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MARMANILLO, Jesus; CARNEIRO, Antonia Eliane Lobo; PEREIRA, Ana Paula Pinto. O Google street e as imagens da cidade: Experiências e diálogos de pesquisas urbanas no sudoeste do Maranhão. . Sociabilidades Urbanas Revista de Antropologia e Sociologia, v.3, n.7, p. 83-96, março de 2019. ISSN 2526-4702. DOSSIÊ http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/ O Google street e as imagens da cidade: Experiências e diálogos de pesquisas urbanas no sudoeste do Maranhão Google street and city pictures: Experiences and dialogues of urban research in the southwest of Maranhão Jesus Marmanillo Pereira Antonia Eliane Lobo Carneiro Ana Paula Pinto Pereira Resumo: Como pensar o Google Street View a partir de uma sociologia da imagem e urbana? Partindo dessa questão, o presente artigo se valeu de teóricos como Becker (2009), Frúgoli e Chizzolini (2017), entre outros, para pensar o lugar das imagens nos processos tecnológicos e virtuais desenvolvidos sobre a urbe e nas suas relações objetivas e subjetivas com a cidade. Assim, trazemos uma reflexão sobre o processo de mediação da experiência urbana, dos locais de produção e usos das imagens da cidade, destacando a possibilidade da existência de outros sentidos e imaginários urbanos, produzidos a partir delas, e como foram utilizadas em duas pesquisas de etnografia urbana realizadas nas cidades de Imperatriz-MA e Açailandia-MA. Palavras chave: Cidade, representação, Googlestreet, etnografia Abstract: How to think Google Street View from an image sociology and urban? Based on this question, the present article used theorists such as Becker (2009), Frúgoli and Chizzolini (2017), among others, to think about the place of images in the technological and virtual processes developed on the city and its objective and subjective relations with the city. Thus, we bring a reflection about the process of mediation of the urban experience, of the places of production and uses of the images of the city, highlighting the possibility of the existence of other urban senses and imaginaries, produced from them, and how they were used in two researches of urban ethnography carried out in the cities of Imperatriz-MA and Açailandia-MA. Keywords: City, representation, Googlestreet, ethnography Computadores fazem arte Artistas fazem dinheiro Computadores avançam Artistas pegam carona Cientistas criam o novo Artistas levam a fama (Fred Zero Quatro) Partindo dos estudos de Becker (2009), podemos dizer que a cidade já foi representada nas mais diversas formas, em contextos organizacionais que permearam os campos da literatura, das artes, das ciências e vários outros que buscaram expressar o homem em sociedade, em suas aflições, relações e construções nos cotidianos urbanos. Josué Montello, João Cabral de Melo Neto, Aluísio Azevedo são apenas uns alguns exemplos de como as ruas, cotidianos e espaços urbanos do Brasil ganharam espaço poesia literária. Na música e nas produções audiovisuais são inúmeros os exemplos nos quais a cidade aparece como um importante cenário onde se desenrolam as diversas tramas, e se expressam as características das próprias sociedades que as constituem. Com a popularização dos recursos comunicacionais, em especial dos computadores conectados à World Wide Web (WWW), ocorreu uma maior intensificação dos fluxos de informação que possibilitou outras formas de contato entre pessoas e também com a própria

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MARMANILLO, Jesus; CARNEIRO, Antonia Eliane Lobo; PEREIRA, Ana Paula Pinto. O Google street e

as imagens da cidade: Experiências e diálogos de pesquisas urbanas no sudoeste do Maranhão. . Sociabilidades

Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia, v.3, n.7, p. 83-96, março de 2019. ISSN 2526-4702.

DOSSIÊ

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

O Google street e as imagens da cidade: Experiências e diálogos de

pesquisas urbanas no sudoeste do Maranhão

Google street and city pictures: Experiences and dialogues of urban research in the southwest of Maranhão

Jesus Marmanillo Pereira

Antonia Eliane Lobo Carneiro

Ana Paula Pinto Pereira

Resumo: Como pensar o Google Street View a partir de uma sociologia da imagem e urbana?

Partindo dessa questão, o presente artigo se valeu de teóricos como Becker (2009), Frúgoli e

Chizzolini (2017), entre outros, para pensar o lugar das imagens nos processos tecnológicos e

virtuais desenvolvidos sobre a urbe e nas suas relações objetivas e subjetivas com a cidade. Assim,

trazemos uma reflexão sobre o processo de mediação da experiência urbana, dos locais de

produção e usos das imagens da cidade, destacando a possibilidade da existência de outros

sentidos e imaginários urbanos, produzidos a partir delas, e como foram utilizadas em duas

pesquisas de etnografia urbana realizadas nas cidades de Imperatriz-MA e Açailandia-MA.

Palavras chave: Cidade, representação, Googlestreet, etnografia

Abstract: How to think Google Street View from an image sociology and urban? Based on this

question, the present article used theorists such as Becker (2009), Frúgoli and Chizzolini (2017),

among others, to think about the place of images in the technological and virtual processes

developed on the city and its objective and subjective relations with the city. Thus, we bring a

reflection about the process of mediation of the urban experience, of the places of production and

uses of the images of the city, highlighting the possibility of the existence of other urban senses

and imaginaries, produced from them, and how they were used in two researches of urban

ethnography carried out in the cities of Imperatriz-MA and Açailandia-MA. Keywords: City,

representation, Googlestreet, ethnography

Computadores fazem arte

Artistas fazem dinheiro

Computadores avançam

Artistas pegam carona

Cientistas criam o novo

Artistas levam a fama

(Fred Zero Quatro)

Partindo dos estudos de Becker (2009), podemos dizer que a cidade já foi representada

nas mais diversas formas, em contextos organizacionais que permearam os campos da

literatura, das artes, das ciências e vários outros que buscaram expressar o homem em

sociedade, em suas aflições, relações e construções nos cotidianos urbanos. Josué Montello,

João Cabral de Melo Neto, Aluísio Azevedo são apenas uns alguns exemplos de como as ruas,

cotidianos e espaços urbanos do Brasil ganharam espaço poesia literária. Na música e nas

produções audiovisuais são inúmeros os exemplos nos quais a cidade aparece como um

importante cenário onde se desenrolam as diversas tramas, e se expressam as características

das próprias sociedades que as constituem.

