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O medo como instrumento que incita a reflexão crítica quanto ao sistema capitalista
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O pensamento como ferramenta crítica
Há razões conscientes para se negar ao diálogo com estranhos? O caráter
civil da população, que perpassa momentos em comunidade dos quais exige muito mais
do que uma troca de ideias, mas também a construção de laços afetivos e fraternais,
dissolveu-se nesses tempos hipermodernos? Como a divisão do trabalho e dissolução
dos cordões sócio afetivos corroboram para a caracterização do indivíduo do século
XXI? Há um extensão entre o caráter celular do trabalho e as ações cotidianas do
trabalhador? Como o processo, o meio, a forma e o tipo de atividade laboral formam,
em parte, o modos operandi de existir das trabalhadoras e trabalhadores? Como a
subjetividade gerada pelo meio objetivo do trabalho fragmentado executado opera no espírito
das e dos operários? De que forma o capitalismo está organizado hoje a tal ponto de excluir os
já excluídos pelo sistema? Por que há tanta geração de medo? O medo no capitalismo é
funcional? A quais interesses ele atende? A quem (ou a qual cepa, grupo) o medo beneficia?
Quais tipos de medo são mais comuns no capitalismo pós moderno? Medo de ficar
desempregado? Violência? De não ser aceito? De defender suas ideias? Medo do novo? De
estranhos? De perca? Da perca? Da morte? Da vida? Da tristeza? Do fracasso? Da derrota? De
deus? Da igreja e dos templos sagrados?
Agências de seguro de diversas modalidades operam com os mais variados
remorsos, aflições e inseguranças da população para sobreviverem financeiramente, ou seja, o
medo é o mote capital dessas empresas que trabalham com a propensão da previsibilidade e
probabilidade dos assegurados serem constrangidos com algo de súbito, repentino que
posiciona o indivíduo em uma situação aparentemente sem saídas imediatas, pois o
imediatismo das soluções eficazes – ou seja, a eficiência – é uma modalidade do sistema
capitalista muito peculiar, que oferece segurança e evita qualquer tipo de sofrimento,
sofrimento característico do tempo longo que não condiz com a sociedade capitalista cuja a
eficiência está impregnada na dinâmica da vida da sociedade, como não poderia ser diferente,
ou seja, um sentimento (o medo) do qual deveríamos aprender a conviver desde crianças e
superá-lo quando possível ou se adaptar quando necessário, foi relegado a terceiros, se
transformou em uma mercadoria. Essa caso é o mais evidente traço de transformação de
absolutamente tudo em um produto vendável, cabendo uma pergunta: o próprio ambiente de
violência simbólica e física, de insegurança, de medo e de tantos outros caracteres subjetivos
dos quais não aprendemos a lidar com eles formam uma corrente que prende a todos à
necessidade de se fazer um seguro para o carro, de vida, um plano funerário, uma poupança
para os estudos dos filhos e outro qualquer tipo de aquisição de serviços que opera com a
nossa subjetividade de forma direta, clara e profunda? A resposta parece evidente, e talvez ela
seja mesma, mas esses questionamentos e as reflexões aqui desenvolvidas podem não figurar
para muitos, pois a atmosfera social, econômica, política e cultural da qual o indivíduo nasce,
cresce e convive diariamente gera um fatalismo ou uma posição de aceitação (mas nem por
isso ele pode deixar de se rebelar) quanto ao modelo de sociedade do qual se esta inserido;
que a construção de uma crítica ao sistema ou a tudo o que se tem como “natural” se faz de
modo árduo e, em muitos casos, impossível.
Pode haver prelúdios dessa consciência expressados naqueles momentos de
indignação gerados pelo desemprego, pela não condição de consumo de uma mercadoria
muito desejada ou por qualquer outra necessidade material ou/e espiritual não satisfeita, mas
logo quando estas sucumbem com a compra, com a troca de dinheiro por um produto
desejado essa indignação se esvai, pois ela não se constitui como uma ferramenta subjetiva
que age e desperta no ser a necessidade de se conhecer o funcionamento de um sistema que
o oprime sem que ele tome consciência disso; a transformação da consciência de si para a
consciência para si é um processo que muitas vezes exige uma força exterior ao indivíduo,
como algum acontecimento em sua vida que o leve a reflexões e questionamentos. Essa
indignação está para a consciência, ela se encontra apenas nas vísceras do indivíduo e , como a
fome que reclama por comida, ela cessa sua aclamação logo quando satisfeita. Dessa forma,
aquele caráter de imediatismo se funde não apenas com o tempo vivido, mas com as formas
de pensar, ser, sentir, agir e conceber o mundo que envolve a todos nós sob um prisma
alucinador que estagna ou impede qualquer tipo de reflexão profunda acerca do que se está
sentindo ou vivenciando, sendo as experiências se limitando apenas aos sentidos, e não à
subjetividade; à inferência, que devem estar minimamente preparados com uma gama de
conhecimentos que possibilitem o desenvolvimento de pensamentos que levem o ser a
questionamentos cada vez mais sobre as formas sociais, culturais, políticas e econômicas que
regem a sociedade, seja no âmbito micro ou macro social.
08/2015