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O HOMEM ESTELAR John Baines Auyantepuy Editores S.A. – 1987 ÍNDICE Prólogo Palavras de Isis O Anticristo Vivisseção do Sapiens A Alma Coletiva da Espécie Os estados orgiásticos – A conformidade com o grupo – A atividade criadora – A união pelo amor Ser ou Não Ser? A Ilusão do Conhecimento Verdadeiro A Ilusão da Liberdade O Hermetismo Os Buscadores CAMINHO ATÉ O OLIMPO As Sete Chaves do Conhecimento O princípio do mentalismo – O princípio da correspondência – O princípio da vibração – O princípio da polaridade – O princípio do ritmo – O princípio de causa e efeito – O princípio da geração Os Discípulos Caminho fácil do estudante – Caminho difícil do discípulo A Real Iniciação As Provas Os Obstáculos Conceito errôneo de hermetismo ou esoterismo em conjunto – A dificuldade de ver-se a si mesmo objetivamente – O desinteresse em conhecer a verdade – O conformismo com o “rebanho” – A dependência das paixões – L projeção dos problemas psicológicos até o ensino – O temor da liberdade. As Práticas Iniciáticas O desenvolvimento do super cérebro – Educação das quatro inteligências – Inteligência do aparelho digestivo (elementos terra) – Inteligência do aparelho

O HOMEM ESTELAR

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O HOMEM ESTELARJohn BainesAuyantepuy Editores S.A. – 1987

ÍNDICE

PrólogoPalavras de IsisO AnticristoVivisseção do SapiensA Alma Coletiva da Espécie

Os estados orgiásticos – A conformidade com o grupo – A atividade criadora – A união pelo amor

Ser ou Não Ser?A Ilusão do Conhecimento VerdadeiroA Ilusão da LiberdadeO HermetismoOs Buscadores

CAMINHO ATÉ O OLIMPO

As Sete Chaves do ConhecimentoO princípio do mentalismo – O princípio da correspondência – O princípio da vibração – O princípio da polaridade – O princípio do ritmo – O princípio de causa e efeito – O princípio da geração

Os DiscípulosCaminho fácil do estudante – Caminho difícil do discípulo

A Real IniciaçãoAs ProvasOs Obstáculos

Conceito errôneo de hermetismo ou esoterismo em conjunto – A dificuldade de ver-se a si mesmo objetivamente – O desinteresse em conhecer a verdade – O conformismo com o “rebanho” – A dependência das paixões – L projeção dos problemas psicológicos até o ensino – O temor da liberdade.

As Práticas IniciáticasO desenvolvimento do super cérebro – Educação das quatro inteligências – Inteligência do aparelho digestivo (elementos terra) – Inteligência do aparelho procriador (elemento fogo) – Inteligência do aparelho circulatório (elemento água) – Inteligência do aparelho respiratório (elemento ar).

O Eu da VontadeAmor – Esperança – Conhecimento – Paz – Cérebro: inteligência – Coração: sentimento – Sexo: instinto

A Vida e os Poderes do Homem EstelarVisão GeralAos Leitores

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A VIDA E OS PODERES DO HOMEM ESTELAR

Se se nos apresentasse a oportunidade de conhecer e trocar com um homem estelar, provavelmente não seríamos capazes de perceber nele nenhuma diferença marcante em relação ao resto da humanidade. Nada é mais risível do que a semelhança física que alguns “místicos” pretendem traçar dos grandes iniciados, em que se representa os mestres lendários como Jesus, Kut Humi, Moria, Serapis, e outros, como possuidores de uma beleza física extraordinária, como se fossem verdadeiros anjos encarnados. Isto demonstra, precisamente, a idealização que as pessoas fazem destes homens, cuja aparência física não difere, em verdade, daquela do homem comum que podemos ver em qualquer lugar. Só o que os denuncia, aos olhos de quem sabe ver, é a aura de força e poder que os rodeia, seus olhos brilhantes, seu rosto iluminado, a vibração harmônica que projetam. Transcreveremos a interessante descrição que foi feita dos Rosacruzes por Henri Durville em seu livro “História da Ciência Secreta”. Os Rosacruzes formaram em sua época a Ordem Hermética mais importante, sementeira de homens estelares. Os verdadeiros Rosacruzes no entanto não se mostram tão facilmente, a maior parte das vezes os que dizem sê-lo e pretendem demonstrá-lo por meio de toques ou palavras de passe são apenas vulgares imitadores que usurparam o nome sagrado. Há rosacruzes e “rosacruzes”, e o iniciado ou estudante só poderá reconhecer os autênticos por sinais internos, não externos. Depois desta digressão, tomemos conhecimento do comentário sobre os rosacruzes transcrito por Durville:

“Sua existência, embora historicamente incerta, está rodeada de tal prestígio que leva por força ao assentimento e conquista a admiração. Falam da humanidade como infinitamente inferior a eles; seu orgulho é grande, embora seu exterior seja modesto. Amam a pobreza e declaram que para eles é uma obrigação, embora possam dispor de imensa riqueza. Afastam-se dos afetos humanos e se submetem a eles apenas como obrigação de conveniência imposta pela sua permanência no mundo. Comportam-se com muita cortesia com relação às mulheres, embora sejam incapazes de um carinho e as considerem como seres inferiores. São simples e deferentes no exterior, mas a confiança em si mesmos, que preenche seu coração, só permite que se irradiem diante do infinito dos céus. São a gente mais sincera do mundo, mas o granito é macio diante de sua impenetrabilidade. Perto dos adeptos, os monarcas são pobres; ao seu lado, os mais sábios são estúpidos; jamais dão um passo em direção à fama que depreciam, se chegam à fama é com pesar; não buscam as honras, já que nenhuma glória humana lhes é conveniente. Seu grande desejo é passar incognitamente pelo mundo; por isto são negativos diante da humanidade e positivos diante de qualquer coisa; auto-abatidos, auto-iluminados em si mesmos em tudo, mas dispostos a fazer o bem na medida de suas forças. Como medir esta imensa exaltação? Os conceitos críticos se desvanecem diante dela. O estado destas filosofias ocultistas é o sublime ou o absurdo. Não podendo compreender sua alma nem seu objeto, o mundo declara que um e outro são fúteis”.

