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O Mistério do Sobrado (psicografia Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - espírito Antonio Carlos)

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Romance do Espírito

Antonio CarlosPsicografia da médiumVera Lúcia Marinzeck De Carvalho

editoraRua Atuaí, 383 - Vila Esperança/PenhaCEP 03646-000 - São Paulo - S PFone: (0XX 11) 6684-6000Endereço para correspondência:Caixa Postal 67545 - Ag. Almeida Lima

03102-970 - São Paulo - [email protected]

Psicografados Pela médiun

Outros livros psicografados pela médium VeraLúcia Marinzeck de Carvalho:Com o espírito Antônio Carlos

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- Reconciliação- Cativos e Libertos - Coposque Andam - Filho Adotivo -

Reparando Erros- A Mansão da Pedra Torta - Palcodas Encarnações - Aconteceu- Muitos são os Chamados - O Talismã

Maldito - Aqueles queAmam- O Diário de Luizinho (infantil) Novamente Juntos -

A Casa do Penhasco

Com o espírito Patrícia- Violetas na Janela- Vivendo no Mundo dos Espíritos - A

Casa do Escritor - O Vôo da GaivotaCom o espírito Rosângela- Nós, os Jovens- A Aventura de Rafael (infantil)- Aborrecente, não. Sou Adolescente! -O Sonho de Patricia (infantil) - Ser ou nãoser Adulto

Com o espírito Jussara -Cabocla Com espíritosdiversos- Valeu a Pena!- Perante a Eternidade- Deficiente Mental: Por que Fui Um?Livros em outros idiomas- Violetas en La Ventana

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- Violets by my Window- Viviendo en el Mundo de los Espíritus -Reconciliación

- Deficiente Mental: i,Por que Fui Uno?

São muitos os desencarnados que me procurampara contar sua história, e por essas narrativas tenhofeito os livros. Agradeço a eles e lhes dedico estaobra. Um agradecimento especial a minha amigaMary, que narrou esta.

Antônio CarlosPrimeiros meses de 2001.

1 - Os Desaparecidos 92 - O Crime do Sobrado 183 - No Umbral 27

4 - Suellen e Eleocácio 375 - Benedito e Maria Gorete 466 - Ademir e Ai-mando 577 - Zefa 678 - Delegado Cássio 769 - O Ex-Escravo 8 610 - Os Planos 9711 -Mary 109

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12 - Orientando 11813 - Caminhando 129

Iva estava inquieta; sentada no sofá de sua saladeestar, tentava se concentrar na leitura de uma revista.

"Onde será que está Eleocácio até esta hora? Seráque está comela? Como será essa mulher? Jovem? Bonita? Nãodevo pensar nissonem me atormentar com ciúmes. Mas ele nunca seatrasou assim. Teráacontecido alguma coisa?"Nisso o filho chegou e Iva foi logo dizendo:

- Seu pai ainda não chegou, não costuma se atrasarassim, me

disse que ia estar em casa as vinte horas e já são vintee duas horas edez minutos.

- Talvez ele tenha ficado no fórum - respondeu omoçocalmamente.

- Você sabe que a esta hora está fechado. Estou

preocupada. Aprofissão do seu pai faz com que ele tenha inimigos eele nunca atrasou semavisar.

- Por que a senhora não telefona para o fórum, paraos colegasdele? - opinou o filho, despreocupado.

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  E foi isso que Iva fez, por dez minutos telefonoupara várias pessoase ninguém sabia do juiz Eleocácio.

Nisso a filha chegou, era uma moça bonita. Fora auma festa; ao vera mãe preocupada lhe indagou e, quando ficousabendo que o pai aindanão havia chegado, começou a chorar, deixando amãe mais aflitaainda.

-Mamãe, será que aconteceu algo ruim com papai?Estou lembrando do sonho que tive com ele nasemana passada em que ovi

morto numa poça de sangue. Contei a ele, que riu eme disse quesonhar com uma pessoa morrendo é saúde para ela.Fiquei impressionada,mas esqueci, agora estou lembrando e até me

arrepio. Será queaconteceu algo com papai?

- Vocês não devem pensar no pior - disse o rapaz. -Daqui apouco ele chega.

- Papai nunca se atrasa sem avisar-falou a mocinha.- Temos quetomar uma providência.

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  - Por favor, meu filho, vá à Delegacia, às vezesocorreu umacidente, um assalto, procure saber dele e dê queixa

de seu desaparecimento pediu Iva.- Será preciso mesmo mamãe?-perguntou o moço.

Vendo a mãe e a irmã preocupadas, resolveu ir.Chegando àDelegacia, ficou indeciso, identificou-se e falou aodelegado:

- Minha mãe está preocupada, meu pai não voltoupara casa, ele épontual e não se atrasa nunca. Ele disse que ia chegaràs vinte horas eainda não voltou. Pensamos num acidente, que ele sesentiu mal...

- Não ocorreu nenhum acidente - respondeu o

delegado Cássio. -Hoje é sexta-feira, talvez ele tenha ficadoconversando com amigos, tenhaido a algum lugar e se esquecido de avisar.

- Minha mãe já telefonou para todos os amigosdele, e disseram queele foi embora no horário de costume e que parecia

normal.- Vamos dar uma procurada, embora sejam poucas

horas para oconsiderar desaparecido. Não se preocupe; se elevoltar nos avise, e sesoubermos dele lhe darei notícias.O filho do juiz saiu e um investigador comentou:

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  - Esse juiz Eleocácio é mulherengo, está sempreenvolvido comamantes. Atualmente tem saído com uma moça

muito bonita, talvezesteja com ela.- Sabe o nome e o endereço dessa moça? - indagou odelegado. Chama-se Suellen e sei onde mora-respondeu o investigador.-Vamos lá, se encontrarmos o juiz, pediremos para eletelefonarpara a família-falou o delegado.Suellen morava num conjunto habitacional, numapartamento pequeno. Bateram na porta e a vizinha foi ver,estranhou ser da Polícia. -

Procuramos por Suellen - disse o delegado. - Sabe seela estáem casa?

- Não está, saiu toda arrumada. Mas por que aprocuram, ela fezalguma coisa?-perguntou a vizinha, assustada.

- Não, senhora, ela não fez nada de errado -respondeu o delegado

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  Iva passou a noite em claro e nada de notícias. Nosábado àtarde falou tanto que o filho voltou à Delegacia. O

delegado Cássio oatendeu.

- Sr. delegado, por favor, estamos preocupadoscom meu pai, ele é juiz e vocês precisam tomar providências. Não nosdeu atenção nemnotícias.

- Não é descaso nosso. Investigamos ontem à noitee não o encontramos. Devo lhe dizer que seu pai temuma amante e queesta não foiencontrada. Tudo indica que se ausentaram juntos -respondeu o

delegado.-O senhor acha que os dois estão juntos? Viajaram?-perguntou omoço, envergonhado.

- É o que concluímos. O juiz estava de carro, estenão foi encontrado ou visto, não ocorreu acidente,assalto, nada que

pudesse nospreocupar. Sinto dizer, mas seu pai deve ter idopassear com a amante enão avisou.

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O moço se encabulou, despediu-se com um aceno

de cabeça evoltou para casa. Chegou, sentou-se ao lado da mãe edisse:

- Na Delegacia eles acham que papai viajou. Sintolhe dizer isto,mamãe, mas eles concluíram que ele foi a algumlugar com a amante, poisela também se ausentou, desapareceu. Não acharamo carro do papaiem lugar nenhum da cidade.

- Sei que ele está saindo com uma mulher. Sempreme traiu -falou Iva, suspirando. - Sou uma boba em ficar

preocupada com ele.Mas não creio que ele tenha feito isso, viajado.Eleocácio sabe que eu soupreocupada e ele tem um nome a zelar.

- Mamãe, acho que não foi prudente eu ter ido àDelegacia. Papaiestará aqui na segunda-feira, pedirá desculpas e

pronto, tudo ficarábem de novo. Isso se ele não resolveu nos abandonarpara ficar comaquela mulher.- Você a conhece? - perguntou Iva.

- Não. E nem quero. Vamos aguardar, e não querovê-la maispreocupada. Ele não merece - falou o filho.

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  -Não merece, mas estou. Sinto que algo ruimaconteceu. Mas voutentar fazer o que me pede, vamos aguardar as

notícias com calma.A filha escutou tudo e falou, sentida:

- Sei, mamãe, que papai não é bom esposo, não seipor que ele ageassim e a trai. Eu o amo tanto, é bom pai. E a senhoratem razão emficar preocupada, mas acho que o delegado e meuirmão estão certos,ele deve estar tão envolvido com essa mulher que foicom ela a algumlugar e se esqueceu de nós. Eu não ia sair, masresolvi: vou ao cinemacom minhas amigas. E não vou comentar com

ninguém esse sumiço.Tenho vergonha de dizer que ele saiu com a amante.Iva concordou, mas lá no íntimo algo lhe dizia que

alguma coisatinha acontecido, mas, para não preocupar os filhos,ficou quieta.

E no sábado à tardinha o delegado Cássio atendeu

uma senhoracom dois filhos.

- Viemos dar queixa do desaparecimento do meuesposo, pai dosmeus filhos. Ele saiu ontem à tarde com seu patrão,nos disse que iafazer um trabalho e que voltaria no máximo às vintee três horas e até

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agora não deu notícias.- Não foram atrás do patrão dele? - perguntou o

delegado

educadamente.- Claro que fomos. Primeiramente fomos ao local

do seu trabalho: estáfechado porque não trabalham no sábado. Tambémprocuramos

seus colegas de serviço e ninguém sabe dele. Fomosà casa do senhorArmando, o senhor para quem meu marido trabalha,

e ele tambémestá desaparecido.-Não recebemos queixas deles, da família desse

senhor Armando -falou o delegado.

- A esposa dele nem ligou para o desaparecimentodo marido,

nos disse que ele costuma fazer isso. Ainda xingou-ode farrista, quedeve ter ido a alguma festa e por isso ainda nãovoltou. O senhorArmando pode ser, mas meu Ademir não é disso,não teria ido, não seausentaria sem avisar.

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  - Senhora - falou o delegado -, não ocorreu nada deviolentonestas últimas horas em nossa cidade. Nem acidente,

nem assalto, nada quedeva preocupá-la. Talvez ele tenha ido com o patrãoa algum lugar para sedivertir, bebeu muito e, sabe como é, esqueceu. Eledeve voltarlogo. Sempre há uma primeira vez... acompanhou opatrão, gostou.Vocês não devem se preocupar.

A mulher ficou vermelha, não falou mais nada,saiu puxando osfilhos. O delegado comentou:

- Aparece cada uma aqui. Este final de semana é odos maridos

farristas. Estão se divertindo e as pobres mulheresainda ficampreocupadas.

A esposa de Ademir saiu da Delegacia indignada,falou nervosapara os filhos:

- Ainda tenho que ouvir ironias do delegado. Mas

esse profissionaldeve saber o que fala. Ademir deve ter ido para afarra com osenhor Armando, deve ter gostado e ficado. Vou meseparar dele!Não vou deixar que ele entre mais em casa.

- Ainda bem que não aconteceu nada... -falou umdeles, mas não

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completou, pois a mãe o olhou feio.Tentaram acalmar a genitora. Acharam que ela

tinha razão de

estar irada. Eles estavam preocupados com o pai, etudo indicavaque estava com o senhor Armando em algum lugardivertindo-se.

A esposa de Armando, Magali, preparava-se nosábado para ir auma festa. Nem se importou com o fato de o maridonão ter dormido emcasa nem ter chegado ainda. Era acostumado a fazerisso: saíasempre com amigos nas noites de sexta-feira. Deviater ido a algumafesta, orgia, ou estar com alguma mulher. Ela não se

importava, nãosofria mais por isso. Não deu importância nemquando os dois filhosde Ademir, o empregado de Armando vieram àprocura dele.

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  - Não se preocupem - disse Magali. - Se Ademirsaiu comArmando deve estar bem. Não desapareceram, estão

em algumlugar e, pelo que conheço do meu marido, nasegunda-feira estarão devolta.

E, como era de seu costume, falou uns adjetivospejorativos, e osdois moços foram embora assustados. Magali ficouresmungando:

-Esse vagabundo deve voltarpara a festa destanoite, ele queriatanto ir.

Mas Armando não voltou, e Magali foi à festasozinha e deu

desculpas a quem perguntou por ele:"Armando teve que viajar, negócios urgentes,queria muito vir, masinfelizmente não pôde deixar de trabalhar. Sabemcomo ele é prestativo eocupado..."

E aproveitou a festa, indo dormir de madrugada.

Acordou tarde nodomingo e nem ela nem os filhos se preocuparamcom Armando. Magal 1não quis procurá-lo e a Delegacia seria o últimolugar aonde iria.

Nun pequeno bar à beira da estrada, não longe dacidade, Cério

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estava preocupado. Ele era empregado e seus patrõeshaviam sumido.

"Que faço?", resmungou. "Aonde foram que não

dão notícias?Nunca fizeram isso antes. Teriam avisado se fossemdemorar. Nãoteriam deixado tudo aqui assim. Ontem à noite medesdobrei e tudodeu certo. Mas hoje é sábado, dia de movimento."

O local era discreto. A uns duzentos metros daestrada municipal,havia um caminho de terra e ali se localizava o bar.Não era escondido, masmuitas árvores impediam de ver o resto daconstrução, que eram quartosde encontros. Cério se preocupava com as meninas,

sozinho sem ospatrões era difícil controlá-las. Elas temiam donaMaria Gorete, a patroa.Foi quando o telefone tocou e ele atendeu. Uma vozque ele nãodefiniu ser masculina ou feminina lhe deu a notícia.- Seus patrões foram presos! Aviso-o que logo a

Polícia estará aí. -Quem fala? Por favor, se identifique! Alô! Quem é? -Cériogritou.A pessoa não falou mais nada e desligou.

"Que fazer?", resmungou Cério. "Será que éverdade? Dona

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Maria Gorete e senhor Benedito foram presos'? Seforam, logo aPolícia estará aqui, e se encontrar provas as coisas

vão se complicar esobrará para mim. Não quero ser preso. Provas? Sãoas meninas!"14

Célio inquietou-se, andou de um lado para outrosem saber oque fazer.

"Desfaço-me das provas ou não? Se eles estão na

cadeia, acabarãofalando e, se a Polícia vier aqui e não achar nada, nãopoderáacusá-los. Não vou ficar aqui esperando, não voumesmo. Vou pegar odinheiro que está no caixa, dar algum para asmeninas, soltá-las e me

esconder. É isso!"Suspirou aliviado pela decisão. Abriu a gaveta do

caixa, pegoutodo o dinheiro, não era muito, o resto devia estarbem escondido, ele nãosabia onde, mas aquele devia dar. Foi apressado paraos fundos do

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imóvel, atravessou um corredor com quartos dosdois lados e paroudiante de um fechado com um cadeado. Abriu. Não

se abalou diantedo que viu. Dentro do quarto todo fechado, comduas pequenasaberturas de vidro e grade bem no alto, tendo sócamas e um armário,estavam cinco garotas. Todas novas e bonitas que oolharam, indiferentes.

- Meninas, tivemos complicações, vão ter que sairdaqui e depressa. Arrumem suas coisas e semandem.- Para onde? Como e de que jeito?- perguntou umadelas.g

-Obedeçam e se virem. Vocês vão sozinhas-disseCélio.- Está nos libertando?-indagou outra, surpresa.

- Nunca estiveram presas, so não podiam sair porestarem nosdevendo. Mas agora isso não importa. Vou dar avocês uma pequena

ajuda para irem daqui. Chega de conversa, vamoslogo - disse Cél io,autoritário.-Só isso?-perguntou uma garota ao receber odinheiro.

Mas as outras a olharam, e entendeu que eramelhor fazer o que elequeria e irem embora daquele lugar horrível.

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- Enquanto vocês pegam suas coisas, vou falar comNico.Saiu, deixando a porta aberta.

-Não acredito! Vamos embora logo! -falou umamocinha.

-Será que a Polícia descobriu este Iugar? Talvez sejamelhor ficar eesperar. Ontem não vi o casal carrasco nem hoje.Onde será queestão? - perguntou uma outra.

- É melhor irmos embora e já, pegaremos o ônibus edepoisresolveremos o que fazer, se vamos ou não à Polícia-disse umagarota.

- Não adianta nada ir à Polícia, é melhor fugirmos.Eu vou paracasa e nunca mais me meto em confusão nem caio naconversa deemprego fácil.

Trocaram de roupa, tinham marcas de violência, se

não obedecessem eram surradas. Desconfiadas e commedo, arrumaramtudodepressa e saíram. Foi um alívio estar do lado de forada casa; andaramapressadas até a estrada e ficaram no ponto deônibus, que não

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demorou para passar. Sem saber ao certo o que fazer,pararam nocentro da cidade. Só uma delas era da região e

convidou as outraspara irem à sua casa, mas elas decidiram ir para aestação de trem omais rápido possível e irem para sua cidade e casa.Foi o que fizeram.

Célio, após soltar as meninas, saiu do prédio e foiaos fundos,onde estava a casa de outro empregado.

- Nico, dona Maria Gorete e o senhor Beneditosumiram desdeontem à tarde. Recebi um telefonema estranho edisseram que elesforam presos. Não sei o que pode ter acontecido com

eles, talvez sejaverdadeira a informação, senão eles teriam dadonotícias. Soltei asmeninas, assim, se a Polícia vier aqui, não encontraráprovas.

- Presos? Mas eles pagam para não ser - respondeuNico,

surpreso.-Sabe como é, existem muitos policiais honestos. O

fato é queeles sumiram e eu não vou ficar aqui esperando aPolícia e ser presotambém. Tome este dinheiro, peguei no caixa e estourepartindo comvocê. Vai ficar aqui?

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  - Vou, minha mulher e eu somos só caseiros, nãosabemos nemvimos nada. Não tem nada que prove que fizemos

algo errado. Váembora, iremos la dentro e esconderemos tudo.Tenho a certeza deque logo os patrões voltarão - falou Nico, confiante.- Você é quem sabe. Já vou indo! - disse Célio,despedindo-se.

Célio foi embora, mas ficou por perto, e foi só nasegunda-feira quea Polícia esteve no bar. Esse empregado ficoupreocupado com odesaparecimento dos patrões não porque gostassedeles, mas doemprego. Ganhava bem e tinha as garotas para si

quando quisesse.Eram seis que desde sexta-feira não davamnotícias. Ninguém sepreocupou com Suellen e Armando. Quanto ao casaldo bar, os trêsempregados temiam por eles mesmos.

A famíl ia de Ademir estava mais magoada que

preocupada. Osfilhos queriam que o pai voltasse logo para explicar oque tinha

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acontecido. A esposa pensava no marido farreando edecidiu: ia lhedar uma lição, não ia deixar que entrasse em casa.

