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1 O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO - UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ FEVEREIRO 2009

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O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO

PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE

DARCY RIBEIRO - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

FEVEREIRO 2009

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PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA

O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO

PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Cognição e Linguagem. Orientador: Prof. Dsc. Carlos Henrique Medeiros de Souza

CAMPOS DOS GOYTACAZES FEVEREIRO 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF

Oliveira, Paulo Cristovão da Silva. O divã virtual e a linguagem do atendimento psicanalítico on-line no

ciberespaço / Paulo Cristovão da Silva Oliveira -- Campos dos Goytacazes, RJ, 2009.

121 f. Orientador: Carlos Henrique Medeiros de Souza Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Universidade

Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do Homem, 2009.

Bibliografia: f. 112 – 121

1. Psicanálise. 2. Psicologia. 3. Linguagem. 4. Comunicação Digital. 5. Internet. I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências do Homem. II. Título.

CDD –

303.4833

048

003/2009

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O DIVÃ VIRTUAL E A LINGUAGEM DO ATENDIMENTO

PSICANALÍTICO ON-LINE NO CIBERESPAÇO

PAULO CRISTOVÃO DA SILVA OLIVEIRA

“Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Cognição e Linguagem”

Aprovada em: 11/02/2009 Comissão Examinadora: Prof. Dsc. Carlos Roberto Pires Campos Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo – CEFET - ES Prof. Dsc. Mário Galvão de Queirós Filho Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF

Prof. Dsc. Paulo Arthur Buchvitz - ISECENSA Institutos Superiores de Ensino do CENSA de Campos dos Goytacazes - RJ _______________________________________________________________ Prof. Dsc. Carlos Henrique Medeiros de Souza Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF

Orientador

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Caminho e caminho ao encontro do meu destino fugidio, e quem sabe, um dia, talvez, eu o encontre nas veredas de minha vida. Paulo Cristovão da Silva Oliveira

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HOMENAGENS

Aos meus pais, Nilton (in memorian) e Maria Elma, por terem me apontado um caminho para eu ser quem sou. As minhas irmãs Silvia Cristina e Clicia por serem as irmãs maravilhosas que são. As minhas Tias Hélia e Delma (in memorian). A todos meus amigos e familiares sempre presentes em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho contou com a ajuda e colaboração de várias pessoas. Externo aqui o meu profundo carinho por todos. Especialmente ao meu orientador Prof. Dsc. Carlos Henrique Medeiros de Souza, por sua orientação, parceria e investimento no tema ao qual me propus pesquisar. Ao Prof. Dsc. Sergio Arruda e a Prof. Dsc. Vera Deps pelas contribuições através das disciplinas ministradas. Ao Prof. Dsc. Dalton José Alves pelas contribuições na banca de qualificação e aos Professores Dsc. que contribuíram com sua participação na banca de defesa no mestrado A Universidade Estadual do Norte Fluminense, secretários e funcionários do programa de pós-graduação de Cognição e Linguagem em especial Ana Paula Caputo, Silvana Freitas, Gabriel Barreto e Luiz Alberto da Graça. Aos companheiros do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise: Valesca do Rosário Campista, Carmem Aguiar Cruz, Elizabeth Chacur Juliboni, Eleonora Chacur Naked, Denise Maciel Gondim, Germano Quintanilha Costa por tudo que compartilharam comigo. Aos amigos do curso de mestrado Conceição Campinho pela ajuda e contribuição na organização dos trabalhos de apresentação de minha qualificação e defesa de dissertação; Fernanda Castro, Rosiane Ribeiro, Rodrigo Montezano e Daniel Barreto por todos bons momentos vividos e compartilhados. Ao meu primo e amigo Erivelton Almeida, a amiga Lina Fregonassi pelas revisões ortográficas e semânticas e as amigas Aliete Lopes e Rose Nogueira pelas traduções em Francês e Inglês. Aos amigos e funcionários da Fundação Municipal da Infância e Juventude, especialmente Valéria Palhares, Patrícia Barreto, Nilza Gama, Teresa Melo e Carlos Magno Tavares. Aos profissionais psicanalistas e psicoterapeutas que colaboraram com a minha pesquisa e um agradecimento especial a: Fatima Siqueira Pessanha,Carmem Aguiar Cruz,Valesca do Rosário Campista,Luciano Alves de Freitas, Eleonora Chacur Naked, Rosemary dos Santos Peixoto, Maria Fernanda Teixeira Herig, Elizabeth Chacur Juliboni, Mario Bruno Hingst Manzolillo, Ana Paula Bessa Barbosa,Sheila da Silva Chagas, Mariangela Lopes Dias, Sandra da Silva Pessanha, Marcia Sant’Ana Aragão, Nathalia Costa Franco ao psicólogo e psicoterapeuta Marcio Roberto Regis, e a toda minha família e amigos que me deram força para a elaboração deste trabalho. Se alguém ficou esquecido peço desculpas.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar como a influência da Internet mudou a

forma de pensar o atendimento psicanalítico/psicoterapêutico, que até há pouco tempo

tinha atenção voltada aos consultórios em um ambiente concreto. Este trabalho

também procurou mostrar como um psicanalista se posiciona e intervém frente à queixa

de seu analisante e de que forma a relação analista/analisante se constitui. Para tanto,

foi necessário fazer um breve percurso de como a psicologia se tornou uma ciência

preocupada com as questões humanas e, posteriormente, com o advento da

psicanálise, como se deu a descoberta do inconsciente estruturado como linguagem.

Foram abordados os vários tipos de linguagem, os conceitos de virtual e ciberespaço, o

que é psicanálise e psicoterapia, as possibilidades destas ocorrerem num ambiente on-

line mediado pela Internet e de que forma este atendimento o correria diante das

especificidades da psicanálise e das psicoterapias. Como referencial teórico foram

utilizadas as contribuições de Freud, Lacan, Pierre Lévy e também de outros

profissionais com posicionamentos diversos em relação ao atendimento

psicanalítico/psicoterapêutico no ciberespaço.

PALAVRAS CHAVE: Psicologia – Linguagem - Novas Tecnologias – Psicanálise -

.Ambiente on-line.

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ABSTRACT

This task wants to analise how the Internet influence changed the way of thinking about

the psychoanalytic/psychotherapeutic attendance that newly it had its attention on the

offices itself. It also tried to show how the psychoanalyst position and interfere when

they face the patient´s complaint and how the relation psychoanalyst/patient is.

Therefore, it was necessary to remember how the psychoanalysis became a human

questions preoccupied science end, after that, with the psychoanalysis arrival, how the

unconscious was disclosure as a language. It was approached kind of languages such

as virtual and cyberspace concept, what psychoanalysis and psychotherapy are and the

possibilities of their occurrence in an ambience on-line mediated by the Internet and how

the attendance would happen facing the psychoanalysis and psychotherapies features.

Freud, Lacan, Pierre Lévy and other professionals contribution were used by theoretical

references with several positions related to Psychoanalytic/psychotherapist in

cyberspace.

Key words: Psychology - Language – New Technologies – Psychoanalysis – On-line ambience

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RÉSUMÉ

Ce travail a pour objectif d’analyser comment l’influence d’Internet a change la manière

de penser la pratique psychanalitique/psycothérapeutique, que jusqu’a peu, tournait

autour des cabinet conventionnels. Aussi, ce travail chercher à montrer comment um

psycanaliste se positionne face à plainte de l’analysant et de quelle forme la relation

analyste/analysant se constitue. À cette fin, Il a été nécessaire de tracer um bref

parcours sur comment la psychologie est devenue une science tournée vers les

questions humaines et, plus tard, avex l’avènement de la psychanalyse, sur comment a

eu lieu la découverte de l’inconscient structuré comme langage. Plusieurs types de

langages ont été abordes, les concepts de virtuel et de cyberespace, ce qu’est la

psychanalyse, le concept de transfer, les différences entre psychanalyse et

psychothérapie, les possibilites qu’ elles ont de se produire dans une ambience on-line,

par intermédiaire d’Internet et de quelle manierè cette pratique pourrait se faire devant

les spécificités de la psychanalyse et des psychothérapies. Comme référenciel

théorique ont été employées les contributions de Freud, Lacan, Pierre Lévy et aussi

d’autres professionnels avex des opinions diverses par rapport à la pratique

psychanalytique/psychothérapeutique dans Le cyberespace.

MOT CLÉS: Psychologie – Langage - Nouvelles Technologies – Psychanalyse - Ambiance on-line.

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ÍNDICE DE SIGLAS

CFP – Conselho Federal de Psicologia.......................................................................

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WWW – World Wide Web............................................................................................

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CRP – Conselho Federal de Psicologia.....................................................................

17

NTICs – Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação ................................

17

MIT – Instituto Tecnológico de Massachusetts............................................................

67

CHAT – Sala de Bate-Papo .......................................................................................

86

ICQ - "I seek you". É um programa de mensagens instantâneas que surgiu antes do MSN. Serve para enviar mensagens instantâneas para pessoas..........................

86

CNS – Conselho Nacional de Saúde .........................................................................

87

UNIPSICO – Cooperativa de Psicológos fundada em São Paulo em 13/11/1987 por psicólogos com o objetivo de prestar assistência psicológica para um maior número de usuários a custo de cooperativa.............................................................................

87

SPOB – Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil .................................................

89

ABP – Associação Brasileira de Psicanálise ..............................................................

89

IPA - International Psychoanalisys Association ..........................................................

89

CFEP – Corpo Freudiano Escola de Psicanálise.........................................................

89

ELF – Escola Letra Freudiana.....................................................................................

89

EBP – Escola Brasileira de Psicanálise.......................................................................

89

PL – Práxis Lacaniana ................................................................................................

89

FCCL – Formações Clínicas do Campo Lacaniano ....................................................

89

ATMC – Atendimento Mediado por Computado .........................................................

91

SBP – Sociedade Brasileira de Psicanálise................................................................. 91

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………... 14

2. UM RECORTE HISTÓRICO DA PSICOLOGIA .......................................

2.1. Os cosmólogos e o surgimento do universo e do ser no mundo ......

2.2. A filosofia a caminho da descoberta da psicologia ...........................

2.3. O pensamento cartesiano: o dualismo mente - corpo ......................

2.4. O nascimento da psicologia científica ...............................................

20

20

25

30

33

3. LINGUAGEM: A TRAJETÓRIA DA INSCRI ÇÃO DOS SUJEITOS ........

3.1. Língua e linguagem: uma tentativa de explicação ............................

3.2. Os estudos da língua e da linguagem ...............................................

3.3. O homem primitivo e o domínio da linguagem ..................................

3.4. O signo, o significado, o significante e a linguagem: conversas com

Lacan e Saussure ....................................................................................

40

41

43

45

48

4. LINGUAGEM E AS NOVAS TECNO LOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA

COMUNICAÇÃO ..........................................................................................

4.1. Pierce e Saussure: discutindo a linguagem ......................................

4.2. Linguagem e Internet ........................................................................

4.3. O conceito do que é virtual ...............................................................

4.4. Linguagem de computador X linguagem de programação ...............

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5. UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA PSICANÁLISE ............................

5.1. O conceito de transferência na psicanálise ......................................

5.2. A forma como trabalha um psicanalista ............................................

5.3. Algumas reflexões sobre psicanálise e psicoterapia ........................

69

72

77

80

6. REFLEXÕES SOBRE PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ON-LINE NO

CIBERESPAÇO ...........................................................................................

6.1. O espaço cibernético ........................................................................

6.2. Alguns posicionamentos de psicanalistas e psicoterapeutas sobre

o atendimento on-line no ciberespaço .............................................

86

92

94

7. CONCLUSÕES ........................................................................................

104

8. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................

112

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1. INTRODUÇÃO

O homem sempre buscou e tem buscado novas formas de amenizar suas dores

de existir, advinda do eterno vazio existente, em todos nós, que nos deixa sua marca.

Existem várias técnicas para lidar com essas dores e com este eterno vazio, incluindo-

se, aí, os vários tipos de crenças, rituais nos mais diversos atos e cultos religiosos,

entre outras práticas, que excluem o atendimento psicológico, como uma forma de

entender e amenizar os conflitos humanos.

Freud,em 1930, no seu famoso trabalho, “O Mal-estar na Civilização”, denunciou

a difícil relação do homem consigo mesmo e com o seu semelhante, e convocou os

psicanalistas a se ocuparem do mal-estar do homem no mundo civilizado e a se

interessarem pela subjetividade contemporânea, e por seu psiquismo.

O homem é um ser que sofre, que adoece psiquicamente e tenta, de alguma

forma, a livrar-se desse sofrimento, por isso, busca a “felicidade” de várias formas para

encontrar o “paraíso psíquico” e livrar-se das angústias cotidianas que levam à

formação dos sintomas, que, dependendo das condições de análise pode cristalizá-lo e

com isso manter o adoecimento psíquico, remetendo o analisante à manutenção de seu

sintoma.

Neste cenário de busca para “a felicidade humana”, alguns psicólogos,

acompanhando os avanços tecnológicos, criaram o atendimento psicológico

(psicanalítico e psicoterápico) on-line, virtual ou cibernético, como um instrumento para

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tratar o adoecimento psíquico, além de, aproveitar o acesso que a Internet propicia aos

mais diversificados tipos de usuários.

Apesar de o Conselho Federal de Psicologia (CFP), conforme a Resolução nº

012/2005, que regulamenta o atendimento psicoterapêutico e outros serviços

psicológicos mediados por computador, não reconhecer a eficácia da prática, defende

que ela pode ser utilizada em caráter experimental desde que não tenha função de

psicoterapia. Por essa razão, esta pesquisa torna-se relevante na medida em que,

busca estudar um tipo de atendimento que poderá acarretar conseqüências para as

vidas dos sujeitos.

Prado (2002) argumenta que a referida Resolução e a falta de pesquisas sobre o

atendimento mediado pela Internet não impediram que alguns psicólogos passassem a

lançar mão de tal modalidade de atendimento via Internet, o qual apresenta tendência

de crescimento com o passar do tempo, razão por que não pode ser ignorado.

Essa questão é atual, e ainda se faz necessário verificar cientificamente se há

possibilidades de se construírem subsídios teórico-científicos quanto à eficácia do

atendimento psicanalítico on-line, visto que a psicanálise de acordo com Lacan (1985) é

baseada em conceitos fundamentais, (Inconsciente, Pulsão, Repetição e a

Transferência a qual se baseará este trabalho) os quais numa análise psicanalítica on-

line possivelmente pode estar excluída. Ressalta-se que numa experiência analítica a

transferência é de fundamental importância no estabelecimento do vínculo

analista/analisante para que uma análise obtenha sucesso.

Nas décadas finisseculares do século XX, várias discussões ganham espaço

com o objetivo de pôr em reflexão a validade do atendimento psicoterápico, e

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psicanalítico on-line, os quais que já percorrem vários sites na Internet – a rede pública

composta por computadores do mundo todo, compartilhando enormes quantidades de

informações das mais diversas formas, hospedada num canto da internet chamado

WWW ou World Wide Web – onde, na maioria das páginas, são oferecidos diversos

recursos, incluindo-se os psicológicos (psicanalíticos e psicoterapêuticos) aos mais

variados tipos de clientela, com o intuito de resolver, solucionar, amenizar questões da

vida afetiva dos sujeitos, até então limitados aos consultórios convencionais de

psicanalistas e psicoterapeutas.

Por essa razão, considerando-se os avanços tecnológicos, principalmente no

mundo digital, propõe-se uma reflexão sobre a possibilidade de se articular a linguagem

da psicanálise tradicional à linguagem na modalidade on-line via Internet.

Os psicanalistas e psicoterapeutas on-line, mediados pela Internet têm, segundo

seus discursos, procurado oferecer esses recursos como uma forma de facilitar a vida

daqueles que desejam “curar-se”, apesar de admitirem, que alguns casos devem ser

tratados em consultórios convencionais, pois o atendimento psicoterápico on-line para

alguns casos não tem suporte que sustente um tratamento. Vale ressaltar que há uma

diferença entre psicanálise e psicoterapia, a qual será descrita neste trabalho.

Atualmente fazer um atendimento psicoterápico ou psicanalítico on-line é fácil,

basta procurar em qualquer site de busca na Internet, que serão oferecidos vários

serviços psicológicos, incluindo-se os psicanalíticos, como se fossem lojas virtuais que

disponibilizam seus produtos aos mais variados tipos de consumidores.

Segundo Prado (2002), a Internet configurava-se como uma oportunidade para

alguns psicólogos oferecerem seus conhecimentos aos consumidores que procuravam

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aconselhamento gratuito. Isto propiciou o início da terapia via Internet, como atividade

profissional, mesmo não havendo um respaldo ético e científico por parte dos

Conselhos Regionais de Psicologia (CRP) e CFP, os quais se pronunciaram contra

esse tipo de serviço.

Em razão desse conjunto de discussões, a pesquisa tomou como problema o

seguinte questionamento: em que medida é possível o atendimento psicanalítico no

ambiente on-line, virtual ou cibernético, mantendo o mesmo conceito de transferência

postulado pela psicanálise?

A hipótese: com o desenvolvimento das sociedades e com os avanços das

tecnologias e das formas de comunicação, muitas atividades profissionais poderão ser

desenvolvidas neste novo ambiente que está sendo constituído. Para tal é importante

observar se o conceito de transferência em psicanálise pode ser inserido no ambiente

on-line, virtual, cibernético.

Os objetivos desse estudo são: investigar sobre o conceito de linguagem no

contexto de estruturação do sujeito; analisar os conceitos de Novas Tecnologias da

Informação e da Comunicação (NTICs), ciberespaço e o que é virtual dentro do

conceito de linguagem; fazer uma pesquisa aberta e informal, através de diálogos, com

profissionais psicanalistas e psicoterapeutas sobre as possibilidades da psicanálise e

das psicoterapias ocorreram no ambiente da Internet.

A metodologia empregada neste estudo foi de acordo com o conceito de Gil

(1991 apud Silva e Menezes, 2001, p. 21). Trata-se de uma pesquisa exploratória,

visando oferecer uma maior familiaridade com o problema procurando explicitá-lo e

levantar hipóteses. Este tipo de pesquisa envolve levantamento bibliográfico.

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Ainda do ponto de vista de Gil (1991) o tratamento das informações foi de

natureza qualitativa e os procedimentos técnicos foram de uma pesquisa bibliográfica

(constituído principalmente de livros, artigos e pesquisa na Internet) elaborada a partir

de material já publicado; opiniões profissionais colhidas em artigos na Internet, contatos

informais, através de entrevista aberta com profissionais elencados na pesquisa e

materiais disponibilizados na Internet.

Esta dissertação de mestrado está dividida em 5 (cinco) partes: a 1ª parte fala do

nascimento da psicologia enquanto ciência. Para isto será necessário tratar das

inquietações que os homens sempre tiveram a respeito de si, do outro homem e do

mundo; uma breve trajetória do pensamento humano citando alguns filósofos

considerados cosmólogos, que tinham interesse de estudar a natureza do Universo;

filósofos que eram interessados em estudar a natureza humana e seu pensamento; os

fundadores da psicologia científica, culminando com o surgimento das principais teorias

psicológicas e sua evolução.

A 2ª parte trata do que é linguagem, do significado e sentido de linguagem para

autores como Freud, Lacan, Saussure, entre outros e a importância desta na

constituição do sujeito;

A 3ª parte trata dos tipos e formas de linguagem, mostrando os impasses

objetivando definir se existe um único conceito a respeito do que é linguagem, e o que é

linguagem como ferramenta das NTICs. Trataremos também sobre o que é

ciberespaço e o que é virtual, conceitos utilizados pelo filósofo Pierre Lévy.

