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    O ESTADO NO DIREITO INTERNACIONAL PBLICO: FORMAO E EXTINO

    ___________________________________________________________________

    Josu Scheer Drebes*

    Estado a Nao socialmente organizada.

    (Antnio de Oliveira Salazar Poltico portugus).

    RESUMO:Os Estados soberanos so os principais sujeitos de Direito Internacional Pblico, tanto do ponto devista histrico quanto do funcional, j que por sua iniciativa que surgem outros sujeitos, como asorganizaes internacionais. O objeto deste ensaio, ento, conceituar o Estado, quais so seuselementos e seu processo de desenvolvimento, com nfase s conseqncias advindas de seu

    aparecimento e supresso no cenrio internacional.

    PALAVRAS-CHAVE: Formao do Estado; Reconhecimento de Estado; Reconhecimento deGoverno; Classificao dos Estados; Extino dos Estados; Sucesso de Estados.

    ABSTRACT:Sovereign states are the main subject of Public International Law, both from the historical point of viewas the functional, as it is on its own initiative that arise other subjects, such as internationalorganizations. The object of this essay, then, is to conceptualize the state, what are its elements andits development process with emphasis on the consequences arising from their appearance andsuppression in the international arena.

    KEY-WORDS: State formation; Recognition of State, Government Recognition, Classification ofstates; Extinction of States; Succession of States.

    SUMRIO: Introduo 1.Conceito e elementos constitutivos do Estado 2. Formao do Estado 3. Reconhecimento de Estado e de governo 3.1. Reconhecimento de Estado: conceito e natureza

    jurdica 3.2. Formas de reconhecimento de Estado 3.3. Reconhecimento de governo 3.4.Reconhecimentos especiais 3.5. Reconhecimento por organismos internacionais 3.6. O Estadono reconhecido 4. A classificao dos Estados 4.1. Estados simples ou unitrios 4.2. Estadoscompostos 4.2.1. Estados compostos por coordenao 4.2.2. Estados compostos porsubordinao 5. Extino dos Estados 6. Sucesso de Estados Concluso Referncias

    INTRODUO

    O Estado a pessoa de Direito Internacional Pblico que se acha dotada de

    capacidade plena, tanto no mbito interno, quanto no externo, recordando-se que

    nem as organizaes internacionais e nem a pessoa humana, apesar da importncia

    que esta ocupa na atualidade, possuem a totalidade e a extenso dos poderes

    inerentes situao jurdica do Estado.

    *Advogado. Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais pela Faculdade de Direito da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do Sul - PUCRS. E-mail: [email protected]

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    Nesse particular, o captulo 1 reporta-se ao estudo dos elementos

    constitutivos do Estado perante o Direito Internacional, quais sejam: territrio, povo e

    governo, a fim de apresentar um conceito mais preciso do instituto e identificar o

    momento em que o Estado adquire sua personalidade jurdica internacional.

    Assim como todos os organismos, e os prprios seres humanos, os Estados

    tambm possuem o seu processo de desenvolvimento, que inicia com seu

    nascimento, passa por sua transformao e pode terminar com sua extino,

    todavia, a preocupao do Direito Internacional funda-se exclusivamente nas

    conseqncias advindas de seu aparecimento e supresso no cenrio internacional.

    Nesse particular, os captulos 2 e 5, tm por escopo a contextualizao do papel do

    direito na soluo de conflitos que podem advir destes fenmenos.A partir do momento em que, de fato, um novo Estado surge no mapa

    geopoltico mundial, pela integrao de uma sociedade humana, sob a autoridade de

    um governo soberano, em dado territrio, emerge consigo a questo do

    reconhecimento de Estado, no que tange a insero da nova coletividade

    comunidade internacional, tema este a ser abordado no captulo 3.

    Os Estados, por sua vez, surgem na sociedade internacional em diferentes

    momentos e sob diferentes formas, sendo necessrio classific-los afim de que suascaractersticas prprias sejam destacadas em suas variadas modalidades. Dentro

    desse panorama, o captulo 4, busca traar uma exposio acerca da classificao

    que pode ser colocada em relao aos Estados, levando em conta a sua estrutura, a

    fim de que seus caracteres individuais sejam evidenciados.

    Por fim, o captulo 6, expe magistralmente o instituto da sucesso que nada

    mais do que a transferncia de direitos, obrigaes, e/ou propriedade de um

    Estado anteriormente estabelecido a um novo.A presente pesquisa no pretende esgotar o tema relativo pessoa do

    Estado perante o DI, no que diz respeito aos aspectos relacionados sua formao

    e extino, mas apresentar um estudo de caso, de modo a contribuir

    significativamente bibliografia especfica existente sobre o assunto.

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    1. CONCEITO E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO

    Na formao da sociedade internacional o primeiro ente a tomar assento na

    condio de sujeito de Direito Internacional foi o Estado, tido como nico e absoluto

    at o incio do sculo XX. Quando da ecloso da Primeira Guerra Mundial, tal

    concepo foi abandonada dada emergncia na ordem poltica internacional das

    chamadas Organizaes Internacionais e tambm quando os prprios indivduos

    comearam a participar objetivamente de alguns domnios internacionais, at ento

    reservados com exclusividade aos Estados.1

    O contexto histrico que envolve o surgimento do Estado Moderno encontra

    referncia na doutrina de Mello: na Idade Mdia que surge o primeiro Estado moderno, com Frederico II da Subia noreino da Siclia que cria a primeira monarquia absoluta, durante a primeira metade dosculo XIII. Entre suas realizaes esto: a) elabora as constituies de Melfi,codificando o Direito; b) cria uma administrao; c) inicia a secularizao; d) abole ospoderes intermedirios (nobreza); e) os cargos pblicos deixam de ser possudos a ttulopessoal, etc.2

    Entretanto, isso no significa que antes deste, no tenham existido

    sociedades politicamente organizadas, com elevado grau de desenvolvimento e

    autonomia, de que eram exemplos as cidades italianas de Veneza, Pisa, Milo eBolonha, que ficaram conhecidas pela quebra do isolamento caracterstico do

    perodo medieval, a partir do instante que passaram a intensificar reciprocamente s

    suas atividades de intercmbio, inclusive com outras naes.3

    A denominao de Estado tem sua origem do latim status, que significa

    estar firme, simbolizando situao permanente de convivncia e ligada sociedade

    poltica. Aparece pela primeira vez em O Prncipe, escrito por Nicolau Maquiavel em

    1513.De outra banda, o jurista alemo Carl Schmitt, assinala que a personalidade

    do Estado soberano impe-se a partir da Paz de Westflia de 1648, que inaugurou o

    moderno sistema internacional, ao acatar consensualmente noes e princpios

    como o de soberania estatal e o de Estado nao.4Assim, a partir do sculo XVIII, o

    1MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de direito internacional pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 383.2MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de direito internacional pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 356.3MAZZUOLI, op. cit., p. 383-384.4MELLO, op. cit., p. 363.

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    Estado moderno e a Nao moderna fundem-se para constituir o que hoje se

    denomina de Estado-nao, que se mostra superior tanto em relao s cidades-

    Estado quanto aos herdeiros modernos dos primitivos imprios.5

    Na tradio alem, Estado um termo jurdico que se refere, ao mesmo

    tempo, Staatsgewalt(um ramo do poder Executivo que garante a soberania interna

    e externa), Staatsgebiet (um territrio com limites claramente definidos), e

    Staatsvolk(o conjunto total dos cidados que o compe, coordenados abaixo sua

    jurisdio).6Accioly define o Estado, em sua concepo jurdica tradicional, como:

    uma comunidade poltica independente, estabelecida permanentemente num

    territrio determinado, sob um governo e capaz de manter relaes com outras

    coletividades da mesma natureza.7

    Mello, por sua vez, traz a concepo poltica de Estado de acordo com a

    teoria de Max Weber que o qualifica como:

    a) uma ordem administrativa e jurdica;b) um aparato administrativo que regulamentada por uma legislao;c) autoridade legal sobre as pessoas;d) autoridade legal sobre pessoas e atos praticados no seu territrio;e) legitimidade para o uso da fora.8

    Com isso, percebe-se que o conceito de Estado no Direito Internacional no

    o mesmo que lhe atribui a Teoria Geral do Estado, sendo mais restrito e com

    particularidades diversas.

    De qualquer sorte, os Estados so considerados os principais atores do

    Direito Internacional, assim como as pessoas naturais o so para o direito civil.

    Embora os Estados no sejam mais os nicos entes da sociedade internacional, por

    sua iniciativa, que surgiram outras pessoas jurdicas, como as organizaes

    internacionais.

    Para Mello, pode-se definir o Estado, em sua concepo jurdica moderna,

    como:

    O Estado sujeito de DI aquele que rene trs elementos indispensveis para a suaformao: populao (composta de nacionais e estrangeiros), territrio (ele no precisaser completamente definido, sendo que a ONU tem admitido Estados com questes de

    5MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de direito internacional pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 384.6Ibidem.7ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 77.8MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de direito internacional pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 363.

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    fronteira, por exemplo, Israel) e governo (deve ser efetivo e estvel). Todavia, o Estadopessoa internacional plena aquele que possui soberania.9

    O conceito de Estado exposto acima coloca em evidncia seus elementos

    constitutivos: comunidade de indivduos, territrio fixo e determinado e governo

    autnomo e independente. Assim, pode-se desmembrar o conceito de Estado da

    seguinte forma:

    a) Populao. uma associao permanente de homens e mulheres, capaz

    de viver com seus prprios recursos. O contingente de sujeitos agregados a este

    elemento indeterminado, podendo ser pequeno ou grande, o que no influi

    diretamente na idia de igualdade dos Estados no plano jurdico externo.

