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O MINISTÉRIO CELESTIAL DE CRISTO Witness Lee Título do original em inglês: The Heavenly Ministry of Christ SUMÁRIO 1. Cristo na ascensão 2. Cristo na administração divina 3. Cristo na edificação da igreja 4. Cristo no crescimento e função dos crentes para a edificação do Corpo 5. Nossa reciprocidade ao ministério celestial de Cristo sob Seu encabeçar 6. Como reter a Cabeça e crescer Nele em todas as coisas 7. O sacerdócio celestial de Cristo 8. A execução do Novo Testamento por meio de Cristo 9. O ministério mais excelente de Cristo no verdadeiro tabernáculo 10. A administração universal de Cristo nos céus PREFÁCIO Este livro é composto de mensagens proferidas pelo irmão Witness Lee em Stuttgart, Alemanha, de 4 a 13 de abril de 1980.

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O MINISTÉRIO

CELESTIAL DE CRISTO Witness Lee

Título do original em inglês: The Heavenly Ministry of Christ

SUMÁRIO

1. Cristo na ascensão

2. Cristo na administração divina

3. Cristo na edificação da igreja

4. Cristo no crescimento e função dos crentes para a edificação do Corpo

5. Nossa reciprocidade ao ministério celestial de Cristo sob Seu encabeçar

6. Como reter a Cabeça e crescer Nele em todas as coisas

7. O sacerdócio celestial de Cristo

8. A execução do Novo Testamento por meio de Cristo

9. O ministério mais excelente de Cristo no verdadeiro tabernáculo

10. A administração universal de Cristo nos céus

PREFÁCIO

Este livro é composto de mensagens proferidas pelo irmão Witness Lee em Stuttgart, Alemanha, de 4 a 13 de abril de 1980.

CAPÍTULO UM CRISTO NA ASCENSÃO

Leitura Bíblica: At 2:32-33, 36; 5:31; 10:36b; Hb 4:14-15; 7:25-26; 8:1-2; Ap 1:5a; Ef 1:22

A CONCLUSÃO DA BÍBLIA A Bíblia tem uma conclusão maravilhosa! É claro que seu início é também maravilhoso. A Bíblia se inicia com Deus e em seguida com Sua criação. O centro da criação é o homem, feito à imagem de Deus e conforme Sua semelhança. Se você analisar, verá que o ser humano foi formado especificamente a fim de ser um com Deus. No início da Bíblia aparece também a árvore da vida. Quando nos voltamos para o fim da Bíblia, entretanto, podemos ver que ele é ainda mais excelente do que o início. Pode ser que isso o deixe surpreso, mas esse fim começa pelo livro de Atos e prossegue direto até o livro do Apocalipse! Quando eu era jovem, minha mãe costumava contar-nos as histórias dos quatro Evangelhos. Depois de adulto, descobri que, quando missionários católicos foram da Itália para a China, cerca de trezentos a quatrocentos anos antes, os principais livros que eles apresentavam eram os quatro Evangelhos. Até mesmo na minha juventude, os missionários em geral pregavam e ensinavam tendo por base esses livros. Por que os demais livros do Novo Testamento eram negligenciados? Era devido à falta de compreensão e apreço para com a conclusão da Bíblia. Agora nós estamos aqui na Europa na última parte do século vinte (Estas mensagens foram proferidas na

Alemanha, em 1980). Já é hora de ver como a Bíblia termina. Qual é o verdadeiro desfecho da revelação de Deus? Ver Sua revelação na criação é fácil. Ver Sua salvação também não é tão difícil. Mas ver o estágio final de Sua revelação não é assim tão fácil. Há três ministérios principais nesse estágio final. Sem dúvida existem alguns ministérios menores também, no entanto nos concentraremos apenas nesses três maiores. O primeiro é o ministério de Cristo nos céus. O segundo é o ministério completivo de Paulo. Sem as epístolas paulinas com certeza a Bíblia não estaria completa. Sim, já fora revelado muita coisa, mas foi necessário o ministério de Paulo para que a revelação divina estivesse completa. O terceiro é o ministério remendador de João. Embora Paulo tivesse completado os escritos, vieram os danos e, portanto, fez-se necessário o ministério de João a fim de reparar o estrago. A última Epístola de Paulo foi escrita por volta de 65 d.C.; e somente mais de um quarto de século depois disso é que o último escrito de João foi concluído. Se queremos conhecer o mover atual de Deus, certamente precisamos compreender a conclusão da Bíblia. (Não se trata apenas de um versículo ou de um capítulo, ou mesmo de um livro. Há mais de dez livros relacionados com essa conclusão.)

O MINISTÉRIO TERRENO VERSUS O CELESTIAL O Senhor Jesus com toda a certeza levou uma vida frutífera durante os trinta e três anos e meio em que esteve na terra. A maior parte do que Ele realizou, contudo, ocorreu num período de três anos. Ele passou trinta anos preparando-se e só então começou a ministrar. Quase tudo que é pregado e ensinado entre os cristãos atualmente refere-se a esse ministério terreno. Quando eu era um jovem cristão sequioso, ensinaram-me que Cristo já terminara Sua obra. João 19:30 era citado como prova disso. As palavras do Senhor, pronunciadas ainda na cruz, foram: "Está consumado!". Após Sua morte Ele permaneceu no túmulo por três dias. Em seguida ressuscitou e ascendeu aos céus não para trabalhar, mas para ficar lá sentado. Sentar-se, eles me explicaram, significava que a obra se encerrara. Ele agora está lá à espera de que Deus ponha Seus inimigos sob Seus pés (At 2:34-35). É esse o verdadeiro quadro? Cristo já terminou Seu ministério? Temos de responder tanto sim como não. Sim, Seu ministério terreno já está concluído. Seu ministério celestial, no entanto, prossegue até hoje.

A Pessoa de Cristo possui dois aspectos, assim como Seu ministério. Enquanto estava na terra, Ele era o homem Jesus. Desde a ascensão aos céus, Ele é o Cristo glorificado. Seu ministério terreno durou por tempo limitado, no máximo trinta e três anos e meio. Já Seu ministério celestial é eterno, jamais terminará. É lamentável que tantos cristãos dêem atenção apenas à primeira parte do ministério de Cristo. Nestas mensagens queremos concentrar-nos na segunda parte, que é muito mais crucial. A intenção de Deus é ter uma igreja e, por fim, a Nova Jerusalém. Durante o ministério terreno de Cristo a igreja não existia, e muito menos a Nova Jerusalém. A igreja e a Nova Jerusalém não podem ser vistas nos quatro Evangelhos. Somente quando chegamos a Atos é que encontramos a igreja. Em Atos, o primeiro livro da conclusão da Bíblia, a igreja passa a existir e, no último livro, Apocalipse, surge a Nova Jerusalém. Sim, em Atos o Evangelho é pregado, mas não como um fim em si mesmo. A pregação do evangelho tem por objetivo gerar a igreja. A igreja é o ponto mais importante de Atos. Depois, no último livro da conclusão, os dois primeiros capítulos dizem respeito à igreja, mas nos dois últimos capítulos surge a Nova Jerusalém, a consumação suprema das igrejas. Se obtivermos uma visão panorâmica de Atos a Apocalipse, descobriremos que a igreja e a Nova Jerusalém se destacam acima de tudo. A igreja e a Nova Jerusalém são concretizadas pelo ministério celestial de Cristo, e não pelo terreno. Seu ministério terreno levou a efeito a redenção para que a igreja fosse gerada, entretanto um ministério ainda mais elevado, rico e amplo se faz necessário para a concretização do propósito eterno de Deus com referência à igreja e à Nova Jerusalém. No que concerne a Seu ministério terreno, tudo já está consumado. A redenção foi garantida pela cruz. Essa consumação, porém, apenas O introduziu em Seu ministério celestial. Agora Ele está envolvido num ministério de alcance muito maior do que o que teve na terra. Não pense que o Senhor Jesus está sentado nos céus sem nada para fazer! Ele na verdade administra os assuntos de todo o universo! Em Sua vida terrena, com certeza não era isso o que fazia. Ele sofreu, foi perseguido e por fim foi à cruz para consumar a redenção. Agora tudo mudou. Ele tem o controle total. Ele trabalha por você, pelas igrejas e até mesmo pela Alemanha [local onde estas mensagens foram proferidas]! O título Cristo significa ungido. Ele é referido como o Ungido de Deus (Sl 2:2; At 4:26). Quando e como Cristo foi ungido? Foi em Seu batismo, quando o Espírito de Deus desceu sobre Ele. Lá no rio Jordão, logo depois que foi batizado, Deus O ungiu com o óleo celestial, isto é, com o Espírito. Essa unção representava Sua designação por Deus. Quando Cristo foi "empossado"? Depois de ser eleito (o que em nosso caso corresponde à designação de Cristo), um presidente é empossado no cargo. Dois ou três meses após a eleição, há uma cerimônia de posse, quando ele é então conduzido a seu novo gabinete e dá início oficialmente a seus deveres. Quando ocorreu o ato da posse de Cristo? Foi por ocasião de Sua ascensão. Quando Ele foi exaltado ao terceiro céu, essa exaltação representou a "cerimônia de posse" em Sua posição oficial. Durante a encarnação, conforme registram os quatro Evangelhos, encontramos um humilde homem de Nazaré chamado Jesus. Atualmente, entretanto, Ele está gloriosamente diferente! Acaso nosso Cristo é o Jesus dos Evangelhos ou o que ascendeu? Nos tempos de Levítico as ofertas que as pessoas faziam podiam ser diferentes. Alguns traziam um boi, outros um cordeiro e outros ainda apenas duas rolinhas. Isso é um retrato de que, em nossa experiência, Cristo pode ser grande como um boi ou pequeno como uma rolinha. Ele continua sendo o mesmo Cristo, mas nosso deleite Nele difere na medida de nosso conhecimento, consideração e experiência com relação a Seus diferentes aspectos. Já conhecemos Cristo por tempo demais apenas em Sua encarnação. Já é hora de conhecê-Lo em Sua ascensão. É estranho que se dê tanta ênfase ao nascimento de Cristo. A partir de agora você precisa deixar de olhar para a manjedoura e para a casa do carpinteiro e passar a ver Cristo entronizado nos céus! Seu Cristo ainda se encontra na manjedoura? Você valoriza mais a manjedoura ou o trono? Onde está seu Cristo agora? Talvez você responda que está em você. É claro que tenho que concordar com isso, pois o apóstolo Paulo afirma: "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl 1:27)! Mas como você experimenta esse Cristo que se encontra em você? Se você tem mais consideração pela manjedoura, sua experiência ficará limitada a isso. Mas se sua maior consideração estiver relacionada ao trono, isso elevará a experiência que você tem Dele no espírito.

Quando visitei o Vaticano, vi muitas pinturas com a manjedoura. Seria bem razoável encontrar uma manjedoura em Belém, mas por que pinturas da manjedoura teriam tamanha proeminência em outros lugares? As pessoas têm a impressão de que Cristo ainda está ligado à manjedoura. Elas têm pouca percepção de que hoje Ele se encontra no trono. Seu conceito acerca de Cristo está limitado à encarnação. Precisamos livrar-nos desse conceito empobrecido e passar a ver Cristo em Sua ascensão.

OS OFÍCIOS DO CRISTO ASCENDIDO

Quando Cristo ascendeu, Ele tomou posse de diversos e grandiosos ofícios.

A. O Cristo Até Sua ascensão, Ele ainda não fora empossado oficialmente como o Cristo. No dia de Pentecostes, Pedro declarou: "A este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo" (At 2:36). Esse versículo costumava incomodar-me. Ele não era o Cristo antes da ascensão? Sim, até mesmo na eternidade Ele já era o Cristo, porém na eternidade Ele não fora ainda ungido. Foi durante o batismo que Ele foi ungido. No entanto não fora empossado como Cristo de modo oficial até a ascensão. Cristo não somente foi escolhido, designado e também ungido por Deus, como ainda foi empossado por Ele em Seu ofício. Ele passou pela manjedoura, pelo rio Jordão e pela cruz, e agora está entronizado nos céus como o Cristo. A cruz pode ser vista em toda a parte no cristianismo. Existem cruzes de madeira, de ouro, de pedra e de aço. Os católicos fazem com freqüência o sinal da cruz. Eles têm um Cristo morto. Seu conhecimento acerca Dele é limitado à manjedoura e à cruz. Onde está à símbolo do trono? Nosso Cristo não se limita à crucificação. Ele está entronizado! Até mesmo em nosso espírito há esse trono. Aquele que se encontra em nosso espírito não está deitado numa manjedoura ou dependurado na cruz, mas assentado no trono. E é esse Cristo entronizado que precisamos experimentar.

B. Senhor Atos 2:36 também nos ensina que Ele foi feito Senhor. Sim, Ele já era o Senhor antes da ascensão, mas de novo não fora empossado nesse ofício. Um dos nomes no Antigo Testamento para Deus é Senhor (Do hebraico: Adonai), que significa dono. Cristo no Antigo Testamento era Adonai. Depois se tornou um homem, um Nazareno desprezado. Esse mesmo homem foi escolhido para ser Senhor, quando ainda estava na terra. Mas foi somente em ascensão que Ele foi empossado em Seu senhorio. Quando Pedro disse: "Este é o Senhor de todos" (At 10:36) na casa de Cornélio, queria dizer que Ele era Senhor de todos os povos - tanto judeus como gentios - e de todas as coisas. Não há somente Deus, mas também um homem no trono atualmente, que em ascensão foi empossado como Senhor de todos!

C. Regente "Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a príncipe e salvador" (At 5:31). A palavra grega traduzida por Príncipe é usada apenas quatro vezes no Novo testamento e sempre se referindo a Cristo (At 3:15; 5:31; Hb 2:10; 12:2 - os dois últimos são traduzidos por Autor). O termo foi traduzido de várias maneiras em diversas versões, em função de não existir um equivalente único para o grego no português. A idéia é a de que Ele é a origem e o Originador, o Autor, o Líder e o inaugurador. Portanto Ele se encontra acima de todos e, de modo espontâneo, é o Regente que possui autoridade. Atos 3:15 o denomina Autor da vida. Parece que aqui de fato soa melhor traduzir por Autor ou Originador da vida, em lugar de Príncipe, como fazem algumas versões. Em Hebreus 2: 10 a mesma palavra é novamente traduzida por Autor [algumas versões a traduzem por Príncipe ou Capitão]. Cristo em Sua ascensão é o Autor da nossa salvação, conduzindo-nos à glória na qual Ele mesmo já entrou como Pioneiro. Hebreus 12:2 o chama de Autor e Consumador da fé. Mais uma vez traz embutida a idéia de que Ele é o Originador, o Líder ou Precursor da fé. Ser nossa fonte e nos guiar no caminho da fé são funções incluídas no ofício para o qual Ele foi empossado! Como é precioso esse Cristo em ascensão! Quando na terra, Ele era tão pobre que precisava pedir água a uma mulher samaritana. Mas agora a pobreza de Sua vida terrena acabou. Ele assumiu a posição de origem e Originador, Regente, Autor, Líder, Capitão, Pioneiro e Precursor! Ele se encontra muito acima de todos. Ele é o primeiro. Todas as coisas e todo o poder estão em Suas mãos.

D. Salvador Quando estava na terra, Cristo salvou Pedro, João e muitos outros. Entretanto, embora o título de Salvador se aplique a Ele em Seu ministério terreno (Jo 4:42), Ele não foi oficialmente o Salvador antes da ascensão (At 5:31). Você percebe como sua salvação é mais gloriosa do que a de Pedra? Pedro foi salvo de maneira não oficial pelo Carpinteiro de Nazaré. Você foi salvo de modo oficial por Cristo em Seu trono. Entendo que você pense em como Pedro foi especial por ter sido salvo por Jesus às margens do mar da Galiléia; você, no entanto, foi salvo pelo Cristo glorificado, que se encontra assentado no trono no terceiro céu! Não precisa ter inveja de Pedro. Quando ele foi salvo, seguiu Jesus pela Galiléia. Quando você foi salvo, assentou-se com Ele nos lugares celestiais (Ef 2:6)! Cristo o salvou a partir de Seu trono e para Seu trono. Esse é seu Salvador!

E. Sumo Sacerdote Nós temos um grande Sumo Sacerdote que penetrou os céus (Hb 4: 14-15)! Ele não é apenas sacerdote, mas Sumo Sacerdote, que "pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25). Cristo se coloca diante de Deus a nosso favor, orando para que sejamos salvos e conduzidos de forma plena ao propósito eterno de Deus. Como declara o versículo 26, Ele não só está nos céus como foi "feito mais alto do que os céus".

F. Ministro Em Hebreus 8:2 Cristo é chamado de "ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem". Ele é o Servo entronizado, ministrando a nós a partir dos céus.

G. Primogênito dentre os mortos Esse é um grande título. Lázaro foi ressuscitado dentre os mortos (Jo 11:43-44), porém sua ressurreição foi apenas temporária. Ele voltou a morrer. A partir da ressurreição do Senhor, no entanto, a morte foi superada. Ele vive para sempre. Por essa razão Ele é de fato o Primogênito dentre os mortos (Ap 1:5).

H. Soberano dos reis da terra

Ele também é chamado em Apocalipse 1:5 de o Soberano dos reis da terra. "Soberano" aqui é uma palavra um pouquinho diferente do que o título de Príncipe ou Regente a que nos referimos em Atos 5:31. É comum Jesus ser chamado de Rei dos reis, mas chamá-Lo de Soberano dos reis da terra é o mesmo que dizer que Ele está muito acima dos soberanos terrenos.

I. Cabeça sobre todas as coisas

Quando Cristo ressuscitou dentre os mortos, Deus "pôs todas as coisas debaixo dos [Seus] pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja" (Ef 1:22). Esses são alguns ofícios nos quais Cristo foi empossado por ocasião de Sua ascensão.

