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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ LICENCIATURA EM GEOGRAFIA ELISÂNGELA MARTINS MACHADO O ENSINO/APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: o papel desempenhado pela família na construção desses conhecimentos IPORÁ 2011

o Ensino Aprendizagem de Geografia o Papel Desempenhado Para Familia Na Conscrução Desses Conhecimentos

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    ELISNGELA MARTINS MACHADO

    O ENSINO/APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: o papel

    desempenhado pela famlia na construo desses conhecimentos

    IPOR

    2011

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    ELISNGELA MARTINS MACHADO

    O ENSINO/APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: o papel

    desempenhado pela famlia na construo desses conhecimentos.

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    Universidade Estadual de Gois, Unidade

    Universitria de Ipor, como exigncia parcial

    para a concluso do curso de graduao em

    Geografia, modalidade Licenciatura.

    Orientador: Prof. Esp. Edivaldo Gonalves da

    Silva.

    IPOR

    2011

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    Dedico

    Dedico este trabalho a Deus, porque sem a

    presena dele eu no chegaria at aqui, minha

    famlia pelo apoio que nunca me faltou. Em

    especial ao meu orientador Edivaldo

    Gonalves da Silva pela colaborao com o

    presente trabalho de concluso de curso.

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    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus pela minha vida, por ter me abenoado durante

    essa longa caminhada, dando-me coragem para superar os momentos de angstia e de

    desnimo. Aos meus estimados pais Joo Joaquim Machado e Maria Lzara Machado que me

    deram vida e me ensinaram a viver com dignidade, humildade e de acreditar e me incentivar

    sempre. Vocs so responsveis por este momento to marcante em minha vida. Esta vitria

    tambm de vocs.

    minha irm Llia Martins Machado que sempre esteve ao meu lado dando-me

    apoio e incentivo para que eu pudesse vencer todos os obstculos e acreditar que somos

    capazes de realizar todos os nossos sonhos. A querida professora Ftima Maria de Jesus pelas

    palavras de carinho e otimismo nos momentos em que mais precisei, dando-me apoio para

    vencer todos os desafios. Aos meus colegas de sala que sempre estiveram comigo nos

    momentos mais difceis dessa longa jornada.

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    No existe algum que nunca teve um

    professor na vida, assim como no h

    ningum que nunca tenha tido um aluno.

    Quanto mais se aprende, mais se quer

    ensinar. Quanto mais se ensina, mais se

    quer aprender.

    Iami Tiba

  • 6

    RESUMO

    O estudo que aqui se apresenta tem como temtica as contribuies da famlia no processo de

    ensino aprendizagem de Geografia tendo em vista a necessidade de uma abordagem que

    facilite a aquisio dos conhecimentos necessrios para a construo e formao do indivduo.

    Destaca-se que o estudo partiu da necessidade de se compreender como so construdas as

    relaes entre a famlia e a escola e porque esta se constroi de modo to delicado e por vezes,

    incompreendido. O estudo tem como metodologia a reviso bibliogfica em associao com

    a pesquisa campo realizada nas escolas pblicas da cidade de Ipor. As contribuies desta

    parao ensino de Geografia se do a partir da observao de que o professor de Geografia

    como conhecedor do espao e de suas particularidades tem na unidade que corresponde

    famlia e escola uma importante ferramenta de ensino, desde que se considere o contexto

    que o aluno traz de seus grupos sociais. A pesquisa encontra-se dividida em trs captulos

    sendo que o primeiro tem como temtica central a relao da famlia com a escola e como a

    diviso dos papeis entre estas instituies pode ocasionar conflitos. O segundo captulo

    discorre sobre a ao do professor de Geografia como forma de fazer com que a famlia se

    torne uma aliada no processo de ensin/aprendizagem. O terceiro captulo traz os resultados da

    pesquisa aplicada em duas escolas da cidade de Ipor, com a finalidade de mostrar como a

    famlia participa do contexto de aprendizagem de seus filhos e como os professores veem esse

    processo. Como resultado prvio observa-se que entre famlia e escola deve se estabelecer o

    hbito do dilogo como forma de otimizar a aprendizagem.

    Palavras-chave: Geografia;ensino;famlia;conflitos;relao.

  • 7

    SUMARIO

    INTRODUO -------------------------------------------------------------------------------------- 08

    1. RELAO DA FAMLIA COM A ESCOLA------------------------------------------------10

    1. 1 A participao do professor na relao famlia-escola ------------------------------------ 20

    2.0 ENSINO DA GEOGRAFIA ESCOLAR EM UM NOVO CONCEITO: COMO A

    PARTICIPAO DA FAMLIAPODE SER PROCESSADA ------------------------------ 26

    2. 1 A participao da famlia na construo de saberes: como o professor de

    Geografia pode se tornar um aliado -------------------------------------------------------------- 27

    3. FAMLIA E PROFESSORES COMO ESSA RELAO TEM SIDO CONSTRUDA

    --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 34

    3. 1 O papel desempenhado pela famlia no processo de aprendizagem: uma anlise

    prtica ------------------------------------------------------------------------------------------------- 35

    3. 2 Famlia, escola e aprendizagem: a perspectiva do professor de Geografia ------------ 43

    CONSIDERAES FINAIS --------------------------------------------------------------------- 46

    REFERNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------- 48

    ANEXOS

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    INTRODUO

    O trabalho proposto tem como objeto de anlise o processo de

    ensino/aprendizagem da Geografia escolar, considerando a importncia da participao dos

    pais no processo de construo do conhecimento. Para que a pesquisa pudesse ser efetivada

    foi escolhido o estudo em campo como mtodo de coleta de dados, uma vez que a proposta

    considera os diversos discursos oriundos da famlia e da escola na construo das anlises

    propostas.

    Os objetivos da pesquisa so observar e analisar o rendimento dos educandos que

    cursam o Ensino Fundamental em uma escola pblica do municpio de Ipor e estabelecer

    comparativos sobre os ndices de aprendizagem entre os alunos que os pais so presentes no

    seu processo de escolarizao e tambm aqueles eu os seus pais ou responsveis pouco

    participam da vida escolar dos filhos.

    O primeiro captulo fundamentado na discusso acerca da relao entre a famlia

    e a escola. Essa abordagem feita, no sentido de se analisar como a relao que estabelecida

    entre a escola e a famlia pode ser frgil e delicada uma vez que se discutem os papeis que so

    estabelecidos para estas instituies e como estas os assumem. O que se pressupe uma

    recusa em estabelecer uma diviso de papeis entre a famlia e a escola, o que acaba por causar

    um afastamento entre essas instituies, pois, de um lado se coloca a famlia que em muitos

    casos se recusa a assumir o seu papel de ser a principal formao inicial do indivduo e de

    outro se coloca a escola, que teima em assumir para si uma funo que primordialmente cabe

    famlia.

    Discute-se ainda nesse captulo a participao do professor na relao famlia-

    escola e como o fato do parentesco ter sido estabelecido, mesmo indiretamente, com o aluno

    acaba por interferir na ao docente. Destaca-se nesse captulo o fato de que a escola est

    tomando para si a responsabilidade que da famlia, pois acredita que capaz de acumular as

    funes de ensinar e educar.

    O segundo captulo trata do modo como o professor de Geografia pode organizar

    sua metodologia de ensino de modo que a famlia passe a ser sua aliada no processo de ensino

    aprendizagem. Nesse contexto, discute-se como a Geografia escolar pode ser trabalhada tendo

    em vista o conhecimento de mundo que o aluno tem e as construes culturais proporcionadas

    pela convivncia familiar sem deixar de lado a necessidade de uma aprendizagem acadmica.

  • 9

    No terceiro captulo apresenta-se a pesquisa campo feita com pais e responsveis

    por alunos de duas escolas pblicas da cidade de Ipor matriculados na segunda fase do

    Ensino Fundamental. Observa-se nesse captulo que so poucas as pessoas que se dispuseram

    a participar do estudo, sendo que apenas trs professores de Geografia aceitaram responder s

    questes colocadas na pesquisa. A partir do estudo feito nesse captulo foi possvel perceber

    que no uma participao efetiva dos pais nos processos de ensino/aprendizagem de

    Geografia, mas que de um modo geral esto presentes na escola para acompanhar como os

    seus filhos tm aprendido.

    Espera-se que os resultados da pesquisa aqui apresentada possam servir tambm

    como embasamento terico para os profissionais ligados educao, como modo de fortalecer

    a relao entre escola e famlia de modo que o indivduo seja o mais favorecido.

  • 10

    1. RELAO DA FAMLIA COM A ESCOLA

    Quando se faz referncia ao ensino formal, a famlia ocupa um papel, no mnimo,

    polmico em relao s suas atribuies e particularidades. Desse modo, tem-se nesta uma das

    fontes de curiosidade e contestao, principalmente no que diz respeito ao seu papel mediante

    a escola e a aprendizagem de seus filhos.

    Essa diviso de papeis tem causado estranheza, por se tratarem de duas

    instituies nas quais o indivduo fundamenta toda uma srie de comportamentos e sensaes

    que sero a tnica de toda a sua vida social no futuro. Desse modo, de um lado h a famlia,

    cujo papel iniciar a criana nos valores morais que sero consolidados no processo de

    escolarizao e do outro h a escola, cuja premissa inicial seria a de oferecer meios para que o

    indivduo possa construir valores prprios e valores para a vida em sociedade.

    O contexto histrico da educao brasileira define que a escola seja uma

    instituio diferente da famlia, e como tal, no pode fazer nada alm de ensinar, como

    ressaltam Rocha & Macedo (2011).

    No Brasil, a escola, como instituio distinta da famlia, construiu-se aos poucos, s

    custas das presses cientficas e dos costumes caractersticos de uma vida mais

    urbana. Aproximadamente dois sculos, sinalizaram para a necessidade de uma

    organizao voltada formao fsica, moral e mental dos indivduos; misso essa

    impossvel para o mbito domstico. (ROCHA & MACEDO, 2011, p.11)

    De acordo com as autoras, esse modelo foi utilizado, principalmente no sculo

    XIX, onde se verificava a necessidade de se moldar as denominadas elites intelectuais

    nacionais. Ressalta-se que a escola no possua nada em comum com a famlia, sendo

    destinada apenas formao das crianas e dos jovens, objetivando um preparo que estes no

    encontravam em outros ambientes. Essa perspectiva perdurou at o final do sculo XIX,

    quando, no advento da Repblica, houve a necessidade de se estabelecer novos rumos para a

    sociedade brasileira.

