87
Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena 1 O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO RESISTIR E DENUNCIAR ATRAVES DA PROFECIA E DO TESTEMUNHO DE JESUS

O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

  • Upload
    others

  • View
    12

  • Download
    2

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

1

O LIVRO DO

APOCALIPSE

COMENTADO

RESISTIR E DENUNCIAR

ATRAVES DA PROFECIA E DO TESTEMUNHO DE JESUS

Page 2: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

2

INTRODUÇÃO APOCALIPSE

A CORAGEM DO TESTEMUNHO

Apocalipse quer dizer revelação (1,1). Este livro, portanto, é uma mensagem reveladora. O autor procura revelar o mistério (10,7) do que está acontecendo e do que vai acontecer: Deus vai agir na história, julgando e destruindo o mal, para implantar definitivamente o seu Reino entre os homens (11,15).

O Apocalipse é de compreensão difícil, porque o autor faz largo uso de imagens, símbolos, figuras e números misteriosos. Isso pode ser facilmente entendido, quando vemos que o livro nasce dentro de uma situação difícil: o povo de Deus está sendo oprimido, perseguido e vigiado pelas estruturas de poder. Em tais circunstâncias não se pode falar claro principalmente porque o autor pretende mostrar a situação real e traçar uma estratégia de resistência e ação. As comunidades a que ele se dirige entendem essa linguagem, pois estão familiarizadas com o Antigo Testamento, onde o autor vai buscar os símbolos.

Dois grandes motivos levaram o autor a dirigir sua mensagem às comunidades cristãs (igrejas) da Ásia Menor:

1. O sincretismo religioso. As conquistas de Alexandre Magno e, mais tarde, a dominação romana, unificaram numerosas nações, misturando culturas, costumes e religiões. Para o cristianismo nascente, isso podia significar o desvirtuamento interno, a perda da identidade, a desagregação das comunidades e, conseqüentemente, a ausência de testemunho corajoso contra a idolatria, principalmente a idolatria de um poder político absoluto e tirânico.

2. A dominação romana e a religião imperial. No tempo do imperador Nero (54-68 d.C.), os cristãos foram perseguidos pela primeira vez, mas só em Roma, e não por causa da fé. Era tempo de decadência, e a autoridade do imperador estava seriamente abalada. Para reafirmar-se, o imperador Vespasiano (69-79 d.C.) criou a religião imperial, isto é, o culto aos imperadores mortos, além de atribuir a si mesmo títulos divinos, como "salvador", "benfeitor", "senhor". Domiciano (81-96 d.C.) foi imperador tirano e, para manter o império unido, impôs essa religião imperial a todos os povos dominados, exigindo inclusive o culto ao imperador vivo. Quem recusasse tal culto, era considerado inimigo, e por isso perseguido e morto.

João queria advertir os cristãos quanto aos perigos internos e externos e fortalecer as comunidades para os momentos difíceis que iriam passar por causa da fé. Era necessário que as comunidades se convertessem, voltando à opção original pelo seguimento e testemunho de Jesus. Desse modo, elas estariam preparadas para testemunhar corajosamente a fé, resistindo às perseguições e desenvolvendo ação libertadora, que manifestasse ao mesmo tempo decidida crítica à situação de opressão e firme esperança de uma sociedade nova.

O livro de João é alimento para a fé e fortalecimento para a esperança do povo oprimido. Para esse povo, a salvação não consiste simplesmente em melhorar a situação, mas em transformá-la radicalmente, fazendo nascer um novo mundo de justiça, fraternidade e partilha, isto é, o julgamento definitivo do mundo presente e a vinda do Reino de Deus. João mostra, porém, que esse julgamento e Reino se realizam através do seguimento e testemunho de Jesus.

Page 3: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

3

APOCALIPSE CAPITULO 1

Prólogo O tempo está próximo – * 1 Esta é a revelação de Jesus Cristo: Deus a concedeu a Jesus, para ele mostrar aos seus servos as coisas que devem acontecer muito em breve. Deus enviou ao seu servo João o Anjo, que lhe mostrou estas coisas através de sinais. APOCALIPSE 1:2 João testemunha que tudo quanto viu é Palavra de Deus e Testemunho de Jesus Cristo. 3 Feliz aquele que lê e aqueles que escutam as palavras desta profecia, se praticarem o que nela está escrito. Pois o tempo está próximo.* 4 João às sete igrejas que estão na região da Ásia. Desejo a vocês a graça e a paz da parte daquele-que-é, que-era e que-vem; da parte dos sete Espíritos que estão diante do trono de Deus; 5 e da parte de Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primeiro a ressuscitar dos mortos, o Chefe dos reis da terra. A Jesus, que nos ama e nos libertou de nossos pecados por meio do seu sangue, 6 e que fez de nós um reino, sacerdotes para Deus, seu Pai - a Jesus, a glória e o poder para sempre. Amém. 7 Ele vem com as nuvens; e o mundo todo o verá, até mesmo aqueles que o transpassaram. E todos os povos do mundo baterão no peito por causa dele. É isso mesmo! Assim seja! 8 Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele-que-é, que-era e que-vem, o Deus Todo-poderoso. * 9 Eu, João, irmão e companheiro de vocês neste tempo de tribulação, na realeza e na perseverança em Jesus, eu estava exilado na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. 10 No dia do Senhor, o Espírito tomou conta de mim. E atrás de mim ouvi uma voz forte como trombeta, que dizia: 11 «Escreva num livro tudo o que você está vendo. Depois mande para as sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.» 12* Virei-me para ver a voz que me falava. E vi sete candelabros de ouro. 13 No meio dos candelabros estava alguém: parecia um filho de Homem, vestido de longa túnica; no peito, um cinto de ouro; 14 cabelos brancos como lã, como neve; os olhos pareciam uma chama de fogo; 15 os pés eram como bronze no forno, cor de brasa; a voz era como o estrondo de águas torrenciais; 16 na mão direita ele tinha sete estrelas; de sua boca saía uma espada afiada, de dois cortes; seu rosto era como o sol brilhante do meio-dia. 17* Quando o vi, caí como morto a seus pés. Ele colocou a mão direita sobre mim e me encorajou: «Não tenha medo. Eu sou o Primeiro e o Último. 18 Sou o Vivente. Estive morto, mas estou vivo para sempre. Tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. 19 Escreva o que você viu: tanto as coisas presentes como as que devem acontecer depois delas. 20 Quer saber o mistério das sete estrelas que você viu na minha mão direita? E dos sete candelabros de ouro? As sete estrelas são os Anjos das sete igrejas; e os sete candelabros são as sete igrejas.» -------------------------------------------------------------------------------- * 1-3: O Apocalipse é um livro lido e explicado nas reuniões das comunidades cristãs. Seu conteúdo é urgente, porque com a morte e ressurreição de Jesus a história está chegando ao fim e Deus vai julgar e implantar o seu Reino. A missão de João é a de todos os cristãos: profetizar, anunciando a Palavra de Deus e continuando o testemunho de Jesus Cristo. * 4-8: O número sete é simbólico e indica totalidade, plenitude. João se dirige a toda a Igreja, representada pelas comunidades da Ásia. Deus Pai é o Senhor da história: assim como agiu no passado, age no presente e agirá no futuro. Sete Espíritos, isto é, a plenitude do Espírito de Deus. Jesus é o centro do projeto e ação de Deus. A glória e o poder lhe pertencem, porque: - ele é a Testemunha fiel, que revelou e realizou o projeto do Pai até o fim, dando a vida por amor aos homens; -

Page 4: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

4

ele é o Primeiro a ressuscitar dos mortos, vencendo assim a morte e o pecado, e tornou-se início de uma nova humanidade; - ele é o Chefe dos reis da terra, pois está acima de todos os poderosos e reúne os homens, para fazer deles um Reino, onde todos são sacerdotes da aliança com Deus Pai. O v. 7 mostra que Jesus vem para julgar e implantar o Reino. * 9-11: Esta primeira visão é o motor de tudo o que virá a seguir. A situação de João mostra que os cristãos, por darem testemunho, sofrem perseguição (tribulação), mas já participam da vitória do Ressuscitado (realeza) e, por isso, perseveram na fé e no testemunho. No domingo (dia do Senhor), as comunidades celebram a ressurreição de Jesus, com a qual se iniciam na história o julgamento e a instauração do Reino, que trazem justiça e vida para os homens. * 12-16: João vê Jesus presente e agindo dentro da vida das comunidades (candelabros, cf. v. 20), que irradiam para todo o mundo a presença de Cristo ressuscitado. Ele é o Filho do Homem, o enviado de Deus para realizar o julgamento e instaurar o Reino (cf. Dn 7,13). Jesus é o único mediador entre Deus e as comunidades: é sacerdote (túnica), rei (cinto de ouro), divino (cabelos brancos), tem a ciência de Deus para penetrar tudo (olhos de fogo), é firme (pés de bronze) e poderoso (voz como as águas). As sete estrelas são os chefes (anjos) das comunidades, a espada com dois cortes é o Evangelho que julga a Igreja e o mundo. O rosto brilhante como sol relembra a transfiguração (cf. Mt 17,2). * 17-20: João personifica as comunidades com medo das perseguições (como morto). Mas o Ressuscitado, presente na Igreja, traz tranqüilidade e segurança, porque é o Senhor da história (Primeiro e Último) e o Senhor da vida (tem as chaves da morte e da morada dos mortos). A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as à conversão (caps. 2-3); as coisas que devem acontecer depois delas estão na segunda parte do livro, mostrando o testemunho da Igreja no mundo (caps. 4-22).

Page 5: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

5

A URGÊNCIA DO APOCALIPSE APOCALIPSE 1: 1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que

em breve devem acontecer. Deus enviou ao seu servo João o Anjo, que lhe mostrou estas coisas através de sinais.

3 Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.

19 Escreve, pois, as coisas que viste: tanto as coisas presentes como as que devem acontecer depois delas.

A maioria das traduções omiti este termo no versículo 1: que lhe mostrou estas coisas através de sinais. esta já é uma primeira pista que não devemos ler e entender o apocalipse de uma forma literal e fundamentalista, pois o mesmo foi escrito por sinais.

Outra coisa é quanto ao tempo dos acontecimentos e João nos dá outra pista que também a maioria das traduções evangélicas omitem: escreve, pois, as coisas que viste: tanto as coisas presentes como as que devem acontecer depois delas. Coisas presentes e que acontecerão depois delas, ou seja, logo após estas numa seqüência.

APOCALIPSE 10: 6 e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a

terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora, APOCALIPSE 11: 17 dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque

assumiste o teu grande poder e passaste a reinar.

PORQUE JOÃO OMITIU O NOME INTEIRO DE DEUS QUE É: AQUELE QUE ERA, AQUELE QUE É E AQUELE QUE HÁ DE VIR, E JOÃO USA O NOME APENAS NO PASSADO E NO PRESENTE? É PORQUE ELE SE REFERIA QUE JÁ NO PRESENTE SE INSTALARIA O JULGAMENTO DE DEUS.

APOCALIPSE 16: 17 Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do

lado do trono, dizendo: Feito está! APOCALIPSE 22: 6 Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos

dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer.

Page 6: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

6

O apocalipse começa e termina com um mesmo aviso: que as coisas nele escritas estão próximas de acontecer, é como se fosse um apelo à urgência do livro, urgência em ele ser lido e ouvido nas igrejas da ásia menor, pois ele é um aviso, um alerta, e uma exortação à resistência ao poder imperial idolatra.

7 Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia

deste livro. 10 Disse-me ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está

próximo. 12 E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada

um segundo as suas obras. Daniel 8:26 E a visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, cerra a

visão, porque só daqui a muitos dias se cumprirá. Daniel 12:4 E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo;

muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará. Daniel 12:9 E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao

tempo do fim.

ACIMA SELECIONEI ALGUNS VERSICULOS DE DANIEL PARA MOSTRAR A DIFERENÇA ENTRE A URGÊNCIA DO LIVRO DO APOCALIPSE E A NÃO URGÊNCIA DO LIVRO DE DANIEL. O ANJO PEDE QUE DANIEL SELE AS PALAVRAS DO LIVRO PORQUE O TEMPO ESTAVA DISTANTE.

POR QUE O ANJO PEDE QUE JOÃO NÃO SELE O LIVRO? O ANJO MESMO RESPONDE: PORQUE O TEMPO ESTÁ PRÓXIMO E O SENHOR VIRIA SEM DEMORA PARA MUDAR TODA AQUELA SITUAÇÃO DE GRANDE TRIUBULAÇÃO.

Page 7: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

7

APOCLIPSE CAPITULO 2 * I. AS COISAS PRESENTES: CONVERSÃO DA IGREJA Éfeso -* 1 «Escreva ao Anjo da igreja de Éfeso. Assim diz aquele que tem na mão direita as sete estrelas, aquele que está andando no meio dos sete candelabros de ouro: 2 Conheço a conduta de você, seu esforço e sua perseverança. Sei que você não suporta os maus. Apareceram alguns dizendo que eram apóstolos. Você os provou e descobriu que não eram. Eram mentirosos. 3 Você é perseverante. Sofreu por causa do meu nome, e não desanimou. 4 Mas há uma coisa que eu reprovo: você abandonou seu primeiro amor. 5 Preste atenção: repare onde você caiu, converta-se e retome o caminho de antes. Caso contrário, se não se converter, eu chego e arranco da posição em que está o candelabro que você tem. 6 Ainda uma coisa boa você tem: detesta a conduta dos nicolaítas. Também eu detesto. 7* Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor eu darei como prêmio comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus.» Esmirna -* 8 «Escreva ao Anjo da igreja de Esmirna. Assim diz o Primeiro e o Último, aquele que esteve morto, mas voltou à vida: 9 Conheço sua tribulação e sua pobreza. Mas você é rico. Alguns que se dizem judeus andaram blasfemando. Mas eles de fato não são judeus. Eles formam, sim, uma sinagoga de Satanás. 10 Não tenha medo do sofrimento que vai chegar. O diabo vai levar alguns de vocês para a cadeia. Será para vocês uma provação. Mas a tribulação não vai durar mais que dez dias. Seja fiel até à morte. Eu lhe darei em prêmio a coroa da vida. 11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor ficará livre da segunda morte.» Pérgamo -* 12 «Escreva ao Anjo da igreja de Pérgamo. Assim diz aquele que tem a espada afiada, de dois cortes: 13 Conheço o lugar onde você mora: é aí onde fica o trono de Satanás. Mas você mantém firme o meu nome. Você não renegou a fé, nem mesmo no tempo de Antipas. Ele era minha testemunha fiel, e foi morto no meio de vocês, aí onde mora Satanás. 14 Mas você tem umas coisas que eu reprovo: muita gente por aí segue a doutrina de Balaão, aquele que ensinava Balac a colocar pedra de tropeço no caminho do povo de Israel. Ele queria que os filhos de Israel comessem da carne oferecida aos ídolos. Queria que se prostituíssem. 15 Muita gente por aí também vai atrás da doutrina dos nicolaítas. 16 Vamos! Converta-se! Caso contrário, logo, eu venho combater vocês com a espada da minha boca. 17 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei um prêmio: o maná escondido. Darei também uma pedrinha branca a cada um. Nela está escrito um nome novo, que ninguém conhece; só quem recebeu.» Tiatira -* 18 «Escreva ao Anjo da igreja de Tiatira. Assim diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chamas de fogo e os pés como bronze em brasa: 19 Conheço sua conduta: o amor, a fé, a dedicação, a perseverança e as suas obras mais recentes, ainda mais numerosas que as primeiras. 20 Mas, há uma coisa que eu reprovo: você nem sequer se incomoda com Jezabel, essa mulher que se diz profetisa. Ela ensina e seduz meus servos a se prostituírem, comendo carne oferecida aos ídolos. 21 Já dei um prazo para ela se converter. Mas ela não quer largar a sua prostituição. 22 Vou lançá-la num leito de doença, e aos que cometem adultério com ela vou lançá-los numa grande tribulação, a menos que se convertam de sua conduta. 23 Farei também com que os filhos dela morram, para que as igrejas fiquem sabendo quem eu sou: conheço bem dentro de cada um, os rins e o coração; vou retribuir de acordo com a conduta de cada um. 24 Sei que muitos de vocês em Tiatira não seguem essa doutrina, não conhecem as ‘profundezas de Satanás', como dizem eles. Sobre vocês eu não coloco outro peso. 25 Mas fiquem firmes naquilo que já têm, até que eu venha. 26 Ao vencedor, ao que observar a minha conduta até o

Page 8: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

8

fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações; 27 o vencedor governará com cetro de ferro, podendo quebrar as nações como vasos de barro. 28 Pois também eu recebi do Pai esse poder. Vou dar ao vencedor também a Estrela da manhã. 29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» -------------------------------------------------------------------------------- * 2-3: As sete cartas apresentam a Igreja toda «por dentro»: Jesus está presente nela e, pela palavra do Evangelho, faz com que ela se converta sempre, identificando-se cada vez mais com a pessoa e o testemunho dele. * 2,1-7: A comunidade de Éfeso é ativa e faz muita coisa boa. Mas deixou de obedecer ao mandamento do amor, correndo o risco de perder a sua identidade como comunidade cristã (cf. Jo 13,35). * 7: Esta exortação para ouvir o Espírito aparece no fim das sete cartas. Quando a Igreja se encontra em processo de conversão para seguir a Jesus, ela se torna capaz de perceber, pelo Espírito de Jesus, qual é a palavra a ser dita e a ação oportuna a ser realizada no momento que ela está vivendo. * 8-11: A comunidade de Esmirna é pobre. Sua riqueza consiste no testemunho e no seguimento de Jesus. Por isso, ela não deve temer as perseguições: assim como Jesus morreu e ressuscitou, do mesmo modo, também ela terá sempre a vida. * 12-17: A comunidade de Pérgamo sabe resistir à religião imperial (trono de Satanás) que efetua perseguições e martírios, mas sucumbe à sedução do sincretismo religioso (doutrina de Balaão e dos nicolaítas). A comunidade cristã precisa discernir e combater a idolatria do poder político totalitário e a idolatria das idéias que ameaçam a vida cristã autêntica. * 18-29: A comunidade de Tiatira é exemplar em tudo, menos no combate às falsas doutrinas que ameaçam desvirtuar a vida cristã.

Page 9: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

9

APOCALIPSE CAPITULO 3

Sardes -* 1 «Escreva ao Anjo da igreja de Sardes. Assim diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço sua conduta: você tem fama de estar vivo, mas está morto. 2 Preste muita atenção para não deixar morrer o resto que ainda está vivo, pois acho que sua conduta não é perfeita diante do meu Deus. 3 Lembre-se de como você recebeu e ouviu. Pratique e se converta! Se você não vigiar, eu venho como ladrão. E você vai se surpreender, porque não sabe a hora. 4 Sei que aí em Sardes existem algumas pessoas que não sujaram a roupa. Estas vão andar comigo, vestidas de branco, pois são pessoas dignas. 5 O vencedor vestirá a roupa branca. E o nome dele não será apagado do livro da vida. Faço questão de dizer o nome dele diante de meu Pai e dos seus anjos. 6 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» Filadélfia -* 7 «Escreva ao Anjo da igreja de Filadélfia. Assim diz o Santo, o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, aquele que abre e ninguém fecha, aquele que fecha e ninguém mais abre: 8 Conheço sua conduta; coloquei à sua frente uma porta aberta, que ninguém mais poderá fechar. Pois você tem pouca força, mas guardou minha palavra e não renegou meu nome. 9 Sei que existem por aí alguns que se dizem judeus; são mentirosos, da sinagoga de Satanás. Vou entregá-los a você. Eles vão ter que ajoelhar aos seus pés e reconhecer que eu amo você. 10 Uma vez que você guardou a minha ordem para perseverar, eu também guardarei você da hora da tentação. Essa hora virá sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os habitantes da terra. 11 Eu venho logo! Segure firme o que você tem, para ninguém tomar a sua coroa. 12 Ao vencedor, farei dele uma coluna no templo do meu Deus; e aí ficará firme para sempre. Gravarei nele o nome do meu Deus; gravarei o nome da Cidade do meu Deus: ‘A Nova Jerusalém, que desce do céu, de junto do meu Deus'. Gravarei no vencedor o meu novo nome. 13 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» Laodicéia -* 14 «Escreva ao Anjo da igreja de Laodicéia. Assim diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus: 15 Conheço sua conduta: você não é frio nem quente. Quem dera que fosse frio ou quente! 16 Porque é morno, nem frio nem quente, estou para vomitar você da minha boca. 17 Você diz: ‘Sou rico! E agora que sou rico, não preciso de mais nada'. Pois então escute: Você é infeliz, miserável, pobre, cego e nu. E nem sabe disso. 18 Quer um conselho? Quer mesmo ficar rico? Então compre o meu ouro, ouro puro, derretido no fogo. Quer se vestir bem? Compre minhas roupas brancas, para cobrir a vergonha da sua nudez. Está querendo enxergar? Pois eu tenho o colírio para seus olhos. 19 Quanto a mim, repreendo e educo todos aqueles que amo. Portanto, seja fervoroso e mude de vida! 20 Já estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir minha voz e abrir a porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo. 21 Ao vencedor, darei um prêmio: vai sentar-se comigo no meu trono, como também eu venci, e estou sentado com meu Pai no trono dele. 22 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» -------------------------------------------------------------------------------- * 3,1-6: Com poucas exceções, a comunidade de Sardes se apóia na hipocrisia. Sua vida como comunidade cristã é apenas aparência que não corresponde à realidade. * 7-13: A comunidade de Filadélfia é fraca, mas permanece fiel à sua fé, e por isso recebe proteção especial de Jesus na hora da perseguição. É na fraqueza do homem que se manifesta o amor de Jesus, dando-lhe força e coragem. * 14-22: A comunidade de Laodicéia é rica e auto-suficiente: confia em si mesma, e não quer depender de ninguém. Contudo, a verdadeira riqueza de uma comunidade é ouvir a palavra de Jesus e ficar unida a ele.

Page 10: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

10

APOCALIPSE CAPITULO 4 II. AS COISAS FUTURAS: HISTÓRIA, JULGAMENTO E REINO 1. O Senhor da história Deus governa a história -* 1 Depois de escrever as cartas às igrejas, eu, João, tive uma visão. Havia uma porta aberta no céu, e a primeira voz, que eu tinha ouvido falar-me como trombeta, disse: «Suba até aqui, para que eu lhe mostre as coisas que devem acontecer depois dessas.» 2* Imediatamente o Espírito tomou conta de mim. Havia no céu um trono e, no trono, alguém sentado. 3 Aquele que estava sentado parecia uma pedra de jaspe e cornalina; um arco-íris envolvia o trono com reflexos de esmeralda. 4 Ao redor desse trono havia outros vinte e quatro; e neles vinte e quatro Anciãos estavam sentados, todos eles vestidos de branco e com uma coroa de ouro na cabeça. 5* Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante do trono estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus. 6* Na frente do trono havia como que um mar de vidro, como cristal. No meio do trono e ao redor estavam quatro Seres vivos, cheios de olhos pela frente e por detrás. 7 O primeiro Ser vivo parece um leão; o segundo parece um touro; o terceiro tem rosto de homem; o quarto parece uma águia em pleno vôo. 8* Cada um dos quatro Seres vivos tem seis asas e são cheios de olhos ao redor e por dentro. Dia e noite sem parar, eles proclamam: «Santo! Santo! Santo! Senhor Deus Todo-poderoso! Aquele-que-é, que-era e que-vem!» 9 Os Seres vivos dão glória, honra e ação de graças ao que está sentado no trono, e que vive para sempre. 10 E a cada vez que os Seres vivos fazem isso, os vinte e quatro Anciãos se ajoelham diante daquele que está sentado no trono, para adorar aquele que vive para sempre. Cada Ancião tira a coroa da cabeça e a coloca diante do trono de Deus. E todos eles proclamam: «Senhor, nosso Deus, tu és digno de receber a glória, a honra e o poder. Porque tu criaste todas as coisas. Pela tua vontade elas começaram a existir e foram criadas.» -------------------------------------------------------------------------------- * 4,1: Num processo de conversão, a Igreja se torna capaz de discernir o projeto de Deus que está em realização na história. E João agora vai «subir», isto é, vai descrever o mistério que está por dentro da história, e que dirige todo o seu desenvolvimento. * 2-4: João apresenta Deus como rei e juiz que governa a história (trono), mas seu governo é dirigido pelo amor e misericórdia (arco-íris: Gn 9,13ss), pois Deus só quer a vida: ele é santo e transcendente (brilho das pedras preciosas). O povo de Deus (vinte e quatro Anciãos) participa do governo da história (tronos), da vida do Ressuscitado (veste branca) e da sua vitória (coroa). * 5-6: Deus age continuamente na história, intervindo em favor do homem (relâmpagos, vozes, trovões: Ex 19,16), dando vida a todos os seres (sete Espíritos) e governando todos os povos (mar de vidro: Sl 65,8). * 6-8: Os quatro Seres vivos simbolizam toda a criação (quatro também indica totalidade). As criaturas testemunham que Deus age sem cessar, de modo vigilante (olhos) e rápido (asas). * 8-11: A criação louva a Deus, reconhecendo-o como Todo-poderoso e Senhor da história. O povo de Deus continua o louvor da criação reconhecendo que a glória, a honra e o poder pertencem a Deus, porque só ele criou todas as coisas. Numa situação de perseguição, os cristãos não se desesperam, pois sabem que Deus Criador sustenta e dirige toda a história.

Page 11: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

11

APOCALIPSE CAPITULO 5

Jesus ressuscitado revela e realiza o projeto de Deus -* 1 Vi depois um livro na mão direita daquele que estava sentado no trono. Era um livro escrito por dentro e por fora, e estava lacrado com sete selos. 2 Vi então um Anjo forte que proclamava em alta voz: «Quem é capaz de romper os selos e abrir o livro?» 3 Ninguém, nem no céu, nem na terra, nem no mundo dos mortos, era capaz de abrir o livro ou de ler o que nele estava escrito. 4 Eu chorava muito, porque ninguém foi considerado capaz de abrir ou de ler o livro. 5* Um dos Anciãos me consolou: «Pare de chorar! O Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi venceu! Ele é capaz de romper os selos e abrir o livro.» 6 De fato, vi um Cordeiro. Estava entre o trono com os quatro Seres vivos e os Anciãos. Estava de pé, como que imolado. O Cordeiro tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra. 7 Então, o Cordeiro veio receber o livro da mão direita daquele que está sentado no trono. 8* Quando ele recebeu o livro, os quatro Seres vivos e os vinte e quatro Anciãos ajoelharam-se diante do Cordeiro. Cada um tinha uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. 9 E entoaram um canto novo: «Tu és digno de receber o livro e abrir seus selos, Porque foste imolado, e com teu sangue adquiriste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação. 10 Deles fizeste para o nosso Deus um reino de sacerdotes. E eles reinarão sobre a terra.» 11 Em minha visão, ouvi ainda o clamor de uma multidão de anjos em volta do trono, dos Seres vivos e dos Anciãos. Eram milhões e milhões e milhares de milhares, 12 que proclamavam em alta voz: «O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor.» 13 Nessa hora, todas as criaturas do céu, da terra, de debaixo da terra, e do mar, todos os seres vivos proclamaram: «O louvor, a honra, a glória e o poder pertencem àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro pelos séculos dos séculos.» 14 Os quatro Seres vivos diziam: «Amém!» E os Anciãos se ajoelharam e adoraram. -------------------------------------------------------------------------------- * 5,1-4: O livro completamente fechado (sete selos ou lacres) e inteiramente escrito (por dentro e por fora) está na mão de Deus, porque contém o projeto de Deus sobre a vida e a história. Podemos dizer que o Antigo Testamento é esse livro fechado, que se torna plenamente compreendido na pessoa de Jesus (cf. Lc 24,25-27). João chora: é grande o desespero da comunidade diante da impossibilidade de conhecer o projeto de Deus na história. * 5-7: Cristo morto e ressuscitado é o Cordeiro pascal (cf. Ex 12), imolado pelos pecados do mundo. Está de pé porque ressuscitou. Ele é o Messias (Leão e Rebento) que tem a plenitude do poder (sete chifres) e a plenitude do Espírito de Deus, pois ele vê tudo o que acontece na história (sete olhos e sete espíritos). Ele pode receber e abrir o livro, porque, na sua morte e ressurreição, já realizou o projeto de

Page 12: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

12

Deus, que é a salvação. Doravante, a história dos homens está nas mãos de Cristo; e o projeto de Deus vai ser cumprido por todos. * 8-14: Quando o Cordeiro recebe o livro, ouvem-se três grandes louvores. O primeiro é da criação e do povo de Deus, mostrando por que o Cordeiro pode receber o livro. O segundo é dos anjos, atribuindo a Jesus todas as qualidades possíveis; pois o Senhor da história é somente Jesus, e não os poderes que se absolutizam. O terceiro é de todas as criaturas, que reconhecem Deus e o Cordeiro no mesmo plano. O povo de Deus adora somente a Deus e a Jesus Cristo, e não os homens nem as coisas.

Page 13: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

13

APOCALIPSE CAPITULO 6

2. O projeto de Deus na história A história do homem -* 1 Vi quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. E ouvi o primeiro dos quatro Seres vivos falar como estrondo de trovão: «Venha!» 2 Vi então quando apareceu um cavalo branco. O cavaleiro tinha um arco, e deram para ele uma coroa. Ele partiu, vitorioso e para vencer ainda mais. 3 Vi quando o Cordeiro abriu o segundo selo. E ouvi o segundo Ser vivo dizer: «Venha!» 4 Apareceu então outro cavalo, era vermelho. Seu cavaleiro recebeu poder para tirar da terra a paz, a fim de os homens se matarem uns aos outros. E entregaram para ele uma grande espada. 5 Vi quando o Cordeiro abriu o terceiro selo. E ouvi o terceiro Ser vivo dizer: «Venha!» Apareceu então um cavalo negro. O cavaleiro tinha na mão uma balança. 6 Ouvi uma voz que vinha do meio dos quatro Seres vivos, e dizia: «Um quilo de trigo por um dia de trabalho! Três quilos de cevada por um dia de trabalho! Não danifiquem o óleo e o vinho.» 7 Vi quando o Cordeiro abriu o quarto selo. E ouvi o quarto Ser vivo dizer: «Venha!» 8 Vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu cavaleiro era a Morte. E vinha acompanhado com o mundo dos mortos. Deram para ele poder sobre a quarta parte da terra, para que matasse pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras da terra. Os mártires pedem justiça -* 9 Quando o Cordeiro abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as vidas daqueles que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que dela tinham dado. 10 Eles gritaram em alta voz: «Senhor santo e verdadeiro, até quando tardarás em fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?» 11 Então foi dada a cada um deles uma veste branca. Também foi dito a eles que descansassem mais um pouco de tempo, até que ficasse completo o número de seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles. Deus realiza o julgamento -* 12 Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo. Houve, então, um grande terremoto. O sol ficou negro como saco de carvão. A lua inteira, cor de sangue. 13 As estrelas do céu despencaram sobre a terra, como pé de figo soltando figos verdes quando bate vento forte. 14 O céu se enrolou, feito folha de pergaminho. As montanhas todas e as ilhas foram arrancadas do lugar. 15 Os reis da terra, os magnatas, os capitães, os ricos e os poderosos, todos, escravos e homens livres, esconderam-se nas cavernas e rochedos das montanhas, 16 clamando aos montes e pedras: «Desmoronem por cima de nós, e nos escondam da Face daquele que está no trono, e da ira do Cordeiro. 17 Pois chegou o grande Dia da sua ira. E quem poderá ficar de pé?» -------------------------------------------------------------------------------- * 6-7: Os capítulos 6 e 7 são simbólicos, pois o livro ainda não está aberto. Temos aqui um resumo de todo o Apocalipse. João mostra o que é a história do homem, e como ela está em poder do Ressuscitado e a caminho para o julgamento e a salvação. * 6,1-8: Os primeiros quatro selos apresentam a história do homem dominada pelo mal. A fonte do mal é a ambição de poder e conquista (primeiro selo), que geram a guerra e a competição (segundo selo), o racionamento e a fome (terceiro selo) e, por fim, a doença e a morte (quarto selo). * 9-11: Em meio ao mal, os cristãos são perseguidos e mortos como Jesus. Eles pedem que Deus faça justiça, julgando o mal e salvando. Deus, porém, espera que todo o seu povo esteja reunido. A veste branca mostra que os mártires já participam da vitória do Ressuscitado.

Page 14: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

14

* 12-17: Respondendo ao pedido dos mártires, Deus realiza o grande Dia do julgamento. O julgamento, apresentado sob a figura dos fenômenos catastróficos na natureza, é a conseqüência do poder do mal que domina a história, sendo esse mal simbolizado pelos quatro cavaleiros. O julgamento atinge a todos (sete categorias sociais). Reconhecendo-se culpados, os homens temem mais a Deus do que a própria morte.

