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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO Promotoria de Justiça Cumulativa de Nova Venécia Rua Salvador Cardoso, nº 106, Centro 29.830-000 Nova Venécia - ES - Tel: 27.3752.4400 www.mpes.gov.br 1ª Promotoria de Justiça Cumulativa de Nova Venécia/ES EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA SEGUNDA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVA VENÉCIA- ES: Processo de nº 0000908-90.2013.8.08.0038 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, através de seu órgão de execução abaixo assinado, no uso de suas atribuições legais e constitucionais perante esta comarca, vem, perante V. Exa., oferecer alegações finais nos autos deste processo, na forma abaixo. Conforme se vê na peça acusatória de fls. 02/15, WILSON LUIZ VENTURIM, foi acusado como incurso nas sanções do artigo 1º, inciso II e III do Decreto-Lei de nº 201/67, na forma do art. 70 do Código Penal. Considerando o teor do Acordão constante de fls. 224/225, foi determinada a notificação prevista no art. 2º, I do Decreto-Lei de nº 201/67, nas fls. 235. Defesa nas fls. 331/350. Denúncia recebida, às fls. 511/511v. Instrução processual efetuada às fls. 634/643. Era o importante a relatar. Excelência, o processo transcorreu de acordo como os parâmetros legais dispostos no Código de Processo Penal, não havendo nulidades ou quaisquer máculas que impeçam o prosseguimento do feito. No mérito, toda razão assiste a acusação, sendo certo que o manancial probatório acostado aos autos está a demonstrar os fatos narrados na peça acusatória. Da instrução probatória, extrai-se que o acusado, efetivamente, praticou a conduta descrita na denúncia.

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1ª Promotoria de Justiça Cumulativa de Nova Venécia/ES

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

SEGUNDA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVA VENÉCIA-

ES:

Processo de nº 0000908-90.2013.8.08.0038

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO,

através de seu órgão de execução abaixo assinado, no uso de suas atribuições

legais e constitucionais perante esta comarca, vem, perante V. Exa., oferecer

alegações finais nos autos deste processo, na forma abaixo.

Conforme se vê na peça acusatória de fls. 02/15, WILSON LUIZ

VENTURIM, foi acusado como incurso nas sanções do artigo 1º, inciso II e

III do Decreto-Lei de nº 201/67, na forma do art. 70 do Código Penal.

Considerando o teor do Acordão constante de fls. 224/225, foi

determinada a notificação prevista no art. 2º, I do Decreto-Lei de nº 201/67,

nas fls. 235.

Defesa nas fls. 331/350.

Denúncia recebida, às fls. 511/511v.

Instrução processual efetuada às fls. 634/643.

Era o importante a relatar.

Excelência, o processo transcorreu de acordo como os parâmetros

legais dispostos no Código de Processo Penal, não havendo nulidades ou

quaisquer máculas que impeçam o prosseguimento do feito.

No mérito, toda razão assiste a acusação, sendo certo que o

manancial probatório acostado aos autos está a demonstrar os fatos narrados

na peça acusatória.

Da instrução probatória, extrai-se que o acusado, efetivamente,

praticou a conduta descrita na denúncia.

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A testemunha Denilson Mioto, ouvida na Promotoria de Justiça nas

fls. 33, relatou claramente que o calçamento nas ruas do loteamento Fausto

Cremasco – em frente à casa do então prefeito municipal, ora réu, e de outros

moradores, foi feito pelo Município de Nova Venécia/ES, não se recordando

se foram funcionário do município que executaram a obra. Infelizmente, esta

testemunha não pode ser ouvida em juízo, pois veio a óbito.

A testemunha Odete Soares dos Reis – ouvida na Promotoria de

Justiça nas fls. 34 e em juízo nas fls. 637 – disse que exercia o cargo de

Auxiliar de Obras no Município de Nova Venécia/ES. No depoimento da fase

investigativa, a testemunha disse que viu servidores do Município trabalhando

nas ruas do loteamento em questão, mas não sabe informar se era fazendo

calçamento ou esgoto. Já em juízo, a testemunha acrescentou que trabalhou

nas execução das obras de calçamento da frente da casa do Sr. Fausto

Cremasco até a antiga residência do Réu. No entanto disse que a rua em frente

da porta da antiga residência do réu não foi nem a testemunha e nem sua

equipe que executaram a obra.

