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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE O ENSINO SUPERIOR NO SÉCULO ATUAL MARIA MAGDALENA SIMMER CADEI ORIENTADOR PROFª DIVA NEREIDA MARQUES MACHADO MARANHÃO RIO DE JANEIRO Março/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

O ENSINO SUPERIOR NO SÉCULO ATUAL

MARIA MAGDALENA SIMMER CADEI

ORIENTADOR PROFª DIVA NEREIDA MARQUES MACHADO MARANHÃO

RIO DE JANEIRO Março/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

O ENSINO SUPERIOR NO SÉCULO ATUAL

MARIA MAGDALENA SIMMER CADEI

Trabalho Monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau em Docência Superior

MARÇO / 2004

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AGRADECIMENTOS

Aos meus mestres da UCAM, pelos preciosos ensinamentos. Aos colegas e amigos da classe, pela troca de experiência e afeto. À Professora Orientadora, Diva Nereida, pela gentileza e atenção.

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Aos meus filhos e marido companheiros de todas as horas, pessoas que amo. Que nosso lar abrigue harmonia, respeito, paz, prosperidade e saúde para nossa família, sob a benção de Deus.

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“caminhar com sentido significa, antes de mais nada, dar sentido ao

que fazemos, compartilhar sentidos, impregnar de sentido as práticas

da vida cotidiana e compreender o sem sentido de muitas outras

práticas que aberta ou solapadamente tratam de impor-se”.

Francisco Gutiérrez

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SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ....................................................................................... 09

2. O ATUAL CENÀRIO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL............. 13

3. UMA NOVA OPÇÂO DE ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL

PARA O ENSINO SUPERIOR – CENTROS UNIVERSITÁRIOS....... 23

4. A METAMORFOSE DAS UNIVERSIDADE PÚBLICAS

A BUSCA DE UMA IDENTIDADE....................................................... 34

5. A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA.................................................. 43

6. O SISTEMA E A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DO ENSINO

SUPERIOR NO BRASIL..................................................................... 50

7 . CONCLUSÃO..................................................................................... 63

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RESUMO

A demanda pela educação superior no Brasil está crescendo de forma vultuosa em face

da conscientização de sua fundamental importância no que toca ao desenvolvimento

sócio-cultural, mercado de trabalho, ...

O presente trabalho versa sobre os caminhos do Ensino Superior no Brasil, após a

promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996. Pois a partir

deste momento os sistemas de ensino tiveram seus papéis redefinidos bem como as

responsabilidades dos variados níveis educacionais – básico e superior – conferindo

maior autonomia às instituições de ensino superior.

As mudanças no ensino superior estão sendo observadas, especialmente no que toca à

expansão do sistema e sua melhoria, o programa de avaliação das graduações, a

autonomia das instituições de ensino superior e a urgente reforma universitárias.

Assim, no primeiro capítulo descrevemos o atual cenário do ensino superior,

enfatizando o processo de reorganização do sistema educacional brasileiro após nova

legislação, em seus cursos e programas , através das classificações das IES e quanto à

organização acadêmicas e categorias administrativas.

Dentre as novas opções de organização institucional dedicada ao ensino superior

dedicamos o segundo capítulo a estudar os Centros Universitários – um novo modelo

organizacional. Abordando seus aspectos legais, pedagógicos e administrativos, bem

como, a autonomia a eles concedida. Também abordamos a associação criada para

atender especificamente para atender tipo de organização.

A reestruturação no campo universitário e o processo de ajustamento e as atuais

políticas de reorganização das universidades públicas buscando contribuir criticamente

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para a construção de uma universidade pública, democrática, autônoma e de qualidade

no nosso país – são abordados no capítulo terceiro.

Como abordar tantas mudanças e não discutir a polêmica autonomia das IES. Tal

estudo, se faz no capítulo quarto, delineando os reais limites para as entidades privadas

e públicas.

E, finalmente, no quinto capítulo são analisados a política e o sistema de avaliação do

ensino superior no Brasil, evidenciando a centralidade da avaliação na reestrutura deste

nível de ensino e as novas medidas a serem implantadas.

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1. INTRODUÇÃO

Educação é um dos temas mais marcantes de uma sociedade e dos mais complexos e

polêmicos. Isso se deve grandemente às expectativas de “transmissão” que cada

civilização depositou e continua a depositar na educação, por ver nela a maneira de

perpetuar-se a si mesma.

O ensino superior é, em qualquer sociedade, um dos motores do desenvolvimento

econômico e, ao mesmo tempo, um dos pólos da educação ao longo de toda a vida do

ser humano. É, simultaneamente, depositário e criador de conhecimentos. Por outro

lado, é o instrumento principal de transmissão de experiência cultural e científica

acumulada pela humanidade. Num mundo em que os recursos cognitivos, tornam-se

cada vez mais importantes do que os recursos materiais a importância do ensino

superior será cada vez maior. Além disso, devido à inovação e ao progresso tecnológico,

as economias exigirão cada vez mais profissionais competentes, habilitados com nível

superior.

O mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e globalizado, exige profissionais

bem preparados e em contínuo aperfeiçoamento. Essa condição, básica para quem quer

conquistar um bom emprego, levou multidões de jovens aos bancos escolares ao longo

dos últimos 30 anos. Para se ter uma idéia da dimensão desse crescimento, em 1970, o

Brasil registrava 400 mil alunos em cursos superiores. No censo do ano 200, realizado

pelo INEP/MEC, esse contingente foi multiplicado por seis: 2,4 milhões de estudantes.

Hoje, o número de universitários ultrapassa a marca dos 3 milhões.

Assim, não podemos mais ter a imagem que tínhamos há dez anos atrás sobre o ensino

superior brasileiro – quando o segmento atendia apenas a cerca de 1 milhão de alunos.

Já estamos com mais de 3 milhões de alunos e iremos para 6 milhões até o final da

década. É claro que naquela época os participantes eram parte de uma elite intelectual,

que podia dar-se ao luxo de estudar por mais tempo, sendo, ao mesmo tempo

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generalista, trabalhando melhor a pesquisa e conceitos puramente acadêmicos por mais

tempo...

O ensino superior não escapou à força e urgência com que, em nível político, se afirma

a necessidade de uma reforma da educação, como resposta aos imperativos econômicos.

As universidades já não têm o monopólio do ensino superior. De fato, os sistemas

nacionais de ensino superior são tão variados e complexos, no que se refere a estruturas,

programas, público que os freqüenta e financiamento, que se torna difícil classificá-los

em categorias distintas.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 1996, conferiu

maior consistência à educação. Pois, essa lei redefiniu os papéis e as responsabilidades

dos variados níveis educacionais – básico e superior – conferindo maior autonomia às

instituições de ensino superior.

Importantes mudanças foram observadas no ensino superior, especialmente no que toca

à expansão do sistema e sua melhoria, à avaliação da graduação e ao apoio à extensão e

pós-graduação, mudanças essas que fizeram do Brasil o único país no mundo onde

qualquer pessoa tem acesso, pelos jornais, à nota dos cursos superiores ministrados

pelas instituições públicas quanto pelas particulares.

No ranking do índice do Desenvolvimento Humano do ano 2000, divulgado pela

Organização das Nações Unidas – ONU, que reflete as informações colhidas em 1998, o

Brasil subiu cinco posições: em 1998, nosso país estava em 79° lugar, passando em

2000 a ocupar a 74° posição. Ainda assim, em termos gerais, permanece entre o

Cazaquistão e a Arábia Saudita.

Esta ascensão vem sendo atribuída, dentre outros fatores, pelos progressos na área

educacional do país, ou seja, pelos avanços no sistema educacional brasileiro, que,

parece ter encontrado em caminho melhor daquele percorrido em outras épocas.

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A estrutura desse trabalho delineou-se ao longo do processo de investigação. O formato

de exposição que ganhou maior sentido didático foi o de apresentar o estudo em cinco

textos básicos.

Os dois primeiros textos expõem o processo de reorganização do sistema educacional

brasileiro em nível superior no Brasil, após a nova legislação da educação nacional,

enfatizando as reformas no sistema e permitindo assim, transformações na organização

acadêmicas das instituições de ensino pública e privada.

Nesses textos procedem-se a uma análise dos documentos e das pessoas, ensaios e

artigos sobre a deflagação, implementação e efeitos da reforma da educação superior.

Além disso, em razão da natureza do problema, considerou-se fundamental discutir as

possibilidades e as perspectivas do processo de metamorfose da universidade. Nesse

percurso, acentuam-se os processos de mudança da educação superior, que

consubstanciam certo ajustamento às políticas governamentais e às demandas do

mercado, bem como uma crescente mercantilização desse nível de ensino.

No terceiro texto é abordado, em linhas gerais, o processo de reestruturação produtiva e

de reforma do Estado, as atuais políticas de reorganização e de ajustamento da educação

superior, os processos de metamorfose da gestão e do trabalho acadêmico e outros

condicionamentos do estado de mudança das universidades federais. Desse modo,

busca-se apreender o objeto de estudo nos aspectos principais e gerais, procurando

resgatar e colocar em novos patamares as discussões sobre as universidades, em

especial objetivando avançar o debate na área e contribuir criticamente, para a

construção de uma universidade pública, democrática, autônoma e de qualidade no

Brasil.

No quarto texto, por sua vez discute a polêmica autonomia das instituições de ensino

superior. Entendendo onde ela é necessária e quais seus reais limites para entidades

privadas e públicas. Sendo importante também observar, que a universidade, por ser

hoje uma organização burocrática pesada, lenta, marcada pelos excessos de

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corporativismo, pela tradicional e cada vez mais acentuada presença reguladora do

estado, portanto sem uma clara definição de sua necessária autonomia.

Finalmente, no quinto texto são explicitados e analisados o sistema e a política de

avaliação da educação superior no Brasil, evidenciando a centralidade da avaliação na

reestrutura deste nível de ensino e, especialmente, na mudança de perfil das

universidades públicas.

Em matéria publicada no jornal da Pontifícia Universitária Católica do Rio de Janeiro –

PUC RJ, o Padre Laércio Dias de Moura opina que:

“ a espinha dorsal de um ser humano é a sua visão de vida e somente

com uma educação de qualidade podemos apresentar esta forma de

enxergar as pessoas. Todas elas possuem uma ânsia por felicidade,

mas essa felicidade depende da visão de vida de cada um”.

A ascensão do ensino precisa continuar para que o Brasil possa atingir um nível

razoável de satisfação no que se refere às condições essenciais de dignidade do ser

humano, especialmente na distribuição igualitária de oportunidades entre os membros

da sociedade visando atingir, desta forma, o bem comum, conceituado pelo Papa João

XXIII como sendo “ o conjunto de todas as condições de vida social que consistam e

favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa humana.

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2. O ATUAL CENÁRIO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

O modelo de Universidade vigente no Brasil resulta da reforma de 1968, da Lei n°

5.540. Contudo, desde a entrada em vigor da nova Lei de Diretrizes de Bases da

Educação Nacional, em 1996, estão em curso mudanças importantes para o

aprimoramento desse modelo que, por força do art. 207 da Constituição de 1988,

estabelece o principio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

A LDB n° 9 394/96, sustentáculo jurídico da organização do ensino no País se constitui

como instrumento inovador e modernizador, que levanta a possibilidade de haver uma

redefinição da posição do Estado, sobre questões recorrentes, como por exemplo,

descentralização e controle das atividades educacionais, financiamento da educação

pública, competências normativas e executivas nos diversos sistemas de ensino, regime

jurídico das instituições públicas e sua autonomia frente aos governos mantenedores.

A educação superior é tratada no capítulo IV do Título V, da LDB e, em disposições

esparsas nos Títulos I, II, III, IV e VIII da referida Lei.

A finalidade da educação superior está prevista no artigo 43 do referido diploma legal e

consubstancia-se em estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito

científico e do pensamento reflexivo; formar diplomados nas diferentes áreas do

conhecimento; incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o

desenvolvimento da ciência e da tecnologia, da criação e da difusão da cultura;

promover a divulgação de conhecimentos culturais; científicos e técnicos que

constituem patrimônio da humanidade, de publicações ou de outras formas de

comunicação; suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e

possibilitar a correspondente concretização; estimular o conhecimento do mundo

presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à

comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; promover a extensão,

aberta à participação da população.

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Em conformidade com o que dispõe o artigo 44 da LDB, a educação superior abrange

os seguintes cursos e programas: cursos seqüenciais, por campo de saber, de níveis da

abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas

instituições de ensino; cursos de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído

o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; cursos

de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de

especialização, aperfeiçoamento e outros abertos a candidatos diplomados em cursos de

graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino; cursos de extensão,

abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas

instituições de ensino.

