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Curso de Direito Artigo de Revisão O DIREITO AO ESQUECIMENTO: DESAFIO DA PROTEÇÃO DO DIREITO DA INTIMIDADE DIANTE DO MUNDO VIRTUAL THE RIGHT TO BE FORGOTTEN: THE CHALLENGE OF PROTECTION OF PRIVACY RIGHT BEFORE THE VIRTUAL WORLD Valdemir Lima de Souza 1 , Kadidja Barros Leadebal². 1 Aluno do Curso de Direito 2 Professora Mestre do Curso de Direito Resumo O presente artigo aborda a questão do direito ao esquecimento e o desafio da proteção do direito da intimidade diante do mundo virtual. Tendo em vista a necessidade da manutenção do princípio da dignidade da pessoa e do direito fundamental da personalidade, consagrado em nossa carta Magna. A metodologia utilizada consiste em pesquisa bibliográfica, utilizando-se de obras relevantes sobre o tema. Como resultado, espera-se demonstrar atualmente quais as conseqüências destes atos de abuso e suas respectivas sanções no combate as violações de direito e a devida proteção da honra e da dignidade. O método empregado neste artigo é o dedutivo. Palavras-chave: Direito Constitucional; Princípio da Dignidade e da Honra e o mundo virtual. Abstract This article addresses the issue of right to be forgotten and the challenge of protecting the right of privacy on the virtual world. Given the necessity of maintaining the principle of human dignity and the fundamental right of personality enshrined in our charter Major. The methodology consists of literature, using relevant works on the subject. As a result it is expected that currently demonstrate the consequences of these acts of abuse and their sanctions in combating violations of law and due protection of honor and dignity. Approach taking as the deductive method. Keywords: Constitutional Law; Principle of Dignity and Honor and the virtual world. Contato: [email protected] Introdução É inegável que as últimas décadas foram marcadas por novas descobertas tecnológicas. A tecnologia está se aperfeiçoando constantemente no mundo de hoje. Esta evolução proporciona inúmeras vantagens a toda sociedade como: criações de equipamento que podem salvar vidas, executar trabalhos em menor espaço de tempo e proporcionar melhor qualidade de vida ao homem, porém se usada de maneira errônea poderá provocar danos irreparáveis ao homem. Ao acessar a internet, diversas informações são disponibilizadas diariamente na rede, todavia não se percebe por quanto tempo tais informações seriam divulgadas e se algum dia elas seriam apagadas. Há um lado positivo quando se faz o uso da internet a fim de valorizar questões históricas de extrema importância por não estarem mais disponíveis à venda nem em jornais e tampouco em revistas. Percebe-se que nem tudo são notícias positivas, a capacidade de armazenamento e expansão do dito mundo virtual era até pouco tempo impensável a qualquer pessoa. Essa é uma noticia negativa que será estudada com detalhes no presente artigo. Até que ponto essa capacidade de armazenamento praticamente infinita é algo positivo? Quanto tempo uma informação pode ou deve ficar disponível? Como proteger alguém que teve a intimidade divulgada nos meios virtuais? Essas pessoas estão sujeitas a uma pena perpétua ou têm o direito de serem esquecidas? Será que o ordenamento pátrio traz algum tipo de previsão acerca de tal assunto? Atualmente, as pessoas têm a sensação que estão completamente desprotegidas em relação ao mundo virtual. Vê-se que as respostas a tais perguntas são complexas e nos remete ao direito fundamental da intimidade, pois uma pessoa não pode ver e lembrar sobre determinado fato

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Curso de Direito Artigo de Revisão O DIREITO AO ESQUECIMENTO: DESAFIO DA PROTEÇÃO DO DIREITO DA INTIMIDADE DIANTE DO MUNDO VIRTUAL THE RIGHT TO BE FORGOTTEN: THE CHALLENGE OF PROTECTION OF PRIVACY RIGHT BEFORE THE VIRTUAL WORLD Valdemir Lima de Souza

1, Kadidja Barros Leadebal².

1 Aluno do Curso de Direito 2 Professora Mestre do Curso de Direito

Resumo

O presente artigo aborda a questão do direito ao esquecimento e o desafio da proteção do direito da intimidade diante do mundo virtual. Tendo em vista a necessidade da manutenção do princípio da dignidade da pessoa e do direito fundamental da personalidade, consagrado em nossa carta Magna. A metodologia utilizada consiste em pesquisa bibliográfica, utilizando-se de obras relevantes sobre o tema. Como resultado, espera-se demonstrar atualmente quais as conseqüências destes atos de abuso e suas respectivas sanções no combate as violações de direito e a devida proteção da honra e da dignidade. O método empregado neste artigo é o dedutivo. Palavras-chave: Direito Constitucional; Princípio da Dignidade e da Honra e o mundo virtual.

Abstract

This article addresses the issue of right to be forgotten and the challenge of protecting the right of privacy on the virtual world. Given the necessity of maintaining the principle of human dignity and the fundamental right of personality enshrined in our charter Major. The methodology consists of literature, using relevant works on the subject. As a result it is expected that currently demonstrate the consequences of these acts of abuse and their sanctions in combating violations of law and due protection of honor and dignity. Approach taking as the deductive method.

Keywords: Constitutional Law; Principle of Dignity and Honor and the virtual world.

Contato: [email protected]

Introdução

É inegável que as últimas décadas foram marcadas por novas descobertas tecnológicas. A tecnologia está se aperfeiçoando constantemente no mundo de hoje. Esta evolução proporciona inúmeras vantagens a toda sociedade como: criações de equipamento que podem salvar vidas, executar trabalhos em menor espaço de tempo e proporcionar melhor qualidade de vida ao homem, porém se usada de maneira errônea poderá provocar danos irreparáveis ao homem. Ao acessar a internet, diversas informações são disponibilizadas diariamente na rede, todavia não se percebe por quanto tempo tais informações seriam divulgadas e se algum dia elas seriam apagadas.

Há um lado positivo quando se faz o uso da internet a fim de valorizar questões históricas de extrema importância por não estarem mais

disponíveis à venda nem em jornais e tampouco em revistas. Percebe-se que nem tudo são notícias positivas, a capacidade de armazenamento e expansão do dito mundo virtual era até pouco tempo impensável a qualquer pessoa. Essa é uma noticia negativa que será estudada com detalhes no presente artigo. Até que ponto essa capacidade de armazenamento praticamente infinita é algo positivo? Quanto tempo uma informação pode ou deve ficar disponível? Como proteger alguém que teve a intimidade divulgada nos meios virtuais? Essas pessoas estão sujeitas a uma pena perpétua ou têm o direito de serem esquecidas? Será que o ordenamento pátrio traz algum tipo de previsão acerca de tal assunto? Atualmente, as pessoas têm a sensação que estão completamente desprotegidas em relação ao mundo virtual.

