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O INSTITUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS BRASILEIROS E O ESTADO: a profissionalização no Brasil e os limites dos modelos centrados no mercado * Maria da Gloria Bonelli RBCS Vol. 14 n o 39 fevereiro/99 Este artigo apresenta uma análise do processo de profissionalização dos bacharéis-advogados no Brasil, durante o período imperial. Centra-se na investigação sobre o Instituto da Ordem dos Advo- gados Brasileiros (IOAB), fundado em 1843, na trajetória que esta organização percorreu até 1930, 1 perseguindo um projeto de profissionalização que articulava a influência sobre o Estado no âmbito técnico-jurídico com o monopólio profissional. Meu argumento é que a construção da profissão ocorreu simultaneamente à construção do Estado, no contexto posterior à Independência, como uma via de mão dupla interdependente. Partindo da visão de que profissão é um processo, pretendo mostrar como os bacharéis se foram demarcando de outras elites, tomando como referência a sua expertise para fundamentar a indispensabilidade de sua assessoria ao Estado. Outro aspecto central em meu argumento é apontar os limites tanto dos modelos que priorizam analisar as profissões no mercado de trabalho, quanto daqueles que as concebem como um projeto de mobilidade social coletiva, para a compreensão da experiência brasi- leira no campo do Direito. A bibliografia da Sociologia das Profissões na década de 70 foi feita, em parte, por uma geração que viveu o clima de contestação de 1968. Daí o predomínio de um olhar que focalizava o fenôme- no profissional de forma crítica, vinculando o ideal de serviço à construção de uma ideologia que fornecia as bases de legitimação dos poderes pro- fissionais e do monopólio de mercado. Magali Larson (1977) expandiu esta visão para incluir no tipo ideal 2 de profissionalização um processo du- plo de controle de mercado e de mobilidade social coletiva. Como meu propósito é apontar os limites da abordagem das profissões no mercado para a compreensão do caso brasileiro, vou detalhar mi- nha crítica à perspectiva desta autora, que englo- bou os dois aspectos no modelo que propôs. O estudo de Larson investigou a Medicina e a Engenharia nos Estados Unidos e na Inglaterra a partir do século XIX, quando, segundo a autora, ter- se-ia iniciado o processo de profissionalização moderno, centrado na organização de escolas su- periores e de associações profissionais autônomas. * Este trabalho foi desenvolvido junto ao Núcleo de Pesquisa e Documentação José Albertino Rodrigues, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e contou com recursos financeiros do CNPq e da FAPESP. Agra- deço o apoio recebido do IAB, através de seus funcio- nários, em especial da bibliotecária Angela Ribeiro.

O INSTITUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS BRASILEIROS E … · juízes na construção da ordem imperial está relaci-onada com a problemática profissional e com a existência ou não de

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O INSTITUTO DA ORDEMDOS ADVOGADOS BRASILEIROSE O ESTADO: a profissionalização noBrasil e os limites dos modeloscentrados no mercado*

Maria da Gloria Bonelli

RBCS Vol. 14 no 39 fevereiro/99

Este artigo apresenta uma análise do processode profissionalização dos bacharéis-advogados noBrasil, durante o período imperial. Centra-se nainvestigação sobre o Instituto da Ordem dos Advo-gados Brasileiros (IOAB), fundado em 1843, natrajetória que esta organização percorreu até 1930,1

perseguindo um projeto de profissionalização quearticulava a influência sobre o Estado no âmbitotécnico-jurídico com o monopólio profissional.Meu argumento é que a construção da profissãoocorreu simultaneamente à construção do Estado,no contexto posterior à Independência, como umavia de mão dupla interdependente. Partindo davisão de que profissão é um processo, pretendomostrar como os bacharéis se foram demarcandode outras elites, tomando como referência a suaexpertise para fundamentar a indispensabilidade desua assessoria ao Estado. Outro aspecto central emmeu argumento é apontar os limites tanto dosmodelos que priorizam analisar as profissões no

mercado de trabalho, quanto daqueles que asconcebem como um projeto de mobilidade socialcoletiva, para a compreensão da experiência brasi-leira no campo do Direito.

A bibliografia da Sociologia das Profissões nadécada de 70 foi feita, em parte, por uma geraçãoque viveu o clima de contestação de 1968. Daí opredomínio de um olhar que focalizava o fenôme-no profissional de forma crítica, vinculando o idealde serviço à construção de uma ideologia quefornecia as bases de legitimação dos poderes pro-fissionais e do monopólio de mercado. MagaliLarson (1977) expandiu esta visão para incluir notipo ideal2 de profissionalização um processo du-plo de controle de mercado e de mobilidade socialcoletiva. Como meu propósito é apontar os limitesda abordagem das profissões no mercado para acompreensão do caso brasileiro, vou detalhar mi-nha crítica à perspectiva desta autora, que englo-bou os dois aspectos no modelo que propôs.

O estudo de Larson investigou a Medicina e aEngenharia nos Estados Unidos e na Inglaterra apartir do século XIX, quando, segundo a autora, ter-se-ia iniciado o processo de profissionalizaçãomoderno, centrado na organização de escolas su-periores e de associações profissionais autônomas.

* Este trabalho foi desenvolvido junto ao Núcleo dePesquisa e Documentação José Albertino Rodrigues, daUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar), e contoucom recursos financeiros do CNPq e da FAPESP. Agra-deço o apoio recebido do IAB, através de seus funcio-nários, em especial da bibliotecária Angela Ribeiro.

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Ambas introduziam uma nova forma de estruturar adivisão social do trabalho de dominação, desta vezapoiada no conhecimento abstrato para produzirprofissionais e no monopólio do mercado. Larsonvincula esta meta à expansão dos segmentos médi-os, que se teriam organizado desta forma parasubstituir o domínio das elites aristocráticas quecontrolavam clientelisticamente o acesso às cre-denciais, títulos e postos, obtidos tradicionalmente,até o século XVIII, em corporações como as guil-das, Inns of Courts e Royal Colleges. As profissõesseriam fenômenos modernos do século XIX, forma-dos junto com o capitalismo, o início da industria-lização e com a classe média nos países de origemanglo-saxã.

A autora também quer refinar o tipo idealpara a análise das profissões, tomando uma posturacrítica em relação à proposta funcionalista. Estabasear-se-ia na investigação das variáveis necessá-rias para se completar com sucesso o processo deprofissionalização, enquanto Larson pretenderiarecorrer a um tipo ideal capaz de captar o que asprofissões efetivamente são.

Meu argumento é que as motivações queLarson identifica para explicar a profissionalização— projeto de mobilidade coletiva de grupos médi-os e de controle de mercado — descaracterizamseu modelo como típico-ideal, por perder a dimen-são de generalização que lhe é indispensável. Oconstructo de profissão como tipo ideal não podese limitar a ficar excluindo uma multiplicidade deexperiências do âmbito do modelo, como acontececom a visão que atrela o profissionalismo à ascen-são social.

Um tipo ideal capaz de dar solidez teórica àdefinição de profissão3 tem de considerar experi-ências como a brasileira, onde a profissionalizaçãodos bacharéis foi iniciada por segmentos sociais deelite (e não por setores médios querendo ascendercoletivamente) com uma proposta de influenciar oEstado mediante o seu conhecimento sobre juris-prudência (e não apenas de controlar o mercado).No Brasil, no contexto pós-independência, foramcriadas as faculdades de Direito de São Paulo e deOlinda, em 1827, e após a Regência, em 1843, umpequeno grupo da elite dos bacharéis fundou oIOAB, revelando a circulação internacional de idéi-

as no universo das profissões, com a tendência àdifusão da ideologia do profissionalismo, mesmoque adaptada aos limites e aos incentivos locais.4

Se a ausência de um contingente médio com acessoao ensino superior constrangeu o modelo de profis-sionalização motivado pela mobilidade, redirecio-nando-o para o âmbito do poder, a constituição doEstado brasileiro simultaneamente à constituiçãodas profissões modernas colocou na pauta dessaelite a importância de se organizar para influenciaro processo político em curso, além da preocupaçãocom o controle do mercado de trabalho e com acontenção da participação de outros segmentossociais nesta carreira.

Ao reconhecer que a profissionalização éum processo, procuro analisar como ela se desen-volveu no campo do Direito no Brasil, conquis-tando espaços na consolidação do profissionalis-mo. O ponto de partida foi a criação dos cursossuperiores e a fundação do IOAB, centrada noideal de serviço e na proposta de auxiliar o Esta-do nas questões técnico-jurídicas. As liderançasdessa associação disputaram jurisdições para ob-ter o monopólio do credenciamento profissional ea fiscalização do mercado de trabalho, não per-dendo de vista seu mérito profissional e a suaautonomia quando esta questão entrou em pauta.Tal caminho foi percorrido lentamente e sofreuameaças de reveses. Como se trata de um proces-so histórico de longa duração, desqualificar oinício da trajetória da moderna experiência deprofissionalização, como faz Barbosa (1998),5 temcomo conseqüência ignorar parte desta história.Se hoje temos conhecimento dos resultados alcan-çados até agora em vários desses percursos, nãopodemos pressupor que a profissionalização eraum projeto consciente desenvolvido conformeplanejado por suas lideranças, que incluíam neletodos os atributos que os modelos analíticos cons-truíram depois. Várias das características que hojereconhecemos como relevantes para as profissõesnão foram pensadas assim quando o processoestava no início. O olhar prospectivo sobre aprofissionalização dos advogados no Brasil dátransparência aos equívocos das análises retros-pectivas, que acabam excluindo o período imperi-al do âmbito de sua investigação.

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Por outro lado, limitar o fenômeno profissio-nal aos países de origem anglo-saxã é mais umaevidência da fragilidade dos modelos analíticoscentrados no mercado de trabalho, que não conse-guem lidar com a diversidade das experiências deprofissionalização. Desta forma, opta-se por umadefinição estreita deste processo, visando protegera abordagem de críticas e tornar a análise aparen-temente consistente. Se este caminho resolve oproblema da articulação interna de um trabalho oumodelo, ele não colabora para construir um concei-to de profissão cujo poder de generalização sesobreponha a barreiras culturais, nacionais e geo-políticas. Na literatura internacional da Sociologiadas Profissões é freqüente deparar-se com estesubterfúgio, que reserva a aplicabilidade da termi-nologia a alguns países e a algumas profissões,assemelhando-se mais ao que Bourdieu chamou dedisputa pelo poder de nomeação6 do que à cons-trução de um conceito científico.

