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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/CURSO DE ODONTOLOGIA
MESTRADO INTERINSTITUCIONAL EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA INTEGRADA
O ENSINO ODONTOLÓGICO E A SUA TRAJETÓRIA NO CENÁRIO
NACIONAL E INTERNACIONAL. A DISCIPLINA DE CLÍNICA INTEGRADA NO BRASIL.
IZAMIR CARNEVALI DE ARAÚJO
MARIZELI VIANA DE ARAGÃO ARAÚJO
Seminário apresentado à Disciplina de
Metodologia do Ensino em Clínica
Integrada.
Professor Responsável:
Prof. Dr. Nicolau Tortamano
Módulo de Novembro de 2001.
Belém - Pará
2001
SUMÁRIO p.
1. INTRODUÇÃO 01
2. HISTÓRICO DO ENSINO ODONTOLÓGICO 03
2.1. No cenário internacional 03
2.2. No cenário nacional 05
3. FILOSOFIA DO ENSINO ODONTOLÓGICO 08
4. OBJETIVOS DO ENSINO ODONTOLÓGICO 14
4.1. Projeto Pedagógico 16
4.2. Perfil do Profissional a ser formado 17
5. O MODELO EM SI – CLÍNICA INTEGRADA 19
5.1. Estrutura e Abrangência 21
6. IMPLANTAÇÃO DA CLÍNICA INTEGRADA 22
6.1. A aplicabilidade e as experiências das diversas
Instituições 24
7. AS VANTAGENS E OS PROBLEMAS OBSERVADOS 29
8. AVALIAÇÃO DO MÉTODO 30
9. AS POSSÍVEIS CORRELAÇÕES COM O MODELO DE
ENSINO ODONTOLÓGICO NO BRASIL 32
1O. COMENTÁRIOS FINAIS 35
11. REFERÊNCIAS 39
1
1- INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende construir um referencial teórico sobre o Ensino
Odontológico e a sua trajetória no Cenário Nacional e Internacional e sobre a
Disciplina de Clínica Integrada no Brasil, além de assinalar as perspectivas que se
desenham como tendências nas propostas dos Projetos Pedagógicos dos Cursos
de Odontologia das Instituições de Ensino Superior e o quadro das experiências
relatadas pela literatura.
Refletir sobre histórico e inovações no cenário do ensino odontológico e da
disciplina de Clínica Integrada é o presente projetado sobre o passado. Em outras
palavras, o historiador lê o passado a partir da perspectiva do presente
(presentismo), necessitando portanto do conhecimento das interferências e os
condicionamentos gerados pelas relações concretas do sujeito com a realidade. É
importante situar que as instituições e entre elas, as universidades, existem
dentro de um conjunto maior que é a sociedade e a cultura, consideradas num
determinado tempo histórico.
As transformações no mundo redimensionam o papel social da educação e
das instituições educativas, uma vez que questionam, particularmente, o papel da
escola como agência de formação para o mundo do trabalho e para a vida
societária.
Todos estes aspectos sinalizam a efetivação de um parâmetro político-
pedagógico, qual seja, a adoção de uma “ pedagogia de concorrência, da
eficiência, dos resultados e da produtividade” vinculada à lógica de mercado, o
que pode ser amplamente observado no processo de reconfiguração da educação
superior no Brasil.
A educação superior é entendida como o conjunto integrado de ensino,
pesquisa e extensão. Enquanto ensino, tem por objetivo aperfeiçoar a formação
do homem para a atividade cultural, capacitá-lo para o exercício de uma profissão
e prepará-lo para o exercício da reflexão crítica e a participação na produção,
sistematização e superação do saber; enquanto pesquisa, visa o avanço do
conhecimento teórico e prático, em seu caráter universal e autônomo, devendo
2
contribuir para a solução dos problemas sociais, econômicos e políticos, em nível
nacional e regional; enquanto extensão, visa difundir as conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica a toda a
população.
Atividades de graduação ( ensino odontológico) bem orientadas na forma
de ação extra-muro e de estágio curricular (Clínica Integrada), se tratadas como
vias de mão dupla na interação curso/comunidade, dinamizam e oxigenam o
ensino, podendo antecipar ao aluno visões sobre a inserção no meio social e,
especificamente, sobre o mercado de trabalho.
A avaliação do curso, valorizando-se as consultas aos pacientes e
egressos, é mecanismo fundamental para o direcionamento realístico do ensino
da prática odontológica, compatibilizando-se com o aperfeiçoamento da prática
pedagógica de ensino.
A aproximação entre os setores produtivos e educacionais, em especial a
educação superior, é um fato estruturalmente irreversível neste estágio de
desenvolvimento. Interessante notar a contradição desse movimento. Ao mesmo
tempo em que as universidades são questionadas quanto à qualidade do ensino,
quanto aos conteúdos nelas desenvolvidas, quanto à eficácia de seu processo de
produção e distribuição do conhecimento, externamente ela se reveste de um
papel estratégico na economia dos países, o que nos faz refletir sobre a tendência
de superar essa proclamada contradição.
É urgente, portanto, que a comunidade acadêmica discuta e produza uma
política que caminhe na direção do desenvolvimento científico e tecnológico e que
garanta a soberania nacional, ao mesmo tempo em que sedimente a identidade
das instituições de ensino superior e de pesquisas no Brasil.
O ensino odontológico através de disciplinas como, a Clínica Integrada,
deve ser responsável por formar bons profissionais, por avanços científicos e
ainda, no atendimento a pacientes, oferecer um bom serviço. Serviços que
atualmente deixaram de ser focados em doenças para enfocar saúde. Saúde,
cuja definição considera o indivíduo com um todo e envolve dimensões físicas,
mentais e emocionais.
3
A literatura disponível envolvendo análises comparativas ou avaliação
sobre o ensino dessa disciplina ou mesmo sua base filosófica, até o momento, é
limitada. Alguns textos, na maioria institucionais, restringem-se a abordar a
necessidade da disciplina no currículo, procurando estabelecer nela a
responsabilidade pela formação social dos futuros profissionais da Odontologia e
o aperfeiçoamento de recursos humanos. Outros analisam a integração curricular,
a integração inter e intradisciplinar, a necessidade de formação do cirurgião-
dentista clínico geral, a estrutura e os objetivos da disciplina em cursos
específicos, a participação de outras disciplinas junto à Clínica Integrada e as
propostas de avaliação sistemática.
Portanto, no processo de evolução do ensino odontológico brasileiro, a
Clínica Integrada é a disciplina em que o aluno de graduação torna-se apto para o
desempenho da Clínica Odontológica.
Este trabalho, constituído com aspecto abrangente, pretende contribuir
para a evolução do Ensino Odontológico, através da verificação de novas
abordagens metodológicas e teóricas, capazes de sustentarem a produção de
parâmetros avaliativos e críticos da ciência, e suas visões curriculares
empregadas na Odontologia.
2- HISTÓRICO 2.1. No Cenário Internacional
A criação da primeira Escola de Odontologia do mundo, nos Estados
Unidos, e o desenvolvimento científico que a Odontologia adquiriu naquele país,
propiciou um intercâmbio com as Universidades Norte-Americanas, pois a
tradição européia de ensino odontológico era vinculada à prévia formação médica.
Eugênio Frederico Guertiu, diplomado pela Faculdade de Medicina de
Paris, foi o primeiro Dentista da Casa Imperial Portuguesa, em 1820. Para Salles
4
Cunha (1931), seria “pela primeira vez um verdadeiro artista, que poderia sem
vexame usar o tão depreciado título de Dentista”.
Nos Estados Unidos o ano de 1839 foi um importante marco para a história
da Odontologia, nesse ano foi criado o primeiro periódico de Odontologia, a
primeira faculdade, denominada de “Faculdade de Cirurgia Dentária de
Baltimore”, que possuia um currículo baseado no curso de Medicina . No ano de
1843 foi introduzido um demonstrador de mecânica odontológica, além da
primeira Sociedade Nacional de Dentistas.
A verdadeira importância do ensino odontológico somente foi reconhecida
em 1867, quando foi estabelecido o primeiro Departamento de Odontologia na
Universidade de Harvard, em associação com o Departamento de Medicina.
No curso de Odontologia de Harvard não existia critério de admissão. A
graduação era constituída de 3 anos de aprendizado privado, com um ou mais
dentistas e 2 anos acadêmicos, com 4 meses em cada, assistindo às aulas além
da defesa de uma tese.
