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O Arqueiro · minha chegada ao mundo mudou drasticamente o curso ... Tinha visto a necessidade dos meus pais de me pressionar e a minha ... Revirei os olhos para a minha mãe,

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O Arqueiro

Geraldo Jordão Pereira (1938-2008) começou sua carreira aos 17 anos,

quando foi trabalhar com seu pai, o célebre editor José Olympio, publicando obras marcantes

como O menino do dedo verde, de Maurice Druon, e Minha vida, de Charles Chaplin.

Em 1976, fundou a Editora Salamandra com o propósito de formar uma nova geração de

leitores e acabou criando um dos catálogos infantis mais premiados do Brasil. Em 1992,

fugindo de sua linha editorial, lançou Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss, livro

que deu origem à Editora Sextante.

Fã de histórias de suspense, Geraldo descobriu O Código Da Vinci antes mesmo de ele ser

lançado nos Estados Unidos. A aposta em ficção, que não era o foco da Sextante, foi certeira:

o título se transformou em um dos maiores fenômenos editoriais de todos os tempos.

Mas não foi só aos livros que se dedicou. Com seu desejo de ajudar o próximo, Geraldo

desenvolveu diversos projetos sociais que se tornaram sua grande paixão.

Com a missão de publicar histórias empolgantes, tornar os livros cada vez mais acessíveis

e despertar o amor pela leitura, a Editora Arqueiro é uma homenagem a esta figura

extraordinária, capaz de enxergar mais além, mirar nas coisas verdadeiramente importantes

e não perder o idealismo e a esperança diante dos desafios e contratempos da vida.

Para minha mãe, Becky, que lê meus manuscritos desde que eu tinha 9 anos e me estimulou

a cada passo do caminho.

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Prólogo

SADIEA vida sempre foi uma batalha para mim. Pelo que sei, também não costuma ser lá muito tranquila para todas as outras pessoas. Mas nunca abandonei a fantasia de que um dia não iria me sentir tão isolada do res-to do mundo. Era esse sonho que me fazia seguir em frente em muitas noites, quando eu lutava contra o desejo de simplesmente desaparecer. Teria sido mais fácil se eu nem tivesse nascido.

Tenho certeza de que a minha mãe vê as coisas da mesma maneira. Sei o que você está pensando, e não, ela nunca me disse essas palavras, mas minha chegada ao mundo mudou drasticamente o curso da vida dela.

Minha mãe era considerada uma beldade na pequena cidade do Ar-kansas onde cresceu. Todos falavam que ela faria sucesso algum dia. Tal-vez sua beleza e seu charme de algum modo tivessem aberto portas se ela não houvesse conhecido meu pai. A verdade é que ela fugiu de casa para se tornar uma estrela e se apaixonou por um homem casado. Que não me reconheceu nem a ajudou por medo de macular sua posição social na cidade de Nashville, no Tennessee.

Foi em uma cabana de apenas um quarto nas colinas do Tennessee que mamãe e eu passamos a primeira parte da minha vida. Até o dia em que ela decidiu que tudo seria mais fácil no Alabama. Na costa sul, minha mãe – que eu agora chamo de Jessica – conseguiria encontrar trabalho. E o sol nos faria bem, ou pelo menos era o que ela dizia. Eu sabia que ela precisava fugir, ou talvez recomeçar em outro lugar. Se havia alguém no mundo que pudesse ser um ímã de fracassados, seria

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Jessica. Infelizmente, ela estava prestes a trazer outra criança para a vida instável que levava, na qual contava imensamente com outra pessoa – eu – para resolver tudo. Se ao menos ela me deixasse tomar as decisões no que dizia respeito aos seus relacionamentos, como fazia com todo o resto...

Mas estávamos a caminho do sul do Alabama, onde o sol suposta-mente brilha muito e leva embora todas as nossas preocupações...

É, sem dúvida.

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Capítulo 1

JAXFinalmente. A última parada da minha turnê. Escancarei a porta da suí-te, e Kane, meu guarda-costas, fechou-a firmemente atrás de mim. Os gritos do outro lado me davam dor de cabeça. Houve um tempo em que isso era divertido. Agora, eu só conseguia pensar em fugir. Das garotas. Da agenda implacável. Da falta de sono e da pressão. Eu queria ser outra pessoa. Em qualquer outro lugar.

A porta se abriu e se fechou rapidamente. Afundei no sofá modular de couro e fiquei olhando para o meu irmão mais novo, Jason, que sorria com duas cervejas nas mãos.

– Acabou – anunciou ele.Se ao menos Jason compreendesse o que eu vinha sentindo ultima-

mente... Ele estivera comigo durante todo aquele processo maluco. Tinha visto a necessidade dos meus pais de me pressionar e a minha necessidade de pressionar em resposta. Ele era meu melhor amigo. Meu único amigo, para falar a verdade. Já tinha desistido de tentar descobrir quem só gostava de mim por causa do dinheiro e da fama. Não fazia mais sentido.

Jason me passou uma cerveja e sentou no sofá.– Você arrasou. O show foi uma loucura. Ninguém jamais imaginaria

que você está doido para fugir para o Alabama de manhã e ficar o verão inteiro escondido.

Havia sido meu agente, Marco, que descobrira a ilha particular na costa do Alabama e falara com meus pais. Eles estavam tão ansiosos para

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estar em qualquer lugar que não fosse nossa casa em Los Angeles que adoraram a ideia.

Não desejavam voltar para a minha cidade natal, em Austin, no Texas. Muita gente sabia quem éramos.

A segurança que Sea Breeze oferecia me devolvia a liberdade que eu havia perdido quando o mundo me adotou. Todos os anos, duran-te algumas semanas de verão, éramos uma família de novo. Eu era só mais um cara e podia ir à praia e aproveitar a natureza sem câmeras ou fãs. Sem autógrafos. Só paz. No dia seguinte íamos voltar para lá. Eram nossas férias de verão. Mas este ano eu passaria todo o verão. Não importava o que minha mãe ou meu agente achavam que eu deveria fazer. Eu ficaria escondido lá por três meses, e todos podiam beijar os pés de Marco. Antes era minha mãe que insistia para que passássemos os verões juntos no Alabama. Agora era minha vez. Eu precisava de um tempo só com eles. Raramente os via no resto do ano. Era a única casa que tínhamos para chamar de nossa. Em Los Angeles, eu tinha a minha, e meus pais e Jason tinham as deles.

– Você vai também, não vai? – perguntei.Jason assentiu.– Sim, estarei lá, mas não amanhã. Preciso de alguns dias. Tive uma

discussão com a mamãe por causa da faculdade. Quero esperar alguns dias antes de encará-la de novo. Ela está me deixando maluco.

Nossa mãe fazia microgerenciamento das nossas vidas.– Ótima ideia. Vou conversar com ela. Talvez consiga fazer com que

recue.Jason apoiou a cabeça no encosto do sofá.– Boa sorte. Ela está em uma missão para tornar minha vida um

martírio.Ultimamente, eu tinha a sensação de que ela vinha fazendo o mesmo

comigo. Eu não morava mais com ela. Tinha uma vida independente. Era eu quem pagava suas contas. Por que ela pensava que ainda podia me dizer o que eu devia fazer? Mas ela sempre achava que sabia o que era melhor. Eu estava cansado disso, e Jason também. Eu ia falar com ela, certamente. Ela precisava lembrar quem estava no controle da situação e ficar na dela.

