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CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS 33 o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos Allan Kardec Patrono Espiritual do Encontro Tema Central: “Princípio Vital” 26, 27 e 28 de fevereiro de 2017

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CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS

33o

Encontro Espírita sobre

O Livro dos Espíritos

Allan Kardec Patrono Espiritual do Encontro

Tema Central:

“Princípio Vital”

26, 27 e 28 de fevereiro de 2017

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Informações Gerais Dias: 26, 27 e 28 de fevereiro de 2017 Horário: 8h às 8h30min – Chegada / Recepção 8h30min às 9h – Abertura / Deslocamento 9h às 10h30min / 11h – Estudo 10h30min às 11h – Intervalo 11h às 12h55min – Estudo 13h – Encerramento CENTROS PARTICIPANTES Centro Espírita Léon Denis Centro Espírita Abigail Centro Espírita Antonio de Aquino Centro Espírita Casa do Caminho (Domingo – dia 26 de fevereiro de 2017) Centro Espírita Léon Denis (Cabo Frio) Grupo Espírita Allan Kardec (8 de abril de 2017 e 13 de maio de 2017) Grupo Espírita Beneficente Dr. Hermann (Campos) O Encontro será apresentado, também, pela Internet. Coordenação Geral: Deuza Maria Nogueira Organização de Conteúdo: Equipe de Estudo do Encontro Finalização: Departamento Editorial do CELD

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Sumário Objetivos ................................................................................................ 4

Introdução .............................................................................................. 5

Programa do Encontro ........................................................................... 6

Tema 1 – O “milagre” da vida! ............................................................... 7

Tema 2 – Inteligência ou instinto? ....................................................... 12

Tema 3 – A morte não é o fim! ............................................................. 17

Conclusão ............................................................................................ 22

Anexos ................................................................................................. 23

Referências Bibliográficas .................................................................... 60

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33o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos Tema Central: “Princípio Vital”

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Objetivos Objetivo geral:

• Compreender que a Providência Divina nos dá a vida material como meio de progresso espiritual.

Tema 1: O milagre da vida!

• Compreender qual é a fonte da vitalidade na matéria.

• Identificar como o homem pode interferir contra ou a favor da vitalidade.

• Perceber a ação da Providência Divina no surgimento da vida.

Tema 2: Inteligência ou instinto?

• Perceber que a vitalidade é independente da inteligência.

• Identificar a inteligência e o instinto como ferramentas que Deus nos deu para a manutenção da vida.

• Identificar como o instinto guia os seres na satisfação das suas necessidades básicas da vida material.

• Compreender que para progredir é necessário que o espírito predomine sobre a matéria.

Tema 3: A morte não é o fim!

• Reconhecer que a morte do corpo é a principal causa da partida do espírito.

• Perceber que o estado moral da alma influi facilitando ou dificultando seu desprendimento.

• Identificar a importância dos ensinamentos de Jesus sobre a imortalidade da alma.

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33o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos Tema Central: “Princípio Vital”

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Introdução Em 2014, começamos a estudar O Livro dos Espíritos em sequência, um capítulo

por ano. Nesse ano, estudamos o capítulo I da Primeira Parte – “Deus”. Em 2015, estudamos o capítulo II – “Elementos gerais do Universo”, e em 2016, o capítulo III – “Criação”. Neste ano, com o estudo do capítulo IV – “Princípio Vital”, estamos encerrando o estudo da Primeira Parte de O Livro dos Espíritos – “As causas primárias”. Vejamos a seguir o encadeamento das ideias ao longo dos estudos passados:

• A visão espírita sobre Deus: a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas, que cria, mantém e dirige tudo o que há no Universo com suas leis sábias e justas. Esta inteligência pode ser observada tanto na beleza da diversidade das espécies quanto na complexidade da formação de cada ser, pois se percebe que cada detalhe foi rigorosamente levado em consideração para que tudo funcione com equilíbrio. Percebemos, também, essa inteligência suprema na condução de nossas vidas, pois Deus é bom quando nos dá, quando nos retira e quando nos impede de ter.1

• A Doutrina Espírita nos revela, então, que além do elemento material, há o elemento espiritual. Tudo o que há no Universo é formado a partir da matéria e do princípio inteligente, que é independente da matéria. A matéria é o instrumento de que os espíritos se servem para o cumprimento da sua missão. O espírito é o ser inteligente da Criação, que utiliza seu pensamento, vontade e sentimento para atuar sobre a matéria e interagir com os outros espíritos, rumo à perfeição e à felicidade. Tanto as leis da matéria como as relações entre os espíritos são regidos pela inteligência suprema de Deus.2

• A Vontade de Deus se manifestando não só na criação dos seres e dos mundos, mas também na condução das suas criaturas para o progresso. Tudo na Criação divina tem um propósito superior. Deus conta com a ajuda de todas as suas criaturas, “desde o átomo primitivo até o arcanjo”3, para a elaboração das formas e a manutenção da harmonia geral. Tudo se encadeia de modo que todos os seres progridem pelo trabalho.4

Neste encontro, daremos sequência à análise do raciocínio de Kardec, estudando, agora, a atuação dessas causas primárias na formação e conservação da vida nos seres que habitam o nosso planeta. Veremos como o elemento material e o elemento espiritual, sob a condução das Leis Divinas, interagem entre si para a manutenção da vida organizada na Terra.

1 Para mais detalhes, ver Apostila do 30o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos.

(www.livrodosespiritos.net/anteriores.html) 2 Para mais detalhes, ver Apostila do 31o

Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos. (www.livrodosespiritos.net/anteriores.html) 3 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; questão 540. CELD. 4 Para mais detalhes, ver Apostila do 32o

Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos. (www.livrodosespiritos.net/anteriores.html)

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33o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos Tema Central: “Princípio Vital”

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Programa do Encontro

Tema central:

“Princípio Vital”

1o dia: Domingo – 26/2/2017

Tema 1: O milagre da vida! (Parte conceitual)

Tema 1: O milagre da vida! (DINÂMICA: Estudo de casos)

2o dia: Segunda-feira – 27/2/2017

Tema 2: Inteligência ou instinto? (Parte conceitual)

Tema 2: Inteligência ou instinto? (DINÂMICAS: Estudo de caso e “Criação de caso”)

3o dia: Terça-feira – 28/2/2017

Tema 3: A morte não é o fim! (Parte conceitual)

Tema 3: A morte não é o fim! (DINÂMICAS: Vídeo do Dimas e Cartaz com o Resumo dos tipos de desencarnação)

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Tema 1 – O “milagre” da vida! Objetivos:

• Compreender qual é a fonte da vitalidade na matéria.

• Identificar como o homem pode interferir contra ou a favor da vitalidade.

• Perceber a ação da Providência Divina no surgimento da vida.

Seres Orgânicos e Inorgânicos

Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida; nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem; são providos de órgãos especiais para a execução dos diferentes atos da vida e que são apropriados às suas necessidades, para sua conservação. Destes fazem parte os homens, os animais e as plantas. Os seres inorgânicos são todos aqueles que não possuem vitalidade, nem movimentos próprios e que são formados apenas pela agregação da matéria; assim, são os minerais, a água, o ar, etc.

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; nota que antecede à questão 60. CELD – grifo nosso.)

Uma das definições que encontramos no dicionário Aurélio para a palavra “ser” é: “o que existe”. Analisando o texto acima, verificamos que Kardec teve um cuidado especial ao usar essa palavra, pois deixa claro que existem seres que possuem vida5 (vitalidade6) e outros que não possuem. Vale acrescentar que, além dos exemplos de seres orgânicos citados por Kardec, existem outros como os micro-organismos. Isso mostra como os espíritos foram sábios ao dizer: “Na Natureza, tudo é transição, pelo próprio fato de que nada é semelhante e, entretanto, tudo se interliga”7.

A Doutrina Espírita nos revela a origem dessa “atividade íntima” que dá a vida aos seres orgânicos:

Questão 62 – Qual a causa da animalização8 da matéria? “Sua união com o princípio vital.”

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

5 Vida: Conjunto de propriedades e qualidades graças às quais animais e plantas se mantêm em contínua atividade; existência. (...) (AURÉLIO B. H. FERREIRA. Míni Aurélio – o dicionário da língua portuguesa. Editora Positivo.) 6 Vitalidade: 1. Qualidade de vital. 2. Força; vigor. – Vital: 1. Referente à vida, ou próprio para preservá-la. 2. Essencial, fundamental. (AURÉLIO B. H. FERREIRA. Míni Aurélio – o dicionário da língua portuguesa. Editora Positivo.) 7 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; questão 589. CELD. 8 O termo “animalização” é aqui empregado no sentido de animação, ou seja, ato ou efeito de animar, de adquirir vida. (Nota da Equipe do Encontro baseada no dicionário Aurélio.)

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Mas o que seria, então, o princípio vital? Os espíritos nos dizem9 que a vida é um efeito produzido pela ação de um agente

sobre a matéria. Esse agente, o princípio vital, tem sua origem na matéria universal modificada. “Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e o assimilam”. E dizem mais:

Questão 65 – O princípio vital reside num dos corpos que conhecemos? “Ele tem sua origem no fluido universal; é o que chamais fluido magnético ou

fluido elétrico animalizado. Ele é o intermediário, o elo entre o espírito e a matéria.” (ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD – grifo nosso.)

Ou seja, princípio vital é o mesmo que fluido vital. Kardec, em O Livro dos Médiuns, afirma que o fluido animalizado, ou fluido vital, compõe a substância do perispírito10. E, na Revista Espírita11, acrescenta que esse fluido é o agente usado tanto nos fenômenos mediúnicos como nos magnéticos.

Vejamos a seguir como Kardec explica o processo de assimilação desse princípio vital:

(...) qualquer que seja a opinião que se faça sobre a natureza do princípio vital, ele existe, uma vez que observamos os seus efeitos. Pode-se, portanto, admitir logicamente que os seres orgânicos, ao se formarem, assimilaram o princípio vital que era necessário à sua destinação, ou, se preferirem, que esse princípio se desenvolveu, em cada indivíduo, por efeito da combinação dos elementos, assim como se vê, sob o domínio de certas circunstâncias, surgirem o calor, a luz e a eletricidade.

(ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo X, item 17. CELD – grifo nosso.)

Vale ressaltar que essa ideia trazida pela Doutrina Espírita absolutamente não contraria a explicação dada pela Ciência para este mesmo processo (ver Anexo 1), só acrescenta um elemento – o princípio vital – por ela desconsiderado. O homem manipula células vivas para gerar um corpo (Ex.: inseminação artificial, clonagem, etc.), mas não pode ligá-lo a um espírito.

Vejamos a seguir, na encarnação de um espírito humano, um exemplo de como ocorre esse mecanismo:

18. Quando o espírito tem de encarnar em um corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que é apenas uma expansão do seu perispírito, o liga ao embrião para o qual ele se acha atraído por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o embrião se desenvolve, o laço se estreita. Sob a influência do princípio vital material do embrião, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une molécula por molécula com o corpo que se forma (...).

(ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo XI. CELD.)

9 Ver O Livro dos Espíritos; questões 63 e 64. 10 Ver O Livro dos Médiuns, itens 74 (questão 13), 75, 76 e 77. 11 Ver Revista Espírita, janeiro de 1864, “Médiuns curadores”.

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Fica claro, então, que o espírito, quando se une ao corpo, não traz uma “carga de fluido vital” para animá-lo, pois a matéria desse corpo em formação (o embrião) já estava animada. O corpo iria se desenvolver no útero materno mesmo se nenhum espírito jamais fosse ligado a ele, porém não sobreviveria após o nascimento12, pois não teria o elemento inteligente para lhe coordenar (de forma automática) as funções orgânicas13. Percebemos aí a ação da Providência Divina, que permite ou não a encarnação do espírito conforme a necessidade deste ou daqueles que lhe receberão como pais14. Cabe, então, a nós confiarmos em Deus e na ação dos espíritos superiores para a condução de nossas vidas.

Retornemos agora à questão da vitalidade. Conforme vimos anteriormente, a definição de vitalidade é: qualidade de vital, ou seja, referente à vida, ou próprio para preservá-la. Vejamos a seguir o questionamento de Kardec aos espíritos sobre a preservação dessa vitalidade:

Questão 67 – A vitalidade é um atributo permanente do agente vital, ou, então, esta vitalidade só se desenvolve pelo funcionamento dos órgãos?

“Ela só se desenvolve com o corpo. Não temos dito que esse agente sem a matéria não é a vida? É necessária a união das duas coisas para produzir a vida.” (...)

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

Em A Gênese15, Kardec dá maiores detalhes a esse respeito:

(...) na combinação dos elementos para a formação dos corpos orgânicos, desenvolve-se eletricidade. Os corpos orgânicos seriam, assim, verdadeiras pilhas elétricas, que funcionam enquanto os elementos dessas pilhas estão em condições de produzir eletricidade: é a vida; e que deixam de funcionar, quando aquelas condições desaparecem: é a morte. Segundo essa óptica, o princípio vital seria uma espécie particular de eletricidade, denominada de eletricidade animal, que se desprende durante a vida pela ação dos órgãos, e cuja produção cessa com a morte, pela extinção desta ação.

(ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo XI, item 19. CELD – grifo nosso.)

Esta eletricidade (que pode ser medida com instrumentos) é gerada pelo metabolismo celular, na troca iônica denominada de “bomba de sódio-potássio” para manter o funcionamento da célula e, por consequência, do órgão que ela compõe16.

12 Ver O Livro dos Espíritos; questão 356 (e subperguntas). 13 Para maiores detalhes sobre a atuação do espírito na formação do seu corpo, ver 1ª parte, capítulo 2, item “Centros vitais e células”, do livro Evolução em Dois Mundos, do Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. 14 Ver O Livro dos Espíritos; questões 346, 347 e 349. 15 ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo XI, item 19. CELD. 16 Ver Nota de Rodapé 159 da edição CELD de A Gênese.

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Essa eletricidade é um efeito provocado pela ação do fluido vital no organismo que está, por assim dizer, impregnado dele17. Porém:

(...) A quantidade de fluido vital se esgota; ela pode se tornar insuficiente para a manutenção da vida, se não for renovada pela absorção e a assimilação das substâncias que o contêm.

O fluido vital se transmite de um indivíduo a um outro indivíduo . Aquele que o possui em maior quantidade, pode dá-lo àquele que possui menos, e em certos casos, reacender a vida prestes a extinguir-se.

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; nota à questão 70. CELD – grifo nosso.)

Nossos alimentos provêm, em geral, de algum ser orgânico (vegetal ou animal), e mesmo após a morte deste, suas células continuam impregnadas de fluido vital por algum tempo, porém em estado latente. “Sob a ação da energia vital equilibrada, os órgãos cumprem as suas funções, o sistema de defesa imunológica funciona adequadamente, e o próprio corpo passa a absorver da Natureza os recursos fluídicos, bem como as radiações solares utilizadas para sintetizar a sua própria energia vital”18.

Uma vida desregrada (Ex.: sexo sem responsabilidade e sem limites, vício por drogas, tabaco ou bebidas alcoólicas, noitadas sem-fim, etc.) causa o gasto excessivo de energia vital, fazendo com que essa situação venha a ser sentida no corpo físico. Além disso, o cultivo de sentimentos como ódio, rancor, culpa, ansiedade, inveja, ciúme, etc., provocam uma desorganização em nosso organismo, ocasionando o surgimento de doenças. Enquanto que trabalhar no bem e nutrir sentimentos como o amor, a felicidade, a esperança, o prazer e a alegria proporcionam o fortalecimento do nosso sistema imunológico e o equilíbrio orgânico.19

A Casa Espírita nos oferece todo um conjunto de elementos que favorecem a nossa vitalidade: além dos passes e da ambiência fluídica pacificadora, ela também nos oferece o estudo da moral espírita, que é a moral ensinada pelo Cristo, como o melhor antídoto contra os males provenientes da nossa imperfeição moral. Resta-nos, então, fazer a nossa parte...

(...) É certo que Deus nos cria para sermos felizes na eternidade, portanto a vida terrestre deve servir unicamente para o nosso aperfeiçoamento moral, que se conquista mais facilmente com a ajuda dos órgãos físicos e do mundo material. (...)

(ALLAN KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo; capítulo XI, item 13. CELD.)

