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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 991 O EMARANHADO POLÍTICO AMARALISTA E O ALASTRAMENTO DA EDUCAÇÃO RURAL FLUMINENSE (19371955) Raquel Souza de Barros [email protected] (UFRJ/PIBIC/CNPq) Resumo A seguinte proposta de trabalho encontrase inserida na área da história da educação, em diálogo com a história política do Estado do Rio de Janeiro, ao investigar a ampliação e as transformações da educação primária nas áreas rurais dos municípios fluminenses, processo articulado ao projeto político de Amaral Peixoto no Estado. Ao buscar referências acerca das instituições de educação agrícola nos jornais que circulavam no interior fluminense, me deparei com um movimento de expansão do ensino primário rural nas regiões do Estado por intermédio do Interventor Federal Amaral Peixoto, então responsável pelo governo estadual no período do Estado Novo (19371945). Tais fragmentos jornalísticos, associados às fontes oficiais referentes aos dois períodos do governo amaralista, apontam para sua atuação na expansão das escolas primárias nas zonas rurais do Estado, e por outro lado mencionavam exigências para a escolarização interiorana,convocando a participação de particulares na ampliação e consolidação de sua política educacional, que privilegiava a educação rural. Sendo nomeado interventor fluminense pelo Presidente Getúlio Vargas, sua primeira iniciativa foi direcionada ao estabelecimento de uma base política que lhe possibilitasse adentrar a vida social e política fluminense, antes desconhecida pelo político. Através de viagens e excursões realizadas às zonas rurais do Estado, Amaral Peixoto se aproximava das lideranças locais e homens ligados às atividades de agropecuária, seduzindoos a compartilharem dos seus projetos por meio do discurso de reerguimento do Estado,colocandoo novamente como sustentáculo do país, segundo representações correntes entre os grupos intelectuais e políticos da antiga província fluminense, no período escravista do café. Assim, a escola rural/agrícola teria grande importância para propagar nos meios rurais a imagem do Interventor Federal como defensor da identidade fluminense e difundir a exaltação às terras produtivas do Estado, alegando seu enorme valor ao Rio de Janeiro e ao país. Diante disso e articulado ao projeto “Expansão e interiorização do ensino primário e profissionalagrícola no Estado do Rio de Janeiro (19301961)”, nossa proposta visa compreender o movimento de alastramento da escolarização rural por meio da implementação maciça das Escolas Típicas Rurais (E.T.Rs), bem como o fomento de aparatos que legitimavam a presença do Estado do meio rural, identificando como as conexões interpessoais entre líderes locais impulsionaram a instalação dessas escolas e quais os mecanismos usados por Amaral que incentivaram a participação dos fazendeiros e líderes locais na educação fluminense. A investigação foi realizada no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro,na Biblioteca Nacional,no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil e na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, onde analisamos periódicos, documentos oficiais, fotografias, filmagens e obras literárias da época. Nesta proposta de trabalho,optamos por investigar tais questões com base em dois recortes temporais,que caracterizam os dois mandatos de Amaral Peixoto no governo fluminense. Palavraschave: História da Educação. Escola Rural. Educação Fluminense. Mais uma escola rural O Estado do Rio, conta hoje, com mais uma escola rural, da série que o interventor Amaral Peixoto mandou construir nos diferentes municípios

O EMARANHADO POLÍTICO AMARALISTA E O … · investigar tais questões com base em dois recortes temporais,que caracterizam os dois mandatos de Amaral ... nos dois governos de Getúlio

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5  

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O EMARANHADO POLÍTICO AMARALISTA E O ALASTRAMENTO DA EDUCAÇÃO RURAL FLUMINENSE (1937‐1955) 

 Raquel Souza de Barros  [email protected] 

 (UFRJ/PIBIC/CNPq)  

Resumo  

A  seguinte proposta de  trabalho encontra‐se  inserida na área da história da educação, em diálogo com a história política do Estado do Rio de Janeiro, ao  investigar a ampliação e as transformações da educação primária nas áreas rurais dos municípios  fluminenses, processo articulado ao projeto político de Amaral Peixoto no Estado. Ao buscar referências acerca das instituições de educação agrícola nos jornais que circulavam no interior fluminense, me deparei com  um movimento  de  expansão  do  ensino  primário  rural  nas  regiões  do  Estado por  intermédio  do  Interventor Federal  Amaral  Peixoto,  então  responsável  pelo  governo  estadual  no  período  do  Estado  Novo  (1937‐1945).  Tais fragmentos  jornalísticos, associados às  fontes oficiais  referentes aos dois períodos do governo amaralista, apontam para  sua atuação  na  expansão  das  escolas  primárias  nas  zonas  rurais do  Estado,  e  por  outro  lado mencionavam exigências para a escolarização interiorana,convocando a participação de particulares na ampliação e consolidação de sua política educacional, que privilegiava a educação  rural. Sendo nomeado  interventor  fluminense pelo Presidente Getúlio Vargas, sua primeira  iniciativa foi direcionada ao estabelecimento de uma base política que lhe possibilitasse adentrar  a  vida  social  e  política  fluminense,  antes  desconhecida  pelo  político.  Através  de  viagens  e  excursões realizadas  às  zonas  rurais  do  Estado,  Amaral  Peixoto  se  aproximava  das  lideranças  locais  e  homens  ligados  às atividades de agropecuária, seduzindo‐os a compartilharem dos seus projetos por meio do discurso de reerguimento do Estado,colocando‐o novamente  como  sustentáculo  do país,  segundo  representações  correntes entre  os  grupos intelectuais e políticos da antiga província  fluminense, no período escravista do café. Assim, a escola  rural/agrícola teria  grande  importância  para  propagar  nos  meios  rurais  a  imagem  do  Interventor  Federal  como  defensor  da identidade  fluminense e difundir a exaltação às  terras produtivas do Estado, alegando  seu enorme valor ao Rio de Janeiro e ao país. Diante disso e articulado ao projeto “Expansão e  interiorização do ensino primário e profissional‐agrícola no Estado do Rio de Janeiro (1930‐1961)”, nossa proposta visa compreender o movimento de alastramento da escolarização rural por meio da implementação maciça das Escolas Típicas Rurais (E.T.Rs), bem como o fomento de aparatos que  legitimavam a presença do Estado do meio  rural,  identificando como as conexões  interpessoais entre líderes locais impulsionaram a instalação dessas escolas e quais os mecanismos usados por Amaral que incentivaram a participação dos fazendeiros e  líderes  locais na educação fluminense. A investigação foi realizada no Arquivo Público do  Estado  do  Rio  de  Janeiro,na  Biblioteca  Nacional,no  Centro  de  Pesquisa  e  Documentação  de  História Contemporânea  do  Brasil  e  na  Assembleia  Legislativa  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro,  onde  analisamos  periódicos, documentos  oficiais,  fotografias,  filmagens  e  obras  literárias  da  época.  Nesta  proposta  de  trabalho,optamos  por investigar tais questões com base em dois recortes temporais,que caracterizam os dois mandatos de Amaral Peixoto no governo fluminense.  Palavras‐chave: História da Educação. Escola Rural. Educação Fluminense.  

 

Mais uma escola rural  

 

O  Estado  do  Rio,  conta  hoje,  com  mais  uma  escola  rural,  da  série  que  o interventor  Amaral  Peixoto  mandou  construir  nos  diferentes  municípios 

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fluminenses.  Trata‐se  de  uma  escola  típica  rural  de  Porto  Alegre,  que  foi inaugurada em Ipaperuna, no dia da Bandeira (O Fluminense, 27 nov. 1941)  

Debruçando‐se na  temática do ensino agrícola/rural no  Estado do Rio de  Janeiro entre  as 

décadas  de  1920  a  1940,  nos  direcionamos  para  a  investigação  em  jornais  de  circulação  no 

território  fluminense na  tentativa de  recolher  “as  vozes  silenciadas” daqueles que  receberam  a 

instrução primária agrícola. No decorrer da respectiva verificação, identificamos nos periódicos um 

movimento intenso de instalação de escolas rurais no interior do Estado por meio da atuação do 

Interventor  Federal  Ernani  do  Amaral  Peixoto,  então  responsável  pelo  Estado do  Rio  nos  dois 

governos de Getúlio Vargas: no Estado Novo (1937‐1945) e no período da democratização do país 

(1951‐1955).  Tais  fragmentos  jornalísticos  apontavam  para  o  empenho  do  Interventor  na 

expansão das escolas primárias nas zonas rurais, e por outro lado, mencionavam exigências para a 

escolarização interiorana, convocando a participação de particulares na ampliação e consolidação 

de sua política educacional.  