Com a popularização dos recursos comunicacionais, em especial dos computadores

conectados à World Wide Web (WWW), ocorreu uma maior intensificação dos fluxos de

informação que possibilitou outras formas de contato entre pessoas e também com a própria

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cidade. Grosso modo, para alguns autores como Castells (1999) e Santos (2009), esse

processo pode ser compreendido dentro de um novo paradigma técnico científico

informacional que possibilita que a informação alcance distancia globais em poucos

segundos. Nesse contexto, o presente artigo se traduz em um esforço de ruptura com o

binarismo entre novas e antigas formas de representação sobre as cidades, e pretende analisar

os usos do Google Street View na pesquisa etnográfica sobre os espaços públicos e privados

urbanos. Trata-se de um recurso disponível na web que é produzido por uma empresa privada

e que exerce um papel de mediação entre o internauta e a cidade. Oferece assim, antes de

tudo, uma experiência visual com a urbe por meio de imagens que são captadas por carros,

dessa empresa, que são equipados com câmeras.

Dessa forma, transitando entre uma sociologia urbana e da imagem, a pesquisa se

deteve a parte gráfica e as possíveis interações que constituem os bastidores tanto das

produções da imagem, quanto de seus usos no âmbito da pesquisa etnográfica. Nesse viés

foram considerados estudos como os de Frúgoli e Chizzolini(2017), Diogenes(2015), Eckert e

Rocha(2016) e Hine(2004) que, grosso modo, consideram o ambiente web como

possibilidade de construção etnográfica, já que pode ser compreendido tanto como cultura

quanto como artefato cultural, representando um tipo de “Cultura de tela” que também

mantém relação com práticas sociais desenvolvida nas paisagens urbanas, e que podem ser

captadas na própria web, como é o caso do Google Street view.

Assim, o presente estudo foi organizado em duas partes onde serão apresentados

algumas considerações e estudos que se valem do ambiente virtual, e outra em que

demonstraremos os usos desenvolvidos no âmbito do Laboratório de Estudos e Pesquisas

sobre Cidades e Imagens (LAEPCI)

O Google Street View e algumas considerações sobre a produção imagética

Primeiramente é importante esclarecer que o Street View (Visualização da rua) é um

produto oriundo de um projeto da Universidade de Stanford chamado “The Stanford City

block” patrocinado pela Google. A primeira experiência surgiu quando um dos fundadores da

empresa solicitou que um grupo de estudantes transformassem uma gravação de vídeo sobre

uma área de São Francisco (E.U.A) em um conjunto simplificado de frames(imagens) cujos

ângulos e enquadramentos possibilitassem a captura total dos cenários. Segundo Levy (2012)

o Street View surgiu como um desenvolvimento do Google Maps e o objetivo era mostrar

lugares para os usuários transmitindo uma ideia de teletransporte real para os locais que

buscassem. Com uma combinação de mapas e fotografias, esse produto gera a sensação de

imersão na paisagem urbana, pois possibilita ao usuário navegar por um mapa e, com dois

cliques, “descer” para as ruas e quadras, visualizando casas, pessoas e as paisagens urbanas a

partir da perspectiva de um observador terrestre. Sobre essa relação entre espaço geográfico e

imagens, Levy (2012) relata uma situação na qual Mike Jones, um dos engenheiros da

empresa, explica:

O Street View nasceu como consequência da fome onívora por geodados.

“Desde o dia em que chegamos ao Google,nosso pedido constante era por mais

dinheiro para comprar mais dados porque queríamos quetodos tivessem a

oportunidade de ver suas casas”, diz ele. “As pessoas vão querer voar até omeio

do Congoe ver suas casas ou suas cabanas, ou algo assim. E nós precisávamos

tirarfotos disso. Íamos para as reuniões de estratégia de produto e dizíamos que

nosso objetivo erareunir muitas imagens e talvez dar um passo louco de colocar

câmeras sobre carros efotografar todas as ruas”. (LEVY,2012,p.301, grifos

nossos).

As imagens possuem um papel principal nessa estratégia de imersão. Elas podem

promover uma ideia de deslocamento espacial de grandes distâncias e também um

deslocamento temporal mais subjetivo, já que possibilita ao usuário buscar locais relacionados

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às memórias passadas e acompanhar as próprias atualizações temporais e imagéticas das

paisagens urbanas, no programa. Vinculadas aos mapas tem-se um conjunto de representações

que toma o mundo por meio de um mapa, que pode ser navegado, e que serve como uma

espécie de localizador ou sumário onde estão dispostas uma diversidade de imagens de

paisagens urbanas, em diferentes pontos e distâncias do mapa. Sendo um produto vinculado a

World Wide Web, as ideias de alta velocidade dos fluxos de informação e fim das fronteiras

espaciais, apontadas por autores como Castells (1999) e Santos (2009), estão totalmente

presentes nesse produto cuja monetização é associada ao conjunto de geodados obtidos e

disponibilizados pela empresa.

Se valendo das contribuições de Becker (2009) podemos dizer que o contexto

organizacional está diretamente voltado para os interesses do mercado, e consequentemente,

da relação da Google com outras empresas concorrentes. Sobre isso, verificamos a existência

do site1 da IMG360, que é uma representante da Google no Brasil. Nele, a essa representante

oferece o serviço de tour virtual em 360º para empresários que tiverem interesse em inserir o

próprio negocio e empreendimento, literalmente, no mapa. Como vantagens, são apontados o

baixo rendimento e alto retorno, a incorporação da empresa na realidade virtual e a

possibilidade dos clientes poderem visualizar as fachadas, os estabelecimentos e expor “seu

negócio para milhares de usuários de todo o mundo”.

É importante notar que quando pensamos a relação entre o street view e a cidade,

podemos observar dois tipos de ações: 1) a apropriação virtual das paisagens urbanas, e 2) a

mediação entre usuários e a representação de cidade. A questão do aspecto econômico do

aplicativo em relação à cidade remonta diretamente as inquietações de Lojkine (1997) quando

notava que:

Essa abordagem do urbano como condição geral da produção capitalista permitiu-

me apreender uma das originalidades da revolução informacional com respeito à

revolução industrial, a saber: o papel crucial dos serviços urbanos no crescimento

da produtividade global. Ao mesmo tempo, essa abordagem inseria o processo de

socialização urbana numa tríplice contradição entre seu valor de uso coletivo e sua

apropriação privada (LOJKINE, 1997, p.16, grifos nossos).

