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O Estupro Como Estandarte - 03-06-2016 - Reinaldo Azevedo - Colunistas - Folha de S

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7/26/2019 O Estupro Como Estandarte - 03-06-2016 - Reinaldo Azevedo - Colunistas - Folha de S

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13/06/2016 O estupro como estandarte - 03/06/2016 - Reinaldo Azevedo - Colunistas - Folha de S.Paulo

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O estupro como estandarte

03/06/2016 02h00

O caso do possível estupro coletivo havido no Rio explica por que a esquerda estreitoutantas humanidades no peito e, onde quer que tenha chegado ao poder, construiu o reinoda hipocrisia e da morte. Pode-se ir além: clarificam-se os mecanismos mentais por meiodos quais o crime se torna um instrumento virtuoso a serviço da pretensa justiça. Vamos lá.

Na quarta-feira (1º), muitas mulheres e alguns homens –5.000 ao todo, segundo osmanifestantes– foram às ruas de São Paulo para protestar contra a tal "cultura do estupro",que, até agora, não entendi direito o que é porque não foi definida por ninguém. Pergunteia uma feminista se o pedreiro da obra que assovia o seu clichê é evidência da dita-cuja.Ela disse que sim. Eu estou preparado para enfrentar um mundo em que estupro não é

nem metáfora nem metonímia.Colunistas desta Folha que empregaram a expressão se esqueceram de caracterizar oconceito. Como diria Umberto Eco, preferiram cutucar o meu braço e dar uma piscadela,como a dizer que estamos todos subentendidos. No que me diz respeito, não subentendinada. Ou os valentes dizem do que estão falando, para saber se concordo ou não com ospressupostos, ou continuarei a perguntar: "Mas que diabo é isso?".

Uma reportagem do "Estadão" ensaiou uma definição pela via do exemplo, que costumaser o refúgio da falácia teórica. Lá se lia: "Comentários e olhares vindos de homens queobservavam o protesto de fora reforçavam, durante o próprio ato, as reivindicações

femininas. Não foi incomum ao longo do ato casos de homens fotografando manifestantesque protestavam sem blusa ou de sutiã ou fazendo comentários sobre seus corpos".

Pensava eu que as manifestantes tiravam suas blusas para, afinal, expor seus corpos(ainda que em sinal de protesto), que, por consequência, serão vistos... Não! Agora énecessário ter uma disciplina do olhar. No universo de uma cultura não machista, o corpoem evidência de uma mulher deve ser tão provocante como uma gaveta vazia.

Eu me dei conta, então, de que a indefinida "cultura do estupro" praticamente vem juntocom o pênis, menos, obviamente, no caso de machos superiores como Marcelo Freixo. Eleaté pode pertencer a um partido que teve como ideólogo e fundador um sujeito que pôsfogo em crianças, mas, justiça se lhe faça!, seu baixo ventre não é dotado das mesmasintenções criminosas do da maioria dos outros machos. Que bom!

Não tardou para que os manifestantes lançassem palavras de ordem "contra o golpe",contra Eduardo Cunha e, ora vejam, em defesa do aborto, cuja descriminação passou aser considerada uma causa contígua à do fim da... cultura do estupro! E eu pude, então,como no poema, ver em alguns cartazes abrir-se "a vereda para a terra dos mortos". Alitambém se reivindicava a volta do governo que produziu, junto com o maior assalto aoscofres públicos de que se tem notícia, a maior recessão da história.

Que coisa!

 Àquela altura, a garota cuja história motivou o protesto já era menos do que um meme dainternet. Tinha se tornado apenas o pretexto para um feixe de causas. As esquerdas sómataram tanta gente e com tanta determinação porque nunca se interessaram por pessoasreais. A estuprada, assim, deixou de ser uma pessoa para ser um estandarte: pelo fim dacultura do estupro, pela volta de Dilma, pela descriminação do aborto...

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Tempos bárbaros.

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