Freidson (1996) está envolvido na construçãode uma definição típico-ideal de profissão que dêdensidade teórica ao conceito, que hoje não tem orefinamento de outros, como os de burocracia oude classe. Este artigo inspira-se no quadro dereferências que ele constrói, propondo, entretanto,cautela para não se rotular a organização e ocontrole jurisdicional da profissão como algo queocorre necessariamente sem o envolvimento doEstado. É por não se investigar como os advogadosinteragiram com os governos para obter a regula-mentação profissional através da criação da OABque se avalia, equivocadamente, que o Estado noBrasil teve o controle sobre a jurisdição destaprofissão, quebrando com a autonomia indispensá-vel ao profissionalismo.

É com o objetivo de colaborar para a forma-ção de um corpo teórico sólido, apoiado em estu-dos históricos comparados envolvendo uma gamamaior de experiências, que concentro meu olhar naanálise do processo de profissionalização dos ba-charéis no Império e na Primeira República. Aatuação dos juízes e bacharéis na construção doEstado brasileiro neste período histórico vem sendoalvo de múltiplas interpretações. Parte importantedo embate atual entre Carvalho (1980 e 1997) eGraham (1997) sobre o papel desempenhado pelos

juízes na construção da ordem imperial está relaci-onada com a problemática profissional e com aexistência ou não de um ethos 7 diferenciado parao mundo do Direito, em relação às outras elites.Além desses dois autores, Adorno (1988) focalizouos bacharéis da Faculdade de Direito de São Paulodurante o Império e Flory (1986) investigou osjuízes de paz e suas relações com os juízes togadosdurante a Regência, estendendo sua análise até1870.

Nenhum desses trabalhos recorreu à Sociolo-gia das Profissões para captar o significado doprocesso de profissionalização para os grupos queestavam estudando.8 O conhecimento especializa-do produzido por esta temática pode dar contribui-ções relevantes ao debate sobre profissões e Estadono Brasil imperial. Por outro lado, o caso brasileiropode auxiliar a construção de um tipo ideal para aanálise das profissões capaz de compreender expe-riências distintas e abrir suas definições, aindapresas ao modelo de profissão no mercado e aoprojeto de mobilidade social coletiva de gruposmédios.

As profissões do Direito e o Estadonos estudos históricos comparados

Na seção anterior foram relatadas as formascomo o estudo do IOAB durante o Império e aPrimeira República pode ser relevante para estabe-lecer os limites das concepções que centram oargumento profissional na esfera do mercado. Ago-ra, tomaremos o caso brasileiro para problematizaralgumas pré-noções existentes na literatura acercadas relações entre os advogados e o Estado. Aprimeira delas dificulta a comparação de experiên-cias semelhantes às dos bacharéis no Brasil comaquelas de origem anglo-saxã a partir de umdiagnóstico equivocado sobre o papel do Estado naorganização da profissão. Muitos dos estudos quefocalizaram o tema tomando o modelo analíticocomo um ideal adotaram como pressuposto que sóseria considerado profissão aquelas ocupações queconstruíram sua força autonomamente, atribuindoum papel decisivo à associação profissional e àauto-organização do grupo (Siegrist, 1986).9 Paísescomo o Brasil, onde o Estado era visto como o

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instigador deste processo, não se encaixavam nomodelo, o que levou ao diagnóstico de que nãohaviam concluído o projeto profissional.

Várias análises que focalizaram as experiênci-as de profissionalização dos advogados nos paísesdo Terceiro Mundo tiveram o intuito de enfatizar asaberrações que o projeto profissional criou empaíses não centrais.10 A inclusão desses casos serviapara ilustrar a desprofissionalização, a burocratiza-ção e a proletarização das profissões. Elas denuncia-vam tais condições, mas não criticavam o modeloque recorria ao poder de nomeação para caracteri-zar o profissionalismo.11 Outro tipo de análise queseguiu a linha da denúncia e da crítica imperialistano campo do Direito para a América Latina focalizouos fracassos da transferência para o Brasil, duranteos anos 60, do modelo norte-americano de seconceber, ensinar e praticar a advocacia, já que esteobteve muito pouca receptividade entre os advoga-dos brasileiros (Gardner, 1980).12

Embora alguns destes trabalhos abordassemas relações dos advogados com o Estado, o poderde definir os conteúdos do profissionalismo tendocomo base a existência de organizações autônomascom controle do mercado levou a se atribuir umadimensão unilateral ao relacionamento com o Esta-do, enfatizando-se sua intervenção na autonomiados profissionais. A investigação que desenvolve-mos sobre a trajetória da organização dos advoga-dos no Brasil revela uma relação muito mais dinâ-mica e complexa com o Estado do que a imaginadapela concepção acima. Fora desta polarização —ser submisso ao Estado ou controlar autonomamen-te a divisão do trabalho profissional —, os advoga-dos brasileiros exploraram um amplo leque depossibilidades para influenciar o Estado nos últi-mos 150 anos.

Este quadro analítico começou a ser modifica-do com a realização de estudos comparados sobreas profissões e o Estado (Rueschmeyer, 1986). Estesestudos influíram decisivamente na abertura con-ceitual, favorecendo a troca mais efetiva entre asdiferentes experiências de profissionalização e aprodução da Sociologia das Profissões. Essa abor-dagem sobre as profissões do Direito quebrou coma associação exclusiva do fenômeno profissionalcom os países anglo-americanos, criando a oportu-

nidade da inclusão e do reconhecimento de outrastrajetórias que levaram à configuração das profis-sões na divisão social do trabalho, em paíseseuropeus de tradição romano-germânicas, pauta-dos no Direito Civil. Entretanto, há visões sobre asrelações entre Estado e profissões nos países doTerceiro Mundo que resistem em incluir os advoga-dos no universo dos profissionais,13 por tomarcomo um ideal de modelo as experiências desociedades desenvolvidas.

A ruptura com a concepção dualista de que,de um lado, se tem a autonomia profissional e, deoutro, a intervenção do Estado, introduziu o reco-nhecimento de como ambos se formaram numprocesso interdependente em diversas experiên-cias históricas (Johnson, 1982). A realização deestudos sobre as relações entre os advogados e oEstado norte-americano (Halliday, 1987), indo emsentido contrário à visão dominante que concebia aprofissão em oposição ao Estado, vem tendo umpapel decisivo na construção de uma teoria dasprofissões capaz de englobar uma gama maior deexperiências internacionais.

Este redirecionamento do enfoque tem priori-zado o papel que os advogados desempenharam eseguem desempenhando tanto na formação doEstado e na fabricação da esfera pública, quanto nainserção em comunidades e na defesa de perspecti-vas universalistas em diversos países (Karpik, 1988e 1995; Halliday e Karpik, 1997; Dezalay e Garth,1995 e 1996; Ledford, 1996), em contraste com oolhar que enfatizava apenas os advogados no mer-cado, mobilizados por seus interesses específicos.14

A proposta analítica deste trabalho se junta aestes estudos. Utilizo as informações disponíveissobre as relações entre profissões e Estado no Brasilpara argumentar que ambos se construíram mutua-mente, numa interação de mão dupla. Este olhar sediferencia daquele que identifica uma profissiona-lização vinda de cima como uma decorrência darelação entre Estado e profissões (Jarausch,1990).15 Nesta direção, busco reunir as evidênciashistóricas necessárias ao enfrentamento das visõesestereotipadas sobre uma quase permanente imu-tabilidade na trajetória desses grupos, no seu cons-tante estágio de “professional preconsciousness” ede subserviência profissional.

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Esta análise contrasta também com os diag-nósticos, predominantes no Brasil no final dos anos70, que atribuíam aos bacharéis a condição deventríloquos dos interesses das elites econômicasou políticas. Parte significativa das análises socioló-gicas desse período não identificou as profissõesliberais como atores políticos com motivações pró-prias no contexto que estavam investigando. Pi-nheiro (1978), ao analisar a formação das classesmédias na Primeira República (1889-1930), consi-derou os bacharéis como “representantes” das eli-tes dominantes. Miceli (1981), ao examinar as elitespolíticas pós-30, identificou o Estado como promo-tor da cooptação profissional, apadrinhando ospessedistas com nomeações para postos públicos,e vinculou os bacharéis udenistas à defesa dosinteresses dos grupos econômicos privados. Naperspectiva de Saes (1981), os advogados são comoporta-vozes da classe média alta, sendo esta depen-dente da burguesia. Neste enfoque os bacharéismudam de classe, mas não de relação.16 Emboraeste conjunto de trabalhos permita identificar aestratificação interna da profissão, naquele mo-mento, a incipiente literatura brasileira sobre otema não estava abordando tal questão, sendo asprofissões predominantemente identificadas comoum bloco na estrutura de classes.

A investigação sobre o IOAB procura mostraruma constância histórica maior no significado daação dos profissionais do mundo do Direito, não seresumindo a uma sombra de grupos econômicos,de oligarquias políticas ou de fenômenos como odesenvolvimento. Revela também sua dinâmicainterna, detectando a gênese de tensões que sãorecorrentes nesses 150 anos e que inviabilizamconceber o Instituto de forma monolítica.

O Instituto da Ordem dos AdvogadosBrasileiros:17 elites profissionaisentre a política e a jurisprudência –1843-1930

O IOAB foi fundado em 1843, durante operíodo identificado por Larson como de organiza-ção das profissões modernas.18 Seu estatuto lheconferia como objetivo único a criação da Ordemdos Advogados “em proveito geral da ciência da

jurisprudencia”.19 Baseava-se no saber jurídicopara legitimar o grupo como possuidor da compe-tência para fiscalizar o mercado e punir os charla-tães. Os fundadores do IOAB precisavam distin-guir-se por seus méritos profissionais, já que outrasinstituições também podiam ocupar este lugar. AMagistratura tinha a jurisdição punitiva e o creden-ciamento era realizado pelos deputados, pelo mi-nistro da Justiça e pelo monarca.

Além deste objetivo, todos os estudos sobreos bacharéis no Império apontam sua participaçãoativa na construção do Estado após a Independên-cia, fornecendo as bases dos projetos de nação emdebate.20 Segundo Laura Fagundes (1995, p. 5), “afundação do IOAB, seus passos iniciais, objetivos epropostas estavam intimamente articulados às es-pecificidades e demandas da nova nação”.

