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O híbrido: o preço de um veredicto

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“Lugar errado na hora errada”. Algumas pessoas chamam coincidência, outras, destino, mas o fato é que, para Dennis, um verdadeiro ímã de confusões, o perigo não marca hora nem lugar. Mais uma vez, Dennis tem de usar suas habilidades especiais para salvar a própria vida e a do seu melhor amigo, Bartolomeu, enquanto corre contra o tempo do seu período máximo de abstinência da água. Refém de um sequestro em que o preço de sua liberdade é a promulgação de um veredicto, Bartolomeu conta com a ajuda de Dennis para sair ileso dessa nova aventura.

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São Paulo 2012

Marcia de Oliveira

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Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda

CapaAndré Siqueira (eraeclipse.com)

Projeto Gráfico e diagramaçãoAline Benitez

Revisão Henrique de Souza

Priscila Loiola CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

__________________________________________________________________O48h Oliveira, Márcia Maria Almeida de O híbrido: o preço de um veredicto/ Márcia Almeida. - São Paulo: Baraúna, 2012. Índice ISBN 978-85-7923-526-9 1. Ficção brasileira. I. Título.

12-0657. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

03.02.12 07.02.12 032995 __________________________________________________________________

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

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Sumário01 Fatos ou boatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

02 Revelações do passado . . . . . . . . . . . . . . .27

03 Festa surpresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47

04 Presente de aniversário . . . . . . . . . . . . . .73

05 Conselhos maternos . . . . . . . . . . . . . . . .89

06 Rotina escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99

07 Primeira consulta . . . . . . . . . . . . . . . . .113

08 Confraternização das turmas . . . . . . . .127

09 Risco na praia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151

10 Satisfações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .173

11 Sem explicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . .183

12 Ousadia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197

13 Chegada de Eduardo . . . . . . . . . . . . . . .217

14 Amizade sem segredos . . . . . . . . . . . . .237

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15 O preço de um veredicto . . . . . . . . . . .259

16 Transparência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .289

17 Assistência médica . . . . . . . . . . . . . . . .307

18 Visita ao apê . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .329

19 Hospital Municipal . . . . . . . . . . . . . . . .351

20 Ceia de Natal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .365

21 À flor da pele . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .379

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01Fatos ou boatos

Dennis chegou cedo à escola naquela tarde de se-gunda-feira. Havia poucos alunos no pátio, dispersos em pequenos grupos, e, decidido a esperar a namorada e sem vontade de conversar com mais ninguém, resolveu sen-tar-se no banco de granito em frente à cantina.

Depois dos derradeiros acontecimentos do último final de semana, quando enfrentou perigosos bandidos a bordo de um navio em pleno Oceano Atlântico, para salvar a namorada e a amiga das garras de uma quadrilha que traficava mulheres para o exterior, ele tinha a escola como sua válvula de escape e seu refúgio.

Estava ansioso para rever Alícia, pois não conseguia falar com ela desde o dia anterior, quando seu pai Fran-cisco os flagrara, em seu quarto na vila dos pescadores,

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aos beijos e abraços, numa situação bastante constrange-dora. E, por ter perdido o celular e ficado incomunicável durante todo o final de semana, sentia que o tempo ca-minhava a passos de tartaruga. Só fazia um dia que tinha visto a Alícia pela última vez, mas seu coração sentia o vazio de uma eternidade de ausência.

Apesar de tudo o que acontecera, Dennis sentia-se aliviado por não precisar esconder mais da Alícia seu segredo, o qual revelou na íntegra quando ela o flagra-ra dormindo submerso na banheira do seu quarto. No fundo, estava bastante nervoso e inseguro quanto à ma-neira como ela o trataria dali para frente após saber que não era um rapaz normal, e sim fruto de uma experi-ência genética, dotado de poderes e limitações. Dennis continuava a amar a Alícia da mesma forma, mas temia algum tipo de rejeição da parte dela, depois que a garota teve uma noite inteira para pensar com mais calma e medir os prós e os contras do relacionamento. Mas não imaginava ele que Alícia nem conseguira dormir direito naquela noite por concluir que o amava mais do que nunca e que jamais sua condição ímpar representaria um obstáculo para esse amor.