    Relativamente sua composio, a populao poder ser homognea ouheterognea, podendo sujeitos seus pertencerem a uma mesma nao, ou vrias

    nacionalidades.10

    b) Territrio. A simples associao humana, ainda que organizada, no se

    constitura em Estado caso no se fixasse em um determinado territrio, sobre o

    qual se exeram habitualmente as atividades administrativas em prol desta

    coletividade. O territrio pode ser ou no contnuo, no importando, alis, a sua

    extenso, o que permite a existncia de Estados minsculos.11

    O territrio estatalno se limita ao domnio terrestre, estendendo-se ao espao areo e determinados

    espaos martimos (guas interiores e mar territorial).

    c) Governo.A existncia de um Estado pressupe a vontade coletiva de se

    constituir como tal, regularmente organizada, sob uma autoridade suprema,

    reconhecida como governo, com atribuio de gerir tal aglomerao. A forma

    administrativa de gesto pelas instituies polticas pode se diferenciar de um

    Estado para outro (governo republicano ou monrquico), mas independentementedisso, deve haver uma fora poltica organizada, que se manifeste por meio de

    rgos governamentais, em geral pelos poderes executivo, legislativo e judicirio.12

    Alm destes requisitos, pode-se agregar a capacidade de manter relaes

    com os demais Estados, conforme dispe a Conveno de Montevidu sobre

    direitos e deveres dos Estados, assinada em Montevidu Uruguai, a 26 de

    9MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de direito internacional pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 355.10ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 80.11Ibidem, p. 80-81.12Ibidem, p. 81-82.

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    dezembro de 1933, em seu art. 1, considera que o Estado como pessoa de DIP

    deve reunir os seguintes requisitos:

    a) povoao permanente;

    b) territrio determinado;c) governo;d) capacidade de entrar em relaes com os demais Estados.13

    Este ltimo critrio da conveno no parece possuir carter obrigatrio, visto

    que os Estados tem o utilizado mais sob o prisma poltico do que jurdico, quando da

    manifestao de reconhecimento de um novo Estado pela comunidade internacional.

    Verhoeven mencionado por Mello acrescenta ainda, a incidncia de uma

    tendncia vinculada ao Direito Internacional, de que o Estado seja membro das

    Naes Unidas. Para aquele tratadista, adquirir a qualidade de Estado um dos

    efeitos de seu ingresso na ONU e no uma condio para ingressar na

    organizao.14

    Entretanto, Soares tece uma crtica relevante a essa teoria:

    A admisso de um Estado como membro pleno numa organizao intergovernamentalmundial, como a ONU, no parece ser condio para seu reconhecimento como Estadoindependente, pois a Sua no membro da ONU, e embora Israel o seja, desde 11 demaio de 1949, at a presente data no reconhecido como Estado pelos Estadosrabes.15

    Uma das raras normas codificadas a despeito da constituio do Estado e a

    aquisio de sua personalidade jurdica internacional encontra-se no captulo IV

    Direitos e Deveres Fundamentais dos Estados, mais precisamente no artigo 13, da

    Carta da Organizao dos Estados Americanos, in verbis:

    Artigo 13 - A existncia poltica do Estado independente do seu reconhecimento pelosoutros Estados. Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem o direito de defendersua integridade e independncia, para garantir a sua conservao e prosperidade, e,conseqentemente, a se organizar como lhe aprouver, para legislar sobre os seusinteresses, de administrar os seus servios, e determinar a jurisdio e competncia dosseus tribunais. O exerccio destes direitos s limitado pelo exerccio dos direitos deoutros Estados, em conformidade com o direito internacional.16

    13PAN AMERICAN UNION. Montevideo Convention on Rights and Duties of States. (Traduonossa). Disponvel em: .Acesso em: 21 jul. 2011. p. 2.14MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 355.15SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional pblico. 2.ed. So Paulo: Atlas,

    2004. p. 249.16ORGANIZATION OF AMERICAN STATES. Charter of the Organization of American States.(Traduo nossa). Disponvel em: . Acesso em: 21

    jul. 2011.

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    Por ora, verifica-se que o Estado soberano na condio de sujeito de Direito

    Internacional, rene trs requisitos clssicos (povo, territrio e governo), descabida a

    necessidade objetiva de um ato de reconhecimento, que se desenvolve como mera

    conseqncia jurdica, indispensvel para que a nova coletividade se relacione com

    os seus pares na sociedade internacional. Portanto, da personalidade internacional

    do Estado soberano resultar a sua unidade e permanncia no plano interestatal e,

    tambm, o desenvolvimento de sua capacidade, quanto fruio de direitos e a

    submisso a obrigaes no plano externo.

    2. FORMAO DO ESTADO

    Apesar de alguns tratadistas defenderem que o nascimento de um novo

    Estado, constitua-se num fato puramente histrico, portanto sem caractersticas

    jurdicas, a doutrina dominante admite que na prtica, o nascimento do Estado

    apresenta-se como um fenmeno histrico e sociolgico ligado umbilicalmente ao

    Direito Internacional, marcado de modo indelvel por precedentes de atos unilaterais

    oriundos de Estados soberanos, assim como na conformao de uma prtica deconstante formao e extino de Estados, gerando conseqncias relevantes no

    cenrio internacional.

    As primeiras teorias pertinentes matria relativa ao nascimento dos

    Estados, foram elaboradas pelos Estados europeus, a partir do sculo XVI, em

    particular atravs da edio de normas jurdicas relativas legitimidade de sua

    posse e do exerccio de sua soberania, em territrios do ento denominado Novo

    Mundo.DelOlmo destaca as formas primitivas de emergncia dos Estados:

    Na Antiguidade dois eram os modos de nascimento dos pases, o estabelecimento ouocupao e a conquista. A primeira forma foi certamente a ocupao de espaodesabitado: a populao era escassa e os territrios eram imensos, tornando-sedesnecessria qualquer luta para seu estabelecimento. A conquista, atravs da guerra,surgiria aps, com o objetivo de criar o pas em rea ocupada por outro povo, masdotada de recursos naturais ou fatores outros que fossem mais propcios ao modo devida e que oferecessem melhores perspectivas de bem-estar e riqueza. Por muitossculos, a guerra continuou a ser a maneira mais comum de nascimento de um Estado.Como conseqncias delas surgiam novos pases, por diviso ou fuso dos at entoexistentes.17

    17DELOLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Forense,2006. p. 71.

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    A histria recente aponta diversas formas de emergncia dos Estados, tendo

    sido mais comuns os seguintes:

    a) Fundao direta. Caracteriza-se no estabelecimento permanente de uma

    populao em um determinado territrio sem proprietrio, com a instituio de um

    governo permanente e organizado. Esta foi a forma de nascimento dos Estados na

    Antiguidade clssica e tambm na Idade Mdia. A legitimidade da posse sobre estas

    terras era comumente confirmada por uma manifestao papal, a exemplo da bula

    Inter Coeterado Papa Alexandre VI, de 4 de maio de 1493, que atribui a Portugal e

    Espanha posse das terras da Amrica, que um ano antes haviam sido

    descobertas por estes Estados. Como exemplo desse tipo de formao tem-se a

    Repblica de Transwaal (1837), ocupada por holandeses que deixaram a Colnia doCabo em 1836, dirigindo-se para interior sul-africano, assentando-se em terras alm

    do Rio Vaal. Tem-se tambm o caso da Libria, criada aps entidades americanas

    obterem dos chefes nativos locais concesses territoriais na Costa da Guin em

    1821, enviando l escravos libertos.18Dada a inexistncia de locais desconhecidos

    ou desabitados no planeta, este modo de formao estatal encontra-se obsoleto.

    b) Emancipao.Segundo Mazzuoli, tem lugar quando um Estado se liberta

    de seu dominante (como no caso das colnias) ou do jugo estrangeiro, seja deforma pacfica, seja em virtude uma rebelio.19 A prtica em tela associa-se

    ligeiramente ao exerccio do direito autodeterminao dos povos, evocado em

    detrimento de uma nao especfica. Um exemplo clssico de emancipao pacfica

    no continente europeu foi independncia da Islndia, conduzida por um plebiscito

    que resultou favorvel separao formal da Dinamarca, em 1944. Entretanto, em

    muitos casos, a independncia alcanada pelo modo emancipacionista, s pde ser

    obtida aps guerra contra a antiga metrpole, tal como ocorreu em 1776, quando asTreze Colnias Britnicas (precursoras dos Estados Unidos da Amrica), declararam

    sua independncia, rejeitando a autoridade do Reino Unido.

    c) Separao ou desmembramento. Opera-se quando um Estado se separa

    ou se desmembra, para dar lugar ao nascimento de outros.20 Nos termos desta

    definio, h que se observar que o desmembramento parcial de um Estado em tais

    propores, pode originar um ou mais Estados. Podem ser citados os exemplos

    18MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de direito internacional pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 393.19Ibidem, p. 394.20Ibidem.

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    clssicos da ustria, da Hungria e Tchecoslovquia, que se originaram a partir do

    desmembramento, em 1918, do Imprio Austro-Hngaro. Na Amrica Latina, tem-se

    o exemplo da Gr - Colmbia, dissolvida em 1930 para dar lugar ao nascimento da

    Repblica de Nova Granada (atual Colmbia), Equador e Venezuela.

