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1 O Efeito do Posicionamento no Sistema Econômico Mundial sobre o Desenvolvimento Econômico e Social: Uma Abordagem Relacional sobre Serviços Autoria: Luciano Rossoni, Márcio Luiz Marietto, Wesley Vieira da Silva RESUMO Neste estudo, objetivamos avaliar como o posicionamento do país no sistema econômico mundial influencia o desenvolvimento econômico (RNB per capita) e social (IDH). A partir da releitura de diferentes perspectivas desenvolvimentistas e de sistemas mundiais sob uma lógica institucionalista, analisamos, por meio do uso da análise de redes sociais, em convergência com dados em painel, a trajetória de 147 países para buscar responder tal questão. Tomando como referência a troca de serviços, verificamos que o posicionamento do país em posições mais centrais, o centro e a semiperiferia, assim como sua capacidade de intermediação interferem positivamente no desenvolvimento econômico, mas não no desenvolvimento social. No entanto observamos que aqueles países com maior terceirização de seus serviços para outros países tendem a apresentar maior desenvolvimento social. Tais resultados contribuem para a discussão sobre explicações sistêmicas do desenvolvimento dos países, mas, diferentemente da maior parte da literatura que versa sobre o tema, não atribuímos uma visão estrutural-determinista a tal fenômeno. Ao invés disso, propomos que os sistemas mundiais devam ser analisados sob uma ótica institucional-estruturacionista, o que remete a diferentes reflexões de ordem ontológica sobre o desenvolvimento econômico e social das nações. INTRODUÇÃO Os condicionantes do desenvolvimento econômico e social dos países são correntemente discutidos na literatura sobre política e economia internacional, cujas explicações, ora de ordem endógena, ora exógena, apontam diferentes perspectivas de análise do fenômeno. Na primeira delas, formulações econômicas neoclássicas (p.ex. Rostow, 1960) reforçam a importância dos mecanismos internos dos países como alavancadores do desenvolvimento, como, por exemplo, aumento da poupança, entrada de investimentos e formação de capital (Snyder & Kick, 1979). Essas explicações remetem à idéia de que países subdesenvolvidos devam recompor a trajetória de desenvolvimento dos países desenvolvidos, supondo que o desenvolvimento econômico é independente de fatores exógenos. Já na segunda, teóricos da dependência e de sistemas mundiais (p. ex. Wallerstein, 1974) buscam explicar que o desenvolvimento dos países depende fundamentalmente do seu posicionamento no sistema geopolítico, refletido por meio das relações de troca. Tal perspectiva prioriza as relações econômicas como determinante do desenvolvimento (Chase-Dunn, 1995; Clarck, 2006), em que a maior dependência do capital estrangeiro (Kentor, 1998), o menor número de parceiros (Smyth & White, 1992) e a troca desigual (Emmanuel, 1972) promovem desvantagens que são cumulativas para países periféricos, enquanto que, para países centrais, configuram-se como vantagens cumulativas (DiPrete & Eirich, 2006; Snyder & Kick, 1979). Esses dois conjuntos de explicações consolidaram-se em duas tradições de pesquisa sobre o desenvolvimento dos países, a neoclássica, de caráter endógeno, e a sistêmica ou do sistema mundial, de caráter exógeno, em que, neste estudo, debruçaremos sobre a segunda. A visão de sistema mundial (World System) remete a idéia de que o mundo moderno é composto de três posições estruturais: centro (core), semiperiferia (semiperiphery) e periferia (periphery), que indicam a divisão internacional do trabalho no qual o centro é ligado a periferia e a semiperiferia por meio de relações históricas de exploração (Wallerstein, 1974). Tal noção do posicionamento, apesar de ser aceita correntemente na literatura (Chase- Dunn, 2002; Clark, 2006), vem sendo bastante criticada, até mesmo pelos adeptos dessa perspectiva. A primeira crítica se refere ao caráter determinista da abordagem, que era

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O Efeito do Posicionamento no Sistema Econômico Mundial sobre o Desenvolvimento Econômico e Social: Uma Abordagem Relacional sobre Serviços

Autoria: Luciano Rossoni, Márcio Luiz Marietto, Wesley Vieira da Silva

RESUMO Neste estudo, objetivamos avaliar como o posicionamento do país no sistema econômico mundial influencia o desenvolvimento econômico (RNB per capita) e social (IDH). A partir da releitura de diferentes perspectivas desenvolvimentistas e de sistemas mundiais sob uma lógica institucionalista, analisamos, por meio do uso da análise de redes sociais, em convergência com dados em painel, a trajetória de 147 países para buscar responder tal questão. Tomando como referência a troca de serviços, verificamos que o posicionamento do país em posições mais centrais, o centro e a semiperiferia, assim como sua capacidade de intermediação interferem positivamente no desenvolvimento econômico, mas não no desenvolvimento social. No entanto observamos que aqueles países com maior terceirização de seus serviços para outros países tendem a apresentar maior desenvolvimento social. Tais resultados contribuem para a discussão sobre explicações sistêmicas do desenvolvimento dos países, mas, diferentemente da maior parte da literatura que versa sobre o tema, não atribuímos uma visão estrutural-determinista a tal fenômeno. Ao invés disso, propomos que os sistemas mundiais devam ser analisados sob uma ótica institucional-estruturacionista, o que remete a diferentes reflexões de ordem ontológica sobre o desenvolvimento econômico e social das nações.

INTRODUÇÃO Os condicionantes do desenvolvimento econômico e social dos países são

correntemente discutidos na literatura sobre política e economia internacional, cujas explicações, ora de ordem endógena, ora exógena, apontam diferentes perspectivas de análise do fenômeno. Na primeira delas, formulações econômicas neoclássicas (p.ex. Rostow, 1960) reforçam a importância dos mecanismos internos dos países como alavancadores do desenvolvimento, como, por exemplo, aumento da poupança, entrada de investimentos e formação de capital (Snyder & Kick, 1979). Essas explicações remetem à idéia de que países subdesenvolvidos devam recompor a trajetória de desenvolvimento dos países desenvolvidos, supondo que o desenvolvimento econômico é independente de fatores exógenos. Já na segunda, teóricos da dependência e de sistemas mundiais (p. ex. Wallerstein, 1974) buscam explicar que o desenvolvimento dos países depende fundamentalmente do seu posicionamento no sistema geopolítico, refletido por meio das relações de troca. Tal perspectiva prioriza as relações econômicas como determinante do desenvolvimento (Chase-Dunn, 1995; Clarck, 2006), em que a maior dependência do capital estrangeiro (Kentor, 1998), o menor número de parceiros (Smyth & White, 1992) e a troca desigual (Emmanuel, 1972) promovem desvantagens que são cumulativas para países periféricos, enquanto que, para países centrais, configuram-se como vantagens cumulativas (DiPrete & Eirich, 2006; Snyder & Kick, 1979).

Esses dois conjuntos de explicações consolidaram-se em duas tradições de pesquisa sobre o desenvolvimento dos países, a neoclássica, de caráter endógeno, e a sistêmica ou do sistema mundial, de caráter exógeno, em que, neste estudo, debruçaremos sobre a segunda. A visão de sistema mundial (World System) remete a idéia de que o mundo moderno é composto de três posições estruturais: centro (core), semiperiferia (semiperiphery) e periferia (periphery), que indicam a divisão internacional do trabalho no qual o centro é ligado a periferia e a semiperiferia por meio de relações históricas de exploração (Wallerstein, 1974).