Após acompanhar Getúlio Vargas como Ajudante de ordens, Amaral Peixoto demonstrou ao 

seu patrono estar apto a desencadear negociações entre as lideranças partidárias, usando‐se das 

artimanhas  políticas  aprendidas  durante  o  período  que  esteve  ao  seu  lado.  Almejando  se 

candidatar  ao  cargo  de  Deputado  Federal  nas  eleições  de  1937,  com  o  apoio  de  Vargas,  sua 

iniciação política obteve novos rumos por circunstância da enfermidade do Almirante Protógenes 

Guimarães,  então  interventor  federal  fluminense,  havendo  a  necessidade  de  substituí‐lo 

imediatamente, pois necessitava  realizar um  tratamento intensivo, não podendo permanecer na 

capital do Estado. A renúncia do Interventor geraria impasses nas políticas varguistas ao passo que 

a  nomeação  seria  destinada  ao  presidente  da  Assembleia  Legislativa,  Heitor  Collet,  que  não 

contava  com  a  simpatia do Presidente da República.  Logo, os  grupos políticos declararam  seus 

anseios,  apoiando  ou  não  a  renúncia  de  Protógenes  Guimarães.  Diante  do  quadro,  um  nome 

indicado para a substituição amenizou os confrontos entre oposição – Ernâni do Amaral Peixoto. 

Perpetrando  laços políticos  com  o  Presidente  da  República  e,  respectivamente,  sua  aprovação 

para o  cargo, Peixoto estabilizaria os nervos políticos e organizaria  as  finanças estaduais  com  a 

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equipe  administrativa  indicada  por  José  Eduardo  Macedo  Soares,  representante  da  ala  de 

oposição. O apoio concedido pelo grupo macedista visava preparar o cenário estadual por meio da 

interventoria  amaralista objetivando o  lançamento da  candidatura de  José  Eduardo  Soares nas 

eleições de 1938.(COSTA,2008; FERNANDES, 2009; MOREIRA,2005) 

Aderindo a trama proposta, Amaral Peixoto foi elevado pelo Presidente da República para o 

cargo de  interventor  federal do Rio de  Janeiro, no dia 10 de novembro de 1937  . Seu mandato 

seria momentâneo até as eleições. Em contrapartida, com o golpe de Estado, o jovem aprendiz 

consolidou os saberes do ofício político se tornando o Interventor Federal durante todo o Estado 

Novo,  a pedido  de Vargas,  após  aprovar  sua  atuação  no  governo  do  Estado  do  Rio,  frente  às 

alianças tecidas com as lideranças políticas interioranas.  

Segundo Pandalfi  (1980), os  interventores  federais durante o Governo de Vargas possuíam 

fatores em comuns que os caracterizavam: eram militares, pois o Exército era um dos alicerces de 

sustentação  do  Estado Novo,  eram  desconhecidos  nos  Estados  que  exerciam  o  cargo  ou  não 

possuíam relações políticas e partidárias, visando evitar descompassos entre anseios de partidos e 

os  do  governo  federal.  Eram  articuladores  com  a  potencialidade  de  obter  simpatia de  futuros 

eleitores  mesmo  governando  em  um  período  autoritário  e  eram  neutros  politicamente. 

Enquadrado nesse perfil, o Interventor Federal fluminense se dedicava intensamente no que diz a 

respeito às articulações  realizadas para aproximação com a população  fluminense, por meio das 

viagens aos municípios do interior. 

Em entrevista ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil 

(CPDOC/FGV),  Peixoto  relatou  as  primeiras  atuações  na  Interventoria  do  Estado,  alegando  ter 

encontrado  dificuldades  em  lidar  com  os  temas  próprios  da  realidade  fluminense. Muitos  o 

cercavam  com  assuntos  pessoais,  de  natureza  política  ou  preenchimento  de  cargos.1  Ele  se 

queixava  sobre  o  seu  isolamento  em  relação  aos  grupos  políticos,  que  almejavam  impor  suas 

propostas.  Além  disso,  Amaral  Peixoto  era desconhecido  pela população,  que  o  recebera  com 

                                                           1PEIXOTO,  Ernani do  Amaral.  Artes na política:  diálogo  com Amaral  Peixoto/org.  Aspácia Camargo  (et.al).  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.588p.il (coleção Brasil século 20) 

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desconfiança,  pois  era  um  homem  que  de  repente  tinha  sido  jogado  no  governo  do  estado! 

(PEIXOTO, 1986, p. 156).  Após a nomeação dos 50 prefeitos dos municípios fluminenses, Amaral 

Peixoto  buscou  estabelecer  medidas  buscando  a  formação  de  uma  base  política  que  lhe 

possibilitasse  adentrar  a  vida  social  e  política  fluminense,  antes  desconhecida  pelo  político. O 

Interventor Federal do Estado do Rio  foi alinhavando alianças,  tramas e artimanhas através das 

quais teceu seu emaranhado de relações, que lhe possibilitou enraizar na política fluminense, por 

intermédio  de  visitas  realizadas no  interior do  Estado,  em  especial  ao Norte,  em  Campos  dos 

Goytacazes. Sua estratégia buscava a organização de  redes estabelecidas pela aproximação com 

os grandes proprietários de terras e homens ligados às atividades de agropecuária,seduzindo‐lhes 

com  o  discurso  de  mútuo  resgate  às  raízes  fluminenses  pautadas  nas  atividades  agrárias, 

instituídas no período imperial, conhecido como a Idade de Ouro, e desfragmentadas na Primeira 

República. 

Conhecendo como poucos, o hinterland fluminense, por ele palmilhado inúmeras vezes, o Comandante Amaral Peixoto, que possui memória privilegiada, conhece e sabe o  nome  de  todos  os principais  chefes  políticos  do  interior,  com  os quais sempre manteve correspondência e aos quais recebeu e atendeu sempre que por eles  foi procurado. Admirado e estimulado pelo homem do  interior, pelos  seus méritos  de administrador  e  de  amigo,  fácil  foi o  comandante  transformar  essa simpatia  em  força  política  e  daí  seu  incontestável  prestígio  em  todo o  Estado (GURGEL, 1950, p. 157)  

De acordo com a historiografia fluminense defendida pelo grupo amaralista, o Estado do Rio 

era o protagonista político e econômico de todo o país no Império. O desenvolvimento fluminense 

espelhava o crescimento não apenas  regional, mas nacional. Este status  foi sendo alterado pelo 

avanço do café no vale do Paraíba paulista, pela abolição da escravidão, pelo surgimento de novas 

potências –  São Paulo e Minas Gerais – e pela proclamação de República que desestabilizou  a 

política  fluminense, por não  consolidar uma base  governamental  coesa e por  complicações no 

setor  agropecuário  no  estabelecimento  de  novas  relações  de  trabalho. Na  Primeira  República 

buscava‐se a recuperação do passado glorioso do Estado por meio da tradição agrarista da região. 

Esse discurso é  retomado com  força no governo amaralista, na qual a intelectualidade elaborou 

uma  história  fluminense  reafirmando  a  permanência  de  experiências  no percurso  histórico do 

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Estado, assegurando seus valores no atual regime. Almejava‐se a construção de um novo Estado 

alicerçado no seu passado triunfante presente na Província do Rio de Janeiro, no qual imperaria o 

Interventor Federal Ernani do Amaral Peixoto. Segundo Fernandes (2009), os mecanismos usados 

para  a  construção da  imagem  heroica  do  Interventor,  bem  como o  ingresso  dos  discursos  de 

recuperação  da  identidade  fluminense  foram  desencadeados  no  sistema  educacional/cultural 

visando difundir nas zonas rurais a exaltação às terras produtivas do Estado, alegando seu enorme 

valor ao Rio de Janeiro e ao país. Assim, o alastramento da escola agrícola/rural é compreendido 

como  objeto  de  negociação  dentro  do  emaranhado  político  desencadeado  na  rede  social 

amaralista,  já  que  para  concretização  do  reerguimento  da  economia  agrícola  seria  cabível  a 

permanência do trabalhador rural na região, manejando adequadamente o patrimônio econômico 

fluminense. 