CAPÍTULO DOIS CRISTO NA ADMINISTRAÇÃO DIVINA

Leitura Bíblica: Ap 4:1-5; 5:1-10; Mt 28:18-19; Mc 16:19-20; At 1:8; 2:33

A CENA DA ASCENSÃO

Apocalipse 4 e 5 costumava ser um grande mistério para mim. Do que posso me lembrar, nunca ouvi mensagem alguma a respeito desses capítulos e levou muito tempo até que eu conseguisse compreender alguma coisa de seu significado. Esses dois capítulos apresentam uma cena dos céus abertos. Há um trono onde Deus está assentado, cercado por outros vinte e quatro tronos. Há também vinte e quatro anjos como anciãos do universo e quatro seres viventes. Sem dúvida há ainda miríades de anjos presentes, como também todos os demais seres criados. Esse quadro retrata Deus no trono como o centro do universo. A seguir João viu um rolo de pergaminho nas mãos Daquele que se encontrava assentado no trono. Quando surgiu a pergunta acerca de quem poderia abrir o livro, João chorou por não haver ninguém qualificado para fazê-lo. "Não chores", disse-lhe um dos anciãos, "eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos" (Ap 5:5). Quando João olhou, o que viu foi um Cordeiro com sete olhos. Esse Cordeiro-Leão se encontrava de pé, não sentado, e Seus sete olhos eram flamejantes. A partir desse quadro podemos ver claramente que Sua obra não está concluída. O que fora concluído em João 19 foi a obra de redenção. No entanto Sua posição de pé e Seus sete olhos flamejantes indicam que Ele ainda age. "Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono" (Ap 5:7). Esse é o início do ministério de Cristo nos céus. Sem esses dois capítulos ficaríamos sem saber o que aconteceu quando Cristo ascendeu aos céus. Em Apocalipse 4 e 5 vemos que, ao ascender, Cristo foi diretamente ao trono no centro do universo. Diante do trono, diante dos vinte e quatro anciãos e cercado por todas os seres criados, Ele recebeu a comissão de levar a efeito a economia divina, simbolizada por aquele livro. Apreciamos cantar o hino baseado em Apocalipse 5:12-13: "Benção e honra e glória a Ti, / E glória a Ti, / E glória a Ti. / Benção e honra e glória a Ti, / Agora e sempre. Amém!" (Hinos, n° 92). O louvor, a honra e a glória são para o Cordeiro, não na cruz, mas de pé diante do trono, no centro do universo, que recebeu uma comissão universal! Não devemos ser tão superficiais a ponto de restringir nossos louvores a Cristo apenas pela redenção. Precisamos ampliar nossa visão, a fim de enxergar esse mesmo Cordeiro realizando uma obra de dimensões incomensuráveis e eternas. Observe esse quadro que João retrata para nós. O Cordeiro redentor se encontra agora de pé no centro do universo, diante do trono de Deus. Isso nos revela que o Redentor agora se ocupa da administração divina. Ele é o Administrador do universo a executar a economia divina. Ele não está lá sentado ou dormindo, porém de pé, com sete olhos flamejantes, observadores, perscrutadores e até mesmo ardendo em chamas. O universo inteiro observa essa cena. Os quatro seres viventes, os vinte e quatro anciãos, miríades de anjos e todas as demais criaturas estão totalmente despertas, em estado de alerta, a observar. É nessas circunstâncias que proclamam: "Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (Ap 5:13). Como sabemos que essa cena ocorreu por ocasião da ascensão de Cristo? Concluímos isso por 5:6, onde o Cordeiro é descrito como "tendo sido morto". O tempo verbal grego aqui traz a implicação de que Ele acabara de ser morto. Logo após Sua morte sacrificial, Ele recebeu a comissão universal e eterna das mãos de Deus.

A OBRA DUPLA DE CRISTO

Em Seu ministério terreno, Cristo realizou a redenção. Agora, em Seu ministério celestial, Ele leva a efeito a edificação de Deus. A redenção tem por finalidade a edificação de Deus. O centro dessa edificação é a igreja, e sua consumação suprema será a Nova Jerusalém. Atualmente a igreja é uma casa (l Tm 3:15), no entanto essa casa culminará numa cidade. Quando isso ocorrer, a edificação de Deus estará completa. A obra da redenção foi terminada em João 19. Alguns capítulos depois, em Atos 2, começou a obra de edificação, que prossegue até o dia de hoje.

Esses dois aspectos da obra de Cristo não são em geral conhecidos dos cristãos hoje em dia. Eles estão familiarizados com a obra de redenção, entretanto, se você lhes disser que Cristo ainda trabalha nos céus com o propósito de concluir a edificação de Deus, pode ser que o questionem por essa sua estranha doutrina. Como é maravilhoso estar na luz e ter essa visão celestial, oculta para a maioria dos cristãos! Há um Cordeiro-Leão de pé no centro do universo com sete olhos flamejantes e ardendo em chamas! Ele pode salvá-lo do silêncio, da frieza e da preguiça!

A RECIPROCIDADE ENTRE O CÉU E A TERRA

Quem pode se opor a esse Cordeiro-Leão? Quem pode impedir a restauração do Senhor? A restauração não faz parte da cristandade tradicional. Eu realmente creio que o que o Senhor realiza nos céus encontra reciprocidade entre nós em Sua restauração. No dia de Pentecostes, deu-se início na terra à reação correspondente ao mover de Cristo nos céus. Apenas cento e vinte pessoas estavam lá no princípio, em sua maioria galileus simples, e não eruditos. Aquela obra, então no início, é a mesma da qual somos parte hoje. A obra não se iniciou na China, mas em Jerusalém! Estamos aqui em nossos dias a refletir o que Cristo faz nos céus. Onde quer que nos encontremos, causamos problemas para a cristandade. Este2 é um país de sólida e longa tradição cristã. E agora surge um jovem} para causar problemas! Ele está na Europa desde 1971, perturbando e inquietando a religião tradicional. A primeira vez em que me deparei com ele foi em Manila, em 1950, quando ele era ainda menino. Dez anos depois tivemos um retiro nas montanhas de Baguio, nas Filipinas. Ele participou daquela conferência de jovens. Havia mais de cem jovens presentes e todos estavam avivados, inclusive ele. Oito anos mais tarde, depois que fui para os Estados Unidos, recebi uma carta dele. Estudava medicina na Alemanha, mas tinha o encargo de largar os estudos e se dedicar em tempo integral a serviço do Senhor. Ele pediu meu conselho. Já havia entrado em contato com um famoso pregador que o aconselhara a prosseguir nos estudos. Depois de muita oração, respondi que, se se sentisse conduzido a isso da parte do Senhor, poderia ir a Los Angeles naquele verão e participar de um treinamento e de uma conferência que teríamos. Depois disso, teríamos cerca de cento e trinta santos participando de uma viagem para visitar as igrejas no extremo oriente, incluindo Manila. Ele veio a Los Angeles, ficou para a conferência e a seguir juntou-se a nós na viagem para o oriente. Quando chegamos a Manila, seus pais me convidaram para jantar. Eles me imploraram que instasse com ele para que voltasse à Alemanha e terminasse o curso de medicina. Ele poderia servir ao Senhor, mas antes deveria terminar os estudos. Respondi que não o havia instigado a que largasse os estudos e já não tínhamos contato havia oito anos. Ele próprio sentia que não poderia prosseguir os estudos, mas deveria dedicar-se ao serviço do Senhor. Eles ainda suplicaram, declarando que somente eu poderia influenciá-lo a mudar de planos. Eu não disse sim nem não, no entanto indiquei-lhes que aquilo que me propunham não era tarefa minha nem minha responsabilidade, mas dizia respeito à obra do Senhor. Aquele jovem não foi convencido pela família. Retomou a Los Angeles, onde permaneceu por três anos. Depois disso, em 1971, sentiu-se constrangido a retornar para a Alemanha, não para completar os estudos, porém para a restauração do Senhor. Seja qual for a oposição existente, os sete olhos funcionaram como um motor dentro dele. Nada pôde impedi-lo!

AUTORIDADE E DOMÍNIO

Quando Cristo já estava pronto a ascender aos céus, encontrou-se com os discípulos num monte e lhes disse: "Toda a autoridade Me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28:16-19). O encargo que o Senhor deu aos discípulos de pregar o evangelho foi um reflexo da autoridade que recebera no céu e na terra (ver também Mc 16:19-20). Com essa autoridade Ele os encarregou de fazer discípulos das nações. Sua primeira comissão aos discípulos foi a de ir com Sua autoridade. Posso testificar-lhes que, quando ficou claro para mim que eu deveria dar inicio à obra nos Estados Unidos, possuía a firme convicção de que estaria lá com a autoridade de Cristo. Eu era um humilde homem vindo da China, sem prestigio ou apoio financeiro, entretanto cheguei aos Estados Unidos com a convicção de que a autoridade de Cristo estava comigo.

Para que Cristo tivesse Seu evangelho pregado até os confins da terra, fazia-se necessária Sua liderança. Como o Soberano dos reis da terra, a terra inteira está sob Seu domínio. Ele ordenou os eventos mundiais e as atividades humanas diárias para que o evangelho se espalhe.

UM EXEMPLO DO DOMÍNIO DE CRISTO

Permita-me ilustrar esse aspecto de modo subjetivo para vocês. Há mais de cinqüenta anos na China, um grupo de jovens foi levantado pelo Senhor. Éramos uma geração jovem, esforçando-nos para obter educação moderna a fim de resgatar e construir nosso pais. Os lideres tanto do partido nacionalista como do comunista tinham todos a mesma idade que nós. Estávamos todos na faculdade ao mesmo tempo, buscando adquirir com seriedade conhecimentos científicos, políticos e econômicos. Eu, por exemplo, comecei a estudar inglês logo depois da I Guerra Mundial, terminada em 1918. Alguns daquela geração foram cativados pelo comunismo; nós fomos cativados por Cristo. Passamos a amar o Senhor e Sua Palavra. Estudamos a Bíblia, bem como a literatura espiritual clássica, a história da igreja e as biografias dos gigantes espirituais, desde o segundo século até nossos dias. Com nossa pesquisa ficamos conhecendo a cristandade, e o Senhor nos abriu os olhos para obter alguma luz acerca de Sua Palavra. A primeira reunião, ou igreja, foi estabelecida em 1922. Não foi nada fácil no princípio, mas o Senhor nos estabeleceu e espalhou Sua restauração. Depois da Segunda Guerra Mundial a restauração prevaleceu na China. Havia entre quatrocentas a seiscentas igrejas espalhadas pelas trinta e três províncias. Nem pensávamos em vir para o ocidente. Tínhamos uma grande obra diante de nós: uma nação com setecentos milhões de habitantes e uma só língua. Nosso único encargo era por esse povo, no entanto tínhamos consciência de que tudo o que o Senhor nos mostrara seria levado ao ocidente algum dia. Entendíamos que o mover do Senhor funciona como a circulação sangüínea. Primeiro, o Senhor enviou alguns do ocidente com o evangelho para a China. Em seguida, naquele mundo pagão, Ele nos levantou e nos abriu o entendimento para a Bíblia. Reconhecemos que nossa compreensão ultrapassou em muito o que os missionários nos haviam trazido. Chegaria o dia, acreditávamos, em que a circulação sangüínea que começara no ocidente fluiria de volta trazendo algo do oriente. Isso, segundo pensávamos, iria acontecer por intermédio de outras pessoas, e não de nós. Nossas mãos já tinham muito que fazer. Pouco tempo depois, no entanto, em 1948 e 1949, toda a situação na China mudou. Ficamos perturbados e confusos com essa virada total nos acontecimentos. Tomou-se, então, a decisão de que eu deixasse a China continental. Eu não sabia para onde ir e acabei rumando para Taiwan. Aquela pequena ilha, primitiva sob todos os aspectos, me deixou completamente desencorajado e decepcionado. Eu trabalhava em Shanghai, a maior cidade do extremo oriente, então com seis milhões de habitantes. Taiwan parecia insignificante e atrasada. Certo dia, porém, viajei de trem através da ilha. O Senhor me constrangeu e me disse: "Não pense que este lugar é pequeno demais. Eu vou usar essa ilha. Portanto, ao trabalho". Em seis anos, de 1949 a 1955, nosso número passou de menos de quinhentas para vinte mil pessoas. Nesse período, eu passava cerca de quatro meses por ano nas Filipinas e oito meses em Taiwan. Depois disso, em 1958 fui convidado a visitar a Inglaterra e a Dinamarca. No caminho passei pelos Estados Unidos. Dois anos depois, o Senhor me levou novamente aos Estados Unidos. Então, em 1962, Ele me levou mais uma vez para lá e dessa vez me manteve ali. Aos poucos fiquei impressionado. Passado algum tempo, ficou claro para mim que, em vez de retornar para o oriente, eu deveria dar início ao ministério nos Estados Unidos. Começamos no fim de 1962. Não havia nenhuma organização a nos apoiar nem suporte financeiro, mas começamos. Essa história demonstra a soberania do Senhor. Ele preparou acontecimentos internacionais para que tivéssemos que ir aos Estados Unidos, muito embora isso estivesse longe de minhas intenções. Meus pensamentos caminhavam em direção oposta. Antes do fim da Segunda Guerra Mundial eu já percebia que o Japão seria derrotado e a China e os Estados Unidos venceriam a guerra. Então assumi o compromisso de evangelizar o interior da Mongólia e tracei um plano de realizar esse projeto

através da região noroeste. Eu morava no norte da China, onde tínhamos um bom número de santos que poderiam fornecer os recursos humanos. Lá havia enfermeiras, médicos, professores e comerciantes. Os recursos financeiros seriam providenciados por alguns prósperos irmãos da Manchúria, no nordeste da China. Meus planos foram bem elaborados. Os cooperadores me chamavam de diretor geral da "Companhia Três Nortes"! Havia o norte da China, o nordeste e o noroeste. A China de fato venceu a guerra, mas, contrariando nossas expectativas, os comunistas obtiveram o controle do país. Meu sonho para a Companhia Três Nortes desapareceu, embora setenta santos acabassem realmente migrando para o interior da Mongólia. Há pouco tempo ouvi notícias referentes àqueles setenta irmãos. Um cooperador, um dos presbíteros em minha cidade natal, tomou a iniciativa daquela migração em 1943. Agora, trinta e sete anos depois, ele ainda está vivo, embora já tenha sido preso quinze vezes. Atualmente existe certa liberdade lá e também algumas igrejas naquele distrito. Fiquei feliz por receber essas notícias, muito embora eu nunca tivesse tido a oportunidade de ir lá pessoalmente. Minha intenção era a de seguir rumo ao noroeste, entretanto o Senhor me enviou ao sudeste! Eu estava prestes a me dirigir para o interior da Mongólia, próximo à Sibéria, mas o Senhor me enviou para Taiwan, para Manila, para os Estados Unidos e agora para a Europa. Como pode ser isso? Esse Jesus que se encontra nos céus é o Soberano dos reis. Ele governa todas as nações. A forma com que Ele governa é totalmente correta. Ele nos enviou a fim de espalhar Sua restauração, para ganhar mais pessoas para Si mesmo. Será que há quinze anos vocês poderiam imaginar que o Senhor se movesse dessa forma na Alemanha? Em nosso meio temos italianos, espanhóis, franceses, ingleses, bem como alemães. Há trinta e um anos eu teria morrido pela Companhia Três Nortes! No entanto o Senhor me impediu de ir para lá. Não precisei morrer! Agora estou aqui na Europa, desfrutando as vozes de tantas nacionalidades diferentes. Quem preparou tudo isso? O Cristo celestial! Não é obra sua nem minha. Sou pequeno demais para ter preparado qualquer coisa parecida. Louvamos o Senhor por esse reflexo de Seu ministério celestial! Dentro de poucos anos, a Europa toda será saturada pela restauração. Creio que ela irá invadir todas as principais cidades. Em pouco tempo se espalhará até mesmo de volta a Jerusalém. De Stuttgart seguirá rumo ao sul até Atenas e a seguir atravessará o mar até Jerusalém. Lá é onde a igreja teve início e nesta era retornará para lá! Esse é o mover do Senhor, a partir dos céus, refletido na terra.

CAPÍTULO TRÊS CRISTO NA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

Leitura Bíblica At 2:33; 7:55-56; 9:10-16; Ef 1:20-22; 4:8, 11-12, 15-16 Dentre os diversos ofícios nos quais Cristo foi empossado por ocasião de Sua ascensão, os dois maiores são que Ele é o Soberano dos reis da terra (Ap 1:5) e o Cabeça sobre todas as coisas para a igreja (Ef 1:22).

CRISTO COMO SOBERANO

Como Soberano dos reis, Ele administra todos os governos terrenos. O propósito dessa administração é, sem dúvida, a divulgação do evangelho. Por esse meio, os escolhidos de Deus são reunidos. Pelo estudo da história mundial podemos perceber que o curso dos acontecimentos tem como propósito a propagação do evangelho. Nosso calendário comum, usado em todo o mundo, é baseado no nascimento de Cristo. Até mesmo países ateus, como a Rússia e a China, utilizam esse calendário, o que sugere também que estão sob o domínio soberano de Cristo. Segundo o calendário cristão, estamos no ano de 1980. Essa data não se refere aos Césares romanos ou aos czares russos, mas ao número de anos contados desde o nascimento de Cristo. Nosso Cristo é o Soberano sobre toda a terra para que o evangelho seja propagado.