    Os primrdios da Repblica, na onda dos movimentos sociais, polticos e culturais

    que marcaram a poca, impuseram a necessidade de modernizar a sociedade e

    colocar a Nao nos trilhos do crescimento, exigindo ento um outro modelo e uma

    maior abrangncia da ao educacional. (ROCHA & MACEDO, 2011, p.11)

    Diferentemente do que se considera na atualidade, a preocupao com a forma de

  • 11

    estabelecimento da relao da famlia com a escola no recente, e no possui suas bases

    apenas na modernidade, pois, j no inicio do sculo XX j se registrava a necessidade de

    trazer a famlia para um patamar mais prximo ao ato educacional, do que apenas o de

    favorecer a permanncia do indivduo por meio do financiamento dos estudos.

    O que preocupava e ainda preocupa o mbito educacional o fato de que a famlia

    tem deixado a cargo da escola um papel que apenas seu, que o de educar para a sociedade,

    ou seja insituir comportamentos nos filhos, que no so carater da escola ou do meio

    educacional. Segundo alguns autores pesquisados, dentre eles, Rocha & Macedo (2011) a

    problemtica maior est em se estabelecer uma parceria entre a escola e a famlia, no sentido

    de serem cooperativas e no apenas interdependentes.

    Compor uma parceria entre escola e famlia pressupe de ambas as partes, a

    compreenso de que a relao famlia-escola deve se manifestar de forma que os

    pais no responsabilizem somente escola a educao de seus filhos e, por outro

    lado, a escola no pode eximir-se de ser co-responsvel no processo formativo do

    aluno. (ROCHA & MACEDO, 2011, p. 15)

    Ressalta-se que a crise da famlia com a escola, ou vice-versa teve dois momentos

    distinto a se considerar. O primeiro, com a poltica de industrializao pela qual a sociedade

    perpassou, o que resultou no grande espao nas fbricas tomados pelos pais. Assim, os filhos

    quando no ficavam sozinhos em casa, iam para o trabalho com os pais. Devido grande

    parte das crianas que ficavam sem companhia o dia todo e grande carga de trabalho que os

    pais enfrentavam, coube escola o papel de educar, alm de ensinar. Destaca-se, nesse

    sentido, que a educao primria, no relacionada escolarizao cabe somente aos pais, pois

    considera-se o contexto familiar para a sua estruturao.

    A outra crise adveio com a modernidade, onde a televiso e os meios de

    comunicao e diverso acabaram por se tornarem os companheiros integrais da criana.

    Assim, a famlia acabou se abstendo totalmente da educao dos filhos, cabendo escola essa

    complementao.

    Na famlia, pai e me saem ao trabalho confiando que a escola e outros especialistas,

    alm da televiso e do computador dem conta da educao de seus filhos. Assim,

    tanto a famlia quanto escola, esperam que uma d conta do papel da outra. A

    criana sente-se abandonada e poucas vezes adquire o equilbrio necessrio para

    receber a formao adequada e necessria para tornar-se um indivduo consciente de

    sua cidadania. (ROCHA & MACEDO, 2011, p. 15)

  • 12

    O que acaba por dificultar a relao famlia e escola justamente a concepo que

    cada uma destas instituies possuem sobre educao e sobre a diviso de papis. Assim os

    sujeitos relacionados como parte de uma e de outra, acabam por contemporizar as atribuies

    de uma e de outra instituio.

    Percebe-se que o que discutido cientificamente compreende no fato de que os

    papeis, tanto da famlia quanto da escola, no esto bem definidos ou delimitados, o que faz

    com que, tanto uma quanto outra, acabe deixando ou assumindo atribuies que no lhe

    pertence.

    O que se discute em tese, so os lugares que a famlia e a escola ocupam na

    formao de sujeitos, sejam eles simblicos ou reais. Os registros histricos mostram que no

    h famlia perfeita, ou um modelo familiar a se seguir, o que existem so ncleos culturais

    responsveis por crenas e comportamentos que so deslocados para a vida social. Desse

    modo, acredita-se que a escola possa se constituir em um caminho que possibilite a ligao do

    sujeito com a sociedade.

    Se a relao famlia e escola delicada, no mais delicada a relao que a

    sociedade mantm com essas instituies. Da escola cobram-se sujeitos que podem exercer

    papis determinados pela convivncia social, ou retribuir o que a sociedade considera como

    investimento. Da famlia, esperam-se indivduos capazes de destacar pela educao, pelas

    maneiras e pelos valores que faro com que sejam incorporados e complementados pela

    educao escolar. O no reconhecimento da importncia desses papis resulta em um

    comportamento, no mnimo, repleto de duplicidade, onde se considera que o sujeito no

    apenas responsabilidade, ou da famlia ou da escola.

    Neste delicado lugar, tanto a famlia quanto sociedade lanam olhares e exigncias

    escola. No que se refere famlia, necessrio dizer que a historiografia brasileira

    nos leva a concluir que no existe um modelo de famlia e sim uma infinidade de

    modelos familiares, com traos em comum, mas tambm guardando singularidades.

    possvel dizer que cada famlia possui uma identidade prpria, trata-se na verdade,

    como afirmam vrios autores, de um agrupamento humano em constante evoluo,

    constitudo com o intuito bsico de prover a subsistncia de seus integrantes e

    proteg-los. (ROCHA & MACEDO, 2011, p.15)

    A famlia vista como um dos primeiros agentes socializadores da criana. Nela,

    so construdas as vises e os smbolos que a criana usar para construir a sua percepo de

    mundo e de sociedade. Ao oferecer condies para que a criana construa o seu contexto e

    compreenda que a escola outra realidade, mas faz parte tambm desse contexto construdo,

  • 13

    as noes de espao, pessoais e do Outro, as noes de respeito, pelo que seu e pelo que

    pertence ao Outro estaro bem internalizadas, e facilitar a ao da escola.

    A partir do nascimento, a criana inserida num contexto familiar que se torna

    responsvel pelos cuidados fsicos, pelo desenvolvimento psicolgico, emocional,

    moral e cultural desta criana na sociedade. Com isso, atravs do contato humano a

    criana supre suas necessidades e inicia a construo dos seus esquemas perceptuais,

    motores, cognitivos, lingsticos e afetivos. ( SOUSA & FILHO, 2011, p.2)

    Considera-se que na famlia que a criana comea a conhecer o Outro e a

    estabelecer ligaes que sero conhecidas pela sua extenso, ou seja, por serem duradouras.

    Em uma famlia bem constituda e nisso no importa como ela formada, mas a qualidade da

    formao, a criana possui um laboratrio de relaes e aprendizagens que muitas vezes no

    so olhadas com a devida importncia, mas que so fundamentais nos processos de formao

    do Eu. Alega-se que as maiores dificuldades da criana quando vai escola, est no

    reconhecimento do que seja o Eu e o Outro nas relaes sociais, ou aceitar o que seja dela e o

    que seja do Outro.

    O ambiente familiar o ponto primrio da relao direta com seus membros, onde a

    criana cresce, atua, desenvolve e expe seus sentimentos, experimenta as primeiras

    recompensas e punies, a primeira imagem de si mesma e seus primeiros modelos

    de comportamentos que vo se inscrevendo no interior dela e configurando seu

    mundo interior. Isto contribui para a formao de uma base de personalidade,

    alm de funcionar como fator determinante no desenvolvimento da conscincia,

    sujeita a influncias subseqentes. (SOUSA & FILHO, 2011, p. 4)

    Talvez seja notrio que o ambiente externo influencie a constituio do

    comportamento do indivduo, mas a famlia responsvel por fazer com que as relaes que a

    criana trave com o mundo exterior sejam fundamentadas em uma viso crtica e no apenas

    reprodutora do que moda, do que ditame ou do que sazonal em relao ao contexto

    social.

    A criana absorve com muita facilidade o que vivencia, e assim, a construo de

    sua personalidade comea no seio familiar, se no incio ela reconhece o mundo pelos olhos de

    outras pessoas, em uma fase posterior, as pessoas passam a ser suas referncias de mundo, e

    assim, conforme Mdici (1961) [...]Todo o seu progresso psicolgico foi realizado, at ento,

    atravs das relaes com outrem, principalmente os pais. De comeo, a criana fundiu-se com

    as pessoas que a rodeiam, identificou-se com elas, foi invadida pela sua presena [...]. (p.40)

  • 14

    A criana tece as suas consideraes sobre o mundo que as rodeia a partir de suas

    representaes e depois a partir de suas relaes. Assim, inegvel que a famlia assume um

    papel importante quando se coloca em posio de anlise a construo que a criana faz do

    mundo. Desse modo, quando cabe apenas escola assumir a responsabilidade sobre a

    formao pessoal e particular da criana, o trabalho pedaggico fica confuso e a relao da

    criana com o mundo tambm se torna confusa.

    A famlia responsvel pela insero da criana no mundo, de faz-la constituir-

    se como sujeito. Esse papel fica mais claro nas sociedades em que as crianas recm-nascidas

    eram apresentadas nos templos, pelos seus pais. Essa ao denotava o reconhecimento desta

    como sujeito e a partir da toda a comunidade se tornava responsvel pela sua formao

    social. Essa ao simblica fazia com que toda a sua famlia se tornasse responsvel pela sua

    criao, o que facilitava na sua formao enquanto sujeito.

    O fato de pertencer a um determinado ncleo familiar j propicia criana noes

    de poder, autoridade, hierarquia, alm de lhe permitir aprender habilidades diversas,

    tais como: falar, organizar seus pensamentos, distinguir o que pode e o que no pode

    fazer, seguindo as normas da sua famlia, adaptar-se s diferentes circunstncias,

    flexibilizar, negociar. (SOUSA & FILHO, 2011, p.5)

    Durante muito tempo, acreditou-se que a famlia capacitada para proporcionar

    para a criana a segurana necessria para as relaes sociais seria aquela tradicionalmente

    formada pelo pai, pela me e pelos irmos. Hoje, sabe-se que a forma como a famlia est

    configurada no justificativa para as eventuais dificuldades que a criana apresentar em suas

    relaes, o que a prejudica so as aes que so praticadas no seio familiar.

    Desse modo, se h afetividade, a criana dotada da energia considerada

    necessria para que possa aprender, uma vez que se acredita que a construo do cognitivo

    perpassa pelo afetivo. Assim, de acordo com os estudiosos pesquisados, a criana torna-se

    capaz de aprender com maior velocidade quando tem segurana de quem , e para que est no

    mundo. Prova-se com essa afirmao que a imagem que construda pela criana, a partir das

    experincias que possui no seio familiar podem ser responsveis pelas posturas que ir

    assumir adiante, quando precisar estabelecer as ligaes que terminaro no conhecimento.