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A 4ª parte trata do conceito de Psicanálise e Psicoterapia; o conceito de

transferência e contratransferência e a diferença entre psicanálise e psicoterapia de

acordo com Freud et al.

A 5ª parte trata de reflexões sobre psicanálise e psicoterapia on-line, no

ciberespaço, a linguagem no espaço cibernético e posicionamentos de psicanalistas e

psicoterapeutas sobre o atendimento psicanalítico e psicoterapêutico no ambiente on-

line, no ciberespaço e para finalizar as Conclusões.

É importante esclarecer que, neste trabalho, pretendemos apontar um breve

percurso da psicologia e os desdobramentos desta em teorias como a psicanálise por

exemplo, até chegar ao modelo on-line, o percurso do pensamento humano no que diz

respeito à Psicologia, Linguagem, as NTICs e os desdobramentos que tais avanços

vêm trazendo a prática profissional psicanalítica.

Ressaltamos que não pretendemos dissertar sobre os conceitos fundamentais da

psicanálise postulados por Freud e Lacan, mas procurar descrever a especificidade da

transferência no atendimento psicanalítico em um ambiente convencional e se esta é

diferente no atendimento psicanalítico no ambiente on-line, no ciberespaço.

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2. UM RECORTE DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

A humanidade sempre levantou várias questões em torno do mundo que a

rodeia, buscando respostas que lhe minimizassem suas dúvidas, angústias e

inquietações, a respeito de si mesma do próprio mundo e do universo. Para Heidbreder

(1981) a natureza não foi unicamente o objeto destas questões, em virtude do quê a

humanidade passou a refletir sobre si mesma e sobre a vida humana, sobre seu

comportamento, principalmente sobre as emoções, inquietações, sentimentos, e o

porquê do nascimento e da morte.

O fascínio do ser humano pelo seu comportamento fê-lo levantar questões, em

torno das condutas humanas, por meio da cosmologia e filosofia. Foram os filósofos,

que iniciaram a utilização de métodos que investigavam a natureza humana. Segundo

Schultz (2002), a psicologia é uma das mais antigas disciplinas acadêmicas e, ao

mesmo tempo, uma das mais novas.

A psicologia surge no final do século XIX, quando se adota o método científico

como uma forma de resolver suas questões e esta, como toda produção humana,

remete às necessidades de uma determinada cultura, de uma sociedade, para cuja

compreensão precisamos inteirar-nos dos diversos períodos da história da humanidade.

2.1. Os Cosmólogos e o do surgimento do universo e do ser no mundo

De acordo com Heidbreder (1981) um grupo de filósofos denominados

cosmólogos foram os primeiros a ter preocupação em responder às questões humanas

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para as quais buscavam respostas por meio do conhecimento do princípio natural do

Universo. A palavra Cosmologia vem do grego, e configura-se como o ramo da

astronomia que estuda a origem, estrutura e evolução do Universo a partir da aplicação

de métodos científicos.

Tales de Mileto foi o primeiro filósofo, considerado cosmólogo, de que se tem

notícia, marco inicial da filosofia ocidental. Apontado como um dos sete sábios da

Grécia Antiga foi, também, o primeiro filósofo da “physis” (natureza), porque outros,

depois dele, seguiram seu caminho buscando o princípio natural das coisas. Ele

considerou a água como a origem de todas as coisas e seus seguidores, embora

discordassem quanto à “substância primordial” (que constituía a essência do universo),

concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um ”princípio único” para

essa natureza primordial.

O esforço investigativo de Tales no sentido de descobrir uma unidade, que seria

a causa de todas as coisas, representa uma mudança de comportamento na atitude do

homem perante os cosmos, pois abandona as explicações teológicas até então

vigentes e busca, por meio da razão e da observação, um novo sentido para o universo.

Quando Tales disse que todas as coisas estão cheias de deuses, ou que o

magnetismo se deve à existência de “almas” dentro de certos minerais, ele não estava

invocando as palavras Deus e Alma, no sentido teológico como as conhecemos

atualmente, mas referindo intuitivamente a presença de fenômenos naturais inerentes à

própria matéria.

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Partindo das investigações de Tales, podemos dizer que a filosofia teve seu início

com ele, ao estabelecer a proposição de que a água é o absoluto, isto provoca o

primeiro distanciamento entre o pensamento racional e as percepções sensíveis.

Após Tales encontramos Anaxágoras de Clazômenas, filósofo grego do período

pré-socrático. Ele afirmava que o universo se constitui pela ação do “Nous”, conceito

que geralmente é traduzido por espírito, mente ou inteligência, e defendeu “a existência

de um número indefinido de elementos qualitativos diferentes” (HEIDBREDER, 1981,

p.30).

Para Anaxágoras a ordem do mundo deveria ser explicada, assim como todas as

partes que o constituíam e neste princípio ordenador ele encontrou no “Nous” , que

seria algo próximo à razão ou alma humana.

Segundo o filósofo, o “Nous” atua sobre uma mistura inicial formado de sementes

que contém uma porção de cada coisa. Assim, o “Nous”, que é ilimitado, autônomo e

não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo

o mundo sensível. É esta noção de causa inteligente que estabelece uma finalidade na

evolução universal e irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles.

Outro importante filósofo, considerado cosmólogo, foi Heráclito de Éfeso, um

filósofo pré-socrático que recebeu o cognome de "pai da dialética". Problematizava a

questão do devir (mudança, movimento) e recebeu a alcunha de "Obscuro", pois

desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos),

tinha, também, desprezo pelos poetas e pela religião. Sua alcunha derivou-se

principalmente devido ao livro (Sobre a Natureza ) que escreveu com um estilo obscuro,

próximo a sentenças oraculares.

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Na visão de Schultz (2002), os filósofos milesianos haviam percebido o

dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e

o perecimento, mas não chegaram a problematizar a questão. Heráclito, inserido dentro

do contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e nada pode

permanecer estático. Panta rhei, sua "máxima", significa "tudo flui", "tudo se move",

exceto o próprio movimento.

Heráclito exemplifica dizendo que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio,

porque, ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá, e

a pessoa mesma já será diferente de fato, a Biologia veio a descobrir muito mais tarde

que nossas células estão em constante renovação, e isso é uma mudança, um devir!

Mas tal questão é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O

devir, a mudança que acontece em todas as coisas, é sempre uma alternância entre

contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam, coisas úmidas secam,

coisas secas umedecem e assim por diante. A realidade acontece, então, não em uma

das alternativas, que são apenas parte da realidade, mas da mudança ou, como ele

chama, na guerra entre os opostos.

Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. Essa guerra da qual

fala Heráclito não tem conotação de violência ou algo semelhante. Tal guerra é que

permite a harmonia e mesmo a paz, já que assim é possível que os contrários possam

existir: A doença faz da saúde algo agradável e bom, ou seja, se não houvesse a

doença, não haveria porque valorizar-se a saúde, por exemplo.

Schultz (2002) comenta que inserido no contexto pré-socrático, Heráclito definiu,

partindo de seus pressupostos (o "panta rhei" e a guerra entre os contrários), uma

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arché, um princípio de todas as coisas: o fogo. Para ele, todas as coisas transformam-

se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas. De seus escritos restaram

poucos fragmentos, encontrados em obras posteriores, os quais geraram grande

número de obras explicativas.

Segundo Heráclito, o fogo é o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se

origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e, de

novo, é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem

pela eternidade. Condensado, o fogo se umidifica, e com mais consistência, torna-se

água, e esta, solidificando-se, transforma-se em terra e a partir daí, nascem todas as

coisas do mundo.

As especulações a cerca da origem de tudo no universo prosseguem com

Demócrito de Abdera, que foi tradicionalmente considerado, um filósofo pré-socrático.

Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista

doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento

ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis.

Segundo Schultz (2002) a fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o

maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o

que existe no universo é composto por elementos indivisíveis chamados átomos e é daí

que vem a palavra átomo, que, em grego, significa "a", negação e "tomo", divisível.

Átomo= indivisível.

Demócrito defende que o homem e o mundo eram compostos por átomos do

corpo e átomos da alma, ambos eram materiais, mas se diferiam por serem os átomos

da alma mais sutis e mais ativos.

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Heidbreder enfatiza:

[...] estes são pequenas partículas de matéria em movimento constante;

elas se movem de varias maneiras; é diferente em tamanho e forma,

porém movem-se de acordo com uma necessidade ou uma lei

(HEIDBREDER, 1981, p.29).

Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo e a

ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por

outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato

sistematizou o pensamento filosófico e a teoria atomista.

2.2. A filosofia a caminho da descoberta da psicolo gia

Bock (2002), ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, concebe que

como um corpo de conhecimentos que busca compreender a interioridade humana, a

psicologia nasce, e encontra seu apogeu, na Grécia Antiga com os filósofos e muito do

saber que temos hoje possui suas raízes nas culturas ocidentais antigas, sobretudo

com os gregos, considerando seus avanços na área da arquitetura, agricultura, física e

ciências políticas.

No antigo Egito e outras civilizações acreditava-se que a Terra fosse plana, e os

astros lâmpadas fixas numa abóbada móvel; em muitas civilizações existiam crenças

onde se acreditava que o Sol nascia a cada amanhecer para morrer ao anoitecer, o que

acabou por se tornar a base de muitas religiões antigas.

Os gregos, sobretudo os seguidores de Pitágoras, acreditavam que os corpos

celestes tinham seus movimentos regidos rigorosamente pelas leis naturais, na

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esfericidade da Terra e na harmonia dos mundos; já os seguidores de Aristóteles

consideravam a teoria geocêntrica, em que a Terra era o centro do universo.

[...] basicamente atentos para a estrutura da Natureza e seu

funcionamento e interessados em interpretar os fenômenos naturais em

termos racionais, os filósofos gregos identificaram que o conhecimento é

humano e que havia uma distinção entre o conhecimento adquirido

pelos sentidos e aqueles obtidos pela mente (LEMOS 2003, p. 2).

Os filósofos da Antiguidade Grega, Sócrates, Platão e Aristóteles influenciaram

enormemente o nascimento da psicologia, como campo do conhecimento

sistematizado. Alguns filósofos pensavam que a alma era “ar”, outros, que eram odores,

elementos vivificantes. Ressaltamos que a filosofia teve seu inicio a partir do

pensamento dos então chamados cosmólogos, considerados os filósofos da época.

Sócrates preocupava-se em definir as diferenças entre o homem e os animais e

postulou como sendo a razão a principal característica essencialmente humana, por

meio da qual o homem é capaz de dominar seus instintos, fonte de toda irracionalidade.

Sua preocupação fundamental era o limite que separava o homem do animal.

[...] ao definir a razão como peculiaridade do homem ou como essência

humana, Sócrates abre um caminho que seria muito explorado pela

psicologia. As teorias da consciência são de certa forma, frutos dessa

primeira sistematização na filosofia” (BOCK, 2002, p. 33).

Sócrates na tentativa de justificar seus conhecimentos, suas virtudes e

habilidades que eram atribuídas, conduzia seus discípulos à construção do saber por

meio do diálogo, pelo questionamento e proferiu o aforismo inscrito nas paredes do

templo de Apolo em Delfos: “conhece-te a ti mesmo”, remetendo-se à importância da

razão, elemento da essência humana, para fazer brotar os valores que os homens

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trazem em si e para a compreensão da realidade. Para Sócrates, a virtude era o

próprio resultado do conhecimento e o mal era basicamente a ignorância; acreditava

que a verdade estava implícita no intelecto humano a qual necessitava ser extraída e

purificada.

O método utilizado por Sócrates era a maiêutica, em que o conhecimento poderia

ser obtido por meio do conhecimento do seu próprio eu. Com isto direcionava o homem

como deveria proceder, em sua vida, uma vida de forma integral. Para Sócrates, a visão

de si mesmo é uma ilusão e o homem não sabe nada do que diz saber. O homem não

era visto com algo isolado, mas em uma permanente interelação entre os seus

semelhantes e o Estado. Nesse sentido, suas contribuições para a psicologia são

percebidas, sobretudo, no ramo cujo foco é o estudo da consciência.

[...] graças a Sócrates o objetivo da Filosofia deslocou-se do estudo dos

fenômenos naturais para o estudo da criação humana e da ética.

Naquele tempo, procurando explicações racionais para o mundo e seus

fenômenos, sem recorrer aos mitos e às religiões, os filósofos formaram

a ciência e a Medicina constitui-se ciência na época (LEMOS, 2003. p.

2).

Outro filósofo importante no trajeto histórico da constituição da psicologia como

ciência foi Platão, discípulo de Sócrates que retomou os estudos do mestre, sobretudo

sua teoria sobre a “idéia”.

Para explicar tal teoria, Platão elabora o “mito da caverna”, qual seja a percepção

que temos da vida é, na verdade, apenas imagem. Como se estivéssemos em uma

caverna observando as sombras que se formam em suas paredes. Atentos a essas

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imagens, somos incapazes de nos livrarmos da caverna e de sua falsa realidade.

Alcançarmos a realidade, ou conseguir sair da caverna, só seria possível pela razão.

Platão trouxe muitas contribuições para as ciências, desde a física à política, mas

foi no campo da fisiologia humana, preocupado em definir o lugar da razão em nosso

corpo, que postula que corpo e alma são duas instâncias humanas distintas, sendo que

a alma ficaria na cabeça e deveria comandar todas as outras funções humanas e “a

medula seria, portanto, o elemento de ligação da alma com o corpo” (BOCK, 2002, p.

33).

Platão concebia a alma como algo imortal e separada do corpo, com capacidade

de ocupar outro corpo quando a matéria (o corpo) de origem desaparecia com o óbito.

Estabeleceu, pela primeira vez, uma distinção definida entre mente e matéria e

acreditava que, vivendo pelo intelecto, o homem estaria exprimindo suas maiores

possibilidades. Para Platão, as idéias são manifestas pela razão e os objetos são

revelados pelos sentidos.

As idéias possuem uma perfeição e nunca são encontradas nas coisas concretas

e o objeto é uma substância por meio da qual as idéias se expressam, mas, devido a

sua natureza, torna impossível a perfeita expressão “porque impõe suas próprias

limitações sobre elas e as despoja de sua pureza” (HEIDBREDER, 1981, p. 34).

Platão classificou as forças humanas das mais elevadas às mais baixas e

descreveu que a razão residia na cabeça; a coragem no peito; os sentidos e os desejos

no abdômen. Essas forças eram como parte da alma, por isso utilizou o modo de

pensar que mais tarde seria denominado de faculdade psicológica. Reconheceu haver

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diferenças individuais entre os homens, ou seja, descobriu o ser humano como um

sujeito subjetivo e singular.

Discípulo de Platão, Aristóteles, foi um filósofo de grande influência no campo do

conhecimento científico. Em seus estudos, postula que toda ciência baseia-se na

definição e na demonstração. Considerado como um grande mestre da ciência antiga,

tratou de quase todos os problemas que ainda hoje nos ocupam. Sua contribuição foi

inovadora ao postular que alma e corpo não devem ser dissociados, por que a psyché é

o princípio ativo da vida, portanto tudo que tem vida possui uma alma racional com a

função de pensar.

A distinção de Aristóteles entre mente e matéria não foi a mesma de seu mestre

Platão. Seu pensamento foi dirigido para a matéria e forma interessando-se pelo

concreto e pelo real, não encontrando uma diferença marcante entre matéria e a forma

(mente) sendo que uma não podia viver sem a outra. A forma existia no objeto concreto

não como uma entidade separada. “A mente é forma potencial, o objeto real é a forma

utilizada na matéria, é a união de forma e matéria” (HEIDBREDER, 1981, p. 36).

Conforme Aristóteles, o corpo humano não é obstáculo, mas instrumento da alma

racional, que é a forma do corpo. Esse filósofo chegou a sistematizar seu estudo sobre

as diferenças entre as sensações, a percepção e a razão, em um tratado denominado

Da Anima, o qual pode ser considerado o primeiro em psicologia.

Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como o que vivificava a

vida. Como, porém, se realizava essa vivificação foi um problema que permaneceu tão

discutido quanto insolúvel. Os antigos filósofos gregos procuravam, antes de tudo, dar

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respostas aos problemas fundamentais acerca da natureza da alma, sua relação com o

corpo, seu destino depois da morte e a origem das idéias.

O pensamento filosófico do homem imprimiu uma marca que levou outros

filósofos de outras épocas se interessarem pelas questões do ser humano e seu

pensamento e entre esses destacou René Descartes que, no século XVII deu uma

grande contribuição, pois via a mente e o corpo como essências diferentes, mas

reconhecia a existência de uma interação entre ambos, e “alegava que a mente só tinha

uma função: a de pensar” (SCHULTZ, 2002, p. 41).

2.3 - O pensamento cartesiano: o dualismo mente-cor po

Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre

Protestantes e Católicos na Europa. Ele viajou muito e viu que sociedades diferentes

têm crenças diferentes, mesmo contraditórias. Aquilo que numa região é tido por

verdadeiro, é visto como ridículo, disparatado, mentira, nos outros lugares.

Descartes viu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição "cultural"

influenciam a forma como as pessoas pensam, aquilo em que acreditam e é

considerado o primeiro filósofo "moderno".

Para Lemos (2003) a contribuição de Descartes à epistemologia é essencial,

assim como às ciências naturais, por ter estabelecido um método que ajudou o seu

desenvolvimento. Descartes criou, em suas obras o Discurso sobre o Método e

Meditações - ambas escritas no vernáculo em Frances, ao invés do latim tradicional

dos trabalhos de filosofia - as bases da ciência contemporânea.

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O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - duvida-se de cada

idéia que pode ser duvidada. Para Descartes, nada existia que ele soubesse com

certeza, descobriu que podia duvidar de tudo que fosse possível e por em dúvida,

inclusive as maiores crenças do homem com a intenção de chegar ao evidente por si e

ao indubitável.

Entre suas descobertas, estavam a dúvida sobre a existência de Deus, do mundo

e a existência de seu próprio corpo. A única coisa do que Descartes não tinha dúvida

era que ele podia duvidar. Isso lhe dava a certeza que estava pensando, portanto ele

existia.

Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as

coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser.

Descartes institui a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser provado,

sendo o ato de duvidar indubitável. O método da dúvida foi baseado no racionalismo,

que foi descrito no Discours de La Metode de1673.

[...] pensei que tinha de rejeitar como absolutamente falso tudo o que

pudesse supor que levantava a mais pequena dúvida, para ver se

depois disso permanecia alguma coisa que pudesse considerar

inteiramente indubitável. Assim, considerando que os nossos sentidos

por vezes nos enganam, quis por a hipótese de que não existe nada que

corresponde àquilo que eles nos fazem imaginar. E como alguns

homens cometem erros no raciocínio - mesmo a respeito dos mais

simples assentos da Geometria – e se deixam cair em falácias, julguei-

me tão sujeito a cometer erros como outro qualquer e resolvi rejeitar

como pouco sólidos todos os raciocínios que até tinha tomado por

demonstrações [...] resolvi imaginar que tudo o que tinha entrado até

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então na minha cabeça não era mais verdadeiro do que as ilusões dos

meus sonhos” (DESCARTES it LEMOS, 2003, p. 5).

Descartes buscava provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é

sujeito de algo - cogito ego sum – penso, logo existo) e de Deus. Ao pronunciar a

assertiva “penso, logo existo”, que deveria ser traduzida como “penso, logo sou”.