    Empregasse, ainda, o termo secesso quando se quer designar

    desmembramentos incomuns, e que no estejam, necessariamente, ligados a um

    processo de descolonizao, tal como ocorreu em 1991, quando a Unio Sovitica

    se dissolveu, e desta operao, emergiram 15 novos pases. Neste toar, tem-se

    lio precisa de Mazzuoli:

    O nascimento do Estado por secesso assemelha-se ao resultante de emancipao,mas no provm propriamente de atos de sublevao popular ou de libertao de um

    governo estrangeiro, mas sim do desmembramento de um imprio, ou da separao deum pas que se achava incorporado a outro, ou da dissoluo dos laos de uma UnioReal, ou de uma espcie de Federao, onde as partes federadas reclamamindependncia.21

    A secesso foi, portanto, um dos meios mais comuns de extino de pases

    confederados, eis que preservavam, constitucionalmente, o direito de secesso.22

    Neste sentido, a Iugoslvia foi um modelo tpico dessa situao jurdica, onde a

    tentativa de unir pases de etnias, religies e economias diferentes, resultou em

    sangrento conflito interno, que culminou com a criao de, pelo menos, cincoEstados no incio dos anos 90. Nada obstante, h que se reconhecer que a nova

    situao desses povos, agora estabelecidos com Estados prprios, tornou mais

    condizente a realidade e os objetivos de cada um deles.

    d) Fuso. Ocorre quando dois ou mais Estados se renem e formam um

    terceiro que, em conseqncia, tem nova personalidade internacional.23 Como

    exemplo, cabe mencionar o Reino da Itlia que nasceu, no sculo XIX, da unificao

    dos ducados de Modena, Parma e Toscana e o Reino de Npoles, incorporados aoPiemonte afim de formar um s Estado em 1860. Da mesma forma, foi a formao

    do Imen, a partir da unio do Imen do Norte e do Imen do Sul pelo acordo de

    Saana, de 22 de abril de 1990. Tambm pode-se destacar a fuso de Zanzibar e

    Tangnica, em 1964 , dando origem a Tanznia.

    21MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de direito internacional pblico. 3.ed. So Paulo: Editora

    Revista dos Tribunais, 2009. p. 395.22MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 377.23MAZZUOLI, op. cit., p. 395.

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    Os casos acima expostos referem-se aquelas circunstncias em que os

    Estados emergem a partir de situaes fticas, amplamente descritas pela

    doutrina, todavia, nada impede que um Estado venha a se formar consoante regras

    ditadas por tratados multilaterais, leis internas, ou por deciso de uma organizao

    internacional. 1) A respeito da formao de um Estado por meio de tratado, h o

    caso paradigmtico da Polnia, que mediante sucessivos desmembramentos

    acabou por desaparecer para, em 1918, ressurgir como Estado independente, por

    fora do Tratado de Versalhes;24 2) Atravs de lei interna, a Iugoslvia se

    transformou no Estado da Srvia e Montenegro em 2003, sendo fixado o prazo de 3

    anos para a realizao de um plebiscito para que as duas repblicas se separassem

    caso fosse desejado;253)Por deciso de uma organizao internacional, ocorreu acriao do Estado de Israel, a partir do desmembramento da Palestina, mediante

    Resoluo da Assemblia Geral das Naes Unidas em 1947.26

    A formao do Estado ocorre, portanto, quando seus elementos constitutivos

    se integram. Tal integrao leva soberania. Alguns juristas entendem que o

    nascimento ou a formao do Estado, um fenmeno histrico e sociolgico, que

    foge ao universo das regras jurdicas, todavia, h de se admitir que o Direito

    Internacional no tem suas preocupaes exclusivas voltadas para tal evento, senoem relao as conseqncias que advm do seu aparecimento no cenrio

    internacional. Como visto nesta seo, o nascimento do Estado, faticamente, pode

    ser dar por: a) Fundao direta; b) Emancipao; c) Separao ou

    desmembramento, e; d) Fuso. Alm disso, por atos jurdicos, um Estado pode se

    formar por: a) uma lei interna; b) um tratado internacional; c) deciso de um

    organismo internacional.

    3. RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO

    O nascimento dos Estados, suas transformaes polticas ou territoriais,

    sejam pacificas ou litigiosas, constituem em eventos que afetam a estrutura e o

    24SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional pblico. 2.ed. So Paulo: Atlas,2004. p. 245.25MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 375.26MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de direito internacional pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 396.

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    funcionamento da sociedade internacional. Assim, emergindo o Estado, investido de

    plena soberania, no uso das prerrogativas inerentes a sua personalidade jurdico-

    internacional, esta condicionado sua admisso no seio da comunidade internacional,

    afim de que possa manter relaes com seus demais pares. Esta admisso do

    Estado pelos demais atores da sociedade mundial chamado de reconhecimento de

    Estado. Por outro lado, quando verifica-se uma mudana no governo de um Estado

    j existente, a partir de uma quebra nas normas constitucionais em vigor, surge a

    questo do reconhecimento de governo. O reconhecimento desempenha um papel

    capital na dinmica do Estado, como se ver a seguir.

    3.1. RECONHECIMENTO DE ESTADO: CONCEITO E NATUREZA JURDICA

    Logo aps a emergncia de uma nova coletividade estatal na sociedade

    internacial, comum que o governo ento instalado envie correspondncia a todos

    os pases do mundo, solicitando seu reconhecimento, em que pese a relutncia de

    alguns Estados em considerar legal sua independncia.

    De fato, devidamente preenchidos os pressupostos constitutivos de umEstado, o governo da nova entidade dever buscar o seu reconhecimento atravs de

    sucessivos atos emanados da comunidade internacional (Estados, Organizaes

    Internacionais, etc.), o que, como conseqncia implicar na aplicao ao mesmo

    das normas de Direito Internacional.

    Segundo Fischer Williams, citado por Mello, a Holanda aps a sua

    independncia (sculo XVII), parece ter sido o primeiro caso de um novo Estado

    tornar-se membro da sociedade internacional europia, isto , houve oreconhecimento de um Estado novo.27

    Conforme leciona Seitenfus:

    O reconhecimento o ato unilateral atravs do qual um sujeito de direitointernacional, sobretudo Estado, constando a existncia de um fato novo(Estado, Governo, situao ou tratado), cujo evento de criao no teve suaparticipao, declara, ou admite implicitamente, que o considera comosendo um elemento com quem manter relaes no plano jurdico. Trata-se,portanto, de um ato afirmativo que introduz o fato novo nas relaes

    jurdicas entre os sujeitos de DIP.28

    27MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Riode Janeiro: Renovar, 2007. p. 399.28SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Introduo ao direito internacional pblico. 3. ed. PortoAlegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 77.

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    Na reunio de Bruxelas de 1936, o Instituto de Direito Internacional,tendo por

    relator Philip Marshall Brown, aprovou uma importante Resoluo sobre o ato de

    reconhecimento de novos Estados e de novos governos, que passou a ser

    conceituado na forma do art. 1, como:

    (...) um ato livre pelo qual um ou mais Estados reconhecem a existncia, emum territrio determinado, de uma sociedade humana politicamenteorganizada, independente de qualquer outro Estado existente e capaz deobservar as prescries do Direito Internacional.29

    Pela referida disposio restou patente que, na forma delimitada pelo DIP, o

    Estado como coletividade digna de ser reconhecida, quando preencher trs

    requisitos clssicos: a) governo independente de qualquer autoridade estrangeira; b)

    que o governo detenha autoridade efetiva sobre o seu territrio e populao,

    mostrando-se apto para cumprir com as suas obrigaes internacionais; c) que a

    coletividade a ser reconhecida possua um territrio delimitado.

    O ato de reconhecimento30 de Estado confere a nova entidade todos os

    atributos relativos ao respaldo de sua soberania frente evidncia de que no mais

    se pode perquirir sobre sua existncia jurdica.

    O jurista francsNguyen Quoc Dinh, identifica duas concepes a cerca do

    reconhecimento de Estado:1.A concepo atributiva ou constitutiva. Segundo esta primeira tese, oreconhecimento representa um quarto elemento constitutivo do Estado,

    juntamente com uma populao, um territrio e um governo. Semreconhecimento, a formao do Estado permanece incompleta. Comatribuio da qualidade de Estado, este constitui-o, no sentido em quecompleta o seu processo de criao. O seu mbito portanto muito vasto eessencial.2. A concepo declarativa. Admite-se geralmente que o nascimento deum Estado novo um fato cuja existncia no depende das intenes ouapreciaes dos Estados existentes. A concepo declarativa assentanestas premissas.31

    A natureza do reconhecimento de Estado um dos temas mais controvertidos

    na doutrina, mormente porque se mostra ainda inconclusiva. Para a maioria dos

    29MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 384.30 No caso da ex-Iugoslvia, a Comunidade Europia considerou indispensvel que os Estadosoriginados da dissoluo da Federao consagrassem o uti possidetis jris que prevalece sobre odireito de autodeterminao. A entidade considerou que a Iugoslvia aps a sua desintegrao,necessitava de um novo reconhecimento. (MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Curso deDireito Internacional Pblico. 15.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 403.).31DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Pblico. Traduo:Vitor Marques Coelho. 2. ed. Lisboa: FCG, 2003. p. 570-571. Ttulo original: Droit InternacionalPublic.

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    autores, o ato de reconhecimento de Estado tem efeito declaratrio, mas uma

    importante corrente (Escola austraca) que defende a concepo constitutiva de sua

    classificao.

    Silva baseado nos ensinamentos de D. Anizilotti, expe magistralmente as

    razes que sustentam a tese constitutiva:

    Assim como toda ordem jurdica determina quais os seus sujeitos,estabelece igualmente o momento em que comeam a existir. E desde queser sujeito jurdico significa ser destinatrio de normas jurdicas, apersonalidade existe quando uma entidade se torna destinatria de normas.As normas jurdicas internacionais se constituem por meio de acordos; ossujeitos da ordem jurdica internacional comeam, portanto a existir nomomento em que se verifica um primeiro acordo: precisamente nesteinstante as entidades entre as quais se verificou tornam-se uma em relao outra, destinatrias das normas resultantes do referido acordo e, portanto,

    sujeitos da ordem jurdica de que estas normas fazem parte.32

    A corrente constitutiva, neste sentido, defende que a existncia de um novo

    Estado deve ser objeto de aceitabilidade pelos Estados que j compe a sociedade

    internacional, devendo esta ser expressa pelo ato de reconhecimento.33

    Para Mazzuoli, na defesa da tese oposta, o reconhecimento tem efeito

    declaratrio, sendo que:

    (...) o Estado como tal j existe antes do seu reconhecimento por parte dos

    demais atores estatais da sociedade internacional, de modo que suaexistncia (ou seja, a sua personalidade jurdica) no decorre de seureconhecimento (ou seja, aquela no existe em funo deste, que nadamais do que a constatao de um fato), mas, pelo contrrio, o seureconhecimento que se d em virtude da sua anterior existncia.34

    Os que apiam a teoria declaratria, afirmam que o reconhecimento de

    Estado tem exclusivo alcance declarativo porque o seu nico objeto o de verificar o

    preenchimento dos requisitos formais para a existncia do novo Estado, sem lhe

    conferir qualquer qualidade jurdica.