Esta descrição está muito distante de ser atrativa ou agradável, mas expressa a visão que o sapiens tem do homem estelar. Por nossa parte, diremos que o Iniciado Hermetista pode alcançar os seguintes privilégios ao longo de seu caminho iniciático:

1. Libertar-se dos complexos e paixões inferiores2. Libertar-se do Computador Central da espécie e ser um homem realmente

desperto3. Claridade mental absoluta e equilíbrio emocional4. Conhecimento das forças ocultas da natureza (o natural não conhecido)5. Ingresso na elite dos verdadeiros sábios. O verdadeiro sábio é o sábio da mente e

não o do intelecto

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6. Sobrepor-se às eventualidades da vida7. Conhecer-se e encontrar-se a si mesmo8. Apoderar-se do segredo da felicidade e do amor9. Desprogramação emocional, instintiva e cerebral10. Libertar-se do inconsciente coletivo ou alma animal11. Unir-se à divindade interna12. Conhecer as verdades transcendentais e a verdade única, convertendo-se em um

sábio da mente13. Libertar-se da dor e do sofrimento estéril14. Reencarnar conscientemente por meio de um “avatar”15. Conhecer as causas ocultas de tudo que existe16. Ter o poder das vibrações e o segredo das transmutações17. Alcançar a qualidade de homem ou mulher estelar por meio de uma mutação

genética e psicológica18. Libertar-se do Maia

Estes poderes põem o hermetista em um nível muito superior ao do homem comum resultando numa tarefa muito árdua chegar a reconhecer verdadeiramente a um mestre hermetista, já que mesmo sendo seus amigos mais íntimos e que ele nos comunique seus pensamentos e sentimentos mais secretos, não nos será possível, partindo da nossa posição, interpretá-los ou avaliá-los adequadamente e provavelmente chagaremos a conclusões absolutamente opostas à verdade.

É mister considerar a posição nitidamente espiritual do homem estelar, e que todas as suas faculdades superiores são de índole espiritual, ao contrário dos cultuadores ou praticantes da magia astral, que não necessitam haver despertado e nem mesmo haverem-se desprogramado para executar seus “feitiços”. Mesmo assim é preciso salientar que uma grande percentagem dos que praticam “a magia” caem em cheio na “magia negra”, que podemos definir, em uma de suas acepções, como “o uso e projeção da energia massa do corpo, sem haver-se desprogramado com antecedência”. Quer dizer, todos aqueles aprendizes de feiticeiros são, em geral, homens adormecidos e programados que, dentro de sua condição onírica, tiveram a oportunidade por um motivo qualquer de ter acesso à teoria hermética e a usam, em geral, para satisfazer suas paixões inferiores ou viver a agradável ficção de passar por seres “muito evoluídos” e poderosos. Às vezes, por trás desses personagens, existe a sinceridade daquele que, enganando-se a si mesmo, vive a fantástica alucinação de um mundo subjetivo criado a seus próprio gosto.

“Magia negra” não é, comumente, aquela que mata e destrói, mas a que provoca o caos e a anarquia porque seus seguidores são utilizados pela besta, da qual não conseguiram se libertar, para seus próprios e obscuros desígnios.

É fácil compreender que o “mágico” e o “espiritual” são duas coisas absolutamente diferentes e que jamais se chega ao espiritual pela via do “mágico”. Ao contrário, não existe ninguém que seja em verdade espiritual que não tenha acesso ao “mágico”. Magia sem espiritualidade é sempre magia negra. Para compreender isso devemos lembrar que espiritualidade não é de maneira alguma “adotar” uma atitude espiritual de pureza, mansidão e amor, mas significa, como já o dissemos, conseguir que o espírito se manifeste através do próprio cérebro.

Por este motivo devemos, obrigatoriamente, considerar a Parapsicologia como um conjunto de fenômenos de projeção de energia que não têm absolutamente nada a ver com o espiritual. Não se necessita ser espiritual para se converter em médium ou ter premonições; ao contrário, estes fenômenos ocorrem na esfera astral inferior, relacionada com o animal ou passional do ser humano.

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Voltando aos poderes espirituais do hermetista, devemos dizer que seus atributos superiores não lhe permitem escapar nem iludir a realidade material, muito pelo contrário, deve respeitar as leis do todo, já que ninguém pode ir contra essas leis. Desde o momento em que vive em um corpo material, deve alimentar-se, dormir, descansar e divertir-se como qualquer outra pessoa, tem que sofrer os mesmos problemas de qualquer organismo biológico em um meio ambiente hostil. Os livros de pseudo-ocultismo deram uma imagem falsa disso, já que pintam o iniciado como um ser fabuloso que não necessita comer nem dormir e que passa a maior parte do tempo desdobrado em um plano astral.

Confunde-se a perfeição espiritual com a material, esquecendo que a perfeição na matéria não existe, por estar esta submetida a constantes transformações. Sem embargo, o iniciado hermetista possui o segredo das transmutações e pode, em certas circunstâncias, criar ou transformar situações vitais com o objetivo de aliviar problemas que o afligem ou ajudar outras pessoas que estejam em posição difícil.

O homem estelar é um possuidor da verdade. Muita gente se irrita ao pensar que alguém possa atribuir-se a posse da verdade absoluta, interpretando isso como um ato de egocentrismo e profunda arrogância. Apesar disso, imaginemos por um instante que alguém poderia, efetivamente, ter acesso à verdade absoluta. Esse ser deveria calar-se para sempre e ocultar seu conhecimento? Ou ao contrário teria a obrigação de ajudar aqueles que desejem chegar também ao conhecimento da verdade?

Afirmamos enfaticamente que o homem estelar é possuidor da verdade absoluta e que ninguém pode chegar ao absoluto sem converter-se primeiro em homem estelar. Portanto ninguém, a não os homens estelares, tem a verdade absoluta, e isso não ocorre apenas porque alguém em particular, humano ou divino, as revelou, mas ao contrário porque a conformação cerebral e intelectual especial a que chegaram em função de sua mutação genética e psicológica lhes permite conhecer a realidade nua e crua, o que não é possível nas condições oníricas em que vive o sapiens. É mister compreender que o sapiens não possui o órgão da verdade, apenas o órgão da ilusão ou da mentira. Alguns grandes mestres afirmam que quando vivia no paraíso, o homem conhecia a verdade, mesmo que não pudesse aproveitar esse conhecimento já que não evoluía. Quando Deus castigou o homem com a expulsão do Éden, enxertou-lhe o órgão da ilusão a fim de que só pudesse chegar à verdade mediante o esforço titânico de sua vontade e inteligência, e não por graça divina. Isso significa então que o homem pode chegar a conhecer a verdade e assim evoluir, por possuir um corpo físico sujeito às transformações.

Muito bem, o fato de o homem estelar possuir a verdade absoluta não que dizer, nem remotamente, que saiba tudo, ao contrário, é consciente de tudo o que ignora mas tem a ciência fundamental com a qual é possível chegar a ter o conhecimento de tudo o que queira, se dispuser para isso de um tempo suficiente.