Ao avistar Alícia se aproximando, Dennis ficou de pé para recebê-la e, após se olharem por alguns segundos em silêncio, se abraçaram e se beijaram calorosamente no meio do pátio da escola, atraindo vários olhares curiosos de alguns poucos transeuntes e grupos dispersos de alunos.

— É coincidência, sorte ou destino termos chegado mais cedo à escola hoje, sem ao menos termos combina-do nada? — indagou Dennis ao final do demorado beijo,

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enquanto alisava o cabelo dela com uma mão e com a outra a abraçava pela cintura.

— Creio que seja destino — respondeu Alícia —, desde cedo acordei com uma ideia fixa na cabeça de chegar mais cedo hoje, não sei dizer por quê, apenas que meu co-ração me pedia. Nem esperei a carona do papai como sem-pre faço. Inventei uma desculpa e vim na frente. Também nem parece que foi ontem a última vez que nos vimos, sinto como se tivesse passado um século, estava louca para vê-lo, senti uma aflição tão grande no peito, precisava do seu beijo e sentir seu corpo para diminuir essa agonia... Por que você não foi me ver ontem à noite? Deveria ao menos ter me ligado. Senti muito a sua falta, sabia?

Entrelaçou os braços no pescoço dele, apertando bem forte o abraço e pousando a cabeça em seu peito, mas Dennis se afastou um pouco para encará-la, seguran-do-lhe a cabeça pela nuca.

— Caramba! Se eu soubesse que seria recebido as-sim, todas as vezes que deixo de ir à sua casa ou deixo de ligar para você, ficaria mais tempo sem telefone — confessou Dennis, puxando-a pela cintura para colar o corpo ao seu e sussurrar ao seu ouvido: — Não fui à sua casa ontem porque me conheço e sei que se a encontrasse depois do que começamos no meu quarto eu teria que terminar em sua casa, precisava desse tempo para abran-dar o fogo que você acendeu. — Beijou a lateral do seu pescoço. — E não te liguei porque perdi meu celular no navio no sábado, naquela confusão, deve ter caído do meu bolso em algum momento. Além disso, a mamãe me proibiu de sair, achou melhor eu ficar em casa e me recu-

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perar mais do meu ferimento e da nossa última aventura, principalmente depois que papai contou para ela como nos encontrou no meu quarto pela manhã, evidentemen-te com certa dose de exagero, se é que você pode imagi-nar. — Dennis afastou os cabelos de Alícia do rosto com uma das mãos, para olhar diretamente em seus olhos en-quanto falava. — Não posso tirar a razão de papai sobre deveres e responsabilidades. Ontem, tomado pelo desejo, quase perdi a razão e a perderia se fosse à sua casa mais tarde. — Fez uma pequena pausa, para percorrer com o dedo o contorno dos lábios da namorada. — Também senti muito a sua falta — confessou, com sua voz de ba-rítono ao pé do ouvido da garota. E, erguendo o queixo dela com a mão completa: — Como você está?

— O quê? — Quase enfeitiçada pelo toque do na-morado, custou-lhe alguns segundos para compreender que Dennis acabara de lhe fazer uma pergunta. Qual era a pergunta mesmo?

— Eu perguntei como você está — repetiu o jovem, com um leve sorriso, como se lesse os pensamentos dela.

— Eh... Eu? — Balançou a cabeça duas vezes, como se quisesse sair de um transe. Rodeou mais uma vez as mãos no pescoço dele e ficou nas pontas dos pés — Eu... Bem, eu estava péssima até poucos minutos, mal consegui dormir essa noite, mas milagrosamente melhorei ao vê-lo, abraçá-lo e beijá-lo. Mas, se quer saber como estou em re-lação a nossa pequena aventura no Atlântico, acho que já posso me considerar recuperada — respondeu Alícia, dan-do leves beijos no rosto de Dennis. — Digamos que estarei pronta para outra aventura no mar daqui a... — Beijou

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atrás da orelha dele. — Vinte anos? — Beijou na lateral do pescoço. — Trinta? — Outro beijo. — Você acreditaria se eu dissesse que também perdi meu celular no navio? — Alícia fez uma pequena pausa antes de continuar. — Sabe o que descobri? — E fitou os olhos azuis do namorado.