Embora dialoguemos sobre tecnologias de ponta, o autor nos remete para uma questão

fundamental que são as relações sociais e suas implicações com o espaço urbano, entendido

aqui como descontinuo, organizado e sistematizado de acordo com um conjunto atores

sociais, conflitos e tensões. De forma direta, há o deslocamento de um enquadramento a

respeito da cidade acessível pela experiência, oferecida aos sentidos de qualquer cidadão, para

uma cidade observada a partir de um conjunto de imagens sistematizadas nas telas de

computadores, e nos aplicativos dos celulares.

Nesse sentido, “as pessoas só poderiam voar até o meio do congo e ver suas casas ou

cabanas” de acordo com as condições de acesso às tecnologias, ou seja, a democratização

dessa experiência visual depende da difusão das tecnologias de informação e

consequentemente da expansão das empresas que operam nesse campo.

Pretende-se deixar mais claro que tais imagens urbanas produzidas seguem uma lógica

de monetização e que não estão afastadas de um viés crítico das formas de apropriação do

espaço urbano, já que mobilizam uma serie de atores sociais - como engenheiros, empresários

fotógrafos, motoristas e usuários – que são vinculados ao contexto organizacional do Street

View.

Por outro lado, a situação de mediação nos remete aos estudos de Simmel (2003) em

seus estudos sobre o dinheiro e sobre as cidades italianas. Sobre o dinheiro ele observa que

1IMG. Google Maps Street View para Empresas: sua empresa em destaque na internet. Disponível em:

http://img360.com.br/servicos/google-maps-street-view-para-empresas/. Acessado no dia 18 de dezembro de

2018, as 23:00.

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este desempenhou um papel de mediação nas relações na cidade moderna. Mais que um

artefato monetário, ele foi necessário para expandir as relações econômicas para além das

fronteiras da cidade e alcançar novos mercados, tornando-se um elemento de mediação das

relações e um marcador de impessoalidade nos contextos em que as relações diretas passaram

a ser pensadas segundo as lógicas de discursos de racionalização.

De forma metafórica, as ideias modernas de expansão, de novos mercados, de contatos

com pessoas desconhecidas e impessoalidade constituem valores necessários para que o Street

View alcance seu lugar no mercado de geo informações e marketing empresarial. Mas para

isso, há uma necessidade de se colocar como espaço de mediação entre os homens e a

“cidade” representada. Dessa forma a produção de representações imagéticas difundidas por

meios tecnológicos é um importante ponto para se refletir sobre o significado do flaneur e a

própria experiência de se viver a cidade.

Como todo debate a respeito das condições de pesquisa, é necessário esclarecer ao

leitor sobre as condições de produção das fontes, é necessário enfatizar que a produção de

imagens necessita de processos de negociação e do estabelecimento de laços de confiança.

Tal ponto é importante para enfatizar que nem sempre a relação da Google com estados

nacionais ou com cidadãos se desenvolveu de forma harmônica, ocorrendo situações de

conflito relacionadas à privacidade dos fotografados. Sobre esse ponto Pedrosa (2018)

explica:

Conceitualmente, as fotografias do Google Street View não registram somente

lugares, mostram também o acaso de transeuntes, revelam detalhes por entre janelas,

guardam momentos decisivos como acidentes, mortes e apontam, incessantemente,

para o inusitado. O flagrante, a curiosidade, a invasão do privado são alguns

temas que geram polêmica no Brasil e em outros países graças ao funcionamento

desse serviço (PEDROSA, 2018, p. 24, grifos nossos).

A citação representa bem um caso2 ocorrido em 2015 quando a Google foi condenada

a pagar uma indenização de R$ 50.00 ao paulistano Cristiano Araujo pelo fato da imagem

dele, em frente à própria residência, ter sido capturada e utilizada pela empresa. Segundo

Levy (2012) eles também tiveram resistências na índia, onde ocorreu à proibição do

mapeamento por questões de segurança, e na China cujo governo exigiu um tipo de licença

para que a empresa pudesse atuar. Sobre a implementação desse serviço no Brasil, a

representante da Google explica:

Em 2009 o Google Brasil fez uma parceria com a Fiat para trazer o Street View

para o país. Para a primeira leva de fotos foram utilizados 30 carros, que

percorreram mais de 150 mil quilômetros de vias, captaram milhões de

imagens que foram tratadas e processadas, consumindo muitos meses de trabalho.

No lançamento do Street View no Brasil, no dia 4 de outubro de 2010, 51 cidades

estavam disponíveis no Street View, que incluíam as ruas de São Paulo, Rio de

Janeiro, Belo Horizonte e suas áreas metropolitanas, cidades históricas de Minas e

outras mais. (IMG, janeiro de 2016, grifos nossos).

Além de trazer um breve histórico da empresa no Brasil, a citação também nos faz

esclarecer que existem dois tipos de produção de imagens, realizadas pela empresa: a mais

tradicional em que carros guiados e equipados com várias câmeras passam e capturam as

imagens, e outra personalizada para empresários nas quais se faz necessário o fotógrafo.

Sobre o modo preponderante de acesso as ruas, produzidos pelos carros equipados, Pedrosa

(2018) destaca o fato da mecanização do processo fotográfico e eliminação da subjetividade

2Google terá de indenizar paulista que apareceu no Street View. Disponível

em:https://www.tudocelular.com/android/noticias/n57495/Google-Processo-Street-View.html. Acessado no dia

18 de dezembro de 2018, as 23:00.