Vale notar que os cursos de graduação compreendem os cursos tecnológicos, que apesar

de não estarem inseridos no rol do artigo 44, acima referido, estão previstos no artigo 39

da mesma lei. São os denominados cursos de educação profissional de nível

tecnológico, regulamentados pelo Decreto n° 2.208/97, cujos currículos estão

claramente voltados ao atendimento das demandas sociais, mais especificamente das

demandas tecnológicas e de mercado, uma vez que devem abranger áreas especializadas

para formar profissionais aptos a exercer atividades específicas do trabalho, conferindo

aos concluintes diplomas superiores de tecnólogos, o que tem feito aumentar de maneira

elevada à procura pelos mesmos, levando-se em conta ainda o fato de estes cursos

serem ministrados num espaço de tempo menor do que os cursos convencionais.

A atual estrutura do Sistema Educacional Brasileiro, a partir da LDB, no tocante à

educação superior, pode ser assim representada:

Educação Superior .

Cursos

seqüênciais

Curso de

graduação

Cursos de

Pós-graduação

Cursos de

extensão

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Há que se registrar ainda o fato de o vestibular, provocador de poderosos abalos

neurotizantes às pessoas que a ele se submetem, deixou de ser obrigatório, deixando

cada instituição de ensino livre para escolher o seu próprio processo seletivo, desde que,

obviamente, garanta a igualdade de oportunidades, fazendo valer o artigo 206, da

Constituição Federal.

Algumas instituições optaram por um sistema de acesso mais simplificado do que o

temido vestibular, procedendo a uma avaliação sumária de conhecimentos. Outras

instituições vinculam a seleção de seus alunos ao resultado por eles obtidos no Exame

Nacional do Ensino Médio, conhecido por ENEM e, também, realizado pelo Ministério

de Educação.

As universidades e instituições isoladas privadas respondem por quase 70% das

matrículas no setor e lutam com grandes dificuldades para financiar seus custos. Além

do mais, precisamos expandir e universalizar o sistema de ensino superior. O Ensino

Médio vem crescendo de 10% a 12%, nos últimos anos. É um fato auspicioso. Só na

rede pública, de 1994 a 1999, houve uma expansão de 57% nas matrículas. Estes dados

são suficientes para mostrar a necessidade da expansão da oferta do ensino superior.

Temos hoje apenas 2,3 milhões de estudantes matriculados no ensino superior, ou seja,

só 12% de jovens na faixa de 18 a 24 anos. É o mesmo número que apresenta a Coréia

que, com população menos, estes números expressam 36% da mencionada faixa

etária.De qualquer forma, o Brasil alcançou neste setor. Em 1960 eram apenas 95.700.

Em 1970 este número saltou para 425.500 e, em 1980, para 1.377.286. O problema está

no fato de que, em conseqüência das dificuldades de ampliação do financiamento da

rede pública do ensino superior, a oferta de vagas vem tendo um crescimento muito

lento diante da perspectiva da demanda que vem por aí. Para atender às prementes

necessidades de qualificação do trabalhador brasileiro, de formação de professores, de

técnicos e de pesquisadores para que possamos enfrentar os desafios e a necessária

inserção do Brasil, no mercado globalizado, será necessário triplicar, o número de

brasileiros matriculados nos cursos superiores. Com o estancamento do financiamento

na expansão do ensino superior público, o setor privado passou a ocupar um espaço

cada vez maior. Como já foi dito, mais de dois terços das matrículas concentram-se hoje

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nas escolas particulares e comunitárias. Nesse quadro, não podemos deixar de

mencionar o esforço das instituições privadas do ensino superior vêm fazendo, desde a

entrada da LDB, para ampliar , com qualidade a oferta de vagas.

2.1. A Classificação das Instituições de Ensino Superior

As Instituições de Ensino Superior - IES podem ser classificadas, quanto aos seguintes

aspectos: a) organização acadêmicas e b) categorias administrativas.

2.1.1.Quanto à Organização Acadêmica:

O artigo 8° do Decreto n°2.306 de 19 de agosto de 1997 classifica as instituições de

ensino superior em: Universidade, Centros Universitários, Faculdades Integradas,

Faculdades Isoladas, Escolas Superiores ou Institutos Superiores

. Universidades são instituições pluridisciplinares de formação de quadros de

nível superior caracterizadas pela indissocialidade das atividades de ensino, de pesquisa

e de extensão, devendo, haver: produção intelectual institucionalizada mediante o

estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista

científico e cultural quanto regional e nacional; um terço do corpo docente, pelo menos,

com titulação acadêmica de mestrado e doutorado; um terço do corpo docente em

regime de tempo integral, sendo facultada a criação de universidades especializadas por

campo do saber, ou seja instituições que desenvolvam cursos voltados a, apenas e tão

somente, uma única e exclusivamente área do saber, tudo conforme o artigo 52, da

LDB.

.Centros Universitário são instituições de ensino superior plurricurriculares,

abrangendo uma ou mais áreas do conhecimento, que se caracterizam pela excelência

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do ensino oferecido, excelência esta que deve ser comprovada pela qualificação do seu

corpo docente e pelas condições do trabalho acadêmico oferecidas à comunidade

escolar.

. Faculdades são instituições de ensino superior mono ou unicurriculares, com

as demais características dos centros universitários. Quando se juntam no mesmo

espaço físico-administrativo formam as denominadas faculdades integradas.

. Escolas Superiores ou Institutos Superiores são aquelas que se dedicam à

modalidade de ensino prevista no artigo 3°, inciso III, do Decreto n° 2.208/97, ou seja ,

que ministram cursos tecnológicos correspondentes a cursos de nível superior na área

tecnológica, voltados à educação profissional e destinados a egressos do ensino médio e

técnico.

2.1.2.Quanto às Categorias Administrativas

O artigo 19 da LDB classifica as instituições de ensino superior nas seguintes categorias

administrativas: públicas e privadas, valendo destacar que as mesmas estarão vinculadas

ao sistema federal de ensino ou ao sistema estadual de ensino.

♦ As Instituições Públicas de Ensino Superior

São criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público Federal,

Estadual ou Municipal.

O Sistema Federal de Ensino, previsto no art. 16 da LDB, compreende as instituições

de ensino superior mantidas pela União, como por exemplo, a Universidade Federal do

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Rio de Janeiro – UFRJ, a Universidade Federal Fluminense – UFF e a Universidade de

Brasília – UNB.

As instituições federais de ensino superior consomem uma fatia grande dos gastos do

Governo: de forma genérica, os gastos públicos com a educação, que tradicionalmente

eram escassos, cresceram e atualmente se situam em torno de 5% do Produto Interno

Bruto – PIB, dentro da média internacional. Ainda assim, os reitores das Universidades

reivindicam aumento este percentual em, pelo menos, um ponto percentual.

O artigo 17 da referida lei disciplina que os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito

Federal, por seu turno, compreenderão as instituições de ensino superior mantidas pelo

Poder Público dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, como por exemplo, a

Universidade do Estado do Rio de janeiro – UERJ e a Universidade Regional de

Blumenau.

As instituições públicas federais estão sujeitas ao Conselho Nacional de Educação,

enquanto que as instituições públicas estaduais e municipais estão sujeitas aos

Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, valendo frisar que as universidades

públicas brasileiras são constituídas sob a forma de fundações ou autarquias e que

gozam do benefício previsto no art. 150, inciso VI, alínea a e 2° da Constituição da

República, que assim dispõe:

Artigo 150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios: impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos

outros. 2°- a vedação do inciso VI, a, é extensiva as autarquias e as

fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao

patrimônio, à renda, e aos serviços vinculados a suas finalidades

essenciais ou às delas decorrentes.

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O mais notável nisto tudo é o fato de termos verificado pelo censo educacional, já

mencionado, ter revelado o notável esforço que as instituições federais de ensino

superior estão fazendo para cumprir o seu papel social.

Nos últimos cinco anos, o crescimento de matrículas, em tais instituições, praticamente

duplicou tendo sido criadas quase 80 mil novas vagas, sem que houvesse significativos

no setor.

O setor público federal é o responsável pela maior parte da produção científica e

tecnologia do país, respondendo, atualmente por 19 % das matrículas do ensino de

graduação, enquanto que os setores públicos estaduais e municipais são responsáveis,

juntos por 17% do total de matrículas, conforme a tabela abaixo.

Ano Total de Matrículas Federal Estadual Municipal Privada

1986 1 377 286 23% 8% 5% 64%

1986 1 418 196 23% 11% 7% 59%

1990 1 540 080 20% 13% 5% 62%

1996 1 868 529 21% 13% 6% 61%

1997 1 947 504 21% 13% 6% 61%

1998 2 125 958 19% 13% 6% 62%

1999 2 377 715 19% 13% 4% 64%

Fonte: MEC/INEP: Censo Escolar 1999

♦ As Instituições Privadas de Ensino Superior

Além de compreender as Instituições de Ensino Superior Federais, o Sistema Federal de

Ensino compreende ainda, as instituições de educação superior , criadas e mantidas pela

iniciativa privada, como por exemplo, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro – PUC, a Universidade Gama Filho – UGF, a Universidade Cândido Mendes –

UCAM e a Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO.

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A Constituição Federal da República preconiza que o ensino é livre à iniciativa privada,

apregoa o citado dispositivo:

Art. 209 -O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas às seguintes

condições:

I – cumprimento das normas gerais da educação nacional;

II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.

Segundo Moacir Alves Carneiro “educação é, por essência, tarefa pública. Mesmo

quando oferecida por instituição privada, esta é permissionária de um serviço público”.

No caso do ensino superior, a própria LDB em seu art. 9°, inciso VI, cita a

responsabilidade de a União, sob regime de cooperação com Estados, Distrito Federal e

Municípios, assegurar o processo nacional de avaliação do rendimento escolar e ainda,

em seu artigo 46, estabelece que os processos de autorização e reconhecimento de

cursos e de credenciamento de instituição de ensino superior ocorrerão,

invariavelmente, mediante procedimento regulares de avaliação. Assim, as instituições

de ensino superior terão funcionamento renovável.

Instituições privadas que ministram ensino superior com ou sem fins lucrativos, são

aquelas mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

De acordo com o estabelecido no artigo 20 da LDB, as instituições privadas de ensino

são classificadas nas seguintes categorias: particulares sem sentido estrito;

comunitárias; confessionais e filantrópicas.

. Particulares sem sentido estrito - são as instituídas e mantidas por uma ou mais

pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características das

demais instituições educacionais privadas, ou seja, são aquelas que visam lucro,

denominadas de estabelecimentos educacionais.

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. Comunitárias - são constituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais

pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e alunos que incluam na sua

entidade mantenedora representantes da comunidade.

. Confessionais -são as instituições por pessoas físicas ou jurídicas que atendam à

orientação confessional e ideologia específica e que incluam em sua mantenedora

representantes da comunidade e as filantrópicas, na forma da lei.

Tradicionalmente, as instituições de ensino privado podiam se organizar, do ponto de

vista acadêmico, como faculdade isoladas ou universidades. O status universitário traz

muitas vantagens, entre as quais a liberdade para criar novos cursos e fixar o número de

vagas oferecidas independentemente de autorização do governo. Como os critérios para

a obtenção do status universitário eram difíceis de ser preenchidos, o governo acabou

criando duas categorias intermediárias, a de centro universitário e de faculdades

integradas. A maioria das instituições de ensino de S. Paulo estão organizadas como

faculdades isoladas (735 em 957), mas estas são, sobretudo, instituições pequenas e

médias; dois terços dos alunos de setor privado estão hoje em universidades, com uma

pequena quantidade em centros universitários e faculdades integradas. A partir de 1997

vem crescendo o credenciamento para os Centros Universitários pela transformação de

antiga Faculdades Integradas, como uma alternativa à organização em universidades.

__________________________________________________________________________________

% de instituições filantrópicas, comunitárias e confessionais, por tamanho e tipo de organização

acadêmica

ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA

Centro Faculdades

Universitário Faculdade Integradas Universidade Total

Pequenas 22.5% 25.0% 22.5%

Médias 29.4% 22.2% 28.8%

Grandes 34.7% 32.8% 26.8% 68.2% 41.6%

TOTAL 34.7% 27.2% 25.0% 68.2% 31.0%

No passado, a grande maioria das instituições privadas eram consideradas filantrópicas

e/ou sem fins lucrativos, para efeitos fiscais. Hoje, a qualificação como filantrópica é

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mais estrita e menos vantajosa, e só um terço das instituições privadas têm uma ou duas

destas características, o Censo do Ensino Superior tem uma categoria especial de

instituição “comunitárias, filantrópicas e confessionais”, mas não está claro comum elas

se enquadram para efeitos fiscais.

O quadro acima mostra as instituições de maior porte e universitárias têm mais

probabilidade de terem o status filantrópico/comunitário/confessional do que as

menores. De fato, dois terços das universidades privadas têm esta classificação, e 52%

de todos os alunos do setor privado estão em instituições deste tipo.