As estratégias implementadas a partir de suacriação indicam que as diretorias tinham comometa estreitar os laços e a influência da associaçãojunto ao poder. A forma de fazê-lo oscilava. Oraeles forneciam seus quadros para cargos relevantesna gestão do Estado, ora elegiam para sua presidên-cia membros já influentes ou encarregados dosministérios. Entretanto, nas primeiras décadas, re-gistra-se a preocupação de seus sócios com a faltade mobilização, de importância e de influência doIOAB junto ao imperador e seus gabinetes.21

As perspectivas técnica e política estão pre-sentes no Instituto desde sua criação, atraindo parasócios tanto bacharéis com atuação exclusiva nocampo jurídico quanto outros com cargos políticos.O grupo inicial que fundou o IOAB, no Rio deJaneiro, compunha-se de 26 advogados. Seu estatu-to e seu regimento foram aprovados por d. Pedro II,com a intermediação do conselheiro FranciscoAlberto Teixeira de Aragão, português, com carrei-ra judiciária, então ministro do Supremo Tribunalde Justiça.

O tamanho do grupo parece pequeno secompararmos com as informações de Flory, basea-das em artigo de Evaristo da Veiga no jornal AuroraFluminense de 8 de março de 1830, onde estimavaque “[…] desde los magistrados profesionales hastalos aguaciles más modestos, ‘más de dos mil perso-nas viven de los embrollos em Río de Janeiro’”(Fleury, 1986, p. 70). As duas faculdades de Direito

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criadas em 1827, em Olinda e em São Paulo,contavam, já nas turmas de 1828, com 70 alunos. Aprimeira geração que se juntou ao IOAB reuniatambém bacharéis formados em Coimbra, o queaumentava o universo potencial de quadros paraaderir à organização.

Os requisitos para pertencer ao Instituto aju-dam a entender essa discrepância numérica. Oregimento interno estabelecia que os candidatosdeveriam ser advogados com grau acadêmico, tercidadania brasileira, possuir probidade, conheci-mentos profissionais e bons costumes e ser indica-dos mediante proposta escrita contendo a assinatu-ra de três membros do Conselho Diretor, ao qualseu nome seria submetido, em escrutínio secreto.Depois de aprovado como sócio efetivo, deveriapagar uma jóia de 20 mil réis,22 assumir o compro-misso de contribuir mensalmente com 2 mil réis eser apresentado à assembléia geral, diante da qualfaria seu juramento.

A intenção do grupo fundador era dignificarseus membros. Era esta nata de advogados queauxiliaria o Estado com sua expertise e teria ajurisdição profissional, em disputa principalmentecom juízes e deputados. Para diferenciar seussócios, essas lideranças se comprometiam a afixar oquadro nominal dos filiados nas salas de audiênciada Corte do Rio de Janeiro e na Secretaria de Estadodos Negócios da Justiça. Esta distinção foi elevadaquando d. Pedro II concedeu o direito de uso deveste talar e de assento dentro dos cancelos dostribunais aos membros do IOAB, na comemoraçãode seu primeiro aniversário.

O Instituto se pensava como uma organiza-ção da elite dos advogados e implementou umformato que lhe permitia ter controle de sua expan-são. A sistemática de filiação baseava-se nas redesdessa elite, mas o campo de atuação que queriaatingir expandia-se para fiscalizar, regular e mora-lizar o mundo da justiça que Evaristo da Veigadescrevera.23 Para resolver este paradoxo, tinhacomo meta organizar a Ordem dos Advogados,com poderes reguladores e punitivos sobre o con-junto dos bacharéis. Como o IOAB só tinha recur-sos para se fazer acatar por seus membros, queconstituíam a nata da profissão, não lhe bastavaaprovar internamente regras ilibadas de conduta

moral e profissional para enfrentar a dimensãodaqueles problemas. Na visão deles, era precisoobter junto aos poderes estabelecidos a condiçãolegal para o desempenho de tais atribuições.

Aprovado o Instituto, o conselheiro Aragãotornou-se seu presidente honorário e Francisco GêAcaiaba de Montezuma (depois, Visconde de Jequi-tinhonha) foi eleito o primeiro presidente do IOAB,ficando no cargo de 1843 a 1851. Antes de exercereste posto, Montezuma24 já havia sido constituintepela Bahia em 1823, ministro da Justiça em 1837,acumulando as pastas de ministro dos NegóciosEstrangeiros e ministro plenipotenciário na Ingla-terra em 1840-41.

Os fundadores não somente se ocuparamcom questões da profissão; pertenciam, em suamaioria, à “nova geração da elite política brasileiraque chegara ao poder no Período Regencial” (Fa-gundes, 1995, p. 9). Dos dez membros que assina-ram a representação enviada ao governo paraaprovação dos estatutos, a autora encontrou infor-mações biográficas para oito deles, possibilitando aconstrução do perfil social deste grupo inicial. Amaioria estava no começo da carreira. Montezumae Aragão se diferenciavam bastante do grupo nisso.Da geração mais madura fazia parte também Caeta-no Alberto Soares (terceiro presidente do IOAB,1852-57).

Dos demais, três (Nascimento Silva, PereiraPinto e Carvalho Moreira)25 ocuparam cargos exe-cutivos depois da fundação do IOAB, como presi-dente de província, diretor da Secretaria de Justiçae ministro plenipotenciário. Carvalho Moreira, osegundo presidente, filiou-se ao Instituto com ape-nas 28 anos e foi eleito para dirigi-lo aos 35 anos.Ele já representa a geração de bacharéis formadosno Brasil, em contraste com a precedente. Moreiraficou à frente do Instituto por pouco mais de umano, renunciando ao cargo para ser ministro pleni-potenciário nos Estados Unidos. Em 1864, recebeuo título de Barão de Penedo, permanecendo nacarreira diplomática até a queda do Império.

Teixeira de Freitas26 desenvolveu sua carrei-ra jurídica no Rio de Janeiro, com um perfil técnico-jurídico, não se envolvendo com a carreira política.Jurisconsulto contratado pelo governo imperial em1855 para elaborar a Consolidação das Leis Civis,

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teve uma gestão curta de apenas três meses napresidência do IOAB, renunciando ao cargo emnovembro de 1857, após perder uma votação nainstituição, sobre a interpretação que vigoraria arespeito da condição legal dos filhos de escravasalforriadas. Seu projeto de código civil influencioumuito a elaboração do Código Civil argentino.

Como já apontado anteriormente, o IOABtinha como meta a criação da Ordem e queria para sio papel de auxiliar do governo, emitindo pareceressobre a organização legislativa e judiciária e sobrequestões de jurisprudência. Em seus primeiros anos,quando adotou a estratégia de eleger para a presi-dência membros diretamente relacionados com oEstado, o Instituto obteve este reconhecimento. Masa relação com o governo imperial foi-se tornandomais tênue e irregular, o que parece associado tantoao fato de a presidência do Instituto passar a serocupada por advogados mais distantes do poder deEstado quanto por eles se identificarem com pro-postas por vezes discordantes das dominantes.

Das gestões de Montezuma e Carvalho Morei-ra, ambos afastados voluntariamente da presidên-cia do IOAB para ocupar postos do Estado, até asgestões de Urbano Sabino Pessoa27 (quinto presi-dente, 1857-61) e Perdigão Malheiros (sexto presi-dente, 1861-66), os vínculos e as relações do IOABcom o governo se fragilizam.28

Os discursos proferidos por Caetano Soares,em 1857, e por Perdigão Malheiros,29 em 1864,refletem as mudanças nessa relação. Caetano Soa-res, além de agradecer enfaticamente a presençado ministro da Justiça, Nabuco de Araújo, nasessão de instalação, reforçando os vínculos e acondição do Instituto de auxiliar do governo, so-licitou que este outorgasse uma regulamentaçãocriando a Ordem dos Advogados, projeto que oSenado aprovou mas que recebeu da Câmara deDeputados vigorosa oposição, adiando-se porprazo indeterminado a discussão. O projeto apoi-ava-se no modelo francês e procurava carregar nodiscurso das vantagens morais e dos elevados finsque a Ordem traria, ao “estabelecer uma vigilan-cia proctetora de sua propria dignidade, e guardafiel das disposições legislativas, que lhes são es-peciaes e mais apropriadas” (RIOAB, ano IV,tomo III, ns. 1-3, jan.-out. 1865, p. 34).

Caetano Soares responsabilizou a falta deregulamentação pelo esvaziamento do IOAB, epara reavivá-lo precisava da Ordem. A ela caberia,além de “cohibir os excessos e desvios dos Advoga-dos”, garantir-lhes seus direitos

[...] como o de que trata a citada Orden. L. 1o tit. 55& 2, que dá direito ao Advogado que fôr daRelação por 4 annos, poder ser Dezembargador[direitos que] parecem desconhecidos ou olvida-dos indevidamente: mas um Regulamento claro,preciso, acomodado ao estado actual da civilisa-ção moderna, que organise a corporação dosAdvogados, como é de interesse publico, e seacha convenientemente estabelecido na Inglater-ra, na França, e nas outras nações mais adiantadasnessa mesma civilisação, com os meios própriosde execução para fazer observar sua disciplina eRegimento interno, com as regras precisas para amanutenção de seus direitos, de suas prerogativase privilegios inherentes ao seu cargo por interessepublico, e por isso mesmo dignos de ser mantidosna fórma da Constituição Art. 179 & 16, ainda nãoexiste. E eis o que desejamos: o que o benemeritoMinistro da Justiça presente nos póde outorgar emnome do governo, e que lhe pedimos. (RIOAB, n.2, 1865, p. 37)

Em março de 1862, o IOAB contava com 70membros efetivos, sendo 18 filiados na primeiradécada do Instituto (1844-54) e os demais matricu-lados a partir de 1857.30

O discurso de Perdigão Malheiros voltou-separa problemas sociais como a escravidão e aliberdade individual, a imigração e a necessidadeda igualdade entre brasileiros e estrangeiros nopaís. Defendia o equilíbrio entre os poderes Legis-lativo, Executivo, Moderador e Judiciário, critican-do o governo por violar a independência do Judi-ciário e a vitaliciedade dos magistrados. Seu posici-onamento diferencia-se do precedente não só namaior relevância das questões sociais introduzidasno Instituto e na crítica à “mão violenta do PoderExecutivo”, que “tem infringido esses preceitos,31

verdadeiros dogmas de nossa organização políti-ca”, mas também numa concepção mais ampla parao papel social do IOAB (RIOAB, n. 3, 1865, p. 49).

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Perdigão Malheiros renunciou à presidênciado IOAB por considerar improfícua sua gestão emreavivar o Instituto. Tal decisão, contudo, é atribu-ída a um descontentamento seu com o fato de tertentado apresentar seu trabalho A escravidão noBrasil nas reuniões do Instituto, “sendo constante-mente dissuadido da idéia pelos colegas”, quediziam que o trabalho sobre os africanos poderia“desagradar uma vontade augusta” (Fagundes,1995, p. 97). Durante a sua gestão é fundada aRevista do Instituto da Ordem dos Advogados Bra-sileiros (RIOAB).

