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O Empirismo de David Hume David Hume ao contrário de Descartes privilegia o conhecimento a posteriori, admitindo que a capacidade cognitiva do entendimento humano é limitada. Para este não é a razão a principal fonte do conhecimento mas sim a experiência. É na experiência que o fundamento deve ser procurado pois todas as crenças e ideias têm uma base empírica. Elementos do conhecimento Hume classifica as perceções humanas segundo o critério da vivacidade e da força com que são suscetíveis de impressionar o espírito. As que apresentam maior grau de força e vivacidade são as impressões – sensações, emoções e paixões. As ideias ou pensamentos são as representações das impressões – imagens enfraquecidas destas que nunca alcançam vivacidade, intensidade e força iguais às impressões. (uma impressão é a cor da flor que se vê; uma ideia é a memória dessa cor) *em relação às ideias, as da memória são mais fortes que as da imaginação* Ideias e impressões, que podem ser simples ou complexas, sãos elementos do conhecimento: as ideias derivam das impressões. Não podem existir ideias das quais não tenha havido uma impressão prévia. Não existem ideias inatas pois as ideias são cópias das impressões.

O Empirismo de David Hume

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Page 1: O Empirismo de David Hume

O Empirismo de David HumeDavid Hume ao contrário de Descartes privilegia o conhecimento a posteriori,

admitindo que a capacidade cognitiva do entendimento humano é limitada. Para este não é a razão a principal fonte do conhecimento mas sim a experiência. É na experiência que o fundamento deve ser procurado pois todas as crenças e ideias têm uma base empírica.Elementos do conhecimento

Hume classifica as perceções humanas segundo o critério da vivacidade e da força com que são suscetíveis de impressionar o espírito. As que apresentam maior grau de força e vivacidade são as impressões – sensações, emoções e paixões. As ideias ou pensamentos são as representações das impressões – imagens enfraquecidas destas que nunca alcançam vivacidade, intensidade e força iguais às impressões. (uma impressão é a cor da flor que se vê; uma ideia é a memória dessa cor)*em relação às ideias, as da memória são mais fortes que as da imaginação*Ideias e impressões, que podem ser simples ou complexas, sãos elementos do conhecimento: as ideias derivam das impressões. Não podem existir ideias das quais não tenha havido uma impressão prévia. Não existem ideias inatas pois as ideias são cópias das impressões.

Page 2: O Empirismo de David Hume

O Empirismo de David HumeFaltando algo nos sentidos forma-se uma ideia que não é real e por isso não se

considera uma ideia.As ideias simples derivam de impressões simples, mas muitas ideias complexas

não resultam de impressões complexas. O critério usado para distinguir uma ideia verdadeira de uma ficção passa a ser a existência ou não de uma impressão que lhes corresponda – embora também as ficções tenham por base, em última instância, as impressões, uma vez que são ideias construídas a partir delas.

A ideia de Deus, p.e., é uma ideia complexa que tem por base ideias simples que a mente e a vontade elevam as qualidades de bondade e sabedoria.

As ideias e as impressões são os elementos do conhecimento. Por isso, é na experiência que se encontra o fundamento do conhecimento. Não há conhecimento fora dos limites impostos pelas impressões, ou seja, na experiência.

Page 3: O Empirismo de David Hume

Página 168: 1.1 O texto alude duas espécies de perceções: impressões e a ideias. Existem

várias perceções humanas e por isso Hume classifica-as segundo o critério da vivacidade e da força com que são suscetíveis de impressionar o espírito.

As impressões são as perceções que apresentam maior grau de vivacidade, pois estas incluem as sensações (auditivas, visuais e táteis, etc.); as emoções e as paixões (amor, ódio, desejo, ira(raiva) etc.), enquanto vivenciadas e presentes no espírito.

As ideias ou pensamentos são as representações das impressões, são as imagens enfraquecidas das impressões e nunca alcançam a vivacidade, a força e intensidade igual a estas.

Em conclusão Hume considera que as ideias são cópias das impressões, pois para além destas não serem inatas, também derivam das impressões. Este considera ainda que as dentro das ideias, as da memória são mais fortes e vívidas que as da imaginação.

Page 4: O Empirismo de David Hume

Página 168: 1.2As impressões e ideias podem ser divididas em simples e

complexas. As ideias simples derivam das impressões simples. Estas não

admitem qualquer separação ou divisão. Como por exemplo a sensação visual de um tom de verde é uma impressão simples; e esta origina uma ideia simples: memória de um tom de verde.