Durante a interventoria  fluminense, Amaral Peixoto  implementou 42 Escolas Típicas Rurais 

(E.T.R.s), estabelecimentos  instituídos pelo decreto nº 196‐A de dezembro de 1936 que  foram 

efetivados  em  seus  mandatos.  Fomentou  as  atividades  do  Aprendizado  Agrícola  Presidente 

Pedreira,em  Conceição  de  Macabú,  que  no  seu  governo  tornou‐se  um  poderoso  núcleo  de 

educação primária e agrícola fluminense. (O Fluminense. 2 ago.1941) Retornando ao governo do 

Estado em 1951, ele estabeleceu 102 novas escolas rurais, o Internato Rural em Dorândia, a Escola 

Normal  Rural  em  Cantagalo,  para  a  formação  de  professoras  primárias  para  a  zona  rural  no 

sistema  de  internato,  recrutando  as  candidatas  em  todas  as  regiões  do  Estado.  Ao  lado  das 

instituições de ensino agrícola/rural, foram introduzidos aparatos sociais que visavam amparar as 

populações  interioranas  isoladas,  com  os  subsídios  médicos,  culturais,  educacionais  e  de 

entretenimento, prevendo assegurar a presença do Estado nas  regiões  interioranas  fluminenses. 

Assim,  as  Escolas  Típicas Rurais, bem  como outros estabelecimentos de ensino primário e  rural 

sediavam os pelotões de saúde, as missões culturais, as bibliotecas ambulantes, clubes agrícolas, 

teatro de marionetes, cinema educativo, almejando proporcionar ao homem interiorano todas as 

condições necessárias para se manter no campo.  

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Dessa  forma,  a  seguinte  proposta  de  pesquisa,  que  se  encontra  articulada  ao  projeto 

“Expansão e interiorização do ensino primário e profissional‐agrícola no Estado do Rio de Janeiro 

(1930‐1961)  2,  visa  compreender o movimento de expansão da escolarização  rural por meio da 

implementação maciça das Escolas Típicas Rurais (E.T.Rs), bem como o fomento de aparatos que 

legitimavam a presença do Estado do meio  rural,  identificando como as conexões  interpessoais 

entre líderes locais impulsionaram a instalação dessas escolas e quais os mecanismos usados por 

Amaral que incentivaram a participação dos fazendeiros e líderes locais na educação fluminense. A 

seguinte proposta de  trabalho encontra‐se  inserida na área da história da educação, em diálogo 

com a história política do Estado do Rio de Janeiro, ao investigar a ampliação e as transformações 

da educação primária nas áreas rurais dos municípios fluminenses, processo articulado ao projeto 

político de Amaral Peixoto no Estado. 

O trabalho tem como lócus de pesquisa o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, onde 

averiguamos  as  legislações  educacionais  que  contêm  as  expectativas  e  intenções  dos 

administradores  quanto  ao  ensino  rural/agrícola.  A  Assembleia  Legislativa  do  Rio  de  Janeiro 

também contribui para a coleta das legislações direcionadas para o campo educacional, bem como 

enriquece nosso fundo de fontes, com documentos que apontam a participação de deputados na 

ampliação  da  rede  escolar  rural  e  que  nos  insere  nas  principais  discussões  da  comissão  de 

educação da Assembleia Legislativa. Para a consulta aos periódicos que tinham maior repercussão 

nas  regiões  rurais e aos  jornais das municipalidades, espaço em que encontramos outras vozes 

sociais  expondo  opiniões  e/ou  reivindicações  acerca  da  escolarização  rural,  recorremos  à 

Fundação Biblioteca Nacional, onde investigamos principalmente o jornal O Fluminense. Também 

estamos  averiguando  documentos  pessoais  de  Amaral  Peixoto,  como  fotografias, 

                                                           2  O  respectivo  Projeto  de  Pesquisa  foi  desenvolvido  na  Universidade  Federal  do  Rio  de  Janeiro  (faculdade  de Educação) coordenado pela profª Irma Rizzini . Ele se encontra integrado ao Projeto Integrado de Pesquisa “História da  Escola  Primária  no  Brasil:  investigação  em  perspectiva  comparada  em  âmbito  nacional  (1930‐1961)”,  sob  a coordenação da  Profa. Dra.  Rosa  Fátima de  Souza  (UNESP)  e  com  a participação de  37  pesquisadores  doutores pertencente  a  Programas  de  Pós‐Graduação  em  Educação  de  várias  instituições  universitárias  do  país (UNESP/Araraquara; UFAC, UFAM, UFPB, UFPI, UFMA, UFRN, UFS, UFBA, UFRJ, UFF, UFMG, UFU, UNICAMP, UFMT, UFMS, UFG, UFPR, UEM, UNIT‐SE, PUC‐PR, UDESC, UFPel).  

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correspondências, mensagens privadas, documentos referentes ao Departamento de Educação e 

obras  literárias na Fundação Getúlio Vargas, no Centro de Pesquisa e Documentação de História 

Contemporânea do Brasil. 

Os  estudos  sobre  cultura  política  e  leituras  do  passado  nos  apontam  que  o  período 

denominado Estado Novo foi preenchido por medidas que visavam valorizar o passado nacional, 

consolidando normas e valores específicos da “identidade nacional brasileira”. Compreenderemos 

esta temática, usando o conceito de “cultura política” trabalhado por Martha Abreu, Rachel Soihet 

e  Rebeca  Gontijo  (2007).  Identificadas  as  conexões  e  interações  de  diferentes  sujeitos  sociais 

compartilhando  objetivos  em  comuns  na  política  amaralista,  analisaremos  essas  relações  com 

base no conceito de “redes”, empreendido no trabalho Na trama das redes ‐ política e negócios no 

Império  Português,  séculos  XVI‐XVIII,  organizado  por  João  Fragoso  e Maria  de  Fátima  Gouvêa 

(2010). Nesta  produção,  o  conceito de  redes  pressupõe  a  presença  de  vínculos  estratégicos  e 

interpessoais  sustentados  por  interesses,  anseios,  valores  e  objetivos  mútuos,  bem  como  a 

aplicação de recursos para estreitamento dos laços. Por fim, trabalharemos a partir da leitura de 

Thompson,  principalmente  com  seu  entendimento  acerca  do  paternalismo,  que  ultrapassa  a 

concepção de cuidado e bondade por parte dos de “cima”. O pesquisador alega que essa relação 

era via de mão dupla, em certa medida, prisioneiros um dos outros. “O que é (visto de cima) um 

“ato de doação” é (partir de baixo) um “ato de conquista”.(THOMPSON, 2005, p.69) 

 

A rede política amaralista e a recuperação da identidade fluminense: 

 

Aos poucos  fui me  inteirando  dos problemas  fluminenses.  Comecei a  viajar de outra maneira, quase sozinho, com um ou dois secretários, hospedando‐me numa casa de família ou em hotel. De preferência em hotel, porque ás vezes na casa de um chefe político o outro é inimigo e não vai. (Camargo, 1986. p.156)  

Ao apoderar‐se do patamar de chefe de Estado, o desconhecido Amaral Peixoto  teve que 

cativar a população fluminense por meio de um discurso capaz de seduzi‐la e entusiasmá‐la após 

quatro  interventorias  frustradas.  Assim,  o  comandante  federal  viu  a  necessidade  de  fazer‐se 

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presente nos municípios, para conhecer seu “império” e os alicerces de seu governo – os líderes 

políticos  e  homens  interioranos  com  grande  capacidade  de  convencimento  e  negociação.  Em 

pequenas  comitivas  eram  realizadas  visitas  às  regiões  interioranas,  nas  quais  se  teciam  as 

primeiras estratégias  relacionais com os chefes políticos que posteriormente desencadeavam as 

práticas  clientelísticas  incutidas  do  compartilhamento mútuo  de  valores,  ambições,  objetivos, 

interesses econômicos e relações de parentesco ou paternalistas. Por meio de suas táticas visando 

constituir seu grupo político que originou a base de seus dois mandatos, Ernâni do Amaral Peixoto 

intercalava seus aliados nos cargos políticos realizando ampla rede governativa. Este emaranhado 

era  articulado  estrategicamente  por  indivíduos  no  âmbito  da  administração,  “conectados  pelo 

meio  da  rede  e  das  jurisdições  estabelecidas  pelos  regimentos  dos  cargos  que  eles  iam 

progressivamente ocupando”. (GOUVÊA, 2010, p. 169). 