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3.UMA OPÇÃO DE ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL

PARA O ENSINO SUPERIOR :CENTROS UNIVERSITÁRIOS

A estrutura organizacional do ensino superior no Brasil, durante a vigência da Lei

5.540/68, valorizou o modelo de universidade admitindo que, apenas excepcionalmente,

esse nível de ensino pudesse ser ministrado em estabelecimentos isolados.

Durante muitos anos, o então Conselho Federal de Educação estimulou as instituições

de ensino superior não universitárias a se reunirem, através de regimentos unificados e

administração comum, a fim de formar “faculdade integradas”, “centros unificados” e

outros. Tudo isso com o objetivo de racionalizar recursos e evitar a duplicação de meios

para fins iguais ou semelhantes. Via de regra, ao adotarem as medidas unificadoras, o

que as instituições desejavam era passar por um “estágio probatório”, visando a seu

credenciamento como universidade. Na prática, o que era para ser situação excepcional

tornou-se a prevalente, pois o ensino superior passou a ser ministrado, majoritariamente,

em instituições não universitárias.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –LDB (Lei n° 9.394/96 ), no seu

artigo 45, dispõe que “a educação superior será ministrada em instituições de ensino

superior, públicas e privadas, com variados graus de abrangência de especialização.

Com isso, a LDB admite a diversidade organizacional das IES e, sobretudo, abre

caminhos para a criação das universidades especializadas.

Em outras palavras, a legislação atual não privilegia a universidade como modelo

organizacional a ser perseguido pelas entidades que ministram a ensino superior. E o

que seriam os “ variados graus de abrangência”? Através do Decreto n° 2.306/97 de 19

de agosto de 1997 responde a questão, em seu artigo 8°, quando classifica as

Instituições de Ensino Superior –IES, quanto à sua organização acadêmica em:

Universidades, Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades, Institutos

Superiores e Escolas Superiores. A regulamentação desses novos tipos de instituições é

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desejável e mais compatível com as demandas e exigências da sociedade e opõe-se à

valorização excessiva do “modelo de universidade” verificada na legislação anterior –

Lei n° 5.540/68, à atual LDB.

Neste capítulo, trataremos de uma das formas previstas para a organização do ensino

superior: os Centros Universitários.

3.1. Aspectos Legais

O Decreto 2.306/97 e a Portaria 639/97 estabeleceram, oficialmente, a tipologia das

instituições de ensino superior, regulamentando o disposto no artigo no artigo 45 da Lei

9.394/96. Nessa tipologia, aflora, pela primeira vez, no cenário do ensino superior

brasileiro, a figura dos centros universitários.

Os Centros Universitários são definidos no art. 12 do Decreto já citado, in verbis.

“instituições de ensino superior pluricurrilares, abrangendo uma ou

mais áreas do conhecimento, que se caracterizam pela excelência do

ensino oferecido, comprovada pela qualificação do seu corpo

docente e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à

comunidade escolar, nos termos das normas estabelecidas pelo

Ministro de Estado de Educação e do Desporto para seu

credenciamento”.

O artigo citado vem acompanhado de dois parágrafos: no primeiro, assegura-se aos

centros, autonomia para criar, organizar e extinguir cursos e programas de educação

superior; no segundo, acena-se com a possibilidade de transferir aos centros outras

atribuições de autonomia universitária, sem, no entanto, defini-las.

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Segundo, Prof. Magno Maranhão, presidente da ANACEU, “os Centros Universitários

fazem parte de um grande pacote de transformações que há décadas vêm sendo

debatidas. Elas são o eixo norteador da nova LDB, que estabeleceu as diretrizes para

que seja promovida a necessária modernização e expansão da educação brasileiras em

todos os níveis. O sistema de educação superior não ficaria imune: aqui, como no resto

do mundo, era urgente adaptá-lo às demandas nascidas das rápidas mudanças globais,

de uma sociedade cada vez mais complexa, na qual um bom grau de escolarização é

indispensável à sobrevivência e ao exercício da cidadania”.

Sob o ponto de vista legal, os centros universitários surgem como mais uma opção de

organização institucional dedicada ao ensino superior , com as seguintes características:

excelência de ensino; qualificação do corpo docente e condição de trabalho

acadêmico

Se os centros universitários precisam ter essas características, indaga-se logo em que

eles diferem das universidades propriamente ditas. É na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional e no Decreto que vamos encontrar a resposta. Assim, temos que:

“ As universidades são instituições pluricurriculares de

formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de

extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:

I - produção intelectual instituicionalizada mediante o estudo

sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista

científico e cultural, quanto regional e nacional;

II – um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica

de mestrado ou doutorado;

III – um terço do corpo docente em regime de tempo integral.”

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No quadro a seguir, organizado a partir de instrumentos legais vigentes, procurou-se

estabelecer a diferença entre universidades e centros universitários. Para isso, foram

consideradas determinadas características e exduídas dada a sua complexidade, a

questão da autonomia, mesmo em se tratando de universidade.

Características Centros Universitários Universidades

Ensino obrigatório facultativo obrigatório facultativo

Graduação X X

Pós-graduação

(lato-sensu)

X X

Pós-graduação

(stricto-sensu)

X X

Corpo Docente

1/3 de Mestre ou Doutores X X

1/3 em tempo integral X X

Plano de carreira X

Pesquisa

Iniciação científica X X

Produção sistematizada de

pesquisas

X

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3.2. Aspectos Pedagógicos

Os Centros Universitários, descompromissados que estão com o desenvolvimento

sistematizado da pesquisa, poderão, com maior esmero, plano pedagógico da

instituição, precisa estar alicerçado, segundo o art. 3° da Portaria n° 639, nos seguintes

pressupostos básicos que destacamos, onde a comprovação da excelência de ensino, se

faz necessária para seu credenciamento.

→ . qualificação acadêmica e experiência profissional do corpo docente

A instituição deve adotar uma política de qualificação para o seu corpo docente e

também tentar mantê-lo estável.

→ . condições de trabalho do corpo docente

A instituição deve ter um plano de carreira para o docente e oferecer aos que buscam o

aperfeiçoamento contínuo.

Não é demais lembrar que a forma como os professores conduzem o seu trabalho no

processo ensino-aprendizagem e as condições ambientais que a instituição proporciona

(biblioteca, multimeios, condição das salas de aula, etc.) são elementos essenciais para o

sucesso no campo pedagógico.

Toda a literatura sobre o sucesso na aprendizagem põe em primeiro plano a importância

do professor.

“ Docentes e estudantes caracterizam, de forma consciente, bons

professores como sendo organizados e pedagogicamente bem

preparados, com conhecimento de sua área e interesse por ela,

exigentes e justos nas expectativas e nas avaliações que fazem dos

alunos, com genuíno envolvimento no ensino, sendo capazes de

motivar os estudantes a fazerem o melhor trabalho possível”.

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Se a finalidade do Centro Universitário é o sucesso de seus alunos na aprendizagem e

no campo profissional, todos os esforços deverão ser desenvolvidos para se atingir esse

objetivo. Resultados obtidos em diferentes formas de avaliação de ensino, incluindo-se

aí os do Exame Nacional de Cursos,que devem ser levados em consideração na

programação da instituição. Tais resultados podem indicar aspectos prioritários que

precisam ser trabalhados para que os alunos e, em decorrência a própria organização

escolar, alcancem, cada vez mais, melhores posições nas avaliações.

Embora o Centro Universitário não esteja comprometido com o desenvolvimento

institucionalizado da pesquisa, esta sim, função da universidade, não há como eximi-lo

da obrigação de promover a iniciação científica, que é componente indispensável na

formação do graduado em nível superior. E por iniciação científica não entendamos

apenas a ministração da disciplina Metodologia Científica nos diversos cursos de

graduação. Há que se fazer a aplicação prática desse conteúdo. Eis uma boa

oportunidade, além de outras, para se propiciar uma boa prática profissional para os

discentes.

...........→ Excelência de Ensino versus Qualidade de Ensino

Ao dizer o que vem a ser um Centro universitário, o Decreto 2.306/97 estabeleceu o

diferencial entre ele e os demais integrantes da tipologia das instituições de ensino

superior: a excelência no campo do ensino.

A comprovada excelência de ensino, de acordo com a Portaria n° 639/97, em seu art. 3°,

será feita através da análise de alguns critérios: capacidade financeira , administrativa e

de infra-estrutura; qualificação acadêmica e experiência profissional do corpo docente;

condições de trabalho do corpo docente; resultados obtidos no exame nacional de cursos

e em outras formas de avaliação ; atividades de iniciação científica e de prática

profissional para os alunos.

Excelência e qualidade são conceitos idênticos? Silva observa que “qualidade será

sempre sendo confundida com excelência. Freqüentemente, as pessoas que falam em

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promover qualidade estão querendo dizer promover excelência. Naturalmente, todo

mundo gosta de fazer o máximo para proporcionar qualidade, mas nem toda instituição

pode ser uma Yale ou MIT”. Conclui que “excelência em uma instituição de ensino

superior significa que ela atinge padrões bem mais elevadas do que aqueles alcançados

pelas boas instituições juntamente com ela avaliadas”.

A qualidade do ensino, de acordo com Marques, “composta, em primeiro lugar e como

referencial básico, uma política definida de educação em termos de opção por trabalho

junto a grupos concretos definidos. Isto significa planejamento (vale dizer ruptura com

o espontaneísmo, com a rotina e com a rotina e com a generalidades) e ação global

sistemática, com vistas a uma finalidade claramente estabelecida. Qualidade de ensino

só existirá onde existir qualidade de pesquisa como função primeira da universidade,

qualidade de extensão como presença ativa de transformação social e qualidade de

governo e administração como comando e eficácia operativos”.

A “excelência” e/ou a “qualidade” do ensino têm, portanto, uma dimensão e um

significado muito mais amplo e complexos do que o seu simples desdobramento em

critérios. Estes se tornam frágeis se não estiverem vinculados a um “projeto”

(pedagógico, político, educacional, acadêmico, não importa a denominação)

representativo de uma política de ensino que expresse o posicionamento da universidade

diante da sociedade e dos problemas contemporâneos. O projeto pedagógico precisa ser

trabalhado como um processo, cuja construção decorre da decisão política da Instituição

Superior de Ensino –IES em realizá-lo. O projeto consiste, fundamentalmente, em um

processo dinâmico de reflexão e ação.

O projeto é a grande referência a uma proposta de trabalho baseada na autonomia e no

desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, de forma compatível

com as necessidades e a realidade da instituição. Segundo Massi, o projeto pedagógico

deve ser “o instrumento utilizado pela instituição para a demonstração da excelência de

ensino do seu ensino, de sua experiência numa área de conhecimento e de sua

capacidade de formação profissional”. Neste sentido, cada instituição deverá discutir

internamente, de acordo com sua vocação e possibilidades, seu entendimento dos

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conceitos de ensino, pesquisa e extensão e como desenvolverá essas três atividades

básicas.

Para Schwartzmann, a principal novidade introduzida pela atual legislação é a de que a

pesquisa não é compulsória no âmbito dos centros universitários. “Reconhece-se a

possibilidade de excelência no ensino sem a presença da pesquisa. Isto não quer dizer

que não possa haver pesquisa, mas entende-se que ela não necessita ser parte integrante

do projeto de ensino”.

Há quase uma unanimidade entre os estudiosos do assunto em apontar que a excelência

do ensino dependerá, em grande parte, do somatório de três fatores: a qualidade do

corpo docente; a qualidade dos estudantes e a qualidade da equipe administrativa. A

esses três fatores, ainda podemos acrescentar um quarto fator: a qualidade dos materiais

e equipamentos à disposição do ensino.

3.3. Aspectos Administrativos

Do ponto de vista administrativo há muito a ser observado pelas instituições que

desejam o credenciamento como centro universitário e ter como base a Portaria 639/97.

Vamos dar destaque aos seguintes aspectos, que devem constar do projeto da

instituição:

• Gestão institucional – deve adotar um modelo moderno e participativo de

administração onde se inclua um organograma funcional, com descrição das funções e

formas de acesso a cada cargo; com explicitação das competências acadêmicas e

administrativas de cada um ; com a qualificação mínima exigida para os cargos e as

formas de acesso a eles, etc.

• Equipamentos educacionais – inclui-se aí tudo o que diz respeito ao cenário

onde ocorrerá o processo ensino-aprendizagem, tais como estão descritos no inciso VII

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do art 4° da Portaria 639/97: “descrição das instalações físicas, equipamentos,

laboratórios, bibliotecas com acervo de periódicos e livros por área de conhecimento e

outros recursos materiais de apoio ao ensino e às atividades de extensão, especialmente

equipamentos de informática e acesso a redes de informação”.

Em outras palavras, a modernização dos serviços administrativos é condição

indispensável à instituição que desejar se credenciar como centro universitário.

