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1 O FABULOSO SÍTIO DO ZÉ DOS BICHOS A Deus, Pai Criador, meus agradecimentos por ter me dado toda a inteligência para eu criar as minhas obras. A Jesus Cristo, à Nossa Senhora Aparecida, ao grande mestre Masaharu Taniguchi da Seicho-No-Ie, a todos os Anjos do Céu, a todos os Santos Católicos, ao Pe. Cícero, a Chico Xavier, a todos os Espíritos de Luz, às Forças e aos Elementos da Natureza, a todas as Coisas do Céu e da Terra, meus agradecimentos. Aos amigos, aos Parentes, às Pessoas que amo, aos leitores deste livro e a todos aqueles que me respeitam, meus agradecimentos.” Josef Zelyn

O FABULOSO SÍTIO DO ZÉ DOS BICHOS - perse.com.br · O bem e o mal comem juntos no mesmo prato. ... considerado muito mau, mas que tinha sua vida ligada ao mundo ... estava cambaleando

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O FABULOSO SÍTIO DO ZÉ DOS BICHOS

“A Deus, Pai Criador, meus agradecimentos por ter me dado toda a

inteligência para eu criar as minhas obras.

A Jesus Cristo, à Nossa Senhora Aparecida, ao grande mestre

Masaharu Taniguchi da Seicho-No-Ie, a todos os Anjos do Céu, a

todos os Santos Católicos, ao Pe. Cícero, a Chico Xavier, a todos os

Espíritos de Luz, às Forças e aos Elementos da Natureza, a todas as

Coisas do Céu e da Terra, meus agradecimentos.

Aos amigos, aos Parentes, às Pessoas que amo, aos leitores deste livro

e a todos aqueles que me respeitam, meus agradecimentos.”

Josef Zelyn

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O Fabuloso Sítio Do Zé Dos Bichos Eu, como um simples escritor, resolvi escrever este livro

baseado naquilo que eu penso que possa ser, mas ainda eu sei que

nada sei. Iniciei o trabalho em 2002 e terminei-o em 2004. A vida do

Zé dos Bichos, um homem que foi mau, mas depois ficou muito bom,

vale a pena se ler. Tudo isso, é apenas uma ficção que relata as

aventuras do Zé dos Bichos em seu fabuloso sítio. Usei muito a

natureza, porque eu sou também natureza, eu sou terra. Usei muito o

desconhecido, porque eu também sou desconhecido. Gostaria que o

livro fosse lido pelos brasileiros e outros lusófonos e até traduzido

para outros idiomas, para que pessoas de outras partes do mundo

pudessem lê-lo também. Mesmo que o livro seja uma mera ficção

minha, uma piada, uma brincadeira, mas é bom que ponhamos nossas

barbas de molho, porque onde há fumaça, há fogo! Todos nós com um

certo grau intelectual, sabemos que não sabemos de nada!

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Prólogo

Este universo que tão pouco conhecemos, parece mesmo

infinito. Por mais que imaginemos, que estudemos seus mistérios,

ainda continua um mistério a razão de tudo isso. Só aos poucos, o

homem irá desvendando os mistérios universais. Antes achávamos

que a terra era o centro do universo. Hoje sabemos que a terra é uma

bola de futebol num espaço sem fim. São milhões de galáxias e de

anos-luz que confundem a cabeça da gente. Como eu nada sei do

universo além daquilo que está nos livros, eu imagino um universo

diferente. Penso e escrevo o que eu penso. Daí vêm as ficções da

minha mente, que também são um universo que eu não acho o fim.

Eu penso que este universo nosso tido como tão grande, é tão

pequeno que está dentro de um outro. O outro que o comporta, está

dentro de um outro e assim, ninguém mais sabe aonde vai parar tudo

isso. Só Aquele que criou tudo. Só, somente Ele. Quem mais? Eu não

sei. Para mim, o universo está dentro da mente humana e a mente

humana está dentro do universo como um todo. Ainda não

desvendamos, nem mesmo o universo do cérebro humano. Como

poderemos desvendar os outros universos, se ainda somos meros

leigos? O que sabemos? Nada! Por este motivo: inventamos,

imaginamos...