A partir do estudo deste tema, podemos concluir que criação da vida não é obra do acaso. Há uma causa inteligente regendo todo esse processo: “a inteligência

17 Para maiores detalhes, ver Anexo 1. 18 CASA DE EURÍPEDES. Apresentação de slides do curso O Livro dos Espíritos; “A Criação / Do princípio vital”. (casadeeuripedes.com.br/mediunico/.../Aula-4-OLE2013-A-Criação-e-Fluido-Vital.pps) 19 Para maiores detalhes sobre as doenças causadas pelo cultivo de maus pensamentos e sentimentos, bem como da prevenção pela prática do Evangelho de Jesus, recomendamos a obra Evangelho e Saúde editada pelo CELD.

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suprema, causa primeira de todas as coisas” 20. Há, também, um objetivo providen-cial para essa vida: o progresso e, consequentemente, a felicidade. Daí a importância de valorizarmos a nossa vida e fazermos o esforço para mantê-la.

O espírito supre as suas necessidades de manutenção da vida e se eleva usando os instrumentos interiores que Deus lhe deu. Quais seriam esses instrumentos?

Veja também:

• A Gênese: capítulo XIV, itens 1 a 5. • O Livro dos Espíritos: 27, 60, 61, 66, 344 a 347, 353 a 356, 427 e

692. • L. PALHANO JÚNIOR. Dicionário de Filosofia Espírita; “Princípio

vital”. CELD.

20 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; questão 1. CELD.

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Tema 2 – Inteligência ou instinto? Objetivos:

• Perceber que a vitalidade é independente da inteligência.

• Identificar a inteligência e o instinto como ferramentas que Deus nos deu para a manutenção da vida.

• Identificar como o instinto guia os seres na satisfação das suas necessidades básicas da vida material.

• Compreender que para progredir é necessário que o espírito predomine sobre a matéria.

Questão 71 – A inteligência é um atributo do princípio vital? “Não, visto que as plantas vivem e não pensam: elas só possuem a vida

orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, já que um corpo pode viver sem a inteligência; mas, a inteligência só pode manifestar-se por meio dos órgãos materiais; é necessária a união do espírito para intelectualizar a matéria animalizada.”

A inteligência é uma faculdade especial, própria a algumas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer relações com o mundo exterior e de proverem às suas necessidades.

Podem distinguir-se assim: 1o) os seres inanimados, constituídos unicamente de matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos; 2o) os seres animados que não pensam, formados de matéria e dotados de vitalidade, porém, desprovidos de inteligência; 3o) os seres animados que pensam, formados de matéria, dotados de vitalidade e que possuem a mais um princípio inteligente que lhes dá a faculdade de pensar.

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD – grifo nosso.)

Considerando, agora, a animação da matéria pelo princípio vital, Kardec faz uma nova classificação dos seres (diferente da que vimos no Tema 1); nesta ele usa o termo “inanimados” em lugar de “inorgânicos” e “animados” em lugar de “orgâni-cos”. Aqui, porém, ele subdivide o grupo dos animados em: seres que pensam e seres que não pensam.

Vale destacar que a espécie humana, não obstante fazer parte do 3o grupo, o dos seres animados que pensam, possui uma capacidade de raciocínio e “um senso moral especial que lhe dá uma incontestável superioridade sobre os outros”21. Só ele possui uma ideia sobre si mesmo e sobre Deus. “Pelo físico, o homem é como os animais e bem menos dotado do que muitos deles; a Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para atender suas necessidades e sua conservação” 22. Mas, fica uma pergunta:

21 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item II. CELD. 22 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; questão 592. CELD.

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Questão 72 – Qual é a fonte da inteligência? “Nós o dissemos: a inteligência universal.” a) Poder-se-ia dizer que cada ser haure uma porção de inteligência da fonte

universal e a assimila, como haure e assimila o princípio da vida material? “Isto é apenas uma comparação, mas que não é exata, porque a inteligência é

uma faculdade peculiar a cada ser e constitui sua individualidade moral. Além disso, vós o sabeis, há coisas que não é dado ao homem penetrar e esta, no momento, é uma delas.”

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD – grifo nosso.)

Há nos animais, assim como no homem, um princípio inteligente indepen-dente da matéria e que sobrevive à morte do corpo23. Porém, “os animais apenas possuem a inteligência da vida material; no homem, a inteligência proporciona a vida moral”24. A alma humana é o princípio inteligente que se elaborou numa série de existências pelos seres inferiores da criação. É nesses seres, cuja totalidade estamos longe de conhecer, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza, pouco a pouco, e se ensaia para a vida. “É, de alguma forma, um trabalho preparatório, como o da germinação, em consequência do qual o princípio inteligente experimenta uma transformação e se torna espírito. É, então, que começa para ele o período da humanidade e com ela a consciência de seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade de seus atos” 25. Nesse processo de elaboração, “o reflexo26 precede o instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade refletida, que é base da inteligência”27.

Questão 73 – O instinto é independente da inteligência? “Não, precisamente, pois é uma espécie de inteligência. O instinto é uma

inteligência não raciocinada. É através dele que todos os seres proveem às suas necessidades.”

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD. – grifo nosso.)

Vamos concluindo com os espíritos: • Nas plantas não há nem inteligência nem instinto, há uma atividade

puramente mecânica que as conduz ao que lhes possa ser útil e as afasta do que lhes possa ser nocivo28. Nelas, o princípio inteligente ainda está na fase do reflexo, em transição para a conquista do instinto.

23 Ver O Livro dos Espíritos; questão 597. CELD. 24 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; questão 604, subpergunta “a”. CELD. 25 Ver O Livro dos Espíritos; questão 607 e subpergunta. CELD. 26 Reflexo: reação involuntária motora ou secretora, desencadeada pelo organismo, em consequência de estímulos captados. (Nota da Equipe do Encontro.) 27 ANDRÉ LUIZ, Psicografia de Francisco C. Xavier e Waldo Vieira. Evolução em Dois Mundos; Primeira parte, capítulo 4. Editora FEB. 28 Ver O Livro dos Espíritos; questão 590. CELD.

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• Instinto e inteligência estão presentes tanto no homem como nos animais.

• Nos animais, há uma espécie de inteligência, “cujo exercício está, entretanto, mais exclusivamente concentrado nos meios de satisfazer suas necessidades físicas e de prover à própria conservação”29. Se alguns são suscetíveis de certa educação (domesticação, adestramento), “o desenvolvimento intelectual deles, sempre encerrado em limites estreitos, é devido à ação do homem sobre uma natureza flexível”30.

• O homem possui, além do instinto, uma inteligência lhe dá a faculdade de raciocinar, devido à capacidade já conquistada do pensamento contínuo31.

Questão 74 – Pode-se demarcar um limite entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde termina um e onde começa a outra?

“Não, pois, frequentemente, eles se confundem; porém, podem-se distinguir, muito bem, os atos que advêm do instinto daqueles que derivam da inteligência.”

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

Isso pode ser mais claramente observado no homem, pois este, já dotado de inteligência e vontade, é o dirigente de sua conduta, capaz de discernir e direcionar seus próprios pensamentos e suas ações. Assim sendo, não cabe ao instinto a responsabilidade de suas escolhas.

Vejamos com Kardec como distinguir um ato inteligente de um ato instintivo:

(...) Todo ato maquinal é instintivo, aquele que denota reflexão e intenção é inteligente. Um é livre, o outro não é.

O instinto é um guia seguro, que não se engana jamais. A inteligência, só porque é livre, está, por vezes, sujeita ao erro. (...)

(ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo III, item 12. CELD.)

Questão 75 – É certo dizer que as faculdades instintivas diminuem à medida

que crescem as faculdades intelectuais? “Não; o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto pode

também conduzir ao bem; ele quase sempre nos guia e, algumas vezes, com mais segurança do que a razão; ele nunca se extravia.”

a) Por que a razão nem sempre é guia infalível? “Ela seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e

pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio.”

29 Ver O Livro dos Espíritos; questão 593. CELD. 30 Ver O Livro dos Espíritos; questão 593. CELD. 31 Ver Evolução em Dois Mundos; Primeira parte, capítulo 10.

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33o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos Tema Central: “Princípio Vital”

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O instinto é uma inteligência rudimentar que difere da inteligência propriamente dita, pelo fato de que suas manifestações são quase sempre espontâneas, enquanto que as da inteligência são o resultado de uma combinação e de um ato deliberado.

O instinto varia em suas manifestações, segundo as espécies e suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade.

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD – grifos nossos.)

O desenvolvimento da inteligência não faz desaparecer o instinto. Este, além de conduzir o homem à satisfação das suas necessidades básicas, “pode também conduzir ao bem”. Vale ressaltar que muitas vezes agimos “sem pensar”, ou seja, sem raciocinar ou meditar, porém nem todos esses atos são instintivos. Vejamos a seguir algumas definições:

Tendência é algo que impele alguém a seguir um caminho. É sinônimo de predisposição, de inclinação ou propensão. Alguma coisa inata, mas que, conforme as circunstâncias, pode ser controlada pela educação. Difere, portanto, do instinto, porque este independe do controle da razão.

Impulso, por sua vez, é ação irrefletida e espontânea, movida pela emoção, que também pode ser administrada pela educação. A pessoa adquire, então, autocontrole.

(FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita – Livro V; Roteiro 10. Editora FEB.)

Nós enquanto espíritos, por nossos atos, criamos tendências boas ou más que geram os impulsos. Em muitas dessas ocasiões, deixamo-nos levar por essas tendências. Vemos, dessa forma, que tendência e impulso são também atos inteligentes, que podem ser bons ou maus, porque o instinto é sempre bom, “ele nunca se extravia”, a inteligência, sendo neutra, sempre será qualificada através do uso do livre-arbítrio, conforme o nosso senso moral. Daí que a inteligência não necessariamente acompanha a moralidade, porém bem direcionada nos leva ao progresso.

É preciso observar, também, que “O homem que só agisse por instinto poderia ser muito bom, mas deixaria a sua inteligência adormecida; seria como a criança que não deixasse as andadeiras e não soubesse usar as próprias pernas”32.

(...) Para avançar em direção ao objetivo é preciso vencer os instintos em proveito dos sentimentos, isto é, aperfeiçoar estes últimos, reprimindo os germes latentes da matéria. (...) O espírito deve ser cultivado assim como a terra, toda a riqueza futura depende do trabalho presente, e mais do que bens terrestres ele vos dará a gloriosa elevação. É então que, compreendendo a lei de amor que une todos os seres, buscareis nela os suaves prazeres da alma que são o prelúdio das alegrias celestes.

Lázaro (ALLAN KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo; capítulo XI, item 8. CELD. – grifo nosso.)

32 ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo III, item 19. CELD.

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Portanto, o espírito em seu ponto de partida, simples e ignorante, tem o instinto como um guia seguro e à medida que avança em experiências e sentimentos, aperfeiçoa a si mesmo, fazendo uso da inteligência. Todavia, por maior aprimoramento intelectual que se possa obter, o instinto jamais será inútil ou nocivo, e acompanhará a jornada do espírito imortal rumo à felicidade.

8. O amor resume inteiramente a Doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso alcançado. Na sua origem o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto mais delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar da palavra, mas o sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. (...)

Lázaro (ALLAN KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo; capítulo XI, item 8. CELD. – grifo nosso.)

Estudamos nestes dois primeiros temas sobre o surgimento e a conservação da vida. Entretanto, em algum momento, a vida se extingue no ser orgânico...

O que seria, então, a morte na visão espírita? Há uma finalidade providencial nisto?

Veja também:

• O Livro dos Espíritos: questões 702 e 703. • A Gênese: capítulo III, itens 11 a 19. • O Céu e o Inferno: Primeira parte, capítulo VIII, item 1. Apostila do

32o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos: Tema 2.

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Tema 3 – A morte não é o fim! Objetivos:

• Reconhecer que a morte33 do corpo é a principal causa da partida do espírito.

• Perceber que o estado moral da alma influi facilitando ou dificultando seu desprendimento.

• Identificar a importância dos ensinamentos de Jesus sobre a imortalidade da alma.

Questão 68 – Qual é a causa da morte nos seres orgânicos? “Esgotamento dos órgãos.” a) Poder-se-ia comparar a morte à cessação do movimento numa máquina

desorganizada? “Sim, se a máquina está desajustada, cessa a atividade; se o corpo está

enfermo, a vida se extingue.” (ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

Conforme vimos no Tema 1, a vitalidade só se desenvolve com a união entre o fluido vital e a matéria. Do ponto de vista material, quando as células processam os alimentos que os seres orgânicos absorvem na alimentação, elas produzem a energia necessária ao seu funcionamento e, por consequência, do órgão que ela compõe. O fluido vital contido nesses alimentos, que antes estava em estado latente34, agora entra em ação para manter a atividade dessas células, ou seja, dar-lhes vida, vitalidade. Porém, não basta só isso para manter a atividade do corpo. Vejamos com Kardec:

(...) Os órgãos são impregnados, por assim dizer, de fluido vital. Esse fluido dá a todas as partes do organismo uma atividade que possibilita seu inter-relacionamento e, em certas lesões, restabelece funções, momentaneamente suspen-sas. Porém, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital é impotente para lhes transmitir o movimento da vida e o ser morre.

Os órgãos reagem, mais ou menos necessariamente, uns sobre os outros; é da harmonia de seu conjunto que resulta sua ação recíproca. Quando uma causa qualquer destrói esta harmonia, suas funções cessam, como o movimento de um mecanismo cujas peças essenciais estão escangalhadas. Assim como um relógio que com o tempo se gasta ou se quebra por acidente e cuja força motriz é impotente para colocar em movimento. (...)

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; nota à questão 70. CELD.)

33 Usa-se a palavra desencarnação como sinônimo de morte, e, por consequência, desencarnar como sinônimo de morrer. 34 Ver O Livro dos Espíritos; questão 67 (e subpergunta), e A Gênese; capítulo X, item 18.

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Tomaremos mais uma vez o espírito humano como exemplo, porém, agora, analisaremos como ocorre a separação entre o elemento espiritual e a matéria:

(...) Por um efeito contrário, essa união do perispírito com a matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do embrião, quando este princípio deixa de agir, em consequência da desorganização do corpo que conduz à morte, essa união, que era mantida apenas por uma força atuante, se desfaz quando esta força deixa de agir. Então, da mesma forma como havia se unido, o perispírito se desprende, molécula por molécula, e o espírito é restituído à liberdade. Assim, não é a partida do espírito que causa a morte do corpo, mas a morte do corpo que causa a partida do espírito.

(ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo XI, item 18. CELD – grifo nosso.)

Mas, então, resta a pergunta que não quer calar: MORRER DÓI?

4. A extinção da vida orgânica ocasiona a separação da alma e do corpo pelo rompimento do laço fluídico que os une; mas essa separação jamais é brusca; o fluido perispiritual se desprende pouco a pouco de todos os órgãos, de forma que a separação só é completa e absoluta quando não restar mais um só átomo do perispírito unido a uma molécula do corpo. A sensação dolorosa que a alma experimenta nesse momento está em relação com a soma dos pontos de contato que existem entre o corpo e o perispírito, e da maior ou menor dificuldade e lentidão que a separação apresente. Portanto, não é preciso ocultar que, segundo as circunstâncias, a morte pode ser mais ou menos penosa. (...)

(ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno; Segunda Parte – capítulo I. CELD – grifos nossos.)

Percebemos, então, que a sensação dolorosa no momento da desencarnação

varia de pessoa para pessoa. Porém, vale ressaltar que na passagem da vida corporal para a vida espiritual, produz-se o fenômeno da perturbação35. “Nesse momento a alma experimenta um entorpecimento que paralisa momentaneamente suas facul-dades e neutraliza, pelo menos em parte, as sensações; ela está, por assim dizer, cataleptizada36, de maneira que quase nunca é testemunha consciente do último suspiro”37 (ver Anexo 13). Ou seja, essa sensação dolorosa é experimentada pelo espírito antes e/ou depois do último suspiro.

Mas o que causa, em cada pessoa, a ligação mais ou menos forte entre o corpo e o perispírito?

35 Para um aprofundamento sobre o estudo dessa perturbação (também chamada crise da morte), recomendamos a leitura da obra A Crise da Morte de Ernesto Bozzano, editada pela FEB. 36 Cataleptizada: em estado de catalepsia, em que se observa uma rigidez cérea dos músculos, de modo que o paciente permanece na posição em que é colocado. Observa-se a catalepsia principalmente em casos de demência precoce e de sono hipnótico. (Nota da Tradutora do CELD, extraída do livro.) 37 ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno; Segunda Parte – capítulo I, item 6. CELD.