Vê-se que as respostas a tais perguntas são complexas e nos remete ao direito fundamental da intimidade, pois uma pessoa não pode ver e lembrar sobre determinado fato

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desagradável de sua vida reiterada vezes, uma vez que a Carta Magna assegura à proteção a intimidade ao cidadão brasileiro.

O presente artigo tem como objetivo analisar criticamente o sistema tecnológico atual sob uma perspectiva de proteção do direito à intimidade diante do mundo virtual a fim de tentar encontrar uma solução jurídica e pacífica para tal situação, levando em consideração os princípios do direito constitucional e o da dignidade da pessoa humana.

1. Breve Evolução Histórica

Vê-se que o estudo e a sistematização dos

direitos de personalidade tiveram uma maior

relevância a partir das revoluções burguesas do

século XVIII. Todavia, identifica-se que a sua

proteção já era presente desde a Idade Média. O

direito romano havia a actio injuriarum que visava

à proteção do indivíduo em face de injúrias e

difamações irrogadas diante da sua honra.1

No Império Romano, o conceito de pessoa era a aferição dos status libertatis, status civitatis e status família e só aqueles que gozassem da inteireza dessas três condições teriam seus direitos reconhecidos.

2

Com o advento do cristianismo, o homem é

visto como servo de um Deus, sendo este a

personificação do seu criador, conforme o livro de

Gênesis. Foi durante esta época que surge à

dicotomia entre as escolas do direito natural e do

direito positivo que contribuíram bastante para o

desenvolvimento da noção de personalidade

humana. Para os Jus Naturalistas, a

personalidade advinha da própria natureza

humana, isto é, de maneira absoluta, enquanto

para os Positivistas seria a atribuição dada à lei

de caráter concreto a fim de positivar tais

atributos humanos.3

11

CAHALI, Yussef Sahid. Responsabilidade e Dano

Moral. 2. Ed. São Paulo: RT, 1998.

2 Hannah Arendt, A Condição Humana. (1958), 9a ed.

Rio de Janeiro: Forense Universitária, Condição para uma aprofundada análise do pensamento arenditiano no que tange, especialmente, aos direitos da pessoa humana, 1993 apud LAFER, 1991, p. 263. 3 Idem, p. 263-264.

Acredita-se que é por intermédio do

racionalismo do final da idade média, que a

personalidade humana ganha relevância, pelas

idéias iluministas e liberais em uma boa relação

ligada a boa índole e a moral. Assim, a liberdade

de imprensa, os direitos de personalidade são

classificados pela doutrina publicista como sendo

direitos de 1ª geração ou direitos civis e políticos,

positivados originariamente pela Declaração de

Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e

Declaração de Direitos da Virgínia em 1769.4

De acordo com Roxana Borges, o

panorama histórico faz uma descrição de forma

sintética e elucidativa acerca da evolução dos

direitos de personalidade. Segue-se a transcrição

do texto abaixo:

“[...] dentre os primeiros direitos da personalidade

reconhecidos como direitos fundamentais, estão o

direito à vida, o direito à liberdade e o direito à

integridade física. Foram reconhecidos a partir da

oposição entre indivíduos e Estado, visando

proteger a pessoa contra as intervenções

arbitrárias deste. Com o aumento populacional

das cidades, com o crescimento dos veículos de

comunicação de massa, com o aumento do

desequilíbrio nas relações econômicas e com o

avanço tecnológico, outros direitos da

personalidade emergiram, desta vez não apenas

para proteger o indivíduo contra o Estado, mas

para protegê-lo também contra a intervenção

lesiva de outros particulares.5”

2. Direito à personalidade

Entende-se por Direitos da Personalidade a

categoria de direito individual, indisponível e

alienável, essencial ao desenvolvimento da

pessoa humana, da qual não se transfere.

“Os direitos da personalidade não derivam

nem da relação da pessoa com a coisa, nem

de sua relação com outra pessoa, em caráter

obrigacional. Derivam os direitos da

personalidade da relação da pessoa consigo

mesmo, ou seja, daqueles bens que o cidadão

guarda dentro de seu corpo e intelecto

(direitos à integridade física e psíquica), e que

formam a sua personalidade, e, por isso, são

4 Martins Neto, João dos Passos. Direito fundamental

é o poder, 2008, p. 73. 5 CASTRO, Mônica Neves Aguiar da Silva. Honra,

imagem, vida privada e intimidade, em colisão com

outros direitos. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

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intransmissíveis e irrenunciáveis (art.11, C.C).

É, portanto, o direito da personalidade,

relacionado aos bens que só existem no

interior da pessoa, como a honra, a

intimidade, a dignidade etc. Muitos desses

bens, no entanto, embora de origem interna,

têm reflexos externos, como nome, a imagem,

o crédito”. Salienta-se que o direito da

personalidade é subjetivo.6

Segundo Elpídio Donizette e Felipe Quintella,

“Os direitos da personalidade têm a natureza

de direitos absolutos, ou seja, de direitos

oponíveis a todos (erga omnes) e cujo dever

correspondente consiste em uma inação. Em

razão dos direitos da personalidade

corresponderem deveres negativos de todas

as demais pessoas, diz-se que são excludenti

alios”.7

Neste sentido, a interpretação sistemática e

o juízo de ponderação levam à conclusão de que

os indivíduos devem ter assegurado o direito ao

esquecimento e de sua personalidade respeitada,

como corolário da dignidade da pessoa humana e

dos direitos fundamentais à privacidade, à

intimidade e à honra. Devem ser ressalvados,

contudo, os fatos genuinamente históricos, de

interesse público que permaneça mesmo com o

decorrer do tempo, desde que a narrativa não

tenha como ser desvinculada dos envolvidos,

devendo os dados e arquivos constantes em

qualquer órgão seja ele governamental ou não

governamental, serem mantidos seguros de

qualquer tipo de perseguição política ou qualquer

outro artifício negativo.8

Segue-se, abaixo o Pacto de San José da

Costa Rica do qual o Brasil é signatário, artigos

11 e 13 que corroboram tais normas.

(...)

Artigo 11- Proteção da honra e da dignidade.

6 NETO, Sebastião de Assis. Manual do Direito Civil -

Volume Único 2013, p.156.

7 DONIZETTI, Elpídio e QUINTELLA, Felipe. Curso

Didático de Direito Civil. São Paulo. Atlas. 2012.

8 Schreiber, Anderson. Direito e Mídia, 2013, p.111,

Ed. Atlas – SP.