Muita gente disse que o universo foi criado do nada, mas

onde está o nada? O nosso Criador, Deus, que também não sabemos

de onde Ele veio, é um grande mistério que não nos compete brigar.

Ele nos dotou de pequenos poderes: o poder de pensar, de imaginar,

de criar e de registrar. Mas até agora, tudo ainda é superficial. Talvez

saibamos mais no futuro daqui a um pouquinho ou daqui a milênios.

O futuro vem para nós com a mesma velocidade que

corremos para ele. Em pouco mais de um século, avançamos mais do

que em vinte. O homem evolui a cada dia. A evolução humana não

tem fim. É através desses nossos malucos intelectuais que chegamos

aonde estamos. Não paramos por aí. Estamos sempre em

desenvolvimento. O avançar da ciência, nos ajuda a cada dia a

descobrir pequenos mistérios, antes considerados indesvendáveis.

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São esses doidos cientistas, doidos escritores que trazem o

progresso. Eu não sei qual é o meu grau de doidura neste caso, mas eu

concordo plenamente com esses malucos do saber. O homem criou

máquinas boas e máquinas más. Criou o remédio para combater as

doenças, mas também criou as doenças para justificar os remédios.

Uma coisa compensa a outra. Eis aí o equilíbrio. O peso é igual. A

terra não cai de onde está. Uma coisa justifica a outra. Os fins

justificam os meios.

O bem e o mal comem juntos no mesmo prato. O que é mal para

um, é bem para outro. Eu vejo que tudo no mundo tem uma

justificativa. Uma coisa precisa da outra. Falo dos seres vivos do

nosso planeta. Acho perfeita a criação de tudo nele. A natureza é

perfeita em todos os sentidos. É perfeita a criação de Deus nele. Mas

por outro lado, a origem dos seres vivos; a evolução de tudo quanto é

vivo, ainda é para mim um enigma.

Por conta disso, tomei a liberdade, como muitos malucos da

literatura universal, de escrever essa espécie de ficção por conta disso

tudo. Parece tão fácil, tão simples, mas não é. Eu a tirei, de um lugar

do universo da minha mente. Poderá haver sim, alguma verdade no

que eu escrevi, mas poderá também ser só mera fantasia. Mas isso eu

criei. Veio de algum lugar para a minha mente, a gente sente. Nos dias

de hoje, coisas estranhas acontecem. Há um mistério entre homens,

bichos e extraterrestres mais sério do que podemos imaginar. Tudo o

que se passa aqui nesta terra pequenina, tem um motivo especial, uma

espécie de acordo, um pacto. E quando uma das partes não cumpre

esse acordo, o bicho pega mesmo. Vai aqui um caso sobre um homem

considerado muito mau, mas que tinha sua vida ligada ao mundo

animal. Seu nome era Zé dos Bichos e ele viveu toda a sua vida num

sítio fabuloso.

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Capítulo 01

A Rotina Da Vida Real Dados sobre o Zé dos Bichos e seu fabuloso sítio

O Zé dos Bichos era um homem de sítio. O apelido Zé dos

Bichos, veio da quantidade de bichos que ele tinha no seu sítio.

Homem rude, simples, matuto e grosseiro. Sempre de chapéu de palha

e cigarro na boca; coisa normal do homem de sítio daquela época.

Naquele tempo, os cigarros na roça eram feitos à mão. O fumo de rolo

era bem picado com um canivete afiado e depois enrolado com palha

de milho bem seca e fina. A palha era também bem trabalhada e

cortada no tamanho ideal de um cigarro normal, mas antes recebia

uma lambida total.

Era comum o matuto passar a língua na palha antes de

enrolar o fumo. A saliva servia para colar o cigarro. As horas de folga

do roceiro eram só para manufaturar o famoso cigarrinho palheiro. O

Zé dos Bichos, como todo homem da roça, não fugia a essa regra. Ele

tinha só trinta anos, era jovem e estava no auge de sua força viril, mas

não escondia sua característica exata do homem rústico do campo. O

Zé era mesmo um bicho do mato!