A mudança no padrão de relação do IOABcom o Estado aponta não só para uma questão deredes, mas também para uma postura políticadiferenciada e uma preocupação com questõessociais mais globais. A prática de buscar nomes deprestígio e poder junto ao Estado volta a serimplementada com a eleição de Nabuco de Araú-jo,32 sétimo presidente do IOAB (1866-73). Suaescolha por unanimidade é justificada como umagradecimento por ele ter, durante sua estada àfrente do Ministério da Justiça, encaminhado aoLegislativo a proposta de criação da Ordem dosAdvogados, que seguiu encontrando dificuldades eresistências para ser aprovada pelo parlamento.

Na condição de presidente, Nabuco de Araújoviu-se com a tarefa de ajudar nas questões relativasà habilitação profissional, enquanto se aguardava acriação da Ordem. Neste sentido, propôs e encami-nhou a jurisdição que reservou o exercício daprofissão em juízo aos advogados e solicitadores decidadania brasileira. Criou também a assistênciajudiciária, com o Instituto providenciando a defesados réus pobres. Foi ativo nos conflitos jurisdicio-nais com autoridades da Igreja, para garantir aoIOAB o papel de credenciador de advogados esolicitadores para o exercício de suas funçõesperante o juízo eclesiástico, que estava exigindouma licença do bispo para habilitar advogados aatuarem nesse foro. A gestão de Nabuco de Araújodeu muita relevância à ampliação da jurisdição doIOAB, debatendo por várias reuniões um conflitoentre acadêmicos advogados e um juiz-suplentemunicipal que havia transgredido os estatutos doIOAB, violando a liberdade de defesa, usando deforça armada como coação e ofendendo “a seus

collegas advogados e nelles a dignidade da classeque este Instituto é destinado a manter” (RIOAB,tomo VIII, Conferência de 21/12/1871). A decisãode censurar o juiz-suplente apoiou-se na interpreta-ção majoritária de que ele estava sujeito ao regi-mento do Instituto e não só ao Poder Judiciário.

Mas, se a gestão de Nabuco ajudou o IOAB aexpandir seu campo de domínio como órgão cre-denciador e regulador, a resistência à criação daOrdem permaneceu tanto na Câmara de Deputa-dos, que via na Ordem quase uma concorrente,quanto em outros advogados adeptos da interpreta-ção de que tal medida representava um atentado àcondição liberal da profissão.

Nabuco de Araújo voltou a se afastar dasreuniões do IOAB a partir de 1871, período marca-do por mudanças no cenário político, como acriação do Partido Republicano, o realinhamentopartidário e a difusão de idéias abolicionistas. Nestecontexto, a direção das reuniões do IOAB foramassumidas por Saldanha Marinho,33 que se elegeuoitavo presidente do Instituto em 1873. Se Nabucode Araújo foi se ocupar do Partido Liberal, elegen-do-se senador depois de extinta a coalizão progres-sista, Saldanha Marinho vai liderar o IOAB e oPartido Republicano.

A gestão de Saldanha Marinho contrasta coma anterior no que diz respeito às relações com ogoverno, ao peso atribuído às questões sociais e aopapel do Instituto. Saldanha Marinho presidiu oIOAB por 19 anos, participando da abolição daescravatura, do fim do Império e dos primeirosanos da República. Suas posições, distintas daque-las predominantes no âmbito do governo imperial,levavam-no a difundir uma visão do IOAB menosdirecionada ao Estado e mais sintonizada com oclima político na sociedade. Trechos de seu discur-so, proferido em 1875, ilustram isso:

Occupe-se elle [IOAB] sériamente das questõesjurídico-sociaes que mais interessam ao paiz; tratede firmar em bases solidas a sciencia das leis, ajurisprudencia; representem aos poderes do Esta-do por bem de que sejam adoptadas as medidasindispensaveis á estabilidade dos direitos e áproscripção dos abusos; constitua-se vigilante doprocedimento dos juizes e tribunaes — para, nas

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suas attribuições, stigmatisar o erro, ou o crime, e,se possivel fôr, representar ás autoridades compe-tentes contra os que deixarem de honrar o seuencargo; esforce-se por constituir a profissão deadvogado na altura e nobreza indispensaveis;esforce-se, dando o exemplo, por escoimar dofôro os mercadores da lei; satisfaça assim o fimprincipal de sua instituição — e bem merecerá dopaiz. Senhores. São, na verdade, importantissimoe de melindrosissimo alcance, tão graves encar-gos, mas devem ser os do Instituto, sob pena desua imprestabilidade, e de tornarem-se damnososaos reaes interesses publicos. Não seja o Instituto,senhores, reduzido a uma palestra sem importan-cia, onde as causas perdidas, ou as pretençõesdesarrazoadas venham procurar amparo ou desa-bafo. O Instituto deve, com a maior hombridade,com o maior desinteresse, com abnegação mes-mo, curar dos reparos de que o nosso direitonecessita; discutir os pontos controversos e sobreos quaes se deve firmar uma regra invariável;estudar o que é mister constituir, e esforçar-se,pelos meios legaes, para que seja aperfeiçoado ocorpo do nosso direito, colocando-o nas condi-ções de bem satisfazer ás necessidades politicas esociaes do paiz. (RIOAB, 1871 a 1880, tomo VIII,pp. 299-300)

Entretanto, muitas de suas opiniões não fo-ram endossadas pelo Instituto, como é exemplo odebate da questão religiosa. A proposta de separa-ção entre Igreja e Estado gerou polêmica já nosprimeiros anos da gestão de Saldanha Marinho,discussão que prosseguiu até 1878. Embora eletenha conseguido trazer o debate politizado paradentro do Instituto, o que Perdigão Malheirostentara durante sua gestão, com a frustrada propos-ta de apresentar seu trabalho sobre a escravidão, oInstituto nunca deliberou sobre a questão religiosa.

O estilo crítico de Saldanha Marinho tentavaquebrar com o predomínio das discussões doutri-nárias no IOAB, procurando redirecionar a institui-ção para um papel mais ativo na sociedade. Apesarde ele ser republicano, o IOAB continuou sendoconsultado pelo governo imperial até 1889, nãoperdendo esta atribuição. Saldanha Marinho queriaalterar os estatutos da entidade, por discordar do

artigo que estabelecia que a principal missão doIOAB era organizar a Ordem dos Advogados.Durante sua gestão, a reforma dos estatutos deixouo Instituto com um papel menos centrado nointeresse em regulamentar a profissão, para incluirpreocupações com a produção de conhecimento ede serviços para a sociedade.34

A chegada da República, movimento quevinha mobilizando bacharéis desde a criação doPartido Republicano, em 1871, teve como conse-qüência a desorganização do IOAB. Sua direçãoenvolveu-se nas mudanças políticas na sociedade eas novas lideranças que vão reativá-lo são proveni-entes de grupos menos ocupados com a construçãoda nova ordem, seja por apoliticismo, seja portemerem as acusações de preservar laços com aordem deposta.

Este período está associado a uma mudançagradual no perfil dos membros do IOAB, registran-do-se a presença de sócios provenientes de seg-mentos sociais menos elitizados. Os discursos re-forçando a distância da política e uma conduta comaparência mais técnica também favorecem a iden-tificação dos advogados com um modelo maispróximo das “profissões modernas das classes mé-dias” e da sua ênfase do apoliticismo e da compe-tência científica.

Torres Neto35 foi eleito o nono presidente doIOAB (1892-93) e retomou intensamente as reuni-ões do Instituto durante o ano de 1892, em que sedebateu a organização da justiça no Distrito Fede-ral. A RIOAB, que foi interrompida entre 1888 e1892,36 volta a ser publicada em 1893. A partir de1894, com Prudente de Morais na Presidência daRepública, a primeira gestão civil após a proclama-ção, os contatos do IOAB com o Estado novamentese estreitaram e o Instituto voltou a assumir a defesados réus pobres, facilitada pelo fato de o ministroda Justiça, Amaro Cavalcanti, ser membro do Insti-tuto. Neste ano, sob a presidência de MachadoPortella,37 o quadro de membros efetivos do IOABcontava com 126 matrículas. Os membros honorá-rios eram 10 e os correspondentes eram 26.

As relações do IOAB com o governo republi-cano durante as presidências civis da PrimeiraRepública foram mais estreitas do que em algunsperíodos do governo imperial. A prática do silêncio

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adotada pelo maioria dos membros do Institutoquando se enfrentava períodos de distanciamentoem relação ao poder central, implementada jáquando Perdigão Malheiros insistia em apresentarsuas idéias sobre a escravidão, na década de 1860,foi reativada várias vezes, particularmente quandoa República chega pelas mãos militares. Depois dagestão de Saldanha Marinho, esta conduta é oficia-lizada na reforma do estatuto de 1895, que veta ospronunciamentos sob questões políticas e regula-menta a “neutralidade”.38

Questões com conteúdo político são debati-das, mas com um discurso “científico, legal, desapai-xonado”. Transformam-se em problemáticas focali-zadas sob o prisma do Direito, demarcando clara-mente a distinção com a perspectiva partidária. Osmembros que vão colaborar com o Instituto e quetiveram uma participação político-partidária no Im-pério são “purificados” deste passado, sendo apre-sentados como indivíduos que abandonaram a vidapolítica e que darão contribuições relevantes para oDireito. Esta estratégia foi intensamente adotada emrelação a Machado Portella, dado o seu vínculopassado com o Partido Conservador e com o Impé-rio. Nessa reconstrução das histórias individuais,enfatiza-se as experiências ilustres da trajetória aca-dêmica e profissional desses membros para afastar orisco de hostilização e perseguição política ao IOAB.

