compreender que, afinal de contas, uma relação entre dois homens pode ser tão natural como entre um homem e uma mulher.

De vez em quando, era o pai e o namorado que iam buscar o Diogo à escola e, aos poucos, ele começou a habituar-se a ver o pai e o namorado juntos. O Gustavo até era fixe!

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Entretanto, na escola, os colegas do Diogo começaram todos a olhá-lo sempre que o pai e o namorado iam buscá-lo à escola pois todos começaram a desconfiar da situação, achavam estranho que, de vez em quando, fosse o pai do Diogo buscá-lo à escola e sempre acompanhado por um homem.

O Diogo já andava novamente feliz: já não via a mãe triste como antes e o pai estava feliz junto de um homem que também era seu amigo. Até que um dia, o Luís, um colega do Diogo, começou a meter-se com ele, apontando-o à frente dos outros colegas e dizendo coisas horríveis a respeito do seu pai:

- O pai do Diogo gosta de homens! O pai do Diogo gosta de homens! O pai do Diogo gosta de homens! – repetia ele, fazendo com que os outros meninos o seguissem, em coro.

- Calem-se! Gostar de um homem é como gostar de uma mulher. Não se escolhe de quem se gosta. – defendeu-se o Diogo, relembrando o que o pai lhe havia dito.

- Achas que sim oh palerma? – disse o Luís, rindo-se do Diogo. – Os meus tios são casados e são um homem e uma mulher.

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O Luís ficou orfão quando ainda era bebé e não tinha mais família que pudesse cuidar dele. Então, foi acolhido por uma instituição e, mais tarde, foi viver com um casal sem filhos a quem ele se habituara a tratar por tios embora, na verdade, não o fossem mas, ao tratá-los assim, o Luís sentia que tinha alguém da família a cuidar dele; no entanto, estes tios não cuidavam dele lá muito bem. Depois das aulas, ele andava sempre na rua a brincar, os tios pouco se importavam se ele tinha de estudar ou não, no Natal e no aniversário nunca recebia presentes e nunca recebia um beijo ou um abraço carinhoso. Imagine-se que, certa vez, o casal que cuidava dele estava tão bêbedo mas tão bêbedo que nem se preocupou em dar-lhe jantar e o Luís só voltou a comer na escola, à hora de almoço. Não era uma criança feliz. O Diogo sabia disso e já tinha ouvido os pais a falar sobre ele, que era devido à sua história de vida, à falta de amor e carinho, que o Luís só fazia e dizia asneiras. Tudo para cativar a atenção dos outros. Apesar de ter vontade de responder, o Diogo conteve-se e ignorou-o; não queria problemas na escola. Mas, cada vez mais, o Diogo era gozado pelos colegas: desde que chegava à escola, nos intervalos das aulas, até quando saía da escola, todos o apontavam rindo-se dele e aqueles que eram mais discretos e não se riam dele, olhavam-no, ainda assim, de uma forma trocista e cruel.

Não demorou muito para que a professora do Diogo se apercebesse que ele andava muito cabisbaixo, já não convivia com os colegas, andava sempre sozinho e à hora do almoço ninguém se sentava à beira dele. No final da aula, a professora deixou que todos os meninos saissem e quis saber o que se passava com o Diogo.

- Então Diogo? O que se passa contigo que andas tão triste? – perguntou ela.

O Diogo baixou a cabeça e corou. Apesar de estar feliz por ver o pai feliz, tinha vergonha de dizer à professora que, na escola, todos o gozavam porque o pai tem um namorado

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e não uma namorada. Ia dizer que não tinha nada, que estava tudo bem mas depois, pensando melhor, apercebeu-se que sentia necessidade de contar a alguém o que se estava a passar. Afinal de contas, a professora era a única pessoa da escola que poderia ajudar visto que tinha perdido os amigos que tinha pois todos se afastaram dele. Então, ele contou tudo à professora. Após ouvi-lo, a professora abanou a cabeça em sinal de reprovação à atitude dos colegas do Diogo e disse-lhe:

- Não te preocupes, meu querido. Eu vou falar com o Luís. Vais ver que ele vai deixar de gozar contigo e, se ele não se meter mais contigo, é uma questão de tempo para os outros meninos se esquecerem disso e brevemente volta a ser tudo como antes! Vai descansado.