O domínio soberano do Senhor sobre nossa obra Gostaria de testificar sobre isso a partir de minha experiência. Perto do fim da Segunda Guerra Mundial, eu disse aos santos que a China seria libertada do Japão, se tornaria uma república e seríamos livres. Isso de fato ocorreu. O Japão se rendeu incondicionalmente em 1945. Nós exultamos em nossa liberdade. De 1946 a 1948 a pregação do evangelho entre nós se espalhou rápida e amplamente. Em 1948 um missionário viajou por toda a China e em seguida relatou a sua missão, que a obra do evangelho estava nas mãos do "pequenino rebanho" (como costumavam chamar as igrejas) e que era tão bem sucedido que não era mais necessário enviar outros missionários estrangeiros. Esse era realmente o caso. Eu me encontrava em Shanghai naqueles dias. Como estávamos felizes! Já havia entre quatrocentas e seiscentas igrejas por toda a China. Certo dia, em Tsingtao, antiga concessão alemã e lindo e moderno porto marítimo, mais de setecentas pessoas foram batizadas. Na década de 1930, o número dos que eram batizados era muito pequeno, dificilmente mais do que dez pessoas por vez. Depois de 1945, entretanto, a quantidade de pessoas batiza das de cada vez era em geral mais do que cem. Mas nossa alegria teve curta duração. Praticamente da noite para o dia, parece-nos, a situação política mudou, e a partir de 1949 a obra passou a ser muito frustrante. Eu parti em abril de 1949 e desde aquela data não mantive mais livre correspondência com os que conhecia de lá. Em todos esses anos eu me angustiei por causa daquela grandiosa obra. Watchman Nee foi preso em 1950 e morreu na prisão em 1972. Fiquei arrasado, temendo que todo o trabalho se tivesse perdido. Meu único consolo foi que, por meio da perda da obra na China, o Senhor trouxe Sua restauração para os Estados Unidos e, em seguida, para a Europa, América do Sul, África e Australásia. No entanto, sempre que pensava a respeito da obra na China, meu coração ficava aflito. Muitos de meus cooperadores contemporâneos morreram na prisão depois de passar anos presos. A pena do irmão Nee foi a mais longa. Ele morreu no dia anterior à data em que deveria ter sido solto. Em 1979 tivemos uma nova mudança na situação. Os Estados Unidos e a China restabeleceram relações diplomáticas. A China vermelha abriu as portas para visitantes. A partir de então as notícias voltaram a circular. Meu coração não está mais angustiado mas saltando de alegria! Descobri que em algumas cidades, a partir de 1949, a mesa do Senhor nunca foi interrompida. Os santos no continente consideram os anos de 1949 a 1970 como um período em que a igreja esteve adormecida. Então, em 1970, uma nova geração emergiu, nascida e educada sob o atual governo. Alguns desses jovens foram levantados pelo Senhor e foram decisivos. Embora não tivessem Bíblias, mas somente cópias de alguns versículos, começaram a pregar o evangelho. A reação foi surpreendente! O caminho fora preparado para o evangelho. A nova geração da igreja começou a pregar ensinando um cântico evangélico para os jovens. Aqueles jovens vazios gostaram muito de entoar cânticos que falavam de Jesus. Além disso, muitos doentes foram curados de maneira miraculosa. Milhares de jovens creram. As autoridades procuraram dificultar as coisas para eles, contudo sem nenhum efeito. Prenderam alguns crentes, no entanto eles eram numerosos demais, especialmente no interior. Quando dez

eram presos, duzentos iam visitá-los. Eles diziam às autoridades que preferiam a prisão, porque então não precisavam trabalhar, podiam simplesmente ficar cantando hinos. Quando eram soltos, sua fé aumentava! Em uma só província havia trezentos mil crentes. Numa só cidade, havia mais de vinte mil. Digo-lhes isso para lhes mostrar que Jesus é o Soberano dos reis. Eu costumava pensar que a China, com seus novecentos milhões de habitantes, estava perdida no que dizia respeito ao evangelho. Ano passado, porém, a conjuntura internacional e as necessidades da China a levaram a se abrir. Será que isso não teria a ver com o governo do Senhor? Louvado seja Ele! Seu ofício como Soberano é prioritariamente para a expansão do evangelho. Pelo controle do Senhor sobre a situação mundial a restauração chegou ao ocidente. Agora, trinta anos depois, Sua mão soberana fez com que a China viesse a se abrir novamente. Centenas de milhares de jovens foram salvos. Quem pode impedir o Soberano dos reis? Esse é o ano de 1980, ano do Senhor, segundo Seu calendário! O governo vermelho chinês imprimiu no ano passado cem mil exemplares da Bíblia. Eles também abriram as portas das catedrais das principais cidades para que os cristãos pudessem reunir-se. Em Shanghai mais de mil e quinhentas pessoas se amontoaram na primeira catedral aberta. Desde então, mais duas foram abertas. Todos esses acontecimentos comprovam que Jesus é o Soberano dos reis! Ele desempenha Seu ministério celestial. Ele administra toda a terra para que o evangelho se propague.

CRISTO COMO A CABEÇA

Além da Sua soberania sobre as nações, Cristo também exerce Seu encabeçamento. Como Cabeça sobre todas as coisas para a igreja, Ele trabalha a fim de conquistar Seus eleitos.

Conquistou Saulo

Consideremos apenas um dos vasos escolhidos, Saulo de Tarso. Quando lemos Atos 9, podemos perceber quanto Cristo fez a fim de conquistá-la. Ele veio pessoalmente com o propósito de ganhá-lo. E tinha ainda mais a lhe dizer por meio de Ananias (vs. 10-17). Apesar de Sua intenção em Atos 9 já ter sido a de conquistar Saulo, Suas palavras a Ananias foram mais detalhadas. Repare em como o Senhor esteve ocupado em ganhar um único vaso escolhido. Ele apareceu a Saulo enquanto este viajava para Damasco. Em seguida deu-lhe a visão de que Ananias apareceria para lhe restaurar a vista. Depois disso apareceu a Ananias numa visão e conversou com ele sobre ir fazer uma visita a Saulo, de quem Ele disse: "Este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome" (At 9:15-16). Por que o Senhor teria tanto esforço por uma só pessoa? O propósito de ganhar Saulo era o da edificação do Corpo de Cristo. Havia a necessidade daquele instrumento. Sim, havia Pedro, Tiago e João. No entanto só eles não bastavam. O Senhor ainda necessitava de alguém como Saulo. Por essa razão, Ele próprio entrou em cena a fim de conquistar esse vaso em especial.

Conquistou-nos

Não considere sua salvação como algo insignificante. Ela se concretizou porque o Senhor Jesus exerceu Sua soberania. Ele preparou para que você nascesse no pais em que nasceu. O lugar de seu nascimento não foi acidental, porém sob Sua administração. Você nasceu no pais certo, na cidade certa, na família certa e no tempo certo. Ele o conduziu a Si mesmo. Talvez você estivesse na Suíça, na Alemanha, na França, na Espanha, na Dinamarca, na Noruega ou na Inglaterra. Certo dia, Ele preparou a situação para que você estivesse em determinado lugar, e você então se arrependeu, creu e foi salvo. Caso você estivesse em Moscou, pode ser que não tivesse a oportunidade de ser salvo e agora estar reunido neste lugar. Você só foi salvo sob a ação soberana do Rei! Você acha que o Senhor já terminou Sua obra em você? Não! Você foi salvo por Sua soberania. Agora entra em cena Seu encabeçamento. Pense em como vocês chegaram a participar destas reuniões. Vieram de todos os cantos da Europa, sendo que alguns até mesmo me acompanharam desde os Estados Unidos. Quem os conduziu até aqui? Não temos nenhum tipo de entretenimento nem urna bela música, mas tão somente reuniões de duas horas e meia com um chinês falando! Para alguém de fora, o que atrai vocês é simplesmente incompreensível. Mesmo assim, alguns de vocês teriam chorado caso não pudessem ter vindo. Como se explica isso? É que vocês se encontram sob a direção de Cristo, que não está somente sobre

vocês como Sua soberania, mas também dentro de vocês. Ele é o Cabeça sobre todas as coisas para a igreja (Ef 1:22). Quem os reuniu aqui foi o Senhor.

Edifica Seu Corpo

Nosso querido Senhor trabalha; não está meramente sentado nos céus. Quando Estevão foi apedrejado até a morte, Jesus estava em pé à direita de Deus (At 7:55-56), a zelar e cuidar de Seus membros. Perseguir um crente era o mesmo que persegui-Lo. Ele falou a Saulo: "Saulo, Saulo, por que me persegues? [...] Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (9:4-5). Estevão era parte Dele, assim como Pedro. Todo membro, todo crente Nele, é parte Dele. Ele toma conta de todos, trabalha em cada um, para que todos sejam úteis. Ele forma apóstolos, profetas, evangelistas e pastores e mestres, para que sejam equipados a fim de aperfeiçoar os santos, de modo que o Corpo seja edificado. Aqui na Europa temos um bom exemplo de como o Senhor trabalha para edificar Seu Corpo. Há menos de dez anos, um irmão chegou aqui sem o apoio de nenhuma missão. A restauração do Senhor chegou à Europa sem nenhuma organização. No entanto o Senhor se moveu e a restauração se espalhou por muitos países europeus. Até hoje não existe uma organização formal, contudo a obra continua a avançar. Um único jovem veio, sem nenhum diploma de teologia e com pouca experiência. Veio apenas com o Cristo ascendido! Esse Cristo celestial cuidava desse humilde membro de Seu Corpo desde 1960, quando participou de uma conferência para jovens nas Filipinas. Ao se mudar para a Alemanha em 1971, veio sob este ministério celestial.

Envia os já aperfeiçoados

Todos vocês estão sob este ministério celestial de nosso amado Cristo. Chegará o dia em que serão enviados não por homem algum, mas pela Cabeça ascendida. Alguns irão para a Áustria, outros para a Grécia e outros para Israel com o ministério celestial do Cristo que ascendeu. Ele não trabalha em ritmo lento. A restauração está no ocidente há apenas dezessete anos, entretanto já se propagou para a América do Norte, Central e do Sul, para a África, Europa e Australásia. No extremo oriente há igrejas no Japão, na Coréia, em Taiwan, nas Filipinas, em Singapura, na Malásia, na Tailândia e na Indonésia. Centenas de igrejas surgiram sem nenhum tipo de organização. De quem é essa obra? É a obra do Cristo ascendido! Por nós mesmos não podemos edificar a igreja. Sob Seu ministério celestial, no entanto, podemos ser equipados a fim de nos tornar membros úteis em Seu Corpo. O Corpo, por si mesmo, é edificado diretamente a partir do suprimento da Cabeça. "Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. [...] E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4:8, 11-12). Quando ascendeu aos céus, Ele concedeu dons: apóstolos, profetas, evangelistas, e pastores e mestres, que aperfeiçoam os santos, para que em cada igreja os membros sejam edificados, equipados e qualificados para funcionar. Quando todas as partes do Corpo funcionam, nós crescemos "em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxilio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (4:15-16).Todos os membros crescem na Cabeça. A seguir, a partir da Cabeça advém o suprimento a fim de que o Corpo seja edificado. É assim que as igrejas são edificadas pelo suprimento da Cabeça. A Cabeça está ocupada a ministrar. Enquanto estamos reunidos aqui, recebendo o que é ministrado de Sua parte; Ele ministra lá, tomando conta de todos os membros das igrejas. A restauração do Senhor não é apenas mais uma obra cristã. É um reflexo de Seu ministério nos céus! Corresponde ao que o Cristo ascendido faz nos céus. Nós cooperamos e operamos de forma coordenada com o ministério celestial do Cristo ascendido.

RESUMO Seu ministério, como já vimos, é duplo. Por um lado, Ele administra o mundo inteiro como Soberano dos reis da terra, para que Seu evangelho seja propagado e os eleitos de Deus sejam reunidos como um só. Por outro, como Cabeça do Corpo, Ele ministra a fim de edificar, equipar e qualificar Seus membros, para que eles, por sua vez, aperfeiçoem os demais. Então enviará alguns membros a novos lugares a fim de expandir a restauração. Aleluia por esse ministério celestial!

CAPÍTULO QUATRO CRISTO NO CRESCIMENTO E FUNCÃO DOS CRENTES PARA A

EDIFICAÇÃO DO CORPO

Leitura Bíblica: Ef 4:7-16; Cl 2:19 Já consideramos o Senhor como Soberano e Cabeça. Como Soberano, Ele tem a terra toda sob Seu controle. Ele conduz os assuntos das nações com vistas à expansão do evangelho e à reunião do povo de Deus. Essa soberania implica Seu mover na terra. Ele realiza um grande mover. Quando O consideramos como Cabeça, além de Seu mover podemos perceber que a questão da vida também entra em cena. Sob a liderança de Cristo como Cabeça, uma obra admirável é efetuada em vida. Não sabemos os detalhes do ministério celestial de Cristo, como Soberano, que é executado na terra, mas, quando chegamos a Seu ministério como Cabeça, vemos uma excelente obra em vida, pela vida e com a vida.

DOIS ASPECTOS DO ENCABEÇAMENTO DE CRISTO

Em Efésios quatro, podemos ver duas categorias dessa excelente obra de vida. A primeira é a concessão de dons por Cristo para o aperfeiçoamento dos santos (vs. 8-12). "E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos". A segunda categoria é levar todos os santos a crescer para funcionar. Por meio desse crescimento e funcionamento o Corpo é edificado de forma direta. "Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (vs. 15-16). A Cabeça trabalha para essas duas categorias. É o encabeçamento de Cristo que produz os dons, para que os membros cresçam e funcionem. Essa é uma obra admirável em vida. O modo de a cristandade operar é totalmente contrário a esse. Montam-se seminários, contratam-se professores para ensinar a Bíblia, teologia, história da igreja, hebraico e grego, e a seguir espera-se que os alunos estejam aperfeiçoados como pregadores, ministros, pastores e tudo o mais. Sua confiança está depositada num sistema educacional. A história já demonstrou que o Corpo de Cristo não pode ser edificado dessa forma. Paulo não se formou num seminário. Foi exclusivamente sob o encabeçamento de Cristo que ele foi levantado para ser o apóstolo mais produtivo de todos.

A ADMIRÁVEL OBRA PARA GANHAR PAULO Como Cristo exerceu Seu encabeçamento a fim de ganhar Paulo como dom para o Corpo? Você deve recordar que Estevão sofreu o martírio bem em frente aos olhos do jovem chamado Saulo de Tarso (At 7:58). A morte de Estevão não foi um fato isolado ou individual Naquele tempo todo o Corpo de Cristo estava sob perseguição. Saulo era um dos cabeças que "assolava a igreja" (8:13). A Cabeça do Corpo permitiu aquela perseguição a fim de mostrar a Saulo o que é o Corpo de Cristo. Saulo viu o Corpo sofrer enquanto perseguia os membros que invocavam o nome do Senhor. Depois disso, iniciou alegremente sua jornada a Damasco na intenção de prender outros membros. Esse foi o conjunto das circunstâncias que a Cabeça preparou para Seu futuro apóstolo.

De repente Jesus entra em cena, procedendo não da terra, mas dos céus. Esse Jesus era agora "o Cabeça sobre todas as coisas [...] à igreja, a qual é o seu corpo"! Saulo ficou chocado ao ouvir a voz que dizia: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (9:4). Sim, ele ficou chocado por ser confrontado por Jesus, no entanto ficou ainda mais chocado por ter ficado ciente de que os crentes a quem ele perseguia eram os membros do Corpo de Cristo. No exato momento de sua conversão, sob a liderança da Cabeça, Cristo, Saulo tomou conhecimento do Corpo.

A Cabeça é Única com o Corpo Saulo, obviamente, não discutiu. Ele não disse: "Senhor, eu não Te persegui. Não persegui ninguém nos céus. Aqueles que tentei prender estão na terra". Por que Saulo não discutiu? Creio que, enquanto o Senhor lhe dizia: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (v. 5), o Espírito do Corpo comovia Saulo.

A conversão de Pedro foi muito mais simples do que a de Paulo. Pedro se encontrava junto a seu irmão, pescando, quando o Senhor os chamou: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens" (Mt 4:18-20). O pescador galileu não hesitou em segui-Lo. Ele gostou da idéia de se tornar pescador de homens, em vez de ficar simplesmente apanhando peixes. O caso de Paulo foi muito mais profundo. O modo como o Senhor o abordou, fazendo-lhe aquela pergunta curta, com certeza o fez pensar. Apesar de poucas as palavras que o Senhor lhe dirigiu, elas devem ter ocupado os pensamentos de Saulo durante todos os dias que se seguiram ao ocorrido, quando ele não podia enxergar. Sem dúvida ele não pôde passar aqueles três dias dormindo! Deve ter ficado extremamente perturbado por aquele encontro tremendo. Deve ter-se perguntado: "Por que aquela voz disse: 'Por que Me persegues?'. Que Ele quis dizer com Me?". O Espírito do Corpo deve ter-lhe dito: "Me significa o Cristo ampliado, o Cristo aumentado, o Cristo corporativo, o Cristo que inclui Pedra, Tiago e Estevão". Quando Saulo perguntou “Quem és Tu, Senhor?, a resposta foi “Eu sou Jesus”.Mas como poderia ser Jesus? Jesus não estava morto e enterrado? Como agora poderia descer dos céus?

Revelar Sua vontade por meio do Corpo

Saulo deve ter pensado também nas palavras do Senhor:"Mas, levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer" (At 9:6). Por que o Senhor lhe deu uma resposta tão indireta à sua pergunta: "Que farei Senhor?" [22:10]. Mais uma vez, a Cabeça lhe mostrava o princípio do Corpo. Saulo não deveria tomar conhecimento da vontade do Senhor por si mesmo. Ele tomaria parte no Corpo e, portanto, precisava ser treinado a reconhecer o Corpo. Teria de aprender a confiar em seus irmãos, os outras membros. A Cabeça fora perseguida por Saulo mediante o Corpo. Agora ele aprenderia a respeitar o Corpo. Em lugar de lhe dizer o que fazer de forma direta, o Senhor lhe enviaria Ananias, um humilde discípulo, a fim de lhe restaurar a visão e tornar-lhe conhecida Sua vontade. Não seria um dos líderes, como Pedro, que iria até ele, mas um desconhecido. Desse modo o Senhor subjugaria Saulo e faria dele um apóstolo eficaz. Para demonstrar o grande contraste de seu caso com o de Pedro, repare na maneira simples com que Pedra se tornou apóstolo. Em primeiro lugar, o Senhor o viu e o chamou para ser pescador de homens. Depois, talvez um ou dois anos mais tarde, Ele simplesmente o enviou com os outros onze, que, a partir de então, se tornaram apóstolos (Mt 10:1-5). Quanta tolice da Igreja Católica ter exaltado esse simples apóstolo! Enquanto orava em Damasco, Saulo teve uma visão em que Ananias viria e o curaria da cegueira. Não sabíamos nada a respeito desse humilde discípulo antes dessa ocasião, mas a Cabeça o conhecia e avisou a Saulo que ele iria. Então a Cabeça ordenou a Ananias: "Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita, e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando e viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista" (At 9:10-12). Você percebe como Cristo estava ocupado, indo e voltando entre Ananias e Saulo? Ele desempenhava Seu ministério celestial.

Saulo foi recebido como membro do Corpo

Ananias, então, foi até a casa onde Saulo estava, impôs as mãos sobre ele e disse: "Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo" (v. 17). Saulo recuperou a vista, levantou-se e foi batizado. Ele não foi somente batizado em Cristo, mas também no Corpo. A seguir ficou alguns dias com os discípulos em Damasco. Desse modo foi recebido no Corpo como um irmão.

Protegido e cuidado pelo Corpo Saulo logo começou a pregar Cristo nas sinagogas, obtendo assim a oposição dos judeus, que acabaram por fim tramando sua morte (vs. 20-25). Como ele escapou de Damasco? Não foi vestindo um disfarce e escapulindo. Antes, os membros do Corpo o desceram pelo muro à noite num cesto. O cesto pode simbolizar a igreja. Ele foi enviado para fora no Corpo e pelo Corpo. Quando Saulo foi a Jerusalém, os apóstolos que lá estavam não o receberam. Estavam desconfiados de que ele queria enganá-los e ficaram com medo. Outro membro, Barnabé, entrou em cena, relatando

aos apóstolos como Saulo se convertera de forma genuína. Mais uma vez, foi mediante um membro do Corpo, mas não dos apóstolos, que Saulo foi acolhido. Mais tarde Saulo retornou a Tarso, sua terra natal. Foi lá que Barnabé o encontrou e o levou a Antioquia, onde ficaram por um ano, reunindo-se com a igreja e ensinando o povo (11:25-26). Por meio de todos esses passos, esse jovem opositor por fim se tornou apóstolo. Isso serve para ilustrar quanto tempo o Senhor Jesus gastou para fazer de apenas um crente um apóstolo competente. Efésios 4:8 nos diz: "Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens". Dizer que Ele concedeu dons aos homens é uma afirmação um tanto simples. Entretanto podemos perceber, pelo caso de Paulo, como foi complicado para esse membro se tornar um dom de apóstolo. Em Sua ascensão Cristo exerceu Seu encabeçamento para guiar Seu Corpo, com um membro desempenhando uma responsabilidade e outro se desincumbindo de outra. O caso de Paulo nos mostra a excelência da obra em vida que a Cabeça ascendida realiza a fim de preparar até mesmo um único apóstolo eficaz. Essa operação não é um movimento de Cristo como Soberano, mas uma obra sob Seu encabeçamento levando todo o Corpo a um funcionamento excelente. Você acha que Paulo poderia ter-se tornado apóstolo participando de um seminário por quatro anos? Foram necessários muitos membros do Corpo para que a Cabeça preparasse Paulo a fim de que se tornasse apóstolo. Mais cedo do que se espera, bem poderia acontecer de alguns de vocês serem enviados como apóstolos. É preciso estar consciente de que, para isso ocorrer, a Cabeça nos céus precisa exercer Sua liderança na vida de muitos membros de Seu Corpo.