    Independentemente de como a famlia constituda, esta uma instituio

    fundamental da sociedade, pois nela que se espera que ocorra o processo de

    socializao primria, onde ocorrer a formao de valores. Este sistema de valores

    s ser confrontado no processo de socializao secundrio, isto , atravs da

    escolarizao e profissionalizao, principalmente na adolescncia. (VALADO &

    SANTOS, 1997, p. 22).

  • 15

    Para muitos autores a problemtica que envolve a escola e a famlia natural, pois

    resultado de uma mudana nas relaes sociais. Essa estranheza advm principalmente do

    comportamento da famlia que agora j no trata a escola mais como um lugar onde mora o

    conhecimento e como tal deve ser tratado como honra e propriedade. Ao lado dessa nova

    configurao social est a mdia e o avano da tecnologia, que alm de modificar os processos

    de interao, passaram a intervir tambm na relao famlia e escola.

    Embora no seja apropriado conceber um modelo nico de famlia, de escola e/ou

    de mdia, possvel considerar que cada uma dessas instituies pauta-se por

    propsitos e princpios distintos. Ou seja, por possurem naturezas especficas so

    responsveis pela produo e difuso de patrimnios culturais diferenciados entre si.

    (SETTON, 2011, p.4)

    Mesmo que se reconhea que a famlia e a escola estejam merc dos avanos

    tecnolgicos no h justificativa para o embate que se trava em relao aos papeis que ambas

    desempenham. Acerca do modelo familiar no qual esto pautadas as responsabilidades pela

    formao da criana, Macedo (2001) destaca que,

    Temos uma representao social comum do que uma famlia e desta como

    condio sine qua non no apenas para a produo mas para a reproduo dos seres

    humanos o que implica a formao de uma idia acerca de um ambiente

    harmnico, repleto das condies ideais ao desenvolvimento de seres saudveis e

    equilibrados. (p.37)

    Analisando a perspectiva do autor acima possvel perceber que famlia no

    possibilitada a fuga da responsabilidade sobre a formao social de seus componentes, sendo

    assim, como explicar a insistncia que muitos pais possuem de transferir para a escola essa

    responsabilidade. Acerca desse assunto, Macedo (2001) ressalta que para os pais muito fcil

    transferir as responsabilidades, mas, para a escola torna-se difcil assumi-las.

    Acredita-se que o ponto principal do conflito entre famlia e escola esteja nas

    concepes que foram construdas ao longo do tempo sobre o que seria a famlia real e a

    ideal. Desse modo, no contexto histrico das relaes sociais, a famlia nuclear seria o ideal

    para a formao da criana, no entanto, essa reproduo ideolgica estaria longe da sociedade

    moderna, onde cada vez maior o nmero de famlias no-nucleares.

  • 16

    Acreditar que o modelo de famlia nuclear, concebido pela escola, o nico vivel

    interfere, decisivamente, nas relaes dos professores com seus alunos e com os

    familiares destes, uma vez que esta uma forma de ser e de estar segundo a

    ideologia dominante, e no corresponde, necessariamente, s realidades vivenciadas

    pelas diversas tipologias familiares. (CRUZ, 2011, p.13)

    Os porqus dessa relao estabelecida de forma to conflituosa no so

    encontrados em anlises voltadas para os pais. Quando perguntados, dificilmente sabero

    responder por que h tanto conflito na relao famlia e escola. Isso se d principalmente por

    que as famlias geralmente acreditam estarem cumprindo o seu papel, enquanto que a escola

    defende que esse papel no est sendo cumprido. Os autores pesquisados defendem que a

    prpria famlia encontra-se em conflito de identidades e sujeitos, pois no conseguem

    determinar quais aes so de sua responsabilidade e quais aes competem escola.

    Se perguntarmos aos pais, possivelmente obteremos uma extensa lista de

    insatisfaes quanto escola que cuida de seus filhos. Se fizermos a interrogao

    aos professores, provvel que estes apontem inmeros aspectos em que as famlias

    deixam a desejar. No momento, vemos intensificado esse confronto por causa dos

    inmeros fatos que compem o lamentvel quadro de violncia que atinge as

    instituies e a todos preocupa. (CUNHA, 2000, p.447)

    Ressalta-se que o conflito maior entre famlia e escola se baseia na diviso de

    papeis, pois, afinal, a quem cabe o papel de instruir e a quem cabe o papel de educar? Assim,

    buscam-se respostas para essas questes no que h de fundamental na composio da famlia

    e da escola.

    A famlia pode ser considerada como o lugar onde se fortalecem as propriedades

    necessrias ao sujeito para que ele se configure como tal. Assim, a escola deveria se o

    complemento para essas aes. Desse modo, o simblico para a criana teria o contraponto do

    real na escola. A famlia acredita que a sua confiana na escola seja o bastante para que esta

    cumpra o seu papel. Na realidade, muitas famlias confiam seus filhos escola na esperana

    de que nessa instituio problemas comportamentais possam resolvidos em consonncia com

    a instruo necessria.

    No entanto, no h porque colocar a famlia como a vil desses conflitos, pois se

    cr que, na realidade a famlia no queira se ausentar de suas responsabilidades, mas que

    queira um respaldo legal ou uma aprovao. Tendo a famlia como espelho da criana na

  • 17

    construo de si como sujeito e como indivduo, natural que algumas famlias desajustadas

    queiram que essa imagem no se reflita, delegando escola o papel de ser esse instrumento.

    No h como negar que a famlia se enche de expectativas sociais que se espera

    que sejam preenchidas pela escola, ou pelo saber que ela representa. Acredita-se que a

    problemtica envolvendo a relao famlia escola, seja mais uma questo de significados do

    que de aes. preciso distinguir as expectativas sociais em relao famlia, como tambm

    aquelas que ela prpria preencha em relao aos elementos mais indefesos da sociedade:

    criana e deficientes em todas as idades. (PRADO, 1991, p.35)

    Observa-se que h uma expectativa social muito grande em torno da escola, mas

    ela no menor na famlia. E dependendo das abordagens que se faz em dentro dos ncleos

    familiares, essas expectativas podem ultrapassar o que a famlia capaz de oferecer. H que

    se reconhecer que no fcil para algumas famlias assumirem e compreenderem seus papeis

    e suas atribuies em relao construo da identidade do indivduo, da criao de

    perspectivas de socializao, de transmitir hbitos, costumes e valores, e, acima de tudo, de

    aplicar conhecimentos que sero primordiais quando o sujeito iniciar a sua participao em

    sociedade.

    A famlia capaz de criar dentro de seu ncleo um ambiente favorvel ao respeito

    e afetividade, no entanto, esses fenmenos s se do a conhecer mediante a sua

    compreenso.

    As famlias ocupam papel importante na vida escolar dos filhos, e este no pode ser

    desconsiderado, pois consciente e intencionalmente ou no, influenciam no

    comportamento escolar dos filhos. Muitas, infelizmente influenciam negativamente,

    seja por questes econmicas, pessoais, de relacionamento, de amadurecimento dos

    pais ou separao. (OLIVEIRA, 2011)

    Acredita-se tambm que o conflito entre famlia e escola, se d por causa da

    secularizao de ambas enquanto instituies. A famlia, pode ser vista como uma instituio

    cclica e permanente. A escola, uma instituio cclica mas no permanente, embora na

    modernidade, o processo de escolarizao do individuo se constroi durante toda a sua vida.

    H, alm da falta de identidade, uma proposio de uma suplantar a outra e

    embora a escola defenda a separao dos papeis desta e da famlia, h na instituio uma

    necessidade de se suplantar o papel da famlia, ou seja, para a escola, tomar o lugar da famlia

    de seu aluno uma forma de perpetuao de seus paradigmas e de se tornar indispensvel.

  • 18

    Por outro lado, existem conflitos entre famlia e escola devido as diferenas de

    classes sociais, valores, crenas, hbitos de se interar e de se comunicar. Isto , a

    famlia, muitas vezes tem modelos de comportamento e de pensar diferente da

    escola do seu filho, sendo necessrio que os pais se preocupem em escolher a escola

    para seus filhos de modo que se assemelhe ao seu prprio modelo. (OLIVEIRA,

    2010,p.15)

    Essa necessidade de escolas que sigam seus modelos preconcebidos acaba por

    fomentar a desigualdade de concepes entre a famlia e a escola. Este comportamento pode

    ser at visto como natural, mas julgar a escola diante da perspectiva pessoal de cada um no

    a melhor forma de se construir uma relao pautada na compreenso de papeis e atribuies

    verdadeiras.

    Fala-se muito sobre a culpa de uma famlia desestruturada na atribuio de papeis

    e na aplicao de responsabilidades. No entanto, o que se observa mais uma confuso do

    que seja o conceito de estruturao familiar do que as atribuies familiares. Nesse sentido

    tem-se o discurso de Szymanski (2001) que afirma que famlia desestruturada no quer

    dizer mais do que uma famlia que se estrutura de forma diferente do modo da famlia nuclear

    burgus (p.68). Sabendo que a escola tem a sua base construda no iderio burgus,

    compreende-se porque para essa instituio seja mais fcil definir seu objeto e sua

    objetividade de ao.

    A escola defende, por diversas vezes e em diversos momentos que a falta de ao

    da famlia resulta em fracasso para o individuo quando este se encontra na escola. A realidade

    aponta para o fato de que, as condies sociais de muitas famlias as obrigam a um estilo de

    vida em que no h tempo para o acompanhamento sistemtico da sua permanncia na escola,

    isso, no entanto, no tem sido utilizado como emergncia de culpa no sentido de se tratar do

    reconhecimento do peso dessa responsabilidade.

    Sabe-se que muitas famlias trabalhadoras no tm condies de acompanhar o

    processo de aprendizagem dos filhos. A est o papel da escola em abrir as portas

    oportunizando possibilidades das famlias estar presente no processo educativo. A

    famlia, como instituio, tem o papel de reproduo social, no contexto econmico,

    cultural, social em que se insere, transmitindo herana cultural de gerao a gerao.