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– Tire uns dias. Aproveite. Vou preparar a mamãe para o fato de que não vou deixá-la controlar a sua vida. Depois disso, vá para o Sul – falei para ele antes de tomar um longo gole de cerveja.

SADIE– Mãe, você vai trabalhar hoje?

Revirei os olhos para a minha mãe, gravidíssima, que estava esparra-mada na cama de calcinha e sutiã.

A gravidez deixava Jessica ainda mais dramática do que antes de fazer sexo sem proteção com outro fracassado.

Ela gemeu e cobriu a cabeça com um travesseiro.– Estou me sentindo péssima, Sadie. Vá sem mim.Eu sabia que isso ia acontecer bem antes de as férias começarem. No

dia anterior eu tivera minha última aula, mas, em vez de poder sair e ser uma adolescente normal, eu precisava colocar dinheiro em casa. Era quase como se Jessica tivesse planejado desde o começo que eu fosse trabalhar no lugar dela.

– Eu não posso simplesmente ir para o seu trabalho assumir a sua fun-ção. Você explicou a situação para eles? Não vão concordar que a sua filha de 17 anos faça o seu trabalho por você.

Ela tirou o travesseiro do rosto e me lançou um olhar emburrado que havia aperfeiçoado anos antes.

– Sadie, não posso continuar fazendo faxina com a barriga do ta-manho de um balão. Estou com muito calor e muito cansada. Preciso que você me ajude. Você sempre dá um jeito em tudo.

Fui até o ar-condicionado e desliguei o aparelho.– Se você não deixasse isto aqui ligado direto, talvez a gente conse-

guisse viver com menos dinheiro. Faz ideia de quanto custa deixar um aparelho desses ligado o dia todo?

Eu tinha certeza de que ela não sabia, nem se importava com isso, mas perguntei mesmo assim.

Ela fez uma careta e sentou na cama.– Você faz ideia do calor que eu sinto com todo este peso extra? – re-

trucou ela.

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Usei todo o meu autocontrole para não jogar na cara da minha mãe que ela estava assim por não ter usado camisinha. Eu comprava os pre-servativos e me assegurava de que sempre houvesse vários em sua bolsa. E inclusive a avisava disso antes que saísse para seus encontros.

Às vezes era difícil lembrar quem era a adulta do nosso relaciona-mento. Eu quase sempre tinha a impressão de que nossos papéis tinham sido invertidos. Para Jessica, ser adulta não significava tomar decisões inteligentes, porque ela simplesmente não sabia ser responsável.

– Eu sei que você está com calor, mas não podemos gastar cada centa-vo que ganhamos com ar-condicionado – insisti.

Ela suspirou e se atirou de novo na cama.– Que seja – resmungou.Fui até a bolsa dela e a abri.– Tudo bem. Vou fazer o seu trabalho hoje, sozinha, e espero que me

deixem passar pelo portão. Se não funcionar, não diga que não avisei. Eu só tenho qualificação para um emprego que pague um salário mínimo, o que não vai resolver as nossas contas. Se você fosse comigo, eu teria mais chance de conseguir a vaga.

Enquanto falava, eu sabia que ela já não estava mais me acompa-nhando. Pelo menos ela havia conseguido manter o emprego por dois meses.

– Sadie, nós duas sabemos que você dá conta sozinha.Suspirei derrotada e a deixei lá. Ela voltaria a dormir assim que eu

saísse. Queria ficar brava com ela, mas vê-la tão grande me dava pena. Jessica não era a melhor mãe do mundo, mas era minha mãe. Depois de me vestir, passei pelo quarto dela e espiei pela porta. Ela roncava baixi-nho com o ar outra vez ligado. Pensei em desligar, mas mudei de ideia. O apartamento já estava quente, e ao longo do dia ficaria ainda mais.

Saí e peguei a bicicleta. Levei trinta minutos para chegar à ponte, que me levaria de Sea Breeze, no Alabama, até a ilha exclusiva ligada à ci-dade. Os moradores locais não viviam na ilha, lá era onde os ricos iam passar o verão. Jessica havia conseguido um trabalho como empregada doméstica em uma das casas que contratavam mensalistas. O salário era de 12 dólares por hora. Eu estava rezando para conseguir assumir a fun-ção dela sem problemas.

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Encontrei o endereço no cartão de funcionária que peguei da bolsa dela. Minhas chances de ficar com o emprego eram mínimas. Quanto mais pedalava para o interior da ilha, maiores e mais extravagantes as casas ficavam. Eu estava chegando ao endereço onde minha mãe tra-balhava. Claro que ela estava empregada na casa mais extravagante do quarteirão, sem falar que era a última antes de chegar à praia. Parei dian-te de um imenso portão de ferro forjado e entreguei o cartão de iden-tificação de Jessica ao cara na recepção. Ele franziu a testa e olhou para mim. Entreguei a ele minha carteira de motorista.

– Sou filha de Jessica White. Ela está doente, e eu vim trabalhar por ela hoje.

Ele continuou franzindo a testa enquanto pegava o telefone e liga-va para alguém. Isso não era nada bom, levando em consideração que ninguém ali sabia que eu iria substituí-la. Para sempre. Dois homens grandes apareceram e se aproximaram de mim. Ambos usavam óculos escuros e tinham a aparência de quem deveria vestir uniformes de fute-bol americano e jogar em times da liga nacional em vez de se apertarem em ternos pretos.

– Podemos ver sua bolsa, por favor, Srta. White? – indagou um deles, mais uma ordem do que um pedido, enquanto o outro tirava a bolsa do meu ombro.

Engoli em seco e quase estremeci. Eles eram grandes e intimidadores, e não pareciam confiar em mim. Perguntei-me se tinha uma aparência perigosa para eles, com todo o meu 1,70 metro de altura. Olhei para meu shortinho branco e a regata roxa e imaginei se levaram em considera-ção o fato de que seria impossível esconder armas naquela roupa. Achei meio estranho que os dois grandalhões estivessem relutantes em me dei-xar entrar. Mesmo que eu fosse uma ameaça, acredito que qualquer um deles poderia me conter vendado e com as mãos amarradas nas costas. A imagem surgiu na minha cabeça e me deu vontade de rir. Mordi o lábio inferior e esperei para ver se meu perigoso corpinho poderia entrar por aqueles portões de ferro gigantescos.

– Pode entrar, Srta. White. Por favor, use a entrada de serviço à es-querda do muro de pedra e se apresente na cozinha, onde receberá ins-truções sobre como proceder.

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Quem era aquela gente que precisava de dois homens do tamanho de Golias para guardar a entrada da casa? Montei na bicicleta novamente e atravessei os portões agora abertos. Ao virar a esquina, passando por exuberantes palmeiras e jardins tropicais, vi a casa. Jamais imaginaria que uma mansão daquelas existisse no Alabama. Estivera em Nashville uma vez e vira casas parecidas em tamanho, mas nada assim tão espeta-cular; parecia cenário de filme.