    32SILVA, Geraldo Eullio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito InternacionalPblico. 15. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. p. 98.33 A respeito do reconhecimento e identidade do Estado, temos o fato notrio da Macednia, quedeclarou sua independncia da Iugoslvia em 1991, tendo ingressado na ONU com o nome deAntiga Repblica da Iugoslvia da Macednia. Isto ocorreu porque a Grcia no aceitava queaquele pas usasse simplesmente o nome de Macednia, topnimo tambm utilizado em refernciaao norte do territrio grego, que desde a Idade Antiga foi dominado pela cultura helnica. O pas usaos smbolos da primitiva Macednia, o que repudiado pelos gregos que entendem que um Estadode origem eslava no pode se apropriar da cultura grega. J na Bulgria, a Macednia considerada

    um ramo do blgaro. (MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito InternacionalPblico. 15.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 400 e 403.).34MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 398.

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    Na prtica, a recusa do reconhecimento no impede a existncia do Estado.

    Inversamente, a concesso do reconhecimento no se mostra suficiente para criar

    um Estado: se os elementos constitutivos no se verificarem, a entidade

    reconhecida no por isso um Estado, razo pela qual a concepo declaratria

    aceita pela parte majoritria da doutrina.

    A propsito, esta teoria estabelece que o ato de reconhecimento figura

    apenas como um anncio (ou sinal) positivo, por parte dos demais atores da ordem

    poltica internacional, no sentido de viabilizar suas relaes diplomticas, fato este,

    benfico para o desenvolvimento do Estado emergente.

    Esta tese, a propsito, teve o privilgio de ser codificada como norma de DIP

    atravs do disposto no art. 13 da Carta da Organizao dos Estados Americanos,

    quando dispe: O reconhecimento significa que o Estado que o outorga aceita a

    personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro,

    determina o direito internacional.35

    No que diz respeito obrigatoriedade da emisso de um ato de

    reconhecimento, a doutrina se divide em duas correntes distintas.

    O Instituto de Direito Internacional, na sesso de Roma, realizada em 1921,

    assim se manifestou:Todo o povo, que no territrio por ele ocupado, haja constitudo um governo,capaz de manter a ordem, no interior, e de cooperar, no exterior, naorganizao, cada vez mais desenvolvida, das relaes baseadas nautilidade comum, na justia e na paz, tem direito ao reconhecimento de suanao como Estado.36

    J conforme leciona Accioly: o novo Estado tem direito de entrar na

    associao internacional dos Estados e ser reconhecido pelas outras potncias,

    quando a sua existncia no pode ser posta em dvida e se acha assegurada.37

    A doutrina contrria, porm a mais aceita, admitindo a existncia de uma

    obrigao puramente moral para o ato de reconhecimento de Estado, desde que o

    mesmo se encontre perfeitamente constitudo e apresente condies de vida prpria

    e independente podendo, pois, conduzir-se como nao civilizada. Segundo Dinh, o

    novo Estado no reconhecido no pode obrigar os outros Estados a reconhec-lo

    35ORGANIZATION OF AMERICAN STATES. Charter of the Organization of American States.(Traduo nossa). Disponvel em: . Acesso em: 05

    ago. 2011.36ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 131.37Ibidem, p. 130.

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    como um igual. A sua prpria soberania autoriza-os a no considerarem oponveis

    no seu territrio os atos jurdicos deste Estado novo.38 Por este entendimento,

    reconhecimento, no um dever dos demais Estados, to pouco um direito de quem

    o recebe.

    Dessa forma o ato de reconhecimento de Estado deflui de uma constatao

    formal, geralmente municiado pelos meios diplomticos, na qual o novo ente

    soberano internacional passa a ter existncia, de forma concreta e independente,

    estando apto a manter relaes com os demais membros da sociedade

    internacional, alm da fruio de direitos e a submisso a obrigaes no plano

    externo. Entretanto existem duas concepes diversas sobre a natureza jurdica do

    ato de reconhecimento de Estado: uma constitutiva e outra declarativa. Todavia,admite-se que esta ltima, seja a mais aceita pela doutrina.

    3.2. FORMAS DE RECONHECIMENTO DE ESTADO

    A diversidade das relaes internacionais autorizam vrias modalidades de

    reconhecimento de Estado. O procedimento pode ser: individual ou coletivo, de jureou de facto, expresso ou tcito, incondicionado ou condicionado, aplicado a simples

    fatos ou a normas jurdicas. Vejamos cada uma destas formas de reconhecimento

    separadamente:

    a) individual ou coletivo, assim sendo, realizado por apenas um Estado ou por

    vrios fazendo uso do mesmo instrumento diplomtico.39Individualmente, a Turquia

    decidiu reconhecer o Kosovo como um Estado independente, consoante nota oficial

    expedida pelo ministro dos Negcios Estrangeiros, Ali Babacan, um dia depois de amaioria albanesa ter declarado sua independncia da Srvia.40Diferente da Bulgria,

    38DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Pblico. Traduo:Vitor Marques Coelho. 2. ed. Lisboa: FCG, 2003. p. 572. Ttulo original: Droit Internacional Public.39MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: Editora

    Revista dos Tribunais, 2009. p. 402.40MESCI, Evren. Turkey to recognize Kosovo independence: Foreign Minister. (Traduo nossa).Reuters [online], London, 05 ago. 2008. News. Disponvel em:. Acesso em: 04 ago. 2011.

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    Crocia e Hungria, que atravs de um comunicado conjunto, publicado a 19 de

    maro de 2008, anunciaram que iriam reconhecer o novo Estado.41

    b) de jure ou de facto no primeiro caso o reconhecimento ocorre de forma

    definitiva e irrevogvel, atravs de documento expresso ou de ato positivo que

    manifeste objetivamente a inteno de conceder esse reconhecimento. Com relao

    ao reconhecimento de fato, este por sua vez, caracteriza-se por ser provisrio e

    revogvel. Assim que a Inglaterra que, inicialmente, no reconhecia publicamente

    o Imprio do Brasil, mas lhe recebia plenipotencirios e o cnsul britnico exercia

    funes plenas de diplomata no Rio de Janeiro. A forma provisria e revogvel seria,

    portanto, a principal caracterstica do reconhecimento de facto. Alguns autores se

    insurgem contra esta ltima modalidade, entendendo que ela no corresponde arealidade das normas jurdicas, uma vez que o reconhecimento um ato jurdico.42

    c) expresso ou tcito o que se define quando o reconhecimento se der por

    documento escrito, oriundo do Estado concedente, podendo apresentar-se como

    uma nota diplomtica, decreto, tratado, regulamento, entre outros. Quando as

    Repblicas Blticas (Estnia, Letnia e Litunia) se declararam independentes da

    Unio Sovitica, em setembro de 1991, o Brasil emitiu uma nota reconhecendo a

    existncia de cada uma daquelas repblicas. De outra banda, tem-se o Tratado de1825 entre Brasil e Portugal, em que o ltimo reconheceu expressamente a

    existncia do Brasil recm-emancipado. J em se tratando da forma tcita, esta se

    processar nos casos em que os pases existentes puderem intervir atravs de

    prtica ou atitude implcita a vontade de reconhecer a nova entidade estatal.43

    Neste caso, temos o exemplo da Srvia que enviou e recebeu agentes diplomticos

    em reconhecimento a independncia da Albnia em 1913.44

    d) incondicionado ou condicionado conforme dependa ou no decondies impostas para a concesso do reconhecimento. Normalmente o

    reconhecimento incondicionado. Existindo condio, o ato pode ser suspenso ou

    41ABC, Agency. Bulgaria, Croatia, Hungary recognise Kosovo. (Traduo nossa). ABC News [online],New York, 19 mar. 2008. Stories. Disponvel em:. Acesso em: 04 ago. 2011.42MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: Editora

    Revista dos Tribunais, 2009. p. 403.43Ibidem, p. 402.44MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Riode Janeiro: Renovar, 2007. p. 406.

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    anulado em definitivo caso o novo Estado no cumpra, todavia, percebe-se que a

    prtica contraria a natureza declaratria do instituto.45

    A autoridade competente para fazer o reconhecimento, geralmente o rgo

    do governo que dirige as relaes exteriores.46Nada mais razovel, por se tratar de

    um ato de poltica internacional.

    Em tese, no existe regras precisas e absolutas sobre o momento oportuno

    para o reconhecimento. A questo da sua oportunidade de apreciao

    discricionria, portanto, o Estado utiliza-se dele no momento em que entender ser

    oportuno. Entretanto, Silva doutrina que a este respeito podem se admitir trs

    princpios:

    1) se se tratar de um Estado surgido de um movimento de sublevao, oreconhecimento ser prematuro enquanto no cessar a luta entre a coletividadesublevada e a me-ptria, a menos que esta, aps luta prolongada, se mostre impotentepara dominar a revolta e aquela se apresente perfeitamente organizada como Estado;2) desde que a me-ptria tenha reconhecido o novo Estado, este poder serreconhecido logo que apresente todas as caractersticas de um Estado perfeitamenteorganizado e demonstre, por atos, sua vontade e sua capacidade de observar ospreceitos do direito internacional. 3) se se tratar de um Estado surgido de outra forma,ele poder ser reconhecido logo que apresente todas as caractersticas de um Estadoperfeitamente organizado e demonstre, por atos, sua vontade e sua capacidade deobservar os preceitos do direito internacional.47

    Contudo, no se pode descartar a hiptese do reconhecimento prematuro deum Estado, o que pode ser perigoso, devendo ser realizado com extrema cautela,

    uma vez que sua prtica poder ser interpretada como ingerncia indevida em

    assuntos internos do Estado. Segundo alguns autores o reconhecimento da Crocia

    por parte de certos membros da Comunidade Europia, e Sua (ocorrido em 15 de

    janeiro de 1992), foi prematuro, eis que a Crocia, a poca, controlava apenas um

    tero de seu prprio territrio.48

    Como base nestas razes pode-se constatar que o reconhecimento deEstado pode processar-se de diversas maneiras e, paralelamente perceptvel que

    o instituto est ligeiramente associado possibilidade de manuteno de relaes

    diplomticas e jurdicas em relao aos Estados que o reconheceram. Todavia, em

    tese, no existe momento oportuno para o reconhecimento, o que se positiva pelo

    45MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 402-404.46ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,

    1933. Tomo 1. p. 136.47SILVA, Geraldo Eullio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito InternacionalPblico. 15. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. p. 99.48MAZZUOLI, op. cit., p. 400.