Temas como a Constituição, o estado de sítio,a intervenção nos estados são debatidos no Institu-to, que redige suas teses ao governo, sempre coma aparência de neutralidade e rigor no cumprimen-to estrito da função de estudar o Direito. O discursoproferido por Bulhões de Carvalho39 na celebraçãodo aniversário do Instituto e seu relatório sobre aordem constitucional da República, ambos publica-dos na RIOAB, exemplificam como o IOAB passoua lidar com as questões políticas.40

Em substituição à estratégia implementadavárias vezes durante o Império, de eleger para oInstituto membros influentes do governo com oobjetivo de estreitar as relações da profissão com oEstado, durante a Primeira República, a aparênciade desapego às paixões partidárias foi o recursoque predominou para se levar adiante o projetoinstitucional de influir nas decisões do governo. Oslíderes que assumem a presidência do IOAB após

Saldanha Marinho ou são advogados sem vínculospolíticos-partidários, como Torres Neto, ou são ex-políticos, despidos das “paixões” de seu passado,como Machado Portella e Alvares de Azevedo.41

Entretanto, se este é o critério adotado paraestreitar relações com o novo Estado, o apoliticismonão se consolida como um valor que dê identidadeao grupo. Ao analisarmos as homenagens que oInstituto faz aos sócios falecidos, temos a impressãode que as paixões pela política continuam bemvivas. Estas homenagens também fornecem algu-mas pistas sobre a mudança no perfil dos membrosdo IOAB. Em 1897, na seção “Necrologia” recente-mente criada na RIOAB, a diretoria homenageia LuizAlvares de Azevedo Macedo.42 Em 1898, elogia oconselheiro Dr. Tito Franco de Almeida43 e Gracilia-no Aristides do Prado Pimentel.44 A quantidade deinformações relatadas sobre os falecidos é indicativada importância que o Instituto atribuiu a seu home-nageado, o que tem paralelo com seu prestígio nasociedade. Assim, constantemente os dados dispo-níveis sobre os sócios falecidos são desiguais.

Os três homenageados tiveram atuação políti-ca no Império e se afastaram dos cargos públicoscom a República, fato destacado nas necrologias. Oselogios de 1904-05 já começam a se referir aosfalecidos que ingressaram no IOAB depois da Repú-blica ou que assumiram sua liderança depois destemovimento. Assim, além das homenagens aos ex-presidentes Barão de Penedo e Torres Neto, reser-vam amplo espaço para celebrar as memórias doconselheiro Carlos Augusto de Carvalho45 e de JoséIzidoro Martins Junior,46 que tiveram participaçãopolítica na Primeira República. Recebem elogiosmenores outros seis membros falecidos. Entre eles,observa-se o destaque àquele que teve atuaçãoacadêmica, dando-se relevância à cultura jurídica.47

Para José Bonifacio Burlamaqui Moura, a necrologiasó noticia o falecimento “(d)este nosso digno colle-ga, ainda joven e desejoso de distinguir-se nas lidesforenses”. Lydio M. de Albuquerque é apresentadocomo um advogado proveniente de família numero-sa e sem recursos que, superando muitas dificulda-des, conseguiu “adiantado em anos” formar-se naFaculdade de Direito de Recife.

Apesar da ênfase no discurso apolítico e nasdistinções da cultura jurídica, os membros com

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carreiras políticas durante a Primeira República sãoos que recebem mais reverência e homenagemquando falecem. A composição social do IOABnesse contexto em que se enfatizam o brilhantismo,a erudição, o cultivo das belas letras, os recursosoratórios e a escrita magistral mostra-se mais abertaaos novos ares da República, materializada noregistro do esforço de ascensão social entre algunsde seus membros.

Neste clima, a figura de Teixeira de Freitas,que desapareceu da história do IOAB por 50anos,48 não sendo incluída na lista de seus ex-presidentes, vai ser revigorada como um símbolode jurisconsulto de dimensão internacional. Elevolta a ganhar destaque no Instituto em dois mo-mentos marcados pela necessidade de se enfatizara relevância do IOAB como fomentador da culturajurídica, identidade e imagem pública que estavambuscando consolidar.

O regulamento a favor da neutralidade seguiupredominando e gerando conflitos internos até ofinal do período. Quando, em função da PrimeiraGuerra Mundial, 21 membros propuseram que oIOAB manifestasse seu apoio ao governo da Repú-blica na declaração do estado de guerra entre Brasile Argentina, o então presidente Rodrigo Otávio49

não submeteu a questão a decisão por considerá-laanti-regimental (Fagundes, 1995, p. 151). Essa pos-tura de não se votar questões políticas vai estarsujeita a manipulações ideológicas sobre seu con-teúdo. Em alguns contextos, posicionar-se sobre aConstituição será tido como função técnica doIOAB; em outros momentos, será considerado anti-regimental.

Os elogios aos mortos vão seguir destacandoaqueles que ocuparam cargos políticos na Repúbli-ca, mas o tom agora está impregnado de sentimen-tos de desilusão com a política, dando ênfase aindamaior ao conhecimento e à inteligência dos faleci-dos. Os relatos sobre as origens sociais dos mem-bros vão deixando de ser mencionados com maisfreqüência, dando-se destaque ao brilhantismo ju-rídico e às posições ocupadas na carreira, o queevidencia o avanço da participação dos advogadosprovenientes dos estratos médios. As homenagenstentam consolidar uma identidade do grupo emque a cultura jurídica predomina sobre a atividade

política, mas o que esses elogios manifestam é umadesilusão muito mais freqüente com os cargoseletivos do que com a carreira de nomeações paracargos públicos. As nomeações são associadas aomérito do falecido.

Na trajetória do IOAB percebe-se uma ten-dência a priorizar a construção da organização nosmomentos em que ele se encontra menos ocupadocom sua participação na política, o que coincidecom as suas desilusões nesta esfera. Nessas ocasi-ões, o IOAB intensifica sua ação em prol da Ordemdos Advogados. Durante todo o Império, a tentativade criá-la fracassou porque predominara entre osparlamentares uma visão de que tal iniciativa seassemelhava à organização de um novo Senadovitalício. Com a retomada dos governos civis naPrimeira República, o Instituto obtém apoio para aOAB junto ao Executivo, mas novamente vê seuprojeto adiado indefinidamente pelo Congresso. Aproposta fora considerada incompatível com osistema constitucional vigente, dada sua ênfase naliberdade, na autonomia dos estados e na descen-tralização.

Em 1917 o IOAB decide criar um Conselho daOrdem, com um papel regenerador da profissão,antecipando, na prática, a função que oficialmentecaberia à OAB, com poderes disciplinares limitadosa seus sócios e não ao contingente dos bacharéis.Tal mecanismo de auto-regulação foi implementa-do inicialmente como uma deliberação voluntáriade seus membros. Como a OAB é criada, em 1930,por Getúlio Vargas, ela acaba sendo tratada nabibliografia apenas como uma iniciativa da políticacorporativa de seu governo, e não como umaproposta de profissionais que, finalmente, obtêmsucesso na estratégia que vinham implementandopor várias décadas. No discurso de instalação doprimeiro Conselho da Ordem, o presidente doIOAB, Rodrigo Otávio, afirmaria:

Nesses mezes ultimos, esta benemerita Associa-ção viu consideralmente augmentado o numerode seus membros; e o movimento não cessou,numa intensidade de que a nossa historia nãoregistra exemplo, mesmo approximado. E a cirs-cunstancia de coincidir esse tão consideravel nu-mero de adhesões com a constituição do Conse-

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lho da ordem, que vem exercer acção disciplinarsobre os advogados que se inscreverem no qua-dro do Instituto, bem denota que estaes animadosdo são espirito de vos orientardes no desenvolvi-mento de vossa actividade profissional pelas li-nhas tradicionaes da correcção proverbial de nos-sos maiores. Ereis inteiramente livres no exerciciode vossa profissão; viestes voluntariamente vosabrigar a esta casa; e esse abrigo se vos traz aprocteção da vida commum, do esforço conjunc-to; do prestigio da confraternidade, vos submetteao mesmo tempo á autoridade disciplinar doConselho, á censura dos mais velhos, á sancçãodos mais experimentados. (RIOAB, vol. III, n. 5,1927)

Há uma clara intencionalidade por parte dosmembros do IOAB em criar uma corporação compoder de controlar o mercado antes de Vargaschegar à Presidência da República. A fundamenta-ção para a instalação da Ordem é de caráter moral,embora trouxesse ganhos materiais. Tal como du-rante o Império, a OAB continuou dependendo deuma medida legal não aprovada no Congresso,nem efetivamente encaminhada pelo governo. Em1910, o Instituto aumentou as exigências para oingresso em seus quadros. Seu regimento é altera-do, passando de dois para quatro anos o período deexercício profissional necessário para ingressar noIOAB. Mesmo assim, o contingente de filiados em1930 já era um grupo maior, com 328 membrosefetivos, 61 avulsos,50 135 correspondentes (82nacionais e 53 estrangeiros) e 69 sócios honorários

O que dificultava muito a aprovação da pro-posta de criação da Ordem era o fato de ela vir aatuar num campo onde o Legislativo e o Judiciáriojá ocupavam espaços, com forte resistência a cedersua jurisdição. O IOAB seguiu enfatizando suacompetência nesta área. Na Primeira República,protestou contra a prática de credenciamento deadvogados pela Câmara, acusando-a de “forjarbacharéis por simples ato legislativo [...] nascidosdos arranjos da politicagem”. (RIOAB, n. 5, 1927, p.16). Quanto à fiscalização do exercício profissional,propunha o conselho de disciplina dos advogadoscomo auxiliar da autoridade judiciária para o efeti-vo desempenho da tarefa que não estava sendo

executada. O Instituto buscava o apoio da magistra-tura enfatizando a autonomia da classe, sujeita aseu próprio controle. O código de ética profissio-nal, aprovado em 1926, deu muita atenção àsrelações entre advogados e juízes.

A proposta da Ordem era entendida, emalguns grupos, como incompatível com a Constitui-ção que enfatizava a liberdade. Aprofundando ainterpretação mais liberal destes princípios, o RioGrande do Sul vetava a obrigatoriedade de diplomapara a prática profissional. Neste clima, a direçãodo IOAB procurou pôr em prática a alternativa daFederação dos Advogados Brasileiros, apoiada naadesão dos institutos estaduais. A proposta, reavi-vada na celebração do 86o aniversário do IOAB, em1929, contava com o apoio dos institutos estaduaisexistentes, que eram os do Rio Grande do Sul,Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo,Bahia, Pernambuco, Sergipe e Maranhão.

A OAB vai surgir, pois, quase 90 anos depoisda fundação do IOAB, que tinha como meta prin-cipal a sua criação, num contexto onde se articulam(a) a substituição de uma linha política descentrali-zada e mais hostil à proposta da Ordem por umapolítica centralizadora e corporativa, (b) as redesde relações do Instituto com Vargas e OswaldoAranha e (c) o crescimento da estrutura organizaci-onal dos advogados.

André de Faria Pereira, membro do IOAB,assume a paternidade da OAB, muitas vezes atribu-ída a Levi Carneiro, que, nomeado consultor-geralda República por Vargas, emitiu o parecer queregulamentou a Ordem em 1931.