Preocupada mesmo estava Iva e sua filha. MesmoEleocácio atraindo, ela o conhecia e sabia que ele era incapaz deabandoná-los ouagir imprudentemente, desaparecendo assim. Algodevia ter acontecido. Pensou em muitaspossibilidades. Será que alguém desejando

vingança o seqüestrara? Ansiosa, esperou pelasegunda-feira, porque odelegado Cássio lhes prometera que se ele nãoaparecesse pelamanhã, expediria o mandado de busca.E eles passaram o final de semana desaparecidos.

O Crime do Sobrado

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  Mariinha*** vinha para o trabalho toda contentecomo sempre.Era alegre, simpática e risonha. Caminhava

apressadinha; entrou na ruacurva. Essa rua era pequena, ficava entre duasprincipais da cidade, faziauma curva e era estreita, com muitas casas. Tinha onome de umestrangeiro, que era complicado de pronunciar, etodos a conheciampor rua curva.

"Não sei por que dar a um lugar um nome tãocomplicado de umapessoa que ninguém conheceu ou sabe quem foi",pensava Mariinha.-Bom dia! Como vai?

E ia ela cumprimentando a todos."Dona Zefa deve estar me esperando ou aindadonnindo", pensou.

Avistou o sobrado. Era empregada de dona Zefa, adona do sobrado, a casa mais bonita da rua curva. Aconstrução ficavametros

recuada, pintada de bege com grades de cor cinza nafrente. O jardimrodeava a casa, era bonito, bem cuidado pelo jardineiro, que vinhauma vez por semana. Mariinha gostava de seutrabalho, dona Zefasempre foi boa patroa, educada e, embora a casafosse grande, o

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trabalho não era muito, pois era sozinha. Estavadistraída e foi despertadados seus pensamentos por dona Lázara, a vizinha da

frente.-Bom dia, Mariinha!- Bom dia, dona Lázara. Como foi a festa na sexta-feira?

- Muito boa, estava animada. Mariinha, estoupreocupada comdona Zefa, ninguém a viu ontem e a luz da salinhaficou acesa.Mariinha olhou e respondeu:- De fato está. Mas isso não me preocupa, dona Zefaestá esquecida.

- Você sabe se ela saiu? Tentei telefonar, masparece que o fone está

fora do aparelho. Também chamei, bati no portão eela não atendeu - dissedona Lázara.

- Dona Zefa me falou que ia passar o final desemana na casade Armando, só que não acreditei, pois dona Magalitelefonou na

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sexta-feira de manhã e não disse nada, nem minhapatroa arrumousuas roupas para ir. Achei que deu desculpas, só

para me dar umafolga. Mas ela pode ter saído, pois o faz muito.Quanto ao telefone,ela pode ter esquecido fora do gancho. E atender àporta, nemsempre escuta as batidas - respondeu Mariinha.Olhou a caixa de correspondência e franziu a testa.- Que foi? - indagou dona Lázara.

- Dona Zefa não pegou o jornal nem de sábado nemde domingo. Issoela nunca fez. Minha patroa não deixa de ler o jornalpor nada. Seráque aconteceu alguma coisa? Não é melhor telefonar

para o senhorArmando?-perguntou Mariinha, falando apressada.- E tão cedo, ele deve estar dormindo. Não é bom

incomodá-losem tentar saber o que aconteceu. Vá lá dentro,talvez dona Zefaesteja bem-falou dona Lázara.

- Vou fazer isso. A senhora não quer entrar comigo? -Vou com você - respondeu a vizinha.Mariinha abriu o portão, pois tinha a chave, eentraram. Atravessaramo jardim e ela abriu a porta da cozinha. Olhou tudo.- A cozinha parece estar como deixei na sexta-feira.- Vamos lá em cima nos quartos, ela pode estardormindo.

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- Talvez esteja - disse a empregada -, às vezes ela selevantamais tarde.

Ao chegar à escada Mariinha comentou:-Aqui está com um cheiro esquisito.- E de casa fechada - falou dona Lázara.

Subiram. A escada terminava num estreito hall, umcorredor com asportas dos quatro quartos.

Mariinha foi direto ao quarto de sua patroa, abriu aporta, a luzestava acesa.

- Está tudo arrumado e ela não está aqui - disse aempregada,preocupada.

-Talvez tenha ido dormir em outro quarto. Vamos

olhar-falouavizinha.Foram abrindo as portas dos outros quartos e nada,

mas em umdeles a cama estava desarrumada.

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- Parece que aqui dormiu alguém-falou dona Lázara.-Certamente não foi minha patroa, ela não deixa a

cama assim.Não sei o que está se passando, mas desconfio queela tenha recebidoalguém para dormir nesta cama de casal. Masdeixemos isso para lá.Vamos procurá-la. Dona Zefa! Dona Zefa! - gritouMariinha.Desceram as escadas.

- Acho melhor telefonar para o Armando, osobrinho dela. Quem

sabe se dona Zefa não está com ele? - disse donaLázara.- Pode ser, ela me falou que ia sair com ele. Talvez

ela tenha idomesmo passar o final de semana com os sobrinhos.Vamos telefonar -disse a empregada, preocupada.

Tentou abrir a porta da salinha onde ficava otelefone e nãoconseguiu.- Está trancada! - exclamaram as duas.O sobrado tinha três salas e uma cozinha grande noandar térreo;essa salinha tinha saída independente, que dava paraa garagem.

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- Esta sala não fica trancada. Não estou gostandodisso - comentou Mariinha.

- Será que ela está aí? - dona Lázara bateu na porta,chamando-a.Silêncio total, ninguém respondeu. As duas seolharam. - Que vamosfazer? - perguntou a vizinha. - Vou olhar pelavidraça. Venhacomigo! As duas deram a volta pela cozinha. - Dequem são estescarros? - perguntou Lázara.-Não estou gostando disto, entrei tão preocupadaque não os vi.Este carro vermelho é do senhor Armando. O queserá que está acon

tecendo?-expressou Mariinha aflita.Mariinha pegou uma escada e colocou na janela,onde, no alto,havia um espaço só de vidro.Mariinha subiu, olhou, deu um grito abafado, rouco,desceu depressa, caiu no chão, ficou deitada na grama com os

olhos arregalados. -Que foi Mariinha? Que você viu? Que está sentindo?-perguntou dona Lázara, aflita.A interpelada não conseguiu falar, mostrou com amão a janela.Dona Lázara resolveu subir na escada e olhartambém.

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- Meu Deus! - gritou a vizinha e desceu apressada. -Vou chamara Polícia!

-Espere! Ajude-me a levantar! Não quero ficar aquisozinha. -Mariinha conseguiu falar.

As duas saíram correndo e ao chegarem à ruacomeçaram a gritar, eos vizinhos que estavam em casa correram até elas.Apavoradas,falavam depressa, de forma confusa, e ninguémentendia. Até que um

senhor gritou mais alto que elas:- Calma! Calem-se! Fale você, Lázara, devagar para

queentendamos.

-Dona Zefa deixou a luz da sal inha acesa durante odia, telefoneipara ela, mas o fone estava fora do gancho, não a vi eela não atendeu

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quando a chamei. Quando Mariinha chegou hoje,falei das minhaspreocupações e ela me pediu para entrar na casa

 junto. Não a achamosem lugar nenhum e aí resolvemos telefonar paraArmando, mas a salinhaestava trancada. Subimos do lado de fora, na escada,para espiarpela janela e ver o que acontecia lá dentro. Ai, quehorror! Está umaconfusão, pessoas caídas, ensangüentadas. Sãovárias. Horrível !- Dona Zefa está lá? - indagou o senhor.

- Eu a vi - respondeu Mariinha chorando -, e pareceque o senhorArmando também está.

-Ninguém entra na casa, vou chamar a Polícia-falouo senhor.Foi aumentando o número de pessoas que queriam

saber o queestava acontecendo. Mas ninguém entrou e a Políciaveio. O delegadoCássio chegou e indagou:

- Que acontece aqui?Todos começaram a falar e logo se calaram, e osenhor explicou: -Várias pessoas mortas? - perguntou o delegado,duvidando. - Foio que elas disseram ter visto - falou o senhor. -Vamos entrar -disse o delegado a seus companheiros.

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Ele e dois investigadores entraram na casa, nãomexeram em nada,viram a sala trancada e fizeram como elas, subiram

na escada paraespiar.

- Não é que as mulheres têm razão! Um crimebárbaro, muitaspessoas aqui trancadas - disse um investigador.

- Peça reforço, vamos abrir a porta, talvez tenhaalguém ferido -falou o delegado.

Um dos investigadores abriu a porta com seu feixede chaves e láestavam: sete pessoas caídas ensangüentadas. Odelegado Cássiorapidamente as examinou e concluiu:

- Todas mortas! Chame a empregada e a outramulher aqui.Elas foram com receio. O delegado perguntou: -Vocês sabemquem são estas pessoas?

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Mariinha parou de chorar para responder:- Esta é dona Zefa, minha patroa, a dona da casa, e

este é osenhor Armando, o sobrinho dela, o resto não seiquem é...Lázara também só conhecia os dois. Saíram, e umdos investigadores falou:

- Delegado Cássio, estamos diante de um crime

bárbaro e umproblema sério. Sete cadáveres! Esta é Suellen, aamante do juiz,conheço-a. E este não é ele?

- É - respondeu o delegado, mal-humorado. - Queestariamfazendo os dois aqui?

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  - Se este é o Armando, será que este não é o tal doAdemir, que afamília foi procurar? E estes dois não são o casal que

estávamos aobservar, que tem aquele prostíbulo?-perguntou oinvestigador.

- Está parecendo - respondeu Cássio suspirando.-Devem tersido mortos na sexta-feira, mas por quê? Quem fezisso? Por queaparentemente pessoas que nada têm a ver umascom as outras foramassassinadas juntas? Por que estavam aqui nestesobrado cuja proprietária é uma pessoa boa, de bem?

-Foram dados dois tiros em cada uma, no peito,mirando o coração.

A pessoa que atirou, o assassino, tem boa pontaria.Como osvizinhos não escutaram? - perguntou o investigador.

- Os vizinhos comentaram que na sexta-feira houveuma festa junina narua de cima. Além de irem todos, soltaram muitosfogos de artifício. O

barulho dos tiros foi confundido, isso se alguém osescutou.

Vieram outros policiais, a polícia técnica,fotografaram, tiraramimpressões digitais, escutaram pessoas e ninguémpôde ajudar. Mariinhachorava, sentida.

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  - Quem fez isso, meu Deus? Dona Zefa era boa,todos gostavamdela, estava ultimamente um pouco perturbada,

ficou assim desde que afilha faleceu. Era um encanto de pessoa, nunca vouencontrar umapatroa como ela. Que será que estas pessoas estavamfazendo aqui?

Era isso que o delegado Cássio queria saber. Oscorpos forampara o hospital, para o necrotério. Foram chamadosfamiliares para oreconhecimento.

Iva chegou com os dois filhos, reconheceuEleocácio. Mãe e filhaestavam aflitas. A esposa do juiz falou ao delegado:

- Por que está morto? Foi assassinado? Agoracertamente osenhor delegado irá investigar, não é? Nos disse quetalvez tivesseviajado e estava aqui na cidade, e morto.

O delegado Cássio engoliu a saliva para não sergrosseiro, e afilhafalou:- A Polícia não serve para nada!

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  -Desculpem-me, senhoras -disse o delegado. -O juizestá morto,como também sua amante. Não errei quando os

 julguei juntos.Depois, o que ele estava fazendo na casa dessasenhora, dona Josefina,conhecida por dona Zefa? Vocês podem me dizer?Será que alguémlembraria de o procurar lá? Vocês sabem se o juizconhecia a dona dosobrado? Não! Também não somos adivinhos. APolícia fez o quepôde. O corpo dele está liberado, podem levá-lo.Iva e a filha choravam, sentidas.

"De fato", pensou a esposa, "o marido morreu coma amante". Os

corpos estavam um ao lado do outro. Ela observouSuellen, achou-abonita, muito enfeitada, embora estivesse com osolhos abertos, arregalados. Não conseguiu ter dónem raiva. Sentiu-se indiferente.O filhoficou quieto.

Os enterros tinham que ser feitos o mais depressapossível, o odor jáera desagradável. O fi lho do juiz contratou umafunerária, que veio rápidoe fez os preparativos. Eleocácio foi velado numa salade luxo dovelório do cemitério local. Compareceram pessoasimportantes,

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outros juízes, advogados e familiares. Iva o amava,mas estava sentida, humilhada, e foi com esforço queagüentou os comentários.

Ofilho, apegado à mãe, aborreceu-se por ter o paimorrido com a amante,sentia vergonha. A família foi para casa aliviada apóso enterro, estavadisposta a esquecer aquele episódio.

- Vamos viajar em julho, passaremos as fériasviajando; e estoucom vontade de mudar de cidade. Morar no Sul commeus familiares.Que vocês acham? - indagou Iva aos filhos.

-Eu quero, assim não terei que ouvir oscomentários maldosos

sobre a morte do meu pai -disse o filho.- Sentirei falta de papai, o amava. Mas queroesquecer e mudar. Emvez de viajar, vamos aproveitar as férias e fazer essamudançadisse afilha.

E assim fizeram, mudaram para longe e

esqueceram esse episódioruim para eles.

Suellen foi reconhecida pela vizinha. A Políciaavisou um irmãodela, que morava em outra cidade, e ele veio com amãe. Chegaram só ànoite; o caixão foi lacrado e o reconhecimento se deuatravés do

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visor de vidro. A mãe chorou, depois foram para umhotel e a enterraram no outro dia cedo. Forampoucas pessoas ao enterro:

duas

amigas, quatro vizinhas, a mãe e o irmão. Após, osdois membrosda família foram à casa de Suellen, encaixotaramtudo, chamaramuma transportadora e mandaram que levassem paraa cidade ondemoravam. Entregaram a casa ao proprietário epartiram. 'Também

não puderam ajudar o delegado Cássio nasinvestigações. Sabiampouco de Suellen e, segundo eles, era a ovelha negrada família.

Magali, a esposa de Armando e seus dois filhosvieram e ficaramindiferentes, reconheceram o corpo e o levaram para

o velório, enterrando-o horas depois. Érica, umaoutra filha dele, ado seu primeirocasamento, chegou minutos antes do enterro,cumprimentou os irmãos delonge. Ninguém chorou. Estavam os moços e aesposa mais preocupados com eles mesmos. A tiarica falecera também, e esperavam

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 herdar a fortuna dela, mas Armando não lhes fariafalta. Não se importaram

com o mistério que envolveu esses assassinatos,deveria haver, semdúvida, muitas pessoas com vontade de matá-lo, ealguém o fez, mas paraeles não importava quem.

Só que, quando a Polícia revistou a casa, o sobrado,encontraram namesinha de cabeceira do quarto de dona Zefa umacópia de seutestamento. Ela tinha deixado toda a sua fortunapara Érica, filha de seusobrinho com sua primeira esposa. Só deixou umaquantia, diga-se

razoável, para sua empregada de muitos anos,Mariinha. Tambémperdoava todos que lhe deviam. E souberam entãoque eram muitas aspessoas para quem ela havia emprestado dinheiro.

Magali e os filhos ao saber do testamento ficaramfuriosos. Mas não

houve como mudar e ficaram arruinados sem nemter onde morar.Mudaram para uma casa simples, num bairro longe.Os moços, quenunca haviam feito nada, não queriam trabalhar e seenvolveram numasituação arriscada, e um deles foi preso. Éricaajudou-os: tirou-o da

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prisão, deu uma casa para que morassem e pagou asdívidas deles;avisou que não ia ajudá-los mais e não o fez.

Erica, a herdeira de dona Zefa, nunca imaginouque fosse herdar afortuna da tia-avó. Ela e a mãe viveram sempre comdificuldadesfinanceiras, foram poucas as vezes em que dona Zefaas ajudou. Mas éque elas desconheciam que a tia pensava que asajudava: dava dinheiropara o sobrinho mandar a elas, mas Armando nuncao fez. Erica, ao recebera fortuna, tratou de cuidar bem do que herdou. Osobrado da rua curva,cenário do crime bárbaro, foi modificado, pintado de

outra cor, asaleta transformada. Tirou os móveis de lá e osvendeu,

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desconheciam se eles tinham parentes. O delegado osliberou e foicom sua equipe revistar o bar. Nada encontrou. A

moradia foi lacrada.Como não apareceu nenhum parente, os dois foramenterrados juntos eninguém foi ao enterro deles.

A propriedade pertencia ao Benedito e constava emseus documentos que ele era solteiro. E tudo foiabandonado. Nico ea esposaprocuraram o dinheiro dos patrões que deveria estarescondido e oacharam no quarto do casal num fundo falso doassoalho. Ficaramcom o dinheiro e mudaram para longe. A Justiça

esperou o tempocerto para alguém reclamar o prédio, como ninguémo fez, pela burocracia ficou lá sem ter ninguém paracuidar. O tempo eos depredadores ofizeram em ruínas.

E foi logo após se anunciar a morte deles que três

garotas vieram darqueixas do casal e de Célio, o empregado, mas estefugiu, escondeu-sebem longe.

As vizinhas trataram de organizar o enterro dedona Zefa. Embora ovelório tenha sido de poucas horas, teve muitasflores, muitas

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pessoas. Foram muitos os curiosos, o crime chocou acidade, mas láestavam muitos amigos, porque ela só tinha os três

sobrinhos-netos deparentes. Josefina era uma pessoa querida, bondosa emuitos lhedeviam favores. As vizinhas, amigas, choraramsentidas e muitaslembraram de orar. Enterraram-na junto do esposo eda filha querida.

Os moradores da cidade estavam indignados e

indagavam oporquê desse crime, comentavam muito, só se falavados assassinatos dosobrado da rua curva.

O delegado Cássio estudou todas as possibilidades,os sete foramassassinados no mesmo instante e local. Nãoroubaram nada e a casa

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estava em ordem, sem sinal de luta. Nenhum delestinha pólvora namão, não haviam pegado em armas.

A sala que estava trancada era quadrada e tinhaduas portas, uma defrente à outra; uma dava para o interior da casa,outra para asgaragens. Os corpos foram achados desta forma: emfrente da portaque dava acesso ao interior da casa, dona Josefina,que, tudo indicava, estava de pé; a seu lado direito,sentados num sofá,ocasal Benedito e Maria Gorete; embaixo da janelaestavamtambém sentados Armando e Ademir; e, do lado

esquerdo da portaque saía para as garagens, Suellen, sentada numacadeira, e o juiz deveriaestar de pé a seu lado.

O portão grande da rua dava para uma area aberta,onde estavam ocarro de Armando e o de Benedito, e após ficava a

garagem fechada,onde estavam os carros de dona Josefina e o do juiz.

E a Polícia não conseguiu descobrir o porquê deestarem os sete ali,e se eles se conheciam, que relação havia para seremmortos juntos.