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    vnculo discricionrio do Estado concedente, restando doutrina a tarefa de

    estipular princpios norteadores quanto a essa questo.

    3.3 RECONHECIMENTO DE GOVERNO

    O reconhecimento de governo processa-se nos casos em que um Estado

    passa por alteraes polticas, a exemplo de mudanas de governo que no alteram

    seu suporte fsico to pouco a sua personalidade jurdica.49

    Mello menciona os requisitos para que um novo governo seja reconhecido: 1)

    efetividade, isto , controle da mquina do Estado e obedincia civil; 2)cumprimentodas obrigaes internacionais do Estado; 3)surgimento do novo governo conforme

    as regras do direito internacional: forma de impedir o reconhecimento de um governo

    imposto por interveno estrangeira.50

    Inicialmente, o DI costuma cumprir o papel de observador, ao invs de

    ingerente, nos assuntos internos do Estado. Entretanto, quando pairam duvidas

    sobre a legitimidade da autoridade jurdica do Estado, em momentos de instabilidade

    poltica, revoluo, golpes de Estado, fraudes em geral, mudanas na ordemconstitucional do Estado, etc., o papel do Direito Internacional se inverte e, este,

    passa a ser o regente dessa nova situao jurdica, dada a necessidade dos

    governos que ascenderam ao poder por meio de golpe de Estado de serem

    reconhecidos pelos demais atores da sociedade internacional.51

    Quanto aos efeitos do reconhecimento de governo Mello destaca: 1) o

    estabelecimento de relaes diplomticas: embora um Estado possa reconhecer o

    governo de outro, mas romper relaes diplomticas, estas tendem a seguir-se aoreconhecimento; 2) imunidade de jurisdio do novo governo perante outros

    Estados; 3) legitimidade para ser parte em tribunal estrangeiro; 4) admisso, pelo

    Estado que reconhece, da validade dos atos do novo governo.52

    A doutrina majoritria faz referncia a duas teorias relativas ao

    reconhecimento de governo:

    49MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 400.50MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Direito Internacional Pblico. 8.ed. So Paulo: Ed.Freitas Bastos, 1986. Vol. 1. p. 299.51MAZZUOLI, op. cit., p. 407.52MELLO, op. cit., p. 300.

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    1) Doutrina Tobar. Instituda pelo Ministro das Relaes Exteriores do

    Equador, Carlos Tobar (1853-1920), em 1907, pregava que a nica forma de evitar

    golpes de Estado no continente americano seria a comunidade internacional se

    recusar a reconhecer os governos golpistas como legtimos, rompendo relaes

    diplomticas e apresentando a eles uma declarao de no-reconhecimento, at

    que aquele governo fosse confirmado de forma democrtica. Esta tese esteve

    presente na Amrica Latina, inclusive na Venezuela, que aplicou-a rompendo

    relaes com Estados cujos governos no concordava, inclusive o Brasil.53

    2) Doutrina Estrada. Em 1930, o Ministro das Relaes Exteriores do Mxico,

    Genaro Estrada (1887-1937), proferiu uma declarao sustentando que o

    reconhecimento de uma nova soberania uma prtica afrontosa, e de desrespeito soberania da nao preexistente, pois o reconhecimento um elemento dispensvel

    para que o Estado inicie suas atividades.54Em outras palavras, quer dizer que se um

    Estado no concorda com determinado governo, basta simplesmente no manter

    relaes diplomticas com ele. Mas emitir um juzo de valor seria considerado uma

    ofensa. Na prtica percebe-se que esta teoria obteve maior aceitao na Amrica

    Latina.

    A questo de reconhecer ou no a legitimidade dos governos, parecia tercado em desuso h dcadas. Isso voltou tona com o incidente de Honduras, em

    2009. Neste caso, inspirado na doutrina Tobar, considerou-se que o governo interino

    de Honduras no era legitimo sob alegao de que no fora constitudo luz do seu

    prprio ordenamento jurdico.

    Como visto nesta seo, o reconhecimento de governo tem lugar nos casos

    de trocas no democrticas de governo, no pelo meio constitucionalmente

    institudo, sempre que haja revolues, golpes de Estado, etc., cuja prtica seconsolidou atravs das doutrinas Tobar eEstrada.

    53SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Pblico. 3.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 212.54MOREIRA, Luiz Carlos Lopes; LECH, Marcelo Mendes. Manual de Direito Internacional Pblico.Canoas: Editora da Ulbra, 2004. p. 30.

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    3.4 RECONHECIMENTOS ESPECIAIS

    Podem ocorrer tambm certas situaes que comportam, nas palavras de

    Mazzuoli, reconhecimentos especiais por parte dos Estados55. Tais so os casos

    de reconhecimento de beligerncia, reconhecimento de insurgncia, reconhecimento

    como Nao e reconhecimento de governo. Abaixo far-se- uma anlise dessas

    modalidades de reconhecimento especial de maneira individual.

    a) Reconhecimento de beligerncia. Ocorre quando parte da populao de

    um Estado desencadeia uma revoluo contra o governo, com a finalidade de criar

    um novo Estado ou modificar a forma de governo existente. A beligerncia um

    estado jurdico precrio, dada a existncia de duas situaes distintas, onde ou ogoverno preexistente retomar ao poder, ou os rebeldes tomaro o poder

    definitivamente e instituiro um novel governo, baseado em seus ideais

    revolucionrios.56 Como exemplo, cabe mencionar o caso da Bolvia, Colmbia,

    Equador, Peru e Venezuela que reconheceram a Frente Nacional de Libertao

    Sandinista como beligerante na guerra civil da Nicargua, em junho de 1979.

    b) Reconhecimento de insurgncia. A insurgncia (insurgency, em ingls, ou

    insurgence em francs), deflagrada no momento em que uma revolta depropores considerveis, mas sem a qualidade de guerra civil, com fins polticos,

    comandada por um movimento armado com o fim de impedir a soberania e as

    relaes exteriores de um Estado. Esta espcie de reconhecimento faz com que os

    atos praticados pelos insurretos deixem de serem de serem qualificados como atos

    criminosos, de banditismo, terroristas ou de pura violncia. A base de uma

    insurgncia pode ser poltica, econmica, religiosa, tnica, ou uma combinao de

    fatores.

    57

    Podem ser citadas insurgncias histricas, como a Guerra Civil Russa(1918-1921), e a Guerra Civil Angolana (1975-2002).

    c) Reconhecimento como Nao. Ocorre quando um ou mais Estados

    admitem que determinado grupo rene todos elementos necessrios para ser

    considerado como verdadeira Nao.58O termo Nao refere-se a um conjunto de

    pessoas que possuem a mesma origem, as mesmas tradies, os mesmos

    55MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: Editora

    Revista dos Tribunais, 2009. p. 405.56Ibidem, p. 405-406.57Ibidem, p. 406-407.58Ibidem, p. 407.

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    costumes e aspiraes comuns. Comumente os membros de uma nao falam a

    mesma lngua e habitam o mesmo territrio, podendo, entretanto, haver exemplos

    em sentido contrrio. O que liga o povo de uma nao um lao puramente moral,

    ao passo que no Estado, existe uma relao poltica.59 O reconhecimento como

    Nao teve origem na primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, gerando efeitos

    mais polticos do que jurdicos, por tratar-se de uma espcie de promessa de

    reconhecimento, quando a respectiva Nao tornar-se formalmente um Estado

    soberano, aps reunidos os requisitos que lhe so inerentes.60

    Ante o exposto, verifica-se que alm do reconhecimento de Estado e de

    governo, o Direito Internacional comporta tambm os chamados reconhecimentos

    especiais. Tais atos jurdicos tem lugar a partir da emergncia de situaespeculiares como, por exemplo, um processo revolucionrio, em que parte da

    populao se levanta contra o governo com intuito de modificar o poder central ou

    at mesmo criar um novo Estado (reconhecimento de beligerncia); quando se

    verifica um sublevao de carter eminentemente poltico, no comparada aos atos

    de guerra civil (reconhecimento de insurgncia); na situao em que se confere a

    determinado povo a qualidade de Nao politicamente organizada (reconhecimento

    como Nao). Em verdade, esses reconhecimentos so de suma importncia noapenas para o Direito Internacional como tambm para a Cincia Poltica, uma vez

    que seus efeitos alcanam esta disciplina.

    3.5 RECONHECIMENTO POR ORGANISMOS INTERNACIONAIS

    A questo inicial a respeito do reconhecimento de Estado por organismosinternacionais, consiste em saber se um Estado, ao ser admitido em uma entidade

    desta espcie, estaria tacitamente sendo reconhecido pelos demais membros da

    organizao.

    A esse respeito Mello recorda que:

    No tempo da liga considerava-se que a admisso significava um reconhecimento tcitocoletivo (Fauchille), uma vez que os Estados lidavam em conjunto com diversos

    59ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 77-78.60MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 407.