Nem todas as ideias complexas derivam de impressões complexas. Estas podem ser divididas em partes, resultando da combinação das impressões ou das ideias simples. Por exemplo ver uma certa maçã é uma impressão simples enquanto que pensar numa certa maçã é uma ideia simples mas, estas as duas combinadas/associadas originam uma impressão complexa .

Page 5: O Empirismo de David Hume

Tipos ou modos de conhecimentoTipos ou modos de conhecimento

Há dois modos ou tipos de conhecimento: relações de ideias (a priori) e questões de facto (a posteriori). As relações de ideias traduzem-se em proposições necessárias, baseadas no princípio da contradição. As questões de facto são justificadas pela experiência, traduzindo-se em preposições contingentes (negar as verdades de tais preposições não implica contradição).

Tipos de conhecimento Verdades desses conhecimentos Exemplos

Relações de ideias (a priori) Necessárias

São sempre verdadeiras, em quaisquer circunstâncias. Negá-las implica contradição.

«2+4=6»

«O solteiro não é casado»

Questões de facto (a posteriori) Contingentes

Poderiam ter sido falsas. Negá-las não implica contradição.

«Descartes foi um filósofo racionalista»

«Os cães são mamíferos»

Page 6: O Empirismo de David Hume

Página 170: 1O conhecimento implícito nesta afirmação é um conhecimento a

priori, por isso do tipo relações de ideias. Este tipo de conhecimento é intuitivo e demonstrativamente certo pois não depende da experiência, é apenas produto do intelecto/ pensamento. É um tipo de conhecimento independente dos factos, onde as verdades são necessárias. Estas são sempre verdadeiras, em quaisquer circunstâncias, pois negá-las implica contradição (são verdades universais).

O tipo de conhecimento que não implica contradição são as questões de facto, que se baseiam nos conhecimentos a posteriori. Estes, justificam-se através da experiência sensível (impressões); Não são proposições que são necessárias, mas sim contingentes pois podem ser falsas (negá-las não implica contradição).

Page 7: O Empirismo de David Hume

Causalidade e conexão necessáriaA ordem das nossas ideias assentam em princípios que permitem uni-las e associá-las

Relação causal – É a ideia de que que há uma conexão necessária entre dois ou mais acontecimentos.

O nosso conhecimento do mundo consiste essencialmente em descobrir as causas de certos efeitos. A é a causa de B = sempre que, em certas condições, acontece A, sucede necessariamente B.

Como consequência de sucessão regular de A e de B nasce na nossa mente a ideia de relação causal como conexão necessária.HUME - MAS quando dizemos que, acontecendo A, sempre acontecerá B , estamos a falar de um facto futuro, que ainda não aconteceu.

Princípios da associação de ideias Exemplos

Semelhança Um rosto desenhado remete-nos para o rosto original

Contiguidade no tempo e no espaço A lembrança de um comboio leva a pensar na estação, nos passageiros, etc.

Causalidade (causa e efeito) – está relacionado com as questões de facto

A água fria posta ao lume (causa) faz pensar na fervura (efeito) que lhe seguirá

Page 8: O Empirismo de David Hume

Crítica de Hume«MAS quando dizemos que, acontecendo A, sempre acontecerá B , estamos a falar de um facto futuro, que ainda não aconteceu.»

É aqui que Hume diz que ultrapassamos o que a experiência (única fonte de verdade dos conhecimentos de facto) nos permite

Para Hume, o conhecimento dos factos reduz-se às impressões atuais e passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter quaisquer impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu.

NÃO TEMOS QUAISQUER IMPRESSÃO SENSÍVEL DA IDEIA DE CAUSALIDADE

A relação entre a causa e o efeito trata-se de um conhecimento a posteriori e não a priori.A única coisa que percecionamos é que entre 2 fenómenos se verifica uma conjunção constante: um deles ocorre após o outro leva-nos a concluir uma conexão necessária entre eles ERRO, na opinião de Hume.

Page 9: O Empirismo de David Hume

Crítica de HumeCOMO NASCE ENTÃO A IDEIA DE UMA CONEXÃO OU LIGAÇÃO NECESSÁRIA ENTRE

CAUSA E EFEITO?De tantas vezes observarmos que um corpo dilata após um determinado aumento

de temperatura acontece que, sempre que vemos acontecer um dado aumento de temperatura, concluímos devido ao HÁBITO/COSTUME, que certos corpos vão dilatar.