1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao seu reconhecimento de sua dignidade. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerência arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação. 3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas. (...)

Artigo 13 – Liberdade de pensamento e de

expressão

1. “Toda pessoa tem o direito à liberdade de

pensamento e de expressão. Esse direito inclui

a liberdade de procurar, receber e difundir

informações e ideias de qualquer natureza,

sem considerações de fronteiras, verbalmente

ou por escrito, ou em forma impressa ou

artística, ou por qualquer meio de sua

escolha”.9

2. O exercício do direito previsto nos artigos e

seus incisos precedentes não podem estar

sujeitos a censura prévia, mas a

responsabilidade ulteriores, que devem ser

expressamente previstas em lei e que se façam

necessárias para assegurar:

a) O respeito dos direitos e da reputação das

demais pessoas;

b) A proteção da segurança nacional, da

ordem pública, ou da saúde ou da moral

públicas.

3. Não se pode restringir o direito de expressão

por vias e meios indiretos, tais como o abuso

de controle oficiais ou particulares de papel de

Imprensa, de freqüências radioelétricas ou de

equipamentos e aparelhos usados na difusão

de informação, nem por quaisquer outros

meios destinados a obstar a comunicação e a

circulação de ideias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a

censura prévia, com o objetivo exclusivo, de

regular o acesso a eles, para proteção moral

da infância e da adolescência, sem prejuízo do

disposto no inciso.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da

guerra, bem como toda apologia ao ódio

nacional, racial ou religioso que constitua

incitamento à discriminação, à hostilidade, ao

crime ou à violência.

9http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavir

tual/instrumentos/sanjose.htm, acesso em: 14/11/14, as

18:08hs.

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Percebe-se que o direito a informação é

importante quando se trabalha com fatos

verídicos, entretanto não é o único requisito para

exercer a liberdade de imprensa, sendo preciso

levar em consideração a ética ao transmitir

qualquer tipo de informação.

Há, recentemente, uma polêmica bastante acentuada quando se tenta priorizar o direito da personalidade em detrimento ao direito de imprensa. A imprensa tenta resguardar o direito à informação, o direito de informar e o direito de liberdade. O embate entre esses dois institutos (O da informação e o de Informar) acontece quando se quer que as informações não sejam divulgadas em prol de um cidadão, pois elas têm o poder de aniquilar a imagem desta pessoa diante sociedade na qual está inserida. Alguns autores também afirmam que o direito ao esquecimento é decorrente da dignidade da pessoa humana (art.1º, III, da CF/88).

O direito à informação por analogia no âmbito exclusivo do direito do consumidor, é direito à prestação positiva oponível a todo aquele que fornece produtos e serviços no mercado de consumo. Assim, não se dirige negativamente ao poder político, mas positivamente ao agente da atividade econômica. Nesse sentido, próprio do direito do consumidor, cobra explicação de seu enquadramento como espécie do gênero direitos fundamentais.

10

Já o dever de informação é em primeiro lugar uma expressão, uma formulação destinada a tornar uma mensagem comunicável para quem recebe. Ela é então comunicada, ou pode sê-lo, por meio de um sinal escolhido para levar a mensagem a outrem, é o chamado dever de informar ou direito de informar.

11

2.1. Direito à Intimidade

No Brasil, direito à intimidade possui

assento constitucional e legal, por ser

considerada uma consequência do direito à vida

privada (privacidade), intimidade e honra,

10

LÔBO, Paulo Luiz Netto. A informação como

direito fundamental do consumidor. São Paulo.

Revista dos Tribunais, 2011, p. 598.

11 CATALA, Pierre. Ébauche d´une théorie Juridique

de I´nformation Recueil.édition Dalloz, 1984, p. 97-

98 apud FABIAN, 2002, p.40.

assegurados pela Constituição Federal Brasileira

(art.5º, X) e pelo Código Civil.

Segue-se a transcrição do artigo 5º,

incisos IX e X Constituição Federal Brasileira de

1988 para melhor entendimento do tema e

imprescindível leitura.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se ao brasileiro e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou de licença;

X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Foi a partir da Revolução Francesa e da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do cidadão que o Direito começa a se preocupar muito mais com a dignidade do ser humano. Após este período, passa a ser incorporado aos poucos o princípio da dignidade humana aos sistemas jurídicos vigentes.

12

O Direito a intimidade está atrelado ao direito da personalidade e aos princípios constitucionais como o da intimidade.

O direito à intimidade "consiste na faculdade que tem cada indivíduo de obstar a intromissão de estranhos na sua vida privada e familiar, assim como de impedir-lhes o acesso a informações sobre a privacidade de cada um, e também impedir que sejam divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser humano.

13

A proibição de violar a intimidade decorre da exposição, cada vez mais crescente, a que estão sujeitas as pessoas diante dos meios e veículos de comunicação já existentes.

O poder que a mídia exerce sobre as pessoas por meio da imprensa é impressionante

12

CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes. Entrevista.

Disponível em: www.conjur.com.br/2009-out-25.

Acesso: 30/09/2013, as 14:30hs.

13 CELSO Ribeiro Bastos e Ives Gandra da Silva

Martins. Comentários à Constituição do Brasil, p.63.

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e, às vezes, devido à arbitrariedade com que se apresenta, causa danos irreparáveis, pois não há um código de ética que defina os limites de sua atuação, sendo essa abordagem na maioria das vezes negativas.

Na ânsia de divulgar notícias que trazem suas convicções e conveniências, sem serem de interesse público, certos meios de comunicação acabam invadindo a intimidade dos indivíduos, ferindo totalmente os princípios constitucionais, desrespeitando alguns direitos já consagrados, inclusive pelas normas internacionais de direitos humanos. Contudo, devemos questionar até que ponto é lícito à imprensa tornar pública a vida íntima das pessoas sob pretexto de levar a informação aos diversos setores da sociedade de maneira irresponsável.

Diferentemente da Constituição Brasileira de 1988, a Constituição dos Estados Unidos da América, que data de 1787 (com substancial adição de novos direitos fundamentais pelas chamadas emendas pós-guerra civil), é tida como um documento conciso. Dentre as vantagens de um texto constitucional sucinto, está, exatamente, sua maior flexibilidade e a possibilidade de adequação aos novos tempos. Nas palavras do estudioso Paulo Bonavides:

“As Constituições concisas ou breves resultam numa maior estabilidade do arcabouço constitucional, bem como numa flexibilidade que permite adaptar a Constituição a situações novas e imprevistas no desenvolvimento institucional de um povo, a suas variações mais sentidas de ordem política, econômica, financeira, a necessidades, sobretudo de improvisar soluções que poderiam, contudo, esbarrar na rigidez de obstáculos constitucionais”.