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do fotógrafo. Ele explica que mesmo que o motorista compreenda de fotografia, não há como

interagir no processo de produção (direcionamento, foco e enquadramento). Em relação ao

segundo caso, utilizando a analogia entre o “olhar fotográfico” e o olhar produzido de acordo

com os interesses da empresa, ou seja, orientado para o mercado, é importante lembrar que,

Para Becker, a representação e os significados da imagem podem ser entendidos

de acordo com o contexto organizacional no qual se insere, por exemplo, os usos

antropológicos da imagem buscam cientificizá-la de acordo com pressupostos

teóricos e etnográficos fundamentais na construção no campo da Antropologia

Visual (BARBOSA, CUNHA, 2006); já na Sociologia Visual, ocorre uma

operacionalização similar em relação aos pressupostos da teoria sociológica.

(PEREIRA, 2016, p.300, grifos nossos)

No referido caso, tais imagens embora sejam inseridas no contexto da economia,

ocorre também diferentes usos e atribuições de significados oriundos de outros contextos, que

recaem sobre as mesmas imagens. Se para um empresário elas representam um baixo

investimento e uma possibilidade alta de obtenção de lucros, para um sociólogo tal produção

imagética simboliza, entre outras coisas, a interação entre os usuários e consumidores da web,

empresários que contratam o serviço e a Google. Assim, seguindo essa linha de raciocínio, e

concordando com o estudo de Pedrosa (2018), acreditamos que são inúmeras as motivações e

apropriações dos usuários.

No âmbito dos estudos que servem de referência para se problematizar a questão das

relações entre cidades materiais e virtuais, e dos processos etnográficos com novas

tecnologias podemos citar a pesquisa de Diógenes (2015) que buscou analisar os fluxos de

informação da arte urbana em Lisboa, a partir de uma etnografia sobre a produção e

circulação dos grafites e painéis de pintura entre os muros da cidade e as telas da web. Na

relação entre homem e máquina a autora observar um conjunto de ações: ver registrar e

compartilhar que caracterizam um contexto de apagamento das artes nos muros da cidade, e

do desejo de eternidade da arte urbana, por meio das fotografias que são postadas e

compartilhadas nas redes.

Para tanto, ela acompanhou um artista conhecido como Tinta Crua, e sua arte, nos

dois ambientes (off-line e online) descrevendo quais as estratégias dos artistas de rua, e como

todo esse movimento possibilita compreender que a cidade e o ciberespaço, não são apenas

espaços distintos, mas também se combinam em planos de mútua reflexibilidade. Sobre a

ideia de ciberespaço, Dornelles (2004) explica:

A formação de um espaço se dá na imersão nas imagens que se sucedem na

tela do computador. É aí que o meio de comunicação atinge o status de lugar,

de ciberespaço. Há a possibilidade de “mergulho” nessas imagens

disponibilizadas virtualmente. Entendo que seja nesse movimento que a

simulação produzida na interface gráfica adquire um poder de

envolvimento do usuário do computador/Internet. (DORNELLES, 2004,

p.252, grifos nossos)

Embora tal autor, utilize essa definição para pensar a cidade como um campo na

internet, por meio dos chats de bate-papo, é possível contextualizar o mergulho nas imagens e

o processo de imersão tanto com a problematização do Street View, como também pensar os

processos de territorialização de Lisboa por meio das artes urbanas materializadas nas

imagens digitais disponíveis na web, e também no Street View.

Outro estudo importante tem sido desenvolvido por Eckert e Rocha (2016) por meio

da criação de um Banco de Imagens e Feitos Visuais (BIEV) produzido pelo Núcleo de

Antropologia Visual da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NAVISUAL-UFRGS).

Segundo as pesquisadoras, o referido grupo tem se especializado no uso de tecnologias de

informática para a produção de narrativas etnográficas hipertextuais, multimídia visando

traduzir configurações de memória e da vida cultural da cidade de Porto Alegre. Nesse

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sentido, explicam que o BIEV foi criado, em 1997, por meio de uma mescla de práticas

museológicas e etnográficas no estudo do mundo urbano, focadas na produção de imagens

disponibilizadas no ambiente multimídia (ECKERT e ROCHA, 2016). Dentro desse contexto

organizacional analítico e acadêmico, vale destacar que elas percebem:

No processo de tornar digital uma informação (dados agrupados que geram sentido),

a imagem-síntese (processada, armazenada e tratada por um computador) diferencia-

se dos usos da imagem técnica na descrição da experiência etnográfica ao permitir

organizar sua representação segundo novos arranjos de tempo, espaço e causalidade.

Ao contrário de sinais contínuos, a imagem-síntese, tratada por meio de processos

computacionais, é representada matematicamente, através do uso de matrizes

multidimensionais, como uma sequência infinita de números. (ECKERT e ROCHA,

2016, p. 74 - 75).

O que há em comum entre a produção dessas imagens nos âmbitos do BIEV e do

Street View é justamente a questão da instantaneidade de encaixes de imagens que agrupadas

possibilitam sentidos convergentes que geram significação para os usuários e pessoas que

consultam tais acervos.

Por fim, nos chamou atenção o estudo de Frúgoli Jr e Chizzolini(2017) sobre as

relações entre etnografia face a face e imagens do Google Street View, em uma pesquisa

sobre os usuários de crack nas ruas do centro de São Paulo. O estudo desses autores traz uma

etnografia realizada no âmbito do Grupo de Estudos de Antropologia da Cidade (GEAC-USP). Nela são abordados os usuários da cracolandia, e narrados uma serie de eventos e situações que caracterizam a dinâmica sócio-espacial daqueles agrupamentos. Nesse sentido,

descrevem eventos, contatos e situações; e também por um acompanhamento dos

deslocamentos dos usuários, das práticas, das intervenções públicos nos espaços. Trata-se de

uma rica narrativa visual ancorada em uma sequência de imagens do Street View, que ficaram

disponíveis em janeiro de 2010, fevereiro de 2011, março, julho e dezembro de 2014, e maio de 2016.

O caso do LAEPCI: usos do Street View em Imperatriz e Açailândia

Na cidade de Imperatriz-MA, o Laboratório de Estudos sobre Cidades e Imagens da

Universidade Federal do Maranhão (LAEPCI-UFMA) tem se dedicado aos estudos e

experimentações de materiais da web para auxiliar nas pesquisas de campo realizadas na

região. Nesse sentido, podemos destacar dois estudos realizados tanto na área urbana da

própria Imperatriz, quanto da cidade vizinha Açailândia, localizadas no sudoeste Maranhense

a aproximadamente 500 KM da capital. Tratam-se das primeiras experiências de um grupo

criado em 2016, que resultam de um plano de iniciação científica e de um trabalho de

conclusão de curso que foram orientados no âmbito do referido grupo.