Ele era um caipira que vivia em torno dos seus bichos. Seu

sítio ficava mais ou menos na periferia da cidade, mas não muito

longe, duas léguas só. Era uma cidade pequena do interior deste

mundo imenso que eu vou chamar de Brasil, que nessa época, era

quase todo caboclo e rural. A televisão não existia e o rádio estava

nascendo; jornal, ninguém sabia o que era, mas a vida era a mesma no

campo.

O Zé dos Bichos criava de tudo: cabras, carneiros, coelhos,

galinhas, patos, perus, porcos, vacas e outros bichos. Ele tinha

também uma pequena apicultura para a produção de mel. Ele criava os

animais para vender na cidade. O Zé dos Bichos vendia animais

abatidos e animais vivos para a população local.

O Zé não era um homem bom: longe disso; era bruto como

uma mula indomada. Educação: era coisa rara para ele. O Zé não era

só mau para os bichos, mas para os empregados do sítio também. Os

mais antigos: o Mané e o João, já estavam acostumados com a

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grosseria do patrão, mas outros funcionários, não paravam no sítio

uma semana.

O Zé era estúpido para os vizinhos também: “Bom dia, boa

tarde”, nem pensar! Para ele, era perda de tempo, dar bom dia para

vizinhos. Ele ia muito à cidade sempre para tratar de negócios, mas o

dia da feira, que era só aos sábados, era especial para ele. O Zé ia à

feira negociar: vender, comprar ou trocar com alguém interessado em

animais. Ainda hoje, é muito comum esse negócio de rolos nas feiras

do interior do Brasil. Ele era um típico roleiro.

Na cidade, no final da feira, ele aproveitava para ir a um

boteco, que naquele tempo se chamava de “venda” e ali passava o

resto da tarde, enchendo a cara de pinga. Ele tinha uma carroça,

puxada pelo jumento Tunico e quando chegava em casa no começo da

noite, estava cambaleando de tão bêbado e aí começavam os

espetáculos de brutalidade com bichos e gente.

Nessas vendas ou botecos, ele se descontraía um pouco e

conversava com os seus colegas de copo, até amigavelmente, mas em

casa, quando ele chegava chumbado, ele era ainda pior para a esposa.

Fora da euforia da bebedeira, o Zé era muito fechado, carrancudo. Ele

nunca falava de seu passado, mas segundo um boato, ele fora

abandonado pelos pais ainda criança e criado com um tio alcoólatra

muito violento que o tratava na base da porrada. Talvez essa falta de

amor de pai e de mãe tenha repercutido muito no caráter do Zé dos

Bichos.

O Zé dos Bichos tinha poucos amigos na vizinhança e era um

homem sem educação mesmo. A sua esposa, dona Maria, era mais

comunicativa e por conta disso, a família mantinha um convívio até

equilibrado com os vizinhos. Mesmo assim, ele não via com bons

olhos a atitude amiga de dona Maria com os demais. Ele queria que a

mulher fosse ruim também como ele. Como ela não era ruim como

ele, ele a maltratava. Outra coisa: a crueldade com os animais era a

sua marca registrada. O Zé era muito cruel com eles todos.

De todos os bichos que ele criava, a criação de porcos era a

maior. Ele tinha todo o tipo de criação, mas a dos porcos rendia mais

para ele. Era uma criação de porcos bem organizada. Ele mesmo

cuidava da castração, engorda e abate dos porcos nesse sítio de sua

propriedade, mas ele era muito ruim com eles. O Zé era um homem

terrivelmente sádico. Ele adorava, ele mesmo, castrar e sangrar os

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porcos, mas com um requinte de crueldade. Ele não delegava a

ninguém essa tarefa: sadismo com os porcos, era com ele mesmo.

Entretanto, para fazer essas atrocidades, ele teria que estar totalmente

mamado no álcool.