A testemunha Pedro Tartaglia Neto – ouvida na Promotoria de

Justiça nas fls. 35 e em juízo nas fls. 635 – deixa claro que em frente às

residências de “Nerim”, Ormindo Boldrini (por sinal, únicas casas do local) e

a antiga residência do réu há calçamento com drenagem pluvial, esgotamento

sanitário e água da Cesan e que ele chegou a acompanhar as obras e medições

das calçadas. Disse também que não se recorda de participação da iniciativa

privada no pagamento da obra.

A testemunha Ormindo Boldrini – ouvida em juízo nas fls. 636 –

disse que quando foi morar no local em 2010 não havia calçamento e esta

obra foi feita quando o réu era prefeito municipal. Não soube informar se o

loteador efetuou algum pagamento para a realização das obras. Esta mesma

testemunha, quando ouvida no processo de nº 038.12.000103-7 (documento

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em anexo), foi coerente com seu depoimento nos presentes autos. Tanto no

depoimento do processo de nº 038.12.000103-7 como na informação de fls.

37, esta testemunha deixa claro que não contribuiu com nenhum recurso

financeiro para a construção do calçamento.

A testemunha Fausto Afonso Cremasco – ouvida em juízo nas fls.

638 – é o dono do loteamento ilegal e já foi condenado por isso no processo

criminal de nº 038.12.000103-7 (sentença em anexo) disse que na gestão do

réu na frente do Executivo Municipal, o calçamento entre sua residência e o

final da rua do lado oposto a sua residência foram calçados. Declarou que

esses pontos foram calçados por servidores da prefeitura, no entanto os

calçamentos da Avenida Itueta e da rua que cerca a residência da também

testemunha Ormindo Boldrini foram custeados por ele, Fausto Cremasco, e

pelo possuidor do respectivo imóvel. Em relação a residência da testemunha

Ormindo Boldrini, a testemunha reafirmou que ajudou a pagar os valores

gastos com o calçamento não sabendo detalhes sobre a contratação de pessoal.

Quem ficou responsável pela contratação das pessoas para executar a obra

nestas áreas teria sido o réu, pois a testemunha cuidava de seus afazeres e não

tinha tempo para isso.

Já aqui, percebe-se as incongruências nas informações, já que a

testemunha Ormindo é firme em declarar que não pagou nada pelo

calçamento, sendo que o dono do loteamento asseverou que teria ele

contribuído sim.

As testemunhas Silvani Alves dos Santos (fls. 630), Claudioney

Jacinto da Mota (fls. 640) e Roseli da Silva (fls. 641) todas falam dos

problemas que haviam antes de ser calçada a rua São Geraldo e nada falaram

das ruas adjacentes. Afirmaram que a obra foi executada por servidores do

Município na época da gestão do réu à frente do Executivo Municipal.

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Como dito pela testemunha Silvani (fls. 639), antes da última

administração do réu, só havia calçamento até a residência do Sr. Tadeu

Colombi. Foi o réu quem, por intermédio de servidores do Município, na

época que era chefe do Executivo Municipal que executou a obra de

calçamento entre a casa do Sr. Tadeu Colombi e a casa da testemunha Fausto

Cremasco.

Importante salientar onde as testemunhas Silvani Alves dos Santos,

Claudioney Jacinto da Mota e Roseli da Silva moram, já que a rua São

Geraldo é de grande extensão e tem sua maior parte dentro do loteamento

cujo proprietário é a testemunha Fausto Cremasco.

Silvani Alves dos Santos e Claudioney Jacinto da Mota, que são

policiais militares, moram sim na rua São Geraldo. No entanto, conforme foto

abaixo, suas casas estão situadas no início da rua São Geraldo, no extremo

oposto da residência da testemunha Fausto Cremasco.

Nada mais plausível que estas pessoas quisessem o calçamento para

sua rua. Contudo, de acordo com foto abaixo, foi executada a obra com um

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padrão de calçamento para parte da rua onde estão situadas as residências de

tais pessoas e outro padrão - inclusive superior – para o restante da rua.

Fonte: Google Earth, Fev. 2012

Fonte: Google Earth, Fev. 2012

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Já a testemunha Roseli Moraes da Silva reside, em verdade, na Rua

Irani, nº 464, conforme as fotos abaixo:

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Os fundos da casa da testemunha Roseli é que estão na rua São

Geraldo, em frente da residência da testemunha Fausto Afonso Cremasco.