    (OLIVEIRA, 2010, p.16)

    Os autores pesquisados ressaltam, novamente, que o que torna a relao famlia

    escola mais conflitante o momento histrico e no apenas comportamental, mas acima de

    tudo, social. Assim, tem-se a perspectiva de que, o que se denomina de contexto atual,

  • 19

    Tem alterado a configurao da vida familiar e tem abalado os padres estabelecidos

    de Indivduo, Famlia e Sociedade. [...] Seres humanos e relaes humanas foram

    lanados em um estado de turbulncia, enquanto a mquina cresce muito, frente da

    sabedoria do homem sobre si mesmo. A reduo do espao e a intimidade forada

    entre as pessoas vivendo em culturas em conflito exigem um novo entendimento,

    uma nova viso das relaes do homem com o homem e do homem com a

    sociedade. (ACKERMAN, 1986, p. 17)

    Conceituar, ento, o que seria indivduo, famlia e sociedade, poderia se tornar o

    primeiro passo a ser dado para a compreenso do que seja papel da escola e papel da

    sociedade, do ncleo social do sujeito e do que seria sujeito, sem desmembr-lo do aspecto

    cognitivo e afetivo que faz parte de sua construo em relao ao mundo.

    Em relao s mudanas culturais pelas quais a sociedade perpassa e que acabam

    influenciando na relao da famlia com a escola, tem-se a perspectiva de Esteve (2004) que

    chama a ateno para o fato de que as mudanas culturais acontecem sem que sejam

    percebidas, dentro da cultura do sujeito, sem que seja preciso que ele se desloque de sua zona

    de conforto,

    No interior de nossa prpria cultura, sem sair de nossa prpria cidade nem de nosso

    prprio bairro, um belo dia observamos nosso ambiente e nos damos conta de que

    tudo mudou tanto que mal somos capazes de saber como as coisas funcionam.

    Sentimo-nos, ento, desorientados, to desorientados como se tivssemos viajado

    para uma sociedade estranha e distante, mas sem esperana de voltar a recuperar

    aquele ambiente conhecido no quais sabiam nos arranjar sem problemas (ESTEVE,

    2004, p. 24).

    Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) apontam para o

    fato de que a famlia tem mudado as suas concepes principalmente por causa das prprias

    mudanas culturais da sociedade. Assim, no causa estranhamento que os papeis sejam

    invertidos e que a relao famlia escola se transforme.

    As famlias brasileiras vm mudando em uma srie de aspectos devido,

    principalmente, s transformaes culturais ocorridas nas ltimas dcadas no mundo

    industrializado, o que resultou em novos tipos de arranjos, fato este que merece

    estudos especficos. Entretanto, pode-se mencionar que as tendncias mais

    proeminentes observadas, a partir de dados de pesquisas domiciliares, so, sem

    dvida, a reduo do tamanho da famlia devido ao processo de reduo da

    fecundidade e ao crescimento do nmero de famlias chefiadas por mulheres. Esta

    ltima decorrente do ingresso macio de mulheres no mercado de trabalho e do

    aumento da esperana de vida ao nascer das mulheres. (BRASIL, 2011, p.01.)

  • 20

    Diante de tais perspectivas, acredita-se que a famlia e a escola acabam por manter

    uma relao conflituosa porque no se abriram espaos para a discusso acerca dessas novas

    premissas de construo de relaes familiares, implicando poder e dever, responsabilidade e

    autoridade. Assim, para que anlise dos papeis necessrio que se considere as

    possibilidades, bem mais do que a problemtica que cerca e que, de certa forma mitifica essa

    relao.

    No h como negar a necessidade que a famlia possui da escola, mas essa

    necessidade no unilateral, pois o ambiente escolar no se constri sem sujeitos, e estes so

    oriundos dos ncleos sociais representados pela famlia. Os autores pesquisados reconhecem

    que a famlia mudou, e que a escola tambm deve mudar, pois o tempo que se tinha para o

    acompanhamento dos alunos em casa, j no est mais disponvel. E o que mais se observa

    em relao permanncia da criana na escola que estas acabam desenvolvendo a sua

    escolaridade sem o apoio familiar que se espera tradicionalmente.

    Essa eroso do apoio familiar no se expressa s na falta de tempo para ajudar as

    crianas nos trabalhos escolares ou para acompanhar sua trajetria escolar. Num

    sentido mais geral e mais profundo, produziu-se uma nova dissoluo entre famlia e

    escola, pela qual as crianas chegam escola com um ncleo bsico de

    desenvolvimento da personalidade caracterizado seja pela debilidade dos quadros de

    referncia, seja por quadros de referncia que diferem dos que a escola supe e para

    os quais se preparou (TEDESCO, 2002, p.36)

    Assim, necessrio que se construa tambm um referencial terico que se mostre

    capaz de explicar como a relao da famlia com a escola possa ser construda em bases

    dialgicas e no apenas por meio de cobranas.

    1.1 A participao do professor na relao famlia-escola

    Se h um embate travado entre famlia e escola, no centro deste coloca-se o

    professor que muitas vezes responsabilizado pelo fracasso escolar que poderia ser

    solucionado mediante a compreenso dos papeis que deveriam ser delegados famlia.

    Ressalta-se que o fato de se ter estabelecido para o professor um parentesco com o

    aluno, simbolizado pela alcunha de tia, transferiu-se para ele a responsabilidade de educar e

    no apenas de instruir, pois se criou um lao maior do que o acadmico. A professora, ao ser

  • 21

    chamada de tia, passa a se considerar com parte da famlia de seu aluno e como tal deve zelar

    para que este corresponda ao que , primeiramente, construdo e esperado da famlia.

    No entanto, acredita-se que a escola esteja tomando para si atribuies que no

    so apenas dela. H uma fogueira de vaidades acesa que no permite que se veja alm do que

    se considera como essencial para a aprendizagem, para o desenvolvimento social do

    indivduo.

    Ao lado da famlia, a escola permanece sendo um espao de formao que deve,

    para tanto, repensar a sua ao formadora, preocupando-se em formar seus

    educadores para que os mesmos renam recursos que os permitam lidar com os

    conflitos inerentes ao cotidiano escolar. , portanto, na escola, refletindo sobre o

    que h para ser ensinado s crianas sobre a metodologia que pode tornar mais coesa

    a ao do conjunto docente, que a escola poder encontrar sadas legtimas

    superao dos problemas morais e ticos que assolam o seu dia-a-dia. (ROCHA &

    MACEDO, 2011, p. 16)

    Com relao aos papis definidos para a escola, possvel observar que, se a

    famlia, por vezes considerada como desinteressada de seu papel, h que se convir que

    existem professores que fazem questo de trabalhar para a reproduo de algumas ideologias

    predominantes, no apenas porque acreditam estarem executando seus papeis da melhor

    forma possvel, mas porque possuem a tendncia de se protegerem ou de ficarem ao lado do

    sistema educacional quando o que est em discusso a relao da famlia com a escola.

    Observa-se que o professor reticente e resiliente quanto ao de instruir e

    educar. Muitos no conseguem separar uma funo da outra, e acabam por se enganarem,

    assumindo um papel que no lhes convm. Se existem professores que so apenas

    reprodutores de ideologias, existem outros que possuem uma posio e uma ao mais crtica

    em relao a esses paradigmas, mas no h como negar, que no papel do professor mediante a

    soluo de conflitos entre famlia e escola, este sempre toma uma atitude poltica, tendo em

    mente que, se no h famlia no h aluno, mas que se no h escola, no existe ao docente.

    A prtica mostra que para alguns professores mais fcil culpar a famlia pelas

    aes que no conseguem alcanar a sua dimenso cognitiva, representadas principalmente no

    fracasso escolar. Desse modo, difcil para muitos professores manter uma ao dialtica

    voltada para a aprendizagem,

    As imagens de famlia segura, de famlia protetora, entre outras, esto sendo

    formadas desde as relaes iniciais que as crianas desfrutam dentro do contexto

    familiar, e so estes sentimentos que vo confortar os alunos nos perodos em que a

    famlia no estiver presente. Mas cabe tambm escola esforar-se para

    proporcionar um ambiente estvel e seguro, em que as crianas se sintam bem.

    (SOUSA & FILHO, 2011, p.6)

  • 22

    Se a escola resiste em compreender que a famlia foi modificada e se modificou

    ao longo dos tempos, torna-se difcil tambm para o professor analisar essa perspectiva e

    partir dela para a execuo de seu trabalho. H uma configurao social que se d no seio

    familiar que no pode ser reproduzida na escola, e na tentativa de se copiar essa relao, o

    professor acaba se perdendo dentro de sua prtica, pois se coloca entre a famlia e a escola e

    no ao lado dessas instituies.

    O professor, por vezes, possui uma extrema dificuldade em reconhecer que a

    escola no a nica responsvel pela socializao da criana. Que a criana no um

    invlucro vazio a ser preenchido com os conhecimentos de que a escola dispe.

    A complexidade do processo de socializao evidente e torna-se bastante

    expressiva dentro do processo ensino-aprendizagem atravs de aspectos do tipo:

    imitao, identificao e mais um conjunto de caractersticas determinadas pelo

    contexto familiar, que iro interagir no desenvolvimento da criana dentro da

    instituio escolar. (ROCHA & MACEDO, 2011, p.19)

    Assim, se a criana chega escola com diversas noes fundadas e construdas,

    no h porque o professor considerar que esta seja algum sem contexto. Entre a escola e a

    famlia, h uma distncia, mas h tambm uma proximidade que o que estabelece as trocas,

    a construo simblica dessas relaes. De acordo com Nrici (1972)

    A educao deve orientar a formao do homem para ele poder ser o que , da

    melhor forma possvel, sem mistificaes, sem deformaes, em sentido de

    aceitao social. Assim, a ao educativa deve incidir sobre a realidade pessoal do

    educando, tendo em vista explicitar suas possibilidades, em funo das autnticas

    necessidades das pessoas e da sociedade. A influncia da Famlia, no entanto,

    bsica e fundamental no processo educativo do imaturo e nenhuma outra instituio

    est em condies de substitu-la. A educao para ser autntica, tem de descer

    individualizao, apreenso da essncia humana de cada educando, em busca de

    suas fraquezas e temores, de suas fortalezas e aspiraes. (p.12).

    No h como o professor se colocar no lugar da famlia, professora no me, no

    tia. Mas isso no significa que a relao do professor e do aluno deva ser distante o sem a

    afetividade. Colocando-se como uma pessoa que no pertence sua famlia, mas que deve ser

    tratada com igual respeito, o professor se transforma em catalisador das emoes do aluno,

    direcionador e mediador da sua aprendizagem e acaba favorecendo bem mais a compreenso

    do indivduo como sujeito.

  • 23

    Sabe-se que a criana possui um ncleo cultural e familiar arraigado e construdo

    com razes to profundas que quem est de fora de seu ncleo social acaba no

    compreendendo as razes de certos comportamentos e de algumas atitudes. Muitos autores

    ressaltam que a famlia uma instituio insubstituvel, e o professor deve ter essa

    conscincia, principalmente quando no concorda com algumas atitudes tomadas por pais de

    seus alunos. No entanto, deve-se ressaltar que o professor no deve se manter quieto no seu

    canto, quando percebe que a famlia est prejudicando a criana, pois, alm de seu papel

    como educador, este deve assumir a sua humanidade em corrigir injustias e evitar a

    violncia.