As matérias cursadas eram anatomia, química, fisiologia e cirurgia. Os
alunos tinham acesso às salas de dissecação da medicina, biblioteca, museus e
hospitais de Boston. As clínicas odontológicas eram feitas no hospital de
Massachussetts.
Posteriormente foram criadas leis que exigiam equipamentos, materiais,
professores, pesquisas nas escolas de Odontologia, o que impossibilitou o
mercantilismo. Surgiram ainda várias associações odontológicas.
No ano de 1926 havia 65.000 dentistas e 44 faculdades de Odontologia
nos EUA e 3.800 dentistas e 5 faculdades no Canadá. Nesta época a educação
odontológica obedecia aos estatutos criados e surgiram também escolas para
higienistas e protéticos.
Posteriormente foram ocorrendo várias transformações técnicas, científicas
e pedagógicas que promoveram grande evolução da odontologia nos EUA e no
mundo.
5
2.2. No Cenário Nacional Nos séculos XV e XVI, o Rei de Portugal, regulamentava o exercício da
prática odontológica, especificamente com relação à Colônia, O “Regimento do
Cirurgião Substituto de Minas”, de 09/05/1743, regulamentava as taxas para as
pessoas que tirassem dentes.
Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, foram criadas em
1808, as Escolas de Cirurgião no Hospital São José, na Bahia e a Escola
Anatômica Cirúrgica e Médica no Hospital Militar e da Marinha, no Rio de Janeiro.
Salles Cunha (1934), comenta “quão rudimentar deveriam ser os
conhecimentos dos dentistas, sem escolas, sem cursos....Nada lhe era exigido,
nem o saber ler, para conseguir a carta da profissão de tirar dentes”.
Com o Decreto de 16/08/1851, o Estatuto das Faculdades de Medicina,
previa um exame para dentistas. Salles Cunha (1931), considera-o muito
rudimentar, feito com bancas constituídas por médicos, nada se exigindo como
preparo básico, bastando o candidato apresentar “documentos que provassem
sua moralidade”.
No Brasil, até 1879, quem quisesse aprender os afazeres da arte dentária
deveria preparar-se observando a habilidade técnica de um mestre e desenvolver-
se mediante prática pessoal. Esta situação foi modificada em termos legais pelo
Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879, que determinou a anexação de um
Curso de “Cirurgia Dentária” às Faculdades de Medicina Oficiais (Brasil,1982).
Através deste decreto, são definidas as matérias que deveriam constituir o
primeiro currículo, as condições para a matrícula e os critérios de ingresso no
curso (Brasil,1982).
Em 04/07/1879, a Decisão do Império nº 10, estabelecia que aos
aprovados no curso de Cirurgia Dentária, seria atribuído o título de Cirurgião-
Dentista. O ensino da Odontologia começou a se formalizar em nosso país com a
lei orçamentária nº 3141, de 30 de outubro de 1882, que criou os Laboratórios de
Cirurgia e Prótese Dentária nas Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da
Bahia.
6
O ensino odontológico foi oficialmente instituído no país, aos 25 dias de
outubro de 1884, pelo Decreto nº 9311 do Governo Imperial, graças à chamada
Reforma Sabóia, que era diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. De
início, o ensino foi vinculado às Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da
Bahia. Ao final do Curso de 3 anos, o aluno recebia o título de dentista. O uso do
anel simbólico só veio a ser regulamentado pelo Presidente Prudente de Moraes
em 29/07/1895 (Salles Cunha, 1931).
Em 1919, o Decreto nº 3830 de 30 de outubro, alterou o Curso de dois para
quatro anos de duração e criou o currículo com treze matérias.
O Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931 modificou o currículo,
alterando o curso para três anos, definindo as disciplinas e sua distribuição
conforme o ano.
Na Segunda metade do século XIX, começou-se a reconhecer a
superioridade técnica americana. Dessa compreensão, resultou o início das
viagens de instrução aos EUA. Em 29 de novembro de 1919, o então curso
oferecido pela Faculdade de Medicina se transformaria em Faculdade de
Odontologia, com um curso de quatro anos de duração. Apenas em 1925, o
Curso de Odontologia se transformou na Faculdade de Odontologia do Rio de
Janeiro. Uma lei de 1937, reorganizou a citada Universidade, que passou a ser
designada Universidade do Brasil e suas instituições, Faculdades Nacionais, até a
transferência para a Capital Federal (Rio de Janeiro). Por decisão do Conselho
Universitário, o curso de odontologia passou a ser oferecido em quatro anos a
partir de 1947, tendo formado sua primeira turma em 1951 (Carvalho,1995).
A característica fundamental neste período foi o treinamento profissional
com habilidade mecânica e sensibilidade estética em seus procedimentos. Com
as Faculdades de Odontologia, mostrando a necessidade de instruções
integradas nos princípios gerais da Odontologia Clínica e em suas correlações
com a Medicina e ainda desenvolver serviços odontológicos em hospitais, nos
serviços públicos de saúde e na comunidade.
Devido ao sucesso das atividades extra-muros desenvolvidas pelas
faculdades, esta prática desenvolveu no aluno os conhecimentos adquiridos na
faculdade, formando profissionais mais aptos a atuar no mercado e
7
principalmente um profissional condizente com as necessidades de sua
população alvo, resultando em benefício também para a sociedade (Litch &
Cameron,1999).
Em 1961, a Lei 4.024, atribui competência ao Conselho Federal de
Educação (CFE) para fixar o currículo mínimo e a duração dos cursos superiores.
O Parecer 299/62 de 1962, atendendo as sugestões da ABENO,
apresentou um currículo em dois ciclos, o básico e o profissional, com um elenco
de matérias que permitia que as escolas acrescentassem matérias
complementares em caráter obrigatório ou facultativo (Brasil, 1982).
Em 1982, pela resolução nº 4 de 16 de setembro, o CFE fixou o currículo
mínimo em vigor, compreendendo as seguintes matérias:
- MATÉRIAS BÁSICAS:
Ciências Morfológicas;
Ciências Fisiológicas;
Ciências Patológicas;
Ciências Sociais.
- MATÉRIAS PROFISSIONALIZANTES:
Propedêutica Clínica;
Clínica Odontológica;
Clínica Odontopediátrica;
Odontologia Social;
Clínica Integrada (Brasil,1982).
A duração mínima foi fixada em 3.600 horas, integralizadas em no mínimo
quatro anos.
Sua construção inicia-se, embora nem sempre, pela definição do resultado
do ensino, os conhecimentos, as atitudes e as habilidades que o futuro
profissional deverá ter para ser considerado preparado para à prática
odontológica.
A seguir, é feita a definição dos conteúdos que serão utilizados e a sua
ordenação em ciclos ou fases, a listagem de algumas experiências de
8
aprendizagem que serão recomendadas e a definição do tempo necessário à
conclusão do curso.
3- FILOSOFIA DO ENSINO ODONTOLÓGICO
A inovação no ensino universitário e a formação pedagógica daqueles
que desenvolvem essa prática constituem-se, o lugar particular da
especialidade científica, artística ou humanística na consideração da
capacitação do docente universitário aliada a dimensão pedagógica de seu
desempenho e portanto, de sua formação. Neste sentido, a nova prática
docente do ensino odontológico e da disciplina de clínica integrada, é uma
contraposição ao estilo dominante e rotineiro da instituição em que ocorre.
Essa é a razão em não assimilar o conceito de inovação ao de descoberta ou
invenção, mas associá-lo a mudança, modificação, alteração de uma situação
dada, com o propósito de melhorá-lo, que se articula, por oposição ou por
integração, às práticas vigentes.
A formação (relacionada, assim, à “dialética interioridade/exterioridade”,
nas palavras de Azucena Rodríguez Ousset, 1994) permite um olhar duplo: o
que requer a transformação do sujeito, de seus modos de pensar e de sentir, a
modificação de suas atitudes e, ao mesmo tempo, o que focaliza o objeto da
transformação é o olhar que pergunta em que aspectos insistir, para que
finalidades de acordo com as demandas consolidem as ações.
O ensino odontológico e a disciplina de clínica integrada buscam em
sua estrutura teórica e em suas propostas, a formação de um corpo docente,
com a seguinte filosofia: A clínica integrada deve concorrer para a formação
de um cirurgião dentista clínico geral , capaz de compreender e praticar uma
odontologia integral e integrada, a partir dos conhecimentos adquiridos, de
modo a diagnosticar, planejar, executar e avaliar as necessidades
odontológicas e serviços odontológicos, considerando os aspectos bio-psico-
sociais do indivíduo e da comunidade.