Tal noção do posicionamento, apesar de ser aceita correntemente na literatura (Chase-Dunn, 2002; Clark, 2006), vem sendo bastante criticada, até mesmo pelos adeptos dessa perspectiva. A primeira crítica se refere ao caráter determinista da abordagem, que era

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pautada fundamentalmente em mecanismos estrutural-funcionalistas para explicar o desenvolvimento dos países, deixando de lado o papel da agência (Chase-Dunn, 2002). A segunda crítica, feita principalmente por seguidores da abordagem da sociedade mundial (World Society), remete à ênfase dada à dimensão econômica, principalmente as trocas comerciais, tomando qualquer aspecto cultural da relação entre países como epifenômeno (Clark, 2006; Meyer, Boli, Thomas, & Ramirez, 1997). A terceira crítica aponta a inexistência de critérios operacionais para classificar os países em diferentes posições nos trabalhos iniciais dessa abordagem (Snyder & Kick, 1979).

Partindo dessas críticas, em primeiro lugar, buscamos com este estudo posicionar a análise de sistemas mundiais dentro de uma perspectiva institucional-estruturacionista, destacando o papel da agência no processo de desenvolvimento dos países e sua dualidade com os sistemas mundiais. Tal dualidade ressalta que o resultado da ação dos países para se desenvolver não é determinado nem por seu caráter interno, nem externo, mas é condicionado por ambos, cuja trajetória do desenvolvimento ao mesmo tempo que restringe as possibilidades de ações, também habilita novas alternativas. Essa idéia remete a noção de ontologia de potenciais de Giddens (1989), estando presente no pensamento de alguns teóricos de sistemas e sociedades mundiais (p. ex. Chase-Dunn & Grimes, 1995, Chase-Dunn, 2002; Clark, 2006; Meyer et al. 1997), sendo guia para a interpretação deste trabalho. Em segundo lugar, esperamos contribuir para os estudos sobre sistemas mundiais por incorporar um elemento negligenciado na avaliação da posição dos países: a troca de serviços. Diante do aumento da importância do setor terciário para as economias nacionais (Bollen & Appold, 1993), entender a relação de troca de serviços possibilita compreender como o aumento da participação dos países nessa categoria de relação econômica condiciona o desenvolvimento econômico e social. Em terceiro lugar, seguindo estudos anteriores (Nemeth & Smith, 1985; Smith & White, 1992; Snyder & Kick, 1979) faremos uma análise empírica do posicionamento do país no sistema de troca de serviços por meio da abordagem de análise de redes sociais. No entanto utilizaremos o procedimento adotado por Clark (2006), que usou um algoritmo genético que possibilita a análise da posição dos países na rede de forma contínua e robusta (vide Borgatti & Everett, 1999). Por fim, além de analisar o efeito do posicionamento no sistema mundial sobre o desenvolvimento econômico (avaliado por meio da renda per capita), utilizaremos um indicador mais amplo de desenvolvimento social que estudos anteriores, o índice de desenvolvimento humano (IDH).

Diante do exposto, objetivamos avaliar empiricamente, por meio da convergência da análise de rede sociais com dados em painel, como o posicionamento do país frente ao sistema econômico mundial influencia o desenvolvimento econômico e social. Para tanto, estruturamos o artigo em quatro partes. No quadro teórico de referência faremos uma revisão dos conceitos fundamentais para o entendimento do trabalho, apontando algumas hipóteses de pesquisa. Depois, especificaremos os dados e os procedimentos analíticos que dão suporte à seção seguinte, resultados. Por fim, discutimos os resultados concluindo com as implicações teóricas e práticas do estudo, apontando caminhos para estudos futuros.

QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA E HIPÓTESES

Segundo Chase-Dunn (2002), a idéia de sistemas mundiais (World-Systems) tem suas raízes na sociologia clássica, na teoria Marxista, na geopolítica e nas teorias de evolução social. No entanto a perspectiva emergiu somente na década de 70, quando Amin, Frank e Wallerstein começaram a formular seus conceitos e a construir narrativas analíticas sobre a história do moderno sistema mundial. Para Wallerstein (2004), um sistema mundial é uma zona geográfica extensa na qual existe uma divisão do trabalho e conseqüentemente, um significativo intercâmbio interno de bens básicos e essenciais assim como de fluxos de capital e trabalho. Para ele, a divisão existente implica desigualdade e tentativa de exploração com o

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intuito de se obter valor excedente. Nessa mesma perspectiva de interpretação dos sistemas mundiais, Arienti e Filomeno (2007) interligam os conceitos da relação centro-periferia expostos por Wallerstein (1974), Braudel (1979) e Arrighi (1997), explicando que ela se baseia numa divisão axial do trabalho entre as várias regiões da economia-mundo capitalista, onde são desenvolvidas as etapas das cadeias mercantis. Na visão dos autores, essa divisão do trabalho entre regiões é manipulada pelos Estados nacionais mais fortes, de modo a garantir aos seus capitalistas locais o controle sobre as etapas do processo produtivo e comercial que proporciona a maior absorção do excedente gerado em uma cadeia mercantil. Essa assimetria no controle das atividades produtivas e comerciais entre burguesias nacionais é continuamente reproduzida, na medida em que passa a operar uma força centrípeta de concentração do excedente nas mãos da burguesia do centro, por meio de mecanismos de troca desiguais (Emmanuel, 1972), que tende a dar continuidade à diferenciação entre as regiões. Vista dessa forma, a distribuição do excedente gerado numa cadeia mercantil é determinada não apenas pela distribuição desigual de vantagens econômicas, isto é, dotação desigual de fatores, diferenças tecnológicas e organizacionais, mas, principalmente, pela relação de forças em que se confrontam as burguesias nacionais e seus respectivos Estados.

O conceito centro-periferia, ou centro, semiperiferia e periferia, como aborda Wallerstein (1974), explica a transferência de excedente gerado pela produção de determinadas atividades para outras que fazem parte da cadeia mercantil e estão concentrados em uma dada região. Como um processo econômico mundial capitalista, a divisão mundial do trabalho e a distribuição desigual do excedente geram atividades centrais e periféricas conforme a capacidade de absorção de cada Estado. Historicamente, capitalistas e Estados organizam o processo de produção mundial em vários locais, de forma que haja, por um lado, uma concentração de atividades monopolistas em determinadas regiões, tornando-as centrais, e, por outro lado, atividades sem condições de escapar da troca desigual dos monopolistas e da concorrência, tornando-as regiões periféricas. Segundo Arienti e Filomeno (2007), essa relação não é dicotômica, mas contínua, em que regiões podem ter, simultaneamente e paralelamente, atividades centrais e periféricas, ou aquelas que absorvem valor de atividades periféricas, de um lado, e transferem valor para atividades centrais, de outro. Amplia-se, assim, a classificação que se pode fazer de zonas geográficas da produção mundial, como os territórios dos Estados nacionais, que podem ser classificadas, nesse continuum, como zonas centrais, semiperiféricas e periféricas.

