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O fazer-se docente e o
Pibid
INDICTO EDITORA
TOLEDO
2017
O FAZER-SE DOCENTE E O PIBID
Andréa Cristina Martelli
Dulce Maria Strieder
Dulcyene Maria Ribeiro
Lourdes Aparecida Della Justina
Solange de Fátima Reis Conterno
Organizadoras
INDICTO EDITORA
Toledo
2017
Copyright: Dos autores. Todos os direitos reservados – 2017
Revisão: Dr. Rosan Luiz do Prado – Indicto Editora – Toledo – PR.
Produção gráfica e impressão: Ebook – Indicto Editora
Conselho Editorial:
Profª. Ana Meneghini, Profª. Eide Reati do Prado, Profº. Dr. Rosan Luiz do
Prado, Profº Dr. Moacir Jorge Rauber.
Apoio Financeiro:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
Realização:
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID/Unioeste
Rua Universitária, 1619 - Jardim Universitário - CEP 85819-100 - Cascavel-PR
E-mail: [email protected]
Os autores de cada capítulo respondem individualmente e são totalmente
responsáveis pelo respectivo conteúdo publicado.
RIBEIRO, Dulcyene Maria et al. O fazer-se docente e o Pibid/Andréa Cristina
Martelli, Dulce Maria Strieder, Lourdes Aparecida Della Justina e
Solange de Fátima Reis Conterno. Toledo - Paraná: Indicto Editora,
2017.
266 p.
ISBN 978-85-54884-08-6
1. Educação
2. Formação de professores
3. Pibid/Unioeste
I. Título
CDD 1ª ed. – 370
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 5
PREFÁCIO
O prefácio é um texto relativamente curto, que precede a
obra e tem o intuito de preparar o leitor para o que virá em seguida.
No caso do conjunto de coletâneas elaboradas pelo Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, adianto que
nenhum texto desse caráter pode cumprir bem essa função, dada a
surpreendente e interessante experiência de conhecer as atividades
desenvolvidas no Programa nos últimos quatro anos, discutidas nos
capítulos que compõem essa obra. As reflexões, elaboradas por
educadores que constroem conhecimento sobre o ensino no
cotidiano das escolas públicas, buscando qualificar a formação dos
mais novos professores, mais que revelam o resultado de um
trabalho sistemático realizado com grande senso de
responsabilidade. A leitura dessa obra nos impulsiona à
autorreflexão, a cada linha, provocando nosso pensamento: “e nós”,
que caminhos temos percorrido? Que escolhas temos feito? Que
recursos temos utilizado? O que temos feito dos nossos erros e
acertos?
O Pibid foi criado em 2007 pela CAPES e tem alcançado
expressivo reconhecimento social, colocando-se como um
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 6
Programa estratégico no cenário das políticas de formação de
professores. O Programa insere estudantes do curso de licenciatura
no cotidiano das escolas da rede pública de educação, nas quais
praticam o ensino sob orientação de um docente do curso -
coordenador de área - e de um professor da escola - o supervisor.
Ao mesmo tempo, oportuniza a identificação de problemas, estudos
e mudanças da realidade das escolas.
O conjunto de coletâneas do Pibid/Unioeste possibilitam
conhecermos e compreendermos como esse Programa se traduz em
um contexto específico. No seu conjunto, a obra trata da
experiência de formação de autênticos educadores, trazendo temas
variados e que dialogam com a complexidade da práxis educativa
das escolas públicas do Estado do Paraná. O ponto de partida é de,
nada menos que cinco coletâneas, que detalham o trabalho
realizado por diferentes perspectivas, com destaque para a
organicidade das ações realizadas ao longo do processo de
iniciação à docência, que tem como ponto de partida a construção
de vínculos com a escola, o diagnóstico sobre a realidade escolar, a
realização de atividades formativas, o uso de mecanismos de
acompanhamento e a socialização dos resultados alcançados.
Na coletânea “Trajetórias de iniciação à docência no
Pibid/Unioeste”, os coordenadores das diversas áreas do ensino
descrevem as práticas desenvolvidas nas escolas. Os textos relatam
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 7
as experiências realizadas de modo crítico, discutem os
fundamentos teóricos e metodológicos em questão, revelam os
saberes produzidos e efeitos da experiência na formação dos
licenciandos. Além disso, discutem as percepções dos bolsistas da
iniciação à docência e dos egressos do Programa sobre a própria
formação e a conscientização sobre o fato de que nós, educadores,
nunca estamos prontos por isso continuamos aprendendo. Também
analisam suas vivências quanto às práticas de ensino de filosofia,
biologia, geografia, língua portuguesa e línguas estrangeiras,
alfabetização e letramento, história e matemática.
Uma marca das discussões travadas nessa coletânea é a
formação de professores reflexivos no cotidiano da escola, para
contemplar um ensino de qualidade visando à formação plena de
sujeitos críticos, que pensam e transformam sua realidade.
Na coletânea “Experiências na educação em ciências e
matemática no contexto do Pibid/Unioeste”, a ênfase é a formação
de professores e docência nas áreas de Ciências e Matemática. Por
um lado, ainda prevalece nas escolas um ensino
descontextualizado, baseado apenas na abstração, por outro, as
mais novas gerações demandam cada dia mais por uma
aprendizagem significativa. Em face disso, são relevantes as
reflexões dos textos dessa coletânea, pois partem das práticas de
iniciação à docência nas escolas para analisar a história do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 8
pensamento científico e as possibilidades de ensino lúdico com uso
de jogos, materiais concretos, modelos. Também discutem as
práticas de investigação na escola como meio de compreensão das
condições de existência no planeta e mudanças observados nos
tempos atuais, como as mudanças climáticas globais, efeitos do uso
dos smartphones no corpo humano, petróleo e combustíveis fósseis,
o papel dos fungos na natureza. Há relatos sobre a importância das
feiras de ciências e até mesmo da educação inclusiva com ensino
de matemática para crianças cegas. Desse modo, as experiências
relatadas nessa coletânea apontam a necessária implicação entre
escola e vida dos sujeitos que aprendem, ajudando a ressignificar a
experiência escolar.
Na coletânea “Vivências na sala de aula no Pibid”, o
destaque é para o ensino de línguas, bem como o modo de formar o
professor. É consenso a importância tanto do domínio do português
quanto de outras línguas para que se aprenda mais sobre si mesmo
e sobre o mundo na sua pluralidade de valores culturais formas de
organização política e social, mas são inúmeras as dificuldades
dessa prática na escola pública. Como resultado das práticas de
iniciação à docência nas áreas de ensino de português, inglês e
espanhol, os textos argumentam sobre as possibilidades de uso das
tecnologias da informação e comunicação, da literatura, do cinema,
do cordel, dos readers - pequenos livros reescritos a partir dos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 9
grandes e complexos clássicos da literatura. Também debatem
abordagens diferenciadas, analisando criticamente as mais
conservadoras e explorando inovações possíveis, como a produção
de livro didático. Há reflexões acerca da ação do professor frente
aos desvios de escrita dos alunos, a problematização acerca da
concepção de leitura, discussões acerca da oralidade. No bojo da
reflexão sobre a função social da escrita, incluindo experimentos
sobre o ensino da função argumentativa e discursiva do texto, a
coletânea apresenta ainda, como lastro, as teorias
socioconstrutivistas no ensino das línguas, valorizando e
empoderando o sujeito do conhecimento.
Na coletânea “O fazer-se docente e o Pibid”, tem lugar o
ensino das ciências humanas na escola. É indiscutível o papel do
ensino de história, geografia e sociologia para a formação de um
cidadão consciente. Os resultados da experiência de iniciação à
docência nessa área, analisados nos textos dessa coletânea,
contribuem com a reflexão sobre as questões locais como
agricultura, a dinâmica das feiras locais, o estudo da hidrografia.
Os textos discutem o uso de jogos e atividades práticas em grupos
como formas de ensino mais lúdicas, uso da cartografia como meio
de reconhecimento da realidade pelos alunos, uso dos jogos
narrativos para compreensão de si como sujeito histórico, uso das
bonecas Abayomis – feitas de retalhos de tecido - para ensino da
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 10
reflexão sociológica relativo às questões raciais e de gênero. Ou
seja, os textos compilados dão evidência à necessidade de formar o
pensamento crítico e seres humanos capazes de compreender e
produzir relações sociais saudáveis, com clareza sobre seu papel
nas transformações necessárias da sociedade.
Na coletânea “Experiências dos subprojetos de Pedagogia
do Pibid/Unioeste”, é dado foco à formação de professores para
ensino da língua materna como condição para a expressão e
autonomia dos sujeitos, desde a educação infantil e o ensino
fundamental. São grandes os desafios com o ensino de português
que forme sujeitos capazes de produzir e compreender textos. A
coletânea apresenta formas de enfrentamento dessa realidade a
partir da contação de histórias para instigar as crianças a apreciar a
leitura, de aproximações entre a educação formal e não formal para
preparar o sujeito para o exercício da cidadania, da reflexão sobre
a alfabetização e o letramento, incluindo as pessoas com
necessidades especiais e a alfabetização matemática, do trabalho
com a literatura como modo de compreensão da realidade e
resolução de conflitos, das contribuições da Teoria Histórico-
cultural, do aprendizado sobre folclore e cultura popular na
educação infantil. Essa coletânea mostra caminhos percorridos no
sentido de colocar o ensino da língua a serviço da leitura de mundo,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 11
abrindo promissora perspectiva de trabalho para uma efetiva
educação na infância.
À essa altura, deve estar claro para o leitor o porquê dessa
despretensiosa introdução às Coletâneas do Pibid/Unioeste. Ciente
da impossibilidade de reduzir a poucas palavras a robusta
contribuição dessa obra, as páginas iniciais representam o
resultado, principalmente, de uma leitura transversalizada pela
gratidão e honra de compartilhar ideias com os autores, sujeitos,
educadores do Estado do Paraná. A leitura de mundo, de escola, de
docência e de formação impressa nesse trabalho são o testemunho
vivo de experiências vividas e reflexionadas no espaço-tempo
singular, sob condições objetivas e específicas. Mas, ao mesmo
tempo, no seu conjunto, os textos apresentados despertam a
esperança de que uma outra educação é possível, que ela está em
construção e que podemos fazer parte disso, dialogando com outros
educadores, repensando nossas próprias práticas. Boa leitura!
Alessandra Santos de Assis
Professora do Departamento de Educação II - FACED/UFBA,
Docente do Programa de Mestrado Profissional em Educação na UFBA e Coordenadora Institucional do Pibid/UFBA
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 12
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO........................................................................14
O LUGAR NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UM OLHAR A
PARTIR DAS QUESTÕES AGRÁRIAS DE FRANCISCO
BELTRÃO......................................................................................25
A DINÂMICA DAS FEIRAS NA CIDADE DE FRANCISCO
BELTRÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA.................. 45
A FORMAÇÃO DE FUTUROS PROFESSORES PELO PROGRAMA
PIBID NA PERSPECTIVA DIALÓGICA DE BAKHTIN................... 61
A LATERALIDADE E A SUA IMPORTÂNCIA NO ENSINO DA
GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO CURSO DE
FORMAÇÃO DOCENTE ................................................................. 87
GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA: OS DESAFIOS ENCONTRADOS
NA SALA DE AULA ......................................................................108
IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA PARA A
COMPREENSÃO DA INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS....................126
INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS E ALFABETIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA...........................................................................146
JOGO COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA ..................................................................................168
JOGOS NARRATIVOS E O ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES
SOBRE UMA EXPERIÊNCIA .........................................................179
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 13
UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE “SUJEIÇÃO CRIMINAL”
A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO RAP201
BONECAS ABAYOMI: UMA FORMA LÚDICA DE ENSINAR......220
A ARQUEOLOGIA DO DISCURSO NAS RESENHAS DE NOTÍCIAS
DO GRUPO PIBID DE SOCIOLOGIA .............................................246
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 14
APRESENTAÇÃO
A coletânea “O fazer-se docente e o Pibid” é resultado de
atividades desenvolvidas nos subprojetos, do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, nos últimos
quatro anos.
Nosso projeto contempla 20 cursos de licenciatura
distribuídos em cinco campi da instituição, sendo esses: Ciências
Biológicas (Cascavel), Ciências Sociais (Toledo), Educação Física
(Marechal Cândido Rondon), Enfermagem (Cascavel), Filosofia
(Toledo), Geografia (Francisco Beltrão e Marechal Cândido
Rondon), História (Marechal Cândido Rondon), Letras-Inglês
(Cascavel, Foz do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon), Letras –
Português (Cascavel e Marechal Cândido Rondon), Letras-
Espanhol (Cascavel), Matemática (Cascavel e Foz do Iguaçu),
Pedagogia (Cascavel, Francisco Beltrão e Foz do Iguaçu) e
Química (Toledo).
A participação dos cursos de licenciatura da Unioeste no
Programa, desde o edital de 2009, fomenta reflexões sobre a
atuação docente e seus elementos constituintes, contribuindo para a
melhoria de resultados no processo de ensino e aprendizagem
desde os anos iniciais do ensino fundamental, ensino médio até a
educação técnica de nível médio. A formação de professores para a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 15
Educação Básica tornou-se centro de discussões em diferentes
momentos na universidade, tendo em vista a visibilidade
ocasionada pelas atividades desenvolvidas no Programa.
As atividades nos subprojetos ocorrem em diferentes etapas,
embora todas sejam interdependentes. O conhecimento da
organização da escola, sua estrutura e de seus profissionais são
anuais, tanto pela dinamicidade própria da educação, quanto pelo
movimento de bolsistas e a troca de algumas escolas que deixam de
atender aos critérios do Edital 61/2013 – Capes ou por outro
contratempo. Os estudos dos instrumentos legais e pedagógicos de
cada escola corroboram para ampliar o conhecimento da escola
parceira do Pibid.
Concomitante ao processo de conhecimento da escola foi
desenvolvido grupos de estudos na universidade e nas escolas com
a participação dos bolsistas (iniciação à docência, supervisão e
coordenação de área) com temáticas referentes à docência e ao
conhecimento de cada área. Os fichamentos de livros e textos, bem
como os estudos dirigidos e o uso das mídias sociais fomentam o
planejamento da inserção e vivência na escola, ou seja, da
docência.
Na escola, os bolsistas de iniciação à docência observaram
as disciplinas específicas de cada subprojeto; desenvolveram
oficinas didáticas e artísticas (turbante, grafite, rap, outros);
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 16
organizaram laboratórios e feiras de ciências; elaboraram planos e
projetos de ensino; prepararam cenários e encenação de peças
teatrais; ministraram palestras, produziram contação de histórias e
materiais didáticos.
Essas atividades desenham a inserção dos bolsistas de
iniciação à docência nas escolas, as quais contribuem para a sua
formação acadêmica e profissional, pois os aproxima do cotidiano
de sua atuação e ainda permite às comunidades escolares
usufruírem de atividades diferenciadas.
O programa demonstrou e ratificou sua importância na
formação inicial e continuada de professores para a Educação
Básica, exercendo importante papel nos cursos de licenciatura da
Universidade. Uma das contribuições do Programa às licenciaturas
é a consolidação da relação da Educação Superior com a Educação
Básica, haja vista que ao desenvolver as atividades previstas em
cada subprojeto, os bolsistas de iniciação à docência se envolvem
diretamente com as especificidades do seu campo de trabalho e
com as peculiaridades do trabalho docente.
Nesse sentido, essa empiria aprimora os estágios
obrigatórios e suscita reflexões nas disciplinas dos cursos
envolvidos, ultrapassando os limites de formação daqueles
diretamente envolvidos e alcançando a comunidade acadêmica dos
cursos como um todo.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 17
A experiência de participar de eventos científicos
proporciona aos bolsistas o desafio da escrita dentro das normas
científicas, bem como, a sistematização e contextualização das
discussões teóricas com as vivências nas escolas. Além disso,
possibilita o acesso aos novos conhecimentos e propostas
metodológicas de suas áreas e o conhecimento sobre as realidades
diversas. A participação em eventos instiga a escrita e a fala de
seus objetos de estudo, ocasionando uma formação mais
abrangente e o desafio de construir argumentos no intercâmbio com
acadêmicos de outras universidades.
Outro fator de contribuição para as licenciaturas é o
aumento de alunos egressos da Educação Básica, que têm optado
pelos cursos de licenciatura nas universidades públicas. Eles
afirmam que, de uma forma ou outra, o contato que tiveram com
atividades e bolsistas do Pibid quando ainda estavam na escola, foi
determinante para a escolha do curso de licenciatura.
Como resultado desse trabalho, apresentamos as produções
que compõem essa coletânea. O capítulo “O lugar no ensino de
geografia: Um olhar a partir das questões agrárias de Francisco
Beltrão” de Gabriel Durante, Rafael Ghidini e Shirley Manera
Balastrelli, apresenta uma palestra na qual foram discutidas as
relações agrárias do município de Francisco Beltrão para debater
assuntos relacionados à agropecuária por meio da categoria lugar,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 18
levando em consideração os conhecimentos prévios dos estudantes,
possibilitando assim reflexões críticas acerca da realidade dos
mesmos. A realização dessa atividade possibilitou a utilização de
diferentes recursos visuais para a compreensão do tema. Entretanto,
também demonstrou limites, como o cansaço entre os participantes.
Porém, os autores sugerem a realização de outras atividades que
podem contribuir para produção de conhecimento pelos estudantes
sobre o tema.
Gilvana Fatima Carvalho, Luiz Carlos da Silva e Nubia
Luiza Chaves da Rosa Pazinato, autor e autoras de “A dinâmica das
feiras na cidade de Francisco Beltrão a partir da educação
geográfica” evidenciam a importância do lugar e da Educação
Geográfica para o entendimento das dinâmicas das Feiras locais,
para tanto consideram os aspectos econômicos, culturais e
históricos. Com esse intuito entrevistaram os feirantes locais,
realizaram estudos sobre a agroindústria, visitaram supermercados
e coletaram informações relevantes para o trabalho. Para o
desenvolvimento desse artigo foi realizada pesquisa bibliográfica
que demonstra como a ciência geográfica contribui para
compreensão das relações políticas, econômicas, culturais, sociais e
territoriais.
“A formação de futuros professores pelo programa Pibid na
perspectiva dialógica de Bakhtin” de Ione A. Zucchi Modanese e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 19
Sonia M.M. Nacke apresenta reflexões sobre a formação de futuros
professores, fundamentadas no conceito do dialogismo na
perspectiva bakhtiniana. Segundo as autoras, o Pibid proporciona
aos acadêmicos vivenciar práticas pedagógicas ao longo da
graduação e também aproxima professores da escola pública com a
universidade, estabelecendo formas de dialogar sobre as diferentes
realidades que envolvem o ato de ensinar. Desta forma, afirmam
que os Pibidianos passam a ter uma formação mais significativa e
contínua, articulada entre os conteúdos acadêmicos, os objetos
escolares e suas práticas e, os diferentes sujeitos que estão
envolvidos no fazer pedagógico. Por fim, as autoras dizem que é
pela experiência concreta, com alunos reais e pelas diferentes
interações sociais que nos tornamos professores.
O capítulo “A lateralidade e a sua importância no ensino da
geografia: Uma experiência com alunos do curso de formação
docente” de Giovani Luiz Käfer e Alisson Henrique Bavaresco
apresenta parte do trabalho direcionado ao conceito de
Lateralidade, uma das principais noções topológicas para formação
do conceito de espaço geográfico. Os autores descrevem a
realização de Oficinas que foram realizadas com alunos do 1º ano
do curso de Formação Docente em que as metodologias adotadas
foram diversificadas, destacando-se a problematização de
elementos vinculados aos conhecimentos cotidianos dos alunos,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 20
jogos e atividades práticas em grupos. Os autores consideram ter
propiciado aos alunos um conhecimento mais aprofundado no que
tange a área e ofereceram alternativas didáticas para eles, que
futuramente, se tornarão professores nas Séries Iniciais da escola
Básica.
Elaborado por Ana Carolina Tazinasso e Danieli Matei
“Geografia e cartografia: Os desafios encontrados na sala de aula”
relata a experiência realizada com ouso de metodologias diversas
visando favorecer a compreensão da linguagem cartográfica para a
turma do 2º ano do curso Técnico em Formação de Docentes. Para
a construção desta análise, as autoras dialogam com os conceitos de
referenciais que fundamentaram alguns dos debates realizados nos
encontros do Pibid. Buscam dialogar com os autores, mostrando a
importância de reconhecer a realidade dos alunos no processo
educativo, ao mesmo tempo em que, analisam as principais
dificuldades de se desenvolver metodologias diferenciadas de
aprendizagem a partir da experiência no Pibid.
O capítulo “Importância da alfabetização cartográfica para a
compreensão da integração dos espaços” da autoria de Andreza
Carla Corrazza, Daiane Peluso e Marlon Ronner Faedo apresenta as
atividades realizadas em Oficinas de ensino de Cartografia nos 1º e
2º anos do Curso de Formação Docente – Ensino Médio do Colégio
Estadual Mário de Andrade – Francisco Beltrão/PR. Tais oficinas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 21
tiveram como principal objetivo facultar a aprendizagem dos
conteúdos aos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental I.
Verificou-se que as atividades possibilitaram aos alunos a
percepção dos elementos cartográficos que permitem a leitura dos
mais diversos mapas/trajetos. Como resultados consideram a
intervenção de forma positiva, pois os alunos foram participativos e
interessados na realização das atividades, demonstrando dessa
forma, o grande potencial das atividades para colaborar no processo
de ensino e de aprendizagem da linguagem cartográfica.
Luéli Bortoletti e Ritiéli Pires da Silva elaboraram
“Integração dos espaços e alfabetização cartográfica”, no qual
relatam a contribuição das intervenções pedagógicas realizadas
pelo Pibid para o processo de alfabetização cartográfica nos cursos
de formação docente do Colégio Estadual Mário de Andrade,
localizado no município de Francisco Beltrão - PR. Realizaram
uma pesquisa bibliográfica sobre a importância do ensino de
noções espaciais e cartográficas nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, bem como a elaboraram e executaram atividades
coletivas de caráter lúdico para a construção de noções
cartográficas a partir de elementos do cotidiano docente dos anos
iniciais do Ensino Fundamental.
O “Jogo como estratégia didática para o ensino de
geografia” de Adriana Edite Apolinário, Jaime Santana de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 22
Figueiredo Junior e Tatiéli Cella apresenta o relato de experiência
dos Pibidianos do subprojeto de Geografia do Campus de Francisco
Beltrão-PR, na aplicação de jogo com temática relacionada ao
estudo da hidrografia. O jogo partiu de um desafio, no qual os
estudantes precisavam criar propostas para combater a poluição da
água no município, permitindo que participassem ativamente das
aulas em que desenvolviam o jogo. Tal proposta apresentou
resultados significativos na aprendizagem dos alunos, uma vez que
ao fim do processo, os mesmos elaboraram propostas consistentes e
coletivas para diminuir a poluição da água, possibilitando um maior
acesso dela para toda a população.
Aparecida Darc de Souza e Rodrigo Ribeiro Paziani no
capítulo “Jogos narrativos e o ensino de história: Reflexões sobre
uma experiência” narram que a realidade do ensino escolar impõe
ao profissional de História um constante diálogo com o tempo
presente e vivido socialmente. É preciso em primeiro lugar,
interesse e empatia para iniciar uma observação dos modos de vida
dos estudantes. Esta observação, no entanto deve ser balizada por
uma concepção de ensino de História. Assim, entre as atividades
produzidas dentro do projeto Pibid História destacam o
desenvolvimento e aplicação de jogos narrativos. A proposta é
apresentar um relato de experiência e ao mesmo tempo desenvolver
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 23
algumas reflexões sobre o sentido e o significado do uso dos jogos
narrativos no ensino de História.
No capítulo “Uma análise do processo de “sujeição
criminal” a partir das representações sociais no RAP” Caroline
Andressa Momente Melo. e Jhonathan Matheus analisam que as
letras das músicas oportunizam maior compreensão acerca do
conceito de “sujeição criminal” conforme oferecem as
representações dos sujeitos que ora são “simplesmente”
incriminados, ora estão inseridos no processo de “sujeição
criminal”, ou seja, quando há uma expectativa que determinados
sujeitos estão propensos a cometer práticas criminosas,
particularmente violentas, e isso constitui a personalidade do
sujeito, compõe seu caráter, sua subjetividade, seu ser, portanto,
“sua morte ou desaparecimento podem ser amplamente desejados”
(MISSE, 2010, p. 03).
“Bonecas Abayomi: uma forma lúdica de ensinar” de
Juliana Machiner Buraicko aborda alguns pressupostos a respeito
da teoria de ensino, e a importância da utilização de atividades
lúdicas em sala de aula como recursos que visam melhorar o
desempenho e interesse do estudante diante do conteúdo ensinado.
O resultado disso foi a aplicação de uma oficina de produção das
chamadas bonecas Abayomis, um recurso didático utilizado na
finalização da discussão da temática racial e da noção de alteridade,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 24
com alunos do ensino médio em uma atividade realizada através do
Pibid de Sociologia.
E a coletânea encerra-se com o texto: “A arqueologia do
discurso nas resenhas de notícias do grupo Pibid de Sociologia” de
autoria de Marco Antonio Arantes, o qual relata a experiência
realizada em projeto que objetivou o desenvolvimento de um
conceito/teoria sociológica, tendo com suporte notícias de jornais.
A construção de resenhas possibilita trabalhar com notícias de
jornais e repensar sobre as relações entre a teoria e a prática; refletir
sobre a construção de ideias e a reinterpretar notícias de jornais.
As organizadoras
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 25
O LUGAR NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UM OLHAR A
PARTIR DAS QUESTÕES AGRÁRIAS DE FRANCISCO
BELTRÃO1
Gabriel Durante2 Rafael Ghidini3
Shirley Manera Balastrelli4
Introdução
O presente trabalho apresenta uma intervenção pedagógica
realizada no subprojeto de Geografia que compõe o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) campus de
Francisco Beltrão.
O subprojeto de Geografia da Unioeste/FB conta
atualmente com 24 (vinte e quatro) bolsistas de iniciação à
docência, 04 (quatro) professoras supervisoras e 02 (duas)
coordenadoras de área e está inserido em 03 (três) escolas no
município de Francisco Beltrão.
O Pibid consiste na inserção dos acadêmicos dos cursos de
licenciatura em escolas, para que estes possam observar e intervir 1 Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 26
propositivamente sobre a realidade escolar, buscando aprimorar a
qualificação profissional do acadêmico, assim como, a obtenção de
novos saberes.
O presente trabalho apresenta uma ação desenvolvida no
Colégio Estadual Tancredo Neves. Essa ação pedagógica tinha por
objetivo discutir as relações histórico-geográficas existentes no
município de Francisco Beltrão. Para tanto foi necessário realizar
pesquisa bibliográfica, respaldando em autores como Flávio
(2011), Cattelan e Castanha (2016) e Colognese e Stoffel (2007), e,
também, pesquisa de campo para a coleta de informações. A busca
de informações foi sistematizada em uma palestra que foi realizada
com 02 (duas) turmas do 2º ano do Ensino Médio, no turno
matutino.
Por meio da análise do desenvolvimento histórico de
Francisco Beltrão buscamos explorar as relações econômicas e de
poder existentes correlacionando-as com as características
econômicas atuais, visando a compreensão dos fenômenos
geográficos presentes na realidade dos estudantes.
Para tal, primeiramente realizamos um levantamento de
informações acerca do tema central que consistia nas relações
econômicas presentes na agropecuária do município, através de
revisões da literatura, buscas na internet, entrevistas e trabalhos de
campo. Após, compilamos as informações obtidas e organizamos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 27
uma apresentação de slides, contendo imagens, gráficos, tópicos e
mapas. A ordem da apresentação buscou favorecer o
desenvolvimento de raciocínios histórico-geográficos que
permitiriam compreender as transformações ocorridas na dinâmica
espacial, tendo como escala de análise o município de Francisco
Beltrão.
Vale destacar que o intuito foi potencializar o ensino de
Geografia por meio da categoria lugar. Nesse sentido, a
recuperação histórica de alguns aspectos do munícipio vinculados à
economia e à população foi realizada com vistas a atribuir sentido e
explicar as relações econômicas atuais à luz da Geografia, ou seja,
conhecer o passado para melhor entender o presente.
Dessa forma, o trabalho está organizado em três seções, que
buscam demonstrar as relações existentes entre a dinâmica
econômica de Francisco Beltrão e o ensino de Geografia ancorado
pela categoria analítica geográfica do lugar.
Na primeira parte buscamos contextualizar o perfil
agropecuário do município de Francisco Beltrão, recuperando
brevemente sua gênese histórica para compreender as relações
socioeconômicas e suas interligações com a cidade, através das
feiras e supermercados.
Na segunda seção, procuramos evidenciar as possibilidades
do tema em análise para o ensino de Geografia na Educação Básica
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 28
por meio da utilização do conceito lugar, a partir da intervenção
pedagógica realizada na forma de palestra e também realizando
sugestões de alternativas didáticas para o debate deste tema na
disciplina de Geografia.
Por fim, realizaremos algumas considerações buscando
sintetizar os argumentos apresentados com vistas a fornecer
subsídios para o enriquecimento da discussão do ensino de
Geografia através do conceito lugar.
Contextualizar para entender
O desenvolvimento do sudoeste do estado do Paraná foi
rápido e é considerado uma formação recente. Intensificou-se
durante o governo de Getúlio Vargas, principalmente nas décadas
de 40 e 50, devido a política governamentista da Marcha para o
Oeste, que foi inspirada na expansão territorial dos Estados Unidos
da América e tinha como objetivo ocupar o interior do país
(CATTELAN; CASTANHA, 2016).
No ano de 1943 houve a criação e a instalação provisória da
Colônia Agrícola Nacional General Osório (Cango) no município
de Pato Branco, logo transferida ao município de Francisco
Beltrão, que na época era distrito e conhecido por Vila Marrecas
(CATTELAN; CASTANHA, 2016). A principal função da Cango
era a distribuição das terras entre os colonos recém-chegados,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 29
oriundos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Além da
distribuição de terras, a Cango envolvia-se em outros processos de
ocupação como: criação de escolas, construção de hospitais, olaria,
ferrarias, oficinas mecânicas, entre outros.
O desenvolvimento eclodiu, e em 1952 ocorreu a
emancipação do município de Francisco Beltrão, nome dado para
homenagear Francisco Gutierrez Beltrão, engenheiro e grande
colonizador do Paraná.
O projeto de ação da Cango visava efetivar a colonização da
região de fronteira do sudoeste do Paraná. Para o Governo Federal,
a colonização desta região, tida como abandonada, satisfaria
múltiplas necessidades, dentre elas a proteção da fronteira e a
expansão da produção agrícola para o suprimento do mercado
interno (FLÁVIO, 2011).
Conforme Flávio (2011), para poder acomodar mais
famílias, a Cango buscava controlar a demarcação das glebas para
que tivessem entre 25 e 50 hectares. Porém, como não detinha o
controle total da colonização, formaram-se grandes propriedades de
posse de migrantes abastados, que viam na Colônia uma
oportunidade vantajosa de negócios, já que as terras disponíveis
eram baratas e produtivas.
Em 1962, o presidente João Goulart criou o Grupo
Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (Getsop) que,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 30
entre 1962 e 1974, regularizou a posse da terra na região, emitindo
títulos válidos aos posseiros (FLÁVIO, 2011). Embora a atuação
do Getsop não tenha sido completamente democrática, sua ação
ocasionou uma legalização fundiária configurando “[...] uma
estrutura fundiária rural caracterizada por pequenos
estabelecimentos apropriados pelas famílias de migrantes gaúchos
e catarinenses no sudoeste paranaense” (FLÁVIO, 2011, p. 297).
A organização da área rural “oficializada” pelo Getsop
representa, até hoje, a estrutura fundiária do município de
Francisco Beltrão. De acordo com dados do Censo Agropecuário
de 2006, dos 54.132 hectares destinados à atividades agropecuárias
no município, 38.347 (70%) pertencem a propriedades com menos
de 50 hectares. Além disso, 48.555 hectares (89%) são trabalhados
pelo próprio proprietário da terra, sendo relegadas aos 11%
restantes as demais formas de utilização (arrendamento, parceria,
ocupação, etc.). Ademais, 86% das pessoas ocupadas nos
estabelecimentos agropecuários possuem laços de parentesco com
o produtor, e em 69% da área é realizada a agricultura familiar.
Estes dados sintetizam a estrutura fundiária do município em
análise, caracterizada por pequenas propriedades utilizadas através
do trabalho familiar.
A partir da década de 1970 a produção agrícola familiar
tornou-se integrada ao mercado, passando a estar diretamente
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 31
ligada à produção industrial. A incorporação da pequena
propriedade familiar gerou novas dinâmicas produtivas que
substituíram o caráter comunitário e de subsistência por práticas
individualizadas e competitivas. Dessa forma, a terra transformou-
se de um meio de subsistência para um meio de produção de
mercadorias (COLOGNESE; STOFFEL, 2007).
Neste contexto de integração, a agricultura familiar
expandiu suas atividades e ramificou-se até a cidade, estando
atualmente presente em feiras, supermercados, e no comércio em
geral. O produtor familiar, dessa forma, ampliou sua rede de
atuação, pois embora esteja conectado verticalmente com a
agroindústria, também exerce atividades mercantis, embora em
pequena escala, diretamente com os consumidores dos centros
urbanos mais próximos, através sobretudo das feiras, que são
construídas para que os pequenos agricultores possam
comercializar suas mercadorias.
Além das feiras, os supermercados da cidade de Francisco
Beltrão mantém uma relação próxima com os produtores agrícolas,
por meio da comercialização dos produtos, os donos dos
supermercados estabelecem junto ao produtor preços que sejam
adequados, para poder adquirir e comercializar o produto
fornecido, os mercados possuem uma média de 40% do seu
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 32
hortifrúti composto por produtos fornecidos por produtores
agrícolas.
O breve histórico que buscamos apresentar nesta seção teve
o objetivo de caracterizar o perfil socioeconômico de Francisco
Beltrão e por meio dessa contextualização verificar as
possibilidades do tema no que tange o ensino de Geografia. A
estrutura fundiária e a agropecuária de Francisco Beltrão, tanto em
sua história quanto em sua configuração atual, dispõem de
elementos substancialmente integrados ao estudo da Geografia,
como as relações econômicas e de poder, a mútua influência
campo-cidade, as disputas territoriais, os processos de
territorialização e a complexidade e a integração dos múltiplos
lugares.
Em relação ao último item, gostaríamos de salientar que a
utilização do lugar para o ensino de Geografia traz em si a
possibilidade de explorar as relações cotidianas dos estudantes para
o desenvolvimento de raciocínios geográficos. Dessa forma, ao
compreender a realidade na tecitura das múltiplas relações
definidoras do lugar, o estudante aprofunda o seu entendimento dos
fenômenos que o cercam espacial e temporalmente, e como tais são
essencialmente geográficos, aprimora sua compreensão dos
conteúdos da Geografia. Dessa forma, vemos o conceito lugar
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 33
como eixo norteador para o ensino dos conteúdos geográficos na
Educação Básica.
Desse modo, buscaremos, no próximo item, apontar
algumas possibilidades na utilização do tema abordado para o
ensino da Geografia na Educação Básica, tomando enquanto objeto
de análise o lugar considerando a realidade dos estudantes.
O conceito lugar e suas possibilidades para ensinar e aprender
geografia
O conceito de lugar nas Diretrizes Curriculares Estaduais de
Geografia da Educação Básica do Paraná (DCEs) baseia-se
predominantemente na vertente crítica da Geografia. O lugar é
abordado por meio de sua relação com o processo de globalização,
também considerando seus aspectos próprios. O estudante deve
entender que a partir do lugar é possível observar as influências, a
materialização, mas também as resistências ao processo de
globalização, compreendendo as dinâmicas econômicas tanto
internas quanto externas ao lugar (PARANÁ, Diretrizes
Curriculares Estaduais da Educação Básica: Geografia, 2008).
Segundo Callai (2000, p. 86)
[...] estudar e compreender o lugar, em Geografia, significa entender o que acontece no espaço onde se vive para além das suas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 34
condições naturais ou humanas. Muitas vezes as explicações podem estar fora, sendo necessário buscar motivos tanto internos quanto externos para se compreender o que acontece em cada lugar. O espaço construído resulta da história das pessoas, dos grupos que nele vivem, das formas como trabalham, como produzem, como se alimentam e como fazem/usufruem do lazer.
Baseados na concepção do lugar enquanto espaço e
produção de relações particulares, históricas, culturais, econômicas
e de identidade para o ensino de Geografia, buscamos realizar uma
ação didático-pedagógica (palestra) que explorasse as relações
econômicas e de poder e os fenômenos territoriais manifestos na
dinâmica agropecuária do município de Francisco Beltrão e seus
desdobramentos enquanto conteúdo escolar a ser trabalhado com os
alunos de Ensino Médio nas aulas de Geografia
A palestra foi realizada com 02 (duas) turmas do 2º ano do
Ensino Médio no turno matutino, durante 02 (duas) horas-aula.
Para realizarmos tal atividade, efetuamos um levantamento de
informações e organizamos, com o auxílio das professoras
supervisoras e coordenadoras do Pibid, uma apresentação de slides
(figura a seguir).
Figura 1: Parte da apresentação de slides utilizada em sequência (de cima para
baixo e da esquerda para a direita): monumentos da colonização, dinâmica da
agropecuária, produtos vendidos na feira, e síntese do conteúdo.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 35
Fonte: Arquivo pessoal dos autores.
No transcorrer da palestra, os estudantes puderam,
progressivamente, compreender os fenômenos históricos e suas
implicações na configuração do espaço, entendendo as relações
geográficas presentes naquele tema. Para tal, utilizamos esquemas,
gráficos, ilustrações e mapas temáticos.