O Zé Não Respeitava A Esposa O Zé tinha uma faca grande daquelas que os nordestinos

chamam de peixeira, de não sei quantas polegadas. Ele dizia que

aquela peixeirona dele era de estimação; tanto que ele a apelidara de

Garota. O Zé vivia afiando a Garota, e vivia comentando para uns

poucos amigos, que ele amava mais a faca do que a vaca da mulher

dele. Ele somente chamava a esposa, dona Maria, de “vaca velha”. Ele

era muito ruim com ela também. A coitada trabalhava muito e

agüentava tudo calada: tapas na cara, empurrões, beliscões,

xingamentos...

O Zé Era Um Homem Mau E Sádico Ele sempre recitava o versinho: “Minha mulher é uma vaca,

se fosse uma porca já tinha entrado na faca!” Para abater um porco,

seu sadismo era tanto que ele não contentava em dar uma só facada no

local mortal do bicho para evitar mais sofrimentos. Era exatamente

isso que ele queria: mais sofrimento da vítima. Esse sadista bestial

aplicava várias facadas no animal em pontos não mortais, para fazê-lo

gritar mais com mais dor. Sangrava aqui, sangrava ali e o animal

gritava de dor e o Zé com a sua crueldade sem dó, achava bonito tudo

aquilo e dava suas gargalhadas sádicas.

Quanto mais o bicho gritava, o Zé gargalhava; só então era

que ele, depois de se divertir bastante, lhe dava o golpe de

misericórdia; a facada fatal no coração. Muita gente via aquilo e não

gostava, era mesmo um horror. Até mesmo a esposa dele, se sentia

muito mal com tudo aquilo e às vezes até desmaiava de tanta dó do

animal. Seus empregados também tinham horror àquelas barbaridades

com os bichos: especialmente com os porcos.

Ele não era somente cruel no abate dos porcos: para castrá-

los também, ele judiava demais do bicho. Antes de cortar a bolsa

escrotal do porco para extrair os testículos, o Zé dava umas pauladas

no saco dele para doer mais. Aí mais gritos, mais risadas de estrondar

o ambiente. Entre uma gargalhada e outra ele comentava: “Porco foi

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feito para entrar na faca e virar presunto e lingüiça! Eu não sinto dor

alguma quando estou sangrando essas bestas! Eu não sei porque eles

gritam tanto! Mas é tão gostoso esfaqueá-los, tem coisa mais divertida

não!” – comentava sempre o Zé, com um ar de deboche.

O Zé Vendia Animais Vivos E Abatidos No sítio tinha um casal de porcos para reprodução: uma porca

matriz e um varrão grande, um grande casal reprodutor. Os dois eram

os pais de todos os porcos do sítio: o porco Tião e a porca Tiana. Esse

casal por enquanto tinha mais sorte do que os demais porcos, suas

crias. O Zé sempre falava que quando as matrizes não prestassem

mais para a reprodução, sua faca iria entrar em ação! A faca Garota ia

comer com mais crueldade ainda na garganta do casal de porcos. O Zé

dos Bichos era um sádico muito cruel! Parecia que ele se sentia feliz

com a humilhação de pessoas e de animais! Fumar um cigarro de

fumo de rolo feito com palha de milho, junto com um gole de cachaça,

era a sua maior graça! Não se sabia se o tabagismo e o alcoolismo

abrandavam ou pioravam a natureza do Zé, mas ambos faziam parte

de sua vida rotineira!

O Zé abastecia os açougues da cidade de produtos animais.

Ele fornecia para eles, mais toucinho e carne suína, do que

propriamente carne bovina e carne de frango, por ter mais porcos no

sítio do que qualquer outro animal. Ele matava de dois a três porcos

por semana. Seus empregados cuidavam do corte dos animais

abatidos, mas quem sangrava era só ele: “Não posso perder a

oportunidade de um prazer desse!” – comentava sempre. Sangrar

porcos era a maior diversão dele: era sua maior predileção. Era um

sadismo fora do comum daquela besta humana com as bestas suínas.

E assim se passavam os dias no sítio do Zé dos bichos.

Ninguém passava por cima de sua autoridade: ele fazia tudo aquilo e

ponto final. O Zé era um patrão autoritário e bruto. Ele falou: estava

falado! Quem se metesse no caminho dele, se dava muito mal!