9
Assim o ensino odontológico pode enfatizar a demanda institucional por
ter docentes adequadamentes preparados para as funções de que a
instituição necessita, e pode ou não ser consciente de que esse processo, que
acompanha a vida do sujeito ao longo de toda a sua prática profissional,
implica uma reestruturação também contínua da forma de assumir
pessoalmente seu papel, do conjunto de pautas, modos de ação e atitudes
que o caracterizam na prática do projeto pedagógico e na aquisição de
saberes e capacidades técnicas à mudanças das representações e das
atitudes em torno do que seja ensinar (Cunha, 1998).
A filosofia da disciplina de clínica integrada deve adotar uma
metodologia que inclui os protagonistas do ensino em sua análise e sua
projeção teórica colocando-os em busca de estratégias possíveis e, ao mesmo
tempo, comprometidas, para abordar e encarar a resolução de alguns
problemas que afetam o ensino de odontologia.
Numa pesquisa sobre inovação em educação, Cunha (1998)
estabeleceu as seguintes categorias para analisar as práticas dos professores
e sua interação com a disciplina de clínica integrada e com os alunos:
1) relação professor-aluno;
2) relação teória-prática;
3) relação ensino-pesquisa;
4) organização do trabalho em sala de aula;
5) concepção de conhecimentos;
6) formas de avaliação;
7) inserção no plano político-social mais amplo;
8) interdisciplinariedade.
10
É impossível “começar do começo”. Ao introduzirmos inovações, temos o
presente e o passado da instituição, que estão presentes em seu futuro. Não é
possível estabelecer um vazio, desfazendo-nos da ordem antiga. Professores
e alunos mantém funcionando as estruturas do presente, planejando um
enfoque diferente para o futuro.
“O conhecimento emergente não é uma simples rearticulação do
Sistema nem a introdução do novo no já instituído, como propõe
o paradigma conservador, no qual a prática é pensada do centro
para a periferia, buscando a inserção acrítica do novo no velho.
Nesse sentido, a inovação da prática da clínica integrada, pode
servir para a perpetuação do status quo. A inovação é ruptura
do status quo com o institucional” (Veiga et al., 2000, pg. 173).
Assim sendo, diante de uma universidade que se torna a cada dia mais
operacional, com profundas mudanças em sua estrutura para torná-la cada
vez mais produtiva para a ordem neoliberal, cabe aos docentes buscar
caminhos não-ingênuos para inovações em sua sala de aula, caminhos estes
que se voltem para uma mudança significativa e articulada com uma
perspectiva que vise a transformações de caráter geral na sociedade.
Somente assim é possível continuar trabalhando, com prazer e com paixão, no
cotidiano.
O trabalho educacional, no dia-a-dia das salas de aula, laboratórios de
pesquisa e atividades de extensão, no seu realizar-se enquanto atividade de
ensino-aprendizagem, possui uma filosofia própria que é característica das
atividades cuja origem é de natureza social.
Esta orientação, quando se refere ao processo educacional institucional
no ensino de 3º grau nas universidades, é denominado de Projeto
Pedagógico, que é determinado, principalmente, pelos elementos ideológicos
de um modelo de prática predominante, o qual por sua vez é determinado pela
11
estrutura sócio-econômica de uma sociedade num dado momento histórico
(Mendes, 1985).
O modelo inicial do ensino odontológico diante da exigência da
sociedade definiu uma prática, denominada Odontologia Científica ou
Flexneriana, onde predominou a universalidade biológica, que é orientada
para a cura ou alívio das doenças ou restaurações das lesões, cujo objeto de
atenção é o indivíduo entendido numa concepção mecanicista, que cresce
pela incorporação de tecnologia de alta densidade de capital, e onde domina a
tendência à especialização, a seletividade da clientela e a exclusão de formas
alternativas de práticas. Tal modelo obedeceu macro-estratégias de mercado,
sendo cumulativo de custo crescente, microdisciplinar e de consumo
individualizado (Moysés, 1996).
Portanto Projeto pedagógico é uma proposta de trabalho que descreve
um conjunto de capacidades a serem desenvolvidas em uma dada clientela,
os referênciais a ela associados e a metodologia a ser adotada. A elaboração
de um Projeto pedagógico de uma Instituição deve ser um trabalho conjunto,
de equipe, com representantes da administração, corpo docente e discente,
ex-alunos, funcionários e comunidade.
12
Quadro 1
Comparação entre os elementos constitutivos dos marcos conceituais da prática odontológica
Marco Conceitual
Elemento Odontologia Científica Odontologia Integral
Objeto Indivíduo Coletividade
Visão Mecanicista Humanista
Orientação Biológica Ecológica
Tendência Especialização Equipe de saúde
Práticas alternativas Exclusão Inclusão
Tecnologia Incorporação acrítica Tecnologia apropriada
Ênfase da prática
Ações curativas
Integração das
atividades
promocionais,
preventivas e curativas
Controle Gestão tecnocrática Participação
comunitária
Fonte: Mendes, 1988 .
13
Quadro 2 As concepções de odontologia, conforme o que pretendem fazer e como fazê-lo, segundo texto de Narvai (1993)
Concepções/Ano O que fazer? Como fazer? Odontologia Sanitária
( 1952 -
Atender a saúde bucal da
comunidade
Especializando-se em S.
Pública, trata da S. Bucal
Odontologia Preventiva
( 1960 -
Aplicação eficiente da
ação preventiva, individual
e coletiva
Integrando conteúdos ou
disciplinas específicas nos
projetos pedagógicos
Odontologia Social
( 1960 -
Desenvolve conteúdos e
competências sociais da
odontologia, e do CD
Através de um
Departamento de Ensino
Odontologia Simplificada
( 1970 -
Ampliação da cobertura,
pela diminuição dos
custos, com a
racionalização e
simplificação
Complementando a
atuação da odontologia
científica ou flexneriana
Odontologia Sistemica
( 1980 -
Desenvolver abordagem
sistêmica do homem,
tendo a boca como núcleo
de partida e atuação
Reafirmando a
importância do odontólogo
na equipe de saúde e
igual poder de decisão
Odontologia Integral
( 1984 -
Desenvolver a atitude
preventiva, simplificação e
desmonopolização, para
a universalização da
atenção odontológica
Constituindo-se como
síntese da odontologia
flexneriana com a
odontologia simplificada
Saúde Bucal Coletiva
( 1988 -
Superar o discurso e a
prática de saúde bucal
restritos ao caráter
assistencial usados pela
odontologia
Politizando os agentes,
práticas de saúde
coletivas e desenvolver o
conceito coletivo
14
Neste estudo, Narvai (1993) discorreu sobre os diferentes modelos sem
definir o marco conceitual que os estava determinando, e sem relacioná-los com o
projeto pedagógico correspondente.
Portanto o ensino de odontologia e da clínica integrada, da mesma forma
que esta submetido aos valores sociais identificáveis através dos marcos
conceituais da prática médica e odontológica, como visto em Mendes (1998),
também estará submetido, ou sob influência, dos valores e ideologias
encontradas na prática pedagógica, ou seja, daquela prática que diz respeito ao
ato pedagógico propriamente dito.
Mizukami (1986), em um estudo sobre as tendências do ensino que
tenham influenciado os professores do Brasil, utilizou-se de uma classificação,
segundo a abordagem, definindo cinco linhas pedagógicas, a saber: tradicional,
comportamentalista, humanista, cognitivista e a sócio-cultural.
Por sua vez, Bordenave & Pereira (1984) relatam que um currículo pode
receber diferenciadas orientações as quais podem ser de natureza psicológica,
sociológica, cultural ou tecnológica. Esta percepção aponta para enfoques
curriculares de orientação cognitivista, de reconstrução social e de auto
realização. O julgamento perceptivo dos professores indica uma preferência para
orientações curriculares mais renovadoras, humanísticas e sociais, confirmando
dados de literatura onde este tipo de preferência estava associado a uma prática
onde predominavam as posturas tradicionais e conservadoras.
4 – OBJETIVOS DO ENSINO ODONTOLÓGICO
O objetivo deste trabalho será pesquisar o Ensino Odontológico e a sua
Trajetória no Cenário Nacional e Internacional, apresentando a evolução histórica
e os fatos de destaque ocorridos durante determinados períodos da história e o
aparecimento e evolução da Disciplina de Clínica Integrada no Brasil, como
matéria profissionalizante, conforme Resolução do Conselho Federal de
Educação em vigor desde 1982, nos projetos pedagógicos dos Cursos de
15
Odontologia. Estes dados servirão como subsídios que serão utilizados como
referencial teórico na construção do conteúdo programático do Seminário que
será apresentado no Mestrado Interinstitucional de Clínica Integrada USP-
FO/UFPA-CO, para crédito na disciplina de Metodologia do Ensino em Clínica
Integrada, Coordenada pelo Profº Dr. Nicolau Tortamano, ministrada em Belém do
Pará no período de 21/22/23 de Novembro de 2001.