14

Então, a Suprema Corte dos Estados Unidos indicou aplicabilidade do direito à privacidade. Ao realizar a análise do tema em estudo, levou-se em consideração dois aspectos basilares do direito constitucional que evoca tanto o direito à intimidade como os direitos individuais que visam assegurar e garantir informações provenientes do mundo virtual.

O entendimento de nossa Corte é de retirar a notícia do ar, qualquer tipo de informação que tire a liberdade, a intimidade e a dignidade da pessoa humana, há uma clara sinalização de que sites na internet não podem ter arquivos virtuais com essa finalidade negativa, o que fere o direito à liberdade de expressão e de informação. E como deve ser vista a liberdade empresarial do site em manter o conteúdo verdadeiro em um arquivo virtual?

14

BONAVIDES, Paulo. Interpretação Constitucional e as garantias institucionais dos direitos, São Paulo: Saraiva, 2009. p. 91.

É fundamental analisar o direito de se manter uma notícia verdadeira na internet em casos de absolvição ou cumprimento de pena do réu. Ou até mesmo naqueles casos em que uma pessoa foi condenada a pagar indenização por danos morais para outra e cumpriu com suas obrigações, neste sentido não ouve violações de direitos, justamente por serem verdadeiras tais informações.

3 Direito à informação e fundamentos

históricos

Sabe-se que a liberdade de informação se revela pelo direito que a pessoa tem de informar, de comunicar, enfim, de exteriorizar sua opinião (art.5º, IV, da CF88). Segundo René Ariel Dotti, “a liberdade de informação se caracteriza, no plano individual, como expressão das chamadas liberdades espirituais”, isto é, a de opinião, de manifestação do pensamento.

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Mas é certo que não se resume só a liberdade de informação. Ela configura, ainda, um direito coletivo, porque inclui o direito de o povo ser bem informado.

Frisa-se que o direito à informação tem

como foco principal o interesse coletivo, isto é,

um direito coletivo à informação.

Segundo José Afonso da Silva,

“O direito de informar, como aspecto da liberdade

de manifestação do pensamento, revela-se um

direito individual, mas já contaminando de sentido coletivo, em virtude das transformações dos meios

de comunicação, que especialmente se concretiza

pelos meios de comunicação social ou de massa,

envolve a transmutação do antigo direito de

imprensa e de manifestação do pensamento, por

esses direitos, em direitos e feição coletiva”.

Acredita-se que:

“o direito de comunicação e informação, portanto, sempre estará em constante choque com os direitos atinentes à pessoa, o que requer dos envolvidos um maior cuidado ao exercerem o papel de informador, pois com os meios virtuais praticamente não há como se retirar algo definitivamente da internet, devido ao seu próprio funcionamento caótico e também voltado à replicação. A informação uma vez disponibilizada é armazenada localmente pelo provedor de serviço na qual foi divulgada e também de indexadores como: o Google, o Bing entre outros, que também

15

DOTTI, René Ariel. O interrogatório à distância:

um novo tipo de cerimônia degradante, em Revista

dos Tribunais, nº. 740, junho de 1997, p. 478.

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fazem uma cópia para manter em seus servidores, dificultando ainda mais o trabalho de quem quer se livrar de alguma informação”.

16

O homem precisa e deve ser respeitado em sua dignidade humana, levando em consideração seu valor de fim e não apenas do meio social, vez que essa condição eleva por meio de uma imposição o ser humano ao ponto central de todo sistema jurídico, no sentido de que o direito positivo é feito para a pessoa e sua realização existencial. A Constituição Federal de 1988 elevou a tutela de promoção da pessoa da dignidade do homem, ou seja, a inviolabilidade deste direito.

17

O direito de ser esquecido está na fronteira entre a liberdade e a luta por privacidade. Longe de ser ato de censura ou desejo de reescrever a história, o que está em jogo é a verdade dos fatos. Enfim, nesta era digital em que as informações pessoais valem ouro, deve-se ter o direito de remover dos buscadores (não só do Google) aquilo que não representa a verdade e

possa vir afetar a vida de maneira negativa.

Entretanto, a imprensa surge antes mesmo da discussão acerca da sua liberdade. Na antiguidade, tinha a mera função de informadora de atos oficiais do Governo, sendo, em verdade, parte dele. Foi com a influência do pensamento liberal, que se assegurou inicialmente a liberdade de expressão do homem e, conseqüentemente, a sua utilização pela imprensa, que se exterioriza como instrumento daquela.

18

Essa ferramenta surge no Brasil a partir da chegada da família real em 1808, fato que dá início a uma série de inovações e transformações na sociedade brasileira. Foi ela quem divulgou e noticiou a revolução política vinda da Europa, o que pressionou o Reino de Portugal a permitir a independência da colônia.

A imprensa teceu severas críticas ao regime político brasileiro na fase do império e da regência, o que ensejou tentativas de controle da sua liberdade através de leis e da própria Constituição de 1824. Neste contexto, diversas

16

Da Silva, José Afonso. Direito Constitucional, Ed.

Malheiros, 2012, p. 38 - 39.

17 PAGANELLI, Celso Jefferson Messias. O direito ao

esquecimento no mundo virtual: uma análise

constitucional, 2014, p. 18.

18 ALBERT, Pierre e TERROU, Fernand. História

da imprensa. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

eram as publicações de cunho panfletário que bradavam pela independência da colônia, pelo fim da escravidão, e por uma Constituição essencialmente brasileira.

Já no período de Proclamação da República foi visível o processo de profissionalização da imprensa, com a formação de algumas empresas jornalísticas. O advento da nova Constituição, em 1891, entretanto, em poucos aspectos inovou a tutela da manifestação do pensamento, trazendo apenas como novidade a vedação do anonimato, de forma a possibilitar a punição daqueles que extrapolassem os limites impostos pelas leis vigentes.

Sob o pretexto de reprimir as ameaças de cunho socialista e anarquista, os Governos, em diversos períodos, se utilizaram da medida constitucional de exceção denominada Estado de Sítio, que restringia as liberdades, inclusive as de expressão, de pensamento e de imprensa.

Ao final da década do século XX, cresce a insatisfação do povo com a República, entoada pelas manifestações da imprensa. Enquanto no cenário mundial ganha força a Revolução Russa, cresce no Brasil o medo de revoltas de cunho comunista, o que induz uma grande parte da sociedade a simpatizar com o movimento de 1930.

A chegada ao poder de Getúlio Vargas assinala um período de abruptas mudanças no regime republicano brasileiro. Em 1934 é promulgada uma nova Constituição que, embora zelosa pela liberdade de expressão e pensamento, conflitava com as práticas do varguismo, que continuava a impor censura à imprensa. Já em 1937 é instituído o Estado Novo, que recrudesceu as práticas de censura e tornou a imprensa “função de caráter público”, estando ela sujeita aos desmandos e ao controle do aparelho estatal.