[...] há uma razão de exatidão de língua e de tradução, dado que a

forma latina é sum – o verbo é ser – e a forma em Frances, língua de

descartes, é “Je pense donc Je suis”, e não “Je pense donc J’ existe”

(ELIA, 2004, p.12).

Descartes estava marcando o dualismo mente-corpo, sendo mente a instância

humana responsável pelo pensamento, que não possui materialidade, ao passo que o

corpo seria a substância material, sujeita às ações físicas, mecânicas e, portanto, o

corpo sem a mente é apenas matéria, mas a mente interage com o corpo sofrendo sua

influência por meio da ação, emoção e sensação.

O método também consistia na realização de quatro tarefas básicas: verificar se

existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;

analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades de composição

fundamentais, e estudar essas coisas mais simples que aparecem; sintetizar, ou seja,

agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; e enumerar todas

as conclusões e princípios utilizados a fim de manter a ordem do pensamento, o que

[...] contribuiu diretamente para a história da psicologia moderna mais do

que ninguém, ele libertou a pesquisa dos rígidos dogmas teológicos e

tradicionais que haviam controlado durante séculos (SCHULTZ, 2002, p.

38).

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Em relação à Ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que revolucionou o

mundo de sua época. Mantinha a crença, de que o universo era pleno e não poderia

haver vácuo. Descartes acreditava que a matéria não possuía qualidades inerentes,

mas era simplesmente o material bruto que ocupava o espaço. Ele dividia a realidade

em res cogitans (consciência, mente, coisa pensante) e res extensa (matéria).

Acreditava também que Deus criou o universo como um perfeito mecanismo de moção

vertical e que funcionava deterministicamente sem intervenção desde então.

Descartes sempre esteve preocupado com a res cogitans (coisa pensante) não

percebendo a necessidade de um interlocutor, ficando reduzidas as suas reflexões a

monólogos, não explicando de que maneira o ser humano poderia ter acesso a res

cogitans. Mesmo assim, sua doutrina tem sido objeto de estudo pelos filósofos,

fisiólogos e psicólogos e foram essas questões que impulsionaram o surgimento da

psicologia científica e posteriormente a psicologia moderna.

2.4 - O nascimento da psicologia científica

Com as novas exigências do mundo moderno, a psicologia precisava, para ter o

status de ciência, de um objeto de estudo definido e concreto, um corpo teórico que a

sustentasse e de procedimentos experimentais definidos, com o controle das variáveis.

Na medida em que a psicologia vai se libertando da filosofia atrai novos

estudiosos e pesquisadores que, voltados para uma nova ótica dos padrões de

conhecimento, passaram, segundo Bock (2002), definir seu objeto de estudo (o

comportamento, a vida psíquica, a consciência); a delimitar seu campo de estudo,

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diferenciando-o de outras áreas de conhecimento, como a Filosofia e Fisiologia; a

formular métodos de estudo desse objeto e a formular teorias enquanto um corpo

consistente de conhecimento na área da psicologia.

Heidbreder (1981) defende que, como marco inicial do período científico, poder-

se-ia fixar um entre dois momentos: a consagração do método experimental com o

procedimento possível e adequando à problemática psicológica, caso em que, Wilhem

Wundt, médico Alemão, seria seu iniciador, ou o uso sistemático do conceito de

comportamento como objeto da pesquisa e, nesse caso, está em evidência John B.

Watson.

A vida de Wundt e da Psicologia foram marcadas pela publicação do livro

Elementos de Psicologia Fisiológica e pela fundação, em Leipzig, do laboratório para

pesquisas psicológicas. Segundo Ray (2003), Wundt “na qualidade de fundador da

nova ciência da psicologia, é uma das mais importantes figuras do campo”, o qual não

só reuniu, mas classificou, e agrupou, os elementos da vida mental, e determinou seu

objeto e objetivo, enunciou seus princípios e os seus problemas, estabeleceu os

métodos de estudo e estruturou, e normatizou a psicologia.

A Psicologia deixa de ser o estudo da vida mental e da alma e passa a ser o

estudo da consciência ou dos fatos conscientes “sua concepção da consciência foi que

ela inclui muitas partes ou características distintas e pode ser estudada pelo método da

analise ou redução” (Schultz, 2002, p. 81) e assim, passa a ser estruturada e

sistematizada, a psicologia torna-se uma ciência autônoma, não mais um apêndice da

filosofia.

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Com a fundação do laboratório para pesquisas psicológicas, em 1879, Wundt,

veio complementar, e testar, tudo aquilo que havia dito no seu livro. Seu desafio foi

estudar os processos mentais por meio dos métodos experimentais e quantitativos que

eram pertinentes às outras ciências.

Utilizou-se da observação, da experimentação e da quantificação sem desprezar

a introspecção. Limitava a experimentação ao estudo dos conteúdos experimentais

básicos, como a sensação e a associação.

[...] a psicologia de Wundt é a ciência da experiência consciente, o

método psicológico deve envolver a observação dessa experiência. Só a

pessoa que tem experiência pode observá-la, razão por que o método

envolver a introspecção – o exame do próprio estado mental. Wundt a

denominava percepção interior (SCHULTZ, 2002, p. 82).

Wundt acreditava que a vida mental era fruto da experiência e não de idéias

inatas, e os fenômenos mentais do presente se baseavam em experiências passadas,

antecipando, de certa forma, o construtivismo.

Seu laboratório foi palco de muitas experiências de estudos das sensações e da

percepção, no qual foram medidas e classificadas as sensações no seu aspecto visual,

tátil, olfativo e sinestésico. Foram pesquisados, também, os sentimentos, a vontade e a

emoção, registrando-se as variações físicas como: da alteração da respiração, da

pulsação e dentre outros. Para Wundt, o objeto de estudo da psicologia era a

consciência e esta era:

[...] individual (e) totalmente incapaz de nos oferecer a história do

pensamento humano, pois ela está condicionada por uma história

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anterior, a respeito da qual ela não pode por si mesma, dar-nos nenhum

conhecimento (REY, 2003, p. 3).

Ele entendia a ciência como estudo da estrutura ou das funções detectáveis na

experiência interior, nos processos psíquicos da sensação, percepção, memória e

sentimentos. A essa concepção da psicologia opuseram-se os psicólogos científicos

posteriores, em particular os comportamentalistas, para os quais só pode haver ciência

a partir do que é externamente observável, no caso, o comportamento.

Ao procurar definir o objetivo da nova ciência, Wundt concluiu que o problema da

psicologia era tríplice e se constituía em: (1) analisar os processos conscientes; (2)

descobrir como esses elementos são sintetizados ou organizados; (3) determinar as leis

de conexão que governam a sua organização.

Sendo assim, uma das maneiras de classificar as especialidades em que se

dividiu a psicologia é segundo os conteúdos examinados por. As principais disciplinas

psicológicas seriam as psicologias da sensação, da percepção, da inteligência, da

motivação, da emoção, da vontade e da personalidade.

Outro psicólogo importante para a psicologia cientifica foi John B. Watson, que,

para suportar suas despesas pessoais, aceitou como trabalho a limpeza dos gabinetes

da Universidade, bem como a vigilância dos ratos brancos dos laboratórios de

Neurologia. Doutorou-se em Neuropsicologia, defendendo uma tese sobre a relação

entre o comportamento dos ratos brancos e o sistema nervoso central.

Watson, como professor de psicologia animal, desenvolveu investigações

fundamentalmente sobre o comportamento de ratos e macacos. São as suas

experiências com animais, controladas de forma rigorosa e objetiva, que lhe vão inspirar

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o modelo de psicologia. Os mesmos procedimentos poderão ser aplicados pelos

psicólogos se eles se debruçarem sobre o estudo do comportamento humano. Daí o

porquê de Watson assumir claramente a abolição da barreira entre a psicologia humana

e a psicologia animal.

[...] Watson afirmou que a psicologia devia restringir-se aos dados das

ciências naturais, ao que podia ser observado em outras palavras, ao

comportamento. Sendo assim somente os métodos de investigação que

eram completamente objetivos eram aceitos no laboratório

comportamentalista (SCHULTZ, 2002, p. 246).

Na década de 1910, John B. Watson lançou a corrente behaviorista, conhecida

nos dias atuais como terapia comportamental, considerada uma das três tendências

teóricas da psicologia neste século. Esta corrente propunha o estudo exclusivo do

comportamento, ou seja, aquilo que é observável na conduta humana. Segundo o

autor, seria cientificamente observável a ação de um estímulo sobre o organismo e a

reação deste em face do estímulo. A relação entre estímulo e a reação teria seu

protótipo nos reflexos condicionados e incondicionados.

Em 1918, Watson retomou a investigação, estudando a primeira infância, mas

um divórcio tumultuoso obrigou-o a abandonar a Universidade. Ingressou numa agência

de publicidade e dedicou-se paralelamente à divulgação das suas teorias junto de um

público mais amplo. Depois de aposentado, retomou as suas investigações em

psicologia.

Os métodos utilizados por Watson compreendiam: (1) a observação com ou sem

o uso de instrumentos; (2) os métodos de teste; (3) o método do relato verbal; (4) o

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método do reflexo condicionado. Watson opunha-se ao método introspectivo, por não

confiar na precisão deste por não ser objetivamente observado. Se os introspectores

não entravam em um consenso a respeito do que observavam como a psicologia

poderia progredir (REY, 2003).

Para Watson, a psicologia não devia ter em conta nenhum tipo de preocupação

introspectiva, filosófica ou motivacional, mas apenas os comportamentos objetivos,

concretos e observáveis.

[...] Watson só iria tratar de coisas tangíveis e discordava das

pretensões de relatos introspectivos sobre ocorrências no interior de um

organismo que podiam ser verificadas por uma observação

independente (SCHULTZ, 2002, p. 247).

A psicologia, portanto, no final do século XIX e início do século XX, se

caracteriza por ter incorporado os princípios legitimados pela sociedade da época,

sobre o que significava fazer ciência. Com isso, desvincula-se da filosofia e, define seu

objeto. O Comportamento delimita seu campo de abrangência e estabelece critérios

metodológicos de estudo, capazes de formular teorias fundamentadas e construir um

corpo teórico capaz de lhe sustentar como área de conhecimento científico. A

psicologia não mais divaga no mundo das idéias, como propunha a filosofia, mas

passar a, observava o comportamento humano e a controlar suas variáveis em

laboratórios.

Com base nesses critérios começam a se delinear, basicamente, três escolas em

psicologia que se sistematizaram em inúmeras teorias que existem nos dias atuais. O

Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo.

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Segundo Bock (2002) o Funcionalismo: inaugurado pelo americano William

James, define como objeto de estudo a consciência como elemento fundamental para

adaptação do homem ao meio, investiga, portanto o que os homens fazem e porque o

fazem.

O Estruturalismo foi cunhado pelo inglês Edward B. Titchner, mas foi Wundt que

fundou a segunda escola em Psicologia cujo objeto de estudo também é a consciência,

assim como no funcionalismo, mas sob seus aspectos estruturais, ou seja, os estados

elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso central.

Os teóricos, que representam o Associacionismo concebiam o processo de

aprendizagem como uma relação de associação de idéias e teve seu início com

Thorndike (1874-1949) que formulou a primeira teoria da aprendizagem na psicologia e

a “Lei do Efeito”, ou seja, todo organismo vivo tende a repetir um determinado

comportamento, por meio do reforço, quando recompensado ou inibi-lo se for castigado.

Neste caso, a recompensa e o castigo configuram-se como efeitos do comportamento.

Essas abordagens se desdobraram e se modificaram e no século XX a

psicologia toma corpo e se sistematiza em três escolas principais: A Gestalt; O

Comportamentalismo (Behaviorismo) e a Psicanálise, que se dedicam e se dedicam à

interpretação dos comportamentos, sentimentos, emoções humanas, ou seja, o

universo psíquico dos sujeitos, por meio de um tipo específico e característico de

linguagem por meio da qual “o sujeito” (o ser humano) se estrutura, se constitui, sendo

as duas primeiras abordagens pela via da linguagem do consciente e a última pela via

da linguagem do inconsciente.

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3 LINGUAGEM: A TRAJETÓRIA DA INSCRIÇÃO DOS SUJEITOS

Ao querer tratar do sentido, significado de linguagem faz-se necessário

aproximar-se de alguns conceitos que possam “dar conta” de um conceito “real”, se é

que se pode falar que este existe devido ao fato de os seres humanos estarem, ao

longo de suas existências, tentando aproximar-se dessas “funções enigmáticas”, nos

discursos de vários estudiosos e autores que tentam conceituar linguagem e colocá-la

em uma categoria que abarque um sentido, um conceito único do significado de

linguagem e com isso muitos desses pesquisadores parecem controversos em seus

conceitos sobre o que é linguagem, mas mesmo assim, procuram de alguma forma,

explicitá-los para que possam com isso dar um sentido ao mundo e aos sujeitos.

[...] linguagem é uma ferramenta social e as pessoas que usam

ferramentas geralmente não perdem tempo estudando as mesmas. Em

vez disso usam as ferramentas para criar outras coisas”. [...] a língua por

sua própria natureza envolve muito mais do que é possível a um homem

ou a um pequeno grupo de homens compreenderem: ela vem do

passado até o presente e continua até o futuro, e engloba milhões de

pessoas que nunca falarão diretamente um com o outro, mesmo se

compartilhassem o que se considera “a mesma língua” (SOUZA, 2005,

p.1).

Partindo deste pensamento, compreende-se que a língua e a linguagem têm um

código próprio para cada sujeito. Código este que representa o sujeito na sua relação

com outro sujeito e naquilo que o outro o endereça. Faz-se necessário, por

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conseguinte, interpretar este código, mesmo que esteja representado “numa mesma”

língua.

O universo do discurso da linguagem e da fala é uma característica

exclusivamente do ser humano e fundamental para que se possa compreender,

interpretar, (re) interpretar para tornar a interpretar o mundo, os sujeitos e as coisas,

com isso o homem é construído e constituído.

3.1. Língua e linguagem: uma tentativa de explicaçã o

O que significa linguagem e língua? Linguagem pode ser compreendida como

uma representação do pensamento que se utiliza sinais, os quais permitem a

comunicação e a interação entre as pessoas. Podendo, ainda, ser classificada como

verbal (aquela que tem por unidade a palavra) e não-verbal (aquela que representa

outros tipos de unidades, como gestos, o movimento, a escrita, a imagem e ainda o

inconsciente).

[...] a linguagem é uma atividade é um trabalho de homens, de sujeitos

que são histórica social e culturalmente situados e através desse

trabalho, dessa atividade, organizam, interpretam e dão forma as suas

experiências e a realidade em que vivem (ABAURRE, 2007, p.14).

Na tentativa de conceituar língua, esta é entendida como um código que dá

corpo e sentido à palavra, numa dimensão de ser um código formado por meio dos

quais as pessoas interagem.

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[...] língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta.

A linguagem humana é essa faculdade de poder construir mundos [...] a

linguagem dá ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar

realidades, de evocar realidades não presentes (FIORIN, 2003, p.71).

Dentro da língua pode-se encontrar variedades lingüísticas, que a língua

apresenta de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que

é utilizada. Dentre estas variações encontra-se a norma culta (sendo a língua padrão) e

a norma popular, variedade lingüística de maior prestígio social. Ressaltamos, contudo,

que esta última difere-se da língua padrão.

Em cada língua falada, escrita ou representada em outro contexto, deve-se

observar e compreender os signos que formam a língua obedecendo às regras de

organização combinatória oferecidas por esta.

[...], no entanto, é preciso lembrar que o desenvolvimento da linguagem

aconteceu ao que tudo indica no momento em que as relações sociais

entre os homens se tornaram mais complexas, sendo impossível

separar o indivíduo com suas capacidades físicas e biológicas de sua

relação com o contexto social do que faz parte. Essa nova abordagem

procura compreender o surgimento da linguagem em função da vida em

sociedade (FRANCHETTO e LEITE, 2004, p.40).

Segundo Lacan (apud Jorge, 2005) não é somente o homem que fala, mas essa

fala é no homem por meio do homem, pois se trata de uma função simbólica que é

caracterizada por “um princípio inconsciente único em torno do qual era possível

organizar a multiplicidade das situações particulares de cada sujeito”; “não seria

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possível a existência da linguagem, não fosse à existência dos sujeitos” (ABAURRE,

2007 p.16).

3.2. Os estudos da língua e da linguagem

O que existe no universo psíquico dos homens que o levam à necessidade de

falar, expressar suas opiniões, os seus sentidos em palavras? Qualquer ouvinte pode

compreender esta comunicação? Vale ressaltar que a criação do mundo ocorreu por

meio de uma atividade lingüística. Enfatiza-se que dentro do sistema da linguagem

existe a língua. Para Franchetto e Leite (2004) a palavra cria o mundo, são

construções dos homens e não uma imitação do objeto nomeado.

Segundo Braghirolli (2002) os estudos sobre a linguagem envolvem vários

campos do saber e sempre chamaram a atenção de vários pesquisadores nas suas

mais variadas atividades profissionais, entre eles psicólogos, médicos, filósofos,

sociólogos, antropólogos, professores, lingüistas, psicolingüistas, dentre outros. Todos

fascinados por este indecifrável conhecido/desconhecido. A linguagem exerce, e

sempre exerceu e exercerá um fascínio sobre os sujeitos, na medida em que, por meio

dela, que os sujeitos tentam dar sentido a tudo que pensam, sentem, vive e desejam.

A linguagem sempre esteve presente na vida dos sujeitos. Desde os primeiros

vestígios do homem na terra, estes têm marcas da existência de variadas formas de

linguagem através da qual buscava se comunicar, e se expressar. Mesmo quando o

homem ainda não fazia articulações em palavras a respeito de seus pensamentos, ela

já existia de forma rudimentar como uma necessidade de se comunicar e essa

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necessidade de comunicação ainda permanecem nas diversas formas de linguagem,

na representação das idéias, ações, desejos e aspirações.

[...] a motivação para a linguagem humana vem da necessidade de

comunicação, uma vez que os homens constituem uma sociedade e o

homem pode comunicar-se pelo movimento corporal (o gesto) ou pela

vocalização (a palavra). É a linguagem como convenção que distingui o

homem dos demais animais (FRANCHETTO e LEITE, 2004, p. 17).

A linguagem marca uma diferença entre os homens e os animais, apesar de

entre esses últimos terem um código de linguagem próprio de cada espécie. Os seres

humanos são os únicos a terem a capacidade de articular linguagem, de nomear as

coisas, de simbolizar, sendo estes instrumentos importantes em todas as formas de

comunicação.

[...] é precisamente essa faculdade de falar e de nomear que traça a

linha divisória entre humanos verdadeiros e animais verdadeiros. É

impossível se imaginar um ser superior ou um herói civilizador que não

seja dotado da mais importante faculdade do homem: a linguagem

(FRANCHETTO e LEITE, 2004, p.10).

É inegável que a linguagem é um atributo essencialmente humano, por esta ser

constituída por um conjunto de signos, símbolos, entre outras produções psíquicas por

meio das quais os seres humanos procuram dar sentido a ele próprio e ao mundo em

que ele vive e onde se insere e está inserido no universo do desejo. O ser humano só

se torna humano no momento em que ele é inserido no universo, no campo da

linguagem.

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3.3. O homem primitivo e o domínio da linguagem

Desde os homens primitivos, havia uma necessidade de uma tentativa de

comunicação. Pois estes tinham, um modo próprio de expressar símbolos e signos para

dar sentido, significações e significados as suas idéias, por meio das quais o homem

primitivo conseguia "falar”, “comunicar” a sua realidade a outro homem, ou seja: “em si

mesmos, estes símbolos, signos já envolviam um caráter comunicativo”.