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    assuntos (ex. oramento), bem como pelo art. 10 eles garantiam mutuamente os seusterritrios e independncia.61

    Na atualidade, o tema ainda alvo de opinies conflitantes da doutrina que

    at o momento no chegou a um denominador comum. Entretanto, por influncia da

    doutrina norte-americana, este fato no tem sido interpretado como ato de

    reconhecimento, pois incidiria apenas em relao prpria organizao, que tem

    personalidade distinta da dos seus membros. Esta atualmente a posio adota

    pela ONU.62

    Aguilar Navarro defende que o reconhecimento seria uma necessidade da

    prpria organizao internacional63 que se fundamenta na cooperao entre seus

    membros. J Denys Simon tem sustentado a qualidade de membro em umaorganizao internacional como tendo valor de reconhecimento internacional.64

    De qualquer sorte, percebe-se que sob a tica do Direito Internacional, as

    organizaes intergovernamentais no possuem capacidade jurdica para

    reconhecer diplomaticamente qualquer Estado, cabendo aos seus Estados-membros

    faz-lo individualmente. No entanto, em funo de suas regras internas, as posies

    dos seus membros, podem expressar opinies positivas ou negativas em relao s

    declaraes de independncia, optando por oferecer ou recusar a adeso de recm-declarado Estado.

    A principal questo que envolve o reconhecimento de um novo Estado por

    organismos internacionais, esta vinculada, portanto, a hiptese dos demais

    membros reconhec-lo de forma tcita. Quanto a isto, a doutrina ainda no chegou a

    um consenso. Alguns doutrinadores entendem que esta situao no simboliza

    reconhecimento; outros juristas acreditam que este fato tem valor de

    reconhecimento internacional. De qualquer sorte, percebe-se que em geral asorganizaes internacionais no possuem o papel de reconhecer um novo Estado

    diplomaticamente, repassando esta competncia de maneira individual a seus

    membros.

    61MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Riode Janeiro: Renovar, 2007. p. 405.62Ibidem.63 Mello menciona o conceito de organizao internacional descrito por Abdulah El Erian: umaassociao de Estados... estabelecida por tratado, possuindo uma constituio e rgos comuns etendo uma personalidade legal distinta da dos Estados-membros. (Ibidem, p. 602.).64Ibidem, p. 405.

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    3.6 O ESTADO NO RECONHECIDO

    Do ponto de vista jurdico, no se pode deixar de lado a possibilidade do no-

    reconhecimento da nova entidade estatal. O no-reconhecimento do Estado

    definido por Seitenfus como:

    (...) a recusa expressa ou tcita, de um Estado ou uma organizao internacional, deadmitir como base jurdica de suas relaes internacionais uma nova situao (novoEstado, governo ou anexao de um territrio), pois ele contesta a sua legitimidade ou asua efetividade.65

    Todavia, pelo prprio contexto deste conceito, percebe-se que o

    reconhecimento uma constatao, e no um julgamento de valor, pois, no

    atravs da negao da existncia de um fato desagradvel, e que consideramos

    ilcito, que o fato ser suprimido.

    A Repblica de Kosovo um exemplo clssico, pois, embora no tenha

    recebido o reconhecimento de toda a comunidade internacional, o pas no deixou

    de instituir seu prprio Parlamento, exrcito, bandeira, Constituio e hino.

    Por outro lado, Silva leciona que:

    a doutrina e a prtica indicam que, ao contrrio, um Estado criado emviolao do direito internacional no deve ser reconhecido. Essa doutrina do

    no-reconhecimento surgiu a propsito da criao do Estado da Manchriapelo Japo custa da China. A doutrina foi proclamada em janeiro de 1932pelo ento Secretrio de Estado norte-americano, Henry Simpson,

    justamente a propsito do conflito sino-japons, iniciado no ano anterior.66

    Esta interpretao versa que o no-reconhecimento apenas ter lugar caso o

    novo Estado tenha sido criado em total desacordo com as regras do direito das

    gentes, resultando de um ato ilcito internacional. Mazzuoli recorda que:

    Em 1931 essa doutrina ganhou especial destaque em virtude da notaenviada pelo ento Secretrio de Estado norte-americano Henri Stimson,aos governos da China e Japo, por ocasio do conflito surgido entreambos, ocasionando o no-reconhcecimento, por parte dos Estados Unidosda Amrica, do ento criado Estado da Manchria, poca frao doterritrio chins. Esta tese, contudo, j tinha sido defendida, em 1921, pelobrasileiro Cincinato Braga, delegado brasileiro junto Segunda Assembliada Liga das naes, que formulou naquela ocasio, uma proposta deemenda ao pacto, na qual, de certo modo, se encontrava contida a doutrinado no reconhecimento, sob a forma de bloqueio jurdico universal.67

    65SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Introduo ao direito internacional pblico. 3. ed. PortoAlegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 81.66SILVA, Geraldo Eullio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito InternacionalPblico. 15. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. p. 100.67MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 397.

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    Com tudo, na atualidade, um dos grandes problemas em relao ao

    reconhecimento de Estado a validade dos atos emanados da nova coletividade

    estatal antes de ela ser reconhecida. Nesse sentido, Mello resume:

    Na prtica, um tribunal, ao ter de julgar um ato emanado de umacoletividade estrangeira, em que h dvida em saber se ela Estado ouno, envia uma consulta ao executivo. Esta prtica tem a finalidade deevitar dentro de um mesmo Estado duas atitudes diferentes.68

    Este procedimento adotado pelos tribunais internacionais, apenas refora

    nosso entendimento de que o no reconhecimento acaba servindo apenas como

    sano e, diga-se de passagem, uma poltica de represlia, pois ao executivo ptrio,

    caber o parecer final quanto legitimidade ou no da nova entidade estatal.

    Entende-se, portanto, que a prtica internacional tem demonstrado que o no-

    reconhecimento ter espao, quando um Estado for criado em total desacordo com

    as regras de DIP, ainda que este ato no impea sua existncia, autorizando apenas

    possibilidade de veto a manuteno de relaes diplomticas solenes, ao nvel de

    embaixadores, com os Estados que no o reconhecem. J quanto o procedimento

    dos tribunais ao julgar os atos emanados de coletividades no reconhecidas,

    percebe-se que esta prtica obviamente repreensiva, visto a deciso final quanto

    legalidade ou ilegalidade do novo Estado caber a outra parte, o que demonstra afalta de eqidade em processos desta espcie.

    4. A CLASSIFICAO DOS ESTADOS

    So vrias as classificaes que podem ser atribudas aos Estados. Sendo as

    mais antigas delas as que levavam em conta a sua estrutura (1) e, o seu grau desoberania (2). Modernamente, a classificao que melhor atende os interesses do

    Direito Internacional a primeira delas, pois liga-se aos aspectos polticos e

    personalidade dos Estados, que esto ligeiramente associados a sua atuao no

    cenrio internacional.

    Assim sendo, os Estados podem ser classificados de um ponto de vista puro,

    quanto sua estrutura, em Estados simplese Estados compostos, como veremos a

    seguir.

    68MELLO, Celso Renato Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Riode Janeiro: Renovar, 2007. p. 404-405.

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    4.1. ESTADOS SIMPLES OU UNITRIOS

    Os chamados Estados simples ou unitrios so Estados soberanos

    governados constitucionalmente como uma nica unidade em que o governo central

    supremo em relao a quaisquer divises administrativas (unidades subnacionais).

    O poder poltico do governo em um Estado unitrio pode ser transferido para nveis

    inferiores, como os das assemblias eleitas local ou regionalmente, governadores e

    prefeitos, mas o governo central detm o direito principal de retomar tal delegao

    de poder. Tal modalidade estatal costuma apresentar uma populao homognea

    em seu conjunto e uma disciplina das suas diversas regies que aceitam submeter-

    se supremacia do poder central.Neste diapaso, Mello aduz que: Os Estados simples no proporcionam

    maiores problemas para o Direito Internacional, vez que apresentam um poder nico

    e centralizado.69

    A maioria dos pases do mundo formada de Estados unitrios,

    principalmente porque muitos deles no possuem uma vasta extenso territorial que

    justifique uma separao de poderes em suas divises internas. Como exemplo,

    pode-se citar: frica do Sul (frica); Blgica (Europa); Chile (Amrica); Japo (sia);Samoa (Oceania).

    Caso o poder central de tais Estados seja exercido com exclusividade, em

    todo o territrio nacional, abrangendo as funes administrativas e judicirias do

    pas, refere-se a existncia de um Estado unitrio centralizado. No caso de o mesmo

    poder ser fracionado pela Constituio do Estado entre suas provncias ou

    municpios, fala-se em Estado unitrio descentralizado, o que no lhe retira sua

    condio de Estado unitrio. Existem tambm os Estados unitriosdesconcentrados, onde existem divises territoriais dotadas de um representante do

    poder central, sendo caracterstico de pases autoritrios.70

    Mazzuoli acrescenta que:

    Dentro do quadro dos Estados unitrios pode-se tambm inserir os Estados Regionais,que guardam estreita semelhana com os Estados unitrios descentralizados, mas comampliao das competncias destinadas s regies, as quais ultrapassam as questesadministrativas para abranger tambm matrias legislativas ordinrias. Dessa forma,cada regiopassa a ter autonomia poltico administrativa estabelecida por regulamento

    69MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 375.70MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 412.

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    (ou estatuto) prprio de cada uma. Tem-se como exemplo de Estado Regional atual aItlia, que comporta competncias administrativas (em quatro graus: o Estado nacional,a regio, a provncia e a comuna) e competncias legislativas ordinrias (nos nveisnacional e regional).71

    Em suma, entende-se que os Estados simples ou unitrios so aqueles que

    detm plena soberania em relao aos negcios externos e inteira ausncia ou

    limitada diviso de autonomias no tocante aos internos. A personalidade

    internacional uma nica.

    4.2. ESTADOS COMPOSTOS

    Os Estados compostos so aqueles que renem dentro de si vrios Estados

    independentes ou provncias autnomas, sob o manto de um mesmo governo e um

    s soberano, que detm os poderes de representao internacional. Este tipo de

    Estado tem origem nas unies de Estados e aquele que apresenta divises ou

    segmentaes internas dotadas de autonomia plena e poder originrio.