Os apontamentos acima, apesar de predominantes por muito tempo na literatura sobre sistemas mundiais, vêm sendo revistos diante da ausência de comprovação empírica de algumas de suas inferências (Chase-Dunn & Grimes, 1995; Clark, 2006, Van Rossem, 1996); por colocar o papel do estado como agente em segundo plano (Chase-Dunn, 2002); e por desconsiderar os aspectos culturais e institucionais que emergem nos países (Meyer et al., 1997). Essa revisão ocorre mais sobre os aspectos ontológicos e epistemológicos da ordem trabalhada por Wallerstein do que dos mecanismos sociais envolvidos nos sistemas mundiais em si. Sob essa revisão, Chase-Dunn (2002) afirma que o sistema mundial, como qualquer sistema, é composto por redes de interação humana, desde arranjos familiares até o comércio global. Com isso, o foco da análise de sistemas mundiais deixa de ser somente a esfera econômica e suas posições, e passa a compor outros sistemas que têm interações em nível global (Chase-Dunn & Grimes, 1995). Assim, sistemas mundiais podem ser entendidos estruturalmente como sistemas compostos por sociedades economicamente e politicamente dominantes e regiões periféricas e semiperiféricas dependentes.

Desta concepção de sistema mundial, desdobra-se o entendimento de que o antecedente primordial do bem estar social das nações é a posição que ela ocupa. No entanto essa visão também vem sendo reavaliada pelos próprios pesquisadores dessa corrente (Chase-Dunn, 2002) e principalmente por adeptos da abordagem da sociedade mundial, que enfatiza a

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imersão cultural, institucional e relacional do país como antecedentes do desenvolvimento (Clark, 2006; Meyer et al., 1997). Assim, a lógica de compreensão dos sistemas sociais deixa de ser as relações de dependência e passa ser o grau de imersão e integração dos países em normas e scripts compartilhados globalmente. Com isso, o desenvolvimento deixa de ser entendido exclusivamente pela configuração do ambiente internacional, atendo-se a fatores sociais, econômicos, políticos e culturais internos à nação como vitais para a modificação da trajetória de dependência de um país (Feenstra & Hamilton, 2006; Van Rossem, 1996).

Diante dessa perspectiva, entendemos que o processo de desenvolvimento dos países, enquanto parte de um movimento dentro de um sistema mundial, deva ser entendido sob uma lógica institucional-estruturacionista (Meyer et al., 1997). Isso remete ao entendimento de que as nações são capazes de romper com trajetórias de dependência, já que possuem agência, ou seja, existe uma relação recursiva entre a posição que o país ocupa no sistema e sua estrutura, em que a estrutura é constituída pela ação dos agentes ao mesmo tempo que constitui seus parâmetros de ação (Giddens, 1989). Nesses termos, a estrutura apresenta caráter dual: ela tanto habilita quanto constrange as ações dos agentes. Sendo assim, a análise de sistemas mundiais recai sobre a compreensão do posicionamento do país no sistema.

Giddens (1989) prefere trabalhar com a noção de posicionamento ao invés de posição, pois entende que os sistemas sociais, ao invés de rigidamente estruturados em dimensões objetivas, estão organizados como práticas sociais regularizadas. Para o autor, mesmo os sistemas sociais existindo somente na continuidade das práticas sociais, suas propriedades estruturais são mais bem caracterizadas como relações posições-prática (Giddens, 1989). Dessa forma, “uma posição social envolve a especificação de uma ‘identidade’ definida numa rede de relações sociais, sendo essa identidade, porém, uma ‘categoria’ à qual certa gama de sanções normativas é concernente” (Giddens, 1989, p. 67). Perante suas explanações, entendemos a posição social que um país ocupa no sistema mundial como uma identidade social, portadora de prerrogativas e obrigações que ele pode executar enquanto agente, constituindo as prescrições de papel associadas a essa posição (Giddens, 1989). Em outras palavras, países se posicionam no sistema social a partir do conjunto de suas ações, o que leva ao entendimento que as posições não são fixas, mas transitórias diante da prática. Tal afirmação não significa que as posições sejam fluídas, mas que não são determinadas pela estrutura.

Enquanto sistema de estratificação, os recursos não são distribuídos equitativamente nos sistemas sociais (Chase-Dunn, 2002), em que países que apresentam maior capacidade de agência e que estejam mais bem integrados conseguem se beneficiar do melhor posicionamento dentro do sistema mundial. Tal posicionamento é historicamente e estruturalmente condicionado, em que a vantagem de grupos mais bem posicionados tende a crescer no decorrer do tempo, enquanto os grupos mal posicionados tendem a apresentar desvantagens ou estagnação. Isso não significa dizer que a trajetória determine o posicionamento do país, mas que uma posição privilegiada leva a uma vantagem cumulativa (DiPrete & Eirich, 2006). Sendo assim, argumenta-se que a renda per capita de um país resumiria a sua apropriação relativa da renda mundial e que, em uma perspectiva de longa duração, esse posicionamento relativo indicaria a capacidade do país de extrair ou de comandar mais ou menos recursos da economia mundial em função dos mecanismos de acumulação. Desse modo, seria possível avaliar, indiretamente, o posicionamento do país por meio da análise das cadeias de mercadorias, como vem sendo correntemente feito na literatura. No entanto entendemos que outra parte do fluxo dos recursos no sistema econômico mundial também reflita na geração de riqueza dos países, por isso propomos avaliar o posicionamento do país por meio da troca de serviços, levando-nos a delinear a seguinte hipótese:

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H1a: Quando mais central for o país no sistema econômico mundial, maior o seu desenvolvimento econômico (GNI per capita).

Uma posição central não significa somente maior quantidade de recursos, mas também maior grau de imersão em sistemas culturais e sociais mais amplos (Clark, 2006). Com isso, aumenta a pressão por parte de agentes e mecanismos sociais pela aceitação de normas e valores vigentes no sistema social mais amplo (Meyer et al., 1997). Essa maior imersão dos países no sistema social tem levado a um aumento na integração por meio da troca de produtos e serviços, de fluxo de capitais, migração, laços diplomáticos e presença de organizações governamentais (Clark, 2006). Com isso, mecanismos organizacionais tendem a pressionar governos locais a tomar medidas de bem estar social em prol de sua população (Clark, 2006; Meyer et al., 1997). Assim, esperamos que:

H1b: Quando mais central for o país no sistema econômico mundial, maior o seu desenvolvimento social (IDH).