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8. O estado moral da alma é a principal causa a influir na maior ou na menor facilidade de desprendimento. A afinidade entre o corpo e o perispírito depende diretamente da ligação do espírito à matéria; ela chega ao seu máximo no homem em que todas as preocupações se concentram na vida e nos prazeres materiais; ela é quase nula naquele cuja alma depurada se identificou por antecipação com a vida espiritual. Visto que a lentidão e a dificuldade da separação são proporcionais ao grau de depuração e de desmaterialização da alma, depende de cada um tornar essa passagem mais ou menos fácil, mais ou menos penosa, agradável ou dolorosa. (...)

(ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno; Segunda Parte – capítulo I. CELD – grifos nossos.)

Vivemos no mundo como se fôssemos do mundo: somos consumistas, buscamos de forma desenfreada as riquezas, o ócio e prazeres materiais, desperdiçamos recursos e oportunidades. A moderação dos desejos, o trabalho no bem e o estudo da vida espiritual são facilitadores para nos desprender da materialidade; são meios que nos ajudam a encarar melhor o fenômeno da morte.

Vejamos, agora, a análise de Kardec para alguns tipos de morte (desencarna-ção) e sua influência no desprendimento:

• Quando uma causa faz parar o coração:

Questão 69 – Por que uma lesão do coração causa mais a morte do que a de outros órgãos?

“O coração é uma máquina de vida; mas o coração não é o único órgão cuja lesão ocasiona a morte; ele é apenas uma das peças essenciais.”

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

• Na morte devido à idade ou a uma doença:

9. Na morte natural, aquela que resulta da extinção das forças vitais pela idade ou pela doença, o desprendimento se opera gradualmente; no homem cuja alma é desmaterializada e cujos pensamentos estão desligados das coisas terrestres, o desprendimento é quase completo antes da morte real; o corpo ainda vive a vida orgânica e a alma já entrou na vida espiritual, a alma prende-se ao corpo apenas por um laço tão frágil que este se rompe facilmente com o último batimento do coração. (...)

No homem materialista e sensual, aquele que viveu mais pelo corpo que pelo espírito, para quem a vida espiritual não é nada, nem sequer uma realidade em seu pensamento, tudo contribuiu para apertar mais os laços que o ligam à matéria; nada veio afrouxá-los durante a vida. Na proximidade da morte, o desprendimento também se opera gradualmente, mas com esforços contínuos. As convulsões da agonia são o indício da luta que o espírito enfrenta, porquanto, às vezes, ele quer romper os laços que lhe resistem e, em outras vezes, agarra-se ao seu corpo do qual uma força irresistível o arranca violentamente, parte por parte.

(ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno; Segunda Parte – capítulo I. CELD – grifos nossos.)

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• Na morte violenta:

12. Na morte violenta, as condições não são exatamente as mesmas. Nenhuma desagregação parcial pôde ocasionar uma separação prévia entre o corpo e o perispírito; a vida orgânica, em toda a sua força, subitamente é interrompida; o desprendimento do perispírito só começa após a morte, e, nesse caso como em outros, não pode se realizar instantaneamente. (...)

(ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno; Segunda Parte – capítulo I. CELD – grifos nossos.)

Percebemos nesses textos que o tipo de desencarnação só interfere

proporcionando ou não um desligamento prévio entre o perispírito e o corpo físico. O tempo, facilidade ou dificuldade e, por consequência, maior ou menor tranquilidade no desligamento, dependem do estado moral do espírito.

Questão 70 – O que se tornam a matéria e o princípio vital dos seres orgânicos, quando da morte destes?

“A matéria inerte se decompõe e forma outros; o princípio vital retorna à massa.”

Estando morto o ser orgânico, os elementos dos quais é formado sofrem novas com-binações, que constituem novos seres; estes haurem na fonte universal o princípio da vida e da atividade, absorvem-no e o assimilam, para devolvê-lo a essa fonte, quando deixarem de existir. (...)

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

Concluímos, então, que matéria (corpo físico e fluido vital) e espírito têm

destinos bem diferentes após a morte. Aquilo que se destrói é só matéria! “ O momento da morte não é o fim, marca apenas a separação do corpo material da alma, que somos nós – espíritos – quando encarnados.”38

(...) Com efeito, é racional conceber que quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, mais tenha dificuldade de se separar dela; enquanto que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo e, quando a morte chega, ele é quase instantâneo. Este é o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos observados, no momento da morte. (...)

(ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; nota à questão 155. CELD.)

Dessa forma, vemos que o Espiritismo comprova, pela observação dos fatos,

aquilo que Jesus já havia nos ensinado:

38 EQUIPE DO ENCONTRO SOBRE ANDRÉ LUIZ. Apostila do 1o Encontro Espírita sobre As Obras de André Luiz; Tema 1. CELD.

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Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho39 os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração.

Jesus (MATEUS; capítulo VI, versículos 19 a 21. Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus.)

Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando comenta sobre a vida futura, afirma que Jesus a apresenta, “em todas as circunstâncias, como a meta a que tende a humanidade e como devendo ser o objeto das principais preocupações do homem sobre a Terra.”40 Acrescentando que todos os ensinamentos de Jesus se referem a esse grande princípio.

Jesus, por sua vez, não só ensinou esse princípio, como deu provas da sua veracidade com a sua aparição a diversas pessoas, em espírito, três dias após a morte do seu corpo físico; fenômeno esse que ficou conhecido com o nome de ressur-reição.41

Assim como Kardec, o apóstolo Paulo também já nos chamava a atenção para as consequências morais desse princípio ao afirmar:

Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé. (...) Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos.

(PAULO. 1a Epístola aos Coríntios; capítulo XV, versículos 13, 14 e 32. Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus.)

Desta forma concluímos que a vida continua após a morte do corpo físico e

que nossas ações na vida carnal geram consequências para a vida futura.

Veja também:

• O Livro dos Espíritos; questões 154 a 165, 422 a 424, 941 e 942. • O Evangelho Segundo o Espiritismo; capítulo V: item 28; XXVIII:

itens 59 e 60. • O Céu e o Inferno; Primeira Parte – capítulo II; Segunda Parte –

capítulo I.

39 Denominação comum aos insetos coleópteros ou suas larvas que corroem livros, perfuram madeira e destroem cereais; carcoma, carneirinho, carpinteiro, gorgulho. (Dicionário Michaelis online – Nota da Equipe do Encontro.) 40 ALLAN KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo; capítulo II, item 2. CELD. 41 Para mais detalhes sobre a visão espírita sobre esse fenômeno, ver A Gênese; capítulo XV, itens 56 a 68.

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Conclusão A vida é um efeito produzido pela ação do fluido vital sobre a matéria. É um

processo regido por leis naturais, embora não se restrinja às leis da matéria tangível. Deus, por meio dessas leis, regula o surgimento da vida nos seres orgânicos de forma que o princípio espiritual una-se à matéria (animada pelo princípio vital), para que possa se elaborar e se individualizar rumo à humanidade e desta à angelitude. O processo de formação de um ser orgânico, mesmo quando não “vinga”, está dentro das Leis de Deus.

Em sua suprema sabedoria, Deus proveu os seres de instrumentos próprios para a conservação de sua vida. Esses instrumentos vão se desenvolvendo conforme o princípio inteligente (atributo do princípio espiritual) se elabora numa série de existências pelos seres da criação: nas plantas está presente o reflexo (atividade puramente mecânica); nos animais há, também, o instinto (inteligência limitada). O homem possui não só o reflexo e o instinto, como, também, uma inteligência mais desenvolvida que lhe dá a capacidade de raciocínio, de escolha e a consciência de si mesmo, que lhe permitem viver não só pela conservação do corpo, mas, também, pelo progresso intelecto-moral. Deus permite que o homem, interfira, na medida do seu progresso, na sua própria vida e na dos outros seres ao seu redor, sendo, assim, um agente consciente na manutenção da harmonia da Natureza. Para avançar em direção a esse objetivo é necessário que o espírito predomine sobre a matéria.

A morte dos seres orgânicos marca o final do processo de uma existência material. Encerra-se a vida na matéria orgânica, porém não se encerra a vida do princípio espiritual, pois este nunca morre. O esgotamento dos órgãos faz cessar a atividade dos corpos, e isto causa o desligamento do princípio espiritual. No ser humano, que já possui a consciência de si mesmo, há também outro fator a influir no desligamento: o estado moral do espírito; deste dependem o tempo, facilidade ou dificuldade e, por consequência, maior ou menor tranquilidade no desligamento. Assim, ressalta-se para nós a importância deste ensinamento de Jesus: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho42 os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração.”43

Concluímos, então, que o surgimento e a cessação da vida não são obra do acaso. Há uma causa inteligente regendo todo esse processo: “a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”44. Há, também, um objetivo providencial para essa vida: o progresso e, consequentemente, a felicidade do espírito imortal.

42 Denominação comum aos insetos coleópteros ou suas larvas que corroem livros, perfuram madeira e destroem cereais; carcoma, carneirinho, carpinteiro, gorgulho. (Dicionário Michaelis online – Nota da Equipe do Encontro.) 43 MATEUS; capítulo VI, versículos 19 a 21. Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus. 44 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos; questão 1. CELD.

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ANEXO 1 – Tema 1 O fluido vital e o funcionamento do nosso organismo45

Frequentemente quando pensamos em energia nos remetemos mentalmente à aparelhos eletrônicos como geladeira, televisão ou ainda, meios de transportes como carros, foguetes. Porém, está reconhecido que na verdade tudo o que vemos (e ainda o que não vemos) é energia. Inclusive nossos corpos! O que acontece é que toda “massa” (ponderabilidade da matéria) tem uma “energia” associada e vice-versa, de tal sorte que é possível converter energia em matéria (massa), bem como matéria em energia. Albert Einstein introduziu tal princípio a partir da célebre fórmula E=m.c2. Logo, energia e matéria estão intimamente ligadas, pois têm a mesma essência.

Ok..., mas o que é “energia”? A definição exata que nos revele a intimidade do que é energia não existe, porém o que sabemos hoje é que “energia” está relacionada à capacidade que um corpo tem de realizar “trabalho”. Por trabalho entenderemos aqui “atividade” / “movimento”: levantar um peso, empurrar alguma massa (sólida ou fluida46), locomoção.

E o que isso tem a ver com o fluido vital? Primeiramente, vejamos o que os espíritos dizem a respeito de “fluido”: L.E.47 27 a) Este fluido seria aquele que designamos sob o nome de eletrici-

dade? “Dissemos que ele é suscetível de inumeráveis combinações; o que chamais

fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão uma matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar como independente.”

De certa forma, parece que os espíritos chamavam de “fluido” à época de Kardec, o que a ciência de hoje chama de energia: energia elétrica e energia magnética, por exemplo.

E o nosso corpo, possui alguma energia? É fácil concluir que sim: nós nos locomovemos, nosso coração bombeia sangue, nosso trato gastrointestinal empurra o alimento, nossas células de defesa em certas condições são capazes de “perseguir” micro-organismos. Ora, mas de qual energia estaremos falando?

Na palavra dos Espíritos, fluido vital dá movimento à matéria48, e, portanto fluido vital é um tipo de “energia”! Assim, podemos dizer que a energia elétrica está para um ventilador, por exemplo, assim como o fluido vital (ou ainda “energia” vital) está para o nosso corpo.

45 Referência científica: DAVID L. NELSON e MICHAEL M. COX. Princípios de Bioquímica; capítulo “Fosforilação Oxidativa”. Editora Sarvier. 46 A Ciência reconhece hoje como “fluido” qualquer substância que se deforma continuamente quando submetida a uma tensão. (Ex: a água, o ar, o óleo de cozinha, o gás dos balões... enfim, líquidos e gases em geral.) 47 ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD. 48 Ver O Livro dos Espíritos; questão 66.

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Podemos dizer que no caso de um aparelho que funciona à eletricidade, a energia pode estar armazenada numa pilha ou bateria. No caso dos seres vivos onde está armazenada a energia? Os organismos vivos têm, por assim dizer, “moedas energéticas”. Tais “moedas” são compostos químicos que acumulam energia nas ligações de seus átomos. Elas não são a própria energia, mas a acumulam, como uma bateria. Uma das principais moedas energéticas é o “ATP” (adenosina trifos-fato). Nesse contexto, ao ser quebrada, a molécula de ATP libera energia para ser utilizada na produção de hormônios, contração muscular, defesa imunológica, cicatrização de tecidos, etc.

Vejamos o que Kardec diz sobre as funções sobre o fluido vital: L.E. 70. Nota de Kardec: (...) Os órgãos são impregnados, por assim dizer, de

fluido vital. Esse fluido dá a todas as partes do organismo uma atividade que possibilita seu inter-relacionamento e, em certas lesões, restabelece funções, momen-taneamente suspensas. Porém, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital é impotente para lhes transmitir o movimento da vida e o ser morre. (...)

Assim sendo, percebemos que essas moedas energéticas desempenham um papel similar ao fluido vital. Não podemos dizer que a energia contida nos átomos dessas moléculas seja o próprio fluido vital, porém, pelas funções que este desem-penha, podemos deduzir que o tal fluido participa de alguma forma da formação de tais “moedas energéticas”.

E como a energia foi parar no ATP? Nossos alimentos têm o que chamamos de “calorias”, que nada mais são que a quantidade de energia necessária para elevar em 1ºC uma porção de 1g de água. Logo, os alimentos que consumimos têm energia! Ao serem digeridos e absorvidos pelas células, continuam a ser quebrados e durante esse processo podem ter sua energia transferida para o ATP. Tomemos como exemplo a glicose, um tipo de açúcar presente na maior parte dos alimentos. Ao ser quebrada dentro das células, pode gerar duas moléculas de ATP. Se essa célula tiver mitocôndrias49, a produção de ATP pode ser aumentada para 38 moléculas a partir de apenas uma de glicose.

Podemos encontrar as substâncias que contêm fluido vital nos diversos tipos de alimento que consumimos. Novamente aqui ainda é válida a comparação com o ATP, cuja energia também vem da alimentação e é utilizada para todas as atividades que o corpo precisa realizar.

Nas palavras de Gabriel Delanne50: “É por meio do fluido vital, impregnado no gérmen, que a encarnação pode realizar-se, sabendo nós que o Espírito só pode atuar sobre a matéria por intermédio da força vital. Dá-se, pois, íntima fusão entre o perispírito e o fluido vital, sendo este o motor determinante da evolução contida no trinômio-juventude, madureza, velhice”.

49 Organelas presentes nas células de algumas espécies de seres orgânicos, como, por exemplo, o ser humano. 50 GABRIEL DELANNE. Evolução Anímica. Editora FEB.

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Nota-se então que o perispírito, quando associado ao fluido vital, ativa a matéria organizada para que esta desempenhe o seu papel funcional/regenerador, seja através do ATP ou outro mecanismo que transfira energia para a matéria e a coloque “em movimento” (capaz de se desenvolver, se regenerar, contrair músculos, estabelecer defesas, etc.). Tal organização da matéria é importante sobre dois aspectos: 1- se uma lesão for grave, o fluido vital perde seu efeito regenerador; 2- a genética de cada indivíduo dá maneiras diferentes de organizar a matéria. Isso dá certos limites ou maiores possibilidades à atuação do fluido vital.

Em relação ao segundo aspecto, imaginemos um restaurante onde o cozinheiro possui uma estante cheia de livros de receitas. Um cliente chega e pede uma “macarronada aos quatro queijos”. O cozinheiro vai à estante, pega um livro e executa a receita exatamente como o descrito. Contudo, o que vai acontecer se o cliente pedir um prato cuja receita não esteja na estante? O cozinheiro não vai conseguir preparar! Nesse contexto, a estante seria o código genético, “o cozinheiro” corresponde ao fluido vital e o cliente seria o espírito. Colocando um exemplo mais prático disso, suponhamos que espírito queira, ao encarnar, modelar em seu corpo a característica “olhos azuis”. Ele só conseguirá utilizar o fluido vital para “movimentar” a matéria e ter os olhos azuis se em seu material genético tiver a informação para tal cor de olhos. Dessa forma, compreende-se que o código genético dá uma limitação material à possibilidade que o espírito tem de modelar o corpo, utilizando para tal fim o fluido vital. No caso da cor de olhos azuis o caráter é genuinamente hereditário, porém é importante lembrar que sempre há a possibilidade de mutações (modificações no material genético) após a fecundação e nesse caso um ou mais “livros de receita” vão mudar, mesmo sem respaldo na informação genética dos pais (ex: Síndrome de McCune Albright), processo certamente guiado pelas necessidades do reencarnante. Retomemos novamente Gabriel Delanne para endos-sarmos o raciocínio: “Importa, todavia, notar que a alma nem sempre pode dar ao corpo físico a forma que desejaria. Não, ela não tem esse poder, uma vez que o invólucro corporal é construído mediante as leis invariáveis da fecundação, e a hereditariedade individual dos genitores, transmitida pela força vital, opõe-se ao poder plástico da alma.” E ainda: “O Espírito faceta o corpo, mas as leis da hereditariedade podem acarretar-lhe entraves, de maneira que, durante a existência corporal, cerceada lhe fique a manifestação da inteligência em toda a sua amplitude e fulgurância”.