Nessa parte, a rua já era calçada. Assim, a obra executada, objeto do presente

processo, não trouxe nenhum benefício para esta testemunha.

Mapa de localização do referido local:

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Na verdade, a obra só trouxe benefício para o imóvel onde morava

o réu, os vizinhos da referida residência (Ormindo Boldrini e Nereu Guzzo

Filho) e, principalmente, para o loteador, a testemunha Fausto Afonso

Cremasco, visto que não havia moradores no trecho já mencionado, conforme

as fotos abaixo:

Fonte: Google Earth, Fev. 2012

Fonte: Google Earth, Fev. 2012

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Fonte: Google Earth, Fev. 2012

Fonte: Google Earth, Fev. 2012

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Fonte: Google Earth, Fev. 2012

Pelo que se percebe da instrução, a tese da defesa tenta basear seus

argumentos em algumas vertentes. A primeira é a de que a rua São Geraldo

não faz parte do loteamento. A segunda é que o calçamento foi um pedido dos

moradores e que, por isso, só por isso, o réu, no exercício do mandato de

Prefeito de Nova Venécia/ES, atendeu aos anseios dos moradores e executou

a obra do calçamento. A terceira é que o calçamento das ruas adjacentes à rua

São Geraldo foram pagos pelos moradores, ou seja, o réu, Wilson Luiz

Venturim, a testemunha Ormindo Boldrine Filho e Nereu Guzzo Filho, com

ajuda do loteador, a testemunha Fausto Afonso Cremasco.

A primeira tese não tem razão de ser. A rua São Geraldo faz parte

do loteamento sim. Isso pode ser facilmente comprovado pela planta do

loteamento (Anexo I). Além disso, os moradores que foram arrolados como

testemunhas pela defesa, Silvani Alves dos Santos e Claudioney Jacinto da

Mota, são moradores do início da rua (fotos das casas acima), tendo seus

imóveis situados no extremo oposto da residência da testemunha Fausto

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Afonso Cremasco e outra testemunha, Roseli Moraes da Silva, nem na rua

São Geraldo mora, conforme dados cadastrais extraídos do Sistema de

Informações Eleitorais – SIEL (Anexo II). Entre esses dois extremos, os

moradores seriam somente o réu, a testemunha Ormindo Boldrini e Nereu

Guzzo Filho que, na verdade não despenderam qualquer contribuição

monetária para a execução da obra de calçamento das ruas do loteamento.

Esta obra ficou toda as expensas do erário, a mando do réu.

Além disso, confirmando ainda mais que a rua faz parte do

loteamento, os imóveis beneficiados são parte integrante do referido

empreendimento que, apesar de ilegal, foi iniciado ao arrepio da lei, com

venda de alguns lotes.

A ilegalidade do loteamento era de conhecimento do réu, pois ele

mesmo junta do documento de fls. 404, oriundo do setor de tributação do

município de Nova Venécia/ES, onde consta que o loteamento Jardim Ângela

não estava legalizado. Tanto é que o loteador foi condenado pela prática de

crime.

A segunda tese não tem razão de ser também. O réu juntou a

documentação de fls. 412/413v onde consta um abaixo assinado com nomes

de pessoas e apenas com alguma delas tem identificação. E, na tentativa de

induzir esse MM Juízo a erro, quer deixar entender que todas as pessoas que

assinaram moram na Rua São Geraldo.

Tal fato não é verdade.

Os documentos agora acostados (Anexo III) confirmam que poucas

pessoas residiam e ainda residem naquela rua. Ademais, de todas as

assinaturas com a identificação do número do Cadastro de Pessoas Físicas,

apenas quatro são residentes na Rua São Geraldo.

Inclusive, o próprio réu, no processo de nº 038.12.000103-7,

quando era testemunha na ação penal sobre o loteamento clandestino, afirmou

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que não conhecia a totalidade das obras do loteamento e só conhecia na rua a

sua então residência, a de Nereo Guzzo e a de Ormindo.

Além disso, em Nova Venécia/ES, há outras ruas em que não há

saneamento básico, nem calçamento. De acordo com a lei da necessidade,

poder-se-ia enumerar outros bairros que são extremamente mais populosos e,

no entanto, durante todas as gestões do réu, na qualidade de prefeito, desde a

primeira delas, nunca houve obra de calçamento. Por amostragem, podemos

exemplificar o bairro Aeroporto, que não possui calçamento e muito menos

sistema de esgotamento sanitário.