Uma primeira observação necessária é a da diferenciação do número de atualizações

fotográficas a depender do local acessado no Street View, por exemplo, no centro comercial

de imperatriz na Simplício Moreira foi possível verificar duas atualizações de março de 2012

e de março de 2018. Já na área estigmatizada da Farra Velha que é conhecida por ter um

histórico vinculado à presença de prostitutas e casas noturnas, na cidade de Imperatriz,

notamos atualizações mais antigas na Rua Antonio de Miranda, ocorridas em novembro de

2011 e setembro de 2012. No caso da Avenida Bernardo Sayão, onde se localiza a Praça da

Bíblia em Açailandia, há apenas uma atualização de 2012.

A questão das atualizações é compreendida como uma vantagem por de Frúgoli Jr e

Chizzolini (2017), por possibilitar o alargamento o tempo instantâneo em relação à

observação etnográfica tradicional, pois em cidades como São Paulo é possível observar um

maior adensamento das sequências de imagens em uma perspectiva temporal, contudo na

Praça da Bíblia ou na Farra Velha tal alargamento foi restrito devido ao menor número de

atualizações. Os autores orientam a necessidade GSV ser combinados com uma etnografia

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face a face, podendo assim, relacionar tais registros com as caminhadas etnográficas e

deslocamentos do pesquisador, sistematizar visualmente a recorrência dos fenômenos e

mapear regiões de difícil acesso. Por outro lado os autores também enfatizam que a

abordagem por esse recurso não substitui a etnografia tradicional, pois não possibilitam ao

pesquisador adentrar nas especificidades da dinâmica urbana, possuem limites éticos quanto

ao uso da imagem, e limites técnicos já que a frequência das atualizações está sujeita aos

interesses da própria empresa. (FRÚGOLI JR. E CHIZZOLINI, 2017)

No projeto de iniciação “Histórias e visualidades urbanas do Ciclo do arroz: imagens e

memórias na área da Farra Velha” desenvolvido pela discente Ana Paula Pinto Pereira, e no

trabalho de conclusão “A cidade e a Praça- Interações, práticas e atores sociais da Praça da

Biblia-ACD”, as alunas foram orientadas para o uso das imagens do Street View com o

objetivo de sistematizar e comparar as habitações e estruturas comerciais dos locais

analisados, no ano de 2012 e em 2018. Grosso modo, o trabalho de campo seguiu

metodologias proposta por Park (1967) e as etnografias influenciadas por Donald Pierson,

bem apontadas nos estudos de Mendonza(2005).

Dessa forma, o GSV foi utilizado como auxílio para a realização de uma descrição

minuciosa do cenário urbano estudado, com vista a identificar relações ecológicas,

morfologias e mudanças ao longo do tempo que sinalizassem práticas e formas de

organização social nos locais.

Imagem 1 – Delimitação. Fonte: Google Maps, 2017.

No estudo da “Farra Velha” foram realizadas observações diretas, estudos

documentais e entrevistas com quatro pessoas que viviam no quarteirão (imagem1) composto

pelas ruas João Lisboa, Antonio de Miranda, Amazonas e Sousa Lima, e que compõem a área

do referido lugar. Cada rua do quarteirão trazia consigo características próprias e um tipo de

morfologia preponderante que se integrava em um conjunto maior. Nesse sentido observamos

que a Rua João Lisboa é marcada, de forma preponderante, pela presença de antigos galpões

de usinas de beneficiamento e∕ou armazém de arroz. Na quadra foram contabilizadas cinco

usinas, dois galpões fechados e um local de eventos que antes era o prédio da “Cerealista

Sales”. Há ainda 3 comércios variados, duas residências, e uma residência com comércio,

contabilizando um total de 14 estruturas físicas. A Rua João Lisboa durante a década de 1960

era totalmente tomada por usinas, por conta disso é conhecida também, como “rua das usinas”

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Imagem 2 - Rua João Lisboa ou Rua das Usinas. Fonte: Google Maps (2012).

Desse local tivemos contato com o senhor Antônio Batista Filho, ou Nozinho, como é

popularmente conhecido. Ele é um usineiro Paraibano que chegou a Imperatriz na década de

1960, e desde então passou a trabalhar na referida rua. Sobre o local ele explica que a escolha

ocorreu por conta do baixo valor dos terrenos na área da Farra Velha, e que lá ocorria uma

forte presença de mulheres que trabalhavam nas casas de prostituição. Quando comparamos a

imagem de 2012 com as produzidas recentemente, e com a observação direta, notamos que

apesar das mudanças, ainda há uma preponderância dos galpões das usinas e locais de

armazenamento ligados a historia da produção de arroz local.

Se uma rua do quarteirão era caracterizada como “rua das usinas”, a rua paralela,

chamada Antonio de Miranda, era considerada o eixo principal da Farra Velha, pois era onde

havia a concentração de bares e casas de prostituição, principalmente, na década de 1980. Na

imagem de 2017 observamos, apenas, três bares, já nas imagens do GSV, de 2012, foram

contados sete bares, demonstrando uma diminuição dos estabelecimentos comerciais no

intervalo de cinco anos. Sobre esse trecho da rua, um dos entrevistados Sr. Batista de Oliveira

Filho, professor da UFMA e morador da Rua Amazonas há 35 anos, relatou que apesar das

mudanças o estigma sobre o lugar ainda produz uma desvalorização que resulta na existência

de casas desocupadas no lugar.

Imagens 3 e 4 – R. Antônio de Miranda nos anos de 2017 e 2012. Fonte: Pereira (2017) e GSV (2012).

As imagens demonstram que o prédio na quadra seguinte é o limite com as edificações

que marcam a memória dos entrevistados e o estigma que se mantêm sobre o lugar. Na

imagem 4 vale destacar a casa azul como uma provável estrutura comercial dos tempos de

grande movimentação dessa rua e , em ambos registros, é possível ver casas humildes,

terrenos vazios e um ambiente fortemente marcado por pouco recursos econômicos.