Percebemos um interesse significativo por parte dos
estudantes sobre o tema que estávamos discutindo. Enquanto
falávamos sobre a organização da agropecuária no município,
alguns deles exemplificaram o tema mencionando como seus
parentes, que viviam no campo, realizavam suas atividades
agropecuárias. Enquanto discutíamos a organização do comércio e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 36
a sua relação com a agropecuária outros, que trabalhavam em
supermercados, contribuíram com a discussão, complementando a
fala dos pibidianos com o conhecimento prévio que possuíam.
No entanto, os estudantes participavam apenas quando eram
instigados pelos pibidianos. Dessa forma, os questionamentos e os
incentivos realizados pelos pibidianos que ministraram a palestra
conferiam segurança aos estudantes para que esses pudessem
participar da discussão. Não obstante, quando não eram
questionados e instigados se limitavam a conversar em tom baixo
com os colegas, mas não interferiam na palestra, pois não se
sentiam seguros, embora tivessem interesse no tema.
Essa atitude de passividade e de não intervenção dos
estudantes pode ser entendida à luz de formas de ensino-
aprendizagem predominantes nas salas de aula em que o professor
é detentor de todo conhecimento, e os estudantes são tidos como
“tábuas rasas” a ser preenchida pelos conteúdos transmitidos pelo
professor (FREIRE, 2016).
[...] A única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. No fundo, porém, os grandes arquivados são os homens, nesta (na melhor das hipóteses) equivocada concepção “bancária” da educação. Arquivados, porque, fora da busca,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 37
fora da práxis, os homens não podem ser. Educador e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber [...] (FREIRE, 2016, p. 80-81).
Tal arquivamento, dentre outras coisas, intimida os
estudantes. Somente deixa margem para sua atuação passiva,
enquanto receptáculos vazios a serem preenchidos. Essa dicotômica
relação professor-estudante reduz a ação do estudante na sala de
aula, limitando-o. Foi isso que percebemos no decorrer da
atividade, através das atitudes contidas e receosas dos estudantes.
Trata-se de uma realidade escolar na qual o estudante é subjugado a
uma posição passiva no processo de ensino-aprendizagem.
Entretanto, um aspecto positivo da atividade foi que a
discussão das relações agrícolas através do conceito lugar trouxe
importância ao tema. Os estudantes conseguiram conectar o
conteúdo discutido com suas realidades, pois falavam de seus
parentes que trabalhavam no campo, do supermercado onde faziam
suas compras, das feiras que visitavam e dos produtos que lá
compravam.
[...] O mundo empírico, o vivido pelo aluno, pode lhe proporcionar noções sobre o mundo teórico; a vivência do aluno e a ação docente por meio de problematizações, pesquisas, aulas expositivas, trabalho de campo etc. contribuirão
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 38
para que o aluno consiga estruturar e construir conceitos científicos no campo do mundo teórico (CASTELLAR e VILHENA, 2011, p. 100-101).
Sabemos que a construção de conceitos não é exclusividade
da escola, ela ocorre a partir da vivência do estudante, através da
formulação de suas próprias noções, geralmente intuitivas, acerca
de objetos e fenômenos. Cabe a escola, portanto, aprimorar essas
noções através de suas técnicas e processos didáticos,
aperfeiçoando a compreensão dos conceitos no plano do mundo
teórico, tornando-os mais coerentes cientificamente
(CASTELLAR; VILHENA, 2011).
A importância dos conhecimentos prévios dos estudantes no
processo de ensino-aprendizagem advém do fato de que
[...] não se aprende aquilo que se desconhece, não se gosta daquilo que se ignora. É preciso, portanto, considerar que a aprendizagem é um processo de reconstrução e que há rupturas com aquilo que já se sabe ou com a representação que se tem dos objetos (CASTELLAR; VILHENA, 2011, p. 103, grifos nossos).
Embora a atividade tenha despertado o interesse dos
estudantes sobre o tema, a sua organização enquanto palestra
causou cansaço nos participantes. Por conta da complexidade do
tema e da disponibilidade de tempo (o limite era de 02 (duas)
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 39
horas-aula), não foi possível, naquele momento, associar a fala
(exposição) sobre o assunto com outros exercícios, o que poderia
ter dinamizado a atividade e reduzido a fadiga.
Considerando os limites de uma palestra, sugerimos
também a apresentação dos conteúdos através de outras alternativas
didáticas, como: trabalhos de campo, estudos do meio, utilização de
meios tecnológicos, partilha de informações da vivência dos
estudantes e ainda atividades escritas.
A leitura do meio em que o estudante está inserido é um
processo importante, porque, partir do lugar como categoria de
análise podemos desenvolver percepções do espaço geográfico, e
ao mesmo passo relacionar os fenômenos socioespaciais de um
dado local com as diferentes realidades entendendo a teia de
relações que os circundam.
Também podem ser realizados trabalhos de campo, inclusive interdisciplinares, buscando a compreensão do lugar
através da observação empírica, de entrevistas e questionários. Isto porque
[...] ver uma paisagem qualquer que seja do lugar em que o aluno mora ou outra, [...] pode suscitar interrogações que, com o suporte do professor, ajudarão a revelar e mostrar o que existe por trás do que se vê ou do que se ouve (PONTUSCHKA et al., 2009, p. 174).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 40
Ao discutir as relações agrícolas de Francisco Beltrão, por
exemplo, podem ser visitadas propriedades agropecuárias e
observada a forma de organização de sua produção, além de
entrevistar os trabalhadores que lá exercem suas atividades. Isto
permitirá a compreensão do meio e possibilitará o surgimento de
questões que talvez não fossem desveladas se o trabalho
pedagógico tivesse ocorrido apenas na sala de aula, sem a
realização de observações empíricas.
Como para a realização de trabalhos de campo é necessário
planejamento e disponibilidade de recursos e tempo, a
concretização dessas atividades pode ser difícil. Por isso os estudos
do meio pode ser uma importante alternativa, em que o professor e
os estudantes analisam a realidade, incorporando os conteúdos da
Geografia na investigação acerca do meio em que vivem.
Almejamos que o estudante seja capaz de analisar o lugar,
desenvolvendo reflexões sobre a utilização deste, entendendo,
observando e comparando com os lugares que o cercam. Sendo
claro que a realidade é um processo e não um acaso do destino.
Considerações finais
A utilização do lugar enquanto categoria analítica permitiu
por meio da palestra discutir questões locais e relacioná-las com o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 41
cotidiano dos estudantes. Isso trouxe importância ao tema e
incentivou a participação dos mesmos na atividade, através das
contribuições baseadas nos conhecimentos prévios dos estudantes.
Constatamos que as noções dos estudantes sobre o tema
abordado desenvolviam-se a partir de suas percepções da realidade,
e essas puderam ser utilizadas como subsídio para aproximar os
estudantes dos conhecimentos sistematizados. Isso foi possível
porque incorporamos na discussão elementos presentes na vida
cotidiana dos estudantes, como as feiras, supermercados e a
agricultura familiar.
Entretanto, a organização da atividade enquanto palestra
mostrou alguns limites, a predominância da exposição oral, gerou
cansaço nos estudantes. Além disso, notamos que os mesmos
possuíam receio em falar, embora tivessem interesse no tema. Esse
comportamento advém das relações escolares que os mesmos
vivenciam em que o papel do estudante é reduzido a uma atitude
passiva, não tendo voz na sala de aula.
Considerando os limites da palestra, propomos outras
atividades para a incorporação das relações agrárias do município
de Francisco Beltrão nos conteúdos de Geografia, como estudos do
meio, que a partir da realidade dos estudantes buscam desenvolver
raciocínios geográficos. Além disso, também podem ser realizados
trabalhos de campo, nos quais, a partir da experiência empírica é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 42
possível captar e discutir elementos difíceis de serem demonstrados
em sala de aula.
Com a intervenção pedagógica e os levantamentos
bibliográficos realizados, verificamos que as relações agrárias do
município de Francisco Beltrão possuem aspectos, sobretudo
econômicos, que podem ser relacionados aos conteúdos escolares
da Geografia e utilizados no desenvolvimento de conhecimentos
que permitam a compreensão das dinâmicas histórico-espaciais
presentes na sociedade.
Além disso, a discussão desse tema através da ótica do lugar
propicia a transformação dos saberes prévios dos estudantes em
conhecimentos científicos, valorizando os conhecimentos trazidos
por eles à escola, tornando assim mais viável sua participação no
processo de ensino-aprendizagem.
Referências
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mundo. In: CASTROGRIOVANNI, Antonio Carlos; CALLAI, Helena Capetti; KAERCHER, Nestor André. Ensino de
Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 6. ed. Porto
Alegre: Mediação, 2000.
CASTELLAR, Sônia; VILHENA, Jerusa. O significado da construção dos conceitos. In: ________. Ensino de geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
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CATTELAN, Carla; CASTANHA, André Paulo. A Colônia Agrícola Nacional General Osório (Cango) e o processo de
escolarização no Sudoeste do Paraná: 1948 – 1957. Oficina do
Historiador, Porto Alegre, EDIPUCRS, v. 9, n. 1, jan./jun. 2016.
COLOGNESE, Silvio Antônio; STOFFEL, Jaime Antonio. Organização produtiva da agricultura familiar no oeste do Paraná.
In: VANDERLINDE, Tarcísio; GREGORY, Valdir; DEITOS, Nilceu Jacob (Org.). Migrações e a construção do oeste do
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FLÁVIO, Luiz Carlos. Memória(s) e território: elementos para o entendimento da constituição de Francisco Beltrão-PR. 2011. 386 f.
Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2011. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/105022>. Acesso em: 01 mar. de
2017.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 62. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agropecuário 2006: segunda apuração. Disponível
em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2006/segunda-apuracao>. Acesso em: 01 mar. 2017.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes
Curriculares da Educação Básica: Geografia. Curitiba: Governo
do Estado, 2008. PONTUSCHKA, Nídia Nacib; PAGANELLI, Tomoko Iyda;
CACETE, Núria Hanglei. Estudo do meio: momentos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 44
significativos de apreensão do real. In: ______. Para ensinar e
aprender Geografia. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 45
A DINÂMICA DAS FEIRAS NA CIDADE DE
FRANCISCO BELTRÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO
GEOGRÁFICA1
Gilvana Fatima Carvalho2
Luiz Carlos da Silva3 Nubia Luiza Chaves da Rosa Pazinato4
Introdução
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(Pibid) oferece bolsas aos estudantes que cursam licenciatura para
que desenvolvam intervenções pedagógicas nas escolas públicas. O
objetivo do programa é qualificar a formação de professores, por
meio da inserção dos licenciados nas escolas.
O Pibid é importante na articulação entre teoria e prática, o
diálogo e a aproximação entre escola e universidade contribuem
para a formação docente, pois valoriza a formação de professores e
prepara o futuro professor para atuar nas diferentes realidades
escolares.
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 46
Na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) –
campus de Francisco Beltrão – PR está em andamento o subprojeto
de Geografia no qual foram desenvolvidas diversas atividades.
Entre as atividades desenvolvidas destacamos a proposta de
intervenção pedagógica realizada no Colégio Estadual Tancredo
Neves a qual será abordada no presente trabalho.
O presente trabalho buscou evidenciar a importância do
lugar e da Educação Geográfica para o entendimento das dinâmicas
das Feiras locais, para tanto consideramos os aspectos econômicos,
culturais e históricos. Compreender a importância da Educação
Geográfica no estudo do lugar proporciona o entendimento das
relações que ocorrem nas feiras do município de Francisco Beltrão
e como essas influenciam diretamente na organização do espaço
local. Com esse intuito entrevistamos os feirantes locais,
realizamos estudos sobre a agroindústria, visitamos supermercados
e coletamos informações relevantes para o trabalho.
Portanto, para o desenvolvimento desse artigo foram
realizadas pesquisas bibliográficas, entre as quais destacamos:
Girotto e Mormul (2016) que enfatizam a importância da Educação
Geográfica, Callai (2013) ao abordar compreensão do lugar e sua
importância para o ensino de Geografia e Lacoste (1988) que
demonstra como a ciência geográfica contribui para
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 47
compreendermos as relações políticas, econômicas, culturais,
sociais e territoriais.
Educação geográfica
A Geografia enquanto ciência aborda o estudo do espaço
geográfico e as múltiplas relações que nele ocorrem, sendo assim a
educação geográfica tem como função permitir a compreensão dos
diversos fenômenos sociais, históricos, econômicos, políticos,
culturais, entre outros, que ocorrem em diferentes lugares e escalas.
Na compreensão dos conflitos territoriais as informações de
natureza geográfica eram importantes para o domínio e manutenção
de poder de uma nação sobre outra, quem detinha mais
informações sobre o espaço geográfico tinha mais chances de
sucesso frente aos adversários. Essa compreensão possibilita
analisar o quanto os conteúdos geográficos possuíam uma função
estratégica no domínio e conquista de povos e nações.
Porém, por muito tempo a Geografia enquanto disciplina
escolar foi alvo de críticas, porque os conteúdos da forma como
eram trabalhados resultavam em aulas monótonas em que os
conceitos deveriam ser decorados e não apresentavam utilidade
para a vida dos educandos. Isso pode ser explicado, segundo
Lacoste (1988), por conta da ciência geográfica ter sido
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 48
fragmentada em duas vertentes, a geografia escolar e a geografia
universitária ou do governo.
Para Lacoste (1988) a Geografia do governo apresenta
elementos cartográficos como: mapas, satélites e demais
instrumentos que auxiliam na compreensão do espaço, servindo
para o domínio e monitoramento de fronteiras, pessoas, animais e
mercadorias, já a Geografia dos professores passa por situações
distintas, em muitos casos os materiais didáticos são ultrapassados,
há a falta de condições de trabalho para os professores, falta
estrutura física o que auxilia na reprodução e manutenção do status
quo.
O papel social da ciência geográfica é entender as relações
que ocorrem no espaço geográfico, não apenas as estratégias
militares, pois o desenvolvimento do raciocínio geográfico deve
"contribuir na formação de sujeitos sociais que sejam capazes de
compreender e estabelecer relações espaço-temporais entre
fenômenos e processos, aparentemente, desconectados"
(GIROTTO; MORMUL, 2016, p. 82).
Para analisar as dinâmicas espaciais é importante abordar o
lugar, pois esse conceito é dotado de significados, possibilitando
aos educandos ler o mundo geograficamente, ou seja, aproximar a
realidade dos educandos com os conteúdos curriculares abordados
na escola.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 49
O professor de Geografia durante o processo de ensino-
aprendizagem busca desenvolver nos educandos habilidades
necessárias para uma leitura de mundo, por meio da educação
geográfica. Portanto, para isso devem-se levar em conta os diversos
fatores que compõem a dinâmica de ocupação do planeta como as
grandes migrações, a busca por matéria-prima, questões militares,
entre outras.
Abordar o lugar no processo de construção de
conhecimento é valorizar o cotidiano e atribuir significado as
questões trabalhadas no ensino de Geografia, provocando reflexões
acerca do local e do global.
Para Callai "o estudo do lugar como possibilidade de
aprender Geografia considera o cotidiano da vida dos alunos e o
contexto escolar como fundamentos” (2013, p. 19). Isto é uma
integração entre o currículo escolar de Geografia e o mundo ao
qual o aluno está inserido. Seguindo o raciocínio de Callai (2013),
ao utilizarmos o conceito de lugar no ensino de Geografia estamos
falando sobre o que acontece em nossa vida, ou seja, estuda-se o
lugar para melhor compreender tanto fatores locais quanto
regionais e nacionais.
Para que a educação geográfica possa alcançar o objetivo de
ir além do conteudismo, Girotto e Mormul (2016), evidenciam
sobre a importância do professor construir de forma articulada os
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 50
diversos saberes produzidos tanto nas escolas, quanto nas
universidades, transformando esses saberes em ações didáticas,
tendo como ápice as discussões e diálogos entre professores e
alunos. Educar-se geograficamente requer uma análise de situações
vividas que segundo os autores "deve ser mediado pelos conteúdos,
conceitos, linguagens e metodologias da geografia possibilitando
assim que os alunos possam reconstruir as formas de ver,
compreender e agir" (GIROTTO; MORMUL, 2013, p. 93).
A importância do local e do cotidiano dos educandos deve
ser utilizada pelos professores como meio de um entendimento
mais complexo de sociedade, pois, muitas vezes a escola serve para
reprodução e manutenção do sistema econômico dominante.
Portanto, o educador deverá problematizar as concepções de
mundo dos alunos, para favorecer a aprendizagem, ou seja, tornar
os saberes científicos mais acessíveis aos alunos.
Quando o aluno entra em contato com a escola, já está
sendo influenciado, no sentido de viver aquele ambiente e as
questões que o mesmo traz para sua vida. Por isso que a forma de
pensar a Educação Geográfica vai além de conteúdos escolares, ela
proporciona uma vivência de mundo ao educando. De acordo com
CALLAI (2013, p. 94):
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 51
Para oportunizar que as pessoas compreendam a espacialidade em que vivem, pela Educação Geográfica busca-se construir uma forma geográfica de pensar, que seja mais ampla, mais complexa, e que contribua para a formação dos sujeitos, para que estes realizem aprendizagens significativas e para que a Geografia seja mais do que a mera ilustração.
Portanto, a Educação Geográfica não se limita apenas em
ensinar alguns conteúdos, mas vai além, envolvendo os elementos
necessários para o entendimento de algumas relações de poder,
principalmente no cenário político, social e cultural, desta forma a
Educação Geográfica vai transformar o pensar do aluno, levando
em consideração o seu processo de aprendizagem, e sua relação
com o mundo, para que o conhecimento adquirido seja significativo
em sua vida, e possa alterar sua maneira de observar o meio em que
o cerca.
Para Callai “[...] é fundamental conhecer o conteúdo
geográfico que será trabalhado, as dificuldades estarão em
compreender o espaço, proporcionando a criação de princípios
espaciais, para poder realizar a análise geográfica (2013, p. 99)”. A
partir do momento em que se aprende a ler o espaço por meio da
Educação Geográfica há a possibilidade de desenvolver uma
compreensão mais ampla e complexa dos conteúdos trabalhados na
escola.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 52
Dentre os temas geográficos trabalhados na escola a
economia é um dos assuntos que tangenciam vários conteúdos.
Nesse sentido, as relações comerciais despontam como um
importante meio de articulação entre o espaço vivido e os
conteúdos curriculares, uma vez que podemos ensinar
geograficamente as relações econômicas a partir do lugar.
Com esse trabalho buscamos contextualizar as
particularidades existentes no comércio local de Francisco
Beltrão/PR, levando em consideração o histórico de formação das
feiras dos pequenos agricultores sua importância para a na
economia da cidade, abordando tais aspectos enquanto conteúdo
escolar.
As feiras agrícolas de Francisco Beltrão e sua relação com
geografia escolar
O município de Francisco Beltrão está localizado na região
sudoeste do estado do Paraná, assim como a maioria dos municípios
dessa região foi colonizado, por famílias oriundas dos estados de
santa Catarina e Rio Grande do Sul, pessoas que buscavam por uma
melhor qualidade de vida.
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Figura 1: exemplo de ilustração e legenda para o texto a ser inscrito no XIII
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia – 2017.
Fonte: FRANCISCHETT 2009
O projeto colonizador erigido sobre o governo do então
presidente Getúlio Vargas que tinha o intuito de proteger uma faixa
de 150 km de fronteira entre o Brasil e a Argentina, além de
fomentar um aumento na produção agrícola e industrial que
contribuísse para a produção de excedentes para o mercado interno,
milhares de famílias migraram para o sudoeste paranaense esse
processo de colonização ficou conhecido como a "marcha para o
oeste" (FLÁVIO, 2011).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 54
Com o processo de fixação na terra, que ocorreu em meio a
muitas disputas, o trabalhador familiar que enfrentava muitas
dificuldades para comercializar o seu produto, estabeleceu a venda
direta ao consumidor através das feiras livres. Formaram-se, então,
algumas associações de produtores com o intuito de fortalecer os
trabalhadores envolvidos através do espírito cooperativo, para poder
competir em pé de igualdade com os grandes comerciantes e com o
agronegócio. Sobre o espírito cooperativista vemos que "o
cooperativismo nasce com o objetivo de melhorar a vida dos
associados mediante a colaboração de todos, visando superar a
situação de exclusão especialmente dos pequenos produtores mais
humildes que procuram a inserção dos seus produtos no comércio”
(ALVES, et al., 2010, p. 05).
O agricultor familiar para agregar valor aos seus produtos
adere ao sistema cooperativo passa a ter apoio jurídico e técnico
contribuindo para a valorização do seu produto.
Na cidade de Francisco Beltrão destacamos três grandes
feiras de produtos agrícolas na atualidade: A feira do produtor
localizada na Praça Central Eduardo Virmond Suplicy; a feira de
produtores orgânicos, localizada no Bairro Cango(Colônia Agrícola
Nacional General Osório) e, também, a da Associação dos
Produtores Ecológicos instalada na Rua Antonio de Paiva
Cantelmo, também situada no Bairro Cango.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 55
As relações de venda e consumo dos produtos vendidos nas
feiras estabelecem vínculo direto entre o campo e a cidade. O
município de Francisco Beltrão e região são reconhecidos por sua
tradição agrícola e os costumes herdados ainda estão presentes nas
práticas agrícolas contemporâneas.
A Educação Geográfica permite a compreensão do processo
histórico abordado, mas é importante indicar condições para que os
alunos percebam as múltiplas relações existentes entre a dinâmica
das feiras e o comércio local. Por meio do ensino de Geografia
podemos acionar os elementos econômicos, sociais e culturais, para
que o aluno entenda as interrelações existentes , Com o conceito de
lugar o professor pode desenvolver estratégias didáticas que
possibilitarão a compreensão do espaço geográfico, ou seja,
partindo do local e do conhecimento prévio dos alunos podemos
enriquecer seu saberes, transformando o senso-comum em
conhecimento sistematizado.
Descrição da prática
A palestra realizada contou com uma apresentação de
slides, em que alguns aspectos históricos referentes à constituição
socioeconômica do município foram apresentados. Os elementos
abordados possibilitaram a compreensão do funcionamento das
relações comerciais e produtivas locais. Foi enfatizado o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 56
surgimento da agricultura familiar no município de Francisco
Beltrão/PR, posteriormente discutimos as relações comerciais , e
apresentamos a Feira como um elemento importante para a
compreensão da relações econômicas e sua interpretação por meio
da Educação Geográfica.
E, também, foram utilizadas informações sobre as
agroindústrias da cidade, referente a produção, comercialização e
consumo. Ressaltando que as relações de poder entre indústria e
economia podem influenciar nas ações do pequeno agricultor e
interferir na comercialização de seu produto final.
Por meio da contextualização da feira, podemos observar a
relação com os diferentes aspectos econômicos, e compreender as
questões vinculadas com o público que frequenta esses lugares, o
que consomem e de que maneira interagem com o lugar.
Sendo assim, ao abordar a Feira por meio da Educação
Geográfica podemos compreender os fenômenos sociais, históricos,
econômicos, políticos, culturais. Tal proposta é viável, pois a Feira
funciona como uma ponte entre o produtor e o consumidor,
servindo de alicerce para entender as relações econômicas do lugar,
levando em consideração a cultura das pessoas que habitam
naquele local.
Considerando os aspectos econômicos e sociais presentes
nas Feiras, percebemos que a produção esta intimamente ligada ao
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 57
aspecto cultural, pois o pequeno produtor desenvolve sua produção
baseando-se, na maioria das vezes, em hábitos e/ou costumes que
foram herdados. A discussão sobre a importância desses saberes
transmitidos de geração a geração pode ser trabalhada em sala de
aula.
Essas questões podem ser trabalhadas evidenciando os
aspectos geográficos, entretanto, há a necessidade da compreensão
dos fenômenos socioespaciais, os quais estão interligados, fazendo
com que o educando aprenda relacionando o local com global.
Para Aguiar “os alunos tem de saber que os fenômenos não
ocorrem num “passe de mágica”, por isso os conteúdos devem ser
aos poucos aprofundados do ponto de vista conceitual” (AGUIAR,
2016, p. 16). Com a palestra foi possível estimular os alunos a
pensar que os elementos presentes no seu cotidiano como as Feiras,
podem ser entendidas a partir de relações mais complexas e nesse
sentido, a Educação Geográfica contribui para que o cotidiano
torna-se ponto de partida para compreensões mais elaboradas,
possibilitando que os alunos sejam protagonistas de sua história.
A palestra possibilitou comparar os modos de produção da
agricultura familiar que sofre com o processo de apropriação por
parte das agroindústrias, nas quais lucram com o produto final.
Assim, a agricultura familiar que se vê representada dentro das
feiras, resgata a sua cultura trazendo o homem do campo a resistir
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 58
contra todo o processo capitalista vigente. Partindo da análise das
práticas agrícolas locais o aluno poderá compreender os processos
em torno dos setores que envolvem o comércio e como estes se
relacionam com as indústrias, e que apesar da modernização da
indústria e agricultura, existe uma interdependência no que se
refere aos sistema produtivos alimentando uma rede econômica.
A abordagem didática realizada na forma de palestra
apresentou alguns limites, o tempo destinado para a realização da
atividade impediu uma maior problematização do tema; houve
poucas participações dos alunos e essas somente ocorreram quando
eram provocadas. Apesar das dificuldades encontradas a palestra
atingiu seu objetivo, e possibilitou aos pibidianos envolvidos
refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem e aprimorar a
formação docente.
Considerações Finais
Por meio deste trabalho foi possível compreender que as
reflexões ora apresentadas contribuem para a formação e
incentivam a pesquisa de como a Educação Geográfica pode ser
trabalhada a partir do estudo do lugar. As Feiras na cidade de
Francisco Beltrão ,guardadas suas especificidades, podem ser
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 59
abordadas em sala de aulas e contribuir em tornar o ensino de
Geografia mais dinâmico e próximo da realidade dos alunos.
Por meio das ligações entre os diferentes níveis de produção
e comercialização, o professor pode tecer argumentações e
trabalhar vários conteúdos da Geografia, a exemplo das relações
agroeconômicas e da própria inserção do trabalhador do campo no
modo de produção capitalista.
Com o Pibid temos a oportunidade de conhecer e intervir no
processo de ensino e aprendizagem. Para desenvolver tal atividade,
nos utilizamos de pesquisa empírica, e bibliográfica, isso repercute
em nossa formação, por possibilitar que nossas ações sejam
embasadas tanto em conceitos científicos quanto nos saberes
alunos.
Foi possível trabalhar com os alunos as múltiplas relações
da Geografia, dando ênfase na economia, mostrando a organização
das feiras, dos supermercados da cidade, das indústrias e como isso
funciona em um ciclo de redes, todos esses elementos estão
interligados e influenciam na dinâmica da sociedade, já que um
depende do outro.
Referências
AGUIAR, Waldiney Gomes de. Didática da Geografia:
Construindo aulas. Curitiba: CRV, 2016.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 60
ALVES, Adilson Francelino, BORILE, Luiz Claudio, BELON, Ivone, REINEHR, Claudia Lais, org. Manual para Cooperativas:
Boas práticas na gestão cooperativada. Francisco Beltrão, 2010.
CALLAI, Helena Copetti. A formação do profissional da
geografia: o professor- Ijuí: Ed. Unijuí, 2013. 163, p.- (Coleção
ciências sociais).
GIROTTO, Eduardo Donizeti, MORMUL, Najla Mehanna. Formação Docente e Educação Geográfica: entre a escola e a
universidade. Curitiba: CRV, 2016.
LACOSTE, Yves. A geografia, isso serve em primeiro lugar
para fazer a guerra. Editora Papirus, 1988.
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A FORMAÇÃO DE FUTUROS PROFESSORES PELO
PROGRAMA PIBID NA PERSPECTIVA DIALÓGICA
DE BAKHTIN1
Ione A. Zucchi Modanese2 Sonia M. M.Nacke3
Introdução
O Pibid (Programa Institucional de Bolsa a Iniciação a
Docência) tem a finalidade de apoiar a formação de estudantes dos
cursos de licenciaturas e contribuir para elevar a qualidade da
educação básica nas escolas públicas a médio e longo prazo.
A formação de professores e os processos de ensino –
aprendizagem têm sido preocupação constante que transcende a
escala governamental e atingem as universidades, a comunidade
escolar e a sociedade em geral.
Neste contexto de discussões, o Colégio Estadual Mário de
Andrade (CEMA), de Francisco Beltrão, foi convidado pela
Unioeste (Universidade do Oeste do Paraná) a participar
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Supervisão à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão. 3 Bolsista de Supervisão à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 62
juntamente com o curso de Geografia deste programa de
capacitação de futuros docentes.
O CEMA é um colégio mantido pelo governo estadual e
oferta Ensino Fundamental (séries finais), Ensino Médio, Ensino
Técnico e Formação de Docentes.
O corpo docente de Geografia é formado por quatro
professores, todos concursados, sendo que dois deles aceitaram o
desafio de trabalhar como supervisores do programa Pibid,
recebendo doze pibidianos que foram inseridos no cotidiano do
trabalho escolar, acompanhando diretamente as aulas de Geografia.
Inicialmente ficamos muito preocupadas se teríamos
capacidade profissional para contribuir com o proposto, pois nossas
aulas, nossos saberes, nossas metodologias e nossas posturas
estarão presentes nos profissionais que os acadêmicos do projeto se
tornarão, mesmo sabendo que o ato de ensinar evolui com o tempo
e também dependerá das relações e experiências a serem
desenvolvidas ao longo da vida de cada um, mas mesmo assim,
elas estarão lá.
No intuito de sistematizar a reflexão acerca do Pibid,
recorremos a Gramsci (2003) quando este afirma que: “O homem é
um ser social e se faz pelo trabalho”. Partindo desse pressuposto, é
mister questionar quais são os saberes necessários ao professor de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 63
Geografia à frente da proposta e quais são os limites e as
possibilidades de interferência na formação dos pibidianos.
Quanto ao professor está em constante aperfeiçoamento
pedagógico, é uma atividade que tem início, mas não tem fim. Esse
ato precisa ser contínuo e significativo, articulado entre os
conteúdos específicos, os objetos em si e os sujeitos envolvidos no
processo. A formação não pode ser apenas teórica, precisa ser
acompanhada da prática, juntamente com a práxis social, numa
eterna ação-reflexão-ação.
A segunda constatação diz respeito à Proposta Curricular da
Geografia que é desenvolvida na escola. Como fazemos as escolhas
por determinados conteúdos em detrimento de outros? O que nos
leva a essas escolhas? Quais as metodologias que usamos? Os
conteúdos escolares são os mesmos da Geografia que se aprende na
universidade? E como minhas ideologias estão presentes?
Diante destas reflexões percebemos que nossas escolhas
não são por acaso. São políticas e determinadas por conhecimentos
racionais, técnicos e sociais e, segundo Tardif (2010), “O saber é
sempre o saber de alguém que trabalha alguma coisa no intuito de
realizar um objetivo qualquer”.
Neste contexto, os pibidianos que assistiam a nossas aulas,
já percebiam as diferenças entre as professoras de Geografia do
colégio e os diferentes recortes que faziam nos conteúdos e, os
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 64
objetivos que queríamos atingir. De forma sutil começaram a
questionar as práticas pedagógicas observadas e a se preocuparem
com as escolhas que teriam que fazer, para posteriormente trabalhar
com os alunos.
Em muitas conversas com os pibidianos que estavam
diretamente ligados à nossa supervisão, percebemos que entendiam
que o saber docente, vai depender de como ocorreu sua graduação e
demais formações, juntamente com as condições concretas de
trabalho de cada um, a sua personalidade e as experiências
desenvolvidas socialmente. Sobre isso Tardif (2010, p. 07) “Os
saberes de um professor são uma realidade social materializada
através de uma formação, de programas, de práticas coletivas, de
disciplinas escolares, de uma pedagogia institucionalizada, etc, e
são também, ao mesmo tempo, os saberes dele”.
Mesmo considerando os saberes docentes como práticas
sociais, ele deve ser compreendido como único, pois as relações
que ocorrem na sala de aula e nos demais ambientes escolares são
multidimensionais, ou seja, mudam-se os sujeitos, mudam-se os
saberes e esta é a dialética escolar.
Outra preocupação que surgiu foi em relação à universidade
e seus “professores doutores”, uma vez que estávamos abrindo
espaços para sermos avaliados também, mesmo sabendo que o
objetivo do Pibid é outro. Contudo, a relação da escola com a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 65
universidade foi sendo construída através de inúmeras reuniões,
basicamente duas por mês, quando nem sempre éramos
compreendidos pelos “professores doutores” ou pelos pibidianos.
No início do projeto foram levantadas demandas para a escola
sobre quais partes entenderam de modo diverso.
Com muito diálogo, acertos e desencontros, tentamos
construir um trabalho interativo, reconhecendo os impasses, os
problemas, as contradições e as individualidades dos sujeitos
envolvidos. Nesta construção nem tudo foram “flores”, percebemos
que a universidade também tem seus problemas, tão graves quanto
os nossos no que diz respeito ao diálogo, aos saberes, ao tempo, à
objetividade das coisas, à infraestrutura, entre outras questões.
O trabalho inicial com nosso grupo de pibidianos foi
bastante conflituoso. Discutiam entre si, iam poucas vezes à escola
e não conseguiram fazer o trabalho de forma coletiva. Diante destas
problemáticas foi decidido em comum acordo com a universidade
dividi-los em dois subgrupos e cada professora supervisora ficaria
responsável por um deles.
Estamos participando no Pibid/subprojeto de Geografia
2014 é perceptível o crescimento dos participantes, que depois de
um ano nos acompanhando e atuando encerram o ciclo com uma
produção científica relatando as experiências vivenciadas. Com
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 66
esse rodízio todos os anos temos novos integrantes que circulam
pelas diferentes escolas conveniadas.
Embasamento teórico na nossa prática como professoras
supervisoras do Pibid
A relação entre o ensino da Geografia na sala de aula e o
pensamento bakhtiniano nos remete a pensar sobre as questões de
natureza teórica- metodológica que envolve diretamente a
formação e postura do professor diante da complexidade que é
ensinar os conteúdos de Geografia na atualidade.
Considerando as múltiplas abordagens dos objetos de
estudos da Geografia, optamos pela teoria dialógica bakhtiniana,
pois indica possibilidades de realizar um trabalho na perspectiva
interacionista, pelo fato de trazer inúmeros elementos presentes no
social e, pelo diálogo, é possível construir conceitos, já que nosso
discurso é resultado de todas as interações que fazemos ao longo da
nossa história, ou seja, aprendemos o discurso de outrem na
interação social.
Para entender na prática como o meu discurso de professor
de Geografia entra na consciência dos meus alunos, a teoria
dialógica menciona que precisamos ir além dos processos
subjetivos – psicológicos da alma do receptor. É preciso perceber
as tendências sociais que se manifestam na forma da língua e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 67
entender que ocorrem diferenças entre a recepção de cada um,
dependendo da interação social de seu contexto de vida.
Isto quer dizer que a unidade básica de todo processo
ensino-aprendizagem é a interação, o movimento dos fatos e das
relações, já que é através disso que as pessoas constroem os
significados, que embasam seus discursos.
Para Bakhtin o significado das “coisas” é resultado de uma
construção social da linguagem pelo fato de que toda enunciação
envolve pelo menos duas vozes, ou seja, a voz do eu e a voz do
outro. Isto é determinado pelo falante e pelo ouvinte, é a interação
entre eles, de base de suas práticas discursivas, que tornam os
indivíduos conscientes de si mesmo, dos outros e dos significados
das coisas.
Ensinar Geografia dentro do contexto do discurso como
construção e prática social não é algo fácil de realizar, pois a
identidade social dos conteúdos precisa ser vista como processo,
como uma “produção” que nunca está completa, que está sempre
em movimento; uma ação gerando reflexão que vai gerar outra
ação e assim o conhecimento vai sendo construído com
significação socialmente contextualizada.
Diante do que deveria ser e das condições que temos,
inúmeros questionamentos de ordem prática surgem: Como lidar
com a formação de futuros professores, no nosso caso os
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 68
participantes do Pibid e inseri-los no contexto escolar? E com o
currículo? As avaliações? As reprovações? O livro didático? As
aulas fragmentadas em 50 minutos? O desinteresse dos alunos? A
indisciplina? E tantas outras questões que envolvem o contexto
escolar.
Com o desenvolvimento do Pibid no Colégio Estadual
Mário de Andrade um novo olhar e fazer pedagógico se fez
necessário, já que as práticas discursivas nas quais estamos
envolvidos estão impregnadas pelo sistema, carregadas de poder, o
qual engessa a escola, os professores e alunos com práticas nem
sempre inovadoras e democráticas.
Consideramos que a escola tem muita relevância na vida dos
indivíduos que passam por ela, neste caso, os pibidianos, pelas
interações que realizam no seu interior, as práticas que
desenvolvem e as experiências que adquirem.
As escolas são instituições cujo papel específico é a construção do
conhecimento e aprendizagem dos saberes sistematizados pela
história das sociedades. Conhecimentos estes que são organizados
pelas Diretrizes Curriculares Estaduais do Estado do Paraná e
reorganizados metodologicamente pelo professor através dos
Planos de Trabalho Docente. Além disso, todas as nuances e
formas do discurso acontecem ao mesmo tempo e durante todo o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 69
tempo, de forma real, entrelaçando teoria e prática de forma
permanente com a utilização de diferentes metodologias.
Acreditamos também que as identidades sociais construídas na
escola são determinantes na vida dos indivíduos, pois quando se
deparam com outras práticas podem se reposicionar, rever
significados, conceitos e metodologias, ou seja, se tornam, no caso
dos pibidianos, futuros professores mais preparados para as
diferentes realidades sociais que terão que enfrentar na vida
profissional.