Por isso, o nosso conhecimento acerca dos factos futuros não é um conhecimento rigoroso trata-se apenas de uma crença no sentido de suposição ou de probabilidade.

A crença na ideia de causalidade tem um fundamento não racional. Tal ideia não deriva da razão mas de fatores psicológicos - a vontade de que o futuro seja previsível e, logo, controlável.

O ceticismo de Hume não é radical. Hume pensa que não podemos deixar de acreditar na ideia de regularidade constante dos fenómenos porque, sem essa crença, a vida seria impraticável. Por isso, o ceticismo de Hume é mitigado.

A ficção de uma relação causal é útil não só para a nossa vida quotidiana, mas também é nela que se baseiam as ciências naturais/experimentais

É importante notar que Hume nunca pretendeu com a sua crítica afirmar que não há relações causais no mundo. NÃO NEGOU O PRINCÍPIO “NÃO HÁ EFEITO SEM CAUSA”

UNICAMENTE AFIRMOU QUE NÃO PODEMOS RACIONALMENTE JUSTIFICAR UMA TAL CRENÇAFazemos previsões porque nos habituamos. Temos conceitos enquadrados na nossa

cabeça porque nos são úteis e é costume.

Page 10: O Empirismo de David Hume

Página 172: 1.2 (características que definem, no empirismo de Hume, a relação de causa e efeito)

Segundo Hume, não temos qualquer impressão sensível da ideia de causalidade, isto porque o conhecimento do factos se reduz às impressões atuais e passadas e por isso não podemos ter conhecimento de factos futuros, logo, para Hume não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu.

A causalidade / relação causal trata-se de um conhecimento a posteriori e não a priori. Esta relação é a ideia de que há uma conexão necessária ( o que Hume considera um erro) entre dois ou mais acontecimentos, ou seja, que para determinadas causas existem efeitos, como por exemplo: deitar a roupa para a água, aqui a causa é a água e o efeito e a roupa ficar molhada. Segundo Hume, só sabemos isto porque aconteceu agora, mas este não "acredita" que se amanhã fizermos exactamente o mesmo procedimento acontecerá o mesmo a roupa. Este apenas acredita que esta ligação nasce do hábito de vermos a roupa a ficar molhada ao deitarmo-la lá. Contudo, Hume não nega o princípio “não há efeito sem causa”, unicamente afirma que não podemos racionalmente justificar essa crença.

Com isto, ele demonstra que o nosso conhecimento acerca dos factos futuros não é um conhecimento rigoroso. Este trata-se apenas de uma crença no sentido de possibilidade. Esta crença na ideia de causalidade tem um fundamento não racional. Tal ideia não deriva da razão mas de fatores psicológicos – a vontade de que o futuro seja previsível e, logo, controlável.

Page 11: O Empirismo de David Hume

O eu, o mundo e DeusO problema do eu:Descartes achara indubitável a existência do eu pensante intuição imediata

Hume considera que não se deve recorrer a qualquer tipo de intuição para justificar a existência do eu como substância dotada de realidade permanente (imutável). Só dispomos da intuição de ideias e impressões, nas quais se verifica a sucessão e a mutabilidade; nenhuma apresenta um caráter de permanência. A CRENÇA na identidade, na unidade e na permanência é apenas um produto da IMAGINAÇÃO , não sendo possível afirmar que existe o eu como substância distinta em relação às impressões e às ideias.

O mundo exterior (substância extensa):As impressões constituem a única realidade acerca da qual dispomos de alguma

certeza. Só podemos considerar real um hipotético mundo exterior se as coisas forem independentes das nossas impressões (p.e, uma flor existir independentemente das impressões que temos dela)

Não temos experiência ou impressão de tal realidade exterior. Só temos acesso às nossas perceções (impressões e ideias). Logo, afirmar a existência de uma realidade que seja a causa das nossas impressões e que seja distinta delas e exterior a elas é algo desprovido de sentido crença injustificável

São a coerência e a constância de certas perceções que nos levam a acreditar que há coisas externas.