Neste bairro a população é astronomicamente maior do que a

residente na região da rua São Geraldo. Com certeza a população do bairro

Aeroporto também exigiu perante a Municipalidade o calçamento de suas ruas

e nem por isso teve seus pleitos atendidos. O bairro Aeroporto, usado como

exemplo, tem população de 2.043 (dois mil e quarenta e dois) habitantes, de

acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde (Anexo IV).

Conforme as fotografias abaixo, o bairro Aeroporto não tem sequer

UMA, rua calçada. Todas as vias desse bairro, inclusive a principal, que

recebe até mesmo o fluxo de ônibus escolares, é constituída de estrada de

chão.

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Fonte: Google Earth, Fev. 2012

O programa do site Google Mapas nem consegue adentrar na rua,

razão pela qual, por este programa só foi conseguido a foto do início da

Avenida principal do bairro Aeroporto, Avenida Virgílio Altoé, sendo que as

outras foram tiradas no local no dia 16 de junho de 2016.

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A terceira tese, de que o calçamento das ruas adjacentes à rua São

Geraldo foram pagos pelos moradores, auxiliados por Fausto Cremasco,

também não tem sustentação nem pela prova dos autos e nem pela máxima da

experiência.

O primeiro fato que mostra a inverdade dessa versão é que um dos

beneficiários do calçamento, Ormindo Boldrini – o único que não responde e

nem respondeu processo criminal por ilegalidades no loteamento – deixou

claro que não contribuiu com quaisquer despesas para o calçamento das ruas,

nem a principal nem tampouco as ruas adjacentes. Foi firme e coerente por

diversas vezes e em processos diferentes, a fazer esta declaração, seja por

escrito ou em audiência.

No documento de fls. 38, o réu afirma que custeou 50% (cinquenta

por cento) da rua lateral de sua residência, sendo a outra metade custeada pelo

loteador, Fausto Cremasco.

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Já Fausto Cremasco, tanto no documento de fls. 39/40, quando em

seu depoimento em juízo, declara que pagou uma parte do calçamento sendo a

outra parte paga pelos moradores, no caso, o réu e Ormindo Boldrini. Esta

testemunha ainda afirma em seu depoimento em juízo (fls. 638) que o réu,

Wilson Luiz Venturim, teria ficado responsável pela contratação das pessoas

na referida área. No entanto, teria sido ele, Fausto Cremasco, que, por ter uma

parceria com a empresa Prebom, e por isso ajudou no calçamento.

As inconsistências dessa versão são notórias.

Não há razão para a testemunha Ormindo Boldrini esquecer que

havia pagado pelo calçamento da rua onde reside, visto que em nenhum

momento falou sobre isso. E, além disso, esta testemunha afirmou em duas

oportunidades, tanto por escrito, como na audiência (processo de nº

038.12.000103-7) que não pagou nada pelas obras de calçamento. Se ele não

declarou a sua contribuição nas obras é por um único motivo, ele não pagou

nada! Tudo foi feito com dinheiro público, máquinas e com servidores do

município de Nova Venécia/ES.

Outra inconsistência que se encontra patente incide no modo em

que teria havido o suposto pagamento do material para o já referido

calçamento.

A testemunha Fausto Afonso Cremasco declarou em audiência

deste processo que ele, na época, teria uma parceria com a empresa chamada

Prebon e que, por isso, foi fornecido o material para execução da obra nas

áreas adjacentes às residências do Sr. Ormindo Boldrini e do réu. Ocorre que

de acordo com a informação e a nota fiscal (Anexo V), a empresa Prebon

declarou que o calçamento teria sido pago pelo réu, Wilson Luiz Venturim, e

não pela testemunha Fausto Afonso Cremasco. Isso ocorreu porque quem

efetuou toda a obra foi o Município, na época em que o réu era o chefe do

Executivo.

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Além do mais, nada mais natural que, se houve a contratação

particular pelo réu e pela testemunha Ormindo Boldrini para executar o

calçamento das áreas mencionadas, a defesa, durante a instrução, teria trazido

como testemunhas esses trabalhadores contratados para fazer a referida obra

ou, ao menos, o empreiteiro contratado.