Ter a verdade absoluta significa ter chegado, através do esquema universal, à união com o todo, que cria e sustenta a ilusão universal. O absoluto é o que jamais muda, o que permanece sempre idêntico em sua natureza intrínseca. Precisamente, as verdades herméticas não mudam em si mesmas, somente é necessário saber aplicá-las de maneira diferente a situações que estão sempre mudando.

Existem três tipos de verdade:1. Verdade cósmica absoluta (conhecimento dos mistérios da natureza) (o

conhecimento dos 7 princípios herméticos)2. Verdade absoluta particular (a verdade absoluta em relação a um

problema ou situação específica)

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3. Verdade relativa (verdade para o mundo ilusório e mentira para a verdade absoluta)

Foi do ponto de vista da verdade relativa que foi enunciado o conhecido aforismo que diz que “nada é verdade nem mentira; tudo é segundo a cor do cristal com que se olha”.

O homem estelar é feliz. Sua felicidade não se baseia, sem embargo, nos feitos materiais, mesmo quando usa tudo que a natureza lhe oferece. Sua felicidade se baseia na perfeição, formosura, harmonia e estabilidade do seu mundo interior. O mundo está cheio de gente infeliz, que busca satisfazer sua “fome interna” e não sabe como fazê-lo.

Cada indivíduo necessita de um alimento particular para seu espírito, que é o único que lhe vai saciar verdadeiramente, mas geralmente sua ignorância o leva a seguir um destes caminhos:

1. Os que satisfazem constantemente a sua besta sem alimentar seu espírito2. Os ascetas que renunciam aos prazeres materiais por convicção interna ou pela

compulsão de seus complexos. Se entregam a uma busca espiritual mas não conseguem a felicidade desejada.

3. Os que, tratando de manter um equilíbrio entre os dois pontos anteriores, não fazem mais do que escravizar-se à lei do pêndulo, que os leva alternadamente a uma coisa e outra.

O homem estelar chega a um perfeito equilíbrio interno e estabelece em partes iguais a satisfação de sua fome espiritual e bestial, quer dizer, alimenta a sua besta e seu espírito, mantendo assim uma estabilidade perfeita. Claro está que sua besta não é aquela pervertida da qual falamos em outros capítulos, mas uma besta pura e natural.

O homem estelar é humilde. Conhece perfeitamente a enorme magnitude do que ignora e, ao comparar-se com aquela imensidão, sente-se surpreendido por sua própria pequenez.

O homem estelar ama todas as criaturas viventes. Sua consciência está em tudo e tudo está nele. Este sentimento de unidade total fá-lo profundamente conhecedor da natureza humana e, conhecendo as motivações profundas dos homens, acha difícil culpá-los por seus erros. Ninguém é capaz de dar mais amor que ele, porque amar é dar, e o homem estelar é como um sol ardente. Tal como o astro rei, elabora energia em seu interior por meio da transformação da matéria (como é acima, é abaixo).

O homem estelar é justo e imparcial. A posse do “julgamento interno” capacita-o a pensar sempre de maneira impessoal, ou seja, a julgar sem que intervenham suas simpatias nem antipatias pessoais, nem mesmo sua conveniência individual. Um verdadeiro sábio é sempre justo.

O homem estelar carece de paixões. Todas as suas manifestações instintivas, emocionais e intelectuais são ativas, quer dizer, autogeradas de modo genuíno. Recebe e desfruta dos estímulos, mas estes não o obrigam a sentir determinadas coisas nem conseguem escravizá-lo; ele goza do que quer desfrutar.

O homem estelar é superior à morte. Se seu corpo físico morre, não ocorre o mesmo com sua individualidade espiritual, a qual sobrevive a esta destruição e toma posse de outro corpo físico, seja retornando aos claustros maternos ou “encarregando-se” de um corpo já crescido. Isto lhe permite reencarnar conscientemente, constituindo-se em um avatar.

O homem estelar se renova a si mesmo constantemente. Modifica a cada certo tempo suas pautas de conduta, até o extremo do que seria possível a um observador comum afirmar “que não as possui”. Conhece o mistério da Ave Fênix que renasce de

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suas próprias cinzas e quando chega o momento, se dá a morte a si mesmo, produzindo-se depois um renascimento luminoso. Este processo misterioso ocorre várias vezes na vida do homem estelar, em um mesmo corpo físico.

O homem estelar é absolutamente indiferente à opinião alheia. Não lhe importa, de modo nenhum, a imagem que ele mesmo possa irradiar. Pensa ainda mais que em certas circunstâncias é preferível passar “uma má imagem”, já que assim não há possibilidade de idealização e pode contar com amigos mais sinceros. É amistoso mas só com aqueles que possuem algum conteúdo interior, não tolera os superficiais a não ser que tenham qualidades especiais em estado latente.

O homem estelar está além do bem e do mal e portanto sua opinião sobre os feitos do mundo e das pessoas difere consideravelmente do comum. Às vezes é muito duro com aquele que cometeu uma falta que para outros pode não ter importância nenhuma e, em outras oportunidades, trata com benevolência a quem estimamos que mereça o pior dos castigos. Ninguém sabe quais são suas razões, mas tenhamos certeza de que sua atitude não obedece jamais a um mero capricho.

O homem estelar vive causalmente. Por ter contato com o plano superior das causas, ele mesmo é que põe em movimento as causas que deseja que posteriormente se manifestem em sua própria vida, ou outras, como efeitos concretos. A plebe deve limitar-se a esperar que tudo “lhes aconteça”, quer dizer, que aquilo que chamam de casualidade lhes favoreça da maneira que eles esperam. Quando isto não acontece, devem resignar-se a viver os efeitos de causas que ignoram por completo.

O homem estelar é verdadeiramente humano. Seus poderes espirituais não fazem com que se afaste da vida, e geralmente cumpre seus deveres de cidadão e ganha a vida como uma pessoa qualquer. Se contrai matrimônio, procura sempre elevar sua companheira a seu mesmo nível mas, não o conseguindo, sabe viver com paz, harmonia e amor.

O homem estelar não professa nenhuma ideologia política; é apenas um humanista que deseja que todos os seres humanos alcancem sua evolução espiritual. Observemos a diferença que existe entre revolução e evolução. A primeira indica uma volta que se repete ciclicamente, ou seja, que tudo muda mas que posteriormente, com o passar do tempo, tudo volta a ser como num começo. Evolução, no entanto, indica uma espiral ascendente, em que se leva a cabo uma transformação profunda e não superficial. Vai contra tudo o que combate a liberdade do indivíduo, mas ao mesmo tempo condena a libertinagem. Considera que para ser livre, é o próprio indivíduo que tem que merecê-lo e consegui-lo, e não esperá-lo como uma graça da sociedade ou de Deus.