Eu me recompus e empurrei a bicicleta, tentando não parar para olhar fixamente o tamanho gigantesco de tudo. Encostei a bicicleta con-tra uma parede, fora de vista. A entrada de serviço havia sido feita para impressionar. Com mais de 3,5 metros de altura, a porta era adornada com uma linda letra S entalhada. A porta não era apenas alta, mas tam-bém muito pesada, obrigando-me a usar toda a força para abri-la. Espiei dentro do grande hall de entrada e passei para uma área pequena com três diferentes portas arqueadas. Como nunca havia estado ali antes, não sabia qual delas poderia ser a da cozinha. Fui até a primeira, à direita, e olhei pela abertura. Parecia ser uma grande sala de convívio, mas nada sofisticada e sem equipamentos de cozinha. Então, passei para a porta número dois. Espiei e encontrei uma mesa redonda com pessoas senta-das ao redor. Uma mulher grande e mais velha estava de pé diante de um fogão diferente de todos os que eu já vira em uma casa. Era algo que se costuma ter em res taurantes.

Devia ser ali. Entrei.A mulher que estava de pé me viu e franziu a testa.– Posso ajudar? – perguntou em tom ríspido e autoritário, embora

meio que lembrasse uma tia bonachona.Sorri, e o calor no meu rosto aumentou, parecendo que ia sair fumaça

pelas orelhas, enquanto eu via todos os rostos do ambiente se virarem na minha direção. Eu detestava atenção e fazia todo o possível para pas-sar batido. Embora isso fique mais difícil a cada ano. Tento ao máximo evitar situações que estimulem outras pessoas a falarem comigo. Não sou reclusa; é só que tenho muita responsabilidade. Percebi cedo na vida que amizades jamais funcionariam para mim. Estou sempre ocupada demais tomando conta da minha mãe. Então, aperfeiçoei a arte de ser desinteressante.

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– Hum, ahn, sim... Disseram para eu me apresentar na cozinha para mais instruções. – Limpei a garganta baixinho e fiquei esperando.

Não gostei do olhar de cima a baixo que a senhora me lançou, mas, como estava ali, eu não tinha escolha além de ficar.

– Sei que eu certamente não a contratei. Quem disse para você vir até aqui?

Estava detestando ter todos aqueles olhos em cima de mim e desejei que Jessica não tivesse sido tão teimosa. Eu precisava dela ali, pelo me-nos naquele dia. Por que ela sempre fazia essas coisas comigo?

– Sou Sadie White, filha de Jessica White. Ela... ahn... não estava se sentindo bem hoje, então vim trabalhar no lugar dela. Eu... ahn... deveria trabalhar com ela neste verão.

Queria não parecer tão nervosa, mas as pessoas estavam me encaran-do. A mulher na frente franzia a testa, parecendo irritada. Era tentadora a ideia de dar meia-volta e sair correndo.

– Jessica não me perguntou nada sobre você vir ajudar neste verão, e eu não contrato adolescentes. Não é uma boa ideia, já que a família vem passar o verão inteiro aqui. Talvez durante o outono, quando eles forem embora, possamos lhe dar uma chance.

Meu nervosismo por ser o centro das atenções desapareceu imedia-tamente, e eu entrei em pânico diante da ideia de perder a renda de que precisávamos tanto. Se minha mãe descobrisse que eu não poderia tra-balhar por ela, pediria demissão. Tirei minha voz de adulta do armário e decidi que precisava mostrar àquela mulher que era capaz de fazer o trabalho melhor do que qualquer outra pessoa.

– Entendo a sua preocupação. Porém, se a senhora me der uma chan-ce, vou poder mostrar que sou muito boa. Nunca irei me atrasar e sempre vou concluir minhas tarefas. Por favor, apenas uma chance.

A mulher olhou para alguém sentado à mesa, como se quisesse obter uma opinião. Voltou os olhos novamente para mim, e percebi que havia vencido sua firmeza.

– Sou a Sra. Mary. Sou responsável pelos empregados e administro a cozinha. Você me impressionou e conseguiu o trabalho. Muito bem, Sadie White, sua chance começa agora. Você vai fazer dupla com a Fran, que trabalha nesta casa há tanto tempo quanto eu. Ela vai instruir você e

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se reportar a mim. Você terá a minha resposta ao final do dia. Eis o seu teste. Sugiro que não o desperdice.

Assenti e sorri para Fran, que agora estava de pé.– Venha comigo – disse a ruiva alta e magrinha que parecia ter pelo

menos 65 anos. Então ela se virou e saiu da cozinha.Eu a segui sem fazer contato visual com nenhum dos outros. Tinha

um emprego para salvar.Fran me guiou por um corredor, passando por várias portas. Abriu

uma delas e entramos. O ambiente estava repleto de estantes de livros, do chão ao teto. Grandes poltronas de couro marrom-escuro preen-chiam a sala. Nenhuma estava voltada para outra, e não pareciam ser usadas para qualquer tipo de visita ou socialização. O ambiente esta-va claramente organizado para ser uma biblioteca. Um local aonde as pessoas iam para encontrar um livro e se perder em uma das grandes poltronas confortáveis.

Fran estendeu os braços à frente, fazendo um gesto para o ambiente com alguma afetação. Isso me surpreendeu, vindo de uma mulher mais velha.

– Este é o lugar preferido da Sra. Stone. Ficou fechado o ano inteiro. Você vai tirar o pó de todos os livros e estantes, limpar o couro e as ja-nelas. Passe o aspirador de pó nas cortinas, limpe e passe cera no piso. Esta sala tem que ficar brilhando. A Sra. Stone gosta das coisas perfeitas no santuário dela. Voltarei para buscar você na hora do almoço e come-remos na cozinha.

Ela foi até a porta e a escutei agradecendo a alguém. Voltou para den-tro da sala puxando um carrinho cheio de produtos de limpeza.

– Aqui tem tudo de que você vai precisar. Cuidado com as obras de arte emolduradas e com as esculturas. Devo avisar: tudo nesta casa é muito valioso e deve ser tratado com o máximo de cuidado. Espero que você trabalhe duro e não perca tempo com bobagens.

Fran deixou a sala com sua expressão severa.Dei uma volta, apreendendo a extravagância ao meu redor. A sala não

era muito grande, só parecia entulhada de coisas. Eu podia limpar aqui-lo. Não haviam me pedido nada impossível. Peguei o material para tirar

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o pó e segui até a escada presa às estantes. Talvez fosse melhor começar por cima, já que a poeira iria cair no que estivesse embaixo.

Consegui tirar pó de tudo e limpar as janelas antes de Fran vir me buscar para o almoço. Eu precisava de um intervalo e alguma coisa para comer. Seu rosto franzido foi uma visão bem-vinda. Ela passou os olhos pela sala e fez um gesto de aprovação antes de me levar em silêncio de volta pelo mesmo caminho que havíamos percorrido naquela manhã. Fui acolhida pelo aroma de pão recém-assado ao chegarmos à cozinha grande e iluminada. A Sra. Mary estava diante do fogão, apontando para uma mulher mais jovem que usava o cabelo preso em um coque coberto por uma rede exatamente como o seu.