Neste contexto, o conceito de dialogismo é fundamental
para se compreender esta prática proposta de formação de
professores porque permeia a concepção de linguagem no âmbito
social, pois para Bakhtin, “a língua é constituída justamente nas
relações sociais, via interação verbal, realizada por meio da
enunciação ou das enunciações”. A partir disso, o discurso (a
língua em sua integridade concreta e viva) não é individual porque
se constrói entre, pelo menos, dois interlocutores que, por sua vez,
são seres sociais; e se constrói como um “diálogo entre discursos”,
ou seja, mantém relações com outros discursos que o precederam
(BARROS, 1996, p. 33).
No entanto, é importante ressaltar que o conceito de
dialogismo em Bakhtin não está atrelado à ideia de um diálogo face
a face entre interlocutores, mas sim entre discursos, já que, como
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 70
explica (FIORIN, 2008, p. 166) “o interlocutor só existe enquanto
discurso”. O autor acrescenta também que para essa perspectiva
“todo enunciado possui uma dimensão dupla, pois revela duas
posições: a sua e a do outro” (FIORIN, 2008, p. 170).
Desse modo, conforme afirma Faraco, “Bakhtin é o
primeiro pensador contemporâneo a tratar e analisar a linguagem
sem a necessidade de divorciá-la da materialidade da vida social”
(FARACO, 1996, p. 121). Isso é possível a partir das concepções
de Bakhtin acerca do discurso e, principalmente, do dialogismo.
Desta forma, entendemos que os conteúdos de Geografia e suas
múltiplas relações, precisam ser situados no tempo e no espaço,
fatores que causam determinações em sua constituição e
funcionamento nas esferas sociais em que circulam. Assim, ao
trabalharmos a Geografia em sala de aula, procuramos promover a
reflexão sobre os discursos que subjazem os conteúdos, os quais se
materializam nos textos-enunciados, socialmente determinados,
permeados, portanto, por relações dialógicas.
Sob a perspectiva do dialogismo é preciso entender as
relações sociais, ou seja, para Bakhtin, a significação e a criação do
conhecimento e da ideologia partem de determinações históricas,
uma vez que todo texto se constitui como um enunciado,
socialmente produzido, o qual apresenta tanto uma materialidade
linguística (dimensão verbal), quanto uma dimensão extraverbal
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 71
(relações dialógicas). Cabe assim, no contexto do ensino da
Geografia, promovermos atividades pedagógicas que privilegiem
essas duas dimensões dos textos-enunciados.
Para tanto, isso envolve a ação e o pensamento do outro que
altera e interfere no seu próprio pensamento. Neste caso, o
professor supervisor do Pibid vai ser referência para os acadêmicos,
mudando e alterando sua formação social, o que ocorre em via de
mão dupla, ou seja, ao mesmo tempo em que, interfere é
interferido. Entretanto, essa relação só é possível no diálogo e na
reflexão sobre as diferentes interações sociais que desenvolvemos
no cotidiano escolar.
Estas interações sociais devem ser contextualizadas,
considerando suas vivências, incorporando o sujeito, seu interior e
exterior, e o contexto social que nos cerca. A relação social de
intertextualidade está dada, assim, como uma das faces do
dialogismo. A todo o momento a obra de Bakhtin busca estabelecer
este diálogo, tanto em seu sentido restrito, quanto entendendo seu
papel na construção dos indivíduos, seu conhecimento e ideologias,
construídos socialmente: a ideia de diálogo agrega-se a outro
elemento que não se refere apenas à fala em voz alta de duas
pessoas, mas a um discurso interior (LUKIANCHUKI, 2001).
Assim, muito além do diálogo face a face o dialogismo
remete aos diálogos não explicitados na materialidade linguística,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 72
mas, sim, nos diálogos entre um enunciado real e outros
enunciados, anteriores e posteriores a ele. Trata-se, com o dito, de
focalizar em nosso trabalho pedagógico os discursos, as relações
dialógicas presentes nos textos, as quais nos levam a compreender
processos sociais que constituem as interações.
Para trabalhar com formação de professores, considerando as
ideias bakhtinianas de dialogismo, o conhecimento precisa
transcorrer em seus diferentes cruzamentos e no diálogo constante
de todos os elementos envolvidos de forma social.
Para compreender é necessário estabelecer um diálogo com
seus locutores e a realidade social de cada um dos envolvidos. Na
medida em que essas relações ocorrem, ainda é preciso considerar a
subjetividade das entrelinhas na formação de professores.
De acordo com (FARACO, 1996, p. 17), existem três eixos básicos
do pensamento bakhtiniano, que podem interferir na formação de
professores, são elas a “unicidade do ser e do evento, a relação do
eu com o outro e a dimensão axiológica”. Esses eixos
influenciaram as diferentes esferas do pensamento humano, pois
para ele existe um dualismo entre o mundo da teoria e o mundo da
vida.
Para ele, “esses dois mundos não se comunicam porque o
mundo da vida, na sua eventicidade e unicidade não são
apreendidos pelo mundo da teoria, ou seja, na medida em que nele
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 73
não há lugar para ser e o evento que sempre são únicos”
(FARACO, 1996, p. 17). Esse posicionamento crítico frente à razão
teórica é feito pelo fato de que a filosofia tradicional abstrai o ser
humano de sua realidade concreta e de seus valores próprios.
Defende que o enunciado sempre é único e nunca se repete.
Toda compreensão de um enunciado exige uma
responsividade e está impregnado de juízo de valor e ideologias.
Neste sentido, ao considerarmos o dialogismo na formação de
professores, já que os interlocutores, no nosso caso os pibidianos,
ao receber e compreender a significação de uma aula podem adotar
diferentes posturas, porque como professores supervisores nosso
papel não é neutro e vai interferir diretamente de forma positiva ou
negativa na vida deles.
O conceito de dialogismo permeia toda a obra de Bakhtin e
é princípio unificador da sua teoria. Ao utilizarmos o dialogismo
para ensinar Geografia na prática escolar, podemos propor
atividades pedagógicas com os conteúdos estabelecendo relações
vivas com a língua, no seu uso real, sendo ela dialógica e
impregnada de sentidos, permeada por ideologias, uma vez que
nenhum texto segundo a perspectiva bakhtiniana é neutro.
Assim, a orientação dialógica é naturalmente um fenômeno
próprio de todo discurso ou comunicação. Portanto, o enunciado
não existe fora das relações dialógicas, nelas sempre estarão
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 74
presentes lembranças de outros enunciados, que conforme
(FARACO, 1996, p. 21) “toda vez que se produz um enunciado o
que se está fazendo é participar de um diálogo com outros
discursos”.
Portanto, em sala de aula é preciso perceber as relações
dialógicas que o enunciado mantém com o contexto, pois, como
dito, ele nunca é neutro e sempre será heterogêneo, pois revela duas
posições, a sua e aquela em oposição à qual ele se constrói. Como
diz (FIORIN 2008, p. 24): “Ele exibe seu direito e seu avesso.”
Nesta perspectiva, as relações dialógicas tanto podem ser
contratuais ou polêmicas, de divergência ou de convergência, de
aceitação ou negação, enfim serão dialéticas considerando a
posição dos sujeitos envolvidos.
Se os sujeitos vivem em sociedade, eles estarão organizados
e pertencendo a diferentes grupos sociais, com interesses
divergentes, portanto, os enunciados também estarão carregados de
vozes sociais, posicionamento axiológico, o que significa que a sala
de aula deve ser lugar de contradição, onde essas “vozes sociais”
irão aparecer em diversos momentos, de forma individual e social.
Em relação a isso, Fiorin (2008) afirma:
[...] Tanto o social como o individual, na proposta bakhtiniana permite examinar, do ponto de vista das relações dialógicas, não
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 75
apenas as grandes polêmicas filosóficas, políticas, estéticas, econômicas, pedagógicas, mas também fenômenos da fala cotidiana, como a modelagem do enunciado pela opinião do interlocutor imediato ou a reprodução da fala do outro com uma entonação distinta da que foi utilizada, admirativa, zombeteira, irônica, desdenhosa, indignada, desconfiada, aprovadora, reprovadora, dubitativa, etc. Todos os fenômenos presentes na comunicação real podem ser analisados á luz das relações dialógicas que os constituem (FIORIN, 2008, p. 27).
Entende-se que os conceitos de individual e de social na
obra de Bakhtin não são algo simples e de fácil compreensão, são
conceitos imbricados, porque para ele mesmo a opinião do
indivíduo é social.
Em Bakhtin “o sujeito não é assujeitado, ou seja, submisso
às estruturas sociais, nem é uma subjetividade autônoma em
relação à sociedade”, conforme também afirma Fiorin (2008, p.
55). Portanto a subjetividade é constituída pelo conjunto de
relações sociais e históricas de que participam o sujeito. Logo, as
consciências dos sujeitos se constroem na comunicação social, nas
interações permeadas por relações dialógicas diversas.
Por isso, compreendemos que os conteúdos de Geografia e a
apreensão do mundo devem ser situados historicamente, uma vez
que o sujeito está sempre em relação com o outro e com os
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 76
diferentes grupos com os quais interage. Nesta perspectiva, os
sujeitos vão se formando discursivamente na interação com as
diferentes vozes sociais que mostram a realidade na qual estão
inseridos, como a realidade é heterogênea, os sujeitos não irão
apenas se constituir a partir de uma só voz social, mas a partir de
várias que se estabelecem entre si.
Desta forma, acreditamos que os participantes do Pibid
passam a ter uma formação mais significativa e contínua, articulada
entre o conteúdo, o objeto e os sujeitos envolvidos em diferentes
praticas sociais, situadas historicamente. Para isso, é necessário
desenvolver atitudes que estimulem o estudo e a pesquisa,
desenvolvendo metodologias apropriadas para cada série,
favorecendo a reconstrução do conhecimento. É pela experiência
com alunos reais que é possível desenvolver as habilidades
necessárias para ser professor, considerando o trabalho com os
conteúdos socialmente relevantes.
Relato da experiência de 2016
O Colégio Estadual Mário de Andrade atua no Pibid desde
2014, sendo que cada ano é uma experiência única por se tratar de
um programa que no decorrer do tempo vai trocando seus
integrantes. Este processo permite interações, uma vez que cada
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 77
integrante possui uma história de vida e faz parte de diferentes
períodos da graduação do curso de Geografia. Embora as
professoras supervisoras sejam as mesmas, os resultados destes
diálogos e experiências se deram de formas distintas.
No decorrer dos anos percebemos que, mesmo mudando os
integrantes, algumas situações eram recorrentes. Foi necessário
trabalhar com os pibidianos que, ao serem inseridos na instituição
de ensino, passariam a ser reconhecidos como professores e isso
exige uma postura ética profissional coerente com a profissão,
desde o modo de se vestir, as relações com os alunos, a linguagem
adequada e o respeito aos horários.
Desta forma, resolvemos entre as professoras supervisoras
que mudaríamos nossa forma de recepção dos pibidianos na escola.
Organizamos, então, um roteiro que incluía uma fala inicial sobre
as atividades docentes e suas responsabilidades, uma pequena
apresentação da instituição, suas normas e regras e, ainda,
incluímos atividades internas e externas de reconhecimento do
espaço, apresentação da equipe docente e de todos os auxiliares
diretamente ligados às atividades de classe. Consideramos
importante esta apresentação para que os pibidianos se sintam
inseridos no trabalho didático-pedagógico, podendo circular com
liberdade pelo ambiente escolar.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 78
Com objetivo de conhecer os documentos que norteiam o
trabalho técnico pedagógico, solicitamos que os pibidianos lessem
e realizassem apontamentos sobre os documentos escolares como o
PPP – Projeto Política Pedagógica, o PPC – Proposta Pedagógica
Curricular e o Regimento Escolar. Esta etapa é extremamente
importante, para que eles compreendam as politicas pedagógicas e
as regras regimentadas e estabelecidas pela comunidade escolar.
Após realizar a plenária com as discussões, partimos para o
levantamento das primeiras sugestões e intervenções. No primeiro
momento as ideias dos pibidianos eram conflitantes e não atendiam
à realidade da instituição escolar. Então, foi necessário um
processo reflexivo e de retomada dos documentos. Assim, no final
do encontro o grupo conseguiu elencar uma série de possibilidades
de intervenções.
A princípio sugerimos a organização de um cronograma de
observações das classes e das aulas dos professores supervisores e
outros parceiros da instituição que permitiram tal atividade, para
posteriormente voltarmos a discutir que ações realmente seriam
pertinentes.
Assim, decidiu-se que a melhor proposta para o ano letivo
de 2016 seria a intervenção através de oficinas no curso de
Formação de Docentes, em virtude das dificuldades relatadas pela
equipe pedagógica e das observações, uma vez que a disciplina de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 79
Geografia é ministrada somente no 1º ano, e apenas em três horas
aulas semanais. Por isso, escolhemos trabalhar com as temáticas de
Orientação - Localização e Integração das diferentes escalas
espaciais – do Local para o Global.
A organização das oficinas ocorreu a partir de encontros
realizados em turnos contrários. Definidas as temáticas, foi hora de
organizar os grupos para o desenvolvimento da atividade. Nossa
primeira impressão foi que a proposta e os objetivos ficaram claros
e que caberia a eles desenvolver uma sequência didática, uma vez
que se tratava de conteúdos considerados basilares da Geografia.
Para nossa surpresa começaram a surgir as dificuldades,
descobrimos que eles não sabiam quase nada sobre as temáticas.
Mesmo os mais graduados detentores do conhecimento acadêmico
apresentavam dificuldades para fazer a transposição didática para a
Geografia Escolar.
Outra dificuldade registrada foi o diálogo entre os
integrantes dos grupos de pibidianos e também com as professoras
supervisoras. Apesar de conversarmos, estávamos em diferentes
sintonias e não conseguíamos estabelecer com eles um roteiro de
atividades. Sobre isso (TARDIF, 2010, p. 21) diz que: “ensinar é
mobilizar uma ampla variedade de saberes, reutilizando-os no
trabalho para adaptá-los e transformá-los pelo e para o trabalho”.
Diante desta afirmação, entendemos que era necessário ampliar
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 80
nossas formas de comunicação e de estarmos mais presentes no
processo de criação das oficinas. Para isso, organizamos um grupo
de e-mails e whatsapp para facilitar a troca de ideias e textos com
intuito de eliminar os problemas causados pela distância e melhorar
a integração do grupo de trabalho.
Percebemos que o trabalho não fluía devido ao fato de
serem de cidades diferentes, com dificuldades de transporte para
chegar aos horários combinados. Mesmo estudando na mesma
universidade, os pibidianos pertenciam a turmas distintas e isso
impossibilitava a coesão das atividades. Levamos algum tempo
para entender a dinâmica do grupo, pois eram novos na escola, não
se conheciam e ainda não havia integração suficiente que
permitisse aos pibidianos ficarem à vontade para falar entre eles e
conosco.
As dificuldades foram sendo superadas com o diálogo.
Reunimos o grupo várias vezes durante o decorrer das semanas e
nos encontros eram discutidos os pressupostos teóricos e práticas
que pudessem fundamentar os conteúdos que seriam
desenvolvidos. Neste processo, percebeu-se que em cada subgrupo
existiam lideranças com forças antagônicas, dificultando um acordo
coletivo do que seria trabalhado nas oficinas. Foi necessária a
mediação das professoras supervisoras para que a oficina fosse
estruturada.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 81
Mesmo assim, nos dias que antecederam a realização das
oficinas havia certo desespero no ar, algo que não era dito, mas
estava nas entrelinhas. Então, ao perceberem esta situação, as
professoras supervisoras decidiram pedir apoio à nossa orientadora
do Pibid na universidade, para avaliarmos em conjunto.
Como resultado deste encontro na universidade, acordamos
que faríamos uma experiência preliminar nas turmas de 6º ano
vespertino (imagem abaixo) para testar o nível de integração e
coerência entre as explicações e atividades e poder fazer os ajustes
necessários para o desenvolvimento do planejado no curso de
Formação de Docentes.
Nacke, Sonia M.M.(2016) – Turma de 6º ano fazendo seus
questionamentos.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 82
A experiência com os alunos do 6º ano foi extremamente
importante, pois os pibidianos puderam perceber o que poderia ser
feito, que precisariam mudar a linguagem, redistribuir o tempo das
atividades e respeitar o ritmo de aprendizagem. Podemos afirmar
que a elaboração da oficina ratificou que o ato de ensinar permite o
aprender, ou, como diz (TARDIF, 2010, p. 20), “ensinar supõe
aprender a ensinar, ou seja, aprender a dominar progressivamente
os saberes necessários à realização do trabalho docente”.
Na prática puderam também perceber através deste ensaio a
importância da interação, da reflexividade, da retomada, da
reprodução e da reiteração daquilo que se planeja para o que se
realiza. Obrigatoriamente o diálogo e a colaboração entre eles foi o
recurso mais utilizado no desenvolvimento da oficina.
As oficinas foram executadas em duas manhãs no curso de
Formação de docentes, com duração de 4horas de atividades.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 83
NACKE, Sonia M. M. (2016) – Oficina Formação de Docentes
Tudo ocorreu conforme o planejamento, embora os
pibidianos estivessem ansiosos, as atividades estavam coerentes,
bem elaboradas e o diálogo entre eles fluiu durante toda a
execução, o que permitiu o sucesso da atividade. As avaliações dos
alunos do curso de Formação Docentes foram excelentes
considerando que as pessoas são únicas, que o saber de cada um é
plural e que suas experiências vividas vão determinando suas
histórias pessoais e profissionais.
Considerações Finais
Ao nos fundamentarmos nas ideias de Bakhtin e no conceito
de dialogismo na formação dos futuros professores (Pibid), isso nos
permitiu construir diferentes reflexões sempre a partir do diálogo e
do contexto social de todos os envolvidos no processo,
considerando a interação dos diversos discursos e textos. Os
conceitos e as práticas pedagógicas desenvolvidas foram realizadas
pela comunicação, no conjunto das relações estabelecidas, pela
experiência com alunos reais. Assim, todo o texto tanto verbal
quanto não verbal foi considerado na sua constituição social, nas
interações historicamente produzidas.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 84
Pelos diálogos e os diferentes enunciados evidenciou-se que
as práticas estão impregnadas de juízo de valor e de ideologias, que
nossas ações não são neutras, que não existe neutralidade nos
discursos e que estes estão intrinsecamente ligados ao contexto e a
história social de cada um.
Entendemos que a formação dos pibidianos se dá de forma
contínua e que os saberes nunca são relações apenas cognitivas ou
intelectuais, como afirma Tardif (2010) “São relações mediadas
pelo trabalho, pelo diálogo e pela cultura que os sujeitos estão
envolvidos”. Desta maneira, fica impossível entender a identidade
de um educador sem inseri-lo num contexto histórico, social e
estrutural de vida. Neste caso, apenas a formação acadêmica sem a
inserção no cotidiano escolar apresentaria mais problemas do que
já temos.
Nosso papel como professor supervisor do Pibid é colaborar
de forma efetiva na formação dos graduandos, auxiliando-os no que
for necessário, desde o planejamento das atividades até sua
execução e avaliação, além de estarmos em contato com a
universidade de forma permanente e crítica, dialogando com todos
os envolvidos.
A realização das oficinas inseriu os graduandos no
cotidiano da escola, possibilitando a eles e a nós professores
supervisores do Pibid oportunidades de criação e participação em
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 85
experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de
caráter inovador e interdisciplinar.
Os aspectos positivos da elaboração destas oficinas
ocorreram no processo de construção, nos diálogos, no pensar, no
refletir e na forma de organizá-los para o trabalho e não somente na
sua execução em si.
Referências
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G de. (Orgs). Diálogos com Bakhtin. Paraná: UFPR, 1996.
BRAIT, B. Bakhtin: Dialogismo e Construção do sentido. São Paulo: Contexto, 2012.
FARACO. C. A. O dialogismo como chave de uma antropologia filosófica. In: FARACO. C. A; TEZZA. C; CASTRO. G de.
(Orgs). Diálogos com Bakhtin. Paraná: UFPR, 1996. ________A. Linguagem e Diálogo – Ideias Linguísticas do
Circulo de Bakhtin – São Paulo: Parábola, 2009.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin- São Paulo: Ática, 2008.
GRAMSCI, A. Concepção Dialética da História . Tradução de Carlos Nelson Coutinho do original italiano Il Materialismo Storico
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 86
e la Filosofia di Benedetto Croce. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1986
LOUREIRO, D. Z. OLIVEIRA, F. T. PIBID: uma Interseção de
Conhecimentos entre a realidade escolar e a universidade.
Disponível em: http//projetos.unioeste.br/cursos/cascavel/artigos. Acesso em 20-04-2014.
LUKIANCHUKI, C. Dialogismo: a linguagem verbal como
exercício do social. Revista Sinergia. São Paulo: CEFET-SP, v. 2, n. 2. 1º semestre, 2001.
PENIN, Sonia. Cotidiano e escola, a obra em construção. São Paulo: Cortez, 1999.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
VOLOSHINOV, V. [BAKHTIN, M.]. Marxismo e filosofia da
linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi. São Paulo: HUCITEC, 2012.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 87
A LATERALIDADE E A SUA IMPORTÂNCIA NO ENSINO
DA GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO
CURSO DE FORMAÇÃO DOCENTE1
Giovani Luiz Käfer2
Alisson Henrique Bavaresco3
Introdução
No Colégio Estadual Mário de Andrade, localizado na
cidade de Francisco Beltrão, região Sudoeste do estado do Paraná,
funciona o curso de formação à docência. Os alunos que o
frequentam este curso, possuem, se não a totalidade, em maior
parte, o intuito de seguir na carreira docente na Educação Infantil.
A formação de docentes voltados à Educação Infantil
superou há muito tempo as noções errôneas e frequentes no senso
comum de que os conhecimentos e ensinamentos praticados neste
nível de escolarização requerem pouco aprofundamento teórico. De
acordo com Kramer (2006), após extensos e complexos debates, o
Ministério da Educação (MEC) determinou que a Educação Infantil
necessita de profissionais capacitados, bem como estratégias
1 Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 88
curriculares específicas para uma melhor formação de crianças com
faixa etária entre zero e seis anos.
No Colégio Estadual Mário de Andrade, dada a iniciativa e
empenho dos professores de Geografia deste curso Técnico
Profissionalizante, realizou-se a proposta de suprir as necessidades
de adequação metodológica dos conhecimentos geográficos para
que os mesmos fossem amplamente compreendidos pelos alunos do
Ensino Médio e que, uma vez concluída a formação, estes alunos
pudessem aplicá-los de modo satisfatório em sala junto às crianças.
Uma maneira encontrada pelos professores supervisores foi a
elaboração de oficinas a fim de que algumas formas de abordagem
sobre a orientação e localização no espaço geográfico fossem
trazidas por universitários que cursam Licenciatura em Geografia
na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), membros
do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - Pibid
de Geografia.
Foi proposta a ideia de uma oficina a respeito da orientação
e localização no espaço geográfico com objetivo de facilitar o
aprendizado e também de obter material de apoio para futuramente
serem usados pelos técnicos docentes.
Uma questão levantada viria a ser um pequeno problema, a
Lateralidade. Muitas destas pessoas que cursam a Formação
Docente não conhecem este conceito ou o compreendem muito
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 89
vagamente a palavra e o seu significado, bem como sua
importância no ensino e também na vida de uma criança.
O principal objetivo da atividade que consistiu em trabalhar
o básico da orientação e localização deu espaço à Lateralidade e
seu desenvolvimento. Como a Lateralidade influencia no
desenvolvimento das crianças, bem como a importância que
devemos dar para ela. Para discorrer sobre estes assuntos
consideramos as pesquisas realizadas por: Celeste Carneiro (2002),
Sonia Kramer (2006), Airton Negrine (1986), Britta Holle (1979),
Luiz Paulo Teixeira de Souza/Bianca Martins de Figueiredo/Alan
Peloso Figueiredo (2013), Geni Serafin/Luíz Sério Peres/Herton
Xavier Corseuil (2000), Andrea Tereza Sartorio Soares (2002),
Lívia Oliveira (1978), Antônio Carlos Castrogiovanni (2000),
Sanderson dos Santos Romualdo e Graziella Martinez Souza
(2009), Lana de Souza Cavalcante (2002), Sonia Maria Vanzella
Castellar (2005), Rafael Montoito e José Carlos Pinto Leivas
(2008) e Helen M. Eckert (1993).
Relações topológicas, lateralidade e compreensão do espaço
Uma série de conteúdos fazem parte dos conhecimentos
considerados fundamentais para a formação nos anos iniciais da
escolarização infantil. Tais conhecimentos devem ser apresentados
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 90
de forma didática e prática, a fim de um entendimento fácil por
parte da criança, entretanto, a obtenção de tais conhecimentos
perpassa pela sua estruturação em forma de conteúdos
disciplinares, que por serem trabalhados com os alunos do curso
técnico de Formação à Docência, via de regra, de modo insuficiente
e de modo pouco estimulante, deixam dúvidas e lacunas na
formação dos futuros professores da Educação Infantil.
A forma de suprir tais lacunas é a abordagem dos diversos
conteúdos que compõem o currículo da Educação Infantil de forma
conjunta, por todas as disciplinas, a fim de promover uma maior
aprendizagem por parte dos futuros professores e também maior
interação entre as disciplinas, ficando assim mais fácil o
conhecimento. Dentre os conhecimentos considerados
indispensáveis para o bom desenvolvimento da criança estão
aqueles de ordem topológica. Montoito e Leivas (2012) nos falam que
as relações topológicas:
são as primeiras construídas pela criança e dizem
respeito às características dos objetos em si mesmos,
revelando suas relações de vizinhança (perto ou
longe do observador, objetos perto ou longe uns dos
outros), separação (distinguir elementos uns dos
outros e partes do todo), envolvimento (perceber,
numa sequência linear ou cíclica, um elemento entre
outros, e saber reproduzir esta sequência, bem como
perceber as relações de “dentro” e “fora” para
figuras planas e formas tridimensionais ),
continuidade (perceber que uma linha ou superfície é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 91
ou não interrompida) e ordem, a qual se divide em
duas partes: a ordem perceptiva e a ordem
representativa (MONTOITO, LEIVAS, 2012, p. 27).
De acordo com Castrogiovanni (2000) a criança apreende o
espaço de forma paulatina, conforme ocorre seu desenvolvimento.
Esta evolução é marcada por pelo menos três fases perceptíveis na
formação da criança: dos 5 aos 8 anos de idade quando a criança
consegue dar posição nos objetos e o autor chama de fase do
espaço físico vivido. A segunda fase ocorre entre 8 e 11 anos de
idade, quando a criança consegue dar a posição a partir de outro
indivíduo colocado a sua frente e através do movimento, a criança
começa a fase da apreensão do espaço, que se torna um elemento
de sua percepção. A terceira fase distinta por Castrogiovanni
(2000) ocorre a partir dos 12 anos, quando a criança consegue
imaginar-se no lugar de diferentes objetos e situar-se a partir deles.
Nesta fase já se caracteriza uma capacidade completa de se
distanciar do espaço vivido e mesmo assim compreender as
localizações dos objetos-pontos-referências. A criança nesta fase
passa do conhecimento espacial corporal para o formado pelos
sentidos (CASTROGIOVANNI, 2000).
Esta evolução só é possível a partir da realização dos
trabalhos vinculados as noções espaciais topológicas iniciados na
Educação Infantil. Dentre os inúmeros conteúdos inseridos nas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 92
noções topológicas de espaço, o conteúdo vinculado a Lateralidade
será abordado no presente artigo, uma vez que foi a partir deste
aspecto do conhecimento que propusemos o desenvolvimento das
demais etapas de formação dos conceitos de localização e
orientação geográfica.
As relações projetivas (espaço percebido) envolvem
noções de esquerda/direita; em cima/ embaixo;
frente/atrás. Uma das noções fundamentais do
espaço projetivo é a noção de esquerda/direita, ou
seja, de Lateralidade. Landau e Rumer (1986), ao
tratar da relatividade dos conceitos de esquerda e
direita deixam evidente que “quando nos referimos
ao lado esquerdo e direito de um caminho, não
podemos deixar de ter em conta a direção que nós
próprios nos deslocamos”. Torna-se assim de
estrema importância chamar a atenção dos alunos
para o fato de que, por exemplo, as referências do
trajeto escola-casa são diferentes do trajeto casa-
escola, isso porque devemos levar em conta a
direção em que nós nos deslocamos. Esses conceitos
de esquerda/direita se revestem de significado
somente quando se define a direção em relação à
qual se dá a definição (SANTOS, MORO, 2007, p.
136).
Negrine (1986, p. 28) afirma que "[...] a Lateralidade
Corporal refere-se ao esquema do espaço interno do indivíduo, que
o capacita a utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do
que o outro, em atividades que requeiram habilidade,
caracterizando-se por uma assimetria funcional". O autor assevera
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 93
que a Lateralidade pode ser classificada como: definida, cruzada ou
indefinida.
Neste sentido, a Lateralidade Definida é assim conceituada
quando o ser e/ou o corpo já identifica o lado "preferido", ou seja, o
lado em que a agilidade, as habilidades e também o controle, assim
como a força, se desenvolvem mais facilmente e de forma gradual,
dando uma maior segurança nas tarefas a serem realizadas
(NEGRINE, 1986).
Já na Lateralidade Cruzada, caracteriza-se por certo conflito
entre ambos os lados do corpo. Isso ocorre durante o
desenvolvimento da criança, quando ela percebe uma maior
facilidade, por exemplo, de escrever mais facilmente com a mão
direita mas, possui também maior facilidade e força ao chutar uma
bola ou pegar impulso com o pé/perna esquerda. Neste caso, o
autor avalia que o indivíduo não possui uma lateralidade centrada,
mas, ainda assim, é definida, tendo certas preferências para realizar
determinadas ações com membros de lados específicos do corpo
(NEGRINE, 1986).
Serafin, Peres e Corseuil (2000), continua a elucidar que as
Lateralidades Definida e Cruzada são consideradas “normais”,
enquanto que a Lateralidade Indefinida é um fenômeno
preocupante, podendo atrapalhar na vida do indivíduo mais cedo ou
mais tarde, deixando-o com problemas na escola e na sociedade
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 94
como um todo, além de afetar direta e indiretamente na
intelectualidade e podendo ocasionar sérios problemas
socioafetivos.
Negrine (1986), nos diz que a criança não deve ser forçada a
tomar um lado do corpo como sendo a dominante sobre o outro
lado. O que se deve fazer é criar situações que o ponham a prova e
que o façam descobrir por si só qual realmente será o lado
predominante do corpo.
Em Holle (1979) encontramos a Lateralidade como sendo
um sentimento interno de duas partes corporais de lados diferentes.
Um destes lados seria predominante sobre o outro, tornando-o mais
fácil de controlá-lo, mais ágil e forte, mais preciso.
Como podemos observar o desenvolvimento da
Lateralidade? E até quando esse desenvolvimento ocorre?
A Lateralidade, bem como todo o corpo do ser humano, se
desenvolvem quase que ao mesmo tempo, uma vez que o indivíduo
faça o uso de determinados membros para algumas finalidades,
pegar coisas, puxar ou até mesmo segurar. A Lateralidade pode ser
observada desde os primeiros meses de vida de uma criança.
Segundo Serafin, Peres e Corseuil (2000), é por volta dos 7
anos de idade que o aperfeiçoamento gradativo do desenvolvimento
é observado. Em Eckert (1993), vemos que dos 7 aos 10 anos, a
fase do desenvolvimento lateral já é considerada tardia.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 95
Tradicionalmente é o professor de Educação Física quem
tem sido incumbido de ter um cuidado maior em relação ao
desenvolvimento da Lateralidade na escola, onde através de
atividades práticas pode ajudar no “descobrimento” e também
desenvolvimento da dominância lateral de cada criança, porém
neste artigo, acrescentamos que a outros profissionais, como por
exemplo, professores de Geografia, interessa o bom
desenvolvimento da Lateralidade de uma criança.
Estudos da lateralidade acerca do cérebro
Desde o século XX, muitos estudos vêm sendo
desenvolvidos por cientistas do mundo todo que buscam entender
como funcionar o cérebro humano e também como se dá o seu
desenvolvimento. Carneiro (2002) nos fala sobre experimentos
feitos em pessoas que passaram por algum tipo de trauma cerebral.
As pessoas que sofreram derrames no lado esquerdo do cérebro não
conseguiram mais falar, assim como pessoas que sofreram com a
mesma doença no lado direito perdiam a capacidade de orientar-se
no espaço. O mesmo autor continua: “(…) até agora ficou
esclarecido que a linguagem, o raciocínio lógico, determinados
tipos de memória, o cálculo e a análise, são próprios do hemisfério
esquerdo do Cérebro. Enquanto que o direito não usa palavras, é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 96
intuitivo, usa a imaginação, o sentimento e a síntese” (CARNEIRO,
2002, p.[1]).
A Lateralidade deve ser estudada e desenvolvida nas “horas
certas” durante o desenvolvimento do indivíduo. Como em Negrine
(1986), caso a Lateralidade não seja bem trabalhada ou seja
indefinida, sérios problemas poderão ocorrer, o comprometimento
da aprendizagem.
É o que podemos observar em Soares (2002)
Justificando a importância do estudo, a criança
ingressaria na fase escolar já com sua preferência
lateral detectada, o que poderá vir a evitar futuros
transtornos em seu desenvolvimento e/ou em seu
aprendizado, pois, a lateralidade contrariada poderá
acarretar diversos transtornos nesta área (SOARES,
2002, p. [29]).
Com a preferência lateral citada por Soares (2002), a
criança entraria na escola com uma maior segurança de seus atos,
conhecimentos e também apta a novos saberes. Um exemplo destes
conhecimentos é específico da Geografia (localização e orientação
no espaço), sendo muito importante o desenvolvimento correto da
Lateralidade e também o conteúdo da Geografia, com aulas teóricas
e práticas a fim de proporcionar atividades que estimulem e/ou
continuem desenvolvendo os conhecimentos corporais e espaciais
do indivíduo.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 97
A lateralidade e o ensino da geografia
É muito importante que o aluno do Ensino Fundamental
tenha noção do que se tange as questões de Lateralidade (direita e
esquerda), para que através deste, compreenda a dinâmica da
Geografia e suas especificidades. Romualdo e Souza (2009) dizem:
Para muitos professores das séries iniciais, a
Geografia se limita a gênese da palavra, buscando
trabalhar com os alunos uma Geografia arcaica que
se atém apenas a descrições de paisagens, não se
preocupando em desenvolver um senso crítico e
reflexivo, condizentes com a faixa etária dos alunos
e sua capacidade cognitiva. Não se tem o cuidado de
trabalhar com as primeiras noções geográficas,
proporcionando ao aluno uma compreensão crítica
das relações espaciais a partir da cartografia
(ROMUALDO; SOUZA, 2009, p. 2).
Romualdo e Souza (2009) mostram o que está a acontecer
em nossas escolas onde além do despreparo há certo desinteresse
dos professores em desenvolver um olhar; um senso mais crítico
voltado a questões políticas, educacionais e sociais. De acordo com
os autores, é fundamental que
O processo de aprendizagem geográfica, assim como
de outras ciências, deve sempre preocupar-se com a
construção de conhecimentos/conceitos/noções junto
aos educandos, não atrelando o seu ensino a
“memorização”, mas com uma visão geográfica que
transcende as salas de aulas e passa a fazer parte da
realidade do aluno (ROMUALDO; SOUZA, 2009,
p. 3).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 98
Para uma melhor compreensão, é necessário que o aluno
tenha clareza do assunto. Segundo Castellar (2005), é de suma
importância que o aluno desenvolva sua habilidade da linguagem
gráfica, através de estratégias de aprendizagem cujo objetivo seja o
entendimento dos mapas como sendo construções sociais que
transmitem ideias e conceitos do mundo, logo nos primeiros anos
da escolaridade, para que com isso consiga se localizar em mapas e
se orientar no espaço geográfico.
Segundo Oliveira (1978),
A cartografia infantil é um campo de estudos que
está à espera do interesse e da dedicação de
geógrafos, cartógrafos, educadores e professores,
para ser desenvolvido. O estudo da Cartografia deve
ser precedido pelo estudo de uma cartografia
infantil, na qual a criança tenha oportunidade de
desenvolver atividades preparatórias, para em
seguida realizar concretamente as operações
mentais de redução, rotação e generalização, que
são propriedades fundamentais do processo de
mapeamento. Para que o desenvolvimento de uma
cartografia infantil seja eficaz, é preciso considerar
o mapa como um entre os vários tipos de linguagem
de que os homens dispõem para se comunicarem e
se expressarem (OLIVEIRA, 1978, p. 36).
A cartografia foi e continua sendo fundamental na vida de
toda sociedade e cabe ao professor de Geografia trazer para sala de
aula o assunto, trabalhando adequadamente, principalmente nas
Séries Iniciais, para que os alunos possam compreender de forma
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 99
adequada as técnicas cartográficas. Para tal, Cavalcante (2002)
argumenta que:
As habilidades de orientação, de localização, de
representação cartográfica e de leitura de mapas
desenvolve-se ao longo da formação dos alunos.
Não é um conteúdo a mais no ensino da Geografia,
ele perpassa todos os outros conteúdos, fazendo
parte do cotidiano das aulas dessa matéria. Os
conteúdos de Cartografia ajudam a abordar os temas
geográficos, os objetos de estudo (CAVALCANTE,
2002, p. 16).
A orientação e localização geográfica estão plenamente
relacionadas à Lateralidade, uma vez que em Negrine (1986)
vemos a Lateralidade como:
[…] o reflexo do predomínio motriz dos segmen tos
direito e esquerdo, isto é, a "BÚSSOLA" do
esquema corporal. O lado esquerdo e o lado direito
não são homogêneos e esta distinção se manifesta ao
longo do desenvolvimento e da experimentação
(NEGRINE, 1968, p. 28).