Saliente-se também que, de acordo com os depoimentos prestados

no processo de nº 038.12.000103-7 (Anexo VI), tanto a testemunha Ormindo

Boldrini como a testemunha, esta ouvida apenas no referido processo, Nereo

Guzzo Filho afirmam que não contribuíram em nada e quem fez todo o

calçamento foi o réu.

Isso não foi feito porque quem efetuou a obra foram os servidores

do Município de Nova Venécia/ES por ordem do réu, no exercício do cargo

de prefeito.

Outro fato que corrobora a tese do Ministério Público de que o réu

usou recursos, máquinas e servidores públicos para executar a obra em

benefício próprio e do loteador, o Sr. Fausto Afonso Cremasco, é o padrão de

qualidade do calçamento. Através da foto na inicial e das fotos que constam

nesta peça, pode se perceber que há até canteiro central, sendo que, no local

onde há o referido canteiro, não moram as testemunhas arroladas pela defesa.

Inclusive, a única rua transversal à rua São Geraldo que possui canteiro

central é justamente a rua da antiga residência do réu, onde somente ele

residia.

Assim, restou claro na instrução que o quanto narrado na denúncia

foi o que ocorreu, a saber:

1. A rua São Geraldo faz parte sim do loteamento irregular;

2. O local onde foi efetuada a melhor parte do calçamento

beneficiou diretamente o réu e a residência da testemunha

Ormindo Boldrini e, indiretamente, o proprietário do

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loteamento irregular, a também testemunha Fausto Afonso

Cremasco, visto que valorizou o loteamento;

3. Há poucas pessoas residindo na rua São Geraldo, tanto é que

duas das testemunhas arroladas pela defesa residem nas

extremidades da rua e a outra, nem na rua São Geraldo

reside;

4. Não houve pagamento pela execução das obras, nem pelo

réu, nem pelo loteador e nem por qualquer outra pessoa,

sendo tudo pago com dinheiro público e executado por

servidores públicos municipais.

Diante do exposto, restou claro que o réu, WILSON LUIZ

VENTURIM, teve a vontade livre e consciente de se utilizar, indevidamente,

em proveito próprio e alheio – beneficiando o loteador irregular Fausto

Cremasco e os moradores deste loteamento, Ormindo Boldrini e Nereu Guzzo

Filho – de bens (máquinas e materiais para executar a obra de calçamento) e

serviços públicos (uso de servidores públicos na execução da obra).

Ademais, o réu também teve a vontade livre e consciente de se

utilizar, aplicar, indevidamente, verbas públicas. Isso ocorreu porque, apesar

de haver poucos moradores no loteamento irregular e as normas pertinentes

determinarem que a execução de obras de calçamento fique a cargo do

loteador1, o réu, exercendo o cargo de prefeito municipal, determinou a

1 Art. 18, V da Lei de nº 6.766/79:

Art. 18.

(…)

V - cópia do ato de aprovação do loteamento e comprovante do termo de verificação pela Prefeitura

Municipal ou pelo Distrito Federal, da execução das obras exigidas por legislação municipal, que incluirão,

no mínimo, a execução das vias de circulação do loteamento, demarcação dos lotes, quadras e logradouros e

das obras de escoamento das águas pluviais ou da aprovação de um cronograma, com a duração máxima de

quatro anos, acompanhado de competente instrumento de garantia para a execução das obras;

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aplicação de verbas para a referida obra em frontal desobediência das normas

legais.

DO DANO EXTRAPATRIMONIAL

O réu, na época dos fatos, era Prefeito de Nova Venécia. Exercendo

tal cargo, representando o povo, a transparência em suas ações e a lealdade

para com o cargo devem ser um norte.

O Estado, para exercer as funções que a Constituição Federal

determina, precisa ter credibilidade. É unanime entre os doutrinadores que

casos de corrupção minam essa credibilidade do Estado e, a longo prazo,

fazem com que o povo não mais confie em seus representantes. Essa

desconfiança gera falta de legitimidade das decisões públicas, retirando a

qualidade da democracia.2

Ademais, o réu exercia na época dos fatos o cargo de Prefeito

Municipal de Nova Venécia/ES. Ele era na época dos fatos um representante

do povo veneciano. A pessoa em quem a população depositou sua confiança

para conduzir seus destinos por quatro anos. Como todo poder emana do povo

que o exerce por meio de seus representantes3, neste caso o réu, a conduta por

este perpetrada nada mais é que uma TRAIÇÃO, é um crime de lesa a pátria.