O  artifício  usado  pelo  Interventor  buscando  seduzir  as  lideranças  políticas  para  a 

participação de sua base de governo era o discurso de participação desses homens na recuperação 

da identidade do Estado do Rio de Janeiro, afirmando “que isso só [seria] possível por intermédio 

de uma política de auxílio e incentivo dos mais práticos à aplicação de capitais na indústria e na 

agricultura”  (SETOR  DE  DIVULGAÇÃO  DO  PSD  FLUMINENSE,  1945,  p.  6).    Em  seus  escritos, 

biografias,  propagandas  e  pronunciamentos  oficiais,  encontramos  uma  retrospectiva  histórico‐

econômica fluminense iniciada na chamada Idade do Ouro – o Império. Segundo ela, no período 

imperial a província  fluminense possuía uma crescente produção cafeeira no vale do Paraíba, se 

tornando grande exportadora de café e açúcar. Tal produção de café  foi sendo gradativamente 

desmembrada  pela  ocorrência  da  abolição  da  escravatura,  que  por  sua  vez,  resultou  em 

diversificadas e novas relações de trabalho com os libertos. (RIOS & MATTOS. 2007) Com isso, as 

produções  fluminenses sofreram  regressos e  foram ultrapassadas pelas colheitas de novas áreas 

cafeeiras  paulistas  e mineiras.  A  proclamação  da  República  foi  outro  golpe  contra  a produção 

latifundiária,ao  passo  que  retirou  do  poder  político  os  proprietários  de  terra.  Segundo  os 

amaralistas, os primeiros anos  republicanos descaracterizaram a identidade do Estado do Rio de 

Janeiro ao abolir de sua política aqueles que proporcionavam o suporte econômico  fluminense, 

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oriundo da agropecuária. Homens como Alberto Torres e Nilo Peçanha eram mencionados como 

bons  administradores,  que  compreenderam  aos  problemas  da  agricultura,  estimulando‐a. 

(GURGEL, 1950) 

“Inventando” uma tradição com base na evolução histórico‐econômica do país, tal discurso 

ilustrava  a  previsão  dos  lucros  que  se  originaria  do  setor  agropecuário  gerado  pela  extensa 

propriedade de  terras  férteis  e  produtivas.  Recordavam  a  colonização  brasileira,  apreciando  a 

exploração de matérias‐ primas nativas,  como o  cacau e o pau‐brasil, mostrando  a  importância 

dessas produções primárias na exportação para países europeus. A  introdução dos  jesuítas nas 

terras brasileiras também era comentada, destacando sua participação na instrução nos manejos e 

técnicas  agrícolas  aos  nossos  “selvagens”  camponeses  e  agricultores,  proporcionando  grande 

impulso  dado  para  a  lavoura  de  cana‐de‐açúcar.  No  século  XIX,  o  predomínio  cafeeiro  foi 

fomentado  baseando‐se  na  grande  propriedade.  O  desenvolvimento  da  industrialização  é 

mencionado como um elemento que  fortaleceria a agricultura,  tais com  fertilizantes, pesticidas, 

instrumentos agrários adequados e outros, visando à produção com mais alta qualidade. Por fim, 

o  discurso  finaliza‐se  com  os  apontamentos  que  resultaram  a  queda  do  espírito  ruralista 

fluminense, a abolição da escravatura, o êxodo rural e o desmembramento do latifundiário. 

Ao  invocar  a  restauração  fluminense,  convocando homens  fluminenses  identificados  com 

uma tradição relativa à produção agrícola, Amaral Peixoto priorizava as características tradicionais 

do  Estado,  que  perpassava  os  anseios  dos  grandes  proprietários  de  terra:  o  latifundiário  e  a 

monocultura. Contudo,  tal discurso era composto, estrategicamente, pelos aspectos  tradicionais 

fluminenses, por um lado, e pelas inovações propostas em seu governo, por outro. Nesse sentido, 

a  tradicional base econômica do estado – a agricultura –  ressurgia  com uma nova mentalidade 

rural, sendo considerado o “slogan” da administração liderada pelo Ernani do Amaral Peixoto (Op. 

cit.,p. 10). Dessa forma, foi organizado um programa de fomento da agricultura e da pecuária pela 

Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio, pautada na modernização desse setor. Dentre as 

ações  executadas,  encontram‐se  a  instalação  de  sete  fazendas  experimentais  e  14  residências 

agrícolas  com  agrônomos e  técnicos  rurais destinadas para o estudo minucioso de  cada  região 

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fluminense e servindo de campos experimentais dos principais produtos. Foram criadas redes de 

cooperativas agrícolas espalhadas pelo estado, voltadas para conceder amparo  técnico e auxílio 

para obtenção de crédito agrícola, envolvendo 20 mil cooperados. “Subindo ao poder em 1937, 

tratou o novo governo de  restaurar, em bases permanentes, a  tradicional economia açucareira” 

(Op.cit.,  p.11).  Através  do  Banco  da  Lavoura  Canavieira,  implementado  em  Campos,  Peixoto 

fomentou  a produção  desse  produto,  libertando‐o  de  seus  principais  entraves.  Em  relação  ao 

ensino agrícola, o governo estadual foi o pioneiro no planejamento, construção e regulamentação 

das Escolas Típicas Rurais no país.  Isso  tornou‐se efetivo devido à união entre as Secretarias de 

Agricultura  e  Educação,  que  contribuíram  na  implementação  do  ensino  agropecuário  e  na 

formação de professores  rurais. A ampliação do Aprendizado Agrícola de Conceição de Macabú 

resultou no atendimento de 200 menores internados.  

Nas excursões  realizadas ao interior eram  iniciadas novas conexões para a  rede amaralista 

que eram desencadeadas por meio de correspondência enviadas à Amaral Peixoto. Nas missivas, 

identificamos assuntos,  tais  como pedidos de  cargos,  concessão de  isenção de  impostos ou de 

instalação de  fábricas,  gratidão pelo pedido atendido, oficialização de uma  solicitação  realizada 

pessoalmente em outras ocasiões, aconselhamentos e negociação políticas. Majoritariamente, os 

remetentes mencionavam sua posição política e suas relações interpessoais com as redes sociais 

de seu município. Em muitos casos, as cartas são produzidas por  representantes  importantes da 

região, em nome de pedintes que esclarecem o cargo pretendido, seu passado profissional, suas 

posses e sua posição nas redes locais. 

Honrado com a nomeação de diretor do Instituto de Educação de Campos, desejo antes mesmo de empossar‐me do cargo, expressar os meus agradecimentos pelo ensejo que me oferece de colaborar, em função pública, com o governo de V. Ex. Desde 1931, por nomeação do Exmº. Snr. Presidente da República,  servindo ao ensino  comercial  como  inspetor,  recebo  a  delegação  de  agora  com  ordem  de comando (...)3  

                                                           3 Carta de Nelson Pereira Rebel a Ernâni do Amaral Peixoto, em 27/8/1942. EAP int 1937.11.12. 

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Outra maneira de estabelecer as redes eram as reuniões que ocorriam no Palácio Inguá, em 

Niterói,  com  os prefeitos.  Segundo  Costa  (2008),  essas  assembleias demarcavam  a  posição do 

Interventor e das municipalidades. Caberia ao chefe de Estado supervisionar a administração das 

cidades,  por  meio  do  Departamento  de  Municipalidades,  que  era  o  órgão  fiscalizador  das 

prefeituras,  avaliando  e  determinando  as  ações  municipais.  Aos  prefeitos  competiam  a 

apresentação  de  seus  pedidos,  suas metas  e os  andamentos  dos  trabalhos municipais. Nessas 

ocasiões, tentava‐se organizar os planos municipais de forma coordenada para satisfazer todos os 

pedidos mencionados.  

As tramas educacionais eram tecidas nesses espaços relacionais, no qual a escola obtinha a 

função  de  objeto  de  negociação.  Em  uma  nota  particular  enviada  por  Amaral  Peixoto  ao 

responsável pela construção das unidades escolares, Arêa Leão, disponível no acervo pessoal do 

político, no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, detectamos 

uma negociação política em meio à construção da Escola Rural em São João da Barra.4 

Nesta correspondência, Ernani pede informações sobre a construção das escolas rurais das 

localidades  de  “Ponto”  e  de  “Valão  Seco”  no município de  São  João da  Barra,  conduzida  pelo 

Engenheiro Vicente Bezerra, supervisionada pelo Departamento de Educação. O engenheiro,após 

realizar a coleta de propostas de orçamento entre mestres de obras e pequenos empreiteiros para 

a  construção  da  Escola  Típica  Rural  em  Ponto,  repassou  os  preços  para  o  Departamento  de 

Educação que obteve a seguinte decisão: 

Em  consequência,  determinei  que  o  serviço  fôsse  confiado  a  êste  último [Constantino Pereira Gomes], convindo anotar que foi o doador do terreno e é o marido da professora, circunstância essa que talvez concorra para que o mesmo trabalhe com capricho no prédio onde irá residir.(...)  