Page 12: O Empirismo de David Hume

O eu, o mundo e DeusA existência de Deus (substância divina/infinita):

O que concebemos como existente também o podemos conceber como não existente não existe um ser cuja existência esteja à partida demonstrada. Como tal, o argumento oncológico (ideia de ser perfeito que encontramos na nossa mente) é EXCLUÍDO.

Também as provas da existência de Deus baseadas no princípio da causalidade são criticadas por Hume , uma vez que partem das impressões para chegar a Deus Deus não é objeto de qualquer impressão pois Deus resulta de uma construção mental.

(Este é fundamentalista pois encontra na experiência o fundamento do conhecimento)

O empirismo de Hume traduz-se nas seguintes consequências:

Fenomenismo – como só conhecemos as perceções, a realidade (a que acedemos) acaba por se reduzir aos fenómenos (àquilo que aparece ou que se mostra). Não há qualquer princípio ou fundamento que confira unidade e conexão às perceções (nem uma realidade exterior nem uma substância pensante)

O Ceticismo (a crença na existência de algo para lá dos fenómenos carece de fundamento) de Hume revela um duplo aspeto:

relativo às ciências metafísicas que procuram passar o âmbito da experiência e da observação (Hume considera isso inaceitável)

é mitigado ou moderado pois Hume reconhece as limitações das nossas capacidades cognitivas e a nossa propensão para o erro.

HUME AFASTA-SE DO CETICISMO RADICAL (PIRRÓNICO)

O fundacionalismo de Hume

Page 13: O Empirismo de David Hume

Análise comparativa das teorias de Descartes e Hume

DESCARTES HUME

Origem do conhecimento

A razão é a fonte principal do conhecimento – racionalismo. Devidamente guiada pelo método, a razão poderá alcançar princípios evidentes, claros e distintos, independentes da experiência.

A experiência é a fonte principal fonte do conhecimento e todas as ideias têm uma origem empírica – empirismo. Deste modo, também as ideias que conduzem a preposições evidentes e necessárias (relações de ideias) derivam da experiência.

Operações da mente e ideias

Existem ideias factícias (experiência sensível), adventícias(da imaginação) e inatas(constituem a própria razão). A partir das inatas é possível obter o conhecimento, mediante as operações fundamentais da mente: a intuição e a dedução.

Não existem ideias inatas. Todas as ideias (simples ou complexas) derivam das impressões. As operações da mente baseiam-se nos princípios de associação de ideias: a semelhança, a contiguidade no tempo e no espaço e a casualidade. Sublinha-se o papel do raciocínio indutivo.

Page 14: O Empirismo de David Hume

Análise comparativa das teorias de Descartes e Hume

Possibilidade do conhecimento

Usando a dúvida, Descartes adotou um ceticismo metódico. Mas, uma vez que depositava inteira confiança na razão, poderá ser enquadrado, no que se refere à possibilidade do conhecimento, no âmbito do dogmatismo.

A realidade que temos acesso reduz-se à esfera das perceções. A capacidade cognitiva do entendimento humano limita-se ao âmbito do provável. Daí o ceticismo mitigado. Nada podemos conhecer para lá do âmbito da experiência. Daí o ceticismo metafísico.

Perspetivas Metafísicas

Podemos ter ideias claras e distintas dos atributos essenciais de 3 tipos de substâncias: pensante, extensa e divina.

Não encontramos qualquer princípio que confira unidade e conexão às perceções. Não temos impressões do : eu pensante, de uma realidade exterior nem de Deus.

Fundamentação do conhecimento

O fundamento do conhecimento encontra-se na razão: é o cogito , enquanto crença básica ou fundacional e 1ª verdade, e outras ideias claras e distintas da razão. Todavia, este fundamento do conhecimento depende daquele que é o princípio de toda a realidade: Deus.

O fundamento do conhecimento encontra-se na experiência, mais propriamente nas impressões dos sentidos. É a crença básica de que se está a ter uma determinada experiência que justifica as outras crenças obtidas através dela.

Page 15: O Empirismo de David Hume

Conhecimento vulgar e conhecimento empírico

Page 16: O Empirismo de David Hume

Senso Comum

O primeiro nível de conhecimento, que é comum a todos os seres humano, designa-se por senso comum ou conhecimento vulgar.

Este é formado essencialmente a partir da apreensão sensorial espontânea e imediata; não decorre de investigações apoiadas em testes nem resultados experimentais; é não disciplinar e imetódico.