[…] Surpreendido com a minha reintegração, pordecreto da Junta Governativa de 30 de outubro de1930, no cargo de Procurador-Geral do DistritoFederal, de que fora ilegalmente exonerado peloPresidente Washington Luiz, sugeri a OswaldoAranha, logo que ele assumiu o cargo de Ministroda Justiça, do Governo Provisório, a necessidadede se modificar a organização da então Corte deApelação, visando normalizar os seus serviços eaumentar a produtividade de seus julgamentos.Concordando com a idéia, pediu-me o Ministroque organizasse um projeto de decreto e eu,conhecendo bem, como antigo sócio do Instituto

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dos Advogados, a velha aspiração dos advogadose as baldadas tentativas para sua realização, bemcomo, impressionado com o desprestígio a quedescera a classe, preparei o projeto e incluí nele odispositivo do art. 17, criando a Ordem dos Advo-gados, e o submeti à crítica de um único colega,hoje respeitado Ministro do Supremo TribunalFederal — Edgar Costa, que sugeriu algumasmedidas, que foram adotadas, entre elas, a desupressão do julgamento secreto, na Corte deApelação, antes introduzida na legislação.Levei o projeto a Oswaldo Aranha, que lhe fezuma única restrição, exatamente no artigo 17, quecriava a Ordem dos Advogados, dizendo nãodever a Revolução conceder privilégios, ao queponderei que a instituição da Ordem traria, aocontrário, restrições aos direitos dos advogados eque, se privilégio houvesse, seria o da dignidadee da cultura.Discutíamos, o Ministro e eu, esse ponto, doprojeto, quando chegou Solano Carneiro da Cu-nha, como eu, depositário da amizade e confiançade Oswaldo Aranha, que, felicitando-me pelaoportunidade da idéia, reforçou meus argumen-tos, aceitando o Ministro, integralmente, o projeto,levando-o, na mesma tarde, ao Chefe do GovernoProvisório, que o assinou, imediatamente, semmodificação de uma vírgula[...] 51

Com a Revolução de 1930, as relações doIOAB com o Estado, a questão do posicionamentopolítico da instituição, sua pauta de interessesespecíficos e de propostas universalistas vão sermediadas pela criação da Ordem, o que altera oquadro organizacional dos advogados no Brasil.Esta nova configuração vai articular uma estruturada elite da profissão com outra voltada para oconjunto dos diplomados, interligando-as de váriasformas.

ConclusõesO fato de o IOAB ser uma organização de

participação restrita e seletiva lhe impedia de fisca-lizar o conjunto dos profissionais sem estreitar suasrelações com o Estado e obter dele o poder degarantir a qualidade do exercício profissional. Este

formato IAB-OAB viabilizaria uma associação deelite e uma outra com controle massivo dos advo-gados, que a ela se filiariam obrigatoriamente. Talarranjo institucional preservaria o padrão de profis-sionalismo que o IOAB valorizava e, ao mesmotempo, englobaria o conjunto dos bacharéis, dife-renciando-o da nata dos advogados.

Neste sentido, o modelo institucional adotadono Brasil inova em relação aos que foram tomadoscomo referência, particularmente a associação por-tuguesa e a americana. Levi Carneiro consideroutambém as organizações da Itália, da França e daBulgária. O formato aprovado aqui se diferenciavado português porque este desativara a Associaçãodos Advogados com a criação da Ordem, e aqui semanteve as duas organizações. Por outro lado, se osamericanos criaram associações autogovernadas,de adesão voluntária e com estatutos estaduais, aOAB contaria com a adesão obrigatória, com umaregulamentação nacional, tendo a função de umserviço público federal que preservava seu autogo-verno.

Após a estruturação da OAB, a autonomiaprofissional entra na agenda dos advogados comoparte inseparável de seu projeto de profissionaliza-ção, dadas as ameaças de intervenção do Estado.Por duas vezes a OAB sofreu essas tentativas decontrole e enfrentou judicialmente essas batalhas.A primeira delas ocorreu ainda no período demo-crático, sob o governo de Dutra, em 1955. Interpre-tando a condição da OAB de ser um serviço públicofederal, o Tribunal de Contas da União tentousubmetê-la à sua fiscalização, perdendo a disputana Justiça. A última ameaça foi sob o regime militar,em 1968, quando se propôs que a OAB fossecontrolada pelo Ministério do Trabalho, como ocor-reu com outras organizações profissionais. Tal pro-cesso se estendeu por quase dez anos, com a vitóriada preservação da autonomia da OAB. O sucessodas estratégias de profissionalização dos bacharéisno Brasil reafirma-se diante da capacidade demanter o autogoverno da OAB em um contexto derelações adversas com o Estado.

O processo de profissionalização que se ini-ciou junto com a construção do Estado imperial,pelas mãos da elite dos bacharéis, articulou ocontrole do mercado com um projeto de Estado e

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de nação. Embora os segmentos médios não te-nham tido participação neste período, isto nãodescaracteriza o IOAB e sua campanha pela criaçãoda OAB como parte de uma história mais longapara sedimentar o profissionalismo e seu ethos noBrasil. Da mesma forma, as relações com o Estadonão desfiguraram a condição profissional destegrupo. Os aspectos centrais do ethos profissional —a expertise do saber abstrato, a ênfase no mérito ea autonomia para realizar diagnósticos técnico-jurídicos — estiveram presentes desde a criação doInstituto.52

Por último, durante o período imperial e aPrimeira República, alguns presidentes do IOABtrouxeram a perspectiva social e o discurso univer-salista para o âmbito da instituição. Desta forma,tentavam atribuir-lhe um papel mais amplo do queaquele identificado constantemente na literaturasobre o tema, que procura limitar a ação dessesgrupos aos seus interesses específicos ou aos inte-resses das elites econômicas, vinculando a suaparticipação no âmbito da política à exclusivasubserviência ao Estado.

As tentativas de ligar a instituição à fabricaçãoda esfera pública foram mais intensas no Impériodo que na Primeira República. Neste período pre-dominou a perspectiva de estreitar as relações como Estado, sob uma aparente despolitização. Foineste contexto que os bacharéis provenientes desegmentos médios ingressaram no IOAB. O Institu-to chega aos anos 30 sem uma identidade definidanesta polaridade. A ênfase na sua atuação nocampo da cultura jurídica, na elaboração de parece-res cultos, fundamentados, com domínio da juris-prudência, é o caminho ao qual seus membrosrecorrem para consolidar sentimentos comuns nogrupo sempre que se desiludem com a política. Istose coaduna também com a imagem que as profis-sões modernas estavam construindo nesse contex-to, de se voltarem para o saber e o mérito semapego às paixões partidárias, caracterizadas comoexternas à razão e ao conhecimento científico.

O IOAB lida de forma ambígua com a polari-dade entre a atuação política e a ênfase na culturajurídica despolitizada desde sua origem, tensão quese manifesta até hoje. O perfil institucional do IAB–OAB engendra esta disputa que sofre reveses,

altera-se na correlação de forças entre seus pólosconstitutivos, mas não tem como desaparecer den-tro desta estrutura.

Embora vários trabalhos que focalizam asprofissões no Brasil tendam a identificar os advoga-dos como o grupo “político”, em contraste com osprofissionais de competência mais técnica, como oseconomistas e os engenheiros (Schneider, 1994;Gomes, 1994; Loureiro, 1997), o embate entre essasduas tendências é originário das disputas quecaracterizam o profissionalismo, no âmbito dascompetições intraprofissionais ou interprofissio-nais. Apesar de os advogados se diferenciarem deoutras carreiras menos ativas na constituição daesfera pública, as tensões entre correntes políticase técnico-jurídicas são inerentes ao IAB e hoje estãoconsolidadas em sua identidade institucional, legi-timando tanto uma atuação político-social quantouma atuação voltada para as questões da profissãoe da jurisprudência. O debate contemporâneo noInstituto apresenta uma atualização dos conflitosdo passado, com disputas entre essas duas concep-ções, agora marcadas, respectivamente, por umavisão de esquerda, que prega a democracia econô-mica e critica o Estado neoliberal, e uma visão quequer preservar para o IAB a condição de assessordo Estado, auxiliando-o com pareceres técnicoscompetentes. Neste embate, como os grupos poli-tizados têm obtido bom desempenho nas eleiçõesinternas, o mérito é utilizado como recurso diferen-ciador, criticando-se a qualidade dos pareceresemitidos pelos profissionais com maior vínculopolítico e a baixa visibilidade pública das lideran-ças atuais.

NOTAS

1 Ano de criação da Ordem dos Advogados do Brasil(OAB), com poder de regulamentar a profissão, atravésde um decreto de Getúlio Vargas, que chegara àPresidência da República liderando a Revolução de1930.

2 Profissão vem sendo pensada como um tipo ideal deorganização social do trabalho que se diferencia deoutras formas, como, por exemplo, a da livre-concor-

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rência e a burocrática. Embora inserida no princípioocupacional, ela contrasta com outras ocupações que serepresentariam na divisão social do trabalho por outrostipos ideais. Uma parte central da discussão envolve aconstrução de algum consenso sobre as característicasque definiriam as profissões, estabelecendo-se as fron-teiras deste tipo ideal em relação às demais ocupações.

3 Tomo como base para definir profissão: (1) a produçãode saber abstrato, com monopólio sobre uma áreaespecializada do conhecimento; (2) a autonomia profis-sional para realizar diagnósticos; (3) o controle domercado através do credenciamento; (4) obtenção dascredenciais no ensino superior. Essa definição conside-ra as profissões como tipo ideal, respeitando as caracte-rísticas weberianas de: ser genérico o suficiente paracaptar a diversidade das experiências, preservar o signi-ficado heurístico do termo, sistematizar a realidadehistórico-empírica e possibilitar um processo perma-nente de reinterpretação. O processo reinterpretativoseria uma alternativa às visões que lidam com o tipoideal como um enquadramento da realidade, rotulandose há um retrocesso ou esgotamento do fenômenoprofissional em vez de reanalisar a formação do tipoideal de profissão. Ver o capítulo “Definições de socio-logia e de ação social” em Weber (1978) e Käsler (1988).

4 Dezalay e Garth (1995) concebem a circulação interna-cional de idéias entre os profissionais como um condi-cionante do campo do Direito, atuando para estabelecerfronteiras, estruturas, e orientando as estratégias imple-mentadas pelos atores nacionais.