Assim,  averiguamos o desencadeamento das negociações entre o Governo e Constantino 

Pereira Gomes, alavancadas por investimentos de ambas as partes. Por um lado Constantino, por 

meio da doação do  terreno para implementação da escola  típica, garante a empregabilidade da 

                                                           4ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Documentos Relacionados com a Secretaria de Educação e Cultura do Estado. Niterói. EAP gov 1951.05.28 

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esposa, um espaço para residir e um grau de status naquela região, ao ser visto como promotor da 

educação ou como mediador da rede estado‐localidade. Por outro lado, o Estado investia recursos 

para o erguimento da escola, sabendo que ela representaria o governo no local e difundiria a sua 

imagem de “defensor da identidade fluminense”. Segundo Gouvêa (2010), as  redes eram tecidas 

pela identificação de interesses e experiências comuns, investimentos de recursos, bem como de 

um aparato de apoio mútuo capaz de possibilitar e potencializar a conexão.  

Contudo,  a  aliança  Constatino‐Ernâni,  contribuindo  para  a  composição  de  um  a  rede 

localidade‐governo  do  Estado,  se  vê  ameaçada  pela  seguinte  queixa  política  levantada  pelo 

Deputado Afonso Celso: 

Depois  de  adjudicadas  as  subempreitadas  de  “mão  de  obra”  e  iniciados  os serviços, surgiram reclamações de  fundo político, transmitidas ao Diretor do D.E pelo Deputado Afonso Celso Ribeiro de Castro. Essas reclamações se resumem na alegação de que Constantino Pereira Gomes “trabalhou” para partido adversário ao P.S.D local.  

Mesmo  sendo  da  oposição,  Constantino  era  doador  do  terreno  e  tinha oferecido menor 

valor para a mão‐de‐obra. Assim, era necessário tomar uma medida cautelosa que não rompesse 

com  a  aliança.  Segundo  a  missiva,  o  engenheiro  foi  afastado  e  o  Diretor  do  Departamento 

convocou  dois  partidários  –  Joaquim  Ribeiro,  proprietário  de  uma  farmácia,  e  João  Oliveira 

Peçanha,  velho  fazendeiro  –  para  auxiliarem  na  decisão  de  permanência  ou  substituição  de 

Constantino  na  construção  da  escola  rural  de  “Ponto”.  O  Departamento  também  recolheu 

reclamações de homens que alegaram não derem sidos avisados sobre o levantamento de preço 

para a mão‐de‐obra.   

Em  contrapartida, em meio à discordância, Constantino permaneceu  com  seu  cargo  após 

detectarem  boa  índole  e  capacidade  para  o  serviço,  segundo  testemunho de  Joaquim  Ribeiro, 

proprietário da farmácia local e aliado ao PSD. A partir desse documento, percebemos as tensões 

para alinhavar os primeiros traços de uma rede, na qual, os que já possuíam conexões almejavam 

participar  e  intervir  no  “processo  seletivo”,  ao  passo  que,  os  que  não  possuíam  vínculos, 

reivindicavam pela oportunidade de lançá‐los. 

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Em  cumprimento  de  promessa  feita  ao  Deputado  Afonso  Celso,  visitamos pessoalmente ambas  localidades e conversamos com Joaquim Ribeiro a respeito da  “ciumada”  política;  declarou‐nos  o  mesmo  que  Constantino,  embora  ser adversário era pessoa de  idoneidade e capaz de realizar a contento a tarefa que havia  recebido  do D.E.  Prontificou‐se  também  a  colaborar  em  tudo  que  fosse possível para a rápida construção da escola, que é muita necessária à região, face ao elevado número de crianças em idade escolar ali existente.  

No  término do documento,  Joaquim Ribeiro aponta a  importância da unidade escolar na 

região, em vista do elevado número de crianças em idade escolar na localidade e se prontifica em 

colaborar com a construção do  respectivo estabelecimento.  Joaquim Ribeiro, demonstrando sua 

disposição  para  colaboração  de  ampliação  da  rede  escolar  e  sua  aspiração  de  estreitar  suas 

conexões  com  o  governo,  é  indagado  sobre  a  necessidade de  outras  instituições  escolares  na 

região.  Ele  expõe  a  necessidade  de  uma  escola  na  localidade  denominada  de  “Carrapato”, 

ampliando sua participação na rede amaralista. 

Indagado sôbre a necessidade de outras escolas na região, solicitou uma para a localidade de “Carrapato”,  sendo  logo atendido desde que consiga  terreno necessário. Consultado sôbre excução de “mão de obra”, declarou que não sendo conhecer do assunto,  indicava seu  amigo  e  correligionário  Wilson,  com  pessôa  entendida  e  capaz  de  assumir  a responsabilidade da subempreitada, o que foi por nós anotado, para pedido de preço na ocasião oportuna.  

Na análise das propostas de decretos realizadas nas Comissões de Educação, na Assembleia 

Legislativa do Estado do Rio de Janeiro,  identificamos indicações de abertura ou manutenção de 

Grupos  Escolares  e  Escolas  Típicas  Rurais  nos  municípios  assistidos  pelos  deputados  que 

compunham as reuniões, destacando as reinvindicações da população em relação a esses pedidos. 

A justificativa para a instalação de unidades escolares se baseava no crescente número de crianças 

em  idade  escolar  não  atendidas  nas  escolas  circunvizinhas.  Os  pedidos  apontam  para  a 

importância desses  estabelecimentos  de  ensino  próximos  às  localidades  onde  se  encontravam 

núcleos  de  operários  agrícolas  e  industriais.  As  indicações  evidenciam  a  doação  de  amplos 

terrenos para as respectivas construções por parte de homens influentes das localidades de onde 

provinham  os  pedidos  os  locais,  bem  como  a  cobrança  pela  instalação  de  escolas  primárias 

estaduais.  De  acordo  com  o  convênio  das  municipalidades,  eram  encaminhados  ao  governo 

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estadual 15% do orçamento das  cidades, destinado para o desenvolvimento e manutenção das 

escolas primárias fluminenses, assegurada pelo decreto‐lei 4.938, de 14 de novembro de 1942. O 

artigo 179 do decreto nº 196‐A, de 1936, alega que a preferência de implementação das Escolas 

Típicas Rurais é conferida aos municípios em que prefeitos ou particulares doassem áreas para a 

construção e/ou concedessem outras facilidades para a implementação. 

Em  cada  localidade há  sempre  um  cidadão mais  remediado que os  outros.  Se souberdes atraí‐lo, elevando‐o à dignidade de “patrono da escola”, esse homem virá  a  ser, mais  tarde,  um  ótimo  colaborador. Muita  coisa  poderá  fazer  pelas crianças que frequentam a escola da sua localidade ou do seu quarteirão. (Falcão, 1946, p. 48) Indico  ao  sr  Governador  do  Estado  a  conveniência  e  a  necessidade  de providenciar a instalação de uma Escola típica rural na Vargem Grande, situada na zona rural do primeiro distrito do município de Petrópolis.  JUSTIFICATIVA Vargem  Grande  ,  núcleo  agrícola  e  pastoril,  abrigando  ainda  propriedades  de adeandados e esclarecidos sitiantes e  fazendeiros, reuniram todas as qualidades para ser beneficiada com a  instalação de uma Escola típica rural. Sua população infantil,  em  idade  escolar,  passa  certamente  da  casa de  100,  e  não  dispõe  de estabelecimento  de  ensino  a menos de  uma hora  de  caminhada,  a pé.  Releva notar, ainda, o  fator de possuir o Estado, precisamente nessa zona, de  terreno que  poderiam  ser  utilizadas  para  a  instalação  de  uma  verdadeira  escola‐modelo.(...) Sala das Sessões, 11 de abril de 1951 Adolpho de Oliveira5  

O Sistema Educacional Amaralista 

 

No  campo  educacional/cultural,  as  iniciativas  da  interventoria  seguiram  as orientações que buscavam convergir com as articulações políticas e com as ideias econômicas  implantadas  pelo  interventor.  O  grande  alvo  era  a  região agropecuária do Estado (FERNANDES, 2009. p. 130).  

Identificando as tramas políticas amaralistas e suas artimanhas para se enraizar no estado do 

Rio,  pretendemos  no  presente  tópico  analisar  o  sistema  escolar  fluminense,  bem  como                                                            5 Fonte: Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Indicação nº175 de 1951. Comissão de Agricultura, Viação e Obras Públicas. 

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caracterizar  as  principais  realizações  do  Comandante  Amaral  Peixoto  no  setor  educacional, 

compreendendo a importância da escola na difusão da imagem heróica do Governador do Estado. 

