9
O GATO MARACAJÁ E A ONÇA PINTADA José Amaurilio de Sousa O pulo do gato O gato maracajá e a onça pintada, viviam harmoniosamente na serra do periquito até que a onça pintada foi tomada por um sentimento de inveja e começou a caçar o gato.

O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

O GATO MARACAJÁ E A ONÇA PINTADAJosé Amaurilio de Sousa

O pulo do gato

O gato maracajá e a onça pintada, viviam harmoniosamente na serra do periquito até que a onça pintada foi tomada por um sentimento de inveja e começou a caçar o gato.

Page 2: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

E já desfalecendo exclamou:

Ora! Senhor Maracajá, você não me ensinou este salto!

Então ele respondeu:

Ah! Senhora Pintada, este é o pulo do gato, se eu tivesse ensinado,

você teria me arrebentado! O segredo é a alma da sobrevivência.

O GATO MARACAJÁ E A ONÇA PINTADA

José Amaurilio de Sousa

IlustraçõesAluísio Fernã

Claudio Magalhães

1ª Edição

Serra Talhada - PE2014

Na compra de um livro além de incentivar a leituravocê está também contribuindo com um percentualpara uma instituição filantrópica.

16 01

Page 3: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

A Pintada resolveu mudar de estratégia para conquistar a confiança do

Senhor Maracajá.

- Senhor Maracajá, de hoje em diante quero ser seu amigo, prometo que

não vou mais lhe perseguir. Pode ficar sossegado, e para selar nossa amizade,

vou lhe ensinar minhas habilidades e gostaria que você me ensinasse as suas

para começarmos a nos entender.

- E assim foi agradando, com uma boa conversa, dando alguma comida e

aos poucos, ganhando a confiança do gato.

- Veja como sou veloz, aí dava uma carreira e voltava, também sou capaz

de lhe jogar longe com minha força, sem contar que pulo muito alto, apesar do

meu peso. Depois de lhe demonstrar suas habilidades, pediu para que o gato

mostrasse as suas.

O Senhor Maracajá desconfiado e com medo, mas mesmo assim resolveu

mostrar.

- Veja: se eu estiver parado posso pular para direita, posso pular para

esquerda e estando de cabeça para baixo posso rolar no ar e cair em pé.

Também tenho muita facilidade de escalar.

E a onça prestando bem atenção, logo depois de ter aprendido tudo, saiu

de fininho murmurando: - Ele agora não me escapa, vou planejar uma emboscada segura para esse gato insolente.

Induziu o Senhor Maracajá a passar por uma gruta onde não tinha como

pular nem para os lados nem para cima, pois era muito alto. Escondeu-se por

detrás de uma pedra. E quando o gato vinha passando ela tomou a entrada,

deixando-o sem saída. A pintada encurralou-o com tanta raiva, que queria esmagá-lo contra o paredão de pedra, quando deu o bote o maracajá plantou os pés contra a parede e deu um salto mortal para trás, sobre sua cabeça deixando a pintada se esborrachar contra as pedras, ficando toda arrebentada.

Ficha Técnica

Digitação: Josineide Pereira dos SantosDiagramação: Carlos Eduardo Campos QueirozRevisão: Dierson RibeiroImpressão: Gráfica Ponto FinalIlustrações: Aluísio fernã / Claudio Magalhães

Registrado na Biblioteca NacionalSob o nº 614.841 Livro: 1.179 Folha: 182

O Gato Maracajá e a Onça Pintada1. ed. Edição do autor - Serra Talhada, 2013

1. Literatura Infanto juvenil - Fábula

CDD 028,5CDU 087.5

5725g Sousa, José Amaurilio de. 1968 -

02 15

Page 4: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

O Gato Maracajá e a Onça Pintada

Era uma vez o Senhor Maracajá e Dona Pintada. Ambos viviam, além

do horizonte, num lugar chamado Serra do Periquito, devido a grande

quantidade de pássaros que lá morava; eles faziam tanto barulho que dava pra

escutar o eco a quilômetros de distância.

A Pintada ficou tão frustrada e triste que quem não conhecia suas intenções

ficava compadecido. Então matutando como fazer para pegar o gato no pulo,

resolveu se aconselhar com o símbolo da sabedoria: a coruja.

E a encontrando lhe convenceu a responder a seguinte pergunta:

- Diga-me dona coruja,

Senhora da sabedoria

Pra não dar um palmo de fuga

Diga-me o que faria

Para pegar um gato fujão

No pulo ou na correria?

Respondeu a coruja:

- Diz o ditado popular:

Se não puder vencer

Junte-se ao inimigo

Para melhor o conhecer

Finja que é seu amigo

Para o surpreender.

14 03

Page 5: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

O Senhor Maracajá era franzino, pouco resistente, delgado, perninhas de

cambito, finas, cabeça arredondada, uma calda longa, que varria o chão, e um

bigode fino que parecia um arame, dava para dar uma volta. Tinha um coração

puro, inocente, íntegro, e estava sempre de bem com a vida. Seu corpo era

fechado, protegido de todos os males, blindado para as coisas ruins.

Dona Pintada, depois de dar o susto, pensou que desta vez o Senhor Maracajá

tinha tomado um chá de sumiço e fez a mesma pergunta:

- Bem-te-vi, ó Bem-te-vi

Por acaso você viu

Aqui nas redondezas

Se Maracajá sumiu?

Respondeu o Bem-te-vi:

- Bem eu vi ! Bem eu vi!

Na baraúna a descansar

Um gato de sete vidas

É difícil de enfrentar

04 13

Page 6: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

Dona Pintada, como era conhecida, era formosa, bela, os seus pelos pareciam

plumas e tinha uma superioridade física de causar inveja; quando ela passava,

quem estava em pé, sentava, quem cantava, calava-se para ver a rainha cheia

de graça passar. Temida, orgulhosa e prepotente, era tão vaidosa que não podia

suportar a idéia de que alguém pudesse lhe superar em alguma coisa.