O Zé Era Um Pinguço Chato O Zé dos Bichos não era somente cruel, ele tinha o seu prazer

predileto: gostava também de uma cachacinha da boa, como eu já

disse. A caninha também fazia parte da vida dele. O dia a dia do Zé

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era uma rotina: os dias se passavam e as coisas não mudavam no sítio.

Era tudo a mesma coisa: abates dos bichos com peixeiradas cruéis,

maldades e sadismo regados a goles de pinga, gritos das vítimas

suínas, baforadas de fumaças no ar e gargalhadas sem parar! Era uma

palhaçada só. Depois, só quedas e sono profundo por conta da

cachaçada; até os sadistas sofrem no mundo! Daí, só o outro dia e

mais nada!

Ele se divertia muito bebendo pinga nos botecos da cidade,

no final das feiras, que eram somente nos dias de sábado. Era por isso,

que o dia predileto dele, era o sábado. O domingo ele passava

dormindo por conta do porre do dia anterior. Domingo era o dia da

ressaca braba. Quando ele fazia bons negócios, com a venda ou a

troca de animais, se podia contar que a bebedeira seria das boas. Às

vezes ele fazia bons negócios mesmo nas feiras. Dona Maria também

podia contar que era mais um final de semana de martírio para ela!

Agüentar a bebedeira do Zé, era de lascar o cano!

O Grande Porre Do Sábado Era sábado outra vez. A manhã estava bonita. O Zé foi para a

cidade tratar de negócios, como coisa de rotina. Como sempre, o Zé só

voltava ao sítio à tardinha, e aquele dia de sábado não foi diferente.

Todos os sábados eram assim mesmo. Costumeiramente, no final da

feira, o Zé passava num daqueles botecos e tomava pinga como se

fosse água. Isso era rotina também, mas, aquele foi o sábado da gota

d’água.

Naquele sábado, a coisa foi mais diferente, foi pior ainda.

Esse foi o último sábado de bebedeira do Zé. Por ter apurado um bom

dinheiro com a venda de algumas galinhas e leitoas, o Zé pagou

bebida para todos ali do boteco. Era o único momento em que ele se

descontraía e conversava um pouco melhor com as pessoas. Parecia

que o Zé estava adivinhando: foi a última vez que o Zé participou de

uma rodada de pinga para valer mesmo!

Naquele dia, final de feira, o Zé passou dos limites e

exagerou no álcool: bebeu todas mesmo! Ele encheu a cara, não foi só

na venda, ainda levou uma garrafa cheia de pinga para casa. O porre

foi dos brabos. Ele saiu da venda chamando cachorro de cacho e

urubu de meu louro!

A distância do sítio dele para a cidade era de uns doze

quilômetros, não mais que isso, e o Zé ia na sua carrocinha puxada

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pelo jumento Tunico. Pobre animal: sofria muito na unha do Zé. Eram

pauladas e mais pauladas no lombo dele, para ele puxar a carroça mais

depressa!

Naquele dia o Zé chegou em casa para lá de bêbado,

cambaleando como uma égua tonta. Ele estava para lá de doido

mesmo! Xingou a esposa, dona Maria: “Vaca velha safada” – ele

ainda a chamou de alguns nomes feios, que nem é bom falar. Ela

chorou muito! Chutou o cachorro Totó, o cão gritou alto: “Sai da

frente, rabugento, cachorro imprestável!” – pisou no rabo do gato

Mimi de propósito, o gato miou feio: “Por que colocou o rabo debaixo

do meu pé? Gato safado, preguiçoso, sem-vergonha, dorminhoco! Não

paga a comida que come!” – o Zé deu seu espetáculo particular.

Deixou até de fazer negócios com um cliente por conta da bebedeira

desse fim de feira. Um açougueiro da cidade veio ao sítio dele para

comprar o maior porco que ele tinha, mas não deu negócio, por conta

da cachaçada dele!