É através das informações que se encontram no código genético que nosso corpo é formado. No momento da união do óvulo com o espermatozoide (duas células vivas, ou seja, com fluido vital), unem-se os materiais genéticos dos pais e formam o DNA do corpo que se desenvolverá. A partir daí, a célula-ovo que se forma começa a se dividir dando origem, pouco a pouco, às células, tecidos e órgãos que irão formar o corpo. Cada célula que se forma carrega consigo essas informações e vão executando suas funções com base nelas, mesmo após o nascimento.

Equipe do Encontro51

51 Para a elaboração deste anexo, a Equipe do Encontro contou com a ajuda do companheiro Anderson Teixeira.

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ANEXO 2 – Tema 1 O prisioneiro do Cristo

(...) Decorridos catorze dias de cerração e tormenta, o barco alexandrino atingiu a ilha de Malta. (...) Os naturais da Ilha, bem como os poucos romanos que lá residiam a serviço da administração, acolheram os náufragos com simpatia; mas, por numerosos, não havia acomodação para todos. Frio intenso enregelava os mais resistentes. Paulo, todavia, dando mostras do seu valor e experiência no afrontar intempéries, tratou de dar o exemplo aos mais abatidos, para que se fizesse fogo, sem demora. Grandes fogueiras foram acesas rapidamente para aquecimento dos desabrigados; mas, quando o Apóstolo atirava um feixe de ramos secos à labareda crepitante, uma víbora cravou-lhe na mão os dentes venenosos. O ex-rabino susteve-a no ar com um gesto sereno, até que ela caísse nas chamas, com estupefação geral. Lucas e Timóteo aproximaram-se aflitos. O chefe da coorte e alguns amigos estavam desolados. É que os naturais da Ilha, observando o fato, davam alarme, asseverando que o réptil era dos mais venenosos da região, e que as vítimas não sobreviviam mais que horas.

Os indígenas, impressionados, afastavam-se discretamente. Outros, assusta-diços, afirmavam:

— Este homem deve ser um grande criminoso, pois, salvando-se das ondas bravias, veio encontrar aqui o castigo dos deuses.

Não eram poucos os que aguardavam a morte do Apóstolo, contando os minutos; Paulo, no entanto, aquecendo-se como lhe era possível, observava a expressão fisionômica de cada um e orava com fervor. Diante do prognóstico dos nativos da Ilha, Timóteo aproximou-se mais intimamente e buscou cientificá-lo do que diziam a seu respeito.

O ex-rabino sorriu e murmurou: — Não te impressiones. As opiniões do vulgo são muito inconstantes, tenho

disso experiência própria. Estejamos atentos aos nossos deveres, porque a ignorância sempre está pronta a transitar da maldição ao elogio e vice-versa. É bem possível que daqui a algumas horas me considerem um deus.

Com efeito, quando viram que ele não acusara nem mesmo a mais leve impressão de dor, os indígenas passaram a observá-lo como entidade sobrenatural. Já que se mantivera indene ao veneno da víbora, não poderia ser um homem comum, antes algum enviado do Olimpo, a que todos deveriam obedecer.

A esse tempo, o mais alto funcionário de Malta, Públio Apiano, chegara ao local e ordenava as primeiras providências para socorrer os náufragos, sendo eles conduzidos a vastos galpões desabitados, próximo de sua residência, lá recebendo caldos quentes, remédio e roupas. (...)

Ciente da elevada condição espiritual do convertido de Damasco e ouvindo os fatos maravilhosos, que lhe atribuíam no capítulo das curas, lembrou comovidamente ao centurião:

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— Ainda bem! Lembrança preciosa a vossa, mesmo porque, tenho aqui meu pai enfermo e desejaria experimentar as virtudes desse santo varão do povo de Israel!...

Convidado por Júlio, Paulo aquiesceu desassombrado e assim compareceu em casa de Públio. Levado à presença do ancião enfermo, impôs-lhe as mãos calosas e enrugadas, em prece comovedora e ardente. O velhinho, que ardia e se consumia em febre letal, experimentou imediato alívio e rendeu graças aos deuses de sua crença. Tomado de surpresa, Públio Apiano viu-o levantar-se procurando a destra do benfeitor para um ósculo santo. O ex-rabino, no entanto, valeu-se da situação e, ali mesmo, exaltou o Divino Mestre, pregando as verdades eternas e esclarecendo que todos os bens provinham do seu coração misericordioso e justo e não de criaturas pobres e frágeis, quanto ele. (...)

Com a complacência de Júlio, o ex-rabino e os companheiros obtiveram um velho salão do administrador, onde os serviços evangélicos funcionaram regular-mente, durante os meses do inverno rigoroso. Multidões de enfermos foram curados. Velhos misérrimos, na claridade dos tesouros do Cristo alcançaram novas esperanças. Quando voltou a época da navegação, Paulo já havia criado em toda a Ilha uma vasta família cristã, cheia de paz e nobres realizações para o futuro. (...)

Emmanuel

(Psicografia de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER. Paulo e Estêvão; Segunda Parte, capítulo 9. Editora FEB.)

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ANEXO 3 – Tema 1 A reencarnação de Segismundo

[Alexandre havia sido procurado por Herculano, um companheiro seu de elevada expressão hierárquica, para um pedido de ajuda na reencarnação de Segismundo, amigo de ambos. Este, em encarnação passada, havia desviado Raquel do caminho reto e assassinado seu marido Adelino, em competição armada. Estes receberiam Segismundo como mãe e pai, porém a intervenção de Alexandre, também amigo de ambos, seria importante para convencer Adelino, que reagia à presença de Segismundo, mesmo sem se lembrar do passado.] 52

A sós com o mentor devotado e amigo, comecei a meditar na possibilidade de contribuir igualmente no caso que se me deparava. (...)

– Ser-me-ia possível acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito. (...) Alexandre sorriu, compassivo, e falou: – Não tenho objeções. Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem

algum conhecimento prévio do assunto. Em toda edificação verdadeiramente útil, não podemos prescindir da base. Temos bons amigos no planejamento de reencarnações, serviço muito importante em nossa colônia espiritual, diretamente relacionado com as atividades do Esclarecimento. Nessa instituição durante alguns dias, você terá uma ideia aproximada de nossa tarefa, portas adentro de semelhantes trabalhos. Grande percentagem de reencarnações na Crosta se processa em moldes padronizados para todos, no campo de manifestações puramente evolutivas53. Mas outra percentagem não obedece ao mesmo programa. Elevando-se a alma em cultura, conhecimentos e, consequentemente, em responsabilidade, o processo reencarnacionista individual é mais complexo, fugindo à expressão geral, como é lógico. Em vista disso, as colônias espirituais mais elevadas mantêm serviços especiais para a reencarnação de trabalhadores e missionários. (...)

[Após alguns dias na instituição responsável pelo planejamento de reencarnações...]

Senti-me ditoso e emocionado quando Alexandre me convidou a visitar, em companhia dele, o ambiente doméstico de Adelino e Raquel, onde se verificaria a reencarnação de Segismundo. (...)

[Durante o sono de Adelino, Alexandre intercedeu para que Segismundo se aproximasse deste e ambos pudessem se reconciliar. Logo após, o instrutor responde a algumas perguntas de André Luiz:]

52 Os trechos entre “[ ]” ao longo do anexo são resumos nossos. (Nota da Equipe do Encontro.) 53 Como exemplos dessas reencarnações no campo de manifestações puramente evolutivas, recomendamos:

Mensagem com o título Sexo Mesmo, do Espírito Augusto Cezar, psicografia de Francisco C. Xavier. (http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2650). PAULINO GARCIA, psicografia de Carlos A. Baccelli. Novo Dia; capítulos 14 a 17. Editora DIDIER.

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– Cada homem, como cada Espírito, é um mundo por si mesmo e cada mente é como um céu... Do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a organização planetária, mas também, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem as faíscas destruidoras. Assim, a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico; mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de alto poder destrutivo para as comunidades celulares que a servem. O pensamento envenenado de Adelino destruía a substância da hereditariedade, intoxicando a cromatina dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza, entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da Criação, porque, pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava aniquilando as células criadoras, ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a ação. (...) Modificado em sua posição íntima, Adelino emitirá doravante forças magnéticas protetoras dos elementos destinados ao serviço elevado da procriação. (...) As horas sucediam-se umas às outras e, observando-me a impaciência, Alexandre esclareceu-me, bondoso:

– Não é necessária a nossa presença ao ato de união celular. Semelhantes momentos do tálamo conjugal são sublimes e invioláveis nos lares em bases retas. Você sabe que a fecundação do óvulo materno somente se verifica algumas horas depois da união genesíaca. O elemento masculino deve fazer extensa viagem, antes de atingir o seu objetivo. (...)

Passamos, em seguida, à pequena câmara, onde Segismundo repousava. Permanecia ele aflito, de olhar triste e vagueante. Não pude sopitar uma interrogação:

– Por que motivo Segismundo sofre tanto? – indaguei de Alexandre, em tom discreto.

– Desde muito, e, particularmente, desde a semana passada, está em processo de ligação fluídica direta com os futuros pais. Herculano está encarregado de ajudá-lo nesse trabalho. À medida que se intensifica semelhante aproximação, ele vai perdendo os pontos de contato com os veículos que consolidou em nossa esfera, através da assimilação dos elementos de nosso plano. Semelhante operação é necessária para que o organismo perispiritual possa retomar a plasticidade que lhe é característica e, no estágio em que ele se encontra, o serviço impõe-lhe sofrimentos. (...)

Os espíritos construtores começaram o trabalho de magnetização do corpo perispirítico, no que eram amplamente secundados pelo esforço do abnegado orien-tador, que se mantinha dedicado e firme em todos os campos de serviço.

Sem que me possa fazer compreendido, de pronto, pelo leitor comum, devo dizer que “alguma coisa da forma de Segismundo estava sendo eliminada”. Quase que imperceptivelmente, à medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais pálido. Seu olhar parecia penetrar outros domínios. Tornava-se vago, menos lúcido. (...)

Compreendi que o interessado precisava oferecer o maior coeficiente de cooperação individual para o êxito amplo. Surpreendido, reconheci que, ao influxo

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magnético de Alexandre e dos construtores espirituais, a forma perispiritual de Segismundo tornava-se reduzida. (...)

Por fim, com grande assombro meu, verifiquei que a forma de nosso amigo assemelhava-se à de uma criança. (...)

Congregando todos os companheiros em torno de si, como figura máxima daquela reunião, Alexandre falou, gravemente:

– Agora, meus irmãos, penetremos a câmara de nossos dedicados colaboradores para que se efetue o júbilo da união espiritual. (...)

[No momento de sono do casal...] Raquel, dando-me a impressão de que não via a luminosa auréola, ergueu os

olhos rasos de lágrimas e recebeu o depósito que o Céu lhe confiava. Alexandre estendeu-lhe a destra, ajudando-a a levantar-se, e vi que Adelino se aproximou da esposa, estreitando-a carinhosamente nos braços, beijando-lhe a fronte orvalhada de luz.

Foi então, ó divino mistério da Criação Infinita de Deus, que a vi apertar a “forma infantil” de Segismundo de encontro ao coração, mas tão fortemente, tão amorosamente, que me pareceu uma sacerdotisa do Poder da Divindade Suprema. Segismundo ligara-se a ela como a flor se une à haste. Então compreendi que, desde aquele momento, era alma de sua alma aquele que seria carne de sua carne. (...)

Inclinei-me para a organização feminina de nossa irmã reencarnada, dentro de uma veneração que nunca, até então, havia sentido.

Auxiliado pelo concurso magnético do mentor querençoso, passei a observar as minúcias do fenômeno da fecundação.

Através dos condutos naturais, corriam os elementos sexuais masculinos, em busca do óvulo, como se estivessem preparados de antemão para uma prova eliminatória, em corrida de três milímetros, aproximadamente, por minuto. (...)

Após acompanhar, profundamente absorto no serviço, a marcha dos minúsculos competidores que constituíam a substância fecundante, [Alexandre] identificou o mais apto, fixando nele o seu potencial magnético, dando-me a ideia de que o ajudava a desembaraçar-se dos companheiros para que fosse o primeiro a penetrar a pequenina bolsa maternal. (...)

Depois de prolongada aplicação magnética, que era secundada pelo esforço dos Espíritos Construtores, Alexandre aproximou-se de mim e falou:

– Está terminada a operação inicial de ligação. Que Deus nos proteja. Sentindo a admiração com que eu seguia, agora, o processo da divisão celular,

em que se formava rapidamente a vesícula de germinação, o orientador acentuou: – O organismo maternal fornecerá todo o alimento para a organização básica

do aparelho físico, enquanto a forma reduzida de Segismundo, como vigoroso modelo, atuará como imã entre limalhas de ferro, dando forma consistente à sua futura manifestação no cenário da Crosta. (...)

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Missionários da Luz; capítulos 12 e 13. Editora FEB.)

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ANEXO 4 – Tema 1 Fracasso (o caso Volpini)

[Alexandre, ao despedir-se dos espíritos construtores que atuaram na reencarnação de Segismundo, dirigiu-se a Apuleio, diretor deles, pedindo-lhe que mostrasse a André Luiz um caso em que poderia conhecer a extensão e complexidade do esforço desses bons espíritos em defender companheiros imprevidentes, que menosprezam a responsabilidade moral, fugindo aos compromissos. Apuleio, então, sugeriu o caso da reencarnação de Volpini, em que tudo havia sido feito para evitar o fracasso do trabalho, pois a futura mãe...] 54

– Quer dizer, então – redarguiu o meu instrutor [Alexandre] com sabedoria –, que a futura mãe não correspondeu à expectativa do nosso plano de ação...

– Isto mesmo – prosseguiu o interlocutor. Enquanto os desequilíbrios se localizam na esfera paternal ou procedem da influência de entidades malignas, simplesmente, há recursos a interpor; no entanto, se a desarmonia parte do campo materno, é muito difícil estabelecer proteção eficiente. A pobre criatura, por duas vezes sucessivas, provocou o aborto inconsciente pelo excesso de leviandades e, atualmente, será vítima das próprias irreflexões pela terceira vez, segundo parece. Debalde temos oferecido o socorro de que podemos dispor. A infeliz deixou-se empolgar pela ideia de gozar a vida e irmanou-se a entidades desencarnadas da pior espécie, que, para acentuar os seus planos sombrios, separaram-na do próprio companheiro, ansiosas por lhe precipitarem o coração na esfera das emoções baixas.

Enquanto Alexandre o ouvia, em silêncio, Apuleio continuou, depois de longo intervalo:

– Volpini atingiu agora o sétimo mês de gestação da nova forma física, mas a noite próxima será decisiva para ele. Já recebi um apelo dos colaboradores que ficaram nas imediações do caso, em serviço ativo, no sentido de evitar certas extravagâncias da futura mãe, projetadas para hoje; entretanto, não creio sejamos por ela obedecidos. A organização fetal não se encontra em condições de suportar novos desequilíbrios e, se a pobrezinha não despertar para o dever, abrirá, ainda hoje, uma terceira falência. Se André puder vir conosco, dar-nos-á muito prazer. (...)

Seguindo o diretor, penetramos um aposento bem mobilado, onde se encontravam três entidades desencarnadas, de horrenda figura, que, em virtude do baixo padrão vibratório, não perceberam a nossa presença. Conversavam entre si, combinando medidas detestáveis que não cabe relacionar aqui. A certa altura da palestra, porém, referiam-se ao caso da reencarnação, de maneira franca:

– Não sei – comentou um daqueles perversos inimigos do bem – por que arte infernal vem resistindo o intruso. Despejá-lo-emos na primeira oportunidade.