Page 15: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

15

APOCALIPSE CAPITULO 7

Deus realiza a salvação -* 1 Depois disso vi quatro Anjos, um em cada canto da terra. Eles seguravam os quatro ventos da terra. Assim, o vento não podia soprar na terra, nem no mar, nem nas árvores. 2 Vi também outro Anjo que vinha do Oriente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele gritou em alta voz aos quatro Anjos, que tinham sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: 3 «Não prejudiquem a terra, nem o mar, nem as árvores! Primeiro vamos marcar a fronte dos servos do nosso Deus.» 4 Ouvi então o número dos que receberam a marca: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos do povo de Israel. 5 Foram marcados doze mil da tribo de Judá; doze mil da tribo de Rúben; doze mil da tribo de Gad; 6 doze mil da tribo de Aser; doze mil da tribo de Neftali; doze mil da tribo de Manassés; 7 doze mil da tribo de Simeão; doze mil da tribo de Levi; doze mil da tribo de Issacar; 8 doze mil da tribo de Zabulon; doze mil da tribo de José; doze mil da tribo de Benjamim. 9* Depois disso eu vi uma grande multidão, que ninguém podia contar: gente de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam todos de pé diante do trono e diante do Cordeiro. Vestiam vestes brancas e traziam palmas na mão. 10 Em alta voz, a multidão proclamava: «A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono,e ao Cordeiro.» 11 Nessa hora, todos os Anjos que estavam ao redor do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres vivos, ajoelharam-se diante do trono para adorar a Deus. 12 E diziam: «Amém! O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus, para sempre. Amém!» 13* Um dos Anciãos tomou a palavra e me perguntou: «Você sabe quem são e de onde vieram esses que estão vestidos com roupas brancas?» 14 Eu respondi: «Não sei não, Senhor! O Senhor é quem sabe!» Ele então me explicou: «São os que vêm chegando da grande tribulação. Eles lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro. 15 É por isso que ficam diante do trono de Deus, servindo a ele dia e noite em seu Templo. Aquele que está sentado no trono estenderá sua tenda sobre eles. 16 Nunca mais terão fome, nem sede; nunca mais serão queimados pelo sol, nem pelo calor ardente. 17 Pois o Cordeiro que está no meio do trono será o pastor deles; vai conduzi-los até às fontes de água da vida. E Deus lhes enxugará toda lágrima dos olhos.» -------------------------------------------------------------------------------- * 7,1-9: O aspecto positivo do grande Dia é a salvação. O povo de Deus (doze tribos) é protegido no julgamento (os Anjos seguram os quatro ventos). A marca na fronte é o sinal da salvação e da pertença a Deus. O povo de Deus é apresentado como o Israel total e perfeito (12 x 12 x 1.000 = 144.000). É um povo incontável (v. 9), porque a salvação está aberta para todos os homens (gente de todas as nações, tribos, povos e línguas). * 9-12: O povo de Deus reconhece que a salvação vem de Deus e do Cordeiro. Não são as coisas e nem os homens absolutizados que salvam. Unido aos anjos e à criação, o povo de Deus adora a Deus e reconhece que a plenitude do louvor pertence somente a Deus. * 13-17: João enfatiza a salvação do povo de Deus. A grande tribulação são as perseguições. A veste branca significa a participação no testemunho de Jesus. Os vv. 15-17 lembram a festa das Tendas, que era um sinal da Aliança. A salvação é a realização da Aliança: a morada de Deus com os homens. Com a realização futura da Aliança não haverá mais limitações nem sofrimentos: Jesus será o pastor que leva o povo a viver em plenitude.

Page 16: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

16

APOCALIPSE CAPITULO 8

3. O julgamento, a missão do povo de Deus e o Reino Deus atende ao pedido dos mártires -* 1 Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve no céu um silêncio de meia hora... 2 Vi então os sete Anjos que estão diante de Deus. Eles receberam sete trombetas. 3 E outro Anjo se colocou perto do altar: tinha nas mãos um turíbulo de ouro. Ele recebeu uma grande quantidade de incenso para ser oferecido, juntamente com as orações de todos os santos, sobre o altar de ouro, que está diante do trono. 4 Da mão do Anjo subia até Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos. 5 Depois, o Anjo pegou o turíbulo e o encheu com o fogo do altar; e atirou o turíbulo sobre a terra. Houve então trovões, clamores, relâmpagos e grande terremoto. 6 E os sete Anjos com as sete trombetas se prepararam para tocar. O julgamento é universal -* 7 O primeiro Anjo tocou. Caiu então sobre a terra uma chuva de pedra e fogo, misturados com sangue. A terça parte da terra se queimou. A terça parte das árvores se queimou. O que existia de verde se queimou. 8 O segundo Anjo tocou. Foi jogada no mar uma coisa parecida com uma grande montanha em brasa. A terça parte do mar virou sangue. 9 A terça parte das criaturas do mar morreu. A terça parte dos navios foi destruída. 10 O terceiro Anjo tocou. Caiu do céu uma grande estrela, ardendo como tocha acesa. Caiu sobre a terça parte dos rios e sobre as fontes. 11 O nome dessa estrela é «Amargura.» A terça parte da água ficou amarga. Muita gente morreu por causa da água, porque ficou amarga. 12 O quarto Anjo tocou. Atingiu um terço do sol, um terço da lua e um terço das estrelas, de modo que ofuscou a terça parte deles. O dia perdeu a terça parte da claridade. E a noite também. 13 Nessa hora vi e ouvi uma Águia voando no meio do céu, e gritando em alta voz: «Ai! Ai! Ai dos que vivem na terra! Ainda faltam três toques de trombeta. E os Anjos estão prontos para tocar.» -------------------------------------------------------------------------------- * 8,1-11,19: Com a abertura do sétimo selo, o livro do projeto de Deus está aberto, e agora vai ser realizado. Esse projeto é o mistério (10,7) que vai ser cumprido: a vinda do Reino (11,15). 8,1-6: O silêncio por meia hora indica a gravidade do que vai acontecer. Com o julgamento (trombetas) e o Reino começa na história o tempo final. O incenso oferecido juntamente com as orações dos santos indica que o pedido dos mártires (6,9-11) vai ser atendido: Deus intervém na história fazendo justiça e salvando. * 7-13: O julgamento é universal (terra, mar, rios, fontes e astros), mas se realiza aos poucos ao longo da história (um terço). Assim como Deus agiu no passado (pragas do Egito), ele age no presente e vai agir no futuro (temas dos profetas) para julgar o mal e instaurar o bem. A águia adverte sobre os três últimos toques de trombeta.

Page 17: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

17

APOCALIPSE CAPITULO 9

O julgamento destrói o mal -* 1 O quinto Anjo tocou. Vi então uma estrela que tinha caído do céu sobre a terra. Ela recebeu a chave do poço do Abismo. 2 E abriu o poço do Abismo. E daí subiu uma fumaça como fumaça de uma grande fornalha. O sol e o ar escureceram de tanta fumaça do poço. 3 Da fumaça saíram gafanhotos voando sobre a terra. Tinham poder de matar como escorpiões. 4 Eles receberam ordem de não estragar a vegetação da terra, nem o verde, nem as árvores. Só podiam ferir os homens que não tivessem na fronte a marca de Deus. 5 Os gafanhotos não tinham permissão de matar. Mas podiam atormentar os homens durante cinco meses, com dores fortes, como picadas de escorpião. 6 Naqueles dias, os homens vão correr em busca da morte, mas não saberão onde ela está. Vão querer a morte, mas a morte fugirá deles. 7 Os gafanhotos pareciam como bando de cavalos preparados para a guerra; parecia que tinham na cabeça coroas de ouro, e o rosto deles parecia rosto de gente. 8 Tinham cabelos compridos como as mulheres, e dentes de leão. 9 Tinham couraças que pareciam de ferro, e o barulho de suas asas parecia o barulho de carros com muitos cavalos, correndo para a batalha. 10 Tinham ferrão na cauda, como escorpião. E era na cauda que estava o poder de atormentar os homens durante cinco meses. 11 O rei deles era o Anjo do Abismo. O nome desse Anjo é Abadôn, na língua hebraica; em grego é Apoliôn. 12 O primeiro Ai passou. Mas depois dessas coisas ainda vêm outros dois Ais. O julgamento é apelo à conversão -* 13 O sexto Anjo tocou. Ouvi então uma voz que vinha dos quatro chifres do altar de ouro, que estava colocado diante de Deus. 14 A voz dizia ao sexto Anjo, que estava com a trombeta: «Liberte os quatro Anjos que estão presos no grande rio Eufrates.» 15 E os quatro Anjos que estavam prontos para a hora, o dia, o mês e o ano foram então libertados para matar a terça parte dos homens. 16 O número dos cavaleiros do exército dos quatro Anjos era de duzentos milhões. Ouvi bem o número. 17 Na minha visão, os cavalos e cavaleiros eram assim: vestiam couraça cor de fogo, jacinto e enxofre. A cabeça dos cavalos parecia de leão, e da sua boca saía fogo, fumaça e enxofre. 18 A terça parte dos homens morreu por causa destas pragas: o fogo, a fumaça e o enxofre que saíam da boca dos cavalos. 19 De fato, o poder desses cavalos está na boca e na cauda. Suas caudas parecem cobras: têm cabeças com as quais causam dano. 20 Os outros homens que não foram mortos por essas pragas, nem mesmo assim renunciaram às obras de suas mãos. Não deixaram de adorar os demônios, os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, que não podem ver, nem ouvir, nem andar. 21 Também não se converteram de seus homicídios, magias, fornicações e roubos. -------------------------------------------------------------------------------- * 9,1-12: A intervenção de Deus atinge e destrói o mal. Os gafanhotos lembram a oitava praga do Egito (Ex 10,11-15), mas são descritos como um exército (cf. Jl 1-2) que vai atacar os que não têm a marca de Deus, isto é, os perseguidores do povo de Deus. João parece aludir às grandes potências em luta constante pela supremacia. Os perseguidores são destruídos pelo seu próprio mal. * 13-21: No Antigo Testamento a região do rio Eufrates era de onde vinham os exércitos inimigos. A sexta trombeta mostra que o julgamento é apelo à conversão: abandonar os ídolos e aceitar o único absoluto que é Deus. Mas, assim como o faraó do Egito, os homens não deixam de adorar os ídolos, coisas e pessoas absolutizadas. Como conseqüência, não deixam de praticar o mal, pois o homem é sempre a imagem do deus que ele adora e serve.

Page 18: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

18

APOCALIPSE CAPITULO 10 A missão do povo de Deus é profetizar -* 1 Depois disso, vi outro Anjo. Era forte e vinha descendo do céu. Sua roupa era uma nuvem, e sobre a sua cabeça estava o arco-íris. O rosto era como sol; as pernas pareciam colunas de fogo. 2 Ele segurava na mão um livrinho aberto. Colocou o pé direito no mar e o esquerdo na terra, 3 e soltou um forte grito como leão quando ruge. Quando ele gritou, os sete trovões ribombaram. 4* E quando os sete trovões fizeram esse ribombo, eu estava pronto para escrever. Mas ouvi uma voz do céu que me dizia: «Guarde em segredo o que os sete trovões falaram. Não escreva nada.» 5 Então o Anjo forte, que estava de pé sobre o mar e a terra, levantou a mão direita para o céu. 6 E jurou por Aquele que vive para sempre, que criou o céu e tudo o que nele existe, a terra e tudo o que nela existe, o mar e tudo o que nele existe: «Não há mais tempo. 7 Quando o sétimo Anjo tocar a trombeta, então vai realizar-se o mistério de Deus, conforme ele anunciou aos seus servos, os profetas!» 8 Aquela mesma voz do céu, que eu já tinha ouvido, tornou a falar comigo: «Vá. Pegue o livrinho aberto da mão do Anjo que está de pé sobre o mar e sobre a terra.» 9 Eu fui, e pedi ao Anjo que me entregasse o livrinho. Ele falou comigo: «Pegue e coma. Será amargo no estômago, mas na boca será doce como mel.» 10 Peguei da mão do Anjo o livrinho e o comi. Na boca era doce como mel, mas quando o engoli, meu estômago virou puro amargor. 11* Então me disseram: «Você tem ainda que profetizar contra muitos povos, nações, línguas e reis.» -------------------------------------------------------------------------------- * 10,1-3: O anjo forte indica uma grande intervenção de Deus. Intervenção de misericórdia (arco-íris), que interessa a todos (mar e terra). O livrinho aberto é o Evangelho, com esta mensagem clara e universal: Deus quer salvar todos os homens, chamando-os à conversão. * 4-10: O Evangelho não deve ser escrito, porque o seu conteúdo é urgente («não há mais tempo»), pois com a sétima trombeta, o mistério de Deus vai se realizar: a instauração do Reino (11,15). O fim da história, com o julgamento e a salvação, chega pelo anúncio do Evangelho. Por isso, ele deve ser comido, isto é, assimilado, para ser vivido e testemunhado. Ele é doce porque anuncia a salvação, mas é também amargo, porque provoca perseguições. * 11: A missão do povo de Deus é continuar profetizando a muitos povos, nações, línguas e reis. Profetizar é anunciar o Evangelho, ou seja, continuar o testemunho dado por Jesus. O anúncio é para todos, porque o Evangelho julga e salva: ou continuar com os ídolos e caminhar para a morte, ou aceitar o Deus revelado por Jesus, convertendo-se para viver.

Page 19: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

19

APOCALIPSE CAPITULO 11

O que é profetizar? 1 Depois disso, deram-me um bastão parecido com vara, e me disseram: «Levante-se e tire as medidas do Templo de Deus, do altar e dos que estão lá em adoração. 2 Deixe de lado o pátio externo do Templo; não precisa medi-lo; pois o pátio foi entregue ao poder das nações; elas vão pisar a Cidade Santa durante quarenta e dois meses. 3* Mas eu vou permitir que minhas duas testemunhas possam profetizar, vestidas de pano de saco, durante mil, duzentos e sessenta dias.» 4 Essas duas testemunhas são as duas oliveiras e os dois candelabros que estão diante do Senhor da terra. 5 Se alguém quiser prejudicá-las, um fogo sairá de sua boca e devorará seus inimigos. Sim, se alguém quiser prejudicá-las, é assim que vai morrer. 6 Elas têm o poder de fechar o céu, para que não caia nenhuma chuva enquanto durar sua missão profética. Elas têm também o poder de transformar as águas em sangue. E quantas vezes elas quiserem, podem ferir a terra com todo tipo de praga. 7* Quando elas terminarem o seu testemunho, a Besta que sobe do Abismo vai combater contra elas, vai vencê-las e matá-las. 8 E os cadáveres das duas testemunhas vão ficar expostos na praça da Grande Cidade. Esta cidade se chama simbolicamente Sodoma e Egito, onde foi crucificado também o Senhor delas. 9 Gente de todos os povos, raças, línguas e nações vêem seus cadáveres durante três dias e meio. E não deixam que os corpos sejam sepultados. 10 Os habitantes da terra fazem festa pela morte das testemunhas, ficam alegres, e trocam presentes, porque estes dois profetas haviam incomodado os habitantes da terra. 11* Depois dos três dias e meio, um sopro de vida veio de Deus e penetrou nos dois profetas. E eles ficaram de pé. Todos aqueles que os contemplavam ficaram com muito medo. 12 Ouvi então uma voz forte vinda do céu e chamando os dois: «Subam para cá!» Eles subiram ao céu na nuvem, enquanto os inimigos ficaram aí olhando. 13 Na mesma hora aconteceu um grande terremoto. A décima parte da cidade desmoronou, e sete mil pessoas morreram no desastre. Os sobreviventes ficaram apavorados e deram glória ao Deus do céu. 14 Isso que se passou foi o segundo Ai. E o terceiro já vem chegando bem depressa. A vinda do Reino de Deus -* 15 O sétimo Anjo tocou a trombeta. E vozes bem fortes começaram a gritar no céu: «A realeza do mundo passou agora para Nosso Senhor e para o seu Cristo. E Cristo vai reinar para sempre.» 16 Os vinte e quatro Anciãos que estão sentados em seus tronos diante de Deus ajoelharam-se e adoraram a Deus. Eles diziam: 17 «Nós te damos graças, Senhor Deus Todo-poderoso, Aquele-que-é e Aquele-que-era. Porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar. 18 As nações tinham se enfurecido, mas chegou a tua ira e o tempo de julgar os mortos, de dar recompensa aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, pequenos e grandes, e o tempo de destruir os que destroem a terra.» 19 Abriu-se então o Templo de Deus que está no céu, e apareceu no Templo a arca da aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de pedra. -------------------------------------------------------------------------------- * 11,1-2: O Templo, o altar e os adoradores são símbolos do povo de Deus. A medição é um sinal de proteção e preservação. O resto do mundo é dominado pelos pagãos até o fim da história.

Page 20: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

20

Quarenta e dois meses (mil, duzentos e sessenta dias = três anos e meio = três tempos e meio) foi o tempo que durou a perseguição de Antíoco IV aos judeus; tornou-se o tempo simbólico da era escatológica, isto é, o tempo que vai da ressurreição de Jesus até o fim da história. * 3-6: As duas testemunhas personificam o povo de Deus, que realiza a missão profética. É tempo de perseguição e penitência (vestidos de pano de saco). Em Zc 4,3.14, as duas oliveiras simbolizavam os dois chefes, político e religioso, que iriam restaurar o povo de Deus. João mostra que o novo povo de Deus é formado pelos cristãos que anunciam o Evangelho. Os membros do povo de Deus são luz de Deus para a terra (candelabro) e são profetas como Moisés (poder sobre a água) e como Elias (poder sobre o fogo e a chuva). * 7-10: Profetizar é dizer a verdade, e isso leva à perseguição e até à morte. É assim que os cristãos continuam o testemunho de Jesus. A Besta é a idolatria do poder político absolutizado, como o do imperador romano. A Grande Cidade é a sede desse poder, que nela reproduz a vida desregrada de Sodoma, a opressão do Egito e a injustiça de Jerusalém que crucificou Jesus. As pessoas se alegram com a morte das testemunhas; de fato os profetas incomodam a sociedade que não quer abandonar seus ídolos. * 11-14: A vitória da Besta é curta (três dias e meio), pois o Espírito de Deus ressuscita as testemunhas (cf. Ez 37,10), que vão para junto de Deus. O resultado da missão profética é a intervenção divina (terremoto). Deus age através do testemunho dos cristãos, realizando julgamento que provoca a conversão: os sobreviventes dão glória ao Deus do céu. * 15-19: Com a sétima trombeta realiza-se o mistério de Deus (10,7): a vinda do Reino através do testemunho profético do povo de Deus (11,1-13). O povo de Deus (vinte e quatro Anciãos) proclama o Deus Todo-poderoso, que reina e realiza a justiça. Não se fala mais do Deus «que-vem», porque ele já veio no testemunho de Jesus e dos seus seguidores. A arca é o sinal da aliança e indica a presença de Deus no meio do povo. A aliança se realiza através do testemunho profético do povo de Deus.

Page 21: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

21

APOCALIPSE CAPITULO 12 4. Confronto entre o Reino de Deus e o reino do mal Jesus Messias vence o mal -* 1 Apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. 2 Estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. 3* Apareceu, então, outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres. Sobre as cabeças sete diademas. 4 Com a cauda ele varria a terça parte das estrelas do céu, jogando-as sobre a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, pronto para lhe devorar o Filho, logo que ele nascesse. 5* Nasceu o Filho da Mulher. Era menino homem. Nasceu para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o Filho foi levado para junto de Deus e de seu trono. 6 A Mulher fugiu para o deserto. Deus lhe tinha preparado aí um lugar onde fosse alimentada por mil, duzentos e sessenta dias. 7* Aconteceu então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. 8 O Dragão batalhou juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado, e no céu não houve mais lugar para eles. 9* Esse grande Dragão é a antiga Serpente, é o chamado Diabo ou Satanás. É aquele que seduz todos os habitantes da terra. O Dragão foi expulso para a terra, e os Anjos do Dragão foram expulsos com ele. 10 Ouvi, então, uma voz forte no céu, proclamando: «Agora realizou-se a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo. Porque foi expulso o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava dia e noite diante do nosso Deus. 11 Eles, porém, venceram o Dragão pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram, pois diante da morte desprezaram a própria vida. 12 Por isso, faça festa, ó céu. Alegrem-se os que aí vivem. Mas ai da terra e do mar, porque o Diabo desceu para o meio de vocês. Ele está cheio de grande furor, sabendo que lhe resta pouco tempo.» 13* Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o Dragão começou a perseguir a Mulher, aquela que tinha dado à luz um menino homem. 14 Mas a Mulher recebeu as duas asas da grande águia, e voou para o deserto, para um lugar bem longe da Serpente. Aí, a Mulher é alimentada por um tempo, dois tempos e meio tempo. 15 A Serpente não desistiu: vomitou um rio de água atrás da Mulher, para que ela se afogasse. 16 Mas a terra socorreu a Mulher: abriu a boca e engoliu o rio que o Dragão tinha vomitado. 17 Cheio de raiva por causa da Mulher, o Dragão começou então a atacar o resto dos filhos dela, os que obedecem aos mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus. 18 Depois o Dragão ficou em pé na praia do mar. -------------------------------------------------------------------------------- * 12,1-16,20: É a parte mais importante do livro. Mostra que o tempo do povo de Deus é o tempo de confronto com o mal, até chegar a consumação da história. João analisa agora a vitória sobre o mal (Ap 12), o ambiente onde os cristãos vão profetizar (Ap 13) e a conseqüência do testemunho profético, isto é, o julgamento (Ap 14,1-16,20). Os capítulos 12-14 interrompem o desenvolvimento linear do livro. 12,1-2: A Mulher é um símbolo cheio de significados: é Eva, a mãe da humanidade (cf. Gn 3,15-20); também o povo de Israel (doze estrelas = doze tribos) assim como Sião, o resto do povo de Deus que

Page 22: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

22

espera o Messias (Is 66,7). É também Maria enquanto mãe de Jesus e mãe dos discípulos de Jesus (Jo 19,25-27), e o povo de Deus da nova Aliança (doze estrelas = doze apóstolos). * 3-4: O Dragão personifica o mal, inimigo de Deus. Trata-se do egoísmo, orgulho e auto-suficiência que deformam os indivíduos e os grupos sociais. Ele é sangüinário (vermelho), tem pleno poder sobre os impérios do mundo (sete cabeças e sete diademas), mas sua força é relativa e imperfeita (dez chifres). Ele tem a pretensão de lutar contra Deus (estrelas do céu). Quer devorar o Filho da Mulher, o Messias que veio para destruí-lo. * 5-6: O Filho é Jesus, que nasce (ressurreição) para a glória e para dominar as nações, destruindo o poder do Dragão. O mal foi derrotado. Agora a situação do povo de Deus é como a dos hebreus no deserto, libertados da escravidão: viverá no deserto até o fim da história (mil, duzentos e sessenta dias), em meio a perseguições e na intimidade com Deus. * 7-12: O mal foi cortado pela raiz. Miguel (= Quem é como Deus?) vence e expulsa o Dragão, o mal que sempre ameaçou a humanidade (Serpente, Diabo, Satanás). Mas os cristãos não podem ficar acomodados, porque o mal continua agindo no mundo e, agonizante, ainda vai perseguir os homens de todos os modos. * 13-18: O mal não conseguiu vencer Jesus; por isso agora persegue os cristãos seguidores de Jesus. Mas estes são continuamente protegidos por Deus, até o final da história (três tempos e meio = mil, duzentos e sessenta dias). É tempo de perseguição (rio) mas, como no Êxodo, o povo de Deus não sucumbe. * 13,1-18: O povo de Deus profetiza na Grande Cidade (11,8), onde estão os poderes que se tornam maus quando se absolutizam, tomando o lugar de Deus e escravizando os homens. 1-4: A Besta é o poder político absolutizado, isto é, os poderes totalitários, ditatoriais e opressores. Na época de João, trata-se de Roma, às margens do mar Mediterrâneo. A Besta encarna o mal (Dragão) na história (sete cabeças e dez chifres, que serão explicados em Ap 17). Blasfemar é tomar coisas ou pessoas humanas como divinas; usurpando títulos honoríficos e divinos é que os poderosos afirmam sua autoridade e oprimem os homens. A Besta é uma superpotência (pantera, urso, leão: Dn 7,4-7). Ela é agente do mal (Dragão), que lhe dá todo o poder. O Dragão e a Besta são uma paródia do Deus que entrega o domínio da história a Jesus ressuscitado (Ap 4-5). A Besta é também uma paródia de Cristo morto e ressuscitado (cabeça ferida e curada). O império romano parecia ter decaído com Nero, mas depois volta ao seu esplendor: é o mal que vai e vem na história através dos poderes absolutizados. As multidões se maravilham com isso e adoram a Besta como se ela fosse Deus: «Quem é como a Besta?»

Page 23: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

23

O DRAGÃO DO APOCALIPSE

2.3. Salmos de Salomão Apenas para exemplificar como reagem os grupos de tendência apocalíptica à chegada de Roma na região em 63 a.C., vale a pena dar uma olhada num escrito chamado de "Salmos de Salomão", que é desta época.

Salmos de Salomão é o nome de uma obra de origem palestina, de um autor possivelmente ligado ao grupo farisaico, escrita em hebraico entre 63 e 40 a.C., mas só preservada em grego e siríaco. É uma coletânea de 18 hinos, semelhantes aos Salmos, nos quais o autor insiste no louvor a Deus, na justiça do homem como resultado da observância da Lei, no castigo dos pecados e na esperança de uma era melhor, presidida pelo Rei-Messias. É interessante observar que o autor usa a expressão "Filho de Davi" como título messiânico no Salmo 17.

Os Salmos 2 e 17 tratam da tomada da Palestina pelos romanos no ano 63 a.C. e o Salmo 2 alude à morte de Pompeu": "Cheio de orgulho, o pecador destruiu com seu aríete as sólidas muralhas, e Tu não o impedistes. Povos estrangeiros subiram ao teu altar, pisotearam-no orgulhosamente com suas sandálias. Porque os filhos de Jerusalém mancharam o culto do senhor profanaram com suas impurezas as oferendas à divindade. Por isso disse Deus: afastai-as de mim; nelas não me comprazo. A beleza de sua glória nada significou diante de Deus, Ele as desprezou totalmente. Seus filhos e filhas sofrem rigorosa escravidão, seu pescoço está marcado, marcado entre os gentios. Deus os tratou de acordo com seus pecados, por isso os entregou nas mãos dos vencedores" (2,1-7).

Os vv. 24-29 falam do orgulho e da morte de Pompeu, assassinado no Mons Cassium, próximo a Pelusium, no Egito, em 48 a.C., após a sua derrota para Júlio César em Farsália:

"Porque não obraram por zelo, mas por paixão; para derramar sua ira contra nós, espoliando-nos. Não demore, ó Deus, em devolver o mal sobre suas cabeças, para mudar em desonra o orgulho do dragão. Não esperei muito tempo para que Deus fizesse aparecer sua insolência degolada nas colinas do Egito, desprezada como a mais fútil do mar e da terra. Seu cadáver era jogado pelas ondas com grande ignomínia, não havia quem o enterrasse, porque Ele o aniquilou vergonhosamente. Não refletiu que era apenas um homem, não tinha pensado no fim. Falou assim: Sou o dono do mar e da terra; porém não percebeu que Deus é o Grande, o Forte, por seu tremendo poder"[12] .

REPARE NO TEXTO ACIMA QUE O IMPERADOR E CONSEQUÊNTEMENTE O IMPÉRIO ROMANO SÃO CHAMADOS DE DRAGÃO, E MAIS AINDA, SÃO CHAMADOS COMO A MAIS FÚTIL BESTA DO MAR E DA TERRA. SERIA PURA COINCIDÊNCIA O AUTOR DE O APOCALIPSE FALAR DE DUAS BESTAR FERAS, UMA QUE EMERGIA DO MAR E OUTRA DA TERRA, E EM OUTRO CAPITULO CHAMAR ESTE IMPÉRIO DE DRAGÃO QUE PERSEGUIA OS SANTOS DO ETERNO? ESTE SALMO DE SALOMÃO É FUNDAMENTAL PARA DECIFRARMOS O TEXTO E OS SIMBOLOS DO APOCALIPSE.

Page 24: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

24

APOCALIPSE 13 A BESTA O poder político absolutizado é o Anticristo -* 1 Vi, então, uma Besta que subia do mar. Tinha dez chifres e sete cabeças. Em cima dos chifres havia dez diademas, e nomes blasfemos sobre as cabeças. 2 A Besta que eu vi parecia uma pantera. Os pés eram de urso, e a boca era de leão. O Dragão entregou para a Besta o seu poder, o seu trono e uma grande autoridade. 3 Uma das cabeças da Besta parecia ferida de morte, mas a ferida mortal foi curada. A terra inteira se encheu de admiração e seguiu a Besta, 4 e adorou o Dragão por ter entregue a autoridade à Besta. E adoraram também a Besta, dizendo: «Quem é como a Besta? E quem pode lutar contra ela?» 5* A Besta recebeu uma boca para dizer insolências e blasfêmias. Recebeu também poder para agir durante quarenta e dois meses. 6 Então a Besta abriu a boca em blasfêmias contra Deus, blasfemando contra seu Nome e sua morada santa e contra os que moram no céu. 7 Foi permitido a ela guerrear contra os santos e vencer. Recebeu autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação. 8 Então todos os habitantes da terra adoraram a Besta. Mas, o nome deles não está escrito desde a criação do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado. Os cristãos devem estar atentos 9 Se alguém tem ouvidos, ouça: 10 Se alguém está destinado à prisão, irá para a prisão. Se alguém deve morrer pela espada, é pela espada que deve morrer. Aqui se fundamenta a perseverança e a fé dos santos. A ideologia a serviço do poder -* 11 Depois disso, vi outra Besta sair da terra. Tinha dois chifres como cordeiro, mas falava como dragão. 12 Esta segunda Besta exerce toda a autoridade na presença da primeira Besta. Ela faz com que a terra e seus habitantes adorem a primeira Besta, cuja ferida mortal tinha sido curada. 13* A segunda Besta opera grandes maravilhas: faz cair fogo do céu sobre a terra, à vista dos homens. 14 Por causa do poder de fazer essas maravilhas, sempre na presença da primeira Besta, a segunda Besta acaba seduzindo os habitantes da terra. Ela seduz a humanidade a fazer uma imagem em honra da Besta que tinha sido ferida pela espada, mas que voltou à vida. 15 Foi-lhe permitido até mesmo infundir espírito na imagem da primeira Besta, de modo que esta pudesse falar e fazer com que morressem todos os que não adorassem a imagem da primeira Besta. 16 A segunda Besta faz também com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, recebam uma marca na mão direita ou na fronte. 17 E ninguém pode comprar nem vender se não tiver a marca, o nome da Besta ou o número do seu nome. 18* Aqui é preciso entender: quem é esperto, calcule o número da Besta; é um número de homem; o número é seiscentos e sessenta e seis. -------------------------------------------------------------------------------- * 5-8: A Besta age até o fim da história (quarenta e dois meses). Aqui as blasfêmias são valores que o poder absoluto propõe como valores divinos, violentando as consciências. A Besta é adorada por todos aqueles que não conhecem e não vivem o testemunho de Jesus. Mas os discípulos de Jesus são perseguidos e mortos, por não aceitarem a idolatria. * 9-10: Para serem fiéis e perseverarem, os cristãos devem manter o espírito crítico, pois Deus vai realizar o que projetou. * 11-12: A segunda Besta, depois chamada falso profeta (16,13), é a propaganda ideológica, que sustenta os poderes absolutos, e cuja essência é a falsidade: apresenta o mal com aparências de bem (cordeiro e dragão), para levar as pessoas a aceitarem um sistema político desumano, como se este viesse de Deus. É uma caricatura do Espírito Santo (cf. Jo 14,26). * 13-17: Como os profetas, a propaganda promete grandes milagres e mudanças, mas falsamente. Para sustentar os poderes e impor respeito e até mesmo adoração, a propaganda multiplica a imagem dos

Page 25: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

25

poderosos, fazendo crer que são onipresentes e vigilantes. Graças à manipulação, a segunda Besta controla a ação (mão direita) e o pensamento (fronte) de toda a sociedade (todas as categorias sociais). Para poder participar da economia (comprar e vender), todo mundo deve pensar e agir de acordo com a primeira Besta. Esse nivelamento de todas as classes sociais com o mesmo pensamento e ação, é uma paródia do Reino de Deus. * 18: O autor identifica a primeira Besta com o imperador romano da época. O número seiscentos e sessenta e seis, conforme o valor numérico das letras em hebraico, corresponde ao nome de César Nero. O imperador Domiciano é visto como a ressurreição de Nero e da sua crueldade. O número seiscentos e sessenta e seis, contudo, pode também significar o máximo de imperfeição, pois seis não atinge sete e é metade de doze. Indicaria, assim, a relatividade e fraqueza dos poderes totalitários.