Ele chegara uma hora antes do Zé e houve um desencontro,

porque ele pensou que o Zé estava em casa e o Zé estava na feira da

cidade. Ele esperou por muito tempo pelo Zé. O homem queria

comprar mesmo aquele porco grande que o Zé tinha no sítio, mas

quando o Zé chegou, não teve acordo. No estado de embriaguez em

que se encontrava o Zé, seria impossível se tratar de quaisquer

negócios.

O Zé não deu a mínima para ele. O açougueiro saiu irritado e

disse que só voltaria naquele sítio, se fosse num sonho. Mesmo

porque, depois da estupidez com esposa, cachorro e gato, o Zé não

falava coisa com coisa. Além de não ter dado bola para o cliente, o Zé

ainda tomou toda a garrafa de pinga que ele trouxe da cidade. Caiu ali

mesmo no chão e dormiu feito uma pedra. Esse foi o sábado da maior

bebedeira do Zé dos Bichos. Esse sábado, ficaria na história da vida

dele para sempre.

Mais tarde os empregados o levaram para a cama e ele já

roncava que nem um porco. Depois dessa bebedeira, o Zé dos Bichos

nunca mais seria o mesmo. Naquele dia o feitiço virou contra o

feiticeiro!

Dona Maria não se preocupou muito com o sono brusco do

Zé, pois já era rotina, isso acontecer todos os sábados. No domingo ela

foi à missa na igrejinha da cidade e o Zé continuou dormindo no sítio.

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Só mais tarde foi que ela se preocupou com ele. Ele não acordou nem

para o tradicional almoço dominical. Então, ela mandou um

empregado avisar o médico da cidade, que o marido estava dormindo

além do limite e isso a preocupava. Ele a tranqüilizou e disse que não

era nada de importante e que o Zé precisaria dormir um pouco mais

mesmo e talvez acordasse só na segunda-feira. O sono seria muito

bom para equilibrar a saúde dele, que já andava meio debilitada por

conta do seu alcoolismo desenfreado!

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Capítulo 02

O Início Dos Sonhos Um sonho normal como na vida real

O primeiro capítulo do livro, foi somente para falar um pouco

do Zé dos Bichos e do sítio dele. Falar um pouco do seu caráter; de

sua maneira de ser. Uma mera rotina da vida real. Está claro, que o Zé

dos Bichos, não é flor que se cheire. Daqui para frente, as coisas

podem tomar outros rumos. Vamos ver o que vai acontecer com o Zé!

Será que o Zé vai melhorar? Será que ele vai acordar bom mesmo na

segunda-feira? Será que ele tem culpa de ser um homem mau? As

maldades com os animais ficarão de graça, sem punições? Vamos

pagar para ver!

Já era bem tarde da noite, ainda no sábado. Todos foram

dormir normalmente. O Zé continuava dormindo desde a tardinha,

mas logo começariam os problemas ou as soluções para os problemas.

Ele realmente dormiu muito pelo efeito da cachaça e foi aí que ele

teve o seu primeiro sonho. Esse primeiro sonho seria para ele como

um mero reflexo do dia a dia do sítio e nada mais. O problema foi o

sonho dentro do sonho. Esse segundo e longo sonho dentro do

primeiro, mudaria totalmente a vida dele.

O Zé dormia profundamente e ele teve o seu primeiro sonho.

Ele sonhou que estava em seu sítio mesmo, como se fosse um dia

normal de trabalho, de negócio, de crueldade. O Zé dos Bichos viveu

no primeiro sonho como se fosse uma vida real, mas era mesmo

apenas o começo de um sonho.

No primeiro sonho, era uma manhã: o Zé tinha acordado

muito cedo dizendo que queria comer sarapatel fresco com cachaça!

Quando ele queria uma coisa, tinha que ser já, no ato! Até no sonho, o

Zé dos Bichos era um sujeito chato!

O Sacrifício Do Porquinho No sonho, o Zé mandou um de seus empregados pegar o

melhor leitão do chiqueiro: o famoso porquinho. Esse foi o sonho do

sacrifício do leitão. O Mané, um dos homens do sítio, trouxe o animal

e lho entregou para o abate.