Posteriormente, com a redemocratização e a conseqüente promulgação do texto constitucional de 1946, houve fortalecimento da liberdade de imprensa, que culminou numa grande mudança dos paradigmas da informação no Brasil.

Entretanto, seguindo o ciclo da história, marcado por ápices democráticos e depressões repressoras, a mídia conservadora e a sociedade atemorizada com a ameaça comunista, ofereceram terreno fértil e legitimidade à “revolução de março de 1964”, que inicia restrições às liberdades públicas.

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O regime ditatorial, que perdurou no país entre 1964 e 1985, privou a sociedade de direitos e garantias fundamentais, a exemplo da livre manifestação de idéias e opiniões, ensejando, posteriormente, a luta pelo restabelecimento da democracia e das liberdades.

Em 05 de outubro de 1988, a nação brasileira recebeu, com esperança, a apelidada “Constituição Cidadã” que alterou de forma substancial o ordenamento jurídico, equiparando em igualdade de condições os três poderes e fortalecendo a democracia no Estado brasileiro.

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Que a imprensa tem um papel fundamental de informação para a sociedade não se deve negar, porém essa liberdade de expressão deve observar os princípios constitucionais e os tratados internacionais, sobre essa questão da personalidade e da dignidade, seja ela por cunho particular, coletivo ou religioso.

Contudo, sempre ocorrem conflitos ou colisões entre direitos fundamentais de titulares diferentes. A solução de tais conflitos fazem com que haja uma dificuldade de apreciação acerca da temática em estudo.

4 Liberdade de expressão e censura

A Respeito da importância da liberdade como preceito fundamental, sempre é confrontada com outros direitos humanos, tal qual a privacidade, além de reduzida pela intenção de proteção da dignidade da pessoa humana, conceito esse que por vezes é em demasia alargado perante o caso concreto. Por tal razão, este estudo não se pode abster de tecer, mesmo que breves comentários sobre o alcance e relevância da compreensão da liberdade de imprensa, do interesse público e da vedação da censura.

No atual contexto, há muitas críticas que são mensuradas de maneira séria, voltadas ao engrandecimento da sociedade e não ao desprestígio ou à exposição ao ridículo do criticado. A finalidade dessas críticas é de dar a

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ALBERT, Pierre e TERROU, Fernand. História da imprensa. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978.

NEVES, Francisco de Assis Serrano. Direito de Imprensa. São Paulo: Bushatsky, 1977.

devida proteção ao direito à liberdade e à manifestação de pensamento.

Encontra-se em clara e ostensiva contradição com o fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1o, III), com o direito à honra, à intimidade e à vida privada (CF, art. 5o, X) converter em instrumento de diversão ou entretenimento assuntos de natureza tão íntima quanto falecimentos, padecimentos ou quaisquer desgraças alheias, que não demonstrem nenhuma finalidade pública e caráter jornalístico em sua divulgação. Assim não existe qualquer dúvida de que a divulgação de fotos, imagens ou notícias apelativas, injuriosas, desnecessárias para a informação objetiva e de interesse público (Constituição Federal Brasileira, art. 5o, XIV), que acarretem injustificado dano à dignidade humana autoriza a ocorrência de indenização por danos morais e materiais, além do respectivo direito de resposta.

20

Tal liberdade, limitada no interesse público, é de tamanha relevância, que se protege pelo princípio da incensurabilidade, o qual “aponta no sentido de que a liberdade de expressão e de comunicação não seja subjulgada a nenhuma forma arbitrária de restrição, sendo inadmissível a censura estatal ou privada, bem como censura prévia ou posterior”.

21

A censura prévia é o controle vinculativo anterior à publicação ou exibição pública.

Leia-se:

A censura prévia significa o controle, o exame, a necessidade de permissão a que se submete, previamente e com caráter vinculativo, qualquer texto ou programa que pretende ser exibido ao público em geral. O caráter preventivo e vinculante é o traço marcante da censura prévia, sendo a restrição à livre manifestação do pensamento a sua finalidade antidemocrática.

22

5 Mundo Virtual

Segundo Pierre Lévy, a internet, trata-se do desprendimento atualizador. É o senso comum de algumas pessoas têm a cerda do mundo virtual, por deixar uma sensação de impunidade, vez que

20

DE MORAES, Alexandre. Direito Constitucional.

20ª Edição, São Paulo: Atlas, 2006, p. 48.

21 FARIAS, Edilson Pereira de. Colisão de direitos: a

honra, a intimidade, a vida privada e a imagem

versus a liberdade de expressão e informação. 2ª

ed. atual. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2000 p.

119.

22 DE MORAES, Alexandre. Op.cit.p. 46.

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8

está sempre presente os artifícios da violação do direito da personalidade e da honra.

23

A evolução humana trouxe inovações

significativas ao criar meios eficazes de fazer com as pessoas se relacionassem no dia a dia, promovendo assim o regramento de condutas sociais, porém esse progresso tem suas consequências.

A partir do momento que o homem deixou de ser nômade, passando a dominar o fogo, aprende a cultivar seu alimento, cria animais e conseguiu registrar seus progressos para que seus futuros sucessores tomassem ciência do conhecimento produzido até então, passou a ser mais rápida sua evolução.

Considera-se o homem um ser social, isto é, progressista. Não se conforma com sua realidade e altera o meio em que vive de acordo com o conjunto de valores vigentes. Ao descobrir novas terras, o aumento de produção e a socialização do conhecimento aproximam os povos e abre mercados. Gradativamente, o mundo começa a ser tornar globalizado.

24

A globalização faz com que o homem aprimore seus conhecimentos tecnológicos e crie uma máquina chamada computador que vai ser de uma importância suprema para o progresso mundial. Paralelamente a isso, surge uma rede de informações com abrangência mundial chamada internet. É por meio da internet que é possível desenvolver uma série de atividades como utilizar serviços de bancos, comprar e vender produtos, ter aulas à distância, trocar dados e arquivos, realizar pesquisas, obter informações, conhecer e relacionar-se com pessoas.

Antes de discorrer sobre o mundo virtual, faz-se necessário distinguir a oposição fácil e enganosa entre o real e virtual. Acredita-se que a palavra virtual é empregada a fim de significar a pura e simples ausência de existência enquanto o real supõe uma efetuação material, ou seja, uma presença tangível. Pierre Lévy defende que ao se pensar no virtual, pensa-se logo naquilo que não é possível tocar, que não viria a existir, que estaria fadado a ficar apenas no mundo ilusório, imaginário. Todavia, dizer que o virtual existe no

23

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? . Tradução de Paula Neves, 2014, editora 34, 2ª edição.