5 “Nossos bacharéis, cuja formação acadêmica foi muitobem caracterizada por Sérgio Adorno (1988), não pode-riam, a não ser muito grosseiramente, ser tratados comoprofissionais. A base de afirmação e de legitimação deseu poder, o ponto de partida da sua atuação não era oseu saber, o seu conhecimento dos meandros da legis-lação, como ocorre com seus colegas atuais, mas a suasituação de classe, o seu patrimônio familiar de relaçõessociais e políticas. No máximo, poderíamos aproximá-los das profissões de status (cf. Elliott, 1975), caracterís-ticas da Inglaterra até o século XVIII. Nada a ver com asmodernas profissões que são a base dos atuais sistemasde estratificação.” (Barbosa, 1998, p. 133).

6 Neste caso, trata-se dos embates para a produção dosenso comum douto sobre que atividades receberão otítulo de profissão e quais serão excluídas desta nome-ação, garantindo legitimidade social a tal imposição. Ver“Espaço social e gênese das classes sociais” em Bour-dieu (1989).

7 Coradini (1996) faz uma discussão interessante em tornodo ethos profissional e do ethos de classe para os médicosda Academia Nacional de Medicina no período imperial.Baseando-se em Monique Saint Martin, o autor propõepensarmos o caso que ele estudou como uma situaçãode justaposição entre os dois modelos, resultando em umethos híbrido, com a importação da filosofia e da tecnolo-gia que cercam o ethos profissional para um contextoonde predominam as relações recíprocas baseadas emlaços familiares e sociais típicos do ethos de classe.

8 Os trabalhos de Carvalho e Adorno tomam comoreferência a noção de profissão como comunidade paraanalisar os juízes e os bacharéis. Carvalho (1980) iden-tifica uma condição mais profissional entre os magistra-dos que participaram da construção do Estado imperial,diferenciando-os de outras elites. Para ele, a socializa-ção comum no curso de Direito em Coimbra homoge-neizou ideologicamente a magistratura, fator que atuouna unificação da elite e na preservação da integridadeterritorial brasileira diante de um contexto de fraciona-mento das ex-colônias espanholas da América Sul.Adorno (1988) segue na direção de Carvalho ao reco-nhecer como esses grupos se distinguem de outraselites, mas procura enfatizar que tal homogeneizaçãonão se deu nos bancos escolares da Faculdade deDireito de São Paulo, que na época não estava consoli-dada o suficiente para gerar tal identidade. Seu argu-mento é que foi por meio da socialização profissionalnas atividades de publicista que os bacharéis partilha-ram valores comuns sobre o Estado e a sociedade,construindo um ideário liberal adaptado ao contextoescravocrata, com ênfase nos direitos individuais emdetrimento da igualdade e com um projeto de civilizara sociedade e superar a barbárie. Os trabalhos de Flory(1986) e de Graham (1997) vão no sentido oposto,descaracterizando a existência aqui de um ethos profis-sional centrado no mérito ou até mesmo de um ethoshíbrido que pudesse diferenciar a conduta dos juízesdaquela predominante nos outros grupos de elite,baseados nos interesses de classe, no clientelismo, noslaços familiares ou de amizade.

9 “The professionalization theories to which I attach mostimportance, as do many professionals themselves, assertthat full professionalization exists only when professio-nal organizations capable of social and political activitycan themselves lay down and enforce professionalregulations.” (Siegrist, 1986, p. 268).

10 O estudo de Lynch sobre as profissões do Direito naColômbia é uma das poucas exceções a este tipo deabordagem.

11 Os estudos de Luckham (1981), Dias, Luckham, Lynch ePaul (1981) e Perdomo (1981) podem ilustrar estapostura analítica. Eles também associaram o papel dosadvogados nos países dependentes com a reproduçãoda dominação imperialista no Terceiro Mundo.

12 Venâncio Filho (1977) focaliza essa experiência deajuda americana sob um prisma que prioriza as dificul-dades locais, vistas pela perspectiva do participantebrasileiro e não da crítica à ação estrangeira, como noolhar de Gardner. Neste contexto de enfatizar o redire-cionamento da formação jurídica para áreas mais espe-cializadas necessárias no mercado, Lima Jr., Klein eMartins (1970) realizaram a pesquisa Os advogados e oEstado.

13 O estudo das relações entre profissão e Estado naAmérica Latina pode seguir reproduzindo os estereóti-pos vigentes sobre estes países na bibliografia dasprofissões. O trabalho de Cleaves (1987) sobre o Méxicocaracteriza as profissões mexicanas como estando em

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uma “preconsciousness era”, rótulo que, se aplicado aoBrasil, revelará mais a violência simbólica da terminolo-gia do que a realidade.

14 Esses trabalhos têm em comum um questionamento dasvisões que reduzem a ação dos advogados a motivaçõesde cunho egoísta, centradas na busca de monopólios depoder, para domínios de mercados. Contrastam com oolhar sobre as profissões que caracterizou o funcionalis-mo por introduzirem a problemática das relações dasprofissões tanto com o Estado como com a política deuma maneira mais ampla. A questão, portanto, não seresume a um contraste entre altruísmo e egoísmo(preocupação com o cliente e com a qualidade doserviço versus controle e monopólio da atividade), masao mercado em oposição à política, ao Estado e àcomunidade. O ponto a se enfatizar na atuação dosadvogados diz respeito à diferença entre uma agendavoltada para pautas que representam ganhos exclusivospara o grupo e outra com propostas que visam aresultados mais universais.

15 “Instead of being inevitable, in Central Europe theprogress of professionalization was repeatedly imperi-led by overcrowding (among chemists) or reversedentirely by adverse policies, initiating a deprofessionali-zation (among lawyers and secondary-school teachersin the Third Reich). Transcending such distinctions, theevolution of the German professions differs from theAnglo-American model mainly in being state-sponso-red, as ‘professionalization from above’ in HannesSiegrist’s apt phrase. Although the bureaucratically cre-ated professions soon assumed a life of their own andbegan to resemble their western counterparts, theirdifferent genesis added a particular governmental fla-vor, which is found elsewhere on the continent as well.”(Jarausch, 1990, p. 12).

16 Os bacharéis são regularmente incluídos na elite domi-nante durante o Império. A estratificação social aparecedividida em três grupos: a classe dominante, com donosde terra e letrados; um grupo médio de homens livres,como artesãos, trabalhadores manuais, lavradores epequenos comerciantes; e a massa subalterna de escra-vos (Torres, 1965). No início do período republicano jáse esboça uma explicação sociológica que procurarelacionar uma classe média um pouco mais numerosacom o apoio aos militares e a República que elesproclamaram. A análise de Pinheiro (1978) vai nestesentido, mas, embora ele reconheça mais estratificação,reduz a conduta política dos grupos médios às divisõesinternas da burguesia. Na primeira classificação acima,os bacharéis aparecem como membros da classe domi-nante. Na segunda, como membros de uma nova classemédia, desempenhando atividades profissionais libe-rais, em contraste com uma classe média tradicional, dapequena produção e do pequeno comércio.

17 Até a criação da OAB, em 1930, a entidade que é hoje oInstituto dos Advogados Brasileiros (IAB) era chamadade Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil (IOAB).

18 “In England and in the United States, to which I amlimiting my analysis, the principal professional associa-

tions were formed in the span of two generations. InEngland, of the thirteen contemporary professions listedby Harold Wilensky as ‘established’ or ‘in process’, tenacquired an association of national scope between 1825to 1880 — a fifty-five year span. In the United States,eleven of the same thirteen were similarly organizedinto national associations in forty-seven years, from1840 to 1887.” (Larson, 1977, p. 5).

19 Estatuto do IOAB, publicado na RIOAB, ano I, tomo I, n.1, jan.-mar. 1862.

20 Além de Fagundes (1995), ver Adorno (1988), VenâncioFilho (1977) e Falcão (1984).

21 “Entre as instituições que têm sido criadas entre nós, eque definham por falta de proteção do Governo, nota-se sobretudo o Instituto dos Advogados. [...] Quandocomparamos este Instituto com o Instituto Histórico,lamentamos que se dê tanto a um e tão pouco ao outro,quando ambos merecem igualmente.” Fagundes (1995)cita estas palavras de José Martiniano de Alencar, mem-bro do Instituto, publicadas no Diário do Rio de Janeiro,24/10/1857.

22 Por 20 mil réis mensais, proprietários de escravos quesabiam cozinhar alugavam os serviços deles para osinteressados.

23 Flory cita um artigo do Jornal do Commercio de 5 defevereiro de 1836, que ilustra o espírito que fundamen-tou as justificativas de criação do IOAB: “El jeito dellitigante es rascarle la espalda al escribiente, alegrarle eldía al paje del tribunal, soportar al abogado, absorber loque dice el letrado, elegir el abogado indicado para ladefensa de acuerdo con su venalidad o talento, ofrecerfavores al juez, y nunca escatimar el dinero. Sobre todo,debe tener el ojo avizor y el pie rápido; mantener labolsa abierta y la boca cerrada.” (Flory, 1986, p. 70).

24 Mulato baiano nascido em 1794, filho de um traficantede escravos.

25 Compunham a geração mais jovem, além dos presiden-tes Carvalho Moreira e Teixeira de Freitas, José MariaFrederico de Souza Pinto (Portugal, 1806, naturalizadoem 1854), Josino Nascimento Silva (Campos, RJ, 1811) eAntônio Pereira Pinto (Rio de Janeiro, 1819). Os dadosbiográficos foram extraídos de IAB (1988), Fagundes(1995) e Silveira (1944).

26 Nasceu na Bahia, em 1816, filho do Barão de Itaparica.Formou-se em Olinda em 1837

27 Nasceu em Pernambuco, em 1811, filho de brigadeiro.Formou-se em Olinda em 1835, ingressando na magis-tratura. Entre 1843 e 1848 atuou como o líder parlamen-tar dos ”praieiros”, sem ter se vinculado aos grupos maisradicais da Revolta da Praia. Foi deputado por Pernam-buco na legislatura de 1864-66, dominada pela LigaProgressista, mas logo rompeu com o ministério pro-gressista de Zacarias, indo liderar a corrente dos liberaisautênticos.

28 Durante a gestão de Urbano Sabino, o Ministério daJustiça, sob a direção de Nabuco de Araújo, propôs pelaprimeira vez que o IOAB instituísse o serviço de defesa

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dos réus pobres nos julgamentos criminais. Nabucoesteve à frente do Ministério até 1857. Depois disso,inicia-se uma período de lamentações sobre a situaçãodo IOAB nas relações com o Estado.