O homem estelar pode adoecer e morrer como qualquer pessoa, já que seu corpo físico também está sujeito à lei das transformações materiais. No entanto pode, na maioria dos casos, se assim o desejar, transmutar a enfermidade em saúde de maneira progressiva e gradual. O maior perigo para ele reside nas causas negativas absorvidas de outras pessoas a quem prestou sua ajuda em um determinado momento, quer dizer, ao karma que absorveu, já que isto provoca realmente “uma enfermidade de origem mental”, que se torna difícil de curar. Recordemos que Jesus não conseguiu salvar-se a si mesmo apesar de ser o salvador da humanidade.

O homem estelar não é um ermitão que permanece afastado dos vai-e-véns da vida; longe de ser insensível, vive de modo muito mais intenso que o comum das pessoas. Apesar disso pode, se assim o desejar, ser mais duro que uma pedra ou um diamante ou, pelo contrário, amar com todo o seu ser. Emocionalmente falando, possui uma sensibilidade diferente, já que sua consciência abrange uma gama de vibrações infinitamente mais ampla que a do homem comum. É como se possuísse um piano com

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um teclado imenso, no qual existissem milhares de notas diferentes e não só a escala comum.

O homem estelar é introvertido, mas não por ego e sim pela riqueza extraordinária de seu mundo interior. Sua consciência é tão rica que se torna doloroso afastar-se desse céu real para atuar neste mundo material. Isto é particularmente doloroso para o mestre de sabedoria hermética, ou seja, aquele que assumiu a responsabilidade de transmitir o conhecimento, já que todo Mestre autêntico é, de certa forma, um crucificado, símbolo de Jesus Cristo. Um axioma hermético-rosacruz diz que “é preciso descrucificar a Cristo (o eu superior) para crucificar o coração (o emocional egoísta). Ninguém sabe o sacrifício que pode significar para um indivíduo que chegou ao céu descer novamente ao mundo obscuro do barro. Apesar disso, este obedece à verdadeira sabedoria do princípio da polaridade, já que se a criatura estivesse permanentemente no céu, terminaria por degenerar-se por não haver obstáculos para sua virtude. É por isso que o homem estelar vive no céu mas com os pés na terra. Como já o dissemos em outra parte desta obra, é um “habitante de dois mundos”; vive simultaneamente no céu e na terra; é humano e divino.

O homem estelar conhece os segredos do magnetismo universal, o que lhe permite vitalizar-se a si mesmo e projetar sua consciência ao seu redor.

Todo hermetista de alto grau possui uma tremenda irradiação magnética que circunda seu corpo como uma esfera energética, que é a prolongação de sua força mental. Este esferóide de energia magnética abarca um espaço que está relacionado ao desenvolvimento espiritual do iniciado. Diz-se que Jesus possuía uma esfera magnética tão poderosa que envolvia todo o planeta terra, isto provocava uma enorme influência na raça humana.

Através deste arcano é possível entender porque “Deus está em todas as partes”, já que sua irradiação preenche todo o Universo.

O homem estelar pratica o segredo do “círculo evolutivo”. Já nos referimos ao “círculo do burro”, quer dizer, ao longo caminho que a “besta humana” às vezes percorre para ficar sempre no mesmo lugar. Este circuito não lhe trás proveito algum nem evolução. Ao contrário, o “círculo evolutivo” consiste no manejo sábio do princípio da polaridade em que o iniciado oscila entre a terra e o céu, polarizando-se alternadamente. Deste modo conserva um equilíbrio perfeito e mantém a sabedoria de quem não conseguiu acostumar-se à luz nem à escuridão. Suas viagens conduzem sempre ao ponto de partida, mas tendo evoluído consideravelmente. Para dar um exemplo, citaremos o processo tão belamente relatado por Herman Hesse em “Sidharta”, em que o protagonista deve lutar incansavelmente durante muito tempo para poder separar-se da multidão humana e possuir sua própria individualidade; sem embargo, depois de consegui-lo deve passar por todo tipo de padecimentos e experiências para finalmente conseguir a união com o todo. Mas que diferença, que abismo infinito separa o Sidharta do começo com o sábio do final; a evolução se cumpriu. Se tivéssemos que transmitir isto em um aforismo simples, diríamos que o maior desejo de quem caiu é elevar-se ao céu, e o impulso mais forte de quem chegou ao céu é, naturalmente, descer à terra. Novamente, devemos meditar sobre “A Rebelião dos Anjos” de Anatole France.

O homem estelar possui sua própria moral. A moral celeste é diferente da moral do homem terrestre. A celeste é absoluta e invariável dentro da flexibilidade do julgamento interno, enquanto que a terrestre se acomoda aos costumes das culturas dominantes. Se um dia fosse dominante uma cultura de antropófagos, a antropofagia seria considerada perfeitamente moral e correta; ainda mais, talvez se castigasse a quem não a praticasse.

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Quando dizemos que a moral do homem estelar é invariável, não queremos dizer que seja rígida, mas que, apesar de transformar-se constantemente, permanece intacta em sua natureza essencial. O hermetista considera, ao contrário, imorais muitas atitudes do sapiens que ninguém condena moralmente. A irresponsabilidade, o abuso do poder, a chantagem emocional, a abulia, a hipocrisia, o conformismo cego, a autocompaixão, o condicionamento cerebral por meio da publicidade, a glorificação e aplauso do automatismo da inteligência são, para citar umas poucas, atitudes e costumes imorais do sapiens. A ética do hermetista é infinitamente mais elevada e sólida que as regras acomodatícias de conduta do vulgo.

O poder do homem estelar não emana de seu “terceiro olho”, nem de “chakras” ou “kundalini”. Tão pouco possui qualidades parapsicológicas. Como já o dissemos antes, o hermetista sustenta que as qualidades parapsicológicas representam somente o “deslocamento e projeção da energia da massa, pelo qual, quanto mais bestial seja o sujeito, maiores serão as possibilidades de êxito. É por esta razão que as qualidades parapsicológicas “funcionam melhor” quando o sujeito está experimentando fortes estados passionais de tipo instintivo ou emocional, os quais intensificam ou multiplicam a irradiação da energia da massa. Não existe nenhum mérito espiritual nisso, é apenas uma feitiçaria inconsciente. O poder do hermetista emana de sua força espiritual, de sua pureza, do domínio de suas paixões, da sublimação de sua energia animal, e da retidão de suas intenções.