É também de natureza administrativa a exigência do plano de carreira docente,

prevendo um regime de trabalho compatível com a natureza do centro universitário,

onde, por cento, o professor horista passa a ser uma exceção e não a regra.

A influência direta sobre o pedagógico e a capacidade financeira da instituição É uma

das condições asseguradoras da “excelência de ensino”, no diz respeito a Portaria que

normatiza tal situação.

Uma decisão administrativa que de pronto precisa ser tomada pelas instituições que

pretendem se transformar em centros universitários é a definição da área ou áreas de

conhecimento ou de formação profissional em que desejam atuar. Isto porque a

legislação permite sejam eles integrados, por uma ou mais de uma delas . Mas em

qualquer um dos casos, precisam ser pluricurriculares.

⇒Autonomia dos Centros Universitários

A LDB faculta que se estenda autonomia universitária a instituições que comprovem

alta qualificação para o ensino ou para a pesquisa. Com base em dispositivo

constitucional e na LDB, o Decreto n° 2.207/97 e a Portaria n° 639/97 estenderam aos

centros universitários credenciados “autonomia para criar, organizar, extinguir, em sua

sede, cursos e programas de educação superior, previstos na Lei n° 9394/96”. E mais:

dispõem que os centros universitários poderão usufruir de outras atribuições da

autonomia universitária definidas no ato de seu credenciamento.

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Para Schwartzmann, com essas medidas legais, o MEC admite a expansão do ensino

privado de qualidade, livrando-o das amarras burocráticas dos credenciamentos,

autorizações e recredenciamentos.

O MEC já pensa em limitar a autonomia concedida aos centros universitários. Está em

elaboração um documento onde novos critérios serão definidos.

⇒ O governo quer alterar as regras para os Centros Universitários

O governo federal se comprometeu a publicar através de um Decreto alterando as

normas de funcionamento dos centros universitários. De acordo com o documento as

instituições permanecerão com autonomia universitária até 31 de dezembro de 2007.

Neste período, entretanto, precisarão ampliar de 10% para 33% seu quadro docente com

dedicação integral.

Ao final do prazo, as instituições que tiverem investido em pesquisa e extensão poderão

se credenciar como universidades. As demais poderão permanecer como centros

universitários ou passar a faculdades integradas. Contudo, essa avaliação será feita de

acordo com as normas a serem estabelecidas pela reforma universitária, prevista para

este ano.

Segundo Magno Maranhão, presidente da ANACEU, este situação é resultado da

pressão feita por universidades paulista.

“A intenção inicial era fazer um decreto para acabar com os

centros universitários. Embora tenha havido um lobby das

universidades paulistas, o resultado de nossa articulação foi

benéfico. Pelo menos, não houve prejuízo”.

Entre instituições públicas e particulares, existem 122 centros universitários no país, que

atendem a 600 mil alunos. “ Como muito deles são de pequeno porte, a possibilidade de

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que entrem na Justiça contestando estas novas regras não está descartada. A ANACEU

vai acatar as normas. Mas, isoladamente, pode ser que algumas instituições questionem

a constitucionalidade do futuro decreto”, ponderou Maranhão.

⇒ ANACEU – Associação Nacional dos Centros Universitários

A ANACEU foi criada no fim de 1999, em Brasília, com a participação de 16 centros.

Existem hoje, no Brasil 72 centros universitários, e a tendência, registrada pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), é que este número cresça , já que

há uma tendência para a aglutinação das instituições de ensino superior existentes. A

vantagem desta união é facilitar às IES suprirem deficiências nesta ou naquela área,

remanejarem melhor seus recursos, além de, naturalmente, ganharem autonomia para

criar ou extinguir cursos, diminuir ou ampliar o número de vagas de acordo com a

demanda. Isso torna a IES mais ágil, mais afinada com os interesses dos alunos, da

comunidade e do mercado.

As maiores contribuições que os Centros Universitários podem oferecer ao país e à

educação brasileira são descritas pelo presidente da ANACEU, Prof. Magno Maranhão:

“Toda e qualquer IES deve cumprir um papel social. Fala-se muito nas pesquisas

realizadas por universidades, que impulsionam o Brasil na área da ciência e tecnologia,

mas o compromisso de uma IES vai muito além. Quando você forma profissionais

competentes, imbuídos de fortes noções de ética e cidadania, conscientes dos problemas

nacionais e globais, está contribuindo para o bem-estar social. Quando incentiva alunos

e professores a desenvolverem atividades de extensão na comunidade, permite não só

que auxiliem brasileiros menos favorecidos, mas agiliza a atualização a dos projetos

pedagógicos, usando as experiências que eles trazem da comunidade para as salas de

aula. Quando participamos de um programa de erradicação do analfabetismo, por

exemplo, levamos nossas apreensões para serem discutidas na instituição e elaboramos

estratégias para solucionar problemas, já estamos atuando em várias frentes e vamos

atuar muito mais, porque este é o compromisso dos centros universitários.”

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4. A METAMORFOSE DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

A BUSCA DE UMA IDENTIDADE

O atual processo de reconfiguração da educação superior no Brasil baseia-se em uma

política de diversificação, que associa flexibilidade, competitividade e avaliação,

objetivando uma expansão acelerada do sistema. Isso significa, em outras palavras, que

o novo modelo de expansão caracteriza-se, sobretudo, pela diferenciação do perfil das

IES e pela diversificação e flexibilidade da oferta, o que tende a se aprofundar, nos

próximos anos, em razão das políticas de ajustamento do sistema ao crescimento da

demanda e ao atendimento das exigências do mercado.

Esse empreendimento reformista, desencadeado pelo MEC, objetivando uma expansão

acelerada do sistema, principalmente por meio das seguintes frentes ou mecanismos de

expansão:

a) criação de centros universitários, com autonomia para o desenvolvimento de

atividades na área de ensino e formação profissional;

b) regulamentação dos chamados cursos seqüenciais, isto é, cursos superiores de

curta duração voltados para uma formação profissional específica ou para a

complementação de estudos, como alternativa ao acesso da sociedade ao ensino

superior;

c) flexibilização curricular, que procura adequar os cursos de graduação às

demandas do mercado de trabalho;

d) instituição e consolidação do Exame do Ensino Médio (ENEM), que tem por

finalidade básica diversificar o processo de acesso ao ensino superior,

oferecendo alternativas de associação ou substituição do vestibular;

e) incentivo aos programas de ensino a distância, os chamados cursos virtuais,

incluindo os cursos de graduação;

f) a tentativa de regulamentação e implementação dos Institutos Superiores de

Educação, criados em muitos estados a partir de escolas normais, para oferecer,

sobretudo, o curso normal superior;

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g) definição de nova matriz de distribuição de recursos orçamentários (entre as

IFES) que privilegia o número de alunos efetivos na graduação.

O Censo da Educação Superior mostra que se ingressou num novo ciclo de expansão

acelerada, sobretudo dos cursos de graduação. Segundo a Presidente do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), “ o ensino superior brasileiro

incorporou, em 1999, cerca de 252 mil novos alunos aos cursos de graduação, o que

representa um crescimento substantivo de 11,8% em relação à matrícula total do ano

anterior. É a maior taxa registrada nas últimas duas décadas e o maior aumento anual da

história em números absolutos de matrículas. Com isso, de 1998 a 1999, o total de

estudantes universitários passou a 2.125 mil para 2.377 mil. Mantido o ritmo atual de

crescimento, o sistema deverá atingir, em 2002, a casa de três milhões de alunos

(Castro, 2000).

Essa expansão ocorreu, basicamente, por intermédio de centros universitários,

faculdades integradas e instituições isoladas. Além disso, das 124 instituições criadas

em 1999, mais de 95% eram particulares. De acordo com o Censo, o setor privado já

responde por 65% das vagas oferecidas no ensino superior brasileiro, o que evidencia

uma tendência de concentração acelerada da oferta na rede privada, em que pese o

Plano Nacional de Educação (PNE) do Executivo Federal exigir uma proporção de 40%

das matrículas nas IES públicas e 60% nas IES privadas até 2008. Verifica-se, ainda,

que o crescimento da oferta se dá mediante a abertura de vagas em cursos relativamente

baratos, ocorrendo nos cursos, nas cidades e regiões onde já há maior oferta de vagas e,

ao que parece, pode estar implicando em perda da qualidade do ensino superior.

De um modo geral, as políticas de diversificação e diferenciação da educação superior

estão acentuando cinco pressupostos fundamentais do neoliberalismo, quais sejam:

a) buscam favorecer a concorrência e o atendimento às diferentes demandas e

clientelas, mediante oferta diversificada e diferenciada do nível superior,

promovendo uma dissociação entre ensino e pesquisa;

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b) procuram naturalizar, ainda mais, as diferenças individuais, instituindo

paulatinamente um sistema, no qual cada um terá o ensino superior que possa ter;

c) ampliam a subordinação a subordinação do ensino superior ao mercado,

particularmente no tocante à formação profissional e à produção de bens e

serviços acadêmicos;

d) explicitam mais a forma de funcionamento do sistema do que as suas finalidades

sociais;

e) dão ao Estado os instrumentos legais e burocráticos necessários à avaliação,

supervisão e controle, o que permite promover uma maior competitividade no

sistema.

Nesse contexto reformista, observa-se que as universidades federais, com maior capital

científico, intelectual e cultural estão procurando resolver os problemas e os conflitos

atuais por meio da inovação, no sentido de melhorar a eficiência e eficácia na obtenção

de produtos e processos gerenciais e comunicacionais, além da auto-afirmação da

identidade institucional, centrada na cultura e história de cada uma delas, na natureza de

suas atividades, no papel que desempenham na realidade local e no campo científico-

universitário em geral.

Tudo isso, no enquanto, vem fortalecendo, no interior do sistema mantido pelo

Executivo Federal, um processo mais concorrencial no qual prevalecem a identificação

e a produção de elementos acadêmicos que afirmem ou reconfigurem o perfil de

excelência de cada instituição. O jogo concorrencial da diferenciação e da distinção

institucional, ou melhor, da ocupação de posições específicas e diferenciadas, contribui

para desmontar o sistema federal, tendo em vista que rompe, paulatinamente, com

elementos centrais de convergência, que asseguravam, pelo menos em tese, certo nível

de solidariedade, como a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, a gestão

democrática, o padrão unitário de qualidade, a carreira unificada e a avaliação

institucional.

As universidades federais já começam a exibir diferenças essenciais, especialmente na

forma de estruturação e de organização interna, na produção do trabalho acadêmico e

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nas tomadas de posição diante das políticas de educação superior e demandas do

mercado, tornando-se cada vez mais independentes, sobretudo em relação à unidade das

Instituições Federias de Ensino Superior. O processo é potencializado, em parte, porque

essas instituições se encontram em diferentes contextos e fases históricas de

desenvolvimento acadêmico. Além disso, começam a ganhar importância as posições,

as ações e as práticas internas, sobretudo por parte de alguns reitores das consideradas

grandes universidades federais, em favor de uma disputa mais intensa no interior do

sistema federal.

Evidentemente, o processo é condicionado e estimulado, em grande parte, pelas atuais

políticas de educação superior, que procuram estabelecer a competição e acentuar os

elementos que marcam a vocação e a distinção institucional, pode-se destacar duas

situações:

a) crescimento generalizado dos índices de produtividade das IFES, especialmente

a partir de 1997, mormente por meio da expansão de cursos de graduação, que

parece indicar uma resposta ajustada à atual pol.ítica de expansão e massificação

da educação superior;

b) acirramento da disputa em torno dos recursos federais através da concorrência

estabelecida pela nova matriz de distribuição entre as IFES, adotada pelo MEC

em 1999, que, ao ampliar os recursos para uma instituição, diminui-os,

conseqüentemente, para outra. Ganham importância, também, os pleitos das

universidades federais em torno dos aportes adicionais dos programas especiais,

criados, em grande parte, pelo próprio Mec, fazendo com que os convênios se

tornem uma fonte fundamental para manutenção e desenvolvimento dessas

instituições.

De um modo geral, portanto, a lógica reformadora das universidades federais joga com

a idéia da diferenciação como inerente à natureza das universidades, uma vez que a

distinção, o prestígio e a legitimidade científica mobilizam e movimentam os agentes

acadêmicos do campo científico-universitário. Assim, além do fato de as políticas em

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curso estarem baseadas na lógica da diversificação e diferenciação institucional, as

universidades federais tendem a se diferenciar, cada vez mais, por duas razões:

a) o ideário e o comprometimento com o projeto de nação, com o desenvolvimento

estratégico do país e com a produção de conhecimento e de alta cultura parecem

dar lugar às relações com os contextos local e regional, uma das formas de

sobrevivência institucional;

b) as alterações nos padrões de gestão e de produção acadêmica ocorrem

cotidianamente, o que dificulta sua identificação, bem como a tomada de

consciência e a definição de uma posição mais radical de resistência; as

condições materiais de sobrevivência institucional e dos docentes, embora

evidenciem as novas relações de subordinação e de exploração do trabalho

acadêmico, implicam em uma maior aceitação, indiferença ou facilitação do

processo de reorganização do sistema e de ajustamento das universidades

federais, sem um projeto orgânico do pool dessas instituições.