As ruas Souza Lima e Amazonas que fecham a quadra possuem uma característica

mais residencial. A primeira é composta por uma usina, uma igreja, seis residências, uma

residência com comércio, e três residenciais em forma de prédios, dos quais, 2 é possível

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identificar comércios no 1º andar. Portanto, o pedaço da Rua Amazonas é mais diversificado,

mas com característica marcantemente residencial. Já o pedaço da Souza Lima e formado por

um comércio, três residências com comércio, 11 residências, um residencial em forma de

prédio, um terreno e as delegacias.

Da Rua Souza Lima, tivemos contato com Dona Cecília de noventa anos. Natural de

São João dos Patos (MA), ela chegou a Imperatriz aos 33 anos de idade no dia 13 de outubro

de 1961 onde passou a desenvolver o oficio de costureira. Ela relata que aquela área teve um

tempo de grande circulação de dinheiro e que fazia muitos vestidos para as “garotas” que

chegavam para trabalhar na região. Sobre a paisagem urbana da década de 1960 ela explica:

Nesse tempo tinha os cabaré que era tudo ali pra cima, onde era aquelas casas, tudo

era cabaré, tinha um que era nessa esquina bem aí, onde era o campo do futebol

bem aí onde era a praça (Jesus: a praça Tiradentes) um rum, ali era o campo de

futebol, [...]Só tinha aquela casa da esquina, quando eu cheguei aqui só tinha

aquela casa da esquina, e diz que era um salão de dança, mas não tinha mais

ninguém [...]. (Entrevista Realizada no dia 12 de Dezembro de 2017, grifos nossos)

A entrevistada traz uma memória do espaço que é completamente distinta dos

registros do GSV. A esquina a que se refere é a atual delegacia da cidade (imagem 5)

localizada na esquina com a rua João Lisboa, lugar onde ficam os galpões descritos

anteriormente. Com uma narrativa próxima da obtida com a Dona Cecília, tivemos contato

com dona Maria Gomes, mais conhecida como Maria Gordinha de 67 anos de idade. Uma

piauiense que reside na Rua Sousa Lima há 44 anos, tendo habitado anteriormente 10 anos a

Rua Antônio de Miranda a qual ela denomina de Farra Velha propriamente dita. Ela também

era costureira e conhecia bem a realidade daquele lugar, e nos relata:

Antigamente quando eu cheguei pra cá eu já tinha parece que uns 14 anos, aqui era

cabaré, ali onde hoje é as usinas, sabe, aculá chamava farra velha, e aqui chamava

rua dos cornos, quando eu cheguei pra cá só tinham 3 casinhas só de palha...

(Entrevista realizada no dia 17 de Abril de 2018, grifos nossos)

As usinas e os cabarés fazem parte do imaginário imagético a respeito da quadra

analisada. Foram duas referências espaciais obtidas nas entrevistas que, também, nos

orientaram na navegação pelo GSV. Nesse sentido, compartilhamos com a ideia de Frúgolli e

Chizzoline (2017) de que a pequisa face a face deve ser combinada com a realizada no GSV,

mas nunca substituida. Por outro lado, por mais que não tenhamos as sequencias temporais, o

diálogo entre os relatos e as imagens possibilitam ao pesquisador ter uma noção dos antigos

cenários, como é possível notar na imagem 5, onde a delegacia da esquina está no lugar onde

era um antigo cabaré, segundo o relato de Dona Cecilia.

Imagem 5- Esquina da Delegacia (Souza Lima/ João Lisboa). Fonte: GSV (2012).

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Por meio dessa imagem de 2012 é possível observar a delegacia à esquerda e os

galpões à direita, e imaginar por meio dos relatos, uma imagem pretérita de casas de

prostituição e mulheres durante a noite no canto esquerdo da imagem, e trabalhadores e

caminhões durante o dia, no canto direito da imagem. As memórias, a tecnologia e os relatos

se mesclam em alguns momentos da pesquisa.

Já na pesquisa sobre a Praça da Bíblia em Açailândia, o GSV foi fundamental na

compreensão da área circunvizinha a referida praça analisada, já que o referido logradouro

público está localizado ao lado do bairro Jacu, um conjunto habitacional cujas primeiras casas

foram construídas em 1974(NASCIMENTO, 1998). A relação entre a praça e o bairro ocorre

tanto geograficamente por conta dos 650 metros de largura que acompanham seis quadras do

conjunto, localizada na Avenida Bernardo Sayão, quanto por uma mudança no perfil do

conjunto habitacional, já que as caras voltadas para o lado da Praça passaram a ter

características comerciais, ao longo do tempo.

Nesse sentido o GSV foi um importante auxílio na contagem dos estabelecimentos, no

diálogo com as observações diretas e na análise dessa mudança de característica do conjunto,

que na pesquisa estava associada ao crescente processo de centralidade da referida Praça. Um

exemplo disso pode ser observado com as imagens do Google street View de janeiro e junho

de 2012. Na primeira quadra, em 2012, o GSV demonstra uma residência de muro marrom,

um ponto comercial de venda de churrasquinho, uma lanhouse, um local de venda de galetos,

uma academia de musculação e um restaurante (imagem 6).

Imagem 6 - Instalações Comerciais. Fonte: Google street View, 2012.

Na imagem 6 acima, notamos a presença de uma única estrutura com características

residenciais, no trecho da quadra que faz fronteira com a praça. Já durante uma caminhada de

observação no local, na manhã de 10 de setembro de 2016, foi observado que a residência de

muro marrom sofreu uma alteração, pois os donos construíram um ponto comercial onde

funciona uma farmácia, e foram morar nos fundos da casa. Em seguida, há o ponto comercial

que vende churrasquinho e possui música ao vivo toda às terças-feiras, porém não é mais

seguido de uma lanhouse, mas de um lava jato. Em outra observação realizada em 2018,

verificamos que no local onde era a academia de musculação, funciona atualmente um

quiosque de venda de Cerveja. Vale enfatizar que, no restante desta quadra que não faz

fronteira com a Praça há uma predominância das edificações residenciais.