24BAUMAN, Zygmunt.1925, Globalização: as

conseqüências humanas, traduzido por Marcus

Penchel, 1999, Ed. Zahar- RJ.

mundo real e que o mesmo não é nada além de um poder incorreto.

Conforme Pierre Lévy, “a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. E para a filosofia escolástica, é o virtual que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto, à concretização efetiva ou formal.

25

O atual processo de globalização, segundo Bauman, é um processo contraditório em si mesmo que ao mesmo tempo em que une toda a Terra por meio da compreensão do tempo/espaço operacionalizada pela extraordinária velocidade de movimento oriunda principalmente da chamada Terceira Revolução Industrial – a revolução informacional – também separa e segrega um número gigantesco de seres humanos que não conseguem e nunca conseguirão, devido à lógica interna do processo, ter acesso aos seus benefícios. Assim, para o autor, a globalização aumenta ainda mais o fosso que separa as classes possuidoras (que agora se tornaram globais, pois podem mover-se e mover seus investimentos sem restrições de um lugar para outro, sentindo-se em casa em qualquer lugar do planeta devido à homogeneização do espaço em que elas habitam e frequentam) das classes despossuídas. Estas são denominadas por Bauman, como locais, estando impossibilitadas de moverem-se e estão presas a uma espacialidade na qual não conseguem decifrar seus códigos, sinais e símbolos, porque estes escaparam aos seus controles e não são mais produzidos por elas, uma vez que os centros de produção de significado e valor são hoje extraterritoriais e emancipados de restrições locais.

Todavia, com essa evolução que para uns

parece global e tem significado de localização e

contatos com o mundo moderno das redes

sociais e sinalizadora de liberdade para outrem é

sinônimo de um destino indesejado e cruel.26

25

CAENEGEM, R. C. van. Uma introdução histórica

ao direito privado. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,

1999. Capítulos I, II e III.

26 BAUMAN, Zymunt, 1925, Globalização: as

conseqüências humanas, traduzido por, Marcus

Penchel, 1999, Ed. Zahar- RJ.

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9

6 Direito ao Esquecimento

O primeiro caso de direito ao esquecimento aconteceu na Alemanha e ficou conhecido como o caso Lebach. Este caso na época teve grande repercussão junto à população alemã que se defrontou com um dos latrocínios mais bárbaros de sua história. Em 1970, três homens se dirigiram à noite a um armazém de munições vigiado por soldados e, lá permanecendo, com o intuito de subtrair os artefatos bélicos depositados, assassinaram cruelmente quatro dos referidos guardas, deixando um quinto ferido.

27

Após o cumprimento da sentença penal, logo, deviam ser colocados em liberdade quando a imprensa começa a divulgar de novo o crime já ocorrido. Os condenados requereram o direito ao esquecimento junto a Corte Constitucional Alemã por haver já cumprido a sentença condenatória e acreditar na possibilidade de serem ressocializados.

No Brasil, dois casos já foram analisados

pelo Superior Tribunal de Justiça sob o prisma

do direito ao esquecimento. Um deles é o caso

Aída Curi e outro é Chacina da Candelária.

Os dois casos foram divulgados pela rede Globo de Televisão sem a autorização dos familiares ou da própria pessoa. A pessoa que estava sob investigação policial no caso da Chacina da Candelária teve tanto o nome como foto veiculados ao programa “Linha Direta”, sendo considerada inocente no caso. Conforme a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça reconheceu que esse indivíduo possuía o direito ao esquecimento e que o programa poderia muito bem ter sido exibido sem que fosse mostrados o nome e a fotografia do indivíduo que fora absolvido. A rede Globo foi condenada ao pagamento de indenização por danos morais em virtude da violação ao direito ao esquecimento. (REsp. 1.334.097).

O direito ao esquecimento é o direito que o individuo possui de não permitir que um fato, ainda que verídico ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento, transtornos ou qualquer tipo de constrangimento ilegal.

28

27

SHREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade, Ed. São Paulo:Atlas, 2013, p. 170.

28 GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO,

Rodolfo. Novo curso de direito civil. Vol. 1 (parte

O direito ao esquecimento vem ganhando

espaço nos tribunais brasileiros a partir do

momento em que se realizou em Brasília no mês

de março a VI Jornada de Direito Civil de 2014.

Neste encontro foi publicado o enunciado 531

cujo conteúdo é:

“A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade de informação inclui o direito ao esquecimento”, ou seja, os danos provocados pelas novas tecnologias de informação acumulando nos dias atuais”.

O direito ao esquecimento tem sua origem

histórica no campo das condenações criminais.

Surge como parcela importante do direito do ex-

detento à ressocialização. Não atribui a ninguém

o direito de apagar fatos ou reescrever a própria

história, mas apenas assegurar a possibilidade de

discutir o uso que é dado aos pretéritos, mais

especificamente o modo e a finalidade com que

são lembrados.

Cabe ressaltar que o Superior Tribunal de

Justiça, tem por meio das jurisprudências

afirmado e reconhecido o direito ao esquecimento

daqueles que já cumpriram pena ou foram

absolvidos dos crimes praticados.

Vejamos assim, o entendimento do

Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVL-CONSTIUCIONAL. LIBERDAE DE IMPRENSA VS. DIREITOS DA PERSONALIDAE. LITÍGIO DE SOLUÇÃO TRANSVERSAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DOCUMENTÁRIO EXIBDO EM REDE NACIONAL. LINHA DIRETA-JUSTIÇA. SEQUÊNCIA DE HOMICÍDIOS CONHECIDA COMO CHACINA DA CANDELÁRIA. REPORTAGEM QUE REACENDE O TEMA TREZ ANOS DEPOIS DO FATO. VEICULAÇÃO INCONSENTIDA DE NOME IMAGEM DE INDICADO NOS CRIMES. ABSOLVIÇÃO POSTERIOR POR NEGATIVA DE AUTORIA. DIREITO AO ESQUECIMENTO DOS CONDENADOS QUE CUMPRIAM PENA E DOS ABSOLVIDOS. ACOLHIMENTO.

geral). 2ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Saraiva,

2002. p. 186.

.

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10

DECORÊNCIA DA PROTEÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DA DIGNIDAE DA PESSOA HUMANA E DAS LIMTAÇÕES POSITVADAS À ATIVDADE INFORMATIVA. PRESUNÇÃO LEGAL E CONSTIUCIONAL DE RESSOCIALIZAÇÃO DA PESSOA. PONDERAÇÃO DE VALORES. PRECEDENTES DE DIREITO COMPARADO.