Se fosse para eliminar o juiz, seria muito mais fácilfaze-lo em

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encantavam nossa socorrista."Sempre gostei de flores e nunca esperava

encontrá-las após a

morte. Ironia! Morte? Esta, como pensava, não existe,nunca existiu.Desencarnação é o termo certo. Nunca me senti tãoviva! Como avida é bela e as Leis Divinas, perfeitas!"

Mary era muito simpática, tinha a aparência decomo estava antes dedesencarnar, de uma pessoa idosa, pois quando teveseu corpomorto este estava envelhecido pelo muito que viveraencarnada. Semprefoi elegante, com qualquer traje se destacava. Oscabelos brancos eram

mantidos num coque e seu sorriso cativava a todos.Mas o que chamavamais a atenção eram seus olhos castanhos e seu olharinteligente. Erafeliz ali, tinha amigos, visitava parentes, sabia detodos que lhe eramqueridos e, o principal, trabalhava muito e amava o

que fazia.Estava no jardim apreciando as flores quandoescutou lhe chamar:- Mary, o orientador Alfredo quer Ihe falar.

Sorriu, agradecendo, e foi rápido, esta era uma desuas características: ser ligeira em tudo. Foi falar como orientadoramigo.

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  - Mary - disse Alfredo, cumprimentando-a risonho-, tenho umtrabalho especial para você.

Expôs sua tarefa e finalizou:- Alguma pergunta?

- Várias. Será que estou apta para fazer isso? Não éum trabalhopara um colega mais experiente? - indagou asocorrista.

- Mary, sempre que nos defrontamos com umatarefa especial,vemos após que se tem um porquê. Você é capaz efará a contento,

confio. E, depois, estarei por perto para ajudá-la.Aqui está tudo sobreeles, o que lhe será útil. E você terá que descobrirmais informaçõesconversando, pois sua ajuda consiste em conduzir as

coisas d formaque eles mesmos falem de si. Será conversando quese entenderão. E apóscabe a você faze-los entender que necessitam desocorro de conheceroutra forma de viver. Leia este relatório e daqui aduas horas vou com

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você até onde estão para que conheça o local. E voceiniciará seu trabalhoamanhã, logo cedo.

Mary saiu do gabinete do orientador Alfredo comuma pasta namãos, voltou para o jardim, sentou num banco demadeira. A vista dali eramuito bonita. Embora o jardim fosse pequeno, seuscanteirosgeométricos lhe davam uma harmonia perfeita."Tudo tem encanto, basta observarmos bem", pensouMary.

Abriu a pasta, leu o relatório e após foi se prepararpara sair doposto rumo a uma parte do Umbral.No horário marcado ela e Alfredo saíram do Lar

Amigo.Mary sentia sempre uma sensação estranha aoandar pelo Umbral.O que primeiro sentia era o cheiro; o odor da zonaumbralinaa écaracterístico, uma mistura de fama e podridão queferia seu olfato

sensível.- Sempre fico em alerta quando saio do posto -

comentou asocorrista.

- Isso é normal, aqui é um lugar em que se deveestar sempreatento - respondeu Alfredo. - Vamos por aqui.

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  Os quilômetros que rodeiam o Lar Amigo têmmuitas trilhas e,para descer em alguns pontos, há degraus de pedras.

A claridade eraamena e os dois andavam lado a lado.- Senhor, senhora, por favor!

Aproximou-se deles um desencarnado, que bastoufalar para serreconhecido.- Boa tarde, Silva! -cumprimentou Alfredo.

-Queria abrigo novamente -disse ele. -Será que nãopodem melevar agora?

- Novamente! Por vezes você jápediu ajuda no LarAmigo e é somelhorar que sai. Silva, precisa decidir o que quer -

falou Alfredo.- Agora é diferente, quero mudar mesmo -respondeu o homem.

- Você já falou isso antes - disse Alfredo. -Mary e euestamossaindo para um reconhecimento, para um trabalho, enão podemos

nos atrasar. Vá você ao posto e peça abrigo.

-E se eles não me quiserem? -perguntou Silva.

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  - Terá que ter paciência, esperar e provar aostrabalhadores doposto que você agora está mudado mesmo. Porque,

Silva, já porvezes o recebemos com todo o carinho e do melhormodo possível evocê se queixou, não foi grato e, todas as vezes,sentindo-se melhor deseus ferimentos, dos reflexos das doenças que teveno seu corpo físico,saiu fugido e nem se despediu ou agradeceu. Como já viu, nossa casa épequena para os muitos necessitados, ostrabalhadores se desdobrampara atender a todos e não podemos atendê-lo nolugar de um que deseja

realmente mudar.- Vocês não vão me levar? Tenho que ir lá? Masestou com dificuldades para andar -falou Silva.-Terá que ir. Até logo!

Silva ficou indeciso se ia ou não, queria mesmo serlevado. Alfredo eMary continuaram a caminhar, saíram do posto com

um propósito e eletinha que ser feito dentro do horário previsto.

- Nestes anos trabalhando no Lar Amigo, ainda nãome acostumei com as pessoas que só querem tirarproveito, querem receber,nem digo dar algo em troca, mas fazeralguma coisa de bom a

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si mesmas. Esse Silva já foi por quatro vezes ao nossoposto - comentou Mary.

- Mas agora só o atenderemos se demonstrar que

desta vez serádiferente, que quer mudar -falou Alfredo.

Andaram por duas horas sem parar. Mary foiobservando a paisagem, que é monótona e triste, oque dá vida são os espíritosqueestão lá. Passaram por eles grupos de arruaceiros,fazendo algazarra,rindo e falando alto, grupos de moradores maisquietos, que evitavamolhá-los, e outros que nunca perdem a oportunidadede ofender ostrabalhadores do bem.

Mary era sempre observadora, bastava-lhe umarápida olhadapara ver tudo que a interessava. Gostava de vercomo eles se vestiam, adiversidade dos trajes. Os moradores trajam-se demuitas maneiras,alguns homens parecem cavaleiros antigos, têm

armaduras, outros seenfeitam com correntes, outros preferem poucasroupas, uns sevestem usando muitos tons, mas a maioria comroupas normais. Hápreferência por capas, que são quase sempremarrons ou pretas. As

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mulheres que se dizem moradoras, seus trajes sãovariados, sãopoucas que usam vestidos e, se o fazem,

normalmente são longos, masestão quase sempre enfeitadas e com brilho. Muitosmoradores são

bonitos, mas é uma beleza sem harmonia; olha, achabonito, mas se seobservar bem, não têm encanto e simplesmente abeleza sedesfaz. É porque, desarmonizados, não tendo a

lindeza interior, tudo éexterno, superficial.

Aqueles que vagam pelo Umbral, que sofrem, nãose preocupamcom detalhes externos, e os que o fazem não sabemmudar sua aparência, estão quase sempre emfarrapos, sujos e conseqüentemente

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desprovidos de beleza.Mary sempre que saía pela zona umbralina tinha

vontade de parar e ir

falar com todos os sofredores que encontrava pelocaminho. Como seguiaAlfredo, entendeu que não estava lá, desta vez, paraisso. Pararam e oorientador falou:- Mary, é ali naquela entrada de caverna que irátrabalhar.

- Terei mesmo que ficar lá dentro até ajudar todos?Não poderei sair?- perguntou a socorri sta.

- Sim, deve ficar lá com eles, ouvi-los, fazer que seentendam, seperdoem, e de preferência deve sair com todos -

respondeu Alfredo.-Todos? E se algum não quiser o socorro? - indagouMary.

- Você saberá como agir. A recomendação é saircom todos, seesforçará para que aconteça assim, mas, se algum formais teimoso,

nada a impedirá de sair com os que querem mudar aforma de viverdisseAlfredo delicadamente.

Mary observou o local externamente. Encravadanuma rocha,havia uma porta e uma janela com grades, na qual sóo pedaço de

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cima não estava tapado. Por aquele espaço de unsoito centímetrosentrava a pouca claridade.

- Agora voltemos - disse Alfredo. - Amanhã vocêvirá e iniciará seutrabalho.- Ainda não entendo por que eu! - exclamou Mary.- Entenderá, minha cara, entenderá-disse Alfredosorrindo.

Naquela noite Mary, após arrumar tudo o que lhehavia sidorecomendado, sentou-se no banco do jardim, seulugar preferido, eobservou o céu, as poucas estrelas que podia ver dalie as flores. Orou comsentimento, pedindo ao Pai para que conseguisse

fazer a tarefa que lhefora determinada do melhor modo possível.Mary era uma senhora distinta. Trajava sempre

vestidos abaixo dos joelhos e sua cor preferida era cinza-claro. Faziaquestão de estar semprebem-arrumada, isso fazia bem a ela, à sua vaidade

feminina e aosabrigados do posto que gostavam de ver uma idosaelegante.3O

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Foi de madrugada que se levantou do banco do jardim e foi paraseu quarto, seu cantinho, onde tinha seus pertencespessoais. Vestiu umoutro traje, um macacão largo, apropriado por sermais confortável paraandar pelo Umbral. E verificou pela última vez se

não estava esquecendonada.Com uma mochila grande nas costas, foi para o

pátio, e o orientadorAlfredo estava lá para se despedir dela.

- Mary, espero que você tenha êxito, aja com calmae paciência e use

o amor como fonte de inspiração. E estarei aqui paraaconselhá-laeorientá-la. Bom trabalho!

Abraçaram-se. Mary teve ainda vontade deperguntar de novo:por que ela? Conteve a curiosidade, se houvessemotivos logo saberia.

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Sorriu, agradecendo, e saiu do posto. Andou ligeiro edesta vez semobservar muito. Tinha um objetivo e era melhor ir

rápido.Chegou, respirou fundo e entrou. Após uma rápida

olhada em que viutudo, relaxou e observou detalhes. Estava plasmadano local uma sala,com duas portas, mas só uma dava abertura, e uma janela com grades,que estava fechada, só no alto o vão. Também tinhamóveis, dois sofásde dois lugares e duas cadeiras. Tudo estava sujo.'

Por fim, Mary olhou para aqueles a quem tinhavindo tentar auxiliar.Sete. Os sete assassinados no sobrado da rua curva.

Que, após teremdesencarnado, vieram para o Umbral juntos, ficaramnum canto e,achando que ainda estavam na salinha, a plasmarame ali ficaram poranos.-Bom dia, sou Mary! -exclamou a socorrista.

Ninguém respondeu. Estavam acostumados areceber visitas,auxílio de outros socorristas. Mesmo aqueles que nãoestão aptos amerecer socorro, ao serem levados para um abrigo,são visitados portrabalhadores do bem que auxiliam sofredores pelazona umbralina.

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Estes trazem água, remédios, alimentos e conversamcom eles.Pensaram que se tratasse de mais uma visita e a

olharam, somenteesperando receber as dádivas de que tantonecessitavam.

Mary então tirou a mochila das costas, colocou nochão, armouuma mesinha e jogou em cima um foco de luz. Quemnão sabe o que é1 - Espíritos, quando sabem como plasmar,independentemente de serem bons ou não. assim ofazem e plasmam o que querem. Mas tambémexistem objetos plasmados por aqueles que não têmconhecimento do método e que, ainda assim,conseguem plasmar seta saber como, fazem pela

vontadeforte. E aquela sala foi plasmada assim, por todosque estavam ali, porque acreditavam que estavamno local (Nota do Autor Espiritual).

esse foco de luz, ao vê-lo, acha que é uma vela fina,mas não é, como

também não é lanterna. É um objeto pequeno e a luzé regulada para nãoofuscar a visão; ela a deixou fraca, mas o suficientepara enxergar tudo.Após, armou duas cadeiras, uma ao lado da mesa,para si, e outraperto da sua, e pegou dona Zefa e a sentou, pois elaestava

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deitada no chão. Após, foi até Eleocácio e sentou-onuma cadeiravazia perto daquela em que Suellen estava sentada.

Ele ia jogar-se nochão, mas Mary foi firme com ele.- Sente-se e fique!

Ele ficou. Eles estavam do modo como os corposmorreram;haviam ficado ali presos, sem sair do lugar.

Mary compreendeu que ninguém os tinhaprendido, sentiam-seassim por eles mesmos, por se acharem culpados .22

Após, Mary pegou vários copos e deu a cada um,com água.Depois pegou curativos e foi colocando nosferimentos deles. Como

sentiam estarem na salinha mortos, e estes não selocomovem,ficaram onde estavam. Também tinham seusferimentos abertos econseqüentemente doendo.

Os socorristas usam muitos curativos quando emajuda pelo

Umbral. Estes tiram a dor e a sensação desangramento. E os queMary havia trazido eram um pouco mais especiais, asensação dealívio era por mais tempo. E ela só trouxera maisuma troca paracada um. Tinha um tempo para ficar ali e fazer comque quisessem o

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socorro.Após, sempre ligeira, acomodou-os e limpou-os.3

Eles a olharam

agradecidos, mas nada disseram. Quando Maryacabou de2 - Vemos muito isso no Umbral: Espíritos presos.Uns estão em lugares de onde não sabem sair,outros poderiam sair, pois não são vigiados nemamarrados. Não saem por sentirem no íntimo justo estarem ali. Muitos se autopunem. O queocorreu com esses sete, que foram assassinados, éque cada uni deles sentiu o impacto das balas,passou por uma perturbação, teve o espíritodesligado do corpo, foi levado para o Umbral elargado num lugar. Ao acordarem, elessentiram que ainda estavam na salinha, a plasmaram

e ficaram como estavam ao cair. Tantoque o juiz e dona Zefa, que caíram no chão, ficaramali, e os outros, que desencarnaramsentados, permaneceram como estavam (N.A.E.). 3 -O perispírito é cópia fiel do corpo físico. Equase sempre sofredores ficam com a aparência deantes de desencarnar. Roupas são

plasmadas. O espírito ao sair do corpo não o faz semroupa. O vestir está tão condicionado na pessoaque, quando é desligado do corpo, ela já o faz com aroupa plasmada. Embora não seja regra geral,é o que normalmente acontece. Os sofredores ficamvestidos ou como estavam quando seu corpofísico foi enterrado ou como estavam ao desencarnar.Estes sete ficaram com o que estavam ao serem

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-Bom dia, sou Mary. Por favor, queiram seapresentar.Suellen foi a primeira a falar.

- Sou Suellen. Obrigada! Ajudou-nos muito comeste curativo e alimento.

- Sou o juiz Eleocácio. Não! Só Eleocácio, juiz foium título que recebi.Obrigado, dona Mary.- Por favor, chama-me só de Mary, quero ser amigade vocês. 1- Amiga? Por quê? Acho que nunca tive uma. Masagradeçotambém. Sinto-me melhor. Chamo-me Maria Gorete.- E eu souBenedito. Deus lhe pague!-Eu sou Ademir. Muito obrigado!

Mary notou que Ademir só olhava para a janela,que até para vê-Iamexia apenas os olhos, entendeu que ele não queriaolhar para Zefa.

- Eu sou Armando. Temos sofrido muito. Nuncapensei que mortos sofressemassim. Você está sendo muito boa ajudando-nos. Só

não entendo o porquê datitia Zefa estar aqui. Não me parece justo.

- E a senhora quem é? - indagou Mary, olhandopara a última, que não seapresentou.4 - Parece a muitas pessoas estranho desencarnadosse alimentarem e muitos têm indagado como é essealimento.

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Alimentam-se no Plano Espiritual desencarnadosque, iludidos, pensam ainda estar encarnados,sentindo todas as

necessidades de uma pessoa, como fome, sede, frio,calor e dores. Também necessitam alimentar-se osdesencarnados cujos reflexos do corpo estão fortes;são eles os apegados à matéria, os que não queriamtertido o corpo físico morto. Os espíritos que vão para oUmbral sentem essas necessidades. Dos espíritos queassumem sua posição de opositores ao bem, algunssabem tirar seu sustento da natureza como os bons;os quenão sabem costumam vampirizar, sugar osencarnados e os alimentos físicos. Nos Postos deSocorro e Colônias, só

os recém-chegados, socorridos que ainda têm essesreflexos, necessitam de alimentos. Após, sãoconvidados aaprender e, quando o fazem, não precisam mais sealimentar. Esses alimentos são da mesma matériararefeita donosso perispírito e são resultado de trabalho de

outros espíritos. Ou são plasmados ou, na maioria,cultivados nasColônias e, após, são preparados com muito carinhopor trabalhadores. Veja mais sobre este assunto nolivro NossoLar, cap. 9 (N.A.E.).

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  - Sou Josefina, a Zefa. A dona, ou a antigaproprietária do sobrado. Agradeço-lhe. Devo ficarsentada?

- Sim, por favor, a senhora e o Eleocácio devemficar sentados -respondeu a socorrista.

- Não acha que devemos todos nos chamar pelonome? Se vocêpediu para chamá-la de Mary, não me chame desenhora. Mas o quevocê veio fazer aqui?- Vim querendo ajudá-1 os - respondeu Mary.

- Por favor, será que não pode me dar notícias dosmeus familiares? Gosto muito deles e às vezes ossinto pensando em mim -pediu Ademir.

- Sim, posso faze-lo. Aqui tenho estasinformações.-Mary abriu suapasta e leu para ele. - Sua família sentiu muito seudesencarne.Acham que o mataram porque você viu o assassino eque tudo aconteceupor culpa do seu patrão, Armando.

- No que eles estão certos - disse Ademir.- Não foi, não! Eu não o obriguei a nada. Morreu

por sua própriaculpa-falou Armando, defendendo-se.- Não comecem! Larguem de culpar um ao outro-disse Zefa.- Continue, por favor - pediu Ademir a Mary.

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  - Sua esposa teve que trabalhar, arrumou umemprego, vestiu-se depreto por luto e o faz até hoje. Nunca pensou em ter

outra pessoa. Seusfilhos casaram, têm filhos e ela mora com um deles.Vivem bem.- Eles... meus filhos... são honestos? -perguntouAdemir.

- São. Trabalham honestamente, dizem seguir oexemplo do pai -respondeu a socorrista.-Exemplo!-exclamou Armando sorrindo.

- Eles não sabem o que fiz - disse Ademir. - Aindabem. Se sãohonestos, provavelmente não virãopara cá quando ocorpo físico morrei:

Obrigado, Mary.-Eu também queria saber de minha família-falouEleocácio.

- Sua esposa e seus dois filhos sentiram muito ofato de ter desencarnado com a amante. Ficaramenvergonhados pelos muitos comentários. Mudaramde cidade. Seus

filhos estudaram, são formados,casados e têm filhos. Estão bem e preferem nãocomentar o assuntonem pensar em sua desencarnação. Sua ex-esposacasou-se de novo.

- Minha Iva? Casou-se? Tem outro homem? -perguntou Eleocácio, indignado.

