O discurso do combate às drogas e suas ideologias

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  • 1. O discurso do "combate s drogas" e suas ideologiasThe discourse of the "fight against drugs" and its ideologiesRichard Bucher*, Sandra R.M. Oliveira**BUCHER, R. & OLIVEIRA, S.R.M. O discurso do "combate s drogase suas ideologias. Rev. SadePblica, 28: 137-45, 1994. luz de consideraes cientficas sobre o abuso de drogas, discute-sea ideologia dos textos sobre drogas que seguem uma orientao moralista e repressora, a despeitodas condies scio-histricas do consumo. Colocam-se em foco os sentidos no-literais para situartais discursos no contexto da sua produo e para detectar neles formas de manuteno de poderpresentes nas relaes sociais. Utiliza-se a teoria da anlise do discurso como a metodologiaapropriada para se desvendar os indicadores da ideologia que impe aos textos sobre drogas umadeterminada modalidade. Os resultados revelam um discurso com propsitos claramentepersuasivos, direcionando e manipulando modos de ser e de ver na sociedade, deixando-seinterpretar como parte interessada em um pesado sistema de conformismo social. Conclui-se quea questo das drogas no tratada em si, mas enquanto mito construdo, usado para combatersrie de desvios da ordem social vigente.Descritores: Abuso de substncias, preveno. Linguagem. Autoritarismo.Consideraes sobre o discurso doem muitos pases, entre os quais o Brasil, so"combate s drogas"precisamente as substncias lcitas as mais con- sumidas e as mais fortes geradoras de abusos eEntre as diversas abordagens da "questo dependncias. Trata-se a de um fato epidemio-das drogas", nas sociedades modernas, destaca- lgico inconteste, a ser levado a srio diante dase aquela que enfatiza o "combate s drogas",distoro do fenmeno introduzida pela prega-apresentando-o como a nica maneira capaz de o tantas vezes piegas do "combate s drogas".enfrentar e erradicar o "grave flagelo". De ex-Opor-se a esta viso reducionista no signi-presso rigorosamente condenatria, caracteri- fica, no entanto, entregar-se apologia do con-za-se pela veemncia de uma argumentao sumo de substncias psicoativas, mas to so-mais emotiva e alarmista do que serena e obje- mente defender uma anlise objetiva e contex-tiva, mais sensacionalista do que cientfica, mais tualizada da situao das drogas em uma deter-moralista do que isenta de juzos valorativos. minada sociedade. No se trata, pois, da defesaDesta forma, incita a uma "cruzada anti-drogas", de uma posio extremista de "liberao decuja beligerncia encobre srie de fatores que,todas as drogas" para um consumo indiscrimina-de certo, contribuem decisivamente para a ex-do, mas do respeito por uma experincia huma-panso do fenmeno.na milenar, a ser examinada numa linha histri-Portanto, ao invs de analisar o consumo deco-antropolgica para que se torne possveldrogas em seus mltiplos determinantes paraapreender suas significaes modernas.chegar a propostas preventivas pertinentes eConstata-se, de fato, que a cegueira da po-prometedoras de eficcia, tal abordagem limita-sio repressiva radical traz mais estragos dose a preconizar uma represso implacvel, res- que benefcios, por fazer prevalecer uma visotringindo-se, desta forma, s drogas ilcitas. Ora,unidimensional, inapropriada para o trato do fenmeno em toda sua complexidade. As nume- rosas implicaes ideolgicas daquela viso no* Departamento de Psicologia Clnica da Universidadede Braslia - Braslia, DF - Brasil encontram o necessrio contra-peso atravs de**Bolsista junto ao Departamento de Psicologia Clnica anlises sociais profundas, pertinentes e abran-da Universidade de Braslia - Braslia, DF - Brasilgentes (Carlini - Cotrim & Pinski3, 1989).Separata/Reprints: R. Bucher - PCL-UnB - 70910-900 - Braslia,Abordar a "questo das drogas" no enfoqueDF - Brasilcombativo citado significa, ainda, no trat-la

2. como realidade a ser investigada, mas sim, trans- em pauta, incluindo a as repercusses no cam-form-la em mito fabricado para cumprir deter-po da sade pblica.minadas funes sociais. Espalhada no bojo daA aproximao d-se atravs do conceito"cruzada anti-drogas", lhe imputada nitida- de ideologia, enfatizada enquanto categoria ex-mente a funo de "bode expiatrio", fazendo-aplicativa do funcionamento dos discursos so-aparecer como responsvel por grande parteciais. Em face deste termo controverso e plur-dos revezes sociais; produz-se ento uma misti- voco, lanou-se mo do discernimento de pola-ficao, erigindo-se uma cortina de fumaa ao ridades positiva e negativa para incluir seusredor do pretendido "flagelo", o que impede seu inmeros significados em dois registros: o des-dimensionamento correto e averigvel, im-critivo e o crtico. O primeiro enfoque