666 O NÚMERO DA BESTA

Muitas vezes, na Bíblia, os números têm um valor simbólico vinculado à ordem da criação, na perspectiva do tempo (sete dias, sete astros), do espaço (sete pontos cardeais) e da organização social (doze tribos...). Especial importância recebe o seis, relacionado com as obras de Deus e com os dias de trabalho da semana transcendidas no sábado, que está além de todo número (o sete é de Deus). Nesse sentido, humanamente falando, os judeus somente contam até seis, pois todas as coisas deste mundo são seis. O sete pertence a Deus. Por isso, não se junta com os seis anteriores, que são números humanos.

Uma parte considerável da especulação dos livros apocalípticos judeus (como os livros de Daniel, 1 Enoc e Jubileus) e, em especial, de alguns textos do Qumrán está relacionada com cálculos numéricos e fixação de tempos sagrados. No Novo Testamento, o livro que mais tem insistido nos números é o Apocalipse. Este é o sentido de alguns de seus números:

Um. Significa excelência e autoridade e pode ser aplicado a Deus (que É, Era e que Vem: Ap 1, 4.8) e a Cristo (Primeiro e último..: Ap 1, 17; 2, 8; 22, 13).

Dois. Implica cooperação, tanto positiva (nos profetas: Ap 11, 1-13) como negativa (nas bestas: Ap 13, 1-18).

Três e meio (= metade de sete) é o tempo que passa, momento breve de perseguição dos fiéis. Partindo de cálculos tomados de Dan 7, 25; 12, 7, João o identifica com um tempo (=ano), dois tempos e meio tempo: os 42 meses ou 1260 dias simbólicos da crise final (Ap 11, 9-13; 12, 14).

Quatro. É o mundo perfeito e perigoso: quatro são os Viventes do céu (4, 6.8; 5, 6 etc.), os cavalos destruidores da história (6, 1-8), os elementos cósmicos (8, 7-12; 16, 1-9), os ângulos do mundo com seus anjos e ventos (7, 1-3; cf. 9, 14-15; 20, 8), o mesmo que os cornos do altar (cf. 9, 13) e os ângulos ou muros da Cidade nova (21, 16).

Seis. É a imperfeição do mundo (do ser humano), que, opondo-se ao sete de Deus e de seu Messias, acaba encerrando-se a si mesmo em violência destruidora. É o número da Besta: 6.6.6 (Ap 13, 18) e do 6º imperador, que agora reina (após os cinco passados), sendo incapaz de permanecer, pois não pode tornar-se sete (cf. 17, 10-11).

Page 26: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

26

Sete. É a plenitude divina que se expressa nos espíritos (Ap 1, 4; 3, 1; 4, 5; 5, 6), anjos (1, 20; 8, 2. 6), candelabros (1, 12.20; 2, 1), astros (1, 16.20; 2, 1), igrejas (1, 4.11.20) e nos cornos e olhos do Cordeiro, que refletem seu poder (5, 6). Sete são também os acontecimentos finais que marcam o juízo de Deus sobre o mundo: os selos (5, 1.5; 6, 1), as trombetas (8, 2.6), os trovões (10, 3.4) e as taças destruidoras (15, 1.6.7). Há também um sete negativo que se expressa nas cabeças do Dragão e da Besta (12, 2; 13, 1; 17, 3.7), nas colinas (de Roma) que formam o assento da Prostituta, nos reis perversos da história (17, 9) e, sobretudo, no 7º imperador, que permanece pouco tempo…, pois um sete humano é sempre perversão, é idolatria. Quando este imperador desapareça, voltará como oitavo um dos anteriores, porém Cristo o destruirá (17, 10-11).

Dez. É o número do poder perverso: os cornos do Dragão e da Besta (13, 3; 13, 1; 17, 3.7), os reis da terra (17, 12.16) e os dias de provação que Daniel e seus companheiros padecerão porque não aceitam a comida impura do império (2, 10). Opõe-se provavelmente ao doze da perfeição israelita e cristã.

Doze. Número perfeito dos Deus, como mostram as estrelas da coroa da Mulher (12, 1), e da história messiânica, que se expressa pelos filos de Israel e pelos apóstolos do Cristo, vinculados aos anjos de Deus e aos cimentos e portas da Jerusalém perfeita (21, 12-14), com suas medidas e pedras preciosas (21, 16.21). Desde esse fundo devem ser entendidos seus múltiplos: os 24 Anciãos (dois vezes doze) que formam a corte de Deus (4, 4) e os 144.000 triunfadores (doze mil vezes doze mil) do Monte Sião (14, 1; cf. 7, 4).

Mil. É o signo de uma grande multidão (milhares de milhares formam a multidão incontável dos anjos 5, 11). Emprega-se de um modo especial para indicar o milênio: os anos do tempo de reino dos eleitos; frente ao breve três e meio da perseguição se eleva o mil de glória dos eleitos (20, 2-7).

Seis, seis, seis. Sentido básico do número

A partir do que se coloca anteriormente, pode-se interpretar melhor o Número da Besta, que é um número muito concreto, vinculado à vida econômica do império, à injustiça dos ricos. Assim, se diz que o Falso Profeta, que é a propaganda (filosofia, religiões, meios de comunicação), que se põem a serviço da primeira Besta, "também fez com que todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, livres e escravos levassem gravada uma marca na mão direita ou na fronte. E somente quem levava gravado o nome da Besta ou a cifra de seu nome poderia comprar ou vender. Aqui se deve aplicar a sabedoria. Quem se sinta inteligente, tente decifrar o Número da Besta, que é o número humano: seis, seis, seis" (Ap 13, 16-18).

Esse é o texto básico, que continua nos fazendo pensar e sofrer. A identidade da Besta e o possível sentido cifrado de seu número (6-6-6) tem sido e continua sendo tema apaixonante de estudo e adivinhação para estudiosos e curiosos (especialmente para curiosos). Como veremos, em sua origem, deveria ser (e é) um número bastante fácil de entender para os cristãos das sete igrejas as quais se dirige o livro do Apocalipse (cf. Ap 2-3). O conhecimento desse número servia para manter o compromisso cristão: não era objeto de erudição abstrata, mas de experiência de cada dia.

Esse número da Besta não podia aludir a uma qualidade interior, ou a um pecado espiritual, pois vai associado a comprar e vender, no âmbito social e econômico. Não aludia tampouco a um acontecimento ou sucesso imprevisível que não se pode evitar, vinculado com a magia ou as aparições astrais, mas à vida social e está relacionado com o dinheiro (comprar e vender), pois aqueles que não levavam a marca da Besta (o seis.seis.seis) não podiam comercializar, nem enriquecer, nem tomar parte

Page 27: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

27

de sociedade dominadora dos favorecidos pelo poder romano (cf. Ap 13, 17). A coisa é muito simples: o mesmo dinheiro injusto, o comércio daqueles que se aproveitam do Sistema Romano para comprar e vender e enriquecer às custas dos pobres, é o Seis-Seis-Seis. Segundo esse raciocínio, os que venderam sua alma ao sistema romano levam o signo da Besta. No fundo, é o mesmo que está escrito em Mateus 6, 24 par: a Mamona é Satã objetivado.

Este é o grande paradoxo. Buscamos o número como se fosse algo externo, com grandes adivinhações e teorias esotéricas ou mágicas, como se aquele que soubesse decifrá-lo pudesse resolver problemas superiores. Pois bem, o Apocalipse diz tudo ao contrário: ainda que não queiram adverti-lo ou confessá-lo, todos os que "compram ou vendem" e enriquecem às custas dos pobres levam o número na mão ou na fronte, como se fosse sua carteira de identidade, seu passaporte. Os outros, os que não podem conseguir esse número (ou não querem levá-lo por honradez e opção cristã) estão condenados a ser uns parias, sem direitos, sem oportunidades, como os fiéis da igreja do Apocalipse.

Entendido dessa forma, esse número indica dinheiro e tudo o que se pode comprar por dinheiro: e a marca completa daqueles que assumem o sistema do império. Os fiéis de Jesus conhecem o número, não querem levá-lo, porque é o número da opressão. Esta é a realidade que está no fundo do tema: o Falso Profeta (2ª Besta) oferece a marca da Primeira Besta aos privilegiados da sociedade, para que possam comprar e vender, para bem comum do império (não dos pobres). Nessa linha deve-se entender o 6-6-6, o número mais simples, mais vulgar deste mundo mau: o número dos que se aproveitam do sistema e vivem às custas dos outros.

Recordemos que o império romano quis apresentar-se como primeira sociedade global, capaz de oferecer meios de comunicação entre tribos, povos, línguas e nações (cf. Ap 13, 7). Aparecia como milagre de convivência, âmbito de paz para os homens. Não era uma Nação-estado, mas o Estado-império onde cabiam todas as nações, cada uma com sua própria identidade e diferenças. Esse foi seu "milagre", aquilo que nunca se havia conseguido sobre o mundo, de tal forma que muitos veneraram a Roma como Deusa, como revelação de Deus na história. Por isso, seu Número e signo devia ser a eternidade: a Roma Eterna, sentada no trono das grandes águas (cf. Ap 17, 3). Pois bem, contra essa divinização, resistem e protestam os cristãos, contra ela se eleva o Apocalipse, mostrando através desse Número que, no fundo, Roma não é mais do que um signo de impotência e morte, um número incapaz de oferecer plenitude e salvação aos homens. Os romanos acreditavam-se enviados por Deus (pelos deuses) para fundar e expandir sua ordem divina sobre o mundo, de maneira que eles deveriam ser 7-7-7 (como os astros do céu, como a semana sagrada, como Deus). Contra isso, os cristãos sabem que o número de Roma é um simples 6-6-6, o número de uma criatura má, que quer divinizar-se, oprimindo aos demais, porém que acabará por destruir-se.

Há mais segredos? Decifrar o Número

A identidade básica do número da Besta (seis.seis.seis) é a que acabamos de indicar: é um número de injustiça e morte. Em sentido estrito, nosso argumento poderia terminar aqui. Porém, no mesmo livro do Apocalipse e com a tradição posterior, podemos dar um passo a mais. É muito provável que o próprio autor do livro e seus ouvintes e leitores mais antigos tenham querido jogar com esse número, de um modo humorista, em voz baixa, para consolar-se: este não é um número para dar medo, pelo contrário, é para tirar o medo. É um número para dizer aos cristãos e aos pobres: não se preocupem; esse mesmo imperador que parece divino, esse mesmo império que acredita ser Deus, não são do que simples criaturas impotentes, condenadas à morte.

Page 28: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

28

A partir dessa visão, a questão da identidade mais concreta do Número (666, 6-6-6), aplicado ao nome de algum imperador, torna-se secundária. O importante era o anterior: o seis.seis.seis é a expressão da impotência do império divinizado. Partindo disso, muitos cristãos puderam aplicar em voz baixa esse número a algum dos imperadores, alegrando-se com isso, pois, ao identificar o império/imperador com esse número, estavam dizendo que este tinha os dias contados, que já estava próximo o tempo da libertação dos pobres.

Parece que naquele tempo se podia interpretar sem dificuldade; e mais, é possível que se pudesse aplicar de diversas maneiras, conforme os métodos de gematria (sistema criptográfico que consiste em atribuir valores numéricos às letras), comum naquele tempo. Sem dúvida, seu sentido está relacionado com a lista de reis (imperadores) que, partindo do modelo oferecido por Dan 7, 25-27, o mesmo autor do Apocalipse esboçou mais tarde em seu livro (Ap 17, 11-14). Trata-se de um Número que pode ser calculado seguindo vários modelos de gematria, como faziam, naquele tempo, judeus e helenistas: cada número é uma letra e vice-versa, de maneira que o conjunto pode ser decifrado como código cifrado... A riqueza do tema (e, para alguns, o problema) começa quando se quer dividir 666 (ou 606, segundo outros manuscritos) em possíveis cifras inferiores, utilizando o alfabeto grego ou hebreu (aramaico) para calcular a soma ou sentido de conjunto. As combinações e leituras propostas desde antigamente são variadas e não concordantes. As mais significativas são: Titã Latino, Nero César, Caio (=Calígula) César... Porém, nenhuma conseguiu convencer à comunidade dos sábios exegetas, o qual significa que o segredo se perdeu com o autor e com os destinatários do livro...; ou que não havia tal segredo, pois deixava-se que cada um buscasse as aplicações, sabendo todos que o seis.seis.seis é a expressão e anúncio da queda de um tipo de império destruidor, que eleva os ricos-comerciantes passando por cima dos pobres e que mata os inocentes. Um império desses não pode persistir; esse império é um simples seis.seis.seis… e seu representante pode ser Nero, Calígula… ou simplesmente Roma, imperadores e cidade condenada à morte, para o bem dos pobres do mundo.

É possível que o autor do Apocalipse tenha querido deixar em aberto o tema do sentido concreto do Número. Querendo indicar que se trata somente de um signo e de um número que é puramente humano, finito. Recordemos de novo o sentido de alguns números. A plenitude é Quatro (há quatro viventes, ventos, elementos: Ap 4, 8; 7, 1; 20, 28); a revelação escatológica é Sete (há sete espíritos, candelabros, astros): o número de prova é Três e meio (metade de sete), com seus equivalentes (42 meses, 1260 dias). Assim, o Número do império perverso (que parece divino, porém tem pés de barro manchados de sangue: cf. Dan 2) é um seis repetido, que nunca chega a Sete, que nunca pode alcançar a plenitude.

Por isso, quando dizemos seis.seis.seis… podemos continuar incluindo números de "seis" até o infinito (a repetição tripla do "seis" é indicação de algo que se pode continuar dizendo sem fim). Isso significa que Roma não é Quatro (não é o Cosmos inteiro), nem é Sete (não é Deus). Roma é um simples seis repetido, impotente; um "seis" que destrói àqueles que se apóiam em sua força brutal, porém desumana, em sua riqueza imensa, porém sangrenta. Este é o número daqueles que põem sua segurança no Império, entregando-lhe sua liberdade humana. Os cristãos mais simples sabiam disso e o sabem. Ao contrário, os investigadores ou curiosos que buscam com imensa erudição o sentido mais oculto desse número, podem estar repetindo-o ao longo de toda sua vida sem perceber que põem ter caído sob o poder do 6-6-6, que é a impotência e a violência da finitude; que é a injustiça da história humana. Aqueles que se tornam ricos às custas do medo do seis.seis.seis caíram em sua armadilha. Os que querem se converter o seis.seis.seis em objeto de magia ou de cálculos curiosos perdem seu tempo.

Page 29: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

29

Por isso, todos aqueles que, de um modo ou de outro, querem aplicar o seis.seis.seis a um dia concreto (como o seis de junho de 2006) estão contra a Bíblia cristã. Podem saciar uma curiosidade, porém seu gesto não tem nada a ver com o Evangelho do Apocalipse de João.

APOCALIPSE : A BESTA E SEU NÚMERO... APOCALIPSE 13: 16 A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, 17 para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome 18 Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. APOCALIPSE 17: 9 Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, 10 dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco. 11 E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição. * 9-11: As sete cabeças são as sete colinas de Roma. São também sete reis, isto é, imperadores do séc. I. Deles já caíram cinco: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Um existe (Vespasiano), e o outro durará pouco (Tito, que reinou só dois anos). A Besta é o oitavo (Domiciano) e, ao mesmo tempo, é um dos sete, ou seja, o imperador Domiciano que agora persegue os cristãos, reencarnando a crueldade de Nero. O autor se refere à decadência do império romano sob Nero, e o seu ressurgimento com Vespasiano, e também a maldade de Nero que revive em Domiciano. SETE IMPERADORES E O OITAVO:

1. AUGUSTO 2. TIBÉRIO 3. CALIGULA 4. CLAUDIO 5. NERO - ( A BESTA QUE PERSEGUIU OS CRISTÃOS EM ROMA, SOMENTE EM ROMA ) 6. VESPASIANO 7. TITO 8. DOMICIANO – ( PERSEGUIU OS CRISTÃOS EM TODO O IMPÉRIO, OU SEJA EM TODO O MUNDO

ANTIGO ) * 18: O autor identifica a primeira Besta com o imperador romano da época. O número seiscentos e sessenta e seis, conforme o valor numérico das letras em hebraico, corresponde ao nome de César Nero. O imperador Domiciano é visto como a ressurreição de Nero e da sua crueldade.

Page 30: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

30

APOCALIPSE CAPITULO 14

O POVO DO CORDEIRO * 1 Depois disso, tive esta visão: o Cordeiro estava de pé sobre o monte Sião. Com ele, os cento e quarenta e quatro mil que traziam a fronte marcada com o nome dele e o nome do seu Pai. 2 Ouvi uma voz que vinha do céu; parecia o barulho de águas torrenciais e o estrondo de um forte trovão. O barulho que ouvi era como o som de músicos tocando harpa. 3 Estavam diante do trono, dos quatro Seres vivos e dos Anciãos e cantavam um cântico novo. Era um cântico que ninguém podia aprender; só os cento e quarenta e quatro mil marcados que foram resgatados da terra. 4 São os que não se contaminaram com mulheres; são virgens. Eles seguem o Cordeiro aonde quer que ele vá. Foram resgatados do meio dos homens e foram os primeiros a serem oferecidos a Deus e ao Cordeiro. 5 Na sua boca nunca foi encontrada a mentira. São íntegros! O anúncio do Evangelho – * 6 Depois disso, vi outro Anjo que voava no meio do céu, com um evangelho eterno, para anunciá-lo aos habitantes da terra, a toda nação, tribo, língua e povo. 7 O Anjo dizia em alta voz: «Temam a Deus e dêem glória a ele, porque chegou a hora do seu julgamento. Adorem aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes.»

O EVANGELHO DESTRÓI A CIDADE IDOLÁTRICA 8* Apareceu um segundo Anjo e continuou: «Caiu, caiu Babilônia, a Grande. Aquela que embebedou todas as nações com o vinho do furor da sua prostituição.»

DESTINO DOS QUE ADORAM A BESTA * 9 Apareceu um terceiro Anjo e continuou em alta voz: «Se alguém adora a Besta e a imagem dela, e recebe sua marca na fronte ou na mão, 10 esse também vai beber o vinho do furor de Deus, derramado sem mistura na taça da sua ira. Será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos Anjos e diante do Cordeiro. 11 A fumaça do seu tormento subirá para sempre: os que adoram a Besta e a imagem dela, e quem quer que receba a marca do seu nome, nunca tem descanso, nem de dia, nem de noite...» Mensagem aos cristãos -* 12 Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. 13 Ouvi, então, uma voz que vinha do céu, dizendo: «Escreva: Felizes os mortos, aqueles que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompanham.»

O JULGAMENTO -* 14 Depois disso olhei: havia uma nuvem branca, e sobre a nuvem alguém estava sentado. Parecia um Filho de Homem. Tinha na cabeça uma coroa de ouro, e nas mãos uma foice afiada. 15 Nessa hora, outro Anjo saiu do Templo, gritando em alta voz para aquele que estava sentado na nuvem: «Lance sua

Page 31: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

31

foice e ceife. Chegou a hora da colheita, pois a lavoura da terra está madura.» 16 Aquele que estava sentado na nuvem lançou a foice na terra, e a terra foi ceifada. 17 Nessa hora, saiu do Templo do céu outro Anjo. Também ele tinha nas mãos uma foice afiada. 18 Do altar saiu outro Anjo, o Anjo que tem poder sobre o fogo. Ele gritou em alta voz para o outro que segurava a foice afiada: «Lance a foice e colha os cachos da videira da terra, porque as uvas já estão maduras.» 19 O Anjo lançou a foice afiada na terra e colheu as uvas da videira da terra. Depois despejou as uvas no grande lagar do furor de Deus. 20 O lagar foi pisado fora da cidade, e dele saiu sangue que subiu até a altura do freio dos cavalos, numa extensão de trezentos quilômetros. -------------------------------------------------------------------------------- * 14,1-20: O capítulo apresenta uma visão que antecipa o que vai acontecer: os cristãos testemunham o Evangelho no ambiente dominado pelo Dragão e pela Besta, e o resultado final é o julgamento. 1-5: O povo de Deus está com o Cordeiro vitorioso. Eles pertencem a Deus e ao Cordeiro (a marca na fronte). O cântico novo é o anúncio do julgamento e da salvação. Só o povo de Deus pode aprender esse cântico, porque só ele conhece o projeto de Deus: Não se prostitui, nem mente, porque não se submete aos falsos absolutos. São fiéis a Deus (virgens) e seguem o Cordeiro, dando testemunho de Jesus até o fim. * 6-7: O Evangelho eterno é o livrinho de 10,2. Seu conteúdo é a palavra definitiva de Deus dirigida a todos: temer o único Deus vivo e verdadeiro e só a ele dar glória. O Evangelho é julgamento, porque denuncia os falsos absolutos e convida todos à conversão. * 8: O anúncio do Evangelho desmascara os ídolos e, como conseqüência, faz desmoronar a cidade construída sobre ídolos (prostituição). * 9-11: Os que seguem e adoram a Besta serão destruídos com a cidade idolátrica. Quem não se converte ao verdadeiro Deus, perece com os ídolos (taça da ira). * 12-13: Em meio ao julgamento, o povo de Deus persevera no testemunho e na confiança, sabendo que o testemunho o acompanha diante de Deus. * 14-20: O anúncio do Evangelho produz o julgamento, presidido por Jesus, o Filho do Homem (Dn 7,13-14). Ele é o Senhor da história (sentado), é divino (nuvem branca), é rei (coroa) e tem o instrumento para julgar (foice). A ceifa é o julgamento que separa os bons dos maus (cf. Mt 13,24-30). A vindima é o julgamento que condena os maus em resposta ao pedido dos mártires (6,10).

Page 32: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

32

APOCALIPSE CAPITULO 15

Preparação do julgamento definitivo -* 1 Eu vi no céu outro sinal grande e maravilhoso: havia sete Anjos prontos com sete pragas. Estas eram as últimas pragas, pois com elas o furor de Deus ficará consumado. 2 Vi também como que um mar de vidro misturado com fogo. Sobre esse mar, estavam de pé todos aqueles que venceram a Besta, a imagem dela e o número do nome da Besta. Os vencedores seguravam as harpas de Deus 3 e entoavam o cântico de Moisés, o servo de Deus, e o cântico do Cordeiro: «Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-poderoso! Teus caminhos são justos e verdadeiros, Rei das nações! 4 Quem não temeria, Senhor, e não glorificaria o teu nome? Sim! Só tu és santo! Todas as nações virão ajoelhar-se diante de ti, porque tuas justas decisões se tornaram manifestas!» 5* Depois disso vi abrir-se o Templo da Tenda do Testemunho que está no céu. 6 Saíram do Templo os sete Anjos com as sete pragas. Os Anjos estavam vestidos de linho puro e brilhante, e cingidos à altura do peito com cintos de ouro. 7 Um dos quatro Seres vivos entregou aos sete Anjos sete taças de ouro, cheias do furor do Deus que vive para sempre. 8 O Templo se encheu de fumaça, por causa da glória e do poder de Deus. Ninguém podia entrar no Templo, enquanto não estivessem consumadas as sete pragas dos sete Anjos. -------------------------------------------------------------------------------- * 15,1-4: O autor prepara o setenário das taças. Depois de atravessar o mar Vermelho, Moisés cantou o hino que celebrava a libertação (Ex 15). Aqui, os que venceram a Besta cantam o cântico de Moisés e do Cordeiro, o novo Moisés, que liberta e conduz o povo à terra prometida, a nova Jerusalém (Ap 21). O cântico celebra a justiça divina que provocará a conversão dos pagãos. * 5-8: O autor retoma a descrição interrompida em 11,19, pois a arca da Aliança ficava no santuário da Tenda do Testemunho (Ex 25,22). O projeto de Deus vai ser executado (os Anjos saem do Templo). A taça é símbolo do destino (17,4; 18,6). Cada um sofre as conseqüências dos próprios atos e escolhas. O julgamento, que é a ira de Deus (Sl 75,9), é escolhido livremente pelo próprio homem quando não aceita o convite do Evangelho.

Page 33: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

33

APOCAPIPSE CAPITULO 16

O JULGAMENTO DEFINITIVO * 1 Depois ouvi: do Templo vinha uma voz forte, que dizia aos sete Anjos: «Vão! Despejem pela terra as sete taças do furor de Deus!» 2 Saiu o primeiro Anjo, e despejou sua taça na terra. E todas as pessoas que tinham a marca da Besta e todas as que adoravam a imagem da Besta ficaram com o corpo cheio de úlceras malignas e dolorosas. 3 O segundo Anjo despejou sua taça no mar. E o mar virou sangue, como sangue de um morto. E todos os seres vivos do mar morreram. 4 O terceiro Anjo despejou sua taça nos rios e nas fontes. E os rios e fontes viraram sangue. 5* Ouvi, então, o Anjo das águas dizer: «Justo és tu, Aquele-que-é e que-era, ó Santo, porque julgaste essas coisas. 6 Essa gente derramou o sangue de santos e profetas, e tu deste a eles sangue para beber! Eles merecem isso!» 7 Ouvi, então, a voz do altar: «Sim, Senhor Deus Todo-poderoso, teus julgamentos são verdadeiros e justos.» 8 O quarto Anjo despejou sua taça no sol. E o sol recebeu permissão de queimar os homens com fogo. 9* E os homens ficaram tão abrasados com esse calor intenso, que começaram a blasfemar contra o nome do Deus que tem poder sobre essas pragas. Mas não se converteram para dar glória a Deus. 10 O quinto Anjo despejou sua taça sobre o trono da Besta, e o reino dela ficou em trevas. Os homens mordiam a língua de dor. 11 Blasfemaram contra o Deus do céu por causa da dor e das feridas, mas não se converteram de sua conduta. 12 O sexto Anjo despejou sua taça sobre o grande rio Eufrates. A água do rio secou, e os reis do Oriente ficaram de caminho livre para atacar. 13* Nessa hora eu vi: da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do falso profeta saíram três espíritos impuros que pareciam sapos. 14 São espíritos de demônios. Fazem maravilhas, e vão até os reis de toda a terra, a fim de reuni-los para a guerra no Grande Dia do Deus Todo-poderoso. 15* (Eis que venho como um ladrão: feliz aquele que vigia e conserva suas vestes, para não andar nu e não deixar que vejam sua vergonha!). 16 Então os espíritos reuniram os reis no lugar que, em hebraico, se chama Harmagedôn. 17* O sétimo Anjo despejou sua taça no ar. Nisso, saiu uma forte voz do Templo, dizendo: «Está realizado!» 18 Houve, então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto. Desde que o homem apareceu na terra, nunca tinha acontecido terremoto assim tão violento. 19 A Grande Cidade se partiu em três pedaços, e as cidades das nações caíram. Deus se lembrou então de Babilônia, a Grande, para lhe dar o cálice do vinho do furor da sua ira. 20 As ilhas fugiram, as montanhas desapareceram. 21 Caiu

Page 34: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

34

do céu sobre os homens uma grande chuva de pedra, pedras com mais de trinta quilos. E os homens blasfemaram contra Deus por causa dessa praga de granizo, pois o seu flagelo é muito grande. -------------------------------------------------------------------------------- * 16,1-21: As sete taças apresentam o julgamento definitivo, operado pelo anúncio e testemunho do Evangelho. Antes do fim, todos têm a chance de se converter para o Deus vivo, e ter a vida. O julgamento atinge todo o universo (terra, mar, fontes, sol, trono da Besta, ar). * 5-7: A pregação do Evangelho transforma o mundo no espelho do pecado humano. A voz do altar é a voz dos mártires (6,10), reconhecendo que Deus é fiel e faz justiça. * 9.11.21: O Evangelho é convite à conversão, mas os homens podem se fechar, sofrendo as conseqüências da própria idolatria. * 13-16: Quando o mal e seus agentes são atingidos pelo anúncio do Evangelho, eles se unem com os aliados num supremo esforço para fazer frente a Deus e a seu povo. Harmagedôn significa montanha de Meguido, lugar de derrotas famosas no Antigo Testamento, tornando-se o símbolo da derrota para quem aí guerreia. * 15: Os cristãos devem vigiar para não serem enganados pelas idéias do mal e de seus agentes. Devem manter-se fiéis para não serem pegos de surpresa. * 17-21: Com a sétima taça, o julgamento de Deus se realiza inteiramente. A presença de Deus se manifesta totalmente pelo anúncio do Evangelho. Então é destruído o mundo dominado pelas Bestas (Babilônia e cidades das nações). A intervenção de Deus pelo Evangelho é grandiosa, mas os homens continuam blasfemando, isto é, servindo aos ídolos.

Page 35: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

35

APOCALIPSE CAPITULO 17

O GRANDE DIA DA CONSUMAÇÃO FINAL.

O mistério do mal -* 1 Um dos Anjos das sete taças veio me convidar: «Venha! Vou lhe mostrar como será julgada a grande prostituta, que está sentada à beira de muitas águas. 2 Os reis da terra se prostituíram com ela. Os habitantes da terra ficaram bêbados com o vinho da sua prostituição. 3 E o Anjo me levou em espírito até o deserto. Aí eu vi uma mulher sentada sobre uma Besta de cor escarlate, cheia de títulos blasfemos. A Besta tinha sete cabeças e dez chifres. 4 A mulher usava vestido cor de púrpura e escarlate. Estava toda enfeitada de ouro, pedras preciosas e pérolas. Tinha na mão um cálice de ouro cheio de abominações, que são as impurezas de sua prostituição. 5 Na fronte da mulher estava escrito um nome misterioso: «Babilônia, a Grande, a mãe das prostitutas e das abominações da terra.» 6 Reparei que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus.

Explicação do mistério do mal -* Vendo a mulher, fiquei profundamente admirado. 7 O Anjo, porém, me disse: «Por que você está admirado? Vou explicar-lhe o mistério da mulher e da Besta com sete cabeças e dez chifres que carrega a mulher. 8 A Besta que você viu, existia, mas não existe mais. Ela está para subir do Abismo, porém caminha para a perdição. Os habitantes da terra vão ficar admirados ao verem a Besta. São esses que desde a fundação do mundo não têm seu nome escrito no livro da vida. Ficarão admirados porque a Besta existia, não existe mais, mas vai aparecer de novo.

9* Aqui é preciso ter inteligência para entender: as sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada. São também sete reis. 10 Cinco já caíram, um existe, e o outro ainda não veio; mas, quando vier, ficará por pouco tempo. 11 A Besta que existia e não existe mais, ela mesma é o oitavo rei, e é também um dos sete, mas caminha para a perdição. 12* Os dez chifres que você viu são dez reis, que ainda não receberam um reino. Estes, porém, receberão autoridade como reis por uma hora apenas, juntamente com a Besta. 13 Esses reis pensam a mesma coisa: entregar o poder e a autoridade para a Besta. 14 Todos juntos farão guerra contra o Cordeiro. Mas o Cordeiro os vencerá, porque o Cordeiro é Senhor dos senhores e Rei dos reis. E com ele, vencerão também os chamados, os escolhidos e os fiéis.»

15 O Anjo continuou a me explicar: «Você viu aquela prostituta que está sentada perto de muitas águas. Essas águas são povos, multidões, nações e línguas diversas. 16* Os dez chifres que você viu, juntamente com a Besta, começarão a odiar aquela prostituta, a despojarão e a deixarão nua. Comerão suas carnes e a queimarão. 17 Pois Deus colocou no coração deles o desejo de realizarem o seu próprio plano: vão entregar sua realeza à Besta, até que as palavras de Deus estejam cumpridas. 18 Essa mulher que você viu é a Grande Cidade que está reinando sobre os reis da terra».

-------------------------------------------------------------------------------- * 17-19: João mostra que o julgamento realizado pelo anúncio do Evangelho faz aparecer a verdade; e esse julgamento tem dois aspectos: - negativo: desvenda o mistério do mal que domina as cidades, e apresenta a destruição dele (17-18); - positivo: mostra que a história caminha para a vitória do Ressuscitado. Cristo realiza a comunhão dos homens com Deus: nisto consiste o Reino (casamento do Cordeiro: Ap 19).

Page 36: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

36

* 17,1-6: A prostituta é símbolo de uma cidade idolátrica. Na época, trata-se de Roma, aqui apresentada como Babilônia, a capital da idolatria e do vício. Ela está sentada sobre a Besta escarlate, a cor do triunfo para os romanos. Os nomes blasfematórios são títulos divinos com que o imperador assegura o próprio poder. A aparência da prostituta é suntuosa (vestes, jóias), e o que ela tem a oferecer é a idolatria (prostituição) e os vícios (degradação humana, valores relativos apresentados como absolutos). Seu crime supremo é perseguir e matar todos aqueles que não aceitam adorar o poder político absoluto, nem se enganam com as propagandas ideológicas.