Neste sentido, a localização e também a orientação
geográfica ocorrem dentro do próprio indivíduo, levando através de
experimentações físicas e intelectuais a descobrir o seu corpo e
também seus pontos fortes e fracos, ou seja, suas dominâncias
laterais dominantes.
A oficina
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 100
Observando as dificuldades que os alunos do Ensino
Fundamental e até mesmo os alunos de Formação Docente
encontram na orientação cartográfica, vimos o quanto é importante
para a educação cartográfica trabalhar a Lateralidade como
introdução para todo o ensino da cartografia.
Com o intento de suprir essa necessidade, nós graduandos
do curso de Geografia, bolsistas do subprojeto do Pibid-Geografia
da Unioeste de Francisco Beltrão, juntamente aos professores
coordenadores e supervisores, desenvolvemos oficinas de
Orientação e Localização, que foram ministradas para
aproximadamente 40 alunos do 1º ano do curso de Formação
Docente do Colégio Estadual Mário de Andrade de Francisco
Beltrão.
Para iniciar a oficina foram trabalhadas a parte da história
da cartografia, sua importância e a dinâmica cartográfica. Logo
após, a Lateralidade seria tratada com maior ênfase, uma vez que a
tivemos como centro de nosso trabalho. Desenvolvemos o restante
da nossa oficina, trazendo à tona as questões de direita e esquerda
para que, posteriormente, a Rosa dos Ventos e elementos
vinculados aos Pontos Cardeais e Colaterais fosse trabalhada na
teoria, por meio de exposição e explicação, e na prática, por meio
de atividades em grupos e jogos.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 101
Tínhamos claro o nosso verdadeiro objetivo, uma vez que já
soubéssemos da importância dos conhecimentos geográficos na
vida das crianças, e também a dependência que a Geografia possui
em relação a Lateralidade, no que se refere aos conhecimentos de
orientação e localização no espaço. Temos na Geografia esta
grande importância da Lateralidade em seus ensinamentos. Negrine
(1986) nos diz que a Lateralidade e a orientação espacial são
diferentes, “[…] entretanto, o movimento corporal que o homem
realiza é resultante da projeção que faz de seu corpo no espaço
circundante.”, continua “[…] exige, pois, a estruturação do
esquema corporal e a organização das condutas perceptomotoras”
(NEGRINE, 1986, p. 51).
Os conhecimentos espaciais do indivíduo vêm tanto de seu
interior, quanto do exterior, através de sensações e estímulos
oriundos de pessoas que o rodeiam. Neste contexto, temos o papel
do professor, sendo o de buscar alternativas para o
desenvolvimento da Lateralidade, objetivando sempre as sensações
e buscando estimular ao máximo estes alunos. Mas nem sempre
isto dá certo.
Algumas dificuldades vão aparecendo durante o ano, onde
encontramos professores despreparados e sem mesmo um mínimo
de material que possa servir como base para um melhor
entendimento do assunto e quem sabe algum caminho que possa ser
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 102
seguido. Devemos lembrar que a Lateralidade se manifesta aos
poucos, e deve ser trabalhada não somente por professores de
Geografia ou Educação física, mas por todas as disciplinas. É o que
nos mostra Oliveira apud Soares; Kurkdjian (2001):
Grande parte dos professores não está preparada
para “alfabetizar” as crianças no que se refere à
representação gráfica dos aspectos geográficos, para
introduzir estudantes na leitura e na produção de
mapas, na compreensão de suas convenções e
símbolos, o que lhes daria subsídios para melhor
entender o seu espaço geográfico e para agir nele, se
necessário (OLIVEIRA apud SOARES;
KURKDJIAN, 2001, p. 223).
Assim, quando nos deparamos com a palavra Lateralidade,
algumas perguntas vêm em mente. E entre elas: de que forma
podemos ajudar no desenvolvimento da Lateralidade em cada
indivíduo? A resposta é simples, Atividades, sejam elas práticas,
lógicas, locomotoras ou não, ilusórias, ou até mesmo canções
coreografadas. Tais atividades podem ajudar e muito no
desenvolvimento lateral, estimulando a percepção dos movimentos
e levando o corpo do indivíduo a se adaptar aos desafios lançados
pelas atividades.
Soares (2002) nos chama a atenção quanto as atividades:
A prática de atividades recreativas, referentes a
lateralização da criança na vida escolar e em uma
determinada sequência lógica, partindo de atividades
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 103
simples para as mais complexas, podem favorecer e
muito no desenvolvimento infantil, sendo habituais e
diferenciadas e em certa série de repetições, sem que
se torne de certa forma autoritária e repetitiva, mais
de modo prazeroso (SOARES, 2002, p. 6).
Sabendo das dificuldades sofridas pelos professores em
relação aos trabalhos de Geografia, mais precisamente envolvendo
assuntos de orientação e localização, foram feitas abordagens que
envolvesse os dois tipos de desenvolvimento: o da Lateralidade e o
dos conhecimentos geográficos espaciais, a fim de mostrar
exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas em sala de
aula, com alunos que vão do primeiro ao quarto ano do Ensino
Fundamental I.
Foram desenvolvidas muitas atividades práticas, com o
intuito de ensinar o conteúdo aos futuros professores e também
oferecer atividades que eles pudessem ofertar aos seus futuros
alunos das Séries Iniciais, quando os mesmos se tornarem
professores. Castellar (2005) nos diz que a Geografia vai além de
saberes. Por fim, definimos o ensino de geografia como um conjunto de
saberes que não só ocupam os conceitos próprios, mas os contextos
sociais nos quais se apoiam. Ensinar na perspectiva da construção dos
saberes não é apenas dominar conteúdos, mas ter, ao mesmo tempo, um
discurso conceitual organizado com uma proposta adequada de
atividades, buscando superar os obstáculos da aprendizagem
(CASTELLAR, 2005, p. 223).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 104
Considerações finais
No decorrer da carreira do professor, muitos são os desafios
enfrentados para que seus alunos consigam um entendimento maior
e mais fácil através de atividades, sejam ela rotineiras ou novas e
diferentes. Devemos sempre buscar uma maior especialização em
ambas as áreas do conhecimento, não tão somente áreas específicas
como as da Geografia.
A questão Lateralidade X Geografia é só um dos assuntos
que serão encontrados pelo professor em sua jornada na escola.
Pensamos em muitas alternativas e muitas vezes não vemos saída
para determinadas situações. É aí que está o desafio do ser
professor.
Observamos que a Lateralidade está direta e indiretamente
presente na vida do indivíduo e, se mal trabalhada, muitos dos
problemas relacionados a intelectualidade, socialização e
desenvolvimento do indivíduo podem ser causadas pelo mau
desenvolvimento da Lateralidade.
Ao trabalharmos com a localização e orientação do espaço
geográfico, vemos a necessidade de trabalhar com a Lateralidade,
pois no curso de formação à docência muitos dos alunos ainda não
tinham contato ou conheciam pouca coisa do assunto, sendo muito
necessário não só para disciplinas específicas, mas para um
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 105
desenvolvimento escolar como um todo. Em especial na Geografia,
se faz necessário o estudo de tal assunto devido a sua utilização
com os pontos laterais, usados na orientação e localização.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 107
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 108
GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA: OS DESAFIOS
ENCONTRADOS NA SALA DE AULA1
Ana Carolina Tazinasso2
Danieli Matei3
Introdução
Propomos neste artigo a realização de uma análise crítica
sobre a importância do ensino da cartografia na escola, enfatizando
as metodologias vinculadas à docência dos conteúdos de orientação
e localização. Para efetivar uma apreciação mais congruente com a
realidade das escolas, será utilizada a experiência vivenciada por
meio do programa Pibid, subprojeto Geografia - Unioeste, campus
de Francisco Beltrão no Colégio Estadual Mário de Andrade
durante o ano letivo de 2016.
O Pibid é fomentado pelo governo federal e, se constitui em
importante programa de apoio à formação nos cursos de
licenciatura. Na licenciatura em Geografia, campus de Francisco
Beltrão, o subprojeto do Pibid tem sido suporte para inúmeros
projetos de intervenções e parcerias entre a Universidade e a
1 Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 109
escola. O presente artigo selecionou a experiência vinculada às
Oficinas de Orientação e Localização para os discentes do Ensino
Técnico Formação Docente – Nível Médio.
Para o desenvolvimento das atividades, foi trabalhado o
tema orientação, utilizando mapas como recurso metodológico para
a turma do 2º ano do curso Técnico em Formação de Docentes.
Depois de formados, estes docentes Nível Médio se dedicarão ao
ensino de crianças dos primeiros anos do Ensino Fundamental I.
A principal questão averiguada neste artigo é a importância
do uso de metodologias diferenciadas no processo de ensino-
aprendizagem, que levem em consideração as diferentes condições
sociais e cognitivas dos alunos. Buscar-se-á retratar por meio da
experiência vivida no colégio, a pertinência dessa questão, bem
como, a importância da mesma para a nossa formação docente em
Geografia.
A escolha deste tema como elemento norteador de nossa
análise se justifica pela importância de se aprender a orientação por
meio do uso de linguagens cartográficas diversificadas, ao mesmo
tempo em que se identifica dificuldades por parte dos professores
das Séries Iniciais em trabalhar com diferentes metodologias para
ensinar a cartografia, bem como a orientação com o mapa e pela
dificuldade encontrada pelos alunos em entender este tipo de
linguagem. Por isso, é importante que seja aprofundada esta
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 110
discussão acerca das diferentes metodologias de ensino-
aprendizagem com o intuito de reconhecer a necessidade de buscar
práticas pedagógicas que favoreçam o pleno desenvolvimento e
aprendizagem dos alunos, bem como respeitem suas condições de
aprendizagem.
Para a construção desta análise, dialogaremos com os
conceitos de autores que fundamentaram alguns dos debates
realizados no Pibid, durante o ano de 2016 e início de 2017, tais
como: Joyce Rickli (2013); Tania Regina Peixoto da Silva
Gonçalves, Jader Janer Moreira Lopes (2008); Tielle Soares Dias
(2009); Helena Copetti Callai (2001); João Luiz Gasparin, Maria
Cristina Petenucci (1984); Paula Juliana da Silva, Alexandre Alves
de Andrade, Jorge Magno da Costa e Maria Cristina Cavalcanti de
Araújo (2010); Wanda Paccheco T. dos Santos e Paulo Rogério
Moro (2007); Valdiney D. Rigonato (s/d).), entre outros.
Buscaremos mostrar como os autores analisam a importância de
reconhecer a realidade dos alunos no processo educativo.
Igualmente, contextualizaremos a opinião dos autores quanto as
principais dificuldades de se desenvolver metodologias
diferenciadas de aprendizagem. Após isso, será discutido de que
forma o professor de Geografia pode buscar problematizar esta
questão em suas aulas. Por fim, buscaremos apresentar, nas
considerações finais, nosso ponto de vista sobre a problemática
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 111
analisada, bem como, os resultados alcançados na experiência
desenvolvida no Colégio Estadual Mário de Andrade.
Diante do exposto, é esperado, através desta análise,
contribuir, mesmo que de modo exordial, para a compreensão desta
temática que é fundamental para a formação docente e a prática dos
futuros e atuais professores, buscando ideias para desenvolver a
habilidade em trabalhar com orientação cartográfica para que
entendam a importância da mesma para a instrução cartográfica dos
discentes.
O ensino da cartografia para o entendimento da orientação por
meio de mapas
A Cartografia é a ciência que retrata graficamente a
superfície da Terra, cujo resultado final é o mapa, ou seja, ela
contempla desde a produção até o estudo do mapa (SIMIELLI,
2003). Para compreender a cartografia é indispensável reconhecer
os símbolos, as cores e outros fundamentos da Cartografia. Sendo
assim, Dias (2009, p. 2) nos fala que: “para trabalhar cartografia no
ensino de Geografia necessita-se trabalhar um dos temas próprios
dos estudos geográficos: a noção de espaço”.
Desta forma, para que o aluno entenda a cartografia ele
precisa primeiramente ter uma noção de espaço. Esta noção,
entretanto, é construída desde os seus primeiros anos de vida,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 112
portanto, para que seja bem conduzido dentro do universo
cartográfico é indispensável que esta linguagem seja introduzida já
na escola desde o Ensino Fundamental I. Por isso o papel do
professor Pedagogo se torna primordial, pois tudo o que o aluno
aprende nesta fase da vida se tornará decisivo para que continue se
sentindo estimulado nas demais fases de desenvolvimento.
Santos e Moro (2007) afirmam ser, exatamente nos
primeiros anos da infância, que se concentram as relações de
conhecimento espacial que possibilitarão a continuidade e o
desenvolvimento pleno deste processo durante a vida adulta. De
acordo com os autores, a criança
Ao ser tocada, acariciada, segurada no colo inicia o
processo de aprendizagem do espaço. Nesse
processo, as primeiras relações espaciais que a
criança estabelece são as chamadas topológicas,
aquelas que ela pode presentar em pens amento para
si própria e tratam da proximidade de ordens
espacial, continuidade e de sucessão. Para ela, o
espaço é essencialmente um espaço de ação, o
espaço vivido, prático, organizado e equilibrado em
nível da atividade e comportamento (SANTOS;
MORO, 2007, p. 136).
Evidencia-se que os autores consideram fundamental que os trabalhos vinculados ao conhecimento espacial sejam conectados aos elementos do cotidiano vivido pela criança.
A criança começa a dominar as noções de espaço
que ela ocupa em relação aos elementos ao seu
redor, através de exercícios concretos de orientação
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 113
e localização e posicionamentos próprios, além da
representação de objetos e de ambientes conhecidos
no papel. Só depois de estar familiarizadas com as
noções de fronteira, direita/esquerda, em cima/
embaixo, frente/atrás, a criança poderá estar
preparada para formar conceitos mais complexos,
que irão possibilitar-lhe a realização de análise
geográfica (SANTOS; MORO, 2007, 138).
Ou seja, não se trata de antecipação da abordagem de
conteúdos, mas a exploração de conhecimentos inerentes as
próprias delimitações espaciais da criança, sem as quais não pode
se desenvolver de modo satisfatório nas demais etapas da vida. Em
síntese, aspiramos evidenciar o fato de que se esta noção de espaço
não for construída nos primeiros anos da Educação Infantil, o
professor de Geografia no Ensino Fundamental II terá uma tarefa
ainda mais difícil, pois terá que trabalhar não apenas com noções
deficientes e, por vezes, equivocadas trazidas pelos jovens para
iniciar a construção do conceito de espaço para ensinar a
Cartografia, mas também, com a possibilidade de debilidade de
percepções espaciais. Por vezes, quando isso ocorre, o aluno tem
grande dificuldade de compreender e avançar no raciocínio
orientado por linguagens cartográficas.
Para Dias (2009, p. 1):
O domínio da linguagem cartográfica constitui-se
num fator de relevância para o desenvolvimento e
ensino dos conteúdos relacionados a Geografia entre
outras disciplinas escolares, principalmente para as
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 114
crianças, porque a partir desses conhecimentos, os
alunos, passam a compreender melhor a organização
do espaço onde eles se encontram, minimizando
desta forma as dificuldades nas séries posteriores,
onde os conteúdos se apresentam de forma mais
complexa.
Vale ressaltar que todo esse processo só irá contribuir se o
professor ocasionar a ocorrência do processo de ensino-
aprendizagem4, onde há uma troca de conhecimentos entre o que o
professor ensina e o que o aluno aprende (RIGONATO, s/d.), e este
tem um papel fundamental para que toda essa compreensão ocorra
por meio de atividades práticas, onde o aluno consiga se inserir ao
meio.
Sendo assim, quando se fala em aprender e/ou ensinar a
cartografia vale ressaltar que não envolve apenas o copiar, ler e
repetir, mas, principalmente e, essencialmente, compreender todo o
espaço geográfico, desde a noção de espaço até a forma de
orientação no meio em que vive (DIAS, 2009).
Para que isso ocorra, é crucial que o professor traga ao
aluno elementos que ele consiga relacionar com o seu cotidiano, ou
seja, atividade que ele possa fazer uma relação com elementos que
4 Ensino-Aprendizagem: é o processo que promove o diálogo entre o conteúdo curricular
(formal) e os conteúdos únicos (vivências, histórias, individualidade) tanto do professor
quanto do estudante, ou seja, é uma troca de conhecimentos. Fonte: Educação Integral,
disponível em:
<http://educacaointegral.org.br/glossario/ensino-aprendizagem/>. Acessado em: 20 mar. 2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 115
ele observa em seu dia a dia. Um exemplo de atividade que
poderíamos citar, seria que eles mostrassem através de um desenho
os elementos que eles veem no caminho de casa até a escola, pode-
se considerar uma atividade bastante simples, mas se a criança não
desenvolve cognitivamente esses aspectos, com certeza isso fará
falta em algum momento da sua vida.
Sobre isso Gonçalves e Lopes (2008, p. 47) nos falam que:
[...] torna-se essencial pensar em uma alfabetização
geográfica, ou seja, pensar o educando envolvido
com os conceitos e habilidades geográficas desde o
início de sua escolarização. Estes terão, então, a
possibilidade de construir uma aprendizagem
significativa sendo capazes de observar, ler,
escrever, comparar, ordenar, classificar e identificar
os fenômenos geográficos para melhor interagirem
no seu cotidiano [...]
Portanto, é de extrema importância que o professor use
diversas ferramentas para que além de todos esses aspectos, o aluno
seja além de tudo um grande leitor crítico do seu espaço.
Entretanto, Callai (2005, p. 47) nos diz que: “a leitura de mundo é
fundamental para que todos nós que vivemos em sociedade
possamos exercitar nossa cidadania”. Por isso, a Cartografia tem
um papel fundamental na vida do cidadão: fazer com que consiga
ler o mundo para poder exercitar a cidadania, e para isso, requer de
um professor com formação em Geografia e que tenha o interesse
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 116
não só do salário, mas sim, a preocupação com que o aluno aprenda
a Cartografia, pois isso, pode ter consequências futuras.
Orientação cartográfica na escola
Na experiência vivenciada por pibidianos no Colégio
Estadual Mário de Andrade, no município de Francisco Beltrão,
foram desenvolvidas atividades com o 6º ano e com dois 2osanos de
Formação de Docentes. Essas atividades consistiam em ensinar os
alunos do 6º ano para quando acabasse a oficina, pudesse ser feito
uma reflexão de como foi o comportamento dos mesmos para com
a atividade e para que os alunos dos 2os anos pudessem aproveitar a
ideia dessas mesmas atividades para ensinar seus futuros alunos no
Ensino Fundamental I.
Para desenvolver a oficina sobre Orientação, o grupo de sete
pibidianos foi divido em subgrupos para a realização das
abordagens didático metodológicas dos assuntos relacionados a
orientação. Para que os alunos conseguissem compreender melhor,
foi trabalhado desde a história da Rosa dos Ventos5, (onde foi
desenvolvida uma linha do tempo) até como construí-la e usá-la.
5Rosa dos Ventos: é um desenho que serve de ins trumento para a navegação
geográfica, utilizada para auxiliar a localização de determinado corpo ou
objeto em relação a outro. É formada pelos pontos cardeais e seus
intermediários. Fonte: Significados, disponível em:
<https://www.significados.com.br/rosa-dos-ventos/>. Acessado em: 27 mar.
2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 117
Entretanto, neste artigo científico será relatada e analisada a
experiência vinculada apenas às especificidades da orientação
cartográfica.
A orientação Cartográfica é algo essencial para a
compreensão do mundo, bem como, se orientar no espaço vivido.
Por isso, é fundamental que o professor além de usar metodologias
diferenciadas saiba explicar como fazer a atividade e para que irá
servir na vida do aluno. Portanto, o Pibid tem o papel fundamental
de auxiliar o professor, trazendo essas metodologias diferenciadas,
por isso, para que ocorresse a oficina de orientação, foi preciso de
uma música sobre os pontos cardeais e mapas de Francisco Beltrão,
do Sudoeste do Paraná e o Atlas onde foi utilizado o mapa do
Brasil e do Continente Americano. Como citado anteriormente,
para que se construa o conhecimento, deve se partir do local para o
global, utilizando sempre o conhecimento empírico trazido pelo
aluno.
Para se iniciar a oficina de orientação cartográfica, foi
confeccionado um mapa da sala, utilizando E.V.A. vermelho como
base, E.V.A. amarelo simbolizando as carteiras e cadeiras e E.V.A.
verde representando a carteira e cadeira do professor, além disso,
para a colagem foi utilizado velcro, pois assim, poderia ser mudado
de lugar as carteiras. Conforme cada aluno entrava na sala, escrevia
seu nome na carteira onde sentaria. Quando todos os alunos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 118
chegaram, os pibidianos perguntavam em relação ao seu ponto de
referência, ou seja, a sua localização em relação ao colega. Essa foi
a atividade diagnóstica feita com ambas as turmas que serviria
como ponto de partida para explicar lateralidade e orientação.
Todas as turmas apresentaram dificuldades no início.
Após a atividade diagnóstica, outros subgrupos
apresentaram a linha do tempo, lateralidade, como construir a Rosa
dos Ventos e os pontos cardeais e colaterais. Para que os
aprendessem melhor os pontos cardeais, sem precisar “decorar”, o
subgrupo da orientação entrou em ação, iniciando com a música
Pontos Cardeais6.
Primeiramente foi entregue a letra da música para que os
alunos pudessem acompanhar a letra e mais tarde aprender a coreografia, visando a necessidade e a importância de se trabalhar com movimentos e atividades lúdicas, sobre isso. Macedo (2007, p.
16) nos diz que:
Valorizar o lúdico nos processos de aprendizagem
significa, entre outras coisas, considerá-lo na
perspectiva das crianças. Para elas, apenas o que é
lúdico faz sentido. Em atividades necessárias
(dormir, comer, beber, tomar banho, fazer xixi), por
exemplo, é comum as crianças introduzirem um
elemento lúdico e as realizarem agregando
elementos.
6 Pontos Cardeais: são pontos de orientação no espaço terrestre os quais estão
relacionados com a posição do sol. Fonte: Toda Matéria, disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/pontos -cardeais/>. Acessado em: 27 mar.
2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 119
Visando isso e, tendo como chave a importância do lúdico
para que as crianças compreendam, nesse caso, o conteúdo em si,
após escutarem a música, ensinamos uma coreografia para a música
e todos dançamos juntos. A turma do 6º ano foi mais participativa,
pois como ainda são crianças, gostam de brincadeiras, já os 2os anos
nem tanto, alguns participaram e outros se sentiram envergonhados,
mas quando aprenderam se soltaram e participaram mais, pois é
uma música essencial para aprender os Pontos Cardeais e que
futuramente terão que ensinar para seus alunos.
Por isso é fundamental que o professor não leve o mapa
apenas por levar porque é aula de Geografia, mas sim, levar o mapa
com um propósito: ensinar a orientação. Para isso, é preciso não
somente o mapa, mas também a Rosa dos Ventos. Desta forma,
foram confeccionados pequenas Rosas dos Ventos, onde os alunos
poderiam trabalhar em grupos utilizando os mapas e sobre eles a
Rosa dos Ventos que poderia ser deslocada.
Portanto, quando entregue os mapas de Francisco Beltrão,
os alunos ficaram fascinados, procurando onde estavam suas casas,
após acharem o bairro que moram e a escola, começou a atividade.
Os alunos centralizariam sua Rosa dos Ventos no bairro onde está
localizada a escola e procurariam os bairros vizinhos, completando-
os no local indicado da atividade, indicando qual bairro ficaria a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 120
Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Noroeste, Sudeste e Sudoeste,
ou seja procurando usar os pontos cardeais e colaterais que acabara
de aprender.
Após usar o mapa de Francisco Beltrão para se orientarem,
foi entregue o mapa do Sudoeste do Paraná, para que fizessem o
mesmo, mas procurando os municípios vizinhos de Francisco
Beltrão. Logo após, foi entregue o mapa do Paraná para que
procurassem os Estados que fazem divisa e indicando em quais
pontos cardeais e colaterais estariam, e assim por diante até chegar
ao Continente Americano.
Durante a confecção das atividades pôde-se perceber que os
alunos do 6º ano tiveram um pouco de dificuldade nas primeiras
atividades, mas depois que aprenderam como utilizar a Rosa dos
Ventos conseguiram fazer as outras atividades. O 6º ano mostrou-
se bem interessado, fazendo perguntas em todos os momentos e
desenvolvendo todas as atividades e relacionando sempre que
possível com seu cotidiano.
Já os 2osanos tiveram resultados diferentes. O 2º ano A de
Formação de Docentes, mostrou-se muito participativo e
compreensivo, mas com bastante dificuldade no decorrer das
atividades. Esses alunos, faziam perguntas sempre que necessário,
porém se confundiam em algumas atividades, ou seja, trocavam
alguns Pontos Cardeais por Colaterais e vice versa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 121
O 2º ano B de Formação de Docentes, mostrou-se mais
quieto e não muito participativo, mas com bastante dificuldades no
decorrer das atividades. Esses alunos dificilmente faziam
perguntas, mas no momento da correção pôde-se perceber que a
maioria não tinha completado a atividade ou tinha completado
errado.
Portanto, foi possível observar nesse tempo que existe
claramente uma enorme dificuldade de aprendizado quando o
assunto é Orientação Espacial e foi por esse motivo que esse tema
foi escolhido. Apesar da grande dificuldade que os alunos do curso
de Formação de Docentes declararem possuir, bem como revelaram
no momento de corrigir as atividades, muitos deles reconhecem
esta deficiência e desejavam supri-la. Após relatos verificamos que
após a oficina muitas dúvidas até as consideradas simples puderam
ser esclarecidas.
Considerações finais
Através dessa experiência, foi possível observar a
importância do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, como
professor e aluno devem estar interligados para que o aprendizado
aconteça de forma positiva.
Sendo assim, vale destacar que para todos o aprendizado foi
enorme, pois, foi a primeira vez que tínhamos alunos do formação
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 122
de docentes, ou seja, futuros professores, aonde deveríamos
mostrar a eles formas diversificadas de ensinar uma criança, então,
além de termos que pensar em atividades que a criança conseguisse
compreender, tínhamos como objetivo fazer com que o futuro
professor (formação de docentes) também compreendesse, aonde
foi ai que encontramos uma dificuldade maior, pelo fato de que,
eles também tinham uma enorme dificuldade na orientação.
As oficinas aconteceram em duas turmas diferentes, onde,
cada uma se comportou de maneiras distintas com dificuldades e
potencialidades singulares. Apesar das atividade terem sido
elaboradas para alunos com o perfil do Colégio Estadual Mário de
Andrade (realidade socioeconômica; perfil dos cursos; exercícios
com a planta das próprias salas de aula; trajetos com bairro da
escola) avalia-se que o ideal teria sido que as atividades tivessem
sido ainda mais específicas para cada grupo de alunos,
principalmente porque verificamos turmas nas quais as atividades
dialogadas foram melhor aceitas enquanto em outras, as atividades
corporais forma mais bem acolhidas.
Ao final foi possível verificar um grande avanço em ambas
as turmas, ou seja, constatamos que os alunos, cada qual de sua
forma, contribuíram para o êxito da oficina e participaram
ativamente, nos ajudando também a compreender de modo mais
claro a importância das metodologias lúdicas para as crianças das
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 123
séries iniciais do Ensino Fundamental na formação dos
conhecimentos de orientação cartográfica.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 126
IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA
PARA A COMPREENSÃO DA INTEGRAÇÃO DOS
ESPAÇOS1
Andreza Carla Corrazza2
Daiane Peluso3 Marlon Ronner Faedo4
Introdução
O artigo a seguir trata da problemática de levar a
Geografia para as séries iniciais do Ensino Fundamental I, por meio
do processo de alfabetização cartográfica dos professores do
Ensino Médio de Formação de Professores. Estimulou-nos a pensar
de que forma poderíamos levar a cartografia - que é a linguagem de
representação dos fenômenos espaciais por meio de mapas e outros
símbolos (FRANCISCHETT, 2007) - para essas séries onde os
alunos ainda são menores, de modo que eles pudessem entender os
elementos principais da cartografia e compreender como funciona a
integração dos espaços.
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 127
Buscamos criar oficinas voltadas à formação dos
professores com atividades lúdicas simples, de forma que
pudessem ser base de criação e inovação para estes futuros
professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental I. Interessava-
nos que esses alunos do curso de formação docente pudessem ter
uma primeira noção de como funciona a Geografia através da
cartografia e que compreendessem a relevância da aplicação deste
conhecimento na vida cotidiana e no desenvolvimento das crianças.
O papel do curso de Formação Docente é de fundamental
importância no processo de construção de sujeitos que tenham
noções espaciais bem amadurecidas e que compreendam os mapas
para além de simples ilustrações. São os professores que
trabalharão com os alunos pequenos e, devido a isso, são os mais
indicados à participar de oficinas que expliquem sobre a função das
atividades de alfabetização cartográfica com caráter lúdico e sua
importância no aprendizado dos alunos das series iniciais do
Ensino Fundamental I.
A importância da alfabetização cartográfica no curso técnico
de formação de docentes
Entender um mapa é compreender muito mais do que
representação ilustrativa, pois ele traz consigo um grande gama de
informações. Conforme Francischett (2010, p. 45) “o mapa como
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 128
um documento cartográfico é um instrumento capaz de representar
em escala, com o grau de exatidão requerido, informações
geográficas quantitativas e temáticas”.
A questão central na problemática proposta por nosso artigo
é: por que é importante a alfabetização cartográfica nas aulas de
Geografia? A partir do pressuposto da diversidade existente no
ambiente (em que ressaltamos as distintas trajetórias, histórias,
caminhos e cotidianos) pressupomos que todo aluno já possui saber
geográfico. Este saber empírico, deve, entretanto, ser qualificado.
O professor cumpre o papel de auxiliar a construção deste
conhecimento academicamente construído e socialmente
acumulado para que o aluno atribua sentido e significado a todos os
conceitos estudados e os utilize em seu cotidiano de forma
consciente e direcionada ao cumprimento de seus objetivos.
Deste modo, optamos por desenvolver as atividades com a
turma da Formação de Docentes, ou seja, as futuras gerações de
docentes, pois notamos uma necessidade quanto à formação de uma
base de conhecimento docente sobre o tema da alfabetização
cartográfica, o qual resultará na construção e aplicação de diversas
atividades voltadas ao ensino, visando à construção da
aprendizagem docente e discente.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 129
À vista disto, concordamos com Demo7 (2014, s/p), quando
afirma: “Quem tem interesse em fazer o aluno aprender tira a aula e
cria um ambiente de aprendizagem”. Desta maneira pretendemos
mostrar a atuação do professor em sala de aula por meio de
conteúdos significativos que, juntamente com explicações e
atividades, promovem de modo efetivo a aprendizagem.
Ao se explorar o conceito de aprendizagem, notamos que
sua origem deriva do grego Arpehendere, o qual em sua tradução
remete ao termo “agarrar; tomar posse; pegar”. No sentido
metafórico este termo se remete ao ato de agarrar, tomar posse do
conhecimento com a mente.
Assim, ressaltamos que o importante, não é somente
aprender, mas sim como se está aprendendo. Por isso, justificamos
a utilização do material didático lúdico, como uma alternativa de
ensino aos alunos, que por não se apresentar cotidianamente, se
torna impactante. Nesse sentido concordamos com Silva; Lucas;
Jesus (2005): o uso das atividades lúdicas se tornam prazerosas aos
alunos, pois além de trabalhar com os conceitos científicos
permitem aos mesmos extravasarem todas as suas emoções.
7XV SEU – Seminário de Extensão Universitária em Marechal Cândido Rondon campus da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), palestra com o Professor Dr. Pedro Demo, intitulada Pesquisa e Extensão Universitária sua interface com a aprendizagem, realizada no período de 13 a 15 de maio de 2015.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 130
Desse modo, quanto mais atrativa for a atividade
desenvolvida, maior será o interesse do aluno em aprender. Tais
atividades quando desenvolvidas, sustentadas e fundamentadas em
uma base teórica, possibilitam a aprendizagem significativas e
também envolvem a atenção dos alunos no processo de ensino.
Conforme Sales (2005, p. 03):
Todos os agentes envolvidos no processo de ensino -
aprendizagem tornam-se responsáveis pela produção
do conhecimento crítico, ativo e discutido,
responsáveis diretamente pela mobilização efetiva
de competências, partindo do pressuposto de que
ninguém sabe tudo e todos sabem de alguma coisa.
No contexto apresentado por Sales (2005), o conhecimento
crítico só é possível via o conceito de aprendizagem significativa.
Para Ausubel (1973, p. 25) a aprendizagem significativa
parte do acesso ao subsuncor. “Subsunçor8 é uma estrutura
específica na qual uma nova informação pode se agregar ao cérebro
humano que é altamente organizado e detentor de uma hierarquia
conceitual, que armazena experiências prévias do sujeito.”
8 É um termo utilizado na Psicologia para se remeter a conceitos relevantes. Pois
conforme Ronca (1994. p. 92) “O ponto de partida da teoria de ensino proposta
por Ausubel é o conjunto de conhecimentos que os alunos trazem consigo. A
este conjunto de conhecimentos Ausubel dá o nome de estrutura cognitiva,
segundo ele, é a variável mais importante que o professor deve levar em
consideração no ato de ensinar”.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 131
Dessa forma, é de fundamental importância a valorização da
estrutura cognitiva dos alunos, pois ambos possuem variados
conhecimentos que se pautam em diferentes realidades e que ao
serem trabalhadas nas atividades permitem a construção de uma
diversificada gama de conhecimentos fundamentados teoricamente
que possibilitam a aprendizagem significativa e não mecânica.
Por conseguinte, segundo Silva e Schirlo (2014, p. 34):
[...] a estrutura cognitiva pode ser fortalecida por
meio de estratégias de ensino, do emprego de
sequências na apresentação dos conteúdos, na
realização de feedback dos conteúdos, entre outros.
Mas, se com todos estes artefatos o conteúdo escolar
a ser aprendido não conseguir ancorar-se em um
conhecimento já internalizado ocorrerá uma
aprendizagem mecânica.
Pois desenvolver atividades que possibilitem o aluno a
construir seu conhecimento é necessário, mas o ensino não se
configura somente a esta atitude, é muito mais amplo.
Uma vez que a escola é um ambiente diferenciado na
formação das pessoas, conforme Cavalcanti (2012), esta trará os
conhecimentos científicos e os conhecimentos culturais
sistematizados, que durante o trabalho agrega diversos saberes que
se originam e desenvolvem nos ambientes educacionais.
Segundo Cavalcanti (2012, p. 16) “para que seja assim,
salienta-se a necessidade de sua articulação à dinâmica
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 132
sociocultural local e global, às demandas da sociedade
contemporânea e de seus alunos, da comunidade da escola, do
bairro e da cidade em que está”.
Ressalvamos que é no Ensino Fundamental I que se constrói
a base para alfabetização cartográfica, para que nas séries
posteriores os conceitos sejam inteligíveis, possibilitando assim a
aprendizagem.
Formar bem o futuro docente é de extrema importância, pois conforme nos elenca Cavalcanti (2012, p. 86):
A discussão sobre a formação profiss ional parte, em
geral, do pressuposto básico de que se trata de dotar
o profissional de bases teóricas para que ele possa
atuar correta ou adequadamente na prática,
baseando-se, por sua vez, em uma compreensão do
que é teoria, do que é prática e da relação entre elas.
Pelo sentido mais corrente, o momento da formação
é o acesso à teoria, da sua divulgação e discussão, e
o momento da prática é o da sua aplicação.
Os dois momentos (teórico e prático) na formação docente
são de igual e fundamental importância.
Conceito importante para a realização da alfabetização
cartográfica – integração escalar dos espaços
Seguindo esta forma de pensar/agir, buscamos desenvolver
com os alunos a compreensão entre o desenvolvimento da teoria e
da prática, desmistificando a compreensão de superioridade
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 133
empregada entre ambas. Em concordância com Cavalcanti (2012),
não se deve desenvolver superioridade entre estes pontos, pois
ambos se propagam/progridem/avançam/evoluem em uma
concepção de compatibilidade, sendo ambos de grande importância
para se atingir os resultados planejados inicialmente.
Pois realizar a alfabetização cartográfica nos anos iniciais
do Ensino Fundamental I é uma tarefa que abrange muito mais que
sua denominação. Conforme Straforini (2008, p. 84):
A totalidade-mundo como conceito é uma abstração.
Logo a totalidade que também é sinônimo de espaço
geográfico, faz desse também um conceito abstrato.
Mas não podemos trabalhar em nossa prática
educativa apenas o nível de abstração. Precisamos
encontrar as ferramentas analíticas para abarcar
concretamente a totalidade, o que permitirá
fragmentá-la para, em seguida reconstruí-la.
Compreender a totalidade do mundo é, acima de tudo,
compreender a integração estabelecida nos espaços, pois para os
alunos do Ensino Fundamental I este é um conhecimento que é
construído em constante auxílio com os professores, os quais com a
noção acerca do tema realizam as intervenções, desenvolvem as
atividades e atingem a aprendizagem.
Ao trabalharmos com a alfabetização geográfica, partimos
do pressuposto que os alunos já possuem conhecimentos nas áreas
relacionadas à localização e referências do espaço local. Deste
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 134
modo ao tratar o professor como auxiliar no processo de
qualificação deste conhecimento, notamos alguns aspectos que
norteiam o desenvolvimento desta metodologia como a
compreensão inicial acerca da escala.
A escala conforme Castrogiovani é (2012, p. 47):
A escala é uma relação de proporção entre o
tamanho de uma representação e o real. No caso de
uma planta urbana, por exemplo, a escala vai
mostrar em que proporção a planta representa o
objeto real- a cidade. Na verdade, o conceito de
escala introduz a noção de relação entre um
fenômeno real na superfície terrestre, ou o todo, e a
representação no papel.