COMO OS MEMBROS CRESCEM E FUNCIONAM

Como podem todos os membros crescer e funcionar para que o Corpo de Cristo seja edificado? Vamos supor que um pentecostalista entre em seu meio. Depois que termina de pregar alguns comoventes sermões, vocês estão todos enlevados. Começam a falar em línguas, a rolar pelo chão, a exclamar que têm poder e a pregar do alto do teto para as pessoas aqui embaixo que precisam arrepender-se e crer em Jesus, senão vão para o inferno. Vocês acreditam que um movimento desses possa fazê-los crescer? Eu já vi como as pessoas se comportam no pentecostalismo. Pelo que observei, posso afirmar que há pouco, se é que há algum, crescimento no meio deles. O pentecostalismo é um movimento, e não a excelente obra na vida que a Cabeça exerce a fim de tocar Seus membros, um a um, detalhe após detalhe. Por favor, não me compreendam mal. Não tenho a intenção de desacreditar nenhuma obra cristã, no entanto creio que o Senhor tem me mostrado que o pentecostalismo não é uma obra que pode edificar Seu Corpo com relação à vida. Ele não opera realmente a admirável obra em vida. Recebi um encargo do Senhor e sei o que Ele procura. Estou certo de que, passados alguns dias destas nossas reuniões, todos vocês já foram tocados pelo Senhor de modo admirável. Vocês foram ao Senhor e O louvaram por tirá-los das trevas, tocar seu coração e iluminá-los. Tocar o Senhor dessa forma e ser tocado por Ele é o caminho excelente na vida pelo qual vocês crescem. O resultado desse crescimento será a expressão de sua função. O funcionamento advém do crescimento, e o crescimento advém da excelente obra em vida que procede da Cabeça. Repare no que nos diz Efésios 4:15-16: "Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda a junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor". Todos precisamos crescer na Cabeça. Então, a partir da Cabeça em quem crescemos, seremos supridos. Seja que parte do Corpo formos, seremos supridos pela Cabeça para funcionar a fim de ministrar vida ao Corpo. Desse modo, o Corpo será edificado. Colossenses 2:19, assim como a passagem de Efésios, também fala de "retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus". Talvez sejamos uma junta, para suprir o Corpo, ou um ligamento, para unir os membros.

O Corpo possui apenas uma Cabeça. Pense em como Ele deve estar ocupado em cuidar de cada um de vocês. Seu ministério celestial é tomar conta de vocês nos menores detalhes. Ele exerce Seu encabeçamento encarregando-me de vir aqui para ministrá-Lo a vocês. Ele encarrega os presbíteros para que mantenham contato com vocês. Ele movimenta outros membros que estão próximos a vocês a para manter comunhão e orar com vocês. Ele os constrange a manter contato com Ele para trabalhar em vocês e supri-los das riquezas específicas de que têm necessidade. Enquanto vocês são ajudados e usufruem Dele, crescem. Então pode ser que Ele exerça Sua liderança para enviá-los a Neuchatel. Enquanto estiverem lá, talvez dêem um testemunho que acabe por ajudar os que lá se encontram. Todas essas atividades são parte do ministério celestial de Cristo, fazendo com que todos os Seus membros cresçam e funcionem a fim de que Seu Corpo seja edificado.

UMA ENTIDADE ORGÂNICA

Vocês perceberão que aquilo que estou descrevendo se trata de um relacionamento orgânico entre Cristo e Seu Corpo. Vocês são membros vivos desse organismo, e não meros membros de uma organização. Esse organismo tem Cristo como Cabeça a exercer Seu cuidado sobre cada um de vocês e sobre todos vocês mutuamente. Todos vocês são cuidados juntos sob Seu encabeçamento. Louvado seja o Senhor por ter aqui na Europa esse organismo sob encabeçamento vivo de Cristo! Creio que vocês conseguem ver como isso é diferente da obra cristã tradicional. O corpo humano não tem um sistema morto relacionado com o funcionamento das várias partes. Todos os nervos, músculos e demais membros estão sob o controle vivo da cabeça. O corpo todo se encontra sob encabeçamento orgânico. A atividade do corpo físico sob a direção da cabeça corresponde ao ministério celestial de Cristo como Cabeça. Ele não necessita que uma organização cristã seja estabelecida para que Seu Corpo seja edificado. Ele trabalha de forma orgânica, primeiramente para formar apóstolos e a seguir para fazer com que todos os membros cresçam e funcionem. Essa obra resulta no Corpo a edificar a si mesmo. Meu encargo sob o encabeçamento orgânico de Cristo é ministrar vida a vocês, não para deixá-los comovidos. Realmente creio que Cristo foi ministrado em seu interior. Se isso ocorreu, vocês se sentem continuamente constrangidos a manter contato com Ele: "Senhor Jesus, eu Te amo. Tu és a minha vida. És tudo o que necessito. Estou aberto para Ti. Quero ser conquistado e ocupado por Ti. Gostaria que todo o meu ser fosse saturado de Tua Pessoa". É provável que você já tenha orado assim. Se já, você está sob o encabeçamento de Cristo, de Seu ministério celestial, recebendo a vida que Ele ministra a seu interior para o crescimento e o funcionamento de Seu Corpo.

CAPÍTULO CINCO NOSSA RECIPROCIDADE AO MINISTÉRIO CELESTIAL DE CRISTO

SOB SEU ENCABEÇAR

Leitura Bíblica: At 8:26-39; 9:10-11; 10:1·3,9-22; Cl 2:18-19; Ef 4:14-16

Desde Sua ascensão, o Senhor ministra nos céus. Para esse ministério se concretizar na terra, porém, requer-se uma reciprocidade de nossa parte. Quase vinte séculos se passaram, mas muito pouco foi realizado na terra. Portanto, como nossa era caminha para um fim, há a necessidade urgente de nossa reciprocidade para com o ministério do Senhor.

RECIPROCIDADE DUPLA

Os versículos supracitados ilustram essa reciprocidade de nossa parte. As referências de Atos relacionam-se com um mover em vida para a expansão do evangelho. Na época de Atos, os discípulos avançavam juntamente com o Senhor em vida. Esse foi o caso de Filipe e o eunuco etíope, de Ananias e Saulo, e de Pedro e Cornélio. Todos os três se referem a avanços em vida que correspondem ao ministério do Senhor nos céus. As referências das Epístolas, ao contrário, ilustram o crescimento e a função em vida, em vez de um mover em vida. O que se revela em Efésios e Colossenses não é um mover pela causa do evangelho, mas o crescimento e o funcionamento do Corpo. Um é para trazer as pessoas ao Senhor, a outra para edificar o Corpo. Para que as pessoas sejam trazidas ao Senhor, faz-se necessário um mover em vida; para que o Corpo seja edificado, a necessidade é de crescimento e função em vida. O mover em vida para atrair pessoas ao Senhor é algo exterior, porém o crescimento em vida para a edificação do Corpo é interior. Tanto para o aspecto exterior como para o interior, precisa haver reciprocidade da nossa parte ao ministério do Senhor nos céus.

RECIPROCIDADE AO MOVER EM VIDA

Em Atos 8 a 10 o Senhor moveu os discípulos exteriormente para a pregação do evangelho. Ele ministrava nos céus para mover alguns discípulos. Vamos supor que Filipe, àquele tempo, estivesse fora amando o mundo, Ananias tivesse caído em pecado e Pedro tivesse retomado à Galiléia a fim de pescar. Cristo estaria, então, ministrando nos céus, entretanto sem qualquer reação na terra. Louvado seja o Senhor, pois aqueles três já estavam prontos a reagir!

Filipe

Em resposta ao ministério celestial do Senhor, Filipe partiu de Jerusalém para Gaza (At 8:26). Sua caminhada a sós no deserto foi uma reação ao Cristo celestial. O Senhor tinha um discípulo lá no deserto a quem poderia mover. Quando disse a Filipe: "Aproxima-te desse carro e acompanha-o" (v. 29), Filipe correu para lá e ouviu o eunuco lendo lsaias. Você percebe a reciprocidade de Filipe para com o ministério celestial? Foi assim que o eunuco etíope foi levado ao Senhor. Essa foi a reciprocidade de Filipe ao mover em vida para a pregação do evangelho.

Ananias A situação em Atos 9 foi similar. Ananias devia estar orando quando recebeu uma visão dos céus. O Senhor falou com ele via televisão celestial e o guiou até Saulo! Saulo também estava orando quando a transmissão celestial o alcançou e, então, ele viu Ananias chegando! Houve uma triangulação maravilhosa de Cristo ministrando nos céus, juntamente com Ananias e Saulo correspondendo na terra, tudo visando atrair Saulo ao Senhor.

Pedro Em Atos 10, um centurião romano de nome Cornélio encontrava-se orando quando um anjo foi até ele e lhe disse que mandasse buscar Pedro. Vamos supor que Pedro estivesse indisponível quando os mensageiros chegaram a ele da parte de Cornélio. Caso Pedro tivesse ido pescar, os mensageiros retomariam de mãos abanando e decepcionados. De qualquer forma, Pedro, logo antes da chegada desses homens, também orava quando então a televisão celestial chegou até ele. Um objeto parecido com um lençol descia do céu,

repleto de animais impuros. Pedro ouviu uma voz: "Levanta-te, Pedro! Mata e come". Sua resposta foi: "De modo nenhum, Senhor!". Aquele programa maravilhoso de televisão se repetiu três vezes! Enquanto Pedro estava confuso a respeito do que poderia significar, os mensageiros apareceram junto ao portão perguntando por ele. Ele os seguiu, e Cornélio, sua família e provavelmente os soldados também foram todos conduzidos ao Senhor. Essa é a forma apropriada de se pregar o evangelho. É um mover em vida sob o ministério celestial de Cristo. Não é um movimento organizado por uma missão. Cristo como Cabeça exercia Seu encabeçamento a fim de mover os discípulos para aqui e ali. Eles estavam alerta, respondendo a Seu ministério nos céus. Minha esperança é que a pregação do evangelho na restauração seja assim: um eficiente mover em vida que corresponda ao ministério celestial de Cristo e esteja sob Seu encabeçamento.

Um testemunho

Permita-me lhes apresentar uma ilustração de minha experiência com relação a esse assunto. Em julho de 1932, eu acabara de voltar para casa do trabalho no escritório quando um irmão chegou. Na verdade, ele procurava outro irmão, que, no entanto, estava fora. Como ainda ia anoitecer, sugeri que fôssemos até a praia. Enquanto estávamos a caminho, ele fez algumas perguntas sobre questões espirituais. Eu lhe disse que seria bom sentar na praia e conversar sobre aqueles assuntos. Assim fizemos, conversando das sete até às onze horas. Falamos sobre batismo por imersão (nossa denominação praticava por aspersão). Assim que encerramos a conversa, ele me disse: "Você é a pessoa certa para me batizar, e eu sou a pessoa certa para ser batizada. Você precisa batizar-me esta noite!". Eu era apenas um jovem perto dos vinte e sete anos. Não era pastor, ancião ou mesmo diácono. Recuei assustado: "Não, não, não!", eu lhe disse, "não posso. Sou novo demais. Não sou pastor nem ancião nem diácono. Não!". Ele me repreendeu: "Você só prega, mas não pratica. Você acaba de me dizer quem é a pessoa certa para ser batizada, qual é o lugar certo e quando é a hora certa. Eu entendo que aqui é o lugar certo (o mar à nossa frente, cheio de água), esta é a hora certa (uma noite deverão), eu sou a pessoa certa para ser batizada, e você é a pessoa certa para me batizar. Como pode recusar-se?" Eu fui persuadido. Mesmo não tendo levado nenhuma muda de roupa, entramos na água, e eu o batizei. Depois disso, estávamos ambos no terceiro céu! Dois dias depois, numa quinta-feira, eu me encontrava no escritório e precisava lembrar seu nome. Não conseguia me lembrar como se soletrava. Como um de meus colegas o conhecia muito bem, perguntei-lhe como se soletrava seu nome. Ele ficou curioso sobre porque eu queria saber como se soletrava e me perguntou a respeito do que ocorrera. "Você quer saber o que aconteceu?", respondi, "Anteontem à noite eu o batizei no mar". Ele ficou espantado, no entanto eu também fiquei quando ele me disse: "Você o batizou! Bem, eu gostaria que você me batizasse esta noite!". Visto que tínhamos outro colega que também fora levado ao Senhor, eu lhe disse: "Deixe-me falar com o Fulano de Tal primeiro". Quando falei com ele, ficou feliz em se juntar a nós. Depois do expediente no escritório, fomos os três até a praia, juntamente com o irmão que eu batizara antes. Pedi a ele que fizesse os batismos, mas ele se recusou. Aquilo me incomodou. Por que eu estava batizando as pessoas como se fosse pastor? Não obstante, batizei os outros dois. Depois de terminado, sentimos intensa alegria! Andávamos sem rumo pelas ruas, falando da graça do Senhor. Fizemos tanto barulho que um homem atrás de nós nos seguiu e depois perguntou: "Você é o Witness Lee?".

"Sou eu", respondi, "Por quê?".

Ele então contou que acabara de sair de uma reunião de oração numa igreja missionária, onde reclamavam que eu batizara um de seus candidatos. Disseram que eu não era ancião nem diácono, como podia batizar

as pessoas? Em seguida acrescentou: "Quando os ouvi falando, decide que gostaria de entrar em contato com você. Nunca imaginei que o encontraria desse modo. Quando vocês farão a próxima reunião?". Quando chegou o domingo, havia onze em nosso grupo. Uma semana depois, começamos a ter a mesa do Senhor. O Senhor estava exercendo Seu encabeçamento para atrair as pessoas. Embora fôssemos poucos, tínhamos reciprocidade para com o Cristo celestial. Desde aqueles dias, muito já foi realizado não por uma organização, mas por Seu ministério nos céus e alguns de Seus discípulos correspondendo na terra.

RECIPROCIDADE PARA A EDIFICAÇÃO DO CORPO

Agora que já cobrimos algumas das coisas maravilhosas ocorridas no livro de Atos, ilustrando o mover do Senhor em vida com a finalidade de ganhar as pessoas pela pregação do evangelho, vamos avançar e ver como se dá a edificação do Corpo. São as Epístolas que tratam desse assunto. Em vez de ser realizada por um mover, a edificação do Corpo surge por meio do crescimento em vida. Para essa obra mais excelente e profunda, existe a necessidade de uma reciprocidade mais excelente.

Reter a Cabeça

Cristo é a Cabeça e nós, os membros. Colossenses 2:19 nos faz lembrar que precisamos reter a Cabeça, "da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus". Reter a Cabeça significa que existe comunicação direta entre nós e Ele. Não existe separação entre Ele e todos os Seus membros. Os membros reagem a tudo que a Cabeça ministra. O resultado dessa reação é o crescimento em vida. Quando retemos a Cabeça, há um crescimento interno, e não um mover externo. Nessa comunicação íntima entre a Cabeça e os membros, todas as Suas riquezas são ministradas ao interior dos membros, e todas as coisas negativas são consumidas pelo suprimento de vida que procede da Cabeça. A forma como crescemos é reter a Cabeça. O crescimento não vem do estudo da Bíblia ou pela compreensão da doutrina. Esse conhecimento não ajuda muito em nosso crescimento. A Cabeça é a fonte de vida. Quando a retemos, isto é, mantemo-nos intimamente conectados a Ele, Suas riquezas e suprimento de vida penetram em nosso ser e se tornam nosso crescimento em vida.

Crescer Naquele que é a Cabeça

"Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (Ef 4:15-16). Esses versículos dão um passo adiante de Colossenses 2:19. Não devemos apenas reter a Cabeça, como também crescer Nele em tudo. Reter a Cabeça é algo próximo e íntimo, no entanto crescer Nele é uma reciprocidade mais profunda e excelente. Palavras são inadequadas para transmitir o significado desse crescer Nele, mas talvez alguns exemplos possam ajudar-nos a captar a idéia.

No casamento

A vida de casado foi ordenada por Deus e deve ser "digna de honra entre todos" (Hb 13:4). Com certeza as irmãs se agradam de ter um marido, e os irmãos, uma esposa. Se você ainda não é casado, sem dúvida pensa no quanto isso deve ser maravilhoso. O casamento certamente é algo maravilhoso! Não obstante, como alguém casado há mais de cinqüenta anos, devo dizer que a vida de casado não é assim tão fácil. Se você ainda não se casou, não está a par de todos os problemas que podem surgir. Qual é a causa dos problemas? Na maior parte das vezes é porque seu casamento ainda não está na Cabeça. Pode ser que você deseje crescer no Senhor em tudo o mais, no entanto na questão do casamento você se preserva. Lá no fundo, talvez você alimente a intenção de manter seu casamento fora do Senhor. Algumas irmãs sofrem muito na vida matrimonial devido a isso. Você tem reservas que talvez nunca tenham sido colocadas em palavras sobre crescer no Senhor no casamento. Assim, nesse aspecto, não há reciprocidade em você para com Ele enquanto ministra nos céus.