No dia seguinte, no fim das aulas, o Diogo ouviu a professora a chamar o Luís, dizendo para ele ficar mais um pouco porque queria falar com ele. Apesar de a professora ter dito para ele ficar descansado, o Diogo não acreditou que uma mera conversa e um puxão de orelhas fossem suficientes para o Luís deixar de gozar com ele; no entanto, sentia uma pontinha de esperança que a conversa com a professora resultasse.

A verdade é que, fosse pela conversa ou por mero milagre, no dia seguinte o Luís não se meteu com ele e, consequentemente, nos dias seguintes os outros meninos foram deixando de lhe apontar o dedo, de se rirem dele.

E não é que as coisas estão mesmo a voltar a ser como eram antes? – pensou ele. – A professora tinha razão!

Mas, estranhamente, o Luís não se limitou a deixar de gozar com ele: passou a andar triste, carrancudo, não brincava, isolava-se, não falava com ninguém. Depois, com o tempo, começou a andar mais bem disposto, mais alegre e já não era o menino malcriado e respondão de antes. Foi-se tornando numa criança doce, meiga e educada. Poderia até dizer-se que o Luís parecia ser agora uma criança feliz. Mas o que se teria passado? Uma vez mais, a professora apercebeu-se das mudanças pelas quais ele passou, ora muito triste, ora feliz e completamente diferente do que era. Embora estivesse feliz com esta mudança tão positiva, não deixou de ficar curiosa. Então, no final das aulas, voltou a chamá-lo, desta vez não para lhe dar um valente puxão de orelhas mas sim para tentar perceber o que se havia passado para tão grande mudança.

- Luís, reparei que durante algum tempo andaste muito triste, muito calado! Na altura achei que talvez tivesse sido muito dura contigo quando falamos sobre o Diogo e o pai dele mas depois foste ficando cada vez mais diferente do menino que eu conheci. Fico feliz por ti mas podes dizer-me o que se passou?

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Então, o Luís contou-lhe o que se tinha passado. A professora ficou boqueaberta com o que o Luís lhe tinha acabado de contar e lembrou-se do método perfeito para ensinar uma grande lição a todos. No dia seguinte, momentos antes do final da aula, disse à turma:

- O vosso trabalho de casa para amanhã é fazerem uma composição. O tema é «A coisa de que mais me arrependo».

Vendo que os alunos ficaram todos com um ar pensativo, provavelmente na dúvida sobre o que poderiam escrever, a professora esclareceu:

- Pensem em alguma coisa que tenham feito de errado, em algum momento que vocês sabem que foram injustos com alguém, seja com os pais, com algum irmão ou com o vizinho.

No dia seguinte, no intervalo para o almoço, a professora pediu ao Luís que não saísse e que lhe levasse à sua mesa a composição que fizera em casa. Ele assim fez. Durante o intervalo, a professora corrigiu-lhe alguns erros ortográficos e sintáticos e devolveu-lha quando todos entraram na sala, dizendo-lhe que tinha corrigido os erros da sua composição e que ele seria o último a lê-la porque seria, provavelmente, a mais importante.

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- Não, professora. Não quero ler. – disse ele, com um ar assustado.

- Ora essa, Luís. Então por quê? – perguntou ela.

- Tenho vergonha. – respondeu ele, olhando a turma e baixando logo de seguida o olhar.

- Não tens de ter vergonha! Tens uma linda composição. Os teus colegas têm de saber que também cometeram um erro e o Diogo merece ouvi-la.

Ele acenou com a cabeça, anuindo ao pedido da professora.