— O quê? — Dennis enrolou uma mecha do cabelo dela em seu dedo indicador.

— Descobri que não sei mais viver sem você, e que cada dia, hora, minuto e segundo que fico sem te ver, minha vida fica totalmente sem graça, sem contar que meu coração bate disparado cada vez que você me toca.

— Que coincidência, pois acabo de descobrir a mesma coisa sobre você. — Tentou o jovem, em vão, colocar os cabelos dela atrás da orelha. — Só que, no meu caso, meu coração não dispara, ele simplesmente para cada vez que você me toca. Sem contar o fato de ele querer sair pela boca quando sente o calor do seu corpo, como nesse exato mo-mento. — Percorreu com os olhos de cima a baixo o corpo de Alícia, antes de fitá-la novamente. — Você é pura tenta-ção, Alícia. Sabe Deus o que eu faria se meu pai não tivesse chegado ao meu quarto naquela hora. — Suspirou. — Mas fico aliviado de ouvir de você que a recíproca é verdadeira, pois eu fiquei bastante inseguro do rumo do nosso relacio-namento depois de tudo que você descobriu a meu respeito ontem. Até pensei que iria querer acabar nosso namoro.

— Por que inseguro? E por que eu iria querer acabar o namoro? — perguntou Alícia, franzindo a testa.

— Eu achava que, depois de uma noite inteira para refletir com mais calma, você iria pensar melhor e acabar decidindo se afastar de mim.

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— E por que eu haveria de decidir tomar essa atitu-de tão extrema?

— Ora, porque... — Dennis olhou para os lados, an-tes de completar em sussurro. — Posso listar uma série de motivos, mas o principal deles é que sou diferente dos outros rapazes por ser um híbrido, acho que não satisfaço às suas expectativas de levar uma vida normal ao meu lado, tenho minhas diferenças e limitações, se é que me entende. Não sou o homem perfeito que você esperava, Alícia.

— Sabe que eu não tinha olhado por esse ângulo? Real-mente, Dennis, você tem razão, você não é quem eu esperava.

Em seguida, Alícia afrouxou o abraço, para fitar os olhos dele. Dennis ficou paralisado. O que ele tanto te-mia em toda a sua vida, em relação à sua condição, como a rejeição e o preconceito, se concretizava nesse exato momento. E o que é pior, por sua culpa e por sua su-gestão. Bem que podia ter ficado calado. Aquela breve demonstração de afeto por parte dela nada mais era que uma cruel despedida?

— Dennis, você é mais do que eu sonhava ou sequer imaginava que existia, superou em todos os aspectos as mi-nhas expectativas — continuou Alícia, apertando-o nova-mente em seus braços. — Em resumo, você é meu amigo, minha alma gêmea, meu confidente, meu companheiro, o amor da minha vida e meu herói com superpoderes, tudo em um só pacote. É muito mais do que eu sonhava.

— Você não existe, Alícia, é por isso que te amo tanto. — Dennis sorriu aliviado, puxando-a pela cintura e pela nuca, para pousar os lábios em sua boca com movi-mentos urgentes e crescentes, unindo-se ao corpo dela da

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ponta dos pés ao alto da testa, esquecendo-se completa-mente de onde estavam. — Eu te amo tanto — sussurrou ao seu ouvido, no intervalo de um beijo. Com a respira-ção começando a acelerar e as carícias a ousar, Dennis sentiu uma mão bater em seu ombro seguida de uma voz grave e já conhecida, quebrando totalmente o clima.

— Vocês dois madrugaram na escola hoje, foi? — perguntou Bartolomeu, que acabara de chegar.

— Que susto, Bartô — falou Dennis, quebrando o beijo, girando o corpo e atravessando o braço nas costas de Alícia para pousar a mão em seu ombro oposto, fican-do ambos de frente para o amigo.