Além do posicionamento de uma forma geral, esperamos que outros elementos relacionados à troca de serviços estejam associados a maiores taxas de desenvolvimento econômico e social. Um deles é o fenômeno da terceirização ou subcontratação de serviços em nível internacional. Como apontado por Amato Neto (1995), desde a aceitação do paradigma japonês de produção enxuta, a desverticalização das atividades das organizações têm crescido em tamanho e importância nos últimos anos. Cada vez mais as empresas terceirizam parte de seu processo produtivo para outras (subcontratadas) localizadas em qualquer parte do globo. No caso dos serviços, o processo de terceirização entre países vem se intensificado devido às possibilidades que a tecnologia da informação trouxe para o controle das cadeias globais de gestão (Castells, 1999; Giddens, 1991). Segundo Grossman e Helpman (2005), a decisão de uma empresa subcontratar um serviço de outra em um país diferente depende da densidade do mercado doméstico e estrangeiro, dos custos de padronização das atividades e das condições econômicas e legais do país. Sendo assim, as atividades de maior valor agregado tendem a se concentrar no país de origem, delegando aquelas atividades de menor valor agregado para países com empresas subcontratadas. Com isso, países posicionados nas regiões centrais tendem a apresentar cada vez maior produtividade e rendimento, enquanto os países periféricos ficam com atividades de baixa produtividadei. Esse movimento em escala global pode ser avaliado a partir da identificação do número de países que têm empresas subcontratados por cada país de origem, em que o maior grau de terceirização reflete não somente maior renda, mas a complexidade dos empregos e serviços nesse país. Processos produtivos complexos estão, por sua vez, relacionados com maiores necessidades de educação e bem estar da sociedade (Castells, 1999), diretamente analisadas pelo seu grau de desenvolvimento humano. Sendo assim, diante das afirmações acima, entendemos que:

H2a: Quanto maior o grau de terceirização de serviços do país, maior o desenvolvimento econômico (GNI per capita).

H2b: Quanto maior o grau de terceirização de serviços do país, maior o desenvolvimento social (IDH).

Se os países são repositórios das organizações que trocam produtos e serviços entre si, eles tendem a se beneficiar assim como promover essas trocas. Sendo o posicionamento do país definido pelas suas relações de troca com os demais, uma posição privilegiada pode levar a vantagens cumulativas (DiPrete & Eirich, 2006) não somente pela quantidade de laços e pela importância dos parceiros, mas também pela capacidade que o país tem de controlar essas relações. A isso chamamos intermediação, que nesse estudo se refere à capacidade de um país ligar outros que não estão diretamente relacionados. Basicamente a intermediação

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explica a liberdade de ação e a oportunidade que um país obtém por ligar aqueles não diretamente conectados, aproveitando a ausência de laços entre eles para obter vantagens adicionais, que são convertidas em rendas extras. A idéia fundamental nessa noção é a extensão que a estrutura de relações de uma arena competitiva cria oportunidades para certos agentes por meio de seus relacionamentos (Burt, 1992). Assim, além do posicionamento em centro e semiperiferia, os países podem se beneficiar dos relacionamentos mais circunscritos no seu campo direto de atuação, controlando o fluxo de serviços entre eles. Com isso, esperamos que os mecanismos envolvidos na acumulação de vantagens para países mais bem posicionados também estejam presentes na capacidade de intermediação, refletindo no desenvolvimento econômico e social, o que nos levou a propor que:

H3a: Quando maior a capacidade de intermediação do país, maior o desenvolvimento econômico (GNI per capita).

H3b: Quando maior a capacidade de intermediação do país, maior o desenvolvimento social (IDH).

DADOS E MÉTODO Tendo em vista a necessidade de avaliar a relação entre posição do país e

desenvolvimento econômico social, dois tipos de dados foram coletados, relacionais e composicionais. Os dados relacionais foram coletados na base de dados Service Trade Statistics, disponibilizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta base está disponível o fluxo de importação e exportação de serviços (p.ex. transportes, serviços financeiros, licenças, leasing operacional, entre outros) entre todos os países participantes da ONU. No entanto, seguindo estudos anteriores (Smith & White, 1992; Snyder & Kick, 1979), selecionamos somente aqueles países que apresentavam mais do que 1 milhão de habitantes no ano de 2002. Com estas informações, foi possível construir uma matriz quadrada, cruzando o fluxo de transação entre todos os países. Esses dados foram dicotomizados para efeito da análise de redes sociais (p.ex. Kim & Shin, 2002; Snyder & Kick, 1979), em que países com relação entre si em dado ano eram codificados como 1 e países sem relacionamento codificados como 0. Para tanto, avaliamos as relações considerando o total de troca (Código 200 da base), pois, devido à base ser recente, dados sobre serviços específicos ainda não são totalmente precisos. Consideramos somente o valor das exportações para não haver sobreposição com as importações há exemplo de estudos anteriores e por também apresentar maior quantidade de informação. Como buscamos avaliar essa relação longitudinalmente, coletamos essas informações entre os anos de 2002 e 2006 construindo cinco diferentes matrizes de relações, uma para cada ano, em que 149 países foram identificados e analisados.

Já os dados composicionais, relativos aos indicadores econômicos e sociais de cada um dos países individualmente, foram coletados na base de dados do Banco Mundial, também considerando os anos de 2002 a 2006. A única exceção foi o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que foi coletado nos relatórios anuais de desenvolvimento humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Depois disso, tendo os países como unidade de análise, construímos uma base de dados no formato de painel balanceado com os indicadores econômicos e sociais, somando a esses indicadores as variáveis relacionais originadas da análise de redes de serviços. Dois países foram descartados (Porto Rico e Botsuana) por não apresentarem informações sobre troca de serviços em todos os anos, consistindo, no fim, na análise de 147 países observados em 5 anos diferentes, totalizando 735 observações.

Variáveis Dependentes. Selecionamos duas variáveis como dependentes. Para analisar o grau de desenvolvimento econômico selecionamos o (1) Rendimento Nacional Bruto per capita (GNI per capita, PPP), avaliado em dólares correntes, considerando a paridade do poder de compra. Como aponta Clark (2006), considerar a paridade de compra é necessário

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porque a comparação de rendas nacionais em uma moeda comum não descreve com precisão as diferenças em termos de possibilidades materiais em cada país, já que existem diferenças nos rendimentos e no custo de vida entre eles. Com essa ponderação da renda, os resultados tendem a ser mais representativos de acordo com a realidade de cada país. Devemos destacar que outras medidas de avaliação da renda da população são mais frequentemente utilizadas do que o Rendimento Nacional Bruto per capita (RNB per capita, que usaremos intercambiavelmente como GNI per capita). Por exemplo, Clark (2006) e Van Rossem (1996) utilizaram o Produto Interno Bruto per capita (GDP per capita), Snyder e Kick (1979) utilizaram o Produto Nacional Bruto per capita, Snyder e Kick (1979) e Van Rossem (1996) também utilizaram a taxa de mudança na renda como variável dependente. Porém optamos utilizar o GNI per capita devido ao indicador compreender, além dos elementos do Produto Interno Bruto (consumo, investimentos, gastos do governo e balança comercial), a renda líquida recebida menos a enviada para o exterior (Produto Nacional Bruto), deduzindo desses valores os lucros gerados por empresas estrangeiras no país. Com esses elementos adicionais presentes no indicador, consideramos que essa medida capte melhor o desenvolvimento econômico.

