3
O pensamento como ferramenta crítica Há razões conscientes para se negar ao diálogo com estranhos? O caráter civil da população, que perpassa momentos em comunidade dos quais exige muito mais do que uma troca de ideias, mas também a construção de laços afetivos e fraternais, dissolveu-se nesses tempos hipermodernos? Como a divisão do trabalho e dissolução dos cordões sócio afetivos corroboram para a caracterização do indivíduo do século XXI? Há um extensão entre o caráter celular do trabalho e as ações cotidianas do trabalhador? Como o processo, o meio, a forma e o tipo de atividade laboral formam, em parte, o modos operandi de existir das trabalhadoras e trabalhadores? Como a subjetividade gerada pelo meio objetivo do trabalho fragmentado executado opera no espírito das e dos operários? De que forma o capitalismo está organizado hoje a tal ponto de excluir os já excluídos pelo sistema? Por que há tanta geração de medo? O medo no capitalismo é funcional? A quais interesses ele atende? A quem (ou a qual cepa, grupo) o medo beneficia? Quais tipos de medo são mais comuns no capitalismo pós moderno? Medo de ficar desempregado? Violência? De não ser aceito? De defender suas ideias? Medo do novo? De estranhos? De perca? Da perca? Da morte? Da vida? Da tristeza? Do fracasso? Da derrota? De deus? Da igreja e dos templos sagrados? Agências de seguro de diversas modalidades operam com os mais variados remorsos, aflições e inseguranças da população para sobreviverem financeiramente, ou seja, o medo é o mote capital dessas empresas que trabalham com a propensão da previsibilidade e probabilidade dos assegurados serem

O Medo Como Ferramenta Crítica

  • Upload
    mateusz

  • View
    214

  • Download
    1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O medo como instrumento que incita a reflexão crítica quanto ao sistema capitalista

Citation preview

Page 1: O Medo Como Ferramenta Crítica

O pensamento como ferramenta crítica

Há razões conscientes para se negar ao diálogo com estranhos? O caráter

civil da população, que perpassa momentos em comunidade dos quais exige muito mais

do que uma troca de ideias, mas também a construção de laços afetivos e fraternais,

dissolveu-se nesses tempos hipermodernos? Como a divisão do trabalho e dissolução

dos cordões sócio afetivos corroboram para a caracterização do indivíduo do século

XXI? Há um extensão entre o caráter celular do trabalho e as ações cotidianas do

trabalhador? Como o processo, o meio, a forma e o tipo de atividade laboral formam,

em parte, o modos operandi de existir das trabalhadoras e trabalhadores? Como a

subjetividade gerada pelo meio objetivo do trabalho fragmentado executado opera no espírito

das e dos operários? De que forma o capitalismo está organizado hoje a tal ponto de excluir os

já excluídos pelo sistema? Por que há tanta geração de medo? O medo no capitalismo é

funcional? A quais interesses ele atende? A quem (ou a qual cepa, grupo) o medo beneficia?

Quais tipos de medo são mais comuns no capitalismo pós moderno? Medo de ficar

desempregado? Violência? De não ser aceito? De defender suas ideias? Medo do novo? De

estranhos? De perca? Da perca? Da morte? Da vida? Da tristeza? Do fracasso? Da derrota? De

deus? Da igreja e dos templos sagrados?

Agências de seguro de diversas modalidades operam com os mais variados

remorsos, aflições e inseguranças da população para sobreviverem financeiramente, ou seja, o

medo é o mote capital dessas empresas que trabalham com a propensão da previsibilidade e

probabilidade dos assegurados serem constrangidos com algo de súbito, repentino que

posiciona o indivíduo em uma situação aparentemente sem saídas imediatas, pois o

imediatismo das soluções eficazes – ou seja, a eficiência – é uma modalidade do sistema

capitalista muito peculiar, que oferece segurança e evita qualquer tipo de sofrimento,

sofrimento característico do tempo longo que não condiz com a sociedade capitalista cuja a

eficiência está impregnada na dinâmica da vida da sociedade, como não poderia ser diferente,

ou seja, um sentimento (o medo) do qual deveríamos aprender a conviver desde crianças e

superá-lo quando possível ou se adaptar quando necessário, foi relegado a terceiros, se

transformou em uma mercadoria. Essa caso é o mais evidente traço de transformação de

absolutamente tudo em um produto vendável, cabendo uma pergunta: o próprio ambiente de

violência simbólica e física, de insegurança, de medo e de tantos outros caracteres subjetivos

dos quais não aprendemos a lidar com eles formam uma corrente que prende a todos à

necessidade de se fazer um seguro para o carro, de vida, um plano funerário, uma poupança

Page 2: O Medo Como Ferramenta Crítica

para os estudos dos filhos e outro qualquer tipo de aquisição de serviços que opera com a

nossa subjetividade de forma direta, clara e profunda? A resposta parece evidente, e talvez ela

seja mesma, mas esses questionamentos e as reflexões aqui desenvolvidas podem não figurar

para muitos, pois a atmosfera social, econômica, política e cultural da qual o indivíduo nasce,

cresce e convive diariamente gera um fatalismo ou uma posição de aceitação (mas nem por

isso ele pode deixar de se rebelar) quanto ao modelo de sociedade do qual se esta inserido;

que a construção de uma crítica ao sistema ou a tudo o que se tem como “natural” se faz de

modo árduo e, em muitos casos, impossível.

Pode haver prelúdios dessa consciência expressados naqueles momentos de

indignação gerados pelo desemprego, pela não condição de consumo de uma mercadoria

muito desejada ou por qualquer outra necessidade material ou/e espiritual não satisfeita, mas

logo quando estas sucumbem com a compra, com a troca de dinheiro por um produto

desejado essa indignação se esvai, pois ela não se constitui como uma ferramenta subjetiva

que age e desperta no ser a necessidade de se conhecer o funcionamento de um sistema que

o oprime sem que ele tome consciência disso; a transformação da consciência de si para a

consciência para si é um processo que muitas vezes exige uma força exterior ao indivíduo,

como algum acontecimento em sua vida que o leve a reflexões e questionamentos. Essa

indignação está para a consciência, ela se encontra apenas nas vísceras do indivíduo e , como a

fome que reclama por comida, ela cessa sua aclamação logo quando satisfeita. Dessa forma,

aquele caráter de imediatismo se funde não apenas com o tempo vivido, mas com as formas

de pensar, ser, sentir, agir e conceber o mundo que envolve a todos nós sob um prisma

alucinador que estagna ou impede qualquer tipo de reflexão profunda acerca do que se está

sentindo ou vivenciando, sendo as experiências se limitando apenas aos sentidos, e não à

subjetividade; à inferência, que devem estar minimamente preparados com uma gama de

conhecimentos que possibilitem o desenvolvimento de pensamentos que levem o ser a

questionamentos cada vez mais sobre as formas sociais, culturais, políticas e econômicas que

regem a sociedade, seja no âmbito micro ou macro social.

08/2015