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  -Benedito, você, encarnado, não dava notícias aosseus familiares e eles nem sabem que desencarnou.Quem se lembra de você é seu

filho.- Filho? Teve um filho e não me disse! - falou

resmungandoMaria Gorete.

- As vezes tenho me recordado dele, há tantotempo não o vejo.Quando encarnado, como ela diz, não o via. Elenasceu de umapequena aventura, ficou com a mãe. Mary, vocêpode me dizer dosmeus pais.

- Estão encarnados, velhos e doentes, acham queestá longe e

que nem se lembra deles - respondeu Mary. Econtinuou: - Você,Maria Gorete...

- Já sei, não tenho ninguém que se lembre de mim,pelo menospara ter bons pensamentos - interrompeu MariaGorete.

- Sinto dizer, mas é isso mesmo - falou Mary.- Você pode me dizer se alguém achou o dinheiro

que escondemosna casa? - perguntou Benedito.- Sim, acharam. Nico e a esposa, seus empregados. -Era uma boa quantia - disse Benedito.- A senhora Zefa deixou muitos amigos, era queridae ainda é

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lembrada pelo muito que fez às pessoas - leu Mary.- E meu marido e minha filha?-perguntou Zefa.- Seu marido perturbou-se um pouco com a

desencarnação, masagora está bem, mora numa Colônia com a filha devocês, Julieta, eeles têm pedido muito pela senhora. Querem-na comeles. -Julietasofreu ao desencarnar? - perguntou Zefa.

- Não, perdoou e foi socorrida. Foi ela quemajudou o pai -

respondeu Mary.- E eu? Não tem notícias para mim? - indagouArmando.

- Sim, tenho. Sua filha, Erica, herdou toda a fortunade Zefa ecuida bem dela. Está casada e tem filhos. Magali eseus dois filhos

passaram por dificuldades quando vocêdesencarnou, ficaram pobres eum dos seus filhos foi preso. Érica os ajudou. Vivemos três juntos esempre atrapalhados, dando pequenos golpes efazendo trapaças.- Não pensam em mim, não é? - perguntouArmando.

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  -Isso também tem me intrigado -disse Eleocácio. -Quem nosmatou? Por que motivo?

- Fui ameaçado de morte várias vezes. E é incrívelque tenhaacontecido. Estou curioso para essas respostas,espero descobrir -expressou Benedito.

- Não fui só má, fiz boas coisas também. Será queisso nãoconta? -perguntou Suellen. -Lembro que ajudeiamigas, fiz favores,emprestei dinheiro.- Fez esperando algo em troca, não foi? - indagouArmando.- Você é chato - respondeu Sue] len. - Talvez, mas

emprestei.- Penso que nossas boas ações não foram o suficientepara anularas ruins -disse Zefa.

- Por que será que aqui só pensamos nas másações? - perguntouAdemir.

- Porque foi por elas que viemos parar aqui -respondeu Eleocácio.

- São raras as pessoas que, estando encarnadas, sófazem boas

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ações, como também as que fazem só más - explicouMary. - Nós, queestamos ainda caminhando para o progresso, sempre

temos boas e másações. Imprudentes são os que deixam as más sesobressair e, se têmoportunidade de fazer o bem, não o fazem. Aquelesquedesencarnam com muitas boas ações se fazemmerecedores de umaajuda aqui no Plano Espiritual. Suellen, você nãoquer começar afalar? Conte-nos sua história.

- Posso começar - falou Suellen. - Aqui tenhorecordado muito,vivo dessas recordações. Nasci numa família normal,

de classe médiabaixa. Todos em casa trabalhavam. Mamãe erareligiosa e quando eu erapequena ia à igreja para passear. Tive uma infânciacheia de complexos equerendo ter objetos caros. Meus pais sofriam por euser diferente.

Estava sempre pedindo, queria ter roupas novas e demarca, jóias,freqüentar lugares caros. Resolvi que, para ter o quequeria, deveriame casar com alguém de posses financeiras. Comeceia ir atrás deuns garotos ricos e a namorar um deles, um rapazalegre,

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desajuizado como eu, e fiquei grávida. Pensei que elefosse casar comigo, mas o moço não queria nadasério e me levou para fazer um

aborto. Fiz assim meu primeiro aborto. Continuei asair com ele, ia alugares importantes, ele me dava presentes, comeceia fumar e abeber, com dezesseis anos parecia que tinha mais devinte.

"Envergonhava meus irmãos e fazia meus paissofrerem. Não obedeciaa ninguém e parei de estudar. Esse meu namorado iafazer uma viagem, iapara uma cidade no litoral com amigos e meconvidou. Aceitei, peguei todasas minhas roupas boas e fugi. Mas deixei uma carta

para que eles nãofossem à Polícia; escrevi explicando que ia embora decasa e que nãome procurassem.

"Fui para a praia e não só dormia com meunamorado, mastambém com os amigos dele. Ficamos vinte dias na

casa dos pais de umdeles. Quando eles foram embora, resolvi ficar.Tornei-me umaprostituta. Fiquei grávida de novo e resolvi fazeroutro aborto. Procureiquem o praticasse e achei uma enfermeiraaposentada. Fiz e, como metornei amiga dela, aprendi a praticar, ajudando-a.

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  "Vivi naquela cidade quatro anos, nesse tempoescrevi duas cartas àminha mãe dando notícias, ela me respondia aflita,

desesperada, querendoque voltasse e mudasse de vida, que fosse honesta earrumasse um trabalho.Isso eu não queria. Cansada de ficar ali naquelacidade, mudei para umaoutra e continuei com a mesma forma de viver.

O MISTÉRIO DO SOBRADO"Novamente mudei e vim parar aqui, nesta cidade.

Bem, não estamosmais na cidade. Onde estamos, Mary?"

-Estamos no espaço do Plano Espiritual da cidadeem que viveram

encarnados. Este local é denominado Umbral. Umamoradiaprovisória de espíritos - respondeu a socorrista.Suellen suspirou e continuou a falar:

- Estava com vinte e sete anos e pensava que aoficar mais velha nãoteria como sobreviver da minha profissão, do quefazia, agora acho

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errado falar assim... Profissão dever ser para quemtrabalha. E resolvipraticar abortos. Eu tinha feito mais três abortos, fui

faze-los em lugaresdiferentes, prestava atenção e me achei apta apraticar. Julgava até queajudava moças, pois para umas cobrava mais barato,ou à prestação. Teveuma mocinha que foi estuprada e fiz sem cobrarnada. Por que será queàs vezes pensamos que ajudamos umas pessoas eestamosprejudicando?

- Suellen -respondeu Mary -, você deveria saber noseu íntimo queaborto é algo errado. Priva um espírito de

reencarnar, de ter aoportunidade do recomeço. Você infelizmente nãoajudou ninguém com seuato, mas contribuiu para que outros cometessemerros e erroutambém. O feto desde sua concepção tem vida, étambém um espírito.

- É um assassinato, não é? - perguntou Suei len. -Matei seresindefesos. E funcionou comigo a lei de talião, matei efui morta.' Minha mãeme falava isto: "Suellen, você planta e a colheitachegará, seráobrigada a ter de volta o que fez". Mamãe! Tenhosaudades dela.

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Nesse tempo em que estive nesta cidade, escrevi aela algumas vezes.Agora sinto tanto sua falta. Ela sabia acalentar, me

abraçava, consolando-me, quando eu chorava. Nãolhe dei valor, não a respeitei ecreio que não merecia seus afagos. Agora eu gostodela!Suellen respirou fundo e continuou:

- Conheci Eleocácio e me tornei amante dele, e tudoestava bemquando fomos assassinados. Eu tenho remorso de terfeito abortos, e deos ter praticado em outras mulheres. Fico pensando...quero voltar e teroutro corpo, viver de novo no plano físico, mas tereioportunidade? Será

que minha futura mãe irá me abortar? Sentiria muitose fizesse issocomigo. Agora entendo bem: "Não faça ao outro oque não gostariaque lhe fizessem". Vejo constantemente aqueles fetos,alguns tremendo,para morrerem minhas mãos. Sofro!

5 - Esta era uma conclusão de Suellen, que ainda nãotinha compreensão do Plano Espiritual. Cada casoé um caso e pode-se ter várias reações para a mesmaação (N.A.E.).

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Suellen parou e chorou aos soluços. Todos ficaramquietos. Após unstrês minutos continuou a falar:

- Por isso acho merecido eu estar aqui. As minhaspoucas boasações foram insuficientes para que me ache digna deuma ajuda.

- Suellen - falou Mary delicadamente -, você já

sofreu muito estesanos todos aqui. Já é tempo de você aprender a vivercom dignidade, a serútil e trabalhar ajudando outros que sofrem. Não sedesespere! Tenhaesperança! Queira o socorro e, o mais importante,peça perdão e perdoe

a si mesma.- Você acha, Mary, que posso ter outra

oportunidade? Que isto aquinão é eterno? - indagou Suellen.

- Não é eterno; isto pelo que passam é temporário.É para istoque estou aqui, para faze-los compreender e querermudar para

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melhor. Todos nós temos oportunidades e vocêtambém terá. Suellen, osofrimento passa ensinando. Você faria o que fez de

novo? - perguntouMary.

- Se voltasse agora com o que sei, não faria. Massem estesconhecimentos não sei. Estou sendo sincera. Semsaber das conseqüências é difícil falar com certeza sefaria ou não. Depois de ter sofrido asreações, digo com firmeza que não faria. Sou ruim,não sou?

- Pelo menos não está sendo hipócrita - falouAdemir. - Foi má, nãoescondeu que era e agora tem a coragem de falar demodo sincero do que

fez.- Hipócrita? Creio que não fui, mas isso não anula oque fiz -disse Suellen.

- A hipocrisia é muito ruim, hipócritas tambémvêm parar aqui -disse Ademir.

- Quer falar mais alguma coisa Suellen? - perguntouMary.

- Estou muito triste, deprimida, infeliz por estaraqui. Nuncapensei que ficar presa fosse tão ruim. Aqui estoucondenada a não sair dolugar, a sentir frio, sede, estou desconfortada e suja.Que bom seria

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tomar um banho e não só lavar as sujeiras do meucorpo, mas tambémas de dentro de mim. Corpo? Como é que eu,

estando morta, sinto tercorpo?

- Nosso espírito ao desencarnar está revestido deum corpo que éainda matéria, só que rarefeita, invisível aos olhoscarnais. Chamaperispírito. E, quando desencarnamos e não temoscompreensão decomo viver com o perispírito, sentimos asnecessidades do corpofísico, e alguns se iludem tanto que se acham aindaencarnados - explicouMary.

- E como nos sentimos! - expressou Suellen. - Nãogosto de viveraqui, é muita tristeza. Quando fazemos algo errado,não pensamos quepodemos vir para um lugar assim. Foi... está sendogrande meu castigo!

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  - Lembro a você, Suellen, que não há castigo, comodiz - explicouMary. - Somos atraídos para lugares que fizemos por

merecer. Ao errarnos desarmonizamos, e é preciso nosharmonizarmos, e sempre temosoportunidade de faze-lo pelo amor, trabalhando parao bem de nósmesmos e para o próximo, mudando a forma deviver e sendo bons.Mas, quando recusamos essas oportunidades, a dorvem nos ensinar.Pelo próprio bem de vocês, é necessárioharmonizarem-se com as LeisDivinas.

Eleocácio prestou muita atenção no relato de sua

ex-amante. Maryo incentivou:- E você, Eleocácio, não quer falar também?

- Estou pensando: fui hipócrita! Fingia ser umapessoa e era outrabem diferente. Dava uma de honrado, de sujeitoimpecável, que estava

ali para castigar bandidos, e agi escondido como um.Vou falar demim.

"Também tenho sofrido aqui. Eu que sempre fuiexigente, queriaque minha roupa estivesse sempre bem lavada epassada. Estava

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sempre barbeado, limpo, exigia hora certa para tudo.Aqui creio queaprendi a não ser tão exigente! Acho que não serei

mais. Fiquei nochão, sujo, alimentando-me só quando o socorristavinha aqui, eaprendi a ser grato por esse pouco que recebo. Estarsujo me incomoda,este sangue escorrendo do ferimento me causa nojo edor. Como tudoacaba! Mandava e era obedecido. Poderia terusufruído de tudo semprecisar magoar ninguém. Sinto falta até docafezinho quente que aservente do fórum me servia e pelo qual eu nuncalembro de ter dito

obrigado' a ela. Dores, saudades, tristezas, nuncapensei em sentir issoao morrer. Morte? Enganosa ela é! Eu era um juizimportante eterminei assim. Importante? Que ilusão! Aqui,desencarnado, não tenhonada disso.

"Nasci numa família honrada, ou que dava valor aisso, mas, pensando bem, sempre tinha quem fizessealgo errado e bem escondido,como se fosse possível esconder de nós mesmosnossos erros.

"Fui orgulhoso, arrogante, e meus pais memotivaram a ser assim.

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Sempre fui ótimo aluno, estudava muito e queria ser juiz. Formei-mecom louvor, pus-me a trabalhar e continuei a

estudar. Conheci Iva e

achei que ela seria boa esposa, era também advogadae educada. Casei evieram os dois filhos.

"Prestei concurso para ser juiz, passei e foi uma

enorme alegria ter metornado um, senti-me realizado."Trabalhava muito, achando que resolvia tudo do

melhor modopossível, achando-me infalível.

"Embora amasse do meu modo Iva e estivessesatisfeito com a

família, comecei a ter amantes e até me apaixonavapor elas. Com issopassei a ter gastos extras e, para suprir essasnecessidades, comecei afazer pequenos favores que eram cobrados.

"Lembro-me do primeiro, foi de umjulgamento deum moço que

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assassinou outro numa briga. O pai do que morreume procurou e meofereceu um soma de dinheiro para que o

condenasse a muitos anos. Foio que fiz. Afinal ele era um assassino. Fui implacável.Só que os doisrapazes lutavam e qualquer um deles podia termorrido. Deixei oassassino arrasado. E foram surgindo casos e eu,dando o parecerpara quem me desse dinheiro. No começo sócondenava os culpados,depois, mas depois..."Eleocácio deu uma parada, suspirou e continuou:

- Um dia, fui procurado por um senhor que após seapresentar foi

direto ao assunto."Senhor juiz, venho aqui porque será o senhorquem julgará meusobrinho. Ofereço-lhe uma boa quantia... para que osolte.'Mas ele é culpado e eu não solto bandidos', respondiorgulhoso.

"Não? Quem é bandido para o senhor? Quemrecebe dinheiropara mudar sentenças é honesto? Desculpe-me, mastenho provas de queo senhor fez isso. Quer ver?'

"Mostrou documentos, fotos em que eu recebiadinheiro. Senti-memal. Mas ele, implacável, continuou:

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  Isso não tem importância, cada um ganha a vidacomo quer.Vamos começar de novo. O senhor aceita esta

quantia para dar oresultado favorável ao meu sobrinho, senão isto tudoirá para as manchetes de jornais.'

"Foi então que percebi o tanto que havia errado eque estava nasmãos de bandidos. Fiz o que eles pediram. Fuicriticado, tentei defenderme, dizendo que não tinhaprovas contra o julgado etc. Esse moço,traficante de drogas, foi solto.

"Houve também uma vez em que um moço foipreso por assassinato, ele dizia ser inocente, mashavia muitas provas, testemunhas

contra ele. Fui procurado por um advogado quedefendia bandidos e queme ofereceu dinheiro para condená-lo. Aí tive acerteza de que ele erainocente e mesmo assim o condenei. Não esqueço o

olhar daquele moço...ele me olhou tão sentido, tão magoado, que nãogosto de me lembrar,mas estou sempre recordando.

"Pedi transferência e vim para esta cidade. E logoque mudeiconheci Suellen, que estava numa encrenca.Apaixonei-me por ela,

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livrei-a da cadeia. Tentei ser honesto, mas gastavademais com ela evoltei a cometer atrocidades fingindo ser bom e

honesto."Também tinha motivos para ser assassinado, mas

não sei quem foi. Semandei alguém inocente para a prisão e se solteiculpados, são fatos de queme arrependo, e aqui estou, preso, sem as mínimascondições humanas.Preso por causa dos inocentes e no lugar dosculpados.

"Não acreditava em nada quando estava no corpofísico. Ironia! Eraum ateu convicto. Achava que o corpo carnal morriae tudo acabava, que

Deus não existia. Se existisse, Ele ia me provar. Comose eu fosse tãoimportante, como se Deus, meu Criador, necessitasseme provar algo.Minha família dizia ter determinada religião, isso porstatus, porque ninguémseguia, até eu, dependendo da pessoa, dizia que

também seguia. Esperavaque meus filhos ficassem mais adultos para explicarminha teoria: queDeus não existia. Porque eu, instruído, achava que areligião era ópio,vício do povo, a distração que os mais inteligentesinventaram para a

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multidão não se revoltar. Via muitas injustiças emaldades, eu mesmo as fiz,e se Ele, Deus, existisse, certamente não as permitiria.

Se Ele não ébom, não é Deus e, assim, Ele era uma invenção.Como era ignorante!Poderia ter procurado e ter entendido o que é Deus,este fabulosoCriador, este Pai Amoroso. Lembro que uma vez nofórum encontrei umcolega lendo um livro religioso no seu horário dealmoço, indaguei-lhe,rindo:-Você acredita nisso?'-Sim, acredito. Este livro nos ensina a crerraciocinando.'

"Pois eu não creio! Prove para mim que isso éverdade, que Deusexiste!', exclamei, orgulhoso, não querendo que eleprovasse, mas simcolocar minhas idéias.

-Senhor Juiz, é difícil provar algo a alguém quenão quer mudar a

forma de pensar. E tudo o que lhe disser agora osenhor terá comorebater. Creio que, quando morrer e não acabar, seuespírito continuarvivo, voltará a pensar sobre isso de outra forma, a denecessitado',disse ele.

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-Terei que esperar até morrer para ver!', exclamei,rindo.

-Todos nós iremos um dia ter o corpo físicomorto, senhor juiz,seu dia chegará', respondeu ele tranqüilamente.

"E agora aqui, nestes anos, tenho pensado muito,meu corpocarnal morreu, continuei a viver, Deus tambémexiste. Não era Eleque precisava me provar, era eu que necessitavaencontrá-Lo. Achoagora que quem é ateu ou não procurou entendernosso Pai Maior ou

é orgulhoso demais para vê-Lo na natureza, nopróximo e nelemesmo. E aquele companheiro de trabalho do fórumtinha razão, nada queele me falasse, me provasse, me faria acreditar. E oateu leva um sustocom a continuação da vida após a morte. Agora creio

em Deus, e meenvergonho de ter sido ateu!"

-Eleocácio-disse Mary-, as injustiças são explicadaspela lei dareencarnação. Recebemos as reações de nossas ações,quandoagimos com maldade. Nada é injusto!

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  - Tenho medo disso, embora aqui tenha tido oretorno. E como éruim recebê-lo!