Nesse contexto de metamorfose institucional as universidades federais apresentam

modificações cotidianas nos padrões de gestão, financiamento, avaliação, currículo,

pesquisa e pós-graduação, que acenam para mudanças estruturais em suas identidades e

finalidades institucionais, especialmente na produção do trabalho acadêmico. Esses

elementos organizativos do trabalho acadêmico mostram-se mais permeáveis às

mudanças nas relações de produção, o que permite certo ajustamento à lógica de

reestruturação da educação superior.

Essas alterações alcançam de forma mais intensa as universidades federais consideradas

de pequeno e médio portes, em razão delas ainda serem jovens e suas identidades

estarem em processo de construção.

Na verdade, pode-se dizer que suas configurações históricas e seus perfis no contexto

local e no campo científico-universitário encontram-se em fase inicial de estruturação,

tornando-as mais vulneráveis às determinações do Executivo Federal,aos sinais do

mercado e aos processos de ajustamento em curso, de um modo geral, o que ocorre

também porque se trata de universidades que possuem status acadêmico pequeno ou

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moderado no conjunto das federais, em razão do volume de capital intelectual que

detém no campo científico-universitário. Ao contrário, se ocupasse posição de maior

destaque poderiam, pelo menos em tese, resistir ou inovar em nome de uma natureza e

de uma identidade mais consolidada.

A análise das mudanças nessas universidades federais, especialmente daquelas ocorridas

nos últimos anos, indica amplo processo de modelação organizacional, centrado em

uma lógica cuja racionalização evidencia a adoção de um paradigma contábil, que

objetiva torna-las mais ágeis, flexíveis e eficientes, como evidenciam, por exemplo, a

simplificação de estruturas acadêmicas, a tentativa de desburocratizar processos

administrativos e acadêmicos e a implantação de sistemas de informação que permitam

maior controle e gerenciamento dos recursos. Essas mesmas alterações mostram, ainda,

que as mudanças no âmbito da gestão e do financiamento, da avaliação, do currículo e

da pesquisa e pós-graduação, ocorrem cotidianamente no processo de tomadas de

decisões, de atendimento às demandas externas e de busca de melhoria das condições de

trabalho, incluindo-se a questão salarial.

Nesse processo de ajustamento, de sobrevivência e de desenvolvimento institucional, há

indícios de que essas universidades assumam um perfil mais funcional e pragmático, o

que pode distanciá-las paulatinamente do ideal de universidade como instituição social

que se pauta, sobretudo, pela natureza das suas atividades, pela cultura e história

institucional e pelo papel que desempenham no processo de democratização e

emancipação da sociedade. De um modo geral, observa-se, atualmente, que as

universidades federais são marcadas pelos seguintes fatores:

a) a crescente oferta de cursos de graduação, apesar da diminuição constante no

número de professores e servidores técnicos-administrativos, que pode melhorar

a relação custo-aluno e o acesso aos cursos de graduação, mas também

condicionar as identidades e os processos de desenvolvimento institucional,

caracterizando-as como universidades de ensino voltadas para a formação de

profissionais;

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b) desencadeamento de processos de flexibilização curricular dos cursos de

graduação, objetivando dinamizar a formação acadêmica e ajusta-la às

exigências do mercado de trabalho de acordo com cada área profissional;

c) ampliação constante das atividades de extensão, especialmente na forma da

prestação de serviços remunerados;

d) crescimento do atendimento às múltiplas demandas locais e regionais, sobretudo

por intermédio de convênios e contratos de prestação de serviços remunerados,

que permite ampliar, por um lado, a regionalização e interiorização e, por outro,

a receita própria da universidade, que acaba suprindo algumas das lacunas

ocasionais pelas constantes reduções orçamentárias;

e) agilização da prestação de serviços remunerados por meio de fundações de apoio

às atividades acadêmicas;

f) ampla oferta de cursos pagos de especialização, que complementam os salários

dos professores, mas absorvem tempo e energia dos docentes, notadamente

daqueles com maior titulação;

g) expansão de cursos de mestrado profissionais;

h) modernização e modelação organizacional, especialmente por meio do

enxugamento de estruturas acadêmicas e implantação de sistemas gerenciais de

informação, que objetivam ampliar a eficiência na gestão e estimular a

produtividade;

i) desenvolvimento dos mecanismos de avaliação e controle do trabalho

acadêmico, enfatizando a produtividade docente e institucional.

Esses traços gerais confirmam que a mudança na organização do tempo-espaço do

trabalho acadêmico consubstanciam num processo de metamorfose na identidade

institucional das universidades federais, na perspectiva de torna-las mais

operacionais.Boa parte do ajustamento dessas instituições, no entanto, faz-se por meio

de uma adequação da gestão e da produção do trabalho acadêmico aos parâmetros e aos

ritmos da Gratificação de Estímulo à Docência (GED) e aos ditames das condições

objetivas locais e regionais, consubstanciados nos convênios e na prestação de serviços

remunerados, além do crescimento generalizado nos índices de produtividade por meio,

especialmente, da expansão dos cursos de graduação. Assim, essa lógica reformadora,

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pautada na busca constante de eficiência administrativa e de produtividade, está

conseguindo alterar a configuração institucional existente e o modus operandi do

trabalho acadêmico, ampliando paulatinamente a subordinação da gestão e da produção

da universidade aos parâmetros gerais da reforma.

É preciso ressaltar ainda que no processo de metamorfose das universidades federais, as

tensões, os conflitos e o acirramento das posições em disputa, ocasionados pelas

alterações cotidianas nos movimentos e nos processos de organização do tempo-espaço

de produção do trabalho acadêmico, diminuem, paulatinamente, sua intensidade ao

longo do tempo. À medida que se instalam novas práticas e surgem novas disposições,

verifica-se certa adaptação às novas situações. Assim, pressupostos antigos são

mudados, em razão da realidade objetiva de cada instituição, da qual é possível, quase

sempre, justificativas convincentes para as necessárias alterações nas práticas, nos

valores e na cultura institucional.

A reforma da educação superior e o processo de ajustamento das IFES encontram-se em

desenvolvimento. Nessa movimentação observam-se sinais de resistência e por vezes,

de inovação, que buscam conservar ou produzir as características da concepção histórica

de uma universidade em sentido pleno. A universidade luta, portanto, entre ajustar-se às

atuais políticas de educação superior e às demandas do mercado e desenvolver um

projeto político-pedagógico próprio, coerente com a construção de sua autonomia, uma

vez que, muitas delas, parecem entender que sua identidade tende a resistir na

capacidade de diferenciação do sistema.

Esse momento de metamorfose é, portanto crucial para o conjunto das universidades

federias, uma vez que não respeita a história, a identidade e o processo de construção de

autonomia em cada instituição. A reorganização da educação superior no Brasil,

sobretudo, por meio das políticas de diversificação e diferenciação, implica maior

ajustamento das universidades, mantidas pelo Poder Público, às demandas e as

exigências do mercado, reduzindo progressivamente o exercício da liberdade acadêmica

de produção. As políticas de diversificação e diferenciação cunhadas em uma ótica

capitalista estritamente concorrencial, fatalmente impedirão a formação de uma

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consciência acadêmica comprometida com os interesses da maioria, além de pôr em

risco a finalidade histórica e essencial da universidade, qual seja, a produção do

conhecimento autônomo voltado para o bem-estar coletivo e para a emancipação social.

Por tudo isso, a luta pela liberdade acadêmica, sem formas tão determinantes de

constrangimento, representa um dos modos de enfrentamento desse processo de

ajustamento e de metamorfose. A liberdade acadêmica é historicamente constitutiva da

universidade, pois permite a ela exercitar o seu papel de crítica, de constituição do novo,

de luta pela expansão da esfera pública e pela emancipação social.A liberdade

acadêmica, no exercício da produção do conhecimento e do ensino, ou seja na produção

da força de trabalho acadêmico, significa condição essencial para constituição e

afirmação da universidade pública.

Deve-se compreender que como um bem social a serviço da coletividade, essas

universidades encontram-se compromissadas com o país, a quem precisam contribuir

decisivamente para o seu desenvolvimento e para a redução das desigualdades

regionais, tornando as realidades nacionais mais homogêneas e equilibradas, o que no

caso das universidades federais, implica assegurar financiamento público, autonomia

interna e externa, manutenção e desenvolvimento do sistema e gestão democrática.

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5. A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA

A universidade contemporânea resulta das conquistas científicas e tecnológicas que se

seguiram à Revolução Industrial, tendo suas raízes históricas nas studia generali ,

instituições medievais criadas para licenciar mestres, formar doutores e profissionais

leigos, tendo em vista em vista o fato de que as escolas monásticas preparavam apenas

para a carreira religiosa.

As primeiras Universidades remontam a Itália do século XI: em Salermo, para os

estudos de medicina e em Bolonha, como centro de estudos jurídicos.

Desde os primórdios tempos de sua fundação, a Universidade medieval lutou por

liberdade acadêmica, uma vez que a religião poderia servir como verdadeiro freio à

atividade intelectual, em virtude dos rigorosos controles que o poder eclesiástico

buscava exercer sobre todo o tipo de manifestação cultural ou científica.

No ano de 1158, estudantes estrangeiros da Universidade de Bolonha conseguiram do

Imperador Frederico I, o Barba Roxa, imunidades e privilégios especiais.

Com o fim da Idade Média e o advento dos estados Nacionais e das monarquias

centralizadoras, a universidade perde sua autonomia e passa a ser controlada pelo

Estado, transformando-se em instrumento de satisfação dos interesses de príncipes e

reis.

A Universidade da era moderna, desta forma, passa a ser uma instituição fechada, sem

as mínimas condições para afirmar sua liberdade e autonomia.

A primeira Universidade brasileira data de 1920, a Universidade do Brasil, hoje

denominada Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Além do ensino superior militar, até 1889, o Brasil contava apenas com sete instituições

de ensino superior: as Faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo, as Faculdades de

Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, a Politécnica do Rio de Janeiro, a Escola de

Minas, em Ouro Preto e o Instituto Agronômico, em Campinas.

A relação entre a União e as instituições públicas ou privadas de ensino superior é

extremamente complexa, devido à constante oposição do governo federal à autonomia

dos entes federados, das universidades e da iniciativa privada.

As restrições à liberdade acadêmica no Brasil têm raízes históricas. Os aparato de

Estado e o Estatuto Colonial da Coroa Portuguesa foram marcados pelo espírito

reacionário da chamada Contra-Reforma, fato histórico responsável pela prosperidade

de uma cultura intervencionista que se estendeu a todos os territórios sob o domínio

português.

O Brasil, como colônia de um País que proibia a importação e venda de livros e punia a

instalação de qualquer tipografia, cresceu isolado dos avanços do mundo acadêmico, ao

tempo em que a Espanha mantinha cerca de duas dezenas de universidades em suas

colônias, conforme salienta Darcy Ribeiro.

A primeira tentativa visando conceder autonomia universitária estava no Decreto n°

19.851/31, de iniciativa do Ministro Francisco Campos. Contudo, a ação

intervencionista estatal impediu a plena efetividade desta lei.

A autonomia universitária tem natureza jurídica de poder derivado funcional, limitado

ao que é peculiar à entidade que o detém, tendo sido formalmente restabelecida pela

atual Constituição da República.

Todavia, as normas de descentralização e de autonomia do processo educacional

superior vêm sendo dificultadas, uma vez que a regulamentação da LDB está a cargo,

fundamentalmente, da União, que sob o discurso da qualidade educacional, se faz

expressar por meio de medidas provisórias, decretos, resoluções, portarias e

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deliberações, o que deixa estampada a forte intervenção do Estado brasileiro na

educação superior.

A produção, desenvolvimento e transmissão de conhecimento social são elementos

característicos da universidade pública e privada, características estas que correspondem

à finalidade social que exerce a Universidade o que justifica a autonomia prevista no

artigo 207 da Constituição da República e que se legitima em face dos objetivos

fundamentais da República Federativa do Brasil, estampados no artigo 3° da Carta

Constitucional, podendo ser destacados a construção de uma sociedade livre e solidária,

a garantia do desenvolvimento nacional, a redução das desigualdades sociais e

regionais.

O artigo 207 da Constituição da República assim dispõe:

“ Artigo 207. As universidades gozam de autonomia didático-

científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e

obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa

e extensão”.