    De maneira mais simples, Mello, leciona: Os Estados compostos apresentam

    uma estrutura complexa, e a centralizao do poder no to grande.72

    So duas as categorias de Estados compostos: a dos Estados compostos por

    coordenao e a dos Estados compostos por subordinao. Os primeiros so: o

    Estado Federal, a Confederao de Estados, as Unies de Estados e a

    Commonwealth. Os segundos: o Estado vassalo, o protetorado internacional, o

    Estado cliente, o Estado satlite, o Estado exguo, o territrio sob tutela, o territrio

    no-autnomo e o Estado neutro.73

    Adiante, far-se- uma anlise individual dessas categorias, uma vez que cadauma delas capaz de formar diferentes modalidades de Estados.

    71MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: Editora

    Revista dos Tribunais, 2009. p. 412.72MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 375.73Ibidem.

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    4.2.1. Estados compostos por coordenao

    Os Estados compostos por coordenao, constituem-se pelo agrupamento de

    outros Estados soberanos ou entidades estatais que, em plano de igualdade, gozam

    de plena autonomia interna, mas sob o comando externo de um poder central.74

    Vejamos cada um deles separadamente:

    a) Estado Federal.Tambm chamado de Federaoou Unio Federal, uma

    unio perptua de dois ou mais Estados, na qual cada um destes conserva apenas a

    autonomia interna e transfere a soberania externa a um organismo central. A

    caracterstica mais relevante esta na subordinao de todos os seus membros a um

    governo central. Neste caso a personalidade de cada Estado desapareceinteiramente na pessoa do Estado Federal, possuindo inclusive uma nica

    nacionalidade, a da Federao.75A nacionalidade, nos Estados Federais, no pode

    ser distinta em cada uma das unidades componentes da Federao, sendo uma s

    em todo o territrio nacional.

    O Brasil um exemplo tpico deste tipo de Estado, vedando a separao de

    seus membros, atravs do princpio da indissolubilidade, previsto no Art. 1 da

    Constituio Federal de 1988, in verbis: A Repblica Federativa do Brasil, formadapela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se

    em Estado Democrtico de Direito...76Outros exemplos de Estados Federados so:

    Mxico e Venezuela (Amrica); ustria e Alemanha (Europa); Rssia (Europa/sia)

    etc.

    O elemento varivel nas Federaes apenas o nome que se atribui a cada

    um dos entes que a compe: o que se chamam no Brasil de estados, na Argentina

    se denominam deprovncias, na Alemanha de lnders, na Sua de kantonen, etc.b) Confederao de Estados. Foi um modelo histrico, em que vrios Estados

    soberanos se associavam no plano interno e mantinham sua autonomia no externo,

    conservando suas prprias personalidades internacionais, em decorrncia de um

    pacto, visando a um fim especfico, como a paz entre si, ou a defesa contra inimigos

    74MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 413.75ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,

    1933. Tomo 1. p. 97-98.76BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil (1988), promulgada em 5 de outubro de1988. Disponvel em: .Acesso em: 3 jun. 2011.

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    externos. Para assegurar isto, criavam um rgo comum, quase sempre chamado

    de Dieta77 (uma assemblia constituda de forma colegiada, formada pelos

    plenipotencirios dos Estados confederados cujas decises so tomadas pela

    maioria absoluta ou qualificada de votos) que tinha a capacidade executar certos

    atos.78 Uma caracterstica peculiar Confederao era o direito de secesso dos

    Estados que a formavam.79

    Segundo Mazzuoli:

    Os laos que unem os Estados confederados so extremamente frgeis e simplrios, oque fortalece a tendncia de se criar mecanismos para o fortalecimento do poder deseus rgos centrais. Para isso, e para que as mesmas no se dissolvamdefinitivamente, quase sempre as confederaes se transformavam em federaes.80

    Consta como exemplo desta modalidade estatal: 1) Sua (ou Confederao

    Helvtica), cujo reconhecimento como Estado independente se deu em 1648,

    quando 13 cantes j se encontravam confederados, tendo sido posteriormente (em

    1798) transformada em Repblica Helvtica. Por interveno de Napoleo

    Bonaparte, ento Imperador dos Franceses, voltou a ser confederada em 1803,

    porm, agora, com 19 cantes. Depois do denominado Pacto Federal de 1815

    reuniram-se 22 cantes confederados, sob autoridade de uma Dieta, que se reunia

    alternadamente em Zurique, Berna e Lucerna, onde cada canto tinha direito a umvoto, regime que perdurou at 1848, quando a Sua converteu-se finalmente em

    Estado Federal;81 2) Estados Unidos da Amrica. Aps a independncia de 1777,

    suas 13 colnias transformadas em Estados se uniram sob a forma confederada,

    cada qual conservando sua autonomia poltica, sua liberdade e independncia,

    tendo sido, mais tarde, transformada em Estado Federal.82

    c) Unio de Estados. Surgem quando dois ou mais Estados se unem, as

    relaes decorrentes se processam ora em termos de dependncia e desigualdade,ora de paridade e independncia. So exemplos deste tipo de Estado a Unio

    77MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 415.78ARAJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Ed. Forense,2002. p. 120.79MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 377.80MAZZUOLI, op. cit., p. 416.81ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 119.82MAZZUOLI, op. cit., p. 416.

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    Pessoal, a Unio Real e a Unio Incorporada. Vejamos cada um deles

    separadamente.

    1) Unio Pessoal. uma aliana acidental e temporria de dois ou mais

    Estados independentes, que conservam a legislao distinta, governo prprio e

    autonomia externa, sob autoridade de um soberano comum.83Conforme Mazzuoli, a

    Unio Pessoal se caracteriza por nascer normalmente de uma lei de sucesso

    dinstica, com a unio de um lao de sangue derivado do direito sucessrio, sem,

    contudo ligar os Estados s mesmas normas jurdicas e s mesmas contingncias.84

    Apesar da Unio Pessoal ocorrer mais comumente no regime monrquico,

    visto que o chefe de Estado era o nico vnculo entre elas, com todos os efeitos

    naturais da decorrentes, a este ela no se restringe. Como exemplo, cabe lembrarque Simon Bolvar foi simultaneamente presidente da Colmbia (1819-1830), ditador

    do Peru (1823-1826) e presidente da recm-criada Bolvia (1825).

    Na atualidade inexistem exemplos desta modalidade estatal, mas inmeros

    so os exemplos histricos, podendo ser citados os seguintes: 1) Polnia e Litunia

    (1386-1572), originada do casamento do Gro-Duque Ladislau II, da Litunia, com a

    Rainha Edwige, da Polnia; 2) Portugal e Espanha (1580/1640), em conseqncia

    da ascenso ao trono portugus do Rei da Espanha, Felipe II, em virtude da mortede Dom Sebastio, Rei de Portugal; 3) Pases Baixos e Luxemburgo (1815/1890),

    pela deciso adotada no Congresso de Viena de 1815, com o objetivo de controlar a

    Frana, finda com o incio do governo da Holanda pela Rainha Guilhermina, aps a

    morte de seu pai Guilherme III; 4) Blgica e Congo (1885/1908), pelo ato do

    parlamento belga que autorizou o Rei Leopoldo II a tornar-se soberano do Estado

    independente do Congo, fundado pela Associao Internacional do Congo.

    2) Unio Real. Resulta da juno de dois Estados, que guardamintegralmente sua autonomia interna, mas que integram uma nica personalidade

    internacional, sob autoridade do mesmo monarca ou chefe de Estado.85O exemplo

    atual deste tipo de Estado o Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte, sob

    a jurisdio da Rainha Elizabeth II. Como exemplos mais antigos, podem ser citados

    os seguintes: 1) Sucia e Noruega (1814-1905); 2) Dinamarca e Islndia (1918-

    83ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,

    1933. Tomo 1. p. 115.84MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 413.85Ibidem.

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    1944), extinta pelo fato desta ltima ter decidido, por meio de plebiscito, separar-se,

    instaurando a Repblica; 3) ustria e Hungria (1867-1918), ocorrida em razo de um

    compromisso assumido a base da sano pragmtica do Imperador Carlos VI e que

    findou em virtude de sua abdicao ao trono.

    3) Unio Incorporada.Trata-se da unio de vrios Estados com a finalidade

    de formar um novo, tal como ocorreu nos antigos reinos da Inglaterra, da Esccia,

    do Pas de Gales e da Irlanda do Norte, para formar o Reino Unido da Gr-Bretanha

    e Irlanda do Norte.86

    d) Commonwealth. A expresso Commonwealth Britnica no se enquadra

    em uma forma de Estado propriamente dita, sendo considerada uma formao sui

    generis, e abrange, alm do Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte, maisde sessenta unidades diferentes, os domnios, colnias autnomas, dependncias

    da Coroa, protetorados e territrios sob tutela, cada qual com seu sistema legislativo

    e administrativo. O instituto no possui personalidade internacional. Os seus

    membros so conhecidos como domnios, que so verdadeiros Estados soberanos

    e conservam o direito de secesso da Commonwealth, bem como de se manterem

    neutros em tempos de guerra. O Canad e a Austrlia so exemplos importantes da

    Commonwealth of Nations.87

    Entende-se, portanto, que os Estados compostos por coordenao so

    aqueles que, apesar de independentes, sujeitam-se a regncia de outro poder no

    plano externo. Os entes tm a mesma estrutura, havendo equilbrio nas foras que

    compe esse complexo sistema. Caso a composio coordenada seja pessoal,

    eventualmente ter carter temporrio.

    4.2.2. Estados compostos por subordinao

    Incluem-se nesta categoria aqueles Estados que compreendem, de um lado,

    um ente plenamente soberano e, de outro, uma ou mais coletividades estatais ou

    semi-estatais que dependem do primeiro, e cujo governo s exerce competncias

    86MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 415.87MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio deJaneiro: Renovar, 2007. p. 379-380.