– O cheiro está bom, Henrietta. Acho que você conseguiu. Vamos tes-tar esta fornada com os empregados hoje. Se todos gostarem, você pode assumir o preparo dos pães para as refeições da família.

A Sra. Mary se virou, secando as mãos no avental.– Ah, aqui está a nossa nova funcionária. Como estão indo as coisas?– Bem – disse a Sra. Fran, assentindo.Ou aquela mulher não sorria muito ou ela simplesmente não gostava

de mim.– Sente-se, sente-se. Temos muito a fazer antes da chegada da família.Sentei depois de Fran, e a Sra. Mary colocou bandejas de comida à nossa

frente. Eu devia estar fazendo algo certo, já que Fran me dirigiu a palavra:– Todos os funcionários comem nesta mesa. Todos chegamos em tur-

nos diferentes para o almoço. Você pode escolher o que quer comer.Assenti e peguei um sanduíche de uma das bandejas. Tirei uma fruta

fresca de um prato.– As bebidas ficam ali no bar. Você também pode preparar alguma

coisa, se preferir.Fui até lá e me servi de um pouco de limonada. Comi em silêncio, ou-

vindo a Sra. Mary instruir Henrietta na preparação de pães. Nem Fran nem eu fizemos qualquer tentativa de conversa.

Depois que terminamos de almoçar, acompanhei Fran até a pia, onde enxaguamos nossos pratos e os deixamos no lava-louças. Ainda em si-lêncio, pegamos o caminho até a biblioteca. Agora eu estava um pouco menos nervosa e muito mais interessada pelo que me cercava. Notei os

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retratos enquanto percorríamos o corredor. Havia fotos de dois meni-nos muito bonitinhos. Quanto mais eu caminhava, mais crescidos os dois pareciam ficar. Chegando à entrada arqueada que levava ao cor-redor onde ficava a biblioteca, um rosto estranhamente familiar sorria para mim de uma pintura em tamanho natural. Um rosto que eu vira muitas vezes na televisão e em revistas. Na noite anterior, ele havia apa-recido na televisão. Jessica via Entertainment Daily durante o jantar. O roqueiro adolescente e galã Jax Stone era um dos assuntos preferidos do programa. Na noite anterior, ele aparecera de mãos dadas com uma ga-rota que diziam estar em seu novo videoclipe. Fran parou atrás de mim. Eu me virei para ela, e ela pareceu analisar o retrato.

– Esta é a casa de verão dele. Ele vai chegar com os pais e o irmão amanhã. Você vai conseguir lidar com isso?

Eu apenas assenti, incapaz de formar qualquer palavra depois do cho-que de ver o rosto de Jax Stone na parede.

Fran voltou a caminhar, e eu a segui até a biblioteca.– É por causa dele que não contratamos adolescentes. Este é o seu san-

tuário particular. Quando era mais jovem, seus pais insistiam para que tirasse uma folga todos os verões e passasse algum tempo com eles longe dos holofotes de Hollywood. Agora está mais velho, mas ainda vem para cá no verão. Ele às vezes sai para ir a eventos, mas, na maior parte do tempo, aqui é o seu porto seguro. Traz a família junto porque eles não se veem muito durante o ano.

Fran fez uma pausa dramática, então continuou:– Se você não conseguir lidar com isso, será demitida imediatamente.

A privacidade dele tem o máximo de importância. É por isso que o sa-lário é tão bom.

Eu me endireitei e peguei o balde que estava usando antes.– Eu consigo lidar com qualquer coisa. Este emprego é mais impor-

tante para mim do que um astro do rock adolescente.Fran assentiu, mas, pelo franzir da testa dela, percebi que não acredi-

tava em mim.Dediquei mais energia ao trabalho. Ao final do longo dia, fiquei ou-

vindo enquanto a silenciosa e séria Fran conversava com a Sra. Mary. Ela acreditava que eu seria boa no trabalho e que merecia receber uma

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chance. Agradeci a ela e à Sra. Mary. Talvez eu conseguisse economizar dinheiro suficiente para o outono, quando minha mãe teria o bebê e não poderia trabalhar e minhas aulas começariam. Eu podia fazer isso.

Sim, Jax Stone era famoso, tinha olhos azul-acinzentados incríveis e era um dos homens mais lindos do mundo. Eu me obriguei a admitir tudo isso. No entanto, todo mundo sabe que a beleza é absolutamente rasa. Imaginei que a superficialidade que ele irradiaria seria tão revoltan-te que eu não me importaria de limpar a casa dele e passar por ele pelos corredores.

Além disso, eu não sabia nada sobre meninos. Nunca perdia tempo conversando com eles nem mesmo quando faziam o máximo para falar comigo. Sempre tive problemas maiores na vida, como me certificar de que comeríamos algo e que a minha mãe pagasse as nossas contas.

Quando pensava em todo o dinheiro que havia desperdiçado com as camisinhas que enfiava nas mãos e na bolsa de Jessica antes de ela sair com os homens que atraía, realmente tinha dificuldade em não ficar irritada com ela. Mesmo usando roupas compradas em brechós, ela era linda. Um de seus muitos namorados nojentos me disse que eu havia herdado sua beleza amaldiçoada. Dos cabelos louros e cacheados aos olhos azuis com cílios pretos espessos, eu conseguira herdar tudo. Mas eu tinha a única coisa que sabia que poderia me salvar do desastre certo: minha persona-lidade meio sem graça. Era algo de que minha mãe adorava me lembrar. Em vez de me sentir incomodada, eu me agarrava a isso com todas as forças. O que ela via como uma falha de caráter, eu gostava de interpretar como minha salvação. Não queria ser como ela. Se ter uma personalidade sem graça me impedisse de seguir seus passos, então eu a adotaria.

O apartamento em que morávamos por quase 500 dólares ao mês ficava no porão de uma imensa casa velha. Depois de voltar do meu primeiro dia de trabalho, não encontrei Jessica em nenhum dos cômodos.

– Mãe?Não recebi resposta.O sol estava se pondo, por isso saí para o que Jessica chamava de pá-

tio, mas na realidade mais parecia uma pequena laje. Ela adorava ficar ali para olhar a água. Minha mãe estava no jardim com a barriga cada

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vez maior à vista de todos que quisessem vê-la usando um biquíni que eu havia comprado em um brechó algumas semanas antes. Ela se virou para mim e sorriu. A expressão de enjoo daquela manhã desaparecera de seu rosto. Em vez disso, Jessica parecia radiante.

– Sadie, como foi? A velha Sra. Mary lhe deu muito trabalho? Se sim, espero que você tenha sido gentil. Nós precisamos desse emprego, e você sabe ser muito grosseira e antissocial.

Eu a ouvi falar sobre a minha falta de habilidades sociais e esperei que terminasse antes de anunciar:

– Consegui um trabalho para o verão.Jessica suspirou dramaticamente de alívio.– Que maravilha! Preciso mesmo descansar nos próximos meses. O

bebê está me sugando. Você não sabe como é difícil estar grávida.Tive vontade de lembrar a ela que tentei evitar aquela gravidez sa-

crificando dinheiro para comprar umas porcarias de umas camisinhas, o que não ajudou em nada. Em vez disso, assenti e entrei em casa.