    Alguns autores identificam que a dificuldade na relao da famlia e da escola

    esteja no comportamento oriundo das relaes de classes. Isso se explica no fato de que, para

    os que pertencem s classes economicamente melhor resolvidas, a escola uma empresa,

    porque lhes retira o dinheiro, e, consequentemente o professor um empregado, um prestador

    de servios, do qual deve ser mantida a distncia considerada ideal nas relaes de patro e

    empregador.

    Nessa perspectiva, dificilmente o professor interfere nas relaes familiares, pois

    deste mantida a devida distncia. No entanto, nas classes de nvel econmico mais baixo, a

    escola vista como uma extenso da casa dos alunos e o professor, um parente, um vizinho,

    um amigo, ou seja, uma pessoa apta a interferir no padro familiar sempre que se fizer

    necessrio.

    Tradicionalmente a escola olhou para a famlia com certa desconfiana e, quando

    no teve alternativa, apenas suportou a participao dos pais na condio de

    ouvintes comportados dos relatos por eles produzidos, acerca da trajetria

    disciplinar e pedaggica dos alunos. Raramente essa participao superou os limites

    de ao beneficente, envolvendo-se com a parte organizacional do projeto curricular

    da escola. Para a escola, a famlia foi e , o locus de construo de moralidade, base

    indispensvel para a garantia do projeto moralizador e civilizacional representado

    pela escola. (ROCHA & MACEDO, 2010, p.21)

    Ressalta-se que nesse comportamento da escola, o professor tambm teve a sua

    ao questionada, principalmente na fundamentao do discurso de que, se o aluno vai bem,

    mrito do professor, se o aluno vai mal, a culpa da famlia.

    O estabelecimento desse discurso pe em xeque o comportamento do professor,

    que desse modo, no se coloca em acordo com o que se espera do educador. necessrio que

    o professor reconhea a sua limitao e as limitaes das famlias, mas que no se coloque

  • 24

    como um aliado desta ou da escola, como em uma guerra por espao, e sim que seja o

    intermedirio do dilogo que deve ser estabelecido como meta para a soluo de conflitos.

    Os estudos realizados, em vrios pases, nas ltimas trs dcadas, mostraram que,

    quando os pais se envolvem na educao dos filhos, eles obtm melhor

    aproveitamento escolar. De todas as variveis estudadas, o envolvimento dos pais no

    processo educativo foi a que obteve maior impacto, estando esse impacto presente

    em todos grupos sociais e culturais.(ROCHA & MACEDO, 2011, p.22)

    Se h a perspectiva de que a participao dos pais na educao dos filhos

    importante que o professor possa trabalhar essa relao dentro e fora do mbito escolar. Isso

    significa que o professor deve se aproveitar dos momentos em que os pais estiverem presentes

    na escola, para assegurar que o papel da escola esteja sendo cumprido, mas que a presena

    dos pais na escola pode ajudar nesse aspecto. Quando falamos em colaborao da escola com

    os pais, estamos a falar de muitas coisas. Desde logo, a comunicao entre o professor e os

    pais dos alunos aparece cabea, constituindo a forma mais vulgar e mais antiga de

    colaborao. (ROCHA & MACEDO, 2011, p.22)

    Muitos profissionais acreditam que a sua funo seja a de anunciar os problemas

    ou denunciar as falhas. Esse comportamento acaba fazendo com que muitos pais se afastem

    da escola, pois receiam no apenas a forma com que seus filhos sero olhados, mas o que toda

    a sociedade ir pensar do meio com que seus filhos esto sendo educados.

    Esse comportamento do professor acaba gerando o receio dos pais, principalmente

    daqueles cujos filhos apresentem graus de indisciplina ou comportamento diferente do

    esperado. Esse receio fundamenta-se no fato de quase sempre serem chamados para a escola

    por que seus filhos aprontaram e nunca so convidados para avaliarem o trabalho do

    professor, para participarem de tomadas de decises importantes.

    Ressalta-se que o professor deve instituir na famlia a funo de colaboradores do

    processo escolar. Como colaboradores, sua funo inicial mantida, ou seja, no passado

    para a escola os primeiros passos que devem ser dados pela famlia, mas ela se apia na ao

    pedaggica para tornar mais seguro o caminhar de seus filhos em busca do conhecimento, seja

    ele social ou acadmico.

    A relao professor-aluno supe participao ativa de ambas as partes, envolvendo

    acordos e desacordos, para isto, importante o professor respeitar e reconhecer que

    o sistema regente da conduta infantil nem sempre coincide com a conduta do adulto

    e nem sempre se baseia nos mesmos valores. Afinal, desde muito pequenos, os

  • 25

    alunos j seguem, exploram e inventam regras, assim, constroem sua prpria noo

    de certo e errado. (SOUSA & FILHO, 2011, p.6)

    diante dessa construo prpria de valores, que por sua vez no so

    independentes, que o professor deve se inserir na relao da famlia com a escola, tomando

    medidas que favoream o dialogo sempre, em qualquer circunstncia, mas de forma pacfica e

    sincera. Diante dessa perspectiva, o prximo captulo discute como se constitui o ensino da

    Geografia escolar tendo em vista a formao do indivduo enquanto cidado e considerando

    tambm o papel da famlia nesse ensino e nesse sentido.

  • 26

    2. O ENSINO DA GEOGRAFIA ESCOLAR EM UM NOVO CONCEITO:

    COMO A PARTICIPAO DA FAMLIA PODE SER PROCESSADA

    Na construo da relao entre a famlia e a escola, o professor de Geografia

    pode desempenhar um importante papel, uma vez que essa disciplina concede a esse

    profissional um espao de conhecimentos que podem utilizar todo o contexto do aluno como

    ponto de partida para a aprendizagem e dessa forma, buscar o envolvimento dos pais e

    responsveis no processo de descoberta e explorao do mundo que se descortina sua frente.

    Considera-se que o ensino de Geografia escolar voltado para o mbito da

    construo da cidadania seja um desafio e fazer com que a famlia venha para a escola e traga

    consigo todas as experincias que so fundamentais para que o processo de

    ensino/aprendizagem possa ocorrer. Nesse sentido, concorda-se com Landin Neto (2010)

    quando este afirma que faz parte do contexto de ensino de Geografia poder proporcionar ao

    indivduo o reconhecimento crtico de seu entorno. De acordo com o autor,

    O ensino de Geografia deve permitir aos educandos uma anlise crtica da realidade,

    pois estes devem se colocar de forma propositiva diante dos problemas enfrentados

    na famlia, na comunidade, no trabalho, na escola e nas instituies das quais

    participam. Dessa forma, tem se uma tomada de conscincia sobre as

    responsabilidades, os direitos e deveres sociais, com o intuito de efetivamente tornar

    o aluno agente de mudanas desejveis para a sociedade. (LANDIN NETO,

    2010, p.32)

    Tendo em vista essa perspectiva de mudanas, o professor de Geografia assume,

    ento, uma responsabilidade muito grande, traduzida na necessidade de fazer com que o aluno

    intervenha ativamente na sociedade. Considerando-se esse aspecto crtico, cabe a questo

    primordial como proposta para a pesquisa, que se traduz em uma pergunta essencial: diante da

    necessidade de se formar e educar para a cidadania, qual o lugar que o professor Geografia

    poderia ocupar tendo em vista a necessidade de aproximao da famlia com a escola, sem

    que os seus papeis sejam trocados?

    Diante dessa questo, busca-se compreender como se constri o ensino de

    Geografia voltado para a cidadania e de tal forma, como o professor da disciplina age

    mediante a necessidade de um trabalho que considere o que o aluno traz de casa, como as suas

    representaes de contextos so construdas e levadas para a sala de aula.

    2.1 A participao da famlia na construo dos saberes: como o professor de Geografia

    pode torn-la uma aliada

  • 27

    A escola tem sido considerada como um espao de construo de saberes e de

    crenas e nesse espao, o professor assume uma posio privilegiada, pois participa do

    contexto acadmico e conhece o contexto social do aluno. De acordo com Silva e Santos

    (2002), o professor deve reconhecer que no algum que d aulas de uma determinada

    disciplina e que deve isolar o que conhece do aluno do ambiente da sala de aula. Ao se

    perceber como parte da vida do indivduo em processo de aprendizagem, o professor se

    aproxima, no do contexto particular deste, mas da forma como este v o mundo e interage

    com ele.

    A aproximao da famlia com a escola e mais especificamente, com a disciplina

    de Geografia, no deve ser baseada apenas em um desejo de resolver os conflitos existentes,

    mas fazer com que a relao do professor com o seu aluno tambm possa ser melhorada.

    Observa-se que h um entrave nessa relao que so traduzidos nas expectativas que um

    coloca sobre o outro. Silva e Santos (2002) discutem essa perspectiva afirmando que,

    As expectativas do professor sobre o desempenho dos alunos podem funcionar

    como uma suposio de auto-realizao. Isto : o aluno de quem o professor

    espera menos o que realiza menos, ao passo que aqueles de quem se espera um

    bom desempenho acabam, na realidade, por apresent-lo (SANTOS e SILVA, 2002,

    p.19)

    No contexto do ensino de Geografia, alm das expectativas do professor, h um

    fator que faz com que essa no tenha muito significado para o aluno, representado pelo

    contexto do ensino fragmentado. Esse aspecto discutido porque representa um longo

    distanciamento da realidade do aluno que, por sua vez, passa pelo processo de aprendizagem

    de uma forma extremamente mecanizada e por conta disso sem oferecer alternativas de

    crescimento social e pessoal.

    Considerando que a famlia geralmente espera que o processo de

    ensino/aprendizagem faa com o sujeito ter sucesso em sua trajetria, as dificuldades de

    relacionamento entre o professor e o aluno so vistas como entraves para a aprendizagem, no

    entanto, no procuram ser mediadores na soluo desses problemas e acabam por se distanciar

    do processo.