29 Nasceu em Minas Gerais em 1824, filho de magistradodo Supremo Tribunal de Justiça. Formou-se em SãoPaulo em 1849. Além da atividade como advogado noRio e em São Paulo, foi advogado do Conselho deEstado. Após sua gestão no IOAB, elegeu-se deputadopelo Partido Conservador de Minas, para a legislatura1869-72 e novamente em 1877.

30 “Reorganização do quadro de membros efetivos doInstituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, segundoa ordem de antiguidade das matrículas respectivas”.RIOAB, n. 1, out.-dez. 1870.

31 Refere-se à independência do Poder Judiciário e àperpetuidade dos magistrados.

32 Nasceu em 1813 na Bahia, filho de senador. Formou-seem Olinda em 1835. Foi magistrado, participou dojornalismo político, foi deputado em várias legislaturas,presidente da Província de São Paulo, senador pelaBahia e ministro da Justiça no Gabinete de Abaeté(1858-59) e no Gabinete de Olinda (1865-66), carreiraanterior à sua presidência no IOAB. Foi nomeadoconselheiro de Estado pelo Imperador. Era pai deJoaquim Nabuco.

33 Pernambucano, nasceu em 1816, filho de capitão. For-mou-se em Olinda em 1836. Iniciou carreira comopromotor público no Ceará. Elegeu-se para a Câmarapela primeira vez em 1848, pelo Partido Liberal, reele-gendo-se várias vezes, por diversos estados. Foi presi-dente da Província de São Paulo e conselheiro deEstado nomeado pelo Imperador. Foi membro ativo daMaçonaria e do movimento republicano. Com a Repú-blica, elegeu-se senador e dedicou-se à Comissão deRedação da Constituição.

34 A versão de 1888 do Regulamento do Instituto da Ordemdos Advogados Brasileiros estabelece que o IOAB tempor objeto: “1) o estudo do Direito, na sua historia, noseu desenvolvimento, nas suas applicações praticas ecomparação com os diversos ramos da legislação estran-geira; 2) a assistencia judiciaria”. (RIOAB, tomo XII, 1888).

35 Era fluminense, sobrinho do Visconde de Itaboraí.Graduou-se em São Paulo em 1864. Nunca exerceucargo público, apesar do parentesco com o ministroconservador, dedicando-se à advocacia.

36 A publicação da revista do IOAB foi interrompidatambém entre 1894 e 1905 e novamente em 1908.

37 Pernambucano, nascido em 1833, de família fidalga.Bacharelou-se em Olinda em 1855. No Império, foipresidente das províncias de Minas Gerais e da Bahia.Filiado ao Partido Conservador, foi membro da Câmaraem duas legislaturas e ministro da Justiça do Gabinetede Cotegipe. Retirou-se da política com a República.

38 O artigo 2 do Estatuto, aprovado nesta ocasião e sóalterado em 1986, estabelecia:” O Instituto não emitirájuízo sobre questões de interesse privado, nem se

pronunciará sobre assuntos de natureza religiosa, ouexclusivamente política”. A redação em vigor hojesubstituiu “exclusivamente política” por “política parti-dária”.

39 Carioca, nasceu em 1852. Iniciou o bacharelado em SãoPaulo, concluindo-o em Recife em 1874. Foi professor,advogado, magistrado e político. Elegeu-se deputadoprovincial várias vezes e deputado geral em 1885,sempre pelo Partido Conservador. Afastou-se da políticapartidária com a República.

40 “Esta illustre corporação, affastando cuidadosamente doseu seio todas as paixões partidarias, nunca se conser-vou estranha á corrente das idéas e dos sentimentos,que transformaram as nossas instituições na agitaçãodestes ultimos annos da vida nacional. Sem retrahir-sena indifferença, tem procurado sempre esclarecer coma luz do direito os passos dos que dirigem os destinos daNação. Não poderia envolver-se na politica sem offensados seus estatutos, mas não poderia tambem eximir-sedo exame das questões relativas aos direitos politicos eá ordem constitucional da Republica sem perda do seuprestigio, além de faltar ao fim principal da sua missão,porque é desses direitos que dependem todos osoutros. […] O que nos deve importar não são as theoriasdos sectarios de fórmas de governo, mas sermos gover-nados por uma constituição que faça apparecer por todaparte a ordem e não permita desapparecer em partealguma a liberdade […]” (RIOAB, tomo XVI, jul.-set.1905). O discurso comemorativo do aniversário doIOAB está em RIOAB, tomo XVIII, out.-dez. 1906.

41 Augusto Alvares de Azevedo, carioca, matriculou-se naFaculdade de Direito de São Paulo em 1863. Atuou naadvocacia do Rio de Janeiro, tendo sido deputadoprovincial do Rio no Império. Não se tem informação seera parente do poeta Alvares de Azevedo.

42 Luiz Alvares de Azevedo Macedo filiou-se ao IOAB em1857, aos 30 anos. Nasceu em Itaboraí, na então Provín-cia do Rio de Janeiro. Com a morte de seu pai, que erasargento-mór, sua mãe entregou sua educação ao Vis-conde de Itaboraí, de quem ele era parente. Começou ocurso de bacharel em São Paulo, concluindo-o emOlinda em 1850. Deputado provincial no Rio de Janeiroentre 1854 e 1863, pelo Partido Conservador, foi juizmunicipal e provedor de capelas e resíduos até aextinção destes postos, com a reforma judiciária de1871. Foi presidente da Província de Sergipe e, em 1881,foi nomeado procurador e advogado da Câmara Muni-cipal, aposentando-se em 1890, imediatamente após ofim do Império.

43 Tito Franco de Almeida filiou-se ao IOAB aos 41 anos.Nasceu em Belém, em 1829, filho de um advogadoportuguês. Formou-se em Olinda em 1850. Escreveu emjornais do Norte e Nordeste. Foi deputado provincial noPará e membro da Câmara dos Deputados entre 1856 e1863, passando a dirigi-la quando Zacarias de Góes foipara o Ministério e Teófilo Otoni para o Senado. Em1864 foi nomeado diretor da Secretaria de Justiça eredator do Diário Oficial, demitindo-se dessas posiçõesem 1866. Entre 1883 e 1885 presidiu o Club da Amazô-

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nia, “criado para impulsionar a abolição”. Quando daproclamação da República, era deputado e não aderiu,declarando-se monarquista. Só participou do IOAB até1879, quando mudou-se do Rio.

44 Graciliano Aristides do Prado Pimentel nasceu em Ser-gipe e foi membro da Câmara dos Deputados, além depresidente da Província do Maranhão. Era vinculado aoPartido Liberal e colaborava escrevendo em órgãos deimprensa ligados ao partido no Nordeste. Retirou-se dapolítica com a proclamação da República.

45 Carlos de Carvalho, nascido no Rio em 1851, já haviasido, no Império, chefe de polícia e presidente daProvíncia do Paraná, ambos entre 1878 e 1885. Seu paifora tenente-coronel e chefiara a comissão de engenhei-ros na Guerra do Paraguai. Formou-se em São Paulo em1871. Foi ministro das Relações Exteriores por 15 dias,no governo do marechal Floriano Peixoto, em 1893,renunciando ao cargo por discordâncias com o gover-no. Ainda em 1893 filiou-se ao IOAB, com 41 anos.Prudente de Moraes o reconduziu ao mesmo postoquando assumiu a Presidência da República.

46 José Izidro Martins Filho nasceu em Pernambuco em1860. Vinha de uma família de menos recursos. Seu avômaterno, que era professor, o educou durante os estu-dos primários. Formou-se em Recife em 1883. Comdificuldades financeiras para sobreviver da advocacia,começou a lecionar em colégios e no ensino particular,conseguindo, em 1888, dar algumas aulas como lente naFaculdade de Direito. Com a República, foi efetivadonesta posição e nomeado depois para o cargo de chefede polícia. Foi diretor da Faculdade de Direito de Olindae representou Pernambuco na Câmara de Deputados.No Rio, foi professor da Faculdade Livre de CiênciasJurídicas e Sociais, além de deputado e advogado.

47 É o caso da homenagem a João Pereira Monteiro, genrodo membro honorário de São Paulo, conselheiro Mano-el Antonio Duarte de Azevedo. João Pereira Monteironasceu no Rio e formou-se em São Paulo em 1872.Advogou no Rio até 1882, quando se mudou para SãoPaulo e prestou concurso para lente substituto daFaculdade de Direito. Em 1883 foi nomeado professorcatedrático de Teoria e Prática Forense. Foi vice-diretore diretor da Faculdade de Direito de São Paulo.

48 A admiração pela vasta cultura jurídica de Teixeira deFreitas, muito difundida na Argentina, só começou a serdivulgada no IOAB em 1905, quando lhe homenagea-ram com um monumento. Por meio século ele ficouapagado da memória institucional. Em 1929 Levi Carnei-ro criou a Medalha Teixeira de Freitas, distinguindoanualmente o jurista de maior destaque.

49 Nasceu em Campinas em 1866, filho de advogado.Formou-se em São Paulo em 1886. Ingressou no IOABaos 26 anos. Advogou no Rio de Janeiro. Com amudança de regime, ingressou na Procuradoria daRepública no Distrito Federal e foi secretário da Presi-dência, com Prudente de Moraes, até 1896. Em 1911, foinomeado consultor-geral da República pelo marechalHermes da Fonseca, permanecendo no cargo até ir parao Supremo, nomeado por Washington Luiz, em 1929.

50 Levi Carneiro propôs uma reforma dos estatutos em1928, criando os sócios avulsos, para expandir o quadrodo IOAB. Nesta categoria entraram aqueles membros damagistratura ou juristas que não estavam exercendo aadvocacia.

51 Carta endereçada a Haroldo Valladão, presidente daOAB, em 21/11/1950, por André de Faria Pereira, como objetivo de tornar público o episódio acima. Extraídode Venâncio Filho (1977, pp. 23-24).

52 Coelho (1995) apresenta uma visão distinta sobre arelevância do saber abstrato e da expertise para osucesso da profissionalização dos médicos. Em seuolhar, eles não tinham domínio do conhecimento cien-tífico nem a preferência do consumidor quando esta-vam reivindicando o monopólio do mercado da Medici-na, no século XIX, ao combater o charlatanismo (aspráticas alternativas que não se submetiam à autoridadecultural dos médicos regulares). A conquista do mono-pólio do mercado médico estaria relacionada às estraté-gias de controle das credenciais e da jurisdição profissi-onal independente de um mérito especial. Neste cená-rio, a existência de um ethos profissional não estariacentrada nestas questões.

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