– Estou faminta, Sadie. Tem alguma coisa que você possa preparar bem rápido? Estou comendo por dois agora.

Eu já havia planejado o que jantaríamos antes de chegar em casa. Sabia que mamãe era inútil na cozinha. De alguma maneira, sobrevivi aos meus primeiros anos de vida com sanduíches de geleia e manteiga de amen-doim. Em algum momento perto dos 8 anos eu me dei conta de que a minha mãe precisava de ajuda e comecei a amadurecer mais rápido do que as crianças normais. Quanto mais eu me oferecia para assumir, mais ela cedia. Quando completei 11 anos, eu fazia tudo.

Depois de colocar a massa na água fervente e o molho de carne para aquecer, fui para o meu quarto. Tirei as roupas de trabalho e vesti uma camiseta e um short de segunda mão, que por acaso é a peça principal do meu guarda-roupa.

O timer do macarrão disparou, informando que a comida precisava ser conferida. Jessica não iria se levantar para me ajudar tão cedo. Corri para a pequena cozinha, peguei um fio de espaguete com um garfo e o atirei na parede atrás do fogão. Grudou. Estava pronto.

– Sério, Sadie, atirar macarrão na parede... não consigo entender isso. De onde você tirou uma ideia tão louca?

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Olhei para Jessica. Ela estava deitada no sofá desbotado em tom pas-tel, que veio junto com o apartamento, usando o meu biquíni.

– Eu vi na televisão uma vez quando era mais nova. Faço isso desde então. Além disso, funciona.

– É nojento, isso sim – resmungou ela.Jessica não seria capaz nem de ferver água, mas decidi ficar calada e

finalizar o jantar.– Está pronto, mamãe – falei, servindo uma porção de espaguete em

um prato, sabendo que ela iria me pedir para servi-la.– Pode me trazer um prato, querida?Sorri. Eu estava um passo à frente dela. Minha mãe quase não se

levantava nos últimos dias, a menos que fosse absolutamente necessá-rio. Coloquei um garfo e uma colher no prato e levei até ela, que nem mesmo se sentou. Em vez disso, pousou o prato em cima da barriga e comeu. Coloquei um copo de chá gelado ao lado dela e voltei para pre-parar a minha porção. Eu havia trabalhado muito e estava com apetite.

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Capítulo 2

JAXA Sra. Mary estava com os empregados na frente da casa quando a li-musine parou. Não esperei que o motorista abrisse a minha porta. Ali, eu estava livre para não me preocupar com as aparências. Podia fazer o que quisesse. Desci do carro e me alonguei, sorrindo para a casa que representava liberdade para mim.

Não havia a ameaça de garotas piradas batendo à minha porta. Não havia nenhum lugar onde eu precisasse estar. Nenhuma entrevista. Na-da. Eu podia ficar deitado naquela praia o dia todo e ninguém iria me incomodar. A vida era boa no sul do Alabama. Minha mãe ainda não havia chegado, por isso eu tinha tempo para entrar e falar com a Sra. Mary, tomar um pouco de chá gelado e comer um biscoito amanteigado antes de lidar com ela.

A Sra. Mary saiu apressadamente pela porta antes que eu chegasse aos degraus da entrada.

– Sr. Jax, parece ter perdido 5 quilos desde a última vez que o vi. Entre aqui e coma alguma coisa gostosa. Meninos em fase de crescimento não precisam ser tão magrinhos.

Na realidade, eu havia ganhado 5 quilos desde a última vez que ela havia me visto, graças ao meu novo personal. Mas eu não ia discutir com ela. Ninguém discutia com a Sra. Mary. Até a minha mãe sabia disso.

– Olá, Sra. Mary. Está mais bonita do que da última vez que a vi.Era algo que eu dizia a ela todos os anos nos últimos cinco anos. Suas

bochechas enrugadas adquiriam um tom forte de rosa com o elogio.

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– Vamos lá, menino. Nós dois sabemos que isso não é verdade. Mas meus biscoitos, sim, você pode elogiar.

Ela tinha orgulho de suas habilidades culinárias, e eu mesmo era bas-tante viciado nelas. Era por isso que eu lhe pagava bem para ficar o ano todo, ainda que a residência não fosse permanente. Gostava de saber que poderia ir até ali sempre que quisesse. Manter a casa durante o ano não apenas dava um emprego à Sra. Mary, como a parte dos empregados também. A Sra. Mary só precisava contratar ajuda extra para o verão.

SADIEAs coisas foram muito mais tranquilas no dia seguinte. Não precisei ser revistada e inclusive recebi um cartão meu para apresentar no portão quando chegasse a partir de agora. Fran até sorriu para mim uma vez. Depois do almoço, a Sra. Mary me mandou para o terceiro andar, onde ficava a maior parte dos quartos. Era fácil me esquecer de quem era a casa que eu estava limpando. Eu não tinha amigos a quem contar sobre o trabalho. E o fato de que estava nos quartos onde o astro adolescente mais famoso do mundo dormiria durante todo o verão não era exata-mente grande coisa.

Entrei no quarto de Jax e dei uma volta. Não era o quarto típico de uma celebridade. Parecia bem antiquado, e eu achei isso estranho. Pre-cisava olhar com mais atenção.

Uma parede exibia tacos e bolas autografadas por diferentes jogado-res, mas apenas algumas delas pareciam bastante usadas. Camisetas es-portivas que ele devia ter usado na infância estavam penduradas com orgulho nas paredes. Eu podia imaginar com facilidade o menininho que tinha visto nos retratos usando aquelas camisetas e jogando na li-ga infantil de beisebol como uma criança qualquer. Aproximei-me para examinar melhor as fotos de times penduradas embaixo de cada uma das camisetas. Nas primeiras, precisei me esforçar para identificar qual garoto era o famoso rockstar. A partir das fotos em que ele aparentava ter 10 ou 11 anos, comecei a identificá-lo com facilidade. As camisetas e as fotos estavam ordenadas por idade desde mais ou menos o jardim de infância até os 13 anos, então paravam. Cerca de um ano depois, eu

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me lembrava de ter escutado o nome dele no rádio pela primeira vez. Ao que parecia, ele levara uma vida normal até o momento em que uma gravadora o descobriu.

O espaço acima da cama era o que diferenciava o quarto dele do de um adolescente comum. Havia guitarras de todas as formas, tamanhos e cores penduradas nas paredes. Muitas estavam autografadas. Algumas cintilavam de novas. Uma parecia ser de ouro de verdade, o que não se-ria nem um pouco surpreendente. Fiquei na ponta dos pés e a examinei mais de perto. Vinha com a inscrição fender. Continuei observando as assinaturas nas guitarras mais caras. Passei o dedo sobre o nome de Jon Bon Jovi e sorri. Pelo jeito, até os rockstars têm ídolos. No centro de to-das havia um pequeno violão antigo. O fato de que estava pendurado no meio da coleção deixava óbvio que tinha sido seu primeiro instrumento – e o mais adorado.