Por estarmos acostumados a ver o mundo com os olhos, a

percepção dos casos de corrupção não é fácil. Um homicídio, um roubo, um

estupro é muito mais sensível à percepção pública que casos de corrupção ou

2 ROTHSTEIN, Bo. The quality of government: Corruption, social trust, and inequality in international

perspective. University of Chicago Press, 2011. 3 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se

em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta

Constituição.

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de colarinho branco, já que a corrupção é o colarinho branco

institucionalizado. Mas isso tem uma explicação na psicologia evolutiva.

Importante trecho sobre a percepção pública do ato corrupto e do

crime de colarinho branco:

"Os crimes de colarinho branco são o produto de um

ambiente tecnológico que não têm um análogo em nosso

passado evolutivo e, portanto, a percepção desses crimes não

apresenta um estímulo social que seria facilmente obtido no

nosso aparelho psicológico cognitivo".4 (Tradução livre)

Esses valores sociais e constitucionais que são violados com os atos

ímprobos e criminosos praticados por políticos, por não terem fácil percepção,

por violarem direitos difusos, passam muitas vezes despercebidos pelos

operadores do direito. No entanto, não se pode lavar as mãos na bacia de

Pilatos e ser omisso com tais fatos.

Pelo só fato da perda da confiança e da credibilidade das

instituições, o dano moral exsurge. Vejamos o que diz a jurisprudência em

relação ao dano moral coletivo:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

PARA COIBIR A PRÁTICA RECORRENTE DE POLUIÇÃO

SONORA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE

RECONHECIDA. DANO MORAL COLETIVA. POLUIÇÃO

SONORA. OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. REDUÇÃO DA

INDENIZAÇÃO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.

INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso Especial

decorrente de ação civil pública em que se discute danos morais

coletivos decorrentes de poluição sonora e irregularidade

4 Van Winden, F., and A. Ash. 2009. “On the Behavioral Economics of Crime.” Paper prepared for the workshop “Beyond the

Economics of Crime,” Heidelberg, March 19–21, 2009.

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urbanística provocadas por funcionamento dos condensadores e

geradores colocados no fundo do estabelecimento das condenadas.

2. Tratando-se de poluição sonora, e não de simples incômodo

restrito aos lindeiros de parede, a atuação do Ministério Público

não se dirige à tutela de direitos individuais de vizinhança, na

acepção civilística tradicional, e, sim, à defesa do meio ambiente,

da saúde e da tranqüilidade pública, bens de natureza difusa. O

ministério público possui legitimidade para propor ação civil

pública com o fito de prevenir ou cessar qualquer tipo de poluição,

inclusive sonora, bem como buscar a reparação pelos danos dela

decorrentes. Nesse sentido: RESP 1.051.306/MG, Rel. Ministro

Castro Meira, Rel. P/ acórdão ministro Herman Benjamin,

segunda turma, julgado em 16/10/2008, dje 10/09/2010. 3.

"tratando-se de poluição sonora, e não de simples incômodo

restrito aos lindeiros de parede, a atuação do ministério público

não se dirige à tutela de direitos individuais de vizinhança, na

acepção civilística tradicional, e, sim, à defesa do meio ambiente,

da saúde e da tranqüilidade pública, bens de natureza difusa"

(REsp 1.051.306/MG, Rel. Ministro castro meira, Rel. P/ acórdão

Ministro Herman Benjamin, segunda turma, julgado em

16/10/2008, dje 10/09/2010.). 4. "o dano moral coletivo, assim

entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica

ou não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de

prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto

síntese das individualidades percebidas como segmento,

derivado de uma mesma relação jurídica-base. (...)

o dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de

dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de

apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses

difusos e coletivos ". Nesse sentido: RESP 1.410.698/MG, Rel.

Ministro Humberto Martins, segunda turma, julgado em

23/06/2015, dje 30/06/2015; RESP 1.057.274/RS, Rel. Ministra

Eliana Calmon, segunda turma, julgado em 01/12/2009, dje

26/02/2010. 5. A corte local, ao fixar o valor indenizatório em R$

50.000,00 (cinquenta mil reais), o fez com base na análise

aprofundada da prova constante dos autos. A pretensão da ora

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agravante não se limita à revaloração da prova apreciada do aresto

estadual, mas, sim, ao seu revolvimento por este tribunal superior,

o que é inviável. Incidência da Súmula nº 7 do Superior Tribunal

de justiça. Nesse sentido: AgRg no AREsp 430.850/SP, Rel.