Os Cursos de Odontologia deverão se inserir nas ações da universidade,
baseando suas atividades no ensino, pesquisa e extensão. Em muitas situações
estas atividades se interpenetram impossibilitando distinguir quando se está
fazendo uma ou outra; em outras é possível distinguí-las com clareza.
Os Cursos de Odontologia deverão desenvolver em seus alunos um
conjunto de habilidades e o domínio de um conteúdo mínimo. Com base na
experiência das definições de perfil e de conteúdos da Resolução no. 4 de
03/09/1982 do Conselho Federal de Educação e das recentes definições de perfil,
objetivos e habilidades efetivadas pela Comissão do Exame Nacional de Cursos
para Odontologia, foram definidos habilidades e conteúdo que deverão se
articular para a formação de um perfil de egresso que atenda aos objetivos do
curso.
O currículo terá uma base nacional comum, a ser complementada pelas
IES, por uma parte diversificada capaz de refletir a experiência de cada instituição
e as imposições do quadro regional em que se situa..
Tem-se, necessariamente, entre os objetivos do curso:
1. incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da
cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive;
2. promover a divulgação de conhecimentos técnicos, científicos e culturais
que constituem patrimônio da Humanidade e comunicar o saber através do
ensino, das publicações e de outras formas de comunicação;
3. suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento profissional e cultural e
possibilitar a correspondente concretrização, integrando os conhecimentos
16
que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
conhecimento de cada geração;
4. estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular
os nacionais e regionais, prestar serviços específicos à comunidade e
estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
5. promover a extensão, aberta à participação da população, visando a
difusão das conquistas e benefícios resultantes da pesquisa científica e
tecnológica e da criação cultural geradas na instituição.
4.1- Projeto Pedagógico:
Projeto pedagógico é uma proposta de trabalho integrado que descreve um
conjunto de capacidades a serem desenvolvidas em uma dada clientela, os
referenciais a elas associados e a metodologia a ser adotada. As capacidades
compreendem dimensões cognitivas (raciocínio/memória), afetivas
(valores/atitudes) e psico-motoras (condicionamentos/habilidades), consideradas
em suas inter-relações e em níveis progressivos de detalhamento. O projeto
pedagógico corresponde a uma necessidade de formação do sujeito pelo
desenvolvimento de capacidades relevantes para sua atuação na sociedade.
Implica, pelo menos, em uma dimensão cognitiva (conhecimento/raciocínio) e
uma dimensão moral (ética). Envolve a capacitação nas dimensões profissionais
e de cidadania.
O projeto pedagógico do curso de Odontologia, adaptando-se à realidade
do ensino superior, deverá:
- Estabelecer com clareza aquilo que se deseja obter como um perfil do
profissional integral; na sua elaboração, substituir a decisão pessoal pela coletiva.
Deverá explicitar como objetivos gerais: a definição do perfil do sujeito a ser
formado, envolvendo dimensões cognitivas, afetivas, psicomotoras, nas seguintes
áreas:
- formação geral: conhecimentos e atitudes relevantes para a formação
científico-cultural do aluno;
17
- formação profissional: capacidades relativas às ocupações correspondentes;
- cidadania: atitudes e valores correspondentes à ética profissional e ao
compromisso com a sociedade.
- aproximar o conhecimento básico da sua utilização clínica; viabilização pela
integração curricular;
- rever cargas horárias criando condições de tempo para pesquisas
bibliográficas e auto-aprendizagem; a eventual redução na carga horária diária
poderia ser compensada pelo aumento da duração do ano letivo;
- utilizar metodologias de ensino/aprendizagem, que permitam a participação
ativa dos alunos neste processo e a integração dos conhecimentos das
ciências básicas com os das ciências clínicas e, instituir programas de
iniciação científica como método de aprendizagem;
- flexibilizar o currículo para possibilitar o aprofundamento da aprendizagem
sobre assuntos específicos; viabilização pela oferta de elenco de disciplinas
optativas;
- avaliação anual sobre o curso, com consultas aos corpos docente e discente.
4.2- Perfil do profissional a ser formado
Como habilidades a serem desenvolvidas no curso, com base em reunião da
Organização Mundial de Saúde e do "Grupo de Estudos sobre Ensino de
Odontologia" (NUPES/USP), foram definidos:
* Nível de conhecimento e compreensão: o aluno deverá ser capaz de
demonstrar conhecimento e compreensão sobre:
- terminologia básica corrente da odontologia e de áreas correlatas;
- aplicação, integração e relevância dos princípios gerais das ciências médicas
e correlatas para a saúde bucal e para as doenças;
- características comuns dos distúrbios buco-maxilo-faciais e doenças;
18
- características das doenças e distúrbios buco-maxilo-faciais incomuns que
têm conseqüências potencialmente sérias;
- inter-relações entre doenças e distúrbios buco-maxilo-faciais e aquelas que
afetam outras partes do corpo;
- características das doenças e distúrbios buco-maxilo-faciais que podem ter
especial significância para comunidades específicas;
- inter-relação entre os efeitos de tratamentos específicos e inespecíficos à
Odontologia;
- as principais aplicações de especialidades da área da saúde e técnicas com
relação à saúde bucal;
- regras potenciais de odontologia e de pessoal para cuidados de saúde na
comunidade e suas responsabilidades éticas e médico-legais;
- a relevância para, e o impacto sobre saúde bucal, de políticas sociais,
ambientais e de saúde;
- o processo de investigação científica.
Tem-se, necessariamente, como perfil do egresso: profissional generalista,
com sólida formação técnica, científica, humanística e ética, orientado para a
promoção de saúde, com ênfase na prevenção de doenças bucais prevalentes.
Entretanto, é necessário desdobrar-se esse conceito e adequá-lo, em seus
detalhes, ao estudante que receberá a formação específica do curso, como
preparação para sua atuação profissional. Estamos cientes que essa atuação não
se restringirá aos grandes centros urbanos, mas também aos pequenos, seja
como autônomo, como prestador de serviços em: convênios, clínicas privadas ou
não, equipes multidisciplinares, saúde pública, com produtividade e qualidade.
O Cirurgião-Dentista deve atuar tendo como preocupação a promoção da
saúde bucal da população, num contexto onde embora exista um trabalho
preventivo, ainda é muito evidente a prevalência de cárie e doenças periodontais.
Dentro desse panorama, deve-se graduar um cirurgião dentista com formação
humanista, ética e científica, com conhecimentos, habilidades e comportamentos
que permitam decidir e atuar com segurança e propriedade na promoção da
saúde e na prevenção para atender às necessidades sociais, mas que não seja
19
um "operário da Odontologia", com mentalidade puramente tecnicista. Que seja
um profissional capaz de interagir com a sociedade e que tenha capacidade de
liderança e sensibilidade social. Que tenha uma vasta vivência clínica, com
técnicas sofisticadas de cura sustentada por uma sólida base em ciências
básicas. Que possa exercer a profissão em consultório privado, mas que se
adapte a equipes multidisciplinares e serviços socializados.
O graduando de Odontologia , com base no conhecimento básico e aplicado,
deverá para suas competências profissionais, desenvolver as seguintes
habilidades:
- colher, observar e interpretar dados para a construção do diagnóstico;
- identificar as afecções buco-maxilo-faciais prevalentes;
- desenvolver raciocínio lógico e análise crítica;
- propor e executar planos de tratamento adequados;
- realizar a proservação da saúde bucal;
- comunicar-se com pacientes, com profissionais da saúde e com a
comunidade em geral.
- trabalhar em equipes interdisciplinares e atuar como agente de promoção de
saúde;
- planejar e administrar serviços de saúde comunitária;
- acompanhar e incorporar inovações tecnológicas (informática, novos
materiais, biotecnologia) no exercício da profissão.
5 - O MODELO EM SI – CLÍNICA INTEGRADA
No caso da Odontologia, é em Baltimore, nos Estados Unidos, no ano de
1939, que é criada a primeira escola de odontologia do mundo. Configura-se a
partir daí, definitivamente, o modelo do “profissional liberal”, como uma prática
voltada para odonto (dente) e que é adotada por todos nós (Barros,1981-1982).