(BRAGHIROLLI, 1994, p.39)

A aquisição da linguagem significa saber falar uma língua, significa saber os

“sons” que fazem parte dela e os que não fazem. Saber uma língua é saber como

relacionar esses “sons”, significados e significantes.

[...] a linguagem humana é um termo entre o eu e o outro. Entre o sujeito

que fala e o seu ouvinte existe um anteparo uma proteção, uma espécie

de muralha que se ergue, mesmo quando há silêncio. Entre dois seres

humanos existe sempre a marulha da linguagem (LONGO, 2006, p 7 ).

Para Longo (2006), essa muralha leva os sujeitos a darem um sentido aos seus

discursos e do outro sujeito o que possibilita a estruturação de seus universos

psíquicos.

[...] não há no mundo quem não participe da linguagem: a realidade se

expressa na palavra e só existe na medida em que se possa dizê-la. A

linguagem tem existência dinâmica, está em permanente processo de

criação por sua multidão de falantes – as forças vivas dos sujeitos que

reagem contra a coisificação da linguagem. Essas forças não estão

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presentes apenas nos poetas, estão enraizados nas falas de todos

(LONGO, 2006, p 7).

Para Lacan (1960) entender a linguagem do inconsciente só é possível

associando o sentido de um significante a outro significante no discurso do sujeito,

discurso por meio dos quais o sujeito se constitui enquanto sujeito. O conceito de

sujeito é introduzido na psicanálise por Lacan. Para Elia (2004) o sujeito se constitui,

não nasce e não se desenvolve isto é uma aquisição e esta é marcada pela entrada do

sujeito no universo da linguagem, das representações.

Quando Lacan (1960) introduz o conceito de sujeito na psicanálise quer dizer

que na linguagem existe um sujeito o qual procuramos compreender, decifrar por meio

de seus discursos e assim somos marcados pelo significante e pela linguagem.

A visão de linguagem para Saussure (1997) é a social e abstrata, e a postula

como um sistema estável e imutável de elementos lingüísticos a eles mesmos que pré-

existem ao indivíduo falante, a quem não resta alternativa a não ser o de reproduzi-los.

Para Saussure os elementos lingüísticos são objetivos, sem envolvimento ideológico e

a sentença é sua unidade preferida de análise.

Para Garcia-Roza (1984) o conceito de signo em Pierce é social, mas cada

sujeito tem uma forma particular de interpretar o signo. Peirce denomina a esta

interpretação como “interpretante”. Segundo este autor, cada signo tem uma referência

comum em todos os sujeitos de uma determinada comunidade lingüística, por outra via,

cada sujeito dará um sentido particular devido à capacidade de simbolizar.

[...] os fenômenos simbólicos, como os da linguagem, são fundamentais

à vida do espírito e estão relacionados ao inconsciente – a

extraordinária revelação de Freud... por meio dela, podemos dotar de

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significação o mundo e a natureza, ambos de existência enigmática e

absurda, pois não são criações humanas (LONGO, 2006, p 7).

Do ponto de vista de Peirce, a noção de interpretante do signo mostra que

embora seja subordinado a uma idéia geral, social, cada significado (sentido) de um

signo diferencia-se de indivíduo para indivíduo.

Apesar de já existir uma forma de comunicação na época do homem primitivo,

esta por si só não satisfazia aos anseios humanos, desenvolvendo-se, assim, uma

“nova tecnologia na comunicação” em virtude do avanço na linguagem humana: a fala,

por meio da qual a linguagem se manifesta e os sujeitos podem revelar o seu universo

psíquico.

Uma questão podemos levantar: os seres humanos vivem e viverão eternamente

essa era de novas tecnologias? Se observarmos, o homem primitivo será possível

percebermos que essas “novas tecnologias” sempre existiram e o homem tem

alcançado, desde os tempos das cavernas, grandes saltos no processo comunicativo.

O homem das cavernas “levou” os símbolos do interior das cavernas através dos

quais “projetou” sua vida psíquica e cotidiana, para a emissão de sons até chegar à

articulação destes, mediante a fala representada pela palavra. Com isso, deu-se o

aparecimento da linguagem falada, uma nova tecnologia como forma de comunicação

que vem desde os tempos remotos, provocando o avanço destas, com a inclusão da

linguagem como nova forma de expressão.

O homem tinha e tem a necessidade de endereçar algo a outro homem, sendo

assim, “quando um homem fala com o outro, o faz para que possa ser entendido; e o

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fim da fala implica que estes sons, como marcas, devem tornar conhecidas suas idéias

ao ouvinte”. (BRAGHIROLLI, 1994, p.39)

A língua é por assim dizer o espelho, é o reflexo da linguagem que, por sua vez,

tem um caráter subjetivo, singular com códigos próprios, por meio dos quais os seres

humanos construíram e procuram construir, construir-se e constituir-se enquanto

sujeitos. O homem é criador de códigos, ao mesmo tempo em que é ele mesmo

constituído de códigos. Com a “criação” da “linguagem falada”, o homem constrói o

mundo, pois a partir desse momento é criada uma nova estrutura organizacional,

formando-se assim uma nova cultura, uma nova sociedade, uma nova tecnologia na

comunicação.

O homem por meio da língua dá um novo sentido ao que nele sempre existiu: a

linguagem. Segundo Saussure (1997), a língua não se confunde com a linguagem por

ser uma parte determinada, essencial dela, “... é ao mesmo tempo um produto social da

faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo

corpo social para permitir o exercício desta faculdade nos indivíduos.” (SAUSSURE,

1997, p.17).

3.4. O signo, o significado, o significante e a lin guagem: conversas com Lacan e

Saussure

Os seres humanos sempre foram e sempre serão objetos de estudos no universo

dos mais variados pesquisadores, principalmente os psicólogos, psicanalistas e

lingüistas, que procuram entender os sujeitos nas diversas formas de discurso que

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estes possuem. É por meio desse discurso que percebemos a condição complexa do

sujeito, na medida em que o homem se apresenta como um ser dialético. Daí o grande

interesse pelos estudos da linguagem e de que forma ela está articulada aos sujeitos

humanos.

[...] a linguagem é multiforme e heteróclita, pertence tanto ao domínio

individual quanto ao social; não se deixa classificar em nenhuma

categoria dos fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua

unidade. Não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade

de constituir uma língua, ou seja, a língua é um produto social da

faculdade da linguagem. Já a fala (discurso), , ao contrário, é individual

e voluntária (LONGO, 2006, p 31).

Se a psicologia e os lingüistas querem entender o homem, necessita entender a

sua linguagem que precisa ser interpretada por ser simbólica e fazendo-se, assim, do

homem um ser simbólico e a função do símbolo é representar a coisa ou pessoa. O

símbolo não é a coisa ou a pessoa representada ele é um representante da coisa

ausente.

[...] entre as precondições para a existência de uma faculdade humana

de linguagem estão às capacidades de classificar ou categorizar o

mundo, de simbolizar e de fazer hipóteses sobre o estado mental do

outro (FRANCHETTO e LEITE, 2004, p 41).

Se a linguagem é simbólica e o homem sendo portador dessa também é

simbólico, por ser singular e possuidor de subjetividade, existiriam então vários tipos de

linguagem? O homem possui uma língua, a falada, e sua linguagem vai ser entendida,

interpretada pelo outro homem por meio das interpretações de seus signos e símbolos,

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peculiares em cada tipo de língua e de sujeito, e de acordo com o sentido que este dá a

sua fala, que vem carregada de significados e significantes.

Saussure (apud Carvalho, 2000) concebe a língua como um sistema de signo

que, por si só, dá conta da significação. Ao conceituar o que é signo, ele deixa marcada

a distinção entre entidades psíquicas (que constituíram os signos) e físicas (que lhes

eram estranhas). Os termos que estão implicados nos signos lingüísticos estão na

ordem do psíquico, unidos no cérebro através de um vínculo associativo.

Na opinião de Carvalho (2000), o signo lingüístico em Saussure é definido como

a combinação do conceito e da imagem acústica sendo esses dois últimos substituídos

por significante e significado. Em sua teoria, enfatizou o estudo da linguagem em duas

vertentes, a linguagem sincrônica que é limitada a examinar uma linguagem num

determinado período de existência e a linguagem diacrônica que examina o estudo

histórico do desenvolvimento da linguagem ao longo de sua existência. Um signo é a

unidade básica da língua. Toda língua é um sistema completo de signos. A fala (parole

em francês, speech em inglês) é uma manifestação externa da língua.

[...] Lacan recorre à categoria de significante – imagem acústica, para

Saussure, à qual se associa um conceito (idéia), como significado, na

constituição do signo lingüístico. [...] Lacan subverte essa associação

significante/significado, conferindo ao primeiro (o significado) na

produção do segundo: o significante prevalece sobre o significado, que

lhe é secundário, e se produz somente a partir da articulação entre os

significantes (ELIAS, 2004, p. 37).

Lacan (apud Jorge, 2005) parte do princípio que a linguagem e o simbólico

determinam os sujeitos mesmo antes do nascimento. Os sujeitos nascem marcados por

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discursos, através dos quais se inscrevem as fantasias dos progenitores, da cultura, da

classe social, a língua, a época, dentre outros, constituindo-se, assim, o campo do

Outro (com o maiúsculo por ser pertencente ao outro imaginário que os sujeitos

constroem em relação à imagem que têm do outro sujeito), e é neste campo que se

forma, se constroem, se constituem os sujeitos.

Com Freud (1915) temos a revelação do inconsciente caindo por terra à crença

do sujeito centrado na consciência. O Eu está assujeitado a força do inconsciente o

qual determina a forma, o modo de existência da espécie humana.

Segundo Jorge (2005), Lacan desenvolveu a lógica do significante para construir

uma teoria sobre a relação entre inconsciente e linguagem. O significante é uma

unidade mínima do simbólico e não surge isolado, estando sempre articulado a outros

significantes. A significação é produzida pela articulação entre os significantes,

formando-se assim, uma cadeia por meio da qual os sujeitos produzem um sentido.

Freud destaca em “Os chistes e suas relações com o inconsciente ” (1905) e

“A psicopatologia da vida cotidiana ” (1901) respectivamente, as palavras são

materiais plásticos e sonoros que, muitas vezes, perdem seus significados ligados ao

código da língua, ganhando novas significações, e o inconsciente não leva em conta o

significado ou os limites acústicos das sílabas.

Para a psicanálise, o que torna o homem diferente das outras espécies é o

simples fato de termos uma linguagem, com seus códigos e símbolos, que são produtos

da razão. Segundo Lima (2006), o que a psicanálise analisa é o sujeito psíquico: aquele

que atribui significado a seu corpo e a seus órgãos, a depender de suas representações

a respeito de si. O homem só se torna homem no momento em que ele é inserido no

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mundo da linguagem, no mundo do simbólico por meio do qual ele passará a ser uma

representação para outro sujeito.

[...] a linguagem e a psicanálise são domínios tão contíguos que não é

tarefa simples estabelecer um limite entre os dois campos separados

pela mais porosa das fronteiras. A passagem de uma para a outra está

sempre aberta, basta seguir as fendas do caminho (LONGO, 2006, p. 7).

Na visão de Santuário (2005), o sujeito enquanto ser simbólico se expressa pela

linguagem existente na fala; por meio da falta inerente a todos os sujeitos; e ao

manifestar suas representações simbólicas, imaginárias e reais. Dessa maneira o

sujeito fica capturado nas malhas de uma báscula eterna entre linguagem e desejo.

[...] a partir da compreensão de que o ser humano situa-se para além do

real que lhe é biologicamente natural, no sentido de que o humano para

constituir-se como tal, deve ocupar um topo subversivo para além da

plataforma, do ancoradouro biológico, e passar a habitar o mundo da

linguagem, sendo que esta metamorfose, esta transmutação do natural

ao cultural, do biológico ao simbólico, podemos compreender que a

psicanálise é a teoria do desejo na sua relação ao outro (SANTUÁRIO,

2005).

Ao simbolizar, o sujeito exterioriza a sua subjetividade, assim como a sua

consciência enquanto ser portador de desejo e desejante, a consciência do outro como

portador de desejo e desejante e a consciência do mundo onde vive. Ao desejar o ser

humano se inscreve enquanto sujeito no universo do simbólico e ao fazer essa

inscrição ele passa a ter uma representação em todas as dimensões da realidade. É na

cadeia de significantes e símbolos que é possível fazer uma leitura desta linguagem na

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qual o sujeito se constitui enquanto cultura e externaliza a sua subjetividade, entre

outras produções da vida humana. Essas produções são formas de internalizar o que o

constitui como sujeito do desejo e enquanto linguagem.

Por meio da articulação da linguagem que o ser humano descobriu a forma de

se posicionar diante das coisas e do mundo, nomeando coisas e objetos, passando a

ter um “suposto’ controle sobre o universo, organizando o espaço em que vive,

superando obstáculos pelo desejo de adquirir conhecimento. A tudo e a todas as coisas

o homem atribuiu sentido, designou funções, nomeou coisas e se impôs perante aos

outros seres. Para Longo (2006), sem exposição a alguma língua, não é possível

aprendermos a falar.

Ainda para a mesma autora a fala dá corpo, dá sentido às coisas. Ao nomear os

objetos, estes são passados para o mundo da linguagem, ao universo simbólico. O

homem se aproxima e se distancia do mundo e das coisas ao mesmo tempo ele se

apropria do real na tentativa de mudar para conhecer aquilo que desconhece.

Os seres humanos se tornam sujeitos por meio das interpretações que dão aos

significados e significantes nos discursos do outro, sendo assim introduzidos no campo

da cultura que é o resultado de uma organização da sociedade e de uma participação

na vida em comum.

[...] o ser humano não é binário: é múltiplo e a linguagem que inventa

comporta como ele mesmo, uma falha: é ambígua, há flutuações

contínuas nos sentidos das palavras – equívocos deslizes de sentido,

lapsos de línguas, chistes, atos falhos, jogos de palavras, ficções,

repetições, lapsos de memória, lacunas, erros, tropeços (LONGO 2006.

p.15).

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É em torno da linguagem que se pode articular o pensamento, a consciência e a

reflexão, o que possibilita organizar o mundo, tornando os sujeitos capazes de

estabelecer uma relação de autonomia em relação à própria vivência no mundo

organizado e com isso criar e recriar novos modelos de linguagem.

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4 LINGUAGEM E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA

COMUNICAÇÃO

A linguagem é um código no qual se encontram significados; significantes;

metáforas; metonímias e simbolismos, estes estão intimamente relacionados à

subjetividade, singularidade dos sujeitos, e por meio destes os sujeitos procuram

compreender as produções psíquicas e a compreensão dos códigos que os diferentes

tipos de língua e linguagem trazem.

Partindo desses princípios faz-se necessário uma leitura da emergência dos

“novos tipos” de linguagem e língua que as NTICs têm apresentado apontando-se para

a variedade de possibilidades que a linguagem e a língua oferecem na construção de

novos ambientes e novos espaços.

[...] o aperfeiçoamento dos meios de veicular a informação fundamenta-

se na necessidade de o homem se comunicar. O ser humano ao longo

de sua história mantém-se sempre na expectativa a desvelar novos

horizontes, explorar territórios alheios, impulsionado pelo desejo de

interação, de descoberta (SOUZA, 2003, p.13).

Pelo fato de a língua possuir regras de combinação definidas, isto distingue a

linguagem dos sistemas não comunicativos e dos sistemas comunicacionais que não

utilizam signos. A linguagem se distingue igualmente dos sistemas que servem de meio

de comunicação e utilizam signos pouco formalizados ou sem nenhuma formalização.

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[...] quando um homem fala com o outro, o faz para que possa ser

entendido; e o fim da fala implica que estes sons, como marcas, devem

tornar conhecidas suas idéias ao ouvinte (LOCKE apud BRAGHIROLLI,

2002, p.37).

A linguagem é definida como uma forma de comunicação; elaborando um pouco

mais esta definição, podemos definir a linguagem como um conjunto de elementos

(símbolos) e um conjunto de métodos (regras) que são combinados, para serem usados

e entendidos por uma determinada comunidade. Segundo Longo (2006) para tornar

nossos pensamentos conhecidos só temos a linguagem, através da qual nos

comunicamos com outros seres humanos e temos a percepção daquilo que ele nos

representa.

Segundo Franchetto e Leite (2004) há várias formas e tipos de linguagem: a do

olhar, a do toque, a dos sinais, etc. A comunicação pode ser até em palavras, o silêncio

é às vezes, mais eloqüente do que a argumentação bem engendrada. Portanto não há

como desprezar algum tipo de linguagem em detrimento de outra. Ou elas se

completam ou uma pode ser mais adequada que outra em determinadas situações.

Interessa chegar ao objetivo do relacionamento ou da comunicação

4.1. Pierce e Saussure: discutindo a linguagem

Para Pierce existem três tipos de signos distintos o ícone, o índice e o símbolo,

os quais estão na ordem daquilo que representam alguma coisa. Em função de sua

relação com o objeto, um signo pode ser denominado ícone, índice ou símbolo.

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Assim sendo, Pierce menciona:

[...] um signo é denominado índice ou sinal quando mantém uma relação

direta com o objeto que ele representa. Assim, uma rua molhada pode

ser índice ou sinal que choveu. Um signo é denominado ícone quando

sua relação com o objeto é de semelhança. É o caso, por exemplo, da

relação existente entre um retrato e o retratado. Um signo pode ainda

ser denominado símbolo, e isto acontece quando sua relação com o

objeto é arbitrária ou convencional, isto é, não-natural. É o caso das

palavras (PIERCE apud GARCIA-ROZA, 1984, p.73).

Garcia-Roza (1984) compartilha com Pierce a idéia de que um símbolo não

indica nenhuma coisa em particular, o símbolo apenas denota uma espécie de coisa,

pois o símbolo não faz parte nem do universo físico, nem do universo biológico,

pertence ao universo do sentido.

Na visão de Saussure (1997) é através do signo que podemos conceber uma

ciência que estude a vida dos sinais no seio da vida social, envolvendo parte da

psicologia social e, por conseguinte, da psicologia geral.

[...] para Saussure, a língua é uma estrutura que comporta um sistema

de elementos diferentes, relacionados em si, cuja forma homogênea,

abstrata, mental e psíquica o falante registra passivamente. Essa forma

só está completa na massa de falantes (Longo, 2006, p. 31).

A concepção de Saussure (apud Carvalho, 2000) relativamente ao signo, ao

contrário da de Pierce, distingue o mundo da representação do mundo real. Para ele, os

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signos, pertencentes ao mundo da representação, são compostos por significante (a

parte física do signo) e pelo significado (a parte mental, o conceito).

[...] Lacan preserva a definição de signo que ele extrai de Pierce,

precisamente no que ela não implica a referência ao sujeito e introduz

sua definição do significante é o que representa um sujeito para outro

significante, enquanto que o signo é o que representa alguma coisa para

alguém que saiba lê-lo (JORGE, 2000, p. 82).

Para a psicanálise entender a linguagem do inconsciente só é possível

associando o sentido de um significante a outro significante no discurso do sujeito.

Podemos, assim, dizer que a linguagem falada é um instrumento por meio do qual

podemos expressar nosso pensamento, pois ela nos oferece conceitos e formas de

organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do

conhecimento.

Na opinião de Castells (2001), é inegável a importância do avanço que as novas

tecnologias informatizadas têm trazido ao mundo, sendo impossível definir neste

momento, as áreas mais importantes, já que todas se entrelaçam formando uma

sociedade em rede, uma relação de co-dependência, fazendo com que os seres

humanos inventem, re-invente, re-descubra os benefícios que as NTICs trazem para os

seres humanos.