O homem estelar pode ter grandes problemas materiais em sua vida terrena, já que sua enorme diferença de nível com a gente faz com que esta o olhe, instintivamente, com desconfiança e temor, ao perceber um poder estranho que não sabe como classificar. Perseguições e fracassos econômicos podem converter-se em obstáculos sérios para o hermetista, cujo “reino não é deste mundo” e cujas habilidades não são as que se destacam nessa terra em que o êxito social e econômico corresponde àqueles que possuem uma conformação psicológica especial para isso. Não obstante, apesar de o hermetista poder fracassar em algo, jamais dita experiência o abaterá e, se se empenhar o suficiente, sempre terminará por vencer.

O homem estelar faz o bem, mas “olha muito bem a quem”. Presta sua ajuda na medida de suas forças, mas somente a quem, segundo sua análise, efetivamente o merece. Considera que ajudar a quem não tem o mérito é na verdade fazer-lhe um mal. Se o apoio que oferece é mal utilizado ou nem aproveitado, volta a oferecê-lo duas ou três vezes, mas não mais.

O homem estelar pode ser uma pessoa muito difícil de tratar, ou melhor, a mais agradável do mundo. Acostumados a viver em um mundo de mentiras, hipocrisias, enganos e falsidades, é um choque para alguns indivíduos estabelecer trocas com o homem estelar, já que este é absolutamente genuíno, natural e autêntico, sem pregas nem esconderijos de qualquer tipo. Sua sinceridade pode resultar insuportável para a pessoa que se esconde atrás de incontáveis máscaras de personalidade. Tentou-se explicar a simplicidade natural das ações do homem estelar dizendo que “quando come, come; se pensa, pensa; quando fala, fala; se descansa, descansa”.

Não é um ser perfeito nem tem essa aspiração; como já dissemos antes, trata-se de alcançar apenas uma “perfeição relativa” já que a perfeição absoluta não existe.

Apesar disso, ao conseguir sua mutação de homem estelar, terminou sua ascensão ao Olimpo e é mais um habitante do monte sagrado; Semideus que não deseja porém a divindade absoluta. No entanto, jamais terminará de estudar os mistérios do Universo, os quais nunca poderá conhecer de maneira completa.

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Talvez se pense que este é um caminho demasiado individualista em uma época em que o mundo se volta cada vez e de maneira mais acelerada para uma estruturação coletiva. Àqueles que tenham essa opinião, devemos observar que, se uma pessoa não adquire primeiro a sua individualidade, ele é na realidade apenas um apêndice da multidão, nada mais que um dos elementos formativos de um circuito, que por sua vez é parte de uma grande máquina.

Compreendemos que existam indivíduos que, por haver fracassado no pessoal, pretendam fundir seu eu indesejável com o coletivo das multidões, mas também tem que existir a oportunidade de emancipar-se e desenvolver um eu superior até levá-lo ao amadurecimento e realização plena. É preciso, para entender isso, diferenciar entre o sujeito cujo egoísmo simples o leva a um individualismo cego e pernicioso para a sociedade, e aquele que, havendo conseguido ser individual, tem muito claros seus deveres para com a humanidade. Só quem chegou a ser livre pode ter uma consciência coletiva verdadeira, mas conservando sua liberdade e autonomia plenas, sem ceder seu cérebro a nenhum conquistador. Que diferença existe entre estar integrado à humanidade por incapacidade de ser livre e unir-se a ela após haver alcançado a liberdade!

Seria interessante considerar que o sapiens teme a liberdade justamente porque esta envolve, precisamente, aquilo que não pode ter um animal que vive em rebanho: individualidade inteligente. Pelo mesmo motivo, procura agrupar-se em movimentos que não lhe exijam pensar ou tomar decisões. Ao contrário, o caminho hermético obriga o sujeito a tomar em suas mãos a responsabilidade de sua própria vida, em vez de transferi-la aos grupos sociais.

Do ponto de vista filosófico, podemos afirmar que “nada pode fazer pelo mundo nem pelas pessoas aquele que não consegue primeiro sua própria existência individual”. Aquele que “não é”, nada tem para dar. Pelo contrário, quando o hermetista chegou à sua plena estatura individual, está em condições de ajudar a humanidade da única maneira verdadeiramente eficaz: ensinando-lhe a viver sabiamente.

VISÃO GERAL

Podemos ver, através do estudo do hermetismo, como o sapiens perde o melhor de sua vida não podendo obter para si mesmo os valores realmente perduráveis.A felicidade que busca escapa-lhe das mãos e fica somente o gozo passageiro de um instante de prazer. A compreensão deste fenômeno converte em geral o indivíduo em um materialista cínico, cuja principal crença é que “tem que passar bem enquanto puder, porque depois desta vida não tem outra”. Esta é, na verdade, a meta mais perseguida pelas pessoas: “passar bem”. Apesar disso, pouco a pouco, ao avançar nos anos e em experiência, a pessoa se dá conta de que não conseguiu de maneira nenhuma a felicidade já que, se “passou bem”, estes momentos foram sucedidos por outros de dor, sofrimento e vazio interior. Em geral, a pessoa pensa que lhe falta algo específico em sua vida para ser feliz e que, ao consegui-lo, logrará sua ventura. Quando conseguem a realização de seu desejo e continuam tão infelizes quanto antes, tornam-se a cada dia mais materialistas e insensíveis, ou melhor, entregam-se a um misticismo religioso ou filosófico irreal.

Nada é pior do que fazer um balanço daquilo que conseguiu da vida, além de subsistir, sofrer ou gozar, ou o que conseguiu fazer pelos outros. O ingênuo pode facilmente preencher sua coluna do haver com seus títulos profissionais, suas posses materiais, seu dinheiro, sua família, ou os conhecimentos que conseguiu obter. Apesar

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disso, a realidade é que o indivíduo não é dono de nada, a não ser que tenha a segurança de que aquilo que possui perdurará. Somente pode, nas condições normais, fazer uma lista das coisas que a vida lhe entregou para administrar e, mesmo assim, ignora o prazo de expiração do dito mandado.

Na realidade, a pessoa obtém da vida, para si mesmo, apenas aquilo que pode conservar indefinidamente, para além da morte. Isto (o obter algo para si) significa dar um sentido individual à vida; representa ser dono de algo íntimo e pessoal que constitui afinal o fruto da vida.

Cada um deve perguntar-se sobre qual o fruto que conseguiu obter da vida. Ou será suficiente conformar-se com o viver? O que eu acho que consegui, será que realmente o tenho? Ou pode desaparecer amanhã mesmo como uma bolha de sabão?