    Quando se fala da Geografia e de seu ensino, a maior dificuldade est em fazer

    com a disciplina saia do campo abstrato e adentre um contexto mais concreto, principalmente

    para o aluno. Callai (2001) faz a anlise da relao entre o essencial para o aluno e o que

    ensinado na disciplina de Geografia. De acordo com o autor, os conceitos trabalhados na

    disciplina:

  • 28

    So aspectos naturais e humanos do espao geogrfico, traduzidos em aulas sobre

    relevo, vegetao, clima, populao, xodo rural e migraes, estrutura urbana e

    vida nas cidades, industrializao e agricultura, estudados como conceitos abstratos,

    neutros, sem ligao com a realidade concreta da vida dos alunos. (CALLAI, 2001,

    p.136)

    H talvez no professor de Geografia uma dificuldade de compreender que

    necessrio o trabalho que aborde o relevo, a vegetao, o clima, a populao e todos os

    aspectos que se constituem como campo de conhecimento da disciplina. No entanto, preciso

    que este tenha em mente que esses aspectos tambm so vivenciados pelos alunos, que estes

    tambm so sujeitos das estruturas sociais e que por isso, devem participar do ensino de forma

    ativa.

    Tendo em vista a necessidade de uma participao efetiva da famlia na

    construo dos saberes acadmicos e no apenas desses, mas tambm dos sociais, o professor

    de Geografia pode ter na famlia de seus alunos os exemplos a serem tratados como contedos

    de ensino. Por exemplo, as salas de aulas quase sempre possuem alunos oriundos da zona

    rural, o professor de Geografia pode convidar um membro de sua famlia para uma conversa

    informal em sala de aula, para que este possa relatar como a vida no local em que mora,

    como uma fazenda se estrutura.

    O professor de Geografia deve se um dos primeiros a reconhecer que o espao no

    qual o aluno convive to importante quanto os espaos apresentados nos livros didticos de

    ensino da disciplina. No entanto, as maiores dificuldades enfrentadas por esse profissional diz

    respeito aos mtodos e modos de ensino da Geografia escolar.

    De acordo com Callai (2001), so diversas as situaes pelas quais o professor

    passa, de um modo real e concreto observa-se que h um conjunto de situaes difceis de

    serem enfrentadas e que, dependendo do contexto, so cotidianas. Dentre essas situaes,

    citam-se os salrios insuficientes, a desqualificao profissional, a falta de reconhecimento do

    pelo trabalho executado e o mais contundente, a falta que a famlia faz no processo de

    ensino/aprendizagem.

    Em se tratando da participao da famlia no ensino falta escola o

    reconhecimento de que esta a primeira a exercer a atividade de mediao entre o indivduo e

    a cultura na qual este se insere ou se inserir. No tocante ao ensino de Geografia o professor

    deve compreender que a famlia faz parte de um processo dinmico de reconhecimento do

    mundo e como tal, deve ser uma pea a mais na construo do conhecimento. Nesse sentido,

    de acordo com Dessen (2007), a famlia

  • 29

    [...] a matriz da aprendizagem humana, com significados e prticas culturais

    prprias que geram modelos de relao interpessoal e de construo individual e

    coletiva. Os acontecimentos e as experincias familiares propiciam a formao de

    repertrios comportamentais, de aes e resolues de problemas com significados

    universais (cuidados com a infncia) e particulares (percepo da escola para uma

    determinada famlia) (DESSEN, 2007, p.22)

    No contexto do ensino de Geografia, os processos de construo de conceitos,

    principalmente os espaciais podem partir das vivncias nas quais os indivduos se fazem

    sujeitos, presentes nas formas de construir uma unidade dinmica que sejam o ponto de

    partida para a aprendizagem. Ainda citando Dessen (2007), entende-se que a famlia seja

    importante para o processo de aprendizagem de Geografia porque,

    por meio das interaes familiares que se concretizam as transformaes nas

    sociedades que, por sua vez, influenciaro as relaes familiares futuras,

    caracterizando- se por um processo de influncias bidirecionais, entre os membros

    familiares e os diferentes ambientes que compem os sistemas sociais. (DESSEN,

    2007, p.28)

    Um dos aspectos do ensino de Geografia corresponde ao reconhecimento do

    ambiente e da formao do espao no qual o indivduo esteja inserido. Nesse sentido, a forma

    como o indivduo v a sua realidade e como organiza o seu conhecimento de mundo torna-se

    essencial aprendizagem. De acordo com Callai (2005) a leitura que o indivduo faz do

    mundo processada a partir do reconhecimento e anlise do espao.

    Uma forma de fazer a leitura do mundo por meio da leitura do espao, o qual traz

    em si todas as marcas da vida dos homens. Desse modo, ver o mundo vai muito

    alm da leitura cartogrfica, cujas representaes refletem as realidades territoriais,

    por vezes distorcidas por conta das projees cartogrficas adotadas. Fazer a leitura

    do mundo no fazer uma leitura apenas do mapa, ou pelo mapa, embora ele seja

    muito importante. fazer a leitura do mundo da vida, construdo cotidianamente e

    que expressa tanto as nossas utopias, como os limites que nos so postos, sejam eles

    do mbito da natureza, sejam do mbito da sociedade (culturais, polticos,

    econmicos). (CALLAI, 2005, p.228)

    Um dos papeis do professor de Geografia fazer com que aos mbitos da natureza

    possam dialogar com os mbitos da sociedade. A natureza estaria representada pelo aspecto

    fsico da disciplina enquanto que a sociedade poderia ser representada pela famlia. Os

    impactos ambientais e econmicos tambm so sentidos pelos grupos sociais nos quais a

  • 30

    famlia se encontra inserida. A partir do momento que mbito familiar passa a fazer parte do

    contexto de ensino da Geografia, concomitantemente, a aprendizagem favorecida.

    importante que se ressalte que, quando se faz a proposio de ter a famlia

    inserida no processo de ensino/aprendizagem, isso no significa que o professor ou que a

    escola passe a ter liberdade para se imiscuir em assuntos particulares, mas que veja a

    instituio representada pela famlia como um terreno frtil em aprendizagens.

    Acredita-se que o papel da Geografia enquanto disciplina ou at mesmo como

    campo cientfico seja o de ajudar o sujeito a se encontrar dentro de um processo de formao

    poltica. Nesse sentido, Callai (2005) afirma que essa formao s possvel quando h o

    distanciamento do ensino da disciplina da abordagem tradicional.

    certo que, da forma como a geografia tem sido tratada na escola tradicionalmente,

    ela no tem muito a contribuir. Aquela geografia chamada tradicional, caracterizada

    pela enumerao de dados geogrficos e que trabalha espaos fragmentados, em

    geral opera com questes desconexas, isolando-as no interior de si mesmas, em vez

    de consider-las no contexto de um espao geogrfico complexo, que o mundo da

    vida. (CALLAI, 2005, p.230)

    a caracterizao da Geografia dada de forma fragmentada que deve ser o foco da

    ateno do professor. Se este pretende que a famlia faa parte da construo desses

    conhecimentos, deve levar em conta que a forma tradicional de ensino faz com que a

    disciplina seja vista como mais uma na qual os alunos decoram conceitos, nomes das capitais

    e pronto, cumpriu-se os programas de ensino.

    No entanto, mais uma vez necessrio que se destaque que o professor sozinho

    no consegue sucesso no processo de ensino/aprendizagem. Ele depende de apoio tambm

    fora da escola e esse apoio representado efetivamente pela famlia. Esta tem a prerrogativa

    de representar e apresentar o fato de que o conhecimento produzido pelo aluno, a partir do seu

    contexto uma forma legtima de compreender o mundo e o espao que nele se constitui. O

    conhecimento geogrfico produzido na escola pode ser o explicitamento do dilogo entre a

    interioridade dos indivduos e a exterioridade das condies do espao geogrfico que os

    condiciona (REGO, 2000, p. 8).

    Uma outra forma de o professor de Geografia trazer a famlia para dentro do

    campo de ensino da Geografia est no trabalho com projetos nos quais esta se envolva, no

    apenas na sua execuo, mas tambm no seu preparo. Mesmo que em muitos casos, exista

    uma certa resistncia dos familiares em estarem na escola e isso acontece, mais uma vez por

    conta da hierarquizao de papeis ou seja, da separao incutida a partir da crena de que a

  • 31

    famlia deve ser manter distante do espao fsico da escola e, por consequncia, dos fazeres da

    aprendizagem e dos saberes acadmicos. De acordo com Callai (2005) no a disciplina de

    Geografia a dona do espao. Na construo dos saberes referentes a esse campo do

    conhecimento,

    O espao no neutro, e a noo de espao que a criana desenvolve no um

    processo natural e aleatrio. A noo de espao construda socialmente e a criana

    vai ampliando e complexificando o seu espao vivido concretamente. A capacidade

    de percepo e a possibilidade de sua representao um desafio que motiva a

    criana a desencadear a procura, a aprender a ser curiosa, para entender o que

    acontece ao seu redor, e no ser simplesmente espectadora da vida. (CALLAI, 2005,

    p. 233)

    Um outro ponto frgil no ensino da Geografia e que pode se fortalecer a partir da

    incluso do contexto scio-familiar do indivduo no processo de ensino diz respeito aos

    lugares como parte do espao geogrfico. O professor de Geografia tem a seu favor a

    curiosidade que naturalmente faz parte do contexto de seus alunos. No lugar de sufocar esse

    aspecto com aulas apenas expositivas, este pode us-la como base para o seu trabalho tendo

    em vista as descobertas que os sujeitos fazem no seu cotidiano e que nem sempre so

    compartilhados por conta da falta de espao ou de dilogo entre professor e aluno. Citando

    Freire (2001), no tocante ao trabalho do professor, considerando o contexto do aluno,

    possvel mostrar a este como so estabelecidas suas relaes com os lugares e com a natureza.

    Desse modo, Freire (2001) ressalta:

    Por que no aproveitar a experincia que tm os alunos de viver em reas da cidade

    descuidadas pelo poder pblico para discutir, por exemplo, a poluio dos riachos e

    dos crregos e os baixos nveis de bem-estar das populaes, os lixes e os riscos

    que oferecem sade das gentes? (FREIRE, 2001, p. 33).