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4.2. Linguagem e Internet

Até pouco tempo falar de Internet, conhecida como Net, veículo midiático onde

se pode ler jornais, diários, trocar mensagens, acessar programas de televisão,

teleconferência ou até mesmo usar o computador, a Internet era como se falar de um

alienígena, fato que não foi diferente com o surgimento do rádio aparelho de televisão,

telefones fixos, telefones móveis, entre outros avanços tecnológicos, os quais uma

minoria da população tinha acesso e, aos poucos essas tecnologias foram invadindo as

residências e outros espaços, tornando-se familiares, aos que os adquiriam (SOUZA,

2003).

Essas tecnologias foram incorporadas ao cotidiano dos sujeitos em um processo

de assimilação, acomodação e de incorporação. Isto não foi e não tem sido diferente

com o computador, que hoje está inserido em todas, ou quase todas, áreas da vida

humana. Para Souza (2003) a Internet é algo espantoso, mas é feita de computadores,

o que significa que nem tudo a seu respeito é tão simples como deveria ser.

Vivemos a era do ciberespaço, ambiente criado por uma rede de computadores

de forma virtual através do uso dos meios de comunicação modernos, destacando-se

entre eles a Internet (LÉVY, 2003). Esse fenômeno se deve ao fato de, nos meios de

comunicação modernos, haver a possibilidade de pessoas e equipamentos trocarem

informações das mais variadas formas.

O ciberespaço também conhecido como Cyberespaço, um termo muito comum

na ficção científica o qual da variação para várias outras denominações referente à

Internet, como Cybersex, Cyberpoeta, Cyberpunk, Cyberpsicólogo e outros mais. A

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palavra "ciberespaço" (uma junção de cibernético com espaço) foi projetada por um

escritor canadense de ficção científica William Gibson em 1984 no seu livro

"Neuromante” que designa Ciberespaço como:

[...] o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre

as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica

e cultural. [...] o Ciberespaço de Gibson torna sensível a geografia móvel

da informação, normalmente invisível (LÉVY, 2003, p. 92).

Lévy (2003) coloca o ciberespaço como uma grande rede interconectada

mundialmente, com um processo de comunicação "universal" sem "totalidade". A

"universalidade" sem "totalidade" segue uma linha interativa de comunicação,

possibilitando a "todos" navegantes da grande "rede" participar democraticamente num

modelo interativo de "todos para todos", consolidando e constituindo a idéia de uma

"aldeia global". Para Lévy o Ciberespaço é: “espaço de comunicação aberto pela

interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”.

[...] a humanidade diante de uma verdade da qual não pode escapar: os

valores, as atitudes e os modos de pensamento estão sendo

condicionados por um novo espaço que surge da interconexão mundial

dos computadores: o ciberespaço, em cujos nós heterogêneos surgem

fontes de diversidades de assuntos e discussões que processam

renovações continuas (SOUZA e GOMES, 2003, p. 2).

O ciberespaço, também conhecido, segundo Souza (2003), como o não-lugar um

espaço virtual, mas que não existiria sem uma referência do real, dissemina uma nova

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cultura pelo globo a cibercultura. A noção de cibercultura faz um corte nas fronteiras

que demarcam e define a territorialidade. O ciberespaço redefine essa noção nos

oferecendo, com isso, a possibilidade de outra visão sobre a “entrada” e “saída” dos

espaços e lugares com um novo tipo de passaporte: o virtual. Os usuários e criadores

de redes digitais retomaram o termo que se difundiu em vários setores das sociedades

e de diversas culturas que na atualidade fazem parte da cibercultura.

A Cibercultura provém de um espaço de comunicação mais flexível que o

produzido nas mídias convencionais, TV, Rádio, Jornal. Nas mídias convencionais o

sistema hierárquico de produção e distribuição da informação segue um modelo pouco

flexível baseado no modelo “um-todos” (Rádio, TV, Cinema, etc.). Já no Ciberespaço a

relação com o outro se desdobra no contexto “todos - todos” conclui Souza (2003).

O primeiro tipo de modelo de comunicação de massa considerado de interação

perfeita tipo “um por um” é o telefone, seguido pela invenção do rádio, televisão e

cinema de tipo “um-todos”. O processo de evolução dos meios de comunicação de

massa tem com um dos objetivos a democratização do saber e da informação (Lévy

apud Souza, 2003).

O espaço cibernético abriu novas possibilidades de comunicação e capacidade

de transmitir palavras, imagens e sons que vão para além do que era permitido pelos

meios de comunicação anterior, impondo-se como uma nova forma de linguagem

(SOUZA, 2003).

O mesmo autor defende que o ciberespaço é o espaço da comunicação do tipo

“todos- todos”, num retorno ao modelo inicial de oralidade. A comunicação virtual gera

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um novo modelo de se comunicar onde não há distinção entre receptor e emissor

havendo assim uma comunicação coletiva.

Na opinião de Lévy (2003), a cibercultura é um termo utilizado na definição dos

agenciamentos sociais das comunidades no ciberespaço, espaço eletrônico virtual.

Estas comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da Internet e outras

tecnologias de comunicação, possibilitando assim uma maior aproximação entre as

pessoas de todo mundo.

Para Braghirolli (2002), assim como o homem das cavernas utilizava signos,

símbolos e sons que a princípio pareciam desconexos para se comunicar, assim como

surgiu a linguagem pelas variadas formas de comunicação, surgem em cena o

computador, a máquina humanizada pelo homem, com os dois tipos de linguagem: a

verbal onde utilizamos o microfone para nos comunicarmos pelos programas como

MSN, Skype, teleconferências e outros que utilizamos a voz e a linguagem a não

verbal em que nos comunicamos por meio de textos digitados, salas de bate-papo, e-

mails, em que a fala está excluída. Neste contexto cibernético, surgem as linguagens

síncronas e assíncronas (PRADO, 2002).

[...] pensar a internet nos dias em que vivemos se tornou um verdadeiro

“must”. Os reflexos das mudanças por ela instauradas transcendem, em

muito, o território da informática. Em uma época em que o saber técnico

assume proporções inimagináveis, a tecnologia atravessa a vida

condicionando os comportamentos humanos. No campo da psicologia,

surgem questionamentos até então inexistentes, dentre os quais se

destaca o da possibilidade de um atendimento psicológico via Internet. A

resposta a essa pergunta não pode ser dada, entretanto sem

dificuldades, exigindo de nossa parte considerações adicionais. A

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primeira delas é a necessidade de pensarmos a especificidade do

espaço que comumente chamamos de ciberespaço, o que fatalmente

nos leva a refletir sobre o próprio momento em que tal espaço se

constrói (ALMEIDA e RODRIGUES, 2003, p. 10-17).

Marot (2003) designa como linguagem síncrona a linguagem verbal mediada

pelo computador, a linguagem falada por meio de todos os recursos que os sujeitos têm

para comunicar-se pela voz e a linguagem assíncrona, a linguagem não verbal

presente em todos os outros tipos de comunicação mediado pelo computador onde a

linguagem verbal não está presente: os e-mails, textos digitados e utilização de outros

programas, recursos e atividades onde a fala está ausente, mas que tem de alguma

forma uma conexão homem – máquina e outro homem, ligados por uma cadeia de

signos, símbolos necessários a todos os tipos de linguagem e a comunicação. Neste

espaço cibernético, virtual de comunicação, é comum o uso da linguagem síncrona por

meio dos chats e videoconferências e assíncrona através de e-mails e fóruns.

4.3. O conceito do que é virtual

Há muitas concepções de virtual. Algumas das definições mais comuns são: Algo

que é apenas potencial ainda não realizado (a definição histórica). Virtual referir-se-ia a

uma categoria tão verdadeira como a real.

O virtual não seria oponente ao real. O virtual pode ser oposto ao atual, porque o

virtual carrega uma potência de ser, enquanto o atual já é (ser). Algo que não é físico,

apenas conceitual e algo que não é real. Virtual é tudo aquilo que não é palpável,

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geralmente alguma abstração de algo real. A simulação de algo, como em realidade

virtual.

[...] no uso corrente, a palavra virtual é empregada com freqüência para

significar a pura e simples ausência de existência, a “realidade” supondo

uma efetuação material, uma presença tangível. O real seria da ordem

do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás”, ou da ilusão, o

que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as

diversas formas de virtualização (LÉVY, 2005. p. 15).

Com o desenvolvimento das comunicações computadorizadas em rede, se

popularizaram os termos “virtual” e "virtualidade". Popularmente, chama-se "virtual"

tudo aquilo que diz respeito às comunicações via Internet. Nesse sentido "virtual"

implica o conceito de uma simulação, o que nem sempre é verdade. Em muitos casos

de expressões como "amigo virtual" ou "universidade virtual", o adjetivo "remoto" ou " a

distância" se encaixaria com mais propriedade.

Um dos mais conhecidos autores a tratar do tema é o francês Pierre Lévy. Em

seu livro "O que é o virtual ?" discorre:

[...] Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é

como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que

acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma

entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a

atualização (LÉVY, 2005, p. 16).

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É uma definição filosófica, é uma realidade que já existe e, como filosofia, é uma

especulação, não ciência. Na tentativa de explicar melhor o que é "virtual", Lévy

descreve a situação de uma empresa com departamentos longe da matriz.

[...] a virtualização pode ser definida como o movimento inverso da

atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma

'elevação à potência' da entidade considerada. A virtualização não é

uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de

possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do

centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se

definir principalmente por sua atualidade ('uma solução'), a entidade

passa a encontrar sua consistência essencial num corpo problemático

(LÉVY, 2005, p. 17).

Lévy usa o termo para criar especulação filosófica: fala de "virtualização"

aplicada a, praticamente, todos os aspectos da vida humana: "Três processos de

virtualização fizeram emergir a espécie humana: o desenvolvimento das linguagens, a

multiplicação das técnicas e a complexificação das instituições" (Lévy, 2005, p. 70). E

assim por diante.

Em informática, o termo virtual é muito usado para designar sistemas de

animação tridimensional em tempo real: realidade virtual. "Virtual" também é um termo

usado largamente para designar qualquer relacionamento mediado por redes de

computador. A mídia de informática, principalmente, ajuda a popularizar a "virtualidade",

porque é uma palavra que sempre chama atenção, está sempre ligada a novas

tecnologias e ao modismo tecnológico.

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A concepção mental não é algo irreal, "virtual", porque os pensamentos são

coisas reais e materiais: pelo que se sabe do cérebro, hoje, os pensamentos são

definidos por ligações sinápticas entre células nervosas. As concepções mentais, as

idéias, os sentimentos, os conceitos, a imaginação, tudo são coisas físicas, interações

entre células nervosas mediadas por neurotransmissores e energia elétrica.

Pensamentos são esmagadoramente físicos. Não são exatamente coisas, mas

interações entre coisas aparentemente físicas, que por sua vez são interações entre

outras coisas, infinitamente. Tudo no universo é resultado de interações entre

fenômenos, num complexo "joguinho de armar", conclui LÉVY (2005).

4.4. Linguagem de computador X linguagem de program ação

Diante a diversidade de formas de língua e linguagem existe a “linguagem do

computador” que é uma coleção de cadeias de símbolos, de comprimento finito. Estas

cadeias são denominadas sentenças de linguagem e são formadas pela justaposição

de elementos individuais ou símbolos.

Uma linguagem de programação é um método padronizado para expressar

instruções para um computador. É um conjunto de regras sintáticas e semânticas

usadas para definir um programa de computador. Uma linguagem permite que um

programador especifique precisamente sobre quais dados um computador vai atuar,

como estes dados serão armazenados ou transmitidos e quais ações devem ser

tomadas sob varias circunstâncias.

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Dentro da linguagem de programação temos o Programa ELIZA, especialista em

psicologia, sem finalidade terapêutica, criado em 1966, por Joseph Weizenbaum e

kennety Colby, psicoterapeutas e pesquisadores, do MIT (Instituto Tecnológico de

Massachusetts) nos Estados Unidos da América. O MIT é um dos líderes mundiais em

ciência e tecnologia, bem como outros campos, como administração, economia,

lingüística, ciência política e filosofia.

Segundo Prado (2002) o programa demonstrava o processamento de linguagem

natural "conversando" com humanos ao estilo de um compreensivo psicólogo rogeriano

(programas deste tipo são conhecidos agora como chatterbots). ELIZA é considerada

uma precursora das "máquinas pensantes". Weizenbaum ficou chocado ao constatar

que ELIZA era levada a sério por muitos usuários, fazendo com que abrissem seus

corações para um programa. Então, ele começou a pensar filosoficamente sobre as

implicações da inteligência artificial e posteriormente tornou-se um de seus principais

críticos.

A cada momento de nossas vidas surgem novos tipos de linguagem advindos

das mudanças imperiosas que ocorrem nas relações entre as pessoas, relações essas

que influenciam e ajudam ao acesso as informações numa velocidade-luz e esta

realidade está vinculada ao fenômeno da globalização tornando-nos muito próximos

uns aos outros, surgindo, assim, um novo espaço “chamado pelos especialistas de não-

lugar, espaço virtual, ciberespaço, que tem como características principais a mutação e

a multiplicidade” (SOUZA 2003).

Tais construções sofrem criticas, mas abre-se também para um leque de

possibilidades inovadoras. Dentre essas críticas e inovações encontramos a validade

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e/ou possibilidades de um novo modelo de atendimento psicológico no ambiente on-

line: o atendimento psicanalítico e psicoterápico on-line.

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5 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA PSICANÁLISE

A psicanálise surgiu na década de 1890 em Estudos sobre a histeria (1893-

1895), com Sigmund Freud, um médico neurologista, interessado em descobrir um

tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos, com isso,

Freud alterou, radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica dos seres humanos.

Conversando com os pacientes, Freud acreditava que seus problemas, se

originaram da não aceitação de questões de ordem cultural, ligadas a desejos

inconscientes e suas fantasias de natureza sexual, sendo assim recalcados.

Para Jorge e Ferreira (2005) A vida de Sigmund Freud marcou a história da

humanidade. Freud descobriu que o homem é regido por forças que escapam à

consciência, algo de que o ser humano tanto se gaba para diferenciar seu gênero de

todas as espécies animais e que, no entanto, é apenas a ponta de um imenso iceberg.

Roudinesco e Plon (1998, apud Franco, 2004) afirmam que Freud nomeou a

psicanálise como um método singular de psicoterapia denominado de tratamento pela

fala. Tratamento proveniente do processo catártico de Breuer, em que se visava a uma

descarga considerada adequada, para afetos patogênicos, pautado na exploração do

inconsciente por meio da livre associação e da interpretação dos conteúdos latentes

presentes na fala, nos atos falhos, sonhos, chistes e nos sintomas trazidos pelo

paciente.

Freud (1914) iniciou a história da psicanálise com Berta Pappenheim, conhecida

pelo nome fictício de Anna O. nos Estudos Sobre a Histeria (1893-95) de Freud, que

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mostrou como o impasse do método catártico obtido através da hipnose, precisou ser

transposto para que a psicanálise pudesse surgir.

Anna O. a moça que inventou a “talking cure” ou “cura pela conversa”,

apaixonou-se por seu médico, Dr. Breuer, e deu pistas do que seria mais tarde

denominado por Freud de transferência. Na época, Anna O. com 21 anos apresentava

uma variedade de sintomas como: a oscilação exagerada de humor; angústia;

sonambulismo; perturbações graves na visão e na linguagem; ascos aos alimentos;

paralisias por contratura; anestesias; tosses, etc.

[...] quando acolhida em tratamento por Breuer, pôs em marcha aquilo

que ela mesma denominou, de modo sério de talking cure (cura pela

conversa) e de maneira jocosa limpeza de chaminé (MAURANO, 2000,

p. 13).

Freud (1914) ao aceitar a talking cure pista dada por Anna O. abandona

definitivamente a hipnose e volta sua atenção para a tentativa de descobrir a partir das

associações livres do analisante, o que ele deixava de recordar e com isso contornar a

resistência pelo trabalho da interpretação.

Segundo Laplanche e Pontalis, a associação livre é um:

[...] método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os

pensamentos que acodem ao espírito, quer a partir de um elemento

dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer representação)

quer de forma espontânea (LAPLANCHE e PONTALIS, 1988, p. 71).

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No que diz respeito a psicanálise várias definições foram dadas por Freud

(1913), quais sejam: um procedimento para investigação de processos mentais que de

outra forma são praticamente inacessíveis e um método psicoterápico baseado nessa

investigação para o tratamento de distúrbios neuróticos. A psicanálise é um método

investigativo do inconsciente baseada principalmente nas associações livres do

paciente que são a garantia da validade interpretativa nas evidências significativas

inconscientes das suas palavras e das suas produções imaginárias (sonhos, fantasias

etc.).

De acordo com Freud (1930), a psicanálise está interessada na “causa” da

insatisfação e da angústia do sujeito e com o mundo dos objetos. O interesse da

psicanálise é orientar o sujeito, pela via do saber do inconsciente, conduzindo o sujeito

a construir uma relação menos discordante com os objetos que trazem satisfação.

Por mais que:

[...] a psicanálise tenha sido propagada das formas mais estapafúrdias,

sua proposta desde seus primórdios no rigor da ética cunhada por

Freud, foi a de ser uma estratégia para tratar desse vazio, que na maior

parte do tempo tratamos por falta de alguma coisa ou falta de alguém

(MAURANO, 2006, p. 15).

Na opinião de Pamponet (2001), a psicanálise pretende que o sujeito trabalhe

seus conflitos para que ele possa funcionar melhor diante dos impasses que a vida

cotidiana a todos os momentos nos impõe. Neste sentido a palavra é privilegiada, pois

ela é a expressão viva do sujeito e a via pela qual ele pode se libertar da dor de existir e

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de suas angústias e isto é possibilitado a partir da relação transferencial que o

analisante faz em relação à figura do analista.

Freud (1926) revelou a importância do método psicanalítico na elaboração dos

pensamentos inconscientes e esta elaboração é efetivada superando as resistências

internas do analisante, a qual surge através da transferência.

5.1. O conceito de transferência na psicanálise

Freud (1911) define a transferência como o deslocamento do sentido atribuído a

pessoas do passado para pessoas do nosso presente e num processo de análise o

deslocamento da transferência é para a figura do analista e é necessariamente

ocasionada durante o tratamento. A transferência é executada pelo inconsciente e é

essencial no processo de análise e ocorre necessariamente durante o tratamento.

Quinet (1991) defende que o estabelecimento da transferência é necessário para que

uma análise se inicie.

Na opinião da Maurano (2000) é da posição que o analisante dá, ao analista pela

transferência, que ele poderá analisar interpretar e intervir sobre a transferência do

analisante que coloca o analista ocupando uma posição, um lugar em sua vida afetiva.

Para Freud (1904), o método básico da Psicanálise é a interpretação da

transferência e da resistência com a análise da associação livre, método criado por

Freud que possibilitou o nascimento da psicanálise culminando com o abandono da

hipnose, como método eficaz no tratamento dos sintomas neuróticos dos sujeitos e isto

a torna diferente dos demais métodos.

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[...] é a análise da transferência que institui a diferença chave entre a

psicanálise e os outros métodos de que, antes dela, o próprio Freud

tinha lançado mão (MAURANO, 2000, p. 9).

