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Face a face com a sinusite TEXTO: ARNALDO ANSAR FOTOS: DIVULGAÇÃO 28 | REVISTA ABCFARMA | AGOSTO/2011 G ripe, asma, rinite, infecções pulmonares – são muitas as doenças das vias aéreas cuja incidência aumenta no inverno. A sinusite às vezes entra nesse clube como um intruso meio inofensivo, mas não é o caso. Inflamação das mucosas dos seios da face (região do crânio formada por cavidades ósseas ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos), ela pode produzir dor forte, em pontada, pulsátil, além de sensação de pressão ou peso na cabeça. Na grande maioria dos casos, ocorre obstrução nasal, com presença de secreção amarela ou esverdeada, às vezes sanguinolenta, que dificulta a respiração. É irmã quase gêmea da rinite. Tanto que, como explica nesta matéria o Dr. Antonio Douglas Menon, otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês, hoje já não se fala mais em sinusite, mas em rinossinusite. Como se identifica, como se trata? Leia aqui Primeiro, uma explicação anatô- mica. Os seios da face – que são qua- tro, das maças do rosto à testa – dão ressonância à voz e aquecem o ar que a pessoa inspira. Eles são revestidos por uma mucosa semelhante à do nariz, rica em glândulas produtoras de muco e coberta por cílios dotados de movimen- tos vibráteis, que conduzem o material estranho retido no muco para a parte posterior do nariz, com a finalidade de eliminá-lo. Esse fluxo de secreção mucosa, produzida nos seios da face, é permanente e imperceptível. Por que eles se inflamam, predispondo à sinusi- te? São dois os mecanismos: alterações anatômicas que impedem a drenagem da secreção e processos infecciosos ou alérgicos, que facilitam a instalação de germes oportunistas. No primeiro caso, tem-se uma sinusite crônica. No segun- do, a forma aguda da doença. Os sintomas de cada uma Na forma crônica, como explica o Dr. Menon, os sintomas são permanen- tes: obstrução nasal, catarro amarelo- esverdeado e sanguinolento e dificul- dade para eliminar secreção. Existe também a forma crônica recorrente, com cerca de quatro crises por ano – nos intervalos, a doença permanece as- sintomática. Já a dor de cabeça surge na sinusite aguda. Além da dor na área do seio da face comprometido, pode haver também obstrução nasal com presença de catarro purulento e sanguinolen- to, que incomoda bastante ao respirar, acompanhada de mal-estar e febre. E por que a sinusite faz a cabeça doer? A cefaleia da sinusite pode ser lanci- nante, porque a secreção fica retida num dos seios da face ou em todos eles, produzindo pressão craniana. Inverno Saúde

O Inverno e a Sinusite

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Matéria da Revista ABCFARMA sobre o Inverno e a Sinusite

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Page 1: O Inverno e a Sinusite

Face a face com a sinusite

TexTo: ArnAldo AnsArfoTos: divulgAção

28 | revisTA ABCFARMA | AgosTo/2011

Gripe, asma, rinite, infecções pulmonares – são muitas as doenças das vias aéreas cuja incidência aumenta no inverno. A sinusite às vezes entra nesse clube como

um intruso meio inofensivo, mas não é o caso. Inflamação das mucosas dos seios da face (região do crânio formada por cavidades ósseas ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos), ela pode produzir dor forte, em pontada, pulsátil, além de sensação de pressão ou peso na cabeça. Na grande maioria dos casos, ocorre obstrução nasal, com presença de secreção amarela ou esverdeada, às vezes sanguinolenta, que dificulta a respiração. É irmã quase gêmea da rinite. Tanto que, como explica nesta matéria o Dr. Antonio Douglas Menon, otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês, hoje já não se fala mais em sinusite, mas em rinossinusite. Como se identifica, como se trata? Leia aqui

Primeiro, uma explicação anatô-mica. Os seios da face – que são qua-tro, das maças do rosto à testa – dão ressonância à voz e aquecem o ar que a pessoa inspira. Eles são revestidos por uma mucosa semelhante à do nariz, rica em glândulas produtoras de muco e

coberta por cílios dotados de movimen-tos vibráteis, que conduzem o material estranho retido no muco para a parte posterior do nariz, com a finalidade de eliminá-lo. Esse fluxo de secreção mucosa, produzida nos seios da face, é permanente e imperceptível. Por que

eles se inflamam, predispondo à sinusi-te? São dois os mecanismos: alterações anatômicas que impedem a drenagem da secreção e processos infecciosos ou alérgicos, que facilitam a instalação de germes oportunistas. No primeiro caso, tem-se uma sinusite crônica. No segun-do, a forma aguda da doença.