refere-seprescindvel para se ultrapassar o nvel de pre-a sistemas de pensamentos, crenas, valores ouconceitos, prejulgamentos e vises preconcebi-"cosmoviso"; por sua vez, o sentido crticodas, ou ainda, aquele de interpretaes unidire-aponta as idias e atitudes postas ao servio dacionais ou tendenciosas (Bucher 2 , 1992).sustentao das relaes assimtricas de poder, Qualquer discurso que enfoca questes so-da injustia social e da distribuio desigual deciais pode, conforme os seus efeitos de sentido,direitos e rendas.transformar ou manipular as representaes co- Exploram-se, assim, as relaes entre ideo-letivas com a finalidade de manter certas estru-logia e linguagem, ultrapassando a noo deturas de poder; da mesma forma, pode modifi-linguagem como sistema de comunicao parac-las, visando superao dessas mesmas es- correlacion-la com os fenmenos conflitantestruturas. Assim, adquirem identidade particu- da estruturao social da qual ela prpria fazlar, aparecendo como formaes que se defi- parte. Dessa maneira concebida, a linguagemnem pelos sentidos ideolgicos que reiteram e passa a ser definida como discurso, ou seja,que vo direcionar a sua funo enunciativa.como ato social ou ao que visa a produzirDesencadeadas a partir da interao de opinies efeitos (Fiorin5, 1990).diferentes sobre questes de interesse comum,Se e verdade que nenhum discurso escapatais formaes apresentam regularidades emdo envolvimento com a dimenso ideolgica,seu funcionamento que permitem interpret-las discernir os dois enfoques citados propicia umacomo parte de uma matriz ideolgica especfi- avaliao contingente dos efeitos de sentidoca, constituindo o que se denomina, em Anlisedominantes, permitindo compreender o alcan-do Discurso, de formao discursiva.ce de determinado fenmeno social, no caso, o Aplicando esta concepo discusso so- consumo de drogas. Assim, uma contextualiza-bre drogas, pode-se formular a hiptese segun-o desse consumo como fenmeno histricodo a qual determinados textos, ainda que pro- e antropologicamente situado permite apreen-duzidos em setores diferentes, constituem uma der descritivamente seus sistemas de valores,mesma formao discursiva, promovendo a cir-crenas e representaes populares, enquantoculao de uma srie de sentidos especficos. que uma anlise crtica das produes sobreEstes, no seu conjunto, incorporam toda uma drogas, proferidas por certas instncias de po-ideologia anti-drogas, plataforma para se divul-der ou de autoridade, permite detectar tendn-garem e implantarem medidas de controle da- cias, esforos e manipulaes para protegerqueles fenmenos de consumo considerados, determinadas relaes econmicas e polticasno referido prisma ideolgico, como socialmen-vigentes.te indesejveis e portanto, exigindo represso com este intuito de avaliao crtica que(Oliveira10 , 1992).textos representativos do discurso repressivo A partir dessas consideraes, prope-se sobre drogas foram analisados no presente tra-um recorte no extenso campo de produo balho. Ao visar as coeres institucionais quesobre drogas, submetendo anlise a forma- marcam tal produo discursiva, levantaram-seo discursiva do "combate", buscando com-questes vinculadas ao poder institucional, spreender os seus processos de significao eprticas repressivas, punitivas e assistenciaisa forma como influem na construo do senso em sade mental, aos jogos de interesses polti-comum do brasileiro a respeito da temticacos e econmicos no comrcio de drogas lcitas 3. (alm das ilcitas), ao papel do profissional nas curso (Foucault8 , 1971) expressam-se determi-reas de sade, educao, ao social, justia enadas condies scio-histricas que impreg-pesquisa cientfica.nam as formaes discursivas, enquanto con- Dentre as numerosas contradies poss-junto de regras limitadas no tempo e no espaoveis de se apontar na formao discursiva dae que definem as condies de exerccio da"cruzada anti-droga" destacaram-se certos funo enunciativa. Os discursos que reiterampressupostos inerentes sua vinculao com processos socialmente cristalizados podem seras estruturas sociais e de poder que as engen-apreendidos como partes de uma mesma ma-dram e que asseguram sua divulgao - pres- triz, determinando regularidades definidas pelasupostos esses detentoras de configuraesrelao que mantm com a ideologia.ideolgicas, cujos contornos mais precisosTais idias chaves servem para a compreen-tentou-se apreender.so da ideologia e das injunes de poder nodiscurso repressivo sobre drogas. Repertorian-do esse discurso no espao especfico onde seMtodo: Ideologia e anlise do discurso articulam linguagem e ideologia, possvel res-saltar os processos de significao que regem o Na investigao proposta, optou-se pelaimaginrio social sobre drogas no Brasil. ParaAnlise