A prática odontológica no Brasil, derivada que foi da escola norte
americana, desenvolveu-se com base no profissional liberal, conforme os
20
modelos da prática individualizada, de grupo ou empresarial. Ideologicamente,
isto significa que o profissional é preparado no sentido de oferecer certos tipos de
trabalhos em troca de um pagamento determinado. Ele vende o serviço a quem
pode pagar. Por conseguinte, a produção de conhecimentos é determinada
socialmente, não por necessidades imediatas emanadas da estrutura social, mas
através da vinculação com os componentes políticos, ideológicos, econômicos,
que se institucionalizaram em torno da prática da odontologia. Nesse contexto, há
uma ligação orgânica entre o grande capital, a associação odontológica e as
universidades.
Esta ligação institucionalizou a Odontologia Científica que determinou
mudanças substanciais na conceituação do objeto da prática odontológica.
Ainda quanto ao modelo de prática odontológica verifica-se que o mesmo é
ineficaz, na medida em que não responde à resolução ou redução em níveis
significativos, dos problemas de saúde bucal da população e é ineficiente uma
vez que é de alto custo e baixíssimo rendimento. Tal modelo é de alta
complexidade e sua enfâse é no enfoque curativo. Outro aspecto crítico é a
inadequação no preparo de recursos humanos que em nível superior são
formados de maneira desvinculada das reais necessidades do país,
precocemente direcionadas para as especialidades, e totalmente dissociadas das
características dos serviços onde deverão atuar (Mendes sd., Mendes, 1981-
1982).
Esse último aspecto é evidenciado no processo do Ensino Odontológico e
da Clínica Integrada pela análise do modelo das ementas curriculares dos cursos
de graduação em Odontologia, onde as mesmas privilegiam o biologismo, a
sofisticação de técnicas e instrumentos, a quase exclusão dos determinantes
sociais e econômicos do processo saúde-doença, e uma acentuada fragmentação
dos conteúdos programáticos que praticamente inviabilizam que o aluno tenha
uma visão totalizante do indivíduo com o qual ele mantém a relação de paciente
profissional e o meio no qual ambos vivem enquanto sujeitos.
21
5.1- Estrutura e Abrangência
As concepções históricas e legais sobre as relações Estado/Universidades
identificam a educação como direito e o Estado como responsável pela educação
pública e pela universidade, em especial, preservando a rede pública federal e
reservando a esta primazia sobre a rede privada. A proposta de transformar a
humanidade em organização social, implícita no contrato institucional.
O artigo 207 da Constituição Federal estabelece que “ As universidades
gozam de autonomia didática-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial, e obedecendo ao princípio da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão (LDB, 1996).
Analisando o desenvolvimento da clínica integrada nas Faculdades de
Odontologia do Brasil, verificou-se que esta disciplina não esta adequadamente
estruturada para atingir o objetivo da formação do cirurgião-dentista, clínico geral,
e ressalta a necessidade de reavaliar conceitos, objetivos e estratégias
pertinentes a esta disciplina.
Pelo exposto evidencia-se a abrangência que a clínica integrada tem na
área do ensino odontológico, pois extrapola o ato terapêutico em si e a ação de
saúde, enquanto prática educativa se estabelece pelas relações entre sujeitos: do
cirurgião-dentista com os pacientes, profissionais da mesma ou de outras áreas e
as instituições, e em conseqüência assumindo sua função social.
Essa característica torna-a, portanto, diferente das disciplinas curriculares
tradicionais, em que o saber odontológico é ministrado por partes, fragmentado e
desintegrado, e define seu papel como estrutura intracurricular idealmente
antagônica às características e às tendências especializantes das demais
disciplinas clínicas, pois o aluno já deverá ter adquirido os conhecimentos e
habilidades de todos os pré-requisitos curriculares.
A definição de conteúdos, objetivos de ensino e filosofia para a estrutura e
abrangência da clínica integrada, deve respeitar e orientar-se pelas
determinações e objetivos do currículo pleno de cada Instituição. Porém, não
deve ignorar as Resoluções do CFE (Brasil, 1982), e as Recomendações da
22
ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico), em que se nota que a
disciplina de clínica integrada tem objetivos bastante amplos dentro do processo
ensino-aprendizagem. Deve também integrar os conhecimentos, habilidades e
valores adquiridos ao longo do curso, de modo a proporcionar ao paciente o
atendimento integral das necessidades evidenciadas.
Em síntese, nesses textos, denota-se que a clínica integrada é a disciplina
em que o aluno de graduação torna-se apto para o desempenho da clínica geral,
pois objetiva preservar a integridade da saúde bucal, procurando estabelecer nela
a responsabilidade pela formação social dos futuros profissionais da Odontologia
(Tortamano et al., 1995).
Assim sendo entendemos que a formação do aluno e a preparação do
futuro profissional não se completa exclusivamente com atividades curriculares
dentro da sala de aula, do laboratório e da clínica. Currículos plenos, com carga
horária extremamente excessiva impedem que o aluno freqüente a biblioteca,
tenha alguma vivência universitária extraclasse e desenvolva atividades como
estagiário, monitor e bolsista.
6- IMPLANTAÇÂO DA CLÍNICA INTEGRADA
Quanto a historicidade da disciplina de Clínica Integrada que era
considerada com estágio, é hoje, parte integrante do Currículo Mínimo do
Curso de Odontologia, como matéria profissionalizante, conforme Resolução
do Conselho Federal de Educação em vigor desde 1982, portanto adquiriu o
status de matéria, passando a organizar-se também na forma de disciplina.
A sua conformação enquanto processo de ensino/aprendizagem intra-
curricular, tem sido extremamente diversificada, adequando-se às propostas
de ensino de cada Instituição.
23
A diversidade encontrada nesta disciplina, é tal, que pode apresentar,
por exemplo, menos de 100 horas/aula em uma Instituição de Ensino
Odontológico (IEO) e mais de 1.100 horas/aula em outra.
Em consideração à esta diversidade, foi definida a utilização de
elementos teóricos externos a esta disciplina, de modo a permitir a realização
das análises pretendidas pelo MEC.
Os elementos considerados foram:
- os documentos normativos do ensino odontológico;
- os projetos pedagógicos em odontologia;
- as concepções sobre o enfoque curricular.
A Clínica Integrada, com toda sua diversidade já citada, tem se
constituído num amplo e real laboratório de ensino, e a compreensão desta
realidade, além de necessária, só poderá ser executada com o auxílio teórico
encontrado na abordagem interdisciplinar.
A partir de então, tem se observado a evolução da Clínica Integrada no
aparelho formador de recursos humanos de Odontologia com o objetivo de
constituir-se, de fato, em uma área do conhecimento odontológico
(Brasil,1982).
A indefinição conceitual e de conteúdo pode estar relacionada à pouca
expressão de produção científica na área da Clínica Integrada, quando
comparada com as demais matérias profissionalizantes.
Segundo Padilha (1994), ao estudar a evolução das propostas de
integração do ensino de clínica em Odontologia, demonstrou uma tendência
evolutiva nestas propostas, sendo, atualmente, característica desta tendência
a busca da eficácia no sentido social. Dentre as propostas de integração o
autor destaca a importância da Clínica Integrada como momento de síntese e
avaliação do conhecimento do ensino de odontologia, por constituir-se num
24
processo de ensino privilegiado pela mediação da prática em seu sentido mais
amplo.
Os estudos citados, indicam cada um a seu modo, que a Clínica
Integrada, tem tentado encontrar o seu lugar e o seu papel, como parte que é
do ensino odontológico, na busca da qualidade e do compromisso social da
profissão do Cirurgião-Dentista.
6.1- A aplicabilidade e as experiências das diversas instituições.
A disciplina de clínica integrada que era considerada como estágio, é hoje,
parte integrante do Currículo Mínimo do Curso de Odontologia como disciplina
profissionalizante, conforme Resolução do Conselho Federal de Educação em
vigor desde 1982.
A formação de dentistas tem tradicionalmente envolvido uma grande
parcela do tempo voltada para o atendimento de pacientes. Assim sendo, a
procura, por parte dos pacientes, de clínicas integradas de instituições de ensino
é extremamente importante.
Por sua vez, Mendes (1981) relata que os serviços prestados existem
como resposta cultural a uma necessidade básica de saúde oral e funcionam
dentro de um sistema que está contínua e automaticamente se ajustando de
acordo com as necessidades da sociedade.