Olhei de novo para a porta aberta a fim de me certificar de que não havia ninguém do lado de fora, então voltei para analisar o violão que imaginei ter começado tudo. Eu não era uma fã maluca, mas ver uma coisa responsável por estimular um sonho parecia quase sagrado, de cer-ta forma.

Meu carrinho de limpeza estava intocado na entrada, e eu sabia que precisava começar a trabalhar. Não queria aprender coisas novas e pes-soais a respeito dele. Queria que ele permanecesse superficial e intocável aos meus olhos. Saber que ele foi um menininho bonito com cachos castanho-escuros e um sorriso que um dia provocariam furor o tornava mais real e não tão divino. Eu precisava manter meu interesse nele em um nível mínimo. Limpei rapidamente o quarto, tirando o pó e varren-do, e em seguida passei o esfregão no piso caro de madeira. Decidi que era melhor finalizar logo antes de cruzar com qualquer coisa pessoal demais. Foquei o pensamento no meu futuro e bloqueei tudo o que dizia respeito a Jax Stone.

– Sadie, já terminou? A família chegou, e nós precisamos nos retirar para os aposentos dos empregados – avisou Fran da porta.

Fui até o corredor, onde uma Fran bastante nervosa estava parada, e coloquei meus produtos de limpeza de volta no carrinho.

– Claro. Acabei agora.

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Fran assentiu e seguiu na direção do elevador dos fundos, pelo qual os funcionários da casa iam de um piso a outro sem serem vistos pela família. Fran entrou apressadamente quando a porta se abriu, e comecei a segui-la, mas um frasco de limpa-vidros caiu do carrinho e derramou um pouco de líquido no chão. Peguei um pedacinho de pano e limpei o respingo da melhor maneira possível.

– Rápido, por favor – disse Fran em um tom de voz ansioso de dentro do elevador.

A família devia estar subindo para lá.Quando comecei a empurrar o carrinho para o elevador, um arrepio

eriçou os pelos da minha nuca. Assustada, virei-me e o vi lá parado me observando. Não era o menininho bonito de cabelos cacheados, mas o famoso rockstar. Congelei, sem saber o que fazer, já que a minha pre-sença ali ser descoberta tão cedo não era algo que a Sra. Mary desejasse. Um sorriso se abriu no rosto ridiculamente sexy dele, e senti um calor atravessar o meu ao desviar o olhar e entrar no elevador.

Ele não pareceu ficar irritado por uma adolescente estar trabalhando na casa dele. Seu sorriso pareceu de divertimento. Fran franziu a testa quando olhei para ela, mas não comentou nada. Guardei meu carrinho e fui me apresentar na cozinha. A Sra. Mary estava parada com as mãos na cintura, esperando por nossa chegada. Uma conversa silenciosa pareceu ocorrer entre Fran e a Sra. Mary. Depois de assentir, a Sra. Mary pegou algo em cima da mesa e me entregou roupas pretas dobradas.

– Todo mundo usa uniforme enquanto a família está na casa. Além disso, você não vai mais limpar a casa, mas ajudará a mim na cozinha e ao Sr. Greg nos jardins. Esta noite, preciso que sirva o jantar. A Sra. Stone solicitou que todos os empregados vistos pela família e os convi-dados tenham boa aparência. William, o rapaz que contratei para au-xiliar Marcus para servir a família, ligou há dez minutos dizendo que está doente, então você é tudo que tenho. Você mostrou que trabalha duro e parece ter seriedade em relação ao emprego. Sua idade me preo-cupa, pois o patrão tem mais ou menos a sua idade e é um ídolo aos olhos da maioria das meninas. Mas meu instinto me diz que esse não é um problema para você. Espero que continue demonstrando tanta maturidade.

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Eu não sabia exatamente o que dizer depois de tudo o que ela falou, então apenas assenti.

– Ótimo. Agora você precisará usar isto aqui todos os dias quando trabalhar na casa. Vou mandar fazer mais dois do seu tamanho, e eles devem ser deixados aqui todas as noites para serem lavados e passados. Certifique-se de continuar entrando pelo mesmo local e de se trocar imediatamente na lavanderia. Quando estiver trabalhando lá fora, terá de vestir o short do uniforme, que também ficará na lavandeira. Agora preciso que você me ajude a começar os preparativos para a refeição da noite antes de vestir isto aqui. Você vai precisar estar limpa e bem-arru-mada quando for servir.

Nas duas horas seguintes, eu piquei, fatiei, misturei e recheei todos os tipos de carnes e legumes. Quando a Sra. Mary me pediu que me arru-masse e penteasse os cabelos, eu já estava exausta. Vesti a saia preta, que ficava logo acima dos joelhos, e a camisa de botões brancos e colarinho redondo. Coloquei um avental preto por cima da camisa e da saia. Sol-tando os cabelos, prendi os cachos no alto da cabeça. Lavei o rosto e as mãos e suspirei diante das feições que me olharam de volta pelo espelho. O rosto da minha mãe havia me conseguido um trabalho servindo esta noite, mas minha personalidade conquistara a confiança da Sra. Mary. Onde os olhos da minha mãe faiscavam de malícia, os meus se manti-nham sérios e comedidos.

Para ser sincera, o sorriso de Jax Stone havia me deslumbrado tanto quanto nos milhões de fotos dele que eu vira em revistas e cartazes. No entanto, isso não queria dizer que eu seria tola o bastante para me sentir atraída por ele como o resto do mundo. Respirando fundo, abri a porta e voltei para a cozinha, onde a Sra. Mary estava esperando.

– Muito bem, agora lembre-se: você deve colocar isto na frente do Sr. Jax no mesmo instante em que o Marcus aqui – ela acenou para um jovem alto de cabelo cor de areia que eu ainda não conhecera – colocar o da Sra. Stone na frente dela. Esta noite haverá apenas os dois à mesa. O Sr. Stone e Jason chegarão daqui a alguns dias. Então, esta noite, apenas vocês dois estarão servindo. Certifique-se de ficar silenciosamente para-da atrás do Sr. Jax enquanto ele come e de seguir a deixa de Marcus. Ele vai ajudar com qualquer dúvida que você tiver.

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Olhei atentamente para Marcus, que parecia apenas alguns anos mais velho do que eu, provavelmente universitário. Seus olhos verdes sorri-dentes me tranquilizaram imediatamente.

Ele estendeu a mão bronzeada e sorriu.– Marcus Hardy.Coloquei a mão na dele, e ele a apertou.– Sadie White.Ele assentiu, ainda sorrindo, e estendeu a mão na direção da bandeja.– Vi seu corajoso desempenho ontem ao garantir seu trabalho aqui.

Fiquei impressionado com a forma como os seus olhos passaram de ner-vosos a determinados em menos de um segundo.

Marcus pegou a bandeja diante de si, e eu sorri e levantei a minha à frente.