– Quando isto ocorre – disse outro – é que há “mãos de anjos” trabalhando por trás.

54 Os trechos entre “[ ]” ao longo do anexo são resumos nossos. (Nota da Equipe do Encontro)

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– Pois que vão para o inferno! – exclamou o que parecia mais cruel. – Veremos quem pode mais. Cesarina já nos pertence noventa per cento. Atende perfeitamente aos nossos propósitos. Porque um filho intrujão em nossos planos? É preciso combater até ao fim. (...)

– Está observando? – falou Apuleio, gentil – nem sempre a nossa tarefa se desdobra ao longo dos jardins afetivos. Muitas vezes, devemos operar sob verdadeiras tormentas de ódio, que desintegram nossos melhores elementos magnéticos de cooperação. Este caso é típico.

Recordei que a residência de Adelino se enchia diariamente de afeições do plano espiritual, e perguntei:

– Mas, a futura mãe não dispõe de relações em nossa esfera? – De qualquer modo – respondeu ele –, sempre temos bons amigos na zona

superior àquela em que nos encontramos; todavia, em certas circunstâncias, afastamo-nos voluntariamente deles. Cesarina poderia contar com diversas amizades; no entanto, ela mesma se incumbe de obrigá-las à ausência. (...)

Enquanto a senhora [Cesarina] se sentava à frente de grande espelho, dando início a complicados arranjos de apresentação festiva, os cooperadores de Apuleio se aproximaram, saudando-nos, atenciosos.

– Infelizmente – disse um deles ao chefe – a situação é muito grave. É impos-sível prosseguir em nosso esforço de assistência com o êxito desejável. Nossa irmã afunda-se, cada vez mais, nos desequilíbrios destruidores. Unindo-se voluntariamente – e indicou as entidades viciosas que a cercavam – a estes adversários infelizes, entrega-se, agora, a prazeres e abusos de toda sorte. Seus desvios sexuais, nos últimos dias, têm sido lastimáveis, e enorme é a quantidade de alcoólicos, aparentemente inofensivos, de que tem feito consumo sistemático. Aliados semelhantes distúrbios às vibrações desordenadas do plano mental, vemos que a posição de Volpini é insustentável, não obstante nossos melhores esforços de socorro. (...)

Fixei minha atenção no feto, auxiliado pelo chefe dos construtores, mas não pude esconder minha surpresa e compaixão.

O caso Volpini era muito diferente do processo de reencarnação verificado em casa de Raquel. A forma física embrionária demonstrava mancha violácea, revelando dilacerações. Pequeninos monstros, somente perceptíveis ao nosso olhar, nadavam no líquido amniótico, invadindo o cordão umbilical e apropriando-se da maior parte do delicado alimento reservado ao corpo em formação. Toda a placenta era assediada por eles, provocando-me terrível impressão.

Percebi, pela intensa anormalidade dos órgãos geradores, que o aborto não poderia demorar-se. Apuleio, igualmente, endereçando-me expressivo gesto com a cabeça, acusava forte preocupação. Abandonou subitamente o exame e falou-nos:

– Se a infeliz obcecada pelos prazeres criminosos não se detiver, nesta noite, a organização fetal será expelida até amanhã.

Depois de pensar alguns momentos, salientou: – Tentarei o derradeiro recurso.

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Apuleio dirigiu-se ao interior doméstico e voltou, seguido de uma senhora idosa.

– Esta – disse-me ele, indicando-a – é a dona da casa e velha amiga de Cesarina, suscetível de receber-nos a influenciação.

Aproveitar-lhe-ei o concurso para que a nossa desventurada irmã, de futuro, não possa dizer que lhe faltou assistência e conselho adequado.

Num gesto de bondade, já observado por mim em diversos superiores do nosso plano, colocou a destra sobre a fronte da recém-chegada, que se acercou de Cesarina com muita ternura e falou:

– Minha amiga, estou receosa por você... Não vá. Desconfie de certas amizades, pouco dignas. Seu estado, Cesarina, é melindroso. Porque se exceder? Uma festa de aniversário, em pleno bar, não pode servir às suas necessidades presentes. (...)

A interpelada, deixando-se envolver pela influência neutralizante do mal, riu-se de modo franco e acrescentou:

– Tranquilize-se, minha boa Francisca. Não precisará ensinar-me virtude... Tenho meu compromisso para hoje, não posso faltar!... (...)

Duas horas durou a conversação, na qual o diretor dos construtores usou da caridade, da lógica e da paciência, nas mais altas doses; todavia, ao fim desse tempo, um automóvel fonfonou à porta.

Cerrando o pequeno estojo de perfumes, Cesarina abraçou a velha amiga desapontada e despediu-se:

– Adeus, voltarei mais tarde. Não tenho tempo a perder. O veículo rodou a caminho das avenidas asfaltadas. As entidades perturbadas

seguiram no carro célere, mas nós, esperando a manifestação de Apuleio, ali permanecemos, aguardando-lhe a palavra. Algo triste, o chefe de serviço dirigiu-se aos colaboradores, declarando:

– Podem regressar à nossa colônia, em descanso. Nada mais têm que fazer, por agora. O dever de todos foi bem cumprido.

E olhando para mim, significativamente, acrescentou: – Irei, eu mesmo, em companhia de André, buscar Volpini para recolhê-lo em

lugar conveniente. [Após localizarem Cesarina na casa de festas em companhia de um cavalheiro

menos escrupuloso, entre finas taças de alcoólicos, elegantemente disfarçados...] Apuleio aproximou-se e retirou Volpini, que a ela se abraçava como criança

semiconsciente. Em seguida, vi-o aplicar passes magnéticos em toda a região uterina, empregando infinito cuidado. (...)

[Na manhã seguinte, Cesarina, após ser recolhida a uma casa de saúde, em estado grave, deu a luz a uma criança morta.]

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Missionários da Luz; capítulo 15. Editora FEB.)

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ANEXO 5 – Tema 1 Fertilização in Vitro

Engravidar com a ajuda de um tratamento de reprodução humana assistida nem sempre é um sucesso na primeira tentativa. As chances de engravidar com uma Fertilização in Vitro (FIV) comum estão em torno de 40% por ciclo, uma taxa que os especialistas estão conseguindo elevar a mais de 70% com o apoio de técnicas de genética avançada que personalizam o tratamento de fertilidade.

“Combinar técnicas de diagnóstico genético beneficia a paciente a ter mais chances de obter a gestação em sua primeira tentativa, porém até o momento a indicação era buscar estas soluções somente após a paciente fracassar em duas ou mais tentativas de Fertilização in Vitro, o que gera um custo emocional e econômico importante”, explica Dra. Márcia Riboldi, especialista em genética da reprodução humana e diretora da Igenomix Brasil.

Os estudos genéticos estão contribuindo para melhorar a eficácia dos tratamentos de reprodução humana porque proporcionam informação que pode prevenir abortos e falhas no desenvolvimento embrionário. “Embriões aparentemente saudáveis, podem ser portadores de alterações que vão inviabilizar seu desenvolvimento após a transferência (momento em que o embrião fertilizado em laboratório e observado por alguns dias é introduzido no útero materno), e isso só é possível identificar através de estudos genéti-cos”, afirma Dra. Márcia.

Mesmo quando os embriões são analisados geneticamente, ainda há outro fator que pode levar ao fracasso da FIV, que é a receptividade endometrial. “Cerca de 25% das pacientes de reprodução humana, têm a janela de implantação fora do padrão, isso significa que o dia de transferência do embrião ao útero deve ser personalizado, caso contrário, mesmo os melhores embriões, e até mesmo geneticamente normais, não se fixarão no útero materno.

Nova técnica de análise de embriões

Talvez você ainda nem tenha ouvido falar do Screening Genético Pré-implanta-cional (PGS), mas esta tecnologia evoluiu muito desde seu descobrimento em 1991, passando por diferentes técnicas. A nova técnica de PGS disponível no Brasil chama-se NGS, que além de detectar anomalias cromossômicas, permite identificar mais informação e combinar outros testes, com uma redução de custo e aumento de eficácia que podem elevar as chances de gravidez e nascimento de bebê livre de doenças genéticas.

Presente e futuro da reprodução humana em discussão.

No início de julho, acontece um dos encontros mais importantes na área da medicina reprodutiva e embriologia, o Congresso da ESHRE (Sociedade europeia de reprodução humana e embriologia), que este ano ocorre na Finlândia. “Especialistas de todo o mundo se reúnem para discutir e se atualizar sobre as novidades constantes na área, sendo que a genética ocupa sempre uma posição de destaque e tem revelado um caminho efetivo para superar a infertilidade”, conclui Dra. Márcia, que estará presente no encontro. (...)

(Fonte: http://www.segs.com.br/saude/22997-chances-de-gravidez-da-fertilizacao-in-vitro-aumentam com-a-personalizacao-do-tratamento.html.)

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ANEXO 6 – Tema 1 “A fé que transporta montanhas”

[Após relatar uma experiência vivida 16 anos atrás, na qual foi acometido de doença grave, que quase lhe causou a desencarnação...]55

REE56: De lá para cá passou por outros problemas? Como chegou até a 9a cirurgia?

RS57: Dos problemas mais recentes, vai fazer cinco anos, um câncer de próstata58, apesar de ter sempre feito exames preventivos, de seis em seis meses. Em uma dessas consultas de rotina, embora os exames estivessem dentro da normalidade, o urologista sentiu a necessidade de pedir uma biópsia, e foi diagnosticado um adenocarcinoma59. Na ressonância magnética, os médicos detectaram um avanço em relação à doença, que já estava disseminada. Fui para a cirurgia com os médicos preocupadíssimos.

REE: E você, como se sentia ao estar novamente diante de um possível desencarne?

RS: Estava tranquilo, estava mesmo. Acho que fui muito sustentado em relação ao impacto da notícia. Fui falar com o Dr. Hermann, e ele me disse: “Filho, você é médium de cura. Você sabe como se processa a cura, como os espíritos curam a gente através da irradiação e através dos fluidos. Os fluidos são jogados, espalhados por eles e aprofundados, matando as células doentes e fortalecendo as sadias. Todo dia, mentalize o trabalho dos espíritos na sua área cirúrgica. Mentalize o órgão como ele é”.

REE: E assim você fez?

RS: Durante um mês, sempre no mesmo horário, eu lia uma página de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que selecionei: capítulo XIX, “A fé transporta montanhas”: O poder da fé. Ali está tudo explicadinho como a gente pode desenvolver esse poder em nós mesmos, como chegar mais próximo da fé de um grão de mostarda, como nos ligar a Deus e aos benfeitores para sermos beneficiados. Todos os dias eu lia os cinco itens, fazia a minha prece, pedia a Deus que os espíritos benfeitores estivessem ali, a Dr. Hermann, Dr. Bezerra, todos os médicos da espiritualidade, que fizessem o que fosse melhor para mim. Deitava e mentalizava

55 Resumo da Equipe do Encontro. (Nota da Equipe do Encontro.) 56 Equipe da Revista de Estudos Espíritas. 57 Iniciais do entrevistado. 58 Próstata: órgão (glândula) que faz parte do sistema reprodutor masculino. (Nota da Equipe do Encontro.) 59 Adenocarcinoma: tumor maligno (câncer) que pode afetar vários órgãos de corpo e tem caráter bastante agressivo. (Nota da Equipe do Encontro.)

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não apenas a próstata, mas todo o aparelho genito-urinário60. Mentalizava, também, a cirurgia, os médicos, os espíritos direcionando as mãos e os pensamentos dos médicos, sendo retirada a próstata, e além disso a fisiologia61 do meu aparelho genito-urinário sendo mantida íntegra, completamente íntegra.

REE: Depois de um mês fazendo isso, foi para a cirurgia?

RS: Sim, e quando despertei da anestesia, os médicos me disseram que estavam abismados, pois quando abriram, eles não encontraram a disseminação, apesar de os exames terem mostrado. O câncer estava somente na próstata. Fui para a casa com sonda e toda a orientação. Uma semana depois, quando eles foram remover a sutura, me disseram: “Eu não sei o que aconteceu, mas você está curado. O adenoma62 ficou restrito e foi todo retirado, você não precisa de quimio nem de terapia alternativa nenhuma”. Na hora de retirar os pontos, eles foram me explicar que eu poderia ficar com incontinência urinária63. E eu disse a ele: “Doutor, isso não vai acontecer”! Voltei para casa, tirei o fraldão, agradeci convicto o funcionamento do aparelho urinário e deu tudo certo. Até me testei, fazendo a contenção urinária, para ver se eu tinha incontinência, e nada [risos].

REE: Como o médico reagiu?

RS: Até hoje ele não sabe o que aconteceu. Mas como ele é muito católico, eu nada disse, para não ferir a suscetibilidade dele. Eu dizia a ele: “É Deus, doutor. Ele tem para nós o melhor projeto. Eu agradeço ao senhor e a ele, por ter conduzido as suas mãos”.

REE: E de lá para cá?

RS: Foram mais seis cirurgias de hérnia64. O que o Dr. Hermann já me explicou é que estou trocando o câncer por hérnias. E o que é que eu posso querer mais? [risos]. É agradecer muito a Deus e a estes espíritos amigos pelo amparo.

REE: E agora, o que pede aos espíritos benfeitores?

RS: Que me ajudem a servir cada vez mais, a disponibilizar meu tempo cada vez mais, a agradecer através da ação. Procuro disponibilizar meu tempo não para acúmulo material, mas para cumprir os meus compromissos e ajudar meus filhos – de 32, 30, 23 e 21 anos. Minha relação com os benfeitores tem sido de muita reflexão,

60 Aparelho genito-urinário: conjunto de órgãos do corpo que compõe o sistema genital (masculino ou feminino, importante na reprodução da espécie) e o sistema urinário (que responde pela produção e eliminação da urina, filtrando “impurezas” do nosso organismo). (Nota da Equipe do Encontro.) 61 Fisiologia: parte da Biologia que estuda o funcionamento dos organismos animal e vegetal. (Nota da Equipe do Encontro.) 62 Adenoma: tumor benigno (não cancerígeno); são elementos agressivos, embora possam progredir para a forma maligna (adenocarcinoma). 63 Incontinência urinária: perda involuntária da urina. (Nota da Equipe do Encontro.) 64 Hérnia: é quando um ou mais órgãos escapam total ou parcialmente por um orifício do corpo; pode ser natural ou adquirida. (Nota da Equipe do Encontro.)

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por ter a certeza de quem eu sou, das minhas limitações enquanto espírito, e do acolhimento deles. Eles são nossos tutores, nos tutelam diante de nossa fragilidade. E como podemos nos beneficiar? Trabalhando. A minha vida foi mudando, mudando, e hoje, graças a Deus, eu me considero uma pessoa feliz. Muito feliz!! Dia após dia, eu tenho tido provas da ação do Plano Espiritual, e estou devendo cada vez mais. Só não sei como vou quitar essa dívida...

Mônica Soares

(EQUIPE DA Revista de Estudos Espíritas; julho de 2014. CELD.)

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ANEXO 7 – Tema 2 O Instinto e a inteligência

A controvérsia prosseguia... Alfredo e Pirilo, dois amigos dedicados ao estudo da filosofia, permaneciam,

horas inteiras, dialogando sobre a função da alma humana. Qual teria sido a primeira força a desdobrar-se na criatura recém-criada pela

Sabedoria Divina? A inteligência ou o instinto? Alfredo admitia que a inteligência teria tido a prioridade, enquanto Pirilo

acreditava que o instinto teria sido o começo das tarefas evolutivas da alma humana. O primeiro exaltava os méritos da razão, filha da inteligência, e o segundo se

reportava ao instinto como sendo o agente da Natureza que operava lentamente, preparando o caminho para o discernimento e, muitas vezes, Pirilo justificava o seu ponto de vista, acentuando:

– Do instinto para a inteligência, a estrada é longa a percorrer. De forma em forma ou de experiência em experiência, o instinto vai despindo a própria inferioridade, ou perdendo os impulsos selvagens, até conquistar a inteligência que o conduzirá ao discernimento e à razão. Por isso é que devemos usar de muita tolerância e paciência, de uns para com os outros, porque muitos irmãos se fazem delinquentes por excesso de agressividade, pelo estado de evolução deficitária em que se encontram.

Alfredo ouvia, esboçando gestos de incredulidade, até que, um dia, propôs ao amigo:

– Façamos uma experiência em que provarei a você que a educação cultivada pela inteligência dispensa todas as afirmativas que colocam o instinto na base do processo evolutivo. Demonstrarei que basta educar a inteligência e todo o primitivismo do instinto desaparecerá.