As experiências da disciplina de clínica integrada em diversas instituições
de ensino odontológico, de maneira geral corresponde a uma estruturação a partir
de macrodisciplinas de complexidade crescente organizadas segundo problemas
nosológicos e biológicos, com quatro clínicas sendo a última equivalente à clínica
integrada.
Na Universidade Gama Filho/RJ, o aluno ao ingressar na clínica realiza
atividades de menor complexidade, buscando resolver as necessidades dos
pacientes, desenvolvendo suas habilidades e conhecimentos e progredindo para
as clínicas subseqüentes onde são exigidos níveis mais complexos de
25
intervenção. Deste modo, esta proposta eliminou a estrutura montada a partir das
disciplinas clássicas e configurou um modelo de currículo integrado.
No Departamento de Odontologia da PUC/MG, a estruturação curricular
iniciou com a caracterização dos problemas de saúde prioritários: cárie, doenças
periodontais, lesões tumorais neoplásicas e não neoplásicas e má-oclusões.
Como respostas a esses problemas, foram organizados, sob a forma de
disciplinas-projeto os modelos de intervenção integrados e definidas a clientela
(número de alunos) e a duração do curso. O modelo de disciplina-projeto é
explicado como sendo a organização de todos os conteúdos a cada problema em
uma única disciplina.
A Universidade Estácio de Sá, desenvolve a implantação de um modelo
inovador de ensino no Curso de Odontologia. O eixo do modelo é uma estrutura
curricular onde o aluno se desenvolve por módulos e um único módulo de cada
vez, com dedicação integral, pretendendo integrar “ as matérias básicas entre si;
as matérias básicas pré-clínicas com as clínicas; as disciplinas
profissionalizantes; o estudante com a comunidade”. Parte da estrutura curricular
é utilizada em atividades de grupo como estudo dirigido e seminários.
Na Universidade de São Paulo, desde 1970, a disciplina de Clínica
Integrada, tem por finalidade permitir o aprimoramento do conhecimento obtido
pelos alunos nas diversas disciplinas curriculares anteriormente cursadas, bem
como trazer informações que complementem conhecimentos, de forma tal que o
aluno seja capaz de diagnosticar, planejar, executar, prognosticar e auxiliar, de
forma global os procedimentos de reabilitação da saúde bucal, adequando-os às
condições sócio-econômicas da comunidade. Ainda, do ponto de vista de
orientação e formação dos alunos procura também priorizar a seqüência da
terapêutica odontológica nos diversos procedimentos clínicos (Tortamano et al,
1995).
Inicia-se pelas etapas de resolução dos casos de urgência e após promove
as fases do preparo bucal com planejamento, execução e avaliação dos
tratamentos cirúrgicos, periodontal e endodôntico integrados, preparando e
habilitando os pacientes a etapas posteriores do tratamento. Realiza, também, o
planejamento, execução e avaliação das fases de reabilitação bucal propriamente
26
dita, através de restaurações dos elementos dentários com materiais diversos,
próteses fixas e/ou removíveis nos edentados parciais e próteses totais nos
edentados totais. De acordo ainda com as necessidades dos pacientes, fornece
treinamento para planejar, executar e avaliar a reabilitação bucal pela integração
e associação dos procedimentos protéticos ( prótese parcial removível associada
à prótese parcial fixa e/ou total). (Tortamano et al., 1995).
O aprendizado teórico-prático já estabelecido nas disciplinas básicas e
clínicas do currículo não deve sofrer distorções. Para isso, a disciplina de Clínica
Integrada procura aglutinar, homogeneizar esses conhecimentos já adquiridos,
desenvolvendo no aluno os aspectos cognitivos, psico-motores e afetivos
necessários para a sua formação e atuação como clínico geral de acordo com a
realidade sócio-econômica do País.
No Estado do Pará, a disciplina de Clínica Integrada foi introduzida em
caráter experimental em 1999 e implantada através da lâmina intermediária ao
currículo do novo Projeto Pedagógico em 2001 por Resolução da UFPA. O novo
Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia da UFPa, segundo orientação do
CFE, é constituído de dez semestres, cinco anos de duração e com as disciplinas
dispostas obedecendo a organização modular, com carga horária prevista de
4.624 horas em regime seriado semestral, com dupla entrada para os 90 alunos.
O Projeto Pedagógico tem uma rede de atividades curriculares baseada nas
05 alterações do sistema estomatognático: cárie, periodontopatias, maloclusões,
alterações morfológicas do sistema estomatognático e lesões neoplásicas e não
neoplásicas.
A rede de atividades curriculares do Curso está constituída de 22 disciplinas,
incluindo-se atividades extra-muro e atividades complementares (TCC),
distribuídas em 5 fases:
Fase I: Condições Morfofuncionais e suas Alterações, com Variável Social
Fase II: Ações Integradas de Propedêutica e Promoção de saúde
Fase III: Odontologia Restauradora Pré-Clínica
Fase IV e V: Ações de Atenção Integral (Clínica Odontológica)
Nas fases IV e V (7º ao 10º semestre), o discente deverá aplicar os
conhecimentos adquiridos anteriormente no paciente adulto de forma integrada
27
(Clínica Odontológica I,II,III e IV), desde a fase de diagnóstico, triagem dos
pacientes, atendimento clínico até o serviço de urgência e emergência. Nesta fase
o discente deverá também realizar atendimento a pacientes infantis, em Clínica
Odontopediátrica Integrada I,II,III e IV. Na disciplina de Odontologia em Saúde
Coletiva, serão estudadas o sistema de saúde, planejamento, organização e
administração de serviços de saúde e Odontologia Legal. Nas disciplinas de
Integração Multidisciplinar VII e VIII, farão módulos integrados de Planejamento
em Serviço de Saúde e em Clínica Integrada. Os estágios extra-muros I e II
levarão o discente a conhecer os serviços odontológicos em outras instituições e
em Unidades de Saúde. As atividades complementares I e II dizem respeito a
elaboração e defesa do TCC.
A avaliação é definida como um “acerto de contas do débito pedagógico,
contraído pelos alunos à medida que os conhecimentos lhe são transmitidos” .
A Universidade Estadual de Maringá (UEM) em seu currículo adota o marco
conceitual que leva em conta o contexto sócio-econômico e político do país, a
situação epidemiológica, a realidade dos serviços e a do exercício profissional, ou
seja, deve desenvolver-se através de um sistema tutorial de orientação
acadêmica com base sólida de um processo integrado didático-pedagógico,
simultaneamente com teorias e práticas básicas, laboratórios, clínicas, sociais e
humanísticas, organizados em tópicos que obedecem á especificação dos
objetivos, tarefas ou atividades para a consecução dos objetivos e avaliação
diagnóstica formativa e somática. A cada Unidade de Ensino (UE) corresponderá
um conteúdo programático definido com características de flexibilidade.
Deste, modo, a Clínica Integrada, reconhecida como um fenômeno concreto
do ensino odontológico no Brasil, com características objetivas e situação
evolutiva, possue uma existência formal como componente do currículo
odontológico pleno, respectivo para cada Curso de Odontologia das IEOs no
Brasil.
Existem situações específicas e formais na disciplina de Clínica Integrada,
tais como:
- a presença da Clínica Integrada no currículo;
- sua forma de apresentação;
28
- a denominação utilizada;
- os semestres do Curso em que a disciplina é oferecida;
- as disciplinas e/ou departamentos que a integram;
- a carga horária e como está distribuída;
- o conceito de Clínica Integrada;
- a filosofia de trabalho adotada;
- a existência de regulamento ou normas próprias;
- a existência de plano de ensino;
- integração de funções educacionais;
- metodologia de ensino;
- natureza do pessoal docente;
- relacionamento professor/aluno;
- métodos de avaliação utilizados;
- enfoque dominante no currículo;
- se a formação do aluno atende as necessidades da comunidade.
Nas Universidades Internacionais os modelos buscam na maioria uma
articulação programática com o sistema de saúde e integração com a população
através de projetos comunitários, além de integrações com instituições de saúde.
Em 1993, em uma Conferência em Edimburgo, na Inglaterra, recomendou-
se:
- Integração do processo educacional com o cenário da prática
odontológica.
- Preparação educacional para a transição demográfica da área de
saúde.
- O cenário para aprendizagem deveria ser o ambiente do mundo real.
- Compromisso da Universidade com a Educação baseada nas
necessidades da comunidade, com ênfase para o ensino clínico (clínica
integrada intra e extra-muro) baseando-se na saúde coletiva.