No ano de 2012, o segundo quarteirão iniciava com uma estrutura que foi dividida em

duas: uma parte mantinha apenas características residenciais e outra servia de base para um

trailer de venda de cachorro quente que funcionava durante a noite. Após esse ponto, existem

quatro casas simples, duas maiores e a Sorveteria Vitória, considerada o ponto comercial mais

antigo, com aproximadamente 17 anos.Hoje em dia, esse ponto está alugado para dois outros

empresários que comercializam churrasquinhos e açaí. Tal como o proprietário do ponto da

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farmácia, o senhor Sebastião também mora nos fundos do terreno. Depois da sorveteria existe

uma residência sem vínculos comerciais, na segunda casa funciona um comércio de

churrasquinhos, a terceira casa é uma lanchonete e logo ao lado está o único posto da gasolina

do bairro - o Posto Econômico 3 que foi inaugurado em 7 de novembro de 2015. Antes a área

do posto era ocupada por uma propriedade que continha um terreno e uma lanchonete de

esquina. Em 2012, a terceira e quarta casa após a Sorveteria Vitória eram compostas por uma

lanchonete e um salão de beleza.

Em 2012, a terceira quadra iniciava com uma lanchonete que vendia pastel e

milkshakes, seguida de uma residência que funciona como lanchonete, logo depois outra

residência com vínculo comercial. Em 2018 ele começa com o Espetus e Cia que foi aberto

praticamente no mesmo período do posto de gasolina, e que subindo na Rua 21 de Abril

encontram-se alguns pontos comerciais, tais como: Top Sorvete e Mini Salgados. Nos últimos

6 anos, observamos que ocorreu um maior investimento comercial, pois os locais onde antes

existiam essas lanchonetes mais simples, hoje são um ponto fechado de venda de

churrasquinhos, uma sorveteria chamada Frozen Açaí e uma lanchonete denominada de Maria

Coxinha, responsável pela venda de mini salgados. Logo após há uma residência e ao lado, a

Igreja Assembléia de Deus, que vem seguida do Edifício São Rafael. Seguindo o quarteirão

foi verificado mais uma residência que à noite funciona como pizzaria e pastelaria, bem como

três residências que não são pontos comerciais. Seguindo o quarteirão foi verificado mais uma

residência que à noite funciona como pizzaria e pastelaria, bem como três residências que não

são pontos comerciais. A residência seguinte é um imóvel que aglutina mais de um comércio,

onde funciona um salão de beleza e um escritório de locação de ônibus. Ao lado, uma

residência sem vínculos comerciais, seguida da Igreja Batista Memorial. O ponto comercial

que em 2012 funcionava um supermercado, em 2014 foi comitê eleitoral de um candidato

deputado estadual e atualmente são dois pontos comerciais, onde um é Aquarela Park uma

loja que loca brinquedos infantis, e na outra parte, uma pizzaria.

Desde 2012 um lava jato dá início o quarto quarteirão onde também se vendia

salgados e onde residiam os donos. Ao lado estava o Mercadinho da Guida que foi inaugurado

em meados de 2016, e que aos fundos possuía a casa da proprietária. Ao lado estava uma

estrutura que foi modificada ao longo dos anos, tendo sido utilizada como lugar de

Congregação Evangélica, como Bar e pode ser considerado o lugar mais transitório dessa

quadra. Anterior a Escola Municipal Pingo de Gente, está um prédio que funciona como

condomínio, e mais adiante, uma casa abandonada que foi residência de um dos radialistas

mais antigos da cidade. A quadra segue com o prédio onde funciona atualmente a Clínica de

Nefrologia de Açailândia, que antes era um Hospital Particular, o São Braz e que por muito

tempo ficou abandonado. A partir de 2015 a prefeitura iniciou a reforma desse prédio para ser

o centro de tratamento para pacientes que fazem hemodiálise. Ainda no mesmo quarteirão, ao

lado da Clínica estão três residências e o Bar da Elisa que também vende churrasquinhos e é o

mais antigo da praça. Já dentro da praça estão situados dois traileres, os quais funcionam

como Bar e Lanchonete, possuindo praticamente o mesmo tempo de existência que o bar da

Elisa. E por fim, mais uma residência, seguida da Academia do Granola onde se pratica Artes

Marciais, Jui-Jutsi e Muai- Thay.

Em 2018, observamos que o quinto quarteirão começa com o Bar Bate Papo e ao lado

uma residência, que também é lava jato. Logo em seguida, existem nove casas residenciais

que são de um salão de beleza que finaliza a quadra. O sexto e último quarteirão conta com

uma residência que em 2016 funcionava como ponto comercial, mas atualmente é apenas

moradia. Há depois mais uma residência e a Igreja Presbiteriana que faz limite com um

terreno murado, que por fim, finaliza o cenário das quadras laterais que fazem limite com a

praça.

O quinto e sexto quarteirão conforme a análise comparativa de imagens e observação

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foram os que menos sofreram mudanças nas estruturas, predominando até hoje a característica

residencial.

Ao longo dessa Avenida Bernardo Sayão e seus 650m (delimitação oeste da Praça)

verificou-se também sessenta e seis estruturas físicas, valendo ressaltar, que podem ter mais

de sessenta e seis funções, tendo em vista que uma estrutura pode ser usada para mais de uma

finalidade, e, portanto, concentra mais de um tipo de comercialização3. De maneira detalhada

observamos a existência de 29 residências sem vínculo comercial; 12 residências com

vínculos comerciais; 20 pontos comerciais dissociados do residencial; três igrejas; uma

escola; uma clínica. Destaca-se, assim, neste cenário, um total de 32 pontos comerciais, dos

quais 18 vendem lanches e comidas.

Dessas 66 estruturas físicas, 27 encontram-se nas primeiras três quadras onde foi

delimitada a nossa área de observação. Trata-se da área de maior concentração de pessoas. O

local que representa aproximadamente metade dos 650m e bem menos da metade de

residências, pois só possui 10 residências sem vínculo comercial. É o lugar que oferece 16

tipos de produtos alimentares, produtos para carro, entretenimento, entre outros, os quais

possuem capacidade de gerar concentração de pessoas, principalmente no período noturno.