do Discurso como instrumento adequa-tanto, srie de caractersticas lingsticas relati-do para examinar a ligao entre a linguagemvas ao vocabulrio e gramtica so considera-apresentada e a ideologia subjacente. Sua meto- das marcas para o entendimento analtico dedologia permite explicitar os processos comu- tais processos. O presente trabalho, no entanto,nicativos construdos nos textos sobre drogas e no se limita anlise da superfcie lingstica,detectar intenes secretas ou interesses escu- mas examina tambm as propriedades discursi-sos em veicular idias condenatrias radicais,vas que se situam alm das marcas formais.por razes que ultrapassam os efeitos nefastosExaminando-se a relao do texto com odo consumo de drogas em si. discurso e com o contexto, atingem-se trs n- A Teoria do Discurso apia-se no conceitoveis de anlise, conforme trs nveis de organi-de linguagem como sendo a materialidade zao: a situao social do momento imediato,apropriada ideologia. Sistematizada inicial-a instituio social enquanto matriz do discur-mente por Pecheux12 , (1969), a Anlise doso, o nvel mais amplo da sociedade como umDiscurso, somada contribuio de autorestodo e das suas ideologias. O procedimentocomo Bakhtin 1 (1970),Foucault 7,8completo da anlise passa pelas etapas da des-(1969,1971), Ducrot , (1972) e Fairclough6,4crio, interpretao e explicao (segundo(1989), vem sendo amplamente utilizada para Fairclough6), abrangendo vocabulrio, gramti-trabalhar os sentidos no literais dos enuncia- ca e estrutura textual, visando a revelar tanto osdos, com base no reconhecimento da dimen- esquemas classificatrios quanto as combina-so scio-histrica da linguagem. es das formas lingsticas. Na sua origem, a Teoria da Anlise doNa anlise contextual do discurso repressi-Discurso, tal como idealizada por Pecheux 12 ,vo sobre drogas aparece como particularmenteaparece ligada dimenso poltico-ideolgica:relevante para a apreenso dos sentidos implci-suas premissas bsicas apoiam-se na concep- tos o exame dos pressupostos e dos subentendi-o da linguagem ter um modo de constitui-dos. Estes se deixam considerar como estrat-o profundamente histrico, no sendo pos- gias lingsticas e retricas para neutralizar pos-svel dissoci-lo do conjunto das prticas hu-sveis conseqncias de uma compreenso lite-manas. Por esta razo, saber quem fala, pararal dos atos da fala. Assim, querendo dizer maisquem fala, em que situao, de que lugar da do que se diz ou apagando sentidos pelo silen-sociedade, com que intento, so elementos deciamento de aspectos cruciais do consumo desuma importncia no processo comunicativo.drogas, possvel produzir representaes con- Na constituio dos significados manifes-venientes a uma determinada formao social. Otam-se as coeres ideolgicas que incidem so-no-dito, por exemplo, sob a vertente do impl-bre a linguagem. Nas chamadas ordens do dis-cito (diz "x" querendo dizer "y") e aquela do 4. anti-implcito (diz "x" querendo silenciar "y"),propiciar prazer, sensaes agradveis, facilida-pode determinar certas significaes ocultadasdes de comunicao e relaxamento.no discurso "oficial" (Orlandi4, 1990).8. Omisso ou descaso a respeito do uso e A fim de clarear a trama discursiva queabuso de medicamentos psicotrpicos e outrassustenta a idia do "combate s drogas" e apon- drogas lcitas.tar os elementos usados para dirigir a opinio 9. Crena na interveno herica e desinte-pblica rumo ao entendimento "certo" da ques- ressada que livrar a comunidade e o pas, defi-to, so colocadas na base da investigao per- nitivamente, das drogas.guntas como: que elementos so articulados 10. Recomendao de atividades religiosas,para se chegar a uma representao ideologica-morais, patriticas e esportivas como estrat-mente orientada da droga? que dados so silen-gias de preveno (ou mesmo como "vacinas").ciados, quais outros superdimensionados? que De acordo com a prevalncia desses temas,relaes de poder esto em jogo...? foram feitos cortes em trs instncias de produ-es discursivas: textos americanos divulgadosno Brasil, documentos oficiais brasileiros e tex-Material: Os textos analisadostos da imprensa brasileira. Os textos seleciona-dos para a anlise foram: Foi desenvolvida uma anlise prvia de umDocumentos de produo americana:conjunto de textos sobre drogas, lanando-se a) O Presidente Bush adverte estudantes sobremo de uma leitura assistemtica que acabouo consumo de drogas. Braslia, Embaixadadeterminando a composio do corpus. Os tex- Americana. Traduo do documento edita-tos foram selecionados pelas especificidades e do pelo USIS - United States Informationregularidades discursivas correspondendo sService, 1989;caractersticas da formao impregnada pelob) Escola sem drogas. Braslia, Embaixada Ame-Leitmotiv do "combate s drogas". Assim, a re- ricana. Traduo do documento editadocorrncia de determinadas particularidades lin-pelo US Department of Education, 1989;Documentao oficial brasileira:gusticas, retricas e temticas serviu para dife- c) PREVIDA - Programa de Preveno, Educa-renciar e agrupar os textos como partes de umo e Vida: subsdios para o educador. Bra-mesmo processo de divulgao ideolgica. slia, CONEN/DF, 1991; Na presente anlise destacaram-se as seguin-d) MURAD, J.E.: Como manter sua escola longetes caractersticas, induzindo escolha das unida-das drogas. Belo Horizonte, ABRAO/PRE-des de pesquisa e das categorias de referncia:VIDA*, 1989;1. Silenciamento acerca das questes so-Produo jornalstica:ciais que concorrem para os fenmenos de uso,e) Imprio do p. Jornal do Brasil, 26/02/92,abuso e dependncia de drogas. p. 10; 2. Desconsiderao da motivao do usu-f) Na carteira ao lado. VEJA, 27/03/91, p. 42-48.rio, da sua dimenso subjetiva. Com base na interpretao e explicao dos 3. Simplificao do fenmeno das drogas, elementos lingsticos, da estrutura argumenta-apontando elementos unidimensionais na etio-tiva e dos implcitos desses textos, foi possvellogia da dependncia. apreender os elementos cruciais da ideologia 4. Centralizao exclusiva no produto txi-que formenta a sua produo e os sustenta.co (ilcito). 5. Tratamento genrico dos efeitos daResultados da anlise: O "combate sdroga, pela lei do tudo ou nada, sem especifi-drogas" como construo ideolgicacao do produto, do padro de uso, da per-sonalidade e histria de vida do usurio, doOs resultados demonstram que h srie decontexto. regularidades discursivas comuns aos textos ana- 6. Associao dramtica freqente entredroga e sexo, droga e crime, droga e loucura, *ABRAO - Associao Comunitria de Pais e Mestresdroga e morte. para Preveno ao Abuso de Drogas. 7. Omisso do fato de que a droga podePREVIDA - Programa de Preveno, Educao e Vida. 5. lisados (e a muitos outros sobre o assunto, em to de autoridade, que fortalece o efeito persua-particular na imprensa cotidiana) que se ligam sivo na medida do prestgio que se associar aoentre si, cooperando na fixao de sentidoslugar de fala do orador - no caso, o Presidenteideologicamente comprometidos. Estes, pordos EUA.sua vez, propiciam prticas que atendem s Exercem tambm funo decisiva, poisnecessidades de controle social e de manuten-criam um "efeito verdade", os nmeros e oso de certos padres da ordem vigente.dados estatsticos freqentemente apresenta- Os textos remetem-nos a uma viso precon- dos sem citar a fonte. comum a referncia aceituosa, repressora e, por vezes, moralista,nmeros de grande porte, de forma a alarmarobtendo aceitao nos segmentos polticos emais do que informar, como ilustra o seguintepblicos que se destacam seja pelo desconheci- exemplo: "Pesquisas mostram que o uso demento do tema, seja pelas tendncias conserva- drogas entre as crianas dez vezes maisdoras ou anti-liberais. O autoritarismo e a mo-prevalente do que os pais suspeitam" (b, p.2).nossemia so marcas que direcionam suas ope- V-se, pois, mensagens que no tm porraes verbais, dirigidas aos leitores com obje- objetivo informar, mas convencer, limitando ativos claramente persuasivos, visando a exercerpossibilidade de elaborao de uma concepoinfluncia decisiva sobre as suas representaes prpria por parte do leitor. dessa forma que- como, de fato, qualquer discurso de propagan-se constri o discurso do consenso, pelo qualda ou de publicidade. As produes funcionam transmitem-se idias como partilhadas virtual-ento como cmplices nas explicaes e justi-mente por todos, investindo-as do papel de umficaes dessa viso preconcebida da questo axioma do qual no se pode (ou deve) duvidar.das drogas.Assim sendo, os textos induzem uma verdadeira Pode-se concluir que os textos analisados subordinao intelectual: o leitor mergulha nofazem parte de um grande conjunto denomina-movimento de "combate s drogas" sem se dardo formao discursiva anti-drogas. Enquanto conta, uma vez que este apresentado (se noentidade global, ela abstrata e inacessvel, mas apregoado) como nico caminho para enfren-se deixa conhecer atravs dos textos particula-tar e "resolver" a questo do consumo.res dando corpo material ao seu funcionamento. 