Além da autonomia didático-científica, que confere à Universidade poderes para

administrar seus recursos materiais e humanos, bem como escolher seus dirigentes, é

necessário que as instituições de ensino superior tenham autonomia financeira e de

gestão patrimonial, pois, sem recursos financeiros, ou sem liberdade para estabelecer

suas prioridades neste setor, a Universidade brasileira não terá condições mínimas para

responder aos desafios de uma sociedade em franca e acelerada mudança.

Ponto polêmico é o condizente à possibilidade de outorgar eficácia imediata ao artigo

207 da Constituição da República,supra transcrito, uma vez que parte da doutrina

entende que o referido dispositivo constitucional figura dentre aqueles auto-aplicáveis,

ou seja, não depende de regulamentação. Neste diapasão encontra-se José Alfredo de

Baracho, que, para demonstrar que não justifica a tentativa de emendar o referido artigo

legal, afirma:

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“É desnecessária a regulamentação do artigo 207, pois, além de

não existir referência expressa à norma reguladora, a autonomia

constitucionalmente assegurada se refere exatamente à capacidade

que as universidades têm garantida pela Constituição de auto

organizar-se e auto gerir-se sem necessidade de lei do Congresso

Nacional...”

No mesmo momento, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Clóvis Ramalhete,

em parecer, afirma que:

“É evidente que esse artigo constitucional tem vigência

imediata, pois é completado pelo sistema de regras anteriores que

encontrou e que dispõe em harmonia com eles. Ele apenas deu

hierarquia superior, e sem modifica-lo, ao regime anterior

constante de lei.”

As autoridades do Ministério de Educação se posicionam de maneira diversa,

defendendo sua regulamentação por intermédio de uma lei que confira autonomia às

Instituições de ensino superior. A outra parte da doutrina assim também entende.

Observe-se por exemplo, a opinião de Eunice Ribeiro Durham:

“As universidades federais não gozam de autonomia porque não

há uma lei que especifique em que exatamente ela consiste. A lei não

está sendo proposta para retirar uma autonomia que as

universidades públicas hoje gozam. Ao contrário, é necessário para

lhes garantir uma autonomia que hoje não possuem. Mesmo as

estaduais paulistas reivindicam uma lei que lhes assegure sua

autonomia atual, porque, estando ela assegurada apenas por decreto,

pode ser destruída a qualquer momento”.

Assim, visando efetivar e viabilizar a aplicabilidade da autonomia universitária e com

isso, conferir maior flexibilidade e proporcionar às universidades federais uma gestão

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mais eficaz, valorizando o ensino e o corpo docente, o Poder Executivo elaborou projeto

de lei, com vinte e nove artigos, que se encontra em trâmite no Congresso Nacional.

Desta forma, o problema da autonomia universitária será resolvido, parcialmente, uma

vez que o referido projeto não contempla as demais instituições de ensino superior.

O artigo 53 da Lei de Diretrizes e Bases assegura às universidades, no exercício da

autonomia a elas conferida pelo dispositivo constitucional supramencionado, as

seguintes atribuições: criação, organização e extinção, em sua sede, de cursos e

programas de educação superior, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o

caso, do respectivo sistema de ensino; fixação dos currículos dos seus cursos e

programas; estabelecimento de planos, programas e projetos de pesquisa científica,

produção artística e atividades de extensão.

Assegura, ainda, a fixação do número de vagas de acordo com a capacidade

institucional e outras exigências; elaboração e reforma de seus estatutos e regimentos

em consonância com as normas gerais; atribuição de graus, expedição de diplomas e

outros títulos; assinaturas de contratos, acordos e convênios; aprovação e execução de

planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições

em geral, bem como administração de rendimentos e deles dispor na forma prevista no

ato de sua criação, nas leis e nos respectivos estatutos; recebimento de subvenções,

doações, heranças, legados e cooperação financeira resultantes de convênios com

entidades públicas ou privadas.

Para garantir a autonomia didático-científica, o parágrafo único do aludido artigo 53

dispõe que os colegiados de ensino e pesquisa das universidades devem decidir sobre a

criação, expansão, modificação e extinção de cursos; ampliação e diminuição de vagas;

elaboração da programação dos cursos; programação das pesquisas e das atividades de

extensão; contratação de dispensa de professores e planos de carreira docente;tendo

tudo isto que estar previsto nos estatutos da universidade.

Neste sentido manifestou-se o Tribunal Regional Federal da 2° Região, em recente

decisum:

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Constitucional. Autonomia Universitária.Autorização de Qualidade

pelo Poder Público. Art. 209,II, Constituição Federal. Aprovados os

estatutos de universidade, com previsão de instalação de novos cursos em

outros locais que não a sua sede, satisfeito encontra-se o requisito de

prévia autorização. Ademais, a Administração Pública, ao exercer a

discricionariedade, o faz, também, de acordo com o princípio da

legalidade, de modo que, presentes todos os requisitos objetivos e

subjetivos, tem o particular direito subjetivo ao deferimento de seu pleito.

A avaliação de qualidade, por sua vez, é ato posterior à instalação, não se

podendo, à toda evidência, aferir qualidade de alguma coisa que não

existe. Recurso provido.Sentença reformada. (RE n°283.908-RJ, TRF da 2°

Região Julgamento 7/2/2001).

A autonomia é característica, tanto da Universidade Pública como da Universidade

Privada e se difere, para cada qual, na forma de administrar e gerir, devido aos

diferentes regimes jurídicos a que se submetem tais instituições.

O artigo 46,δ 1°, da Lei de Diretrizes e Bases, prevê a suspensão temporária de

prerrogativas de autonomia, como resultado de avaliação da instituição pelo respectivo

sistema de ensino: tal regra vale tanto para as instituições públicas quanto para as

instituições privadas.

Da mesma forma, não há diferenciação quanto às dimensões materiais da outorga

constitucional voltada ao ensino, `a pesquisa e à extensão, para ambas as instituições,

ou seja, a regra vale tanto para as entidades públicas quanto para as particulares.

O verdadeiro elemento de distinção é notado quanto ao exercício da autonomia em

regimes jurídicos distintos: para as universidades públicas, o regime jurídico

administrativo, que apesar de lhes garantir prerrogativas e privilégios de que não

dispõem as universidades privadas, lhes impõe restrições, como por exemplo, quanto à

celebração de contratos e à dispensa do servidor, além de sujeitá-las a mecanismos

formais de controle externo e interno; para as universidades privadas, o regime privado,

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que se expressa, fundamentalmente, na autonomia da vontade e na liberdade de

contratação, o que lhe confere maior amplitude de administração e gestão.

Sempre que alguma instituição de ensino superior, valendo-se de sua autonomia,

envolver-se na montagem de cursos irregulares ou agir sob qualquer outra conduta

fraudulenta, deve ser aberto o competente inquérito junto a Polícia Federal, sem

prejuízo da submissão desta instituição a um processo de recredenciamento perante o

Ministério da Educação, medida esta que suspende a autonomia universitária,

ocasionando o impedimento de abrir novos cursos, bem como de aumentar o número de

vagas.

Ao lado deste fato, deverá a Universidade ser submetida a um processo de

recredenciamento junto ao Ministério da Educação, medida esta que suspende a

autonomia universitária, ocasionando o impedimento de a respectiva universidade abrir

cursos, tampouco aumentar o número de vagas.

Ao que tudo indica, o País despertou para o fato de que é inconcebível pensar em

progresso, sem que haja melhorias na área educacional.

A educação superior no Brasil está seguindo os princípios instituídos na Declaração

Mundial sobre Educação Superior no Século XXI e a autonomia, juntamente com a

imunidade aos impostos que, para as instituições públicas, obedece ao dispositivo no

artigo 150, inciso VI, alínea a e para as instituições privadas sem fins lucrativos,

obedece ao disposto no artigo 150, inciso VI, alínea c, são instrumentos legítimos e

eficazes para a diminuição das desigualdades sociais, proporcionando liberdade e

aumentando as chances para os indivíduos.

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6. O SISTEMA E A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DA

EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

A avaliação da educação superior no Brasil ganhou maior relevo na década de 90,

especialmente a partir do primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso

(1995-1998). Desde então vem sendo constituído amplo sistema que contempla um

conjunto de mecanismos e procedimentos de avaliação, incluindo alguns que já

existiam, como é o caso da sistemática de Avaliação dos Programas de Pós-graduação,

o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) e as

Avaliações de Cursos de graduação pelas Comissões de Ensino.

De um modo geral, o sistema de avaliação do ensino superior vem adquirindo grande

centralidade no processo da reforma, principalmente se levar em consideração os

procedimentos de avaliação introduzidos nos anos recentes tais como o Exame Nacional

de Cursos (ENC), iniciado em 1996, e a Avaliação das Condições de Oferta de Cursos

de Graduação, a partir de 1997. Além desses instrumentos, o governo tem produzido

censos anuais, com indicadores quantitativos globais, que fornecem estatísticas da

evolução do sistema e da situação particularizada de cada IES. Vale lembrar, também,

que no caso das IES, mantidas pelo Executivo Federal, o volume de informações dispõe

de sistemas de acompanhamento e controle de pessoal e de aplicação dos recursos

orçamentários, além de contar com as informações obtidas através da Gratificação de

Estímulo à Docência (GED), programa criado em 1998.

Observa-se, portanto, que o governo FHC instituiu um sistema de avaliação, que

privilegia o ensino de graduação – sistema esse articulado à política de expansão do

ensino superior que está sendo praticado no país. No contexto dessa expansão, a

avaliação tem a incumbência de zelar pela qualidade dos cursos e das instituições,

impondo uma “cultura de aprimoramento”. Segundo o então ministro da educação,

Paulo Renato, a “política de avaliação e expansão do ensino superior” adotada, devido

às “distorções do sistema” e aos “baixos percentuais de oferta”, permitiu que ocorre-se

uma “abertura de novos cursos”, sem restrição ou cerceamentos corporativos de

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algumas áreas profissionais. Para ele, “as limitações orçamentárias à expansão da esfera

pública, onde tentaremos ampliar e diversificar a oferta por meio do projeto de

autonomia universitária (...), faz que dependamos da iniciativa privada” (Souza,1999).

A vinculação da expansão do ensino superior com um determinado tipo de avaliação

teve início com o ENC. Todavia, foi melhor explicitada em 1996, através do Decreto

n°2.026/96 que “estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos cursos e

instituições de ensino superior”. Esse Decreto promove ampla reorganização do sistema

de avaliação do ensino superior, inclusive ajustando os mecanismos avaliativos

existentes anteriormente. Os procedimentos indicados no processo de avaliação dos

cursos e instituições de ensino superior, conforme o art. 1°, são os seguintes:

I - análise dos principais indicadores de desempenho global do sistema nacional

de ensino superior, por região e unidade da federação, segundo as áreas do

conhecimento e o tipo ou a natureza das instituições;

II - avaliação do desempenho individual das instituições de ensino superior,

compreendendo todas as modalidades de ensino, pesquisa e extensão;

III – avaliação do ensino de graduação, por curso, por meio da análise das

condições de oferta pelas diferentes instituições de ensino e pela análise dois resultados

do Exame Nacional de Cursos;

IV – avaliação dos programas de mestrado e doutorado, por área do

conhecimento.

Percebe-se a clara intenção de imprimir uma orientação mais articulada aos diferentes

instrumentos de avaliação existente ou que vinham sendo implementados na educação

superior., como se fossem mecanismos ou procedimentos complementares e, portanto,

expressassem uma concepção única e global de avaliação desse nível de ensino. O

próprio Decreto deixa claro que os procedimentos de avaliação “são complementares,

porém independentes podendo ser conduzidos em momentos diferentes e fazendo uso

de métodos e técnicas apropriados a cada um” (art.2°).

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Para entender essa recomendação quanto aos procedimentos de avaliação indicados é

preciso compreender que;

a) os indicadores de desempenho global, que dão origem aos Censos do Ensino

Superior do Mec, foram anteriores ao governo FHC e, portanto, foram

ampliados dentro da nova concepção de avaliação do governo da época;

b) a avaliação do desempenho individual das IES se daria, principalmente, através

do ENC, conhecido como Provão;

c) a avaliação do ensino superior de graduação, em cada curso, será feita através da

análise das condições de oferta desses cursos nas diferentes instituições;

d) o atual processo de avaliação dos programas de mestrado e doutorado foi

construído ao longo do processo de implementação da pós-graduação no país,

sendo considerado legítimo e eficaz, o que levou o governo a manter, em grande

parte, a sistemática de avaliação existente.

De um modo geral, pode-se afirmar que o sistema instituído está centrado na avaliação

individual das IES, mediante trabalho de análise das condições de oferta dos cursos a

ser efetuado pelas Comissões de Especialistas designadas pelo Mec, bem como na

avaliação dos cursos de graduação, através do ENC.Na montagem do arcabouço legal,

percebe-se que a análise das condições de oferta dos cursos é complementar aos

resultados dos exames nacionais de cursos. O Provão, criado por lei em 1995, embora

acoplado a toda uma sistemática de avaliação, tem um papel preponderante na

remontagem desse cenário da educação superior.