Dentre os diferentes tipos de conhecimento que compõem
esta ciência a escala sempre se faz presente, pois é uma
representação do espaço real a mesma estabelece vínculos
comunicativos com os leitores, pois suas informações permitem a
interpretação da realidade ali apresentada.
Todavia, conforme Francischett (2010), o processo de
construção e representação dos mapas deve manter na sua essência
a possibilidade de compreendê-los, uma vez que para se tornar
possível esta leitura se utiliza de algumas ferramentas que ali estão
expostas, como por exemplo, a escala, os signos e as simbologias
que representam elementos e características do mapa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 135
Ao realizar a intervenção nas aulas sobre este tema com o
curso Técnico de Formação de Docentes, buscamos o
desenvolvimento de atividades que favoreçam a explicação sobre
as várias representações dos espaços físicos que a escala fornece,
demonstrando assim que as características e as representações
espaciais se alteram de acordo com a necessidade representativa
momentânea.
Assim sendo, trabalhamos com a integração dos espaços, a
qual se constitui em todos os ambientes, pois a escala é a parte
essencial desta análise, favorecemos a compreensão das diversas
representações gráficas que já foram desenvolvidas, bem como as
que ainda podem se desenvolver.
Conforme Castrogiovani (2012, p. 33) “as maquetas9,
mapas, cartas e plantas são representações sociais de um
determinado espaço real e representam uma organização dos
elementos que compõem o espaço. São modelos de comunicação
que se utilizam de uma linguagem cartográfica”.
Desta forma, interpretar estes signos que se expõem nas
representações requer um preparo mínimo, que segundo
Castrogiovani (2012), esta atitude/atividade deve ser
9 A autora utiliza o termo maqueta - sinônimo de maquete.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 136
essencialmente assegurada, na mesma proporção que se favorece a
aprendizagem dos cálculos matemáticos.
Pois para se aprender a ler um mapa, é necessário também
se saber construir um mapa, sendo que em concordância com
Francischett (2010, p. 46): “o mapa ocupa um lugar de destaque na
Geografia porque é, ao mesmo tempo, instrumento de trabalho,
registro e armazenamento de informação, além de um modo de
expressão, comunicação, uma linguagem gráfica”.
Reforçamos assim a necessidade de se construir mapas, com
as mais distintas realidades para assim tornar possível a valorização
do conhecimento geográfico que o aluno possui, já que conforme
Martinelli (2007) afirma, a criança constrói seu conhecimento
partindo do próximo, o espaço vivenciado, ou seja, a sua realidade
para assim possibilitar o avanço na representação e compreensão
do espaço distante, o desconhecido.
Relato das experiências
Iniciamos a aula com uma atividade diagnóstica na qual os
alunos deveriam realizar o desenho de um mapa representando o
trajeto de sua casa até a escola, com o intuito de verificar se os
alunos iriam utilizar alguns dos principais elementos da cartografia.
Neste momento, não se faria nenhuma exigência do que este mapa
deveria conter conforme o ilustra a figura 01.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 137
Figura 01 – Atividade diagnóstica com o curso Formação de Docente.
Fonte: Arquivo pessoal.
Org.: PELUSO, D., 2017.
Ao término da elaboração do desenho, os alunos trocaram
de atividades entre si com o objetivo de observar se seria possível
para eles deslocar-se até a casa do seu colega por meio do mapa
elaborado. Partimos do pressuposto que, devido a falta de
informações dos mapas, a maioria dos alunos iria perceber que não
seria possível chegar ao destino proposto. Esta constatação, nos
ajudou a problematizar a importância dos signos presentes no mapa
e isso está de acordo com o pensamento de Francischett (2008, p.
08), quando cita:
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 138
[...] que interessa é que os alunos vejam e estabeleçam
as relações que existem entre as “características” das
localizações[...]. A visualização da “imagem” composta
revelará o conteúdo da informação! Se o mapa não
conseguir isso, será inútil. Os mapas devem ser
elaborados visando a essa perspectiva e os alunos
preparados para a leitura da legenda; primeiro lendo o
que cada signo significa, depois reconhecendo as
relações que existem entre os signos. Com esse
aprendizado, resgata-se a informação que o mapa
revelou.
A partir de então iniciamos o questionamento sobre a
importância dos elementos cartográficos para que seja possível a
leitura dos mapas. Apoiados nisso, trabalhamos conceitos de
cartografia (escala, legenda, título, orientação/rosa-dos-ventos e
projeção) que são essenciais para compreensão da leitura de mapas.
A segunda atividade foi a Re-elaboração do desenho do
mapa casa – escola. Nessa atividade os alunos deveriam utilizar os
elementos cartográficos, acrescentando também pontos de
referência e nomeando as ruas e bairros, e para auxiliar na
construção dos mapas os discentes utilizariam um mapa da malha
urbana de Francisco Beltrão.
Ao término desta atividade os alunos conseguiram
compreender a importância das informações contidas nos mapas e
como realizar a leitura dos mesmos produzindo um mapa que
pudesse ser útil na prática e entendido por qualquer pessoa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 139
A atividade seguinte foi nomeada de Barbante Geográfico,
que consistiu em medir a sala de aula com um barbante, dobrando-
o repetidas vezes, reduzindo a medida proporcionalmente de forma
que coubesse no caderno. Tinha o intuito de construir um mapa da
sala de aula, para exemplificar o conceito de escala para os alunos.
Com a ajuda dos alunos, foram medidos a sala de aula; as
carteiras dos alunos e até mesmo um notebook para serem
desenhados com as medidas reduzidas proporcionalmente em seus
cadernos.
Este procedimento foi empregado pois seguimos a
orientação de Francischett (2005, p. 11), para quem: “o mapa é uma
representação no plano, em escala pequena, dos aspectos
geográficos, naturais, culturais e artificiais de determinada área
destinada aos mais variados usos”, ou seja, a representação da sala
de aula também pode ser destinada como atividade para
compreensão da escala nominal, mesmo sem obter as medidas
exatas dessa área, desde que tudo na mesma seja reduzido
proporcionalmente a mesma quantidade de vezes.
A próxima atividade (figura 02) teve como objetivo
possibilitar que os alunos compreendessem como um mapa se
encontra “dentro” do outro. Demos início demonstrando para eles
mapas políticos da América, do Brasil, do Paraná e da malha
urbana de Francisco Beltrão. Logo após utilizamos mapas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 140
artesanais em E.V.A com destaque para o município de Francisco
Beltrão, Sudoeste do Paraná, Estado do Paraná, Brasil e América.
Figura 02– Atividade com os mapas. Fonte: Arquivo pessoal.
Org.: PELUSO, D., 2017.
Para apresentar uma metodologia alternativa à atividade
anterior, foi realizada uma dinâmica com caixas(figura 03).
Usamos caixas de papelão, nas quais estavam representados o
município e em caixas sucessivamente maiores a região Sudoeste
do Paraná, o Estado do Paraná e o Brasil.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 141
Figura 03– Dinâmica com as caixas.
Fonte: Arquivo pessoal.
Org.: PELUSO, D., 2017.
Cada caixa adentrando a outra, para que houvesse a
compreensão dos discentes da integração dos espaços e de como
fazemos parte de todos estes ao mesmo tempo. Também buscamos
enfatizar a noção de região e como estão relacionadas entre si no
espaço geográfico. Assim como diz Castogiovanni (2016, p. 148-
149):
Na comunicação por meio da Cartografia, o desenho
cartográfico envia uma informação a uma
localização espacial transcrita mediante símbolos
gráficos ao espectador. A utilização adequada dos
mapas corresponde a um conjunto de ações
completas que inclui a compreensão das inter-
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 142
relações entre os elementos representados em um
mapa, no intuito de compreender a área de
representação, bem como as características dos
fenômenos cartografados.
Ao finalizarmos, notamos o quanto vantajoso e valoroso foi
a realização destas atividades, pois as mesmas possibilitaram a
aprendizagem dos alunos a qual foi observada em inúmeros
momentos da intervenção, bem como o engrandecimento pessoal e
profissional também dos sujeitos envolvidos na realização das
atividades, pois as vantagens não se aplicam somente ao momento
da experiência, mas também em diversas aulas que futuramente
serão realizadas, estas atividades são grandes potenciais de recursos
a serem utilizados.
Considerações
Podemos considerar o fim do artigo que os alunos do
projeto Pibid Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a
Docência conseguiram ensinar os alunos de Formação Docente
vária atividades voltadas para a cartografia se utilizando o lúdico
essas atividades foram todas as metodologias diferentes para
explicar e exemplificar o mesmo conteúdo.
Todo o ensinamento foi muito produtivo, pois os alunos de
Formação Docente conseguiram compreender o que queria ser
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 143
passado a eles de uma forma muito positiva de forma receptiva às
ideias dos pibidianos.
Ficou claro que todos conseguiram compreender a
importância dos elementos principais existente em um mapa e o
modo como os espaços estão integrados uns aos outros - como um
bairro a cidade; a cidade ao município; o município a microrregião;
a microrregião a macrorregião; a macrorregião ao estado, o estado
ao país; o pais ao continente - de forma que eles vão conseguir
repassar esse conteúdo para os alunos de um a forma muito
simples, metódica e que se tornará muito proveitosa tanto para os
alunos de Formação Docente quando se formarem professores,
quanto para os alunos das séries iniciais do Ensino Médio nas
demais modalidades, para usufruindo da metodologia lúdica,
aprender com mais facilidade.
Consideramos que a realização destas atividades, foi muito
satisfatória, pois possibilitou a visualização da aprendizagem dos
alunos sobre os elementos cartográficos e a sua importância, bem
como a leitura dos mapas. Deixou como resultado a certeza de que
poderemos criar novas atividades e metodologias lúdicas em
relação aos conteúdos voltadas para a cartografia em integração dos
espaços.
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INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS E ALFABETIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA1
Luéli Bortoletti2
Ritiéli Pires da Silva3
Introdução
A Cartografia pode ser entendida como a arte, o método e a
técnica de representar a Terra, a sociedade e seus fenômenos
espaciais por meio de mapas, cartas, maquetes, etc. (KATUTA;
SOUZA, 2001). Seus resultados são dados a partir de observações e
explorações de documentos, usufruindo da elaboração de produtos
cartográficos de acordo com determinados sistemas de projeção e
de uma determinada escala.
A alfabetização cartográfica implica, por conseguinte, no
processo de compreensão de uma linguagem composta por
símbolos e significados; uma linguagem gráfica(códigos e símbolos
definidos) (PASSINI, 2007). Contudo, não basta à criança, jovem
ou adulto descobrir o universo dos mapas, é essencial arquitetar
condições para que o discente seja um leitor crítico
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 147
(FRANCISCHETT, 2007). Trabalhar com alfabetização
cartográfica é indispensável, pois tal atividade contribui para o
processo de ensino-aprendizagem que os alunos precisam vivenciar
para tornarem-se capacitados a elaborar e interpretar mapas, além
de desenvolverem habilidade para fazerem leitura do espaço
geográfico.
A compreensão da linguagem cartográfica consiste num
elemento de magnitude para o progresso e ensino dos conteúdos
pertencentes à Geografia entre outras disciplinas do currículo
escolar, principalmente nos anos iniciais de escolarização, porque a
partir desses conhecimentos, os discentes começam a compreender
melhor a organização do espaço, reduzindo assim, as dificuldades
nas próximas séries, quando os conteúdos vão se tornando mais
complexos. É essencial possibilitar aos alunos condições para o
desenvolvimento da capacidade de pensar criticamente, produzir
meios para a resolução dos problemas distintos aos conteúdos
trabalhados relacionados ao seu cotidiano, fazendo com que ele
compreenda que o estudo é mais do que mera memorização de
conceitos.
Dentro desse contexto, esta pesquisa tem como foco realizar
uma breve discussão sobre a importância da formação docente no
processo de alfabetização cartográfica enfatizando práticas
pedagógicas relacionadas ao ensino e aprendizagem da linguagem
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 148
cartográfica na área de Geografia, assim como compreender a
importância do ensino da Cartografia para o desenvolvimento
intelectual dos alunos das séries iniciais. Ainda no presente artigo,
relatamos nossa experiência vivenciada na elaboração de uma
oficina pedagógica sobre integração dos espaços, realizada com os
alunos do Ensino Médio da formação de docentes no Colégio
Estadual Mário de Andrade localizado no município de Francisco
Beltrão - PR.
Como contribuição direta das análises, ainda que iniciais,
deste artigo, pretendemos estimular a realização o debate acerca da
importância do trabalho de formação docente das séries iniciais na
área da alfabetização cartográfica.
Alfabetização cartográfica – um debate necessário
Os conhecimentos geográficos começam a ser
desenvolvidos de forma assistemática nos primeiros anos da vida
de uma criança, mas é a partir das séries iniciais do Ensino
Fundamental, que a compreensão do espaço geográfico torna-se
objeto regular de investigação da Geografia, ou seja, as relações
entre natureza e sociedade passam a ser conceituadas e
problematizadas de modo sistemático.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 149
A respeito da relevância do uso de noções geográficas de
modo preliminar às discussões de conteúdos geográficos nas séries
finais do Ensino Fundamental, Passini (1994) afirma que:
[...] as primeiras relações espaciais que a criança
constrói são as relações espaciais topológicas
(vizinhança, proximidade, separação, envolvimento
e interioridade/exterioridade). Elas evoluem depois
para as relações projetivas (coordenação de pontos
de vistas, lateralidade). As ações que os alunos
organizam para essas construções podem explicar o
funcionalismo do seu pensamento para a leitura do
espaço e sua representação. A passagem da
percepção para a representação espacial é feita sobre
significante e significado, isto é, sobre o pensamento
(significado) e o desenho (significante) (PASSINI,
1994, p. 31).
Dessa forma, a Cartografia constitui a base de representação
e compreensão do objeto de estudo da Geografia. Contudo, a autora
ratifica que “é preciso considerar este espaço como uma realidade
global onde natureza e sociedade possuem uma dinâmica própria e
integrada na construção do espaço geográfico” (PASSINI, 1994, p.
15). Possibilitar que as crianças tenham contato com essa
linguagem cartográfica desde as séries iniciais permite a esses
discentes desenvolverem suas capacidades de percepção do próprio
espaço de vivência, para futuramente portarem conhecimento e/ou
capacidade cognitiva mais complexa sobre a compreensão do
espaço.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 150
Sempre como mediador10, é importante que o professor
trabalhe com as crianças desde seus primeiros anos escolares
valorizando o mapa enquanto uma linguagem que comunica
informações e não uma mera figura ou objeto de decoração
(FRANCISCHETT, 2007).
Trabalhar com diferentes estratégias que envolvam o
manejo de mapas, que por sua vez estão no cotidiano das crianças,
presentes em revistas, livros, televisão, internet, etc., contribuirão
nesse processo de compreensão dos conhecimentos que qualificam
os discentes a compreenderem e representarem a realidade. A
partir do momento que a criança compreende isso e adquire a
capacidade de ler mapas, passa a caminhar em direção à autonomia,
uma vez que essa capacidade de visualização da organização
espacial é muito significativa como discernimento para uma
participação consciente na sociedade. Por essa razão que o ensino
de Geografia.
[...] tem se tornado uma tarefa cada vez mais ampla,
pois, além de dominar os conhecimentos relativos
aos conceitos/categorias inerentes ao ensino dessa
disciplina, faz-se necessário selecionar e saber
10Segundo o educador Paulo Freire (1921-1997), o papel do professor é
estabelecer relações dialógicas de ensino e aprendizagem; em que professor, ao
passo que ensina, também aprende. Professor e estudante aprendem juntos em
um encontro democrático e afetivo, em que todos podem se expressar (FREIRE,
1996).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 151
utilizar linguagens adequadas para cada situação de
ensino-aprendizagem. Uma das linguagens mais
utilizadas no ensino de Geografia é,
indubitavelmente, o mapa. Ele favorece a
compreensão sócio espacial, na medida em que
possibilita realizar estudos comparativos das
diferentes paisagens e territórios representados em
várias escalas (MOREIRA, 2008, p. 02).
Seguindo essa linha de raciocínio observamos que a criança
ao aprender a ler mapas consegue, dentro do contexto sócio
espacial, realizar transformações expressivas “na medida em que
possibilita realizar estudos comparativos das diferentes paisagens e
territórios representados em várias escalas” (MOREIRA, 2008, p.
1). Dentro dessa mesma lógica, na qual o espaço geográfico é
objeto de estudo da Geografia, a Cartografia se torna de extrema
importância, pois ela ajuda o aluno a entender os fenômenos
físicos, naturais e culturais que se distribuem pelo espaço de forma
irregular a partir de instrumentos que representam a realidade como
mapas, globos, plantas, etc.. Cavalcante (2002) ratifica esta
concepção quando afirma que:
[...] as habilidades de orientação, de localização, de
representação cartográfica e de leitura de mapas
desenvolve-se ao longo da formação dos alunos.
Não é um conteúdo a mais no ensino da Geografia,
ele perpassa todos os outros conteúdos, fazendo
parte do cotidiano das aulas dessa matéria. Os
conteúdos de Cartografia ajudam a abordar os temas
geográficos, os objetos de estudo (CAVALCANTE,
2002, p. 16).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 152
O uso da linguagem cartográfica é imprescindível para o
desenvolvimento das crianças, jovens e adultos em suas atividades
cotidianas, sendo necessária desde uma fácil informação do
caminho entre a casa e a escola, até as circunstâncias mais
complexas, nas quais sejam necessários conhecimentos acerca de
coordenadas geográficas ou análises econômicas, políticas e físicas
do espaço.
A Geografia e, consequentemente a Cartografia, estão
presentes no dia a dia, sendo assim, é necessário que as noções
cartográficas também estejam presentes na concepção das pessoas.
Alfabetizar cartograficamente desde as séries iniciais condiz com
uma atividade pedagógica essencial para o desenvolvimento do
aluno, não apenas para seu aprendizado dos conteúdos de
Geografia, mas também para a compreensão do espaço no qual
vive.
Formação do professor no processo de alfabetização
cartográfica nas séries iniciais
A responsabilidade do ensino da disciplina de Geografia,
assim como de outras matérias nos anos iniciais do Ensino
Fundamental I fica a cargo dos professores pedagogos e é
pertinente que o conteúdo seja bem trabalhado por parte do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 153
professor, pois ele irá fornecer subsídios para o aprendizado dessa
ciência nas séries seguintes. Para isso, é importante considerar que
o docente esteja capacitado a realizar tal tarefa.
Se aceitássemos que o ensino é exclusiva ou
fundamentalmente uma atividade rotineira, estática e
até estereotipada, não precisaríamos de teorias sobre
estas características; neste caso, as receitas e
instruções seriam o mais adequado. Mas já sabemos
que ensinar é outra coisa, e que os planos fechados
raramente se adaptam as necessidades da situação
(SOLÉ; COLL, 2006, p. 13).
Neste sentido, o professor precisa buscar ensinamentos e
experiências que sejam desafiadores à curiosidade e inquietude de
seus alunos. Isso ocorre de modo mais contundente quando o
professor empenha-se em despertar o interesse pelo conhecimento
ainda nos primeiros anos do Ensino Fundamental I quando a
criança está em constantes fases de descobrimento do mundo ao
seu redor e assim, busca maneiras de responder a estes inúmeros
questionamentos. É neste sentido que, mais uma vez, vemos a
fundamental importância do papel do professor (a forma de ensino)
na vida do aluno (na forma do seu aprendizado). Ao professor cabe
explorar as novas experiências da criança, despertando o interesse
pelo conteúdo, atrelando-o às temáticas trabalhadas em sala de aula
e vinculando-os com situações cotidianas da vida de seu aluno.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 154
Não queremos uma aula-espetáculo, centralizada no
professor com sua eloquência discursiva, quase uma
aula demonstrativa, porque acreditamos que a
produção deve ser do aluno e que o “espetáculo”
deve se centrar no pensamento do aluno: é ele que
deve pensar e expor suas ideias. O professor precisa
passar segurança e motivar o aluno à investigação
das questões que responderão aos problemas
colocados por ele e pela classe. [...] Uma aula
produtiva é aquela em que o aluno trabalha além do
tempo e do espaço da aula (AQUINO JUNIOR,
2007, p. 79).
O que o autor argumenta é que, ao dar suporte e espaço para
as reflexões e análises do aluno, qualificando os conhecimentos
prévios que os alunos trazem consigo, o professor oportuniza o
crescimento do aluno enquanto sujeito ao levar em consideração o
entendimento que os mesmos possuem acerca de um determinado
assunto, tentando atrelar a realidade em questão, ajuda a construir
um cidadão capaz de analisar questões e estabelecer interconexões.
Como assevera Paulo Freire (1996, p. 23) “Quem ensina aprende
ao ensinar e quem aprende ensina o aprender”, desta maneira
acreditamos que tanto os professores quanto os alunos constroem
juntos o conhecimento. Nesse sentido, ratifica Caldato e Retica
(2014):
Como podemos perceber, o ensino de Geografia deve ser um ensino em que os alunos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 155
junto com professores construam os seus conhecimentos de modo a descobrir o mundo não apenas na sala de aula, com caderno e lápis na mão, mas uma descoberta que ocorra assim como coloca o autor em “experiências informais” próprias do cotidiano da criança, livres de um ensino que se caracteriza apenas pela transmissão do saber (CALDATO; RETICA, 2014, p. 5).
O aluno precisa entender o sentido dos conteúdos
trabalhados na escola, para que assim ele transponha estes
conhecimentos em seu cotidiano, para desmistificar a ideia de que a
disciplina de Geografia não terá utilidade em sua vida, e para que
este objetivo seja concluído é necessário que o professor esteja
teórica e metodologicamente preparado.
Mais que o domínio do conhecimento, consideramos que
há a necessidade de formar e preparar professores que aprendam a
pensar, a construir e a correlacionar a teoria e a prática, buscando a
resolução dos problemas que emergem no dia a dia da escola e no
cotidiano dos alunos.
A formação do conhecimento geográfico para os profissionais
de pedagogia
Para que o professor consiga colocar seu conhecimento como
suporte para a construção do conhecimento do aluno é essencial
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 156
que ele tenha uma boa formação e compreenda os conceitos básicos
da disciplina. Se este conhecimento do conteúdo não for construído
pelo professor e aluno nas séries iniciais, possivelmente no futuro o
aluno irá apresentar dificuldades relacionadas a esta disciplina.
É nas séries iniciais, ou seja, quando a criança começa seu período escolar, é que o professor precisa estar atento para a construção de um conhecimento intrapessoal que dê sentido à sua presença na escola. É importante que o conteúdo educativo atinja maior grau de significação. Para tanto se faz necessário que o professor reconheça o valor de ensinar a realidade que seus alunos fazem parte e também de estabelecer vínculos da sua própria forma de conceber a realidade com os conteúdos propostos em sala (LEMES; LOPES, 2015, p. 3742).
Neste sentido, ao pensar na dificuldade do aluno em
compreender os conteúdos da disciplina de Geografia, podemos
também pensar em relação à formação dos professores de
Pedagogia.
Se entendermos o pedagogo como um profissional
capaz de proporcionar um ensino articulador, onde a
Geografia, a História e as Ciências Naturais (dentre
outras áreas) são consideradas importantes para a
formação integral dos alunos dos anos iniciais, é
preciso pensar na formação desse profissional
(LASTÓRIA; AZEVEDO, 2015, p. 3550).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 157
Devido a isso, é importante que a Geografia seja
aprofundada desde a formação dos professores na Pedagogia, pois
só assim conseguiremos melhorar o ensino dos alunos nas séries
iniciais, com uma docência qualificada e estruturada, passando
segurança e construído conhecimentos científicos com os alunos.
[...] a Geografia como área do conhecimento escolar,
deve ser compreendida nas séries iniciais fazendo
parte do processo de alfabetização, porque é
importante para a leitura de mundo. Aliás, em
função da formação inicial dos professores das séries
iniciais, muitos não sabem por que é importante
alfabetizar a criança em Geografia (CASTELLAR,
2000, p. 30).
Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mais do que em
outros momentos da docência, é importante que o professor se
aproprie de metodologias que lhe facultem acessar de modo
adequado a fase de desenvolvimento de seus alunos. Dentre as
diferentes metodologias possíveis na alfabetização cartográfica, o
uso de atividades lúdicas se mostra primordial.
De acordo com Vieira e Rodrigues (2016, p. 3) o conceito
de lúdico advém da palavra latina “ludus” que significa jogo,
vincula-se as brincadeiras espontâneas, porém na atualidade, este
termo tem contraído uma importância atribuída à construção da
qualidade de vida das pessoas. Por esse motivo, cada vez um maior
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 158
número de pessoas tem aplicado esta noção às diferentes atividades
do cotidiano.
O lúdico está presente na infância de qualquer criança através de brincadeiras e do faz de conta. É por meio da
imaginação que a criança inicia sem saber, o processo de desenvolvimento criativo, à interação social e maior domínio lógico, motor, cognitivo e afetivo.
A brincadeira contribui para o desenvolvimento
social da criança, já que por meio delas as crianças
aprendem regras e normas de convivência humana.
Respeitando e se relacionando com o colega de
maneira igualitária, aprendendo desde cedo que no
mundo há espaço para todos só precisamos saber
compartilhar as experiências e oportunidades
(NUNES, 2014, p. 4).
Devido ao fato de a criança gostar e se sentir atraída pelas
brincadeiras, é muito importante que o professor, sobretudo, das
séries iniciais, faça o uso da ludicidade em suas aulas. É preciso
que o professor saiba atrelar diversão e conhecimento, de uma
maneira prazerosa para seus alunos, de forma de que eles se sintam
envolvidos na atividade. Como cita a pesquisadora Tereza
Cristiany Paiva Nunes (2014, p. 9) “O trabalho educativo com o
lúdico requer muita disposição, planejamento e dedicação, para que
o brincar não se torne apenas um passatempo no horário escolar ou
uma atividade de distração”.
As brincadeiras desenvolvidas em sala de aula devem
buscar promover o conhecimento das crianças e a socialização com
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 159
seus colegas. O aprendizado pode ser melhorado nas séries iniciais
com o auxílio de jogos e brincadeiras relacionados à Geografia,
sendo necessário que o professor elabore e utilize recursos
didáticos que estejam à sua disposição para trabalhar durante as
aulas, para assim proporcionar novas experiências para seus alunos.
Por meio do lúdico a criança irá aprender brincando ao mesmo
tempo em que relacionará o conteúdo com sua realidade.
Nas aulas de Geografia, é pertinente a necessidade
de um apoio técnico, de mapas a internet, pois
muitas vezes o aluno sente dificuldades em abstrair
conceitos e construir seu conhecimento com os
livros didáticos e as aulas expositivas (AQUINO
JUNIOR, 2007, p. 78).
Nessa perspectiva, podemos ainda contar com a
contribuição de Jean Chateau (1908, p. 29) quando reitera que: “O
jogo representa, então, para a criança o papel que o trabalho
representa para o adulto. Como o adulto se sente forte por suas
obras, a criança sente-se crescer com as suas proezas lúdicas”.
Então, percebemos a importância da elaboração de atividades
lúdicas com as crianças para desenvolver o seu crescimento
cognitivo.
Compartilhando nossa experiência
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A oficina sobre: “Cartografia: Integração dos Espaços” foi
desenvolvida no Colégio Estadual Mário de Andrade de Francisco
Beltrão-PR, na turma do 1° ano A de Formação de Docentes, sob
supervisão da professora de Geografia Ione A. Zucch.
A oficina teve o objetivo de proporcionar a compreensão da
integração dos espaços de acordo com a escala de representação
dos objetos. Para isso, concordamos em realizar a oficina com
atividades dinâmicas que demonstrassem o conteúdo de formas
distintas, com o intuito de ser didáticos e proporcionar o
entendimento ao maior número de alunos possível.
Inicialmente realizamos junto aos alunos uma Atividade
Diagnóstica. Neste primeiro momento da oficina tivemos o
interesse de observar o conhecimento prévio que os alunos
possuíam, através da elaboração de um mapa feito por eles. Neste
mapa os mesmos deveriam desenhar o trajeto de sua casa até a
escola, sem dar mais informações aos alunos para assim avaliarmos
se os mesmos utilizariam elementos fundamentais da linguagem
cartográfica, tais como: coordenadas; nome das ruas; pontos de
referências; escala e etc. Então, após a elaboração dos desenhos
trocaríamos os mapas entre os demais alunos com o intuito de
observar se seria possível para o aluno se deslocar até a casa do seu
colega pelo mapa por ele elaborado. Como a maioria dos alunos
não utilizou os elementos cartográficos não foi possível para eles
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 161
orientarem-se para chegar até a casa do seu colega utilizando o
mapa que foi apresentado. Após este momento, fizemos juntamente
aos alunos uma problematização sobre os principais elementos
cartográficos (escala, legenda, título, entre outros) que são
essenciais para compreensão da leitura de mapas.
Em seguida, reelaboramos as atividades após a
problematização dos elementos essências que o mapa deve conter.
Os alunos deveriam redesenhar seu mapa, agora utilizando os
elementos cartográficos, para isso eles poderiam utilizar um mapa
da Cidade de Francisco Beltrão que foi disponibilizado a eles para
que pudessem acrescentar informações como pontos de referência,
nome de ruas e bairros. Após o término do segundo mapa os alunos
puderam comparar suas duas produções. Primeiro e visualizar a
diferença e como é importante que os elementos cartográficos
estejam presentes nas ilustrações para que seja possível realizar a
leitura do mapa e se deslocar a um determinado lugar.
Na segunda atividade empreendida, tivemos como objetivo
abordar a temática de escala com os alunos, para que os mesmos
pudessem entender que um objeto pode ser diminuído ou ampliado
várias vezes em relação ao seu tamanho real.
Para desenvolver a atividade do Barbante Geográfico
fizemos a medição de uma parede da sala de aula com um barbante.
Após ter tirado a medida real com a ajuda dos alunos, dobramos o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 162
barbante repetidas vezes, reduzindo sua medida de forma
proporcional, fazendo assim com que a medida da parede pudesse
caber no caderno dos alunos de forma reduzida. Explicamos a
equivalência de que cada dobra do barbante aos metros da parede
da sala de aula, também explicamos que isso ocorre com os mapas,
seu tamanho real é reduzido inúmeras vezes para que possa ser
expresso em uma representação.
Em seguida, elaboramos com os alunos a atividade
nomeada como: do local para o global. Esta teve por objetivo
possibilitar que os alunos compreendessem como um mapa se
encontra “dentro” de outro. Então, começamos mostrando para eles
mapas políticos da América, do Brasil, do Paraná e da malha
urbana de Francisco Beltrão. Logo após utilizamos mapas
artesanais em IVA produzido pelos pibidianos com destaque para o
município de Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná, Estado do
Paraná, Brasil e América do Sul.
Comentamos que é muito importante que os alunos ali
presentes e futuros professores produzam seus materiais didáticos
para trabalhar com seus futuros alunos. Ao mesmo tempo em que
íamos mostrando os mapas aos alunos buscamos problematizar e
atrelar esta atividade com a escala, explicando que só é possível
diminuir ou aumentar um mapa utilizando a escala que já havíamos
explicado anteriormente na atividade do barbante geográfico.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 163
Por fim, para exemplificar a atividade anterior aplicamos
aos alunos a dinâmica das Caixas, para que pudessem visualizar de
maneira diferente a mesma atividade. Para isso, utilizamos caixas
de papelão, nas quais representaremos o município de Francisco
Beltrão-PR com caixa menor, o Sudoeste do Paraná com uma caixa
um pouco maior, Estado do Paraná com caixa ainda maior e o país
com uma caixa grande. Cada caixa caberá uma dentro da outra,
para que haja a compreensão dos alunos de como ocorre à
integração dos espaços e de como estamos dentro de todos ao
mesmo tempo.
Consideramos que a experiência da oficina pedagógica foi
satisfatória, pois pudemos perceber durante as atividades que os
alunos demonstraram interessem em aprender o que havia sido
proposto, pois durante as atividades faziam questionamento e
tiravam dúvidas. Devido a isso reforçamos a ideia da importância
do lúdico no ensino da disciplina de Geografia, pois muitas vezes
apenas a parte teórica dos conteúdos não é capaz de suprir o
aprendizado dos alunos, é importante buscar metodologias que
desenvolvam a capacidade cognitiva do estudante.
Acreditamos que para ocorrer um ensino de qualidade nas
séries iniciais é necessário haver uma boa preparação dos futuros
professores que trabalharão com as crianças, pois o professor deve
ter pleno domínio do conteúdo para desenvolver uma docência de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 164
qualidade e capacitar os alunos para as etapas de desenvolvimento
seguintes.
Conseguimos perceber também que houve um avanço
quanto às noções cartográficas iniciais que os alunos possuíam e
como esta foi desenvolvida ao longo da oficina, pois com o
decorrer das atividades os alunos compreenderam a importância da
cartografia no seu cotidiano, seja através da leitura de mapas ou
mesmo pela compreensão de escala.
Considerações finais
Discutir sobre esse tema presente no currículo escolar que
passa quase despercebido no cotidiano dos indivíduos contribui não
apenas para a visibilidade do mesmo, mas possibilita provocar os
diferentes sujeitos a perceber, questionar e interpretar o espaço em
que se localizam, viabilizando assim, o exercício da cidadania.
Acreditamos que o ensino de cartografia esteja ligado ao
processo de alfabetização, pois a Cartografia consideramos ser uma
extraordinária forma de linguagem, uma vez que por meio dos
símbolos contidos no mapa é possível a viabilização de uma
comunicação, assim como ocorre com a linguagem verbal.
Compreendemos assim, que é necessário ensinar as crianças das
séries iniciais a ler, interpretar e escrever por meio dos mapas, ou
seja, por meio da linguagem cartográfica, ao não trabalharmos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 165
adequadamente com essa linguagem, permitimos que os discentes
se tornem analfabetos cartográficos.
Como tentativa para buscar solucionar estas lacunas que
existem no ensino de Geografia por parte da formação no curso de
Pedagogia e Formação de Docentes nível Ensino Médio, deveriam
haver mais propostas por parte das escolas para a realização de
oficinas pedagógicas voltadas as práticas de ensino da Geografia
e/ou cursos de formação continuada que pudessem auxiliar os
professores em busca do conhecimento e demais medidas que
estejam ao alcance da instituição escolar. Foi pensando nessas
falhas no processo de alfabetização cartográfica que elaboramos a
oficina pedagógica voltada para o tema “integração dos espaços”,
justamente para trazer um breve debate sobre atividades que
proporcionaram ampliar e compreender o espaço em que nos
localizamos através da visualização e compreensão dos elementos
que compões um mapa.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 168
JOGO COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA O ENSINO
DE GEOGRAFIA1
Adriana Edite Apolinário2
Jalme Santana de Figueiredo Junior3 Tatiéli Cella4
Introdução
O Programa Institucional de Bolsa Iniciação à Docência
(Pibid), subprojeto de Geografia da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (Unioeste)Campus de Francisco Beltrão/PR,
iniciou suas atividades no ano de 2011, desde então várias
atividades foram desenvolvidas resultando em diversas
experiências ricas e formativas.
Atualmente, o subprojeto de Geografia da Unioeste, campus
de Francisco Beltrão consta com vinte e quatro bolsistas, duas
coordenadoras de área, quatro professoras supervisoras bem como
três escolas parceiras – todas localizadas no município de Francisco
Beltrão/PR.
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco
Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 169
No ano de 2016, nossas atividades no Pibid foram bem
difíceis, vez que passávamos por uma conjuntura política
desfavorável, que esboçava a vários cortes, mudanças em propostas
pedagógicas, ameaças de extinção e desligamento de bolsistas,
entre outras ações que provocaram manifestações contrárias em
vários pontos do Brasil.
Mesmo diante dessa situação, conseguimos desenvolver
nossas atividades aliadas a essas manifestações de enfrentamento e
defesa pela manutenção do Pibid, enquanto programa fundamental
para a formação docente, uma vez que a participação no Pibid
permite melhoras qualitativas na formação acadêmica.
Diante disso, apresentaremos nesse texto uma atividade
desenvolvida em uma turma de 6º ano do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Prof. Vicente de Carli, localizado no município
de Francisco Beltrão/PR, no período de 01 à 18 de Novembro de
2016, atividade esta que consistiu na aplicação do jogo “Pensando
maneiras de diminuir a poluição da água”.
Essa proposta resultou do anseio na busca de maneiras
diferenciadas para trabalhar os conteúdos geográficos, de modo a
provocar os alunos reflexões e ações transformadoras. Assim, a
utilização de jogos no ensino de Geografia,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 170
[...] vem como um estímulo tanto para melhor
compreensão do conteúdo, quanto para o
crescimento e o desenvolvimento intelectual do
aluno – fundamental para atingir a responsabilidade
e a maturidade. É uma forma de aproximar o
conteúdo aos alunos motivando-os a estudar de
forma mais atrativa. [...] Estamos pensando no seu
uso como recurso pedagógico, pois no jogar o aluno
articula tanto a teoria quanto a prática, fazendo com
que ele estude sem perceber tornando o processo de
ensino- aprendizagem mais interessante e atrativo
(VERRY; ENDLICH, 2009, p. 67).
Dialogando diretamente com tal interpretação, Souza e
Yokoo (2013, p. 5) consideram “[...] que os jogos são excelentes
ferramentas de motivação para a aprendizagem de Geografia [...]
facilitando visualizar um conjunto de fatos e eventos geográficos”,
nos quais possibilitam que os alunos aprendam de maneira
prazerosa e interessante.
Desse modo, somos provocados a explorar o potencial
formativo possibilitado pelos jogos no ensino da Geografia, vez
que aliam a diversão com o conhecimento, colocando os alunos em
situações que o permitam exercitar os pensamentos e ações dos
sujeitos.
Nesse sentido, evidenciamos os jogos como facilitadores
para o ensino dos conteúdos geográficos, pois promovem a
participação, solidariedade, cooperação, análise crítica, reflexão,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 171
motivação e respeito do aluno a si mesmo e ao outro (SOUZA;
YOKOO, 2013, p. 01).