E continuou: – Compraremos juntos um gato comum, em cuja impulsividade o instinto

esteja reinando... O gato ficará comigo em minha casa e me disponho a educá-lo esmeradamente. Daqui a um ano, convidarei você para almoçarmos juntos e o animal portar-se-á com as características de um menino carinhosamente preparado para a vida social.

Concordaram ambos com o empreendimento e Alfredo levou o felino para sua própria residência.

Decorrido um ano, Alfredo solicitava a presença de Pirilo para o almoço do dia seguinte e comunicou:

– Você verá o prodígio da educação. O gato assimilou todos os meus ensinos. Tem os hábitos de um rapaz de certo nível intelectual.

Pirilo aceitou o convite com satisfação e na hora aprazada, pela manhã do dia imediato, ei-lo com Alfredo na sala de estar. O dono da casa trouxe o gato ao exame do amigo. O visitante ficou encantando. O felino obedecia a todas as ordens do dono. Sentava-se, erguia-se sobre as patas dianteiras e retornava à posição certa, atendendo

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ao pedido do educador. Ao almoço alimentava-se em um prato especial, levando a comida à boca com a patinha direita.

Terminada a refeição, disse Alfredo, entusiasmado: – Você viu, Pirilo, a superioridade da inteligência educada sobre o instinto? – Estou vendo – respondeu o amigo. Foi o momento em que Pirilo voltou à palavra e pediu ao companheiro que

fechasse as portas do aposento em que se achavam e pediu licença para ver até que ponto chegaria o experimento do bichano.

Alfredo apoiou a solicitação, e Pirilo, enfiando a mão direita num dos bolsos do paletó, dali tirou uma caixinha da qual escapou um rato pequeno que saltou para a mesa, saltitando e correndo qual se estivesse sedento de liberdade. Bastou isso e o gato pulou apressado, perseguindo o rato e quebrando todas as peças em que o almoço fora servido, até que pegou o animalzinho e pôs-se a devorá-lo à vista dos amigos espantados.

Foi quando Pirilo dirigiu-se a Alfredo, perguntando: – Você vê, Alfredo, o poder do instinto que antecede a inteligência e a

educação? Alfredo sorriu com desapontamento.

Emmanuel (Psicografia de Francisco C. Xavier. A Semente de Mostarda. Editora GEEM.)

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ANEXO 8 – Tema 2 Dinâmica 1: Analise o texto abaixo e identifique:

1) Em que momento (s) se percebe o instinto como guia? 2) Onde existe a manifestação da inteligência? 3) O que predomina: a matéria ou o espírito?65

O guindaste

Felipe, um trabalhador dedicado, coordenador de atividades em uma indústria de construção pesada, recebe de seu superior uma demanda para realização de serviços mecânicos em um guindaste com altura equivalente a um prédio de 15 andares. Felipe, em sua formação, recebera orientações sobre Segurança do Trabalho, todavia, ao subir as escadarias do guindaste e chegar ao local de execução do serviço, ele se depara com aquela altura toda, onde não havia nenhum tipo de apoio ou proteção e questiona seus colegas de trabalho:

– O trabalho é para ser realizado aqui? Sem cinto de segurança? E um companheiro responde: – Felipe, acima de nós só existe o céu! Não temos onde prender cinto! Felipe recebe a informação colocada, não contesta e nem pensa duas vezes.

Sem medo ou receio algum, senta na torre, inicia o serviço e, automaticamente, coloca uma perna que fica para fora e outra para dentro do guindaste, agarrada nele, na tentativa inconsciente de se prender, atitude que ele diz só perceber ao final da tarefa. Mesmo com o perigo iminente, graças a Deus, não houve acidente...

Equipe do Encontro

Concluindo com Kardec:

74. Pode-se demarcar um limite entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde termina um e onde começa a outra?

“Não, pois, frequentemente, eles se confundem; porém, podem-se distinguir, muito bem, os atos que advêm do instinto daqueles que derivam da inteligência.” (ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.)

(...) Todo ato maquinal é instintivo, aquele que denota reflexão e intenção é inteligente. Um é livre, o outro não é.

O instinto é um guia seguro, que não se engana jamais. A inteligência, só porque é livre, está, por vezes, sujeita ao erro. (...) (ALLAN KARDEC. A Gênese; capítulo III, item 12. CELD.)

65 Ver O Livro dos Espíritos; itens 100 a 113.

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Dinâmica 2: A turma será dividida em 4 grupos, e cada grupo receberá uma das frases abaixo a partir da qual deverá “criar um caso” (ou contar um caso conhecido), lembrando que precisamos citar no caso:

1) Exemplo de instinto ou de inteligência se manifestando. 2) Predominância da matéria sobre o espírito ou vice versa.

FRASE 1: A carne é fraca!66 FRASE 2: Não tenho sangue de barata! FRASE 3: Sou ser humano de carne e osso! FRASE 4: Nem pensei!

66 ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno; Primeira parte, capítulo VIII, item 1. CELD.

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ANEXO 9 – Tema 3 A desencarnação de Dimas

(...) Orientados por Jerônimo, atingíramos pequena cidade do interior e dirigimo-nos a certa casa humilde, na qual, em breves minutos, nos apresentava ele determinado companheiro, em lamentáveis condições, atacado de cirrose hipertrófica. (...)

(...) Compreendia, mais uma vez, que há tempo de morrer, como há tempo de nascer. Dimas alcançara o período de renovação e, por isso, seria subtraído à forma grosseira, de modo a transformar-se para o novo aprendizado. Não fora determinado dia exato. Atingira-se o tempo próprio. Recordando, contudo, meu caso particular e sequioso de elucidações construtivas, ousei interrogar nosso orientador, enquanto regressávamos ao círculo carnal, pela manhã.

– Prezado Assistente – indaguei –, releve-me o desejo de saber particulari-dades do serviço... Poderá, todavia, informar-me se Dimas desencarnará em ocasião adequada? Viveu ele toda a cota de tempo suscetível de ser aproveitada por seu Espírito na Crosta da Terra? Completou a relação de serviços que o trouxera ao renascimento?

– Não – respondeu o interpelado, com firmeza –, não chegou a aproveitar todo o tempo prefixado.

– Oh! – considerei, levianamente – terá sido, como fui, suicida inconsciente? Penetrei nossa colônia nessa condição e, antes de obter a graça do refúgio renovador, experimentei acerbos padecimentos. (...)

Jerônimo compreendeu, sem dúvida, a venenosa preocupação que me domi-nava o pensamento, mas absteve-se de longas explicações, confirmando, simples-mente:

– Não, André, nosso amigo não é suicida. (...) Meu interlocutor estampou no semblante leve sorriso e acentuou, compassivo: – (...) Dimas não conseguiu preencher toda a cota de tempo que lhe era lícito

utilizar, em virtude do ambiente de sacrifício que lhe dominou os dias, na existência a termo. Acostumado, desde a infância, à luta sem mimos, desenvolveu o corpo, entre deveres e abnegações incessantes. (...) Entregue ao serviço rude, no verdor da mocidade, constituiu a família, pingando suor no sacrifício diário. (...) Mesmo assim, encontrou recursos para dedicar-se aos que gemem e sofrem nos planos mais baixos que o dele. Recebendo a mediunidade, colocou-a a serviço do bem coletivo. (...) Perdeu, quase integralmente, o conforto da vida social, privou-se de estudos edificantes que lhe poderiam prodigalizar mais amplas realizações ao idealismo de homem de bem e prejudicou as células físicas, no acúmulo de serviço obrigatório e acelerado na causa do sofrimento humano. (...)

Em breve, chegávamos à residência do enfermo, cujo estado era gravíssimo. Alguns amigos desencarnados velavam, atentos. Iluminada entidade que evidenciava grande interesse pelo agonizante,

acercou-se do Assistente, indagando se o decesso fora marcado para aquele dia.

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– Sim – esclareceu o interpelado –, a resistência orgânica terminou. Estamos autorizados a aliviá-lo, o que faremos hoje, alijando-lhe o fardo pesado de matéria densa. (...)

A esposa do médium, ao pé dele, não obstante prolongadas vigílias e sacrifícios estafantes, que a expressão fisionômica denunciava, mantinha-se firme a seu lado, olhos vermelhos de chorar, emitindo forças de retenção amorosa que prendiam o moribundo em vasto emaranhado de fios cinzentos, dando-nos a impressão de peixe encarcerado em rede caprichosa. (...)

Enquanto mantinha as mãos coladas ao cérebro de Dimas, propiciando-lhe a renovação das forças gerais, Jerônimo aplicava-lhe passes longitudinais, desfazendo os fios magnéticos que se entrecruzavam sobre o corpo abatido. (...)

– Precisamos fornecer-lhe melhoras fictícias – asseverou o dirigente de nossas atividades, tranquilizando-lhe os parentes aflitos. A câmara está repleta de substâncias mentais torturantes. (...)

Jerônimo, agora, pousava a destra na fronte do moribundo, proporcionando-lhe força, inspiração e ideias favoráveis ao desdobramento de nossos serviços. Dimas mostrou novo brilho no olhar, encarou a companheira, esforçando-se por parecer tranquilo, e rogou: (...)

– Repouse a meu pedido. Ficaria tão satisfeito se a visse mais forte... Não se retarde. Sinto-me muito melhor e sei que o dia será de calma e reconforto.

Cedendo às instâncias do esposo e docemente constrangida pela influência de Luciana e Hipólito, a matrona recolheu-se ao quarto. (...)

Hipólito e Luciana, depois de tecerem uma rede fluídica de defesa, em torno do leito, para que as vibrações mentais inferiores fossem absorvidas, permaneceram em prece ao lado, enquanto eu mantinha a destra sobre o plexo solar do agonizante.

– Iniciaremos, agora, as operações decisivas – declarou-nos Jerônimo, reso-luto; antes, porém, forneçamos ao nosso amigo a oportunidade da oração final. (...)

Oh! providência maravilhosa do Céu! Convertera-se o coração do moribundo em foco radioso e a porta de acesso deu entrada à venerável anciã, coroada de luz semelhando neve luminosa. Ela se aproximou de Jerônimo e informou, após desejar-nos a paz divina:

– Sou a mãe dele... (...) Dimas, experimentando indefinível bem-estar no regaço materno, parecia

esquecer, agora, todas as mágoas, sentindo-se amparado como criança semi-inconsci-ente, quase feliz. Ordenou Jerônimo que me conservasse vigilante, de mãos coladas à fronte do enfermo, passando, logo após, ao serviço complexo e silencioso de magnetização. Em primeiro lugar, insensibilizou inteiramente o vago, para facilitar o desligamento nas vísceras. A seguir, utilizando passes longitudinais, isolou todo o sistema nervoso simpático, neutralizando, mais tarde, as fibras inibidoras no cérebro. (...)

Aconselhando-me cautela na ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a operar sobre o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com espanto, notei que certa porção de substância leitosa extravasava

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do umbigo, pairando em torno. Esticaram-se os membros inferiores, com sintomas de esfriamento. (...)

Dimas gemeu, em voz alta, semi-inconsciente. Acorreram amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe postos nos

pés. Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes con-centrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-se do corpo, do epigástrio à garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondo-se à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela retenção do senhor espiritual. (...)

Alcançáramos o coma, em boas condições. O Assistente estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir

no cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias e brilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo, instan-taneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento plasticizante. A chama mencionada transformou-se em maravilhosa cabeça, em tudo idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. (...)

Dimas-desencarnado elevou-se alguns palmos acima de Dimas-cadáver, apenas ligado ao corpo através de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico, entre o cérebro de matéria densa, abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do organismo liberto. (...)

Para os nossos amigos encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém, a operação era ainda incompleta. O Assistente deliberou que o cordão fluídico deveria permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda imperfeitamente preparado para desenlace mais rápido. (...)

Duas horas antes de organizar-se o cortejo fúnebre, estávamos a postos. (...) Jerônimo examinou-o e auscultou-o, como clínico experimentado. Em se-

guida, cortou o liame final, verificando-se que Dimas, desencarnado, fazia agora o esforço do convalescente ao despertar, estremunhado, findo longo sono. (...)

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Obreiros da Vida Eterna; capítulos 11 e 13 a 15. Editora FEB.)

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ANEXO 10 – Tema 3 A prorrogação para Albina

(...) No leito, permanecia respeitável senhora de idade avançada, com evi-dentes sinais de moléstia do coração. Cercavam-na, atenciosas, duas senhoras ainda jovens, que a cumulavam de discretos cuidados.

– É nossa irmã Albina – explicou-nos o dirigente amigo –, filiada a organi-zações superiores de nossa colônia espiritual. Tem inúmeros admiradores em nossa esfera de ação, pelo muito que vem fazendo na esfera do Evangelho. Permanece, presentemente, em serviço nos círculos evangélicos protestantes. Fez profissão de fé na Igreja Presbiteriana e, viúva desde cedo, consagrou-se ao labor educativo, formando a infância e a juventude no ideal cristão. (...)

Tudo, pois, corria bem no círculo dos trabalhos que nos foram cometidos, quando nosso mentor foi chamado por autoridade superior de nossa colônia. Esperei impaciente o regresso dele, porque Jerônimo, em obediência às determinações recebidas, deveria partir, imediatamente, para entendimento inadiável.

Recomendou-nos aguardá-lo, em serviço na Casa Transitória, acentuando que seria breve.

De fato, não se demorou mais de um dia. E, ao regressar, cientificou-nos da novidade. A irmã Albina fora autorizada a permanecer na Crosta Planetária por mais tempo, razão por que a desencarnação fora adiada “sine die”. Certa rogativa influíra decisivamente no assunto. Entrara em jogo imperiosa exigência que nossa colônia examinara com a devida consideração. Em vista disso, renovara-se o programa da missão que trazíamos. Ao invés de auxílio para a liberação, a velha educadora receberia forças para se demorar na Crosta. Devíamos procurar-lhe a residência, sem perda de oportunidade, propiciando-lhe ao organismo os possíveis recursos magnéticos ao nosso alcance. (...)

Chegáramos no instante em que gracioso grupo de jovens, catorze ao todo, fazia em derredor da enferma o culto doméstico do Evangelho. Enquanto oravam, antes dos comentários construtivos, de alma voltada para a sublime fonte da fé viva, atiramo-nos ao trabalho, seguidos, de perto, por outros amigos de nosso plano, ligados à missão da nobre educadora.

O ambiente equilibrado pela prece e pelos pensamentos de elevação moral contribuíam eficazmente na execução de nossos propósitos. (...)

Com efeito, finda a complexa operação magnética, observei que o coração doente funcionava com diferente equilíbrio. As válvulas cardíacas passaram a denotar regularidade. Cessou a aflição, o que foi atribuído, e de fato, com razões poderosas, ao efeito da prece. (...)

Em face da alegria que a todos empolgava, perguntei de súbito ao Assistente: – Teria sido a súplica das discípulas o móvel da alteração? Quem sabe? Talvez lhes fizesse falta a venerável professora...

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– Não, não é bem isto – elucidou o mentor –; a intercessão das meninas trouxe-lhe a cota natural de benefícios comuns; no entanto, acresce notar que Albina já cumpriu tarefa junto delas. (...)

Curioso, arrisquei: – Estaríamos, porventura, ante o resultado de requisição sentimental das

filhas? Jerônimo fitou ambas as senhoras que assistiam a doente com desvelada

ternura, abanou a cabeça com gesto negativo e retrucou: – Também não. Não se trata de resposta a semelhante rogativa. No desem-

penho dos sagrados deveres de mãe, Albina fez tudo pelo bem-estar das filhas. Desvelou-se, quanto lhe era possível. Por elas perdeu compridas noites de vigília e encheu laboriosos dias de preocupação absorvente e redentora. Educou-as carinhosamente, encaminhou-as na estrada da santificação e, sobretudo, ao prepará-las para a vida, entregou-as ao Pai Eterno, sem egoísmo destruidor. O trabalho materno foi completamente satisfeito. (...)

Processavam-se com extremado carinho os serviços de assistência, quando cavalheiro bem-posto deu entrada, conduzindo um menino miúdo, de oito anos presumíveis. (...)