Nas compras e em outras fraquezas

As irmãs em particular parecem gostar de ir às compras. Por isso quase sempre têm um problema na reciprocidade para com o Senhor nesse assunto. Logo cedo podem ter um maravilhoso tempo de oração e de se deleitar no Senhor. Mas logo após o café talvez apanhem o jornal e descubram algumas ofertas especiais. Esquecem-se do Senhor! Precisam ir às lojas rapidamente ou, caso contrário, as coisas que desejam serão todas vendidas. No entanto Aquele que está nos céus também está em seu interior. Suas palavras para elas são: "Não vá!". Então, respondem: "Senhor, somente dessa vez me dê um pouco de liberdade!" Isso não acontece com você? Em suas orações mais cedo havia reciprocidade para com Ele, mas agora seu desejo de ir às compras anulou essa reciprocidade. Agora o Senhor ficou sem saída. Ele sofrerá, e você também irá sofrer. Caso vá às compras desse modo, achará difícil conseguir orar mais tarde. Talvez se passem dois ou três dias sem que consiga orar. Nesse período não haverá reciprocidade de sua parte para com o ministério celestial de Cristo. Ele se foi, e não existe comunicação entre você e Ele nesses dias. Não só as irmãs têm essa fraqueza; eu também tenho as minhas. Em muitas coisas já cresci no Senhor, porém em certas outras coisas eu diria: "Senhor, em todo esse tempo tenho Te amado. Será que não posso ter um pequeno descanso desse meu amor? Que tal me conceder algumas horas de folga?". Por experiência própria sei que isso também ocorre com você. Você não precisa vir até mim para falar sobre suas fraquezas. Já fui jovem e tive os mesmos tipos de fraquezas. Enquanto eu tolerava essas fraquezas, permanecia longe do Senhor, e não havia crescimento em vida.

Nas coisas grandes e também nas pequenas

Algumas vezes temos dificuldades em crescer no Senhor nos grandes aspectos de nossa vida, entretanto, muitas outras vezes, a dificuldade está nas pequenas coisas. Talvez pensemos que o Senhor não tenha interesse nas pequenas coisas, como, por exemplo, o estilo de cabelo. Quer sejam questões grandes ou pequenas, se não crescermos Nele em cada uma delas, nossa reciprocidade para com Ele ficará prejudicada. Eu diria que é nas pequenas coisas de modo especial que precisamos crescer Nele. Esse crescimento Nele nos mantém em correspondência direta para com Seu ministério celestial, sob Seu encabeçamento. Tal ministério requer reciprocidade refinada de nossa parte. Só então cresceremos.

O suprimento que procede da Cabeça

Quando retemos a cabeça e crescemos em tudo Nele, Dele também vem o suprimento de vida para o Corpo. À medida que O retemos e Nele crescemos, as riquezas provenientes da Cabeça fluirão por nosso intermédio. Gosto dessas duas expressões: "Nele" e "Dele" (subtendidos em Ef 4: 15-16). Nelas está, em primeiro lugar, o crescimento Nele e depois o suprimento de vida que provêm Dele. Quando isso é realidade em nossa vida, então estamos em reciprocidade para com o ministério do Senhor nos céus. Desse modo as funções se manifestarão para a edificação do Corpo.

ABRIR CAMINHO PARA O SENHOR

Existe a necessidade de nossa dupla reciprocidade para com o ministério celestial do Senhor. Entre os cristãos em nossos dias, parece haver no máximo o mover em vida para a pregação do evangelho. Há pouco crescimento em vida para a edificação do Corpo. Não podemos negligenciar nenhum dos dois aspectos. O Senhor necessita de nossa reciprocidade para com Ele a fim que possa mover-se em nós e assim conduzir as pessoas a Ele. Além disso, espera nossa reação de modo a crescermos Nele, para que algo Dele se manifeste com o propósito de nos suprir e edificar o Corpo. À medida que há reciprocidade para com o ministério do Senhor nesses dois aspectos, Sua vontade será realizada. Se falhamos nessa reciprocidade, o Senhor não tem meios de levar adiante Seu ministério celestial. É crucial para nós da restauração enxergar isso. Para a expansão do evangelho e para a edificação do Seu Corpo por meio do crescimento em vida, o Senhor precisa ter nossa reciprocidade na terra com relação ao que ministra nos céus. Precisamos orar muito por essa reciprocidade.

CAPÍTULO SEIS COMO RETER A CABEÇA

E CRESCER NELE EM TODAS AS COISAS

Leitura Bíblica: Ct 2:18-19; Ef 4:14-16; Rm 6:3; 1 Co 1:9,24,30; 2:2; 15:22,45; 2 Co 3:17-18; Gl 5:4; Ef 3:16-17; Fl 1:21a; 3:8; Ct 1:18; 3:4, 11

O alvo do ministério celestial de Cristo é cumprir o propósito eterno de Deus. O que Deus quer é a igreja. Para que a igreja se concretize, são necessários dois tipos de obra. A primeira é o mover em vida de modo exterior a fim de pregar o evangelho e conduzir as pessoas a Deus. O segundo é o crescimento interior em vida para a edificação do Corpo. Nos séculos passados, o primeiro aspecto da obra foi realizado de forma ampla. Muitos cristãos zelosos foram avante como missionários a fim de propagar o evangelho. Até mesmo no presente, muitos cristãos sinceros ainda seguem por esse caminho. Quando se trata da edificação do Corpo, no entanto, descobrimos que esse aspecto foi negligenciado. Muitos cristãos nem mesmo sabem o que significa crescer em vida. Muito poucos sabem da necessidade de edificação do Corpo. Milhões foram conduzidos ao Senhor, mas, devido ao pouco crescimento em vida, há pouca edificação. Poucos cristãos se preocupam com esse aspecto excelente e interior da obra. Meu encargo no que concerne a esse aspecto do mover do Senhor nos céus é que haja uma reciprocidade mais excelente e profunda para com Ele de nossa parte. Tal reciprocidade depende de reter a Cabeça e crescer Nele (Cl 2:19; Ef 4:15). Quanto retemos a Cabeça e crescemos Nele determina quanta reciprocidade temos com Ele na vida interior para a edificação do Corpo. Contudo é provável que esses dois termos cruciais sejam novos para vocês. Alguém já chamou a atenção de vocês para eles? Vocês já ouviram algum sermão sobre como reter a Cabeça ou como crescer na Cabeça? Cristo é nossa Cabeça. Ele é a Cabeça do Corpo. Todos os membros do Corpo precisam reter a Cabeça e crescer em tudo Nele.

OS ESCRITOS DE PAULO As Epístolas de Paulo constituem dois grupos. A seqüência em que aparecem na Bíblia é muito significativa. As primeiras sete, de Romanos a Colossenses, formam um grupo. Suas primeiras Epístolas são Romanos e 1 e 2 Coríntios. Essas três são seguidas pelas quatro a que chamei de o coração da revelação divina: Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses. O primeiro grupo, portanto, consiste de três mais quatro. O segundo grupo consiste de 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon; um total de seis. É claro que há também Hebreus, cuja autoria já causou tanta discussão. Creio que há ampla evidência para se afirmar que Paulo foi o autor. Essas sete Epístolas constituem-se de quatro mais três. As duas aos Tessalonicenses e as duas a Timóteo somam quatro, enquanto Tito, Filemon e Hebreus são as outras três. Não falaremos desse segundo grupo de sete Epístolas nesta mensagem. O primeiro grupo de sete Epístolas trata de três pontos importantes: Cristo vive em nós, o Cristo todo-inclusivo e a igreja. Esses são os pontos cruciais no ministério de Paulo para completar a Palavra de Deus (Cl 1:25). Para que essa obra de completação seja concluída, precisamos experimentar Cristo a viver em nós, compreender como Ele é todo-inclusivo e ter a visão da igreja gloriosa. Essas são as ênfases das primeiras sete Epístolas paulinas. Vejamos como os escritos de Paulo enfatizam esses três pontos.

UM RÁPIDO EXAME DAS PRIMEIRAS SETE EPÍSTOLAS Romanos menciona vários assuntos em seus dezesseis capítulos. De acordo com Martinho Lutero, entretanto, seu principal tema é a justificação pela fé. Na realidade, seria mais acurado dizer que sua mensagem é que Deus nos transferiu de Adão para Cristo. Isso inclui a justificação pela fé. Mediante

nossos pais nascemos em Adão, mas, quando cremos no Senhor Jesus, fomos transferidos do primeiro homem para Cristo. Romanos 6:3 nos diz que fomos batizados em Cristo Jesus. Agora estamos Nele. Não estamos mais em Adão, porém em Cristo. Primeira Coríntios diz-nos que fomos "chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor" (1:9). Muitos cristãos nutrem o pobre conceito de que Deus os chamou para que um dia possam ir para o céu. Esse versículo, no entanto, afirma que fomos chamados à comunhão, ou participação, desfrute, de Cristo. Ele deve ser nosso prazer. Ele é o poder e a sabedoria de Deus (1:24). Porque estamos Nele, Ele é para nós "sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (v. 30). Com um Cristo tão vasto para nosso desfrute, Paulo determinou "nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (2:2). Em 15:22 Paulo nos diz ainda que "todos serão vivificados em Cristo". Cristo nos vivifica porque, como último Adão, Ele se tornou Espírito vivificante (15:45). Todos esses Seus aspectos apresentados nessa Epístola são para nosso desfrute e estão acessíveis a nós porque Ele se tornou o Espírito vivificante. Segunda Coríntios prossegue essa linha de que o Senhor agora é o Espírito (3:17). Nossa parte é retirar os véus para contempla-Lo e refleti-Lo. "E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando e refletindo, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor Espírito" (3:18 - lit.). À medida que olhamos para Ele e O refletimos, somos transformados à Sua imagem de glória em glória, como pelo Senhor Espírito. Essa expressão Senhor Espírito é um título composto que se refere a Cristo. Paulo alertou os crentes da Galácia que, se tentassem cumprir a lei, seriam levados a se desligar de Cristo (Gl 5:4). Ele se preocupava em que permanecessem em Cristo e não se deixassem distrair pela lei ou religião. Caso retornassem a elas, perderiam tudo o que ganharam de Cristo e assim seriam separados e cortados Dele, fazendo com que Ele fosse nulo em Seus efeitos. Fazer da circuncisão uma condição para a salvação seria desistir de Cristo, o que não lhes seria de nenhum proveito. Em Efésios Paulo orou para que o Pai fortalecesse os crentes "com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé" (3:16-17). Nosso homem interior precisa ser fortalecido para que Cristo habite em nosso coração. Ele tem de nos ocupar até a extensão de que todo o nosso ser se torne Sua habitação. "Para mim o viver é Cristo" nos diz Paulo em Filipenses 1:21. Cristo era tudo para ele. Em 3:8 ele declara quanto Cristo lhe era precioso: "Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo". Devido ao valor insuperável de Cristo, Paulo considerava tudo como perda com a finalidade de ganhá-lo. Colossenses nos diz ainda quanto Cristo é grandioso. "Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia" (1:18). Ele é todo-inclusivo, é a realidade de tudo que é positivo (2:17), é nossa vida (3:4) e é tudo em todos no novo homem (3:10-11). Como o Cristo que Paulo viu era grandioso! Todos precisamos de uma visão como essa para reter a Cabeça.

DISTRAÍDOS PELAS PROFECIAS

Logo que fui salvo, eu amava o Senhor e Sua Palavra. Quando jovem, amava a Bíblia e tomei a firme decisão de que compreenderia todos os seus versículos. Além disso, dedicaria a vida inteira a isso. Hoje já sei que a Bíblia é profunda demais para eu compreendê-la por completo. De início achava que estava progredindo muito bem em meus esforços. Eu saia à procura de livros sobre a Bíblia e ia onde quer que ela fosse ensinada. No fim acabei sendo cativado pelos Irmãos Unidos. Quando comecei a freqüentar suas reuniões, eles pregavam sobre as setenta semanas de Daniel (9:24-27). Em todos os anos no cristianismo desde que nascera, jamais ouvira a respeito das setenta semanas. Fiquei fascinado. Mais tarde, ouvi a respeito dos dez dedos, dos quatro animais e dos dez chifres. Então comecei a estudar esses assuntos estranhos, apesar de muito bíblicos. Nos anos em que passei entre os Irmãos Unidos, não me recordo de ter ouvido alguma vez uma única mensagem sobre Cristo. Certo dia, dei-me conta de quanto era triste minha situação. Aprendera tudo a respeito das profecias, no entanto estava morto, impotente. Decepcionado, mudei. O Senhor me afastou dos dez dedos, dos dez chifres, dos quatro animais e das setenta semanas!

Voltei-me para Cristo, para o Espírito, para a vida e para a igreja! Desde 1932, minha atenção se concentrou nesses assuntos. Mensagem após mensagem, são esses temas que vocês ouvem na restauração do Senhor. Preciso alertá-los, caros jovens, que não se deixem distrair desses assuntos para quaisquer outros. Talvez vocês sejam abordados por alguém que lhes perguntará qual é o significado dos sete selos, das sete trombetas e dos sete cálices. Caso vocês não saibam, eles farão com que sintam que seu conhecimento da Bíblia é pequeno demais, que vocês só sabem a respeito de Cristo, do Espírito, da vida e da igreja. Jovens anseiam por conhecimento. Se vocês se deixarem distrair pelas profecias, não conseguirão reter a Cabeça. Não quero dizer que vocês não devam estudar outros temas da Bíblia. Devem estudá-los, mas também devem perceber que todas essas coisas são questões menores. Os grandes temas da Bíblia são Cristo, o Espírito, a vida e a igreja.

DISTRAÍDOS PELAS DOUTRINAS É fácil distrair-se. Conheço pessoas que se deixaram distrair pelo guardar do sábado. Em vez de se importar com Cristo, com o Espírito todo-inclusivo, com a vida divina e com a igreja, falam sobre o sétimo dia. Outros se deixaram distrair pela forma do batismo. Pode ser que algum pregador lhes pergunte que tipo de batismo a igreja pratica: aspersão ou imersão, em nome de quem, para frente ou para trás, quantas vezes. Como vocês responderiam? Vocês se deixariam distrair? Uma irmã que participou de uma reunião da mesa do Senhor em Los Angeles, escreveu-me fazendo objeção quanto ao uso de vinho. Como vocês responderiam? Eu já gastei um bom tempo a estudar se deveríamos usar vinho ou suco de uva na mesa do Senhor. Os dois lados têm argumentos a seu favor. Não se pode chegar a uma decisão absoluta. De que adianta, então, discutir esses assuntos? O uso de véu pelas irmãs é outro tipo de pergunta que podem fazer a vocês. Caso vocês digam que são favoráveis a seu uso, eles poderão questionar de que cor, formato ou tamanho. Dê as costas a todas essas questões que só causam distração! Meu conselho é: retenham a Cabeça! A cristandade tem milhares de divisões devido a essas distrações. Quando lhes fizerem qualquer uma dessas perguntas, vocês poderão orar interiormente: "Senhor, tem misericórdia de mim. Ajuda-me a reter-Te como Cabeça. Eu não quero ser seduzido por nenhuma dessas perguntas que só servem para nos distrair. Prefiro reter a Cabeça". Quando Paulo escreveu sobre não reter a Cabeça em Colossenses 2:19, referia-se aos que distraíam a igreja em Colossos com o judaísmo, a filosofia grega e o gnosticismo. Somente quando você retém a Cabeça, consegue manter-se longe de tais distrações e pode, então, ter reciprocidade para com o ministério de Cristo nos céus. Somente se retiver a Cabeça, você crescerá. A razão por que tão poucos cristãos têm reciprocidade para com o ministério celestial de Cristo é que pararam de reter a Cabeça. Efésios 4:14 diz: "Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro". Os ventos que levam de um lado para outro é o ensino. Não são os ventos das heresias, mas até mesmo da doutrina correta, bíblica, que podem afastar-nos para longe: longe de Cristo (a Cabeça) e da igreja (o Corpo). Esses ventos são parte do sistema satânico para enganar os crentes e atraí-los para longe de Cristo. Como é importante reter a Cabeça e não permitir que qualquer doutrina, por mais bíblica que seja, nos distraia Dele!

CEDER ESPAÇO AO SENHOR À medida que retemos a Cabeça, crescemos Nele (Ef 4:15). Gradualmente perceberemos que, numa coisa após a outra, não estamos em Cristo. À medida que percebemos isso, podemos orar: "Senhor, assume o controle. Cedo-Te espaço nesse aspecto de minha vida". Esse é o crescimento prático em vida. Pertencemos a Cristo, no entanto em muitas coisas não estamos Nele. Nessas coisas Ele não encontra espaço em nós. Em nosso modo de falar, talvez Ele não encontre espaço. À medida que retemos a Cabeça, talvez percebamos que nossa fala não está em Cristo. Se pedirmos ao Senhor que assuma o controle nessa área, cresceremos em vida no que diz respeito ao modo de falar. Muitos cristãos amam o Senhor, entretanto Ele não tem espaço neles, porque não retêm Cristo. Quando O retiverem, o Espírito em seu interior poderá, por exemplo, perguntar a respeito da forma como se vestem. Caso digam: "Senhor, eu Te cedo espaço para tratar da maneira com que me visto", então Ele virá e assumirá o controle. O mesmo pode ocorrer na forma como um irmão trata a mulher ou de como uma irmã

age com o marido. Pode ser que amem o Senhor, no entanto em seu relacionamento conjugal não Lhe dão o menor espaço para agir. Se retiverem a Cabeça, o Espírito dentro deles lhes dirá que Cristo não encontra espaço na atitude deles. À medida que se abrirem e cederem espaço ao Senhor, Ele os ocupará cada vez mais. Ceder, portanto, espaço ao Senhor na vida diária é a forma adequada de crescer em vida. Você não crescerá acumulando conhecimento bíblico. Crescer em vida é deixar o Senhor assumir o controle em todas as questões práticas. À medida que fizer isso em cada assunto, atitude sobre atitude, você crescerá nessas áreas específicas. O Senhor o preencherá gradualmente, e você passará a pertencer a Ele em todo o seu ser. Assim você amadurecerá. Por meio desse crescimento em vida sua função irá emergir, e o Corpo será edificado. Essa é uma reciprocidade mais excelente e profunda para com o ministério celestial do Senhor. É desse modo que as igrejas são edificadas.

A EDIFICAÇÃO DO CORPO

Que todos percebamos que na economia divina nada importa além de Cristo. Fomos transferidos para Ele. Ele é a nossa porção, desfrute e vida. Ele é o Espírito vivificante. Ele deve ser tudo para nós. Essa visão nos preservará. Não deixaremos nenhuma doutrina distrair-nos; doutrinas são como feras selvagens à espera para nos devorar! Precisamos reter a Cabeça com temor e tremor. Então o Espírito, dia a dia, continuará a falar conosco: "Nessa questão, você ainda mantém espaço só para si mesmo. Naquela outra você nunca se rendeu ao Senhor. Nessa área você ainda não cedeu nem um centímetro de espaço a Ele. Naquela área você ainda se fecha para o Senhor". Se retivermos a Cabeça, nossa resposta será: "Senhor, nesse caso eu Te cedo espaço. Naquele outro rendo-me para que assumas o controle". Uma resposta como essa resulta em crescimento em vida. Cristo cresce em nós ao ser capaz de assumir mais espaço. Desse modo nossa função virá à tona, e o Corpo será edificado. Essa reciprocidade vital para com o ministério celestial do Senhor é mais excelente do que o mover externo em vida a fim de atrair pessoas para o mover de Deus. Ter reciprocidade para com Ele dessa forma mais profunda possibilita a edificação de Seu Corpo.