    Existem diferentes modos de fazer com que a famlia seja uma aliada do professor

    na aprendizagem de Geografia, mas, para que isso acontea, torna-se necessrio que esta

    conhea exatamente quais so os eixos de aprendizagem da disciplina e como podem fazer

    parte desse campo de conhecimento.

    possvel perceber que para muitos pais ou responsveis, realmente a Geografia

    possui pouca validade enquanto campo do conhecimento. comum se observar pais

    ordenando ao filho que estude matemtica, por exemplo, mas muito difcil v-los mandando

    estudar Geografia. Isso acontece justamente porque, para eles, a disciplina nada mais do que

    um modo de habilit-los para a reproduo de mapas ou a construo de maquetes. Ao se

  • 32

    olhar para o entorno e mostrar aos alunos quais so os problemas que atinge seu grupo social

    de uma forma mais especfica, o professor de Geografia estar incutindo no aluno o hbito de

    teorizar e exercendo essa atividade, este poder transpor os conhecimentos acadmicos para o

    contexto real.

    importante que se ressalte que o trabalho com a realidade do aluno no significa

    que as discusses devem ser direcionadas apenas para o campo social. Diante disso, Callai

    (2005), destaca que,

    [...]pode-se discutir questes que so especficas do contedo da disciplina

    Geografia, por exemplo, em vez de ditar para o aluno, ou mesmo ler em um livro,

    ou responder a perguntas a partir de um texto, realizar a leitura do espao. E a partir

    da trabalhar com os conceitos envolvidos no caso, rio, riacho, crrego, lenol

    fretico, lixo, poluio, degradao ambiental, degradao urbana, cidade, riscos

    ambientais. A leitura do espao permite que se faa o aprender da leitura da palavra,

    aprendendo a ler o mundo. A partir da a geografia pode trabalhar com os conceitos

    que so prprios do seu contedo. (CALLAI, 2005, p.240)

    Esse modo de ensino da Geografia faz com que essa se torne viva, presente e

    movente, capaz de ir alm do que o livro didtico traz, construir e reconstruir verdades

    cientficas ou mesmo empricas, tendo em vista a aprendizagem. Freire (2001) muito sbio

    quando diz Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagaes,

    curiosidade, s perguntas dos alunos, a suas inibies; um ser crtico e inquiridor, inquieto

    em face da tarefa que tenho a de ensinar e no a de transferir conhecimento (FREIRE,

    2001, p. 52).

    No que diz respeito ao professor de Geografia, ao conseguir despertar no aluno o

    desejo de ler o mundo que o cerca, automaticamente este estar trazendo a famlia para dentro

    da sala de aula, isso porque, impossvel que diante das descobertas do sujeito em sala de

    aula, este no as leve para sua famlia e desse modo, no a envolva em suas descobertas.

    Cada lugar tem uma fora, uma energia que lhe prpria e que decorre do que ali

    acontece. Ela no vem de fora, nem dada pela natureza. resultado de uma

    construo social que se d na vivncia diria dos homens que habitam o lugar,

    resultado do grau de conscincia das pessoas como sujeitos do mundo onde vivem e

    dos grupos sociais que constituem ao longo de sua trajetria de vida. resultado do

    somatrio de tempos curtos e de tempos longos que deixam marcas no espao.

    (CALLAI, 2005, p.245)

  • 33

    Tendo em vista que a famlia, assim como a Geografia representa as marcas que

    so deixadas no espao, sendo responsvel pelas marcas sociais, necessrio que se observe e

    se analise como esta tem participado dos processos de ensino/aprendizagem em um contexto

    prtico e de tal forma, o captulo que se segue busca atender a essa proposta a partir da

    verificao de como a famlia compreende a responsabilidade de ser motivadora do saber,

    principalmente no que diz respeito Geografia.

  • 34

    3. FAMLIA E PROFESSORES: COMO ESSA RELAO TEM SIDO

    CONSTRUDA

    Ao longo do estudo aqui proposto, discutiram-se exaustivamente os papeis da

    famlia e da escola nos processos de ensino/aprendizagem, principalmente dos conceitos

    geogrficos. A partir de agora, a pesquisa volta-se para as vises que professores e pais de

    alunos vem e participam dos momentos de escolarizao de seus filhos.

    importante que se destaque que a pesquisa foi pensada em uma amostragem

    maior, feita em todas as escolas pblicas da cidade de Ipor que oferecessem a modalidade do

    Ensino Fundamental no ciclo final compreendido pelas sries que vo do quinto ao nono ano.

    Inicialmente, os professores e funcionrios das escolas procuradas se dispuseram a participar

    da pesquisa, no entanto, no momento da realizao do estudo, algumas das escolas contatadas

    fecharam suas portas para a pesquisa.

    Desse modo, o estudo foi realizado tendo como sujeitos os professores e pais de

    alunos de duas escolas pblicas da cidade de Ipor, sendo uma instalada no centro da cidade e

    outra, na periferia. As escolas nas quais a pesquisa aconteceu tem a clientela cujo poder

    aquisitivo se coloca abaixo da mdia. A maioria dos alunos carente e muitos so oriundos

    das zona rural da cidade. De acordo com a fala dos responsveis pela escola, a participao

    dos pais deficiente, pois muitos trabalham o dia todo e nem sempre esto disponveis para

    estarem na escola.

    Como a proposio da pesquisa est em ouvir tambm os pais, o instrumento

    escolhido para o estudo foi o questionrio. Ressalta-se que, considerando o quantitativo de

    alunos em cada escola, o nmero de participantes foi inferior ao esperado e isso justificado

    atravs do fato de que a escola no um ambiente atrativo para a famlia do aluno e os pais

    no se possuem tempo disponvel para acompanhar o processo de ensino/aprendizagem de

    seus filhos.

    As entrevistas com os foram realizadas entre os meses de agosto e setembro e no

    incio do ms de outubro retornou-se escola com a inteno de ouvir os professores.

    Conforme j ressaltado, muitos destes no se dispuseram a participar da pesquisa, uns por

    receio da idoneidade do tema e outros alegando no possuir interesse ou tempo para falar

    sobre a famlia na escola. Os resultados do estudo feito nas duas escolas foram

  • 35

    sistematizados em forma de grficos e o discurso dos professores, apresentado de forma

    discursiva, conforme segue no item seguinte.

    3.1 O papel desempenhado pela famlia no processo de aprendizagem: uma anlise

    prtica

    Para a anlise prtica do estudo aqui construdo foram aplicados questionrios a

    40 pais ou responsveis que se dispuseram a participar da pesquisa. A primeira pergunta foi se

    acompanham a vida escolar de seus filhos. Dos entrevistados, 38 responderam que sim, que

    acompanham a vida escolar dos filhos, 1 afirmou que no acompanha e 1 disse acompanhar

    de vez em quando. Os percentuais esto registrados no grfico 1.

    VOC ACOMPANHA A VIDA ESCOLAR DE SEUS

    FILHOS?

    94%

    3% 3%

    SIM NO S VEZES

    Grfico1.

    Dando continuidade pesquisa, foi perguntado aos pais de que modo estes

    acompanham a vida escolar de seus filhos. O interessante foi perceber a forma como se

    processa esse acompanhamento, no qual muitos pais acreditam que basta olhar o caderno do

    filho para que isso se configure em um apoio, no entanto, a ida s reunies foi uma das mais

    citadas como sendo uma forma estar observando como est sendo o processo de

  • 36

    aprendizagem dos filhos. Diante da pergunta, 3 pais responderam que acompanham a vida

    escolar por meio de conversas com os filhos; 11 pais afirmaram que participam de reunies,

    plantes e eventos na escola como meio de saber como est sendo a aprendizagem dos filhos;

    9 disseram que vo escola frequentemente, no apenas nos momentos de reunio; 15

    responderam que fazem o acompanhamento olhando o material escolar e ajudando nas tarefas

    e trabalhos; 1 participante no quis responder pergunta e 1 no soube como responder,

    conforme pode ser verificado no grfico 2.

    DE QUE FORMA SE D O ACOMPANHAMENTO DOS

    FILHOS NA ESCOLA?

    22%

    27%

    8%3%3%

    37%

    CONVERSANDO COM O FILHO(A)

    INDO S REUNIES, PLANTES E EVENTOS DA ESCOLA

    INDO ESCOLA

    OLHANDO OS MATERIAIS ESCOLARES

    NO RESPONDEU

    NO SOUBE RESPONDER

    Grfico 2.

    A forma de acompanhamento da vida escolar apontada pela maioria dos

    participantes da pesquisa mostra que este se d mais em um contexto subjetivo, particular, do

    que atravs da convivncia com a escola. Para muitos pais, basta observar se o filho est

    executando todas as atividades que lhe so destinadas, se est fazendo as tarefas ou os

    trabalhos. Esse pais geralmente so aqueles que medem o trabalho do professor pelas notas

    que os filhos obtm nas provas e quando vo at a escola, no para oferecer apoio no

    processo, mas para encontrar culpados pelo fracasso dos filhos.

  • 37

    Em seguida foi perguntado aos participantes da pesquisa se conhecem os

    professores dos filhos. Dos 40 participantes, 19 disseram conhecer alguns professores; 3

    afirmaram no conhecer nenhum dos professores e 18 responderam conhecer todos os

    professores, de todas as disciplinas. Esse dado interessante, pois reflete uma convivncia

    social entre professores e pais de alunos. Nem sempre possvel conhecer todos os

    professores nos eventos da escola, mas quando esta atende a uma comunidade da qual os

    prprios funcionrios fazem parte, torna-se mais fcil a acessibilidade a todos que trabalham

    na instituio. Os dados apresentados podem ser conferidos no grfico 3.

    VOC CONHECE OS PROFESSORES DE SEU

    FILHO?

    45%

    47%

    8%

    SIM, TODOS

    SIM, ALGUNS

    NO CONHECE NENHUM PROFESSOR

    Grfico 3.

    A pesquisa pretendeu saber dos participantes como seria o relacionamento destes

    com os professores de seus filhos. Nessa questo, destaca-se o fato dos pais no tentarem

    fingir que gostam ou apreciam os professores de seus filhos. Isso mostra que, alm de serem

    sinceros reconhecem que falta algo em seu relacionamento com a escola e esse algo poderia

    fazer com estes se aproximassem mais dos professores dos filhos. De acordo com a pergunta,

    22 disseram ter um bom relacionamento com os professores dos filhos; 2 afirmaram ter um

    relacionamento amistoso; 6 responderam que possuem um relacionamento muito bom; 4

    disseram ter um timo relacionamento e 6 afirmaram que possuem um relacionamento

  • 38

    razovel com os professores, sem muita convivncia com eles. O grfico 4 mostra esse

    percentual.

    COMO O SEU RELACIONAMENTO COM OS

    PROFESSORES DE SEUS FILHOS

    55%

    5%

    15%

    10%

    15%

    BOM AMISTOSO MUITO BOM TIMO RAZOVEL

    Grfico 4

    A prxima pergunta foi direcionada a quantas vezes os pais ou responsveis vo

    escola para ver como est sendo efetivado o desenvolvimento dos filhos. Grande parte dos

    pais respondeu que vai escola de uma a duas vezes por ano, isso significa que a escola

    precisa pensar em meios que sejam eficazes para trazerem a famlia de seus alunos para o

    contexto da instituio. 7 dos entrevistados afirmaram que vo escola sempre que podem,

    no mencionando a freqncia que isso ocorre.

    importante que se destaque que esses pais nem sempre possuem tempo

    disponvel para ir escola sempre que desejem, mas o acompanhamento acontece, ainda que

    de forma descontinuada. O problema maior est nos pais que no se interessam pela vida

    acadmica dos filhos, deixando cargo da escola a funo de ensinar e tambm de verificar se

    o nvel de aprendizagem est sendo satisfatrio. 5 participantes responderam que vo poucas

    vezes escola, mas no deixam de ir enquanto que 8 disseram ir escola mais que trs vezes.