O senso comum é um tipo de conhecimento superficial e pouco ou nada aprofundado. É com base neste tipo de conhecimento que resolvemos os problemas do dia a dia; surge espontaneamente.

Senso comum – conjunto de crenças e opiniões subjetivas, suposições, pressentimentos, preconceitos e ideias feitas (que se traduzem num conhecimento superficial e, por vezes, erróneo da realidade).

Page 17: O Empirismo de David Hume

Relação senso comum- ciênciaQuer Popper quer Bachelard reconhecem a superficialidade do conhecimento vulgar.

Popper entende-o como ponto de partida para todo e qualquer conhecimento mais aprofundado de real, seja o conhecimento científico ou filosófico devendo, no entanto, ser criticado, corrigido e aperfeiçoado. A crítica é então o grande instrumento de progresso para níveis mais aprofundados do saber. Para Popper “toda a ciência e toda a filosofia são senso comum esclarecido”.

Bachelard considera que não é possível retificá-lo – é preciso romper com ele. Segundo as suas palavras “a opinião pensa mal, ela não pensa”. Segundo este autor, o conhecimento vulgar funciona como obstáculo epistemológico, impede que esse conhecimento surja. Bachelard refere-se a este facto dizendo que “Nada se pode fundar sobre a opinião, é preciso primeiro destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a superar.” Por isso, Bachelard propõem uma rutura total com o conhecimento vulgar (senso comum).-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Os enunciados apresentados traduzem o conhecimento vulgar na medida em que resultam de um conjunto de opiniões, suposições, preconceitos e ideias feitas, transmitido de geração em geração; permitem uma certa orientação no mundo e a resposta para as diversas situações práticas da vida; não resultam de investigações planificadas nem são o resultado de testes experimentais, mas da acumulação de saberes empíricos, são o resultado da apreensão sensorial espontânea e imediata, por isso resultam de um saber não disciplinar e imetódico; correspondem a uma leitura superficial da realidade, sendo grande a probabilidade de traduzirem uma visão errónea da realidade.

Respostas: 4 e 2, respetivamente

Page 18: O Empirismo de David Hume

Conhecimento científico

O conhecimento científico representa um nível mais aprofundado do conhecimento.

Baseia-se em pesquisas e investigações apoiadas em procedimentos (métodos) coerentes e consistentes; faz-se acompanhar de instrumentos de medida; implica a construção de conceitos e teorias e o recurso a uma linguagem própria (procura descrever, explicar e prever os fenómenos); a linguagem é específica e rigorosa e resulta de uma atitude diferente face ao real.

Senso comum

Diversidade empírica

(experiência)

CiênciaOrdenação

da diversidade

empírica

Classificação Ordenação Organização

Page 19: O Empirismo de David Hume

Conhecimento vulgar Conhecimento científico

Confia nos sentidosÉ sensitivo (porque depende dos sentidos)Manifesta-se numa atitude dogmáticaÉ práticoÉ imetódico e assistemático(s/org. de ideias)

Desconfia dos sentidosÉ problematizador e racional Manifesta-se numa atitude críticaÉ explicativoÉ metódico e sistemático

Tipo de conhecimento superficial, que não é especializado em qualquer domínio, mas que apresenta respostas imediatas e funcionais com vista à resolução dos problemas do dia a dia.

Tipo de conhecimento aprofundado e especializado em diferentes domínios, desde o mundo físico e natural ao humano e social, que constrói explicações dos fenómenos tendo por base uma organização teórica e um método.

Page 20: O Empirismo de David Hume

Conhecimento científicoProcura ser objetivo Tem em atenção o facto, excluindo as apreciações subjetivas

Resulta de um método específico

Tal método apoia-se, no caso das ciências empíricas, na verificação e no controlo experimentais

Resulta da formulação de hipóteses

Elas procuram ordenar a diversidade empírica

É constituído por um conjunto de teorias

As teorias são hipóteses já estabelecidas e comprovadas

Procura leis As leis exprimem a invariância e a repetibilidade dos factos; muitas vezes, este conhecimento exprime os factos em termos estatísticos ou probabilísticos

É preditivo Prevê a ocorrência de novos fenómenos

É revisível Encontra-se sujeito a correções e a alterações

É provisório Mantém-se como aceitável até surgir outra teoria mais eficaz e mais próxima da verdade

Existem ciências:Formais: estudam conceitos, estruturas e processos puramente lógicos, abstratos e simbólicos

(lógica, matemática)Empíricas:

Naturais – estudam os factos e acontecimentos característicos da natureza ou experimentais (biologia, química,…)Sociais e humanas – estudam factos e acontecimentos característicos da vida social e humana (sociologia, história,…)

Page 21: O Empirismo de David Hume

O método científico tem um caráter metódico, o que permite demarcar a ciência de outros modos de conhecer o real.