2. O tom autoritrio e alarmista imprimido Enumeram-se, em seguida, os principaisaos textos que materializam o discurso em pau-efeitos de sentido construdos neste discurso, ta traz como resultado a idia de um saber nicodetectados pela anlise praticada. e exclusivo. A tendncia de se apresentar como1. Segundo sua retrica argumentativa, des-detentor da verdade est ento duplamente pre-taca-se como primeira funo a meta da persua- sente: pelo carter formal da produo masso. Termos expressivos e combinaes lin- tambm pela fora dos argumentos veiculados.gsticas diversas esto voltados para a constru-O discurso autoritrio o campo da certeza, doo de um sentido dominante. Palavras carrega- imperativo categrico que manifesta um saberdas de contedos ameaadores como sinistro,supremo, levando o interlocutor a aceit-loluta, guerra, esprio, crime, morte e outros, socomo verdade. Impede-se, por conseguinte, ausadas com freqncia, ajudando a construirexpanso de um pensamento mais crtico, sejaenunciados de teor passional, o que dificultaindividual, seja social ou comunitrio.uma avaliao sbria da problemtica. Uma das maneiras pelas quais os produtores Outros recursos, como a reiterao e ode textos conseguem impor os seus argumentosargumento de autoridade, capazes de promo- d-se com a utilizao de verbos como tenhover o discurso como consensual, colaboramencontrado, estou convencido, acredito, preci-para levar o sujeito a aderir concepo pro- samos, que exprimem uma atitude de convic-posta. Por exemplo, enunciados do tipo: "O o, marcando a posio autoritria do locutor.Presidente Bush deu uma lio aos estudantesRefora tal anlise a presena de termosnorte-americanos sobre responsabilidade ecomo trincheira, combate, perigoso, danoso,maturidade"(texto a, p.1), introduzem perso- insinuando guerra e sofrimento. Estas so asso-nagens importantes como estratgia de valo-ciadas s drogas para provocar um clima derizao da mensagem. o chamado argumen-repdio incondicional, subsidiando enuncia- 6. dos do tipo: "O consumo de drogas no um fato4. Uma outra idia chave diz respeito novo na histria da humanidade, atualmente ob- apresentao do cidado, em particular jovem,serva-se um incremento crescente do seu consu- como ser indefeso, necessitando de orientaomo, gerando grandes problemas sociais e de sa-e proteo: "O nosso papel fazer preveno ede como a violncia, a marginalidade, a prostitui- tentar ajudar os alunos que caem nessa" (f, p.46).o, a auto-destruio e morte", (c, p. 15). Ou ainda: "Precisamos continuar a propiciarO enunciado acima usa o recurso lingusti- apoio e orientao aos jovens para que faamco denominado de paralelismo, que repete escolhas ss." (b, p.VI). Enfatiza-se dessa forma ouma certa estrutura para reforar uma idia, relacionamento vertical (provedor/receptor) ouacentuando o seu efeito (a violncia, a margina- ainda paternalista, articulado perfeio com olidade, a prostituio, a auto-destruio e mor- modelo da sociedade disciplinar, cuja racionalida-te). Faz dessa forma emergir o sentido de que ade estimula o controle institucional, a relaodroga hoje o nico fator causal de problemas autoritria, o enquadramento dos indivduos semque, por outras razes, sempre estiveram pre-participao criativa, sem responsabilidade civil esentes na histria da humanidade.sem pensamento crtico.3. Uma das tcnicas fundamentais naNo pargrafo "Se as bocas funcionam nosconstruo do discurso anti-droga so os si- morros, administradas por traficantes que ater-lenciamentos, utilizados seja para omitir deli-rorizam comunidades indefesas, explorando eberadamente algo, seja para fala superficial-pervertendo menores, os consumidores prolife-mente de um fato que poderia enfraquecer a ram em todas as camadas sociais"(e, p. 10), v-seargumentao. Assim, fala-se muito da drogada mesma forma a construo de sujeitos sociaisilcita omitindo-se falar das drogas lcitas - asfrgeis, otrios ou vitimados. Note-se o vocbu-mais consumidas no mundo inteiro e as mais lo indefesas, modificando radicalmente o termoperniciosas para a sade pblica. Aplica-secomunidade, transmitindo a idia de inrcia,indiscriminadamente o termo droga, induzin-passividade, vulnerabilidade. Embora na pers-do o leitor a incluir nesta categoria apenas ospectiva sociolgica o termo comunidade carac-produtos ilcitos, pela associao permanenteterize um agrupamento com forte coeso afeti-com palavras como trfico, posse, busca, va, com capacidade de organizao ativa e trans-apreenso, aplicao da lei, notificao e ou- formadora, prevalece no texto o sentido detras, termos que excluem qualquer possibili- fragilidade e sujeio.dade de vnculo com a substncia alcolica ouInsistindo sobre a passividade como inevi-outro produto legalmente aceito. tvel - implicando em negar qualquer possibili-Assim, no enunciado: "(...) apelou paradade de autonomia pessoal - incentiva-se comoque tomassem parte na luta contra os narcti-efeito adicional toda uma desmobilizao so-cos" (a, p. 1), o termo luta, pela sua associaocial. como se, diante da "ameaa das drogas",com narcticos, faz referncia ao narcotrfi-o cidado, "por sua ingenuidade e incapacidadeco; somado ausncia de informaes sobre de defesa", precisasse da interveno regulado-contexto, tipo e padro de uso do produto, ra das autoridades benevolentes e "competen-determina a incluso de todas as drogas em tes". Desta forma, ilustra-se (e estimula-se) auma mesma categoria e reduz a uma nicalonga trajetria da submisso obediente s nor-forma de consumo toda a gama de possibilida- mas disciplinares, rumo construo de "cor-des de uso - desde o consumo ocasional oupos dceis" (Foucault 9 , 1975).recreativo at o dependente. 