- Meninos! – chamou a professora, conseguindo a atenção dos alunos. – ontem pedi-vos que fizessem uma composição. Quem quer ser o primeiro a ler?

Cada menino e menina leu a sua composição e o Luís foi o último.

O Luís levantou-se do seu lugar e dirigiu-se para junto da mesa da professora, lendo a sua composição para toda a turma:

A coisa de que mais me arrependo

A coisa de que mais me arrependo é por ter criticado o amor. Nunca tive muito amor dos meus tios, de cuja casa acabaram por me tirar porque eles não cuidavam bem de mim. Regressei à instituição para onde tinha ido quando os meus pais morreram mas não estive lá muito tempo. Fui para casa de duas senhoras que, como não tinham namorados nem maridos, não tinham filhos e queriam muito ter um. Então, elas contaram-me que gostavam uma da outra e que, apesar de não haver muitos casais como elas porque a maior parte dos casais são um homem e uma mulher, prometiam dar-me todo o amor, carinho e felicidade que nunca tive. Primeiro fiquei revoltado contra elas e fiquei muito triste porque aconteceu-me o que tinha acontecido ao Diogo e eu não queria porque ia ter muita vergonha se alguém soubesse. Mas depois, as duas senhoras trataram muito bem de mim, muito melhor do que quando eram os meus tios que estavam comigo. Elas deram-me muita coisa que em casa dos meus tios nunca tive: eles nunca me levaram ao cinema e eu nunca tinha comido um hamburguer daqueles que quase toda a gente come. Eu nunca tinha ido a um jardim zoológico e elas foram comigo. A coisa que eu mais quis à noite, durante muitos anos, foi que me lessem uma história mas sempre adormeci sozinho e, muitas vezes, com frio porque os meus tios não tinham cobertores suficientes para todos no inverno. As duas senhoras com quem vivo

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agora nunca vão para a cama sem me ler uma história e sem me darem um beijo de boa noite. Eu sinto que elas gostam muito de mim e vejo que elas gostam uma da outra muito mais do que os meus tios gostavam um do outro. Eles tratavam-se muito mal um ao outro e a mim também. Durante algum tempo andei triste porque sempre pensei que quando todos soubessem que as minhas duas mães eram como o pai do Diogo, iam gozar comigo e eu ia ter vergonha mas agora eu sei que amor é amor, seja entre quem for.

- Desculpa, Diogo! – disse o Luís, entre lágrimas, no final da composição.

Quando ele terminou a composição, toda a turma e a professora mantiveram-se num silêncio profundo, degustando com o coração tudo o que o Luís acabara de ler. Contrariamente ao que o Luís receava, nenhum dos colegas se riu dele mas antes se remeteram ao silêncio, um silêncio respeitador e, ao mesmo

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tempo, de contrição: eles sabiam agora que também tinham errado ao gozar com o Diogo. A professora ficou muito emocionada, principalmente por ver o arrependimento sincero do Luís quando, no final da leitura da composição, ele pediu desculpa ao Diogo em frente aos colegas. Esse pedido de desculpa não estava na composição! A professora deu a aula por terminada e as crianças sairam em silêncio da sala. O Diogo e o Luís sairam juntos e, minutos depois, olhando o recreio da janela da sala, a professora reparou que ambos já brincavam um com o outro, numa cumplicidade exemplar. Então, não conseguiu travar uma lágrima que rolava sobre a sua face. Era uma lágrima de emoção mas também de alívio e orgulho: naquela aula, através daquele trabalho de casa, ela sentiu que tinha acabado de ensinar uma grande lição, ainda mais importante do que matemática ou português: ensinou uma lição de vida, ensinou, através do Luís, vários valores: o valor do arrependimento, da tolerância, da não discriminação e, através do Diogo, o valor do perdão. Mas acima de tudo, ficou feliz por ensinar o maior valor de todos: o valor do amor… porque amor é sempre amor, seja entre quem for.

Fim