O método em ciência corresponde ao conjunto de procedimentos, orientados por um conjunto de regras, que estabelecem a ordem das operações a realizar com vista a atingir um determinado resultado.

A conceção indutivista do método científico O indutivismo é a perspetiva epistemológica que salienta a importância da indução para a ciência

Fases do método experimental A visão indutivista do método científico considera que a atividade

científica obedece a uma lógica de procedimentos: parte-se da observação dos fenómenos, formulam-se hipóteses e realizam-se testes experimentais para, depois, propor novas teorias e leis científicas.

Validade e verificabilidade das hipóteses

Observação Formulação de hipóteses Experimentação Lei

Page 22: O Empirismo de David Hume

Operações fundamentais do método indutivo1. Observação dos fenómenos (página 195: 3)O cientista observa os factos/fenómenos várias vezes e regista-os de forma sistematizada para procurar explicá-los, encontrar as suas causas. Tudo é definido com rigor de modo a proporcionar a medição, a análise do maior número de casos possíveis. A observação é neutra, imparcial, objetiva porque o cientista não se deixa influenciar por quaisquer factos, ideias, teorias ou expetativas.

2. Descoberta da relação entre os fenómenos (Formulação de hipóteses)A hipótese é uma explicação provisória do fenómeno/facto, traduzindo a relação entre os fenómenos observados.

3. Generalização da relação (Experimentação)A hipótese terá de ser testada (experimentação). Confirmada* a hipótese e recorrendo ao raciocínio indutivo, verifica-se que a relação encontrada entre os fenómenos pode ocorrer em novos casos semelhantes ,sendo a hipótese generalizada e traduzida em leis ou novas teorias científicas.Na base deste processo está a indução o cientista parte de enunciados sobre casos particulares para um enunciado geral.

*Caso a hipótese não seja confirmada terá que procurar-se uma nova hipótese e voltar a repetir-se todo o processo

O raciocínio indutivo é a chave para a descoberta e justificação das teorias científicas.

Page 23: O Empirismo de David Hume

ExperimentaçãoÉ fundamental para que se possa verificar e confirmar se as relações estabelecidas são aplicáveis a fenómenos semelhantes

ENUNCIADOS DO INDUTIVISMO

Princípio da indução - Há uma forma de, a partir da acumulação de fatos singulares, inferir enunciados universais

Princípio da acumulação – O conhecimento científico é o resultado de factos bem estabelecidos, a que progressivamente se acrescentaram outros sem alteração daqueles

Princípio de confirmação – Articula a plausibilidade das leis como número de instâncias a que o fenómeno a que se refere a lei foi submetida

Page 24: O Empirismo de David Hume

O critério da verificabilidadeVerificar uma dada hipótese é

O passo necessário para assegurar os resultados das investigação mas Será isto suficiente para garantir que aquela hipótese se trata de facto de uma (boa) hipótese ou teoria científica?

Problema da demarcação – critério que permite demarcar o conhecimento científico de outros tipos de conhecimento

Filósofos neopositivistas consideravam

a verificação (empírica) o critério para distinguir o que é científico do que não é.

o critério de verificabilidade: uma teoria é científica se for possível verificar empiricamente (através da experiência) aquilo que ela propõe

Uma proposição é empiricamente verificável se for possível determinar, através da observação, o seu valor de verdade.