Os sintomas de cada uma

Na forma crônica, como explica o Dr. Menon, os sintomas são permanen-tes: obstrução nasal, catarro amarelo-esverdeado e sanguinolento e dificul-dade para eliminar secreção. Existe também a forma crônica recorrente, com cerca de quatro crises por ano – nos intervalos, a doença permanece as-sintomática. Já a dor de cabeça surge na sinusite aguda. Além da dor na área do seio da face comprometido, pode haver também obstrução nasal com presença de catarro purulento e sanguinolen-to, que incomoda bastante ao respirar, acompanhada de mal-estar e febre. E por que a sinusite faz a cabeça doer? A cefaleia da sinusite pode ser lanci-nante, porque a secreção fica retida num dos seios da face ou em todos eles, produzindo pressão craniana.

Inverno

Saúde

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Rinite e sinusite: irmãs orgânicas

Na fase aguda, o paciente geral-mente relata que tudo começou com um resfriado. “Esse é um dado impor-tante: geralmente um resfriado prece-de a sinusite”, resume o Dr. Menon. Daí a preferência pelo termo rinossinusite, porque existe sempre uma rinite (infla-mação das mucosas nasais) associada à sinusite (inflamação dos seios da face). Uma curiosidade: por que a sinusite provoca tosse? A tosse, aliás, pode ser o primeiro sintoma da sinusite. Na in-fância, aliás, esse é o principal subsídio para um diagnóstico preciso. Pratica-mente 100% das crianças que tossem e são tratadas com xaropinho, mas não melhoram, têm sinusite. “O sin-toma aparece mais quando elas estão deitadas. As secreções caem na farin-ge e provocam uma reação no centro da tosse com a finalidade de eliminar o corpo estranho. Quase sempre é uma tosse seca, irritativa. A criança dorme mal, tem sono agitado e tosse por mui-to tempo. Apesar de ser mais noturna, não é raro manifestar-se pela manhã, ao levantar”.

Como tratar?Da mesma forma que os quadros

de sintomas e as causas são diferentes, o tratamento das sinusites varia de acordo com o tipo da doença. Na fase aguda, a exemplo de outras infecções

respiratórias, a prioridade é aliviar os sintomas de dor, febre e obstrução na-sal. O uso de descongestionantes locais ou sistêmicos ajuda a melhorar a drena-gem, desobstruindo os seios para elimi-nar as secreções. O resultado é menos dor e respiração mais fácil. Os descon-gestionantes indicados para a fase aguda são vasoconstritores e, embora sejam quase todos bastante seguros, devem ser usados com parcimônia e cuidado, por tempo limitado, em mé-dia de 5 a 10 dias. Se não for possível suspendê-los totalmente, recomenda-

se diluí-los em solução fisiológica. Já para tratar a sinusite crônica, além do descongestionante, é necessário prescrever um antibiótico que com-bata as bactérias mais comuns nesses casos. A primeira escolha costuma re-cair sobre a amoxilina, ou, se o pacien-te for alérgico, a penicilina. É comum receitar-se, também, um anti-inflama-tório que ajude a combater a dor.

Cirurgia: solução para casos crônicos

recorrentesAlguns casos de sinusite crônica,

porém, resistem a qualquer tratamento clínico. Condições anatômicas do nariz, como desvio de septo ou a existência de pólipos podem produzir um esta-do de sinusite permanente. Em outras situações, uma bactéria mais resistente permanece imune aos antibióticos con-vencionais. Nesse último caso, é preci-so retirar secreção para determinar, por meio de cultura, o tipo específico de germe. E quando as anomalias ana-tômicas são a base de sinusites recor-rentes, os especialistas recorrem a uma intervenção cirúrgica que pode ser feita no próprio consultório, por via endos-cópica, e resolve boa parte dos casos – sobretudo quando existem pólipos nos seios paranasais ou da face.

O mais importante é diluir a secreção dos seios da face para que seja eliminada mais facilmente

Na vigência de gripes, resfriados e processos alérgicos que facilitem o aparecimento de sinusite, beba bastante líquido (pelo menos dois litros de água por dia) e goteje de duas a três gotas de solução salina nas narinas, muitas vezes por dia. A solução salina pode ser preparada em casa.

Para cada litro de água fervida, acrescente uma colher de chá de açúcar e outra de sal. Espere esfriar antes de pingá-la no nariz

Inalações com solução salina, soro fisiológico ou vapor de água quente ajudam a eliminar as secreções

Evite o ar-condicionado. Além de ressecar as mucosas e dificultar a drenagem de secreção, pode disseminar agentes infecciosos (especialmente fungos) que contaminam os seios da face

Procure um médico se os sintomas persistirem. O tratamento inadequado da sinusite pode torná-la crônica. n

Dicas de prevenção

Alguns casos de sinusite crônica recorrente são tratados com uma cirurgia endoscópica, capaz de retirar pólipos dos seios da face

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