– Venha atrás de mim... já que eu vou servir a comida da Sra. Stone.Ele piscou para mim antes de se virar e seguir pelo corredor que leva-

va à entrada da sala de jantar.O grande salão não era novo para mim. Eu havia esfregado aquele piso

pela manhã. Marcus assumiu seu posto atrás da Sra. Stone, que estava de costas para a entrada. Eu dei a volta para ficar atrás de Jax, sentado na ponta da mesa. Olhei para Marcus para me orientar. Ele assentiu, e ambos servimos as saladas exatamente no mesmo instante. Dei um passo atrás. Marcus sinalizou com a cabeça para eu ficar ao lado dele, e eu obedeci.

– Ainda não entendo por que o papai está obrigando Jason a fazer a entrevista em Yale se ele não quer ir para lá.

A voz de Jax soou tão suave que pareceu quase irreal.Eu me sentia como se tivesse entrado em um filme e assistisse à cena

diante de mim.– Seu irmão não sabe o que é melhor para ele. Jason tem inteligência

para ser mais do que apenas o irmão mais novo de Jax Stone. Ele pode fazer um nome para si mesmo se simplesmente focar nisso em vez de perder tanto tempo no mercado de ações. Ele está desperdiçando a cabe-ça que tem para números. Precisa decidir o que quer fazer no futuro e ir à luta. Parar de brincar com as coisas. Se ele quer ter sucesso no mercado de ações, ótimo, mas que não fique brincando com isso como se fosse um jogo.

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Os olhos de Jax me procuraram e pareceram sorrir antes que ele os voltasse novamente para a mãe.

– Vocês dois vão acabar afastando-o. Você tem razão, ele é inteligen-te. E não precisa que vocês pensem por ele.

A Sra. Stone soltou uma risada curta e dura.– Você não estaria onde está hoje se eu não o tivesse pressionado.

Tudo o que você queria fazer era jogar beisebol com seus amigos e tocar em uma banda de garagem boba que não tinha nenhum outro talento além de você.

Jax suspirou, bebeu um gole da água gelada e se virou para a mãe.– Chega, mamãe. Não comece a falar mal dos únicos amigos de ver-

dade que eu tive na vida.A Sra. Stone recostou-se na cadeira, e Marcus tocou na minha mão

para chamar minha atenção para si e para o motivo pelo qual estávamos ali. Demos um passo para a frente e, ao mesmo tempo, retiramos os pra-tos de salada diante dos Stones.

– Querem algo além de água para beber com a refeição? – perguntou Marcus com seu encantador sotaque sulista.

Senti olhares me observando mais uma vez. Lutei contra a vontade de deixar meus olhos repousarem outra vez em Jax e seus olhos.

A Sra. Stone suspirou.– Acho que uma taça de vinho não me faria mal.Ela olhou para o filho e endireitou o guardanapo no colo, como se

tentasse decidir.– Traga uma taça do melhor Merlot que tivermos na adega.Jax se recostou, e pude ver que ele ainda estava me observando. Então

respirei para me acalmar e olhei para ele.– Eu gostaria de um pouco do chá gelado da Sra. Mary, por favor.Assenti e me segurei para não retribuir o seu sorriso.– Sim, senhor – respondeu Marcus.Ele deu um passo atrás e acenou com a mão para que eu seguisse na

frente de volta à cozinha.Saí da sala de jantar e imediatamente respirei fundo. Eu não havia

me dado conta de quanto aquilo seria estressante. Quando entramos na cozinha, Marcus sorriu para mim.

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– O que foi? Eu fiz bobagem?Marcus sacudiu a cabeça, e um cacho caiu sobre seus olhos.– Não. Você se saiu muito bem. Agora vamos levar o creme de siri

antes que a Sra. Mary tenha um ataque.Ele se virou na direção da governanta.– Sra. Mary, precisamos de um Merlot da adega.Ela lhe entregou a garrafa já aberta junto com uma taça.– Eu tinha imaginado. E aqui está o chá gelado de Jax.– Eu cuido das bebidas – disse Marcus.Eu estava agradecida demais para perguntar por quê. Apenas assenti

e o acompanhei pelo corredor na direção da sala de jantar. Pouco antes de entrarmos novamente, Marcus olhou para mim.

– Ignore os olhos dele sobre você. Você é um encanto para qualquer um. Não posso culpá-lo, mas, se quer manter este emprego, tente se tornar invisível.

Ele piscou para mim e então abriu a porta.Meu objetivo de vida era me tornar invisível. Pensei que estivesse

fazendo justamente isso. Pelo jeito, precisava me esforçar mais.– Pretendo ficar muito tempo só relaxando na praia. Espero o ano

inteiro a oportunidade de fazer isso sem ninguém querer me conhe-cer e pedir autógrafo. Preciso de uma folga. Sei que Marco detesta a ideia de eu ficar indisponível por três meses, mas eu preciso dessas férias.

Jax olhou para mim quando deixei o prato de creme diante dele.– Obrigado – sussurrou.– Eu também quero que você tenha uma folga. Gregory acha que

aparecer um pouco para os seus fãs neste verão seria ótimo para as re-lações públicas. Quem sabe você não pode fazer um show na praia ou apenas ir a pré-estreias de alguns filmes?

Jax balançou a cabeça.– Mãe, eu me recuso a tornar minha presença aqui conhecida. Eu

escolhi o Alabama porque não é uma região muito habitada. Melhor ainda, esta ilhazinha aqui é particular. Posso até considerar ir a algumas pré-estreias, mas nada além disso. Nada de shows.

A Sra. Stone deu de ombros.

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– Bem, eu disse a Gregory que tentaria, e tentei. Agora cabe a ele lidar com você. Você é adulto. Não vou mais pressioná-lo.

Jax continuou comendo, e fiquei parada ao lado de Marcus, ora olhando fixamente para fora, pela janela, ora para o prato fundo de Jax, à espera do momento em que precisaria retirá-lo. Olhei para Mar-cus, e ele me encarou com um sorriso. Ele estava compenetrado no trabalho, e pude perceber que queria que eu me saísse bem ali. Havia feito um amigo. Marcus tocou levemente meu braço e deu um passo para a frente. Eu o segui imediatamente, e nós dois retiramos os pratos da mesa.

– Mais chá gelado, senhor?Jax me fitou e voltou o olhar para Marcus.– Sim, por favor.A taça da Sra. Stone estava apenas com um gole a menos, no máximo.

Marcus mais uma vez deu um passo atrás e permitiu que eu guiasse o caminho para fora da sala de jantar. Repetimos a mesma rotina de antes, com Marcus carregando a bandeja com a louça suja.

Na cozinha, Marcus pegou a bandeja já preparada com os pratos mais elaborados e exóticos que eu havia visto na vida.

– Nossa, eles comem à beça.– A Sra. Stone apenas provou a comida até agora, e minha aposta é

que ela mal tocará nestes pratos também.– Ele come toda a comida dele.– É. Mas ele é um menino em fase de crescimento.Ri com a imitação que Marcus fez da Sra. Mary e o segui pelo agora

conhecido corredor. De volta à sala de jantar, coloquei o prato diante de Jax mais uma vez, e Marcus cuidou do chá gelado por mim.