Essa sistemática de avaliação foi complementada pela nova LDB, em 20 de dezembro

de 1996, dois meses após a publicação do Decreto n° 2.026/96. No tocante à avaliação

do ensino superior, essa lei limitou-se a estabelecer que “a autorização e o

reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação

superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo

regular de avaliação” (art. 46). O parágrafo 1° do art. 46 prevê que haverá reavaliação,

após prazo de saneamento das deficiências, o que pode resultar “em desativação de

cursos e habilitações, em intervenção na instituição, em suspensão temporária de

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prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento”. De modo geral, a instituição de

um processo de avaliação permanente, ou melhor, de uma avaliação periódica para

autorização e reconhecimento de cursos e de credenciamento de instituições é

considerado bastante positivo no quadro de crescente expansão, heterogeneidade e de

diferenciação qualitativa do ensino superior no país.

A sistemática de avaliação na reforma da educação superior foi sendo constituída ou

costurada no processo de implementação das políticas de avaliação do Executivo

Federal. Isso não significa que tais medidas sejam desarticuladas. Na verdade, elas

foram sendo editadas como um quebra-cabeça que era montado em função da situação

política em cada momento. Se as finalidades não estavam suficientemente transparentes,

a utilização dos resultados, que vem sendo feita pelo governo, das diferentes

sistemáticas de avaliação, explicitam quais os fins do processo de avaliação e controle,

bem como quais os mecanismos de avaliação privilegiados que dão conta da política

adotada. Atualmente, o presidente Luiz Inácio Lula assinou uma medida provisória

instituindo um novo modelo de avaliação de cursos e de instituições de ensino superior.

Os principais programas e mecanismos de avaliação do ensino superior vigentes no

país, serão detalhados a seguir:

1 - Avaliação dos programas de pós-graduação

A sistemática de avaliação desses cursos no Brasil já está consolidada há bastante

tempo, sendo considerada, em geral, eficaz e adequada pela comunidade acadêmica.

Essa avaliação é realizada pela Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento do

Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Mec.

Em 1998, a Capes promoveu alterações na sistemática de avaliação. Até aquela data,

eram atribuídos conceitos de A a E aos programas, baseados na análise das condições de

especialistas, com validade de dois anos. Na nova sistemática de avaliação a

classificação passou a ser composta por sete níveis de conceitos – de 1 a 7 -, sem

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frações. A avaliação passou, também a ser efetuada por programa de pós-graduação e

não mais separadamente por cursos (mestrado e doutorado). Além disso, decidiu-se que

conceitos superiores a cinco somente poderiam ser atribuídos a programa que

mantivesse curso de doutorado. Na primeira avaliação, dentro da nova sistemática, os

parâmetros estabelecidos pelas Comissões de Área para compor o “perfil de um Curso

A” corresponderam ao perfil dos programas com conceito cinco, até então.

Essas mudanças ocorreram porque julgou-se, principalmente, que houve uma “perda do

poder discriminatório” de classificação no modelo anterior. Para a Capes, havia um

número muito grande de cursos com conceitos A (excelentes), cerca de 50%, o que não

permitia diferenciar os cursos com qualidade inferior. Dentre os principais problemas do

modelo anterior foram apontadas: a) adoção, com referência, de um cenário muito

restrito à realidade brasileira; b) super dimensionamento do papel do mestrado e

organização de alguns cursos desse nível como verdadeiros pequenos doutorados; c)

consagração de um rígido esquema seqüencial entre o mestrado e o doutorado; d)

consagração dos cursos como unidades de referência para a política de apoio e incentivo

à pós-graduação e como base para a estruturação do Sistema de Avaliação; e) orientação

do sistema de pós-graduação quase que exclusivamente para o atendimento das

necessidades do mercado acadêmico; f) valorização e reforço de um modelo rígido de

organização da pós-graduação; g) baixo nível de interação entre a pós-graduação e a

graduação; h) fortes desequilíbrios inter e intra-regionais e entre as diferentes áreas do

conhecimento.

2 – Programa de avaliação institucional da Universidades Brasileiras (PAIUB)

O PAIUB foi criado pelo Mec em 1993. No entanto, segundo Dias Sobrinho(1999), sua

formulação e sua implementação inicial decorreram do aproveitamento das experiências

exitosas de auto-avaliação realizadas pelas universidades brasileiras, particularmente

pelas federias e por algumas estaduais como por exemplo, a Universidade de Campinas

(Unicamp). Os princípios e as diretrizes desse programa, definidos desde sua criação,

foram os seguintes: globalidade (amplo processo avaliativo), adesão voluntária, respeito

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à identidade institucional (perfis, missões, condições, necessidades, aspirações),

participação de toda a comunidade acadêmica vinculada a cada instituição, ausência de

recompensa ou punição e continuidade do processo de avaliação. Para aderir ao

programa as IES devem apresentar seu projeto de avaliação institucional junto à

Secretaria de Educação Superior (SESU), responsável pela coordenação do programa.

A formulação conjunta desse programa de avaliação institucional assegurou, na visão de

Dias Sobrinho (1998), duas características fundamentais: a não vinculação da avaliação

com o financiamento e a adesão voluntária. Para esse autor, a legitimidade do PAIUB

reside no fato desse programa ser marcado pela construção coletiva e participativa, pela

cooperação e pelo sentido educativo e pedagógico, uma vez que não é obrigatório e

pressupõe adesão espontânea. É também um programa que respeita as identidades das

universidades e implanta uma nova cultura de avaliação institucional, além de alimentar

a discussão sobre a universidade e sua missão. Assim, o grande mérito do programa

talvez seja a busca socializada de construção de um modelo de avaliação apropriado às

universidades e à comunidade acadêmica brasileira, os esforços compartilhados de

superação das dificuldades teóricas e práticas e das divergências ideológicas, os debates

públicos e as reflexões a respeito da educação superior, a ruptura das resistências e

bloqueios à implementação de práticas avaliativas, as trocas de experiências e a

solidariedade interuniversitárias, a transparência ante a sociedade.

O programa expandiu-se, rapidamente, devido a sua ampla aceitação no campo das

universidades, embora venha recebendo um “ambíguo e tímido apoio oficial”, uma vez

que não representa a atual concepção de avaliação do ministério. De um total de 156

universidades, o PAIUB chegou, em 1997, ao atendimento de 138 instituições, sendo 48

federias, 28 estaduais, 8 municipais, 32 comunitárias/confessionais e 22 particulares. O

percentual de atendimento só não foi total nas IES federias (90,5%) e nas particulares

(50%).

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3 – Exame Nacional de Cursos - (ENC)

Essa sistemática de avaliação compreende um conjunto de procedimentos que vem

sendo desenvolvidos pelo MEC desde o início do primeiro governo FHC. A Lei

n°9.131/95, que criava o Conselho Nacional de Educação (CNE), em substituição ao

antigo Conselho Federal de Educação, e instituía o Exame Nacional de Cursos (Provão).

Essa lei evidencia que a avaliação periódica das instituições e dos cursos de nível

superior iria se tornar um dos elementos centrais das políticas nesse nível de ensino. A

lei já anunciava que a reforma “iniciada” seria pautada por uma série de avaliações e de

mecanismos de controle que objetivassem aferir a “qualidade e a eficácia” na área.

A vedete desse movimento de avaliação, seria no entanto, a ENC. A lei determinava que

esses exames nacionais seriam realizados anualmente, com base nos conteúdos mínimos

dos cursos. A função básica de tais exames seria “aferir os conhecimentos e

competências adquiridos pelos alunos em fase de conclusão dos cursos de

graduação”.(art.3°).

Os resultados do ENC devem ser divulgados anualmente, informando “o desempenho

de cada curso, sem identificar nominalmente os alunos avaliados”. Os alunos são

obrigados a realizar o exame, sob pena de não obterem o diploma e conclusão de curso.

A lei garante que as notas não serão registradas no histórico escolar dos alunos, embora

o governo tenha defendido o contrário quando da sua discussão. Garante, também, que

os resultados individuais obtidos serão fornecidos exclusivamente a cada aluno e que se

este pode submeter-se a novos exames, objetivando melhorar seu desempenho.

O ENC é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais

(INEP), órgão ligado ao Mec, que conta com a assessoria de comissões por curso. O

ministério anuncia a cada ano quais os cursos que serão acrescidos na avaliação. Em

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2000, na quinta edição do exame, foram acrescidos os demais os cursos de agronomia,

biologia, física, psicologia e química. Além desses todos os outros cursos já foram

avaliados, ao longo desses anos.

Os resultados dos exames são divulgados anualmente pelo MEC. embora a lei afirme

que os exames serão utilizados para orientar as ações do ministério” no sentido

desestimular e fomentar iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade do ensino”,

especialmente através da elevação da qualificação dos docentes(art. 4°), nessas

divulgações vem se sobressaindo a classificação das IES e, como conseqüência, a

expectativa de fechamento ou credenciamento automático dos cursos e, ate´, das

instituições. Os resultados estão estimulando, ainda, uma ampla competição no campo

universitário.

4 – Avaliação das condições de oferta de cursos de graduação

Como parte do Programa de avaliação dos cursos de graduação, o MEC instituiu,

através do Decreto n°2.026/96, uma sistemática de avaliação das condições de oferta de

cursos de graduação, da qual consiste:

a) a organização didático-pedagógica;

b) a adequação das instalações físicas em geral;

c) a adequação das instalações especiais, tais como: laboratórios, oficinas e outros

ambientes indispensáveis à execução do currículo;

d) a qualificação do corpo docente (titulação, regime de trabalho, planos de cargos

e salários, produtividade científica, experiência profissional, relação

professor/aluno);

e) as bibliotecas, com atenção para o acervo bibliográfico, inclusive livros e

periódicos, regime de funcionamento, modernização dos serviços e adequação

ambiental.

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Esse formato de avaliação, que objetiva complementar o Provão no estabelecimento de

classificação das IES, teve início em 1977. Comissões de Especialistas foram

designadas para avaliar os cursos submetidos ao Provão em 1996 e 1997, por meio de

visitas aos locais de funcionamento. Os resultados das três dimensões agregadas,

Qualificação do Corpo Docente, Organização Didático-Pedagógica e Instalações, são

apresentadas na seguinte escala de conceitos: CMB – condições muito boas; CB -

condições boas; CR – condições regulares e CI – condições insuficientes.

5 - Gratificação de estímulo à Docência (GED)

Essa gratificação foi instituída no Magistério Superior das Instituições Federais de

Ensino Superior IFES, através da Lei n° 9.678/98. Os valores da gratificação

correspondem à pontuação obtida pelos docentes, de acordo com o regime de trabalho

(20 horas, 40 horas ou dedicação exclusiva), a categoria (auxiliar, assistente, adjunto ou

titular) e a titulação (graduação, aperfeiçoamento, especialização, mestrado ou

doutorado).

A pontuação atribuída pela GED com base na avaliação das atividades docentes,

privilegia o ensino através de maior pontuação da hora-aula semanal. São 10 pontos por

hora-aula. Dos 140 pontos possíveis, 120 podem ser adquiridos como parte da

avaliação quantitativa, ou seja através da totalização de horas-aula. A GED também

objetiva valorizar a titulação acadêmica e os professores da ativa, bem como acabar com

os reajustes isonômicos de salários mediante gratificação baseada no desempenho.

Dentre as principais finalidades está a de estimular mudanças no comportamento

docente e na natureza do trabalho acadêmico, em conseqüência com as políticas e com a

lógica da reforma da educação superior.

Nesse sentido tem sido enorme o impacto da GED através de mudanças fundamentais

no padrão de gestão, no comportamento e na natureza do trabalho acadêmico das IFES,

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muito mais do que o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras

(PAIUB) e o Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão.

No âmbito da gestão universitária, verifica-se acentuada preocupação em adequar,

registrar, controlar e uniformizar o desempenho docente, nas áreas de ensino, pesquisa,

extensão e administração. Os docentes estão se empenhando, cada vez mais, em

direcionar as atividades acadêmicas aos itens mais pontuados pela GED. Nesse ajuste

do comportamento docente, a “aula” tornou-se o objeto mais significativo devido a sua

maior pontuação, sacrificando-se as atividades de pesquisa, de extensão e

administrativas, o que explicita o desestímulo às atividades que não são consideradas

horas-aula.

Há, ainda três alterações fundamentais no âmbito da gestão das universidades federias,

especialmente no que tange à questão da avaliação. Em primeiro, lugar, “a GED está

promovendo amplo fortalecimento dos sistemas e mecanismos de informação bem

como das comissões que lidam com a avaliação e controladas atividades docentes”. A

GED utiliza, também, o Relatório Anual do Docente (RADOC), de”uma forma

peculiar”, ou seja, “como referência única ou básica” para pontuação das atividades

docentes realizadas”. Finalmente, a GED vem ultrapassando seus objetivos

proclamados, no cotidiano das instituições, devido à tamanha importância que está

adquirindo, sobretudo nos processos de estágio probatório, de demissão de professores

ou mesmo de progressão, indicando a fragilização ou substituição dos processos de

avaliação internos.