Avaliamos o desenvolvimento social por meio do (2) Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que possibilita comparar o bem-estar da população entre diferentes regiões. Desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, o IDH vem sendo usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como instrumento de medida da qualidade de vida dos países. Segundo o PNUD (2007), o IDH engloba três dimensões: educação, expectativa de vida e renda. Dois indicadores são considerados para avaliar a dimensão educação. O primeiro é a taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade. O segundo indicador é o somatório das pessoas, independentemente da idade, matriculadas em algum curso, seja ele fundamental, médio ou superior, dividido pelo total de pessoas entre 7 e 22 anos. Também entram na contagem os alunos de supletivo, de classes de aceleração e de pós-graduação universitária. Já a dimensão expectativa de vida se refere à quantidade de anos que uma pessoa nascida em determinada localidade deve viver. Por fim, a dimensão renda é calculada tendo como base o PIB per capita do país. Como existem diferenças entre o custo de vida de um país para o outro, a renda medida pelo IDH é em dólar PPC (Paridade do Poder de Compra), que elimina essas diferenças, como fizemos com o GNI per capita. O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total), sendo os países classificados deste modo: IDH entre 0 e 0,499 é considerado baixo; IDH entre 0,500 e 0,799 é considerado médio; IDH entre 0,800 e 1 é considerado alto.

Variáveis Independentes. Seguindo estudos anteriores (Clark, 2006; Kim & Shin, 2002, Nemeth & Smith, 1985; Smith & White, 1992; Snyder & Kick, 1979, Van Rossem, 1996) utilizamos como variável independente o posicionamento do país no sistema mundial. Todavia, diferentemente desses estudos, buscamos um entendimento adicional da relação nesses sistemas por meio das trocas de serviços entre países. Mesmo sabendo que existe uma dominância teórica do uso de relações comerciais em estudos sobre sistemas mundiais (Van Rossem, 1996), entendemos que o setor de serviços vem aumentando sua parcela de contribuição na renda dos países, sendo caminho alternativo de desenvolvimento para alguns deles. Sendo assim, além das formas tradicionais de análise do posicionamento do sistema mundial, avaliamos outros tipos de variáveis de redes que não vinham sendo tratadas na literatura, objetivando atender as particularidades da troca de serviços entre países. A primeira delas, (1) InDegree ou centralidade de grau de entrada é definida simplesmente pelo número de laços recebidos por um ator em uma rede (Wasserman & Faust, 1994). Com esse indicador, podemos avaliar a quantidade de países que prestaram algum tipo de serviço para determinado país, em que quanto maior o número de laços, maior o número de países

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terceirizados. Espera-se um relacionamento positivo entre o número de países prestadores de serviços para um determinado país, que indica o grau de terceirização, e os indicadores de desenvolvimento. Selecionamos também a variável relacional (2) Betweenness, ou centralidade de intermediação, que avalia a dependência de atores não adjacentes de outros que atuam como ponte para a efetivação da interação entre eles (Wasserman & Faust, 1994). Nesse caso, quanto maior o grau de centralidade de intermediação, maior o controle potencial de um ator sobre outros, já que dele dependem para executar a interação. Assim, diante do exposto no quadro teórico de referência, espera-se que países com maior centralidade de intermediação apresentem maior grau de desenvolvimento econômico e social. Para avaliar o posicionamento do país de forma hierárquica usamos duas medidas de relacionamentos. A primeira delas foi o (3) Eigenvector, uma medida de natureza contínua que avalia o grau de centralização de um nó considerando também a centralidade dos laços vizinhos, ou seja, ela leva em conta o grau de hierarquização das relações para compor o indicador. Utilizamos essa medida contínua, a exemplo de Van Rossem (1996), pois, segundo Chase-Dunn (1998), sistemas mundiais não apresentam categorias discretas, e, além disso, variáveis contínuas são vantajosas por não perderem informação como acontece com medidas categóricas do tipo centro-periferia, que consideram os países somente como grupos. No entanto, para contrapor e comparar medidas de hierarquização contínuas com categóricas, utilizamos a variável (4) Coreness. Diferentemente da maioria dos estudos anteriores que utilizaram blockmodels por meio de equivalência estrutural (Nemeth & Smith, 1985; Snyder & Kick, 1979) e regular (Smith & White, 1992; Van Rossem, 1996), optamos pela medida proposta por Borgatti e Everett (1999), pois ela avalia a hierarquização das relações na rede como um todo, sendo uma medida mais global que o Eigenvector. O Coreness varia de 0 a 1, em que países mais bem posicionados na rede apresentam valores próximos de 1. Por ser contínua, ela possibilita tanto a avaliação direta como a criação de agrupamentos com número indeterminado de posições. Assim, além de avaliá-la diretamente, criamos uma variável discreta definindo o número de posições a partir da proposição de Wallerstein (1974) de que o sistema mundial se divide em periferia, semiperiferia e centro, criando uma variável de cluster com três grupos por meio do método k-meansii. Depois disso, criamos uma variável dicotomizada para a semiperiferia (Dummy1Core3) e para o centro (Dummy2Core3), tomando como categoria de referência a periferia (código 0 nas duas variáveis). Como delineado nas hipóteses, esperamos um relacionamento positivo entre a posição e o desenvolvimento econômico e social.

Variáveis de Controle. Para evitar efeitos espúrios, controlamos a relação entre variáveis conforme o indicado na literatura. Em primeiro lugar, levamos em consideração que o desenvolvimento econômico e social é mediado positivamente por variáveis que indicam o grau de integração do país com o sistema de comércio mundial e com o fluxo de investimento direto. A primeira delas, (1) (High-technology exports (% of manufactured exports)), avalia a capacidade que um país tem de produzir e exportar produtos de alta tecnologia, comparando o total de exportação desses produtos com o total de exportações de produtos manufaturados. Controlar esse efeito é importante porque, segundo Mani (2000), a representatividade de produtos de alta tecnologia no comércio mundial vem aumentando a cada ano. Além disso, a concentração de exportações em produtos de alta tecnologia indica alto valor agregado e produtividade da força de trabalho (Mandel, 1975), promovendo uma troca desigual entre países que dependem desses produtos para seu desenvolvimento (Emmanuel, 1972). A segunda, investimento estrangeiro direto (2) (Foreign Direct Investment (ln)), que foi logaritmizada para ajustar a simetria e a curtose, avalia a quantidade de investimento direto estrangeiro no país. Controlamos esse efeito por esperar que o investimento estrangeiro direto possibilite um aumento na riqueza e no bem estar do país por meio do aumento na produção das empresas gerado pelo financiamento das atividades, pela transformação desses recursos em infra-estrutura e por estimular a difusão de novas tecnologias, formas organizacionais e

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práticas de gestão mais racionalizadas (Bollen & Appold, 1993; Chase-Dunn, 1975). Por fim, avaliamos o percentual de exportação de bens e serviços em relação ao produto interno bruto (3) (Exports of goods and services (% of GDP)) como medida de interdependência do país com o comércio internacional. Segundo Bollen e Appold (1993) e Rubinson (1976), avaliar o total de exportações ponderado pelo produto interno bruto é uma medida mais acurada que o total de exportações em dólar, já que ilustra o quanto uma economia depende do comércio internacional para gerar riqueza.