— Posso até imaginar o porquê do susto. — Barto-lomeu correu os olhos de cima a baixo. — Mas isso não vem ao caso agora. É verdade o que estão comentando sobre vocês?

Era incrível a capacidade de Bartolomeu de mudar de assunto em questão de segundos.

— O que estão comentando? — perguntaram em coro Dennis e Alícia, enquanto se sentavam no banco de granito ao lado deles.

Bartolomeu permaneceu de pé enquanto falava.— Estão comentando da última aventura de vocês

dois com Roberta, a bordo de um navio no último final de semana. Isso é verdade?

— Como ficaram sabendo? — quis saber Dennis.— Como ficaram sabendo tão rápido? — frisou Alí-

cia. — Isso foi sábado, e hoje ainda é segunda-feira, como você vê, fomos praticamente os primeiros a chegar à escola hoje. — A garota apontou para o pátio, quase vazio.

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— As notícias correm além dos muros da escola, Alícia — justificou Bartolomeu. — Ah, então é verdade, não é boato. É fato.

— Quem te falou? — perguntou Dennis.— Fiquei sabendo através da Nádia.— Da Nádia? — indagou Alícia, franzindo a testa.— Pois é... Ela me ligou ontem à tarde para saber

se eu sabia algo a respeito, e confesso que fiquei até chateado por não saber de nada, afinal, vocês são ou não são meus amigos? — expôs Bartolomeu. — Pelo que eu saiba, amigos contam as coisas entre si, princi-palmente coisas pelas quais a vida desses amigos corre algum tipo de perigo.

— Como a Nádia ficou sabendo? — insistiu Alícia.— Nádia ficou sabendo pela Vânia, que ficou saben-

do pela Sarah, que ficou sabendo pelo Rafael, que ficou sabendo pelo Bruno, que ficou sabendo pela Thaís, que ficou sabendo pela própria Roberta, sua “amiga” de ver-dade — ironizou Bartolomeu. — Tentei ligar para Den-nis, mas, para variar, seu telefone só dava fora de área e por incrível que pareça o da Alícia também.

— Perdi meu celular no navio — confessou Dennis. — Estou provisoriamente incomunicável na vila dos pesca-dores, mas prometo que amanhã mesmo comprarei outro.

— Eu também perdi o meu no navio — emendou Alícia.

— Perderam no navio, foi? E que navio seria esse? — zombou Bartolomeu, franzindo a testa e cruzando os braços na frente do peito enquanto se encostava na parede.

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Dennis levantou-se e pôs a mão no ombro do amigo.— Não fique com ciúmes, Bartô. Claro que eu iria

lhe contar tudo, só precisava de um tempo para me re-cuperar de mais uma aventura, aliás, segundo a mamãe, ando me metendo muito em confusão ultimamente, des-de que comecei a estudar aqui.

— Não estou com ciúmes! — exclamou Bartolo-meu. — Magoado, ignorado, esquecido talvez, e quer saber? Não vou tirar a razão da dona Josefa, pois, cá entre nós, não deixa ela me escutar, mas você parece que tem um ímã para atrair confusão, Dennis — completou.

— Eu?! Você escutou o que ele falou, Alícia? — Dennis virou-se para a namorada, que acabara de ficar de pé tam-bém. — Agora o culpado sou eu da Roberta ter dado uma de maluca e embarcado num navio lotado de mulheres para serem exploradas na Europa. Isso é que dá a gente querer ser prestativo e oferecer uma carona para uma amiga.

— Ah, rá! Então a parada foi essa! Você só deu uma carona para Roberta e acabou, “sem querer”, obviamente, embarcando com ela e Alícia para a Europa a bordo de um lindo navio? — ironizou Bartolomeu.

— Bartô, fique sabendo que, não fosse pelo Dennis, não estaríamos aqui nesse momento, contando essa his-tória — emendou Alícia. — E o navio nem era tão lindo assim, as cabinas eram uns cubículos de tão pequenas e apertadas, não tinham conforto nenhum.

— Então o Dennis mais uma vez foi o salvador da pátria? — indagou Bartolomeu. — Não me diga que foi jogado ao mar novamente!

A especulação do Bartolomeu fez Dennis e Alícia