29

É evidente que o Superior Tribunal de Justiça, compre seu papel, quando garante ao jurisdicionado esse direito e o reconhece.

7 Da jurisprudência

Já a Jurisprudência, segue o mesmo entendimento quanto ao cancelamento de dados e informações negativas contra um determinado individuo.

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO POLICIAL ARQUIVADO. ABSOLVIÇÃO. PROCESSO PENAL. CANCELAMENTO DE REGISTRO NA FOLHA DE ANTECEDENTES. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO.

1. O cancelamento dos dados nos terminais de identificação, relativos a inquérito arquivado e a processo penal em que o réu foi absolvido, é pura e legítima conseqüência da garantia constitucional da presunção de não culpabilidade.

2. Recurso provido.

(RMS 15.634/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 17/08/2006, DJ 05/02/2007, p. 379).

Já o caso de Aída Curi, a família requereu aplicação ao direito ao esquecimento, pagamento de danos morais e materiais e pelo uso indevido da imagem da falecida, porém a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, entendeu que não seria devida a

29

STJ:https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1

.2&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquis

aGenerica&num_registro=201201449107, acesso em

18 de out, 11:30hs.

indenização, considerando que, nesse caso, o crime em questão foi um fato histórico, de interesse público e que seria impossível contar esse crime sem mencionar o nome da vítima. Mesmo reconhecendo que a reportagem trouxe de volta antigos sentimentos de angústia, revolta e dor diante do crime atrás, a Turma que o tempo, que se encarregou de tirar da memória do povo, também fez o trabalho de abrandar seus efeitos sobre a honra e a dignidade dos familiares. (REsp 1.335.153).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DIREITO AO ESQUECIMENTO. RESPONSABILDAE CIVL. ALEGAÇÃO DE OMISSÕES E CONTRADIÇÕES NO ACÓRDÃO RECORIDO. INEXISTÊNCIA. MATÉRIAS EXAUSTIVAMENTE ANLISADAS. IMPROPRIEDAE DA VIA ELITA.

1. Descabe, em sede embargos de declaração, a rediscussão de matéria meritória exaustivamente analisada pelo acórdão embargado.

2. Eventual erro de fato cometido pelo acórdão estadual na apreciação da prova-cuja sanatória, por consequência, também demandaria reexame de provas sedo alicerce fático dos autos-não pode ser desconstituindo prévia de recurso especial (Súmula 7/STJ) ou, com muito mais razão, pela via dos embargos declaratórios, recurso esse de fundamentação vinculado e faixa devolutividade mais estreita ainda.

3 Embargos declaração rejeitados.30

Há um grande reconhecimento de que a

verdade é uma limitação à liberdade de informar.

Vale dizer que a liberdade de informação deve

sucumbir frente à notícia inverídica, sem ética e

moral como preceituam diversos precedentes da

nossa Corte Superior, sempre cuidando para que

o direito da personalidade e da dignidade sejam

respeitados.

30

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/med

iado/?componente=ATC&sequencial=36406252&num_

registro=201100574280&data=20140801&tipo=5&form

ato=PDF, acesso em: 18 out. 11:55hs.

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Segundo o Ministro o Luis Felipe Salomão do Superior Tribunal de Justiça, deve-se analisar se existe um interesse público atual na divulgação da informação. Se ainda persistir, não há que se falar em direito ao esquecimento, sendo lícita a publicidade da notícia. É o caso, por exemplo, de crimes genuinamente históricos, quando a narrativa desvinculada dos envolvidos se fizer impraticável.

Por outro lado, se não houver interesse público atual, a pessoa poderá exercer seu direito ao esquecimento, devendo ser impedidas notícias sobre o fato que já ficou no passado.

Conforme aduz, o Ministro Gilmar Ferreira Mendes do Superior Tribunal Federal quando visa a conciliação do direito ao esquecimento com o direito à informação. Segue-se o excerto para corroborar este entendimento:

“Se a pessoa deixou de atrair notoriedade,

desaparecendo o interesse público em torno dela,

merece ser deixada de lado, como desejar. Isso é

tanto mais verdade com relação, por exemplo, a

quem já cumpriu pena criminal e que precisa

reajustar-se à sociedade. Ele há de ter o direito a

não ver repassados ao público os fatos que o

levaram à penitenciária”.31

Apesar de ainda pouco difundido na doutrina e na jurisprudência, o tema vem ganhando cada vez mais espaço hodiernamente. De um lado está o direito ao esquecimento calcado em regras constitucionais, essencialmente no núcleo axiológico da dignidade da pessoa humana. Na outra face, encontra-se a liberdade de expressão e de imprensa, materializadas pela divulgação de informações, que, atualmente se dá de maneira frenética e ampla, haja vista o fenômeno da globalização e o enorme avanço da tecnologia.

O Enunciado n.º. 531, transcrito abaixo do

Conselho da Justiça Federal nos auxilia a compreender a dimensão do assunto. É mister realçar parte da justificativa de seu comando, por ser dotada de razoabilidade. Nesse sentido, insta salientar que o exercício do direito ao esquecimento não confere a ninguém a liberdade de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas assegura a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais

31

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio

Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de

Direito Constitucional. 1ª ed., São Paulo: Saraiva,

2007, p. 374.

especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados.

ENUNCIADO 531 – A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. Artigo: 11 do Código Civil.

Justificativa: Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação vêm-se acumulando nos dias atuais. O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge como parcela importante do direito do ex-detento em ressocialização. Não atribui a ninguém o direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mas especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados.

Importa frisar, ainda, o papel do Ministério

Público frente ao direito e liberdades em destaque. O Parquet, por ser considerado nos dias de hoje um verdadeiro agente de transformação social, atuará nas demandas que envolvem direito de personalidade e liberdade de expressão e informação como guardião do regime democrático, da ordem jurídica e dos interesses sociais.

8 Direito à informação, a viabilidade do direito ao esquecimento diante do mundo virtual

Acerca da proteção à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa, chega-se aqui a um ponto que talvez seja o mais importante a ser questionado quando se estuda o direito de ser esquecido. Se um indivíduo, em nome da dignidade da pessoa humana, tem o direito de não ter quaisquer fatos sob si divulgados, devido à passagem do tempo; se a pessoa pode legitimamente pretender ser “anônima” na sociedade, mesmo tendo participado em algum ponto de sua vida de um evento considerado de interesse público, significaria isso também dizer que essa pretensão, oponível a todos, gera uma obrigação de “esquecer”?

Porque embora pareça até certo ponto estranha a pergunta, está evidente que o direito de um corresponde à obrigação de outro, ainda que seja uma obrigação de não interferência.