Eleocácio se calou; todos haviam escutado atentos.Após unssegundos de silêncio, Zefa falou:

- Vocês dois não se lembram de Vanilda? Não serecorda dela,Suellen? Era uma moça bonita, você deve tê-laconhecido.- Vanilda? - repetiu Suellen suspirando. -Como sabedela?

-É fácil saber - respondeu Eleocácio. - Você,Suellen, sempreresmunga esse nome.

- Sim, era minha conhecida. E outra de que não

gosto de recordar.Vanilda era uma jovem bonita que, além de trabalharem um escritório,fazia programas com homens, vendia seu corpo, parater melhor renda, e asua família desconhecia esse fato, acreditava que elaganhava bem. Uma

amiga dela, Lili, que também agia assim, ficougrávida e Vanilda meprocurou para que lhe fizesse um aborto. Fui à casade Lili e Vanilda estavalá. Fiz que ela abortasse, mas algo saiu errado, nãosei bem o que foi, e Lilimorreu. Para não ser presa, pus a culpa em Vanilda.Eleocácio me ajudou e

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ela foi presa.- Deixou que alguém fosse acusado em seu lugar...

Que horror! -

falou Ademir.- Eleocácio me prometeu que ia ajudá-la e que ela

não ficariamuito tempo presa-disse Suellen.- E aí, o que aconteceu com essa moça?-perguntouMaria Gorete.

- Não sei como ou por que ela morreu na prisão -respondeuSuellen.

-Ela tinha família? Alguém que sofreu por ela?-indagou Zefa. Não sei, devia ter, ela me falou certavez dos pais, da mãe, queamava muito -respondeu Suellen.

- Vocês devem estar aqui por isso também - falouBenedito. -Um acusou, outro, sabendo inocente, a deixou na

prisão. Bela dupla!- Você também não deve ser inocente. Será que não

fez nada deerrado? - indagou Suellen.

-Não sou inocente e não estou julgando, foi só umcomentário,desculpem-me-falou Benedito.

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  - A morte dessa garota me amargura - disseEleocácio. - Ela não erabandida e não soube lidar com a podridão que

encontrou na prisão. Foimorta, assassinada, e eu me sinto culpado. Eu sóaguardava um tempopara soltá-la, e ia realmente fazer isso, so que nãodeu, ela morreu antes.Cometi muitos erros e acho justo estar aqui.-E de Lauro, você se lembra? - perguntou Ademir.-Lauro? Porque pergunta isso?- indagou Eleocácio,preocupado.

- Conheci a família dele, até ajudamos seus pais jávelhos comalimentos e roupas. Foi um inocente que vocêmandou para a prisão. Os

pais dele lhe rogaram pragas e o maldisseram. E elestinham outro filho,que o odiava por ter feito essa injustiça com o irmão.Ele pode termandado matá-lo - respondeu Ademir.

-Lembro de Lauro, mas queria esquecer. É verdade,mandei-o

para a prisão, inocente, no lugar de um bandido queme pagou.

Lágrimas escorreram abundantes pelo rosto do ex juiz. Fez-seum silêncio e Mary pensou que aquela quietude eraassustadora. Oroupedindo ajuda, teve medo de não saber como lidarcom eles. E recebeu

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pensamentos de incentivo de Alfredo."Mary, você está indo bem! Eles anseiam por falar,

desabafar,

escute-os, saberá aconselhá-los, orientá-los.""Mas eles estão falando de seus erros, fatos íntimos.

Será quedevo escutá-los?", indagou em pensamento.

"Sim, minha querida, escute-os. São erros que osincomodam,melhorarão ao falar e por ter quem os ouça, e façacom carinho."

Mas, sabendo que receberia auxílio de Alfredo,ficou maistranqüila.

Mary os achou lúcidos e lembrou que Alfredo lhetinha dito:"Com sua presença, com estas ervas que queimará e

com os curativos quelhes tirarão a dor, eles ficarão menos perturbadospara que possamconversar. Apesar de que no momento eles não estãomais tão confusos"."Isso não é bom?", indagara a socorrista.

"Sofrem mais no Umbral os que estão em plenogozo de suas

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faculdades mentais. Tendo o entendimento de tudopor que passam,sentem mais.

-É melhor continuarmos conversando - falou Mary.- Também acho e, se ninguém tiver nada contra,

vou falar de mim -disse Benedito.Todos, concordando, olharam para ele, quecontinuou a falar:

- Fui uma criança levada e briguenta, éramospobres, mas, comparando-nos a outros moradores dolocal, éramos considerados pessoasde posses, pois tínhamos sítio, casa e animais. Minhamãe erareligiosa, mas daquelas supersticiosas, que estavasempre dizendo: isto não

se pode fazer, aquilo também não, só que nãoexplicava o porquê. Nãotive religião, achava que era algo chato que proibiatudo que eraprazeroso. Acreditava em Deus e até rezava nashoras de aperto, masnunca freqüentei uma igreja.

"Sempre fui muito trabalhador, gostava deatividades, não ficavaquieto, era bom empregado, tive sempre emprego. Eisso que mais meincomoda aqui, ficar sem fazer nada. Isso é overdadeiro inferno, ficarocioso. Como é ruim passar horas, dias, semanas,meses e anos aqui

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sentado, com dores e sem fazer nada. Quandoencarnado me falavam

que as pessoas morriam e descansavam; não meconformava e pensava:morrer deve ser ruim. E aqui estou, morto, mais vivo

que antes, semfazer nada, só pensando e maldizendo as coisaserradas que fiz. Comoisso é horroroso! Cruel! Embora reconheça que eu éque fui cruel! É alei do retorno! Estou cansadíssimo de não fazer nada!Até sonho que

estou trabalhando. Queria fazer qualquer coisa,qualquer trabalho.Carpir com a enxada seria um prêmio.

"Mas vou voltar à minha história. Era muito jovemquando meenvolvi com uma moça e ela engravidou. Não quiscasar com ela e

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cidade grande e, após, para longe de lá. Forampoucas as vezes queescrevi cartas aos meus pais, e recebi poucas notícias.

Fiquei sabendo queos parentes do moço morto me procuraram e depoisdesistiram e quemeu filho estava crescido. Depois parei de darnotícias e nãosoube mais deles. Não ajudei mais meu filho. Agoragosto dele, masantes, encarnado, não ligava, me era indiferente.

"Por duas vezes fui preso, uma por vadiagem e aoutra por estarbêbado e ter brigado num bar, na confusãoquebramos tudo. Naprisão levei uma surra que me deixou com muito

ódio da Polícia."Lá vi muitas tristezas, abusos, às vezes se temmais medo doscompanheiros de cela que da Polícia. É um lugarmuito ruim, triste,onde se têm muitas saudades, arrependimentos eonde se fazem muitos

planos de vingança, mas também de mudar de vida,ser honesto. Ficopensando que não difere muito uma prisão deencarnados daqui doUmbral. Só que lá eu tomava banho, via o sol e mealimentava.47

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"Acabei saindo da prisão e resolvi parar dearrumar encrenca,não brigar mais. Encantei-me com uma garota, erauma prostituta muito jovem, menor de idade. Ela também me queria, sóque estava ligada a umacasa onde um homem tomava conta dela e de outras.Ele ganhava dinheirosendo empresário, como ele dizia, das meninas. Ele

me advertiu parame afastar dali, da garota, mas, apaixonado, não ofiz. Ele mandou doishomens me surrar; foi uma boa briga e fiquei todomachucado. Porvingança, fui até uma cidade maior e o denunciei.Esse empresário foi

preso, as garotas, soltas e, com medo dele, fui paralonge. Foi nessetempo que encontrei Maria Gorete e nosapaixonamos. Ela tinha sidoprostituta e gostava de viver com luxo e eu também.Então tivemos aidéia de abrir um prostíbulo. E para ganhar mais epagar menos às

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fui morto."- O que você, um ser tão desprezível, estava

procurando na casa de

minha tia? - perguntou Armando.- Vou fingir que não ouvi sua ofensa - respondeu

Benedito. - Fuilá por causa dos selos. Sempre gostei de selos e oscolecionava.Arrependo-me de ter ido, deveria ter escutado MariaGorete, que medisse aquele dia estar com uma intuição de que algoruim iaacontecer.- E você não me deu atenção-falou Maria Gorete.

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- Pensei que, se algo fosse acontecer, seria à noiteno bar, atétinha tomado algumas providências: alertei osempregados, converseicom as meninas, dei-lhes dinheiro para agradá-las -disse Benedito.-E você sabe quem nos matou? -perguntou Ademir.

- Não! Não conhecia o moço, mas parece ter sido

alguémmandado, assassino de aluguel, profissional. Masnão tenho certezarespondeu Benedito.

- Deve ter sido alguém que, querendo matá-lo, ofez e sobroupara nós -comentou Armando.

-Não acho! -exclamou Benedito. -Lembro a você

que o assassinobuscou o juiz com a amante no interior da casa e ostrouxe para a sala.Reuniu todos e nos matou. Depois permanecemos ossete aqui nestelocal e isso deixa claro que não há inocentes entrenós, senão teria, ao

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desencarnar, ido para outro lugar. Ninguém sabiaque íamos lá aquelatarde.

-Mas eu achei que estávamos sendo seguidos-interrompeu MariaGorete.

-Bobagem sua - respondeu Benedito. -Tinhaobservado bem enão vi nada. Depois, se quisessem só matar a mim oua Maria Gorete, erabem mais fácil fazê-lo no nosso bar ou em nossa casa.Acho que morride bobeira, porque estava lá na hora errada.-Mas não foi inocente! -exclamou Suellen.

-Não! E tinha motivos para ser morto. Sou umassassino! Minha

história não tem nada de bom para me orgulhar!Quando ele terminou de falar, Maria Gorete disse:- Estou com vontade de falar, acho que ao fazê-lo

tirarei um peso demim. Nunca matei ! Não abortei, porque não fiqueigrávida! Mas tireisonhos de jovens, matei seus anseios, tirei anos de

vida delas,fazendo-as viver de forma que nós ganhássemosdinheiro. E horrívelisso! Também penso a todo instante nos atos erradosque fiz. Arrependo-me, se voltasse atrás não os faria.Mas também sofri. E...minha vida não foi fácil.

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  "Desde pequena tinha intuições, em casa todos seacostumaramcom isso. Dizia: "Tal pessoa vai chegar", e não dava

outra; "vamosreceber uma carta", e ela vinha, embora ondemorássemos não tivessenada de interessante nem acontecesse nada de muitodiferente.Nunca liguei para isso que sentia, nem procureisaber por que tinhaessas intuições, só que, quando achava que iaacontecer algo de mau,tomava algumas precauções.

"Era a segunda filha de muitos irmãos, oito. Meupai era um bruto.Odiei-o por muito tempo. Minha mãe era fraca, umacoitada que fazia tudoque ele queria. Vivíamos miseravelmente. Mas meus

pais se amavam,queriam bem um ao outro; embora tivessem muitasdificuldades, eramunidos. Morávamos num casebre de um cômodo; eratudo junto, cozinhae quarto.

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pensei que ia realmente deitar, dormir ao lado de umhomem, umdesconhecido.

"Fomos para a estrada. Era uma rodovia em quetrafegavamcaminhões de transporte de cargas, morávamosperto, uns três quilômetros dali, e íamos a pé. A noiteos caminhoneiros costumavam pararnum pequeno bar para pernoitar. Meu pai negocioucom um deles. Umhomem gordo, feio e velho, e fui para o caminhãocom ele. Foi terrível!Senti dor, nojo, medo, fui estuprada com oconsentimento do meu pai.Queria morrer e teria matado aquele homem setivesse como. Arrasada,

machucada, fui para casa com meu pai e ele teve odinheiro paracomprar os remédios.

"E ele passou a me levar sempre à estrada. Para queeu nãoficasse grávida, ele pagou para uma mulher colocaralgo dentro de

mim e nunca engravidei. Era uma benzedeira,feiticeira, como achamávamos. Ela colocava ervas dentro do útero,diziam ser

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venenosas, todo mês ela fazia isso. Creio quequeimava as paredes doútero, pois uma vez um médico, anos depois, ao meexaminar, disseque meu útero parecia ter sido queimado. Essamulher, para que eunão sentisse dores, me dava uma beberagem, eradesse jeito que ela sereferia a um chá, mas mesmo assim doía muito.

"Meu pai foi me vendendo e melhoramos de vida

um pouquinho, jánão passávamos tanta fome. Eu era graciosa, bem-feita de corpo, masmuito maltratada. Achava ruim ter de ir para aestrada, mas ia, commedo de meu pai e de suas ameaças.

"Minha irmã mais nova que eu dois anos ficou

apaixonada e temia quemeu pai a levasse para a estrada. Sabíamos que eleplanejava fazerisso. Os dois, ela e o namorado, resolveram fugir e euos ajudei. É a únicaboa ação que lembro que fiz. Escondido do meu pai,ajuntei um dinheiro e

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dei a eles, que foram para longe. Quando meu paidescobriu que elestinham fugido e que eu os tinha ajudado, levei uma

surra que memarcou toda e nem pude ir para a estrada, fiquei diasem casa. Minha mãecuidou de mim; embora ela me quisesse bem, achavacerto o que meu paifazia e que eu devia obedecê-lo. E que ele fazia omelhor para nós nomomento. Eu nunca mais soube deles, da minhairmã e do namorado.

"Decidi fugir também e planejei tudo muito bem.Meu pai merevistava quando íamos embora e eu não conseguiamais esconder

dinheiro. Um dia deu certo. Havia mais caminhõesparados, entrei em um,fiz o programa, tive relações sexuais com omotorista, que mepareceu simpático, e pedi a ele:

-O senhor me levaria embora daqui? Meus paisme venderam

para aquele velho que me traz aqui e me obriga afazer isso. Quero melivrar dele e voltar para minha família.'

"Menti, porque se dissesse que era meu pai, omotorista não iaquerer me levar.Para onde quer ir?', indagou ele.

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  Para qualquer lugar, desde que seja longe daqui,depois dou um jeito de ir para casa', respondi.

Está bem, levo você. Mas como fará para fugir?'-Vou descer e fingir entrar em outro caminhão.

Venho escondidopara cá e partimos.'Tudo bem', concordou ele.

"E assim fiz e deu certo. Ao sair do caminhão fizsinal para meu paique ia entrar em outro, ele concordou; fiz que entreie, agachada,

voltei para o outro e fiquei escondida. O motorista,que ia pernoitar ali,ligou o caminhão e partiu. Senti-me aliviada, masestava só com aroupa do corpo e sem dinheiro.

"Calculei que, como eu demorava, meu pai foi ver oque havia

acontecido, pois tinha que voltar para casa, não meencontrou e calculouque eu tinha ido embora com o motorista docaminhão que partiu. Masnão tinha como ir atrás de mim, deve ter ficadofurioso, poisperdera a fonte de renda.

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  "Não senti medo, rodamos muito e o motoristaparou em outrolugar para dormir. Ele me deu alimentos e eu tive

relações sexuais com eleem troca. Andamos por três dias.

Agora, Maria Gorete, você fica aqui, esta cidade égrande earrumará o que fazer. Estou perto de casa e nãoposso levá-la mais.Sou casado e tenho filhos.'"Obrigada!', respondi. Você me ajudou muito!'

"Nunca tinha visto uma cidade, estranhei e andeicomo boba,estava com fome, parei e pensei: Vou arrumartrabalho!'

"E passei a bater nas portas das casas, mas havia

dificuldades,teria que dormir no emprego, não tinha roupas einventei uma história:

Estava viajando e dormi, quando acordei tinhamme roubado amala. Saí para arrumar emprego porque passávamosfome onde estava,

quero trabalhar para mandar dinheiro para meuspais.'"Após muito procurar, uma senhora me aceitou."

- Puxa, Maria Gorete, que vida difícil a sua! Vocêsofreu bastante! -exclamou Suellen.

- Essa tal reencarnação, pela qual temos muitoscorpos para viver na

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Terra, deve ser verdade. Tudo isso que sofreu deveter sido reação desuas ações anteriores. Só não entendo o porquê de

você estar aqui-falou Ademir.

- Pois logo entenderá - disse Maria Gorete. - Voucontinuar anarrar. Essa mulher deixou que tomasse banho e medeu roupa ecomida. Fui dormir num quartinho do fundo, queera simples, maslimpo. Ela mandou que fosse descansar paracomeçar a trabalhar nodia seguinte. Sabia fazer de tudo, mas na minha casa,que tinha chãode terra, fogão de tijolos, lavava roupa no riacho ou

buscava água nopoço.Você não sabe fazer nada!', disse a senhora.

Eu aprendo, quero aprender, minha casa eradiferente. A senhoranão pode me ensinar?'

Posso, mas não vou lhe pagar nada até que aprenda.'"Concordei, ter onde dormir e alimentos estava bom.

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  "E por três meses fiquei ali trabalhando, a senhoraera dura, maleducada, severa, eu trabalhava muito eestava sempre cansada. Aprendi a

fazer tudo, mas ela achava que não e não me pagava."Um dia, o filho dela, que morava em outra cidade,

chegou e seengraçou comigo. À noite entrou no meu quarto, meestuprou e aindaironizou:Ora, você nem era virgem!'

"No outro dia, com receio de que eu fosse comentarcom a mãe dele,se adiantou e falou a ela que eu o convidara paradormir comigo. Minhapatroa acreditou no filho e me mandou embora,deixando que eu levasse

só as roupas que ela havia me dado."Saí procurando outro emprego, não encontrei,dormi na rua, tivemuito medo. Estava faminta e não sabia o que fazer.Então uma moçamuito enfeitada aproximou-se de mim:

O que uma moça tão bonita está fazendo aqui,

sozinha e tãotriste?

Maria Gorete suspirou e deu uma paradinha na suanarrativa paratomar água, e Mary pensou: "Seria difícil acreditarque Maria Gorete foiuma moça bonita se eu não estivesse acostumada aver sofredores no

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Umbral. São na maioria feios, porque estãodesarmonizados, normalmente estão sujos, feridosou doentes. Aqueles sete estavam ali

quase irreconhecíveis, pálidos, com expressõessofridas e tristes, eramuma sombra do que tinham sido. Porém sei que elesforam elegantes, quese vestiam bem, que eram arrumados. Como tudoacaba, infelizes dos quese orgulham do físico, daquilo que é ilusório, poistudo passa, acaba; só oque é real, verdadeiro, fica. Ali estava uma boa liçãopara os orgulhosos:cultuar nomes, posições é imprudência, pois elespassam e às vezes tãorápido. E quem não fez por merecer um socorro, ir

para uma Colônia ouum Posto de Auxílio, com certeza após a morte docorpo carnal, fatoque ocorre para todos, vem parar no Umbral. E comoé triste viverali, parece não ter fim, embora se saiba que épassageiro. E o

socorro parece ser demorado, porque essa ajuda érealizada quando oindivíduo muda, ou quer mudar de forma sincera,para melhor".Maria Gorete recomeçou a falar e a socorrista prestouatenção. -Contei a essa moça a verdade.