* 6-8: A visão das cidades, com sua aparência de riqueza e poder, é maravilhosa e hipnotiza, provocando a alienação que faz adorar a Besta. Por isso, é preciso ter senso crítico diante da realidade. A descrição da Besta lembra o título de Deus, mas ela vem do nada e caminha para o nada. O autor se refere à decadência do império romano sob Nero, e o seu ressurgimento com Vespasiano, e também a maldade de Nero que revive em Domiciano.

* 9-11: As sete cabeças são as sete colinas de Roma. São também sete reis, isto é, imperadores do séc. I. Deles já caíram cinco: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Um existe (Vespasiano), e o outro durará pouco (Tito, que reinou só dois anos). A Besta é o oitavo (Domiciano) e, ao mesmo tempo, é um dos sete, ou seja, o imperador Domiciano que agora persegue os cristãos, reencarnando a crueldade de Nero.

* 12-15: Os dez chifres são os países dominados por Roma, unidos a ela para lutarem contra Cristo, que os vencerá juntamente com seus discípulos. As águas são as multidões seduzidas pelo absolutismo romano.

* 16-18: O julgamento se realiza através da luta entre as nações que buscam o poder. Os dominados se revoltam e destroem o dominador.

CARACTERISTICAS DA MULHER MONTADA NA BESTA

1. ELE SE ACHAVA SENTADA SOBRE MUITAS ÁGUAS = MUITAS ÁGUAS, QUER DIZER MUITOS POVOS. 2. OS REIS DA TERRA SE PROSTITUIRAM COM ELA, COM O VINHO DA SUA DEVASSIDÃO, E EMBEBEDARAM

OS HABITANTES DA TERRA. 3. A BESTA ERA DE COR ESCARLATE, REPLETA DE NOMES DE BLASFEMIAS, COM SETE CABEÇAS E DEZ

CHIFRES.

ESCARLATE ERA A COR DE ROMA, QUE A IGREJA ROMANA USA NAS VESTES SACERDOTAIS COMO HERANÇA DO IMPÉRIO.

NOMES DE BLASFEMIAS; É IGUAL A DIZER QUE ERA DEUS, OU SEJA , SE ASSENTAR NO LUGAR DE DEUS E EXIGIR ADORAÇÃO E VENERAÇÃO. COMO ERA TÍPICO DOS IMPERADORES SE AUTO DENOMINAREM, SE AUTO PROCLAMAREM DEUS.

COM SETE CABEÇAS. = SETE É O NÚMERO DE DEUS QUE INDICA PLENITUDE, TOTALIDADE, ENTÃO A BESTA QUERIA SER IGUAL A DEUS, IMITANDO O REINO DE DEUS, IMITANDO O MESSIAS COM SETE CABEÇAS.

DEZ CHIFRE. = CHIFRES REPRESENTAVA PODER, ESSA BESTA QUERIA SER IGUAL A DEUS TINHA SETE CABEÇAS, TINHA PODER TAMBÉM PORQUE ELA TINHA DEZ CHIFRES, PORÉM O NÚMERO DEZ NA GUEMATRIA E CABALA REPRESENTA IMPERFEÇÃO, NUMERO FRACIONADO PORQUE QUANDO SE DIVIDE DEZ SEMPRE DA NÚMERO DECIMAIS. EXEMPLO 10 / 3 = 3,33 . 3,33 X 2 = 6,66. OU SEJA, ELA TINHA PODER MAS ERA UM PODER PASSAGEIRO, PORQUE ERA UM PODER DE HOMEM = 666 QUE É O NÚMERO DA BESTA, E O NÚMERO 6 É O NÚMERO DO HOMEM NA BÍBLIA.

Page 37: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

37

4. ELA ESTAVA VESTIDA DE PURPURA E ESCARLATA, ADORNADA DE OURO, DE PEDRAS PRECIOSAS E DE PÉROLAS.

5. TINHA NA MÃO UM CALICE DE OURO TRANSBORDANTE DE ABOMINAÇÕES E COM AS IMUNDICIAS DA SUA PROSTITUIÇÃO.

6. TINHA UM NOME ESCRITO NA FRONTE: BABILÔNIA, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA.

7. A MULHER ESTAVA EMBRIAGADA COM O SANGUE DOS SANTOS E DAS TESTEMUNHAS DE JESUS. POR QUE JOÃO FEZ DISTINÇÃO ENTRE OS SANTOS E AS TESTEMUNHAS DE JESUS?

SANTOS REPRESENTA O POVO DE ISRAEL QUE ERA SEPARADO DOS DEMAIS POVOS DA TERRA, SEPARADO = SANTO. CONF. EFÉSIOS CAP. 2 VERSOS 11 AO 19.

TESTEMUNHAS DE JESUS = OS GENTIOS QUE CRERAM.

8. O NOME DA BESTA ERA UMA PARÓDIA COM O NOME DO ETERNO:

AQUELE QUE ERA, QUE É E QUE HÁ DE VIR. = O NOME DO ETERNO = YAHVÉH.

A BESTA QUE ERA, E QUE NÃO É, ESTÁ PARA VIR.

A BESTA QUE ERA E NÃO É, MAS APARECERÁ.

A BESTA QUE ERA E NÃO É.. E CAMINHA PARA A DESTRUIÇÃO.

9. A LOCALIZAÇÃO ONDE ESTÁ A BESTA:

AS SETE CABEÇAS SÃO SETE MONTES = ROMA É CONHECIDA COMO A CIDADE DAS SETE MONTANHAS.

Page 38: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

38

APOCALIPSE CAPITULO 18

A DESTRUIÇÃO DA CIDADE IDOLÁTRICA * 1 Depois de tudo isso, vi outro Anjo descendo do céu. Tinha grande poder, e a terra ficou toda iluminada com a sua glória. 2 Ele gritou com voz forte: «Caiu! Caiu Babilônia, a Grande! Tornou-se morada de demônios, abrigo de todos os espíritos maus, abrigo de aves impuras e nojentas. 3 Porque ela embriagou as nações com o vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Os mercadores da terra ficaram ricos graças ao seu luxo desenfreado.» O POVO DE DEUS É SALVO 4* Ouvi outra voz que dizia: «Saia dela, meu povo. Não seja cúmplice dos pecados dela, nem atingido por suas pragas. 5 Seus pecados se amontoaram até o céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela. 6 Devolvam a ela com a mesma moeda. Paguem a ela em dobro, conforme as obras que ela fez. No cálice que ela misturou, misturem para ela o dobro. 7 O tanto que se enchia de glória e luxo, devolvam a ela agora em dor e luto. Toda cheia de si ela pensava: ‘Estou sentada como rainha. Não sou viúva nem jamais vestirei luto...' 8 Por isso, as pragas dela virão num só dia: morte, luto e fome. Ela será devorada pelo fogo, porque o Senhor Deus que a julgou é forte.»

OS PODEROSOS SE LAMENTAM * 9 Os reis da terra, que se prostituíram com ela, aqueles que participavam do seu luxo, ao enxergar a fumaça do incêndio, vão chorar e bater no peito. 10 Ficarão de longe, com medo dos sofrimentos. E dirão: «Ai, ai, a Grande Cidade! Ó Babilônia, cidade poderosa, uma hora apenas bastou para o seu julgamento!» 11 Os mercadores de toda a terra também choram e ficam de luto por causa da ruína de Babilônia, porque ninguém mais vai comprar as mercadorias deles: 12 carregamentos de ouro e prata, pedras preciosas e pérolas, linho e púrpura, seda e escarlate, madeiras perfumadas de todo tipo, objetos de marfim e de madeira preciosa, de cobre, de ferro e de mármore, 13 cravo e especiarias, perfumes, mirra e incenso, vinho e óleo, flor de farinha e trigo, bois e ovelhas, cavalos e carros, escravos e vidas humanas... 14 As riquezas que você desejava foram para longe de você! Tudo o que é grandeza e esplendor está perdido para você, e nunca, nunca mais será encontrado! 15 Os mercadores que vendiam seus produtos à Grande Cidade e que se enriqueceram às custas dela, vão ficar ao longe, com medo dos sofrimentos, vão chorar e vestir luto. 16 E dirão: «Ai, ai, ó Grande Cidade! Você vestia linho puro, roupas de púrpura e escarlate. Você se enfeitava com ouro, pedras preciosas e pérolas! 17 Bastou uma hora para a sua riqueza virar nada!» Todos os pilotos e navegadores, marinheiros e quantos trabalham no mar ficaram ao longe. 18 Viram a fumaça do incêndio, e gritaram: «Quem era igual à Grande Cidade?» 19 Esses homens do mar jogaram cinza na cabeça, choraram, ficaram de luto, e gritavam: «Ai, ai, ó Grande Cidade! Com sua grandeza todos os que tinham navios no mar acabaram se enriquecendo. Bastou uma hora para você se acabar!

Page 39: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

39

O POVO DE DEUS EXULTA 20* Alegre-se, ó céu, por causa dela, e vocês também, santos, apóstolos e profetas, pois Deus a julgou com justiça!» 21* Nessa hora, um Anjo forte levantou uma pedra, do tamanho de uma pedra de moinho, e a jogou no mar, dizendo: «Com esta força será jogada Babilônia, a Grande Cidade. E nunca mais será encontrada. 22 E o canto de harpistas e músicos, de flautistas e tocadores de trombeta, em você nunca mais se ouvirá; e nenhum artista de arte alguma em você jamais se encontrará; e o canto do moinho em você nunca mais se ouvirá; 23 e a luz da lâmpada nunca mais em você brilhará; e a voz do esposo e da esposa em você nunca mais se ouvirá. Porque os seus mercadores eram os grandes da terra, e com magia você enfeitiçou todas as nações. 24 Nela foi encontrado o sangue de profetas e santos, e de todos os que foram imolados sobre a terra.» -------------------------------------------------------------------------------- * 18,1-3: O Evangelho desmascara e desfaz a confusão da cidade idolátrica, que no tempo era Roma, símbolo do paganismo e da tirania. A causa da ruína é a idolatria (prostituição). * 4-8: O povo de Deus não é destruído porque não segue os ídolos. A lei do talião (tal culpa, tal pena) mostra que o mal é autodestruidor (vv. 6-7). * 9-19: A queda da cidade provoca a lamentação daqueles que usufruíam do materialismo da cidade idolátrica. A primeira lamentação é a dos reis da terra (poder político); a segunda é a dos mercadores (poder econômico); a terceira é a dos navegadores (comunicações). Os três representam as forças que dominam a cidade a serviço dos ricos e poderosos. * 20: O povo de Deus exulta, porque Deus atendeu o pedido dos mártires e fez justiça. * 21-24: Assim como a pedra desaparece na água, também a cidade idolátrica desaparece frente ao anúncio do Evangelho. A vitória de Deus é radical.

Page 40: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

40

APOCALIPSE CAPITULO 19 A CELEBRAÇÃO DA VITÓRIA * 1 Depois disso, ouvi um forte barulho de uma grande multidão no céu, aclamando: «Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, 2 porque seus julgamentos são verdadeiros e justos. Sim! Deus julgou a grande Prostituta, que corrompeu a terra com a sua prostituição, e vingou nela o sangue dos seus servos.» 3 A multidão continuou o canto: «Aleluia! Dela sobe a fumaça para sempre!» 4 Os vinte e quatro Anciãos e os quatro Seres vivos se ajoelharam diante do Deus que está sentado no trono, e disseram: «Amém! Aleluia!» 5 Nessa hora, saiu do trono uma voz convidando: «Louvem o nosso Deus, todos os seus servos, todos os que o temem, pequenos e grandes!»

A PROMESSA DA ALIANÇA * 6 Depois, ouvi o rumor de uma grande multidão. Parecia o estrondo de águas torrenciais e o ribombar de fortes trovões. A multidão aclamava: «Aleluia! O Senhor, o Deus Todo-poderoso passou a reinar. 7 Vamos ficar alegres e contentes, vamos dar glória a Deus, porque chegou o tempo do casamento do Cordeiro, e sua esposa já está pronta: 8 concederam que ela se vestisse de linho puro e brilhante,» - pois o linho representa o comportamento justo dos santos. 9 Logo em seguida, o Anjo me disse: «Escreva: Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro.» E disse ainda: «Estas são as verdadeiras palavras de Deus.» 10* Eu caí de joelhos para adorar o Anjo, mas ele me disse: «Não! não faça isso! Eu sou um servo como você e como os seus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus. É a Deus que você deve adorar!» Com efeito, o espírito da profecia é o testemunho de Jesus. CRISTO VENCE AS FORÇAS DO MAL 11 Vi, então, o céu aberto: apareceu um cavalo branco, e o seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e combate com justiça. 12 Seus olhos são chama de fogo. Sobre sua cabeça há muitos diademas. E ele traz escrito um nome que ninguém conhece, a não ser ele mesmo. 13 Está vestido de um manto embebido em sangue, e é chamado pelo nome de Palavra de Deus. 14 Os exércitos do céu o acompanham montados em cavalos brancos, com roupas de linho branco e brilhante. 15 Da sua boca sai uma espada afiada para com ela ferir as nações. Ele é quem apascentará as nações com cetro de ferro. Ele é quem pisa o lagar do vinho do furor da ira de Deus, o Todo-poderoso. 16 No manto e na coxa ele tem um nome escrito: «Rei dos reis e Senhor dos senhores.» 17* Vi depois um Anjo em pé no sol. Ele gritou com voz forte a todas as aves que voavam no meio do céu: «Venham! Reúnam-se para o grande banquete de Deus, 18 para comer carnes de reis, carnes de chefes militares, carnes de poderosos, carnes de cavalos e cavaleiros, carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes.» 19 Vi, então, a Besta reunida com os reis da terra e com seus exércitos, para guerrear contra o Cavaleiro e seu exército. 20 A Besta, porém, foi pega junto com o falso profeta, que operava maravilhas na presença da Besta. Foi assim que ela seduziu todos os que haviam recebido a marca da Besta e adorado sua imagem. Tanto a Besta como o falso profeta foram jogados vivos no lago de fogo, que ardia com enxofre. 21 Os outros foram mortos pela espada que saía da boca do Cavaleiro. E as aves se fartaram com as carnes deles.

Page 41: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

41

-------------------------------------------------------------------------------- * 19,1-5: Deus manifesta sua glória, poder e salvação, ao destruir aquela que destruía a terra: ele faz justiça, reabilitando a honra dos perseguidos e mártires. * 6-9: Deus reina através do testemunho de Jesus, dado pelos cristãos. A realeza de Deus consiste em dirigir a história, para que se realize a Aliança, simbolizada no casamento. Ela é prometida agora, e será concluída no fim dos tempos (Ap 21). Jesus ressuscitado se une com a nova humanidade na Aliança de justiça (linho branco) e de amor. O casamento é o sinal da Aliança consumada: a união dos homens com Deus e entre si. * 10: A profecia cristã consiste em dar o testemunho de Jesus, adorando só a Deus. Não se deve adorar os transmissores da fé (pregadores, teólogos, ministros). * 11-16: João apresenta Jesus como o Senhor absoluto da história (cavaleiro). O branco é a cor da vitória. Ele é o Messias, a encarnação da justiça de Deus. Tem a ciência divina (olhar de fogo) e poder universal (muitos diademas). «Conhecer o nome» significa ter poder sobre alguém; ora, ninguém tem poder sobre Jesus. O sangue é o dos inimigos destruídos pela justiça de Deus. Jesus é a Palavra de Deus, anunciada e vivida pela multidão dos cristãos. A espada é o Evangelho que julga, condenando ou salvando. * 17-21: O Anjo anuncia a vitória sobre a Besta e o falso profeta, agentes do mal. A carnificina mostra que a justiça de Deus é implacável e atinge a todos, derrotando as forças idolátricas e suas ideologias. A vitória vem através do anúncio do Evangelho, que derrota a mentira e conduz ao Deus vivo e à verdadeira vida, que é comunhão entre os homens na justiça e no amor. O lago de fogo é o lugar do castigo eterno.

Page 42: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

42

APOCALIPSE CAPITULO 20

O FIM DOS TEMPOS JÁ COMEÇOU 1 Depois disso vi um Anjo descer do céu. Nas mãos tinha a chave do Abismo e uma grande corrente. 2 Ele agarrou o Dragão, a antiga Serpente, que é o Diabo, Satanás. Acorrentou o Dragão por mil anos, 3 e o jogou dentro do Abismo. Depois trancou e lacrou o Abismo, para que o Dragão não seduzisse mais as nações da terra, até que terminassem os mil anos. Depois disso, o Dragão vai ser solto, mas por pouco tempo. 4 Vi então tronos, e os que se sentaram nos tronos receberam o poder de julgar. Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho e da Palavra de Deus. Vi também as vidas daqueles que não tinham adorado a Besta, nem a imagem dela, nem tinham recebido na fronte ou na mão a marca da Besta. Eles voltaram a viver e reinaram com Cristo durante mil anos. 5 Os outros mortos, porém, não voltaram a viver enquanto não terminaram os mil anos. Essa é a primeira ressurreição. 6 Feliz e santo aquele que participa da primeira ressurreição! A segunda morte não tem poder sobre eles e eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e com Cristo reinarão durante mil anos. O PROCESSO DA HISTÓRIA 7 Quando se completarem os mil anos, Satanás será solto da prisão do Abismo. 8 Ele vai sair e seduzir as nações dos quatro cantos da terra, Gog e Magog, reunindo-os para o combate. O número deles é como a areia do mar. 9 Eles se espalharam por toda a terra e cercaram o acampamento dos santos e a Cidade amada. Mas desceu fogo do céu, e eles foram devorados. 10 O Diabo, que tinha seduzido a todos eles, foi jogado no lago de fogo e enxofre, onde já se achavam a Besta e o falso profeta. Lá eles serão atormentados noite e dia para sempre.

A CONSUMAÇÃO FINAL 11 Depois eu vi um grande trono branco e Alguém sentado nele. O céu e a terra fugiram de sua presença e não deixaram rastro. 12 Vi então os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono. E foram abertos livros. Foi também aberto outro livro, o livro da vida. Então os mortos foram julgados de acordo com sua conduta, conforme o que estava escrito nos livros. 13 O mar devolveu os mortos que nele estavam. A morte e a morada dos mortos entregaram de volta os seus mortos. E cada um foi julgado conforme sua conduta. 14 A morte e a morada dos mortos foram, então, jogadas no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte. 15 Quem não tinha o nome escrito no livro da vida foi também jogado no lago de fogo. -------------------------------------------------------------------------------- * 20,1-15: João apresenta agora a dinâmica do fim dos tempos: com a morte e ressurreição de Jesus, o fim da história já começou, e se vai processando ao longo da história, até chegar à consumação final, quando a Aliança entre Deus e os homens se tornar plenamente manifesta. 1-6: Pela morte e ressurreição, Jesus conquistou a vitória sobre o mal (Dragão), que já não tem plena liberdade para agir. Mil anos é o tempo que vai da morte de Jesus até a consumação final (equivale a três anos e meio, ou quarenta e dois meses, ou mil, duzentos e sessenta dias). A ação do Dragão é passageira e fraca (pouco tempo). Entre a ressurreição de Jesus e a consumação final, o povo de Deus participa da realeza de Jesus e do seu julgamento. A primeira ressurreição é a conversão e o batismo, é a passagem da morte do pecado para a vida em Cristo. Para os convertidos não acontece a morte definitiva (segunda morte). * 7-10: Durante a história, o povo de Deus (acampamento dos santos e a Cidade amada) continua em luta contra as forças do mal (Satanás), mas é protegido por Deus (fogo do céu). Gog e Magog são

Page 43: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

43

nomes simbólicos que representam os poderes da idolatria, inimigos de Deus e do seu povo. Mas o poder do mal será completamente destruído (lago de fogo). * 11-15: O fim da história é o julgamento, no qual se manifesta a vida. A morte e o mal vão ser destruídos, e os homens serão julgados conforme viveram. O trono evoca a presença do juiz. Este céu e terra desaparecem, porque tudo se renovará. O julgamento de Deus não é arbitrário: quem pronuncia a sentença é a própria vida de cada um. O livro da vida é o livro do Cordeiro (13,8); nele está o nome dos que deram o testemunho de Jesus. A morte e a morada dos mortos personificam os poderes do mal. São destruídos, porque doravante tudo será vida.

Page 44: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

44

APOCALIPSE CAPITULO 21

JERUSALÉM-ESPOSA 1 Vi, então, um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. 2 Vi também descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, uma Jerusalém nova, pronta como esposa que se enfeitou para o seu marido. 3 Nisso, saiu do trono uma voz forte. E ouvi: «Esta é a tenda de Deus com os homens. Ele vai morar com eles. Eles serão o seu povo e ele, o Deus-com-eles, será o seu Deus. 4 Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram!» 5 Aquele que está sentado no trono declarou: «Eis que faço novas todas as coisas.» 6 E me disse ainda: «Elas se realizaram. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Para quem tiver sede, eu darei de graça da fonte de água viva. 7 O vencedor receberá esta herança: eu serei o Deus dele, e ele será meu filho. 8 Quanto aos covardes, infiéis, corruptos, assassinos, imorais, feiticeiros, idólatras, e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.»

JERUSALÉM-CIDADE 9 Depois disso, um dos sete Anjos das sete taças cheias com as últimas pragas, veio até mim e disse-me: «Venha! Vou lhe mostrar a esposa, a mulher do Cordeiro.» 10 E me levou em espírito até um grande e alto monte. E mostrou para mim a Cidade Santa, Jerusalém que descia do céu, de junto de Deus, 11 com a glória de Deus. Seu esplendor é como de uma pedra preciosíssima, pedra de jaspe cristalino. 12 * Ela está cercada por alta e grossa muralha, com doze portas. Sobre as portas há doze Anjos. Cada porta tem um nome escrito: os nomes das doze tribos de Israel. 13 São três portas no lado do oriente, três portas ao norte, três portas ao sul e três portas no lado do poente. 14 A muralha da cidade tem doze pilares. E nos pilares está escrito o nome dos doze apóstolos do Cordeiro. 15 Aquele que estava falando comigo usava uma vara de ouro para medir a cidade, os portões e a muralha. 16 A cidade é quadrada: o comprimento é igual à largura. O Anjo mediu a cidade com a vara: doze mil estádios. O comprimento, largura e altura são iguais. 17 O Anjo mediu a muralha: cento e quarenta e quatro côvados. Ele media com medidas humanas. 18 A muralha é de jaspe. A cidade é de ouro puro, tão puro que parece vidro transparente. 19 Os pilares da muralha da cidade são recamados com todo tipo de pedras preciosas: o primeiro pilar é de jaspe; o segundo de safira, o terceiro de calcedônia, o quarto de esmeralda, 20 o quinto de sardônica, o sexto de cornalina, o sétimo de crisólito, o oitavo de berilo, o nono de topázio, o décimo de crisópraso, o décimo primeiro de jacinto e o décimo segundo de ametista. 21* As doze portas são doze pérolas. Cada uma das portas é feita de uma só pérola. A praça da cidade é de ouro puro, como vidro transparente. 22* Não vi na Cidade nenhum Templo, pois o seu Templo é o Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. 23 A Cidade não precisa do sol nem da lua para ficar iluminada, pois a glória de Deus a ilumina e sua lâmpada é o Cordeiro. 24* As nações caminharão à sua luz, e os reis da terra trarão a sua glória para ela. Suas portas nunca se fecharão de dia, pois aí jamais haverá noite - e a ela trarão a glória e o tesouro das nações. Nela jamais entrará qualquer imundície, nem os que praticam abominação e mentira. Vão entrar somente aqueles que têm o nome escrito no livro da vida do Cordeiro. -------------------------------------------------------------------------------- * 21,1-22,5: João mostra que a meta da história, para além do tempo, é a plena realização da Aliança de

Page 45: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

45

Deus com a humanidade, numa vida inteiramente imortal. O fim da história é a vida. A humanidade nova é apresentada como Nova Jerusalém-Esposa e Nova Jerusalém-Cidade. 21,1-4: A nova relação que existe entre Deus e os homens é apresentada como céu novo e terra nova. O mar já não existe, porque os antigos o consideravam moradia dos poderes do mal. A Nova Jerusalém é a cidade que Deus vai construir como dom (vem do céu) para os homens. É a Esposa do Cordeiro, o novo Adão que esposa a nova Eva. Realiza-se a Aliança de Deus com toda a humanidade. Ela se tornou a Tenda (Ex 25,8), na qual Deus está presente. Doravante tudo é vida e realização plena. 5-8: Deus promete a renovação de tudo, pois ele é o Senhor da história, a fonte e o fim da vida. Ele dá a vida a quem a desejar. Quem for perseverante entrará para a realidade da Aliança: tornar-se-á filho, participando da realidade do próprio Cristo. O fato de conhecer o fim, porém, não dispensa a conversão. 9-11: João apresenta agora a nova humanidade como cidade perfeita e deslumbrante. Esta imagem mostra a beleza e santidade da Aliança com Deus. A humanidade é a esposa, o reverso da prostituta. João a apresenta com traços da antiga Babilônia histórica: quadrada, atravessada por uma avenida ao longo do rio, e com jardins. Sugere, assim, que a Jerusalém celeste é a Babilônia, prostituta purificada e transformada pelo Evangelho. Agora, ela reflete a glória de Deus, que nela está presente. 12-17: As formas e medidas são perfeitas: muralhas com cento e quarenta e quatro côvados (doze x doze), doze portas com os nomes das doze tribos, doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos. Ela é quadrada e cúbica, como o Santo dos santos no Templo. Sua perfeição é inimaginável (doze mil). Ela é uma cidade universal, aberta para toda a humanidade (portas voltadas para os quatro pontos cardeais). 11.18-21: O brilho do ouro e das pedras preciosas mostra que a cidade é imagem do brilho de Deus (4,3). É a humanidade plenamente realizada, à imagem e semelhança do Criador. 22-23: Deus está presente nessa humanidade. Não é preciso mais nenhum meio para ligá-la com Deus: nem Templo, nem liturgia, nem sacerdócio. É o momento do face-a-face. Conseqüentemente, também não existem outras mediações: política, economia, propaganda, comércio etc. A comunhão total com Deus leva à comunhão total dos homens entre si. 24-27: A nova humanidade é lugar de partilha e de reunião fraterna. As nações repartem suas riquezas para o bem comum. Mas, a realização da nova humanidade supõe uma conversão agora, no presente da história: deixar os ídolos para ser inscrito no livro do Cordeiro. A noite não existe, porque os antigos a consideravam moradia do mal.

Page 46: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

46

APOCALIPSE CAPITULO 22

1* O Anjo mostrou para mim um rio de água viva; era brilhante como cristal; o rio brotava do trono de Deus e do Cordeiro. 2 No meio da praça, de cada lado do rio, estão plantadas árvores da vida; elas dão fruto doze vezes por ano; todo mês elas frutificam; suas folhas servem para curar as nações. 3 Nunca mais haverá maldições.Nela estará sempre o trono de Deus e do Cordeiro, seus servos lhe prestarão culto. 4 Verão sua face, e seu nome estará sobre suas frontes. 5 Não haverá mais noite: ninguém mais vai precisar da luz da lâmpada, nem da luz do sol. Porque o Senhor Deus vai brilhar sobre eles, e eles reinarão para sempre.

EPÍLOGO: JESUS VEM LOGO 6 Então o Anjo me disse: «Estas palavras são fiéis e verdadeiras, pois o Senhor, o Deus que inspira os profetas, enviou o seu Anjo para mostrar aos seus servos o que deve acontecer muito em breve. 7* Eis que eu venho em breve. Feliz aquele que observa as palavras da profecia deste livro.» 8 Eu, João, fui ouvinte e testemunha ocular dessas coisas. Tendo-as visto e ouvido, ajoelhei-me para adorar o Anjo, aquele que me havia mostrado essas coisas. 9* Mas ele não deixou: «Não! Não faça isso! Eu sou servo como você, como os seus irmãos, os profetas, e como aqueles que observam as palavras deste livro. É a Deus que você deve adorar.» 10* O Anjo falou ainda: «Não guarde em segredo as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo. 11 O injusto, que continue com sua injustiça; o sujo, que continue com suas sujeiras; o justo, pratique ainda a justiça; o santo, continue a se santificar! 12 Eis que venho em breve, e comigo trago o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho. 13 Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o último, o Princípio e o Fim. 14 Felizes aqueles que lavam suas roupas para terem poder sobre a árvore da Vida, e para entrarem na Cidade pelas portas. 15 Vão ficar de fora os cães, os feiticeiros, os imorais, os assassinos, os idólatras, e todos os que amam ou praticam a mentira.» 16 Eu, Jesus, enviei o meu Anjo. Ele atestou para vocês todas essas coisas a respeito das igrejas. Eu sou o Rebento da família de Davi, a brilhante estrela da manhã. 17 O Espírito e a Esposa dizem: «Vem!» Aquele que escuta isso, também diga: «Vem!» Quem estiver com sede, venha! E quem quiser, receba de graça a água da vida. 18 A quem está escutando as palavras da profecia deste livro, eu declaro: «Se alguém acrescentar qualquer coisa a este livro, Deus vai acrescentar a essa pessoa as pragas que aqui estão descritas. 19 E se alguém tirar alguma coisa das palavras do livro desta profecia, Deus vai retirar dessa pessoa a sua parte na árvore da Vida e na Cidade Santa, que estão descritas neste livro.» 20 Aquele que atesta essas coisas diz: «Sim! Venho muito em breve.» Amém! Vem, Senhor Jesus! 21 A graça do Senhor Jesus esteja com todos. Amém! -------------------------------------------------------------------------------- * 22,1-5: A cidade por dentro é um novo paraíso. Ela é governada por Deus e por Jesus, em aliança com os homens. A nova humanidade recebe a vida de Deus, o Espírito (rio de água da vida). Todos têm acesso à plena realização (árvores da vida que dão fruto sempre), pois já não há proibição (maldição: Gn 3,22-24). Doravante, há um só culto dos homens a Deus e a Jesus Cristo: todos pertencem definitivamente a Deus, e com ele reinarão para sempre. * 6-21: O final do Apocalipse é um diálogo entre João, o Anjo e Jesus com a assembléia cristã, onde se faz a leitura do livro: uma reunião litúrgica, onde se explica, se medita e se aplica a mensagem.

Page 47: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

47

* 7: A vinda de Jesus é progressiva e se manifesta através do testemunho daqueles que continuam o que ele fez: manifestar a verdade, revelar o amor do Pai e provocar a conversão. É assim que a constante vinda de Jesus destrói o mundo injusto, para construir o mundo novo. * 9: Cf. nota em Ap 19,10. * 10-11: O conteúdo do livro é urgente, e os cristãos não devem permanecer passivos, pois o testemunho deles leva os homens a uma decisão. O projeto de Deus vai realizar-se, e já não é possível viver uma vida dupla.

Page 48: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

48

SIMBOLOGIAS DO APOCALIPSE SETE POSITIVO: Sete. É a plenitude divina que se expressa nos espíritos (Ap 1, 4; 3, 1; 4, 5; 5, 6), anjos (1, 20; 8, 2. 6), candelabros (1, 12.20; 2, 1), astros (1, 16.20; 2, 1), igrejas (1, 4.11.20) e nos cornos e olhos do Cordeiro, que refletem seu poder (5, 6). Sete são também os acontecimentos finais que marcam o juízo de Deus sobre o mundo: os selos (5, 1.5; 6, 1), as trombetas (8, 2.6), os trovões (10, 3.4) e as taças destruidoras (15, 1.6.7).

