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O GATO MARACAJÁ E A ONÇA PINTADAJosé Amaurilio de Sousa
O pulo do gato
O gato maracajá e a onça pintada, viviam harmoniosamente na serra do periquito até que a onça pintada foi tomada por um sentimento de inveja e começou a caçar o gato.
E já desfalecendo exclamou:
Ora! Senhor Maracajá, você não me ensinou este salto!
Então ele respondeu:
Ah! Senhora Pintada, este é o pulo do gato, se eu tivesse ensinado,
você teria me arrebentado! O segredo é a alma da sobrevivência.
O GATO MARACAJÁ E A ONÇA PINTADA
José Amaurilio de Sousa
IlustraçõesAluísio Fernã
Claudio Magalhães
1ª Edição
Serra Talhada - PE2014
Na compra de um livro além de incentivar a leituravocê está também contribuindo com um percentualpara uma instituição filantrópica.
16 01
A Pintada resolveu mudar de estratégia para conquistar a confiança do
Senhor Maracajá.
- Senhor Maracajá, de hoje em diante quero ser seu amigo, prometo que
não vou mais lhe perseguir. Pode ficar sossegado, e para selar nossa amizade,
vou lhe ensinar minhas habilidades e gostaria que você me ensinasse as suas
para começarmos a nos entender.
- E assim foi agradando, com uma boa conversa, dando alguma comida e
aos poucos, ganhando a confiança do gato.
- Veja como sou veloz, aí dava uma carreira e voltava, também sou capaz
de lhe jogar longe com minha força, sem contar que pulo muito alto, apesar do
meu peso. Depois de lhe demonstrar suas habilidades, pediu para que o gato
mostrasse as suas.
O Senhor Maracajá desconfiado e com medo, mas mesmo assim resolveu
mostrar.
- Veja: se eu estiver parado posso pular para direita, posso pular para
esquerda e estando de cabeça para baixo posso rolar no ar e cair em pé.
Também tenho muita facilidade de escalar.
E a onça prestando bem atenção, logo depois de ter aprendido tudo, saiu
de fininho murmurando: - Ele agora não me escapa, vou planejar uma emboscada segura para esse gato insolente.
Induziu o Senhor Maracajá a passar por uma gruta onde não tinha como
pular nem para os lados nem para cima, pois era muito alto. Escondeu-se por
detrás de uma pedra. E quando o gato vinha passando ela tomou a entrada,
deixando-o sem saída. A pintada encurralou-o com tanta raiva, que queria esmagá-lo contra o paredão de pedra, quando deu o bote o maracajá plantou os pés contra a parede e deu um salto mortal para trás, sobre sua cabeça deixando a pintada se esborrachar contra as pedras, ficando toda arrebentada.
Ficha Técnica
Digitação: Josineide Pereira dos SantosDiagramação: Carlos Eduardo Campos QueirozRevisão: Dierson RibeiroImpressão: Gráfica Ponto FinalIlustrações: Aluísio fernã / Claudio Magalhães
Registrado na Biblioteca NacionalSob o nº 614.841 Livro: 1.179 Folha: 182
O Gato Maracajá e a Onça Pintada1. ed. Edição do autor - Serra Talhada, 2013
1. Literatura Infanto juvenil - Fábula
CDD 028,5CDU 087.5
5725g Sousa, José Amaurilio de. 1968 -
02 15
O Gato Maracajá e a Onça Pintada
Era uma vez o Senhor Maracajá e Dona Pintada. Ambos viviam, além
do horizonte, num lugar chamado Serra do Periquito, devido a grande
quantidade de pássaros que lá morava; eles faziam tanto barulho que dava pra
escutar o eco a quilômetros de distância.
A Pintada ficou tão frustrada e triste que quem não conhecia suas intenções
ficava compadecido. Então matutando como fazer para pegar o gato no pulo,
resolveu se aconselhar com o símbolo da sabedoria: a coruja.
E a encontrando lhe convenceu a responder a seguinte pergunta:
- Diga-me dona coruja,
Senhora da sabedoria
Pra não dar um palmo de fuga
Diga-me o que faria
Para pegar um gato fujão
No pulo ou na correria?
Respondeu a coruja:
- Diz o ditado popular:
Se não puder vencer
Junte-se ao inimigo
Para melhor o conhecer
Finja que é seu amigo
Para o surpreender.
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O Senhor Maracajá era franzino, pouco resistente, delgado, perninhas de
cambito, finas, cabeça arredondada, uma calda longa, que varria o chão, e um
bigode fino que parecia um arame, dava para dar uma volta. Tinha um coração
puro, inocente, íntegro, e estava sempre de bem com a vida. Seu corpo era
fechado, protegido de todos os males, blindado para as coisas ruins.
Dona Pintada, depois de dar o susto, pensou que desta vez o Senhor Maracajá
tinha tomado um chá de sumiço e fez a mesma pergunta:
- Bem-te-vi, ó Bem-te-vi
Por acaso você viu
Aqui nas redondezas
Se Maracajá sumiu?
Respondeu o Bem-te-vi:
- Bem eu vi ! Bem eu vi!
Na baraúna a descansar
Um gato de sete vidas
É difícil de enfrentar
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Dona Pintada, como era conhecida, era formosa, bela, os seus pelos pareciam
plumas e tinha uma superioridade física de causar inveja; quando ela passava,
quem estava em pé, sentava, quem cantava, calava-se para ver a rainha cheia
de graça passar. Temida, orgulhosa e prepotente, era tão vaidosa que não podia
suportar a idéia de que alguém pudesse lhe superar em alguma coisa.