Feito tais ponderações, apresentaremos no próximo tópico
alguns pontos centrais acerca da construção e desenvolvimento do
jogo, na sequência discorreremos sobre alguns elementos
identificados sobre a utilização dessa atividade, abordando os
aspectos positivos, e, também as dificuldades encontradas.
Sobre o jogo
Para a construção do jogo realizamos levantamento de
informações referentes ao consumo de água nos comércios
localizados aos arredores da escola, também foram entrevistados os
proprietários, consultados site da Companhia de Saneamento do
Paraná (SANEPAR) e realizados mapeamento sobre as populações
residentes nos bairros próximos a escola. Essas ações nos
permitiram problematizara realidade dos alunos.
Para o desenvolvimento do jogo que apresentaremos é
importante à ação do professor na organização dos grupos,
orientação nas tarefas a serem desenvolvidas, bem como
colaboração com as ideias apresentadas. Buscando uma melhor
elucidação da proposta, separamos a exposição em etapas,
sugerindo uma média de tempo para a sua execução.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 172
1ª etapa: Partindo dos conteúdos divulgados no livro
didático, organizamos problematizações sobre a quantidade e
distribuição de água em nosso planeta, em forma de
questionamentos como: Quanta água há em nosso planeta? Essa
quantidade diminui ou não? Todas as pessoas possuem acesso à
água? Entre outras (20min).
Nessa etapa, aproveitamos as problematizações em torno do
tema, para dialogar sobre a importância da água para existência e
manutenção da vida, as dificuldades em seu acesso, bem como as
discrepâncias de consumo de água dos diferentes setores,
considerando sua distribuição e quantidade invariável em nosso
planeta.
2ª etapa: Nesse momento os alunos foram divididos em
quatro grupos aleatórios, sendo que cada grupo recebeu uma ficha
informativa (em apêndice), representando um setor específico da
sociedade, qual seja o Agrícola, Industrial, Comercial e Consumo
Residencial (10 min);
3ª etapa: Os alunos organizados em seus respectivos grupos
começam a ler a ficha – a ideia é que busquem entender o conceito
apresentado, uma vez que estão expostas as principais
características e relações que cada um dos setores possui com a
água (20 min).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 173
Foi relevante a demonstração de saberes que os alunos
possuíam sobre o setor por qual eram responsável, muitos
acreditavam que o consumo dos moradores era maior que os
industriais, outros não sabiam os impactos dos agrotóxicos na água,
outros se questionaram se as indústrias locais se preocupavam com
o trato da água, entre outros.
4ª etapa: Após o estudo de cada um dos setores pelos
grupos, lança-se o desafio: A água está ficando mais cara, tendo em
vista a elevação do custo de seu tratamento por conta da poluição, o
que podemos fazer para reverter essa realidade? Frente a tal
questão, cada grupo deverá construir propostas que atendam a essa
demanda, a melhor proposta vencerá o jogo! (10 min).
Uma vez lançado os desafios, os pibidianos se dedicaram a
auxiliar o andamento das analises de cada grupo, sendo que cada
membro do Pibid ficou responsável pelo andamento de um grupo,
de modo a provocá-los a refletirem e construírem propostas
interessantes que respondessem a questão lançada pelo desafio.
Nesse momento o objetivo dos pibidianos e provocar nos
alunos a compreensão que o cumprimento do desafio exige
envolvimento da coletividade, não apenas responsabilizar ou
isentar um setor específico da responsabilidade pelo cuidado ou
não para com a água.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 174
5ª etapa: Os alunos começam a pensar características que se
vinculam ao setor representado, objetivando a construção de
propostas para vencer o desafio (podendo utilizar cartazes, fotos,
poemas, músicas, etc.), (25min).
Nessa etapa do jogo, os alunos são orientados a construírem
suas propostas para um debate coletivo, sugerindo aos mesmos que
elaborem materiais que expressem as ideias do grupo sobre o setor
estudado, sua responsabilidade para com o trato da água bem como
ações para minimizar os impactos negativos realizados pelo setor.
6ª etapa: Cada grupo apresenta as propostas construídas em
uma socialização para a turma inteira, com objetivo de observar e
opinar seus pareceres favoráveis ou não sobre as propostas
construídas por todos os setores – se necessário (40 min).
Nessa etapa, buscamos provocar os alunos para o debate
coletivo, objetivando melhorar a proposta considerando as
sugestões dos colegas, uma vez que cada grupo se responsabilizou
por um setor.
Aqui os alunos são mobilizados para argumentarem no
coletivo, defender uma ideia, bem como respeitarem opiniões
contrárias, se colocando na posição de autores do conhecimento
produzido por seu grupo.
7ª etapa: Conclusão do jogo, e anunciação da proposta
vitoriosa (10min).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 175
Essa é a penúltima etapa, de grande importância, pois é
nesse momento que os pibidianos problematizam em torno de qual
seria a melhor proposta, incentivando a conclusão que é a reunião
de tudo que foi produzido que reflete a proposição vencedora, pois
assim, pois é o conjunto dos conhecimentos diversos produzidos
que podem resolver as questões vinculadas ao trato com a água na
realidade em que nos inserimos.
Ressalta-se o papel cooperativo para se pensar maneiras
práticas de se resolver os problemas de poluição e acesso à água, de
modo que em um movimento coletivo surgem novas riquezas de
conhecimentos e experiências.
8ª etapa: Após concluir o jogo, aquilo que foi produzido
poderá ser divulgado na Escola, em forma de exposição nos
corredores ou nas salas, nos murais, na recepção, etc. É importante
que os alunos escolham a forma para divulgar aquilo que eles
aprenderam aos demais colegas.
Uma vez findada as ações, se faz importante divulgar aquilo
que foi produzido, para que possamos contribuir com a leitura de
outros sujeitos, nesse sentido, a apresentação da proposta foi de
suma importância, pois foi neste momento que os alunos firmaram
seus papeis autorais nos trabalhos.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 176
Considerações sobre o jogo e sua execução: alguns resultados
alcançados
O jogo possibilita ao aluno, ser alocado enquanto sujeito, uma vez que o mesmo é provocado a pensar maneiras alternativas
para solucionar a problemática da que envolve a questão da água. Desse modo tanto pibidianos quanto alunos podem aprender coletivamente novas formas de ler o mundo, vez que:
A atividade com jogos rompe com as práticas tradicionais
mantidas pelos professores, tirando o aluno da
acomodação para a assimilação, dando a oportunidade de aprimorar a sua capacidade cognitiva, construindo um
raciocínio lógico, tornando o processo de ap rendizagem
mais significativo (SAWCZUK; MOURA, 2012, p. 2,).
A autora demonstra que muitas vezes as práticas
tradicionais deixam o aluno em certa “zona de conforto”, pois ele é
alocado no papel de ouvinte, não sujeito, nesse sentido a prática do
jogo rompe com tal situação, provocando o aluno para ser sujeito
no processo de aprendizagem.
Desse modo, um aspecto positivo que entendemos
fundamental – que foi alcançado em nossa proposta – foi em
provocar os alunos para tomarem parte de sua aprendizagem, uma
vez que nós os incentivávamos a pensarem nas propostas e os
alunos, por sua vez, se esforçavam para pensarem proposições que
fossem possíveis e baratas de se realizar.
Outro aspecto positivo alcançado, que também percebemos
no decorrer da execução do jogo, foi à participação ativa dos alunos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 177
nos diálogos realizados, apresentando informações, questionando
os conhecimentos estudados, pensando propostas (no coletivo),
buscando solucionar o problema do desafio, entre outros. Práticas
essas nos demonstraram que “Ninguém educa ninguém, ninguém
educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo
mundo” (FREIRE, 2011, p. 95).
Por fim, o último aspecto positivo que alcançamos foi
referente ao conhecimento produzido e divulgado pelos alunos nos
murais da escola, demonstrando o comprometimento para com o
material produzido, enquanto resultado de dos diálogos e estudos
desenvolvidos no decorrer de toda a proposta.
No entanto, avaliamos que o fato de estarmos trabalhando
em um grupo composto por seis pibidianos nos facilitou o alcance
desses resultados, uma vez que conseguimos orientar os grupos de
maneira mais particular, bem como coletar informações e organizar
os conteúdos estudados de maneiras mais completa e aprofundada.
Entendemos que muitas vezes as condições materiais
encontradas na escola, como quantidade reduzida de aula, turmas
com muitos alunos, falta de materiais como cartolinas, cola,
canetões e tesouras, podem ser entraves que dificultem para o
professor a execução do jogo aqui apresentado em sua maneira
plena.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 178
No entanto, nossa ideia é que o jogo possa ser adaptado a
realidade que o professor enfrente em seu dia a dia, de modo que
ele possa pensar e trabalhar aulas diferenciadas para provocar os
alunos no desenvolvimento de seu pensamento crítico e ação
transformadora.
Referências
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2011.
SAWCZUK, M. I. L.; MOURA, J. D. P. Jogos pedagógicos para o ensino de Geografia. O Professor PDE e os Desafios da Escola
Pública Paranaense. v. 01, Secretária de Educação, Governo do Estado do Paraná, 2012.
SOUZA, I. F.; YOKOO, S. C.. Jogo lúdico no ensino de Geografia. VIII Encontro de Produção Científica e Tecnológica (EPCT): O
método científico. Anais... Universidade Estadual do Paraná Campus de Campo Mourão, 21 a 25 de 2013. Disponível em:
<http://www.fecilcam.br/nupem/anais_viii_epct/PDF/TRABALHOS-COMPLETO/Anais-
CET/GEOGRAFIA/IFSouzatrabalhocompleto.pdf> Acesso em: 23 mar. 2017.
VERRY, J. B.; ENDLICH, A. M. A utilização de jogos aplicados no ensino de Geografia. Maringá: Revista Percurso – NEMO, v.
1, n. 1, 2009, p. 65-83.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 179
JOGOS NARRATIVOS E O ENSINO DE HISTÓRIA:
REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA1
Aparecida Darc de Souza2
Rodrigo Ribeiro Paziani3
O ensino de História no espaço escolar se constitui num
desafio cotidiano para os profissionais de História. Este desafio se
renova a cada geração que apresenta novos elementos sociais e
culturais no processo de cognição do conhecimento histórico.
Mesmo, para os professores que advogam o ensino como atividade
indissociável da pesquisa permanece a necessidade constante do
diálogo com o tempo presente e vivido socialmente,
particularmente pelos estudantes. As questões e temas que orientam
o ensino como atividade de investigação não são imutáveis, mas
renovadas constantemente pelos sujeitos dos processos de
aprendizagem em seus novos contextos sociais, econômicos,
políticos e culturais.
Esta dinâmica das relações contidas no espaço da
aprendizagem reafirma a História como conhecimento disciplinar
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro,
voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Coordenação de área do Subprojeto História, do Campus de Marechal
Cândido Rondon. 3Bolsista de Coordenação de área do Subprojeto História, do Campus de Marechal Cândido Rondon.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 180
que tem como objeto os homens encarnados e marcados pelo
tempo, tempos vividos e herdados (BLOCH, 1997). Sob esta
perspectiva, o ensino de História se distancia efetivamente da
reprodução de saberes prontos e acabados e da simples coleção dos
fatos e acontecimentos do passado. Noutra direção, invoca a
necessidade do professor de se colocar na posição de um
investigador do mundo que o cerca, particularmente do mundo que
cerca e define os estudantes com quem trabalha.
Trata-se de um esforço que é, simultaneamente, sensível e
científico que recoloca a discussão sobre o sentido da História, o
sentido do ensino da História dentro de um contexto concreto,
dentro de um contexto vivido pelos sujeitos da aprendizagem
escolar. Nestes termos a cognição histórica, a leitura e análise do
passado estão circunscritas às necessidades de um presente social e
culturalmente determinado. O passado se torna necessário e é
estudado em razão das questões colocadas pelos sujeitos a partir
das demandas produzidas no momento em que vivem.
Sob esta perspectiva a sala de aula, a escola e o universo
social e cultural que os cercam se tornam um laboratório
permanente que se oferece ao olhar questionador, inquieto do
professor. Os estudantes se tornam, além de sujeitos do processo de
aprendizagem, sujeitos sociais portadores de uma cultura que
precisa ser constantemente mapeada, conhecida, desvendada.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 181
Orientados por esta premissa teórica o Pibid-História da Unioeste
tem procurado desenvolver suas atividades no Colégio Estadual
Marechal Cândido Rondon e no Colégio Estadual Eron
Domingues.
Foram utilizados vários caminhos metodológicos para
conhecer o universo cultural dos estudantes do ensino médio das
escolas parceiras do projeto. O estudo da dos modos de vida destes
jovens cuja idade varia entre 15 e 21 anos apoiou-se, portanto, na
observação participante (FREIRE, 1986), na aplicação de
questionários e na realização de grupos focais (DAMICO, 2006).
Todas estas estratégias foram utilizadas para mapear o mundo dos
jovens estudantes do ensino médio com o objetivo de conhecer
diferentes aspectos do seu modo de vida dentro e fora da escola.
Este modelo de pesquisa produziu diversos resultados que
foram fundamentais para orientar o planejamento e as intervenções
do Projeto Pibid nas escolas parceiras. Dentro de campo
diversificado de diagnóstico gostaríamos de destacar um dos
aspectos observados na realidade dos adolescentes nos levou a
produzir a experiência de construção de jogos dirigida ao ensino de
História.
Detectamos na pesquisa feita com os adolescentes das
escolas parceiras um grande interesse destes adolescentes por jogos
eletrônicos em seus diferentes suportes, consoles de vídeo-games,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 182
PCs ou celulares. Objeto de muitas controvérsias, o uso de jogos
digitais ou games, encontram na atualidade uma larga aceitação
entre adolescentes e jovens.
Para muitos, este interesse é associado imediatamente a
comportamentos violentos, a puberdade precoce, e desinteresse
pela escola. No entanto, conforme Cruz (2012) já vem se
consolidando estudos na área da psicologia que comprovam a
potencialidades do uso de jogos digitais online no aprimoramento
das habilidades sociais necessárias ao desenvolvimento dos
adolescentes bem como na sua educação.
De outro lado há também uma tendência em tomar os jogos
como elemento da cultura e como tal expressão histórica das
sociedades. Parte importante desta tendência se apoia nas ideias
lançadas por Huizinga que nos convida a ver no jogo, mais de que
um impulso ou necessidade biológica. Segundo Huizinga (2000, p.
7):
Ao tratar o problema do jogo diretamente como
função da cultura, e não tal como aparece na vida do
animal ou da criança, estamos iniciando a partir do
momento em que as abordagens da biologia e da
psicologia chegam ao seu termo. Encontramos o
jogo na cultura, como um elemento dado existente
antes da própria cultura, acompanhando-a e
marcando-a desde as mais distantes origens até a
fase de civilização em que agora nos encontramos.
(...) O objeto de nosso estudo é o jogo como forma
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 183
específica de atividade, como "forma significante",
como função social. (...) Se verificarmos que o jogo
se baseia na manipulação de certas imagens, numa
certa "imaginação" da realidade (ou seja, a
transformação desta em imagens), nossa
preocupação fundamental será, então, captar o valor
e o significado dessas imagens e dessa
"imaginação". Observaremos a ação destas no
próprio jogo, procurando assim compreendê-lo
como fator cultural da vida.
Orientados por esta perspectiva procuramos então recortar
esta dimensão do universo social e cultural dos adolescentes para
desenvolver estudos e produzir experiências e materiais didáticos
voltados ao ensino de História. É recente, mas profícua as
iniciativas de uso didático de games em sala de aula quando o
assunto é História. A possibilidade de trabalhar com jogos digitais,
como RPG (Role Play Game) tem sido explorada por alguns
profissionais, pois existem vários jogos de conteúdo histórico:
ValiantHearts, Civilization, Total War, Caesar, Swordof Samurai,
Age ofEmpires, Cursader Kings. Este é um caminho possível, mas
tem seus limites.
O primeiro deles diz respeito ao fato de que os games
comerciais trabalham com períodos e temas determinados. Ainda
que os chamados history games trabalhem com a periodização
clássica – pré-história, historia antiga, historia medieval, historia
moderna e contemporânea – prevalece o interesse por determinados
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 184
período em detrimento de outros. A partir do levantamento feito
por Neves (2012) observar-se que 48% dos jogos se referem aos
conteúdos relativos a I e II Guerra Mundial.
Outro limite que deve ser observado refere-se à ausência de
conteúdos relacionados à história do Brasil, da África, da América,
particularmente da América Latina. Os jogos disponíveis são
majoritariamente relacionados a uma visão de história universal
que sabidamente ignora a história de continentes que não o
Europeu. Por fim é preciso ainda considerar uma ultima
dificuldade. É bastante comum encontrar estereótipos femininos e
masculinos que reproduzem uma visão hegemônica dos papeis
sociais de homens e mulheres. Prevalece ainda, na maioria dos
jogos, uma visão maniqueísta do mundo, que sempre se apresenta
dividida entre o bem o mal. (AMARAL; DE PAULA, 2007).
Certamente estes aspectos acima indicados não invalidam
os usos dos games como estratégia a ser utilizada no ensino de
História. Mostra disto pode ser verificada com mais detalhe nos
estudos de Albaine e Costa, 2017; Neves, i. b. c. 2011; Arruda,
2011. Em cada um deles poderão ser conferidas reflexões e
experiências exitosas do uso de games no ensino de História.
Assim, as observações feitas servem mais para explicar as razões
que nos levaram a decisão de trabalhar com a construção e
elaboração de jogos para o ensino.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 185
Por uma questão de coerência teórica e metodológica com
as premissas que sustentam o processo de formação inicial de
docentes do nosso projeto definimos por elaborar nosso próprio
jogo ao invés de usar jogos já existentes. Acreditamos
fundamentalmente que o trabalho de ensinar é também um trabalho
de pesquisa e de produção de saber, “o verdadeiro ensino sempre
pressupõe pesquisa e descoberta” (FENELON, 2008, p. 35). Por
esta razão ensejamos a construção do saber em todas as atividades
de docência do projeto.
A elaboração do jogo exigia a aplicação de métodos
próprios do processo de produção do conhecimento que vão desde
o trabalho com fontes até a reflexão teórica. Para desenvolver o
jogo foi preciso definir claramente uma problemática, o objeto e o
tema que será explorado a partir da pesquisa bibliográfica e
analisado a partir do diálogo com a historiografia. Além disto, há
que se destacar todo o processo criativo nele implicado. Em
síntese, todo o trabalho de construção do jogo permitiu que a
formação inicial dos bolsistas como docentes se fizesse
simultaneamente a um trabalho técnico, criativo, investigativo e
intelectual. Deste modo, considerando o objetivo formativo do
Pibid escolhemos montar nosso próprio jogo.
O amplo e complexo espectro do mundo dos jogos nos
ofereceu a possibilidade de projetar um jogo que poderia ser
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 186
produzido por estudantes e professores, já que não seria possível
projetar um jogo eletrônico. Inspirados, inicialmente em jogos de
tabuleiros, os games constituem-se, na atualidade, num dos tipos
utilizado de jogos entre adolescentes e jovens. Todavia há uma
grande variedade de jogos que permeia o universo infanto-juvenil,
tais como jogos de cartas e tabuleiros que podem ser
artesanalmente elaborados e produzidos.
Esta inversão, do jogo digital para o jogo analógico, de
cartas ou tabuleiro não significa uma recuo. Interessante observar
que entre os jogos de tabuleiros e os games não houve
necessariamente uma evolução, mas uma relação de inspiração
recíproca. Assim como foram dos jogos de tabuleiros que surgiram
as ideias para o desenho dos jogos eletrônicos o que se vê hoje é
um movimento inverso de games que inspiram jogos de tabuleiro.
No ano de 2015 foram lançados versões de jogos digitais no
formato de “board-games” (jogos tabuleiros) segundo publicação
feita no site Terra.
Foi dentro desta possibilidade, tomando como exemplo este
tipo de inversão que nos definimos pela elaboração de jogos de
narrativos inspirados nos jogos de RPG. O Role Play Game ou
RPG como é comumente conhecido é um gênero de jogo narrativo
que pode se apresentar como um jogo de tabuleiro ou como um
jogo eletrônico. Trata-se de um jogo de interpretação de papéis,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 187
com personagens que podem ser reais ou fictícios. De acordo com
Pavão (2000, n.p).
RPG é um jogo cujas regras são descritas em livros
que são, em geral, bastante volumosos e que, além
das regras, trazem descrições de mundos fantásticos
e orientações de talhadas para uma aventura, que
poderíamos chamar de virtual. Os atores dessa
aventura são o mestre e os jogadores, usualmente
chamados de players. O texto do livro de regras é
lido em geral pelo mestre que, nas sessões de RPG
então, apresenta uma história, uma aventura, ao
grupo de jogadores, criada por ele, a partir da leitura
do livro. A aventura proposta deve conter enigmas,
charadas e situações que exigirão escolhas por parte
dos jogadores. Cada participante, tal como um autor
de ficção, constrói um personagem para si,
detalhando seu perfil psicológico, suas habilidades
intelectuais e físicas, suas preferências e seus
trunfos, assim como suas deficiências, que vão
garantir o "tempero" da ficção. Esses personagens
devem adequar-se a um ambiente, proposto pelo
livro do mestre, no qual a trama se desenrolará. O
ambiente onde se desenvolve a aventura, no
linguajar desses grupos, é chamado de mundo ou
cenário.
Estas características do RPG em termos de sua metodologia
o tornam muito atraente como recurso didático no ensino de
História. Neste jogo destaca-se o grande estimulo a imaginação,
pois nele os jogadores são estimulados a interpretar um
personagem escolhido, construído seu perfil e fazem escolhas
próprias numa relação ativa com outros jogadores. Ao mesmo
tempo o jogador é chamado a fazer estas escolhas dentro de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 188
condições determinadas, as quais são apresentadas pelo narrador do
jogo que faz a leitura do livro do mestre. Por meio dele os
jogadores se situam no tempo e no espaço e reconhecem a
dinâmica e o movimento do enredo da qual fazem parte
identificando seus limites e possibilidades dentro da história
narrada.
Esta condição de agente, de sujeito atribuído aos jogadores
no RPG revelou-se importante dentro do contexto de observação
dos estudantes das escolas parceiras e envolvidas no Projeto do
Pibid História. Nas conversas e interações com os estudantes,
detectamos que os mesmos se ressentem da falta de autonomia nos
processos de ensino-aprendizagem. Sua margem de escolha é quase
nula quando se trata das definições de conteúdo e métodos de
aprendizagem. Deste ponto de vista, os jogos de RPG revelaram
uma possibilidade de recuperar na relação de ensino no espaço da
escola a condição de sujeitos destes jovens estudantes.
Além disto, a narratividade inerente ao jogo, associada ao
exercício de interpretação de papéis dentro de contextos definidos
oferecem um caminho lúdico para o ensino de História. Esta
alternativa vem sendo explorada por profissionais que se
dispuseram a articular o ensino de história com as novas
tecnológicas. Há aqueles que optam por trabalhar com jogos
prontos e disponíveis no mercado como Neves, Alves e Bastos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 189
(2012)que fazem uso dos chamados History games. Mas há
também aqueles que escolhem elaborar, dentro da plataforma e
metodologia doRole Play Gameseus novos jogos de RPG de
conteúdo histórico como trabalho feito por Morais e Rocha (2016).
Seguindo esta linha de atuação o projeto Pibid História da
Unioeste definiu-se pela elaboração de um jogo narrativo.
Apostamos na possibilidade de intercambiar linguagens e promover
o ensino de História. Contudo, a metodologia do RPG foi utilizada
apenas como referência e inspiração para o grupo. Evitamos criar
um jogo de RPG e tentamos criar outra modalidade de jogo
narrativo porque nosso objetivo era explorar a capacidade criativa
do grupo do envolvido no projeto. Criamos então um jogo narrativo
Quem é quem na História. Um jogo organizado a partir de cartas.
Preservamos as características fundamentais como a narrativa e a
interpretação de papeis típicas do RPG. Neste jogo, no entanto, os
participantes tem mais liberdade para interpretar e improvisar
diante dos acontecimentos.
O jogo foi criado para ser desenvolvido em diversas versões
que pudessem abordar diferentes espaços e temporalidades.
Inicialmente foram desenvolvidas duas versões do jogo: a) Quem é
quem na História do Brasil: ditadura civil militar; b) Quem é quem
na História do Brasil: Era Vargas. O primeiro jogo foi elaborado
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 190
exclusivamente pela equipe do Pibid11 e o segundo envolveu alunos
interessados da Disciplina de História do Brasil IV do 3º ano do
Curso de História da Unioeste12. Em qualquer versão temporal ou
espacial mantem-se a estrutura e dinâmica do jogo.
Como se trata de um jogo narrativo, modalidade cartas, sua
estrutura esta dividida em dois grupos de cartas: i) as cartas de
narração; ii) as cartas dos personagens. As cartas de Narração
expressam uma evolução cronológica dos acontecimentos e
localizam cada personagem no tempo e no espaço histórico
determinado. Assim, as cartas aparecem numeradas num sequência
de eventos. Estas cartas de narração anunciam e descrevem
acontecimentos determinados que envolvemos personagens da
história.
As cartas personagens identificam diferentes personagens
com perfis sociais e ideológicos dos grupos sociais que compõe a
11Equipe de Bolsistas do Pibid História da Unioeste que realizaram o trabalho de
pesquisa, desenvolvimento e aplicação do Jogo Quem é quem na História do
Brasil: Ditadura Civil-Mititar (1961-1970): Aparecida Darc de Souza (coord),
Alessandra Bastos Silva, Ana Karoline Biavat Pagno, Victor Antonio de Melo e
Silva, Giovani Luiz Souza Scheidt, Alana Thais Quadro de Campo, Vinícius
Boaretto Kaefer. 12Equipe de bolsistas do Pibid e estudantes do curso de História da Unioeste que
realizaram o trabalho de pesquisa, desenvolvimento e aplicação do Jogo Quem é
quem na História do Brasil: Era Vargas (1930-1954): Aparecida Darc de Souza
(coord), Victor Antonio de Melo e Silva, Giovani Luiz Souza Scheidt, , Heloísa
H. Giaretta,Vitor Lopes, Jessica Oliveira, Andrey Tironi da Silva e Henrique
Laurentino.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 191
história narrada pelo jogo. Cada jogador retira uma carta
personagem aleatoriamente no início do jogo. A partir das
descrições feitas ele poderá compor seu personagem incorporando
as atitudes a serem tomadas no decorrer da narrativa. Nas cartas-
personagens, além da identidade estão indicados também os
eventos históricos das cartas de narração nos quais aquele
personagem esta envolvido. Assim o jogador pode orientar sua
ação dentro da narrativa.
O jogo é formado então pela figura do narrador e por vários
personagens. O narrador é responsável por fazer a leitura das cartas
de modo que todos os personagens possam acompanhar. Em sua
leitura das cartas, o narrador, revela, numa sequência cronológica,
os eventos que cada personagem irá participar. Diferente do RPG,
neste jogo o narrador não interage com os demais jogadores, não
lhes apresenta desafios, obstáculos ou caminhos. Sua narrativa situa
os personagens no tempo e no espaço, cabendo a cada um
interpretar o momento ou evento narrado.
Neste jogo, todos os personagens fazem parte de uma
categoria que pode ser social, econômica, política, profissional ou
étnica. Deste modo, os jogadores se agrupam em torno de suas
identidades coletivas para poder orientar suas ações dentro do jogo.
Por exemplo, no jogo cuja narrativa se passa no período da ditadura
militar foram criadas sete (07) grupos de personagens: burguesia;
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 192
militares; classe média, estudantes; trabalhadores; mídia e igreja. Já
no jogo sobre a Era Vargas foram criadas outras categorias:
indígenas, posseiros, jagunços, grileiros, exército, operários,
empresários e comunistas.
Na sala de aula, uma vez determinado quem seria o narrador
as cartas-personagens eram distribuídas aleatoriamente. Depois de
distribuídas os alunos se agrupavam a partir da identidade de sua
carta. As cartas de cada grupo de personagens forma feitas em
cores diferentes para facilitar a identificação.
Há, no entanto, cartas que identificam personagens
históricos reais específicos. Embora estes personagens façam parte
de um grupo ou uma categoria, dentro do jogo eles são
protagonistas de situações ímpares que não são vividas
coletivamente, tais como: Getúlio Vargas que se suicida no curso
da narrativa ou Edson Luis, um estudante que é assassinado durante
uma manifestação contra a ditadura militar.
Quem é quem na História é um jogo de interpretação de
papeis organizado a partir de cartas que oferecem aos jogadores
uma determinada narrativa de acontecimentos históricos os quais
serão livremente interpretados por seus participantes. Deste ponto
de vista o jogo se aproxima mais da técnica do teatro de improviso
que explora em cada jogador a busca, o retorno a experiências
vividas para composição de seu personagem e de suas atitudes.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 193
Neste caso, a interpretação de papéis se desenha em dois
movimentos.
De um lado o jogo provoca a imersão do estudante/jogador
num contexto histórico determinado. Os estudantes a partir dessa
proposta serão compelidos a se inserir ou a mergulhar dentro de um
personagem desenvolvendo ações que expressam o seu o perfil
social e ideológico. Neste sentido, o objetivo do jogo é provocar
nos estudantes/jogadores o sentimento de empatia levando-os
pensar, ver e sentir como atuavam diferentes atores sociais dentro
de contextos históricos determinados. Este conceito de empatia
pode se tornar um importante aliado no processo de ensino e
construção do saber histórico escolar, pois segundo Abud (2005,
p.27-28):
[...] o conceito de empatia facilita a compreensão histórica, ao aproximar as pessoas do passado às do presente. Há
ideias e práticas do passado que oferecem explicações
pouco satisfatórias se não forem analisadas na perspectiva
da cultura, do sistema de valores e até do senso comum,
num contexto mais amplo, com o qual estão relacionados. [...] A compreensão histórica vem da forma como sabemos
como é que as pessoas viram as coisas, sabendo o que
tentaram fazer, sabendo o que sentiram em uma
determinada situação.
Na aplicação dos jogos narrativos verificamos que ao se
colocarem no lugar do outro, os estudantes/jogadores
experimentam e vivenciam como seus os dilemas, ideias,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 194
sentimentos de indivíduos, sujeitos coletivos e ou sociais de outras
épocas. Foi o caso, por exemplo, de uma estudante que tirou a carta
de Getúlio Vargas. Ao final do jogo ela explicou que sentia que era
impossível fazer algo que pudesse agradar a todos. Quando atendia
às reivindicações dos trabalhadores era duramente criticada e
atacada pelos empresários. Se ela mantinha o acordo com os
empresários sofria com as greves. Esta experiência mostrou a ela
em termos empíricos as contradições características de um governo
ou uma liderança política que orienta suas ações pelo projeto de
conciliação de classes.
Outro exemplo foi vivido pelo grupo de posseiros que
durante a narrativa do jogo se vem constantemente ameaçados e
massacrados por jagunços e grileiros sem encontrar meios de
manter-se na terra. Uma das alunas do grupo disse que ao final ela
se sentiu desprezada, como se ela não tivesse importância. Este
sentimento pode abre o caminho para uma importante discussão
sobre a histórica condição dos pequenos proprietários, posseiros e
trabalhadores brasileiros. Em ambos os casos o que percebemos é
que o jogo proporciona aos estudantes/jogadores fazer uso de suas
próprias experiências para entender e explicar situações vividas no
passado.
Por meio do uso de cartas, que servem para orientar uma
narrativa dos acontecimentos e designar papéis sociais, os
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 195
estudantes/jogadores envolvidos podem experimentar sentimentos,
identificar ideias e promover ações relativas a um determinado
contexto histórico abordado. Ao interagirem entre si, provocados
por situações do jogo, os estudantes/jogadores encontram meios de
refletir sobre a maneira como diferentes agentes sociais se
comportaram a agiram no passado (ROCHA, 2014).
De outro lado, o jogo permite que o jogador evoque valores
e percepções que o ajudam a conferir sentido às ações e momentos
vividos pelos dos personagens do jogo. A maneira como o jogador
interpreta, em gestos e palavras, sem premeditação ou ensaio traz
para dentro do jogo a sua leitura sobre determinados personagens e
situações históricas. O jogo incorpora, deste ponto de vista, os
valores e as percepções dos jogadores. Ainda que a narrativa seja
sempre a mesma, porque já esta definida nas cartas, o que observa é
ela é sempre vivida de maneira distinta pelos diferentes
estudantes/jogadores. Em cada sala, com cada grupo de alunos, a
mudança dos jogadores muda a forma como os acontecimentos são
vividos porque eles estão imbricados e atravessados pela forma
como os diferentes jogadores vêm o mundo.
Um exemplo interessante é a forma como Getúlio Vargas
foi representado. Em uma turma, sua figura foi associada à de
Hitler pelo seu jogador interprete que fingia andar de carro pela
sala com mão erguida numa clara referência ao cumprimento do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 196
ditador. Em outra sala a jogadora representou Vargas como homem
autoritário, vaidoso e apegado ao poder e na terceira turma. No
terceiro caso ele é representado com um homem angustiado e
pressionado. Cada estudante/jogador trouxe para o jogo elementos
diferentes para a construção do personagem.
Nos jogos eles interpretam os personagens sob o signo do
improviso e precisam assim, dar voz aos personagens históricos
sejam eles individuais ou coletivos, a partir de suas próprias
referências culturais e imaginárias que lhe são próprias
estabelecendo empiricamente a relação presente-passado. O jogo
permite por meio da improvisação que o passado seja representado
a partir de elementos que os estudantes/jogadores têm disponíveis
no presente. Assim de maneira, sensível e empírica os
estudantes/jogadores realizam esta operação fundamental para o
entendimento sobre o sentido da produção do saber histórico que,
como observou Bloch (1997), deveria se fazer em sentido
contrário, por um método “prudentemente regressivo”,
“desenrolando a bobina ao contrário”.
Esta dimensão da relação entre presente e passado se revela
no jogo por atos e palavras. Por exemplo, durante o jogo que
tematizou o período da ditadura militar foi recorrente o uso de
termos e expressões como “coxinha”, “petista”, “vai pra Cuba” que
faziam claramente referência ao contexto de atual de polarização
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 197
política vivida no momento. Num contexto marcado por constantes
repressões policiais aos movimentos sociais e populares a polícia
não é de se estranhar que um estudante/jogador durante a simulação
de uma greve tenha decido derrubar no chão da sala algumas
carteiras para indicar uma situação de quebra-quebra. Outro aluno,
dentro deste contexto, decidiu cair no chão, como se tivesse sido
atingido por uma bala e sai arrastado pelos outros colegas de grupo.
Estas situações ilustram algo importante sobre o fato de que
os estudantes mobilizam informações, valores e percepções do
tempo presente no processo de cognição histórica. Em cada um
delas podemos encontrar um caminho para discutir quais são os
problemas vividos no tempo presente pelos adolescentes e jovens a
quem nos dirigimos que incitam a busca de explicações no passado,
pois como afirmou Bloch (1997, p.100-101):
Na verdade, conscientemente ou não, é sempre com
as nossas experiências quotidianas que, para
diferenciar, ali onde deve ser, novas aparências,
damos, em ultima análise, os elementos que nos
servem para reconstruir o passado.
Esta dimensão do jogo é reveladora do papel didático e
estratégico no processo de ensino. Pensamos o jogo Quem é quem
na História como uma atividade sensibilizadora que abre o
caminho para a discussão e análise no espaço da sala de aula. A
partir das situações vivenciadas no jogo professores e estudantes
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 198
podem então discutir e analisar não apenas conteúdos, mas os
procedimentos que informam o trabalho de construção do saber
histórico. O jogo cumpre, nesta direção, a função de ferramenta
auxiliar do processo de ensino de História.
Por ultimo é preciso ressaltar que de conjunto-nos
pensamos num jogo cujo objetivo foi o de promover uma
experiência compartilhada. A proposta incita professor e estudante
a romper com a prática da educação bancária tradicional
produzindo uma situação de aprendizagem apoiada numa atividade
lúdica permitindo que professor e aluno desenvolvam no espaço da
sala de aula, uma relação prazerosa e empática com o estudo do
passado.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 201
UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE “SUJEIÇÃO
CRIMINAL” A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
NO RAP1
Caroline Andressa Momente Melo 2 Jhonathan Matheus Dias3
Introdução
O presente trabalho estrutura-se em duas partes, no primeiro
momento, analisa-se, introdutoriamente, a crise no sistema
prisional brasileiro, no que se refere às chacinas ocorridas no início
de 2017, nos presídios de oito estados, consideram-se: Alagoas,
Amazonas, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande
do Norte e Roraima (CARTA CAPITAL, 2017), problematiza-se a
aceitação das chacinas por parte de alguns representantes do
Estado.
Para compreender essa aceitabilidade, utiliza-se das
contribuições teóricas de Pinheiro (1991), que estabelece que a
“herança autoritária” no Brasil inviabiliza a consolidação de uma
1 Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes), entidade do governo brasileiro voltada para a
formação de recursos humanos. 2 Bolsista de Supervisão à Docência do Subprojeto de Ciências Soc iais, do
campus Toledo - PR. E-mail: [email protected] 3 Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto de Ciências Sociais , do
campus de Toledo - PR. E-mail: [email protected]
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 202
sociedade democrática, em que práticas autoritárias, abusivas e
inclusive ilegais são utilizas constantemente por agentes do Estado.
Nesse contexto de autoritarismo, as noções de cidadania, direitos e
direitos humanos são incompreendidas pela população
(CALDEIRA, 1991). Assim, os sujeitos enquadrados enquanto
“bandidos”, inseridos no processo de “sujeição criminal”4
(MISSE, 2010), têm sua humanidade rejeitada pelos “cidadãos de
bem”, que legitimam as chacinas do sistema prisional.