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  Venha comigo!', convidou ela. Está vendo minhasroupas?Gostou? Pois pode ter iguais e não trabalhar. Sou

uma prostituta.

Faço por gosto o que seu pai a obrigava a fazer.

Ganho bem e vocêpoderá ganhar também. É jovem, bonita e temexperiência.'

"Embora não quisesse ser uma prostituta, fui comela, estavacansada, desiludida e muito sozinha. O dono doprostíbulo me aceitou e

me tornei uma de suas garotas. Comecei a comprarroupas vistosas, nãopassei mais privações. Só que me tornei revoltada,não fiz amizade,conversava pouco, aprendi a ser cínica e tirarvantagens. E nunca ajudeininguém nem com um copo d'água.

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  "Nunca gostei de ser o que era. E quando encontreiBenedito viuma possibilidade de deixar aquela vida e o fiz. Só

que, acostumada a tertudo, a luxo, não queria viver modestamente, nemele. Então tive a idéiade ter um prostíbulo. Sim, porque conhecia bemcomo funcionava, erameles, os donos, que ganhavam dinheiro; cobravampor tudo, aluguel carodos quartos, para ter comida pronta, roupa lavada epassada e tinhase que beber e fazer os freguesesgastar nos bares.

"Com tudo planejado, montamos um, mas paratermos garotascomeçamos a enganar. Oferecíamos empregos

vantajosos e fazíamoscom que elas ficassem nos devendo dinheiro, assimas mantínhamospresas e vigiadas. Eu buscava meninas nas estradas eas obrigava a teruma vida promíscua. Ensinava-as a evitar gravidez,mas quando uma

delas ficava grávida, logo que começava a aparecer abarriga,mandava-a embora."- Não tinha dó delas? - indagou Suellen.

- Era revoltada. Pensava: se passei por tudo aquilo,por quenão as outras passarem também? Não tive dó! Eusofri e deveria ter

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ajudado outras a não sofrer, mas não... tinha prazerem ver mocinhaschorando e sofrendo. Fui má! Muito má! Uma vez

compramos umagarota com nove anos, deixei-a com os caseiros,trabalhava comoempregada. Quando ficou mocinha eu a leiloei, sóque ela sabia o que iaocorrer. Essa garota ficou tempo conosco, depoisacabou fugindo. Epara que elas obedecessem e não fugissem eu assurrava ou asdeixava sem alimentos.

- Que coisa! Não aprendeu nada. Seu pai fez issocom você, quesofreu, e quando pôde fez a mesma coisa com outras

garotas - disseEleocácio.-Acho que errei mais por isso! -exclamou Maria

Gorete. -Asgarotas sofreram com minhas maldades. Às vezes,Benedito tinha dó deuma delas e queria ajudar e eu não deixava, até

brigávamos. E para fazertudo isso, ter a casa em funcionamento, pagávamos apoliciais.

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um aborto malfeito.- Maria Gorete e Benedito, vocês se lembram de

Lúcia? Uma

garota que esteve com vocês? - perguntou Zefa.-Lúcia! Claro que eu lembro! - exclamou Benedito. -

Foi umagarota que veio ter conosco enganada, pensou que iater um emprego eque ia ganhar muito dinheiro. Morava na cidade,mas mentiu aos pais quehavia arrumado uma colocação em outra cidade. Erarebelde e MariaGorete teve que lhe dar uma lição.

-É verdade-falou Maria Gorete. -Lúcia não aceitoua vida quelevava, quis fugir e ficou de castigo, aí teve a infeliz

idéia de colocarfogo no quarto. Apagamos o incêndio, mas tivemosum grande prejuízo.Mandei surrá-la, só que Célio exagerou e ela bateucom a cabeça e ficouem estado grave. Com medo de que morresse, nós alevamos de

madrugada para a porta do hospital e lá a deixamos.- Soubemos que ela não se recuperou - falou

Benedito. - Ficoudeficiente, débil mental, os pais a buscaram nohospital, só que elessouberam de nós, que a filha esteve conosco, ecomeçaram a nos

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ameaçar. Um dia, quando saíram de casa, fui lá comos empregados equase destruímos tudo. Então ficaram com medo e

pararam de nosamolar. Penso às vezes em Lúcia e gostaria de sabercomo ela está, sesarou.- Sente remorso pelo que fez a essa garota? -perguntou Zefa.

- Sinto muito remorso de tudo que fiz de errado -respondeuBenedito.

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  - Eu também sinto - falou Maria Gorete. - Podiaaté ter tido oprostíbulo, seria errado, mas não me daria tanto

remorso. O que me dóié ter feito isso com aquelas mocinhas. Enganei-as,obrigando-as a fazertudo aquilo. Isso dói muito! Às vezes a figura deLúcia vem à minhamente toda machucada, com os olhos parados eabobados. Achomerecido estar aqui ! Meu Deus, como fui má! Pensomuito em minhavida, aqui não faço outra coisa, e imagino que eupoderia ter agidodiferente. Naquele dia, ao relento, poderia terprocurado mais

trabalho, não ter aceitado o convite daquela moça, terido em busca doauxílio de uma religião. Mas não fiz nada disso. Oque fiz está feito e asconseqüências estão aqui, estou presa neste localhorrível e sofrendomuito.

Maria Gorete calou-se e novamente veio o silêncioassustador.

Ademir e Armando

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 Quando se fazia silêncio ali, naquela sala que era

cópia da que um dia

fora a sala do sobrado, ouviam-se os ruídos de fora:gritos,gargalhadas, gemidos que podiam arrepiar de medoos não acostumados,mas eles, ali há tempo, anos, já não ligavam. Se elesse calavam, na sala,naquele recinto, fazia silêncio, e ouviam-se osbarulhos de fora com maisclareza, principalmente se se prestasse atenção.

- Ademir, Armando, não querem falar de vocês?-perguntou Marydelicadamente.

- Eu não gostaria - respondeu Armando. - Acho o

que fiz muitoíntimo.- Não me sinto à vontade para faze-lo, mas ao

mesmo tempoacho que necessito falar. Talvez eu melhore. Porquenecessito pedirperdão. E você, Armando, foi o culpado, mais do que

eu, incentivoume ao erro - falou Ademir.- Não me coloque a culpa! Se você não fosse

considerado culpadonão teria vindo para cá junto de nós. Não o obrigueia nada, fezporque quis - falou Armando, defendendo-se.

- Tem razão, é mais fácil colocar a culpa nos outros.Você me

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incentivou, mas fiz porque quis. Agora entendo queescutamos semprecoisas ruins e boas, mas fazemos as que queremos.

Não deveria terlhe dado atenção.

Ademir fez uma pausa, abaixou a cabeça, suspiroue foi falandodevagar.

- Tinha tudo para seguir o caminho certo. Famíliaestruturada, fui umfilho amado. Meus pais fizeram o que podiam pormim e pelos

V

meus irmãos. Não estudei mais porque não quis,porque queria casar,estava apaixonado por uma mulher encantadora eboa. Casei e erafeliz. Tivemos filhos lindos e sadios. Era religioso,freqüentava comassiduidade o templo e orava.

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  - E por que está aqui? Você é o único de nós que dizter sidoreligioso. Que aconteceu? - perguntou Suellen,

curiosa.- Fui hipócrita! - respondeu Ademir. - Era um

pseudo-religioso,uma pessoa que tinha religião de forma externa, defachada. Porque,se eu tivesse sido realmente religioso, não teria feitoo que fiz. Atéque queria ser bom, mas não fui. As vezes penso:onde está Deus,que eu adorava?Ademir olhou para Mary, que respondeu:- Deus, meu amigo, está em toda parte.-Até aqui?-perguntou Suellen.

- Sim, até aqui - respondeu a socorrista.- Verdade? Tenho vergonha de Deus. Mas por queEle está aqui,neste lugar tão feio?- indagou Suellen novamente.

- Não existe lugar em que Deus não esteja. Sim, Eleestá aqui edentro de nós - respondeu Mary.

- Como dentro de mim? - indagou Ademir. - ComoDeus estádentro de mim se cometi tantos erros?

- Lembro agora - falou Mary, tentando explicar -que li num livroque Santo Agostinho foi, antes de se converter, umhomem

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pecador, que após meditou sobre isso. Indagava:"Onde estava,meu Deus, quando eu vivia errando?" E teve a

resposta: "Estava nomeio do seu coração". "Como?", cismava Agostinho."Eu estavasempre presente com você, mas estava ausente demim", escutava aresposta. Deus, onipresente, não estava ausente daalma deAgostinho, como não está ausente do coração deninguém. Tanto elecomo nós é que não sentimos Sua presença.Ignoramos a presença deDeus em nós.

-As vezes penso que poderia me justificar e dizer

que não sabia oque fazia, mas sabia, sim. Acho que todos nóssabemos quandoerramos -falou Ademir.

-A ilusão é forte e fazemos a nossa verdade, a quenos convém -disse Eleocácio.

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- Já pensei sobre isso - expressou Mary. - Emeditei muito sobreuma passagem do Evangelho em que Jesus na cruzdisse: "Pai,perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Nóserramos e muitasvezes dizemos que não sabíamos, mas temos tudopara saber edeveríamos saber. Se a ignorância anulasse o erro, Jesus não teria dito:"Perdoa-lhes". Mesmo dizendo que eles não sabiam,pediu a Deusque os perdoasse. Não se perdoa quem não é

culpado. E esse nãosaber, quando deveríamos e poderíamos saber, é queé erro. Imprudência é ignorar a presença de Deus emnós e não dar atenção àsLeis Divinas, que nos orientam seguir rumo aoprogresso, para fazermoso bem e evitarmos todo o mal.

- Acho que, se a gente pensasse mais ou acreditasserealmentenisso, não faria tanta bobagem - disse Benedito.

- Vou falar o que eu fiz - disse Ademir, decidido. -Quandocomecei a trabalhar para o senhor Armando, queagora é um companheiro de infortúnio e por isso nãoo chamo mais de senhor, logo

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comecei a fazer extras e ganhava relativamente bempor eles. Etentei justificar, como a gente arruma justificação

quando quer. É para obem de minha família, pensava. Com esse dinheirovou comprar

os remédios para minha sogra, brinquedos para ascrianças, ouemprestar para meu irmão etc. Só que o bem dosmeus nem sempre

resultava no bem de outros. E por esse esquecimentofui fazendocoisas erradas, acumulando pecados.

"Armando tinha uma fábrica, uma pequenaindústria que não davalucro, era só fachada, para ter um local onde diziatrabalhar e ter

dinheiro. Ele era um cobrador de dívidas, cobravaporcentagens do querecebia e eu comecei a ajudá-lo. Ia até as pessoas e asameaçava; setivesse ficado só nas ameaças, hoje não sentiria tantoremorso,embora humilhasse as pessoas. Mas cumpria asameaças; surrei muitas

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pessoas, quebrei objetos delas, destruí sem deixarprovas. E isso não foisó para cobrar dívidas, mas também por motivos

simples, desafetos,brigas. Lembro, para minha infelicidade, de tudomuito bem e de quepelo que fiz muitas lágrimas foram derramadas. Masde alguns casosrecordo com mais remorso. Um deles é o de umasenhora viúva que teveque tirar o filho da escola para pagar os jurosexorbitantes. Outro éo de um senhor que, após uma surra, sentiu-se tãohumilhado que sesuicidou. E outro... bem, este é o mais triste. Porordens de Armando e por

muito dinheiro, provoquei um acidente e umapessoa morreu.Ademir suspirou e parou de falar; Suellen lheindagou:- Você matou uma pessoa? Você é um assassino!

- Eu a matei! - Ademir exclamou triste e continuoua falar. -

Assassino... termo forte cujo sentido só vim a saberquando fuiassassinado. A intenção era matar e fiz de forma quenão fossedescoberto e não fui. E, para me iludir, encarnado,tive em mente quesó provoquei o acidente, mas o que fiz foi umassassinato planejado e a

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sangue-frio. Matei uma pessoa que nem conhecia eque, tudoindicava, era boa. O retorno veio depressa, fui morto,

e não foi sóisso, ainda vim para cá, para este lugar horroroso, esofro pelo que fiz.Mas fui a causa de muitas pessoas sofrerem e o quesinto agora é justo. Como vocês vêem, dei uma de santinho e fuimuito ruim.Agora, fale você Armando, diga-nos por que mepagou para mataressa pessoa.-Não quero! Não vou falar nada! -exclamouArmando.Quietaram-se por instantes.

- Olá, pessoal! Como estão vocês? Muito movimento?

Entrou um desencarnado no local falando alto. Eraum negro alto,forte, olhos avermelhados e seminu. Ria e, ao verMary, seu risopassou a sorriso um tanto sem graça. Examinou olocal e não soube o

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que fazer. E Armando, que queria desviar de si aatenção detodos, falou:

- Oi, Damião! Sente aí! Esta é Mary, uma socorristaque está aquitentando ajudar-nos. Cumprimente-a!

- Boa tarde, dona! - falou Damião. - Estou só depassagem.Venho sempre aqui dar um alô para eles. Desculpe-me se brinco. Falei demovimento para alegrar o ambiente, sei que eles nãosaem dolugar. Mas não vou demorar, já vou indo.

- Fique Damião - ordenou Armando. - Conte paraMary que foiescravo, o que fala sempre para nós.

- Acho que interrompi uma conversa séria. Já vou!Até logo!Damião saiu e todos olharam para Armando,

convidando-o afalar de si. Ele praguejou e, como viu que eles nãohaviam desistido eque tinham todo o tempo para esperá-lo, resolveu

falar:-Tem razão, devo lhes contar o que fiz quando

encarnado. Aqui,ninguém teve uma vida digna. E, se estamosquerendo saber quem nosmatou e por que, devo continuar a conversa e falarde mim. Depoisquem de vocês me criticará? Todos têm seus erros.

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  "Estou indignado por estar aqui. Não fui muitoreligioso, mas naminha religião eles me diziam claramente,

afirmavam, que se eu fizessedeterminada coisa não ia morrer sem uma assistênciaespiritual. Umhomem de Deus iria me perdoar os pecados."

- Que expressão estranha é essa, "homem de Deus"- falou Benedito. - Todos nós somos de Deus, oudeveríamos sentir sempre apresença do Pai em nós, como nos disse Mary. Vocênão deveria ficarindignado. Abusou, fez algo para ter troca, cominteresse, e não demodo sincero.

- Você, meu caro Armando - expressou Mary -,

pensou quepoderia ter um intermediário entre você e Deus;enquanto deveria teressas pessoas como conselheiras, simples guias rumoao progressoespiritual. Porque nossa vida deveria ser umcotidiano bem-viver, com a

crença de que o reino de Deus está dentro de nós.Nosso pedido deperdão deve ser dirigido a quem ofendemos, a quemprejudicamos e aDeus, por O termos ignorado dentro de nós. Muitoscomo você sedecepcionam ao sentir seus erros aqui, no PlanoEspiritual, após

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quando errou o fez sem o consentimento de umapessoa de bem. Pessoasboas até ajudam, e como ajudam, mas não podem

fazer por nós o quenos cabe.

Todos prestaram atenção e concordaram, eArmando recomeçou afalar:

-Só tive um irmão, Arnaldo, que desencarnou jovem, aos dezesseisanos. Meus pais me protegiam muito, tinham medoque eu morressetambém. Minha mãe desencarnou e meu pai logoapós fez também suapassagem para a vida espiritual; nessa época eu jáera casado. Nunca

levei nada a sério quando encarnado, era gastador eminha esposa, aprimeira, não concordava. Eu ia muito a festas,viajava e logo gasteitoda a herança que meu pai me deixou.

"Minha família era pequena, meu pai só tinha umairmã, tia Zefa, que

era casada e só tinha uma filha, a Julieta. O maridode tia Zefa, tioAdauto, estava sempre me chamando a atenção e,quando eledesencarnou, ficou mais fácil lidarcom a titia e tirardinheiro dela. Bem, elame dava, me tirava dos apertos pelos quais passava.É por isso que não me

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conformo com o fato de ela estar aqui. Sempre foiboa, me ajudou,como também a orfanatos, asilos e amigos.

"Minha primeira esposa era uma chata, assim eu aachava, masagora entendo que ela queria que eu mudasse, queme tornasse umapessoa boa. Nós nos separamos e deixei minha filha,Erica, com ela equase não as via nem as ajudava. Casei novamentecom Magali e tivemosdois filhos; com esta combinava, ela era gastadeira,tão sem juízo comoeu.

"Quando minha prima desencarnou, a filha de tiaZefa, a Julieta,

passei a cuidar da titia. Embora gostasse dela, nãofazia por sentimento, mas com interesse de ficar coma fortuna dela. Era seu únicoparente.

"Sempre tive amantes, vivia de negócios obscuros enestesanos aqui sofrendo senti pelo que fiz. Ademir tem

razão, penso muitotambém e me sinto responsável pelo senhor que sesuicidou por

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não ter como me pagar e pelos que passaram fomepara se livrarde nós, pagando-nos. Tenho remorso de terdesencaminhado moças,fazendo-as ser prostitutas. E o que me dói muito éum estupro. Umcasal me devia uma grande quantia de dinheiro, nãotinha como pagar etinha uma filha muito bonita de dezesseis anos.Quando a vi acobicei, dei a entender que para tê-la perdoaria adívida. Seus pais a

ofereceram a mim e me garantiram que ela eravirgem. Fui à casadeles, que saíram, deixando-me com a garota. Ela meexplicou quepelos pais fazia tudo, porque eles iam perder a casaque moravam enão tinham para onde ir. Que o pai havia pegado

dinheiro emprestadoporque a mãe tinha ficado doente, que ela mepagaria aos poucos,iria arrumar trabalho. Não me importei, tudo aquiloera problemadeles, não meu. Então ela implorou, chorou, estavamuito bonita e

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desprezei seus rogos; como ela não cedia, a estuprei.A jovem erarealmente virgem. Depois de saciados meus

instintos, saí da casa edevolvi as promissórias ao pai dela no outro dia enunca mais soubedeles. É horrível lembrar isso. Seu choro sentido estána minhamente, vejo aquelas cenas como se estivessemacontecendo agora,lembro seu rosto sofrido e ela me dizendo que meodiava e que umdia ia se vingar."

- E será que Sílvia não se vingou mesmo? Ela seriabem capaz -falou Benedito.

-Ela se chamava Sílvia. Como sabe? - indagouArmando.- Sílvia esteve conosco um tempo, foi uma das

poucas que trabalharam no prostbulo por vontadeprópria. Depois foi embora com umhomem. Ela não só odiava você, como desprezava ospais - respondeu

Maria Gorete.- Você, meu caro Armando, espalhou ódio. Entende

o que fez?Separou uma família e colocou no coração de umamenina de dezesseisanos esse sentimento ruim - disse Mary.Armando abaixou a cabeça e Benedito falou: -E de Margarida, você se lembra?