Para Maurano (2000) o fenômeno da transferência é a chave da invenção desse

novo método de tratamento. A Überträgung, termo alemão que além de transferência

significa também transmissão; contagio tradução; versão; e até audição; ganhará,

enquanto conceito psicanalítico, o sentido de estabelecimento de um laço afetivo

intenso, que se instaura de forma quase automática e independente da realidade, na

relação do paciente com o analista, revelando o pivô em torno do qual gira a

organização subjetiva do paciente.

Para Lacan (1960) é impossível eliminar o fenômeno da transferência pelo fato

de que ela se manifesta exclusivamente na relação com alguém a quem se fala. Lacan

(1964) propõe ainda, que o analista deve esperar a transferência acontecer para

começar a interpretar. Ele acentua esta questão porque ela é a linha divisória da boa e

da má maneira de conceber a transferência.

Na medida em que analista e analisante vão construindo sua relação, fantasias

são despertadas e ganham novas roupagens. Nesta relação que vai se constituindo o

lugar que o analista assume, por substituição do analisante, o lugar de alguém

importante na vida do analisante. Isto se trata do que em psicanálise é chamado de

transferência a qual é importante que o analista a aceite para que a análise possa

acontecer.

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[...] o analisante imputa ao seu analista certas posições correlativas

àquelas nas quais se encontram as figuras primordiais para ele desde o

inicio de sua vida. Nessa perspectiva, é preciso que apareça um traço

pela qual a pessoa do analista seja identificada com uma pessoa do

passado (MAURANO, 2000, p.16).

Lacan (1960) defende que a transferência é condição primordial para que o

tratamento psicanalítico aconteça. Se a transferência não se estabelecer e o analisante

não for capaz de fazer um investimento no analista a utilização do método psicanalítico

fica inviabilizado. Maurano (2000) defende que é por meio da intervenção do desejo do

analista que a transferência efetiva-se como viabilização do tratamento.

Um fator preponderante na transferência, no ponto de vista de Lacan (1960) é

que esta propicia que o analisante fale livremente ao analista tudo o lhe vier em seus

pensamentos, sem restrições, num processo de associação livre, que segundo Jorge e

Ferreira (2005) é onde o analisante é convidado a falar tudo que lhe passa na cabeça

sem exercer o crivo da censura. Freud denominou a associação livre como regra

fundamental da psicanálise e como condição essencial ao trabalho.

[...] é também a partir do estabelecimento da transferência que o

analista pode levantar a hipótese diagnóstica que o orientará no manejo

de sua clínica psicanalítica (MAURANO, 2000, p. 24).

Para a mesma autora, a psicanálise configura um tipo de laço social

absolutamente particular, eminentemente linguageiro, ou seja, depende do que se

articula pela fala.

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[...] Lacan parte da evidência de que a linguagem, a cadeia simbólica,

determina o homem antes do nascimento e depois da morte. O bebê

vem ao mundo marcado por um discurso, no qual se inscrevem a

fantasia dos progenitores, a cultura, a classe social, a língua, a época,

etc. enfim, podemos dizer que tudo isso constitui o campo do Outro,

lugar onde se forma o sujeito (JORGE e FERREIRA, 2005, p. 44).

Longo (2006) destaca que Outro (com o maiúsculo) é a maneira como Lacan

representa o inconsciente, diferente do outro (com minúscula), que representa os

sujeitos falantes. Ele vem de fora, e produz alteridade, marca a diferença nos sujeitos.

Maurano (2000) destaca que a transferência está ligada ao amor e com a

demanda do analisante de ser amado e como esta será acolhida, encaminhada, tratada

e desmontada na experiência psicanalítica. Segundo Lacan (1985), “a transferência é o

pivô sobre o qual repousa inteiramente a estrutura do tratamento psicanalítico”.

Outro fator importante a ser observado diz respeito à contratransferência,

diferindo da posição do analisante que sempre irá transferir seja positivamente ou

negativamente em relação ao analista. O conjunto de reações afetivas do analista em

relação ao analisante seja consciente ou inconsciente chama-se contratransferência.

[...] quando um analista dá importância aos afetos suscitados nele por

seus pacientes, sua função fica prejudicada, ou inviabilizada, pois o

trabalho analítico, diferente de muitos trabalhos psicológicos, não se

efetiva como um processo intersubjetivo, ou seja, entre sujeitos

(MAURANO, 2000, p. 35).

Segundo Freud (1910), um analista se torna ciente da contratransferência, por

meio da influência das questões trazidas pelos analisantes, sobre os sentimentos

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inconscientes do analista. A análise do analisante não avançará enquanto o analista

não superar suas próprias resistências.

Segundo Roudinesco e Plon, a resistência é:

[...] o termo criado em psicanálise para designar o conjunto das reações

de um analisante cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam

obstáculos ao desenrolar da análise (ROUDINESCO e PLON, 1998, p.

659).

Deve-se dar ao analisante um tempo para familiarizar-se com a resistência, e

assim elaborá-la e conseguir superá-la e isto só poderá ser alcançado por meio da

relação transferencial, relação que o analisante constrói com seu analista. Esta relação

transferencial depende de como o analista maneja a transferência e “quebra” a

“barreira” da resistência.

A elaboração da resistência poderá revelar-se uma tarefa árdua para o

analisante e uma prova de paciência para o analista. A espera do analista na

elaboração da resistência do analisante é o que promove as mudanças do analisante

que busca uma “cura” para sua ferida, seu mal-estar, sua dor, seu eterno vazio e isto

distingue o tratamento analítico da qualquer outro tipo de tratamento psicoterápico.

[...] não podemos nos curar da ferida de sermos humanos, ou seja,

substituindo a idéia de cura como o que estaria na finalização de um

tratamento, por meio da extirpação de um mal, entra em cena o

procedimento investigativo do tratamento psicanalítico, que traz como

uma de suas conseqüências o efeito terapêutico. O vazio é impossível

de ser extirpado, mas cabe-nos encontrar meios menos nefastos de

abordá-lo (MAURANO, 2006, p. 25).

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Em Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912), Freud

chamou-lhes a atenção no sentido de que para exercerem a psicanálise deveriam

submeter-se a uma análise pessoal, por ser uma condição primordial para o tratamento

psicanalítico de um analisante auferir sucesso em sua forma de trabalho.

5.2. A forma como trabalha um psicanalista

Freud (1926) revela que em um processo de análise o analisante, numa postura

relaxada, é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente. Sonhos, esperanças, desejos

e fantasias são de interesse do analista/psicanalista, como também as experiências

vividas nos primeiros anos de vida em família. O analista trabalha com o método da

interpretação.

[...] termo que designa qualquer intervenção psicanalítica que vise a

fazer um sujeito compreender a significação inconsciente de seus atos

ou de seu discurso, que estes se manifestem através de um dito, um

lapso, um sonho, um ato falho, de uma resistência, da transferência, etc.

(ROUDINESCO e PLON, 1998, p. 388).

De acordo com Freud (1926), geralmente, o analista mantém sua atenção

flutuante e escuta, fazendo comentários, somente, quando no seu julgamento

profissional, visualiza uma crescente oportunidade para que o analisante torne

conscientes os conteúdos recalcados que são supostos, a partir de suas associações

livre.

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[...] a atenção flutuante é o correlato no analista, da regra fundamental

da associação livre, segundo a qual o analisante é convidado a falar

tudo que lhe passe na cabeça, sem exercer o crivo da censura (JORGE

e FERREIRA, 2005, p. 21).

Quinet aponta:

[...] que o sujeito em associação livre é um sujeito dirigindo-se ao

analista, cuja presença física nas sessões é condição sine qua non para

que possa presentificar o inconsciente. Por mais que possa parecer

estranho, o inconsciente, psicanaliticamente falando se presentifica na

poltrona do analista (QUINET, 2000, p. 45).

Escutando o analisante, o analista mantém uma atitude empática de

neutralidade. Uma postura de não-julgamento, visando a criar um ambiente seguro.

Comumente os analistas escutam indagações sobre o silêncio e da pouca intervenção

de palavras deste. Este fator é importante para que as questões do analisante possam

emergir do objeto de estudo da psicanálise - o inconsciente que é estruturado como

linguagem.

Segundo Jorge (2000), para Lacan, o inconsciente é estruturado como uma

linguagem. Ao fazer esta formulação Lacan trouxe a psicanálise de volta ao campo da

linguagem fazendo referência à fala. O inconsciente é linguagem e esta em psicanálise

remetida à fala, a palavra.

[...] o inconsciente não se encontra num suposto mais-além da

linguagem, nem em qualquer profundeza abissal ou oculta; ele se acha

nas palavras, apenas nas palavras e é nas palavras enunciadas pelo

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sujeito que ele pode ser escutado. Estruturado como linguagem, é nela

que o inconsciente se encontra enraizado (JORGE, 2000, p. 80).

Ao referir-se ao postulado de Lacan (1964) que “o inconsciente é estruturado

como linguagem”, Longo (2006) faz um apontamento de que o inconsciente segue as

leis da linguagem e que não há discurso possível sem a condensação (metáfora) e o

deslocamento (metonímia).

A originalidade do conceito de Inconsciente introduzido por Freud (1915) deve-se

à proposição de uma realidade psíquica, característica dos processos inconscientes. É

preciso diferenciar inconsciente, sem consciência, de Inconsciente, conforme elaborado

por Freud, que diz respeito a uma instância psíquica basilar na constituição do sujeito.

Quinet (2000) traz uma contribuição muito importante para a psicanálise, no que

diz respeito à noção de sujeito e pensamento quando diz que o sujeito é também sujeito

do pensamento - pensamento inconsciente. Pois, o que Freud descobriu é que o

inconsciente é feito de pensamento e para tornar nossos pensamentos conhecidos só

temos a linguagem e sem a exposição a uma língua não se aprende a falar e é por

meio da fala que o inconsciente pode revelar-se.

[...] pensamento e linguagem são diferentes. Contudo é na linguagem

que o homem encontra significações, embora precárias, que o

protegerão contra o excesso de realidade de um mundo que existe

antes da linguagem, pois o mundo e a natureza são estranhos e

absurdos para o homem, até que possam se aproximar de nós pela

mediação simbólica da linguagem que irá, então, modelar o sentido da

realidade (LONGO, 2006, p.12).

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Freud (1903) postulou que a revelação do inconsciente ocorre em face de uma

resistência continua por parte do analisante, o que muitas vezes leva o analisante a

querer interromper a análise e o analista, à disposição de escutar o analisante, deve

encontrar meios para trabalhar a resistência do analisante e, com isso, prosseguir o

trabalho de análise, que exige do analisante sinceridade.

5.3. Algumas reflexões sobre Psicanálise e Psicoter apia

Se a psicanálise é a única que aborda e tem uma escuta do inconsciente e suas

relações com a consciência, que modelo terapêutico abordaria exclusivamente o

consciente? Existiria um modelo específico para tal tratamento? É muito comum ouvir o

nome psicoterapia para o tratamento das questões psíquicas dos sujeitos humanos.

Seria a psicanálise e psicoterapia a mesma coisa? O senso comum não estabelece

diferença entre psicoterapia e psicanálise, todavia há que se ressaltar a existência de

uma diferença entre ambas, conclui Franco (2004).

[...] diferenciar a psicoterapia da psicanálise é fácil de dizer. Na

verdade, é preciso ser prudente e dizer que é um critério importante

para distinguir a psicoterapia da psicanálise. Essa condição especifica a

transferência analítica em relação a qualquer outra transferência

implicada nas relações humanas habituais (NASIO, 1999, p. 45).

Na opinião de Franco (2004), existe uma diferença entre psicologia e psicanálise,

a saber, a psicologia originou a partir de pesquisas em laboratório e a psicanálise foi

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estruturada a partir da experiência clínica de Freud. A psicanálise foi construída por

Freud a partir da escuta de seus analisantes. Miller defende (1997) que falar faz bem e

cura. Estar mal e doente pode ser interpretado com um meio de falar quando já não se

sabe falar.

[...] na linguagem de hoje, diz-se “somatizar”, o que quer dizer que o

corpo se torna um meio da palavra. Que haja uma relação entre o mal e

a palavra. Que haja uma relação entre o mal e a palavra não é uma

descoberta de Freud; a medicina, antes de inserir-se no discurso da

ciência, sabia muito bem o valor de alívio da confissão e da palavra da

absolvição (MILLER, 1997, p. 12).

Segundo Scarpato (2006), a psicoterapia é um campo do saber que visa à

compreensão do ser humano e de seu modo de existir no mundo. Envolve, portanto, o

estudo do comportamento humano bem como o desenvolvimento de recursos

metodológicos clínicos que favorecem o equilíbrio bio-psico-social do indivíduo. Na

opinião de Miller (1997), o que há de comum entre psicoterapia e psicanálise é que

ambas admitem a existência de uma realidade psíquica.

O mesmo autor define, ainda, o tratamento psicoterápico como um processo

conduzido por um psicólogo, com sólida competência profissional em realizar

diagnóstico e procedimentos clínicos psicológicos. Trata-se, portanto, de um tratamento

realizado por meio de técnicas fundamentadas em uma teoria de personalidade, com o

propósito de reorganizar padrões de comportamentos geradores de sofrimento que

interferem no bem estar do indivíduo e o impedem de criar possibilidades de realização

pessoal.

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Assim sendo, a psicoterapia objetiva o fortalecimento da capacidade de

autogerenciamento do cliente, permitindo-lhe tomar para si o rumo da própria vida. Isso

se dá através do aprofundamento de sua autopercepção e, por conseqüência, a

compreensão de seu próprio funcionamento e dos fatos de sua vida.

Psicoterapeutas e clientes, juntos, vão, como num caleidoscópio, girando e

reorganizando de outras maneiras a pedrinha nele contida, originando-se, assim, novas

formas de pensar, sentir e agir. Nessa perspectiva a relação psicoterápica é uma

relação de parceria, pois implica um compromisso mútuo, porém diferenciado, do

profissional e do cliente, conclui Scarpato.

[...] se considerarmos a psicanálise com base na psicoterapia, a

psicanálise confunde-se com a psicoterapia, ao passo que, considerada

com base em si mesma, ela não tem nada a ver com a psicoterapia

(MILLER, 1997, p. 11).

Na opinião de Franco (2004) a psicanálise postulada por Freud e retomada por

Lacan guarda especificidades que a colocam fora do domínio das psicoterapias. As

expressões como sugestão, persuasão, reeducação e restabelecimento do equilíbrio

emocional do indivíduo não cabem a psicanálise, que tem seu trabalho calcado no

inconsciente.

A psicoterapia é considerada como um valioso recurso para lidar com as

dificuldades dos sujeitos, com todas as formas de que o sofrimento humano surge: as

manifestações sintomáticas (pânico, angústia, depressão, fobias, anorexia, bulimia,

etc.), as crises pessoais (conflitos relativos aos sentimentos dos sujeitos consigo

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mesmo), crises de relacionamentos, conflitos conjugais e familiares, distúrbios

psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, crises profissionais, etc.

Na opinião de Scarpato (2006) outro fator que difere a psicoterapia da

psicanálise é a questão dos prazos, de duração das sessões. Em psicanálise não tem

um tempo determinado ao passo que nas psicoterapias variam com os objetivos.

Atualmente é possível atingir resultados significativos em períodos de 3 (três) a 12

(doze) meses e há muitos processos terapêuticos profundos que se encerram

satisfatoriamente em prazos inferiores a três anos, conclui ele.

[...] no conjunto de psicoterapias atuais algumas deveram sua

implantação e expansão ao fato de fazerem crer que seu modo de

intervenção podia subtraí-la do campo da linguagem. O que parecia,

também, como uma crítica à psicanálise por ser um tratamento muito

longo (NICÉAS, 1997, p. 21).

Freud (1913) em sobre o Início do tratamento fez um alerta aos analistas aos na

questão dos tratamentos rápidos. Segundo Freud, os analistas deveriam prevenir-se

quanto a diagnósticos relâmpagos e tratamentos rápidos e que este caminho não

deveria ser trilhado por um analista.

[...] psicoterapeutas e psicanalistas acolhem a mesma demanda que o

sintoma motiva, e utilizam o mesmo meio, a palavra. Entretanto, eles

reconhecem que não fazem desse meio o mesmo uso, e não visam aos

mesmos fins. Os primeiros utilizam até eventualmente a psicanálise

como contraponto, prometendo: mais curto, mais humano, menos caro,

menos perigoso, etc. quanto aos psicanalistas, estes pretendem

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introduzir o sujeito que a ele confia, em outra coisa, até mesmo em um

além da terapêutica (SOLLER, 1997, p. 107).

Freud (1901 apud Horne 1997) faz uma alusão metafórica ao separar psicanálise

de psicoterapia utilizando-se da oposição que Leonardo Da Vinci estabeleceu entre

escultura e pintura.

[...] a pintura, diz Da Vinci, procede pelo método de pôr, de colocar

sobre a branca tela cores onde antes não havia. Ao colocá-las sobre a

tela, opera “per via di porre”. A escultura, em troca o faz “per via di

levare”, retirando pouco a pouco do bloco de mármore a massa que

cobre a estátua nela contida (HORNE, 1997, p. 145).

A terapia sugestiva para Freud (1901) não se preocupa com a origem, a força e o

sentido dos sintomas. A sugestão encobre o sintoma e com isso impede sua

emergência, a sua exteriorização, ou seja, trabalha “per via di porre”. A psicanálise ao

contrário, não tem como proposta em sua condução nada de novo, pretende extrair,

deixar sair aquilo que se encontra ”escondido” por detrás do grande bloco de mármore,

o inconsciente. Sendo assim a psicanálise trabalha “per via di levare”.

A base de uma análise/terapia está na relação terapêutica. A análise/terapia se

desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favorece este processo, no qual

necessariamente, estejam ambos na presença física um do outro. O segredo desta arte

consiste em criar um ambiente que permite a relação do mundo interno do

analisante/paciente com o mundo externo favorecendo o desenvolvimento de um

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processo singular de cada um. Nesta relação, há uma possibilidade que o inconsciente

se mostre, seja ouvido, transformando-se, formando vida.

Diante da importância da presença física do analista/psicoterapeuta nas sessões

de análise/psicoterapia, abre-se espaço para questionamentos sobre outras formas de

atendimento psicanalítico/psicoterapêutico, entre eles o atendimento no ambiente on-

line, no ciberespaço.

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6 REFLEXÕES SOBRE PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ON-LINE NO ESPAÇO

CIBERNÉTICO

A prática do atendimento on-line começou a se disseminar no Brasil por volta de

1996 e 1997 por alguns psicanalistas e psicoterapeutas. Mello (2000) começou a utilizar

os serviços em 1999 e defende que o atendimento virtual tem um perfil para ser mais

utilizado como terapia breve e o tratamento se dá usando chat ou ICQ.

Para Prado (2002) a terapia mediada pela Internet pode ser realizada de forma

assíncrona, sendo o e-mail um exemplo, que é uma forma de comunicação em que não

é necessário que as partes estejam conectadas simultaneamente, ou pode ser

realizada de forma síncrona que é uma forma de comunicação em que as partes estão

conectadas simultaneamente através de chats e videoconferência.

Segundo Bernardo (2002), a Psicanálise on-line agrega todos os preceitos

consagrados na psicanálise clássica, novos mecanismos de trabalho, utilizando-se das

possibilidades que a moderna tecnologia lhe oferece, a exemplo de outras formas de

terapia que já utilizam esta modalidade.

O mesmo autor aponta, ainda, que nesta forma de trabalho há vantagens que

merecem destaques, como por exemplo: permitir o acesso a clientes que moram em

locais que não há psicanalistas ou clientes que não querem ou não aceitam ir ao

consultório, oferecer flexibilidade nos horários, permitir maior abertura emocional e

oferecer preços menores que a média cobrada pelos psicanalistas tradicionais.

