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O EXISTENCIALISMO
Prof. Lucrécio Araújo de Sá Júnior
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA E CIÊNCIA DO RIO GRANDE
DO NORTE – CAMPUS JOÃO CÂMARA
INTRODUÇÃO:
Algumas perguntas podem nos dar vertigem. Porexemplo, aquelas que versam sobre a existênciaem geral e sobre a existência humana se incluemnesse grupo. Perguntar-se pelo sentido daexistência equivale a perguntar-se por que existemcoisas e não um grande vazio. Como respondersatisfatoriamente a tal pergunta? A física descreveas regras de funcionamento da matéria, masgostaríamos de saber como foram criadas essasregras. Quanto ao ser humano, a pergunta sobre osentido da existência consistiria em saber qual é ameta ou o projeto comum que se encontra em todavida humana, para além de nossa diversidadeevidente.
O EXISTENCIALISMO É UM TEMA DA
FENOMENOLOGIA:
Atingiu seu apogeu na Europa depois da Segunda GuerraMundial. No entanto, o primeiro pensador importante a trazer àluz esses temas foi Kierkegaard (1813-1855), cuja obra é, emgeral, considerada fundadora do existencialismo.
A fenomenologia como corrente filosófica surgiu no final doséculo XIX, com Franz Brentano, cujas principais idéias foramdesenvolvidas por Edmund Husserl (1859-1958).
Outros representante foram Heidegger, Max Scheler, Hartmann,Binswanger, De Waelhens, Ricouer, Merleau-Ponty, Jaspers,Sartre.
A fenomenologia tem como preocupação central a descrição darealidade;
Coloca como ponto de partida de sua reflexão central adescrição da realidade, nesta dimensão a reflexão do própriohomem;
“o que se passa” efetivamente do ponto de vista daquele quevive uma determinada situação concreta.
Nesse sentido, a fenomenologia, é uma filosofia de vivência.
EXISTENCIALISMO:
É a designação vaga de várias tendências filosóficas que enfatizam alguns temas comuns:
- O indivíduo;
- A experiência da escolha;
- A liberdade;
- A ação e as relações humanas.
As obras existencialistas, por um lado, reagem contra o ponto de vista de que o universo é um sistema fechado, coerente e inteligível; e, por outro, vêem a contingência daí resultante como motivo de consternação.
Perante um universo indiferente, somos de novo postos face a face com a nossa própria liberdade.
SISTEMAS ÉTICOS E METAFÍSICOS
Heidegger e Sartre são conceitualmente os
grandes representantes das preocupações
existencialistas.
Diferentes autores, ainda que unidos na
importância que dão a este tema formularam
sistemas éticos e metafísicos muitos diferentes.
HEIDEGGER E O SER
Parte da análise do ser do homem que denomina Dasein.
Retomando a noção de intencionalidade, o Ser humano não é uma consciência separada do mundo: ser é “estourar”, “eclodir” no mundo.
O “ser-aí” não é consciência separada do mundo, mas está numa situação dada, toma conhecimento do mundo que ele próprio não criou e ao qual se acha submetido num primeiro instante. A isso chamamos facticidade.
Assim, além da herança biológica, o homem percebe a herança cultural, social, econômica, que depende do tempo e do lugar em que nasceu.
A partir do “ser-aí”, Heidegger demonstra a especificidade do ser do homem, que é a existência. Se o homem é lançado no mundo de maneira passiva, pode tomar a iniciativa de descobrir o sentido da existência e orientar suas ações em direções as mais diversas. A isso chama transcendência.
No processo, o homem descobre a temporalidade, pois, ao tentar compreender o seu ser, dá sentido ao passado e projeta o futuro.
A ANGÚSTIA
É a angústia que retira o homem do cotidiano e
reconduz ao encontro de si mesmo. A angústia surge da
tensão entre o que o homem é e aquilo que virá a ser,
como dono do seu próprio destino.
Do sentido que o homem imprime à sua ação decorre a
autenticidade ou a inautenticidade da sua vida.
- O homem inautêntico é o que se degrada vivendo de
acordo com verdades e normas dadas (a
despersonalização o faz mergulhar no anonimato, que
anula qualquer originalidade);
- O homem autêntico é aquele que se projeta no tempo,
sempre em direção ao futuro. A existência é o lançar-se
contínuo às possibilidades sempre renovadas.
SARTRE E O EXISTENCIALISMO
O existencialismo de Sartre (1905-1980) sofre influência Heidegger e outros filósofos (Husserl, Jaspers, Scheler, chegando até as obras de Kierkegaard).
Para Sartre o homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, é o que ele faz.
O homem nada mais é do que seu projeto.
A palavra pro-jeto significa, etimologicamente, “ser lançado diante”, assim como o sufixo ex significa “fora”.
Para Sartre só o homem existe (ex-siste) porque o existir do homem é para-si, ou seja, sendo consciente o homem é um “ser-para-si” pois a consciência é auto-reflexiva, pensa sobre si mesma, é capaz de pôr-se “fora” de si.
Portanto a consciência do homem o distingue das coisas e dos animais, que são “em si”, ou seja, como não são conscientes de si, também não são capazes de se lançar para auto-exame.
PORÉM, NO HOMEM EXISTE O ESPÍRITO DE
SERIEDADE
O homem sério é aquele que recusa a liberdade
para viver o conformismo e a “respeitabilidade” da
ordem estabelecida e da tradição.