Este cenário, sem dúvida, pode favorecer melhores condições de atuação
do aluno e no seu futuro desempenho como profissional através do exame,
diagnóstico, planejamento e plano de tratamento de ações preventivas,
educativas e curativas em todos os níveis de atuação de saúde.
29
7- AS VANTAGENS E OS PROBLEMAS OBSERVADOS Diante da Resolução nº 04 de 03 de Setembro de 1982 do Conselho
Federal de Educação, que determinou o Currículo Mínimo de Odontologia no
Brasil, tornando obrigatório a matéria de Clínica Integrada, com a duração mínima
de 01 semestre letivo, existe uma grande divergência sobre denominação,
conteúdo, carga horária abrangência na grade curricular, se é disciplina ou
estágio, administração, avaliação, corpo docente. E se a caracterização
conceitual que enfatiza o adestramento por meio de prática, contém ou não uma
proposta de integração de conhecimentos.
Em estudos recentes a maioria dos currículos avaliados não estavam de
acordo com os propósitos do CFE referente ao ensino da disciplina de Clínica
Integrada.
Tempo utilizado, diferença entre hora-aula/teoria e hora aula/prática, com
predomínio da carga horária para aulas teóricas, portanto descaracteriza Clínica
Integrada como disciplina., com uma grande concentração nas áreas de Prótese,
Cirurgia, Dentística, Endodontia e Periodontia, portanto não está de acordo com a
recomendação da ABENO, a Clínica Integrada é um sistema educacional através
do qual o processo ensino-aprendizagem, desenvolvido sob forma de disciplina,
objetiva treinar o aluno a integrar conhecimentos, habilidades e valores adquiridos
ao longo do curso, de modo a proporcionar ao paciente no atendimento global das
necessidades evidenciadas ( Tortamano et al, 1995).
Outras observações apresentam que não existe definição e consenso entre
as IEOs sobre o conceito de clínica Integrada, sendo que não possuem
orientação filosófica própria e orientação preventiva sem perfil integracionista.
Também não existe na maioria uma organização didática, portanto as Clínicas
Integradas visam dar ao futuro profissional vivência clínica com a finalidade de
que o mesmo possa diagnosticar, planejar, executar e auxiliar casos clínicos,
promovendo o êxito da integração clínica, dentro da interação curricular.
30
8- AVALIAÇÃO DO MÉTODO O conceito de avaliação de que se trata nas IEOs, é de julgamento de valor
que se efetiva por uma pessoa que dirige o processo de aprendizagem dos
estudantes, geralmente o professor. Essa pessoa interage durante um tempo
institucionalizado com outras pessoas, seus parceiros na busca de um saber
estruturado. Esse processo de conquista é dinâmico, entre pessoas que têm alvos
comuns de ação, mas estratégias individuais para atingi-las.
Em nossa opção teórica, o professor é aquela pessoa que se apaixona por
uma área de conhecimento, a ponto de necessitar comunicá-la; e os estudantes
são pessoas que delineiam cada um o seu enigma, a partir do qual se sentem
desafiados no processo extremamente exigente da cognição. Alguns trabalham
com um conceito de avaliação como coleta de informações para subsidiar a
tomada de decisões. Portanto concebe a avaliação da aprendizagem como
determinação do grau em que os objetivos de um programa são atingidos.
Consiste em uma definição o mais clara possível dos objetivos do ensino, seguida
de uma comparação o mais detalhada possível entre os resultados ou evidências
de aprendizagem e esses objetivos.
Diante do sistema de ensino odontológico no Brasil e da inserção da
disciplina de Clínica Integrada nos currículos, podemos afirmar que há uma
situação de aprendizagem quando um sujeito mobiliza uma ou mais capacidades,
fazendo com que entrem em interação com suas competências. A atividade que
ele desenvolve pode então ser chamada de estratégia. É uma atividade pessoal,
referida à sua própria história; é também uma afinidade finalizada, através da qual
constrói novos saberes, integrando, por uma série de relações sucessivas, a
dificuldade ao habitual, o estranho ao familiar, o desconhecido a o conhecido.
Este processo é ele próprio integrador, ou seja, uma aquisição na ordem das
competências ou das capacidades serve de ponto de ancoragem para
desenvolver novas estratégias e permitir novas aquisições ( Meirien, 1998).
A disciplina de Clínica Integrada pode ser avaliada nas proposições:
31
- na integração, quando a intenção da disciplina se norteia pela
expectativa de aproximar, reunir conhecimentos, práticas, setores ou
partes relacionadas aos processos de ensino como um todo e não
necessariamente especificadas;
- no progmatismo, quando a intenção que orienta a disciplina é dar conta
das atividades, a ela atribuídas, da melhor maneira possível, sem no
entanto ultrapassar este referencial.
- na prevenção, quando a orientação principal da disciplina envolve
valores e procedimentos relacionados com a manutenção da saúde.
- No humanismo, quando a orientação principal envolve uma
preocupação com o desenvolvimento do homem, atingindo uma
amplitude que ultrapassa sua formação profissional.
O ensino odontológico no Brasil, com a inserção da disciplina de clínica
integrada, avaliado através da filosofia, conceito e resultados no momento atual,
permite afirmar que:
- Existe integração de conhecimentos técnicos/científicos para a
integralização de valores cognitivos/psicomotores(habilidades) e
afetivos(valores).
- Existe integração de conhecimentos com práticas centradas em
algumas disciplinas predominantementes.
- Existe uma preocupação com a formação do cirurgião-dentista clínico
geral com filosofia preventiva e visão holística do paciente.
- Ênfase no ensino e na prática de reabilitação oral com predominância
prática de carga horária.
- Ênfase na preparação para o mercado de trabalho e para a atuação na
comunidade.
- Corpo docente improvisado por especialistas, sem serem formados
como clínicos gerais, com enfoque de Clínica Integrada, provocando
uma prática de especialidades na Clínica.
- Adequação do espaço físico com ambiente inadequado exigido para a
clínica.
32
- Falta de critérios para avaliação do processo ensino-aprendizagem na
clínica.
Assim sendo, podemos afirmar que a aglutinação e homogeneização dos
conhecimentos já adquiridos nas diversas disciplinas básicas e clínicas do
currículo acaba refletindo a própria filosofia de ensino da instituição. Hoje a
disciplina de Clínica Integrada tem um papel fundamental e adequado no
processo de ensino odontológico no Brasil e é a mais adequada no sentido de
que o aluno alcance a competência clínica necessária para o exercício da clínica
odontológica como profissional.
Que significa avaliar ? Do ponto de vista moderno, a avaliação foi o meio
de que se valeu a escola para saber se os objetivos do ensino, tal como
planejados, foram atingidos em relação ao aluno. O sistema de ensino, tem na
avaliação seu motor processual, isto é, o elemento dinâmico que garante, nas
duas pontas, a entrada e a saída do sistema e, no meio o fluxo entre suas fases.
As notas, reprovação, aprovação, a evasão, são fenômenos resultantes da
avaliação que alivia o sistema de seus excessos de carga, permitindo a
renovação e ocupação de suas vagas.
9- AS POSSÍVEIS CORRELAÇÕES COM O MODELO DE ENSINO ODONTOLÓGICO NO BRASIL Na revisão da literatura sobre os modelos de ensino Internacional e
Nacional, e os vários tipos de currículos com conteúdos inseridos por matérias,
disciplinas e interação de ensino, pesquisa e extensão compreendem um contexto
comum no objetivo de formação de cirurgiões-dentistas.
O pressuposto ideológico é a lógica do mercado, que transforma a
universidade em centro de reprodução acrítica da ciência e da tecnologia. Essa
adesão ao desenvolvimento alicerçada na lógica do mercado verifica-se com
muita clareza nos seguintes pontos comuns:
33
- produção de conhecimentos e técnicas em função das demandas do
mercado;
- concepção de ensino como adestramento;
- busca, no mercado científico internacional, de lideranças em pesquisa
e, obsessiva e exclusivamente, de padrões internacionais de
julgamento;
- envio, aos países centrais, de lideranças científicas potenciais
(conseqüentes, estímulos à evasão de cérebros);
- estabelecimento de intercâmbios isolados com núcleos de excelência
científica dos países e estados altamente desenvolvidos;
- arremedo de laboratórios de ponta ( de ponta nos estados e/ou países
de primeiro mundo).
A hipótese fundamental é que educação não deve perder tempo em temer
a modernidade. Deve procurar conduzi-la e ser-lhe sujeito histórico. Nesse
sentido, modernidade na prática, coincide com a necessidade de mudança social,
que a dialética histórica apresenta na sucessão das fases, onde uma leva a
outras.