SETE NEGATIVO: Há também um sete negativo que se expressa nas cabeças do Dragão e da Besta (12, 2; 13, 1; 17, 3.7), nas colinas (de Roma) que formam o assento da Prostituta, nos reis perversos da história (17, 9) e, sobretudo, no 7º imperador, que permanece pouco tempo…, pois um sete humano é sempre perversão, é idolatria. Quando este imperador desapareça, voltará como oitavo um dos anteriores, porém Cristo o destruirá (17, 10-11). * 18: O autor identifica a primeira Besta com o imperador romano da época. O número seiscentos e sessenta e seis, conforme o valor numérico das letras em hebraico, corresponde ao nome de César Nero. O imperador Domiciano é visto como a ressurreição de Nero e da sua crueldade. DOZE Doze. Número perfeito de Deus, como mostram as estrelas da coroa da Mulher (12, 1), e da história messiânica, que se expressa pelos filos de Israel e pelos apóstolos do Cristo, vinculados aos anjos de Deus e aos cimentos e portas da Jerusalém perfeita (21, 12-14), com suas medidas e pedras preciosas (21, 16.21). Desde esse fundo devem ser entendidos seus múltiplos: os 24 Anciãos (dois vezes doce) que formam a corte de Deus (4, 4) e os 144.000 triunfadores (doze mil vezes doze mil) do Monte Sião (14, 1; cf. 7, 4). A partir do que se coloca anteriormente, pode-se interpretar melhor o Número da Besta, que é um número muito concreto, vinculado à vida econômica do império, à injustiça dos ricos. Assim, se diz que o Falso Profeta, que é a propaganda (filosofia, religiões, meios de comunicação), que se põem a serviço da primeira Besta, "também fez com que todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, livres e escravos levassem gravada uma marca na mão direita ou na fronte. E somente quem levava gravado o nome da Besta ou a cifra de seu nome poderia comprar ou vender. Aqui se deve aplicar a sabedoria. Quem se sinta inteligente, tente decifrar o Número da Besta, que é o número humano: seis, seis, seis" (Ap 13, 16-18). APOCALIPSE 13: 16 A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja

dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, 17 para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o

número do seu nome. 18 Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de

homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. Recordemos que o império romano quis apresentar-se como primeira sociedade global, capaz de oferecer meios de comunicação entre tribos, povos, línguas e nações (cf. Ap 13, 7). Aparecia como milagre de convivência, âmbito de paz para os homens. Não era uma Nação-estado, mas o Estado-

Page 49: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

49

império onde cabiam todas as nações, cada uma com sua própria identidade e diferenças. Esse foi seu "milagre", aquilo que nunca se havia conseguido sobre o mundo, de tal forma que muitos veneraram a Roma como Deusa, como revelação de Deus na história. Por isso, seu Número e signo devia ser a eternidade: a Roma Eterna, sentada no trono das grandes águas (cf. Ap 17, 3). Pois bem, contra essa divinização, resistem e protestam os cristãos, contra ela se eleva o Apocalipse, mostrando através desse Número que, no fundo, Roma não é mais do que um signo de impotência e morte, um número incapaz de oferecer plenitude e salvação aos homens. Os romanos acreditavam-se enviados por Deus (pelos deuses) para fundar e expandir sua ordem divina sobre o mundo, de maneira que eles deveriam ser 7-7-7 (como os astros do céu, como a semana sagrada, como Deus). Contra isso, os cristãos sabem que o número de Roma é um simples 6-6-6, o número de uma criatura má, que quer divinizar-se, oprimindo aos demais, porém que acabará por destruir-se. NUMERO 666 “Quando o nome de ‘Nero Caesar’ passa para o equivalente hebraico é ‘Nrom Ksr’. Nas línguas primitivas comumente usavam-se letras para a numeração e contas, como era o caso do sistema romano. O V. valia 5; o X, 10; o C, 100 etc. Assim, no hebraico equivalente numérico seria: N igual a 50; R, 200; O, 6, N, 50;; K, 100; S, 60 e R, 200. O total dava 666” (Idem, pág. 187). O NOME MAIS PROVÁVEL Diante de tantas bestas, cabe lembrar que, se João estava escrevendo no período da grande tribulação, (Mateus, 24: 15, 21; Daniel, 12: 1), em que Jerusalém estava sendo pisada pelos gentios (Lucas, 21: 20, 24; Daniel, 12: 11; Apocalipse, 11: 2)), considerando-se que Nero iniciou a perseguição aos cristãos por volta do ano 64, levando à destruição de Jerusalém em 70, provavelmente o nome de Nero, hebraico NRON CZR (veja explicação retro) deveria estar passando por sua cabeça. Como a palavra grega lateinos” (pessoa de língua latina), somando os valores gregos 30 (L), 1 (A), 300 (T), 5 (E), 10 (I), 50 (N), 70 (O) e 200 (S), forma o número 666, parece ainda mais adequado que João estivesse referindo-se a esse nome, vez que o império visto como a besta era o de língua latina. IMPÉRIO ROMANO? Aqui podemos encontrar elementos harmônicos com as profecias. Nero, o instaurador da perseguição, começou aproximadamente trinta anos após a morte de Jesus, coincidindo com a diferença entre os “mil duzentos e noventa dias” de Dan. 12, 11) e os “mil duzentos e sessenta dias” constantes dos outros textos. O seu nome formava o número 666, como acima demonstrado. Se João escrevia próximo do ano 100, estaria sob o domínio do sexto imperador a contar de Nero. O imperador seguinte deveria durar pouco tempo. O oitavo deveria ser a “besta que era, não é e está para vir do abismo” (Apoc. 17: 8) João realmente estaria vivendo no período do sexto rei, o que parece mais lógico. Até aí, teríamos em detalhes o que imaginava o velho João na Ilha de Patmos.

Page 50: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

50

SIGNIFICADOS DOS NÚMEROS NO APOCALIPSE OS SETE ESPIRITOS DE DEUS Apocalipse 1:4 João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono Apocalipse 3:1 Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Apocalipse 4:5 Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus. Os Sete Espiritos De Deus = A Plenitude De Deus, A Quantidade De Espiritos Não É Literal, Indica A Plenitude Do Eterno, Que Ele É Perfeito, Pois O Sete Também Quer Dizer Perfeição. Sete = Plenitude, Perfeição, Inteireza, Completo.

APOCALIPSE 5: OS SETE ATRIBUTOS AO CORDEIRO

11 Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, 12 proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.

1. O PODER 2. A RIQUEZA 3. A SABEDORIA 4. A FORÇA 5. A HONRA 6. A GLÓRIA 7. O LOUVOR

APOCALIPSE 6: OS SETE ABALOS CÓSMICOS

12 Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, 13 as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, 14 e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar.

1. GRANDE TERREMOTO 2. SOL QUE ESCURECE 3. LUA COR DE SANGUE 4. ESTRELAS QUE CAEM SOBRE A TERRA 5. CÉU QUE SE ENROLA 6. MONTANHAS DESLOCADAS 7. ILHAS ARRANCADAS DO LUGAR

APOCALIPSE 6: OS SETE PERSONAGENS DA IRA DO CORDEIRO

15 Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes 16 e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro,

1. OS REIS DA TERRA 2. OS GRANDES 3. OS COMANDANTES

Page 51: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

51

4. OS RICOS 5. OS PODEROSOS 6. TODO ESCRAVO 7. TODO LIVRE

APOCALIPSE 7: A PLENITUDE DO LOUVOR QUE É DEVIDO SOMENTE A DEUS

11 Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, 12 dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!

O LOUVOR A GLÓRIA A SABEDORIA AÇÕES DE GRAÇAS A HONRA O PODER A FORÇA

APOCALIPSE 13: AS SETE CLASSES SOCIAS QUE ADORAM A BESTA

16 Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. 17Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. 18 Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. 19 Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta,

dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu;

20 e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.

21 A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte,

1. A TODOS 2. OS PEQUENOS 3. OS GRANDES 4. OS RICOS 5. OS POBRES 6. OS LIVERS 7. OS ESCRAVOS

APOCALIPSE 17: AS SETE CABEÇAS E OS SETE REIS 9 Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está

sentada. São também sete reis, 10 dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar

pouco. 11 E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a

destruição.

Page 52: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

52

* 9-11: As sete cabeças são as sete colinas de Roma. São também sete reis, isto é, imperadores do séc. I. Deles já caíram cinco: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Um existe (Vespasiano), e o outro durará pouco (Tito, que reinou só dois anos). A Besta é o oitavo (Domiciano) e, ao mesmo tempo, é um dos sete, ou seja, o imperador Domiciano que agora persegue os cristãos, reencarnando a crueldade de Nero. O autor se refere à decadência do império romano sob Nero, e o seu ressurgimento com Vespasiano, e também a maldade de Nero que é revivida em Domiciano, poré bem pior, a perseguição se estendeu por todo o império romano.

1- AUGUSTO 2- TIBÉRIO 3- CALIGULA 4- CLAUDIO 5- NERO - ( A BESTA QUE PERSEGUIU OS CRISTÃOS EM ROMA, SOMENTE EM ROMA ) 6- VESPASIANO 7- TITO 8- DOMICIANO – ( PERSEGUIU OS CRISTÃOS EM TODO O IMPÉRIO, OU SEJA EM TODO O MUNDO ANTIGO )

APOCALIPSE 21: OS SETE TIPOS DE PESSOAS QUE SÃO ALVO DA IRA DE DEUS

7 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. 8 Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos

feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.

OS COVARDES OS INCRÉDULOS OS ABOMINÁVEIS OS ASSASSINOS OS IMPUROS OS FEITICEIROS OS IDÓLATRAS

8º E A TODOS OS MENTIROSOS, QUE É O OITAVO, É A SINTESE, OU RESUMO DE TODOS OS OUTROS SETE ANTERIORES MENCIONADOS. REPARE QUE A LISTA COMEÇA COM OS COVARDES, OU SEJA, COM AQUELES QUE NÃO RESISTEM AO PODER IMPERIAL E QUE NEGAM A FÉ E ADORAM A BESTA COM MEDO DE PERDER SUA VIDA.

Page 53: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

53

ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE DEDICATÓRIA Dedico estes estudos à memória do querido amigo e irmão Mário Sérgio Ginez, que de modo repentino foi chamado pelo Senhor Jesus Cristo à Sua presença em 03.05.96, com 30 anos de idade, deixando uma saudade quase insuportável em todos nós da Igreja Presbiteriana do Jardim Itália e um espaço que nunca será preenchido. Este querido irmão, que sempre foi fonte de estímulo a mim através de sua participação nas aulas sobre o Apocalipse, hoje é mais do que “vencedor” (Ap 3,21) em Jesus e goza da alegria de estar em Sua presença. Minha alegria é que, enquanto no domingo 05.05.96, nós nos consolávamos diante de sua partida estudando sobre a Nova Jerusalém, o Novo Céu e a Nova Terra em Ap 21,1-22,5, este nosso irmão já gozava plenamente dessa realidade. Quanto a nós, fica o desejo de um dia estarmos juntos dele diante do Pai e podermos nos alegrar de novo como sempre fazíamos. INTRODUÇÃO DO ESTUDO O Apocalipse, com muita certeza, é o livro que mais abusos tem sofrido no decorrer da História e, como decorrência, é o livro que tem despertado reações sempre as mais antagônicas possíveis. Há aqueles que o amam por seu conteúdo, beleza, e imagens fortes. Por outro lado, outros sentem um verdadeiro “pavor” do livro por não compreenderem-no e devido a estudos ou sermões ouvidos que revelavam uma perspectiva de análise equivocada. Obviamente meu objetivo não é oferecer uma visão sui generis do livro, mas procurar estudá-lo de modo coerente com ele mesmo, respeitando sua mensagem e seu modo de transmiti-la. Além disso, meu desejo ao estudá-lo é fazer sua integração com o resto do Novo Testamento e a vida da igreja. É fazer a igreja lê-lo, entendê-lo e amá-lo como o restante dos livros da Bíblia. Isso implicará numa “desmistificação” do livro, o que procurarei fazer nas páginas seguintes. Os estudos que se seguem não são um “comentário” ao Apocalipse, mas uma série de “estudos” onde, por questão de espaço e de tempo, alguns pormenores foram deixados de lado. Isso não significa um estudo superficial. Meu objetivo através destes estudos é fornecer numa série de aulas uma visão e interpretação do Apocalipse que permitam que aqueles que participaram possam ler este livro com mais proveito em suas casas. Estes estudos foram ministrados na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana do Jardim Itália - Itapetininga, SP, nos meses de fevereiro a maio de 1996. Rev. João Cesário Leonel Ferreira Itapetininga, 12 de maio de 1996.

Page 54: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

54

INTRODUÇÃO Apocalipse! Talvez o livro menos lido em todo o Novo Testamento. É provável que a maioria dos cristãos nunca tenham lido esse livro, ou, se o leram, o fizeram apenas nos três primeiros capítulos. Possivelmente esse desprezo para com o Apocalipse deve-se à visão que as pessoas têm dele. 1. APOCALIPSE - O VILÃO DO NOVO TESTAMENTO. Por que esse título? Porque é assim que a maioria de nós vê tal livro. Embora não tendo lido o Apocalipse, ou lendo pequenos trechos dele, grande parte das pessoas crê que ele fala do fim do mundo, com estrelas e prédios caindo sobre suas cabeças. Além disso, ele falaria do grande sofrimento pelo qual os cristãos passarão, e isso não é nada bom para qualquer pessoa, e além do mais, esse dado estaria em contraste com a vida vitoriosa da qual o resto do Novo Testamento fala. O Apocalipse também é um vilão por que ele fala de Dragão, Besta, Falso Profeta, 666 como número da Besta, dando a impressão que todos eles um dia, de modo inesperado, surgirão correndo atrás dos cristãos para matá-los, e isso gera pânico em muitas pessoas. A interpretação popular também ajuda a confundir o entendimento do livro. Uma interpretação meramente futurista, alienante e de extrema direita é muito comum. Nesse sentido, o Apocalipse falaria apenas do futuro, sem se importar com o presente, sendo que a conseqüência disso seria a alienação profunda gerada naqueles que o lêem. É comum ver esse tipo de interpretação. O livro também serviu para justificar posturas politicamente corretas(???), que viam o Apocalipse falando que ex-União Soviética juntamente com a China (Gogue e Magogue - Ap 20,7-8), como bloco comunista e diabólico, combateriam os cristãos democráticos e capitalistas, os quais, entretanto, venceriam com a ajuda de Cristo (obviamente essa visão foi difundida por intérpretes norte-americanos). Por essas e outras razões, por quê um cristão leria esse livro? 2. QUE LIVRO É ESSE? O ponto de vista acima encontra sua razão na falta de entendimento do gênero literário ao qual o Apocalipse pertence. Na realidade, Apocalipse é um gênero literário. O livro faz parte de um conjunto de obras chamado de APOCALÍPTICA. Vários outros livros apocalípticos, semelhantes ao que estamos estudando foram escritos: • I Enoque, escrito cerca de 200 a.C. • Livro do Jubileu, por volta do 2º. século a.C. • Testamento de Moisés, começo do 1º. século d.C. • 4 Esdras, final do 1o. século d.C. • Apocalipse de Abraão, 1o. ou 2º. século d.C. • Daniel 7-12. • Marcos 13 (paralelos em Mt 24 e Lc 21). • 2 Tss 2. Todos esses livros compõem a literatura apocalíptica. Ela procura transmitir uma mensagem de fé e esperança para aqueles que estão sofrendo. O próprio termo apocalipse, que significa revelação, indica isso. Através desses livros, seus autores querem revelar o propósito de Deus àqueles que são perseguidos por sua fé. O objetivo dos livros é mostrar a verdadeira realidade a fim de fornecer forças

Page 55: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

55

para continuar na luta. Isso se dá através de imagens muito coloridas e simbólicas. Por exemplo, a simbologia dos números: três, sete, doze, mil anos, cento e quarenta e quatro mil. A figura de animais: dragão, besta, leão, urso, cordeiro. Na realidade, parece uma linguagem secreta, em código. De fato, era isso mesmo. Para aqueles que perseguiam, esses livros não tinham sentido. Mas para aqueles que escreviam ou liam, eram cheios de significado. Nosso problema hoje, é que nos sentimos como aqueles que perseguiam os cristãos. Não conseguimos entender a mensagem do Apocalipse. Para que o compreendamos, é necessário conhecer um pouco do contexto em que o livro surgiu, e, principalmente, conhecer o Velho Testamento, de onde a grande maioria das imagens é tirada. Mas também é importante saber que o livro interpreta vários de seus símbolos. Ex: 1,12 com 1,20; 12,3 com 12,9; 17,3 com 17,9. 3. PARA QUEM O LIVRO FOI ESCRITO E QUANDO? O Apocalipse é um livro pastoral escrito às sete igrejas da Ásia Menor (região ocidental da atual Turquia) - 1,4. Esse dado é importante, pois mostra-nos que o livro não é um documento caído do céu, atemporal. Para entendê-lo, precisamos compreender primeiramente a mensagem que tinha para seus destinatários. Os capítulos 2 e 3 mostram-nos os problemas que essas comunidades passavam, o que justifica o envio do livro para elas. Até algum tempo atrás havia um consenso quanto a afirmação de que os cristãos na Ásia estavam passando por perseguições e que o livro foi enviado nesse contexto. De fato, o livro fala de perseguição: o próprio João está exilado numa colônia penal em Patmos devido a perseguição religiosa - 1,9; os cristãos estão passando por tribulações: 2,9-10; morte - 2,13; 6,9. Porém hoje questiona-se que houvesse uma perseguição de caráter geral aos cristãos. O que existiria seriam problemas localizados. Seguindo este ponto de vista, o escritor veria nesses problemas esporádicos sinais de um grande confronto que estava para se dar: Estado Romano x Igreja. O Apocalipse teria, então, a função de servir como um alerta para despertar os cristãos para a realidade de que esse confronto estava começando, embora alguns não concordassem com tal postura. Dentro dessa perspectiva este livro é altamente relevante para nós. Pode ser que convivamos bem com a sociedade, com as estruturas, etc. Mas isso não revelará um certo conformismo de nossa parte? O Apocalipse serve para nos questionar em nossas posturas. O livro surgiu quando o imperador Domiciano , que reinou de 81 a 96 d.C., começou a exigir que todos os súditos dentro do império o adorassem como deus. Isso não constituiu problema para a população, visto que estavam acostumados com um culto politeísta, e adorar um deus a mais não seria problema. Para os cristãos não foi assim. Até então a tradição cristã era de interceder pelas autoridades - 1 Tm 2,1-2; submeter-se às autoridades - Rm 13,1-7; honrar ao rei - 1 Pe 2,17. Mas agora a situação mudara. Os cristãos não podiam dividir sua lealdade a Jesus Cristo. Portanto, ao não prestar culto ao imperador, eles estariam sendo acusados de impatriotismo. Isso foi mais intenso principalmente na Ásia Menor, onde o culto ao imperador desenvolveu-se de modo mais acentuado. O confronto estava apenas começando. Para alguns, por outro lado, ele não existia. Esses cristãos achavam que podiam adorar a Jesus e ao imperador. Eles são criticados duramente no Apocalipse. Aqui podemos ver a ligação entre o Estado e a religião. Será que hoje os dias são diferentes? Não estaremos “adorando” religiosamente nosso mundo moderno, secular, tecnológico, consumista, etc, etc???

Page 56: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

56

4. EXISTE UMA ESTRUTURA NO APOCALIPSE? Um comentador já disse que existem tantas estruturas para o Apocalipse quanto o número de seus comentadores. Obviamente exagerada, a afirmação procura realçar a dificuldade em se buscar a estrutura desse livro. Embora seja muito difícil de se chegar a um consenso, há alguns dados que podem ser observados. Todos os estudiosos admitem que o livro tem uma forte ênfase sobre o número sete. Há: • sete igrejas: capítulos 2 e 3. • sete selos: capítulo 6 e 8,1-6. • sete trombetas: 8,7-9,21 e 11,15-19. • sete taças: capítulo 16. • sete espíritos: 1,4; 4,5. • sete bem-aventuranças: 1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7.14. Por enquanto podemos dizer que o livro desenvolve-se, em termos estruturais, em torno do número sete. Obviamente esta é uma visão simplista, e onde ela não puder ser considerada, outras explicações serão fornecidas. CONCLUSÃO O objetivo desta aula foi fazer uma primeira apresentação do Apocalipse. Espero que tenhamos podido perder um pouco o medo deste livro tão belo e entendermos alguns fatos relativos a ele que nos ajudem a compreendê-lo melhor. Uma última palavra. É significativa a posição que o Apocalipse tem no cânon bíblico. Sendo o último livro, é nele que confluem todas as esperanças, lutas e vivências do povo de Deus. Nele encontramos a última chance de expressão de vida cristã. E neste livro, ou se está ao lado de Deus, ou contra Ele. Para seu autor, quem é “morno” corre o risco de ser vomitado pelo Senhor Jesus (Ap 3,16). Nesse sentido, sua leitura e estudo são desafiadores para nós. Esse desafio é importante, pois motiva-nos a crescer diante de nosso Deus e Pai na avaliação de nosso compromisso com Ele. ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE INTRODUÇÃO - II Hoje continuaremos vendo alguns aspectos introdutórios ao estudo do Apocalipse. Após defini-lo como fazendo parte de um gênero literário chamado de apocalíptico e de situar a época em que foi escrito (reinado de Domiciano - 81 a 96 d.C.) e o seu objetivo (fortalecer comunidades que sofrem ou então prepará-las para o sofrimento), veremos neste estudo a auto-definição do livro como profecia (1,3) e buscaremos uma estruturação mais pormenorizada. 1. O APOCALIPSE COMO PROFECIA - O QUE SIGNIFICA ISSO? Já foi visto que, de acordo com o próprio nome do livro (Apocalipse = “revelação”- 1,1), o escritor procura apresentar o real sentido da vida cristã e do sofrimento através de uma “revelação” de Jesus Cristo. Mas o escritor também se apresenta como profeta (22,9) e caracteriza seu livro como profecia (1,3; 22,19). Qual a importância disso para o entendimento do texto? A importância é muito grande, visto que dependendo da definição que temos de profecia, será o tipo de interpretação que faremos do livro. O que é profecia para você? Hoje em dia é muito comum o conceito de profecia como “predição do futuro”. É algo semelhante ao horóscopo, às profecias de Nostradamus ou coisa assim. Tal visão também é muito influenciada pelos

Page 57: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

57

místicos que fazem previsões e pelas práticas pentecostais, onde a previsão do futuro, como profecia, ocupa lugar de destaque. Mas será que é isso que o escritor do Apocalipse tem em mente quando chama seu livro de “profecia”? O escritor do Apocalipse baseia-se no conceito vétero-testamentário de “profecia” para definir sua atividade. Nesse sentido, profecia é: • Uma mensagem recebida diretamente de Deus. Essa era a principal característica dos verdadeiros profetas em relação aos falsos (Jr 23,18-22). Eles entravam no “conselho” do Senhor. Esse conselho é composto pela Trindade e os seres celestiais que estão na presença de Deus e pode ser visto nas cenas dos capítulos 4 e 5 do Apocalipse. É ali que João, como profeta, se encontra (4,1). Portanto, o profeta é, fundamentalmente o que recebe “de Deus” sua mensagem. Por isso, ela é importante e não pode ser alterada (22,18-19). Além de provir de Deus, a profecia nos tempos neotestamentários é centralizada em Jesus (19,10). O espírito, o centro da profecia é o “testemunho de Jesus”. Ela visa fornecer uma mensagem sobre Jesus Cristo, e não “satisfazer” nossa curiosidade quanto ao futuro. • Uma mensagem que aponta para a vinda final de Jesus Cristo. Ela segue aqui a perspectiva pela qual o Velho Testamento era interpretado: cristologicamente, isto é, vendo nele predições que apontavam para Jesus Cristo (Lc 24,44). O Apocalipse segue essa linha apresentando uma visão “cristológica” da história, afirmando que Jesus controla a história e indicando que os eventos relativos a sua segunda vinda “estão próximos” (1,3). Na realidade, para o Novo Testamento, desde que Jesus encarnou e ressuscitou, ele “já está chegando”. É por isso que o escritor pode falar do julgamento sobre Roma como algo muito próximo. Porém o livro não fala de acontecimentos “particulares”, mas de ações de Jesus que se darão como conseqüência de sua segunda vinda. • Uma mensagem que chama ao arrependimento. Essa é uma das principais características da profecia. Na realidade, ela é uma palavra que tem uma forte ênfase no “presente”, no comportamento do povo. Para criticar a prática pecaminosa, o profeta volta-se para o “passado” e encontra nele as orientações de Deus dadas no Pentateuco (quando o profeta vive nesse período), ou nas palavras de Jesus (quando o profeta é cristão). A partir daí faz advertências para que se abandone a prática do pecado, pois se não houver arrependimento, Deus irá punir tal comportamento no “futuro”. Portanto, a profecia fala do futuro como conseqüência da vida do povo no presente. É nesse contexto que o profeta fala às igrejas nos capítulos 2 e 3 chamando-as ao arrependimento e advertindo-as quanto ao futuro (2,5.16. 21-23; 3,3). Após essas considerações sobre a profecia no Apocalipse, podemos ver por que o seu autor usa o gênero apocalíptico e refere-se ao livro como profecia. Seu objetivo através da apocalíptica é chamar a atenção para as tribulações que estão por vir e fornecer fortalecimento e conforto aos que sofrem. Para dar autoridade a essa mensagem, dá a ela a categoria de profecia. Visto que a profecia não pode ser vista como um mero “narrar de eventos futuros”, estando, pelo contrário, mais ligada ao presente, podemos, portanto, concluir que o Apocalipse não é um livro que narra apenas acontecimentos “futuros”. Essa constatação permite-nos agora buscar uma visão que substitua essa abordagem futurista que se faz ao livro. 2. APOCALIPSE - UMA ESTRUTURA NÃO CRONOLÓGICA. O Apocalipse não tem uma seqüência cronológica, onde um fato vem “depois” do anterior até chegar à segunda vinda de Jesus Cristo. Pelo contrário, o livro fala do conflito eminente com o império, e procura dar forças para o povo cristão ser fiel e, ao mesmo tempo, é uma palavra de condenação ao império romano e seu imperador que exige ser adorado como Deus. O autor desenvolve essa mensagem usando um recurso retórico chamado de “paralelismo progressivo”. Esse recurso é usado após a “introdução” (capítulo 01) e a apresentação dos

Page 58: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

58

“destinatários” (capítulos 02 e 03). Nele, o escritor apresenta basicamente a mesma cena, que representa o passado, presente e futuro, repetidas vezes, sempre acrescentando um dado para desenvolver o tema e aumentar o clímax até o final do livro. Vejamos como isso se dá na estrutura do livro: 1. Introdução (capítulo 01). 2. Destinatários. As Sete Igrejas da Ásia Menor (capítulos 2 e 3). 3. Seis visões desenvolvendo o “paralelismo progressivo” (4,1-22,5). • Abertura dos sete selos (4,1-7,17). Aqui encontra-se o “passado” (5,6-7), representando a exaltação de Jesus Cristo após a ressurreição, o “presente” (6,9-11), apresentando os mártires cristãos que estavam sendo mortos, e o “futuro” (6,12-17), revelando a vinda de Jesus Cristo para julgar os opressores de seu povo (6,15-17). • Toque das sete trombetas (8,1-11,19). Temos o “presente” (8,3-4), nas orações dos santos, e o “futuro” (11,18) na afirmação de que “chegou o dia da ira e o tempo de serem julgados os mortos”. • A identidade do império romano e a perseguição dos cristãos por ele (capítulos 12-14). É claro na passagem: o “passado” (12,5), através do nascimento de Jesus, o “presente” (12,17), na perseguição da igreja pelo dragão (Satanás), e o “futuro” (14,14-20, compare com Mt 13,24-30.36-43). • Sete taças (capítulos 15-16). O “futuro” (16,20),é descrito através da imagem do aniquilamento dos elementos da natureza (= 6,14). • A derrota de Roma e da Besta (capítulos 17-19). O “futuro” (19,11 e 13) pode ser observado através da pessoa de Jesus Cristo que vem para lutar contra a Besta (19,20). • O aprisionamento do Dragão e a vitória da Igreja (capítulos 20-22). O aspecto “passado” é notado através da referência ao aprisionamento de Satanás (20,2), que se deu na encarnação de Jesus Cristo (Lc 11,20-22), e o “futuro” está claro na narração do juízo (20,11-14). 4. Conclusão (22,6-21). Além dos dados acima que mostram o paralelismo progressivo, há um outro recurso para mostrar o desenvolvimento do clima de tensão do livro. São as palavras ira e cólera de Deus. A “ira” aparece em 6,16.17; 11,18, e “cólera” em 14,19; 15,1.7; 16,1. Elas vem juntas para enfatizar o sentimento de Deus em 14,10; 16,19 e 19,15. Esse tipo de uso que não respeita a cronologia não é estranha à Bíblia. Dois exemplos servem para ilustrar: Is 6,1-13. Este texto fala da vocação de Isaías. Mas então, ele não deveria estar no começo do livro? Cronologicamente, sim, mas teologicamente, não. O autor fala da dureza do povo (6,9-13) diante da mensagem do Senhor. Para exemplificar isso, coloca os cinco primeiros capítulos que mostram de modo prático essa dureza. Outro exemplo se encontra em Lc 3,20-22. Este texto diz que João Batista foi preso (3,20), mas na seqüência faz referência ao batismo de Jesus por João Batista (3,21). Como pode

Page 59: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

59

ser? O autor não está preocupado com a cronologia, mas com a ênfase teológica. Ele quer mostrar que com João Batista termina um período da história de Israel e começa outro com Jesus. Por isso a separação entre a prisão de João e o batizado de Jesus. CONCLUSÃO Vimos neste estudo que o livro do Apocalipse é uma “profecia”, uma palavra vinda diretamente de Deus. Isso é importante para você? Vimos também que o livro não deve ser entendido apenas em termos futuros, que ele não apresenta uma ordem cronológica. Esse fato deve orientar nosso estudo. A partir da próxima aula entraremos mais propriamente no texto do livro. ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE CAPÍTULO 01 Hoje começaremos a estudar o texto propriamente dito do Apocalipse. Como vimos no estudo anterior, na Estrutura do livro, o capítulo 01 funciona como uma Introdução. Ela está dividida em três partes: título do livro (v.1-3); carta de abertura (v.4-8); e a vocação do profeta (v.9-20). 1. TÍTULO DO LIVRO - 1,1-3. Esta seção se subdivide em duas: título (v.1-2) e bênção (v.3). a. Título: (v.1-2). Tantos os profetas do Velho Testamento como os escritores cristãos geralmente começavam seus livros com uma afirmação sobre seu conteúdo (Is 1,1; Jr 1,1; Ez.1,2-3; Mc 1,1). João caracteriza seu livro como “revelação” (= apocalipse) que, como vimos, tem a função de fortalecer as igrejas da Ásia Menor, e como “profecia” (v.3), o que dá autoridade ao escrito. Depois apresenta o meio pelo qual a revelação é concedida: de “Deus” para “Jesus Cristo”, dEle para o “anjo”, do anjo para “João”, e deste para as “sete igrejas” (v.4a). b. Bênção: (v.3). São bem-aventurados “aquele que lê” (no texto grego está no singular) e “aqueles que ouvem”. Devemos lembrar que na antigüidade os livros eram raros, e a igreja, seguindo a prática das sinagogas, após receber os livros (vindos de João, Paulo, Pedro, etc) fazia a leitura deles em público. Era dessa forma que os cristãos tomavam conhecimento de sua mensagem. Dificilmente alguém possuía uma cópia particular. Por isso a bênção vem sobre o que lê publicamente, e sobre a igreja que se reúne para ouvir a leitura. Temos, portanto, a informação de que o Apocalipse tinha como objetivo ser “ouvido”. O importante não é apenas ouvir, mas “guardar” (com o sentido de “observar”, “viver”) aquilo que está escrito. 2. CARTA DE ABERTURA - v. 4-8. Esta carta está dividida em duas partes: saudação (v.4-5a), e uma tríplice expressão de louvor (v.5b-8). a. Saudação: (v.4-5a). Apresenta o “remetente” (João - v.4) e os “destinatários” (as sete igrejas - v.4). A saudação é feita com os termos “graça” e “paz” (cháris e eiréne no grego). O primeiro é caracteristicamente cristão, lembrando a graça vinda aos homens através de Jesus Cristo possibilitando salvação (Ef 2,8) e sendo a base da vida cristã (Rm 5,2). O segundo vem do judaísmo sendo a tradução da palavra hebraica shalom que é um desejo de que a bênção de Deus se manifeste na vida física,

Page 60: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

60

espiritual, material, etc. Nessa época, tal saudação já era uma característica dos escritores do Novo Testamento (ver Ef 1,2; Cl 1,2; 1Pe 1,2). Quem envia a saudação não é João, visto que ele é apenas um instrumento. A saudação é enviada pela “Trindade”: • Deus: “aquele que é, que era e que há de vir” (v.4). Para tal expressão João tem como pano de fundo Ex 3,14 - Deus é o eternamente “Eu Sou”. Mas a ênfase em Êxodo e aqui no v.4 não está tanto na eternidade de Deus, quanto na sua “ação”. Ao falar que Deus “era, é, e virá”, o escritor quer enfatizar que Ele é atuante em toda a história e a levará a cabo com sua vinda. É importante notar que a tradicional segunda vinda de “Jesus” é vista aqui como a vinda de “Deus”. Talvez com isso coloca-se a ênfase em seu desejo de julgar aqueles que perseguem a igreja. • Espírito Santo: “sete espíritos” (v.4). Maneira diferente de se falar do Espírito Santo! O número sete, altamente simbólico, representa totalidade, plenitude. Portanto, o Espírito Santo é Deus pleno, em nada inferior ao Pai. O número sete também pode indicar que o Espírito está ativo nas “sete igrejas”. Ou seja, Ele está atuando em todas as igrejas onde se invoca a Trindade. • Jesus Cristo: (v.5a). Os qualificativos que aparecem para Jesus são importantes para os ouvintes. “Fiel testemunha” apresenta Jesus como companheiro daqueles que estavam morrendo por causa do testemunho de Seu nome (6,9). Jesus também testemunhou a verdade de Deus e também foi morto pelos romanos (Jo 18,33-19,16; 1Tm 6,13). A palavra “testemunha” traduz o grego “martus”, do qual vem a palavra “mártir”. Nessa época a palavra já estava assumindo um sentido “técnico”. Muitas vezes o testemunho de Jesus levava ao martírio. Nós somos chamados também, se necessário, a viver essa dimensão do testemunho cristão. “Primogênito dos mortos” manifesta o destino daqueles que crêem em Jesus e têm morrido por isso. A morte não é o fim! Como Jesus ressuscitou, todos que professam seu nome também ressuscitarão. Esta mensagem é de grande importância para aqueles que estavam ou iriam passar por sofrimento. Além disso, tais palavras nos lembram que o final já chegou, na medida em que a ressurreição é um dos seus sinais e que Jesus foi o primeiro a ressuscitar. Vivemos nos últimos dias. “Soberano dos reis da terra” serve para mostrar quem realmente manda neste mundo. Não era o império romano, nem são os Estados Unidos, nem o FMI. Jesus é o soberano sobre todos eles. É ao Senhor dos senhores que servimos. b. Tríplice expressão de louvor: (v.5b-8). É composta por: uma doxologia (v.5b-6), uma profecia (v. 7) e uma auto-proclamação da parte de Deus (v.8). • doxologia: (v.5b-6). Jesus é louvado pelos seus poderosos atos de salvação. Lembra que Jesus agiu porque nos “ama” e não porque fôssemos merecedores de sua graça. O escritor afirma que Jesus “perdoou nossos pecados”, e que se não fosse isso seríamos tão ruins quanto aqueles romanos que estavam começando a perseguir e matar cristãos. E apresenta nossa posição como salvos: compomos “um reino” (singular), onde só pode haver um único rei - Jesus, sendo todos os outros servos; somos “sacerdotes” (plural), com responsabilidade de ministrar em favor uns dos outros e do mundo. As últimas palavras da doxologia são de louvor terminando com um “amém” que deve ser declarado por todos como sinal de concordância. • profecia: (v.7). João faz uma declaração solene declarando a vinda visível e gloriosa de Jesus Cristo. A ênfase recai sobre os que o “transpassaram” (crucificaram) e sobre os povos que não quiseram reconhecê-lo enquanto puderam. Esses se “lamentarão” porque agora não terão mais chance de se arrependerem de seus pecados.