Nessa análise, usaremos como principais fontes o livro Novos caminhos da educação  fluminense, 

escrito  pelo  ex‐secretário de  educação  Rubens  Falcão,  e  a  publicação do  Instituto Nacional  de 

Estudos Pedagógicos, O Sistema Educacional fluminense – uma tentativa de interpretação e crítica.  

O desencadear da política educacional do estado do Rio de  Janeiro ocorria no  interior da 

recém Secretaria de Educação e Saúde Pública, criada em 10 de Novembro de 1938, administrada 

por Ruy Buarque de Nazareth, até o ano 1942, e Rubens Falcão, até o  término da  Interventoria 

Federal.    Em  1943,  este  aparato  administrativo  foi  extinto,  e  a  gestão  do  sistema  escolar 

fluminense foi transferida para o Departamento de Educação, estreitamente ligado ao Interventor 

e coordenado por Rubens Falcão.  O sistema de escolarização era centralizado na esfera estadual, 

alegando  como  justificativa  a  escassez  de  recursos  dos municípios  em  efetivá‐lo.  Contudo,  foi 

realizado  um  convênio  com  as  municipalidades,  do  qual  assegurava  a  ação  estadual  na 

implementação,  fiscalização e  financiamento do ensino primário no  Estado do Rio, prevendo  a 

participação financeira das cidades para o desenvolvimento e manutenção das escolas primárias. 

À  frente  do  Departamento  de  Educação,  o  autor  de  Novos  Caminhos  da  Educação 

Fluminense, juntamente com o Amaral Peixoto organizou a escolarização do Estado, priorizando a 

educação rural. Sua atuação anterior ao departamento educacional fluminense nos aponta a sua 

relação com a instrução elementar em outras regiões rurais do país. Rubens Falcão participou da 

Reforma da Instrução do Estado do Ceará, no período de Lourenço Filho na direção da Instrução 

Pública, em 1922. Ele atuou como inspetor de ensino em diversos municípios do Estado do Rio de 

Janeiro,  o  que  lhe  proporcionou  o  conhecimento  das  peculiaridades  educacionais  das  regiões 

fluminense. Contribuiu nas  reformas  implementadas por Celso Kelly e Nóbrega da Cunha entre 

1933 e 1936, principalmente no Departamento de Educação e  Iniciação do Trabalho, espaço em 

que  foi elaborado o projeto das Escolas Típicas Rurais  (E.T.R.s), estabelecimentos de ensino que 

obtiveram ascensão no governo amaralista. Trabalhou no  resgate e preservação do  folclore nas 

diversas  regiões  do  Brasil,  por  influência  de  Nóbrega  Cunha.    Em  1929,  publicou  o  trabalho 

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Combate ao analfabetismo na zona rural, apresentado na III Conferência Nacional de Educação, no 

qual adverte para a necessidade de criação de “escolas de sertão”, instaladas em fazendas com o 

regime de internato que proporcionasse o ensino primário e agrícola. 

No  Estado do Rio de  Janeiro, a educação  rural desempenhada nas E.T.Rs, no Aprendizado 

Agrícola  Presidente  Pedreira  e na  Escola Normal  Rural de  Cantagalo,  buscava promover  ações 

educativas  compatíveis  com  a  região,  relacionando  os  conteúdos  escolares  com  a  vida  e  o 

cotidiano do educando. Essas  instituições eram  incutidas pela construção de uma “mentalidade 

ruralista”  no  público  atendido,  “ensinando‐os  a  conhecer  o  valor  imenso  do  campo,  a  amar 

racionalmente  a  sua  terra  e  a  trabalhar  pelo  engrandecimento  econômico, moral  e  cultural”. 

(DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, 1945. p. 45).  Segundo Falcão, era necessário abolir os métodos 

pedagógicos  usados  nas  cidades,  que  desprezava  o meio  rural,  inferiorizando  o  “[ignorante], 

supersticioso  e  com  o  círculo mental  limitadíssimo”  homem do  campo  (FALCÃO,  1946.  p.  19). 

Assim, percebe‐se as intenções políticas com a implementação da referida escolarização rural, ao 

passo que ela pretendia propagar para a população rural a exaltação à terra fluminense, alegando 

seu enorme valor ao Estado e ao país, visando à recuperação da identidade fluminense. A escola 

rural difundia a imagem de Ernâni do Amaral Peixoto como o defensor das raízes do Estado do Rio 

de  Janeiro. Agindo dessa  forma, a escola  rural  fluminense se prontificava em combater a maior 

crítica levantada pelo professor Sud Mennucci (1930) à educação brasileira, a exaltação dada aos 

valores  urbanos  em  detrimento  ao  campo.  As  escolas  interioranas  eram  escolas  de  cidade 

implementadas  nas  regiões  campesinas,  enraizadas  de  preconceitos  urbanistas  trazidos  por 

professores  citadinos,  que  ridicularizavam  aquele  espaço,  sua  atividade  produtiva  e  a 

animosidade, hostilidade e atraso dos homens do campo. (MATTOS, 2009. p. 237) 

O ensino primário  rural  fluminense ocorria nas Escolas Típicas Rurais,  regulamentadas pelo 

decreto  n°196‐A,  de  26  de  dezembro  de  1936,  que  somente  em  1938  receberam  o  respaldo 

necessário  para  o  seu  desenvolvimento  e  ampliação.  Essa modalidade  de  ensino  tinha  como 

finalidade  ser  “um  centro  irradiador  de  civilidade  e  progresso”,  desempenhando  a  função  de 

ministrar  a  educação  primária  e  a  iniciação  profissional  agrícola.  As  escolas  rurais  também 

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sediavam uma  rede de educação social com  fornecimento de alimentação escolar,  livros,  fardas 

escolares,  assistência  médico‐dentário  e  a  elaboração  de  projetos  como  os  clubes  agrícolas, 

pelotões de saúde, colônias de  férias, missões culturais e bibliotecas ambulantes, que buscavam 

“combater a ignorância, as moléstias, e levando assistência profissional e esclarecimento espiritual 

à gente  rude de  regiões praiana e campesina”  (HEES, 2004, s.p), com o objetivo de satisfazer as 

necessidades da vida campesina para sua permanência no campo. Dessa  forma, a  instalação de 

uma  escola  típica  rural  configurava  naquele  espaço  a  presença  do  poder  público  estadual 

representado  pelos  participantes  de  sua  rede  política  que  por  sua  vez  financiavam  a 

implementação desses estabelecimentos de ensino. 

Construções de escolas típicas rurais. Um apelo aos prefeitos dos municípios fluminenses O diretor geral do Departamento das Municipalidades Fluminenses em atenção ao apelo que  lhe endereçou o Departamento de Educação, dirigiu se aos prefeitos municipais  de  Parati,  Angra  dos  Reis,  Rio  Claro,  Rezende,  Barra Mansa,  Nova Iguaçu, Pirahi, S. Gonçalo, Saquarema, Rio Bonito,  Itaboraí, Macaé, Miracema, S. João da Barra, Bom Jesus de Itabapoana, Teresópolis, Vassouras, Barra do Pirahi, Sapucaia,  Valença  e  Santa  Teresa,  sugerindo‐lhes a  conveniência  de  ser  cedido pelas  respectivas  prefeituras,  o  terreno  necessário  para  a  construção  de  uma escola  típica  rural,  indicando os  locais mais  convenientes para a  instalação das referidas escolas.(O fluminense. 31 mar.1939)  

As ETR(s) teriam em sua estrutura “jardim, horta, pomar, pequenos campo de cultura, criação 

de animais domésticos, apiários, criação do bicho de seda e instalações para a prática de pequenas 

indústrias domésticas ou artes populares” como espaços práticos para o ensino dos manejos da 

atividade agrícola. Seu currículo escolar assemelhava‐se com os programas empregados nas outras 

modalidades  de  escolas  primárias,  contendo  o  ensino  de  história  do  Brasil,  geografia  geral, 

ciências  naturais,  aritmética,  língua  materna,  conhecimentos  práticos  de  desenho,  higiene, 

economia rural e moral e civilidade, com a duração de 4 anos o curso. O horário de atendimento 

escolar, em geral, ocorria das 8:00 às 12:00 horas, intercalando o ensino das letras e os trabalhos 

agrícolas. Na  Interventoria  Federal  de  Amaral  Peixoto  foram  instalados  42  unidades  escolares 

desse porte, distribuídas em 40 municípios do interior fluminense.  Na governadoria do Estado, o 

número  dessas  instituições  cresceu  para  94.  As  séries  de  fotografias  sobre  estas  escolas, 

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publicadas nos  relatórios oficiais,  sugerem  a  importância política  conferida  a estas  instituições, 

evidenciando a sua eficácia no atendimento às populações interioranas, bem como sua atuação na 

assistência social e na instrução agrícola. 