5. Outra caracterstica marcante dos textosEm que pesem referncias ocasionais ao analisados diz respeito quelas construes so-consumo de lcool, fumo, psicofrmacos e sol-bre drogas que as apresentam como um mal emventes, o efeito de sentido criado de que s a si, independentemente do uso que delas se faz,droga ilegal " problema". Transmitindo-se a das aes subjetivas e dos processos sociais.idia de que existem duas categorias de substn- Utilizando os recursos lingsticos de persona-cias, as perigosas (= ilegais) e outras benignas,lizao, nominalizao, metforas, apresen-beneficia-se implicitamente a indstria farma- tam-se os fenmenos como desvinculados decutica e o comrcio das substncias lcitas.outros fatores que intervm na dinmica dos 7. comportamentos de consumo. evitados os advrbios modalizadores possivel- Os enunciados abaixo exemplificam a per-mente, provavelmente, ou verbos no futuro dosonificao, figura de linguagem pela qual ospretrito, o que revela o postulado de uma visoseres inanimados agem como se fossem pessoas.transparente da realidade.Aplicada droga, empresta-lhe vida e ao, im-Prevalecem ento os verbos na forma pre-pedindo que fosse percebida como parte de um sente, atestando significados absolutos, verda-processo social: "As drogas ameaam a vida dedes incontestveis que no necessitam de inter-nossos filhos, causam ruptura em nossas escolaspretao: "O uso ocasional de drogas respon-e desagregam famlias" (b, p.41). Ou: "No existesvel pelas vtimas na guerra das drogas"(a,a escola onde a droga nao entra" (f, p.43).p.1); "as instituies, principalmente a famlia, Apaga-se assim a subordinao do consu- esto sofrendo uma de suas piores crises" (c,mo de drogas s dinmicas social e individual, p. 15); "o traficante est na sala de aula sentadonecessrias sua configurao como "proble- na carteira ao lado do estudante, a quem irma". Eventos sociais, historicidade, motivaesoferecer maconha ou cocana" (f, p.43).e decises pessoais so negligenciados em be-Com a separao maniqueista do mundonefcio de determinadas lgicas simplistas que,em dois blocos compactos e inconciliveis - o"inexistentes" por no serem diretamente ex- mundo dos bons e o mundo dos maus, aoplicitadas nos textos, no podem ser contesta- exemplo das fbulas de mocinhos e bandidos -dos - to pouco que as formas de controle social os autores de tais textos legitimam os prpriosque encetam. papis: protetores dos "bons cidados", cujos Na sociedade atual, a individualidade inco- comportamentos correspondem s expectati-moda. Desta forma, ela submetida a um meca-vas de "normalidade", e perseguidores dos "vi-nismo disciplinar que a vilipendia como "desviociados e traficantes" e outros desviantes deda norma", para que se possa assegurar a homo- normas, cujos comportamentos so incrimina-geneizao das multiplicidades humanas. Ne-dos de ameaarem a "ordem social".cessitando de um campo social homogneo, osVilipendiando representantes de diferen-poderes hegemnicos - polticos mas sobretudoas como desviantes, cria-se todo um sistema deeconmicos - no conseguem conviver com as acusao, podendo funcionar como estratgiadiferenas, marcando-as enfaticamente para po- valiosa para a manuteno de certos poderesder normatiz-las. Mas eis o paradoxo: com a discriminatrios. So acusaes que, uma vezcoero normalizadora, a diferena se acentuaformalizadas, implicam um elaborado ritual dee faz o sujeito aparecer como desviante (Ve- exorcizao - segundo o exemplo bem conhe-lho13, 1978).cido do bode expiatrio - envolvendo todo um 6. Outro sentido prevalente refere-se a uma aparato institucional respaldado pela lei, isto ,viso do mundo simplista e maniqueista. Seus pela possibilidade de coero e punio.autores, referenciados por ideologias represso-"Viciado", em particular, contm toda umaras e moralistas, enveredem ento com facilida-acusao moral que assume explicitamentede pelo campo do dogmatismo absoluto, con- uma dimenso policial e poltica. Implicitamen-siderando a verdade como propriedade pessoal.te, carrega uma acusao totalizadora pondo emUsam verbos na forma imperativa e termos dvida no apenas a cidadania, mas a prpriacomo jamais, nunca, que insinuam uma posio humanidade do usurio de drogas. Rotuladode certeza, de verdade, de supremacia das afir-como "maconheiro" ou "marginal", passa a sermaes