Dentro da Praça, nessa mesma região, existem quatro trailers, sendo que um deles é

uma pastelaria e os outros três são sorveterias, além de uma Kombi que vende lanche. A

presença dos vendedores ambulantes no local tem maior visibilidade à noite, concentrados às

margens da Rodovia principalmente nos finais de semana, vendendo infinidades de produtos

que vão de comida à locação de brinquedos infantis. Enquanto na outra metade da praça,

verificamos espaços de menor concentração, compostos por quadras de esporte, menor

iluminação noturna e relatos de violência4 de pessoas dados por pessoas que trabalham na

área mais comercial do logradouro público.

Na etnografia realizada foram utilizados recursos virtuais, conforme visto

anteriormente no conjunto de imagens do GSV, que com intermédio do conhecimento

preestabelecido mediante as observações realizadas tornaram-se, sem dúvida um instrumento

bastante útil a fim de aprimorar o mapeamento da área que delimita a praça. Além das

contribuições dita anteriormente, o uso do GSV como ferramenta visual na pesquisa ajudou a

sistematizar de modo visual uma breve temporalidade histórica do lugar, conferindo assim, o

que é chamado por Frugolie Chizzolini(2017, p. 30) de espacialidade visual às observações,

não limitando apenas às imagens obtidas em campo.

Conclusão

Se a cidade sempre foi representada nas mais variadas formas de expressão humana,

chegamos ao momento em que a difusão, velocidade e todas as características atribuídas ao

que muitos chamam de revolução tecnológica ou avanços do paradigma técnico científico

informacional passaram a significar diferentes formas de se apropriar, perceber e dialogar

com imagens urbanas, mobilizadas pelos mais variados sentidos subjetivos, ligados as

historias de vida, temporalidades e espacialidades variadas, e objetivas quando se estruturam

em elementos e valores próprios da sociedade ocidental: razão, mercado, homogeneização da

3Assim como o ocorrido no ponto da antiga sorveteria vitória, localizada no segundo quarteirão e na casa que

funciona como salão de beleza e escritório de locação de ônibus, situada no terceiro quarteirão. 4QUADRO, Jorge. Chico Sergipano é morto a tiros próximo a praça da bíblia em Açailândia. Disponível em:

http://jqnoticias.com.br/plantao-chico-sergipano-e-morto-a-tiros-proximo-a-praca-da-biblia-em-acailandia.Acessado

em 29 de junho de 2018 às 16:20.

LOPES, Isisnaldo. Jovem é morto a tiros em Açailândia. Disponível em Disponível em

http://inoticiama.com/noticias/4726/jovem-morto-a-tiros-em-a-ail-ndia. Acessado em 29 de junho de 2018 às 16:30.

MARCOS, Antônio. Jovens são flagrados vendendo drogas em Praça Pública e „em plena luz do dia‟, no centro de

Açailândia. Disponível em <http://www.amarcosnoticias.com.br/elemento-e-preso-vendendo-droga-na-praca-e-em-

plena-luz-do-dia-em-acailandia. Acessado em 29 de junho de 2018 às 16:40.

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experiência etc.

Na relação entre a cidade virtual e a urbe vivida cotidianamente pelos citadinos, as

imagens são um elemento comum que transitam das memórias construídas a partir de um

imaginário de cidade até os processos computacionais que permitem aos indivíduos ter uma

sensação de interação e experiência urbana. Dentre as mais variadas representações

mobilizadas, mapas, imagens de satélite e demais símbolos gráficos presentes no GSV, as

fotografias e frames são a matéria prima que permite a sensação de imersão na cidade. Podem

ser consideradas um elemento de mediação entre o usuário e as paisagens urbanas do presente

e do passado, colocando-o na posição de observador de um mundo estático capturado a partir

de câmeras “enquadradas” a partir do movimento de um carro. Imagens cujo olhar fotográfico

cujo sentido manifesta o interesse empresarial da Google. Nesse sentido a sociologia e a

antropologia e seus métodos tradicionais são extremamente necessário para problematizar o

local de construção da fonte, o que muitos traduzem como “o local de fala”. Pelo papel de

mediação da experiência e dos sentidos presentes nos bastidores da produção das imagens

tem-se ai uma necessidade clara de problematizar os contextos organizacionais de onde

emergem tais produções.

Por outro lado, observamos que apesar da objetividade do mercado, a imagem como

elemento possui diferentes mensagens em relação aos seus observadores, ou seja, não é

possível prever os usos nem mesmos os sentidos atribuídos a experiência com as imagens.

Nesse sentido, alguns especialistas e núcleos de estudos urbanos e visuais tem dedicado

pesquisas a fim de refletir sobre os limites e potencialidades das imagens da cidade virtual, e

também do GSV, para tanto para a produção de narrativas etnográficas, quanto para o

desenvolvimento das próprias pesquisas. Temos assim, um campo complexo onde dialogam

pesquisas da comunicação, da sociologia e antropologia urbanas e da imagem.

No âmbito do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Cidades e Imagens, nos

valemos do GSV e de uma experiência do Grupo de Estudos de Antropologia da Cidade

(GEAC-USP) como forma de difusão do debate, como maneira de se pensar alguma

especificidade de duas cidades no sudoeste do Maranhão, e de promover, localmente, o debate

em torno da imagem como estimulo para a iniciação cientifica discente. Além dessas questões

de ordem prática, verificamos que apesar do número menor de atualizações de alguns locais, a

combinação da pesquisa face a face com a observação no GSV possibilitou ricas descrições

etnográficas, comparações temporais de curta duração, o exercício de reflexão e critica das

fontes e o estimulo para a prática de uma etnografia urbana desenvolvida por meio de

caminhadas. Por ser compreendido como um tipo de complemento da pesquisa tradicional e

um incentivo importante para a própria iniciação etnográfica discente.

De modo direto, esse recurso auxiliou na observação das mudanças temporárias nas

paisagens de um quarteirão, localizado em uma área estigmatizada de Imperatriz, e de uma

Praça na cidade de Açailandia. Isso, seguindo uma orientação de descrição geográfica e social

do cenário estudado e uma metodologia descritiva baseada nos teóricos clássicos da escola de

Chicago. Enfim, esse exercício possibilitou uma boa combinação entre técnica e teoria, no

processo de construção etnográfica.

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