O Zé lhe amarrou uma corda nas patas traseiras, o pendurou

num galho de uma árvore de cabeça para baixo, da mesma forma que

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se costuma fazer para matar cabrito no norte. O porquinho estava na

posição de abate.

No lugar de dar a facada fatal, o Zé preferiu abrir o peito do

leitão para arrancar o coração dele, com ele ainda vivo. O leitão

começou a gritar desesperadamente. Foi muito cruel, mas o Zé fez

isso com a maior das tranqüilidades: “Qual é o problema, não sou eu

quem está sofrendo as dores!” – disse ele simplesmente. Como eu já

disse, ele sentia um prazer fora do comum em fazer maldades. Até

dentro de um sonho, o Zé era mau! Muito mau!

Continuando o seu show sádico, ele comentou: “O coração

do porco tirado na hora, bem fresquinho, é mais gostoso!” – e o leitão

gritava. Ele começou a abrir devagarzinho o peito do porquinho. O

bichinho gritava de fazer dó. O Zé fazia tudo com o mesmo cuidado

de uma operação cirúrgica para evitar furar o coração; se furasse, o

bichinho morria logo e acabaria a graça para ele. O divertido para ele,

era ouvir o animal gritar! O Zé queria vê-lo gritar muito: gritar,

gritar, até não poder mais!

O animalzinho gritava e o Zé rachava o bico. Aberto o peito

do leitão, o Zé lhe tocou o coraçãozinho que pulsava a mil de tanto

terror e dor. Segurou-o com uma mão e com a outra cortou-o fora num

só golpe. Foi o golpe final, o sangue esguichou, o porquinho silenciou.

O Zé sorriu gostoso, mas enfatizou: “Calou a boca por quê, porco

besta? Não doeu nada!”

Com o coração do porco ainda pulsando e sangrando em sua

mão, o Zé gritou para a sua mulher dizendo: “Vaca velha! Frita esse

coração aqui com sangue e tudo e traz aqui para mim já, e traz

também junto, uma garrafa de pinga da boa! Vem logo bruaca velha!

Mulher feia só serve é para servir a gente e na hora!” – gritou o Zé

com um ar de superioridade. Sua mulher, cabisbaixa, pacientemente

cumpriu as ordens do marido crápula.

Dona Maria veio, pegou o coração do porco e levou-o para

dentro de casa: fritou-o e trouxe-o para o seu marido querido. O Zé

achou bom: “Coração suíno bem frito e a pinga preferida da gente,

tem coisa melhor?” – comentou ele para si mesmo.

O Zé saciou sua sádica fome, regada a goles de cachaça e em

seguida chamou a mulher e disse: “Vaca velha! Como eu sou um

homem de bom coração, pegue o corpo do leitão e assa para você e os

empregados! A minha fome já passou” – ordenou o crápula. A

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mulher obedeceu com paciência, mais uma vez sem dar um pio; assou

o porco, mas ela não comeu e nem os empregados também.

Ninguém quis comer do assado, de tanta dó do sofrimento do

bichinho e ela já ia levar o porco assado para uma vizinha, quando ele

viu e interferiu. O Zé percebeu que era uma desfeita para ele: ”Dê cá

esse assado safada, eu vou comer tudo, dê o que der!” – mantendo

sempre um ar de superioridade, ele arrancou o porco assado das mãos

da mulher e se pôs a comê-lo como um glutão voraz!

O Zé, só de birra, comeu o assado inteiro com goles e mais

goles da caninha. Comeu, mas passou muito mal. Teve uma dor de

barriga de lascar o cano. Passou muito mal mesmo quando foi dormir,

só não morreu, mas vomitou e cagou a noite inteira!

O boato se espalhou pela vizinhança, e as pessoas dos sítios

vizinhos ficaram sabendo do fato e até gostaram muito e taxaram tudo

aquilo como um castigo. Apesar disso tudo, o Zé não se emendou:

“Isso acontece com qualquer um, e eu não sou o primeiro” – disse ele.