expressas:visto como algum que atenta contra a moral e "Ensine aos seus filhos desde criana a dizer os bons costumes, mas tambm contra as pr-no" ... "Mostre-lhes que o uso de drogas prias instituies, o que faz dele um ser anti-so-perigoso"... "Jamais permitam que os filhos me-cial. Vtimas de uma tal estigmatizao, os dro-nores faam uso de bebidas alcolicas"(d, p.8).gaditos so considerados como "desviantes" e Tais enunciados ensinam e ordenam com transformam-se, a partir da, em excludos datamanha convico que no resta ao leitor se-convivncia social pacfica, em funo de prin-no acatar e submeter-se fora da argumenta- cpios rgidos, impostos, mantidos e manipula-o construda no texto. Simultaneamente, sodos ideologicamente. 8. Concluso: "Combate s drogas" paraposies radicais contra usurios e dependen-qu? tes. Atm-se, fundamentalmente, propagao de duas metas: por um lado, veicular explica-As anlises dos mecanismos de poder envol- es e recomendaes que garantam a adapta-vidos no discurso de "combate s drogas" indicam o dos cidados ordem social, concebidaformas de um processo disciplinar referentes a como entidade ahistrica, inquestionvel, imu-um contexto autoritrio, discriminatrio e re- tvel e ideal; por outro, a de prover interven-pressivo. Seus textos contribuem com o traba-es repressoras e punitivas que excluem olho poltico (seno policial) de sujeio do cida- sujeito diferente, apontado como uma ameaado a um determinado iderio de harmonia so- s instituies e sociedade como um todo.cial, ajudando a encobrir as contradies ineren- A dimenso ideolgica permeia o conjuntotes s sociedades modernas e sustentando rela- desses textos, vinculando suas formas e idias aes de fora estabelecidas entre certos grupossistemas de poder presentes nas relaes so-sociais. Ele contrasta em particular com a abor- ciais, necessitando de controles eficazes. Etica-dagem do "problema das drogas" que o situa nomente descompromissado com o ser humano embito da sade pblica, enquanto ameaa no sua existncia, constri um quadro de moralis- "ordem social", mas sade da populao nomo que se baseia na intolerncia quanto plu-sentido amplo, visando em particular os danosralidade das opes e vises; por no se fundarcausados pelos abusos de lcool e fumo.numa tica humanista, torna-se incapaz de ca-O discurso em pauta no se constitui, por- minhar em direo a valores representativos detanto, como uma simples idia, um conheci- liberdade e dignidade, esteios de uma convivn-mento objetivo e benfico ou uma ideal idade cia democrtica se no harmoniosa, pelo menosdiscursiva sobre drogas e seus inegveis malef- norteada pelos ideais de justia e respeito scios. Sua ao mais eficaz consiste no papel dediferenas.disciplinarizao das pessoas, na medida em O modelo repressivo apregoado pelo dis-que compactua com normas de conduta consti-curso anti-droga deve ser questionado no ape-tutivas de um amplo projeto normalizador das nas pela sua comprovada ineficcia em diminuirrelaes sociais. Apontando a possibilidade e ao consumo de drogas e em contribuir significa-ameaa de condutas desviantes, funda-se a pres-tivamente para resolver as questes de sadecrio normativa que desencadeia o controle, a pblica que levanta, mas por impor um sistemainterveno e a excluso.de interveno injusto e freqentemente desu-Reproduz-se assim, a cada instante, as con-mano. Obcecados pela idia de combater asdies de possibilidades de implantao, nadrogas ilcitas por mecanismos jurdicos e poli-sociedade, de uma estratgia de normalizao ciais - o que significa, de fato, reduo da pro-fundada numa razo aparentemente concreta eblemtica social e sanitarista do abuso de drogasirrefutvel: o indivduo social reduzido sua ao combate ao narcotrfico - os adeptos destecondio de usurio ou dependente de drogasdiscurso esquecem-se da dimenso humana,- reduzido, em suma, a ser um "viciado" em bem como da necessidade de modelos de pre-funo de um no conformismo qualquer. veno e tratamento que valorizem a vida e aDessa forma, as justificativas, explicaes, pessoa, dentro de um contexto abrangente derecomendaes e argumentos que o discursoecologia humana.de "combate s drogas" usa ou inventa paraEsquecem-se, ainda, de que no existe ne-desestimular o consumo, devem ser entendidos nhuma razo, nem filosfica, nem farmacolgi-menos em razo do prprio fenmeno e maisca, nem antropolgica, nem alopata, nem ho-em funo das estruturas de poder e do sistema meopata, de se posicionar "contra" as drogas,de normas dominantes que impem a suprema- visto que essas so neutras em si e que eventuaiscia da ordem moral, social e econmica vigente.problemas decorrem das condies de consu-Em suma, esta formao discursiva apre-mo adotadas por determinados sujeitos; esque-senta-se como