Para Catani & Oliveira, essas alterações suscitam quatro questões que devem continuar

sendo objeto de investigação e de preocupação. A primeira é que a “GED pode estar

tomando o lugar de processos de avaliação interna que vinham sendo construídos a

“duras penas” nas IFES, podendo inclusive “esfriar” ainda mais o PAIUB. A segunda é

que pode-se inferir que a GED venha a se tornar o indicador básico para o processo de

implantação da autonomia universitária no que tange à distribuição dos recursos

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baseada no desempenho e produtividade das IFES. A terceira é que a GED está atuando

também como elemento característico de aperfeiçoamento do processo de

burocratização da universidade, enquanto organização formal, uma vez que criou

gratificações diferenciadas e compensatórias segundo atividades, regime de trabalho,

categoria, titulação; instalou processo de redefinição dos objetos da produção

acadêmica; enfatizou o desempenho através da quantidade legal que atua como

elemento de racionalização das universidades federais por meio da institucionalização

de uma racionalidade econômica e produtiva.

A efetiva diferenciação na remuneração docente está estimulando a competição entre

professores, o que já pode ser atestado pela intensificação da disputa no campo

educacional Tal competição estaria explicitando duas novas realidades no processo de

produção do trabalho e da vida acadêmica. “A primeira diz respeito ao fato de que a

diferenciação inicial dos vencimentos vai sendo associada, paulatinamente, ao

desempenho ou mérito individual, o que legitima “naturalmente” as vantagens e/ou

prêmios conquistados, fazendo com que a pontuação das atividades docentes opere

como um ranking do êxito ou do fracassos do trabalho acadêmico. A segunda refere-se

às relações entre os trabalhadores docentes, “antes horizontais”, que se tornam mais

verticalizadas e naturalizadas, uma vez que a disputa e a rivalidade assumem a forma da

luta sos seres vivos pela sobrevivência, especialmente quando são escassos os

elementos necessários à vida.

Está em curso uma mudança de mentalidade nas relações de produção acadêmicas onde

concretiza-se a idéia de que o trabalho docente deva encontrar seu valor no desempenho

individual e no mercado acadêmico. O aumento da produtividade e dos vencimentos

passaram a depender, em grande parte, do esforço do próprio docente, sob certas

condições objetivas. Do mesmo modo, a universidade está sendo levada a buscar maior

“eficiência e produtividade”, especialmente através da organização da reorganização e

intensificação do trabalho.

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6 – O novo modelo de avaliação do ensino superior

A sistemática foi introduzida através de medida provisória. O novo método, uma

evolução do extinto Provão, prevê a análise de número maior de quesitos, possibilitando

um retrato qualitativo completo dos cursos e das escolas que os oferecem . Serão

aferidos, agora, além do processo de aprendizagem, o processo de ensino, a capacidade

institucional, a produção do conhecimento e a responsabilidade social das instituições.

O sistema Nacional de Avaliação e Progresso do Ensino Superior será gerido pelo Mec

e pelo INEP. Como apoio, contaram com dois fóruns; a Comissão Nacional de

Orientação e Avaliação (COANV) e a Comissão Nacional de Avaliação e Progresso do

Ensino superior (CONAPES). A primeira estabelecerá as linhas acadêmicas de

avaliação e a segunda deliberará sobre os critérios, métodos de análise e procedimentos

do sistema de avaliação.

A CONAV será composta por sete membros de notório saber científico, filosófico e

artístico, representando a sociedade civil, os corpos docentes, discente e técnico-

administrativo das instituições. Essas pessoas serão indicadas pelo Ministro da

Educação e designadas pelo Presidente da República. A CONAPES terá, também sete

componentes, dentre integrantes do INEP, da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal (CAPES) e do MEC.

Os cursos superiores receberão três conceitos qualitativos na avaliação: satisfatório,

regular e insatisfatório. Representantes de instituições que tiverem cursos

“insatisfatórios” deverão assinar termo com o MEC se comprometendo a superar as

dificuldades identificadas. Quem descumprir pacto poderá sofrer pena de advertência,

suspensão ou perda de mandato e, ainda, ser processado judicialmente. O MEC poderá,

também, decidir pela suspensão temporária da autorização de funcionamento do

estabelecimento ou de curso. Em casos persistentes, a autorização pode ser cassada.

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Na prática, a avaliação vem ganhando, no Brasil, grande destaque como forma de

controle e de definição de políticas que estimulem a expansão competitiva no ensino

superior. È nesse sentido que se coloca a introdução do credenciamento periódico das

IES, a análise das condições de oferta dos cursos de graduação e os censos de ensino

superior, que tam,bem estão se constituindo em instrumentos fundamentais no processo

de ampliação das informações gerenciais e no controle das instituições. O MEC entende

que essas e outras medidas estão voltadas para estimular a expansão competitiva

modernizar o ensino de graduação e estimular a qualidade. “Na realidade o que se

requer do sistema é algo tão diversificado que somente pode ser alcançado por um

conjunto de políticas coerentes e articuladas”.

Devemos considerar o volume de informações que o Mec vem acumulando sobre cada

IFES, particularmente daquelas mantidas por ele. Essas informações são montadas,

especialmente, a partir dos mecanismos de credenciamento e recredenciamento, do

levantamento das condições de oferta dos cursos, da GED dos Censos do Ensino

Superior e, no caso das universidades federais, dos sistemas de acompanhamento e

controle de pessoal e das despesas.

Como resultado de tudo isso , o MEC já tem implantado um banco de informações do

ensino superior objetivando um sistema unificado de informações educacionais. Parece

evidente, portanto, que todo esse controle tem por finalidade estabelecer padrões de

aferição e comparação que incentive a competição no sistema, especialmente a

financeira, e permita atingir metas de desempenho estabelecidas pelo próprio governo.

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7.CONCLUSÃO

Longe do que gostaríamos de estar, muito melhor do que já estivemos das variadas

organizações acadêmicas, - como a autonomia universitária – servem como garantia de

continuidade da atual trajetória do ensino superior do Brasil.

A titulação acadêmica deixou de ser mera pretensão daqueles que gostariam de exercer

o magistério junto às instituições de ensino, como acabou por se tornar verdadeira

necessidade para aquele que têm que ingressar efetivamente no mercado de trabalho ou

melhorar o nível salarial em que se encontram.

A demanda pela educação superior no Brasil está crescendo de forma vultuosa, em face

da conscientização de sua fundamental importância no que toca ao desenvolvimento

sócio-cultural.

Por mais limitado que seja o âmbito de vida de qualquer sociedade organizada, sempre

se encontram facilmente, quatro grandes instituições fundamentais, que acompanham os

seus membros, pois lhes constroem e condicionam a vida em comum: ao ser humano,

representa a família, o estado, a igreja e a escola.

Desde que haja vida em comum entre seres humanos estas instituições haverão de

aparecer para manter e nutrir a ordem ou seja, iluminar a vida das pessoas, assim, a

função da universidade é a de manter uma atmosfera de saber, para se preparar o

homem que o serve e desenvolve.

A tendência de crescimento verificada nos últimos anos, espera-se uma expansão de 300

mil novas vagas somente nas instituições públicas federais (estaduais e municipais) e

uma quantidade significativamente maior nas instituições privadas.

Diante da invasão dos meios de comunicação, da banalização da informação e do

massacre diário promovido pela propaganda, a presença ativa de uma universidade,

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revigorada pelo contato com seu núcleo mais vivo, ou seja, o ser humano, representa a

força que impede a paralisia do pensamento e a asfixia da consciência reflexiva.

Um dos dilemas atuais do ensino universitário consiste na disparidade entre capacidade

e absorção, ou seja, aprendizado e número efetivo de estudantes matriculados, tendo em

vista a inegável urgência de tornar o ensino superior acessível a toda a população, para

que a educação e a capacidade de aprender favoreçam a aplicação prática do

conhecimento adquirido.

Todavia, a expansão da Universidade deve estar atenta à influencia negativa que a

massificação do ensino pode provocar: a falta de criatividade e o despreparo de futuros

profissionais.

O melhor método de transmissão de conhecimento consiste na formação de alunos

altamente qualificados que serão capazes de assumir papéis de liberdade na indústria e

na economia.

Nos séculos de sua história, a educação superior já demonstrou ser uma instituição

viável, dotada de grande capacidade para se transformar, assim como, para estimular a

sociedade a conhecer seu progresso e suas modificações.Graças ao alcance e à

velocidade dessas transformações a sociedade vem crescentemente se tornando uma

sociedade cujo eixo é o conhecimento.

Devemos considerar a necessidade de mudanças e também um desenvolvimento

substancial na educação superior, assim como o aperfeiçoamento de sua qualidade e

relevância, considerando ainda que a solução para seus principais desafios exige a

participação não somente dos governos e das instituições universitárias, mas deve

incluir a todos os envolvidos no processo – estudantes e suas famílias, professores,

industriais e homens de negócios, setores públicos e privados da economia, políticos e

meios de comunicação,comunidades, associações, profissionais, em suma, a própria

sociedade e, por fim, considerando que as instituições de educação superior devem

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assumir maiores responsabilidades sociais, além de prestar contas sobre o emprego de

fundos públicos e privados, nacionais ou internacionais.

O processo de globalização exige que o Brasil compita em condições de igualdade no

mercado internacional e somente à conjugação de esforços intelectuais pode criar as

condições para que nosso País avance na direção de preservar sua soberania e ampliar

sua efetiva presença no mercado.

Por todo o esforço, é necessário que as instituições de ensino superior continuem

aproximando a educação daqueles que dela necessitam, conferindo aos mesmos, sem

pensamento crítico, sem pesquisa, sem educação para a ciência – em seu aspecto mais

amplo – não haverá alternativas possíveis para responder aos desafios que se

apresentam nesses novos tempos.

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1998.

BECKER, Gary, “A Educação é o Motor do Desenvolvimento”, in revista Exame,

p.178,2000.

DURHAM, Eunice Ribeiro,”A Autonomia em Questão”, in revista da Associação

Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, ano 14, n 16, p.53, Brasília,

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TEIXEIRA,Anísio. “A universidade de Ontem e de Hoje.” Coleção Universidade,

vol.III, Rio de Janeiro, UERJ,1998.

BRASIL/Congresso Nacional, Lei n° 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece

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____. Presidência da República, Decreto n° 2.206, de 10 de outubro de 1996.Estabelece

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superior.

____. Medida Provisória n° 147, de 15 de dezembro de 2003. Institui o sistema

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____. Ministério da Educação e de Desporto. Lei n° 9.678, de 03 de julho de 1998.

Institui a gratificação de estímulo à docência no magistério superior, e dá outras

providências , l998.

____. Autonomia universitária: fundamentos para uma lei que regule a autonomia das

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____. Notícias.”Ensino Superior mantém tendência de crescimento e diversificação”.

Brasília,MEC/Inep,1999.

____. Secretaria de Ensino Superior. Avaliação das condições de oferta de cursos de

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graduação: relatório síntese, 1998, Brasília, MEC/SESu, 1998.

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de 08 de agosto de 1997, e nos arts. 16,19,20.45,46 e δ1,52, parágrafo único,54 e

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CASTRO,Cláudio de Moura & Carnoy, Martin.org, ´Como anda a reforma da educação

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ROMNELLII, Otaíza de Oliveir,História da Educação no Brasil,18.ed.Petrópolis,Vozes,

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ÍNDICE

1.INTRODUÇÃO........................................................................................ 09 2. O ATUAL CENÁRIO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL............. 13

2. 1. A Classificação das Instituições de Ensino Superior ...................... 16

2.1.1. Quanto à organização acadêmica ........................................ 16

2.1.2. Quanto à categoria administrativa ....................................... 17

3. NOVA OPÇÃO DE ORGANIZAÇÃOINSTITUCIONAL

PARA O ENSINO SUPERIOR : OS CENTROS UNIVERSITÁRIOS.... 23

3.1. Aspectos Legais ............................................................................ ..... 24

3.2. Aspectos Pedagógicos ......................................................................... 27

3.3. Aspectos Administrativos ................................................................... 30

4.A METAMORFOSE DAS UNIVERDIDADES PÚBLICAS

- A BUSCA DE UMA IDENTIDADE........................................... 34

5. A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA...................................................... 43

6. O SISTEMA E A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR NO BRASIL......................................................................... 50

7. CONCLUSÃO.......................................................................................... 63

8. BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 66

9.ATIVIDADES CULTURAIS..................................................................... 69

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9.ATIVIDADES CULTURAIS