O Abate Do Porcão Dias depois, dentro desse mesmo sonho, o Zé começou

novamente com a maldade com os porcos. Dessa vez, a vítima não foi

um leitão, mas sim, um porco muito grande, o maior que ele tinha no

chiqueiro. Esse porco do sonho, era um porco rebelde, um bicho bruto

também. É o mesmo porco que aquele açougueiro da cidade queria

comprar na vida real e não deu negócio, devido à embriaguez do Zé.

Nesse dia, no mesmo sonho, aquele mesmo comprador da

cidade veio ao sítio do Zé e escolheu esse tal porcão. Naquele dia, na

vida real, ele não pôde fechar negócio com o Zé, devido ao seu estado

de bebedeira. Por ironia do destino: o comprador veio no sonho, como

ele havia dito. Esse foi o dia do abate do porco grande.

O Zé nesse dia, tinha tomado todas também, mas dessa vez,

recebeu o açougueiro assim mesmo. Ele estava bêbado que nem um

gambá, mas vamos lá. Até nos sonhos, o Zé bebia muito. O

combinado foi o seguinte: o porco tinha que ser abatido e entregue já

esquartejado ao comprador. O Zé não demonstrava nenhuma condição

física para isso, devido ao efeito do álcool, mas ele já afiava a faca

Garota com muito carinho.

Era um porco de tamanho descomunal. Um bicho enorme

mesmo e com presas afiadíssimas. O comprador exigiu urgência no

serviço. Nisso, o Zé gostou muito: “Faz um bom tempo que eu não

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esfaqueio um suíno desse tamanho” – falou o Zé, mesmo aos tombos e

permitiu apenas que alguém o ajudasse a tirar o bicho de dentro do

chiqueiro: “Eu estou com umas duas na cabeça, mas a Garota, minha

faca, ainda não bebeu nada! Ela não bebe pinga, só sangue! Minha

peixeirinha de estimação, hoje tem trabalho! Eu vou judiar desse

porcão para valer, em vingança daquela caganeira que eu tive outro

dia, quando eu comi todo aquele porquinho idiota! A culpa não é dele,

mas ele é porco, e um porco paga pelo outro” – comentou o Zé,

totalmente mamado. O Zé percebendo que seria difícil para ele,

chamou os dois homens do sítio para ajudá-lo a tirar o animal do

chiqueiro.

Ele bêbedo como estava, mal parava de pé. Os dois homens

junto com o Zé, arrastaram o bicho para fora da pocilga e lhe

amarraram as patas para o abate. O Zé afiou um pouco mais a faca

para sangrá-lo. Ele poderia simplesmente lhe aplicar uma facada

certeira no coração e ponto final, mas não, preferiu machucar mais o

bicho, e fez isso com muito gosto!

Judiou dele até não poder mais. Começou a esfaqueá-lo de

leve em pontos não mortais: nas costas, nas partes glúteas e o bicho

gritava de dor. Os empregados: o Mané e o João ficaram irritados,

mas não puderam fazer nada contra as asneiras do patrão.

Para o Zé, era só alegria: “Grita, porco besta, filho da puta,

depois tem a melhor, você vai ainda ver a Garota lhe furar o coração

até o cabo!” – gritava com fúria, o Zé. Num momento de desespero, o

porco que era muito forte, rompeu as peias das patas, se levantou

bruscamente e acertou a perna do Zé com uma mordida terrível, mas o

Zé com uma outra facada rápida e certeira lhe atingiu também o

coração sem dó, mas não percebeu, com o calor da ação, que a presa

do bicho lhe pegou uma veia vital e o sangue começou a jorrar.

O porco morreu e o Zé desmaiou e caiu ali no chão mesmo,

ainda com a faca fincada no coração do bicho. Os empregados

perceberam o ocorrido e providenciaram socorro imediato para o Zé.

O Zé foi socorrido ainda nesse primeiro sonho.

O Zé foi levado urgente numa charrete para a cidade:

chegando a tempo de o único médico de lá salvá-lo do perigo de

morte. A ferida foi estancada, mas o Zé continuou dormindo. Ele

ficou como se estivesse em coma. O próprio médico disse que ele iria

passar por um sono profundo durante três dias.