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12

Logo, não basta apenas determinar se parece interessante que alguém possa querer ser apagado da história, mas importa também refletir se seria justo demandar de todos que convivam com aquela “lacuna” criada e que deixem de mencionar a participação daquela pessoa no evento que outrora fora comunicado como de interesse de todos.

É visível que não obstante aos Princípios Gerais do direito, há um que não se deve deixar de trazer ao contexto que é o Princípio da Proporcionalidade, ele tende a ser um instrumento importante e valioso por assegurar proteção dos direitos fundamentais e de interesse público.

Esse dispositivo tem sido utilizado pelos Tribunais Pátrio, justamente para solucionar conflitos e adequar medidas de intensa proteção de um direito violado, inclusive pela imprensa.

Nesse contexto, há o conhecido Princípio da Razoabilidade, muito utilizado pelo Órgãos de imprensa na divulgação de fatos que devem ser esquecidos em detrimento ao consagrado direito de esquecimento.

Consiste no ato de estabelecer as relações entre os diversos pontos preponderantes tendentes à realização de um juízo pela imprensa e o convencimento de que é essencial para a sociedade justamente pelo direito de informação.

32

Como explica o estudioso, João dos Passos Martins Neto:

“ter um direito em face de alguém é poder exigir dele uma determinada ação”, enquanto “ter um direito violado por alguém é ser vítima da adoção de uma ação que não corresponde à ação exigível”.

33

Porque embora pareça até certo ponto estranha a pergunta, está evidente que o direito de um correspondente à obrigação de outro, ainda que seja uma obrigação de não interferência.

32

CARNELUTTI, Francesco - Teoria Geral do Direito

- Tradução: Antônio Carlos Ferreira - São Paulos,

Ledus 1999.

33 Martins Neto, João dos Passos Direito

Fundamental é o Poder, 2008, p. 96.

Logo, não basta apenas determinar se

parece interessante que alguém possa querer ser

apagado da história, mas importa também refletir

se seria justo demandar de todos que convivam

com aquela “lacuna” criada e que deixem de

mencionar a participação daquela pessoa no

evento que outra fora comunicado como de

interesse de todos.

Vê-se o que diz o estudioso Alexy:

“O Princípio da Proporcionalidade pede colisão

relevantes aos direitos fundamentais com base na

tipologia da normas jurídicas, cujas espécies são

regras e princípios. Tal tipologia foi essencial para

a construção dos direitos fundamentais.”34

Já para o estudioso Huberto Ávila:

“A proporcionalidade somente é aplicável nos casos em que exista uma relação de causalidade entre um meio e um fim. Sua aplicabilidade está condicionada á existência de elementos específicos (meio e fim)”

Ao discorrer acerca do Princípio da

Proporcionalidade, é preciso levar em consideração o Princípio da Razoabilidade, a fim de dirimir lacunas existentes entre ambos princípios quando se tenta equilibrar divergências jurídicas sobre determinado caso a ser analisado ao haver discrepância na solução do conflito.

Para o estudioso, Alexy, Robert:

“Princípio da Reciprocidade” trabalhado por

Durkheim, no livro “A Divisão do Trabalho Social”,

que se encaixa perfeitamente na nossa

compreensão a respeito de razoabilidade. 35

Ao falar da reciprocidade, o doutrinador

demonstra haver um equilíbrio lógico entre os princípios. Faz-se necessário enfocar a observância da proporcionalidade e razoabilidade na solução do embate jurídico ao se referir a casos que envolvem o Direito ao Esquecimento.

34

ALEXY, Robert. El Concepto y La Validez Del Derecho y

Otros Ensayos. Barcelona: Gedisa, 1994, p. 21.

34 ALEXY, Robert. Constitucionalismo Discursivo. Tradução

de Afonso Heck. 2ª edição. Livraria do Advogado. Porto

Alegre. 2008, p. 9.

35 Ibidem, p. 9-10.

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13

9 Conclusão:

No decorrer deste artigo, fez-se um minucioso estudo acerca da fundamentação dos direitos da personalidade, visando à proteção de daqueles que esteja sob iminente perigo de sofrer qualquer tipo de violação por intermédio dos meios de comunicação convencionais ou virtuais. Percebe-se que o Poder Judiciário não aprecia de forma regular, necessária e obrigatória todas as publicações e se caso o fizer, fará de forma eventual ou por provocação do autor do direito tutelado.

Destaca-se ainda que a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu art. 5º, XXXV, não excluiu da apreciação do Poder Judiciário, qualquer lesão ou ameaça a direito. O controle judicial da liberdade de imprensa por meio da tutela inibitória, em tese, não se configura censura prévia, mas para que cumpra o seu papel constitucional deve atender a critérios de proporcionalidade sem que se aviltem os princípios democráticos, encravados em nossa carta Maior.

Dessa forma, o papel da proteção dos direitos de personalidade por parte do Judiciário é de suma importância, já que tem o objetivo de proteger tais direitos na sua forma específica, evitando-se a sua violação com a mera reparação em perdas e danos irreparáveis ao individuo.

Contudo, o magistrado deve nortear seus entendimentos e as suas convicções em decisões baseado em critérios claros e bem fundamentados, se possível utilizando-se dos métodos hermenêuticos de ponderação de interesses, visualizando o contexto social com arrimo e proporcionalidade na pacificação social, de forma a evitar arbitrariedades e restrição indevida de algum desses direitos fundamentais.

Sendo assim, conclui-se de maneira dedutiva, que o direito de personalidade e o da dignidade da pessoa humana, não fica obstante ao direito de esquecimento mediante o mundo globalizado da internet, devendo ser respeitado os preceitos fundamentais, entabulados na nossa carta Maior. Sendo importante, ressaltar que os pressupostos de que a tutela do direito à vida, a imagem independente de lesão a sua honra, privacidade ou à sua intimidade, devem ser respeitados de forma generalizada e sendo permitida a intervenção do Poder Judiciário para garantir esses direitos com a finalidade de manter a pacificação social.

Agradecimentos

A Deus, primeiramente, à minha família, à

minha orientadora, aos meus mestres e a todos os que contribuíram para a realização desta conquista.

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9. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 1334097∕ RJ. Min. Rel. Luis Felipe Salomão,

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10. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 1335153∕ RJ. Min. Rel. Luis Felipe Salomão,

julgado em: 28-05-13. Disponível em: www.stj.jus.br ∕ SCON ∕ jurisprudência ∕ toc.jsp? 11. BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Rio de Janeiro Zahar.1998.

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16. CARNELUTTI, Francesco - Teoria Geral do Direito - Tradução: Antônio Carlos Ferreira - São Paulos, Ledus

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