No segundo momento, analisa-se o processo de “sujeição
criminal” (MISSE, 2010) tomando como referência as
representações sociais da subcultura emitidas em cinco letras de
Rap. Desta forma, apresenta-se o processo pelo qual determinados
sujeitos são enquadrados na categoria “bandidos”, logo, tornam-se
moralmente repulsivos, o que legitima seu extermínio para a
sociedade.
Considera-se que as letras das músicas oportunizam maior
compreensão acerca do conceito de “sujeição criminal” conforme
oferecem as representações dos sujeitos que ora são
“simplesmente” incriminados, ora estão inseridos no processo de
“sujeição criminal”, ou seja, quando há uma expectativa que
determinados sujeitos estão propensos a cometer práticas
4 O conceito de “sujeição criminal” foi desenvolvido por Misse (1999), mas, o
presente artigo parte das reflexões de Misse (2010).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 203
criminosas, particularmente violentas, e isso constitui a
personalidade do sujeito, compõe seu caráter, sua subjetividade,
seu ser, portanto, “sua morte ou desaparecimento podem ser
amplamente desejados” (MISSE, 2010, p. 03).
Violência, justiça e direitos humanos no Brasil
O sistema prisional brasileiro encontra-se em uma profunda
crise, somente nas duas primeiras semanas do ano de 2017 houve
mais de 130 assassinatos nos presídios de oito estados (CARTA
CAPITAL, 2017). São múltiplos fatores que propiciaram tal fato,
dentre eles o encarceramento em massa e a superlotação dos
presídios, porém, no escopo deste texto não se objetiva analisar esta
crise do sistema prisional, mas sim apresentar, de modo
introdutório, os referenciais teóricos de Pinheiro (1991) e Caldeira
(1991) relacionados a esta temática. Em seguida, será analisado o
processo de sujeição criminal, que, em suma, representa o
enquadramento de “bandido” para determinados sujeitos (MISSE,
2010).
Neste contexto de crise do sistema carcerário um elemento
que merece destaque é a legitimação das chacinas por parte dos
representantes do Estado, a cargo de exemplo, o Secretário de
Juventude do governo federal quando questionado sobre as
chacinas afirmou que “Tinha que ter uma por semana” e o próprio
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 204
presidente do Brasil alegou que o massacre se trata de um
“acidente” (EL PAIS, 2017), ou seja, uma fatalidade, algo que não
teria como ser prevenido e até mesmo resolvido.
De modo geral, considera-se que a crise no sistema
prisional brasileiro tem relação com a “herança autoritária” que
permaneceu mesmo com o processo de redemocratização do país,
conforme apontado por Pinheiro (1991) houve um avanço no que
tange os direitos políticos, todavia observa-se um permanente
“regime de exceção paralelo” em que as práticas repressivas do
Estado são caracterizadas por um elevado nível de ilegalidade e
autoritarismo.
Este “regime de exceção legalizado favorece a repressão
ilegal aos criminosos comuns” (PINHEIRO, 1991, p. 49). Essa
repressão ocorre através de práticas de tortura, métodos de
extermínio de suspeito, invasões a domicílio, e até mesmo quando
o Estado não garante segurança nas instituições carcerárias. Neste
contexto de “Herança Autoritária”, a sociedade legitima o “regime
de exceção paralelo” e compreende como necessário o extermínio
dos presos comuns. Em suma, esse massacre evidencia como as
instituições estatais da área criminal não foram democratizadas,
permanecendo um “regime de exceção paralelo”.
Considerando a tradição política deficitária no Brasil, em
que não se consolidou uma noção clara de Cidadania, de Direitos,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 205
e, principalmente, dos Direitos Humanos, quando ocorre
extermínio dos presos comuns e os movimentos dos Direitos
Humanos buscam denunciar, estes são denominados pelos
“cidadãos do bem” de “defensores de bandidos”, que buscam
“privilégios” e “regalias” a bandidos (CALDEIRA, 1991). Desta
forma, a democracia no Brasil não será consolidada, enquanto a
sociedade civil corroborar com um ideário autoritário e legitimar os
abusos de violência do Estado.
Ou ainda, enquanto determinados sujeitos forem
condenados “pela interpelação da polícia, da moralidade pública e
das leis penais” (MISSE, 2010, p.17), por realizarem determinadas
práticas, sendo enquadrados na categoria de “bandido”,
paralelamente, retirando sua humanidade e justificando, portanto,
seu extermínio, os colocando assim na condição de “corpos
matáveis” (MISSE, 2010), neste contexto, fica mais distante o
horizonte democrático na sociedade brasileira.
Sujeição Criminal: Uma Análise A Partir Do Rap
O presente trabalho analisa o processo de “sujeição
criminal” que sustenta a categoria de “bandido” (MISSE, 2010),
para tanto, será tomado como referência às representações sociais
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 206
da subcultura emitidas nas letras de Rap5, do estilo denominado
“gangsta”, ou seja, que abordam o crime, a violência, o racismo
institucional, a violência policial e a “sujeição criminal”.
Considerando que o rap expõe a realidade social a partir das
representações sociais de sujeitos que vivenciam a incriminação
e/ou à “sujeição criminal”, em outras palavras, a sujeição criminal
ocorre quando há uma expectativa que determinados sujeitos estão
propensos a cometer práticas criminosas, particularmente violentas,
e isso constitui a personalidade do sujeito, compõe seu caráter, sua
subjetividade, seu ser, portanto, “sua morte ou desaparecimento
podem ser amplamente desejados” (MISSE, 2010, p. 03).
Trata-se de um sujeito que “carrega” o crime em sua
própria alma; não é alguém que comete crimes, mas
que sempre cometerá crimes, um bandido, um
sujeito perigoso, um sujeito irrecuperável, alguém
que se pode desejar naturalmente que morra, que
pode ser morto, que seja matável (MISSE, 2010, p.
07).
Desta forma, foram selecionadas cinco músicas6, de
diferentes estados, visando abranger a diversidade de situações,
consideram-se: “Londrina Criminal” do grupo Família IML, do
5 Procedimento metodológico semelhante foi realizado por Kleinschmitt (2016)
ao entrevistar rappers, para captar as representações da periferia sobre as mortes
violentas na região de três fronteiras entre o Brasil, Paraguai e Argentina. 6 Aconselha-se que as músicas sejam ouvidas na íntegra.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 207
Paraná. Do Rio de Janeiro foi escolhida a música “Favela Vive 2”
uma cypher produzida por vários MC´s. De São Paulo optou-se
pelas músicas “Diário de um Detento” e “Homem na Estrada” do
grupo Racionais MC´s e “Um pião de Vida Loka” da Trilha Sonora
do Gueto.
Misse estabelece que “O sujeito, nesse sentido, é o efeito de
ser posto pela estrutura (poder) e de emergir como seu contraposto
reflexivo (potência)” (2010, p. 16), ou seja, a experiência da
subjugação/sujeição à estrutura forma o sujeito, este, enquanto
sujeito deve agir na estrutura, muitas vezes se contrapondo a ela.
Dentre os processos de subjetivação o autor constata que há vários
tipos de sujeitos que se caracterizam por ser “não revolucionário,
não democrático, não igualitário e não voltado ao bem comum”
(2010, p. 17), o mais conhecido dentre estes tipos é rotulado de
“bandido”.
O processo de “sujeição criminal” se dá, basicamente,
conforme determinados indivíduos são incriminados por sua classe
social, sua cor, sua cultura, seu território, dentre outros aspectos,
assim é construído socialmente uma projeção, um enquadramento
de sujeitos que são potencialmente criminosos. Nesse sentido, o
grupo Trilha Sonora do Gueto, na música “Pião de Vida Loka”,
expõe um conjunto de abordagens policiais que ocorrem em
decorrência da identidade cultural que o sujeito possui, ou seja, o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 208
uso do boné e da camiseta proveniente da cultura hip hop, são
associados a criminalidade, observa-se:
“O foda é que os cara embaçaram na bombeta/
e na camisa do vida loka, os cara ta achando/
que o bagui é facção de crime esses bagui aí ,ó mano!”.
Em seguida, o racismo institucional é denunciado, pois,
como o sujeito é negro e morador de favela, para a polícia ele é
suspeito: "Sou vida loka jão daquele jeito/ Neguinho de favela prus
coxinha eu sou suspeito”. Evidenciando também como a “sujeição
criminal” se “territorializa” na favela.
Sobre o “bandido” deseja-se, amplamente, a morte ou o
desaparecimento, pois suas condutas são “moralmente repulsivas”.
A Letra da música “Homem na Estrada” relata a experiência de um
sujeito que “recomeça a sua vida” após cumprir pena, este sujeito
vive em um bairro periférico e vê “seu filho nascer no berço da
miséria”, contexto marcado pela negação de direitos básicos e alto
índice de violência. “Assaltos na redondeza levantaram suspeitas”
como este sujeito possuía antecedentes criminais ele foi
considerado um suspeito, diante disso, ele afirma:
A Justiça Criminal é implacável
Tiram sua liberdade, família e moral
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 209
Mesmo longe do sistema carcerário
Te chamarão para sempre de ex presidiário
Não confio na polícia, raça do caralho.
Se eles me acham baleado na calçada
Chutam minha cara e cospem em mim, é
Eu sangraria até a morte
Na calada da noite, o sujeito percebe que a polícia vai
“invadir seu barraco”:
Vieram pra arregaçar, cheios de ódio e malícia
Filhos da puta, comedores de carniça!
Já deram minha sentença e eu nem tava na "treta"
Não são poucos e já vieram muito loucos
Matar na crocodilagem, não vão perder viagem
Quinze caras lá fora, diversos calibres, e eu apenas
Com uma "treze tiros" automática
Só eu mesmo, meu Deus e o meu orixá
No primeiro barulho, eu vou atirar.
Se eles me pegam, meu filho fica sem ninguém
E o que eles querem: mais um "pretinho" na FEBEM.
Assim se deu o extermínio do suspeito através da ação do
Estado, sua morte não provoca comoção, mas é “necessária”,
afinal, ele é um “bandido”, e a impressa local reforça:
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 210
“Homem mulato aparentando
Entre vinte e cinco e trinta anos
É encontrado morto na estrada do
M'Boi Mirim sem número
Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais.
Segundo a polícia, a vítima tinha vasta ficha criminal."
Diante dos antecedentes criminais desse sujeito,
“se reserva a reação moral mais forte e, por
conseguinte, a punição mais dura: seja o desejo de
sua definitiva incapacitação pela morte física, seja o
ideal de sua reconversão à moral” (MISSE, 2010, p.
17).
Como mencionado, no processo de “sujeição criminal”
justifica de forma habitual a eliminação física de criminosos não
periculosos, no qual a punição é deslocada do crime e direcionada
ao sujeito. Emergindo assim, um conjunto de práticas ilegais, que
podem ser realizadas, inclusive, pelos aparelhos repressivos do
Estado, tais como os esquadrões da morte ou grupos de extermínio
de suspeito. Em congruência o grupo Racionais MC´s, na música
“Diário de um Detento”, narra os momentos que precederam o
Massacre do Carandiru:
São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do vigia
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 211
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de
uma HK
Metralhadora alemã ou de Israel
Estraçalha ladrão que nem papel
Na muralha, em pé, mais um cidadão José
Servindo o Estado, um PM bom
[...]
Amanheceu com sol, dois de outubro
Tudo funcionando, limpeza, jumbo
De madrugada eu senti um calafrio
Não era do vento, não era do frio
Acertos de conta têm quase todo dia
Tem outra logo mais, eu sabia
[...]
Avise o IML, chegou o grande dia
Depende do sim ou não de um só homem
Que prefere ser neutro pelo telefone
Ratatatá, caviar e champanhe
Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe!
Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo
Quem mata mais ladrão, ganha medalha de prêmio!
O ser humano é descartável no Brasil.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 212
Através do relato do detento compreende-se a realidade de
um presídio, no qual a punição direcionou-se ao sujeito, não ao
crime, uma vez que, os presos comuns, são, supostamente,
irrecuperáveis para a sociedade geral, que por sua vez, legitima a
realização de extermínio destes presos pelos agentes do Estado.
Conforme os sujeitos são incriminados, cria-se a noção de
que o crime é imanente a este sujeito, algo determinado e natural,
por isso, a aceitabilidade da sua morte. Portanto, “No limite da
sujeição criminal, o sujeito criminoso é aquele que pode ser morto.
(MISSE, 2010, p. 21). Estes “corpos matáveis” são apresentados
pelo MC Funkero, na cypher “Favela Vive 2”.
O futuro chegou e ainda usamos corrente
Escravizados através do tráfico de entorpecente
Nos empurram todo dia goela a abaixo
Ódio, medo, desespero e incentivo à violência
Dizem que somos bandidos
Mas quem mata usa farda e exala despreparo e
truculência
[...]
Quem é o inimigo? Quem é você?
Nessa guerra sem motivos e sem vencedor
Quem é o inimigo? Quem é você?
A bala perdida acha o outro sofredor
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 213
[...]
Nós já nascemos preparados pra morrer
Nos proibiram de sonhar, se foderam
Somos o monstro que vocês criaram, seu pesadelo
Essa porra é um campo minado
PM aplica pena de morte com aval do Estado
Quem tá certo? Quem tá errado?
Só sei que o alvejado é sempre o favelado
Quantos irmãos tombaram cedo demais
Favela vive sangrando implorando por paz, paz!
O crime não é algo que exista em si mesmo, provém de uma
relação social em que o acusador – partindo no primeiro momento
de uma moral, que posteriormente pode efetivar-se através de leis –
rotula enquanto desviante o acusado, segundo Becker (2008).
Nesse sentido, “a acusação social que constrói o criminoso”
(MISSE, 2010, p. 22), a música “Favela Vive 2” problematiza este
“rótulo de bandido” que é imposto aos moradores da favela, sendo
que, neste contexto são realizados assassinatos por agentes do
Estado, cabendo a estes moradores “prepararem-se para morrer”.
O processo de “sujeição criminal” efetiva-se na
incorporação de práticas criminosas pelo sujeito que até então era
rotulado como bandido, apropriando-se dessa tipificação e
assumindo este papel social, ou seja, o sujeito que é considerado
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 214
um criminoso em potencial pode se sujeitar ao crime, reforçando o
enquadramento que existia anteriormente a prática criminal.
O grupo Família IML, na música “Londrina Criminal”,
oferece um panorama de sujeitos que incorporaram as práticas
criminosas, nos trechos abaixo fica evidente esta relação de sujeitos
que são incriminados e exercem práticas criminais.
Na periferia miséria pede justiça
Isso é compromisso do governo que tem preguiça.
Moleque daqui que rouba só na chave micha.
Com 12 de idade no crime já fez sua ficha.
Adolescentes procuram pura adrenalina
Em motos e carros, assaltos nessa Londrina
Mete o revolver, se envolve, resolve na fita.
Vira traficante, assaltante tipo homicida.
[...]
Brinquedo assassino, quadradas e carabinas
E num tem medo não, a missão é fazer chacina
[...]
Ele tava com a biqueira na rua em andamento.
No tempo que não tava preso teu filho tinha sustento.
O tempo então passou e ele provou que o bang é monstro.
O crime é a cara dele porque ele é criminoso.
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Sempre matando, osso, monstro no calabouço.
Pilantra quando trombou ele logo arrancou o pescoço
O crime verdadeiro nem todos acompanhou.
O crime é pra quem é o crime, pra muitos nunca virou
Vem pra segunda capital, o crime deu aval Londrina é
criminal.
Onde o crime fecha é lindo de ver e o espaço é para
aquele que merecer
Este sujeito que incorpora crime, em virtude de uma
rotulação que antecede a prática criminal, está inserido no processo
de “sujeição criminal”, assim, “O rótulo “bandido” é de tal modo
reificado no indivíduo que restam poucos espaços para negociar,
manipular ou abandonar a identidade pública estigmatizada”
(MISSE, 2010, p. 23). Emergindo um sujeito egoísta, não
preocupado com o bem comum, sem medo, já que “a missão é
fazer chacina” conforme a letra da Família IML aponta. Desta
forma, este sujeito “[...] pode chegar, no limite, a assumir
publicamente sua identidade como “mau” ou se tornar inteiramente
indiferente ao status negativo que continuam a lhe atribuir”
(MISSE, 2010, p. 26).
Ainda sobre a música da Família IML afirma-se, “O crime é
a cara dele porque ele é criminoso” é exposta a subjetivação do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 216
crime, na qual o sujeito possui essa identidade criminal, em que a
crime não se limita a aparência, ou ainda, a rotulação – “o crime é a
cara dele”, mas atinge a essência desse indivíduo – “porque ele é
criminoso”, conferindo a ele uma “subjetividade peculiar”, um
“carisma de valor negativo” “que denota uma diferença que pode
ser interpretada por ele como de “superioridade moral”” (MISSE,
2010, p. 27). Essa “superioridade moral” atribuída ao sujeito
criminal ocorre conforme ele se diferencia dos demais, pois “pra
muitos nunca virou”, ou seja, o sujeito que emerge da “sujeição
criminal” é um ““sujeito-em-ruptura” com a ordem legítima
dominante” (MISSE, 2010, p. 30).
Este sujeito criminal é retirado do contexto social comum e
direcionado “a um lugar socialmente separado o “submundo”, a
“boca”, o “ponto”, o “antro” e, enfim, a “prisão” (MISSE, 2010, p.
31), e este “espaço é para aquele que merecer” conforme exposto
na música, ou ainda, é merecedor do espaço o sujeito que
incorporou o crime, possuindo assim uma “superioridade moral”.
Vale ressaltar, que este “lugar socialmente separado” tem
relação com a sociedade geral, Misse (2010) estabelece que os
símbolos, os códigos e as linguagens do submundo expandem-se ao
universo normalizado, evidenciando uma continuidade entre o (que
é considerado) desvio e a norma, portanto, o processo de “sujeição
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 217
criminal” encontra-se em expansão, disseminando-se no corpo
social.
Considerações finais
Considerando a expansão dos símbolos, dos códigos e das
linguagens do submundo ao universo normalizado (MISSE, 2010),
buscou-se, neste trabalho, analisar o processo de “sujeição
criminal” a partir das representações sociais da subcultura emitidas
nas letras de Rap do estilo “gangsta”.
Não foi aprofundada a noção sobre representações sociais
da subcultura, sendo necessário realizar em outra oportunidade.
Vale ressaltar que as letras das músicas oportunizam maior
compreensão acerca do conceito de “sujeição criminal” conforme
ofereceram as representações dos sujeitos que ora são
“simplesmente” incriminados, ora estão inseridos no processo de
“sujeição criminal”. Esses sujeitos enquadrados na categoria
“bandidos” se tornam “corpos matáveis”, tanto para a opinião
pública, quanto para o Estado, inviabilizando a consolidação de
uma sociedade democrática.
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BONECAS ABAYOMI: UMA FORMA LÚDICA DE
ENSINAR1
Juliana Machiner Buraicko2
Introdução
O presente artigo irá abordar alguns pressupostos a respeito
da teoria de ensino, e a importância da utilização de atividades
lúdicas em sala de aula como recursos que visam melhorar o
desempenho e interesse do estudante diante do conteúdo ensinado.
Cabe ressaltar que atividades lúdicas não se destinam
exclusivamente para alunos da educação infantil, mas funcionam
como um recurso que pode ser explorado por professores de todos
os níveis do ensino e em todas as disciplinas, inclusive em
sociologia, disciplina que sobreviveu a diversas interrupções na
grade curricular, tornando-se uma disciplina obrigatória apenas
recentemente. O resultado disso foi a aplicação de uma oficina de
produção das chamadas bonecas Abayomis, um recurso didático
utilizado na finalização da discussão da temática racial e da noção
de alteridade, com alunos do ensino médio em uma atividade
realizada através do Pibid de Sociologia.
1 Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes), entidade do governo brasileiro voltada para a
formação de recursos humanos. 2 Acadêmica do Curso de Ciências Sociais da Unioeste, Campus Toledo,
bolsista no programa Pibid- [email protected]
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 221
O lúdico na educação
O professor dentro do quadro educacional é um agente de
imensa importância. Quanto mais rica for sua vivência e sua
experiência em sala de aula, mais fácil e satisfatório será o
desempenho de sua prática docente. Nóvoa (1991), afirma que não
é possível construir um conhecimento pedagógico para além dos
professores, isto é, que ignore as dimensões pessoais e profissionais
do trabalho docente. O professor não é o único responsável pelo
sucesso da educação, mas é uma peça fundamental desse quebra-
cabeça. A educação, segundo Demerval Saviani em “Escola e
Democracia” (SAVIANI, 2000b), é como uma atividade mediadora
no seio da prática social global. Assim, a educação é entendida
como instrumento, como um meio ou uma via através da qual o
homem se torna plenamente homem apropriando-se da cultura, isto
é, a produção humana historicamente acumulada. O professor
desempenha o papel de mediador da prática social global, é a ponte
entre o conhecimento e o estudante. Cabe a ele não apenas mostrar
uma possível visão de mundo que considere como correta, mas sim
tornar seus alunos pessoas conscientes de si e ensiná-los a
realizarem as suas próprias escolhas de acordo com aquilo que
considerem adequado. Não apenas ensinar, mas é mostrar como
encontrar o caminho que entendem melhor para si. A educação
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 222
pode ser considerada a responsável por instaurar a humanidade no
homem. Por meio dela o homem aprende a se sobrepor à natureza,
aprendendo a superá-la e a modificá-la, adaptando-a conforme suas
necessidades e vontades; capacidade que diferencia o homem dos
demais animais.
O objetivo central do professor em seu papel como
educador, seja qual for o local em que lecione, é que seus alunos
atinjam ao menos o percentual mínimo necessário de compreensão
do conteúdo que é exigido pela instituição. No entanto, essa não é
uma tarefa simples, uma vez que o processo é repleto de
obstáculos, que dificultam de diversas maneiras a obtenção do
resultado desejado. Esses obstáculos podem ser tanto externos
quanto internos, como: interesse por determinado conteúdo em
detrimento de outro, limitações sociais e de acesso a informações.
Acabam muitas vezes, desencadeando a falta de interesse do aluno
pelo conteúdo trabalhado. Problemas como esse fazem parte do dia
a dia enfrentado por muitos educadores dentro da sala de aula; e
fazem uma conexão com uma problemática importante: a
motivação. O ato de incitar e motivar nos alunos o desejo e a sede
de aprender, utilizando para isso, alguns recursos diferenciados ou
novas formas de abordagem é o ponto fundamental do desafio da
didática do professor e a motivação está intimamente relacionada
com a tão almejada disciplina em sala de aula (alunos comportados,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 223
concentrados e preocupados em aprender). Ou seja, costuma-se
fazer uma relação direta entre motivação e um comportamento
mais disciplinado, no entanto “silêncio” em sala de aula nem
sempre é sinônimo de aprendizado, uma vez que este ocorre
também e principalmente na participação ativa e atuante dos
estudantes em sala de aula, compartilhando opiniões e escutando a
dos seus colegas, essa participação é resultado da chamada
aprendizagem significativa (SOUZA et all., 2013).
O ambiente cultural assim como o natural também se impõe
ao individuo desde seu nascimento. Desde seu nascimento o
individuo já se defronta com um mundo cuja linguagem, crenças,
costumes, já estão definidas. Além das pessoas que farão parte de
seu círculo de convivência, que através desse contato exercerão
influência na formação desse indivíduo e consequentemente
também do resultado final da aprendizagem, um ambiente
motivador faz-se necessário para se colher bons frutos. No processo
educacional, assim como em outros aspectos da vida, os seres
humanos são resultado das relações que mantém com outros
indivíduos e também do meio no qual foi socializado. Desse modo,
suas experiências pessoais o transformam nesse ou naquele outro
sujeito.
Para o psicólogo norte-americano Carl Ransom Rogers,
criador da chamada Teoria Humanista, cujo foco da educação está
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 224
no estudante, o aprendizado é algo individual que leva em conta o
caráter subjetivo de cada indivíduo, sendo o contexto e
experiências pessoais importantes no processo de aprendizado, o
que o estudante irá aprender faz parte ou é relevante dentro da sua
realidade (Souza et alli, 2013). Carl Rogers nos apresenta em sua
teoria um conceito importante: a aprendizagem significativa,
definida como um processo auto iniciado de descoberta e
compreensão, que tem a qualidade de um envolvimento da pessoa
como um todo, tanto no aspecto cognitivo quanto no sensível,
modificando tanto o comportamento quanto as atitudes, e até
mesmo a personalidade do educando, que passa a significar a
experiência como um todo, a partir de um lócus de avaliação que se
encontra nele mesmo (MACÊDO, 2000). A aprendizagem só faz
sentido quando abrange um todo (cognição, percepção, afetividade,
emoção) e não apenas a relação restrita entre o conteúdo que é
transmitido de forma mecânica e a finalização com a aplicação de
alguma avaliação. É muito mais que isso, é necessário um total
envolvimento do aluno no processo. Sendo a motivação um fator
de extrema relevância dentro do processo, cabe ao professor se
preocupar com essa questão e procurar sempre novas maneiras de
motivar nos estudantes. Nesse sentido, as atividades lúdicas, são
exemplos de atividades que podem ser aplicadas para tornar essa
tarefa menos árdua.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 225
Diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos,
principalmente na área da educação infantil, sobre importância de
se trabalhar com o lúdico em sala de aula. E isso se deve à sua
importância para o desenvolvimento da criança nessa fase da sua
vida. O lúdico é uma ferramenta que transforma o aprendizado em
algo mais prazeroso e estimulante para o estudante, na medida em
que esse tipo de atividade difere do modelo básico de ensinar, ainda
muito utilizado por muitos profissionais da área. As pesquisas
apontam para a problemática do interesse do aluno e afirmam que
tais atividades despertam a atenção do estudante para aquilo que o
professor irá ensinar. O aprendizado motivado pela alegria e
vontade aprender, deve ser mais aprofundado, pois são inúmeras
suas vantagens. Desta maneira, o lúdico é muito mais do que
apenas um passatempo, uma brincadeira ou um divertimento sem
um objetivo estruturado, como definem alguns/pensam. Logo, a
técnica, deve ser pensada com mais atenção, uma vez que a
educação lúdica proporciona ao estudante uma forma de ver o
mundo diferente: não apenas como um mero expectador, mas dá a
ele o papel de indivíduo atuante e criador de sua própria história,
(uma vez que) estimula a sua autonomia frente aos obstáculos que
possam aparecer, estimulando-o a agir. Mas, afinal, o que é uma
atividade lúdica? Uma atividade lúdica é basicamente uma
atividade que visa o entretenimento, o divertimento; que
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 226
proporciona prazer para as pessoas envolvidas; remete a jogos a
brincadeiras que potencializam a criatividade e a capacidade
intelectual do indivíduo.
Traduzindo do latim, lúdico significa brincar. Porém, para
alguns autores a palavra está relacionada ao jogo. Talvez aí esteja
uma das causas de o lúdico ser visto com maus olhos por alguns
profissionais, pois jogo remete a uma brincadeira e muitos não
acreditam que possa ser possível a relação entre aprender e brincar
ao mesmo tempo; como se o aprendizado fosse sinônimo de
seriedade e disciplina, pois veem o ensinar somente como algo
sério, rígido. A ludicidade, portanto, entra no espaço da
aprendizagem como um recurso integrador e facilitador do
processo. O lúdico possui origem em várias áreas do conhecimento,
sendo o jogo também passível de ser analisado por diferentes
perspectivas. Comentamos que ele é frequentemente relacionado ao
jogo, mas afinal, o que é o jogo? Segundo Huizinga (1990), o jogo
é uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro de certos e
determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras
livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias e dotados
de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentido de tensão, de
alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana.
O jogo não é uma mera brincadeira que não apresenta
limites e pode ser praticado de qualquer maneira, mas sim algo
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 227
planejado e estruturado. Atividades lúdicas como os jogos estão
mais voltadas para a educação infantil, porém, o ensino lúdico não
deixa de ter importância também nas outras fases de ensino,
inclusive durante o ensino médio. Se já é árdua a tarefa de captar a
atenção de uma criança, imagine grande é o desafio de conseguir a
atenção e se fazer ouvir por adolescentes que, de certa forma, já
possuem uma opinião formada e que não hesitam em mostrar suas
insatisfações perante aqui que não lhes agrada. Alunos com
vontade de aprender, compenetrados e com vontade de ir para a
escola, pois consideram esse espaço como algo de grande valia, é o
desejo de muitos professores. Por isso, cabe a eles tornar esse
desejo uma realidade. Mas, o que eles estão fazendo para isso
acontecer? Afinal, não se consegue ensinar aquele que não quer
aprender. É de suma importância que os professores assumam suas
responsabilidades frente a esse fato.
O lúdico proporciona para aquele que o realiza uma
vivência plena de experiência, na qual ele se encontra totalmente
presente, utilizando-se de sua total atenção para o momento, é algo
interno que tem sua exposição no exterior, algo relacionado ao
estado de espirito do praticante que está totalmente envolto e
absorvido pelo momento, proporcionando uma vivência plena. Por
meio dele é possível melhorar a aprendizagem do estudante, seu
desenvolvimento pessoal, mental, simplificando o processo de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 228
socialização do indivíduo e a construção do seu conhecimento. A
atividade lúdica pode ser pensada também em certos aspectos
subjetivos que retratam emoções; sentimentos, que são difíceis de
serem descritos de forma absoluta devido ao fato de serem
subjetivos, mas que causam uma sensação de bem-estar. Podemos
partir, portanto para essas implicações das atividades lúdicas na
vida escolar e pessoal de nossos estudantes. O lúdico está
relacionado à espontaneidade e criatividade e também a liberdade
dos estudantes. O que nos vem à cabeça quando pensamos em
atividades lúdicas? Geralmente a imagem que isso nos transmite
são a de atividades que podem ser realizadas ao ar livre,
brincadeiras, atividades que exigem espontaneidade por parte dos
estudantes, não se relacionando apenas a infância, são atividades
que promovem o desenvolvimento, portanto, podem estar presentes
também na vida adulta. Ela pode ser direcionada para crianças,
jovens, adultos dependendo apenas da forma como é realizada e os
seus objetivos. Atualmente o lúdico desempenha o papel de
transformar a forma de ensinar em algo mais descontraído e que
proporcione prazer. É uma forma de aprender brincando. E como
envolve não apenas o indivíduo, mas também sua objetividade
confere a esse tipo de aprendizagem um caráter significativo.
O lúdico pode e deve estar presente em todas as fases da
vida do estudante muito mais como uma necessidade do ser
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 229
humano do que somente uma brincadeira. Durante o ensino médio,
por exemplo, as atividades de caráter lúdico que serão
desenvolvidas serão diferentes daquelas utilizadas por professores
dos primeiros anos iniciais, visto que os objetivos são diferentes. O
lúdico traz para o ensino e aprendizado o prazer na construção dos
conceitos e no desenvolvimento intelectual dos jovens, além de
colaborar para a aprendizagem como um todo. Alguns professores
atingem um percentual maior de conquistas dentro de sala de aula
ao reconhecerem a importância da utilização de atividades lúdicas
em suas metodologias.
O ensino de Sociologia
Para iniciarmos a discussão acerca do ensino de sociologia,
considero importante falarmos um pouco de sua trajetória enquanto
disciplina. Além de entender do que trata a sociologia, seus
pressupostos, seus objetivos, precisamos ter clareza sobre quais são
as bases que norteiam o ensino da disciplina.
A Sociologia enquanto disciplina se constituiu oficialmente
com Emile Durkheim, considerado seu pai fundador. Durkheim foi
o responsável por ministrar o primeiro curso de Sociologia em
Bordeaux, na França, marco importante na história da disciplina. A
sociologia, segundo Martins (1984), constitui em certa medida uma
resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução
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industrial. Alguns de seus temas de análise e de reflexão foram
retirados das novas situações, como, por exemplo, a situação da
classe trabalhadora, o surgimento da cidade industrial, as
transformações tecnológicas, a organização do trabalho na fábrica
etc.
Porém, aqui no Brasil a sua instituição como uma disciplina
cientifica ocorreu bem mais tarde, como nos mostra Enno D.
Liedke Filho, 2005:
A institucionalização acadêmica da Sociologia no
Brasil ocorreu em meados da década de 1930, com a
criação da Escola Livre de Sociologia Política de
São Paulo (1933) e com a criação da Seção de
Sociologia e Ciência Política da Faculdade de
Filosofia da Universidade de São Paulo (1934). As
tentativas, de relacionar o ensino e a pesquisa em
Sociologia, ainda que limitadas e parciais em ambas
as instituições, demarcam o início da chamada etapa
da Sociologia Científica, a qual viria a ter seu
apogeu em fins dos anos de 1950 (LIEDKE FILHO,
2005. p. 382).
Um longo caminho, porém, foi percorrido até a Sociologia
conseguir atingir o status de disciplina obrigatória no currículo
básico do ensino médio brasileiro, repleto de dificuldades e
frequentes fases de interrupções. A sua institucionalização como
disciplina obrigatória no currículo do Ensino Médio é algo muito
recente, compreendendo um período de menos de um século, sendo
oficialmente disciplina obrigatória em todas as séries do Ensino
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 231
Médio apenas em 2008, por meio da Lei 11.684 de 2008. A
discussão acerca da sociologia como componente obrigatório no
currículo escolar passou por diversos altos e baixos, como o
ocorrido em 2001 quando o sociólogo e então presidente da
republica, Fernando Henrique Cardoso, que vetou o projeto
aprovado pelo Congresso Nacional que estabelecia o retorno das
disciplinas de Sociologia e Filosofia no currículo do Ensino Médio.
Eventos como esse trazem uma explicação para o fato do baixo
interesse dos estudantes e pesquisadores em relação à sociologia. A
maior parte dos artigos e estudos produzidos abordam a sociologia
analisando apenas a sua difícil trajetória, enquanto apenas alguns
escassos estudos abordam questões importantes como as discussões
metodológicas, os diálogos a respeito de seus conteúdos
estruturantes e sua bibliografia básica a importância das formações
para melhorar o desempenho desses profissionais em sala de aula.
É importante compreendermos também do que se trata essa
matéria. O questionamento a respeito do que é a sociologia é feito
constantemente pelos estudantes do Ensino Médio, principalmente
por aqueles alunos dos anos iniciais, É de fundamental importância
que o professor consiga definir de uma maneira satisfatória a sua
disciplina frente aos alunos, assim se espera de um professor de
biologia, por exemplo. Mas, ao contrário da biologia, a sociologia
ainda é marcada por um “mistério”; não se tem ao certo uma
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 232
definição específica do que seja essa disciplina. Consequentemente
isso aumenta o desinteresse por parte dos alunos com a disciplina,
pois todos gostamos de saber com aquilo que iremos lidar.
A Lei 11.684 de 2008 trouxe o suprimento do inciso III do §
1º do artigo 36 da LDB, que transfere à disciplina de sociologia a
responsabilidade da formação para a cidadania. Segundo esse
inciso, caberia às disciplinas de sociologia e filosofia, até o final do
Ensino Médio, ensinar aos estudantes os conteúdos considerados
necessários para o exercício da cidadania, bordão esse que continua
sendo muito difundido quando se fala na sociologia e no seu caráter
transformador da sociedade. O inciso da LDB foi suprimido, no
entanto, discursos como esse continuam sendo disseminados, o que
torna mais difícil a tarefa de superarmos o “ensinar para a
cidadania” e avançamos para uma discussão mais aprofundada a
respeito das metodologias e dos conteúdos essenciais a serem
trabalhados. Importante ressaltar também, o fato comumente
atribuir a à cidadania um caráter pré-estabelecido dentro da
sociedade do qual o indivíduo não participará do processo de
constituição, mas que será formado a partir desses moldes por meio
do Ensino Médio e, ao final, estará capacitado para exercê-la caso
tenha aprendido os conteúdos considerados necessários, retirando,
assim, o caráter de participação ativa do cidadão no processo de
formação da cidadania. Esse cidadão pensado/idealizado a partir de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 233
uma imagem formada pela classe dominante e de acordo com os
interesses dessa classe, no sistema atual de produção em que
vivemos: o sistema capitalista. Nesse sistema, cujo objetivo
principal é o lucro, os cidadãos que serão formados deverão se
enquadrar nessa realidade. Ou seja, os cidadãos preparados a que se
referem são aqueles que o mercado de trabalho necessita e que irão
fazer girar a máquina da economia e a manutenção do sistema.
Mas afinal, do que se trata a sociologia uma vez que é
considerado equivocado analisá-la como uma formadora de
cidadãos? A sociologia em si é algo contraditório: para alguns é
como uma arma que se presta a determinada classe (a dominante)
para divulgar seus ideais e interesses; para outros, é uma expressão
dos movimentos revolucionários, é considerada também um
disfarce para a revolução e a teoria marxista. Podemos, portanto,
considerar a sociologia uma disciplina responsável por trazer
reflexões sobre a sociedade, sua realidade e conflitos sociais.
A sociologia é, primeiramente, uma ciência que possui uma
linguagem própria. Ela estuda o indivíduo e o comportamento
humano, dando sentido as suas ações com relação ao meio social e
natural no qual está inserido; e também em relação às associações e
grupos de pessoas com as quais estabelece vínculos, observando e
analisando de uma forma crítica essa interdependência entre os
indivíduos. Desse modo, os conhecimentos de sociologia são em
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 234
grande medida, necessários na vida cotidiana das pessoas, uma vez
que colaboram para uma melhor compreensão dessas relações com
as quais se deparam diariamente e que são frutos dessas relações
sociais.
É importante, que o professor consiga deixar claro que o
objetivo da disciplina não é “formar cidadãos”. Tampouco se
limitar apenas ao ensino de conceitos e teorias das ciências sociais.