«Há cisnes negros» é científica porque pode ser verificada pela observação

«Há anjos negros» não se pode verificar empiricamente o que ela afirma

Page 25: O Empirismo de David Hume

Critério da verificabilidadeResposta da stora página 196: 1

O critério da verificabilidade é o critério que determina que para uma hipótese ou teoria ser considerada científica é necessário que possamos comprovar pela experiência/verificação empírica se é ou não verdade aquilo que ela propõe. Tal significa que é possível determinar, através da observação e da experimentação, o valor de verdade das afirmações em causa. Mas será que as teorias podem realmente ser verificadas? P.e., o enunciado «Há plantas carnívoras aquáticas» é verificável – é possível, em princípio, verificar se existem ou não plantas carnívoras aquáticas. Já o enunciado «Todos os cisnes são brancos» levanta um problema denominado problema da indução: só pode ser verificado parcialmente e não universalmente (pois é impossível saber a cor de todos os cisnes). Por isso, alguns filósofos afirmam que, segundo este critério, basta que, se todos e cada um dos cisnes observados até ao momento forem brancos, o enunciado «Todos os cisnes são brancos» confirma-se ou seja é empiricamente confirmável e isso é suficiente para que seja reconhecido como um enunciado científico. Daí concluir-se que a proposição «Todos os cisnes são brancos» é, com forte probabilidade verdadeira, para ser científica.

Page 26: O Empirismo de David Hume

Críticas ao indutivismo

A indução constitui, em termos lógicos, uma operação que obriga a um salto do conhecido (de proposições particulares) para o desconhecido (para preposições gerais). Visto que não é possível garantir a validade dos argumentos indutivos unicamente pela sua forma Como podemos justificar a indução? Este problema foi levantado por Hume – problema da indução

Segundo Hume, para conhecermos os fenómenos que encontramos na natureza recorremos à indução. Percebemos que existe uma regularidade no modo como os fenómenos ocorrem, como se obedecessem a um princípio de uniformidade.

Este princípio não constitui uma verdade necessária (a priori), pois não pode ser justificado pelo pensamento; não pode ser provado empiricamente ele decorre do hábito.

A generalização indutiva nada mais será que uma mera crença ou expetativa de que os factos se repitam daquele modo

1) A observação não é o ponto de partida do método científico e, ainda que o cientista recorra à observação, ela não é totalmente neutra e isenta.

2) O raciocínio indutivo não confere o rigor lógico necessário às teorias científicas

Ao contrário do que a perspetiva indutivista supõe, a observação dos fenómenos nunca é completamente neutra e imparcial. Ela ocorre num determinado contexto: a observação do cientista é afetada por pressupostos teóricos, por conceitos e pelas expetativas que ele desenvolve face à investigação.

Page 27: O Empirismo de David Hume

O problema da indução - respostaO problema da indução consiste na impossibilidade de justificar o procedimento indutivo que nos leva a concluir, da afirmação de proposições particulares, proposições gerais ou universais. Ora, sabendo que as ciências empíricas recorrem frequentemente aos procedimentos indutivos, torna-se um problema encontrar uma forma de justificar os seus resultados. O rigor e a verdade do conhecimentos cientifico parecem estar, desta forma, comprometidos. David Hume levantou este problema ao procurar fundar todo o conhecimento acerca da natureza num principio de uniformidade que não pode ser compreendido senão tendo por base a indução, no entanto este principio não constitui uma verdade necessária (a priori) pois não pode ser justificado pelo pensamento – não nada que nos impeça de racionalmente o negarmos. Por outro lado Hume descobriu que a afirmação daquele princípio decorre do hábito de que jamais seria possível justificar empiricamente um enunciado que pretende exprimir uma conexão necessária entre fenómenos. Segundo este filósofo não é possível provar empiricamente a relação necessária de causa efeito entre os fenómenos, por isso a generalização indutiva nada mais será que uma crença ou expetativa de que os factos se repitam daquele modo, logo se o princípio da uniformidade da natureza decorre do hábito, nenhum raciocínio que nele se baseia pode garantir rigorosamente a verdade da sua conclusão. Conclui-se daqui que também não será possível justificar com rigor aquilo que é proposto numa teoria ou lei científica que decorra da generalização indutiva. Hume refere-se então ao caráter ilusório do indutivismo e, apesar de admitir que o conhecimento científico se constrói por indução reconhece que ela não serve para justificar este tipo de conhecimento.

Page 28: O Empirismo de David Hume

Princípio da uniformidadeDecorre do hábito nenhum raciocínio que se baseie em tal princípio pode garantir

rigorosamente a verdade da sua conclusão

*Baseando-se em Hume, se aquilo que as inferências indutivas propõem não é empiricamente verificável, então não será possível justificar, com rigor, aquilo que é proposto numa teoria ou lei científica que decorra da generalização indutiva. O rigor e a verdade do conhecimento científico ficam, deste modo, comprometidas.