CAPÍTULO SETE O SACERDÓCIO CELESTIAL DE CRISTO

Leitura Bíblica: Hb 2:17; 3:1; 4:14-16; 556, 10; 6:20; 7:27-28; 8:1; 10:21; Rm 8:34

Como vocês provavelmente já sabem, a Bíblia nos ensina que Cristo possui três ofícios: profeta, sacerdote e rei. Cristo veio da primeira vez principalmente como o Profeta previsto em Deuteronômio 18: 15, 18. Em Seu ministério terreno, Ele falou por Deus, transmitiu Deus ao falar, ensinou Seus discípulos e profetizou. Esse foi o Seu papel de profeta. A seguir, na última parte de Seu ministério terreno, Ele passou a Se oferecer a Deus, até o momento em que Se ofereceu finalmente na cruz como sacrifício a Deus por nós. Nisto Ele cumpriu Seu papel de sacerdote. A partir de então, essa tem sido Sua função.

O CUMPRIMENTO DO SACERDÓCIO TERRENO

Nos tempos de Levítico, os sacerdotes realizavam dois tipos de atividades. A primeira era o oferecimento de sacrifícios a Deus, no átrio do tabernáculo, à volta do altar. Uma vez apresentadas as ofertas, os sacerdotes entravam no Lugar Santo. O sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos. Ali ministravam a Deus em favor de Seu povo. A primeira atividade sacerdotal tipifica o sacerdócio terreno de Cristo; a segunda tipifica Seu sacerdócio celestial. Quando Cristo Se ofereceu na cruz a Deus em nosso favor, Ele foi um sacerdote, apresentando a oferta na terra no átrio. A seguir, depois de Sua ressurreição, Ele entrou no terceiro céu, o qual é o Santo dos Santos. Ali Ele continua a servir como sacerdote celestial. É esse segundo aspecto de Seu sacerdócio que iremos considerar agora. Esse sacerdócio nos céus é com o que Cristo mais se ocupa atualmente. É um tema muito amplo a ser abordado. O livro de Hebreus trata desse assunto de modo bem abrangente. Uma vez que nosso tempo aqui é limitado para analisar o assunto por completo, recomendo que vocês leiam as mensagens do Estudo-Vida de Hebreus que abordam esse tema (em especial as mensagens 13,27,28,31,32,33 e 35).

NOSSO SACERDOTE TANTO DIVINO COMO HUMANO Para que Cristo seja um sacerdote, precisa antes ser um homem (Hb 2:16-17). O sumo sacerdote foi "tomado dentre os homens" (5:1). Caso Ele tivesse sido um anjo, não teria tido a menor compreensão quanto aos problemas humanos. Por ter sido escolhido dentre os homens, o sacerdote pôde compadecer-se das fraquezas dos homens. Nosso Sumo Sacerdote atual, Jesus Cristo, é um homem! Ele participou de nossa natureza. Ele participou de carne e sangue. Ele foi feito semelhante a nós em tudo. Ele teve de comer e beber. Algumas vezes até chorou. Ele derramou lágrimas diante do túmulo de Lázaro ao 11:35); Ele chorou por Jerusalém ao fim de Seu ministério terreno (Lc 19:41) e orou "com forte clamor e lágrimas" (Hb 5:7) no jardim do Getsêmani. Até mesmo hoje em dia Ele continua sendo um homem, um homem na glória. "Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (4:15). Por conhecer por completo todos os nossos pontos fracos e problemas, Ele tem compaixão de nós. Assim é nosso Sumo Sacerdote enquanto homem. Nosso Sumo Sacerdote também é Deus! Por ser homem, Ele pode compadecer-se de nós. Mas por ser também divino pode cuidar de nós. No Antigo Testamento, o sumo sacerdote Arão podia compadecer-se do povo, no entanto, muitas vezes, não podia ajudá-lo por não ser divino. Nosso Sumo Sacerdote, entretanto, não é segundo a ordem de Arão, mas de Melquisedeque (5:6,10; 6:20). Não há registro genealógico de Melquisedeque em Gênesis (Gn 14:18-20) para que ele seja um tipo adequado de Cristo enquanto Aquele que é eterno, a fim de ser nosso Sumo Sacerdote para todo o sempre. Enquanto homem, Cristo conhece nossa situação e se compadece de nós; e, como Deus, Ele é capaz de cuidar de todas as nossas necessidades. Aleluia por esse homem-Deus que é nosso Sumo Sacerdote!

O sacerdócio de Cristo é "constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de vida indissolúvel" (Hb 7:16). Arão foi constituído sumo sacerdote segundo a letra impotente

da lei; Cristo, porém, foi constituído segundo o poderoso elemento de uma vida indissolúvel. Nosso Sumo Sacerdote é constituído de uma vida que não pode ser derrotada, mas a tudo conquista! É uma vida que não pode ser destruída. Uma vida que salva plenamente; a vida que não tem fim, eterna, divina, não criada; a vida ressurreta que já passou no teste da morte e do Hades.

Nosso Sumo Sacerdote, agora, serve a Deus em nosso favor no Santo dos Santos. Ele é nosso Advogado no supremo tribunal dos céus! É nosso Representante, que apresenta nosso caso diante de Deus. Não temos consciência de quanto Cristo faz por nós lá. Ainda que Sua obra redentora esteja consumada, Seu serviço celestial em nosso favor jamais cessa.

INTERCEDER POR NÓS EM NOSSAS NECESSIDADES

Como precisamos Dele! "De Ti, Senhor, preciso, / Sim, preciso sempre" (Hinos, n° 186). Sem dúvida necessitamos Dele a toda hora. Hora após hora, não sabemos com certeza com o que nos defrontaremos. Podemos dizer aleluia ou amém na reunião, mas quando voltamos para casa nossa alegria pode desaparecer e, em vez de aleluia e amém, só haverá silêncio e "cara comprida". Surgiu um problema ou podemos resfriar e ficar gripados. Seja qual for o problema, Cristo está lá a cuidar de nosso caso. Ele nos sustenta quando estamos tristes ou doentes. Sua intercessão por nós nunca cessa. Sua capacidade de cuidar de nós é ilimitada, porque Ele é o Deus todo-poderoso. Seu sacerdócio é um ministério de intercessão nos céus, no Santo dos Santos, diante de Deus em nosso favor. Muitas vezes você não tem consciência de Sua intercessão, porém algumas vezes consegue perceber que Ele cuida de você desse jeito. Talvez você se encontre em meio a uma discussão com sua esposa quando, de repente, faltam-lhe palavras. Por que aquelas palavras cheias de raiva deixam de repente de saltar de sua boca? Você teve alguma experiência dessas antes de ser salvo? Em meu próprio caso, eu costumava ficar com uma raiva que poderia durar o dia todo, até mesmo virando a noite. Desde que fui salvo, no entanto, nunca mais consegui ficar totalmente furioso. O máximo que minha raiva durou, do que me lembro depois disso, foi alguns minutos. E quanto a você? Quanto tempo você consegue ficar com raiva? Não muito porque Cristo está lá, a interceder por você junto ao trono de Deus, e Sua intercessão é ouvida. Algumas vezes os problemas nos atingem e nós ficamos ansiosos. Antes de ser salvos, essas preocupações eram intermináveis. Agora, quando a ansiedade começa a surgir, logo sentimos um consolo que nos traz alívio, como a nos dizer: "Por que você não ora? Você não precisa preocupar-se". Cristo começou a interceder por nós, e é esse efeito que Sua intercessão produz em nós. Então respondemos a Ele: "Obrigado, Senhor, por levar minhas preocupações. Todos os meus cuidados estão em Tuas mãos". Apenas algumas poucas palavras, e a ansiedade se vai. Podemos desfrutá-Lo! Essa é a intercessão sacerdotal de Cristo por nós. Ela é incessante. Em Romanos 8:34 Paulo pergunta: "Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós". Não existe quem possa condenar-nos. Cristo com certeza não o fará; Ele morreu por nós, ressuscitou e agora está nos céus a interceder por nós. Seu ministério celestial é cuidar de nós. Todos já tivemos muitas experiências com o cuidado de nosso fiel Sumo Sacerdote por nós. Fomos lembrados, consolados, fortalecidos e até mesmo conduzidos por Ele muitas vezes. Se tivéssemos tempo, poderíamos dar testemunho após testemunho de como a ajuda nos chegou não tanto de forma externa, porém de dentro de nós. A ajuda também nos vem dos céus. Há algo em nós e algo do alto que nos fortalece, sustenta, consola e nos ilumina. Sem esse apoio da intercessão de nosso Sumo Sacerdote, já teríamos há muito tempo sido derrotados. Temos sido preservados não por nós mesmos, mas por nosso Sumo Sacerdote.

Nosso Sumo Sacerdote é altamente qualificado para esse ofício. O livro de Hebreus nos apresenta Suas qualificações. Ele é o Filho de Deus (1:5), o Filho do homem (2:6-9), o Autor de nossa salvação (2:10), o Apóstolo enviado por Deus para nós (3:1) e o verdadeiro Josué que nos conduz ao descanso (4:8). É esse que é totalmente qualificado que agora cuida de nós em todos os detalhes. Sua intercessão é preciosa para o Pai. Deus em Seu trono considera como um precioso tesouro o sacerdócio de Seu Filho. Precisamos ter a mesma consideração. Ele ora por você dia e noite. Você pode ter ficado afastado do Senhor e da vida da igreja. Fazia-se de surdo a todos que tentavam ajudá-lo. Um dia, porém, quem sabe enquanto estava muito longe no alto de uma

montanha, começou a pensar: "Por que não retornar para a igreja?". Você se encontrava totalmente sozinho, distante da influência de terceiros, e mesmo assim ouviu esse conselho interno. Como se explica isso? Com toda a certeza é o resultado do sacerdócio de Cristo. Sua intercessão o tocou enquanto você estava longe e o trouxe de volta. Nós realmente não necessitamos de tanta ajuda exterior. Temos um Ajudador nos lugares celestiais! Nossa ajuda vem dos céus até nosso espírito. Por fim ela vem de nosso próprio interior. Temos esse tremendo Sumo Sacerdote!

NOSSA RECIPROCIDADE PARA COM A INTERCESSÃO CELESTIAL

"Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote [...] Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça" (Hb 4:14-16). Depois de nos apresentar um retrato de nosso Sumo Sacerdote cuidando de nossas fraquezas, o escritor de Hebreus nos exorta a nos achegar ao trono da graça. É achegando-nos confiadamente dessa forma que temos reciprocidade para com Sua intercessão celestial. Onde fica o trono da graça? Precisamos responder que fica tanto nos céus como em nosso espírito. Se ficasse apenas nos céus, como poderíamos achegar-nos a ele? Como testifica nossa experiência, o trono também se encontra em nosso espírito. Para fins de ilustração, vamos supor que estamos ansiosos por alguma razão. Ficar ansioso é característica de pessoas inteligentes. Apenas os tolos são completamente despreocupados, não importa o que lhes aconteça. Se somos pessoas despertas, que raciocinam, muitas coisas nos deixam ansiosos. Quando somos solteiros, nossos pensamentos se voltam para as preocupações pessoais. Depois que nos casamos, somos dois com que nos preocupar. Em vez de pensar apenas em nós mesmos, concentramo-nos em nosso cônjuge: "Que dizer da conversa que tivemos ontem à noite? E quanto ao nosso futuro? E se um de nós adoecer?". Precisamos encontrar uma saída para enfrentar todos os pensamentos perturbadores e situações difíceis que nos acometem. Graças a Deus que nosso espírito está conectado ao Santo dos Santos! Quando nos voltamos da mente para o espírito, entramos no Santo dos Santos. Uma vez lá, fica difícil perceber se estamos no céu ou na terra. O Santo dos Santos possui duas extremidades: uma nos céus e outra em nosso espírito. Ali, no Santo dos Santos, está o trono da graça. Que fazemos junto ao trono da graça? Oramos, adoramos e buscamos Aquele que se encontra no trono. Nós O louvamos e Lhe agradecemos. A partir desse trono flui o rio da vida. Se ficarmos ali por alguns instantes, perceberemos que alguma coisa flui do trono da graça para nós, em nós e de nós. Experimentaremos a vida eterna como suprimento da graça. Receberemos misericórdia e acharemos "graça para socorro em ocasião oportuna" (Hb 4:16). Achegando-nos ao trono da graça, temos reciprocidade para com o sacerdócio celestial de Cristo. Sempre que nos voltamos ao espírito e nos achegamos assim ao trono da graça, temos reciprocidade para com. Sua intercessão celestial. Sua intercessão e nossa oração constituem-se em uma via de mão dupla entre o céu e a terra. Quando o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, ele carregava sobre os ombros os nomes das doze tribos (Êx 28:6-10). Esses nomes também vinham escritos sobre o peitoral (v. 2l). Hoje em dia, o nosso Sumo Sacerdote nos carrega a todos diante de Deus no Santo dos Santos celestial. Ele se coloca diante de Deus a fim de nos levar até lá e também para levar nossas necessidades até Ele. Nesse Lugar Santo todos os nossos problemas são resolvidos. Ele está nos servindo junto ao trono da graça. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna! O trono da graça é o único lugar onde nossos problemas podem ser resolvidos. Achegando-nos a ele, temos reciprocidade para com a intercessão da parte Dele. Essa comunicação prossegue o dia todo. Embora nada disso possa ser visto com os olhos físicos, nosso espírito percebe o que acontece no Santo dos Santos a nosso favor. Achegue-se ao trono da graça! Esse ofício de Sumo Sacerdote é a parte mais grandiosa do ministério celestial de Cristo. Encontramo-nos com Ele, hora após hora, desfrutando, experimentando e tocando Nele. À medida que Ele intercede por nós, achegamo-nos com confiança ao trono a fim de receber misericórdia e achar graça. Misericórdia e graça estão sempre disponíveis para nós, mas precisamos recebê-las e achá-las pelo exercício do espírito, achegando-nos ao trono e tocando nosso Sumo Sacerdote, que se compadece de nós em todas as nossas fraquezas.

A GRANDEZA DE NOSSO SUMO SACERDOTE

Como é grandioso nosso Sumo Sacerdote! Ele "pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25). Os sumo sacerdotes que serviam sob a lei tinham fraquezas, por isso tinham de oferecer sacrifícios primeiro por seus pecados e depois pelos pecados do povo (v. 27). Nosso Sumo Sacerdote, ao contrário, é "santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus" (v. 26). Ele não tem a necessidade de oferecer sacrifícios, "porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu" (v. 27). Diferentemente dos homens fracos que serviram como sumo sacerdotes sob a lei, nosso Sumo Sacerdote é "o Filho, perfeito para sempre" (v. 28). "[...] possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus" (8:1). Ele é o "grande sacerdote sobre a casa de Deus" (10:21).

CAPÍTULO OITO A EXECUÇÃO DO NOVO TESTAMENTO POR MEIO DE CRISTO

Leitura Bíblica: Hb 7:16, 25; 9:11-12, 15-17

De Hebreus 7 a 10, Cristo é apresentado de forma tripla: como Sumo Sacerdote, como Ministro e como Executor da nova aliança. Quando Cristo é mencionado como Sumo Sacerdote, é-nos dito também que Ele é o Ministro do santuário e o Executor da nova aliança. Esses três títulos são mencionados juntos porque suas funções se sobrepõem. Enquanto Cristo desempenha Sua obra sacerdotal, também executa a nova aliança e simultaneamente ministra seu conteúdo a nós. Nesta mensagem iremos considerar como Ele executa a nova aliança. Esse é o ponto do Novo Testamento mais complicado de compreender, contudo é todo-inclusivo.

O FALAR DE DEUS PARA O HOMEM Por toda a Bíblia, o falar de Deus ocorreu de três formas: Sua palavra, Sua promessa e Sua aliança (ou testamento). No falar de Deus havia Sua promessa. Ao ser pronunciada sob juramento, Sua promessa tornou-se uma aliança, que é também um testamento. Desde o princípio, Deus falava com o homem. Antes de Adão desobedecer, Deus falou com ele. Após a queda, Deus voltou para falar com ele, dessa vez prometendo que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:15). Com o falar de Deus, veio a promessa de Deus. Isso também foi verdade com relação a Abraão. Ao falar a ele, Deus lhe prometeu um descendente e a boa terra (Gn 13:15). Deus falou e Deus prometeu. Como a promessa se tornou uma aliança? Foi pelo acréscimo de um juramento feito com um sacrifício no qual houve o derramamento de sangue (d. Gn 15:7-18). Uma aliança é um pacto em que uma das partes promete algumas coisas à outra. Já um testamento, por sua vez, é uma herança do que já foi realizado. Em termos atuais, é a última vontade, uma declaração legal por escrito para que a propriedade do testador seja distribuída por ocasião de sua morte. A Bíblia, vista como um todo, é na verdade o testamento de Deus, sendo inclusive suas duas partes chamadas de Antigo e Novo Testamento. Deus é um Deus que fala. Quanto mais Ele fala, mais se compromete por Suas palavras. No entanto, Ele não pode deixar de falar! Ele tem muito a dizer ao ser humano. A Bíblia está repleta do falar de Deus. Ela é a Palavra de Deus para o homem. Quando falamos, podemos fazer promessas ainda que de modo inconsciente. Se conseguirmos fazer com que os outros falem conosco, poderemos induzi-los a fazer promessas que não tinham a intenção de fazer. Enquanto ficarem em silêncio, não conseguiremos persuadi-los; porém, se falarem, pode ser que assumam um compromisso conosco. Deus falou. Tanto no Antigo como no Novo Testamento Ele falou e, ao falar, fez promessas. A Bíblia está repleta de promessas. Promessas a Adão, a Noé, a Abraão, a Davi e a nós, os crentes do Novo Testamento. Caso o Senhor Jesus não tivesse morrido, essas promessas seriam apenas promessas. Mas, a fim de cumprir essas promessas, Ele de fato morreu. Através de Seu sangue derramado, essas promessas se tornaram uma aliança. Agora há um compromisso firme para que se cumpram. Nessa aliança ainda restam algumas coisas por fazer. Outras já se realizaram e nos foram legadas como herança. Assim a aliança se tornou um testamento, que nos informa qual é nossa herança. "Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador" (Hb 9: 15-17).