Mas que sua importância consiste em seu caráter prático na vida
dos estudantes, em poder explicar o papel do indivíduo dentro da
sociedade e de provocar um estranhamento nesse indivíduo,
possibilitando, assim, que este questione a sua condição, a sua
realidade de forma mais crítica e autônoma.
O ensino de sociologia se baseia em alguns conceitos que
orientam a prática de ensino, como o conceito de
“desnaturalização” e o de “estranhamento”, presentes na
Orientação Curricular Nacional (OCN) de Ciências Humanas.
Podemos, ainda, acrescentar também um terceiro conceito que
remete a Antropologia: o conceito de “alteridade”.
Continuamos a discussão abordando a questão da
“desnaturalização” dos processos e fenômenos sociais, um dos
principais papéis vivenciados dentro do pensamento sociológico.
Mas o que significa desnaturalizar? Quem afinal nunca ouviu que
determinada coisa é assim por que é “natural” ao se referirem a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 235
determinado fato? Há uma tendência muito comum que deve ser
evitada a todo custo pelos sociólogos: o de naturalizar as coisas
sem fazer uma reflexão sobre os fatos. Costumamos dar algumas
explicações já naturalizadas para determinados fenômenos e fatos,
tomando-os (como (verdadeiros e imutáveis) algo natural e
imutável. Como se isso sempre fora assim, negando, desse modo,
sua historicidade, sua volatilidade e também os motivos que os
levaram a ser dessa forma. Esquecendo, muitas vezes, que são
realizações humanas e que, portanto, estão sujeitas a modificações
(constantes). Assim como a cultura, que não é estática e (está em
constante movimento e transformação. Outro papel desempenhado
pela sociologia é o “estranhamento”. Estranhar é olhar e analisar
fatos corriqueiros do nosso dia a dia, para os quais não damos
muita importância. É olhar de modo diferente do habitual,
procurando descobrir as suas reais causas e explicações, por mais
banais que possam parecer. É um olhar mais atento e que leva em
consideração as explicações para determinado fato, sem aceita-lo
porque simplesmente é assim, mas procurar uma explicação
racional. Por exemplo: até mesmo o surgimento de um arco-íris
apresenta uma explicação científica, portanto, devemos entender
que para tudo há uma explicação e esta deve ser buscada pelo
sociólogo. Ao “estranhamento” e à “desnaturalização”, Parmigiani
e Dombrowski (2013) acrescentam outra noção que não consta nas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 236
OCNs, mas que é de suma importância: a noção de “alteridade”. A
alteridade é poder olhar o outro e enxergá-lo em suas diferenças, de
maneira não valorativa; sem atribuir-lhe uma escala de
importância. Existem milhares de culturas diferentes, cada uma
com suas particularidades e valores, que vivenciam realidades
diferentes. Cada uma delas é fruto de uma transformação histórica
própria. Assim, alteridade é aprender a olhar esse outro, conseguir
se enxergar nele e aprender a lidar com essas diferenças.
Por que trabalhar com as abayomis?
Como já mencionamos no capítulo anterior há uma grande
necessidade de se trabalhar a noção de alteridade dentro da
disciplina de sociologia. Desta forma, podemos fazer uma junção
com a temática do preconceito racial, abordando as suas origens e
implicações atuais. Entendemos que discussões como essa são
importantes diante da realidade brasileira e também de diversos
países; pois há uma enorme relutância por parte dos brasileiros em
admitir que de fato, somos um povo racista. O processo de
miscigenação ocorrido na formação do povo brasileiro, que
resultou em um país formado por uma grande mistura de raças,
trouxe a falsa ideia de uma democracia racial, como se a
miscigenação fosse indicativo de que somos um país inclusivo e
sem preconceitos.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 237
O que ocorre no Brasil é uma dificuldade das pessoas de se
admitirem preconceituosos. Mesmo que suas ações e atitudes
inconscientes demonstrem ao contrário, sua prática é sempre
atribuída a outrem. Quem nunca ouviu alguém falar “eu não sou
racista, mas conheço alguém que é”? É difícil negar que não existe
racismo no Brasil. O que ocorre é que muitas vezes esse racismo
vem disfarçado e não acontece de uma maneira explícita,
dificultando sua identificação. É o chamado preconceito/racismo
velado, que causa tantos danos quanto se fosse mais manifestado.
Vivemos, portanto, uma falsa ilusão de democracia racial, como se
todos fossem tratados da mesma forma, sem exclusões.
O racismo nada mais é do que resultado de um processo
histórico de exploração da mão-de-obra dos povos africanos pelos
colonizadores, que remete aos tempos da escravidão: os povos
negros foram sequestrados, arrancados de suas raízes força no
século XVI, sofrendo assim uma brusca ruptura com suas culturas e
identidades, sofrendo diversos tipos de violência física, psicológica
e todo tipo de humilhações às quais foram submetidos. Inclusive de
perderem o direito de fazer escolhas por conta própria e o direito
sobre a sua própria vida. Os negros capturados no continente
africano eram transportados de navio até o continente americano,
os chamados navios negreiros. Muitos não conseguiram suportar a
difícil travessia e acabaram morrendo antes de aportarem no Brasil;
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 238
aqueles que conseguiam chegar com vida eram torturados,
vendidos como mercadoria e obrigados a trabalhar nas
propriedades rurais de seus donos.
O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão.
Chegou a ter a maior parcela da sua população constituída por
escravos negros. Mesmo após a abolição, não conseguimos nos
livrar totalmente dessa herança de violência e preconceitos
cometidos contra a população negra. Mesmo após a maior
implementação de políticas de cotas que visam ressarcir aos negros
seus direitos básicos, estes ainda são delegados aos cargos mais
subalternos, com menor remuneração que continuam a legitimar
seus lugares junto à pobreza. Além do difícil acesso a uma boa
educação, o que contribui ainda mais para a manutenção das
desigualdades entre negros e brancos.
A discriminação racial é caracterizada por atitudes
preconceituosas e discriminatórias de indivíduos que consideram a
sua etnia superior em relação às outras. Consiste em inferiorizar
alguém por ser de outra cor ou etnia, com a finalidade de impedir
ou dificultar o exercício de igualdade. Já o preconceito se refere à
discriminação, porém ele não é exteriorizado. Mas o que isso tem a
ver com a noção de alteridade? Pois bem, entender a alteridade é
saber respeitar o outro em sua diversidade. Portanto, alguém que
age de forma discriminatória com relação a outrem, não está
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 239
respeitando o fato de não sermos todos iguais e de que o diferente
existe e convive no meio de nós. A escola como um espaço de
formação dos estudantes deve se comprometer em ensinar os seus
alunos a relação entre a pluralidade de culturas existentes e a
tolerância, respeito e aceitação do diferente. O preconceito está
presente em nossa sociedade também por meio de estereótipos e
frases populares de cunho racista, como “negro é igual urubu, só
presta longe”, “a coisa tá preta”, “serviço de preto” entre outros.
As bonecas abayomi
Como já mencionado ao longo desse artigo, é importante
para os professores desenvolverem o hábito de levar para a sala de
aula atividades lúdicas, pois suas vantagens vão desde melhorar a
relação professor/aluno até mesmo facilitar a assimilação dos
conteúdos pelos estudantes, tornando a aula mais prazerosa,
retirando-os da monotonia causada pelas aulas exclusivamente
expositivas. Mencionamos que é interessante também se discutir
dentro da disciplina de sociologia a noção de alteridade e suas
implicações, aliando-a com a discussão da temática racial.
Decidimos então conciliar as duas coisas em uma agradável oficina
de produção de bonecas Abayomi. Essa oficina foi voltada para
estudantes do ensino médio, uma turma de 3° ano matutino. Essa
oportunidade nos foi proporcionada por intermédio do Pibid de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 240
sociologia - Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência, cuja verba custeou a compra de todo material utilizado
na oficina.
As bonecas Abayomis são pequenas bonecas negras feitas
de pano. Simbolizam a resistência, tradição e poder feminino
negro: Abayomi em ioruba significa “encontro precioso”. Possuem
uma história bem interessante, pois originam-se nos “pedaços de
panos das roupas das mães africanas, que as utilizavam para
diminuir o sofrimento de seus filhos nos navios negreiros”
(PERINI, BELLÉ, 2011, P.680) durante o transporte dos negros da
África para o Brasil. Levar as Bonecas Abayomis para sala de aula
foi uma forma encontrada para também mostrarmos aos alunos um
pouco da cultura dos povos africanos e uma das formas de
resistência encontrada por essas mulheres na tentativa de amenizar
o sofrimento de seus filhos.
Desenvolvemos a oficina como um recurso didático para
encerrarmos o conteúdo que trata do preconceito étnico-racial, e
também como uma forma de demonstrarmos a valorização da
cultura africana como parte de nossa herança cultural.
Passo- a- passo para fazer uma boneca Abayomi conforme
ensinado para os alunos:
Materiais:
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 241
• Um retângulo em tecido preto de 24x12 cm;
• Um retângulo preto de 24x5cm;
• Um retângulo em tecido colorido com 14x8 cm;
• Duas tiras de tecido finas e coloridas.
Como fazer:
• Primeiro deve-se pegar o retângulo maior e segurar bem firme
umas das pontas;
• Depois dê um nó, deixando para cima do nó uma pequena ponta;
• Dobre a parte de baixo que sobrou ao meio e faça nela um corte
até a metade do tecido, mais ou menos, para fazer as perninhas da
boneca;
• Dê um né em cada perna, se o nó ficar no meio, puxe até ficar na
ponta;
• Agora pegue o outro retângulo preto e dobre ao meio no sentido
de seu comprimento duas vezes;
• Coloque a tira atrás da boneca e dê um longo nó abaixo da
cabeça;
• Dê um nozinho na ponta de cada braço;
• Peque o pedaço de pano colorido e dobre ao meio duas vezes;
• Corte a pontinha da dobra;
• Vista sua boneca e amarre com uma fitinha na cintura e outra na
cabeça da boneca.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 242
Agora presenteie alguém com a sua Abayomi, ela irá
proporcionar sorte para aquele que a receber.
Considerações finais
O presente trabalho teve como objetivo demonstrar a
importância de realizar atividades mais diferenciadas em sala de
aula, enxergando o lúdico como uma alternativa para fugir da
monotonia causada por aulas puramente expositivas e tornado
assim a aula mais dinâmica e prazerosa para os estudantes. As
vantagens de se trabalhar com o lúdico são inúmeras, elas vão
desde a melhoria da atividade cognitiva ao aumento de seu
interesse perante aos conteúdos ensinados etc., além de
funcionarem como um potencializador de aprendizado. Embora o
lúdico seja associado ao jogo, à brincadeira, não são atividades
desprovidas de proposito, realizadas apenas para divertir os
estudantes, pelo contrário, apresentam objetivos definidos como
auxiliar no aprendizado dos estudantes e colaborar com o professor
como um recurso metodológico, podendo ser utilizado como
recurso didático em todas as fases do ensino, e não somente no
campo da educação infantil, auxiliando até mesmo nas aulas de
sociologia.
Tendo em vista as vantagens de se trabalhar com o lúdico
em sala de aula, resolvemos utilizá-lo nas aulas de sociologia por
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 243
intermédio do Pibid de Sociologia, com a realização de uma oficina
de produção das bonecas negras Abayomi. A atividade foi realizada
na turma de 3° matutino com o objetivo de ensinar a respeito da
cultura africana, mostrando uma forma de valorização dessa
cultura. Pudemos constatar por meio dessa oficina que ela
melhorou a forma como os alunos enxergavam aquilo que provém
da cultura africana, provocando neles um sentimento de respeito e
tolerância com relação a cultura negra. Outro fato interessante é
que os alunos (meninos e meninas) “brincaram” de boneca de uma
maneira totalmente desprovida de preconceitos, levando em
consideração que as bonecas são atribuídas socialmente as
meninas, sendo os meninos desde pequenos privados de
brincadeiras que as envolvam, utilizaram assim toda a criatividade,
rompendo com o preconceito de gênero. Conclui-se, portanto, que
essas atividades enriquecem cada vez mais as atividades dos
docentes e devem ser utilizadas sem receio pelos professores como
uma ótima ferramenta auxiliar em suas aulas.
Referências
BRASIL. Lei nº 11.684. Altera o art. 36 da Lei n. 9.394, de 20 de
Dezembro de 1996, para incluir a Filosofia e a Sociologia como
disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio.
Brasília, Presidência da República, 02 jun. 2008.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 244
BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares para
o Ensino Médio – v. 3, Ciências Humanas e Suas Tecnologias.
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HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 1990.
LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e
desafios. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 14, jul/dez 2005, p.
376-437.
MACÊDO, S. M. de. Psicologia Clínica e Aprendizagem
Significativa: Relatando uma Pesquisa Fenomenológica
Colaborativa. IX Encontro Nordestino da Abordagem Centrada na
Pessoa. Valença/BA, 21 a 25 de abril de 1999.
MARTINS, B. C. O que é Sociologia. Brasiliense, 1984.
PARMIGIANI, J.; DOMBROWSKI, O. O Alfabetismo
Sociológico: Uma Contribuição para o Debate sobre o Ensino de
Sociologia. Tempo da Ciência, v. 20, n. 40, 2° semestre de 2013.
PERINI, J.; BELLÉ, L. Bonecas Abayomi e Duchamp: reflexões
multiculturais a partir de um currículo inclusivo. In: Anais do
Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes
Plásticas. GERALDO, S. C.; DA COSTA, L. C. (org.) - Rio de
Janeiro: ANPAP, 2011.
SAVIANI, D. Escola e democracia, 33. ed. Campinas, Autores
Associados, 2000.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 245
SOUZA, M. V. L.; LOPES, E. S; SILVA, L. L. da. Aprendizagem
significativa na relação professor-aluno. Revista de C. Humanas,
Viçosa, v. 13, n. 2, p. 407-420, jul./dez. 2013.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 246
A ARQUEOLOGIA DO DISCURSO NAS RESENHAS DE
NOTÍCIAS DO GRUPO PIBID DE SOCIOLOGIA1
Marco Antonio Arantes2
Introdução
Quando o subprojeto de Ciências Sociais iniciou suas
atividades em 2014, foi colocado em prática às primeiras propostas
colocadas no plano de trabalho do projeto original, cujo foco era a
inserção dos bolsistas no ambiente escolar e a gradual iniciação à
docência, relevando o treinamento de oficinas de Sociologia que
seriam realizadas nas escolas do Ensino Médio selecionadas pelo
projeto.
Duas dimensões seriam exaustivamente exploradas pelos 23
bolsistas e 3 supervisores selecionados para iniciar o projeto: a
ideia de estranhamento e a desnaturalização do conhecimento. Para
isso, elegemos as publicações advindas de diversas mídias como
matéria prima nas problematizações em sala de aula.
Essa atividade seria o ponto de partida para várias
problematizações no campo da Sociologia, Antropologia e Política.
E os temas escolhidos pelos bolsistas foram os mais diversos. Na
1 Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes), entidade do governo brasileiro voltada para a
formação de recursos humanos. 2 Coordenador do subprojeto Pibid de Ciências Sociais/ Campus de Toledo
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 247
maioria das vezes, eram temas atuais que incitavam o debate, desde
crimes comuns do cotidiano das grandes cidades às questões
ligadas a arte, gênero, política, trabalho, movimentos sociais, enfim
temas que estavam sendo veiculados na mídia impressa e
eletrônica.
O projeto tinha como meta explorar o discurso e as novas
demandas nos processos de comunicação e que promovem novas
percepções do mundo. De certa forma,
[...] a virtualidade das novas mídias está acarretando
novas maneiras de aprender e de ensinar, nas quais
as dimensões de tempo e espaço são percebidas
como mais flexíveis e mutáveis e a imensa
quantidade de informações é transmitida
velozmente, desafiando, portanto, a educação a ter
um novo papel e pensar novas práticas para novas
demandas” (OLIVEIRA; COSTA, 2009, p. 157).
Inicialmente intitulado de “Resenha de Notícias”, é
considerada a principal atividade metodológica no projeto,
concomitante ao desenvolvimento de regências e oficinas nas
escolas do Ensino Médio. A dinâmica de apresentação de uma
notícia em sala de aula foi sobretudo aproveitada por bolsistas
iniciantes no projeto e com pouca experiência em sala de aula, que
são acompanhados por bolsistas mais experientes e por seus
supervisores. O objetivo era fazer o aluno desenvolver um conceito
e/ou teoria sociológica tendo como referência uma notícia de jornal
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 248
escolhida pelo próprio bolsista ou pelos estudantes. Até mesmo foi
criado um portal de notícias para que os estudantes sugerissem
notícias para as próximas aulas. O tempo de desenvolvimento entre
dez aos vinte minutos, possibilitaria nessa fase inicial um
aprendizado necessário para aulas didáticas mais elaboradas e com
um tempo mais prolongado. Embora fosse estipulado um tempo
para a realização da atividade, na maioria das vezes as discussões
se estendiam para além do previsto.
Para colocá-la em prática optamos por reuniões semanais
nas escolas entre supervisores e bolsistas que foram divididos nas
três escolas selecionadas pelo projeto. As reuniões partiam do
princípio de organização das atividades e distribuição das duplas,
visto que optamos por aulas ministradas em duplas e não apenas
aulas individuais. Era uma forma de dinamizar as aulas e não
sobrecarregar as aulas de Sociologia dos supervisores e uma forma
de flexibilizar o acesso do bolsista que estava iniciando suas
atividades, muitas vezes inseguro para ministrar um tema com uma
sala lotada de alunos. Era um facilitador, mas ao mesmo tempo um
elemento importante na sua aprendizagem e metodologicamente
pensado para o melhor desenvolvimento dos conteúdos e postura
em sala de aula.
É importante ressaltar que notícias de jornais não
substituem os livros, conceitos, teorias e temas, muito menos visa
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 249
impossibilitar que o bolsista desenvolva futuras regências
individuais, embora incite discussões sobre o alcance das teorias
para o entendimento da atualidade.
Um ponto de partida das resenhas é trabalhar com notícias
de jornais, questionando o senso comum e as ideias contidas por
trás do discurso, utilizando categorias sociológicas. Afinal, todas as
ideias são ideias feitas? Como acontece a construção das ideias? O
que existe por trás de um discurso jornalístico? Há interesses
políticos, econômicos e morais incrustrados em tais discursos?
Quais os limites do senso-comum? O senso comum está
completamente afastado da ciência? Todo discurso é inerente a
uma mentira e a uma mistificação? Por que é tão importante
reinterpretarmos notícias de jornais?
Ocupo-me da concepção foucaultiana sobre discurso para
iniciar uma discussão sobre a importância da análise dos discursos
em sala de aula. Foucault compreende a dificuldade de uma
definição precisa de discurso. Mas o que Foucault entende por
discurso? Em “Arqueologia do Saber” (1969), ele ensaia uma
pequena definição de discurso, “ora domínio geral de todos os
enunciados, ora grupo individualizável de enunciados, ora prática
regulamentada dando conta de um certo número de enunciados”
(FOUCAULT, 1987, p. 90).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 250
Uma teoria sociológica pode concordar e discordar das
premissas de um discurso. Pode discordar e criticá-las. Mas o ponto
não passa apenas por uma concordância. Seu ponto chave é
estimular um debate fazendo uso de categorias sociológicas,
antropológicas e políticas apresentadas nas disciplinas do curso de
Ciências Sociais.
O objetivo é desconstruir o discurso. Ao mencionar o termo
desconstrução do discurso refiro-me aos enunciados que estão em
suas entrelinhas. Até mesmo o sujeito do discurso pode estar em
suas entrelinhas e nem sempre ele se revela. Ele, no entanto, pode
dar um novo sentido ao que foi dito, escrito, pintado ou
gesticulado. Há várias formas de linguagem do discurso que pode
incitar interlocuções. Em um discurso pode haver uma defesa
corporativa de uma classe social, de uma minoria, de uma etnia, de
um grupo político e de uma seita religiosa. Em todos eles se
encontra valores que estão submersos. O que está por trás desses
discursos? Pode existir uma defesa de uma posição ideológica, de
uma tendência política, de um modo de se vestir, de uma moral
vigente, uma defesa aberta da liberdade de expressão, uma crítica a
grupos extremistas, a defesa de valores tradicionais e, entre outras
coisas, a defesa da família e dos “bons costumes”,
concomitantemente a manutenção de interesses de grandes grupos
econômicos.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 251
Ter colocado em práticas a análise de discursos na
disciplina de Sociologia no Ensino Médio, por intermédio de
programa de Iniciação à Docência, permitiu aos bolsistas uma
abertura para desenvolver e aplicar teorias sociológicas, políticas e
antropológicas em sala de aula, promovendo a aproximação entre o
bolsista e o aluno. No mais, ele permitiu o planejamento de cada
atividade, de cada apresentação, seja em grupo ou individualmente,
dando-lhes uma ideia de pertencimento e coletividade na
construção do conhecimento. A troca de informações sobre o meio
social é compartilhada em grande medida com os estudantes, a
identificação de pontos de vistas aparentemente ofuscados pela
falta de comunicação e o embate com posições políticas que
implicam em divergências resultaram em uma desconstrução do
discurso pelas teorias sociológicas.
Não se trata de validar um discurso, nem de imposição, mas
de discussões que visam causar uma ideia de estranhamento sobre
os fatos, mostrando que nem tudo é tão concreto e consensual como
aparentemente é divulgado nos meios jornalísticos e na mídia
eletrônica.
O intuído da “Resenha de Notícias” não foi explorar a
diversidade de discursos que remetem a determinadas realidades
sociais apenas por uma via formal e linguística. Se levarmos em
conta uma concepção foucaultiana do discurso ele reproduz
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 252
um certo número de cisões historicamente
determinadas (por exemplo, a grande separação
entre razão/desrazão): a ‘ordem do discurso’ própria
a um período particular possui, portanto, uma função
normativa e reguladora e coloca em funcionamento
mecanismos de organização do real por meio da
produção de saberes, de estratégias e de práticas
(REVEL, 2005, p. 37).
Mas de quais saberes estamos nos referindo? No referimos
aos enunciados que estão na estrutura de um discurso. Não se deve,
entretanto, pensar que os enunciados são coisas ruins e negativas.
Eles apenas expressam uma história subjacente ao seu sentido. Ver
os discursos por um ângulo binário seria uma redução do seu
significado. Ele também possui coisas positivas, e nem sempre as
coisas positivas são escancaradas.
Eles são difusos e heterogêneos e não estão na superfície do
discurso. Eles não operam no mesmo sentido que uma língua. Não
há clareza na linguagem e nem sempre é a clareza que explica os
enunciados dos discursos, mas as funções dentro de um discurso.
Segundo Foucault, onde existe uma frase, existe um enunciado,
mas isso não significa dizer que eles sejam equivalentes ou que
possuam a mesma estrutura linguística. No entanto, afirma ser
difícil fazer uma definição de enunciado.
Se não houvesse enunciados, a língua não existiria,
mas nenhum enunciado é indispensável à existência
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 253
da língua (e podemos sempre supor, em lugar de qualquer enunciado, um outro enunciado que, nem
por isso, modificaria à língua). A língua só existe a
título de sistema de construção para enunciados
possíveis; mas, por outro lado, ela só existe a título
de descrição (mais ou menos exaustiva), obtida a
partir de um conjunto de enunciados reais. Língua e
enunciados não estão no mesmo nível de existência
(FOUCAULT, 1987, 96-97).
Informações podem ser manipuladas com frequência, mas
nem tudo é manipulado. O fato de não ser manipulado não implica
na clareza ou na verdade de um discurso. Mas se um discurso é
manipulado é porque ele pode conter determinados interesses. O
mesmo também pode ocorrer em um discurso que não é
manipulado. Não importa o tom e a estrutura linguística. Discursos
são oscilatórios e podem ser direcionados e controlados.
Discursos podem conter dados econômicos, índices de
desenvolvimento humano, quantidades variadas de quaisquer
coisas, pesquisas eleitorais; locais e personagens, podem aparecer e
desaparecer fatos e acontecimentos. Foucault até mesmo questiona
se a pronuncia de um alfabeto não seria um discurso. Reportagens
podem omitir fatos e alterar informações. Outras podem dizer tudo
e não esconder fatos. Cabe perguntar se há uma critica a essas
informações que chegam ao leitor e/ou expectador. Há uma
autocritica? Qual o alcance de um discurso? Ele pode alterar uma
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 254
ordem social? Ele tem um caráter formativo ou apenas
informativo?
Há uma duplicidade no discurso. Se há nele uma gramática,
um formalismo e uma linguística, há também enunciados em sua
estrutura e enunciações que justificam a sua existência. Há sempre
algo a mais em sua estrutura. E não necessariamente uma
maquinação, mas uma história, camadas de história. O discurso é
um acontecimento que não se esgota completamente na escrita, e
sua matéria prima é a história.
A análise de discursos tornou as atividades de resenha mais
instigantes, pois se procura não apenas um sentido para uma
notícia, mas a história que está por trás dela. E quando se fala em
história, não estamos necessariamente nos referindo a uma história
narrativa.
Se os discursos são duplos eles também podem ser triplos.
Discursos não se reduzem a número e dados quantitativos.
Dispositivos se diluem em sua estrutura e se aplicam na prática.
Discursos são materializados e direcionados para muitos
propósitos. Não se resume a uma língua/fala, mas a uma relação
entre saber/poder, considerando-se uma concepção foucaultina de
discurso.
Ao invés de uma simples subjetividade subjacente no
discurso de quem fala e se expressa na escrita, há também um
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 255
conflito que provoca resistência nas suas funções. Em Foucault, o
tema do discurso está intrinsicamente articulado ao tema da
Arqueologia, o que significa a emergência de uma metodologia
para analisa-lo e pensa-lo.
E o discurso pode estar presente em diversas atividades em
sala de aula. Uma sala de aula fala por si mesmo. A sua estrutura
física é subjacente de um discurso. E o corpo também se manifesta
pelo discurso. O corpo que fala, soa, luta, sente, protesta e também
elabora enunciados. Um corpo tem história. Em oficinas de ensino
em que o corpo é utilizado com o manuseio de roupas, tecidos,
sapatos, chapéus, encontramos um número significativo de
discursos ligados e entrelaçados com a realidade social. Vale
lembrar, para Foucault os discursos estão associados aos
dispositivos de poder, ou seja, está associado às questões ligadas à
genealógica e à ética. Significa que o modo como opera um
discurso não se restringe a palavras e livros, mas também a história.
“Um discurso não pode encerrar-se nos limites materiais do livro;
para além do começo, do título e das linhas finais, está implicado
um conjunto de referências a outros discursos e a outros autores”
(CASTRO, 2016, p. 118). Ou seja, nem os discursos e nem os
enunciados se limitam a um conjunto de signos com modalidades
particulares. O signo por si só não explica o enunciado de um
discurso. Ele vai além disso. Não basta
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 256
[...] que os signos de uma língua constituam um
enunciado, uma vez que foram produzidos
(articulados, delineados, fabricados, traçados) de um
modo ou de outro, uma vez que apareceram em um
momento do tempo e em um ponto do espaço, uma
vez que a voz que os pronunciou ou o gesto que os
moldou lhe deram as dimensões de uma existência
material? Será que as letras de um alfabeto por mim
escritas ao acaso, em uma folha de papel, como
exemplo do que não é um enunciado, será que os
caracteres de chumbo utilizados para imprimir os
livros – e não se pode negar sua materialidade que
tem espaço e volume -, será que esses signos,
expostos e visíveis, manipuláveis, podem ser
razoavelmente considerados como enunciados?
(FOUCAULT, 1987, p. 97).
Se nos remetermos as atividades realizadas pelos bolsistas
do subprojeto de Ciências Sociais nas três escolas que participam
do projeto, encontraremos propostas de oficinas ligadas ao corpo e
ao vestuário. O uso de técnicas teatrais, de performances, de
música e até mesmo a regência nos moldes tradicionais com o uso
da lousa exploram aspectos do discurso. Eles podem ser
considerados elementos importante para se provocar o
estranhamento e a desnaturalização do conhecimento. Vale lembrar
que “o discurso e a figura tem, cada um, seu modo de ser; mas eles
mantem entre si relações complexas e embaralhadas”
(FOUCAULT, 2013, p. 83).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 257
Mas a análise de um discurso não se resume apenas a
desnaturalização e ao estranhamento, pois provoca um
tensionamento e uma resistência ao poder, redimensionando um
embate de forças de corpos dentro de um conjunto de técnicas.
Atividades como essa questionam esquemas de comportamento e
até mesmo a eficiência de pedagogia vigente.
Há controles internos e discursos que são amplamente
divulgados pela mídia, exercendo controles que fluem sobre outros
discursos de forma negativa. Discursos são sobrepostos uns sobre
os outros. Há um esforço de excluir discursos e discursos que se
pretendem hegemônicos, o que impossibilita a comunicação
heterogênea entre os vários discursos. Discursos são descontínuos,
mas também podem ser contínuos, podem ser institucionais e
organizacionais. O que há em comum entre eles é a dispersividade
dos enunciados.
Ao se realizar oficinas, regência e resenhas de notícias sobre
temas como terceirização e o impacto no mundo do trabalho,
oficinas de técnicas de charge, violência simbólica, coronelismo,
teoria sociológica, violência física contra as mulheres, cultura de
rua, gênero, exposição fotográfica de artesanatos indígenas,
movimento social, etc, não foi buscado apenas o lado obscuro do
discurso, e nem a demonização do poder. O poder está no discurso
e não é necessariamente algo que deve ser demonizado. Também
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não é tão relevante aquele que fala, mas o significado do que diz
dentro de determinadas estratégias de poder e de como opera esse
poder. Pode-se dizer, que dentro de uma concepção foucaultina de
poder, o sujeito que fala deixa de ser responsável pelo discurso ao
enuncia-lo. Isso se deve ao fato de que cada discurso tem sua
interioridade e vários sujeitos, além de carregar uma forte
conotação ficcional, ou seja, “o sujeito que fala é o mesmo que
aquele pelo qual ele é falado” (FOUCAULT, 2009, p. 219)
O fato é que a história nunca está dissociada do discurso.
Ele está sempre em transformação, e não depende do sujeito para a
sua existência. Coisas são ditas dentro de regras “a linguagem
como já estando lá, determina de uma certa maneira o que se pode
dizer, independentemente, ou dentro do quadro linguístico geral”
(FOUCAUT, 2009, p. 404).
Discursos deixam rastros e os rastros podem se manifestar
de múltiplas formas. Em uma sala de aula, o debate e aprendizagem
“são os rastros” que provocam o embate de conhecimento, sejam
quais forem os conhecimentos. Portanto, discursos não se resumem
a um idioma, uma forma de linguagem, um texto, uma palestra,
uma fala, mesmo que necessite de regras gramaticais e técnicas de
oralidade para a sua existência.
Pode-se dizer que
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O discurso implica uma exterioridade à língua,
encontra-se no social e envolve questões de natureza
não estritamente linguística. Referimo-nos a
aspectos sociais e ideológicos impregnados nas
palavras quando elas são pronunciadas. Vemos,
portanto, que o discurso não é língua(gem) em si,
mas precisa dela, para ter existência material e/ou
real” (FERNANDES, S/D, p. 12).
Isso explica a importância do combate às ideias prontas e
acabadas, aos estereótipos ligados a linguagem, e que
frequentemente são encontradas em jornais analisados pelos
bolsistas. Frases como “lugar de mulher e na cozinha”, “Deus criou
apenas homens e mulheres”, “o brasileiro não gosta de trabalhar”,
“todo político é ladrão”, “sem-terras são invasores de
propriedades”, “a pobreza é natural”, “o trabalho enobrece o
homem”, marcam diferentes posições do sujeito dentro de um
discurso. Delimitar o papel do sujeito e o seu contexto é reconhecer
que “os discursos devem ser pensados em seus processos histórico-
sociais de constituição” (FERNANDES, s/d, p. 16).
Quando nos referimos aos meios de comunicação de massa,
nos deparamos com o problema da interlocução e a interpretação de
uma linguagem formal. A utilização de determinados termos
podem dizer muito do sujeito e o alcance de seu discurso, além de
dizer muito do sujeito e da história desse sujeito.
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Um ponto chave das atividades de resenha é o entendimento
da existência social e a história como elementos importantes em um
discurso. Isso significa que
[...] em toda sociedade a produção do discurso é ao
mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e
redistribuída por certo número de procedimentos que
tem por função conjurar seus poderes e perigos,
dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua
pesada e terrível materialidade (FOUCAULT, 1996,
p. 8-9).
Discursos são móveis e podem ser interpretados de diversas
maneiras. Eles são fluídos e acompanham as transformações sociais
e políticas em diferentes contextos e culturas. Falar em discurso é
falar em movimento e em pessoas falando. E falar implica em
interpretações de uma infinidade de discursos. Discursos podem ser
materializados em atos, gestos, posturas, leis, ensaios, artigos,
normas, regras, poemas, performances, etc. Há discursos verbais e
não verbais. Uma imagem ou uma pintura incita um discurso.
Quando um bolsista se propõe a fazer uma aula-teatro e/ou uma
participação dos alunos, ele está produzindo novos sentidos para
um tema exaustivamente tratado com o uso de uma outra
metodologia. Ele faz emergir os enunciados de um discurso.
Nesse sentido, o sujeito da interlocução desempenha um
papel importante na recepção de um discurso. Na maioria das vezes
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o discurso preserva o sujeito, com o intuito de se beneficiar desse
instrumento. Há quem o ouve. Dizer a verdade poderia
comprometer, por exemplo, a carreira de um político e provocar
uma crise em seu partido. Daí a importância do que dizer em
público. Não é por acaso que Foucault considerava a linguística “a
matemática de nossos tempos”. O discurso tem um estatuto de
cientificidade, tal como a matemática. Foucault denomina a
Arqueologia dos discursos como
[...] a ciência das formações discursivas. As
formações discursivas são conjuntos de enunciados,
isto é, segmentos de discursos, definidos não em sua
materialidade de átonos, mas por sua forma de
existência que exclui qualquer referência a
realidades trans-discursivas. A tarefa da arqueologia
é descrever essas formações discursivas
(ROUANET, 1971, p. 103).
Os enunciados não estão explícitos no discurso, mas
implícitos em sua função da existência. Eles são constituídos por
objetos, modalidades de enunciação, de sujeitos, conceitos e
escolhas temáticas. Eles constituem os conjuntos de regras que
formam um enunciado. É impossível apanhar um objeto
plenamente em um discurso por causa da variação histórica. Eles
são móveis e devem ser contextualizado
s. Eles seguem regras ditadas pelo tempo. Há vários
exemplos vindo da psiquiatria que confirmam que uma formação
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discursiva segue determinados padrões de conhecimentos aceitos
por uma comunidade científica.
As instâncias de delimitação dos discursos definem as
características dos objetos tratados nos discursos. Há vários tipos
de instituições que definem critérios para separar “cientificamente”
vários tipos de comportamentos e produções discursivas, com o
intuito de criar um padrão discursivo, dentro de critérios
classificatórios, normativos, valorativos, isto é
[...] a unidade de uma formação discursiva é dada
portanto não pelos objetos, que se transformam
continuamente, mas por um conjunto de relações
que permitem ou excluem certos objetos. E como
essas relações são externas ao discurso, mas aderem
a este, como sua condição de possibilidade, podemos
dizer que os objetos do discurso são constituídos
pelo próprio discurso (ROUANET, 1971, p. 104).
O tema se desdobra para o sujeito que profere o discurso e a
instituições que está vinculado o sujeito do discurso. É como se o
discurso tivesse uma identidade institucional. É o que se denomina
de estatuto do discurso, que lhe confere autoridade e uma
legitimidade institucional.
A estrutura discursiva envolve até mesmo a percepção do
sujeito sobre o objeto que está falando. A percepção está vinculada
aos seus objetos de trabalho e ao espaço institucional no qual
profere o discurso.
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Discursos também estão vinculados aos conceitos, como
uma forma de ordenar os enunciados. Conceitos são coexistentes
aos enunciados. Cada época cria os seus próprios conceitos dentro
de um universo de relações que serão posteriormente
sistematizados e hierarquizados dentro de determinados temas e/ou
escolhas teóricas.
Um discurso não se limita a linguística. Em cada discurso
há uma dimensão histórico-política e a linguística se inscreve nesse
espaço de exterioridades de contradições e ideologias. Ele é
controlado, organizado e redistribuído através de vários
procedimentos cuja função é parte de uma dinâmica de poder. Não
é ocasional que para Foucault o discurso esteja associado a história,
afinal, “Foucault sempre olhou para a história não em busca do que
é central, mas do que foi jogado para as margens, das práticas e
discursos em ruptura com a norma, com a hegemonia, com o
majoritário”. (ALBUQUERQUE JR, 2011, p. 103)
Considerações finais
As resenhas de notícias realizadas pelo Grupo Pibid de
Ciências Sociais remetem aos saberes, enunciados e formações
discursivas por via da imprensa impressa e eletrônica. Se tornou
um espaço importante para o questionamento do poder. De certa
forma pode-se dizer que “o poder não suporta a ideia de um
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discurso desenfreado, por isso estabeleceria certas formas para que
o dizer se tornasse legitimo” (KRUTZEN, 2011, p. 127).
Não há dúvida que ela ajuda a repensar sobre as relações
entre a teoria e a prática, além de problematizar a transposição do
conhecimento da universidade para as salas de aula do Ensino
Médio. No mais, ela incita uma discussão sobre a escrita e o uso
crescente de imagens, questionando a predominância do livro para
a dominância da mídia eletrônica. É por esta perspectiva crítica que
situamos a importância da análise do discurso como elemento
chave da Resenha de Notícias.
Referências
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Foucault/ Durval Muniz de Albuquerque Junior, Alfredo Veiga-Neto, Alípio de Souza Filho, (organizadores). - 2. ed. - Belo Horizonte Autentica Editora, 2011. - (Coleção Estudos
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Discurso (A Arqueologia de Michel Foucault). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1971.