O mato ficava penteado que parecia uma cabeleira.A macambira pregava na
pele que arrancava a tira de couro, não respeitava xiquexique nem também
mandacaru, levavam tudo nos peitos.
Depois de muito tempo de perseguição correndo caatinga adentro eles
estavam com o corpo tão molhado, que parecia terem tomado banho, e aí, na
carreira, se aproximou a pintada tentando dar um bote se preparou, estirando a
pata. Mas quando ia conseguindo pegar, felizmente para sorte do gato,
escorregou deslizando a ribanceira, saiu catando cavaco e caiu de serra
abaixo.
O Senhor Maracajá, como é leve, deu um pulo com destreza e escapou da
Pintada fazendo jus à sua fama de sete vidas, com o coração quase saindo da
boca do medo, respirou aliviado, graças a sua agilidade e esperteza.
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Para se vangloriar perguntou a um bem te vi que estava no alto de um angico:
-Bem-te-vi, ó Bem-te-vi
Tu que tudo vês
Por acaso você viu
Alguém que possa me vencer?
Pois eu sou a mais temida
Daqui dessa região
Se eu pego eu não largo
Se correr pego à mão
Aqui nesta caatinga
Eu sou como Lampião.
O bem-te-vi, para infucar, cantou:
- Bem eu vi! Bem eu vi!
Ele não tem o tamanho de Golias
Mas tem a astúcia de Davi
Ele não tem a força de Sanção
Mas tem a esperteza de Dalila
Ninguém vencerá na região
Um gato com sete vidas
A Pintada ficou subindo nas tamancas, deu um rugido e gritou:
- Quem esse entope bosta pensa que é? Vou fazê-lo se arrepender de não
ter sumido na primeira oportunidade que teve. Ele agora vai saber com
quantos paus se faz uma cangalha.
Resolveu esperar novamente a hora que ele fosse beber água, subiu em
cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira.
Depois de muito tempo de espera, ele apareceu desconfiado, pois se assustava
com qualquer coisa. Até com um estalo de paus.
A pintada pulou da árvore no chão, partiu ao encontro do Senhor
Maracajá sem deixá-lo nem beber água, nem respirar, correndo de pés juntos
atrás dele, ora de serra acima, ora de morro abaixo a bicharada parava para
escutar a quebradeira desfiladeiro abaixo.
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A pintada engoliu em seco, subiu nos cascos, ficou amarela e verde de raiva.
Cada vez que se lembrava do Senhor Maracajá. Depois disso, tinha tanto ódio
dele que seu sangue até fervia no peito. A inveja e o orgulho cresceram como
ervas daninhas dentro do coração da pintada, sobre sua cabeça flutuava uma
nuvem negra, até que ela não conseguia ter um momento de sossego, nem de
noite nem de dia. Finalmente resolveu caçar o Senhor Maracajá para mostrar-
lhe quem mandava.
Preparou uma emboscada, e como tinha uma visão privilegiada, avistou
Maracajá de longe e se camuflou por detrás de uma moita de carne. Mas o
Senhor Maracajá, como tem o olfato apurado e estava a favor do vento, o ar
atmosférico trazia o odor em sua direção, logo pressentiu o cheiro dela. Cortou
caminho, mudou de vereda, livrando-se da tocaia, fazendo a pintada dar com
os burros n'água, perdendo a caçada, ficando bufando de raiva.
- Bem-te-vi, ó Bem-te-vi,
Por acaso você viu,
Aqui nas redondezas
Se Maracajá sumiu?
Respondeu o Bem-te-vi:
-Bem eu vi! Bem eu vi!
Na copa de uma carnaíba
Satisfeitinho da vida
O gato de sete vidas
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Porém, ela não desistiu ficando ainda mais irritada, resolveu emboscar na
cacimba em que bebia água. Para quando o Senhor Maracajá descesse para
beber água ela dar o bote. Assim o fez, entrou no barreiro, mergulhou e ficou
só com os dentes de fora, passou o dia todo de molho, sem comer, se
alimentando apenas com a raiva e se sustentando no veneno.
Já estava com tanto frio, a ponto de pegar uma hipotermia e nada do Senhor
Maracajá vir beber água, parece que o mesmo estava adivinhando,
resmungava.
Quando caiu a noite, que o silêncio pairava no ar, o Senhor Maracajá resolveu
descer à cacimba para beber água, de vagarinho tomando chegada aos poucos,
só que quando se aproximou sentiu aquele bafo de onça, parecia que a água
estava fétida, sem contar aquela imagem bizarra dentro d'água, aqueles dentes
para fora e as moscas sentando.
O Senhor Maracajá desconfiou que era uma armadilha, deu a volta e
sumiu na caatinga, escapando de suas garras e deixando a pintada fumando
numa telha. Ela tremeu e se sacudiu de raiva, deu um rugido que a terra
estremeceu. E perguntou enfurecida:
A pintada depois da tentativa frustrada, achando que o Senhor Maracajá tinha
ido embora, com medo, perguntou ao bem te vi:
- Bem-te-vi, ó Bem-te-vi
Por acaso você viu,
Aqui nas redondezas,
Se Maracajá sumiu?
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Respondeu o bem-te-vi:
- Bem eu vi! Bem eu vi!
No lajedo a se coçar
Um bicho com sete vidas
Que ninguém consegue expulsar