No grego, a palavra usada é a mesma tanto para aliança como para testamento. A nova aliança, consumada com o sangue de Cristo (vs. 11-14), não é apenas uma aliança, mas é um testamento que inclui todas as coisas realizadas pela morte de Cristo legadas a nós por herança. Primeiramente, Deus prometeu que faria uma nova aliança (Jr 31:31-34; Hb 8:8-13). A seguir Cristo derramou Seu sangue a fim de promulgar a nova aliança (Lc 22:20). Uma vez que existem promessas já cumpridas nessa aliança, ela é também um testamento. Esse testamento, ou última vontade, foi confirmado e validado pela morte de Cristo e é realizado e executado por Ele após Sua ressurreição. A promessa da aliança de Deus é assegurada pela Sua fidelidade; a aliança de Deus é garantida por Sua justiça; e o testamento é executado pelo poder da ressurreição de Cristo. A Bíblia primeiramente nos diz que Cristo virá. Depois ela nos promete que Ele virá. Há não somente o falar, mas também a promessa. Muitas bênçãos estão incluídas nessa promessa: que Ele morreria por nós para que nossos pecados fossem perdoados e fôssemos redimidos; que receberíamos vida; que essa vida é o Espírito que, por Sua vez, é o próprio Deus como tudo para nós e nosso desfrute; finalmente, que haveremos de herdar tudo o que Deus é, possui e faz. Depois de ter falado e prometido (incluindo o conteúdo de Sua promessa), Cristo foi para a cruz e morreu, derramando Seu sangue. Devido à Sua morte, a promessa foi consumada, a aliança foi estabelecida e o testamento foi promulgado. Temos, portanto, quatro estágios no falar de Deus com o homem: Seu falar, Sua promessa, o estabelecimento de Sua aliança e a execução de Seu testamento. Adão, em Gênesis 2, estava no primeiro estágio. Abraão, em Gênesis 12, no segundo, o estágio da promessa. Os discípulos, ao ver Cristo morrendo na cruz, estavam no terceiro, o estágio do estabelecimento da aliança. Nós, atualmente, estamos no quarto estágio, quando o testamento é executado. Deus falou, prometeu, Cristo estabeleceu a aliança, e a aliança se tornou testamento para nós.

NOSSA HERANÇA

Já abordamos três aspectos do ministério celestial de Cristo: como Ele exerce Sua soberania sobre todo o mundo, para que Seu evangelho seja pregado e os escolhidos de Deus sejam introduzidos Nele; como Ele exerce Seu encabeçamento para nos fazer crescer e funcionar para que Seu Corpo seja edificado; e como Ele intercede por nós e cuida de nós como nosso Sumo Sacerdote. Nesta mensagem iremos considerar o quarto aspecto: como Ele realiza o testamento que nos legou como nossa herança. Pela execução do novo testamento, o Cristo celestial faz com que todos os itens listados nele se tornem reais para nós. Todos gostam de ser lembrados num testamento. Estou certo de que todos os meus filhos e até mesmo meus netos esperam ser incluídos em meu testamento! Vamos supor que conste para nós num testamento grande propriedade com uma mansão, e nessa mansão haja vinte e quatro aposentos e sete banheiros. Além disso, deixaram-nos dez milhões de marcos alemães. Com certeza isso nos agradaria. Entretanto precisaríamos certificar-nos de que essa herança é mais do que apenas dois itens anotados numa folha de papel. O testamento teria de ser executado para que tomássemos posse de nossa herança. Você já procurou descobrir o que está incluso no novo testamento? É uma longa lista! Na verdade, depois de tentar diversas vezes enumerar todos os itens, cheguei à conclusão de que não é possível fazer isso. A lista é interminável. Aqui estão alguns desses itens: redenção, perdão dos pecados, justificação, reconciliação, regeneração, santificação, filiação, vida, poder, paz, santidade etc. Você já recebeu todo esse legado? Algumas vezes o herdeiro é muito jovem e não tem consciência de tudo que herdou. Ou quem sabe o herdeiro é simples e não consegue compreender o significado dos termos do testamento. Ou ainda, numa terceira situação, o herdeiro pode ser muito fraco para reivindicar sua herança, apesar de ter maturidade e conhecimento suficientes. Em todos esses casos é necessário alguém para ajudar o herdeiro por direito a tomar posse do que lhe foi legado.

A ALIANÇA PROMULGADA PELO SANGUE DE CRISTO Quando Cristo morreu na cruz, transformou a promessa de Deus em aliança. Seu sangue foi o símbolo da promulgação. A mesa do Senhor, que celebramos semana após semana, é símbolo do testamento. O Senhor tomou o cálice e deu graças. A seguir o deu aos discípulos, dizendo: "Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue da aliança, que é derramado por muitos, para perdão de pecados" (Mt 26:27-28). As palavras em Lucas 22:20 são: "Este cálice é a nova aliança em Meu sangue, que é derramado em favor de vós". O cálice que bebemos é a nova aliança. Isso é muito profundo. Quando tomamos o cálice, precisamos saber que ele é a nova aliança. Os dois principais itens na nova aliança são o perdão de pecados e a infusão de vida. Por meio deles, desfrutamos Deus. Ele é a benção do cálice. Ele é a porção eterna da benção ali contida. O sangue de Jesus, portanto, firmou a aliança. Sua morte a confirmou. A seguir, na ressurreição, Ele vem executar seu conteúdo.

A EXECUÇÃO DO TESTAMENTO

Ele agora se encontra nos céus, vivo, divino, capaz, constituído da vida indissolúvel. Nada pode opor-se a Ele! Nada pode destruí-lo! Ele é Aquele que vive, para sempre! Por isso é capaz de executar esse testamento em todos os seus detalhes. Você precisa de vida? de poder? de perdão? de paz? de santidade? É claro que você tem muitas necessidades. Como você pode ser suprido? No testamento se encontram todos esses itens. Eles lhe foram legados. Cristo hoje executa o testamento, fazendo com que todos os itens estejam disponíveis e se tornem reais para você. Vamos supor que sua esposa lhe cause dificuldades. Você necessita de paciência. Onde você irá conseguir a paciência necessária para suportar a pressão? Paciência é um dos itens do testamento, e se aplica e está disponível a você pela execução de Cristo. Quando o que você precisa é paciência, Ele a põe à sua disposição. Você percebe a paciência vindo até você como um jorrar. Você nunca experimentou isso? A mesma coisa é verdade no que diz respeito à alegria. Você pode estar em sofrimento, mas há alegria nesse testamento. Como essa alegria pode tornar-se real para você? O próprio Cristo executará a alegria em você, inundando seu ser dela. Talvez você se pergunte como posso ter tanto a dizer. Talvez pense que me faltará o que dizer, pois incluída nesse testamento está a preciosa Palavra. Quando estou para dar uma mensagem, não me volto para livros de referências visando encontrar um tema, reunir alguns tópicos, estudar alguns comentários e assim organizar o que irei falar. Não! Cristo como Executor me inunda com as riquezas da Palavra de Deus. Dessa inundação surgem noções preciosas e ricos pronunciamentos. Por essa razão, o falar não tem fim. Que testamento magnífico temos! E que Executor - vivo, poderoso e capaz! A intercessão de Cristo é parte da execução do testamento. Pode ser que estejam lhe faltando vida e luz. Talvez você não esteja desfrutando de Deus como a sua vida e a sua luz. O seu Sumo Sacerdote, então, irá orar por você, de modo a que você possa desfrutar Deus ricamente. Essa é a Sua intercessão. A seguir Ele irá exercer a Sua posição como executor e inundará você de vida e de luz da parte de Deus. Essa é a resposta à intercessão Dele e também o cumprimento do Seu testamento.

NOSSA RECIPROCIDADE Assim como você precisa ter reciprocidade de forma adequada para com a intercessão Dele achegando-se ao trono da graça, você também precisa ter reciprocidade adequadamente para com Sua execução do testamento. Você pode falhar em ter reciprocidade, porque nunca obteve ajuda para enxergar essas questões. Talvez nunca tenha ouvido essas mensagens. A partir de agora, não há mais motivo para ISSO - você já pode ter reciprocidade para com Ele! Hebreus 7:25 nos ensina a maneira de ter reciprocidade para com Sua execução da nova aliança: "Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". Cooperamos com Ele quando nos chegamos a Deus.

Continue a se chegar a Deus. De manhã e à tarde, dia e noite, quando orar e quando não orar, chegue-se a Deus! "ó Deus, estou aberto para Ti. Tu és rico. Eu preciso de Ti. Preciso de tudo que tens para mim em Teu testamento. Quero estar aberto para Ti o tempo todo". À medida que fizer isso, Cristo, Aquele que é capaz, executará em seu ser tudo o que você necessitar. Faz parte de Seu ministério celestial executar assim item após item do testamento em seu interior para seu desfrute. Tomar consciência disso irá fortalecê-lo. Vamos supor que seu expediente no trabalho tenha terminado e você está pronto para ir para casa. Você se dedicou oito horas de trabalho árduo e está cansado. Contudo a idéia de ir para casa não é muito atraente, porque você nunca sabe que situação o aguarda. Não há como predizer se será recebido com "cara comprida" ou sorriso. Alguns dias, ao ir para casa, você encontra tempestade; outros dias, está tudo calmo e ensolarado. Você não suportaria ter de enfrentar outra tempestade hoje à noite. Que fazer? Lembre-se do testamento. Abra-se. Achegue-se a Deus. Você pode dizer simplesmente: "ó Deus, meu Pai, abro-me agora a Ti", e terá a profunda convicção de ter sido fortalecido. Ele intercedeu por você e executou algo em você. Você foi fortalecido no homem interior. Agora está pronto para ir para casa. Já pode declarar: "Senhor, não importa mais se o clima está bravo ou calmo. Quero voltar para casa e Te desfrutar. Pode ser com céu límpido ou nebuloso; com chuva ou ensolarado, mesmo assim permanecerei aberto para Ti. Serás meu suprimento, conforme Teu testamento. Estou incluído em Teu testamento. Pai, sei que estás comprometido com Teu testamento. Além do mais, tenho um Executor, que se certifica de que eu receba todos os itens desse testamento. Minhas circunstâncias não importam, pois Teu testamento me provê de tudo de que necessito". O ministério celestial de Cristo ainda não terminou. Seu ministério terreno de fato está consumado. Mas, como Executor da nova aliança Ele ainda ministra a fim de fortalecer, consolar, suprir, sustentar e até mesmo carregar você. Seu propósito ao fazer isso é que você cresça e funcione para que Seu Corpo seja edificado. Seu ministério celestial, cujo alvo é a edificação do Corpo de Cristo, possui muitos aspectos. Já consideramos quatro deles. Há o exercício de Sua soberania, o exercício de Seu encabeçamento, o sacerdócio e a execução da aliança e testamento de Deus. Na próxima mensagem prosseguiremos para um novo aspecto.

CAPÍTULO NOVE O MINISTÉRIO MAIS EXCELENTE

DE CRISTO NO VERDADEIRO TABERNÁCULO

Leitura Bíblica: Hb 8:1-2,6; 9:15-17

O TESTAMENTO E SEU EXECUTOR Temos um testamento maravilhoso e um magnífico Executor! O testamento é na verdade a Bíblia toda: começou com Deus falando, tornou-se Sua promessa, mais tarde veio a ser Sua aliança e agora, que tudo já se cumpriu por meio da morte de Cristo, é um testamento ou última vontade, com todos os itens de seu conteúdo legados a nós por herança. Tudo nesse testamento é nosso. Temos um Executor maravilhoso que assegura o cumprimento do testamento! Ele é Deus, entretanto se fez homem. Viveu nesta terra e provou todos os sofrimentos da vida humana. Ao fim de Sua experiência como ser humano, Ele morreu na cruz. Por esse meio, resolveu o problema de nossos pecados, derrotou Satanás, encerrou toda a velha criação e deu solução a todos os problemas. Ele satisfez Deus e cumpriu todas as Suas exigências. Depois de três dias sepultado, Ele superou a morte e entrou na vida ressurreta. Na ressurreição elevou a humanidade e Ele próprio se tornou o Espírito vivificante. Esse é o Espírito composto, todo-inclusivo. Essa Pessoa maravilhosa - Deus e homem, morto e ressuscitado, vivo para sempre, forte e capaz - executa tudo o que se encontra nesse testamento para nosso benefício e desfrute. Que privilégio desfrutamos por viver no estágio em que o testamento está em plena realização e por ter um Executor plenamente capaz de realizar todas as suas provisões para nosso desfrute!

O MINISTÉRIO DE MELQUISEDEQUE

O livro de Hebreus nos diz que Cristo é Sumo Sacerdote, não segundo a ordem de Arão, mas segundo a ordem de Melquisedeque (7:11-17). Ao fim de Sua vida na terra, Ele agiu como Sumo Sacerdote, oferecendo-Se como sacrifício a Deus. Essa parte terrena de Seu sacerdócio - oferecer o sacrifício para realizar a redenção - foi tipificada por Arão, o sumo sacerdote escolhido por Deus dentre Seu povo. Agora que isso já foi realizado, Cristo em ressurreição é o Sumo Sacerdote celestial, segundo a ordem de Melquisedeque. Que faz nosso Melquisedeque celestial? Ele já não oferece sacrifícios, mas serve. Assim como um ministro serve, suprindo aqueles a quem serve do que necessitam, assim também esse Ministro nos provê do suprimento celestial, ministrando-nos o próprio Deus. No relato de Gênesis 14:18-20, quando Abraão retornou da matança dos reis, Melquisedeque, sacerdote do Altíssimo, veio a seu encontro com pão e vinho. Melquisedeque não era um sumo sacerdote que apresentava ofertas, mas servia. Abraão devia estar esgotado depois de guerrear contra os reis. Em sua exaustão sem dúvida necessitava de suprimentos. Cristo agora faz, nos lugares celestiais, o que Melquisedeque fez por Abraão. Ele nos serve suprimento devida conforme nossa necessidade. Não existe mais necessidade de sacrifícios, pois Sua oferta única satisfez Deus para sempre (Hb 10:12). O sacerdócio celestial de Cristo visa servir-nos pão e de vinho. Cristo também é "ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem" (Hb 8:2). O verdadeiro tabernáculo é o Santo dos Santos celestial, onde Ele entrou além do véu como nosso Sumo Sacerdote (6:19-20). Além de ser o Sumo Sacerdote que intercede por nós e o Mediador que executa o novo testamento, Ele é Intercessor, Executor e Ministro! Temos esse maravilhoso Sumo Sacerdote!

O TESTAMENTO COMO NOSSA BASE

Todo esse serviço é baseado no testamento. Não é algo realizado sem base, mas possui firme fundamento. Vamos supor, a título de ilustração, que exista um banco repleto de dinheiro. Não tenho nenhum dinheiro no bolso, portanto vou até lá para sacar algum. Infelizmente não tenho conta lá, ou

minha conta está sem fundos. Meu pedido por dinheiro não tem base. Suponha agora que alguém depositou dez milhões de dólares nesse banco. Se eu for ao banco e apresentar um cheque assinado por ele, terei base para sacar dinheiro de sua conta. Muitas vezes nos aproximamos de Deus quando estamos necessitados e suplicamos por Sua misericórdia. Derramamos lágrimas e oramos: "Pai, como preciso de Tua misericórdia! Tem misericórdia de mim nesta minha triste condição. Eu Te dou graças porque Tu és Deus de misericórdia". Implorar desse modo é como ir ao banco e dizer ao gerente: "Oh! tenha misericórdia de mim! Preciso desesperadamente de dinheiro. Tenha dó de mim e me dê algum dinheiro para eu pagar minhas contas". Não seria tolice usar essa abordagem para conseguir dinheiro no banco? Não temos base alguma se suplicamos dessa forma. Qual é a base sobre a qual apresentamos nossos pedidos a Deus? É o testamento, aquele que Cristo promulgou e nos deixou de herança. Sob essa base Cristo desempenha Seu sacerdócio celestial e intercede nos céus. Precisamos que esse Executor interrompa nossas orações em forma de súplicas e nos faça lembrar: "Por que você ora dessa forma lamentável? Achegue-se ao trono com intrepidez! Vá ao banco e reivindique seu dinheiro! Aqui está o testamento. Sou o Executor. Você pode ser jovem e tolo, porém sou seu Procurador. Quem ousaria enganá-lo? Sou o Filho de Deus, que morreu na cruz por você e agora vive ressurreto!". Como você lida com os problemas do dia a dia que o assolam? Receio que as irmãs em particular derramem suas lágrimas e fiquem gemendo diante do Senhor. Assim vocês se esquecem do testamento e do Executor. A Bíblia e Cristo estão distantes. Somente suas lágrimas estão próximas. Eu tenho a mesma inclinação. Não derramo lágrimas, mas algumas vezes fico sem saber o que fazer quando surge algum problema. Então me lembro que preciso buscar o Senhor. E clamo: "ó Senhor Jesus! Tem misericórdia de mim!". Ele é realmente misericordioso! Enquanto clamo a Ele, Ele me faz lembrar do testamento e da Sua posição como meu Executor e Advogado. Quantas vezes Ele já me relembrou! E assim eu percebo mais uma vez que o Filho do Deus vivo, o próprio Cristo ressurreto, está lado a lado comigo, está de pé do meu lado, intercedendo por mim e executando o Seu testamento a meu favor. E sou fortalecido, deixo a minha ansiedade e começo a louvá-Lo. Irmãs, poupem suas lágrimas. Em vez disso, louvem-No por executar o testamento em seu favor. Como somos abençoados por estarmos na restauração do Senhor! O que temos ouvido é desconhecido dos ouvidos de muitos que estão fora. Quando estamos na cristandade, podemos ouvir sobre as setenta semanas de Daniel, os dez chifres e os quatro animais. Entretanto muito pouco, se alguma coisa, nos chegou a respeito do testamento como nosso legado e o Cristo vivo como seu Executor. Vemos aquilo que outros não viram. Agora desfrutamos o que muitos outros não têm como desfrutar. Não sabemos o quanto somos abençoados.

O MINISTRO QUE NOS SUPRE

Depois de interceder e de executar o testamento, esse mesmo Intercessor e Executor é o Ministro, trazendo-nos tudo de que necessitamos e nos servindo de acordo com nossas necessidades. Aqui na terra posso estar enfrentando problema atrás de problema. Minha situação me deixa preocupado e ansioso. Não consigo ver nenhuma saída. Esse pode ser o caso na terra. Contudo, aleluia, uma situação diferente predomina nos céus! Lá o Sumo Sacerdote está intercedendo por mim. O Executor está tomando as providências do testamento. Além do mais, o Ministro apanha a paz de que necessito e me supre com ela. Essa paz me foi prometida em João 14:27: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou". Também foi prometida em Filipenses 4:7 "E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus". Quando surge um problema, entretanto, esqueço-me dessas promessas que se tornaram minha herança e só me lembro de minhas preocupações. Eu posso me esquecer de tudo que me foi legado, no entanto Ele não se esquece. E vem como o Espírito vivificante que habita meu espírito. Ele vem como o Melquisedeque celestial, desta vez não trazendo pão e vinho, mas paz. É Ele que vem me visitar. Dentro de mim, sem nenhuma aparente razão, eu fico de repente repleto de paz. A preocupação desaparece. A ansiedade some. Como ocorreu esta mudança? Eu experimentei o ministério celestial de Cristo como o Sumo Sacerdote, o Executor e o Ministro.