Page 61: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

61

• auto-proclamação da parte de Deus: (v.8). Temos aqui uma palavra vinda diretamente de Deus. Ela repete termos do v.4 (“é, era e há de vir”), enfatizando mais ainda a eternidade e domínio de Deus sobre todas as coisas (“alfa e ômega”, primeira e última letras do alfabeto grego), e conclui com a declaração de ser “Todo-poderoso”. Essas palavras tinham o objetivo de dar segurança àqueles que serviam a Deus. Ele mesmo assegura ao seu povo o seu domínio sobre a situação. 3. VOCAÇÃO DO PROFETA - v. 9-20. Neste ponto temos o chamado da parte de Deus para João. Ela divide-se em quatro itens: contexto de João (v.9); audição (v.10-11); visão (v.12-16); e comissão (v.17-20). a. Contexto de João: (v.9). João não é apenas um profeta. Ele também é um “sofredor” por causa do testemunho de Jesus - é um irmão e companheiro na “tribulação”. É por isso que ele está na ilha de Patmos, uma ilha próxima da cidade portuária de Éfeso, possivelmente cumprindo uma pena de banimento. b. Audição: (v.10-11). João ouve uma “grande voz”. A voz da parte do Senhor é uma característica do chamado profético (ver Jr 1,4-5; e Ez 1,2-3). Deus interfere na vida de João mandando-o, após registrar por escrito o conteúdo da visão, enviá-lo às sete igrejas. c. Visão: (v.12-16). Após a audição vem a visão. • v.12: Ele vê “sete candeeiros de ouro” (representam as sete igrejas - v.20). • v.13: No meio deles está um “semelhante a filho de homem” (imagem provinda de Dn 7,13, que apresenta a vinda do Messias em poder). As “vestes talares” (= manto comprido) são roupas que caracterizam Jesus como sacerdote (ver Ex 28,4), enquanto a “cinta de ouro” era uma peça usada, provavelmente, pelo rei. Aqui temos combinado os aspectos messiânico, sacerdotal e real de Jesus Cristo. • v.14: A “cabeça e cabelos brancos como a lã” são símbolos da eternidade de Jesus (vem de Dn 7,9 onde Deus é apresentado como um “ancião” que tem os “cabelos brancos”. Quer dizer, como ancião, ele é o mais velho de todos, é eterno). Os “olhos como chama de fogo” lembram a aparência do anjo em Dn 10,6. Este versículo apresenta Jesus como eterno mas que se comunica com os homens. • v.15: Os pés “semelhantes ao bronze polido” e a voz “como de muitas águas” estão presentes novamente em Dn 10,6 que fala do aparecimento do anjo a Daniel. Temos aqui a ênfase em Jesus como comunicador às igrejas. • v.16: As “sete estrelas” são os anjos das sete igrejas (v.20). A “espada de dois gumes” é a arma messiânica (Is 11,4) com a qual Jesus destruirá seus inimigos. Ela sai de sua “boca”, sendo, portanto, sua palavra (ver Hb 4,12). O “brilho do rosto” refere-se ao aspecto glorificado de Jesus Cristo (ver Mt 17,2). Esta visão apresenta aspectos referentes ao poder de Jesus vinculado ao seu senhorio sobre o mundo, sobre sua Igreja e, em particular, sobre as sete igrejas da Ásia. Vários desses aspectos voltarão a aparecer nas cartas às igrejas (capítulos 2 e 3). d. Comissão: (v.17-20). Como acontece com freqüência com os profetas, após uma visão vem o comissionamento para uma missão específica (Is 6,1-8; Ez 1,28-2,l). Diante do temor de João, há uma

Page 62: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

62

palavra de segurança de Jesus (v.17), com ênfase sobre seu poder pós-ressurreição (v.18). Novamente vem a ordem para “escrever” (v.19). Esta ordem já apareceu na audição (v.11), mas não havia nada para ser escrito ali. Agora não. João teve uma visão e ela continuará. Sua missão é registrar por escrito tudo o que será mostrado a ele e enviar às igrejas (v.19). No v. 20 Jesus fornece uma interpretação parcial da visão anterior (conforme interpretada nos vs. 13 e 16). CONCLUSÃO O capítulo 01 do Apocalipse, funcionando como introdução ao livro, tem uma função muito importante. Ele nos dá o título (revelação, profecia), impedindo que façamos confusão em sua interpretação; uma carta de abertura (v.4-8), onde o remetente e os destinatários são identificados, mostrando, assim, o contexto no qual o livro deve ser entendido; e a autoridade com a qual João escreve: ele foi vocacionado para escrever o Apocalipse (v.12-20). Estas informações são fundamentais para o entendimento de todo o livro. ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE DESTINATÁRIOS: AS SETE IGREJAS Capítulos 2 e 3 Vimos que o capítulo 01, como Introdução ao livro, apresenta o título, uma carta de abertura e a vocação de João. Hoje veremos com mais cuidado os destinatários do livro: as sete igrejas das Ásia Menor (cp. 2 e 3). 1. AS SETE IGREJAS DA ÁSIA MENOR As sete igrejas representam uma seleção dentre as igrejas existentes na região. Existiam outras, como por exemplo, a de Colossos. Isso nos leva a pensar sobre o porquê dessa escolha. Um princípio seria o fato de todas estarem conectadas por estradas romanas e distarem cerca de 55 quilômetros umas das outras. Esse aspecto era importante para as visitas apostólicas e para a troca de correspondência. Outro aspecto era o fato de que cada uma dessas cidades possuía uma corte romana, onde, por serem cristãos, os membros das igrejas poderiam enfrentar problemas. Nas três primeiras cidades (Éfeso, Esmirna e Pérgamo) havia também templos dedicados a César onde a população lhe oferecia sacrifícios como deus. Além disso, o número sete, é muito significativo, indicando totalidade. Cartas para “sete igrejas” poderia representar uma correspondência que visava atingir todas as igrejas existentes. 2. QUEM SÃO OS “ANJOS” DAS IGREJAS? Este é um problema difícil de ser resolvido. As cartas são endereçadas ao “anjo” de cada igreja (2,1.8.12.18; 3,1.7.14). Quem são eles? Se entendermos anjo como “ser celestial”, teremos algumas dificuldades para compreendermos alguns dados das cartas. O primeiro diz respeito ao fato de que o Apocalipse é enviado por Deus, através de

Page 63: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

63

Jesus, por intermédio do anjo para João (1,1). É o anjo que traz a revelação ao profeta. Já nas cartas as posições se invertem: nelas, Jesus manda João escrever para o anjo (1,19 e 2,1, etc). Mas como entender que João envie cartas para anjos? Por que eles precisam de cartas contendo orientações, se estão na presença de Deus (5,11)? Outro problema é o fato de que as cartas são escritas “para os anjos”, e somente através deles para as igrejas. Nota-se isso quando são citados adjetivos no “masculino” que, portanto, dizem respeito ao “anjo” e não à “igreja” (que é feminino). Por exemplo: “rico” (2,9), “morto” (3,1), “frio” e “morno” (3,15). Isso que dizer que as palavras de louvor e as advertências de Jesus dirigem-se a eles. Mas, então, como podemos compreender que os anjos devam “arrepender-se” (2,1.16; 3,3.19)? Ou então que tenham “abandonado o primeiro amor” (2,4)? Creio que a resposta está em outra direção. A palavra “anjo” significa literalmente “mensageiro” (ángelos), podendo ser um mensageiro celeste, ou seja, um anjo, ou não. O mensageiro pode ser uma pessoa (Mc 1,2; Lc 9,52), um profeta (Ag 1,13). Portanto, penso que os “anjos” das igrejas seriam profetas líderes nas comunidades (Ap 22,6) que receberiam de Deus a mensagem e que deveriam transmiti-la às suas igrejas. Nesse sentido, eles eram responsáveis pelo andamento de suas comunidades, tanto positiva, quanto negativamente. 3. A ESTRUTURA DAS SETE CARTAS Todas as cartas têm a mesma estrutura que se apresenta em sete pontos: 1. Todas elas são dirigidas ao “anjo da igreja” (2,1.8.12.18; 3,1.7.14). 2. Todas se apresentam como palavra de Jesus: “Estas coisas diz...” (2,1.8.12.18; 3,1.7.14). 3. Em cada carta, Jesus recebe um título (2,1.8.12.18; 3,1.7.14). Quase todos os títulos vêm da visão que João teve de Jesus (1,12-20). 4. Em todas as cartas, Jesus começa dizendo: “Conheço...”, e descreve as qualidades positivas da comunidade (2,2-3.9.13.19; 3,8). A comunidade de Laodicéia não têm nada de positivo. Ela “não é fria nem quente” (3,15). 5. Jesus descreve o que cada comunidade tem de negativo e dá advertências (2,4-6.14-16.20-25; 3,2-3.15-19). Duas comunidades não têm nada de negativo: Esmirna e Filadélfia. A estas Jesus dá conselhos de perseverança (2,10; 3,11). Na comunidade de Sardes, o negativo é mais forte do que o positivo (3,4). Por isso, lá se inverte a ordem. 6. Todas elas têm o aviso final: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2,7.11.17.29; 3,6.13.22). 7. Todas elas terminam com uma promessa ao vencedor (2,7.11.17.26-28; 3,5.12.21). (Este sete pontos foram extraídos do livro: “Esperança de um povo que luta. O Apocalipse de São João. Uma chave de leitura”. 7a. ed. Carlos Mesters, São Paulo, Paulus. p. 43 e 44). 4. PROBLEMAS NAS IGREJAS São basicamente de três tipos: a. Pressões, tanto de pagãos (1,9; 2,13) quanto de judeus (2,9; 3,9). Tal problema se dava em virtude dos

Page 64: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

64

cristãos pertencerem a uma religião minoritária com costumes estranhos (Santa Ceia, por exemplo) e acusada de ser atéia (por não ter deuses e nem imagem deles). As dificuldades com os judeus vinham do fato de que, após a destruição do templo em Jerusalém (70 d.C.) os cristãos foram expulsos das sinagogas. Nelas, a partir desse momento, eram pronunciadas maldições contra os cristãos. Para o Cristo, essa é uma “blasfêmia” que se faz contra seu povo (2,9). As sinagogas onde tais práticas aconteciam eram, na realidade, “sinagoga de Satanás” (2,9). Os judeus não apenas expulsavam os cristãos da sinagogas como denunciavam-nos às autoridades romanas. Estas, por sua vez, acatando as acusações (possivelmente dizendo que eles eram “contra o imperador”), começavam a prendê-los (2,10), e até a matar alguns (2,13). A morte de Antipas, em particular, é interessante por ter acontecido em Pérgamo, cidade onde estava o “trono de Satanás” (2,13). Essa cidade era a sede do governo imperial na Ásia e o centro do culto ao imperador, possuindo o mais antigo templo dedicado a essa prática na região. É importante observar que a prisão e morte de cristãos não era um fenômeno amplo, mas limitado a algumas cidades da Ásia. b. Problemas internos com falsos mestres (2,2 - apóstolos; 2,6.15 - nicolaítas; 2,14 - os que seguiam os ensinos de Balaão; 2,20-23 - a profetiza Jezabel). Os “falsos apóstolos” (2,2) eram pregadores itinerantes que viajavam pregando nas igrejas falsos ensinos. Os “nicolaítas” (2,6.15) estão associados com os “seguidores de Balaão” (2,14.15) e estes, por sua vez, com a “profetiza Jezabel” (3,20), visto que todos eles “comiam coisas sacrificadas aos ídolos e praticavam a prostituição”. Os “nicolaítas”eram partidários de um pensamento gnóstico que enfatizava as coisas espirituais em detrimento das materiais. A conseqüência disso era uma permissividade no comportamento. Para eles, não havia problema em participar das ceias oferecidas aos deuses ou então na prostituição, visto que com isso somente o “corpo” era atingido. “Balaão” era lembrado por ter levado o povo de Israel a cultuar deuses estranhos (ver Nm 31,16 e 25,1-2), enquanto “Jezabel” ficara famosa por ter introduzido o culto de outros deuses em Israel (1Rs 18,19). Os dois últimos certamente são referências simbólicas a pessoas que, juntamente com os nicolaítas, estavam introduzindo nas igrejas um baixo padrão moral que não via problemas em comer coisas sacrificadas a ídolos ou no culto ao imperador, nem na prática da prostituição. Na realidade, estava havendo uma acomodação aos padrões morais e culturais dos pagãos. Essa não era uma questão apenas “religiosa”, mas “econômica”, visto que a carne sacrificada a ídolos era servida em jantares de negócios e em recepções particulares que compunham a vida profissional e social das pessoas da época. Participar ou não desses eventos poderia decidir se a vida profissional seria bem ou mal sucedida. Para estas pessoas, João era “radical” ao exigir o abandono dessas práticas. Como podemos ver essa questão nos dias de hoje? Estaremos sendo radicais ou permissivos? Temos enfrentado o problema da assimilação de valores não-cristãos? Até onde isso é correto ou prejudicial? c. Problema com a frieza espiritual (2,4 - abandono do primeiro amor; 3,4 - contaminação; 3,15 - perda de zelo). Esta questão relaciona-se diretamente com a pessoa de Jesus Cristo. Mesmo que uma igreja combata as heresias, como a de Éfeso (2,2.6), isso não substitui sua ligação com seu Senhor, apenas o complementa. Essa relação, expressa pelo “conservar o nome de Jesus” é que dá coragem para que se morra por Ele (2,13). É preciso ter um amor apegado a Jesus que nos leve à comunhão com Ele e à prática de uma vida realmente transformada. Quando isso não acontece, toma o seu lugar a frieza, e a auto-suficiência que coloca Jesus à parte da vida (3,15-17.20). Para que a situação mude é necessário que se ouça o chamado ao “arrependimento” (2,5.16; 3,3.19).

Page 65: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

65

Talvez, mais do que nunca, nós, como igreja, devamos analisar nossas vidas dentro dessa radicalidade do amor integral a Jesus. Devemos também refletir se estamos constantemente avaliando a vida e vendo a necessidade de arrependimento. CONCLUSÃO Analisar as sete igrejas e seus problemas é muito importante para que possamos ter um quadro correto do porquê o Apocalipse foi escrito. Nelas temos um misto de igrejas que tem passado por dificuldades mas que estão se mantendo fiéis, e igrejas que não tem conseguido discernir as exigências da vida cristã. Tal situação não é diferente hoje. O problema principal para nós, semelhante ao das igrejas da Ásia, é o da assimilação. Cada geração é chamada a refletir sobre sua conduta diante desse desafio. Assimilaremos elementos, correndo o risco de sincretismo, ou nos fecharemos totalmente, podendo nos tornarmos alienados? ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE ABERTURA DOS SELOS 4,1-7,17 Após analisarmos as cartas remetidas às sete igrejas da Ásia, que apresentam os problemas pelos quais aquelas comunidades estavam passando, a partir do capítulo 04 temos as seis visões que desenvolvem um paralelismo progressivo. A primeira destas visões está nos capítulos 4 a 7. Estes capítulos dividem-se em duas partes: ? capítulos 4 e 5 - cena de abertura no céu. ? capítulos 6 e 7 - abertura dos sete selos. 1. CENA DE ABERTURA NO CÉU - cp. 4 e 5. Estes dois capítulos falam sobre Deus (cp. 4) e Jesus Cristo (cp. 5), e têm a mesma estrutura: Apocalipse 4 - Deus a. Glória de Deus (4,2-8a) b. Adoração a Deus (8b-11) b.1. Primeiro hino (8b) b.2. Narrativa (9-10) b.3. Segundo hino (11) Apocalipse 5 - Jesus a. Glória do Cordeiro (5,5-7) b. Adoração ao Cordeiro (8-12) b.1. Primeiro hino (9-10) b.2. Narrativa (11-12a) b.3. Segundo hino (12b). Esta seção termina com a adoração tanto a Deus quanto a Jesus Cristo (5,13-14).

Page 66: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

66

Temos, nestes capítulos, aquilo que é chamado de “Conselho do Senhor”. Ele é apresentado segundo o modelo das cortes orientais da Antigüidade, e, no nosso caso, é composto da Trindade, dos seres celestiais que estão diante dela (outros exemplos: 1R 22,19; Jó 1,6-7), e dos 24 anciãos. Quem são eles? Comecemos com os 24 anciãos (4,4). Eles não são anjos, mas homens. Isso pode ser verificado porque estão sentados em tronos (ver Mt 19,28), têm coroas (a coroa é recebida pelo crente fiel - 2,10) e estão vestidos de branco (outra característica dos cristãos - 3,4-5). Mas então, como identificá-los? Não há muita certeza quanto a isso. Talvez, através do título anciãos, possamos pensar nos líderes da sinagoga e das comunidades primitivas (presbítero significa “ancião”). Nesse sentido, tem-se suposto que o número 24 representaria 12 tribos de Israel (= povo da Antiga Aliança) mais 12 apóstolos (= povo da Nova Aliança), simbolizando o povo de Deus de todas as épocas. Outra possibilidade seria a de que o número 24 representaria os escritores dos livros do Velho Testamento (em algumas listas do cânon judaico apresenta-se 24 livros). Estes escritores, por sua importância, estariam ao redor do trono de Deus. Mas não como chegar a uma definição concreta. Os seres viventes (4,6-8a) são apresentados tendo como pano de fundo Ez 1,5.10 e 10,20. Eles são descritos ali como “querubins”. Isaías também fornece uma parte da imagem onde diz que os “serafins” têm seis asas (Is 6,2 // Ap 4,8a) e apresenta o cântico deles (Is 6,3 // Ap 4,8b). Esses seres, pela proximidade com Ezequiel, estão mais próximos de querubins do que serafins. Eles representam a criação visto que um é semelhante ao “leão” (=os animais selvagens), outro ao “novilho” (= animais domésticos), o terceiro ao “homem” (= raça humana), e o último a “águia” (= pássaros). Estes seres, como representantes da criação louvam a Deus (v.8). Além disso, os querubins eram responsáveis por guardar as coisas mais santas e próximas de Deus (ver Gn 3,24 e Ex 25,20). Por último, nesta visão do Conselho do Senhor temos a presença do “trono”, e de “Deus” sentado nele (4,2). João não descreve Deus em termos antropomórficos, mas usa pedras preciosas (v.3). “Jaspe” é uma pedra transparente, e o “sardônio” é vermelho, faiscante. Possivelmente esta descrição quer enfatizar o aspecto precioso e glorioso de Deus em seu trono. Já o “arco-íris” mostra que neste trono não há apenas poder, mas misericórdia. Ele é símbolo do pacto de Deus com o homem (Gn 9,8-15). Temos, portanto, no trono, um Deus que é glorioso e misericordioso ao mesmo tempo. O capítulo 5 começa falando de um “livro” selado com sete selos, que está nas mãos de Deus (v.1). Que livro é esse? É o livro que contém o domínio de Deus sobre todas as coisas, bem como a definição da libertação do seu povo e a punição daqueles que se voltam contra a igreja e seu Senhor. Portanto, tudo o que acontece no Apocalipse é a revelação do conteúdo do livro. Os “sete selos” que mantém o livro fechado (possivelmente um pergaminho ou papiro) e que são abertos no capítulo 6 e 8 não fazem parte do conteúdo do livro, mas formam uma preliminar à abertura do mesmo. João chora muito porque ninguém pode abrir o livro e, sendo assim, não há nenhuma certeza quanto ao futuro (v.4). Porém um dos anciãos apresenta Jesus no v.5 como “leão da tribo de Judá” (Gn 49,9-10 que fala do reinado provindo da tribo de Judá) e “raiz de Davi” (Is 11,1 indicando que o Messias viria da família de Davi). Essas duas descrições mostram Jesus em seu caráter real e vencedor. Por outro lado, no v.6 Ele é apresentado como “Cordeiro como tinha sido morto”, que demonstra o caráter sacrificial da obra de Jesus. Esse aspecto é enfatizado nos dois cânticos que citam a morte de dEle (v.9 e 12). Há aqui, possivelmente, a apresentação de Jesus como aquele que vence através da morte como modelo para os crentes (2,10).

Page 67: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

67

Finalmente, Jesus toma o livro (v.8) e no capítulo 6 ele começa a abrir os selos. É importante notarmos aqui que a visão do trono de Deus e de Jesus representa o passado, o momento da exaltação de Jesus à direita de Deus através da ressurreição e a posse de seu domínio sobre todo o universo. O objetivo da visão nos capítulos 4 e 5 é fornecer confiança e força para os crentes diante dos problemas que virão. Eles, por serem cristãos, não estariam livres de pagar o preço pela sua fé. Mas era importante saber que, no final de tudo, Deus estava controlando a situação e que Jesus traria o consolo a eles e a punição aos seus perseguidores. 2. ABERTURA DOS SETE SELOS - cp. 6 e 7. Como dissemos acima, os selos não apresentam o conteúdo do livro, mas são antecipações a ele. Os quatro primeiros selos devem ser vistos formando um bloco pela unidade da estrutura que gira em torno dos cavaleiros, enquanto o quinto fala especificamente da igreja, o sexto sobre a segunda vinda, e o sétimo vem somente no capítulo 8. O primeiro cavaleiro (6,2), que leva um “arco” representa soldados “partos” que eram os únicos arqueiros montados na época. A Pártia era um reino situado a leste da Palestina e que significava constante fonte de ameaça ao domínio romano no oriente. Aqui este cavaleiro simboliza guerras e conquistas que ameaçavam o império romano. O segundo cavaleiro (v.3-4) simboliza o conflito e a guerra entre os povos em geral. O terceiro cavaleiro (v.5-6) traz a imagem da escassez. “Uma medida de trigo” era o consumo de uma pessoa durante um dia. “Um denário” era o salário de um dia de trabalho. Portanto, mostra-se aqui que os tempos são difíceis, visto que gasta-se todo o dinheiro para a alimentação de uma única pessoa. A cevada, mais barata, era o alimento dos pobres. Somente com ela poderia-se alimentar a família. A questão aqui é a crise econômica. O quarto cavaleiro (v. 7-8) parece sintetizar o segundo e o terceiro. Ele traz a morte pela “espada” que pode ser referência à guerra, mas também a todo o tipo de morte violenta, p.ex. assassinato. A morte pela “fome” é uma derivação mais intensa da escassez do v.6. O quinto selo (v.9-11) apresenta os cristãos que têm sido mortos. Eles estão diante de Deus (v.9). O Apocalipse até aqui fez menção apenas a uma morte (2,13) e à possibilidade de se morrer (2,10). Possivelmente João vê as coisas de modo presente e também futuro, ou seja, estaria vendo aqueles que “seriam” mortos. Eles pedem vingança a Deus, mas não especificam seus assassinos. Isso será mostrado mais adiante no livro. O sexto selo (v.12-17) expressa a segunda vinda de Jesus. Pode-se notar através dos sinais no v. 12 e pela referência ao “dia da ira” (v.17), termo vétero-testamentário que significa o dia da vinda de Deus para julgamento. Mas, qual o sentido desses selos? Eles simbolizam a presença do mal, pecado e sofrimento no mundo, durante todas as épocas, atingindo todas as pessoas, sejam cristãs ou não. Isso pode ser visto através

Page 68: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

68

da comparação com Mt 24. O segundo, terceiro e quarto selos estariam relacionados com Mt 24,6-8; o quinto selo com Mt 24,9-13; e o sexto selo com Mt 24,29-31. É importante frisar que Mt 24 não apresenta “sinais” antecipatórios para a vinda de Jesus, pelo contrário, seu objetivo é mostrar que tais acontecimentos não representam o fim (24,6b e 8). O mesmo se dá com os selos do Apocalipse. Eles mostram que os cristãos estão sujeitos a sofrimentos dentro do mundo como qualquer ser humano e que tais tribulações não evidenciam a chegada do juízo de Deus ao mundo, elas não são o “conteúdo” do livro, são apenas um dado preliminar. Nesse contexto tornam-se muito importantes as visões dos capítulos 4 e 5. Se os cristãos devem passar por sofrimentos, é necessário que saibam que, apesar dessas lutas, Jesus está dirigindo os destinos do mundo e dará forças a eles para vencer. Antes que o sétimo selo seja aberto, temos o capítulo 7. Ele expressa um interlúdio para a abertura do último selo. Isso fornece uma caráter dramático ao texto. Deve-se esperar mais um pouco para que o sétimo selo seja aberto e, finalmente, possa-se conhecer o conteúdo do livro. O capítulo 7 não segue uma ordem cronológica com o capítulo 6, como se, depois da segunda vinda de Jesus, acontecessem os fatos descritos nele. Pelo contrário, fala-se para que não se danifique o planeta até que os servos de Deus sejam selados (v.3). É impossível falar em dano sobre a terra após a segunda vinda de Cristo! Temos, no capítulo 7, duas cenas: uma na terra (v.1-8), e outra no céu (v.9-17). Na primeira, temos os cristãos sendo selados (v.3), o que significa que eles recebem a marca de Deus, são possessão dEle. Isso lhes dá garantia de que Deus os guardará durante os períodos de sofrimento. O número de “cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel” (v.4) significa, por um lado, um recenseamento que Deus faz, mostrando que conhece exatamente quantos são os seus. Por outro lado, o número indica que são doze mil de cada uma das 12 tribos. Isso é simbólico, e quer mostrar a totalidade do povo de Deus. Não falta ninguém! Esse Israel é o “Israel espiritual” (Gl 6,16; Tg 1,1), a Igreja. Mesmo que ela sofra, Deus a guarda. Na segunda cena (v.9-17), temos a igreja no céu. Os crentes estão “diante do trono e do Cordeiro” (v.9). São, especialmente, aqueles que têm morrido por seu testemunho (v.14 com 6,9). Para eles é apresentado o término do sofrimento como acontecerá na segunda vinda (v.16-17 com 21,4). Esta imagem é importante para as igrejas da Ásia Menor, onde alguns haviam morrido e outros estariam para morrer, demonstrando o seu destino e sua bem-aventurança ao lado do Senhor. CONCLUSÃO Deus está no controle de todas as coisas! Jesus tem o domínio sobre a história. Mesmo que passemos por tribulações, o Senhor nos conhece um a um. Isso deve fazer diferença para nós! ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE O TOQUE DAS SETE TROMBETAS 8,1-11,19

Page 69: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

69

Na abertura dos selos, quando esperamos que o sétimo seja aberto, o escritor apresenta um interlúdio (capítulo 7) para somente depois dele abrir o último selo. Mas, para nossa surpresa, esse selo não introduz a abertura do livro com a revelação do seu conteúdo e conseqüentemente a vinda de Jesus; pelo contrário, ele traz uma nova série de sete. Agora são sete trombetas que serão tocadas! Elas compõe o conteúdo do sétimo selo. Temos um novo bloco do livro que volta a apresentar o paralelismo progressivo. Em termos cronológicos, o texto começa novamente a falar do presente (8,3 - os cristãos das igrejas que estavam orando), e do futuro (11,17-18 - julgamento dos mortos e galardão). Além disso, não existe seqüência cronológica entre os selos e as trombetas, visto que em 6,12 fala-se do “sol que se tornou negro”, e em 8,12 há a menção de que “um terço do sol se tornou escuro”. Se no capítulo 6 o sol já estava escuro, como, no capítulo 8, ele teve apenas uma terça parte sem luz? Isso mostra que não há sucessão de tempo entre as duas seções. À semelhança do bloco anterior, estes capítulos também são divididos em duas partes: ? 8,1-6 : cena de abertura no céu. ? 8,7-11,19 : toque das trombetas. 1. CENA DE ABERTURA NO CÉU - 8,1-6. A abertura do sétimo selo introduz uma cena celestial (v.1-2). Um anjo queima incenso para oferecer com as orações dos santos (v.3-4). Os sacrifícios no V.T. eram apresentados com incenso (Lv 16,12), e a oração, vista como um sacrifício a Deus passou a ser comparada ao incenso que sobe diante de Deus (Sl 141,2). Esta cena fornece a garantia de que as orações dos fiéis têm chegado a Deus e que Ele as responde. Essa resposta se manifesta quando o anjo pega o fogo do altar e joga sobre a terra (v.5). Isso indica o julgamento de Deus que se dará através do toque das trombetas. Talvez fosse isso que os cristãos pediam em suas orações. 2. O TOQUE DAS TROMBETAS - 8,7-11,19. Trombetas foram usadas para sublinhar os grandes momentos na história de Israel (foram usadas: para anunciar o combate - Jr 4,5; nas festas - 2Sm 15,10; na cerimônias cultuais - Nm 10,10; nas teofanias - Ex 19,16ss). São elas que anunciarão a vinda de Jesus (Mt 24,31; 1Co15,52; 1Tss 4,16). Somos tentados a identificar as trombetas do Apocalipse com este último sentido. Porém, a análise do texto mostra que essa relação não é correta. Elas não anunciam o fim, mas sim o juízo de Deus que se manifesta na terra e sobre os homens no decorrer da história. Parece que o uso delas é justamente para quebrar essa expectativa iminente, mostrando que ainda não é o fim. Dentro do paralelismo progressivo, as trombetas apresentam basicamente o mesmo tema dos selos: as catástrofes que vêm sobre a humanidade. Enquanto nos selos esses sofrimentos acontecem de modo generalizado, para cristãos e não-cristãos, nas trombetas eles visam os homens que não crêem (8,13 - os “que moram na terra” são os homens que têm perseguido os cristãos [ver 6,10]; 9,4). Elas mostram que, para estes homens, o sofrimento é especialmente duro. Nele, os cristãos são chamados à perseverança, e os incrédulos recebem uma advertência de Deus para que se arrependam (9,20-21). Por isso a destruição não é total, ela visa apenas a “terça parte” (8,7.8-9.10.11.12; 9,18). Porém os homens não se voltam para o Senhor, e por isso serão destruídos na manifestação de Jesus (11,18b). Isso se dará na sétima trombeta, que marca o fim (11,15-19).