Regis (2006) destaca que, segundo a Resolução 012/2005, que regulamenta o

atendimento mediado por computador, via Internet, os referidos atendimentos, só

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podem ser feitos como pesquisa científica, cujo protocolo tenha sido aprovado por

comitê de ética em pesquisa, reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Ainda o mesmo autor defende que existe uma diferença entre o atendimento

clínico convencional e o atendimento de orientação on-line, mediado pela Internet, o

qual não tem efeito terapêutico propriamente dito, pois são orientações breves e

objetivas centradas numa queixa específica. Essas orientações podem ser via e-mail,

chat, ICQ, skype, MSN, entre outras de comunicação mediada pela Internet, com ou

sem o uso de webcam e microfone (para conversa com voz), ou apenas trocas de

mensagens digitadas. A psicoterapia não existe neste caso. Já a prática convencional

em clínicas ou consultório tem efetivamente efeito terapêutico e consiste num processo

à longo prazo, conclui Regis (2006).

Segundo Saad (2000) que atende de maneira convencional, não há como ter

sucesso nesse tipo de contato. Pessoas que têm fobia social, por exemplo, não

deveriam ficar em frente ao computador ao contrário, deveriam se esforçar a sair de

casa. O ato falho, a gagueira, o desvio do olhar são alguns dos elementos presentes

em uma sessão de análise e considerados fundamentais para o trabalho do

Inconsciente. Será que, com o texto, é possível perceber tudo isso? Questiona Saad.

Dias da Silva (2000), presidente da Unipsico (Cooperativa de psicólogos de São

Paulo), afirma ser impossível a aliança terapêutica on-line, pois esta exige um contato

vivo. As possibilidades de melhoria vêm a partir das reações verbais e não verbais,

onde o tremor das mãos, o sorriso, a voz e a expressão facial são vitais para a

comunicação entre analisante e analista.

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Segundo Lutfi (1999), o atendimento psicológico via Internet tem causado

polêmica e divergências entre psicólogos principalmente no que diz respeito à eficácia

do atendimento que ainda não tem comprovação científica. Isto provoca

questionamentos como: que metodologia sustenta essa prática clínica? Como a prática

pode ser explicada? Como definir os critérios de um atendimento cibernético (on-line)

se não há hora ou lugar marcados? Como se dá a relação entre o analista e o

analisante? Segundo Lutfi tais questões ainda não foram cientificamente respondidas.

Barreto (1999) não vê a possibilidade de a relação via Internet ser rica o

suficiente para um tratamento profundo, pois o tratamento psicanalítico implica o

estabelecimento de uma relação com uma pessoa a uma dimensão simbólica. O

encontro entre o paciente e o psicanalista revela uma série de elementos, além do

próprio afeto envolvido: os gestos, a maneira de falar, a própria preparação emocional

de ir ao consultório do psicanalista.

Psicólogos on-line como Mello (1999), por exemplo, garantem que é possível

perceber a personalidade, o caráter, e até mesmo o inconsciente de uma pessoa por

meio da rede. Mello diz que a escrita pode conter atos falhos, manifestações de

desejos, raiva e até depressão e por este motivo ser possível uma psicoterapia on-line.

Apesar disto Mello admite que existam casos clínicos que não têm possibilidades de

serem tratados em um ambiente virtual e nestes casos as pessoas são orientadas a

procurarem um profissional que possa lhes atender pessoalmente.

Bello (2000) acredita que toda essa discussão ainda está no começo. Para ela

sem a presença física fica faltando uma série de pressupostos básicos do tratamento.

Na verdade, não se estabelece uma relação, não há manifestação de sentimentos.

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Bello admite não ter ainda uma opinião fechada sobre o assunto, acha tudo muito

discutível.

Para a psicanalista Milman (2000) este tipo de psicoterapia peca por uma

limitação básica: a ausência de presença física. Ela defende que terapia é entendida

estar de corpo presente, tanto a voz quanto o gestual são fundamentais para o

processo terapêutico.

Os psicanalistas ortodoxos on-line, da Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do

Brasil (SPOB) defendem a possibilidade do atendimento no ambiente on-line, ou seja,

no ciberespaço. Para Machado (2000), presidente da referida instituição, a prática pode

ser exercida por qualquer profissional que faça um curso de formação em psicanálise, o

qual é oferecido na própria SPOB, com direito a certificação do título de psicanalista.

Esta afirmação é perigosa. Na opinião do psicanalista Amendoeira (2000),

presidente da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP), que congrega todas as

Sociedades e Escolas de Psicanálise filiadas à International Psychoanalisys Association

(IPA) fundada por Freud, afirma ser um grande engano a afirmação da SPOB, pois para

se tornar um psicanalista não basta fazer um curso de formação em psicanálise, é

necessário anos de estudos. É digno de nota que a SPOB, não faz parte da ABP.

As Escolas e Sociedades de Psicanálise, como Corpo Freudiano Escola de

Psicanálise (CFEP), Escola Letra Freudiana (ELF), Escola Brasileira de Psicanálise

(EBP), Práxis Lacaniana (PL), Formações Clínicas do Campo Lacaniano, (FCCL) entre

outras, reconhecidas pela ABP (IPA), não têm como objetivo a formação de

psicanalistas mas a difusão e transmissão da psicanálise e isto é feito de forma

permanente e até tornar-se um analista é necessário um grande percurso.

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O Ministério da Saúde, através do CNS, admite pela Resolução 196/96 à

formação de psicanalistas exclusivamente por instituições reconhecidas pela IPA da

qual a ABP faz parte, congregando várias Escolas de ensino, difusão e transmissão da

psicanálise.

Amendoeira (2000) defende que o analista necessita de um ambiente

preservado, que facilite a compreensão do que o analista e analisante compartilham. O

tratamento feito na Internet não atende a essa necessidade por diminuir o envolvimento

emocional entre analista e analisante, reduzindo as possibilidades do desenvolvimento

do tratamento, conclui Amendoeira.

Corrêa (1999) revela que quando se entra nos sites de atendimento on-line não

vê credibilidade no que acontece ali. Ela defende que nas práticas psicanalíticas, o

psicanalista passa por anos de estudos, leituras e tratamento. Para Corrêa, os próprios

psicólogos que utilizam a Internet como mediadora do atendimento psicológico sabem

muito pouco do que estão fazendo e conclui dizendo que nenhum desses

cyberterapeutas conseguiu mostrar cientificamente que o tratamento pode ser feito de

forma efetiva.

Segundo Mrech (2000) a questão que gera mais polêmica vem dos profissionais

que defendem a essência da psicoterapia. A essência, nesse caso, seria o atendimento

face a face com o paciente. No contato via Internet à possibilidade mais próxima disso é

o uso de câmeras ligadas aos computadores, o que não é suficiente. O corpo do

paciente faz parte da sessão. É preciso analisar as reações do paciente, o que é

impossível com uma câmera de vídeo defende Mrech.

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Ricotta (2000) argumenta que na terapia on-line o paciente pode até sentir-se

mais a vontade para falar sobre suas inseguranças e “pecados” longe dos olhos do

terapeuta, mas na hora de uma crise poderá faltar um respaldo mais consistente que só

a terapia convencional pode dar.

Prado (2000) integrante do grupo de trabalho do ATMC (Atendimento Mediado

por Computador) do CRP de São Paulo acredita que ainda vai demorar a surgir uma

posição final sobre o assunto. Segundo Prado, serão necessárias várias pesquisas até

que se tenha uma visão clara dos limites e dos potencias da terapia on-line. Maiorino

(2000), outra integrante da ATMC, acredita que as pesquisas podem gerar uma nova

linha de psicoterapia, com um novo modelo de atendimento.

Pellanda (2000) defende que se consideramos a psicanálise como o fruto da

nova árvore do conhecimento, com o advento da Internet, nada poderá ser feito para

impedir sua difusão, a não ser que os próprios psicanalistas deixem que esta

psicanálise equivocada torne-se difícil para um público leigo distingui-la da psicanálise

saudável.

Mautner (2000), psicanalista da SBP (Sociedade Brasileira de Psicanálise) de

São Paulo, não é favorável a prática on-line, pois não se pode chamar de terapia ou

análise esse tipo de trabalho; falta o essencial que é o encontro, sem intermediários,

entre analisante e analista.

Para Marcos Vinicius de Oliveira, ex-conselheiro do Conselho Federal de

Psicologia, a questão central, que divide os terapeutas, refere-se às aplicações das

técnicas terapêuticas em um meio completamente diferente do ambiente do consultório.

Na comunicação virtual, ou cibernética feita por chat ou e-mail, o terapeuta não pode

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ver nem ouvir o paciente, o que compromete a interpretação dos signos e

conseqüentemente torna a técnica tradicional inadequada.

6.1. O espaço cibernético

O espaço cibernético é considerado uma forma diferente de comunicação entre a

já existente (telefone, rádio, TV, jornal, livro, etc.), pois neste espaço as mensagens se

tornam interativas, ganham plasticidade havendo uma abertura de transformação

imediata naquilo que faz e dão sentido as relações simbólicas entre os homens (LÉVY,

2000).

[...] o espaço cibernético é o terreno onde está funcionando a

humanidade hoje. É um novo espaço de interação humana que já tem

uma importância profunda principalmente no plano econômico e

científico, e, certamente, esta importância vai ampliar-se e vai estender-

se a vários outros campos, como por exemplo, na pedagogia, na

estética, na arte, na política, etc (LÉVY, 2000, p. 13).

Diz o autor que “o ser humano vive em e por sistemas simbólicos que lhe

permitem fazer sentido”, e permitem dar sentido ao mundo em que vive, seja este

mundo externo ou interno. O sentido é uma espécie de evento mental que se atribui as

impressões que os seres humanos têm de suas relações simbólicas com os outros

seres humanos, e nesta relação que as experiências humanas ganham e dão sentido.

[...] o sentido é sempre sentido de alguma coisa. Mas, a partir do

momento em que tentamos captar o sentido, independentemente dos

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enunciados, das mensagens, das imagens ou dos fatos aos quais se

refere, eis que ele parece se desvanecer (LÉVY, 2000, p. 21).

Quando somos interrogados sobre o sentido que compreendemos de uma frase,

só podemos respondê-lo por meio de outra frase, ou ainda por gestos e mesmo assim,

não damos conta de responder, de dar um sentido completo a esta frase,

independentemente do suporte que temos para respondê-la, por ser impossível

apreender o sentido de forma pura por este emergir a partir de uma estrutura simbólica

que preexiste a aparição da fala.

[...] não se pode encontrar sentido em um sistema simbólico, a não ser

para designá-lo por palavras que são furos na linguagem, a não ser para

significá-los por imagens ou rituais que se limitam a apontar aquilo que

aponta e que, se ele se volta, só encontra o vazio. O vazio não é senão

a palavra vazia para designar a inapreensível fonte de sentido. Não se

pode dizer o sentido daquilo que dá ou cria o sentido (LÉVY, 2000, p.

23).

Ao mesmo tempo, em que o sentido se manifesta, ele se esconde “nos jogos de

uma combinatória que enlaça linguagens, referências simbólicas e uma certa

estruturação da experiência”, afirma Lévy. Assim sendo, o ciberespaço introduz a

interação coletiva, uma nova forma de relacionamento, de interação social e simbólica

de fazer e dar sentido as relações entre os seres humanos.

Segundo Lévy (2000), profissionais de várias áreas como: psicólogos,

pedagogos, artistas, entre outros profissionais que não estavam interessados em

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fenômenos tecnológicos passaram a dar uma atenção e interesse as questões

tecnológicas dessa nova cultura, a cibercultura, considerada um novo equipamento

coletivo de sensibilidade, de inteligência, de relação social, que está nascendo em

silêncio.

6.2. Alguns posicionamentos de psicanalistas e psic oterapeutas sobre o

atendimento on-line no ciberespaço

Através de contatos informais com alguns psicólogos, psicanalistas e

psicoterapeutas, foi lhes solicitado emitir suas opiniões acerca do tema dessa pesquisa.

Segue abaixo a reprodução de alguns posicionamentos dos profissionais no período de

março a junho de 2008.

Segundo Cruz, psicóloga e psicanalista, o uso da Internet para o tratamento

psicanalítico/psicoterápico on-line é um recurso novo e que precisa, urgentemente, ser

posto em questão. A princípio, Cruz defende que é complicada a instauração da

transferência sem a presença do analista, mas acredita que os verdadeiros lacanianos

terão reservas quanto a esta utilização.

Cruz defende, ainda, que Lacan pôs em questão o setting analítico, dizendo que

em psicanálise não há regras e sim princípios éticos. A única regra da psicanálise seria

a associação livre. Apesar de Lacan não tomar o setting como uma regra possibilitou

que a psicanálise pudesse ocupar outros espaços, para além dos consultórios

particulares e pensar uma psicanálise sem a presença do analista, a seu modo de ver,

coloca no mínimo, questões éticas. É preciso um corpo que encarne os significantes da

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transferência para o analisante, no caso o corpo do analista, argumenta Cruz. Neste

sentido pensar a transferência, sem outro sujeito presente de carne e osso que possa

encarná-la, é o mesmo que pensar a transferência no vácuo, ou no “cyberespaço”,

conclui.

Siqueira Pessanha defende que psicanálise não é modismo e por este motivo o

atendimento psicanalítico on-line, não será uma tendência. Segundo ela, a psicanálise

para acontecer tem que manter em vigor os seus 4 conceitos fundamentais:

Transferência, Inconsciente, Recalque e Pulsão. A nível on-line como isto se opera?

Como se dá a linguagem, a escuta e a verdade do sujeito neste movimento on-line?

Interroga Siqueira Pessanha. Esta questão se torna um desafio para os analistas e é

preciso ser ouvidas as experiências diante das demandas do mundo contemporâneo.

Segundo Lacan, “os psicanalistas precisam inventar a psicanálise”. Se o analista já

acompanha um analisante por um tempo significativo e este analisante, precisa mudar

de país, mas propõe ao analista manter um tratamento via on-line, como se aplica isto

se o desejo se mantém em análise e se faz representar pela transferência

estabelecida? É possível se manter a qualidade do tratamento? Só depois para saber...

Vale o desafio!!!!

Na opinião da Psicóloga e Psicanalista Campista quanto ao uso da Internet para

o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, é complicado porque não há na Internet

como manter pontos centrais do tratamento como, por exemplo, a presença do analista.

Em tempos atuais em que as pessoas querem fazer tudo rapidamente e cada vez mais

se escondem de encarar suas próprias questões, querem economizar tempo e gastam

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mais tempo. Ela pensa que isso acaba por corroborar o sintoma, que mantém o sujeito

na virtualidade.

Campista levanta uma questão: em que condições será possível manter um

tratamento on-line? no que se refere o tempo, dinheiro, nº de sessões, lugar do analista.

Será de fato um tratamento, ou recurso dado a impossibilidade de fazer um tratamento?

Na opinião de Regis, Psicólogo Comportamental, o uso da Internet para o

tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line ainda é recente em nosso país e motivo

de muita discussão entre nossa classe. Ele acredita que os psicólogos devem se

debruçar mais para as orientações psicológicas online, pois ainda temos muito a

explorar e usufruir dessa tecnologia para benefício de nossos clientes.

Para Regis a utilização da psicologia on-line deve ser usada como complemento,

uma alternativa para aqueles que vivem em locais remotos, sem acesso a psicologia,

ou aqueles que possuem grande dificuldade de se deslocar ao consultório, seja por

problemas físicos, psicológicos, geográficos, problemas de trânsito nas grandes

metrópoles, dentre outros.

Em seu método de trabalho, o foco das orientações psicológicas on-line é

determinar um curto espaço de tempo na prestação de serviço com o objetivo de

sensibilizar o cliente a procurar uma psicoterapia presencial, se isso for possível.

Regis destaca que a orientação psicológica on-line, com certeza é A tendência e

não podemos deixar de lado essa prática em plena época e expansão da Internet

banda larga no mundo. A interação entre psicólogo-cliente facilita e muito com a

utilização de softwares de mensagens instantâneas, webcam, e deve ser utilizado de

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forma sadia, consciente em busca de uma melhor qualidade de vida de nossos clientes

e da população em geral.

Regis argumenta que daqui a não muito tempo, nas grandes metrópoles como

São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, entre outras cidades que existam muitos

congestionamentos no trânsito, entre outros problemas de segurança pública,

possivelmente os psicólogos e seus clientes preferirão optar pelos atendimentos

psicológicos on-line a terem se deslocarem até os consultórios. Mas isso será uma

próxima etapa. Orientações psicológicas on-line, discussão sobre os impactos da

Internet no comportamento humano devem ser mais abordadas nas universidades e ter

matérias específicas sobre o assunto para acompanharmos as tendências.

Na opinião do Psicólogo e Psicanalista Freitas, quanto ao uso da Internet para o

tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line: questões ligadas à resistência, como ir

ou não ao analista, o ato de pagar, a tensão do ambiente, questões ligadas à

transferência, o ato de cumprimentar o analista e uma infinidade de variáveis que se

perderiam tornam o tratamento psicanalítico/psicoterápico inviável. Acredita que a

possível tendência do atendimento on-line possa se adequar a uma linha teórica mais

positivista.

Freitas diz que apesar de acreditar ser inviável acredita também que paradigmas

possam ser quebrados e pesquisas como essas se fazem necessárias para o progresso

responsável do tratamento psicanalítico e psicoterápico.

Peixoto, Psicóloga Existencial Humanista, acredita que o incentivo que vem

sendo dado para que a Internet, seja muito em breve uma das formas mais utilizadas

para uma comunicação rápida, não tem dúvidas que é uma ferramenta importantíssima

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que pode vir a ser utilizada na área da psicologia. No entanto, devido ao não

treinamento dos profissionais e a uma não regulação para uma utilização ética e

adequada, pensa que, na atualidade, o atendimento deve ser feito sob uma situação

emergencial quando preferencialmente já existir um vínculo terapêutico, tendo como

base um processo de terapia já existente ou em vigor. Acredita também que

virtualmente possam ser desenvolvidas diversas formas de aconselhamento, que não

envolvam a idéia nem de processo nem de vínculo terapêutico.

Peixoto deduz que este tipo de tratamento seja algo a se desenvolver de forma

complementar às outras abordagens já existentes e não vê como uma tendência que

excluirá ou desvalorizará outras formas de atendimento e caso o CFP e as instituições

passem a considerar a possibilidade dessa forma de atendimento, serão muito

importantes fóruns de discussão para posterior regulamentação e como pode ocorrer

esse atendimento. Além disso, também cabe a necessidade de educação para melhor

funcionamento ético desse atendimento, complementa.

Na opinião de Naked, Psicóloga e Psicanalista quanto ao uso da Internet para o

tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, defende que não é possível, dada a

importância da presença do analista no setting analítico e no manejo da transferência.

Ela diz que, em se tratando da escuta, um ato falho dito é diferente do escrito, já que é

possível uma correção.

Segundo Herig, Psicóloga Holística o uso da Internet para o tratamento

psicanalítico/psicoterápico on-line não substitui o contato direto, mas pode ser um

facilitador se bem empregado e bem utilizado. Herig diz que ainda precisa pensar mais

a respeito, pois ainda não sabe exatamente como ocorreria.

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Do ponto de vista de Juliboni, Psicóloga e Psicanalista, quanto ao uso da Internet

para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, do ponto de vista da psicanálise,

não vê a possibilidade de escutar os atos falhos, os tropeços da língua, as vacilações

na fala com a mediação do computador. Além disso, a presença do analista é um

conceito fundamental para a psicanálise já que dela depende o ato analítico um outro

ponto fundamental para o andamento de uma análise. Nesse caso, em sua opinião,

quando de trata de psicanálise até o presente momento o sistema teórico não admite

esta possibilidade.