Em segundo lugar, controlamos os efeitos endógenos, que caracterizam cada um dos países. Avaliamos duas medidas relativas à saúde da economia: o crescimento da renda em relação ao ano anterior (4) (GDP growth (annual %)), pois entendemos que países com maiores taxas de crescimento tenham maior espaço para investimentos sociais e apresentam circunstâncias favoráveis à acumulação de riqueza; o Produto Nacional Bruto logaritmizado (5) (GDPcurrent (ln)), que mede o total de riqueza do país, pois países mais ricos tendem a ter maior possibilidade de reverter riqueza em renda e bem estar social (Rubinson, 1976, Van Rossem, 1996). Seguindo estudos anteriores (Clark, 2006, Snyder & Kick, 1979) avaliamos como medida de capital social a taxa de escolaridade entre jovens (6) (Ratio of girls to boys in primary and secondary education (%)), diante das evidências de que populações com maior grau de educação tendem a apresentar maior desenvolvimento econômico e social. Também controlamos o efeito do grau de industrialização do país por meio do valor agregado (7) (Industry, value added (% of GDP)), que nada mais é do que a contribuição da indústria ao produto interno bruto (vide Bollen & Appold, 1993 e Clark, 2006), já que há evidências de seu efeito no desenvolvimento (Chase-Dunn, 2002). O efeito da área do país em km² logaritmizados (8) (Surface (ln)) foi controlado, pois há relação entre países com grande extensão territorial e baixo desenvolvimento econômico (Bollen & Appold, 1993). Como há indícios que países com elevada população e com grandes taxas de crescimento populacional tenham menores possibilidades de promover o desenvolvimento econômico e social (Chase-Dunn e Grimes, 1995), incluímos como controle a variável população total logaritmizada (9) (PopulationTotal (ln)), assim como a taxa de crescimento anual (10) (Population growth (annual %)). Também controlamos o efeito da inflação como redutor do produto interno bruto (11) (Inflation, GDP deflator (annual %)), já que altas taxas de inflação prejudicam a formação da renda e afetam diretamente o poder de compra da população (Dornbusch & Reynoso, 1989). Por fim, controlamos o efeito do tempo (12) (Year) com variáveis Dummy, que foram suprimidas na visualização dos modelos, evitando efeitos sazonais.

Modelo. Para analisar o relacionamento entre as variáveis e o desenvolvimento econômico e social utilizamos modelos regressivos de dados em painel não balanceados (OLS Pooled Regression com Erro Robusto), devido à ausência de alguns dados. Esses modelos não ferem os pressupostos de independência dos resíduos, sendo verificado por meio de testes autoregressivos (AR) de primeira, segunda, terceira e quarta ordem. Criamos cinco modelos para cada variável dependente: o modelo 1 considerou somente as variáveis de controle; no modelo 2 adicionamos a variável dependente Coreness com o objetivo de avaliar a influência da posição do país no sistema mundial por meio de uma medida contínua; no modelo 3 analisamos a mesma variável, mas de forma categórica por meio de variáveis Dummy; no modelo 4 usamos uma medida contínua de hierarquização local, o Eigenvector; e, por fim, no modelo 5, consideramos as variáveis categóricas do modelo 3 (semiperiferia e centro), o grau de entrada (InDegree) e o grau de intermediação (Betweenness). Além disso, nos modelos que avaliaram a influência das variáveis no IDH, a variável que mede a taxa de escolaridade entre jovens foi removida por compor esse índice.

RESULTADOS

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Na Figura 1 pode ser visualizada a rede de relações formada a partir da troca de serviços entre países, tomando como exemplo o ano de 2006. Os nós indicam os países e os laços as relações. Os nós verdes representam os países do centro (24 países), os amarelos a semiperiferia (6 países) e os lilás a periferia (116 países). Partindo da proposição de que países centrais apresentam maior fluxo de relações entre si do que com a semiperiferia e a periferia, observa-se que eles se posicionam no centro da rede. Um pouco mais deslocados estão os países em posição semiperiférica, seguidos pelos países da periferia, que circundam as extremidades da rede. Diante da estratificação das relações em três estratos, o centro, a semiperiferia e a periferia, fica claro que há certo grau de hierarquização das relações entre esses países. Derivando dessa hierarquização de relações a proposição de que países periféricos apresentam menor desenvolvimento do que aqueles do centro, avaliamos o tamanho dos nós, que indicam a renda per capita, para demonstrar que também há relação entre posição e desenvolvimento econômico.

Figura 1 – Rede de Relações de Prestação de Serviços entre Países (Dados de 2006)

Como avaliamos as posições a partir do número de países parceiros, vale destacar que o posicionamento em cada uma dessas posições não necessariamente determina o desenvolvimento econômico e social do país, mas que, diante do apontado no quadro teórico, têm implicações sobre o desenvolvimento de cada um deles. Posição no sistema mundial, dependência e desenvolvimento não são conceitos intercambiáveis (Van Rossem, 1996), apesar de serem relacionados. Por exemplo, existem alguns países na periferia com alta renda per capita como Canadá, Singapura, Suíça e Coréia e alguns países do centro com renda inferior como Bulgária, Lituânia e Romênia. Já os países da semiperiferia (Austrália, Alemanha. Hong Kong, Japão, Espanha e Estados Unidos) são países de grande desenvolvimento econômico e estão nessa posição somente por causa dos padrões de troca de serviços que mantém. Mesmo assim, esperamos que tais posicionamentos tenham relação com o desenvolvimento. Por isso, para verificar o quanto o posicionamento no sistema mundial de troca de serviços influencia o desenvolvimento econômico e social, fizemos as análises em painel controlando diversos efeitos para verificar se essas relações não são espúrias.

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Na Tabela 1 está disponível o efeito das variáveis no desenvolvimento econômico (GNI per capita). No modelo 1, demonstramos a relação das variáveis de controle com as variáveis dependentes. Entre aquelas que apontam o grau de integração do país com o sistema mundial, verificamos que o investimento estrangeiro direto, a exportação de produtos de alta tecnologia (p < 0,10) e a exportação de bens e serviços afetam positivamente e significativamente o desenvolvimento econômico. A riqueza da nação (GDP current) também tem efeito sobre o desenvolvimento, o que não ocorre com a taxa de crescimento. A inflação, o crescimento populacional e o total da população também afetam o desenvolvimento, mas, diferentemente do apontado na análise de regressão, essa relação é negativaiii. Por fim, verificamos que o grau de industrialização e a taxa de escolaridade também apresentam relação significativa com desenvolvimento econômico. Todas essas variáveis em conjuntos explicam 89,3% da variância do desenvolvimento econômico, estando de acordo com o apontado na literatura. Tabela 1 – Coeficientes não Padronizados (OLS Pooled Panel Model) para Renda per capita (2002-2006)

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5

Variáveis Coreness 14180,2*** Dummy1Core3 (Semiperiferia) 5943,07*** 5486,76*** Dummy2Core3 (Centro) 3490,87*** 2782,54*** Eigenvector 21018,3*** InDegree 18,683 Betweenness 8,08528***