Ministro herman benjamin, segunda turma, dje 07/03/2014.

Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-AREsp 737.887; Proc.

2015/0161381-8; SE; Segunda Turma; Rel. Min. Humberto Martins;

DJE 14/09/2015)

O dano transindividual, no caso em tela, atingiu uma classe

específica, qual seja, os cidadãos de Nova Venécia/ES. A comprovação do

prejuízo à imagem e à moral coletiva está inerente à conduta, visto que frustra

e lesiona a credibilidade da Administração Pública perante os administrados,

prejudicando a imagem da desta e a qualidade da democracia. Mudando o que

se deve mudar, os fatos descritos nos autos, é um crime de lesa a pátria e pode

ser considerado de alta traição dos que legitimaram o réu para exercer o cargo

que ocupava e ocupa até hoje.

Deve-se levar em conta a localização do bairro onde foi feito o

calçamento. Conforme pode ser visto nas fotos da inicial, o local pode ser

visto por quase toda cidade, uma vez que Nova Venécia/ES é situada no vale

do Rio Cricaré e o calçamento é bem no alto. Com isso, o crime praticado

pelo réu está em todo momento na mente e na visão da população. Assim

como há no Rio de Janeiro/RJ, o Pão de Açucar, monumento natural e o a

estátua do Cristo Redentor, monumento produzido pelo homem; em Nova

Venécia/ES, temos a Pedra do Elefante, monumento natural, e o calçamento

objeto desse processo, monumento produzido pelo homem. A diferença é que

nesta cidade, o monumento pode se tornar um símbolo, positivo ou negativo.

Será um símbolo negativo, caso haja uma absolvição, malgrado a

quantidade de prova produzida neste processo, visto que se tornará um

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monumento a impunidade e mandará a comunicação para todo o povo de que

a corrupção vale a pena.

Entretanto, será um símbolo positivo com a condenação. Será um

símbolo da Justiça, será um símbolo de um novo tempo, será a confirmação

de que o crime não compensa e de que a população pode confiar nas

instituições de persecução criminal para combater esse tipo de conduta que

tanto mal traz.

A doutrina pátria tem se esforçado para definir adequadamente o

dano moral coletivo. Neste aspecto o jurista Carlos Alberto Bittar Filho

procurou defini-lo afirmando ser:

"... a injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade, ou

seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de valores

coletivos". (in Do dano moral coletivo no atual contexto jurídico

brasileiro, Revista de Direito do Consumidor, v.. 12, p. 55.)

Após, continuando a definição:

"Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção

ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade

(maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira

absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso

dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, em seu

aspecto imaterial". (in Do dano moral coletivo no atual contexto

jurídico brasileiro, Revista de Direito do Consumidor, v.. 12, p.

55.)

Ressalte-se mais uma vez que a residência onde residia o réu na

época em que a obra executada fica em local de destaque, de forma que pode

ser vista de vários pontos da cidade. Assim, fazer uma obra de calçamento em

local de destaque, com recursos e servidores público, acabou sendo uma

exaltação à corrupção e, caso não seja tomada uma medida dura por parte das

instituições de persecução criminal, uma ODE À IMPUNIDADE!

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O princípio da razoabilidade e da proporcionalidade são vetores

para a fixação do quantum que deve ser condenado o réu em dano moral

coletivo.

O valor a ser arbitrado deve ser necessário e suficiente para coibir o

abuso e incentivar o réu a cumprir os seus deveres anexos, quais sejam, dever

de lealdade, de informação, de boa-fé objetiva, de confiança e respeito com os

cidadãos venecianos.

Enfim, o quantum indenizatório deve ter o caráter punitivo, mas

também pedagógico para que o impacto social da decisão sirva de exemplo.

DA DOSIMETRIA DA PENA

A dosimetria da pena deve ser feita de forma que haja a necessária e

suficiente reprovação do crime. Não nos esqueçamos que a comarca possui

vários processos por prática de crimes contra administração pública e de

improbidade administrativa, ou seja, atos de corrupção, o que deve ser levado

em conta pelo Juízo na apreciação do art. 59 do CP.