Durante este seminário poderemos perceber que alguns modelos
educacionais e estratégias educacionais, com experiências internacionais serão
enfocadas e referenciadas ao modelo de ensino odontológico no Brasil como
pontos de destaque vamos ouvir:
- A educação odontológica baseada em evidências.
- A educação odontológica baseada em atenção odontológica ampla.
- A educação baseada em competências.
- A educação baseada em problemas.
- A educação odontológica baseada no atendimento clínico da
comunidade.
A Associação Americana das Escolas de Odontologia tem como uma de
suas prioridades o incentivo de programas de residências. Existe grande apelo ao
aperfeiçoamento profissional. Com modelos de ensino com atividades fora do
Campus. Outra característica comum entre Universidades é o modelo inovado,
onde o aluno, o professor e outros envolvidos como por exemplo os pacientes, a
34
comunidade, os auxiliares e demais profissionais, estão engajados na resolução
de problemas, tratando de transformar o objeto em algo conhecido e adequado as
expectativas do grupo.
O cenário das Instituições de Ensino Odontológico com a globalização
permite uma troca mais rápida de experiências e percebe-se que no momento a
educação em saúde como mecanismo e estratégia de transformação da
realidade, onde sua prática, na relação paciente-profissional no mundo, deve ser
transformadora, facilitadora e libertadora:
- Transformadora na medida em que ao desenvolver uma consciência
crítica e estar comprometido com a população à qual assiste, visa a
promoção da saúde associada à idéia de saúde à transformação social.
- Facilitadora à medida que proporciona ações participativas que levem
ao planejamento, fiscalização, acompanhamento e avaliação do serviço
de saúde, questionando inclusive o próprio papel da universidade na
comunidade em que a mesma está inserida.
- Libertadora à medida que tal profissional de saúde é capaz de
reconhecer sua prática como dialógica, numa relação sujeito-sujeito,
num processo onde sujeito e objeto se confundem, transformando ao
mesmo tempo que é transformado.
Refletir sobre inovações pedagógicas no ensino superior, necessariamente
nos encaminha à questão do projeto político-pedagógico, como aquele que
enfatiza a organização curricular, confere-lhe organicidade e permite que suas
ações adquiram relevância. O projeto político-pedagógico de um curso ( qualquer
que seja) terá que fazer opções, definir intencionalidade e perfis profissionais,
decidir sobre os focus decisórios do currículo (objetivos, conteúdos, metodologia,
recursos didáticos e avaliações), analisar as condições reais e objetivas de
trabalho, otimizar recursos humanos, físicos e financeiros, estabelecer e
administrar o tempo para o desenvolvimento das ações, enfim, coordenar os
esforços em direção a objetivos e compromissos futuros.
35
10- COMENTÁRIOS FINAIS De acordo com o presente estudo, julga-se importante destacar que :
- A educação é dever do Estado e direito do cidadão, pois sendo
concebida como valor social, reflete-se como instrumento da sociedade
para efetivar o processo de formação e construção da cidadania;
- Avaliar é um ato extremamente complexo, cuja responsabilidade não é
competência única do professor, mas sim de todos os elementos
integrantes do processo educacional;
- O centro da inteligência é aprender a aprender, saber pensar, ser crítico
e analítico;
- Espera-se que a Clínica Integrada corrija algumas distorções no ensino
odontológico, como a especialização precoce e o uso desnecessário de
tecnologia;
- Deve-se formar um Cirurgião-Dentista com habilidades de aplicar
princípios biológicos, técnicos e éticos para resolver os problemas das
doenças buco-dentais;
- Deve-se formar um Cirurgião-Dentista clínico geral voltado para os
problemas de saúde bucal, com filosofia preventiva e social, apto e
conscientizado para atuar na sua comunidade, integrando-se às
atividades das outras profissões da área de saúde;
- O CD deve ser não só um profissional com sólida formação técnico-
científica, mas também um agente de saúde dotado de espírito crítico e
consciente de suas responsabilidades face à realidade do meio social
onde atua;
- O aluno aparece como um elemento de análise, onde sua característica
é ser atuante no processo de planejamento educacional e de interação
das práticas de Clínica Integrada;
36
- Os processos de ensino, dentro do enfoque da reconstrução social, são
diversificados, devendo garantir a interação social e o debate do aluno
com a comunidade acerca de seus problemas;
- Para o enfoque curricular de reconstrução social, o produto principal é a
integração do aluno num programa de transformação na estrutura da
sociedade;
- É fundamental colocar o aluno e o professor em sintonia com a
sociedade de seu tempo e capacitá-lo para interagir com as mudanças
que estejam ocorrendo nela;
- A Clínica Integrada está se consolidando como parte integrante dos
currículos odontológicos, por meio de sua estruturação como disciplina
e da inclusão do paciente e suas necessidades como parte de seus
objetivos;
- Existe predominância do modelo pedagógico inovado na Clínica
Integrada e nos Cursos de Odontologia, sendo este predomínio mais
evidente na Clínica Integrada;
- A Universidade apresenta o relevante papel de procurar integrar a
formação técnico-profissional, com uma formação moral e de
relacionamento humanístico, capaz de ampliar o conhecimento dos
alunos e neles infundir um novo compromisso social;
- O envolvimento da clientela das clínicas integradas é algo desejável,
tendo em vista a ampliação do uso, a melhoria da qualidade de tais
serviços e principalmente, níveis mais altos de satisfação;
- A qualidade se avalia pelos resultados na sociedade e reflete a eficácia
social da Instituição Universitária;
- A sociedade considera de qualidade o atendimento odontológico
prestado pelos alunos, bem como a assistência oferecida pelos
professores da Clínica Integrada;
- A universidade, como instituição social, tem incorporado, ao longo do
tempo e em diferentes contextos, funções diversas. São atribuídas à
universidade as funções de produção, de transmissão e de extensão do
37
saber, sendo o ensino a função tradicional, pois se consubstancia na
transmissão de conhecimentos;
- A universidade tem, ainda, a função de socializar o saber que produz e,
desta forma, é também responsabilizada pela integração social dos
indivíduos;
- Há necessidade de se pensar institucionalmente em maneiras de se
buscar oferecer maiores transformações sociais, deixando de lado
apenas e tão somente o oferecimento da atenção técnico-artesanal de
qualidade;
- A qualidade técnica dos serviços prestados na disciplina de Clinica
Integrada é perfeitamente confundida com o grau de satisfação do
paciente, ao ser tratado com afetividade;
- Estão sendo experimentados vários modelos de atenção odontológica
como prática de ensino em diversos países do mundo, tendo com
objetivo a melhoria do processo ensino-aprendizagem, com abordagem
que favoreça a prática coletiva com integração de clínicas;
- É importante que uma faculdade (disciplina de Clínica Integrada), além
do ensino, considere também o paciente, não como um “material de
ensino”, mas como um usuário de um serviço que ela oferece
(avaliando suas necessidades e tentando oferecer um serviço
satisfatório);
- Apesar dos pontos-favoráveis recebidos pelo nível de atendimento
satisfatório aos usuários das clínicas, as divergências e as diferenças
de resultados encontrados, permitem inferir que em algumas IOEs, de
maneira geral, a Clínica Integrada não está adequadamente estruturada
para atingir o objetivo da formação do cirurgião-dentista clínico geral,
sendo necessária uma reavaliação de conceitos, objetivos e estratégias
inerentes a essa disciplina, de modo a obter-se uma reestruturação
coerente com a sua proposta;
- Urge, portanto, repensar o papel social da educação superior,
possibilitando uma reflexão-ação, sobre a finalidade da educação e o
papel da universidade pública como instituição social.
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- Esta ação deve ser a expressão da mobilização da sociedade civil e da
sociedade política, de modo a permitir o estabelecimento de diretrizes e
metas para a educação nacional como um decisivo instrumento de
defesa do ensino público, gratuito e de qualidade.
- Na clínica integrada o educador passa a ser o educador
problematizador, que desafia os educandos que são agora
investigadores críticos, permeados por constantes diálogos, pois a
educação como prática de liberdade deve negar o conceito de
isolamento e abstração do ser humano, assim como tornar o mundo
uma presença constante em seu diálogo.
Segundo FREIRE (1987), “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, ou seja, a
educação problematizadora e como prática de liberdade, exige de seus
personagens uma nova concepção de comportamento. Ambos são educadores e
educandos, aprendendo e ensinando em conjunto, mediatizados pelo mundo.
39
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