Variáveis de Controle High-technology exports (% of manufactured exports) 30,58* 31,803** 37,608** 30,245* 37,3286** Foreign Direct Investment (ln) -696,697*** -670,621*** -638,362*** -694,965*** -692,409***Exports of goods and services (% of GDP) 26,1548** 20,6861* 12,5243 19,6251* 14,1532 GDP growth (annual %) 31,2851 30,0126 8,98843 26,3936 25,8249 GDPcurrent (ln) 8032,24*** 7552,39*** 7122,97*** 7559,42*** 7039,42*** Inflation, GDP deflator (annual %) 50,238** 35,194 34,237 35,6027 33,1497 Population growth (annual %) 485,433** 824,942*** 777,118*** 786,294*** 787,740*** PopulationTotal (ln) -7321,54*** -6,858,14*** -6599,58*** -7110,88*** -6693,13***Surface (ln) 133,785 122,348 91,556 157,801 150,733 Industry, value added (% of GDP) -178,82*** -151,363*** -118,899*** -154,471*** -109,155***Ratio in primary and secondary education (%) -162,399*** -134,004*** -127,827*** -144,751*** -129,181***Constant -32943,8*** -33578,4*** -29139,1*** -29252,8*** -25831,7***R² 0,8928 0,8986 0,9048 0,8963 0,907 Wald: Chi² 3045*** 3572*** 3882*** 4336*** 4532*** N 426 426 426 426 426 Testes AR(1), AR(2), AR(3) e AR(4) estão de acordo com a hipótese nula. *** p < 0,01 ** p < 0,05 * p < 0,1

No modelo 2, incrementamos a variável contínua Coreness, que mede a centralidade do país na rede como um todo, buscando contrapô-la na forma categórica no modelo 3 (o centro e a semiperiferia) e com uma medida restrita às relações locais no modelo 4 (Eigenvector). Todas as variáveis se mostraram significativas, no entanto o modelo que apresentou melhor coeficiente de explicação foi o modelo 3 (R² = 90,5%). Isso indica que, neste estudo, descarte a perda de informação, medidas categóricas foram mais robustas para explicar o desenvolvimento econômico que medidas contínuas, o que reforça o argumento proposto por Wallerstein (1974) de categorizar os países em centro, semiperiferia e periferia. Por fim, no modelo 5 testamos as hipóteses acerca da relação da posição do país no desenvolvimento econômico. Verificamos que países em posição central e semiperiférica apresentam maior desenvolvimento econômico que os da periferia, corroborando a hipótese 1a. Países da

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semiperiferia apresentam, em média, uma renda per capita de 5.486 dólares superior aos da periferia. Já os países do centro apresentam, em média, uma renda per capita de 2.782 dólares maior. O número de países dos quais o país consome serviços, que indica o grau de terceirização, não apresentou relação significativa com o desenvolvimento econômico, descartando a hipótese 2a. A última variável, intermediação (Betweenness) mostrou-se significativa, corroborando a hipótese 3a. Isso indica que aqueles países que conseguem se posicionar de forma a controlar relações de serviços entre diferentes países tendem a apresentar ganhos em termos de desenvolvimento econômico. Para cada intermediação possível de ser feita por um país, em média, há um incremento de 8 dólares na renda per capita.

Já na Tabela 2, avaliamos as mesmas variáveis no Modelo 1, mas com o desenvolvimento social (IDH) como variável dependente. Das variáveis de controle, somente o investimento estrangeiro direto e a riqueza do país afetaram positivamente essa relação, com o crescimento populacional e o total da população afetando negativamente. Em conjunto, as variáveis explicam 80,7% da variância do desenvolvimento social, inferior em 8,6% do que a explicação do desenvolvimento econômico para o mesmo conjunto de variáveis, descontando a taxa de escolaridade. As variáveis relativas ao posicionamento do país não se mostraram significativas nos modelos 2, 3 e 4, indicando que o posicionamento não está relacionado com o desenvolvimento social. Testamos as hipóteses relativas ao desenvolvimento social no modelo 5, refutando as hipóteses 1b e 3b, já que não foi encontrada variação significativa entre a posição do país e seu grau de intermediação com o desenvolvimento social. Porém a hipótese 2b foi corroborada, demonstrando que aqueles países que terceirizam alguns tipos de serviços para outros tendem a apresentar, em média, um incremento de 0,003 no IDH. Tabela 2 - Coeficientes não Padronizados (OLS Pooled Panel Model) para IDH (2002-2006)

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5 Variáveis Coreness -0,022 Dummy1Core3 (Semiperiferia) 0,008 0,004 Dummy2Core3 (Centro) -0,004 -0,012 Eigenvector 0,226 InDegree 0,003*** Betweenness -2,997 Variáveis de Controle High-technology exports (% of manufactured exports) 0,0003 0,0003 0,0003 0,0003 0,0001 Foreign Direct Investment (ln) 0,007*** 0,007*** 0,007*** 0,007*** 0,006** Exports of goods and services (% of GDP) -0,0001 -0,0001 -0,0001 -0,0001 -0,0002 GDP growth (annual %) 0,002 0,001 0,001 0,001 0,001 GDPcurrent (ln) 0,072*** 0,073*** 0,072*** 0,067*** 0,062*** Inflation, GDP deflator (annual %) -0,0001 -0,0001 -0,0001 -0,0001 -0,0001 Population growth (annual %) -0,035*** -0,036*** -0,036*** -0,033*** -0,033*** PopulationTotal (ln) -0,071*** -0,072*** -0,071*** -0,069*** -0,069*** Surface (ln) -0,005 -0,005 -0,005 -0,005 -0,005* Industry, value added (% of GDP) 0,0003 0,0003 0,0003 0,0006 0,0007 Constant 0,079 0,076 0,086 0,133** 0,257*** R² 0,8074 0,8074 0,8076 0,8091 0,815 Wald: Chi² 2737*** 3285*** 3313*** 3119*** 3560*** N 504 504 504 504 504 Testes AR(1), AR(2), AR(3) e AR(4) estão de acordo com a hipótese nula. *** p < 0,01 ** p < 0,05 * p < 0,1

Para tornar essas relações mais claras para a interpretação dos resultados, apresentamos na Tabela 3 a média de alguns indicadores em relação ao posicionamento do país. Houve

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diferenças significativas entre os países, principalmente no IDH, GNI per capita, grau de terceirização (InDegree) e intermediação (Betweenness). O valor do Eta², que indica o percentual de variação explicada pela diferença entre grupos, foi superior a 30% nessas variáveis. Por exemplo, enquanto países periféricos apresentam um grau de desenvolvimento médio (IDH = 0,65), países do centro e da semiperiferia apresentam alto grau de desenvolvimento humano (IDH de 0,89 e 0,94, respectivamente). A diferença de renda média entre países é ainda mais acentuada: países da periferia têm rendimento médio per capita de 6.316 dólares, contra 30.224 dólares da semiperiferia. Países no centro e na semiperiferia também apresentam grau muito maior de terceirização dos serviços e de intermediação que seus pares periféricos, têm uma maior proporção de exportação de produtos de alta tecnologia, tendem a exportar mais e recebem mais investimentos estrangeiros diretamente. Tabela 3 – Médias dos Indicadores por Posição do País no Sistema Mundial

Posição IDH

GNI per capita, PPP

(current international$)

InDegree Betweenness

High-technology exports (% of manufactured

exports)

Exports of goods and

services (% of GDP)

Foreign direct investment, net inflows (x US$

1.000) Periferia 0,65 6.316,14 12,2 0,5 9,3 38,6 2.792.028 Semiperiferia 0,94 30.224,84 27,7 101,5 17,5 54,5 34.984.232 Centro 0,89 22.356,03 24,6 96,2 14,2 52,7 11.611.547 Valor do F 161,42 229,60 203,18 173,45 11,28 15,75 69,19 Eta² 0,312 0,415 0,357 0,322 0,038 0,044 0,165 Sig. <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Grupos comparados por meio do teste Post Hoc de Tamhane (variâncias não homogêneas). n = 735