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- Mas a essa não fiz mal - respondeu Armando.- Não mesmo? - perguntou Benedito. - Eu não o

conhecia, só de

nome, vim saber quem era aqui, neste local. Mastinha-lhe mágoa.Margarida era uma moça que nos servia e você aajudou a fugir.

- Fiquei apaixonado e fiz isso, sim. Mas depois deum tempoenjoei dela e, como ficou doente, a mandei embora.

-Você a mandou embora porque ficou doente! -

exclamou Suellen. -Que horror!

- Naquela época achei certo. Hoje não faria isso,devia tercuidado dela. Espero que Margarida esteja bem -falou Armando,sincero.

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  - Nós aqui queremos que os que prejudicamosestejam bem.Mas será que estão? Melhora nosso remorso pensar

que estão bem.Mas vamos analisar friamente: não devem estar.Quem recebe umamaldade, sofre - disse Suellen suspirando.

- E aconteceu o acidente, não aconteceu, Armando?De queAdemir falou - perguntou Zefa.

- Aconteceu, também é um tormento pensar nisso.Planejei e matamosuma jovem, e sua mãe sofreu muito e o noivotambém.

- Conte para mim, Armando, como vocês mataram Julieta -

pediu Zefa. - Sempre tive curiosidade de saber osdetalhes.- A senhora sabe que fomos nós? Sabia? -

perguntou Ademir,aflito.- Sim, sabia - respondeu Zefa.

- O que aqui não se sabe um do outro? - indagou

Eleocácio. -Ademir, por que se admira de Zefa já terconhecimento disso?

- Perdoe-me! Perdoe-me, Zefa! Por Deus, meperdoe! - pediuAdemir, chorando. - Tenha piedade e diga que meperdoa. Nãoposso olhar para a senhora, nunca pude.

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  - Pede perdão e piedade - disse Suellen. - Aotermos feito oerro, a vítima também pode ter pedido piedade e não

tivemos. Pensoque, se os fetos que matei pudessem falar, teriam mepedido clemência,o que não tive. Todos nós percebemos que você,Ademir, nãoconseguia olhar para Zefa. Só que não imaginava omotivo. Você é umassassino, tanto como eu, matou a filha dela, a única.

- Pode olhar para mim, Ademir! - exclamou Zefa. -E deixe para mepedir perdão depois. Agora fale você, Armando; oque fez paraminhaJulieta?

Armando e Ademir choraram, o choro sincero doarrependimento.Armando após uns minutos controlou-se e falou:

- Estava interessado na fortuna da senhora, minhatia; queria-apara mim. Mas havia Julieta, a chata e apagadaprima, ela que ia herdar

tudo. Quando ela arrumou um namorado, noivo, e iacasar, vi que afortuna nunca ia ser minha e decidi agir. Entendi quese ela morresse

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seria eu o herdeiro como o único parente. Planejeibem todos os detalhese foi o que fiz, com a ajuda de Ademir, matei minhaprima.

"Fiz tudo bem-feito; segui Julieta por dois meses evi que ela nasquartas-feiras voltava sozinha à noite doconservatório de música, pois onoivo tinha aulas em outro local. Julieta não dirigiabem e seria fácilprovocar um acidente com ela na estrada."Quase no horário de ela sair, ir para casa, eu lhetelefonei:

 Julieta, tia Zefa sofreu um acidente. Ela foi à cidadevizinha com Josée o carro bateu numa árvore. Titia está no hospital eeu estou comela. Não se afobe, não é nada grave. José machucou-se mais. Titiasofreu um corte na cabeça, levou pontos e o médico

quer que ela fiqueinternada, que passe a noite aqui. Eu já cuidei detudo, não sepreocupe. Venha para cá, titia quer você por perto.Venha rápido!Não passe em casa, venha daí para cá. Espero você.'

"Julieta acreditou, porque minha tia saía muito com José, o

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motorista. Preocupada, ela quis saber de detalhes einventei. Conheciaminha prima e sabia que viria rápido, mas mesmo

assim recomendei quenão falasse a ninguém e viesse sozinha. Temendoque minha primaduvidasse do telefonema ou passasse em casa parapegar algo e aívisse titia, arquitetei um plano, caso isso acontecesse:eu iria para acasa delas e diria ter recebido um telefonema de Julieta dizendo quetitia estava doente. Juraria que a voz era de minhaprima. Assim ambosseriam vítimas de trotes.

"Queria que viesse sozinha, mas estávamos

preparados paramatar mais um se ela viesse com o noivo. E Julieta,como sempreobediente, veio sozinha. A estrada para chegar àcidade vizinha tinhamuitas curvas por contornar montanhas e muitosprecipícios. E foi num

destes que Ademir a esperou com a caminhonete,emparelhou comela, empurrou e jogou seu carro para fora da estrada. Julieta nãosoube como se safar, deve ter se apavorado, nãosabendo como agir, eseu carro se espatifou nas pedras e ela morreu."Armando calou-se e Zefa falou:

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  - Foi assim que a enganaram! Nunca conseguientender o que Julieta estava fazendo naquela noite, naquela

estrada, sozinha. Seunoivo e eu indagamo-nos muitas vezes. Agoraentendo. Ela sofreu?Responda-me, Ademir, ela sofreu?

- Não, Zefa, Julieta teve morte instantânea. Eu aempurreicom a caminhonete, joguei-a para fora da estrada.Inexperiente,ela não soube se livrar e caiu no precipício-respondeu Ademir.

Zefa chorou e Suellen disse:

- Não entristeça mais por isso, Zefa, já passou, faztempo.Zefa enxugou o rosto com a mão, deu um suspiro e

vários outrosforam ouvidos. Até Mary o fez, nossa socorristalutava para não ficartriste, mas se comoveu, sentiu enfraquecer e

novamente ouviu a voztranqüila de Alfredo: "Calma, Mary, não seescandalize, veja-oscomo são: pessoas que erram. Sofreram, e você estáaí para tentarque compreendam a necessidade de se modificar.Que o arrependimento deles os faça se modificar.Lembre que Jesus não condenou a

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mulher adúltera, mas recomendou que ela nãoerrasse mais". Maistranqüila, conduziu o auxílio do melhor modo

possível.

Você, Armando, foi um tremendo ingrato. O piorde todosnós! - exclamou Maria Gorete. - Disse que sua tia eraboa, queajudava você. Que ingrato você foi!

- A ingratidão é a pior coisa que existe! - exclamouSuellen. -

Fazer mal a quem odiamos, até dá para inventardesculpas; a quemdesconhecemos, podemos imaginá-las ruins. Masprejudicar a quemnos quer bem e fez muito por nós é maldade demais.Desculpe-me,Armando! Estou a julgá-lo. Quem sou eu para isso?

Sou assassinacomo você. Sabendo agora da reencarnação, talvezeu tenha matado nosabortos afetos ou pessoas que me ajudaram.

- Não queria que titia soubesse disso. No começotive medoda reação dela, depois não quis que sofresse mais.Sim, porque

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achei que se soubesse ela ia ter uma desilusão queaumentariaseu pesar. Fui imprudente e mau, só tenho que pedir

desculpas. Sepudesse levantar daqui, ia de joelhos implorar seuperdão - falouArmando, sincero.-A ingratidão faz mais mal a quem é ingrato-opinouMaria Gorete.- Pode até doer em quem recebe, mas irá doer muitomais no ingrato.- Isso é verdade - falou Mary, explicando. - Porquequem fazpor amor, de modo sincero, o bem, não esperarecompensas nem umsimples "obrigado". A ingratidão até pode doer no

benfeitor, mas devepassar logo, e como você disse, Maria Gorete, irá umdia doer muitoem quem teve ingratidão. Ser grato é um sinal que oindivíduo aprendea amar de forma certa. Pessoas gratas tornam-sereceptivas a receber

mais, enquanto no ingrato muitas vezes essareceptividade é cortada

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por ele mesmo. Aquele que não sabe agradecer, nãomerece receber. Masvocê, Suellen, disse bem: não nos cabe julgar

ninguém aqui. Armando foiingrato, reconheceu seu erro.

-E verdade, reconheço meu grande erro e sevoltasse no tempo nãoseria mais ingrato! Se voltar a viver junto de tia Zefa,serei umescravo dela! - disse Armando.

- Eu não quero isso - respondeu Zefa. - Não meimporto maiscom sua ingratidão. Já fiquei sentida, agora creio queo compreendo. Seeu puder escolher, não quero nem você nem Ademirperto de mim. Não os

quero mal, mas não creio ser possível amá-los.- Que bando somos nós! -exclamou Suellen. -Tivemos todos osmotivos para sermos mortos. Mas falamos e aindanão sabemos quem nosassassinou e por qual dos nossos erros.

- É verdade - falou Eleocácio. - Eu, como juiz

acostumado a julgar crimes, não faço idéia do que nos ocorreu.- Será que não vamos saber nunca? - indagou MariaGorete.- Lembro a vocês que falta Zefa falar - disse Benedito.

- Deixe minha tia! - exclamou Armando. - Elajásofreu muito. E

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pelo visto existe injustiça após a morte do corpo.Deve ser umacontinuação mesmo, não só da vida, pois não

acabamos, mas de tudo, e asinjustiças continuam. Titia, eu sofreria em seu lugar.Eu mereço; asenhora, não!

-Não, meu caro Armando, no Plano Espiritual nãohá injustiças.Muitas vezes se pensa que não são justos certosacontecimentos, masbasta analisarmos com frieza e entenderemos quenão há injustiça nem noplano físico-esclareceu Mary.- Já sei, é por essa tal da lei da reencarnação-falouMaria Gorete.

- Vocês sabem muitas coisas, usam termos certos,falam muito dereencarnações. Como sabem disso? - indagou Mary.- Foram os socorristas que nos falaram - respondeuSuellen.

- É isso mesmo - disse Zefa. - São os samaritanos,pessoas

como você, Mary, que têm nos visitado e nos faladocoisas bonitas eúteis.

- E quando eles vêm, fico menos perturbada. Masnunca aqui mesenti como agora, tão lúcida-disse Suellen.

Mary entendeu que Alfredo a ajudava, enviando-lhes fluidos

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para que todos pudessem melhorar, falar de si eserem auxiliados,socorridos.

- Eu também me sinto assim! - exclamou MariaGorete. - Jáestive muito perturbada.

- Foi tudo muito confuso o que nos aconteceu -expressouZefa. - Quando, naquela noite, recebia o impacto dasbalas, passei

por uma dormência estranha. O primeiro tiro me fezcair, não seiexplicar, mas ouvi outros tiros e recebi o segundo.Quis morrerpara parar de sentir tudo aquilo, mas, pobre de mim, já estava morta.Meu corpo havia morrido e continuei... continuamos

vivos. Vultosnos tiraram da sala, hoje sei que foramdesencarnados moradoresdo Umbral, pegaram nosso espírito, nossoverdadeiro eu, e nostrouxeram para cá. Creio que nosso corpo morto foienterrado.

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Aqui ficamos parados, cansados, com dores eaqueles vultos queriam, zombando de nós, foram embora. Criamos a

sala, não sei como,mas o fizemos, e ficamos aqui sem sair do lugar.Acho que por anosficamos como enlouquecidos. Aos poucos, fomosmelhorando dessaperturbação, mas não do sofrimento. E quandoespíritos bons vêmnos visitar, melhoramos. E foi por essas conversasque aprendemosum pouco. E o assunto que nos interessou mais foi areencarnação,talvez porque nos tenha dado a esperança de sairdaqui, acabar com

este sofrimento e renascer, ter outra oportunidade deviver em outrocorpo, de ter um reinicio e esquecer.

Zefa suspirou e todos também o fizeram. Enovamente o silêncio;dessa vez não se escutou nada lá de fora. Marylevantou-se e abasteceu

de água o copo de cada um, deu-lhes pão e frutas etrocou oscurativos. Fez com delicadeza, com carinho e escutoude cada umdeles um agradecimento. Fizeram uma pausa e cadaum pensavano que escutara.Quando Mary sentou-se novamente, Eleocácio falou:

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-É triste escutar tudo isso. Somos todos culpados!Vamos tentarlembrar, para esclarecer, o que fomos fazer na casa

de Zefa naquela noite.- Eu fui me encontrar com Eleocácio - disse Suellen.- E eu com você, é óbvio! -exclamou Eleocácio.- E eu fui ver os selos - falou Benedito. - Gostavamuito deselos, era um colecionador. Acho que foi a únicacoisa de que gostei epela qual não prejudiquei ninguém.

- Fui lá naquela noite acompanhando Benedito -expressouMaria Gorete.

-Fui fazer um trabalho para a titia, num favor a ela-falou Armando.- E eu acompanhei Armando-disse Ademir.

- Tudo simples demais, talvez por isso esteja tão

complicado -expressou Eleocácio.

- Falta você, Zefa, para falar. Não quer tambémdesabafar? Todosse sentiram melhor quando falaram de si - disseMary.

- Isso é verdade - interrompeu Maria Gorete. - Eume senti bem

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melhor depois que compartilhei meus sofrimentosíntimos e tambémgostei de escutar, me fez bem. Afinal, estamos juntos

há tantos anos edevemos ser mais que companheiros de infortúnios,devemos ser amigos.

- Estão certos - disse Zefa devagar. - É justo que eufale e quevocês também saibam de mim.

"Tinha só um irmão como família. Meus paisdesencarnaram cedo, eutinha doze anos e meu irmão dezenove. Morreramem um acidente detrem. Esse meu irmão tornou-se como um pai paramim, cuidou de mim eme amparou com todo o carinho e atenção. Quando

casou, continueia morar com eles; minha cunhada era muito boa,éramos amigas.Conheci Adauto numa feira; embora o achasse umtanto estranho efeio, começamos a namorar. Ele tinha uma históriatriste. Havia fugido

do seu país na guerra e vindo como imigrante para onosso. Sofreumuito, passou muita fome e necessidades e tevemuitos empregos.Morava em um quartinho e tinha poucas roupas.Tive dó dele e oajudei. Ele contava sempre para mim sua história.Antes da guerra

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morava com a família numa boa casa; eles viviamtranqüilos, tinhamuma situação estruturada. Quando a guerra

começou, se preocuparammuito e passaram a viver com medo. Ele eraadolescente quando atragédia aconteceu. Seu pai o havia mandado fazeruma entrega equando voltou para casa ela tinha sido bombardeadae todos tinhammorrido, seus pais, dois irmãos e uma irmã. Ele ficoudesesperado,enterrou-os ali, no quintal. Queria morrer também euns vizinhos oajudaram. Essa família se preparava para fugir e oconvidou para ir junto,

e Adauto foi. Tiveram muitas dificuldades, andarammuito, ficaram sem sealimentar, viram muitas tristezas, mas conseguiramembarcar numnavio. Ele nunca mais soube de seus outros parentes,os que ficaram noseu país. Acreditava que estavam mortos. No meio

da fuga, separou-sedesses vizinhos e ficou sozinho no mundo.

"Adauto era pobre, mas muito trabalhador, meuirmão no começo não queria que namorássemos, masacabou concordando.

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Amávamo-nos e casamos. Fomos pobres, masAdauto, além de esforçado, era inteligente, e comminha ajuda melhoramos de vida.Isso foi aos poucos, com economias e muito trabalho.

"Não conseguia engravidar e sentia por isso, queriater filhos eaumentar a famíl ia.

"Meu irmão e eu estávamos sempre juntos, eracomo se fôssemosuma família só. E foi uma tristeza quando por umadoença inesperadaArnaldo, irmão de Armando, desencarnou. Sofremos

muito com eles."Anos passaram, já tínhamos alguns imóveis edesejava maisque tudo ter filhos. Fui a um médico, escondido deAdauto, pois eleachava que era bobagem. O médico não encontrounada de errado

em mim e disse que talvez fosse meu marido infértil.Achei também,porque ele me falava que quando fugiu estevedoente, com muitafebre, e que teve muitas dores.

"Pensei até em adotar uma criança, Adauto não seanimou com a

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idéia, para ele bastávamos nós dois. Mas para mim,não; queria umfilho. Então, tive uma idéia. Resolvi trair meu esposo

para engravidar. Sefizesse tudo bem-feito, planejasse bem, ninguémdescobriria.

"E logo após tive uma boa oportunidade. Adauto iaviajar a negóciopara uma cidade do litoral onde existia um famosoporto. Insisti parair com ele e acabei indo. Enquanto ele trabalhava euficava no hotel.Saí disposta a encontrar alguém e ter relações paraengravidar. Emelhor seria um marinheiro, porque teria a certezade que não o

veria mais. Foi assim que conheci no porto um alto edesajeitadomarinheiro, saí com ele três dias. Depois ele partiu enós voltamospara casa.

"E deu certo, engravidei. Contei, toda feliz, aAdauto, que ficou me

olhando assustado. Achei que de tão alegre ele tinhalevado umchoque. Mas foi muitos anos depois que, numaconversa, ele comentouque a tal doença que teve enquanto fugia o fezinfértil. E Adautonaquele momento nada comentou, depois sedescontraiu e continuou

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amoroso, bondoso; acompanhou minha gravidez e,quando Julieta nasceu,ficou feliz como qualquer pai. Eu queria um menino,

mas fiqueicontente, minha filha era sadia e cresceu forte.

"Hoje sei que Adauto soube da traição, mas meamava, teve medo deme perder e resolveu aceitar o fato e o filho que euesperava como sefosse dele. Sou grata a ele por isso.

"Só que Julieta não era bonita, mas desajeitada,gostava muito de

estudar, era pequena quando quis aprender música,a tocar piano eviolino. Confesso que me decepcionei com ela,sempre imaginei quemeus filhos seriam brilhantes, alegres, e queria que Julieta fosse bonita,chamasse a atenção. Quando Armando disse que ela

era apagada,tive que concordar com ele e talvez para muitaspessoas ela fossechata, uma intelectual que esnobava, a seu jeito, osmenos inteligentes. Maseu a amava muito.

"Essa traição foi sempre um segredo meu, é aprimeira vez

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que falo desse assunto. Traí um esposo bom,honesto, que mesmosabendo que a filha não era dele a criou com amor e

nunca me falousobre isso. Arrependo-me muito desse erro."

Zefa parou de falar para enxugar as lágrimas.Todos a olhavam, e elacontinuou:

- Meu irmão e minha cunhada desencarnaram e eusenti muito. Pormais que aconselhássemos Armando, ele logoacabou com toda a pequenafortuna que meu irmão com tanto trabalho lhedeixou.