 

        Fonte: CPDOC/FGV. Aspectos de escolas rurais do Estado do Rio de Janeiro. EAP foto 017. 

 

O Aprendizado Agrícola de Conceição de Macabú, instalado em 1924 no governo de Feliciano 

Sodré,  foi ampliado na administração de Amaral Peixoto. Com a  instalação do pavilhão “Getúlio 

Vargas”, essa  instituição passou a atender 200 educandos, ministrando a  instrução primária e a 

profissionalização  agrícola  a  meninos  pobres  das  zonas  rurais  fluminense,  sob  o  regime  de 

internato6.  

Além  das  instituições  de  ensino  denominadas  Escolas  Típicas  Rurais,  o  estado possuía  as 

categorias de escolas  isoladas, grupos escolares, cursos para adultos e escolas experimentais no 

território fluminense. Contudo, a política educacional amaralsita voltou‐se para as ETR(s) e para a 

construção de amplos Grupos Escolares localizados de “preferência nas sedes de municípios ou de 

distritos”.  Em  1937,  foram  registradas  838  escolas,  sendo  apenas  86  localizadas  em  prédios 

próprios  do  governo  do  Estado  do  Rio,  e  o  restante  em  propriedades  de  particulares  ou  dos 

municípios. Em 1946, o número de prédios escolares é elevado a 152  imóveis, nos quais  foram 

                                                           6  A respeito dos Aprendizados Agrícolas, ver os trabalhos de Barros (2010;2011) 

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instalados Grupos Escolares Modernos com aproximadamente 20 salas de aulas para cada escola. 

Essas instituições atendiam o número mínimo de 250 estudantes.  

Mais um Grupo Escolar Por  decreto  de  ontem  foi  criado  um  Grupo  Escolar  em  Sumidoro.  O mesmo  decreto suspende  o  ensino  na  escola  isolada  dessa  cidade  e  transfere  outra  escola  atualmente vaga,  para  localidade  do  interior  do  município,  onde  haja  população  em  idade  de freqüentá‐la. (O Fluminense, 12 jan. 1939)  

O  sistema  educacional  do  estado  no  período  amaralista  recebeu  sólido  aparato  de 

instituições complementares à escola, voltados para promoção da saúde e difusão cultural. Dessa 

forma, os  “pelotões de  saúde” eram organizados nas escolas  visando estimular,  cultivar e  fixar 

hábitos higiênicos nas unidades escolares e generalizá‐los na localidade. Os “pelotões” juntamente 

com as “missões culturais” e as “colônias de férias” realizavam procedimentos médicos junto aos 

escolares e às populações circunvizinhas as instituições de ensino.  

Os  clubes  agrícolas  instalados no  interior dos estabelecimentos de ensino  se  constituíram 

como espaços de orientação à prática de atividades agrícolas, com a instalação de hortas, criação 

de pequenos animais, sericultura, apicultura e reflorestamento. As produções oriundas dos clubes 

agrícolas  forneciam a alimentação aos educandos das instituições escolares e as sopas escolares 

nos períodos de visitas dos “pelotões de saúde”, visando disseminar bons hábitos alimentares. No 

término da Interventoria Federal de Ernâni do Amaral Peixoto foram registrados 216 “pelotões da 

saúde”  viajando pelo  interior  do  estado  e  221  “clubes  agrícolas”  anexados  às  escolas  rurais  e 

urbanas fluminenses. 

As  “colônias  de  férias”,  criadas  em  1942,  nos municípios  de  Vassouras  e Cabo  Frio eram 

excursões  realizadas  à beira‐mar  e na montanha, destinadas  aos  alunos  com  retardos  em  seu 

desenvolvimento  físico,  insuficiência  no  perímetro  torácico,  ventre  volumoso  e  músculos 

abdominais flácidos. Nessas viagens eram promovidos os atendimentos médicos, com repartições 

odontológicas e pediátricas, a recreação dos educandos, o banho de sol, os exercícios físicos com a 

condução dos profissionais adequados, as brincadeiras em grupo, os jogos, os passeios nas praias 

e as  refeições nutritivas. As práticas desenvolvidas nas “colônias de  férias”  foram  registradas no 

livro 1.000 crianças em colônias de  férias, que  reuniu  fotografias dos eventos que constatam as 

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atividades e o aproveitamento dessa  iniciativa.   Os clubes esportivos e o Estádio “Caio Martins” 

eram espaços estimuladores para o desenvolvimento de atividades recreativas e educação física, 

sediando  os  campeonatos  de  atletismo  e  vôlei  feminino.  Esses  espaços  esportivos  eram 

organizados por profissionais especializados pela Escola Nacional de Educação Física e Desportos 

que eram responsáveis pelo controle médico dos clubes e supervisão dos locais designados para 

as  práticas  esportivas.  Além disso,  a  Escola Nacional  fornecia  cursos  de  formação  rápida  para 

professores.   

A educação física em S Fidélis São Fidélis, 5 (S.P.T) – Com o auxilio decidido do governo do estado, a prefeitura local  está  executando  algumas  obras  de  particular  interesse  para  ao desenvolvimento  da  educação  física  entre  os  escolares.  Entre  esses empreendimentos, contam se um moderno estádio e um parque infantil devendo este  último  ser  inaugurado  brevemente.  O  referido  “Play  ground”  terá  a capacidade para 100 crianças.(O Fluminense, 6 de jan., 1942)  

Também,  foram  iniciadas  as  missões  culturais  do  interior  do  Estado,  baseadas  em 

experiências da professora chilena Amanda La Barca. Eram caravanas com diversos voluntários do 

funcionalismo  público,  que  percorriam  as  pequenas  cidades  interioranas  para  detectar  seus 

problemas  e  buscar  soluções  que  atendessem  às  necessidades  dessa  população.  Usava‐se  de 

ferramentas, como o cinema, o  rádio, atividades  recreativas, cartazes,  folhetos e demonstrações 

práticas com a finalidade de comunicar as instruções rudimentares da agricultura e da zootécnica, 

o valor do trabalho rural, a importância da assistência médica, alimentar e cultural oferecida pelos 

outros mecanismos de educação social, a  relevância do ensino primário, pontos  importantes da 

“economia  doméstica”  e  questões  referentes  à  “educação  social  e  política”,  tópico  difusor  do 

ressurgimento da identidade fluminense e da imagem heroica de Amaral Peixoto.  

Sua primeira excursão ocorreu entre os dias 19 de Abril a 2 de Maio de 1944, visitando os 

municípios de Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro d’ Aldeia e Cabo Frio. Os municípios de 

Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis, Parati, Campos e São João da Barra foram visitados entre 8 a 

26 de agosto do respectivo ano. As “missões culturais” eram compostas por professores, médicos, 

assistentes  sociais  e  técnicos  agrícolas.  Também  eram  inseridos  nas  viagens,  os membros  da 

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Legião Brasileira de Assistência. Ao chegarem aos municípios,  instalavam os aparatos da missão 

nas escolas locais ou em posto médicos, programando as palestras para a população local. 

O  Parque  Infantil  “General  Rondon”  atendia  crianças  no  contraturno  escolar,  fornecendo 

alimentação,  tratamento  médico  e  dentário,  recreação  e  atendimentos  com  professoras 

especializadas.  Segundo  Rubens  Falcão  (1945)  em  Atividades  de  Educação,  o  parque  infantil 

proporcionou  em  seu  primeiro  ano  de  funcionamento  o  aumento  do  rendimento  escolar  dos 

alunos que o frequentavam, detectado nas provas dos grupos escolares circunvizinhos ao Parque. 