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    restritas.88So conhecidos doutrinariamente como Estados semi-soberanos, por no

    deterem a soberania (interna e externa) plena, que inibida pela ao de outro

    Estado. Os Estados compostos por subordinao so classificados dependendo da

    natureza e do grau de subordinao que se apresentam. So estes os exemplos que

    se tem desta modalidade de Estado tutelado:

    a) Estado Vassalo. Este tipo de Estado gozava de certas prerrogativas no

    plano interno, mas os assuntos externos eram de competncia do Estado (suserano)

    ao qual estava subordinado. Portanto, o trao peculiar desta modalidade estatal

    como bem descreve Mazzuoli:

    (...) a limitao de sua soberania externa, alm da privao de vrias de suasliberdades internas, como a interveno do Estado suserano na sua administrao e

    legislao internas, a sujeio ao pagamento de tributos peridicos, o impedimento decunhar moedas, etc. O Estado suserano tem, entretanto, a obrigao de dispensarproteo militar ao vassalo.89

    Como a absoro de sua personalidade no integral, o Estado vassalo pode

    concluir certos atos internacionais e manter determinadas relaes diplomticas

    submetidas ao veto do Estado suserano.

    A Turquia utilizou-se da vassalagem90 para reconhecer a autonomia de

    algumas naes que se emanciparam de seus domnios, sem, contudo, reconhecer

    formalmente essa separao, como a Srvia e a Romnia (1856-1878), a Bulgria

    (1878-1908) e o Chipre (1878-1914).

    Tal conceito, hoje em dia, tem apenas valor histrico (apesar de alguns

    autores, como Joaquim da Silva Cunha, considerarem ainda em situao similar

    vassalagem Andorra, Liechtenstein, Mnaco e San Marino).91

    b) Protetorado Internacional. Um protetorado internacional consiste numa

    relao jurdica que se estabelece, por via de um tratado, entre dois Estados, pela

    qual um deles, o Estado protetor, se compromete a proteger outro, o Estado

    protegido, em princpio contra a agresso ou outras violaes de Direito

    88ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 131-132.89MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 420.90A vassalagem constitui relao jurdica geralmente transitria de Direito interno (constitucional)que une dois Estados, colocando um sob o jugo do outro, respeitando certos limites impostos peloDireito Internacional. (Ibidem.).91SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Pblico. 3.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 190.

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    Internacional.92Esta foi a frmula adotada na expanso colonial de alguns Estados

    europeus no sculo XIX, quando se depararam com populaes j evoludas e

    constitudas em Estados.

    Segundo Accioly, so basicamente cinco os traos fundamentais do

    protetorado:

    a) repousa, ordinariamente, num tratado, entre o Estado protetor e o protegido;b) este ltimo conserva, at certo ponto, a qualidade de pessoa internacional;c) os seus nacionais, no adquirem, ipso facto, a nacionalidade do Estado protetor;d) o exerccio da soberania externa transferido ao Estado protetor, bem como o decertos direitos dependentes da soberania interna, tais como o comando militar, aadministrao da justia, etc.;e) o Estado protegido no participa, necessariamente, das guerras do Estado protetor;f) os tratados celebrados por este ltimo no so, ipso facto, aplicveis ao primeiro.93

    Historicamente, esse procedimento foi empregado principalmente pela Frana

    (Arglia, Marrocos, Tunsia, Vietn, Laos e Camboja) e, em menor grau pelo Reino

    Unido (Egito) e pela Espanha (norte de Marrocos). Desse modo, estas frmulas

    foram desaparecendo com os processos de descolonizao.94

    c) Estado Cliente.Estes Estados confiavam a outros a defesa de alguns de

    seus interesses internos (administrao de suas alfndegas), mantendo na ntegra a

    sua personalidade jurdica internacional. A terminologia nasceu da interveno

    financeira que os Estados Unidos da Amrica, em respeito poltica do big-stickdo

    Presidente Theodore Roosevelt, submeteram alguns Estados do continente

    americano que se encontravam em situaes a beira da anarquia. Tal ocorreu at

    1934 (quando foi revogada a emenda Platt que autorizava o sistema), com Cuba

    (1901-1934), Panam (1903), Repblica Dominicana (1907), Haiti (1915), todos em

    relao aos Estados Unidos, embora tivesse como fundamento a celebrao de um

    tratado internacional entre eles.95

    d) Estado Satlite. um termo poltico que se refere a um pas que formalmente independente, mas na prtica se encontra supostamente sujeito ao

    controle poltico ou ideolgico de alguma potncia.

    No final da II Guerra Mundial, a maior parte dos pases da Europa oriental e

    central foram ocupados pela Unio Sovitica (URSS), entretanto, mesmo aps o

    92PEREIRA, Andr Gonalves; QUADROS, Fausto de. Manual de Direito Internacional Pblico. 3.ed. Coimbra: Almedina, 1997. p. 348.93ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,

    1933. Tomo 1. p. 107-108.94PEREIRA, Andr Gonalves; QUADROS, Fausto de, op. cit., p. 350.95MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 422.

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    trmino do conflito, os soviticos acabaram permanecendo na regio. Atravs de

    uma srie de governos de coalizo, incluindo partidos comunistas, os chamados

    stalinistas ganharam o controle da administrao, polcia, imprensa e rdio nesses

    Estados.

    Os Estados satlites encontravam-se em situao semelhante aos Estados

    clientes, todavia, como visto acima, os primeiros, estavam politicamente

    subordinados a antiga Unio Sovitica.96 A Polnia, Romnia, Bulgria e outros,

    encontravam-se nesta situao, desaparecendo entre 1989 e 1990 com o fim da

    cortina de ferro.

    e) Estados Associados. Aqueles que atingiram a independncia, mas, sem

    possurem meios para mant-la, encontram-se subordinados a outros Estados,como no caso de Porto Rico (Estados Unidos) e Ilhas Cook (Austrlia).97

    f) Estado Exguo. Tambm chamados de microestados, so aqueles que

    possuem uma superfcie territorial pequenssima, populao igualmente pequena, e

    no tem meios suficientes de defender a sua soberania de modo completo.98

    O menor Estado exguo plenamente soberano a Cidade do Vaticano, com

    829 cidados em julho de 2010 e uma rea de apenas 0,44 km .

    Os microestados no devem ser confundidos com micronaes, que noso reconhecidas como Estados soberanos. Os territrios especiais, sem a plena

    soberania, como as dependncias da Coroa Britnica, as regies administrativas

    especiais chinesas e os territrios ultramarinos da Dinamarca, Frana, Paises

    Baixos, Noruega e Reino Unido, tambm no so consideradas micro.

    A ttulo de exemplo de microestados, pode-se citar: o Principado de

    Liechtenstein (Europa); Tuvalu (Oceania); So Cristvo e Nevis (Amrica Mar do

    Caribe); Maldivas (sia Oceano ndico); Seychelles (frica Oceano ndico).g) Territrio sob tutela. Modernamente, para alguns doutrinadores, como

    Mazzuoli, possvel ainda incluir ao gnero de Estados compostos por

    subordinao, os territrios sob tutela, destacando que:

    O sistema de tutela foi criado pela Carta das Naes Unidas, em substituio ao sistemade mandato criado pela Liga das Naes, que previa a existncia de comunidadessubmetidas a um regime especial, consistente na tutela de outro Estado, que asadministrava na condio de mandatrio e agia em nome da Liga. O sistema de mandato

    96MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Pblico. 15.ed. Rio de

    Janeiro: Renovar, 2007. p. 384-385.97SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Pblico. 3.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 191.

    98ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional pblico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1933. Tomo 1. p. 81.

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    (cuja base legal encontrava-se no art. 22 do Pacto da Liga) havia sido institudo paraimpedir que as potncias vencidas da Primeira Guerra (principalmente Alemanha eTurquia) continuassem a exercer domnio sobre os territrios que at ento possuam,submetendo-os a um regime especial de administrao sob a responsabilidade de umEstado mandatrio. A Segunda Guerra mundial e a Organizao das Naes Unidas

    criaram, em substituio, o instituto do trusteeshipou sistema internacional de tutela,que serviria para administrar e fiscalizar os territrios que poderiam ser colocados sob talsistema em conseqncia de futuros acordos individuais.99

    Os objetivos bsicos do sistema de tutela, de acordo com os propsitos das

    Naes Unidas encontram-se enumerados no art. 76 de seu documento constitutivo:

    a) Propagar e favorecer a paz e a segurana internacionais; b) Fomentar o

    progresso poltico, econmico, social e cultural dos habitantes dos territrios sob

    tutela e o seu desenvolvimento evolutivo para alcanar governo prprio ou

    independncia como mais convenha s circunstncias particulares de cada territrio

    e dos seus habitantes e aos desejos livremente expressos dos povos interessados e

    como for previsto nos termos de cada acordo de tutela; c)Fortalecer o respeito pelos

    direitos do homem e pelas liberdades fundamentais a todos sem distino de raa

    sexo, lngua ou religio, e favorecer o reconhecimento da interdependncia de todos

    os povos; d) Garantir a igualdade de tratamento nos setores social, econmico e

    comercial a todos os membros das Naes Unidas e seus nacionais e, a estes

    ltimos, igual tratamento na administrao da justia.100

    Os territrios aos quais poderia ser aplicado o regime de tutela vm descritos

    no artigo seguinte do documento constitutivo, que assim normatiza:

    Artigo 77.1 - O regime de tutela ser aplicado aos territrios das categorias seguintes que venhama ser colocados sob esse regime por meio de acordos de tutela:a) Territrios atualmente sob mandato;b) Territrios que possam ser separados de Estados inimigos em conseqncia da 2.Guerra Mundial;e) Territrios colocados sob esse regime por Estados responsveis pela sua

    administrao;2 - Ser objeto de acordo ulterior a determinao dos territrios das categorias acimamencionadas a serem colocados sob o regime de tutela e das condies em que osero.101

    99MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico. 3.ed. So Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2009. p. 425.100UNITED NATIONS. Charter of the United Nations and Statute of the International Court of Justice .(Traduo nossa). Di