Muitos pensarão que este modo de refletir é muito egoísta, mas devemos pensar que muito pior é não conseguir nada para si mesmo. Entregar tudo em troca do ar que respiramos, do alimento e comodidade necessários para manter o corpo com vida, pode ser muito romântico e poético, mas tremendamente inconveniente já que representa a escravidão eterna. Ao dizer eterna, usamos essa palavra no sentido do tempo cósmico, que comparado ao terrestre, é realmente interminável. Isso pode ser comprovado nos sonhos, já que nesse instante o indivíduo tem acesso ao tempo cósmico e é por isso que em trinta segundos terrestres pode sonhar o argumento de uma vida inteira, desde o nascimento até a morte. Este mesmo conceito pode ser aplicado ao “tormento eterno do inferno”.

Muitas pessoas zombam do hermetismo, ocultismo e tudo que é esotérico, mas geralmente nenhuma delas teve uma experiência direta no assunto e falam somente pelo que ouviram ou por preconceitos. Alguns se sentem orgulhosos de seu intelecto e se apóiam em sua razão para desqualificar o hermético. É de esperar que aquele que o faz, esteja absoluta e completamente seguro de que raciocinam efetivamente e que não caem em alguma destas classificações do pensamento crítico:

1. Os que crêem estar despertos, sonham.2. Os que imitam cegamente, depositando uma fé implícita em outras pessoas,

sistemas ou instituições, para libertar-se do trabalho de pensar por si mesmos.3. Aqueles cujas paixões ocupam o lugar da razão. Se traçam uma linha com

antecedência e não dão atenção a qualquer raciocínio alheio nem próprio que esteja fora desta linha, ou que acaricie seu estado de ânimo, vaidade ou interesse.

4. Aqueles que adoram suas próprias idéias como imagens sagradas. Nossas idéias nos pertencem desde tempos imemoriais e ignoramos como se insinuaram sutilmente em nosso cérebro. Não permitem jamais que alguém as profane ou discuta.Não podemos esquecer que em geral a maior parte do raciocínio do indivíduo

consiste em encontrar argumentos para continuar crendo no que já crê.Outros negarão cegamente sua possível dependência de um “computador

central”, argumentando que “fazem o que querem” (não se dão conta de que querem o que o computador central faz com que queiram). Basta analisar a fundo as motivações individuais para compreender que tudo é feito sob uma pressão interna ou externa. Idéias, sentimentos, impulsos ou ações são sempre compulsivas, jamais nascem de um ato supremo de raciocínio superior e livre.

Uma razão geral para sustentar uma idéia da própria liberdade é o argumento de mostrar uma grande lista de todas as coisas que foram realizadas na vida. Sem embargo, cabe perguntar-se: fizemos verdadeiramente pelo nosso próprio desejo ou nos obrigaram a fazê-las apesar de nós mesmos? Desejamos tal coisa, ou nos obrigaram a desejá-la?

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Tem algumas reflexões muito simples que deveriam levar qualquer um que medite sobre elas à conclusão de que a escala de valores do sapiens está tremendamente distorcida. Vejamos algumas:

1. A ciência não traz a verdadeira felicidade ao ser humano; só lhe traz comodidade, prazer e técnica.

2. A inteligência não desenvolve nem forma “conteúdo” na pessoa.3. A natureza interna do ser humano não evolui notavelmente no curso da

história.4. O homem ignora a maior parte do que está relacionado à sua natureza

interior.5. A espécie humana não tem com quem comparar-se, a não ser com os

animais, e por isso faltam-lhe pontos de referência com relação ao seu próprio valor ou à sua verdadeira posição na escala cósmica.

Cada pessoa deve tirar suas próprias conclusões desses pensamentos.É preciso considerar que o hermetismo não se dedica puramente a mostrar o

“quão mal” está o sapiens, nem o “pouco” que é, mas tem um plano bem definido para a raça humana. O fato de assinalar que a verdadeira posição do sapiens como “um animalzinho de pouco importância” diante da grandeza universal, e cujo único valor reside na posse da chispa divina, tem um objetivo criativo e não destrutivo. Trata-se de que a pessoa, através da reflexão, perceba a cela sem barras em que se encontra, já que este é o único modo de nascer nela o desejo de escapar. Enquanto uma pessoa acreditar que “está tudo bem” e que ele mesmo “está muito bem”, não haverá qualquer possibilidade de que realmente evolua. Esta é a causa de muitos místicos terem sentido nascer repentinamente sua inquietação espiritual, em geral depois de haver atravessado experiências tremendamente dolorosas que funcionaram neles como um choque positivo, despertando-os de sua letargia sonambúlica. O objetivo do sofrimento é fazer com que desperte a consciência do indivíduo. Não obstante, há tantos que estão de tal modo adormecidos que o sofrimento apenas os embrutece ainda mais, resultando absolutamente improdutivo.

Há muitas pessoas que têm uma atitude puramente devocional com relação ao hermetismo, pensando que basta “ser muito espiritual” para progredir no caminho e que estas pessoas “espirituais” (de acordo com seu próprio conceito) seriam os mais preparados para ascender a níveis superiores. Pensam que o avanço se consegue por uma espécie de “contato” com o céu ou com “os poderes ocultos”, ou que basta sacrificar-se servindo à humanidade para conseguir tudo.

Na verdade, a grande desvantagem do hermetismo está no fato de ser o caminho da inteligência pura e se o estudante não desenvolve sua inteligência e consciência aos níveis necessários, não há evolução possível. Outro obstáculo enorme para as pessoas consiste na necessidade de trabalhar muito, já que o hermético é o caminho da “auto-salvação” e ninguém quer salvar-se a si mesmo, seguramente por fraqueza ou preguiça. Preferem ser “salvos por Cristo”, embora isto só se verifique em seus cérebros alucinados; ser “salvos pela magia” ou pelos tripulantes de “discos voadores”. Um dos motivos por que as pessoas não tomam a decisão de salvar-se é que não sabem do que precisam salvar-se, pensando que tudo na terra é como efetivamente parece ser.

Os “ocultistas profissionais” ou eternos estudantes do esoterismo têm sempre a esperança de encontrar algum dia quem lhes abra o “terceiro olho”, por exemplo, crendo que nisso reside todo o segredo mágico. Para eles diremos que o “terceiro olho” só proporciona visão das projeções energéticas do ser humano sem trazer, nem remotamente, o menor adiantamento ou progresso espiritual. Assinalaremos também o

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caráter puramente simbólico da suposta “operação” de abertura do “terceiro olho” através da qual Lobsang Rampa escondeu o verdadeiro mistério do que os hindus chamam de Maya Virrupa, cuja tradução mais aproximada seria “caminho da ilusão”.