uma abordagem unilateral e res-cem-se, afinal, que "ser do contra" raramentetritiva, de natureza persuasiva, que fortalece representa uma contribuio construtiva, mas sim, uma postura defensiva, em prol, por exem- 9. plo, mais do "status quo" do que das mudanasa moralistic and enforcement approach are analysedestruturais necessrias para que as sociedades from a scientific and public health point of view. A non-literal sense is brought out so that the discourse mayse tornem menos desequilibradas e injustas.be understood in its original context and its links with A idia do "contra" merece uma ltima an-the forms of power present in social relations. Thelise: at que ponto o discurso anti-droga notheory of discourse analysis is used as the appropriatesatisfaz a uma antiga, mas sempre viva necessi-methodology by which the ideological indicators thatdade dos detentores de poder, aquela de preci- impose on the texts on drugs a predetermined bias aresar de um inimigo - se no externo, entoto be found. The results clearly reveal a persuasive discourse that has the propose of directing andinterno sociedade...?Afinal, a atual onda de manipulating ways of being and seeing in society,intolerncia diante das drogas iniciou-se nosallowing the authors to be seen as interested parties inEstados Unidos aps a derrota no Vietnam,a heavy-handed system for the maintenance "of theonde os narcticos, em particular os opiceos, social status quo". The conclusion is that in these tests,tinham um papel no desprezvel, devidamente it is not really the drug question in itself that is dealt with,apontado pelos defensores da gloria militarbut rather a mythical construction, used do combat social deviation.americana. A potencialidade "explicativa" da in-culpao das substncias psicoativas ilcitas foiKeywords: Substance abuse, prevention and control.sem dvida realada com o desaparecimento do Language. Authoritarianism.grande inimigo externo, o comunismo e seuspoderes militares. O embate belicista deslocou-se, desde en- Referncias Bibliogrficasto, de preferncia para o plano do narcotrfi-co, inimigo econmico poderoso, bem organi-1. BAKHTIN, M. Problemas da potica de Dostoieviski. Rio de Janeiro, Forense - Universitria, 1981.zado e bem protegido, superado pelos merca-2. BUCIIER, R. Drogas e drogadio no Brasil. Portodos do petrleo e dos armamentos, mas capazAlegre, Altes Mdicas 1992.de desestabilizar as economias de mercado oci- 3. CARLINI-COTRIN, B. & PINSKI, I. Preveno ao abuso de drogas na escola: uma reviso da literatura inter-dentais pela instalao de poderes paralelos.nacional recente. Cad. Pesq, 69: 48-52, 1989.Esta nova vertente da ameaa s hegemonias 4. DUCROT, O. Princpios de semntica lingstica. Soestabelecidas no ocidente suscitou colossais es-Paulo, Cultrix, 1988 (Original: 1972). 5. FIORIN, J.L. Linguagem e ideologia. So Paulo, tica,tratgias de combate transferidas de outros 1990.campos de batalha - com certeza no pelo peri- 6. FAIRCLOUGH, N. Linguage and power. London, Loug-go das drogas em si, mas pelo envolvimentoman, 1989.macro-econmico que as caracteriza.7. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro,Forense-Universitria, 1987. (Original: 1969). Eis talvez um outro sentido, e no dos mais 8. FOUCAULT, M. Lordre du discours. Pars, Gallimard,inocentes, da dimenso ideolgica detectada no1971.discurso de combate s drogas. Pela sua preva- 9. FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrpolis, Vozes, 1988.(Original: 1975).lncia no setor das polticas pblicas, o ser10. OLIVEIRA, S.R.M. Ideologia no discurso sobre as drogas.humano mais uma vez sai perdendo, descartadoBraslia, 1992 [Dissertao de Mestrado - Universi-que diante de interesses apresentados comodade de Bralia]. 11. ORNALDI, E.P. Terra vista: discurso do confronto:superiores queles da sade pblica, seno velho e novo mundo. Campinas, Cortez, 1990.como "suprahumanos". Fica a questo, inquie- 12. PECIIEUX, M. Analyse automatique du discours. Paris,tante, de saber quem seria, afinal, o verdadeiroDunod , 1969.inimigo do homem - este sim a ser investido, no13. VELHO, G. Duas categorias de acusao na culturabrasileira contempornea. In: Figueira, S. coord.So-interesse da humanidade e dos direitos do ho- ciedade e doena mental. Rio de Janeiro, Campus,mem, como alvo de um combate mais nobre e 1978. p. 37-45.mais tico do que aquele dirigido, aparente-mente, s drogas e aos seus mitos. Recebido para publicao em 12.4.1993Reapresentado em 24. 11993 Aprovado para publicao em 7.3.1994BUCHER, R. & OLIVEIRA, S. R. M. [The discourse of the"fight against drugs" and its ideologies]. Rev. SadePblica, 28: 137-45, 1994. The ideological contents ofthe literature on drug consumption and addiction with