Page 70: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

70

As pragas que vêm por intermédio das trombetas devem ser entendidas como conseqüência e retribuição aos pecados dos homens. Somente nesse sentido é que pode-se entender que a terra e a natureza sofram (8,9.11. Ver Rm 8,20-22). Além disso, o pano-de-fundo das trombetas se encontra nas pragas do Egito (Ex 7-11) que mostram o juízo de Deus sobre um povo que oprimiu os israelitas e não quis ouvir a voz de Deus. Primeira trombeta (8,7). Representa qualquer tipo de destruição que causa dano à terra (ver a relação com a sétima praga em Ex 9,24-25). Segunda trombeta (8,8-9). Indica, na linguagem apocalíptica, os danos ocorridos no mar. Os seres aquáticos são atingidos, bem como o comércio marítimo, que era muito importante para Roma, através da destruição das embarcações. Esta catástrofe é mais séria que a primeira, porque atinge, mesmo que indiretamente, os seres humanos (ver a primeira praga em Ex 7,20-21). Terceira trombeta (8,10-11). Se a terra e o mar já foram atingidos, agora a destruição atinge a água potável. As águas se tornam em “absinto”, uma planta que, por ser muito amarga, passou a ser usada como sinônimo de “veneno”. Nesta trombeta os homens são atingidos diretamente. Muitos deles morrem. Uma depois da outra, os segmentos mais necessários à vida humana na terra são atingidos. Quarta trombeta (8,12-13). Se o sol tornando-se negro, e as estrelas caindo são sinais da vinda de Jesus (6,12-13), o escurecimento da terça parte do sol, da lua e das estrelas é um sinal antecipatório de que o fim está próximo. É essa a mensagem que a águia traz no versículo 13. Quinta trombeta (9,1-12). O versículo 13 marcou uma transição entre as quatro primeiras trombetas e as três últimas. As últimas são mais intensas e piores que as anteriores. A citação da “estrela que cai do céu” (v.1) é usada para descrever seres vivos que atuam arrogantemente (Is 14,12) e aqui pode referir-se a Satanás (Lc 10,18; Ap 12,9). O “abismo” é o inferno antes do juízo final (Ap 20,1.3). Os gafanhotos como “escorpiões” (v.3, 10) lembram seres subordinados ao diabo (Lc10,19), portanto, “demônios”. A imagem, portanto, está clara. Enquanto as trombetas anteriores falavam de males físicos, aqui a ameaça é espiritual. É o sofrimento que o diabo e seus demônios impõe aos homens que “não têm o selo de Deus” (v.4). Sexta trombeta (9,13-21). Esta última trombeta, antes do final, apresenta um último aviso e mais grave: a morte (v.15, 18). De fato, ela nos faz pensar na nossa situação diante de Deus. Mas mesmo diante dela, os homens não se arrependem (v.20-21). Agora, à semelhança do que aconteceu com os selos, há um interlúdio (capítulo 10-11,14). Ele serve para aumentar a expectativa antes da última trombeta. Um anjo vem e afirma através de um juramento que não haverá demora para o fim (10,1-7). Ordena-se a João que coma o livro que está com o anjo (v.8-10), sinal e símbolo de vocação profética (ver Ez 2,8-3,3). Comer o livro significa encher-se da revelação profética. Isso acontece porque João tem muito o que profetizar (v.11). No capítulo 11 João deve medir o santuário e o altar do templo (v.1). Logicamente o templo aqui não é uma realidade física, visto que ele já havia sido destruído no ano 70 d.C. Possivelmente se refere à Igreja, enquanto santuário de Deus (1Co 3,16; 2Co 6,16; Ef 2,21). A medição significa “preservação”. O

Page 71: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

71

que não é medido é entregue aos gentios para destruição (v.2). Temos, portanto, a reafirmação daquilo que dissemos anteriormente, que os cristãos são guardados por Deus durante o toque das trombetas. Essa mesma igreja que é protegida por Deus, é mandada testemunhar através do símbolo dos dois profetas (11,3). Eles são Elias (v.6a) e Moisés (v.6b), que eram tidos como os maiores profetas de Israel. Em termos proféticos, representam muito bem a Igreja. Eles são guardados por Deus (v.5). Devem profetizar 1.260 dias, período esse entendido como compreendendo o tempo entre a primeira e segunda vindas de Jesus (ver 12,4-5.14). A besta, que surgirá no capítulo 13, os mata (v.7-8). Os povos alegram-se com isso (v.10), possivelmente porque eles pregavam contra seus pecados. Mas três dias e meio depois da morte das duas testemunhas elas ressuscitam (v.11), como o Senhor Jesus, e vão para junto do Pai (v.12). Esse é o destino da Igreja. Embora receba forças para suportar os tormentos que se abatem sobre a terra, sua pregação aos homens desperta ira, e ela é perseguida. Isso tem acontecido na história da Igreja e acontecerá até a vinda de Jesus. Por fim, temos a sétima trombeta (11,15-19). Ela marca a chegada do fim. Jesus julga os mortos, dá galardão aos santos e destrói os ímpios (v.18-19). Aqui Jesus é visto em toda a sua justiça que trará alegria àqueles que sofreram em seu nome e punição para os que o rejeitaram. CONCLUSÃO Nas trombetas temos novamente o paralelismo progressivo. Pela segunda vez são apresentadas catástrofes que se manifestam na história da humanidade. O objetivo delas agora é atingir os descrentes a fim de despertar arrependimento e fé neles. A Igreja é enviada ao mundo para testemunhar o evangelho de Jesus (cp. 11). Porém, apesar dos sinais de Deus e da pregação da Igreja, o mundo não crê e mantém-se endurecido em seu pecado. Nesse contexto, a sétima trombeta vem para dar o pagamento que cada um merece. ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE A IDENTIDADE DO IMPÉRIO ROMANO E A PERSEGUIÇÃO DOS CRISTÃOS POR ELE Capítulos 12 a 14 Neste estudo começamos um novo ciclo dentro do Apocalipse. Nele, as coisas vão ficando mais claras e explicadas. Aqui, fora as referências indiretas nas cartas às igrejas, é a primeira vez que o império romano aparece de modo claro. Ele é citado devido a sua relação com os cristãos. Todo o resto do livro será um desenvolvimento do que for mostrado neste texto. Estes capítulos se dividem da seguinte maneira: ? 12 e 13: a hostilidade do dragão e das duas bestas. ? 14: anúncios do julgamento divino. 1. A HOSTILIDADE DO DRAGÃO E DAS DUAS BESTAS - cp. 12 e 13. Estamos novamente no passado, na encarnação de Jesus (12,5). A “mulher” é símbolo de Israel, de onde vem Jesus (ver Is 66,7-8 para a imagem de Israel dando a luz filhos), e da igreja, cuja descendência é perseguida pelo dragão (12,17). O “dragão” é Satanás (12,9), e a “criança” que nasce é Jesus Cristo (12,5 - referência ao Salmo 2 que fala do Messias).

Page 72: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

72

O dragão quer “devorar o filho da mulher” (v.4). Ou seja, ele queria matar Jesus Cristo antes que Ele consumasse sua obra na cruz (Ver, nesse sentido, a intenção demoníaca de Herodes em Mt 2,16-18). Porém não consegue. A criança é arrebatada aos céus por Deus (v.6), o que significa sua ascensão após a ressurreição. O objetivo destes primeiros seis versículos, portanto, é mostrar como o diabo foi malsucedido ao tentar destruir o Senhor Jesus Cristo. Como conseqüência do que foi dito acima, os versículos 7-12 mostram a expulsão do diabo do céu que se deu com a encarnação, vida (o que pode ser visto através da vitória sobre o diabo no deserto - Mt 4, e nos diversos exorcismos), morte e ressurreição de Jesus (Jo 12,31-32; 16,11). Essa expulsão é apresentada através de uma luta celestial (vs.6-9). A vitória de Jesus é assumida pelos cristãos (v.11). A expulsão do diabo já foi mencionada na quinta trombeta (9,1-11) que falava da sua ação sobre os homens descrentes. Agora sua ira (v.12) se manifesta contra a igreja (v.13). A mulher (= igreja) foge com “asas de águia” (símbolo de ajuda divina - Ex 19,4) para o “deserto” (referência à saída do povo do Egito, em direção ao deserto, onde Deus os dirigiu e protegeu contra o faraó). Como já foi mencionado, esse “um tempo, tempos, e metade de um tempo” significa todo o período entre a primeira e a segunda vindas de Jesus Cristo. A “água” que sai da boca do diabo (v.15) significa maldade, tribulação lançados contra a igreja (Ver sobre o símbolo da água - Sl 32,6; 124,4). Mas a igreja é salva (v.16). Isto só torna o diabo mais irado, e sua próxima investida será através da duas bestas (cp.13). A primeira, a “besta que surge do mar” (13,1) é o império romano (ver 17,3 e 9, onde menciona-se os “sete montes”, referência explícita à cidade de Roma). O “mar” representa os poderes que se opõe ao domínio de Deus (Sl 74,13-14; 89,10-11) ou então significa o “mar Mediterrâneo”, lugar de domínio romano. Em ambos sentidos, mar, aqui, significa oposição a Deus. A besta que vem do mar é o império romano que se opõe a Deus e ao seu povo. Estamos agora falando do presente, dos problemas da comunidade em seus dias diante de Roma. Por trás deste domínio político, diz João, está o diabo (v.2b). Fica claro que a questão da oposição de Roma que surge, ou surgirá, não é uma questão política apenas, mas sim religiosa. É nesse sentido que os cristãos devem entender a situação e se posicionar diante dela. Se em Rm 13 o imperador é instrumento de Deus, neste capítulo ele é instrumento do diabo. Como o cristão deve se comportar diante dessas realidades? A “cabeça ferida de morte que é curada” (v.3), no texto grego é muito parecida com a afirmação sobre Jesus, que é o “Cordeiro como tinha sido morto” (5,6). A “cabeça” significa um imperador romano (ver 17,9b). Portanto, há um imperador que arroga o direito de ocupar a mesma posição de Jesus como ressurreto. Na época havia uma lenda que dizia que o imperador Nero, morto em 68 d.C., voltaria à vida, e, cria-se, isso estaria acontecendo. Domiciano era, para o povo, o Nero redivivo! Isso maravilhava “toda a terra” (v.3b) e trazia “adoração ao dragão e à besta” (v.4). Temos, nestes versículos, um princípio importante para a manutenção de todo poder político: criar uma “aura de divinização” em torno de si. Ou seja, apresentar-se como representando Deus, ou então, divinizando seus heróis. É o que acontece com os Estados Unidos, que dizem cuidar da democracia de todo o mundo, como país escolhido por Deus, sendo que, na realidade, trazem opressão. De modo semelhante, o Brasil apresentava o golpe de estado de 1964 como orientado por Deus para preservar a democracia contra o “comunismo diabólico”. O Apocalipse nos ajuda a ver por “detrás” dessa máscara. Ver o quem realmente está agindo. E o que se esconde por detrás dessa fachada é o poder diabólico que gera violência, sofrimento e derramamento de sangue.

Page 73: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

73

A besta profere blasfêmias, persegue a igreja e a vence, dominando sobre os povos que a cultuam (v. 6-8). É um tempo de opressão. Nessa hora, é importante crer que, apesar do sofrimento e da morte, os cristãos já venceram o diabo (12,11-12). A segunda besta, a que “surge da terra” (13,11-18), representa o poder religioso do império. Ela “parece cordeiro”, referência a Jesus Cristo, mas fala como “dragão” (v.11). É a máquina estatal a serviço da adoração do imperador. Possivelmente fala-se aqui dos sacerdotes dos templos que cultuavam ao imperador e dos altos funcionários provinciais responsáveis pelo desenvolvimento desse culto (v.12). Mas essa prática só desenvolveu-se porque havia uma desejo e aspiração do próprio povo. A sociedade o estimulava (a Ásia Menor foi a região onde tal culto mais desenvolveu-se), e aceitava de bom grado a idéia de fazer imagens em homenagem ao imperador para cultuá-lo (v.14). Os cristãos por não adorarem a imagem do imperador, declarando-o Senhor, eram mortos (v.15). Esta segunda besta, enquanto manifestação religiosa, opera “sinais”, visto que Satanás está por trás dela (2Tss 2,9). Ela desenvolve uma identidade profética poderosa, semelhante a Elias (v.13. Ver 1Rs 18,30-38). Também torna viva a imagem da besta (v.15a), possível referência aos oráculos que eram proferidos por ela. Assim como os que adoram a Deus foram marcados (7,3), os adoradores da besta também o são (v.16). Tal procedimento significa a identificação daqueles que são leais, tanto a Deus, quanto à besta. Esta caracterização irá definir o destino de cada pessoa no desenrolar do livro. Assim como a marca de Deus, a marca da besta também era simbólica. Não existe dado histórico indicando que todos que adoravam ao imperador recebiam uma marca. A marca consistia na própria lealdade, fosse a Deus ou ao diabo. Portanto, adorar ao imperador inclinando-se diante de sua estátua, maravilhando-se com seus sinais prodigiosos, e seguindo suas orientações como se fosse um deus, já constituía um sinal que haveria de identificar seus praticantes. Do mesmo modo, o “número da besta” (v.18) não introduz um nome específico, visto que já sabemos que a besta é o império romano, representado por seu imperador, Domiciano, mas sim um simbolismo. O número seis, por ser inferior ao sete, número da perfeição, simboliza exatamente seu oposto, a “imperfeição”. Dizer que o número da besta é 666, significa dizer que, apesar de toda sua arrogância e poder, o império romano é imperfeito, até mesmo frágil e que, portanto, é sábio aquele que se mantém ao lado de Deus. A imagem das duas bestas é altamente relevante para nós. Muitas vezes, de modo infantil, temos nos preocupado com o “significado” do número da besta e do seu sinal, não compreendendo o real sentido disso. Na verdade, tem o sinal da besta aquele que sente-se fascinado pelo estilo de vida da sociedade; aquele que idolatra uma ideologia, seja comunista ou capitalista; aquele que coloca um propósito de vida materialista para si; aquele que se deixa guiar por um Estado totalitário, ou pseudo-democrático, etc. Todas essas expressões de vida e, na realidade, de fé, quando se tornam senhoras de nossa vida, nos marcam com o sinal do verdadeiro dirigente de nossos destinos: o diabo. É por isso que devemos lembrar sempre: a característica deles é 666, ou seja, eles são imperfeitos! Temos tido discernimento para entender isso??? 2. ANÚNCIOS DO JULGAMENTO DIVINO - cp. 14. Assim como os dois blocos anteriores mostram, depois da descrição das catástrofes, a segurança do povo de Deus antes do juízo final (cp. 7; 11,1-2), aqui também o mesmo acontece. Após apresentar o império romano como o instrumento usado pelo diabo para perseguir os cristãos, é mostrada uma cena onde Deus guarda aqueles que são seus (14,1-5). Os crentes entoam um cântico que somente eles podem cantar (v.3). Não é dito nada sobre a letra do cântico. Mas com certeza era semelhante aos

Page 74: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

74

anteriores (4,11; 5,9; 7,12 etc) que falavam da soberania de Deus, e da obra redentora de Jesus. Somente eles, como salvos, podem cantar. Mesmo diante da perseguição e do sofrimento (cp. 13) há louvor em seus lábios. A consciência da soberania de Deus sobre nossas vidas conseqüentemente nos leva a louvar Seu nome. A partir de agora vem o anúncio do julgamento de Deus. Passamos a falar do futuro. Um anjo traz um “evangelho” (= boa notícia) anunciando que é chegado o “seu juízo” (v.6-7). O anúncio do evangelho não consiste somente de salvação, mas de juízo também (ver Lc 3,17[linguagem apocalíptica de juízo] e 18). O juízo que tem chegado é definido em relação a Roma. O anjo anuncia a queda da “Babilônia” (= Roma. Ver 1Pe 5,13). Este é um julgamento “na história”. Toda manifestação do juízo divino que acontece na história humana é antecipação do juízo vindouro. Outro anjo anuncia o juízo de Deus sobre os que “adoram a besta”. Se anteriormente Deus havia, através das catástrofes na história, chamado tais homens ao arrependimento (cp. 8 e 9), agora define seu destino futuro (vs.9-11). Há, em seguida, uma bem-aventurança sobre os que tem morrido no Senhor (v.13). Isso mostra que Deus nunca esquece daqueles que lhe são fiéis. Por fim, há a descrição do juízo final (vs.14-20). Ele é visto como uma “ceifa” (v.15-16. Ver Mt 13,30) que objetiva aqueles que “adoram a besta”, os quais serão atirados no “grande lagar da cólera de Deus”. O capítulo quatorze fala, portanto, do juízo de Deus, que é mais específico do que os já apresentados, e que enfoca aqueles que não o temem. Traz, de certa forma, consolo para os que sofrem, e já é uma resposta à oração dos fiéis que pediam justiça (6,10). Esta justiça será mais desenvolvida nos capítulos seguintes. CONCLUSÃO Os capítulos 12 a 14 cobrem, como as seções anteriores, o passado, presente e futuro. O passado, é lembrado em função da incapacidade do diabo para matar Jesus o que, conseqüentemente, introduz o presente, ao apresentá-lo perseguindo a igreja, tendo como instrumento o império romano. Já o futuro mostra o outro lado da realidade ao declarar que aqueles que hoje perseguem, no futuro, através do juízo de Deus, serão perseguidos. Devemos lembrar através destes capítulos que, diante dessas realidades, é impossível ficar passivo. Ou se tem a marca de Deus, ou da besta. Novamente João é radical. ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE AS SETE TAÇAS Capítulos 15 e 16 Após termos visto nos capítulos 12 a 14 a identidade do perseguidor dos cristãos: o império romano, e o poder por trás dele: Satanás, veremos hoje o derramar da “cólera de Deus” sobre o mundo (15,1; 16,1) e especificamente sobre a besta, os que tem a sua marca, e a Babilônia.

Page 75: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

75

Novamente, neste ciclo, vemos repetir-se o período que cobre toda a história humana. Devemos repetir que estes capítulos não estão em “seqüência cronológica” com os anteriores. Evidência disso é a afirmação em 14,8 de que Babilônia (Roma) “caiu”. Porém em 16,19 fala-se novamente de sua destruição e no capítulo 17 ela é descrita de modo detalhado antes de perecer. Os três capítulos estudados hoje estruturam-se assim: ? Capítulo 15. Cena de abertura no céu. ? Capítulo 16. As sete taças da ira de Deus. 1. CENA DE ABERTURA NO CÉU - cp. 15. João vê sete anjos com sete flagelos pois com eles se “consumou (consumará) a ira de Deus”. Temos visto a ação de Deus sobre a terra (natureza e homens) nos selos e trombetas. Agora sua manifestação é mais enfática. Ele está irado contra aqueles que tem perseguido sua Igreja e irá agir contra eles. Esse é o alvo das sete taças. João introduz uma visão que manifesta o tempo presente ao mostrar no céu aqueles que “venceram a besta”. Isto é importante, pois assegura que aqueles que foram aparentemente “derrotados” e “mortos” pela besta (13,7.15), na realidade, foram “vitoriosos” sobre ela. Eles não estão tristes por terem morrido, pelo contrário, tem cânticos de louvor a Deus e ao Cordeiro em seus lábios (15,3-4). Em seguida sete anjos recebem sete taças de ouro contendo a cólera de Deus (15,7). Isso significa que o que está para acontecer na terra não é obra do acaso, mas obra de Deus. O que acontece na terra é definido no céu. 2. AS SETE TAÇAS DA IRA DE DEUS - cp. 16. Levítico 26,21 afirma que aqueles que não querem andar segundo a vontade de Deus recebem “pragas” da Sua parte. É o que acontece aqui. Devemos notar uma progressão nas ações de juízo de Deus sobre a terra. Nos selos, toda a terra é atingida pelas catástrofes que acontecem no decorrer da história, incluindo cristãos e não-cristãos. Nas trombetas, o alvo são aqueles que não crêem em Cristo, os quais, diante do sofrimento, deveriam se arrepender e voltar para Deus (9,21). Porém isso não acontece. Já nas taças, temos uma especificação maior. A cólera de Deus, que se manifesta na história, visa os seguidores da besta (16,2) e a cidade de Roma (16,19). O objetivo agora já não é gerar arrependimento, mas punir. Quanto a isso, enquanto as trombetas atingiam uma “terça parte” (8,7.8.10.12; 9,15), as taças agem sobre tudo e todos. É o juízo de Deus que cai sobre aqueles que não o temem, pelo contrário, perseguem sua Igreja. Para corroborar com o que foi dito acima, ou seja, que tanto trombetas quanto taças cobrem o mesmo período da história, basta que coloquemos em colunas paralelas os temas das trombetas e das taças para vermos a incrível semelhança: As Sete Trombetas - cp.8-9 As Sete Taças - cp. 16 1. Terra (8,7) 1. Terra (v.2) 2. Mar (8,9) 2. Mar (v.3) 3. Rios e fontes (8,10) 3. Rios e fontes (v.4) 4. Sol, lua, estrelas (8,12) 4. Sol (v.8) 5. Escuridão, tortura (9,2.5) 5. Escuridão, angústia (v.10) 6. Rio Eufrates (9,14) 6. Rio Eufrates (v.12) 7. Voz no céu (9,13) 7. Voz no trono (v.17).

Page 76: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

76

Não deve ser surpresa para nós que o juízo de Deus se manifeste na história. Ele já agiu assim em Babel (Gn 11,1-9) e em Sodoma e Gomorra (Gn 19,24-25). Tais manifestações são apenas um prelúdio do grande ato de punição que será levado a cabo no dia do juízo final. O capítulo 16, então, expressa a ação de Deus contra Roma e seus seguidores, dentro daquilo que seria o futuro em relação ao tempo de João e que culminará com a volta de Jesus Cristo (16,17-21). Isso deve ser entendido por nós como a manifestação do juízo de Deus na história e no final da história contra todo poder que se levante contra Ele e sua Igreja. Você pode identificar algum fato desse na história da humanidade? A primeira taça (16,2) lembra a sexta praga do Egito (Ex 9,8ss). Quando as pessoas se manifestam impenitentes e contrárias `a vontade de Deus, sua própria saúde pode ser atingida. A segunda taça (16,3) relaciona-se com a primeira praga do Egito (Ex 7,17-21). Ela atinge o ser humano indiretamente, visto que ele depende do mar para viver. A terceira taça (16,4-7), assim como a segunda, relaciona-se com a primeira praga do Egito (Ex 7,17-20). Aqui fala-se da água enquanto necessária para a vida humana. Possivelmente sua poluição deve-se à pecaminosidade do homem. Até com uma certa ironia, o anjo explica o por quê dessa praga (v.6). Também ouve-se, vindo do altar de Deus, vozes que louvam a justiça de Deus ao exercer juízo. É provável que essas vozes sejam dos cristãos que clamavam por justiça em 6,10. A quarta taça (16,8-9) lembra a maldição de Deus sobre os que não o temem (Dt 28,22). Como não pensar, em termos contemporâneos, ao câncer de pele, devido a poluição da atmosfera? A quinta taça (16,10-11) atinge diretamente a besta (império romano - cp. 13). É a ação direta de Deus sobre os poderes políticos, religiosos etc que se levantam contra Ele. A história tem mostrado como povos que não deram ouvidos a Deus foram retiradas do cenário internacional, como o Egito, Assíria, Babilônia, Grécia, Roma, e, mais recentemente, a União Soviética (com muita certeza porque perseguiu os cristãos). A sexta taça (16,12-16) manifesta a oposição do diabo (dragão), de Roma (besta) e da máquina religiosa romana (falso profeta - em 19,20 ele é visto como aquele que faz com que as pessoas adorem a besta, mesmo papel da segunda besta em 13,12.15) contra Deus. Eles procuram unir aqueles que lhes dão apoio para lutar contra Ele (v.14). O lugar em que eles vão lutar chama-se “Armagedom”. Não há concordância quanto ao lugar e seu sentido. O certo é que ele representa a mesma batalha que virá mais tarde em 19,11-21 e 20,7-10. Porém aqui ela não é descrita. A sétima taça (16,17-21) apresenta a vinda de Cristo (ver o paralelo entre o v.20 e 6,14), relacionada com a destruição de Babilônia (= Roma. Ver 17,5.9). O juízo sobre Roma na história é somente uma antecipação do juízo final que virá sobre ela. CONCLUSÃO As taças introduzem a ação direta de Deus contra os inimigos de seu povo. Nos capítulos 17 a 20 eles serão destruídos um por um. Depois virá a recompensa para aqueles que são fiéis.

Page 77: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

77

ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE A DERROTA DE ROMA, DA BESTA E DO FALSO PROFETA Capítulos 17 a 19 No último estudo observamos como as taças da cólera de Deus caíram sobre os que têm o sinal da besta (16,2) e sobre Babilônia (=Roma - 16,17-21). No texto de hoje estudaremos com mais detalhes a derrota de Roma, da besta e do falso profeta. Com isso, notamos como os inimigos de Deus e da igreja vão sendo derrotados um por um. Nas “taças” a ênfase estava sobre os que “têm a marca da besta”. No texto de hoje vemos a vitória sobre Roma, a besta e o falso profeta (= a besta que sobe do mar no capítulo 13). Finalmente, no próximo estudo, é apresentada a derrota do diabo. Também nesta seção se apresenta um período que cobre toda a história. A descrição de Roma no capítulo 17 se dá dentro do momento em que João vivia, sendo o seu “presente”. Já o capítulo 18, que descreve a queda de Roma, apresenta o “futuro”, quando Deus realizará um juízo “na história” sobre essa cidade. No capítulo 19, vemos o “futuro” dentro de uma perspectiva escatológica, no contexto da segunda vinda de Jesus, quando Ele aprisionará a besta e o falso profeta e os lançará no “lago de fogo” (19,20), lugar onde passarão a eternidade em tormentos (20,10). É importante notar que a partir deste ponto a ênfase recai sobre o “futuro”. Estes capítulos têm a seguinte estrutura: ? Descrição de Roma, a Grande Meretriz - cp. 17. ? A queda de Roma e suas conseqüências - cp. 18. ? Louvor no céu pela destruição de Roma - 19,1-10. ? O aprisionamento da besta e do falso profeta - 19,11-21. 1. DESCRIÇÃO DE ROMA, A GRANDE MERETRIZ - cp. 17. O objetivo dessa descrição é mostrar com detalhes o por quê tal cidade é destruída. Um anjo traz tal revelação para João (17,1). Primeiramente vem uma visão de Roma, a meretriz (vs. 3-6). Através das indicações do texto torna-se claro concluir que essa mulher é a cidade de Roma (Ver vs.9a e v.18). Suas vestes e adornos enfatizam sua “realeza e riqueza” (v.4). Ela está “assentada sobre a besta” (v.3), que é o império romano (ver cp. 13), mostrando assim que governa-o e é o seu centro. Ela é descrita como a “mãe das meretrizes e das abominações da terra” (v.5), sendo, portanto, o centro de todo o mal que havia no mundo de então. Sua última e principal característica é “estar embriagada com o sangue dos santos” (v.6. Ver 13,7.15). Em seguida é apresentada a interpretação da visão (v. 7-18). Primeiramente a “besta” é identificada. Ela “era e não é, está para emergir do abismo” (v.8). Tais palavras lembram a lenda sobre o “Nero redivivo”, que voltaria. Ele “era”, isto é, exerceu seu reinado; “não é”, desapareceu; e “está para emergir”, surgirá no futuro para governar o império. Para os cristãos, ele representava o poder demoníaco do império romano. O v.9a nos diz que o império (a besta), se identifica com a cidade de Roma, visto que as sete cabeças da besta são “sete montes” (referência à cidade de Roma). Mas as sete cabeças são também “sete reis” (v.9b). Isto pode nos causar estranheza, mas numa linguagem simbólica, o mesmo símbolo pode ter mais de um sentido. O v. 10 tenta apresentar mais detalhes sobre esses reis. “Cinco caíram, um existe, e o outro ainda não chegou”. O que isso significa? Alguns tentam fazer um levantamento histórico sobre quem eram esses reis. Mas isso não leva a lugar nenhum. Para

Page 78: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

78

João e suas igrejas, não era importante saber quem foi o primeiro ou o quinto rei, mas sim definir, através do “número” desses reis, a figura do império. É provável que o número sete seja “simbólico”, como o foi na descrição das “sete” igrejas da Ásia (cp. 2 e 3) que simbolizam “todas as igrejas” daquela região. O objetivo seria, então, dizer que através dos sete imperadores, o império estaria representando em sua totalidade a besta. Assim como o sexto imperador, o que governa no momento em que João escreve - Domiciano, representava a besta, os anteriores também a representaram e o seguinte também a representará. João quer mostrar, assim, que o império em toda a sua extensão tem sido representante da besta. Mas ele é “mais besta” em alguns momentos. Isso nos leva de volta à besta que “era, não é, e está para emergir” (v.8 e 11). Nessa descrição, a besta é um imperador específico. Estamos falando novamente da lenda do Nero redivivo. Ele foi a encarnação mais clara da besta quando governou, e esperava-se que um próximo imperador desenvolvesse novamente seu estilo de governo: trazendo perseguição aos cristãos. Portanto, se com Domiciano as coisas estavam “começando” a tornar-se difíceis, João nos diz que virá um outro que trará tempos mais duros à igreja. Essa perspectiva contribui para pensarmos que a perseguição ainda estava por vir. Esse imperador é o “oitavo”. Mas isso não quebraria o simbolismo do número sete? Não, visto que, na realidade, ele não é um imperador que deve-se “somar” aos outros sete, pelo contrário, ele “é um dos sete” (expectativa do aparecimento de Nero). Teríamos, então, uma oitava aparição de um dos sete imperadores. Continuando a descrição da besta, ela tem “dez chifres” que são dez reis (v.12) aliados a ela e que têm poder por um período curto de tempo (“uma hora”). São submissos à besta (v.13). Formam uma frente para combater o Cordeiro, que os vence (v.14. Essa batalha é apresentada em 19,11-21). 2. A QUEDA DE ROMA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS - cp. 18. Assim como o primeiro anjo introduziu a visão de Roma (17,1-3), um outro faz o anúncio de sua queda (18,1-3). Embora essa destruição se apresente como já tendo acontecido (“caiu, caiu” - v.2), ela, na realidade, será efetuada no futuro. Tal modo de falar é para enfatizar que sua ruína “já está determinada”. Diante da condenação de Roma, os cristãos são chamados a “abandoná-la” (vs. 4 e 5). Essa ordem, para vários membros das igrejas da Ásia Menor, era difícil de ser cumprida. Eles viviam sem problemas diante do império, usufruindo das riquezas da prostituta (17,4). Mas para João, ou eles se afastam dessa cidade pecaminosa, ou se tornam “cúmplices de seus pecados” (18,4). A queda de Roma não é um fato isolado na história. Ela tem conseqüências. E elas se manifestam para aqueles que se relacionavam com a capital do império. Primeiramente os reis da terra se lamentam com a destruição da cidade (vs.3 e 9). Eles participavam de seu poder e agora sentem a perda dele. Em segundo lugar, temos os mercadores da terra (vs. 3. 11-16) que se enriqueceram através do comércio com ela. Terão que buscar lucro em outro lugar. E, em terceiro lugar, vem os mercadores do mar, a marinha mercante (vs. 17-19) que também se enriqueceu por transportar as mercadorias de e para Roma no oceano Mediterrâneo. Todas essas pessoas sofreram com a destruição de sua parceira. Deixaram de auferir lucros com a ausência dela. Pode ser que entre elas se encontrassem cristãos. Isso mostra como é perigoso viver uma religiosidade superficial, que esconde uma vida essencialmente profana, e que se vende ao sistema de influências, ao lucro com negócios escusos. Hoje não será assim também??? Em 19,21-24 novamente aparece uma declaração da condenação de Roma, agora introduzindo os motivos pelos quais Deus agiu assim. Primeiramente, devido a sedução de sua feitiçaria (v. 23b) sobre as nações da terra. Essa feitiçaria não é necessariamente religiosa, mas sim uma sedução exercida por