Juliboni destaca que, até onde aprendeu e ensinou em sua prática clínica e

acadêmica, em 25 anos, por mais que seja atraente essa tendência (pelo menor

esforço que ela promete de ambas as partes - analisante e analista), não acredita que a

psicanálise possa ser mantida sem se desfigurar em seu rigor teórico e em seu fazer

clínico, se ela se apropriar desses meios. Nesse caso, teríamos ou uma revolução em

seus conceitos fundamentais ou não seria mais psicanálise.

Juliboni conclui dizendo que considera importante que uma pesquisa desse teor

possa ter em mente, e no seu horizonte investigativo, a diferença conceitual entre

psicanálise e psicoterapia sob o risco de chegar a conclusões pouco apuradas em

função de não levar em conta a diferenciação radical entre os dois campos.

O psicólogo Manzolillo, ex- conselheiro presidente do Conselho Regional de

Psicologia do Rio de Janeiro, no que diz respeito ao uso da Internet para o tratamento

psicanalítico/psicoterápico on-line, diz que, embora não conheça o procedimento,

parece-lhe pouco conveniente, uma vez que a digitação (escrita) empobrece a

exposição do paciente, além de impedir a análise de outras formas de comunicação

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não verbal. Além disso, acredita que o espaço físico do momento terapêutico deva ser

específico, isso, porque um tratamento via Internet não contempla a preservação desse

espaço. Manzolillo levanta uma questão: a de imaginar uma terapia on-line, feita com o

paciente em sua sala de trabalho! Como vai se controlar isso!

Manzolillo acredita que o uso da informática é uma tendência e se os

profissionais de Psicologia se “renderem” a esse recurso, evidentemente a população

vai utilizá-lo. No entanto, se houver um movimento contrário, não acredita que venha a

ser um fator de redução nos atendimentos. Ele acrescenta que acredita ser necessário

estimular a reflexão sobre os exageros promovidos pelo uso indiscriminado da Internet.

Se por um lado, ela traz agilidade e redução no tempo gasto, por outro, precisamos

utilizar esse tempo ganho a nosso favor. Do contrário, para que ganhar tempo?

Barbosa, Psicóloga Existencial Humanista, quanto ao uso da Internet para o

tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, não acredita que funcione, na medida em

que não há um contato tão essencial e fundamental para estruturação do vínculo entre

terapeuta e paciente.

Barbosa acredita que as psicoterapias on-line são uma tendência como muitas

outras que surgem, porém que apenas passam. Ela defende que o que sustenta o

vínculo terapêutico são as relações de confiança mediadas no dia a dia perpassadas

por meio de um olhar, de um acolhimento, de um toque, onde exige a presença de duas

pessoas, conclui ela.

Silva, Psicóloga e Psicanalista, acredita ser difícil o uso da Internet para o

tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, por várias questões e principalmente pela

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questão da transferência. Segundo ela é uma boa discussão e que seja de preferência

com a presença dos sujeitos.

Para Silva o atendimento psicológico on-line não é uma tendência, mas uma

possibilidade talvez, já que a tendência é otimizar o tempo e o espaço e quanto a isso

tem reservas, mas não está fechada à discussão sobre o assunto.

De acordo com Dias, Psicóloga Existencial Humanista, a sua opinião quanto ao

uso da Internet para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line, é de que não é

viável, pois como todo tratamento é um processo de troca entre o terapeuta e o cliente

de corpo presente, com o objetivo de auxiliá-lo a buscar soluções e/ou encaminhá-lo

para suas questões mais íntimas, identificando as insatisfações que não conseguem

superar, seja com relação à sua vida, ou sua realização pessoal, seria necessário o

contato pessoal, para que haja a confiança, a empatia. Para os terapeutas Existenciais

Humanistas, a troca de olhares, o contato pessoal é de fundamental importância.

Dias defende que muitas vezes captamos informações e sentimentos por meio

dos olhares e on-line, poderíamos ser boicotados, como as pessoas já têm a tendência

de desempenhar um papel que não é o dela.

Pessanha, Psicóloga e Gestat Terapeuta, não acredita na eficácia integral do

uso da Internet para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line por ser um método

de contato limitado de troca energética. Para Pessanha, o Universo on-line é uma

realidade. Conveniências, facilidades, perigos, crimes, entre outros temas, são

vivenciados por nós integrados no mundo moderno. Contudo, o atendimento nos

moldes on-line inevitavelmente limita princípios da integração terapeuta-paciente. O

contato necessário para dar energia e prosseguimento ao tratamento perpassa também

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pelo silêncio, pelo não dito, pelas manifestações e expressões corporais. No

atendimento on-line todo este material terapêutico se perde.

Aragão, Psicóloga, utiliza como psicoterapeuta a técnica da Gestalt e como

terapeuta sexual utiliza da técnica Comportamental. A sua opinião quanto ao uso da

Internet para o tratamento psicanalítico/psicoterápico on-line é de que, para ser usado

na terapia é inadequado. Pois, é muito importante a linguagem corporal do cliente este

contato direto é fundamental, pois existem sutilezas de percepção no atendimento, que

é preciso estar em sintonia terapeuta-cliente, no entanto para orientação e/ou

responder dúvidas gerais, acredita ser uma boa ferramenta.

Ao realizarmos a análise do conteúdo de acordo com as opiniões obtidas

encontramos uma perspectiva pouco otimista em relação ao atendimento psicológico

on-line, como as defendidas no decorrer desta pesquisa, pois os profissionais se

mostraram receosos com o novo método de atendimento no que diz respeito a

tratamento psicanalítico ou psicoterápico on-line.

Acreditamos que são necessárias mais pesquisas a respeito desta nova prática,

pois sem estudos e pesquisas é o mesmo que desconstruir, não só todos os conceitos

fundamentais da psicanálise, mas das psicoterapias também, como é apontado nas

falas de vários psicanalistas e psicoterapeutas citados anteriormente nesse estudo.

É cedo ainda para afirmar que a psicanálise é inviável no ambiente on-line,

virtual ou cibernético, pois serão necessários muitos anos de estudos até que se

autentique a sua veracidade. Afirmar que é viável é prematuro, arriscado e perigoso,

levando-se em consideração todos os postulados da psicanálise. Não ficou claro nas

afirmações dos psicanalistas on-line que os conceitos fundamentais da psicanálise,

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entre eles a transferência, podem ser manejados no ambiente on-line e de que forma

eles seriam tratados, com isso considera-se que a técnica psicanalítica on-line ainda

não pode ser considerada como válida.

Sendo assim, de acordo com a manifestação dos psicanalistas e psicoterapeutas

que se utilizam dos métodos de atendimento convencional, percebeu-se que foi de

opinião unívoca que o tema pesquisado merece uma atenção maior, visto que os

subsídios teóricos dos defensores da psicanálise e da psicoterapia on-line precisam ser

melhor estruturados, esclarecidos e explicados cientificamente.

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7 CONCLUSÕES

Para facilitar a compreensão desta pesquisa, optamos por relatar de uma

maneira geral nossas conclusões, nas quais os objetivos plenamente conquistados

estão permeando o texto que se segue.

O desenvolvimento do nosso psiquismo ocorre a partir da forma como

elaboramos as nossas experiências emocionais-afetivas, fundadas nas fantasias e

impressões que temos em relação ao nosso primeiro objeto de amor- a mãe - e depois

em relação à inserção do pai ou de quem faz esta função na nossa vida, pois no

percurso de nosso desenvolvimento, aos poucos somos compelidos a abandonar o

objeto mãe, o que nos “força” a investir em outros objetos.

Na medida em que o sujeito se desenvolve psiquicamente, vai se deparando

com questões inerentes a todos: a angústia de sermos finitos e completamente sós e

outras questões que nos remetem à “dor” de que jamais conseguiremos ser completos,

pois buscamos um reencontro com o objeto imaginariamente perdido, que supomos tê-

lo tido um dia. Isso nos aponta a necessidade de termos as nossas vidas dirigidas a

outros objetos, incluindo-se nestes, outros sujeitos, na obtenção de prazer, que muitas

vezes é frustrado por não conseguirmos a satisfação imediata de todos os nossos

anseios e desejos.

A capacidade de os sujeitos lidarem com essa não satisfação imediata é

importante na constituição destes, para que com isso possam suportar, sem um “dano”

muito grave ao seu psiquismo, suas frustrações, angústias e conflitos, determinando-se

assim a estrutura psíquica dos sujeitos.

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Mister se faz ressaltar que em todos os momentos de nossas vidas postergamos

alguns desejos, vontades e necessidades que poderão em outros momentos serem

realizados, e é nessa dinâmica que os sujeitos podem “promover” seu bem-estar

psíquico. É importante ressaltar que a forma dos sujeitos lidarem com suas mazelas

psíquicas são de caráter subjetivo.

Estamos o tempo todo procurando respostas e fórmulas para minorar a “nossa

eterna dor de existir” e ao longo de nossa evolução buscamos métodos e técnicas que

tornem a nossa vida mais prática e feliz, principalmente no que diz respeito a nossa

vida afetiva, a qual é interpretada, de formas variadas, pelo diversos tipos de

psicoterapias, incluindo-se aqui a psicanálise, através das quais pretendemos encontrar

o tão sonhado “paraíso” psíquico e parece que a Internet está surgindo como mais um

meio para esse encontro.

Oportuno se torna dizer que os avanços tecnológicos inauguraram a era virtual.

Com o avanço das NTICs chegou a Internet que vem revolucionando as formas de

comunicação e de relacionamentos entre pessoas. A Internet de “um simples”

instrumento de pesquisa e comunicação rápida passou a ocupar outros espaços na

vida humana, tais como: leituras de jornais do mundo inteiro; entretenimentos; música;

cinema; relações de amizade; namoro; política; religião; educação e a ciência da

psicologia, que a princípio estava direcionada a assuntos exclusivos da categoria no

que diz respeito a trabalhos acadêmicos e aos conselhos regulamentadores da

profissão.

Cumpre-nos assinalar que os avanços tecnológicos do mundo globalizado e o

advento da Internet têm propiciado uma nova forma de os profissionais oferecerem

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seus trabalhos, com isso alguns psicólogos e profissionais que se interessam pela

prática psicanalítica e psicoterápica têm oferecido o atendimento

psicanalítico/psicoterapêutico on-line, o que vem trazendo muita polêmica com opiniões

diversas acerca da eficácia do referido atendimento, devido a este ainda não ter uma

comprovação científica. O divã que antes era utilizado num ambiente físico concreto,

agora está sendo, por alguns profissionais, substituído pelo ambiente on-line, virtual,

cibernético.

Percebemos que o atendimento psicanalítico e psicoterapêutico on-line ou

cibernético, segundo alguns profissionais, aponta várias facilidades em sua execução:

rapidez; fácil acesso; possibilidades de ser feito em casa ou em outro ambiente de fácil

acesso ao usuário; possibilidade de ser executado em municípios e estados diferentes

de onde a pessoa está; oferecer estes recursos a pessoas que morem em lugares onde

não exista o profissional etc. Ressaltamos que esses atendimentos podem ser

executados através de e-mails, chats, MSN, vídeo-conferência, entre outros recursos

mediados pela Internet.

Oportuno se torna dizer que alguns cyberterapêutas, explicitado durante o

estudo afirmam os benefícios já conquistados nesta nova modalidade e já fazem os

referidos atendimentos e a cada dia surgem novos sites oferecendo os mais diversos

serviços psicológicos. A Resolução nº 012/2005 não impede que tais procedimentos

sejam realizados em forma de orientação até que seja comprovada a sua cientificidade

e validade, como acontece com qualquer objeto de pesquisa.

Este estudo permitiu compreender que a questão mais importante não deve ser

pautada no que diz a referida Resolução, ou se o atendimento on-line é válido ou não,

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mas se a prática psicanalítica se conforma ao ambiente on-line, pois esta tem

especificidades, tais como: a presença física do analista; a fala do analisante; o olhar;

os lapsos de linguagem; como o laço transferencial é constituído; o corte da sessão; as

faltas do analisante; a postura do analisante etc, que possivelmente no ambiente on-

line, cibernético, estariam mascarados, difíceis de serem manejados pelo analista,

sendo difícil definir os procedimentos destes.

Convém ressaltarmos que o analista, em um ambiente face a face, tem melhores

condições de manejar a relação transferencial, para que o analisante prossiga em

desvelar seu inconsciente. No ambiente on-line, provavelmente seria mais difícil, o

analisante pode simplesmente parar de enviar e-mails, ou se for através de chat, MSN

ou skype, desconectar sem dar possibilidades ao analista de trabalhar as questões do

analisante, que podem o impedir de prosseguir a sua análise pessoal.

É preciso insistir no fato de que a psicanálise trabalha com a linguagem do

inconsciente, com a fala do analisante, pois ela é “a matéria prima” em um trabalho de

análise. Ao se criarem novos modelos de emprego da psicanálise, sejam eles quais

forem, esta deixa de ser psicanálise e passa a ser um novo método com propriedades

dos conceitos fundamentais da psicanálise postulados por Freud e Lacan. A psicanálise

dentro do modelo on-line não utiliza a fala do analisante, que fica excluída, como objeto

de trabalho e sim as mensagens enviadas e recebidas por e-mail e este modelo de

atendimento pode impedir que o processo transferencial ocorra.

Quando Berta Pappenhein, conhecida como Anna O. cria a “talking cure”, ou

seja, “a cura pela palavra”, estava em processo transferencial com Freud, o que

possibilitou a emergência da psicanálise e ensinou ao grande Freud que o caminho

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para a “cura” era a palavra, sendo assim, na medida em que tiramos a psicanálise do

campo da fala, da palavra e a transpomos para um outro campo de linguagem, o da

linguagem no ambiente on-line, virtual, cibernética, parece-nos que estamos criando

uma nova psicanálise, utilizando de forma equivocada os conceitos da psicanálise

postulados por Freud e Lacan.

Não podemos perder de vista que, em um processo de análise, é função do

analista propiciar a transferência. O analisante irá transferir, só que a nível inconsciente,

para a figura do analista as questões que construiu em relação aos seus pares

amorosos na infância. Como regra fundamental da psicanálise é preciso que o analista

esteja presente fisicamente para que essa relação aconteça, pois nós construímos

todas as nossas relações, sejam elas em que ordem for, na presença física de um outro

sujeito que é para nós um objeto e só depois, que esta presença pode estar

presentificada na ausência física do outro sujeito. É na transferência com o analista que

o analisante “re-vive”, “reedita” as suas experiências infantis. É na figura do analista que

se configura o sintoma do analisante.

Cumpre-nos ratificar que os chamados psicanalistas e psicoterapeutas on-line

transferiram todo o trabalho que é realizado num consultório convencional para o

ambiente on-line em nome de um possível acompanhamento das NTICs, como se fosse

um ato simples, transgredindo não só aos postulados das várias abordagens

psicológicas, psicanalítica e psicoterapêutica como também aos defensores da

importância do desenvolvimento das NTICs em prol do progresso científico e da

humanidade. Consideramos ainda que este não seja um ato simples, pois banaliza a

psicanálise, as psicoterapias e todos os avanços na área de comunicação e tecnologia.

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Para a psicanálise, o inconsciente se manifesta tanto pela via da escrita, que

segundo Freud é um processo secundário do pensamento, como pela fala, que é

considerada como o único meio pela qual uma análise em psicanálise ocorre. Numa

escrita os erros ortográficos (atos falhos de escrita) que venham a ser cometidos em um

e-mail, por exemplo, podem ser retificados antes de serem enviados, ou até mesmo

num chat esses erros podem ser considerados pelo analisante como um erro de

digitação, fato que acontece com freqüência na Internet. Sendo assim, empobrece o

material do trabalho tanto do analisante quanto do analista.

Outro fator importante a ser observado é que num texto escrito a interpretação é

de quem o lê e não por aquele que o escreve, sendo assim, a interpretação dessa

escrita fica contaminada. Não é incomum um analisante produzir textos e levar para

uma sessão de análise. Quando isto ocorre o analista solicita que o analisante leia

quantas vezes forem necessárias e interroga ao analisante sobre o que escreveu, para

evitar que ocorram interpretações baseadas no ponto de vista do analista.

Na fala não há possibilidades de se corrigirem os equívocos, mesmo que o

analisante diga que o que foi dito escapou na fala e era outra coisa a ser dita. Falar é

uma arte e é através da fala que nós analistas podemos esculpir o mármore e tirar de

dentro deste a bela estátua que nele habita.

Não há concordância entre os psicanalistas e psicoterapeutas convencionais e

os on-line sobre a eficácia do atendimento ser mediado via Internet. Pudemos observar

durante este trabalho, tanto na psicanálise quanto nas psicoterapias convencionais, que

o mais importante num tratamento psicoterápico é a aliança terapêutica, vínculo

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terapêutico e na psicanálise é a transferência entre analista e analisante e que este

laço, a princípio, só acontece na presença física um do outro.

É preciso que os psicanalistas on-line mostrem como os conceitos fundamentais

da psicanálise funcionam neste ambiente, pois estamos lidando com a fragilidade

humana e seu sofrimento psíquico, e a partir daí, podermos avançar rumo ao futuro, ao

bem estar da humanidade e da ciência.

Como se trabalha a importância da presença física do analista nas sessões; a

fala do analisante; a escrita dos e-mails; o olhar; os lapsos de linguagem (atos falhos,

chistes etc.) do analisante; o laço transferencial e o manejo deste; o acolhimento do

material que o analisante traz no ambiente on-line; como o psicanalista on-line trabalha

e interpreta este material; como seria trabalhada a transferência num ambiente mediado

pela Internet; são questões que ainda não foram respondidas e nem explicadas pelos

psicanalistas on-line.

É possível que a psicanálise on-line seja o surgimento de outra psicanálise que

se utiliza dos conceitos fundamentais da psicanálise tradicional. Este “novo modelo de

psicanálise” seria uma psicanálise com outro tipo de linguagem, uma linguagem

específica para o ambiente on-line, virtual, cibernético, que é uma nova ferramenta de

comunicação.

Compreendemos que é possível que a questão entre as duas psicanálises não

demore a ser respondida. Como trabalha o psicanalista on-line, como se trabalham no

ambiente on-line os conceitos fundamentais da psicanálise postulados por Freud e

Lacan, como se constituiria um laço transferencial entre analista e analisante numa

psicanálise on-line, são questões que não foram discutidas nem defendidas pelos

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psicanalistas on-line. Esperamos que, em prol do desenvolvimento do bem-estar dos

sujeitos, da Psicanálise, da Ciência, das NTICs e da Humanidade, os psicanalistas on-

line as encontrem.

Não temos dúvidas que tanto Freud quanto Lacan, se vivos, se interessariam por

pesquisar sobre a psicanálise no ambiente on-line, virtual, cibernético. Pesquisadores e

interessados no progresso do mundo científico e no bem-estar dos seres humanos, eles

aceitariam este novo desafio de pesquisa em prol da ciência e da humanidade e

apontariam que possivelmente o caminho para se efetivar uma análise on-line estaria

na maneira como a formação da transferência entre analisante e analista poderia ser

propiciada no ambiente mediado pela Internet e, é possível que a partir do momento em

que ela, a transferência, tiver sido constituída no ambiente concreto, possa ser feita

uma passagem da análise do ambiente tradicional para a análise no divã virtual.

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