Jax e a mãe comeram em silêncio dessa vez. De vez em quando, eu o percebia me observando e sentia um breve toque da mão de Marcus, sem dúvida me lembrando de que eu precisava ficar invisível. Em nenhum momento mostrei reconhecer os curiosos olhos azul-acinzentados. A mãe e o filho trocaram algumas palavras ocasionais, mas, na maior parte do tempo, continuaram comendo em silêncio. Por fim, depois do que pareceu uma eternidade, olhei para Jax para ver se ele havia terminado, e nossos olhos se encontraram.

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Tentei desviar o olhar, mas os olhos dele transpareciam um toque de riso. Fitei os meus pés, e Marcus apertou meu braço. Isso me assustou. Encarei-o, e ele fez um aceno de cabeça indicando que devíamos tirar os pratos. Retiramos a louça suja ao mesmo tempo. Então caminhei até a porta, já acostumada à rotina.

– Não vou querer sobremesa – disse a Sra. Stone a Marcus. – Detesto deixar você comer sozinho, Jax, mas estou exausta. Estarei no meu quar-to se precisar de mim.

Jax se levantou quando a mãe saiu da mesa. Depois, ele voltou a se sentar.

– Eu quero muito a sobremesa – disse Jax para nós... ou para mim.Marcus assentiu.– Sim, senhor – concordou ele em seu tom profissional, e ambos

saímos.De volta à cozinha, Marcus largou a bandeja.– Bem, é uma situação complicada. É você quem deve levar o prato e,

como a mãe saiu, não tenho por que voltar. Eu poderia ir no seu lugar, o que seria a melhor ideia, mas, infelizmente, isso pode irritá-lo. Ele pode achar que eu não confio nele sozinho com você. É evidente que o rapaz a notou, como eu tinha previsto. Mas eu tinha a esperança de que, como é famoso, não fosse prestar atenção em mais um rostinho bonito.

Marcus suspirou, apoiando o quadril na mesa, e cruzou as pernas compridas.

– Vou deixar isso para você decidir.– Eu?– O que você quer fazer, Sadie? Não tem a ver com o seu trabalho.

Tem a ver com o meu. Se você não voltar, eu posso perder o meu em-prego por pegar o seu lugar. Acho que ele já sacou que estou protegendo você. Se você for ou não, seu trabalho está seguro... por ora.

Suspirei e peguei a bandeja da sobremesa. Não prejudicaria o trabalho de outra pessoa em meu benefício.

– Eu levo.Sem dizer mais nada, voltei pelo corredor sozinha.Quando entrei na sala de jantar, os olhos azul-acinzentados dele cru-

zaram com os meus, e ele sorriu.

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– Ah, então ele deixou você vir sozinha. Eu estava me perguntando se o veria em vez de você.

Eu não queria sorrir diante do comentário, mas acabei sorrindo. Co-loquei a sobremesa diante dele e assumi meu posto.

– Você fala? – perguntou ele.– Sim.Marcus tinha se comunicado por mim a noite toda.– Normalmente não temos empregadas jovens. Como você conseguiu

passar por Mary?– Sou madura para a minha idade.Ele apenas assentiu e comeu uma garfada de uma espécie de bolo de

chocolate com mais chocolate escorrendo do recheio. Depois, voltou a olhar para mim. Eu me virei para observar pela janela as ondas quebran-do na praia.

– Quantos anos você tem?– Dezessete.Eu esperava que minha resposta simples encerrasse o interrogatório.– Como você soube que eu morava aqui?A pergunta dele me pegou desprevenida, e eu o encarei.– É difícil não ver as fotos enquanto tiro o pó e limpo o chão.Ele franziu a testa.– Você se candidatou ao trabalho sem saber que eu morava aqui?Percebi que ele estava supondo que uma fã conseguira passar pelo

crivo da segurança e queria saber como eu conseguira isso.– Minha mãe estava trabalhando na limpeza aqui há dois meses. Só

que a gravidez dela avançou, e ela me mandou em seu lugar. Como pro-vei meu valor, a Sra. Mary me manteve. Minha presença não tem nada a ver com o senhor, mas com o fato de que eu preciso comer e pagar o aluguel.

Eu sabia que minha irritação estava evidente, mas não podia evitar.Ele assentiu e se levantou.– Sinto muito. Quando a vi, jovem e, bem... atraente, achei que você

estaria trabalhando aqui para se aproximar de mim. Eu lido bastante com fãs, mas supor que você estava trabalhando aqui para se aproximar de mim não foi correto da minha parte. Perdão.

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Engoli o nó na garganta. Podia sentir o emprego me escapando por entre os dedos, mas não ia chorar.

– Entendo – consegui dizer.Um sorriso maroto tomou conta dos lábios dele, e Jax acenou com a

cabeça na direção da porta.– Eu devia ter imaginado que você é comprometida, considerando a

possessividade do outro empregado da noite. Encarei você mais do que deveria, mas fiquei o tempo todo esperando que pedisse meu autógrafo ou me passasse seu telefone em um guardanapo.

Levantei as sobrancelhas, surpresa.Ele deu de ombros.– Essas coisas fazem parte do meu estilo de vida. Eu simplesmente fico

esperando por isso.Sorri para ele. Jax não era tão mau quanto eu havia imaginado. E não

estava prestes a me demitir.– Eu estou aqui para fazer o meu trabalho, senhor, e nada mais.– Me faça um favor e não me chame de “senhor”. Sou apenas dois

anos mais velho do que você.Retirei o prato, cuidando para não tocar nas mãos dele, e dei um passo

atrás.– Está bem – respondi, esperando poder ir embora.– E então? Ele é seu namorado?Ele me pegou desprevenida com a pergunta, e eu paralisei.– Quem? Marcus?Um sorriso torto apareceu no rosto dele. Era difícil não o encarar.– Se Marcus é o cara que parecia tão determinado a garantir que você

não cometesse erros esta noite, então sim.– Não. Ele é... Ele é um amigo.Foi estranho dizer essas palavras. Nunca havia chamado ninguém de

amigo.Jax sorriu e se abaixou para sussurrar perto do meu ouvido:– Espero que logo você também me considere um amigo. Eu não te-

nho muitos.Senti meu rosto ficar vermelho e a pele arrepiar com a proximidade

dele. Seu hálito morno no meu rosto me fez ter dificuldade de dizer algu-

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ma coisa. Engoli em seco, tentando focar no comentário dele e não me atirar aos seus pés como uma maluca qualquer.

– Eu só tenho um – respondi, feito uma idiota.Jax franziu a testa.– Acho difícil de acreditar.Dei de ombros.– Não tenho tempo para amigos.Jax deu um passo à frente, abriu a porta para mim e sorriu.– Bom, espero que possamos encontrar algum tempo na sua agenda

ocupada, porque estou precisando de um amigo... de alguém que não se importe com quem eu sou... alguém que não ria das minhas piadas quando elas não têm graça. Se não estou enganado, você não dá a míni-ma para o fato de que estou na capa da revista Rolling Stone deste mês e nas paredes dos quartos de todas as adolescentes dos Estados Unidos.

O comentário pareceu aliviar meu momentâneo lapso de bom senso provocado pela proximidade dele, e balancei a cabeça.

– Nem todas as adolescentes. Você nunca esteve nas minhas paredes. Acho que você tem razão... eu não me importo.

Então me afastei, deixando-o atônito atrás de mim.

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