O fabuloso unicórnio, animal mitológico com um chifre na frente, representa exatamente isto de que estamos falando. A pessoa que deseje funcionar com seu “terceiro olho” deve desenvolver este “chifre” no meio da testa.

Também se fez muito alarde do desdobramento, acreditando que seu domínio corresponde a um grau de evolução espiritual. Nada mais afastado disso; é muito simples desdobrar-se com extrato de “cannabis indica”, sem qualquer mérito espiritual. O desdobramento não passa de um exercício perigoso e extremamente fatigante. Devemos acrescentar que jamais se sabe se as “visões” que a pessoa possa contemplar enquanto desdobrada, ou com seu “terceiro olho”, correspondam a uma verdade efetiva ou sejam apenas miragens do éter cósmico. O eterno aforismo “como é acima é abaixo” nos confirma este fato; se podemos enganar-nos com tanta freqüência no mundo físico, usando os sentidos que dominamos plenamente, com muito maior razão é possível enganar-se ao usar faculdades de uso tão difícil e restrito.

O verdadeiramente importante do desdobramento é algo de que não se fala muito, e podemos chamá-lo de desdobramento hermético. Consiste na faculdade de ser consciente simultaneamente em dois planos: no físico e no espiritual, no céu e na terra. É assim que o hermetista se eleva acima de si mesmo dividindo-se em duas pessoas que têm simultaneamente “os olhos abertos”. Diz-se que deste modo o hermetista consegue o poder dos poderes que é juntar a terra com o céu. Desta condição descreveremos apenas um fenômeno muito curioso e incompreensível para a pessoa comum, que é o de perceber simultaneamente os dois extremos. Trata-se, se alguém o conseguir entender, de o indivíduo estar triste e alegre ao mesmo tempo, de modo simultâneo. Prazer e dor, calma e agitação, atração e repulsão, vida e morte, são vivenciados ao mesmo tempo. Não creiam que isto produz um meio termo indiferenciado, ao contrário, a compreensão e vivência absoluta de cada um destes estados, sem as repercussões negativas que os extremos bom ou mau podem acarretar. Se mencionamos isto, não é com a intenção de que seja compreendido facilmente, mas que seja “intuído”.

Os admiradores da Yoga atribuem tremenda importância a Kundalini e aos Chakras, pensando que sejam o pilar fundamental da realização espiritual. A verdade é que ninguém obteria nenhum proveito deste comentado “despertar” (da Kundalini); no máximo uma intensa euforia criativa, que nada tem que ver com o progresso espiritual.

Devemos compreender que a verdadeira evolução não se improvisa de maneira nenhuma e que ninguém no Universo pode consegui-la sem um processo lento, sustentado e esforçado de auto-realização.

Existem aqueles que tentam com tremendo empenho conseguir “poderes mágicos”, tais como a clarividência por exemplo, sem deter-se em pensar se isto seria verdadeiramente benéfico para eles ou não. Sobre o assunto, comentaremos que uma das coisas mais fáceis de conseguir é o que comumente se chama “vidência”. Daremos a receita para isso, ainda que esperando honradamente que ninguém a ponha em prática. Basta, para ser “vidente”, fazer-se “espírita” e tratar de desenvolver faculdades mediúnicas, o que é simples, por meio da sugestão coletiva que se produz nas seções espíritas. Ao converter-se em médium, a pessoa se torna vidente rapidamente, já que é possuído por, chamemos assim, “espiritus controles” de caráter inferior. Tradicionalmente, em ocultismo clássico, chama-se a eles de “cascão astral” para designar os princípios mais animais do sujeito que sobrevivem por algum tempo depois da morte e que precisam de energia magnética para alimentar-se, que absorvem das pessoas vivas, produzindo-se um caso de vampirismo. O médium é tomado por estes

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“cascões astrais” e estes projetam em sua imaginação tudo aquilo que eles mesmos vêm ao encontrar-se no “mundo dos mortos”. Ainda assim cobram um preço bem alto por este trabalho, já que ao absorver as energias do médium, deixam-no exausto, acabando geralmente por adoecer de leucemia ou alguma outra doença estranha que a ciência não consegue controlar.

Temos conhecimento do interessante caso de um médium que chegou a integrar-se a um novo grupo de pessoas que não professavam o credo espírita. Contou-lhes de suas visões espetaculares, nas quais via seres da pré-história que lhe apareciam e lhe falavam. Em pouco tempo cinco ou seis pessoas do grupo estavam “vendo” coisas muito parecidas pela primeira vez em suas vidas. Eis aí um exemplo de “contágio magnético”.

Muitos que alcançaram o poder das grandes fortunas zombam das coisas espirituais, pretendendo que não há nada que seu dinheiro não compre, depreciando o filósofo por acreditar que tenta “vender-lhe algo’. Protegidos por suas riquezas, sentem que chegaram ao cume de suas ambições. Por desgraça, não compreendem que, passado determinado limite, não há nada, nem sequer prazeres materiais, que o dinheiro possa dar-lhes e que o esforço para manter suas posses consume suas melhores energias.

Quantos ricaços modernos não conseguem adquirir, por preço nenhum, um novo estômago que lhes permita desfrutar novamente dos prazeres gastronômicos, como tão pouco podem restabelecer suas energias sexuais gastas para possuir a mulher que desejam. Resulta irônico que não consigam gozar daquilo que o mais humilde dos trabalhadores está em condições de ter.

Uma das coisas reconfortantes da vida é o contemplar as exceções a esta regra, como é o caso daqueles que usam suas fortunas em obras de verdadeiro significado social pelo que, seguramente, receberão o prêmio dos senhores do destino em sua futura encarnação. É verdade que por mérito de suas boas ações, os pecados são perdoados aos indivíduos. É preciso esclarecer que, para o hermetista, não existe o pecado segundo o conceito habitual, o que existe é a lei de causa e efeito e os juizes ocultos que julgam e castigam as pessoas segundo a responsabilidade que tenham, agrupando-os em quatro categorias:

1. As massas humanas do “povão”2. A burguesia média3. Os grandes cientistas, profissionais destacados, filósofos e dirigentes4. Os inciados

Estes juizes ocultos castigam de acordo com a responsabilidade, considerando que a categoria um tem uma responsabilidade quase nula, a dois, um pouco mais elevada, a três tem muita responsabilidade e a quatro, dos iniciados, é considerada absolutamente responsável e por isso, ao desviar-se do caminho correto, recebem o castigo mais forte possível, já que estão atuando com os olhos bem abertos. Esta condenação pode chegar à eliminação física violenta do indivíduo e a sua “degradação” em futuras reencarnações.