Albina rogou a Deus o abençoasse e o menino perguntou: – Vovó, como vai? Designando-o, o Assistente esclareceu: – A súplica dessa criança alcançou-nos a colônia espiritual e modificou-nos o

roteiro. – Quê?... – interroguei, sumamente surpreendido. Jerônimo, todavia, continuou: – Não é neto consanguíneo da doente, embora se considere tal. É órfão que lhe

abandonaram à porta, após o nascimento, e que Loide mantém no lar, desde que nossa irmã se recolheu à cama.

Não obstante a prova, Joãozinho é grande e abnegado servo de Jesus, reencarnado em missão do Evangelho. Tem largos créditos na retaguarda. Ligado à família de Albina, há alguns séculos, torna ao seio de criaturas muito amadas, a caminho do serviço apostólico do porvir. (...)

O diálogo entre ela e o pequenino adquirira encantadora suavidade. – Tenho passado mal, meu filho – exclamava a respeitável senhora em

desabafo. – Oh! vovó! – tornou o rapazinho, olhos radiantes de fé – tenho rezado sempre

para que a senhora fique boa, depressa. (...) Atendendo-me à curiosidade, entrou em explicações finais, advertindo: – Que nota você de particular em Loide? Recorrendo a observações que já levara a efeito, respondi sem hesitar: – Reparo que aguarda alguém; uma filhinha que já entrevimos... Desde o

primeiro encontro, verifiquei que está em período ativo de maternidade, em vésperas da delivrança.

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– Isto mesmo – confirmou o mentor amigo –, a prece de João é importante porque se reveste de profunda significação para o futuro. A menina, em processo reencarnacionista, é-lhe abençoada companheira de muitos séculos. Ambos possuem admirável passado de serviço à Crosta Planetária e escolheram nova tarefa com plena consciência do dever a cumprir. Foram associados de Albina em várias missões e, muito cedo, ser-lhe-ão continuadores na obra de educação evangélica. Não são Espíritos purificados, redimidos, mas trabalhadores valiosos, com suficiente crédito moral para a obtenção de oportunidades mais altas. Apesar da condição infantil, o servo reencarnado, pelas ricas percepções que o caracterizam fora da esfera física, recebeu conhecimento da morte próxima de nossa venerável irmã. Compreendeu, de antemão, que o fato repercutiria angustiosamente no organismo de Loide, compe-lindo-a talvez a claudicar no trabalho gestatório, em andamento. A carga de dor moral conduzi-la-ia efetivamente ao aborto, imprimindo profundas transformações no rumo do serviço de que João é feliz portador. Socorreu-se, então, de todos os valores intercessórios, nos instantes em que sua alma lúcida pode operar na ausência da instrumentalidade grosseira, que triunfou com as súplicas insistentes, obtendo reduzida dilatação de prazo para a desencarnação de Albina. (...)

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Obreiros da Vida Eterna; capítulos 11 e 17. Editora FEB.)

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ANEXO 11 – Tema 3 O desprendimento difícil de Cavalcante

(...) Decorridos alguns segundos, estávamos à frente dum cavalheiro maduro, rosto profusamente enrugado e cabelos brancos, a cuja cabeceira vigiava excelente companheiro espiritual.

Apresentou-nos Jerônimo a esse último. Tratava-se do irmão Bonifácio, que ajudava o doente.

Em seguida, indicou-nos o doente mergulhado em lençóis alvos e esclareceu: – Aqui temos nosso velho Cavalcante. É virtuoso católico-romano, espírito

abnegado e valoroso nos serviços do bem ao próximo. Veio de nossa colônia, há mais de sessenta anos, e possui grande círculo de amigos pelos seus dotes morais. Sua existência, cheia de belos sacrifícios, fala ao coração. Aqui se encontra, junto dos filhos da indigência, abandonado da parentela, em virtude de suas ideias de renúncia às riquezas materiais. Mas não se acha desamparado pela Divina Misericórdia. (...)

O sistema nervoso central e o abdominal, bem como os sistemas autônomos, acusavam desarmonia crescente.

Reconhecia, entretanto, ali, naquele agonizante que teimava em viver de qualquer modo no corpo físico, o gigantesco poder da mente, que, em admirável decreto da vontade, estabelecia todo o domínio possível nos órgãos e centros vitais em decadência franca.

Decorridos mais de quatro dias, em que atentávamos para o moribundo, cuidadosamente, Jerônimo deliberou fossem desatados os laços que o retinham à esfera grosseira.

Bonifácio, prestimoso e gentil, coadjuvava-nos o trabalho. Informando-se de nossa resolução, de modo vago, através dos canais

intuitivos, o doente, pela manhãzinha, chamou o capelão, a fim de ouvi-lo, e, após breve confissão (...):

– Padre – dizia ele, em voz súplice –, sei que morro, sei que estou no fim... – Entregue-se a Deus, meu amigo. Só Ele pode saber em definitivo o que

surgirá. Quem sabe se ainda tem longos anos à sua frente? Tudo pode acontecer... O capelão falava apressado, abreviando a palestra e tentando dissimular suas

penosas impressões olfativas, mas o moribundo continuou, ingênuo: – Tenho medo, muito medo de morrer... – Bem – obtemperou o religioso, não ocultando um gesto de enfado que

passou despercebido aos olhos do crente –, precisamos preparar o espírito para o que der e vier.

– Ouça, padre!... acredita que me salvarei? – Sem dúvida. Você foi sempre bom católico... – Mas... escute! – e a voz do enfermo fez-se triste, mais chorosa e sufocada –

eu desejaria morrer noutras condições. Segundo lhe confessei, fui abandonado pela mulher, há muitos anos... Sabe que ela me trocou por outro homem e fugiu para nunca mais... Sempre admiti que experimentei semelhante prova por incapacidade de

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compreensão da parte dela, mas, agora, padre... encarando a morte, frente a frente, reflito melhor... Quem sabe se não fui o culpado direto? Talvez tivesse levado longe demais meu propósito de viver para a religião, faltando-lhe com a assistência necessária... Lembro-me de que, às vezes, chamava-me “padre sem batina”. Possivelmente minha atitude impensada teria dado origem ao desvio da minha companheira... (...)

Cavalcante avizinhava-se do coma. O sangue alagava lençóis, que eram substituídos repetidamente. O enfraquecimento geral progredia, rápido.

O agonizante inspirava dó. Abriram-se-lhe certos centros psíquicos, no avançado abatimento do corpo, e o infeliz passou a enxergar os desencarnados que ali se encontravam, não longe dele, na mesma esfera evolutiva. Não nos identificava, ainda, a presença, como seria de desejar, mas observava, estarrecido, a paisagem interior. Outros enfermos encaravam-no, agora, amedrontados. Para todos eles, o colega de sofrimento delirava, inconsciente. (...)

Jerônimo ministrou-lhe, então, piedosamente, recursos de reconforto e o agonizante aquietou-se, devagarinho...

Não se passou muito tempo e Bonifácio entrou conduzindo verdadeiro fantasma. A ex-consorte, convocada à cena, semelhava- se, em tudo, a sombra espectral. (...)

O moribundo voltou-se e viu-a. Alegre sorriso estampou-se-lhe no escavei-rado rosto.

– Pois és tu, Bela? Graças a Deus, não morrerei sem pedir-te desculpas! A ternura com que se dirigia a tão miserável figura causava compaixão. A esposa abeirou-se do leito, tentando ajoelhar-se. Ouvindo-o, assombrada,

retrucou, aflita: – Joaquim, perdoa-me, perdoa-me!... – Perdoar-te de quê? – replicou ele, buscando inutilmente afagá-la –. Eu, sim,

fui injusto contigo, abandonando-te ao léu da sorte... Por favor, não me queiras mal. Não te pude compreender noutro tempo e facilitei-te o passo em falso, colaborando, impensadamente, para que te precipitasses em escuro despenhadeiro. Não entendi o problema doméstico tanto quanto devia... Hoje, porém, que a morte me busca, desejo a paz da consciência. Confesso minha culpa e rogo-te perdão... Desculpa-me...

Falava vencendo enormes obstáculos. No entanto, notava-se que aquele entendimento lhe fazia imenso bem. A mente apaziguara-se-lhe. Contemplava a esposa, reconhecido, quase feliz.

– Ó Joaquim! – suplicou a mísera – perdoa-me! Nada tenho contra ti. O tempo ensinou-me a verdade. Sempre foste meu leal amigo e dedicado marido!

O moribundo escutou-a, esboçando expressão fisionômica de intensa alegria. Fitou-a, em êxtase, totalmente modificado e murmurou:

– Agora, estou satisfeito, graças a Deus!... Nesse instante, o mesmo médico que víramos, pela manhã, avizinhou-se do

leito para a inspeção noturna, acompanhado de diligente enfermeira. (...)

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Entrementes, Jerônimo recomendou a Bonifácio retirasse a sombria figura da ex-consorte de Cavalcante, acentuando:

– Não nos convém doravante a permanência de semelhante criatura. Já cumpriu as obrigações que a trouxeram aqui e ainda possui numerosos credores à espera.

A desventurada reagiu, procurando ficar, mas Bonifácio empregou força magnética mais ativa para alcançar o objetivo necessário.

Reparando, porém, que a ex-companheira se afastava aos gritos, o agonizante pôs-se a bradar, alucinado:

– Volta, Bela! Volta! Esforçou-se o clínico por trazê-lo à esfera de observações que lhe era própria,

mas debalde. Cavalcante continuava invocando a presença da esposa, em voz rouquenha, opressa, sumida.

O médico abanou a cabeça e exclamou quase num sussurro: – É impossível continuar assim. Será aliviado. Jerônimo penetrou-lhe o íntimo, porque passou a mostrar extrema preocupa-

ção, comunicando-me, gravemente: – Beneficiemos o moribundo, por nossa vez, empregando medidas drásticas,

O doutor pretende impor-lhe fatal anestésico. Atendendo-lhe a ordem, segurei a fronte do agonizante, ao passo que ele lhe

aplicava passes longitudinais, preparando o desenlace. Mas o teimoso amigo continuava reagindo. – Não – exclamava, mentalmente –, não posso morrer! Tenho medo! Tenho

medo! O clínico, todavia, não se demorou muito e como o enfermo lutava,

desesperado, em oposição ao nosso auxílio, não nos foi possível aplicar-lhe golpe extremo. Sem qualquer conhecimento das dificuldades espirituais, o médico ministrou a chamada “injeção compassiva”, ante o gesto de profunda desaprovação do meu orientador. (...)

Cavalcante, para o espectador comum, estava morto. Não para nós, entretanto. A personalidade desencarnante estava presa ao corpo inerte, em plena inconsciência e incapaz de qualquer reação.

Sem perder a serenidade otimista, o orientador explicou-me: – A carga fulminante da medicação de descanso, por atuar diretamente em

todo o sistema nervoso, interessa os centros do organismo perispiritual. Cavalcante permanece, agora, colado a trilhões de células neutralizadas, dormentes, invadido, ele mesmo, de estranho torpor que o impossibilita de dar qualquer resposta ao nosso esforço. Provavelmente, só poderemos libertá-lo depois de decorridas mais de doze horas. (...)

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Obreiros da Vida Eterna; capítulos 11 e 18. Editora FEB.)

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ANEXO 12 – Tema 3 Adelaide, a serva fiel

(...) Transcorridos escassos minutos, ganhávamos o pórtico de notável, simples e confortável edifício, em que se asilavam numerosas criancinhas, em nome de Jesus. Tratava-se de louvável instituição espiritista-cristã, onde se sediava compacta legião de trabalhadores de nosso plano.

Bondoso ancião recebeu-nos afavelmente. Reconheci-o, jubiloso. Achava-se, ali, Bezerra de Menezes, o dedicado irmão dos que sofrem.

Abraçou-nos, um a um, com espontânea jovialidade. Ouviu as explicações de Jerônimo, com interesse, e falou, sorridente: – Já esperávamos a comissão. Felizmente, porém, nossa querida Adelaide não

dará trabalho. O ministério mediúnico, o serviço incessante em benefício dos enfermos, o amparo materno aos órfãos nesta casa de paz, aliados aos profundos desgostos e duras pedradas que constituem abençoado ônus das missões do bem, prepararam-lhe a alma para esta hora... (...)

A irmã Zenóbia desejava vê-la, antes do desenlace. A grande orientadora do asilo errático admirava-lhe os serviços terrestres e, por mais de uma vez, valeu-se de seu fraternal concurso em atividades de regeneração e esclarecimento.

Adelaide acompanhou-nos, contente. (...) A bondosa discípula de Jesus, em vias de retirar-se da Crosta, era alvo do

carinho geral. Depois de considerações convincentes por parte de Zenóbia, que se esmerava

em ministrar-lhe bom ânimo, Adelaide, humilde, expôs-lhe as derradeiras dificuldades.

Ligara-se, fortemente, à obra iniciada nos círculos carnais e sentia-se estreitamente ligada, não somente à obra, mas também aos amigos e auxiliares. Por força de circunstâncias imperiosas, acumulava funções diversas no quadro geral dos serviços. Possuía toda uma equipe de irmãs dedicadíssimas, que colaboravam com sincero desprendimento e alto valor moral, no amparo à infância desvalida. Se estimava profundamente as cooperadoras, era, igualmente, muito querida de todas elas. Como se haveria ante as dificuldades que se agravavam? No íntimo, estava preparada; no entanto, reconhecia a extensão e a complexidade dos óbices mentais. Seu quarto de dormir, na casa terrena, semelhava a redoma de pensamentos retentivos a interceptarem-lhe a saída. Quanto menos se via presa ao corpo, mais se ampliava a exigência dos parentes, dos amigos... Como portar-se ante essa situação? Como fazer-lhes sentir a realidade? Enlaçara-se em vastos compromissos, tornara-se, involuntariamente, a escora espiritual de muitos. Entretanto, ela mesma reconhecia a imprestabilidade do aparelho físico. A máquina fisiológica atingira o fim. Não conseguiria manter-se, ainda mesmo que os valores intercessórios lhe conseguissem prorrogação de tempo.

A orientadora escutou-a, atenta, qual médico experimentado em face de doente aflito, e observou, por fim:

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– Reconheço os obstáculos, mas não se amofine. A morte é o melhor antídoto da idolatria. Com a sua vinda operar-se-á a necessária descentralização do trabalho, porque se dará a imposição natural de novo esforço a cada um. Alegre-se, minha amiga, pela transformação que ocorrerá dentro em pouco. Reanime-se, sobretudo, para que a sua situação se reajuste naturalmente sem qualquer ponto de interrogação ao término da experiência atual.

Silenciou durante alguns momentos e notificou, em seguida: – Temos ainda a noite de amanhã. Aproveitá-la-ei para dirigir-me aos seus

colaboradores, em apelo à compreensão geral. Amigos nossos contribuirão para que se reúnam em assembleia, como se faz indispensável. (...)

Auxiliadores de nosso plano trouxeram companheiros da instituição, loca-lizados em regiões diversas, provisoriamente desenfaixados do corpo físico pela atuação do sono. (...)

Conservávamo-nos junto de todos, em atitude vigilante, para manter o imprescindível padrão vibratório, quando, em seguida à primeira hora, a irmã Zenóbia, acompanhada de beneméritos amigos da casa, deu entrada no recinto, conduzindo Adelaide, extremamente abatida. (...)

Finda a saudação, pronunciada com formosa inflexão de ternura, mudou o tom de voz e dirigiu-se aos ouvintes, com visível energia:

– Minhas irmãs, meus amigos, serei breve. Venho até aqui somente fazer-vos pequeno apelo. Não ignorais que nossa Adelaide necessita passagem livre a caminho da espiritualidade superior. Enferma desde muito, cooperou conosco, anos consecutivos, dando-nos o melhor de suas forças. Dócil às influências do bem, foi valioso instrumento na organização desta casa de amor evangélico. Administrou a obra com cuidado e, muita vez, em nosso instituto de socorro, fora dos círculos carnais, recebemos preciosa colaboração de seu esforço, de sua boa vontade.

Endereçou o olhar firme à assistência e obtemperou: – Porque a detendes? Há dias, o quarto de repouso físico da doente que nos é

tão amada permanece enlaçado com pensamentos angustiosos. São forças que partem de vós, sem dúvida, companheiros ciosos do trabalho em ação, mas esquecidos do “faça-se a vossa vontade” que devemos dirigir ao Supremo Senhor, em todos os dias da vida. Lastimo as circunstâncias que me compelem a falar-vos com tamanha franqueza. (...)

Adelaide, ao retornar à matéria, respira, radiante. Entretanto, pelo soberano júbilo daquela hora, ganhou tamanha energia no corpo perispiritual que o regresso às células de carne foi complicado e doloroso. Súbito mal-estar invadiu-a, ao entrar em contato com os depauperados centros físicos.