Salientamos que as experiências desempenhadas nas missões culturais, no Parque  Infantil, 

nas  colônias  férias,  nos  clubes  agrícolas,  nos  pelotões  de  saúde  e  associações  esportivas, 

destinadas para a promoção da educação social, visavam levar às familiares dos educandos e aos 

homens do  campo os  conhecimentos  agrícolas e  ideológicos do  Estado executados em  sala de 

aula. Ou seja, eram espaços destinados à valorização do trabalho do campo, o amor pela terra e o 

poder produtivo das atividades agrícolas capazes de alavancar o desenvolvimento do país, a fim de 

conter os homens  campesinos em  seu habitat e mantê‐los na  agropecuária. Além disso, essas 

medidas  visavam  levar  ao  interior  fluminense acesso  à  saúde, assistência  social,  informações e 

cultura  por  meio  de  teatro  de  marionetes,  passeios  e  cinema  para  as  regiões  interioranas 

embutido de aspectos presentes no espaço rural, pois “a zona rural era idealizada como o espaço 

detentor  das  raízes  e  da  identidade  fluminense”  (FERNANDES,  2009,  p.  131).  Dessa  forma,  o 

comandante  Amaral  Peixoto,  ao  lado  do  diretor  do  Departamento  de  Educação  do  Estado, 

desencadeou  aparatos  secundários  à  escolarização,  visando  à  valorização  das  raízes  culturais 

fluminenses presentes nas atividades agrícolas, em consonância ao seu patrono Getúlio Vargas, 

buscando a legitimação ideológica do regime o nacionalismo. 

A formação dos professores fluminenses no governo de Amaral Peixoto continuou ocorrendo 

nas  Escolas Normais de Niterói  e de Campos,  porém  regulamentadas  pelo decreto  nº  714,  de 

10/3/1939, que criou a Escola de Professores, padronizando o ensino normal no Estado do Rio de 

Janeiro.  Em 1946,  foi  implementada  a  Escola Normal Rural em Cantagalo, para a  formação de 

professoras  primárias  para  a  atuação  nas  zonas  interioranas  fluminense.  Segundo Mennucci 

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(MATTOS, 2009) a formação de educadores rurais deveria ser diferenciada abarcando o professor 

com habilidades  agrícolas e de enfermagem,  convicto de  sua  importância para o progresso do 

campo, se constituindo o grande incentivador da vocação agrícola. A formação do professor que 

lecionaria nas zonas rurais seria desempenhada no campo para que ele se familiarize com o meio, 

do qual teria que trabalhar, exaltando‐o e enfatizando o seu valor ao país. Com essa mentalidade, 

Sud Mennucci defendia a  criação de escolas normais  rurais no Brasil,  sendo o pioneiro em  sua 

implementação quando ocupou  a Diretoria de Ensino na  interventoria do  general Dalton  Filho, 

criando  a  Escola Normal  Rural  de  Piracicaba  pelo  decreto  n°  6.047  de  19  de  agosto  de  1933 

(MATTOS, 2009, p.252).  

Outra medida direcionada para o professorado na política educacional de Amaral Peixoto 

eram os  cursos de  formação  continuada,  com  a  finalidade de  atualizar os docentes  frente  aos 

progressos da ciência da educação. Os cursos de férias eram preparados em hospedarias para as 

professoras primárias, que por sua vez  recebiam  ilustres palestrantes que ministravam assuntos 

sobre metodologia  de  ensino,  alimentação  e  assistência  social,  o  ensino  das  ciências  naturais, 

rendimento  escolar,  atividades  rurais,  administração  escolar,  aplicação  nas  escolas  do  folclore 

brasileiro, psicologia pedagógica, etc. No ano de 1943, o  Estado promoveu o  curso prático em 

educação rural, na Escola Típica de “Bulhões”, no município de Rezende. 

Os cursos de férias no Estado do Rio Têm despertado grande  interesse entre as professoras fluminenses os cursos de especialização  organizados  pelo  Departamento  de  Educação  do  Estado  do  Rio para  o  atual  período  de  férias.Desses  cursos,  em  número  de  cinco,  já  se encontram  em  funcionamento  os  de  Aprendizagem  da  Leitura  e  da  Escrita,  a cargo do professor Moysés Xavier e Araujo,  técnico de educação  federal e o de prática  de  ensino  de  Ciências  Físicas  e  Natural,  cuja  primeira  parte  –  ciências físicas‐ vem sendo dada pelo professor Arnaldo Carneiro Leão oficial de Recife.(...) Na próxima terça‐feira, às 9 horas, começará o de Atividades Rurais, organizado em  colaboração  com a Secretaria de Agricultura, onde serão realizadas as aulas (...)A   média de professoras  inscritas em cada um desses cursos é de 150, o que revela o grande interesse que está despertando entre o professorado fluminense.( O Fluminense, 19 jan. 1942)  

No Estado do Rio, o ensino Industrial obteve novos rumos. A atual Escola “Henrique Lage”, 

que se originou da junção da Escola Profissional “Visconde de Moraes” com a Escola Profissional 

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“Washington  Luiz”,  foi  instalada em uma  zona operária, ocupando uma  área de  cerca de 1.300 

metros quadrados com 15 salas, auditório, anfiteatro, laboratório para ciências físicas e naturais. 

Essa  instituição  oferecia  cursos  de  fundição,  serralheria,  caldeiraria,  mecânica  de  máquinas, 

automóveis  e  aviação,  instalações  elétricas, marcenaria  e  tipografia. Nas  cidades  de Niterói  e 

Campos era ministrado o ensino industrial para o sexo feminino nas Escolas “Aurelino Leal” e “Nilo 

Peçanha”.  Desde  suas  inaugurações,  em  1923,  a  Escola  “Aurelino  Leal”  formou  946  alunas, 

enquanto a Escola “Nilo Peçanha” diplomou 534 estudantes. 

 

Considerações Finais 

 

O  respectivo  trabalho  buscou  identificar  como  as  conexões  interpessoais  amaralistas 

fomentaram  o movimento  de  alastramento  da  escolarização  rural  por meio  da  instalação  de 

escolas primárias  interioranas, que proporcionavam  a  instrução elementar,  a  iniciação  agrícola, 

bem como sediavam eventos de promoção à saúde e à cultura. 

Detectamos que em sua interventoria federal, Amaral Peixoto costurou alianças com líderes 

locais  e  políticos  do  interior  fluminense  prevendo  consolidar  os  ideais  políticos  de  seu  sogro, 

Getúlio Vargas. Por meio de excursões aos municípios, reuniões com prefeitos e correspondências, 

o  chefe  de  estado  fluminense  alinhavava  suas  redes  políticas,  usando‐se  do  discurso  de 

restauração  da  identidade  fluminense.  Em  sua  retórica,  identificamos  a  exaltação  ao  período 

imperial, conhecido como  Idade de Ouro, em que o estado do Rio de Janeiro era considerado o 

alicerce do país. Se apropriando de uma  retrospectiva histórico‐econômica, Peixoto lembrava da 

grandiosa produção  cafeeira do Vale do Paraíba e da extensão  agrícola do  Estado do Rio.    Ele 

alegava  que  tamanha  riqueza  era  oriunda  da  agricultura  fluminense,  que  por  sua  vez  foi 

desfigurada com o advento da Abolição da Escravatura, Proclamação da República e o crescimento 

da produção cafeeira paulista e mineira. Seu discurso era finalizado com a ênfase do retorno aos 

elementos que proporcionavam a importância do estado do Rio na instância federal – a produção 

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agrícola  e  a  participação  política  dos  latifundiários.  Dessa  forma,  Amaral  Peixoto  abarcava  as 

lideranças interioranas do estado com o ideal de recuperação da identidade fluminense. 

 Dentro deste quadro, averiguamos o crescimento da instalação das Escolas Típicas Rurais, 

estabelecimentos  destinados  à  escolarização  primária  e  iniciação  profissional  agrícola.  Essa 

modalidade  de  ensino  era  a  representação  do  governo  estadual  nas  áreas  rurais,  abarcando 

aparatos  que  permitisse  a  permanência  da  população  em  seu  território  de  origem.  Essas 

instituições repercutiam o anseio pelo resgate da identidade do estado ao passo que disseminava 

a  criação de uma  “mentalidade  ruralista”, engrandecendo  a  atividade  agrícola e o  trabalho no 

campo. Elas se tornaram objetos de negociação e de manipulação das redes amaralistas, em vista 

da participação  financeira das  lideranças  locais para o  funcionamento desses estabelecimentos. 

Contribuindo com as Escolas Típicas Rurais, os líderes interioranos alinhavavam sua conexão junto 

a  Amaral  Peixoto,  lhe  assegurando  o  reconhecimento  de  promissor  da  educação  em  sua 

localidade,  a  representação de membro do  governo,  subsídios  governamentais que  fomentasse 

sua produção agrícola ou comercial e até mesmo um cargo político no governo estadual. Por outro 

lado, Amaral Peixoto alastrava sua rede política, sua imagem de guardião das raízes fluminenses e 

sua  permanência  no  governo  fluminense,  posteriormente  como  governador, deputado  federal, 

embaixador e senador. 

 

Referências  

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