Torna-se necessário assinalar que a ciência hermética, como tudo o que existe, pode ser usada para o bem ou para o mal. Em si mesma é neutra, pois está além do bem e do mal, mas algumas de suas regras podem chegar a ser conhecidas e mal utilizadas. É por isso que sempre se falou de “magia branca” e “magia negra”, como já o assinalamos em páginas anteriores, e que em outra de suas manifestações (já mencionamos uma) uma é construtiva e outra destrutiva. Quando se fala de “magos negros”, pensa-se em uma lenda ao estilo das “Mil e Uma Noites”, mas a verdade é que existem “magos negros” no pior sentido do termo e na verdade são os mais encarniçados inimigos dos

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homens estelares, mobilizando todo tipo de forças ou pessoas para atacá-los. Em oposição aos estelares, podemos muito acertadamente denominá-los “abismais”.

Muitos deles conhecem os mais estranhos segredos para resistir à morte. Alexandra David Neel conta, em um de seus livros sobre o Tibet, o horrível caso de uns sacerdotes indescritivelmente velhos que se mantinham vivos alimentando-se de homens vivos que deviam agonizar lentamente em um sarcófago especial por sobre a podridão de outros que haviam falecido antes no mesmo local. Na realidade, deviam apodrecer em vida mas, para que o feitiço fosse eficaz, deviam fazê-lo voluntariamente, convencidos pelos sacerdotes do extraordinário e decisivo mérito espiritual de um enfrentamento supremo com a morte.

O conde Drácula não é uma simples fantasia. A tradição hermética sustenta que estes seres existem realmente e que muitos conseguem viver centenas de anos, na condição de beber sangue humano fresco para extrair dali a vitalidade necessária para renovar seu próprio sistema. De fato, muitas pessoas praticam outro tipo de vampirismo inconsciente e absorvem as energias das outras. É como o “machismo” e o “matriarcado”, que são apenas formas de vampirismo emocional inconsciente.

Dentro do tema, precisamos considerar certos negociantes que, guiados por seu instinto animal, vampirizam seus competidores, a quem vão absorvendo gradualmente até que terminam por arruiná-los ou anulá-los. O vampirismo é um tema tão amplo que esperamos tratá-lo com mais detalhes em uma obra futura.

O mundo ignora as tremendas batalhas sustentadas entre as forças estelares e abismais. Como a maioria das coisas verdadeiramente importantes, permanecem escondidas sob aparências absolutamente diferentes.

Com respeito ao futuro da humanidade, sustentamos que a melhor esperança de salvação reside na possibilidade de estabelecer cientificamente nossa teoria do “nível consciente” das pessoas. Talvez possam produzir-se em um futuro próximo importantes avanços no campo do descobrimento e medição de ritmos cerebrais ainda não conhecidos, entre os quais é de suprema importância o ritmo da consciência superior que aparece em pessoas de um alto nível consciente, produto do trabalho hermético em si mesmas. O dia em que este descobrimento for uma realidade científica, os seres humanos deverão, indefectivelmente, agrupar-se por “níveis de consciência”. As classes sociais e intelectuais desaparecerão, para dar lugar aos níveis conscientes. É provável que se chegue desta maneira a estabelecer uma escala de um a dez em que o um represente o mais elevado estado de consciência medido entre as pessoas, e o dez, o mais baixo. Compreende-se que os níveis elevados constituirão o grupo dirigente da humanidade e que poderão garantir, com toda a segurança, um mundo livre de guerras, delinqüências e pobreza, com igualdade de oportunidades para todos, já que todo o mundo poderá ascender na escala consciente e chegar algum dia ao nível um. Apesar disso, para que este sistema seja aceito pelas pessoas, teria que haver muitíssimo mais peso e autoridade científica que o justificasse do que o que atualmente existe como medição da inteligência humana; teria que ser o resultado óbvio de uma comprovação científica absolutamente clara da teoria do nível consciente e cuja base fosse divulgada em uma linguagem simples ao alcance de todas as pessoas.

Garantimos que este descobrimento será o maior que o homem terá conseguido inventar desde que existe sobre a face da terra. O único descobrimento capaz de garantir em certa medida o futuro e a felicidade da raça humana.

Não obstante, isto provocará no início tremendos problemas entre as pessoas “desqualificadas”, já que nos encontraremos com a surpresa de que a maioria dos indivíduos que antes passavam por seres superiores devido a sua grande inteligência, fiquem, ao medir seu nível de consciência, classificados abaixo do número 5. Homens

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que antes foram grandes dirigentes, podem ficar relegados às categorias mais baixas ao comprovar, sem a menor dúvida, sua absoluta carência de um estado de vigília superiores e da condição que nasce do alto nível consciente, que podemos chamar “juízo interior”.

Ao contrário, homens muito simples, de escassa cultura e de uma inteligência elementar, ocupariam possivelmente os primeiros lugares. Em última instância, o exame cerebral ao qual nos referimos para determinar o nível de consciência só estabelecerá o grau de “antiguidade espiritual” da pessoa, traduzido em conceitos de evolução, sabedoria e perfeição espiritual.

Só assim o mundo poderia ser governado por um conselho de anciões do espírito, verdadeiros sábios possuidores de um elevado nível de consciência e de um claríssimo “juízo interior”.

Muita gente acredita, baseando-se em antigas profecias, na interpretação de supostas mensagens contidas nas pirâmides ou em documentos antigos, que o mundo deve terminar ao redor do ano dois mil, como conseqüência de uma grande catástrofe, possivelmente de tipo estelar. Prescindindo da veracidade ou falsidade daquelas profecias, consideramos o ser humano como o grande fator determinante destes fenômenos. Assim como Sodoma e Gomorra foram destruídas pela extrema perversão de seus habitantes, o planeta terra sofre a influência, em suas relações interestelares, dos estados mentais, emocionais, instintivos e psicológicos da humanidade. A conduta e o caráter das pessoas influi de maneira muito importante no clima, na vida vegetal e animal e nos fenômenos telúricos.

Qualquer catástrofe que esteja prevista para o ano dois mil poderia ser anulada por uma reviravolta decisiva ou importante no comportamento ou na vida espiritual dos seres humanos.

Nisto, como em qualquer circunstância em que se trata de prever o futuro, o hermetista se interessa mais por determinar o futuro do que por tratar de prevê-lo.

Esperamos que, num futuro o mais próximo possível, seja uma realidade a medição científica do “nível de consciência” do homem e que se abra desta maneira uma nova aurora para a humanidade.