Com toda a certeza você também já experimentou algo semelhante. No passado, no entanto, você não compreendia o que era. Agora luz e conhecimento chegaram até você. Nenhuma provação deve deixá-la derrotado. Você tem um Sumo Sacerdote a interceder por você. Você tem Aquele que executa as provisões de Seu testamento a seu favor. Tem um Servo a supri-lo da coisa certa no tempo certo. Em toda situação que surgir, esse Ministro celestial age em seu favor. Depois de muitas experiências com Seu cuidado, gradualmente você se conscientizará de que não há razão para se preocupar. Cristo está lá, a ministrar nos céus por você! Cristo é chamado de Sumo Sacerdote, Ministro e Mediador de modo intercambiável em Hebreus (8:1, 2, 6; 9:11, 15). O Sumo Sacerdote é o Ministro, e o Ministro é o Mediador. O termo Executor não é utilizado de forma explicita, mas está implícito no capítulo nove: "Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador" (9:15-17). Cristo em Sua morte firmou a nova aliança e a legou a nós como o novo testamento. Após a morte Ele ressuscitou e se tornou Aquele que realiza o novo testamento. Os quatro títulos - Sumo Sacerdote, Ministro, Mediador e Executor - referem-se ao Cristo ressurreto.

NOS CÉUS E EM NOSSO INTERIOR

Esse mesmo Cristo é agora o Senhor nos céus e ao mesmo tempo o Espírito em nós. "Ora, o Senhor é o Espírito" (2 Co 3:17). Como Senhor, Ele se encontra nos céus. Como Espírito, está em nós. Como Aquele que se encontra nos céus, Ele exerce Sua soberania, Seu encabeçamento e Seu sacerdócio. Ele exerce Sua soberania em prol da expansão do evangelho, para que os escolhidos de Deus sejam introduzidos Nele. Ele exerce Seu encabeçamento para que todos os Seus membros cresçam e funcionem, para que Seu Corpo seja edificado. Ele exerce Seu sacerdócio a fim de nos resgatar de todas as nossas complicadas confusões pela intercessão, pela execução das provisões do novo testamento e pelo serviço do que tivermos necessidade; e assim Ele nos mantém firmes para evitar que caiamos. Todas essas são Suas atividades enquanto Senhor nos céus. Tudo que desempenha como Senhor, Ele aplica a nós como o Espírito. Como podemos perceber todas as Suas funções celestiais? Tudo o que Ele intercede, executa ou ministra é transmitido a nosso espírito. Como Senhor nos céus, Ele é a eletricidade na usina elétrica. Como Espírito em nosso espírito, Ele é a eletricidade do prédio onde estamos agora. O Senhor nos céus e o Espírito em nosso espírito são um só. Há uma transmissão contínua entre os céus e nosso espírito, de modo que tudo que se manifesta lá é imediatamente aplicado aqui. Repare que esse trânsito é entre os céus e nosso espírito. Nossa mente não conta. É nossa mente que nos deixa preocupados. Quando surge a transmissão celestial, essa realidade maravilhosa fortalece nosso espírito, que então se levanta para exclamar: "Glória a Deus!". A transmissão chegou a nosso espírito, não à nossa mente. O Espírito em nosso espírito é o próprio Senhor nos céus. Romanos 8 confirma que Aquele que é o Espírito é o mesmo que é o Senhor. O versículo 26 nos diz que" o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis". A seguir o versículo 34 diz que Cristo Jesus "está à direita de Deus e também intercede por nós". Quem intercede por nós? É o Senhor Espírito! Nos céus é o Senhor, e em nós é o Espírito. O mesmo é verdade com relação a Melquisedeque. Há um só Melquisedeque. Nos céus Ele é o Senhor, e em nosso espírito Ele é o Espírito. Do ponto de vista doutrinário, não temos uma explicação satisfatória para essa dupla realidade; já em nossa experiência, entretanto, temos de fato a confirmação. Talvez você volte do trabalho exausto e se pergunte como estará a situação em casa. Inesperadamente, enquanto se questiona, você tem a sensação de ser suprido e fortalecido. Qual é a fonte desse suprimento? Ele veio do próprio Cristo, que é tanto o Senhor nos céus como o Espírito em nosso interior. Ele intercede por você, cuida de você e executa o novo testamento em seu favor. Baseado nesse testamento, Ele toma o suprimento de vida e lhe fornece o sustento exatamente com o que você mais necessita. Você então O experimenta como Senhor, Espírito, Sumo Sacerdote, Executor e Ministro. Ele é também o Mediador, que transmite o que você necessita do Pai, que é a fonte para seu espírito a fim de supri-lo e sustentá-lo.

O SACERDOTE SUSTENTADOR

Com certeza todos já experimentamos esse ministério celestial de Cristo. Por que nos mantivemos firmes sem cair todos esses anos? Posso testemunhar que foi isso que me preservou nesses cinqüenta e cinco anos. Em Seu ministério terreno, Ele morreu por mim na cruz. Agora Ele me serve em ressurreição, e esse é Seu ministério celestial. Seu principal elemento é o sacerdócio para com os membros de Seu Corpo. É claro, Ele exerceu Sua soberania para se certificar de que eu fosse salvo e, portanto, conduzido a Deus. Também exerceu Seu encabeçamento sobre mim para fazer com que eu crescesse e funcionasse e desse modo fosse edificado no Corpo. No entanto é Seu sacerdócio que Ele mais exerce para me preservar. Aleluia por nosso Sumo Sacerdote celestial! Fomos sustentados, preservados e supridos por Sua intercessão, execução do testamento e ministração a nós segundo nossas necessidades. Nada me faltou. Minha porção é um valioso suprimento de vida.

Nossa preservação e nosso sustento por meio Dele estão totalmente garantidos por Seu sacerdócio, que é baseado no testamento. O testamento está em nossas mãos, e o Sumo Sacerdote está tanto nos céus como em nós. Nos céus Ele é o Senhor, em nós Ele é o Espírito. O Senhor Espírito nos ministra o suprimento de vida de forma continua. O suprimento que recebemos é celestial, porque o céu é sua fonte. Nosso Sumo Sacerdote ministra a nós no verdadeiro tabernáculo, o Santo dos Santos celestial, que é unido a nosso espírito por Ele como escada celestial (Gn 28:12; Jo 1:51). Ao nos ministrar o suprimento celestial, Ele faz de nós um povo celestial. Somos um povo na terra que vive uma vida celestial.

CAPÍTULO DEZ A ADMINISTRAÇÃO UNIVERSAL DE CRISTO NOS CÉUS

Leitura Bíblica: Ap 1:11-13, 16-18,20; 2:1; 3:1, 21; 5:1-10; 7:2-3; 8:3-5; 10:1-2; 18: 1; 20:4, 6; 22:1, 3 Em nossas mensagens anteriores, vimos que Cristo atualmente exerce Sua soberania para a expansão do evangelho, para introduzir os Seus em Si próprio; exerce Seu encabeçamento para nos fazer crescer e funcionar, para que Seu Corpo seja edificado; exerce Seu sacerdócio para interceder por nós; executa o novo testamento em nosso favor e ministra o suprimento de vida para nós. Todos estamos sob Seus cuidados. No que diz respeito a nós, nada nos falta. Mas, e quanto ao universo? E quanto ao propósito total de Deus? Para responder a isso, precisamos considerar mais um aspecto do ministério do Senhor nos céus. Esse aspecto final da administração universal de Cristo nos céus é-nos revelado no livro de Apocalipse. O universo inteiro, tanto os céus como a terra, está sob Sua autoridade. Ele é o Administrador universal.

O SUMO SACERDOTE A CUIDAR DAS IGREJAS

Em Apocalipse, em primeiro lugar vemos que Cristo, o Ungido de Deus, agora cuida de Sua igreja. Ele cuida dela de forma administrativa. As igrejas são os candelabros de Deus a reluzir Seu testemunho e necessitam da administração de Cristo. Algumas vezes surgem problemas e dificuldades que requerem Sua atenção administrativa. Nos tempos antigos o sumo sacerdote cuidava do candelabro, assegurando-se de que todas as lâmpadas estivessem em boa ordem para continuar a brilhar. Nosso Sumo Sacerdote atualmente faz exatamente o mesmo, à medida que anda entre os candelabros (Ap 1:11-13). Ele também cuida das igrejas, tendo nas mãos os seus responsáveis. Os líderes nas igrejas são comparados a estrelas a brilhar nos céus na escuridão da noite (vs. 16, 20). Nós, que servimos às igrejas, precisamos estar conscientes de que não estamos em nossas mãos, e sim nas Dele. Ele administra os candelabros e sustém as estrelas. A visão apresentada em Apocalipse 1 nos mostra como as igrejas podem prosseguir nestes tempos. A situação entre os cristãos sem dúvida nos deixa desapontados e desanimados. Precisamos voltar-nos da visão terrena para Cristo! Ele é o primeiro e o último! Ele vive, e vive para sempre! Ele é capaz! É Aquele que agora segura "na mão direita as sete estrelas" e anda "no meio dos sete candeeiros de ouro" (2:1). Ele "abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá" (3:7). Olhando apenas para Ele seremos encorajados. As igrejas locais nunca falharão por causa desse Administrador que anda entre nós e sustenta nossos líderes! Essa é a administração de Cristo nas igrejas.

O CORDEIRO REDENTOR EXECUTA O TESTAMENTO

Apocalipse também nos diz que Cristo é o Administrador que cuida de todos os povos. Existem os judeus, que são os escolhidos de Deus; os pagãos, que são as nações; e os que participam da cristandade. Precisamos saber que até mesmo a cristandade e a forma como irá progredir estão sob a administração de Cristo. Depois que todas essas categorias de povos forem tratadas segundo o governo de Cristo, virá o milênio, o reino de Deus na terra. Depois disso, haverá nova era, a eternidade, com a Nova Jerusalém e os novos céus e a nova terra. De todos esses povos e tempos, Cristo é o Administrador. É isso que nos é revelado, começando por Apocalipse 4. A cena muda de Cristo tomando conta dos candelabros (capítulos um a três) para “uma porta aberta nos céu”, e nos é mostrado “o que deve acontecer depois destas coisas" (4:1). Cristo é apresentado como o Cordeiro redentor que venceu, qualificado para tomar o novo testamento, abri-lo e executá-lo. Esse é o significado do pergaminho selado na mão direita Daquele que está no trono (5:1). Quando um anjo forte proclama: "Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?" (v. 2), somente esse digno Cordeiro-Leão é capaz de vir e tomar o livro (5:5-7). Ele está qualificado a tomar o novo testamento, abri-lo e executá-lo.

O novo testamento nas Epístolas de Paulo é principalmente para nosso desfrute das riquezas de Cristo que nos foram legadas. Existe, entretanto, outro aspecto do novo testamento. Deus trata com o universo segundo Seu testamento. Ele agirá com os judeus, com as nações e com a cristandade de acordo com Seu testamento. Nele há uma herança para que nós, os crentes, a desfrutemos. Nesse mesmo testamento há também as questões sobre como Deus lida com os vários povos e até mesmo com os céus e a terra. É esse

novo testamento que o Redentor de todo o universo está qualificado a tomar, abrir e executar.

No fim, tudo que existe no universo será encabeçado em Cristo. Os judeus, as nações pagãs e a cristandade serão todos tratados, e o reino de Deus introduzido sobre a terra. Quando tudo que existe tiver sido encabeçado em Cristo, terá chegado a plenitude dos tempos. Os céus serão novos, assim como a terra e tudo que há nela. O universo por inteiro estará em ordem. Não haverá mais divisões, confusões, trevas, morte, noite nem lágrimas. Quando nos perguntam como estamos, em geral respondemos "bem". Na realidade, nem tudo está bem. fu coisas estão enroladas, confusas, nebulosas e caminhando para a morte. Há motivo para se derramar lágrimas. Até mesmo os homens deveriam chorar pelo estado lamentável das coisas. Afirmar que estamos bem ou que as coisas vão bem não é dizer a verdade. Ninguém está bem. Nenhuma família está bem. Nenhuma sociedade está bem. Virá o dia, porém, em que haverá novos céus e nova terra. Todas as coisas serão encabeçadas em Cristo. Tudo ficará em ordem. Então tudo estará bem. Quem é digno de administrar esses novos céus e nova terra com a Nova Jerusalém? Apenas Cristo. Foi Ele quem morreu para a redenção de todo o universo. Foi Ele quem derrotou Satanás por meio de Sua morte. Foi Ele que consumou a aliança com Seu sangue redentor. Foi Ele quem nos legou como herança o novo testamento. Ele está totalmente qualificado! Ele é digno de tomar o livro do novo testamento, abri-lo e executar tudo o que lá está escrito, provendo-nos de tudo o que nos foi legado, desempenhando cada item ali contido e colocando tudo em ordem no universo. Esse é o supremo ministério celestial de Cristo: a efetivação de tudo o que Deus projetou.

"OUTRO ANJO" Em Apocalipse Cristo é primeiramente apresentado como o Sumo Sacerdote para as igrejas. Ele anda em seu meio, toma conta de seu brilho e segura em Sua mão todos os seus líderes, para que ela prossiga até mesmo na noite escura de uma situação degradante. A seguir Cristo é retratado como o Cordeiro vencedor, o Cordeiro-Leão qualificado para executar o novo testamento. Depois, nos capítulos sete, oito, dez e dezoito, Ele é referido como o "outro anjo". Que o título "outro anjo" se refere a Cristo está claro pelo contexto. Deus enviou muitos anjos, no entanto Cristo, como o enviado de Deus, é extraordinário. Nesse papel Ele é chamado de outro Anjo.

Controlar o universo

No capítulo sete, Cristo como o Anjo de Deus controla o universo inteiro, dirigindo os demais anjos a fim de executar o julgamento de Deus sobre a terra (vs. 2-3).

Oferecer orações e derramar as respostas

No capítulo oito, Cristo é de novo retratado como outro Anjo, oferecendo as orações dos santos a Deus (vs. 3-5). Em Sua administração Ele precisa de nossas orações. Nossa oração é a resposta a Seu ministério celestial. À medida que oramos, Ele administra. À medida que administra, nós oramos.

Essas orações Ele oferece a Deus e a seguir derrama as respostas de Deus a elas sobre a terra. Esse é o significado do versículo 5: "E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto". O derramamento das respostas de Deus a nossas orações equivale à Sua administração universal. Esse Administrador está qualificado em todos os sentidos, entretanto precisa de nossas orações. Podemos dizer que Cristo administra o universo inteiro mediante nossas orações.

Tomar posse da terra

No capítulo dez, outro Anjo forte é visto "descendo do céu, envolto em nuvem, com O arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo ... Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra" (vs. 1-2). Aqui, Cristo como o outro Anjo deixou o trono nos céus e está a caminho de volta à terra. O fato de estar envolto em nuvem indica que nesse estágio Sua vinda é

em segredo. Ele retoma secretamente à terra a fim de tomar posse dela por completo. Um de Seus pés no mar e outro na terra simboliza Sua posse. A terra pertence ao Senhor. Toda ela é Sua herança. Ele virá com poder para tomar posse dela.

Julgar a Babilônia

Em 18: 1 nos é dito que: "Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória". Ele não se encontra mais envolto em nuvem. Está no espaço aberto e muito próximo à terra. Ele vem para exercer Sua autoridade sobre a cristandade, a Grande Babilônia. Depois de julgar por completo essa religião perversa, Ele destruirá Satanás e estabelecerá o reino milenar na terra.

SOBERANO NO REINO E POR TODA A ETERNIDADE

Nesse reino Ele governará, com todos os vencedores como coreis (Ap 3:21; 20:4, 6). Ele será o Administrador chefe do reino. Depois desses mil anos haverá a Nova Jerusalém, tendo como centro o trono de Deus e do Cordeiro (22:1,3). Nela o Cordeiro redentor será o Soberano por toda a eternidade. Assim como será por toda a eternidade o Administrador. Essa administração universal é uma parte grandiosa do ministério celestial de Cristo.

CUMPRIMENTO POR MEIO DOS MINISTÉRIOS CORRESPONDENTES NA TERRA

Sem o ministério completivo de Paulo, Cristo não tem como desempenhar Seu ministério celestial. Os dois se correspondem mutuamente. Um está nos céus, o outro, entre os santos na terra. Hoje nos encontramos sob esses dois ministérios. Até mesmo neste instante Cristo ministra nos céus, e o ministério completivo de Paulo é desempenhado aqui entre nós.

O ministério completivo efetiva a economia divina na preparação de um Corpo para Cristo. A Cabeça necessita de um Corpo. Pense no que você poderia realizar caso tivesse apenas a cabeça sem corpo. Não poderia fazer nada! Sem a igreja, Seu Corpo, Cristo também não pode fazer nada. O ministério completivo, portanto, existe para produzir o Corpo para que a Cabeça desempenhe a administração divina na terra. O ministério completivo de Paulo, como veremos nas próximas mensagens, concentra-se em Cristo como o centro da economia divina e a circunferência do propósito de Deus. Esse Cristo precisa viver em nós, e nós precisamos viver Nele. Ele é o Cristo todo-inclusivo. Então temos a maravilhosa vida da igreja! Deus passou por um processo a fim de se tornar o Espírito vivificante e entrar em nosso espírito. Esses dois espíritos se tornam um quando somos regenerados. A partir daí, esse Espírito todo-inclusivo se espalha de nosso espírito para nossa alma, para que ela fique saturada do Deus Triúno. Esse espalhar de Deus em nosso interior é chamado de transformação e crescimento em vida. Por meio desse crescimento, somos consolidados para nos tornar um Corpo. Esse Corpo não é edificado por meio de ensino, organização ou formalidades, porém pela transformação de nossa alma. Assim crescemos juntos, não somente como um Corpo, mas também como o novo homem universal. Cristo tem Seu Corpo, e Deus tem um novo homem. Por isso Cristo pode agir, e Deus desempenhar Seu propósito eterno. É dessa maneira que o ministério completivo de Paulo efetiva o ministério celestial de Cristo. Após a série sobre o ministério completivo de Paulo, prosseguiremos com o ministério remendador de João. Com esses três ministérios a Bíblia é consumada, e os novos céus e a nova terra, com a Nova Jerusalém, entram em cena.