Tomava-os e abandonava-os, sucessivamente, como pássaro a sentir a exigui-dade do ninho.

Indagando de Jerônimo quanto à surpresa, dele recebeu a explicação neces-sária.

– Depois da palavra esclarecida de Zenóbia – disse afavelmente o mentor –, extinguiram-se as correntes mentais de retenção que se mantinham pelo entendimento

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fraterno da comunidade reconhecida. Privou-se o corpo carnal do permanente socorro magnético, ao qual o afluxo dessas torrentes alimentava, atenuando-lhe a resistência e precipitando a queda do tono vital. Além disso, o contentamento desta hora robus-teceu-lhe, sobremaneira, os centros perispirituais. Impossível, dessa forma, evitar a sensação angustiosa no contato com os órgãos doentios. (...)

Adelaide esforçou-se para mostrar satisfação no semblante novamente abatido e rogou, tímida, lhe fosse concedido o obséquio de tentar, ela própria, a sós, a desencarnação dos laços mais fortes, em esforço pessoal, espontâneo.

Jerônimo aquiesceu, satisfeito. E, mantendo-nos de vigilância em câmara próxima, deixamo-la entregue a si

mesma, durante as longas horas que consumiu no trabalho complexo e persistente. Não sabia que alguém pudesse efetuar semelhante tarefa, sem concurso alheio,

mas o orientador veio em socorro de minha perplexidade, esclarecendo: – A cooperação de nosso plano é indispensável no ato conclusivo da

liberação; todavia, o serviço preliminar do desenlace, no plexo solar e mesmo no coração, pode, em vários casos, ser levado a efeito pelo próprio interessado, quando este haja adquirido, durante a experiência terrestre, o preciso treinamento com a vida espiritual mais elevada. Não há, portanto, motivo para surpresa. Tudo depende de preparo adequado no campo da realização.

Meu dirigente explicara-se com muita razão. Efetivamente, só no derradeiro minuto interveio Jerônimo para desatar o apêndice prateado.

A agonizante estava livre, enfim!...

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Obreiros da Vida Eterna; capítulos 11 e 19. Editora FEB.)

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ANEXO 13 – Tema 3 Estudando o Caso Neuza

Fui convidada pelo nosso querido Dr. Hermann a falar na noite de hoje. Vim para cá de surpresa, de repente, sem saber, como ser encarnada, que aquele sábado seria a última vez que meu corpo entraria nesta casa amada de todos nós. Como encarnada, não sabia, mas como espírito depois recordei que já vinha sendo preparada para tal, não há surpresa, o que há é a não lembrança dos avisos e preparos. O que relatarei foi inerente ao meu caso.

Quando o coração parou de bater, senti como que um baque íntimo, não foi dor, mas uma pressão, uma sensação de que perdia o controle da situação, algo comparável quando se acorda de um sonho que se está caindo, sem muita noção mesmo. E com o conhecimento espírita pensei: “estou desencarnando”, e devo confessar a vocês que na hora dá um sentimento de perda, a gente pensa nos que ficam, quem iria cuidar da irmã, do marido, da casa, de tudo, mas aí nessa hora foi como se a consciência me falasse: “Não foi para isso que te preparastes a vida inteira”?

Isto me fez serenar, me fez orar e passado algumas horas já estava mais serena e já sentada na sala como quem repousa, como quem cochila. Ouvi toda uma azáfama em torno do quarto que estava meu corpo, familiares chegando, amigos chegando, mas não conseguia muito atinar o que ocorria agora, só uma sensação de leveza, mas de uma certa não reação, como ficamos quando se toma um remédio para dormir e ainda não dormiu e não está acordado.

Confesso a vocês que não percebi os guias espirituais de pronto, de imediato, somente com o passar das horas é que adormeci e fui acordada, no mesmo local por um benfeitor querido ao meu coração, dizendo: “Neuza, vamos lá ver as últimas homenagens de seus amigos a você”, e me deixei conduzir por ele até onde todos estavam, junto ao meu corpo, próximo do horário do sepultamento.

Aí foi que percebi o carinho de muitos amigos e entes queridos, aí que senti na alma as vibrações que emanavam de todos vocês. E quando tudo acabou, pude com mais clareza, perceber os amigos queridos, pude abraçar Altivo, Cidinha, Gildo, Elvira e tantos outros amigos que conviveram comigo nesta Casa que ajudamos e onde fomos ajudados; pude rever os benfeitores que muitas vezes vi pela vidência que me era fácil e aí com todo esse alvoroço que ocorreu desde o momento que o coração parou de bater, é que pude perceber algo que falei para os benfeitores e amigos: “Nem senti que morri”... e sorri para todos como eu sempre gostei de sorrir e pude seguir com eles para a região de refazimento. Trabalhem queridos amigos, pois o trabalho suaviza as agruras da morte e nos torna aptos para vencermos, pelo menos com desapego no Plano Espiritual. Sou sempre a Tia Neuza, a Neuza Trindade.

Neuza Trindade

(Psicografia de Mário Coelho. Apostila do 1o Encontro Espírita sobre As Obras de André Luiz; Tema 2. CELD.)

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ANEXO 14 – Tema 3 Cremilda e seu pavor da morte

(...) Puséramo-nos a caminho e, a breves minutos, estacionávamos diante dum edifício de vastas proporções.

O colega, gentil, conduziu-nos ao interior de espaçoso necrotério, onde defrontamos um quadro interessante. O cadáver de uma jovem, de menos de trinta anos, ali jazia gelado e rígido, tendo a seu lado uma entidade masculina, em atitude de zelo. Com assombro, notei que a desencarnada estava tinida aos despojos. Parecia recolhida a si mesma, sob forte expressão de terror. Cerrava as pálpebras, deliberada-mente, receosa de olhar em torno.

– Terminou o processo de desligamento dos laços fisiológicos – aclamou o facultativo atento – mas a pobrezinha há seis horas que está dominada por terrível pavor.

E apontando o cavalheiro desencarnado, que permanecia junto dela, cuida-doso, o receitista esclareceu:

– Aquele é o noivo que a espera, há muito. Aproximamo-nos um tanto e ouvimo-lo exclamar carinhosamente. – Cremilda! Cremilda! vem! abandona as vestes rotas. Fiz tudo para que não

sofresse mais... Nossa casa te aguarda, cheia de amor e luz. A jovem, todavia, cerrava os olhos, demonstrando não querer vê-lo. Notava-

se, perfeitamente, que seu organismo espiritual permanecia totalmente desligado do vaso físico, mas a pobrezinha continuava estendida, copiando a posição cadavérica, tomada de infinito horror.

Aniceto, que tudo pareceu compreender num abrir e fechar de olhos, fez leve sinal ao rapaz desencarnado, que se aproximou comovido.

É preciso atendê-la doutro modo – disse o nosso orientador, resoluto – vejo que a pobrezinha não dormiu no desprendimento e mostra-se amedrontada por falta de preparação espiritual. Não convém que o amigo se apresente a ela já, já... Não obstante o amor que lhe consagra, ela não poderia revê-lo sem terrível comoção, neste instante em que a mente lhe flutua sem rumo...

– Sim – considerou ele, tristemente – há seis horas chamo-a sem cessar, intensificando-lhe o terror.

Redarguiu Aniceto, conselheiro: – Ausência de preparação religiosa, meu irmão. Ela dormirá, porém, e, tão

logo consiga repouso, entregá-la-ei aos seus cuidados. Por enquanto, conserve a alguma distância.

E fazendo-se acompanhar do facultativo, que assistira espiritualmente a jovem nos últimos dias, aproximou-se da recém-desencarnada falando com inflexão pa-ternal.

– Vamos, Cremilda, ao novo tratamento. Ouvindo a moça abriu os olhos espantadiços e exclamou:

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– Ah, doutor, graças a Deus! que pesadelo horrível! Sentia-me no reino dos mortos, ouvindo meu noivo, falecido há anos, chamar-me para a Eternidade!...

– Não há morte, minha filha! – objetou Aniceto, afetuoso – creia na vida, na vida eterna, profunda, vitoriosa!

– É o senhor o novo médico? – indagou, confortada. – Sim, fui chamado para aplicar-lhe alguns recursos em bases magnéticas.

Torna-se indispensável que durma e descanse. – É verdade... – tornou ela de modo comovente –, estou muito cansada,

necessitando de repouso... Recomendou-nos o instrutor, em voz baixa, prestássemos auxílio, em atitude

íntima de oração, e, depois de conservar-se em silêncio por instantes ministrou-lhe o passe reconfortador. A jovem dormiu quase imediatamente.

Deslocou-a Aniceto, afastando-a dos despojos, com o zelo amoroso dum pai, e, chamando o noivo reconhecido, entregou-a carinhosamente.

– Agora, poderá encaminhá-la, meu irmão. O rapaz agradeceu com lágrimas de júbilo e vi-o retirar-se de semblante

iluminado, utilizando a volitação, a carregar consigo o fardo suave do seu amor. Nosso mentor fixou um gesto expressivo e falou: – Pela bondade natural do coração e pelo espontâneo cultivo da virtude, não

precisará ela de provas purgatoriais. É de lamentar, contudo, não se tivesse preparado na educação religiosa dos pensamentos. Em breve, porém, ter-se-á adaptado à vida nova. Os bons não encontram obstáculos insuperáveis. (...)

André Luiz

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Os Mensageiros; capítulo 48. Editora FEB.)

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ANEXO 15 – Tema 3 A expiação de Tiradentes

(...) Embriagados pela concepção da liberdade política, mas, dentro dos seus triunfos literários, afastados das realidades práticas da vida comum, os intelectuais mineiros não descansaram. Idealizaram a república, organizaram seus símbolos, multiplicaram prosélitos das suas ideias de liberdade; porém, no momento psicológico da ação, os delatores, a cuja frente se encontrava a personalidade de Silvério dos Reis, português de Leiria, levaram todo o plano ao Visconde de Barbacena, então Governador de Minas Gerais. O governador age com prudência, a fim de sufocar a rebelião nas suas origens, e, expedindo informes para que o Vice-Rei Luís de Vasconcelos efetuasse a prisão do Tiradentes no Rio de Janeiro, prende todos os elementos da conspiração em Vila Rica, depois de avisar secretamente aos seus amigos do peito, simpatizantes da conjuração, quanto à adoção de tais providências, para que não fossem igualmente implicados.

Aberta a devassa e terminado o vagaroso processo, são condenados à morte todos os chefes já presos. (...)

O mártir da Inconfidência, depois de haver apreciado, angustiadamente, a defecção dos companheiros, reveste-se de supremo heroísmo. Seu coração sente uma alegria sincera pela expiação cruel que somente a ele fora reservada, já que seus irmãos de ideal continuariam na posse do sagrado tesouro da vida. As falanges de Ismael lhe cercam a alma leal e forte, inundando-a de santas consola-ções.

Tiradentes entrega o espírito a Deus, nos suplícios da forca, a 21 de abril de 1792. Um arrepio de aflitiva ansiedade percorre a multidão, no instante em que o seu corpo balança, pendente das traves do cadafalso, no Campo da Lampadosa.

Mas, nesse momento, Ismael recebia em seus braços carinhosos e fraternais a alma edificada do mártir.

– Irmão querido – exclama ele – resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua maioridade como nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o êxito incerto das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...

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Um sulco luminoso desenhou-se nos espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do esquartejamento. (...)

Humberto de Campos

(Psicografia de Francisco C. Xavier. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho; capítulo 14. FEB.)

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ANEXO 16 – Tema 3

Resumo dos

casos de

desencarnação

Dimas

Tiradentes

CavalcanteAlbina

NeuzaAdelaide

Cremilda

• Médium em instituição espírita beneficiente

• Desgostos e pedradas da vida

• Escora espiritual dos companheiros

• A palestra de Zenóbia os sensibilizou ao

desapego

• Cumpriu sua tarefa junto à igreja e junto às

filhas

• Cirrose hepática

• Utilizou a mediunidade à serviço do bem

• Família o prendia através de forças mentais

• Espíritos concedem melhora física para tranquilizar parentes

• Falta de preparo para a desencarnação

• Corpo físico e cordão fluídico resistentes ao despendimento do espírito

• Virtuoso católico-romano, abnegado nos serviços do bem

• O sistema nervoso e autônomos em desarmonia

• Medo da morte lhe proporcionava resistência ao desenlace

• Deseja o perdão da esposo antes de sua morte

• Médico lhe aplica injeção letal mediante suposto delírio

• Fica preso ao corpo por mais de 12 horas após a desencarnação

• Médium e fundadora do CELD

• Preparada pelos espíritos para a desencarnação

• O coração para, sente um baque, mas sem dor

• Sentiu a perda dos que ficaram

• Horas depois da desencarnação, ficou tranquila

• Após velório já percebia amigos ao seu redor

• Bondade natural do coração e cultivo da virtude

• Não teve educação religiosa

• Desencarnou com menos de 30 anos

• Ficou próxima ao cadáver com medo

• Foi induzida ao sono para adaptar-se à vida nova

• Foi conduzida pelo seu noivo desencarnado

• Não passou por provas purgatoriais

• Intelectual mineiro, armava rebelião contra o império

• Inquisidor de delitos cruéis em encarnações anteriores

• Angustiado pelo abandono dos seus companheiros

• Alegria sincera pela expiação cruel reservada

• Consolado antes da morte pelas falanges de Ismael

• Morto por enforcamento e recebido por Ismael

• Não presenciou o esquartejamento do seu corpo.

• Idade avançada com sinais de moléstia do coração

• Fé na Igreja Presbiteriana, trabalhava na evangelização

• Filiada a organizações superiores da colônia Nosso Lar

• Encarnação prorrogada (meses), intercessão do neto adotivo

• Intercessor era servo de Jesus, reencarnado em missão

• A missão dos espíritos que iriam desligá-la foi alterada

• Cumpriu sua tarefa com juventude da igreja e com suas filhas

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33o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos Tema Central: “Princípio Vital”

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Referências Bibliográficas 1) ALLAN KARDEC. A Gênese. CELD.

2) ALLAN KARDEC. O Céu e o Inferno. CELD.

3) ALLAN KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo. CELD.

4) ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. CELD.

5) ALLAN KARDEC. O Livro dos Médiuns. CELD.

6) ALLAN KARDEC. Revista Espírita, janeiro de 1864. Editora FEB.

7) ANDRÉ LUIZ; Psicografia de FRANCISCO C. XAVIER e WALDO VIEIRA. Evolução em Dois Mundos. Editora FEB.

8) ANDRÉ LUIZ; psicografia de Francisco Cândido Xavier. Missionários da Luz. Editora FEB.

9) ANDRÉ LUIZ; psicografia de Francisco Cândido Xavier. Obreiros da Vida Eterna. Editora FEB.

10) ANDRÉ LUIZ; psicografia de Francisco Cândido Xavier. Os Mensageiros. Editora FEB.

11) AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA. Míni Aurélio – o dicionário da língua portuguesa. Editora Positivo.

12) AUTORES DIVERSOS. Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus.

13) DAVID L. NELSON e MICHAEL M. COX. Princípios de Bioquímica. Editora Sarvier.

14) EMMANUEL; psicografia de Francisco C. Xavier. A Semente de Mostarda. Editora GEEM.

15) EMMANUEL; psicografia de Francisco Cândido Xavier. Paulo e Estêvão. Editora FEB.

16) EQUIPE DA REVISTA. Revista de Estudos Espíritas; julho de 2014. CELD.

17) EQUIPE DO ENCONTRO SOBRE ANDRÉ LUIZ. Apostila do 1o Encontro Espírita sobre As Obras de André Luiz; Tema 1. CELD.

18) EQUIPE DO ENCONTRO SOBRE O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Apostila do 30o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos. CELD.

19) EQUIPE DO ENCONTRO SOBRE O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Apostila do 31o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos. CELD.

20) EQUIPE DO ENCONTRO SOBRE O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Apostila do 32o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos. CELD.

21) ERNESTO BOZZANO. A Crise da Morte. Editora FEB.

22) FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita – Livro V. Editora FEB.

23) GABRIEL DELANNE. Evolução Anímica. Editora FEB.

24) PAULINO GARCIA; psicografia de Carlos A. Baccelli. Novo Dia. Editora DIDIER.

25) WILSON LOPES e MÔNICA MAGNAVITA. Evangelho e Saúde. CELD.

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