No caso dos autos, para a primeira fase do sistema trifásico, deve

ser registrado que a culpabilidade do réu se mostra de alta reprovabilidade, já

que, exercendo o cargo de Prefeito Municipal, mesmo sabendo que o

loteamento era irregular e que havia poucos moradores, determinou a

execução da obra com recursos e servidores do Município de Nova

Venécia/ES.

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O réu tem maus antecedentes, visto o que consta nas fls. 53/74, em

que há notícias de várias ações a que responde, inclusive com condenação.

A conduta social do réu é reprovável e há provas disso nos autos,

visto que, mesmo sabendo que havia a restrição de seu imóvel, vendeu o

mesmo para terceiro. Tanto é que este fato ensejou o sequestro do referido

imóvel, conforme autos em apenso. Além de ser uma tentativa de fugir à

aplicação da lei, casou prejuízo a terceiros.

A personalidade do agente é voltada para a prática de atos

ímprobos, visto que, de acordo com documentos já acostados nos autos, há

uma tendência inerente a sua personalidade para a prática de tais atos.

As circunstâncias do crime são negativas, em razão do desdém pela

coisa pública e da forte inclinação em beneficiar a si em detrimento do povo

que mais precisava, uma vez que preferiu executar a obra no local em que não

havia tantos moradores, mesmo havendo bairros mais carentes.

As consequências do crime também são negativas, pois, como o réu

era Prefeito Municipal, fez com que a credibilidade da Administração fosse

lesionada frontalmente, já que o cargo mais alto do Poder Executivo

municipal, ao invés de zelar pelo patrimônio público a favor do povo, praticou

atos passando bem longe do interesse público.

Em razão da valoração negativa de seis circunstâncias judiciais, a

pena deve ser de 9 (ano) ano e 6 (seis) meses de reclusão.

Assim, para o crime previsto no art. 1º, II do Decreto Lei de nº

201/67, a pena necessária e suficiente para a reprovação do crime deve ser de

9 (ano) anos e 6 (seis) meses de reclusão.

À mingua de circunstâncias atenuantes e agravantes e de causas de

diminuição e de aumento, deve a mesma permanecer neste patamar.

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Em relação ao crime previsto no art. 1º, II do Decreto Lei de nº

201/67, em razão de ser possível aplicar a mesma regra da dosimetria,

valoração negativa de seis circunstâncias judiciais, a pena deve ser de 02

(dois) anos e 07 (sete) meses de detenção.

À mingua de circunstâncias atenuantes e agravantes e de causas de

diminuição e de aumento, deve a mesma permanecer neste patamar.

Em sendo aplicável a regra do art. 70 do Código Penal, a pena deve

ser aumentada de um quinto, totalizando 10 (dez) anos e 06 (seis) meses de

reclusão.

De acordo com o art., 33, §3° do Código Penal, o réu deverá iniciar

o cumprimento da pena em REGIME FECHADO, pois há valoração

negativa de SEIS circunstâncias judiciais.

Diante do exposto, este Órgão de Execução do Ministério Público

do Estado do Espírito Santo, PUGNA pela CONDENAÇÃO, do acusado

WILSON LUIZ VENTURIM, como incurso nas sanções do artigo 1º, 1º,

inciso II e III do Decreto-Lei de nº 201/67, na forma do art. 70 do Código

Penal, com pena de 10 (dez) anos e 06 (seis) meses de reclusão, em

regime fechado.

Requer que seja o réu condenado na restituição do valor gasto no

montante de R$ 282.191,86 (duzentos e oitenta e dois mil reais e oitenta e seis

centavos), corrigidos com juros e correção monetárias, nos termos da lei.

Outrossim, requer o Ministério Público, de acordo com o art. 387,

IV do Código de Processo Penal, a fixação de valor mínimo de dano moral

coletivo no montante de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

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Por fim, pugna pelo perdimento do imóvel objeto da restrição

judicial deste processo, em favor do Município de Nova Venécia/ES, com

forma de ressarcimento dos danos causados ao patrimônio público.

Junta-se os seguintes documentos:

Anexo I – Planta do loteamento;

Anexo II – Residência de Roseli Moraes da Silva;

Anexo III – Comprovante de residências das pessoas identificadas no abaixo

assinado;

Anexo IV – número de habitantes do bairro Aeroporto;

Anexo V – Nota fiscal da Prebon;

Anexo VI – Depoimentos e sentença condenatória do processo

038.12.000103-7.

Nova Venécia/ES, 07 de julho de 2016.