“A INFÂNCIA DE UM CHEFE”:
“Consideremos esse garçom de café. Tem um
gesto vivo e apurado, preciso e rápido; dirige-se
aos consumidores num passo demasiado vivo,
inclina-se com demasiado zelo, sua voz e seus
olhos experimentam um interesse demasiado cheio
de solicitude para o pedido do freguês (...) Ele
representa, brinca. Mas representa o quê? Não é
preciso observá-lo muito tempo para perceber; ele
representa ser garçom de café”.
(SARTRE, 1982, p. 54)
Neste caso, Sartre descreve o garçom cuja função
exige que ele aja não como um “ser-para-si”, mas
como um “ser-para-o-outro”; comporta-se como se
deve comportar um garçom, desempenhando um
papel de garçom, de tal forma que ele se vê com
os olhos dos outros.
É DAÍ QUE SURGE A NOÇÃO DE “MÁ-FÉ”
Muitas pessoas não suportam a angústia de refletir, de auto questionar-se, fogem dela aninhando-se na má fé.
A má fé é a atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher. Imagina que seu destino está traçado, que os valores são dados; aceitando as verdades exteriores, “mente” para si mesmo, simulando ser ele próprio o autor dos seus atos já que aceitou sem críticas os valores dados, o sistema posto.
É uma dissimulação para si mesmo. Semelhante às coisas perde a transcendência e reduz-se à facticidade.
O QUE ACONTECE, PORÉM, COM O HOMEM QUANDO SE PERCEBE “PARA SI”,
ABERTO À POSSIBILIDADE DE CONSTRUIR ELE PRÓPRIO A SUA EXISTÊNCIA?
Descobre que, não havendo essência ou modelo
para lhe orientar o caminho, seu futuro se encontra
disponível e aberto, estando, portanto,
irremediavelmente “condenado a ser livre”.
Mas, se o homem é livre, é conseqüentemente
responsável por tudo aquilo que escolhe e faz.
A liberdade só possui significado na ação, na
capacidade do homem de operar modificações no
real.
LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
Tais colocações a respeito do existencialismo poderiam fazer supor que se trata de um pensamento que defende o individualismo, em que cada um estaria preocupado com a própria liberdade e ação.
Contra esse mal-entendido Sartre adverte: “O homem é responsável por aquilo que é”.
Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de por todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência.
E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável apenas por sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens.
Com efeito, ao agirmos e criarmos o homem que desejamos ser, estamos criando uma imagem universal do homem que julgamos ser a melhor.
Escolher isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque responsáveis que somos nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem ser bom para todos.
Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, por que ela envolve toda a humanidade.
OS PÓLOS ATUAIS DA AÇÃO HUMANA:
a) Eu como concorrente: o outro é aquele com
quem nada tenho a ver, aquele que disputa o meu
lugar e contra quem tenho de competir, numa
relação de conflito, por vezes até de aniquilação;
b) Eu como elemento de um contrato: como
mónada que estabelece contrato, relação
coisificante homem-objeto, possivelmente de
compra e venda, elementos de um contrato. A
relação com o outro é apenas acidental e
estratégica, reduzindo-se a um pacto de não
agressão, uma forma de assegurar a defesa de
interesses distintos e antagônicos.
O OUTRO E A RESPONSABILIDADE
a) Quando o outro for visto como um outro eu, a
quem se concede a dignidade de pessoa é que se
poderá ter a dimensão ética existencial de sermos-
uns-com-os-outros.
b) Na experiência do acolhimento, do amor, da
amizade é que se descobre um valor absoluto, com
dignidade própria.
ULTIMAS CONSIDERAÇÕES: NO EXISTENCIALISMO SARTRIANO HÁ A
FUNDAMENTAÇÃO DE UMA ÉTICA
O existencialismo é uma moral da ação, porque considera que a única coisa que define o homem é o seu ato.
Ato livre por excelência mesmo dependente de fatores externos (tempo e lugar).
Assim as ações humanas devem ser:
- Conscientes (porque dependem da nossa competência de discernimento)
- Livres (porque escolhemos realizá-las em detrimento de outras)
- Racionais (porque dependem da nossa capacidade de ponderação e avaliação)
- Intencionais (porque têm propósito orientado para um determinado fim)
- Responsáveis (porque o agente se reconhece como seu autor)
A EXISTÊNCIA COMO PROJETO
A existência humana está sempre por fazer, sempre aberta. Não só contemplamos o mundo que nos cerca para nos adaptarmos a ele e responder a seus estímulos, mas também porque somos capazes de nos estimular a pensar como gostaríamos que fosse o mundo.
Isso significa que não dependemos exclusivamente do mundo, mas da nossa forma de interpretá-lo.
Hoje em dia o ser humano não se conforma em adaptar-se a seu meio, mas é capaz inclusive de adaptar esse mesmo meio a seus próprios desejos.
O homem está consciente de sua capacidade de poder e sabe que seus desejos podem se converter em realidade, mas para fazer isso de modo responsável é preciso saber como realizá-los de forma responsável, controlada e não com o orgulho que pode provocar problema a si próprio.
REFERÊNCIAS
- Bibliografia básica
ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena P. Capítulo 31 –O existencialismo. In Filosofando; introdução à Filosofia. 1ª. Edição. São Paulo: Moderna, 1986.
BEAUVOAIR, Simone de. Moral da ambigüidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. (p. 29 a 35)
HUISMAN, Denis e Vergez, André. História da filosofia ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1970.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. 3. Ed., Lisboa: Presença, 1970.
- Obra Literária
SARTRE, Jean-Paul. A Infância de um chefe. In O muro; contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
- Dicionário
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.