O mato ficava penteado que parecia uma cabeleira.A macambira pregava na

pele que arrancava a tira de couro, não respeitava xiquexique nem também

mandacaru, levavam tudo nos peitos.

Depois de muito tempo de perseguição correndo caatinga adentro eles

estavam com o corpo tão molhado, que parecia terem tomado banho, e aí, na

carreira, se aproximou a pintada tentando dar um bote se preparou, estirando a

pata. Mas quando ia conseguindo pegar, felizmente para sorte do gato,

escorregou deslizando a ribanceira, saiu catando cavaco e caiu de serra

abaixo.

O Senhor Maracajá, como é leve, deu um pulo com destreza e escapou da

Pintada fazendo jus à sua fama de sete vidas, com o coração quase saindo da

boca do medo, respirou aliviado, graças a sua agilidade e esperteza.

12 05

Page 7: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

Para se vangloriar perguntou a um bem te vi que estava no alto de um angico:

-Bem-te-vi, ó Bem-te-vi

Tu que tudo vês

Por acaso você viu

Alguém que possa me vencer?

Pois eu sou a mais temida

Daqui dessa região

Se eu pego eu não largo

Se correr pego à mão

Aqui nesta caatinga

Eu sou como Lampião.

O bem-te-vi, para infucar, cantou:

- Bem eu vi! Bem eu vi!

Ele não tem o tamanho de Golias

Mas tem a astúcia de Davi

Ele não tem a força de Sanção

Mas tem a esperteza de Dalila

Ninguém vencerá na região

Um gato com sete vidas

A Pintada ficou subindo nas tamancas, deu um rugido e gritou:

- Quem esse entope bosta pensa que é? Vou fazê-lo se arrepender de não

ter sumido na primeira oportunidade que teve. Ele agora vai saber com

quantos paus se faz uma cangalha.

Resolveu esperar novamente a hora que ele fosse beber água, subiu em

cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira.

Depois de muito tempo de espera, ele apareceu desconfiado, pois se assustava

com qualquer coisa. Até com um estalo de paus.

A pintada pulou da árvore no chão, partiu ao encontro do Senhor

Maracajá sem deixá-lo nem beber água, nem respirar, correndo de pés juntos

atrás dele, ora de serra acima, ora de morro abaixo a bicharada parava para

escutar a quebradeira desfiladeiro abaixo.

06 11

Page 8: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

A pintada engoliu em seco, subiu nos cascos, ficou amarela e verde de raiva.

Cada vez que se lembrava do Senhor Maracajá. Depois disso, tinha tanto ódio

dele que seu sangue até fervia no peito. A inveja e o orgulho cresceram como

ervas daninhas dentro do coração da pintada, sobre sua cabeça flutuava uma

nuvem negra, até que ela não conseguia ter um momento de sossego, nem de

noite nem de dia. Finalmente resolveu caçar o Senhor Maracajá para mostrar-

lhe quem mandava.

Preparou uma emboscada, e como tinha uma visão privilegiada, avistou

Maracajá de longe e se camuflou por detrás de uma moita de carne. Mas o

Senhor Maracajá, como tem o olfato apurado e estava a favor do vento, o ar

atmosférico trazia o odor em sua direção, logo pressentiu o cheiro dela. Cortou

caminho, mudou de vereda, livrando-se da tocaia, fazendo a pintada dar com

os burros n'água, perdendo a caçada, ficando bufando de raiva.

- Bem-te-vi, ó Bem-te-vi,

Por acaso você viu,

Aqui nas redondezas

Se Maracajá sumiu?

Respondeu o Bem-te-vi:

-Bem eu vi! Bem eu vi!

Na copa de uma carnaíba

Satisfeitinho da vida

O gato de sete vidas

10 07

Page 9: O gato maracajá e onça pintada impressãostatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5300478.pdf · cima de um pé de ingazeira e ficou olhando com seu olhar de mata pimenteira. Depois

Porém, ela não desistiu ficando ainda mais irritada, resolveu emboscar na

cacimba em que bebia água. Para quando o Senhor Maracajá descesse para

beber água ela dar o bote. Assim o fez, entrou no barreiro, mergulhou e ficou

só com os dentes de fora, passou o dia todo de molho, sem comer, se

alimentando apenas com a raiva e se sustentando no veneno.

Já estava com tanto frio, a ponto de pegar uma hipotermia e nada do Senhor

Maracajá vir beber água, parece que o mesmo estava adivinhando,

resmungava.

Quando caiu a noite, que o silêncio pairava no ar, o Senhor Maracajá resolveu

descer à cacimba para beber água, de vagarinho tomando chegada aos poucos,

só que quando se aproximou sentiu aquele bafo de onça, parecia que a água

estava fétida, sem contar aquela imagem bizarra dentro d'água, aqueles dentes

para fora e as moscas sentando.

O Senhor Maracajá desconfiou que era uma armadilha, deu a volta e

sumiu na caatinga, escapando de suas garras e deixando a pintada fumando

numa telha. Ela tremeu e se sacudiu de raiva, deu um rugido que a terra

estremeceu. E perguntou enfurecida:

A pintada depois da tentativa frustrada, achando que o Senhor Maracajá tinha

ido embora, com medo, perguntou ao bem te vi:

- Bem-te-vi, ó Bem-te-vi

Por acaso você viu,

Aqui nas redondezas,

Se Maracajá sumiu?

08 09

Respondeu o bem-te-vi:

- Bem eu vi! Bem eu vi!

No lajedo a se coçar

Um bicho com sete vidas

Que ninguém consegue expulsar