David Hume, aponta o caráter ilusório do indutivismo E, apesar de admitir que o conhecimento científico se constrói por indução, reconhece que ela não serve para justificar esse conhecimentos.

Como podemos então garantir a cientificidade do conhecimento?

Propõe outro método – método das conjeturas e refutações

Outro critério de cientificidade – o critério da falsificabilidade

Karl Popper

Não resolve o problema da indução mas afasta-o uma vez que mostra que ele não tem o peso que Hume lhe atribui

Page 29: O Empirismo de David Hume

Popper e o método conjeturalKarl Popper considera que a especificidade metodológica da ciência não pode

assentar na indução. Este rejeita o critério da verificabilidade e da confirmação das hipóteses e teorias científicas tal como é proposto pelo positivismo lógico.

Para Popper, a ciência faz-se por um processo de construção criativa de hipóteses – conjeturas – para responder a problemas. Contrariamente à conceção indutivista, a observação não é, para Popper, o ponto de partida do cientista, nem as teorias resultam de inferências indutivas. A ciência parte de problemas e as teorias começam por ser explicativas e criativas (conjeturas) que terão de ser submetidas a testes rigorosos, tendo em vista a sua refutação.

Problema Hipótese (conjetura) Testes (refutação)

Page 30: O Empirismo de David Hume

Etapas do método hipotético-dedutivoMétodo indutivo - Critério da verificabilidade ou da confirmaçãoPopper – método hipotético-dedutivo ou conjetural

1 – Formulação da hipótese ou conjetura a partir de um facto-problema

Um facto-problema é um problema que surge, em geral, de conflitos decorrentes das nossas expectativas ou das teorias já existentes. O cientista terá de formular uma hipótese sugestiva (ou conjetura) que possa candidatar-se a explicá-lo. A formulação de hipóteses corresponde a um momento criativo da atividade científica, associado à intuição e à imaginação. A hipótese não surge indutivamente da observação; ela resulta de um raciocínio abdutivo (raciocínio criativo)Uma hipótese é uma explicação provisória de um dado fenómeno que exige comprovação

2 – Dedução das consequências

Formulada a hipótese, são deduzidas as suas principais consequências. O cientista procura prever o que pode acontecer se a sua hipótese ou conjetura for verdadeira.

3 - Experimentação

A hipótese será testada confrontada com a experiência. Os resultados podem mostrar o “sucesso” ou o fracasso da conjetura proposta. Se for validada pela experiência, a hipótese é considerada como credível e passará a ser

reconhecida na comunidade científica – teoria corroborada (ainda não foi invalidada) Se não for validada, teremos de a abandonar ou de a reformular – teoria refutada

As condições exigidas para garantir a validade das hipóteses ou conjeturas: é preciso criticá-las, tentar refutá-las, isto é, procurar os seus pontos fracos, submetê-las a testes (rigorosos), proceder a tentativas de falsificação (procurar os erros ou pontos fracos)

Método indutivo - critério da verificabilidade ou da confirmação Popper – método hipotético-dedutivo ou conjetural

Page 31: O Empirismo de David Hume

Critério da falsificabilidadePopper rejeita o critério da verificabilidade. Para este, as teorias científicas não são

empiricamente verificáveis. Não é a verificação empírica de uma dada hipótese que permitirá garantir a sua

validade. Para que ela venha a ser considerada credível, é preciso procurar refutá-la, isto é, falsificá-la. Por isso, Popper propõe o critério da falsificabilidade. Este critério determina que uma hipótese é científica se, e só se, for falsificável, isto é, se for passível de ser submetida a testes ou confrontada com a experiência e refutável através de dados empíricos.

Uma teoria científica que resistiu à tentativa de refutação (teoria corroborada) pode sempre vir a ser derrubada. Daí resulta o caráter conjetural do método científico.

A confrontação da teoria com a experiência é importante, não para confirmá-la, mas para permitir testar a resistência que tem face às tentativas empreendidas para a enfraquecer, refutar, numa palavra, falsificar. Nesta medida, Popper entende o teste experimental como a procura de fenómenos que possam invalidar a hipótese. Uma teoria científica é válida enquanto for resistindo à tentativa de a falsificar empiricamente e é tanto mais forte quanto mais resistir.

«Todos os cisnes são brancos»

MÉTODO INDUTIVO

Procurar cisnes de outra cor (falsificar) Procurar cisnes brancos para confirmar/verificar