    Tais dados so comprovados no grfico 5.

  • 39

    QUANTAS VEZES VAI ESCOLA PARA VER

    COMO EST O DESENVOLVIMENTO DE SEU

    FILHO?

    13%

    18%

    49%

    20%

    POUCAS SEMPRE QUE PODE

    1 A 2 VEZES 3 OU MAIS

    Grfico 5

    No prosseguimento da pesquisa, foi perguntado aos participantes se estes

    participam das reunies e as quantas foram nesse ano. Em relao freqncia nas reunies,

    38 afirmaram que participam de reunies na escola enquanto que 2 afirmaram no

    participarem de reunies porque, segundo estes, trabalham durante todo o dia e no possuem

    tempo disponvel para irem s reunies uma vez que estas acontecem durante o dia.

    Em relao quantidade de reunies que foram durante o ano letivo de 2011, 20

    afirmaram terem ido a mais que 3 reunies; 3 dos participantes alegaram no se lembrarem de

    quantas reunies foram e 15 disseram que foram a uma ou duas reunies nesse ano.

    Fazer com que os pais procurem a escola pelo menos uma vez por ano tambm se

    configura em um desafio a ser cumprido. Muitos pais reclamam que gostariam de participar

    das reunies de uma forma mais efetiva, no entanto, o fato destas acontecerem sempre no

    diurno, torna-se um fator que dificulta o fortalecimento da escola com o apoio dos pais.

    Diante disso, necessrio pensar nas estratgias de adaptao dos horrios das reunies, para

    que uma maior quantidade de pais ou responsveis possam intervir nos processos de

    ensino/aprendizagem dos seus filhos. Os dados podem ser conferidos no grfico 6.

  • 40

    A QUANTAS REUNIES VOC FOI NESSE ANO?

    39%

    53%

    8%

    1 A 2 REUNIES

    3 OU MAIS REUNIES

    NO SE LEMBRA DE QUANTAS REUNIES PARTICIPOU

    Grfico 6

    Em seguida foi perguntado aos participantes se j receberam reclamaes da

    escola sobre os seus filhos. A maioria, formada por 30 participantes, respondeu que no,

    nunca receberam reclamaes da escola sobre os filhos. 9 afirmaram que j receberam

    reclamaes e uma pessoa se absteve de responder. Esses dados podem ser vistos no grfico

    7.

    J RECEBEU RECLAMAES

    DE QUE SEU FILHO NO

    PARTICIPA DAS AULAS?

    23%

    74%

    3%

    SIM NO NO RESPONDEU

    Grfico 7.

  • 41

    Dando continuidade pesquisa com pais ou responsveis, perguntou-se aos

    participantes se estes conhecem o professor de Geografia dos filhos. 31 responderam que

    conhecem, enquanto que 9 disseram no o conhecer. Dados apresentados no grfico 8.

    CONHECE O PROFESSOR DE GEOGRAFIA

    DE SEUS FILHOS?

    77%

    23%

    SIM NO

    Grfico 8

    Em relao ao contexto das aulas de Geografia, foi perguntado aos indivduos

    pesquisados se estes j participaram de alguma atividade desenvolvida pelo professor de

    Geografia. Essa pergunta foi feita com a inteno de observar se o professor da disciplina est

    conseguindo envolver a famlia no processo de ensino aprendizagem. O que pode ser

    verificado que a maioria no participou de nenhuma atividade promovida pelo professor de

    Geografia, seja em forma de projetos ou de estudos feito em campo.

    De acordo com os participantes da pesquisa, nas reunies, os professores de

    Geografia afirmam que iro desenvolver diversos projetos e que eles sero direcionados para

    a comunidade, s que estes ficam apenas no papel, sem nenhum prosseguimento. Segundo as

    respostas das pessoas que participaram da pesquisa, 34 nunca participaram de nenhuma

    atividade desenvolvida pelo professor de Geografia e apenas 6 pessoas alegaram ter

    participado de pelo menos uma atividade desenvolvida por este. Grfico 9.

  • 42

    VOC PARTICIPOU DE ALGUMA ATIVIDADE

    DESENVOLVIDA PELO PROFESSOR DE

    GEOGRAFIA?

    15%

    85%

    SIM NO

    Grfico 9

    Para concluir o estudo com pais ou responsveis a pergunta se direcionou para a

    anlise que estes fazem sobre sua colaborao nas atividades promovidas na escola. A maioria

    respondeu considerar regular essa participao, o que mostra que a prpria famlia reconhece

    que deve aumentar os momentos que passa na escola no processo de acompanhamento da

    aprendizagem de seus filhos, isso mostra que h a possibilidade de uma atuao em conjunto,

    entre a escola, o professor e a famlia sem que isso corresponda a um conflito de interesses ou

    uma medida de foras entre uns e outros. 10 participantes consideraram boa sua colaborao

    nas atividades promovidas pela escola; 2 avaliaram como boa; 5 como tima e 10 no

    souberam opinar.

    A contribuio dos pais ou responsveis com a realizao das atividades

    promovidas pela escola se mostra tambm um ponto frgil a ser fortalecido. A escola que

    consegue trazer para o seu ambiente uma grande quantidade de pais interessados em

    acompanhar de perto como est sendo o ensino faz com que o corpo docente amadurea a

    ideia de qual sujeito e que indivduos sero formados dentro da instituio.

    O fato de muitos participantes no terem sabido opinar sobre o que estava sendo

    trabalhado reflete que a escola no est conseguindo tornar os seus objetivos compreensveis

    o que se pressupe uma necessidade de repensar os rumos que se quer dar aos processos de

    ensino. Os dados do pargrafo anterior podem ser comprovados no grfico 10.

  • 43

    COMO VOC CLASSIFICA A SUA COLABORAO NAS

    ATIVIDADES PROMOVIDAS PELA ESCOLA?

    32%

    25%5%

    13%

    25%

    REGULAR BOA

    MUITO BOA TIMA

    NO SOUBERAM OPINAR

    Grfico 10

    Considerando que a proposta para o estudo aqui apresentado no unilateral, este

    prosseguiu ouvindo os professores da disciplina de Geografia, no intuito de saber como estes

    vem e observam a participao da famlia no processo de construo dos conhecimento.

    Nessa fase, 3 professoras de Geografia se ofereceram para participar da pesquisa e enquanto

    amostragem esse nmero foi baixo, mas representou uma anlise bastante proveitosa diante da

    perspectiva da temtica.

    3.2 Famlia, escola e aprendizagem: a perspectiva do professor de Geografia

    A primeira pergunta do roteiro preparado para os professores de Geografia diz

    respeito a atuao dos pais ou responsveis no processo de ensino aprendizagem de seus

    alunos. A professora A afirmou que a participao estes parcial uma vez que grande parte

    dos pais s comparece escola quando a cada bimestre quando vo buscar os boletins. De

    acordo com a professora B, a atuao dos pais ainda deixa a desejar principalmente no

    aspecto pedaggico da vida escolar dos filhos. Segundo a professora C, h pouca participao

  • 44

    dos pais ou responsveis, pois muitos no possuem noo do que seja o processo de ensino

    aprendizagem. Nesse discurso h um ponto de discordncia, pois muitos pais podem at

    ignorar como se processa a aprendizagem dos seus filhos, mas com certeza sabem se os filhos

    esto aprendendo determinados contedos ou no. Reside na fala da professora, o velho

    discurso j apontado anteriormente de que a escola se arvora de somente o seu espao ser o

    campo da aprendizagem.

    Em seguida, foi perguntado s professoras se estas consideram que a participao

    dos pais ou responsveis no processo de ensino aprendizagem importante para a construo

    do conhecimento. A essa questo todas as professoras responderam que sim, as justificativas

    foram de que pais ativos fazem com que os filhos se desenvolvam mais, de forma

    diferenciada.

    Com relao questo dos pais ou responsveis serem mais participativos e se

    esta participao pode influenciar os resultados esperados, a professora B respondeu que sim,

    que a famlia e a escola devem ter o mesmo olhar em busca de uma aprendizagem que tenha

    significado para o aluno. Para a professora C, a criana acompanhada de perto pelos pais se

    torna mais freqente na escola e por isso, mais participativa. J a professora A afirma que as

    crianas que tm os pais envolvidos no processo educacional tm maior rendimento escolar e

    maiores chances de obter sucesso.

    De acordo com os dados pesquisados e no discurso de Rocha e Macedo (2011),

    alguns pais acreditam que colaborar em atividades que visem arrecadar dinheiro para a escola

    ou fazer trabalhos de conservao basta para ter participao na escola. Por outro lado, alguns

    educadores defendem uma participao mais efetiva da famlia no processo de

    ensino/aprendizagem. Diante disso, foi perguntado aos professores participantes do estudo

    como estes vem essa questo e de que forma ela se daria, considerando o ensino de

    Geografia.

    De acordo com a professora A, no somente o ensino de Geografia, mas todas as

    disciplinas precisam do acompanhamento dos pais, principalmente nos dias atuais, em que a

    educao formal busca educar para a vida. Na opinio da professora B, como a Geografia

    estuda as relaes humanas, as transformaes da sociedade com ao do homem no meio que

    vive, entende-se que a participao da famlia seja essencial no apenas em eventos, mas no

    cotidiano da escola. A professora C afirmou que no processo de ensino/aprendizagem, o ideal

    que pais e responsveis sejam frequentes no acompanhamento da vida escolar dos alunos,

    tanto dentro da escola quanto fora dela, para que possa dar um suporte para a criana e fazer

    com que ela sinta-se capaz de aprender.

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    Os professores tambm foram questionados quanto forma como os pais ou

    responsveis por seus alunos participam de suas aulas de Geografia. Diante dessa pergunta, a

    professora C respondeu que quase no h participao e que ela existe apenas quando

    necessrio cobrar algo do professor. Para a professora A a participao dos pais se d nas

    atividades para casa quando existem alguns questionamentos que exijam respostas da famlia.

    De acordo com a professora B h uma pequena participao de alguns pais, no sentido de