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Neste estudo, objetivamos avaliar como o posicionamento do país frente ao sistema

econômico mundial, avaliado por meio do fluxo de prestação de serviços, influencia o desenvolvimento econômico (renda per capita) e social (IDH). Em primeiro lugar, convergindo com estudos anteriores (Bollen & Appold, 1993; Clark, 2006; Nemeth & Smith, 1985; Snyder & Kick, 1979; Van Rossem, 1996), verificamos que os fatores relacionados ao grau de integração do país afetaram positivamente o desenvolvimento econômico, assim como fatores internos relacionados ao grau de industrialização e de educação. Atendendo a uma inquietação corrente na literatura sobre formas de mensurar a posição social, verificamos que medidas discretas e globais explicam mais o desenvolvimento econômico que medidas contínuas, respaldando a questão do posicionamento no sistema mundial como categoria explicativa. Interpretando as hipóteses de pesquisa, verificamos que o posicionamento no sistema mundial em relação aos serviços, assim como o grau de intermediação apresenta influência significativa no desenvolvimento econômico. Porém, comparando com medidas relativas ao comércio, verificamos uma inversão do centro pela semiperiferia, já que alguns dos países tidos como de maior desenvolvimento econômico estão em posição semiperiférica na prestação de serviços. Interpretando as médias de entrada de serviços, vemos que os países de maior renda se configuram como países que terceirizam seus serviços, os de renda intermediária são prestadores de serviços e os da periferia ficam isolados desse processo. Ou seja, não cabe a este estudo avaliar o grau de convergência entre prestação de serviços e trocas comercial, mas fica nítido que países de maior renda tendem a focar mais a exportação de comércio que serviços, ao contrário dos países de renda intermediária, que focam os serviços em maior proporção. Provavelmente essa configuração é reflexo da nova divisão do trabalho possibilitada por fatores como, por exemplo, tecnologias da informação e aumento da internacionalização das organizações (Castells, 1999).

Já em relação aos condicionantes do desenvolvimento social, diferentemente do esperado, somente o investimento estrangeiro direto e o total da riqueza afetaram

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positivamente o desenvolvimento social. Isso indica que o desenvolvimento social dos países está bem menos relacionado com questões ligadas à economia que se imaginava. No tocante ao posicionamento, somente o grau de terceirização de serviços mostrou-se significativo, em que, como apontamos no quadro teórico de referência, está ligado principalmente ao comportamento de organizações em subcontratar serviços em locais com força de trabalho mais barata. Vale destacar que, como ressaltado por Clark (2006) e Meyer et al. (1997), o grau de integração do país aumenta a visibilidade e o controle das nações, implicando em cobranças por parte de entidades internacionais, o que deve refletir no desenvolvimento social, mas isso só ocorre se, de fato, o estado promover tais políticas. Diante desses resultados, entendemos que o bem estar social não pode ser considerado conseqüência sine qua non do desenvolvimento econômico, mas que são moderados por questões internas, provavelmente relacionadas ao governo local e à ação sociedade civil.

Implicações Teóricas. Defendemos que, diante de uma visão institucional-estruturacionista, não podemos aceitar que a posição que um país ocupa no sistema econômico, seja por meio das relações comerciais, seja pela prestação de serviços, determine o desenvolvimento. Com essa postura reflexiva que propomos, fundamentada em autores como Chase-Dunn (2002), Giddens (1989, 1991) e Meyer et al. (1997), esperamos que estudos sobre o tema busquem avaliar as relações nos sistemas mundiais como fruto de uma trajetória do país, considerando os aspectos sociais e institucionais como condicionantes do desenvolvimento. Além disso, o papel da agência deve ser resgatado, considerando a emergência das nações como fenômeno multifacetado. Por exemplo, o desenvolvimento de países como Taiwan e Coréia, apesar de terem em comum o papel dos grupos estratégicos, apresentou fatores passíveis de compreensão somente fora da lógica econômica e determinista de explicação (Feenstra & Hamilton, 2006). Sob essa visão, os elementos que adicionamos aos estudos sobre sistemas mundiais, o fluxo de prestação de serviços e o desenvolvimento econômico e social, demonstram claramente que o posicionamento não significa maior ou menor desenvolvimento, mas somente que a posição pode facilitar o acesso a recursos, com diferentes implicações para cada um dos países.

Implicações Práticas. Entendemos que, perante a relação entre posição e desenvolvimento, o grau de monitoramento das relações internacionais pode constituir um elemento que aumente a reflexividade dos países (Giddens, 1991). Isso significa dizer que, tomando a globalização como uma ubiqüidade (Kim & Shin, 2002), a existência de acordos bilaterais mais vantajosos pode facilitar o acesso a recursos e a mercados. Ainda sob esse aspecto, entendemos que as empresas multinacionais apresentam papel fundamental no processo de integração. Elas tendem a buscar países que apresentam maiores vantagens em termos de competitividade, mas também fazem essas escolhas a partir de laços culturais (Meyer et al. 1997). Sendo assim, políticas de fomento a internacionalização das empresas locais, o aumento das relações diplomáticas e culturais entre paises e melhoras nas condições institucionais e de infraestrutura interna podem promover vantagens para ambos. No caso do desenvolvimento social, os resultados demonstram que saúde econômica não necessariamente significa bem estar social, por isso entendemos que os governos têm papel fundamental na definição e execução de políticas sociais e de saúde, assim como as pressões exercidas por organizações de direitos humanos.

Limitações e Estudos Futuros. Uma das limitações do nosso estudo foi de não considerar o valor das transações acerca dos serviços, podendo configurar num posicionamento diferente dos países. Por isso entendemos que estudos futuros possam avaliar as redes ponderando o valor absoluto e relativo dessas relações. Sugere-se também contrastar redes formadas a partir das relações comerciais com as de serviços, especificando o papel de cada uma de suas subcategorias de produtos, investigando a interdependência entre elas. Com esses dados, seria possível verificar se as trocas desiguais e o grau de

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diversificação/concentração das relações de comércio (Van Rossem, 1996) estão imbricados ao desenvolvimento, considerando também as relações diáticas como nível de análise. Estudos longitudinais também poderiam ser feitos, avaliando até que ponto a idéia de vantagens e desvantagens cumulativas são empiricamente válidas. Outras medidas de caráter social, diplomático e demográfico poderiam ser consideradas para avaliar os sistemas mundiais, fomentando uma ampla avaliação da globalização e da regionalização. Considerando que os países sofrem em diferentes proporções com a crise, poderíamos avaliar como a integração no sistema mundial afeta, por exemplo, a queda do PIB. Por fim, deve-se também avaliar a causalidade da posição nos indicadores de desenvolvimento assim como o contrário, para saber se esse relacionamento é bidirecional ou unidirecional, o que tem implicações conceituais importantes. Além disso, modelos de painel dinâmicos devem ser buscados, ou até mesmos modelos multiníveis, que permitem maior discriminação entre países e posições.

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