Page 79: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

79

Roma e seu poder, sua glória e riqueza sobre o mundo. Ela é culpada porque usou desses atributos para levar os homens à corrupção, à sensualidade e à opressão. O segundo motivo pelo qual é punida é porque nela se achou sangue de profetas e santos (v. 24). Deus não se esquece daqueles que perseguem Seu povo. Estes dois motivos fornecem o critério para avaliarmos a ação de Deus diante de qualquer nação em qualquer época da história. 3. LOUVOR NO CÉU PELA DESTRUIÇÃO DE ROMA - 19,1-10. Há louvor no céu porque Roma foi julgada (19,1-2). São os santos, apóstolos e profetas que estão exaltando a Deus (18,20), pois Ele exerceu justiça sobre aquela que tinha sangue dos seus servos em suas mãos (v. 2b). Os seres celestiais também O louvam (v.4), e, por fim, uma voz do trono exorta todos os servos de Deus a Louvá-lO (v.5). Em seguida o louvor continua, agora em função do aparecimento da “esposa” do Cordeiro (v. 7). Esta imagem da igreja fala de seu encontro final com o noivo, Jesus Cristo, em sua segunda vinda (21,2). Tal figura é usada em outras partes do Novo Testamento (Mt 25,1-13; Mc 2,19-20; 2Co 11,2; Ef 5,25-27). Há um contraste evidente aqui entre a noiva e a prostituta. Aqueles que não se deixaram levar pela sedução de Roma, a prostituta, mas mantiveram-se fiéis a Jesus, constituem a igreja pura, sem mácula, noiva de Seu Senhor. Esses serão recebidos com amor pelo noivo e viverão com Ele. São bem-aventurados (v.9). Aqueles que têm se deixado levar pela prostituta estarão com ela no inferno para sempre. 4. O APRISIONAMENTO DA BESTA E DO FALSO PROFETA - 19,11-21. Dentro da cena que fala da segunda vinda do Senhor Jesus que começou em 19,6, temos sua continuação com o aprisionamento da besta e do falso profeta, que são, respectivamente, o império romano e a máquina estatal de promoção da adoração do imperador descritos no capítulo 13. O cavaleiro (v. 11) é Jesus Cristo. Podemos constatar isso a partir de sua descrição. “Olhos como chama de fogo” (v.12) já apareceu em 1,14 referindo-se a Ele. Sai de sua boca uma “espada afiada” (v. 15. Comparar com 1,16). Seu nome é “Verbo de Deus” (v. 13), linguagem joanina para falar de Jesus (Jo 1) e “Rei dos Reis e Senhor dos Senhores” (v. 16). Seu exército é formado por seus servos, os cristãos que vestem “vestiduras de linho finíssimo branco e puro” (v. 14. Comparar com o v. 8). A besta com os reis da terra se reúnem para lutarem com Jesus (v. 19). Esta cena foi antecipada em 16,14-16. Embora essa batalha não seja descrita, seu resultado é apresentado. A besta com o falso profeta (que é a segunda besta do cp. 13. Ela opera “sinais” - 19,20. Comparar com 13,13) são aprisionados e lançados no “lago do fogo que arde com enxofre” (v. 20b), lugar de sofrimento eterno (20,10b), chamado de “segunda morte” (20,14), para onde irão os que não estão inscritos no livro da vida (20,15). Mais dois inimigos do Senhor Jesus são destruídos! Essa será a punição final do império romano e de todo império ou nação que se levante contra Deus. Temos aqui uma descrição da segunda vinda de Jesus em termos de uma “batalha”. Essa mesma segunda vinda já foi vista como uma “ceifa” (14,14-20). O Apocalipse usa várias imagens para descrever o mesmo fato. CONCLUSÃO Nestes três capítulos vimos a punição de três inimigos do Senhor Jesus e de sua Igreja: a prostituta (Roma), a besta (império romano), e o falso profeta (máquina estatal de promoção da adoração do imperador). Os seguidores da besta já haviam sido punidos no capítulo 16. Essa imagens são importantes para, primeiramente, fortalecer aqueles que sofrem e são perseguidos, a fim de

Page 80: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

80

permanecerem fiéis a seu Senhor. Em segundo lugar, elas nos lembram que um dia aqueles que nos têm trazido “lágrimas aos olhos e a morte” (21,4) serão punidos pelo Senhor Jesus na manifestação de sua justiça. Mas há um último inimigo a ser vencido - o dragão, Satanás. Isso acontecerá no capítulo 20. ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE O APRISIONAMENTO DO DRAGÃO (SATANÁS) E A VITÓRIA DA IGREJA - Parte I Capítulos 20 a 22,5 No estudo anterior (capítulos 17 a 19) vimos como o Senhor Jesus venceu três de seus inimigos: Roma, a besta (império romano) e o falso profeta (máquina estatal romana a serviço da divinização do imperador). Hoje vemos sua vitória sobre o último e maior adversário: o dragão (diabo). Ele é o último a ser vencido por ser o mais importante e por que estava por trás dos outros motivando-os para que perseguissem a Igreja. Portanto, após sua derrota João poderá falar da igreja vitoriosa vivendo com seu Deus e seu Senhor (capítulos 21 e 22). Neste bloco temos pela última vez o aparecimento do paralelismo progressivo, isto é, o modo pelo qual o Apocalipse conta a história começando com o passado e caminhando até o futuro. Constatamos isso através do “aprisionamento de Satanás” (20,2) que se deu na encarnação, morte e ressurreição de Jesus (Lc 11,20-22), referindo-se, portanto, ao passado; por intermédio da apresentação dos cristãos que se “opuseram a besta” (20,4), que diz respeito ao presente; e na descrição do “juízo final” (20,11-15), que manifesta o futuro. Vemos, novamente, a apresentação da história da humanidade desde a primeira até a segunda vinda de Jesus Cristo. Podemos, de modo geral, dividir estes capítulos em dois grandes blocos: ? Vitória sobre o último inimigo, o dragão (diabo) e juízo final - cp. 20. ? Vida da igreja com seu Senhor na Nova Jerusalém - cp. 21-22,5. 1. VITÓRIA SOBRE O ÚLTIMO INIMIGO - O DRAGÃO (DIABO) E JUÍZO FINAL - cp. 20. Este capítulo tem como centro a vitória sobre o diabo e sua prisão por “mil anos”. Estes mil anos, conhecidos como “milênio”, tem despertado muitas interpretações no decorrer da história. O objetivo aqui não é fazer uma avaliação delas, mas propor uma análise do texto que seja coerente com o resto do livro. O milênio pode ser visto a partir de duas ênfases diferentes no texto: numa perspectiva “terrena” (vs. 1-3), relacionada com a prisão de Satanás, e numa abordagem “celestial” (vs.4-6), enfocando a presença dos cristãos mortos no céu juntamente com Cristo. O diabo é “preso” por mil anos. Como dissemos acima, isso se relaciona com a vitória de Jesus sobre ele (Ver Lc 11,20-22; Jo 12,31; 16,11; 1Jo 3,8b). Esta mensagem já foi apresentada no capítulo 12,7-12. Esta prisão significa que ele não tem mais poder para “enganar as nações” (v.3). Antes da manifestação de Jesus Cristo, o diabo exercia domínio (não absoluto, é claro) sobre os povos, guiando-os para a distância de Deus. Mas com a presença de Jesus e posteriormente da Igreja, os homens começam a ser arrancados do reino do diabo e transportados para o reino de Jesus (Cl 1,13). Agora as trevas não podem mais se opor à luz (Jo 1,5). Através da pregação do evangelho os homens são chamados à salvação.

Page 81: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

81

O período de “mil anos” durante o qual o diabo está preso deve ser entendido simbolicamente, do mesmo modo como foram entendidos os “quarenta e dois meses” (11,2), os “mil duzentos e sessenta dias” (11,3; 12,6), o “um tempo, tempos e metade de um tempo” (12,14), e “uma hora” (17,12). Este período representa um tempo que se estenderá “da encarnação até um pouco antes da segunda vinda de Cristo”. Logo após os mil anos o diabo “será solto por pouco tempo” (v.3). Dentro de uma perspectiva “celeste”, os mil anos relacionam-se com o destino daqueles que tem sido mortos em nome de Jesus (v. 4-6). Eles são descritos como “sentados em tronos para julgar” (v. 4). Esta visão é conhecida do resto do Novo Testamento (Ver Mt 19,28; Lc 22,30; 1Co 6,2). Eles “reinam” (v.4) e são “sacerdotes” (v.6) junto a Cristo. Isto já foi dito daqueles que crêem em Jesus (1,6; 3,21; 5,10). Se anteriormente eles foram apresentados “sofrendo”em nome de Jesus, agora eles são vistos “reinando” com Ele. Isso era muito importante para as comunidades para quem João escrevia. Mesmo que para o mundo os cristãos fossem perdedores, na realidade eles eram vencedores. Estavam na presença de seu Senhor reinando juntamente com Ele. A “primeira ressurreição” da qual falam os versículos 5 e 6 é o modo pelo qual João vê a morte dos servos de Deus. Para ele, quando um cristão morre, ele experimenta a “primeira ressurreição”. Ele vai para junto de Jesus Cristo. Vive como ressuscitado, com a única diferença de que ele ainda não está de posse de seu corpo (o que se dará na ressurreição geral dos mortos na segunda vinda de Jesus). É o que marcará a diferença entre essa primeira ressurreição, e a ressurreição geral de todos os mortos. É por isso que João pode dizer que quem experimenta a primeira ressurreição não sofre a “segunda morte”, ou seja, a morte eterna. Nesse sentido, pode parecer estranho que o escritor diga que “os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos”. Mas a questão aqui é que João não está preocupado com a morte dos ímpios. Para ele, basta saber que na ressurreição geral, que se seguirá após os mil anos, eles serão julgados (20,12-15). Não lhe interessa o “estado intermediário” da alma dessas pessoas. O importante é dizer que os “crentes”, aqueles que foram “fiéis” a Jesus Cristo já estão em Sua presença. Nos versículos 7 a 10 é descrita a vitória sobre o diabo. Após os mil anos, o diabo é solto (v.7) por “um pouco de tempo” (v.3b). Será um período curto de tempo no qual ele fará uma oposição feroz a Deus. Paulo já falou dessa manifestação satânica dos últimos tempos (2Tss 2,1-4; 7-12). Essa oposição é descrita no Apocalipse como uma sedução das nações que há “nos quatro cantos da terra” (v. 8a = todas as nações do mundo), que são chamadas de “Gogue e Magogue”. Tais nomes vêm de Ez 38,2 e, qualquer que seja o sentido que desenvolvem nesse texto, aqui eles simbolizam a reuniam de todos os povos ao lado do diabo para lutar contra Jesus Cristo. O texto não descreve a luta, dando porém o resultado: “desce fogo do céu e os consome” (v.9). Tal batalha já foi descrita como acontecendo num lugar desconhecido ou ignorado chamado “Armagedom” (16,13-16); ou como a reunião de dez reis com a besta para lutar contra o Cordeiro (17,12-14); ou mesmo como a batalha de Jesus contra a besta e os reis da terra (19,19-20). São maneiras diferentes de descrever a mesma cena. Por fim, o diabo é vencido. Ele é lançado no lago de fogo e enxofre onde estão a besta e o falso profeta (v.10). O último inimigo do Senhor Jesus e da Igreja é derrotado! O final do capítulo (vs. 11-15) apresenta a segunda vinda de Jesus Cristo como o dia de julgamento para os homens. Esta cena é vista de outras duas perspectivas no livro: como uma ceifa (14,14-20), e como uma batalha (19,11-21). Embora não se diga quem é o juiz, deve ser o próprio Deus, que é várias vezes designado como aquele que está sentado no trono (4,2; 5,1.7.13; 6,16; 17,10.15; 19,4; 21,5). Os mortos de todos os tempos e épocas se apresentam diante do dEle (vs. 12-13). Esses, que até aqui receberam juízos “na história”, serão julgados segundo suas “obras”. Não devemos estranhar tal afirmação visto

Page 82: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

82

que aparece em outros lugares como Mt 25,31-46; e 2Co 5,10. Os cristãos foram criados para “boas obras” (Ef 2,10) e pelos seus “frutos” é que podem ser conhecidos (Mt 7,16-18). O destino das pessoas será decidido em função de sua postura: se foram seduzidos e seguiram a besta, serão condenados. Se foram fiéis a Jesus Cristo, e colocaram sua lealdade a Ele acima do amor a suas próprias vidas, terão seus nomes inscritos no livro da vida (vs. 12 e 15). A partir desse momento, o livro descreverá a vida dos cristãos em comunhão com Deus e Jesus Cristo (cp. 21 e 22). CONCLUSÃO O capítulo 20 é a conclusão das lutas e batalhas pelas quais a igreja passa neste mundo. Os cristãos mortos são vistos no céu reinando com Jesus. O diabo, em sua última oposição é derrotado. E o destino final dos homens é manifestado. A partir daí só haverá gozo (cp. 21 e 22). ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE O APRISIONAMENTO DO DRAGÃO (SATANÁS) E A VITÓRIA DA IGREJA Parte II - Capítulos 20 a 22,5 Neste segundo estudo desta seção que intitulamos Vida da Igreja com seu Senhor na Nova Jerusalém (ver estudo anterior), abordaremos o capítulo 21:1 até 22:5. Vimos anteriormente a derrota do diabo e o juízo final (capítulo 20). Agora veremos o povo de Deus em Sua presença na eternidade gozando da recompensa da fidelidade à Ele. 1. VIDA DA IGREJA COM SEU SENHOR NA NOVA JERUSALÉM - cp. 21:1-22:5. Este texto pode ser dividido em duas partes, onde cada uma delas começa fazendo referência à “cidade Santa, a nova Jerusalém, que desce do céu” (vs. 2 e 10) e à “noiva” (vs. 2 e 9): ? Visão Geral sobre a Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8. ? Descrição da Nova Jerusalém - 21:9-22:5. 1.1. Visão Geral sobre a Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8. Esta Nova Era é apresenta em três aspectos. a. O que estará ou não estará presente - vs.1-4. O que estará presente é apresentado por João através da palavra “vi” (v.1a e 2). O que deixará de existir é indicado pela frase: “já não existe” (v.1b e 4). ? haverá um novo céu e nova terra - v. 1. Céu e terra é uma expressão que indica a totalidade da criação formando agora um novo meio-ambiente em que haverá harmonia (ver essa idéia em Is 11,6-10). Como o ser humano, a natureza será resgatada do poder do pecado (Rm 8,20-22). A colocação de João quer nos mostrar que não habitaremos num lugar “desconhecido”, mas nesta mesma terra que Deus criou para o nosso regozijo. Todas as coisas belas da criação, que hoje são afetadas pelo pecado, estarão redimidas e com toda a sua beleza e esplendor e desfrutaremos delas como Adão e Eva no princípio. ? não haverá mais o mar - v.1. Sinônimo do caos e de oposição a Deus, as águas no Apocalipse representam os povos que estão sob o domínio de Roma (17,15). Por isso a besta (império romano) é vista emergindo do mar, indicando com isso que ela é colocada em evidência como a líder dos povos (cp. 13,1). Diante disso, devemos ver a não existência do mar, não como a negação de sua realidade física. O texto não quer dizer que os mares que existem na terra deixarão de existir na Nova Criação, pois eles, como o resto da obra de Deus, serão redimidos e existirão para o gozo e benefício dos salvos em Cristo. Mas o que se pretende aqui é usar o “símbolo” do mar para indicar que aquilo para o que ele aponta, a oposição a Deus, não estará presente nesta nova realidade de harmonia total. Portanto, não

Page 83: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

83

são os “mares” que não existirão, mas sim aquilo que eles simbolizam, o poder do império romano que perseguiu a igreja. Esse sim não existirá. ? haverá a nova Jerusalém que desce do céu - v.2-3. Ela está vestida como “noiva”. Esta indicação é importante, pois em 19,7-8 é a “Igreja”que se apresenta como noiva, e em 22,17 é ela, a Igreja, que diz: “Vem”, para seu noivo, Jesus Cristo. Podemos inferir, portanto, que a Nova Jerusalém, vista como “noiva” é uma figura que refere-se à Igreja, a noiva do Cordeiro. Este modo de interpretar também está de acordo com o v.3 onde fala-se novamente da Nova Jerusalém, agora como o “Tabernáculo” de Deus com os homens. Nesse versículo não se diz que Deus habitará “na Nova Jerusalém” com os homens, mas apenas que “Deus habitará com eles”. Portanto, a Nova Jerusalém é a própria Igreja, o Povo de Deus com o qual Ele habitará. ? não haverá mais sofrimento - v.4. As lágrimas e o pranto, bem como a morte e o luto decorrente dela, que foram trazidos aos cristãos pela perseguição, e que, no decorrer dos tempos têm vindo sobre aqueles que são fiéis a Jesus Cristo, “não existirão”. Eles fazem parte das “primeiras coisas” que já passaram. Representam o mundo sob o pecado e suas conseqüências que foi vencido e não se manifesta mais. b. O responsável pelo surgimento da Nova Criação - v.5-6. Depois de descrever como será esse novo mundo onde os salvos em Cristo habitarão, João apresenta o responsável por tudo isso. É o que “está assentado no trono”. No Apocalipse, é sempre Deus que está assentado ali (ver, por exemplo, 4,2-3). Ele é o “alfa e o ômega”, o “princípio e o fim”. Isso quer dizer que tudo o que aconteceu, tem acontecido e acontecerá, desde o começo até o fim, está sob as mãos poderosas de Deus. Na realidade, tudo o que é descrito no Apocalipse, mesmo quando traz sofrimento e as vezes falta de compreensão aos cristãos, faz parte do “livro que está nas mãos de Jesus Cristo” (5,7), e que foi aberto por Ele em sua exaltação. O seu conteúdo revela o domínio de Deus sobre a história. É por isso que o final do livro apresenta a vitória final da Igreja. Ela é cuidada e dirigida por Deus até o final. c. Quem participa e quem não participa na Nova Era - 7-8. Os que gozarão da comunhão eterna com Deus são descritos como “vencedores” (ver 2,7.11.17.26; 3,5.12.21). Eles são os que não assimilaram os valores de Roma e, quando necessário, pagaram o preço da fidelidade com a própria vida. Os que não participam são descritos no v.8. É uma descrição genérica, que inclui todos os homens que tiveram esse tipo de comportamento. Porém é importante observar que alguns “cristãos” podem estar presentes nessa lista. É significativo que ela comece com os “covardes”. Poderia ser uma referência aos cristãos que não tiveram coragem de assumir sua fé até os últimos limites. Os “incrédulos” podem também indicar não apenas os que não crêem em Deus, mas também aqueles que não creram nas palavras de João, o escritor do livro, achando-o muito radical em sua postura. Portanto, essa advertência é para todos os homens, mas também para os cristãos “nominais”. 1.2. Descrição da Nova Jerusalém - 21,9-22,5. Estes versículos desenvolvem o tema da Nova Jerusalém apresentado em 21,2-3. A descrição começa no v. 12. Devemos lembrar que já consideramos a Nova Jerusalém como uma figura para a Igreja. Tal posição pode parecer estranha ou pouco comum, mas creio que ela se enquadra no estilo literário de João. Ele usa comumente figuras e imagens simbólicas. A “Babilônia” simboliza Roma (17,9a) que por sua vez simboliza o centro do poder imperial. O “Dragão” simboliza Satanás (12,9), os “sete espíritos” (1,4) representam o Espírito Santo, “mil anos” simbolizam o período entre a encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo e um tempo imediatamente anterior à sua segunda vida, e assim por

Page 84: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

84

diante. Se a simbologia é tão comum no livro, por que justamente agora deveríamos tomar a descrição da Nova Jerusalém como algo literal e concreto? Portanto, creio que nossa interpretação está coerente com o resto do livro. Sendo assim, devemos tomar por certo que, onde o escritor fala da cidade, ele está usando uma linguagem simbólica para falar do povo de Deus, da Igreja, de nós mesmos. a. É protegida - v.12. Essa proteção é indicada pela referência à “muralha alta” (Ver Is 26,1). Na antigüidade era inconcebível uma cidade que não estivesse protegida contra seus inimigos através de uma muralha inexpugnável. Essa idéia é usada aqui para dar certeza aos que estarão na presença do Pai de que nenhum mal os ameaçará. O tempo das ameaças e perigos já terminou. b. Tem nos apóstolos seu fundamento - v.14. Esta afirmação era básica para todos os outros escritos do Novo Testamento. A Igreja foi constituída sobre o ensino, o fundamento dos apóstolos (ver Ef 2,20). Assim, só participa do povo de Deus aqueles que seguiram os ensinos dos apóstolos, que por sua vez eram os ensinos de Jesus Cristo. Os que seguiram ensinamentos estranhos (2,14-15. 20-23) correm o risco de ficarem destituídos da vida na Nova Era. c. Tem a presença intensa de Deus - v.16. A cidade é um “cubo”. Tem comprimento, largura e altura iguais. Isso lembra 1Rs 6,20 que fala do “santo dos santos” como um cubo. A idéia desse texto vétero-testamentário estaria presente no texto de João. Se antes Deus se manifestava somente no Santo dos Santos e apenas para o sumo-sacerdote, agora, na Nova Jerusalém, Ele se manifesta em toda a cidade (ver 21,3), isto é, a todas as pessoas de modo glorioso. d. É preciosa - v. 18-21. Lembremos novamente que a idéia da cidade aponta para a realidade do “povo de Deus”. Portanto, todas as pedras preciosas alistadas ali, bem como “a cidade de ouro puro” (v. 18) não são realidades concretas, mas símbolos para falar da Igreja. Talvez alguns de nós fiquemos tristes ao saber que “não andaremos em ruas de ouro” na Nova Jerusalém, mas eu pergunto: o que é mais importante, andar em ruas de ouro (que não têm valor monetário nenhum na nova vida), ou ser, você mesmo, comparado com o ouro, e com pedras preciosas? Para Deus seu povo é tão precioso como o ouro ou as pedras mais belas e preciosas que existem. Será que pensamos assim de nós mesmos e dos outros irmãos? e. Deus será pleno nela -v. 22-23. Na Nova Era não existirá Templo (v. 22), lugar de culto e adoração a Deus, pois Ele será cultuado em todo lugar. Não haverá sol nem lua (v.23; 22,5) - Deus será a luz que guiará os seus em todo o tempo (ver Sl 27,1a). f. Tem vida abundante - 22,1-2. Essa idéia é evidenciada pela repetição da palavra “vida”. Existirá a “água da vida” (ver Jo 7,38-39), e a “árvore da vida” (ver Gn 2,9). Se essas imagens serão literais ou não, não se sabe. O importante é o sentido delas. Mostram que a vida não será inerente ao homem, mas será dada por Deus. Temos novamente a idéia da Nova Criação como em 21,1a e agora de modo mais claro seguindo os moldes do paraíso (v. 2. Compare com Gn 2,9). Isso reforça o que dissemos lá. Não moraremos num lugar estranho, cercado de nuvens e sem fazer nada o tempo todo. Com a imagem da Nova Criação apresentada como o retorno do paraíso, nos é dito que voltaremos à vida como Adão e Eva tinham antes do pecado. Pense nisso. Poderemos gozar de toda a criação de Deus, passeando pelas matas, vales e montanhas, tomando banho de mar e tendo Deus a todo instante e em todo o lugar em nossa companhia. Pensar na eternidade assim significa encher o “céu” de vida. Devemos ter vontade de estar com Deus na eternidade, porque lá haverá uma continuidade de nossa vida, em nosso mundo, agora totalmente redimidos, para o nosso prazer.

Page 85: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

85

CONCLUSÃO Depois de tanta luta e sofrimento descritos no Apocalipse, João traz-nos uma imagem da Nova Era, o Novo Mundo que, por sua beleza, torna-se difícil de descrever. Os santos fiéis a Cristo que já morreram fizeram por merecê-la. Não que tenham sido salvos por suas “obras”, mas por que elas evidenciam sua fidelidade e amor a Jesus. Ao invés de morarem na Nova Jerusalém eles mesmos, e nós também, “seremos a cidade santa de Deus”. E o Novo Mundo não será novo no sentido de algo estranho, ou desconhecido, mas será este mesmo velho e maravilhoso mundo onde moramos, mas renovado e redimido, como nós, onde habitaremos em perfeita harmonia e comunhão para sempre. Aleluia! ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE CONCLUSÃO 22,6-21 Com este estudo terminamos o livro do Apocalipse. Depois de uma longa caminhada, temos as últimas palavras de João. Estes versículos funcionam como uma conclusão onde o escritor volta a citar vários pontos que já foram mencionados no começo do livro para que lembremos do objetivo e da função desse escrito. Traz também várias advertências sobre a não observância daquilo que foi revelado. Embora seja um texto um tanto complexo, trazendo certa dificuldade para se perceber sua estrutura, podemos dividi-lo em duas partes tendo como fator estruturador a frase: “eis que (certamente) venho sem demora” (vs. 7. 12 e 20). ? Objetivo do livro e advertências contra sua não observância - 22,6-10 e vs.16-21. ? O comportamento dos homens diante da iminente vinda de Jesus Cristo - 22,11-5. 1. OBJETIVO DO LIVRO E ADVERTÊNCIAS CONTRA SUA NÃO OBSERVÂNCIA - 22,6-10 e vs. 16-21. Os dois blocos de versículos (vs. 6-10 e 16-21) são analisados conjuntamente devido ao conteúdo deles. Ambos começam afirmando que um “anjo foi enviado para comunicar a mensagem” (vs. 6 e 16). No v.6 é “Deus” quem envia o anjo; já no v.16 é “Jesus Cristo”. Segundo 1,1 é Jesus quem envia seu mensageiro, porém nesse mesmo versículo Deus é o autor primeiro de tal revelação, sendo, portanto, indiretamente também responsável pelo envio do anjo. No v. 6 a mensagem é dirigida aos “servos” de Deus. O v. 16 especifica quem são esses servos: são “as igrejas”, ou seja, as sete igrejas dos capítulos dois e três. Isso deve nos lembrar que para entendermos a mensagem devemos primeiramente perceber o que ela queria dizer para aqueles cristãos no “tempo em que eles viviam”. Somente depois é que poderemos atualizá-la. Grande parte dos erros de interpretação do Apocalipse acontecem pela desconsideração dessa questão. Diante da afirmação de que Jesus “vem sem demora” (v.7), o Espírito Santo e a Igreja (noiva) dizem: “Vem” (v.17). Mas para que esse desejo se cumpra de modo eficaz na vida do cristão é necessário que ele “guarde” as palavras do livro (v.7b). Isso já foi dito em 1,3. “Guardar” significa “viver, observar, cumprir na vida”. De modo mais específico, “guardar” significa “não acrescentar nada” (v.18) e “não retirar nada” (v.19). O que Deus tinha que revelar está no livro, não existem acréscimos. Isso é importante diante de tanta fantasia que tem existido em torno do Apocalipse durante a História. Acrescentar pode significar uma mudança da mensagem numa visão meramente “espiritualista e mística” do livro que não leva em consideração todo o caráter político e social do confronto da Igreja

Page 86: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

86

com a besta e o dragão. “Tirar” pode revelar o pensamento por parte de alguns de que João foi muito radical em suas posições, que a realidade não é assim. Isso pode ter acontecido na época de escritor e pode acontecer em nossos dias. Talvez essa tentação se apresente na vida daqueles que acham que podem ter uma vida fiel a Deus e ao mesmo tempo andar de mãos dadas com o mundo e seus conceitos. Finalmente, João novamente nos apresenta sua definição sobre o livro que escreveu: é uma “profecia” (v.7. 10. 19 com 1,3). Já falamos do sentido de profecia na Introdução - II. A profecia é o “testemunho de Jesus” segundo 19,10b. Ou seja, este livro é uma profecia na medida em que fala dos desígnios de Jesus Cristo, Sua vontade para seu povo e para a Humanidade. Portanto, o livro é muito importante, visto que não contém palavras de João, mas de Jesus mesmo. 2. O COMPORTAMENTO DOS HOMENS DIANTE DA IMINENTE VINDA DE JESUS CRISTO - 22,11-15. Este bloco, por estar no meio dos dois textos anteriores (vs.6-10 e 16-21) apresenta como que uma conseqüência em relação à eles. Os servos de Deus, aqueles que desejam ansiosamente a vinda de Jesus Cristo, que não acrescentam nada e nem retiram nada do livro, têm um tipo de comportamento no presente. Aqueles que não observam as palavras da profecia e não se importam com a vinda de Jesus Cristo, apresentam um modo de vida próprio. Os vs.11-15 tem como função realçar essa questão como um alerta para os cristãos daquela época e para nós, os que vivemos no presente. O texto apresenta um tom realístico impressionante. Se no último estudo vimos a beleza e glória da vida com Jesus Cristo no Novo Céu e na Nova Terra, este texto nos traz de volta ao presente fazendo-nos esquecer de qualquer pensamento ingênuo que nos leve a pensar que a vida não precisa ser exatamente igual àquela apresentada no Apocalipse. “As coisas podem ser mais fáceis”, dirão alguns. Mas para João a vida é dura e cheia de conflitos exatamente como o livro nos mostra. Vemos isso no v.11 onde se diz que os homens continuarão até a vinda de Jesus Cristo sendo “injustos e imundos” de um lado, e “justos e santos” de outro. Embora o cristão tenha um compromisso social com a sociedade segundo outros textos do Novo Testamento, o conflito entre a vontade de Deus e a ação do diabo continuará até o fim. Não existe meio termo. Ou se está de um lado, ou de outro. É a postura diante da mensagem do livro que irá decidir qual nossa posição. Falando do destino final dos seres humanos, João novamente apresenta de uma divisão entre os homens. Haverá aqueles que “entrarão na cidade pelas portas”. São os que foram julgados por “suas obras” (21,11-15) e que receberão o “galardão” (v.12. Ver 11,18). Possivelmente esse galardão significa simplesmente a salvação, “o direito à árvore da vida” (v.14b). Mas enganam-se aqueles que pensam que o Apocalipse trabalha com o conceito da salvação “pelas obras”. Para João, as obras são evidência da fé e da fidelidade. Porém todos os cristãos estarão na presença de Jesus Cristo porque “lavaram suas vestiduras no sangue do Cordeiro” (v.14). Por outro lado, haverá aqueles que ficarão de fora. São apresentados no v.15. Eles já apareceram em 21,8 como aqueles que, longe de participarem do Novo Céu e da Nova Terra, irão para a “segunda morte”. São os que não levam em conta as advertências do Apocalipse. São os mesmos “injustos e impuros” do v.11a. Através destas palavras, João está advertindo solenemente a todos os homens, cristãos ou não, a darem ouvidos às palavras da Revelação. Nós temos levado seu ensino a sério?

Page 87: O LIVRO DO APOCALIPSE COMENTADO · A missão de João é escrever o livro do Apocalipse para toda a Igreja. As coisas presentes são as sete cartas para as igrejas, convidando-as

Apocalíptica um meio de resistência Organizado por Eliezer Lucena

87

CONCLUSÃO Estes últimos versículos do livro querem dar um caráter solene à obra diante de seus ouvintes. Ela não pode ser menosprezada. Seu objetivo é abrir os olhos daqueles que têm contato com ela a fim de poderem discernir a época em que vivem. O fim “não está distante”. O diabo não irá se manifestar apenas no “futuro”. A besta não é nenhum ser “bizarro” que aparecerá com uma placa indicando: “besta”, nem seu sinal será uma “tatuagem”, ou o “código de barras” das embalagens. O Apocalipse é atual e sempre será. Ele nos ajuda a ver, por trás das estruturas sociais e políticas, quem está realmente agindo. Ele nos questiona se “já” não temos a marca da besta, se não seguimos o estilo de vida de uma sociedade secularizada que é guiada pelo diabo. Espero que o estudo deste livro tenha ajudado você a discernir melhor a vida e a se posicionar diante dela. Meu desejo é que diante da mensagem do Apocalipse você não seja considerado como “morno”. Isso será muito perigoso. Se este estudo ajudou-o a quebrar barreiras que se levantavam contra o Apocalipse, e se você passou a “simpatizar” , “gostar” e a “respeitar” este livro, já estarei satisfeito. Afinal, devemos reconhecer que a Bíblia não poderia terminar com outro livro tão maravilhoso como o Apocalipse! BIBLIOGRAFIA BORING, M. Eugene. Revelation. Louisville, John Knox Press. 1989. 236 p. (Série: Interpretation. A Bible Commentary for Teaching and Preaching). CAIRD, G.B. The Revelation of Saint John. Peabody, Hendrickson Publishers. 1966. 316 p. (Série: Black’s New Testament Commentary). HENDRIKSEN, W. Mais que Vencedores. Grand Rapids, T.E.L.L, 1977. 256 p. (Existe tradução em português pela Casa Editora Presbiteriana). LADD, George Eldon. Apocalipse. Introdução e Comentário. São Paulo, Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão. 1980. 224. (Série: Cultura Cristã). MESTERS, Carlos. Esperança de um povo que luta. O Apocalipse de São João. Uma chave de leitura. 7a ed. São Paulo, Paulus. 1983. 82 p. PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo, Edições Loyola. 1993. 455 p. (Série: Bíblica Loyola, no. TALBERT, Charles H. The Apocalypse. A Reading of the Revelation of John. Louisville, Westminster John Knox Press. 1994. 123 p. WILCOCK, Michael. A Mensagem do Apocalipse. São Paulo, ABU (Aliança Bíblica Universitária) Editora. 1986. 196 p. (Série: A Bíblia Fala Hoje).

Dentre estes comentários, o de Prigent é o mais completo, sendo o melhor em língua portuguesa até o momento presente. Porém é um texto técnico, de difícil leitura para pessoas não acostumadas com a linguagem exegética. Para os que lêem inglês sugiro o livro de Talbert. Ele trabalha bastante as questões literárias e é de leitura agradável. Em português, para uma primeira leitura Mesters é muito sugestivo. Para aprofundamento, os textos de Hendricksen (embora um tanto antigo) e de Wilcock ajudarão bastante.