"Adauto me preveniu sobre Armando, me diziasempre: Minha

querida, sei que ama seu sobrinho, mas você devever nele seus defeitos,que são graves. Ele é farrista, mulherengo, ocioso efaz negócios umtanto suspeitos. Ele acabou em pouco tempo comtoda a herança dospais. Não quero criticá-la, mas você o tem ajudado

muito. Cuidado paranão se arrepender mais tarde'."E Julieta dava razão ao pai:

"Mamãe, papai tem razão. Meu primo é um mau-caráter. Nãogosto dele e acho que Armando ainda vai aprontarconosco.'

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tudo para mim e Julieta e, quando esta desencarnou,ficou tudo paramim.

"Adauto sofreu e sofremos junto. Ele ficouacamado por meses edesencarnou. Sentimos muito e choramos unidas,mas a vida continuou e passei a dedicar-me a Julieta.

"As vezes discutíamos, porque eu a queriadiferente, primeiroque fosse homem, depois que se arrumasse, mas elanão se importavacom nada de material, era tímida, quieta, mas muitobondosa."E foi Mariinha, a minha empregada, que me fezcompreender:

"Dona Zefa, Julieta é uma pessoa especial, não

brigue comela, deixe-a ser como ela é. A senhora tem umtesouro por filha e não veisso!'

"Compreendi e, quando a aceitei, nos tornamosamigas e nãobrigamos mais.

"E continuava dando dinheiro ao Armando, àsvezes escondido deminha filha. Era meu único sobrinho e eu achava queele me queriabem.

"Fiquei animada quando Julieta me contou queestava namorando,

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mas quando conheci Ricardo fiquei decepcionada.Porém, logoentendi: os dois pareciam ter sido feitos um para o

outro. Ricardotambém era feio, desajeitado, e os dois tinham gostosiguais. Ele eraprofessor de música e, como ela, gostava de ler. Iammuito ao teatro e àsvezes eu ia com eles. Conformei-me, vendo-a feliz, eme pus a fazerplanos com os netos que certamente viriam.Conversamos, eles secasariam logo e morariam comigo. Nãonecessitariam preocupar-secom dinheiro e poderiam continuar com a música oudar-se ao luxo de

serem músicos, embora nenhum deles tivessetalento."Foi então que aconteceu o acidente. Pensei que

fosse morrer,senti uma dor tão grande ao saber que minha Julietahavia falecido.

"Foram Armando e Magali que vieram me acordar

e me dar anotícia. Eles fizeram tudo para suavizar o trauma. APolícia haviaavisado meu sobrinho, porque tinham achado ocarro caído com elamorta dentro.

"Lembro bem de cada detalhe. Naquela noite Julieta se atrasou,

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pensei que tivesse saído com o noivo e fui dormir.Acordei com Armando me chamando. Levantei,aflita, olhei no relógio, eram duas e

quarenta da madrugada. Entrei no quarto de minhafilha, chamando-a:

 Julieta, parece que Armando está aí fora mechamando. Levante! Venha comigo ver o que elequer. Julieta!'

"Ela não estava no quarto, sua cama estavaarrumada. Desci asescadas afobada, abri a porta, corri para o portão e aover Armando eMagali senti que algo sério tinha acontecido.

"Foi muito triste o velório, Julieta estava com o

corpo muitomachucado. Não me conformava, não queriaacreditar e, desesperada, a vi ser enterrada. Queriater morrido junto. Armando e Magaliforam prestativos, levaram-me ao médico, elecomprou os remédios. Euorava muito, pedindo a Deus que me levasse, queria

morrer paraficar com meu marido e minha filha. Muitos amigosme fizeramcompanhia. Ricardo sofreu muito, ele amavarealmente Julieta. Nósdois, por mais que pensássemos, não conseguíamosentender como epor que Julieta estava naquela estrada.

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-Será que ela me traía?', indagou Ricardo."Eu não achava; Julieta amava o noivo.

"O tempo passou devagar. Minha vida perdeu o

sentido. Nãoachava graça em nada. Ricardo foi escasseando asvisitas. Até queum dia me contou que estava interessado em outramoça. Tenteidisfarçar minha decepção e sorri. Depois entendi queele tinha querefazer sua vida. E viúvo é quem morre, pensava. ERicardo não tinha porque sofrer por minha filha a vida toda. E temposdepois, quando casou,lhe dei uma soma razoável de dinheiro e desejei decoração que fosse feliz.

"Armando continuou a me levar ao médico, acomprar meusremédios, afazer tudo que eu precisava, e eu lhedava muito dinheiro enem me preocupava com o que ele fazia com odinheiro. Eu nãonecessitava de muito para viver e depois ele seria

meu herdeiro e achava certoajudá-lo.

"E minha vida era muito chata, recebia algumasvisitas e fazia outras eainda usava os serviços de José, o motorista, queestava sempre melevando a lugares.

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  "Estava um pouco esquecida, com a pressão arterialalta e nãogostava de fazer regime. Mariinha, a empregada, era

minha companheira, cuidava bem de mim e eu aauxiliava muito.

"Ia muito ao cemitério. Enterrei minha Julieta como meu Adauto, fizum túmulo bonito e duas vezes por semana ia láorar, limpar o túmulo ecolocar flores.

"Com essas visitas, fiz amizade com duas senhoras

que tinham osmesmos sofrimentos que eu, conversávamos muito,nos lamentávamos. Nós nos tornamos amigasmesmo; eu gostava delas e elas demim. Elas também iam ao cemitério chorar seusmortos e muitas vezesalmoçávamos lá perto, ficávamos horas a conversar.

"E foi então..."

Delegado Cássiaoram interrompidos por batidas na porta e por

um homemcom voz forte e grossa indagando:- Posso entrar?

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  Não esperou resposta e entrou, olhou tudo,observandodetalhadamente, e contou:

-Um, dois... oito? Por que oito? Se foram sete osassassinados.Vocês não são os mortos do sobrado da rua curva?

Silêncio. Os oito da sala também o olharam,examinando-o. Depoisde uns segundos, Benedito falou:

- O senhor, digo, você não é o delegado Cássio? Ofamoso corrupto da cidade?

- Veja bem como fala! - respondeu o homem. - Nãopermitoofensas.

- Não mesmo? - perguntou Benedito. - Não creioque aqui ainda

mande em alguém ou em alguma coisa. Lembro quevocê me extorquiadinheiro. Foram muitas as vezes que lhe paguei paracontinuar comminhas atividades. Como sei também que você faziaisso com muitasoutras pessoas. E este lugar é o certo para os

corruptos. Que estáfazendo aqui? Que quer?

O homem não respondeu, continuou falando comose não tivesseescutado Benedito.

-Deixe ver se acerto... Você é Josefina, a dona dosobrado. Estão

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um pouco modificados, sujos, descabelados,desarrumados, mas eu, queos examinei tanto e tenho tudo na memória, os

reconheço. O juiz, aamante, o mal-afamado sobrinho e seu empregado,Ademir, cujafamília me incomodou para que encontrasse oassassino. E os donosdo bordel. E você quem é?

Apontou o dedo para Mary, que tranqüilamente

respondeu:- Sou uma trabalhadora do bem e estou aqui paraajudá-los.- Puxa! Para ajudá-los tem que ficar aqui? -perguntouo visitante.- Não é nada agradável este lugar.

- Calma lá, meu caro - disse Sue] len.-Primeiro nos

diga: quem évocê? É realmente o delegado? Ou foi? Depois nosdiga o que veiofazer aqui. Você está sendo inconveniente.

- Vocês estão muito lúcidos. Pensei que fosseencontrá-losperturbados, dementes. Conversam bem. Estouestranhando. Por que

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estão assim? - perguntou o homem.-Perguntamos primeiro-respondeu Suellen. - Mas

você tem

razão, com a presença de Mary, estamos ou ficamosmelhores. Mas jáestivemos muito perturbados. Estou raciocinandoperfeitamente erecordando também. Agora nos responda, porqueestamos curiosos.Você entrou aqui como se fosse o dono do pedaço.

- Sou o delegado Cássio, ou melhor, fui. Hoje sou oDelega ouDelegadozinho, como me chamam. Para responder atudo que meperguntou, preciso de tempo...

- Temos todo o tempo que quiser - falou Maria

Gorete. - Nãosaímos daqui mesmo. Gostaria de saber o que fazaqui. Se Mary permitir, gostaria de ouvi-lo. Vocêcuidou do nosso caso? Desencarnou?Sabe quem foi que nos assassinou? Não!Cássio respondia com sinais de cabeça e depoisdisse:

- Vim aqui na esperança de saber quem osassassinou. Vocês devemsaber, não é? Não! Impossível! Como foram mortos enão sabem?

- Caro delegado - respondeu Eleocácio -, realmentenão sabemos. Todos nós vimos um moçodesconhecido que atirou sem falar

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nada. Ninguém aqui lembra de tê-lo visto antes. Nãosabemos quem é.

-Um matador de aluguel ! -exclamou Cássio. -Só

pode ser. Maspor quê? Quem mandou? Por que vocês todos juntos? Gostaria de saber,sempre o quis. Não esqueço esse crime, quis tantosolucioná-lo. Omistério do sobrado, como o caso ficou conhecido. Setivesse achado quemos matou teria ficado famoso. - Cássio sentou-se nochão, perto de Mary,e olhou para Zefa. -Estranho ver a senhora e Ademiraqui. Pelasminhas investigações Ademir só tinha de errado ofato de ser

empregado daquele ali. Você, meu caro Ademir, pelovisto deve terfeito ou ajudado seu patrão a fazer falcatruas. Masdona Josefina eralimpa, isto é, não achamos nada que tivesse feito deerrado para estaraqui no meio desta gente ruim.

- Está nos ofendendo de novo! - interrompeuMaria Gorete. -Somos, sim, um bando de errados. Mas e você? Estáisento de erros? Não

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creio que esteja, senão estaria em outro lugar. Bonsno Umbral, só ossocorristas. Se tivesse sido um delegado honesto, não

estaria aqui.Não é por ter sido um homem da lei que veio paracá, não é?Mary se intrometeu para explicar:

- Podemos fazer o bem ou o malindependentemente da profissão quetemos. A oportunidade é a mesma para todos.Entendo que emalgumas profissões se tem mais facilidade para fazero mal, como emoutras se tem melhor chance de fazer o bem. Aprofissão de homem dalei, como disse Maria Gorete, deveria ser tão

responsável como outraqualquer. Existem bons profissionais nessa área,como existem os maus.Certamente Cássio não está aqui pela sua profissão,mas pelo que elefoi ou fez.

- Obrigado, senhora Mary! Posso lhe chamar de

Mary? Obrigado.Você tem razão, muitos colegas meus que forambons desencarnaram eestão muito bem. Não culpo minha profissão por euter vindo para cá aoter meu corpo físico morto. Não posso colocar aculpa em ninguém, sóem mim, mas ninguém quer me escutar.

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  - Estou curiosa para saber por que você está aquino Umbral.Como nos achou?-perguntou Suellen.

- Tive uma perturbação forte quando desencarnei.Vim entender oque aconteceu comigo aqui no Umbral, ou nestaregião do PlanoEspiritual que eu conheço. Foi muito desagradável !Mas deixemos issopara lá. Esse crime da rua curva sempre meincomodou, intrigou.Fui tachado de incompetente pela imprensa, meussuperiores mecobraram resultados. A família de Ademir meperturbou, queriam queeu descobrisse quem foi e por que o fez. Não foi

roubo, pois nãoroubaram coisa alguma. E eu... nós da Polícia nãoconseguimos descobrir nem chegar à conclusãonenhuma. A conversa está boa, mastenho que ir. Vocês têm todo o tempo, mas eu não.Tive permissãocom hora marcada para vir aqui.

- Você é um empregadinho do mal ou escravo? -perguntouBenedito.

-Nem um nem outro, ou os dois ao mesmo tempo -respondeuCássio. - Quando desencarnei, fui desligado do corpopor um espírito que

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queria vingar-se de mim. Ele muito me maltratou.Depois, fui libertado porum morador daqui que tem um bom cargo numa

cidade umbralina efiquei por lá o servindo. Estive sempre curioso parasaber

o que ocorreu com vocês e, quando fiquei sabendoque havia um

grupo neste local, preso numa espécie de sala, e quetinha sido assassinado, pedi para vir aqui. E para terpermissão tive que fazer algunstrabalhos extras. Mas tenho hora certa para voltar.

- Se não voltar no horário, o que lhe acontecerá? -perguntouSuellen.

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considerado bom - respondeu Cássio.- Se você veio aqui para saber quem nos matou,

perdeu seu

tempo - disse Suellen. - Estamos conversando háhoras. Cada umfalou um pouco de si e não descobrimos nada. Eufui...

Suellen falou, resumindo o que fez, quem foi edepois continuoufalando de cada um, sendo interrompida às vezespor um deles paraacrescentar algo. E finalizou:

- Como vê, senhor ex-delegado, temos muitosmotivos para ter1sido mortos.

- Vocês agrediram, agiram errado e, assim, ficaram

sujeitos areceber agressão, a ter a reação de seus atos - disseMary.

- Como uma pessoa acostumada a lidar comcrimes, tenho a certezade que todos vocês não falaram muito, estãoescondendo algo - disse

Cássio, olhando para eles.

I

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Abaixaram a cabeça, alguns até suspiraram e

ninguém respondeu.- Cássio - disse Mary -, por que você não fica

conosco, esquece seuchefe, fala de si e permite que eu o ajude?

- Não quero que meu chefe fique irado e que possanão só castigar amim, mas a vocês também - respondeu Cássio.

- Posso lhe garantir que ele não fará isso. Se vocêquiser mudar devida terá a nossa proteção e seu chefe nada poderáfazer. Depois vocêainda tem algumas horas - falou Mary.

- Você tem razão. Quero há tanto tempo desabafar

e nunca encontrei alguém aqui que me escutasse.Errei e me arrependo. Possomesmo falar de mim?- Pode - respondeu Suellen.

- Minha família era unida e sem grandesproblemas; fui uma criançaativa e esperta e desde pequeno queria ser policial.

Estudei semdificuldades, cursei direito e fiz carreira na Polícia.Gostava do quefazia. Prender bandidos era prazeroso, comotambém, infelizmente,abusar sexualmente dos presos. Logo, quandomocinho, percebi que não

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gostava de mulheres, mas fiz de tudo para queninguém notasse. Justificava à minha família, aos meus pais e irmãos

que não casavaporque tinha medo que bandidos usassem minhafamília, pois meu trabalhoera perigoso. Muitos presos para ter regalias erammeus amantes. Foientão que me apaixonei por um deles, só que ele nãome queria enão aceitava essa sexualidade. Forcei-o, ameaçavacolocá-lo em celascom perigosos, deixei-o sem alimentação, até quecedeu. Estava presopor roubo, era bonito e tinha estudo. Eu sabia queele, quando saísse

da prisão, não iria me querer, assim segurei-o, não osoltei quandovenceu sua pena. Ele me odiava, mas ficava calado.Sua família conseguiuum advogado e um juiz mandou soltá-lo. Quando elesaiu, só disse: "Umdia, senhor delegado, a situação será invertida, sei

esperar". Havia muitoódio em seus olhos. Não o vi mais, ele viajou, foimorar longe com medode mim. Eu sofri, amava-o, e fui me entreter comoutros. - Cássiosuspirou, parou de falar por momentos.

- Forçar os outros. Tenho horror disso! - exclamouSuellen.Não

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todos gostavam dele.-Umapessoa admirável esse seu vizinho, Ademir!

-exclamou

Suellen. -Mesmo sozinho viveu honestamente. Esolidão é algo estranho. Às vezes estamos junto aoutros e nos sentimos sozinhos; emoutras, aparentemente estando sem ninguém, nãonos sentimos só. Creio quequando temos algo edificante para fazer, ou quandonos lembramos defazer o bem, não existe solidão. Desde que meucorpo morreu, aquiestamos juntos, mas senti muita solidão.-É falta de afeto verdadeiro - opinou Zefa.

-É um fato complicado o seu, Cássio! - exclamouBenedito. - Eu

nunca mais forço ninguém a fazer o que não quer.Sofro muito por teragido assim como você, obrigando pessoas a ceder.Acho que você,delegado, errou mais em forçar. Eu não gosto delembrar meus erros,mas lembro.

-É verdade! Gostaria de esquecer minhas maldadese não consigo.Estou consciente dos meus erros - expressou Cássio.

-Mary, você já viu muitos homossexuais noUmbral?-perguntouMaria Gorete. - Não gostava deles, achava-os ruins,creio que era

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tudo preconceito. E, se tivesse ficado sabendo que odelegado era um,o teria chantageado.

- Maria Gorete, conheci quando encarnada algunshomossexuais, unshonestos, pessoas boas, e outros, não. E não tinhapreconceito,escolhia amigos pela bondade. E compreendi queexiste muita diversidadeentre pessoas que se denominam homossexuais.Aqui no PlanoEspiritual também divergem. Pessoas boas quandodesencarnam têmopção de fazer um tratamento para entender osvários motivos deserem como são, recordar o passado e se harmonizar.

No Plano Espiritual, que abrange Colônias, Postos deSocorro, não há união sexual, esim agrupamento por afinidades, amizades,podendo se ver atéalguns casais que se amam ficarem juntos,aprendendo a se amar

cada vez mais. Aqui no Umbral, onde trabalho háanos, tenho vistoalguns que, encarnados, foram homossexuais e queaqui vieram por

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afinidade; destes, muitos continuam a ser o queeram. Porque só noslivramos dos reflexos do corpo físico quando

aprendemos a viver sem ele,como desencarnados. E preconceito é sempre ruim.

- Eu nunca gostei de homossexuais - falouArmando. - Mas quem soueu para julgar alguém? Pessoas boas, as que não têmerros e estão sempreauxiliando, não julgam. Você, Cássio, enganou aspessoas direitinho.Eu, que me julgava bem-informado, nunca soubedisso.

- Tinha vergonha! Temia a opinião dos outros e nãotemia minhaconsciência - respondeu Cássio.

- Você gostou de ter sido homossexual? - perguntouMaria Gorete.- Não - respondeu Cássio. - Não gostei, penso

mesmo que Deus fezo homem para a mulher e vice-versa. Mas não foi sopor isso que vimparar no Umbral. Creio que se tivesse sido bom teria

a chance de sersocorrido. Gostaria de fazer esse tratamento de queMary falou e serhomem ou mulher e amar o oposto. É triste ter umsexo e querer ser ooutro e, pior ainda, ser promíscuo. - Suspirou, econtinuou a falar. Desencarnei quase de repente.Senti-me mal, fui ao médico, que pediu

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que me internasse num hospital para fazer exames, elá meu coraçãoparou e não conseguiram me salvar. Meu corpo

morreu e esse moçopor quem estive apaixonado estava me esperando.Com ódio, ele medesligou do corpo morto e minha agonia começou.Ele e outrosdesencarnados me maltrataram. Sofri muito. Masentendi o tanto que eu ofiz sofrer. Senti dores e humilhações do mesmomodo que o fiz passar.Cheguei a lhe pedir perdão, mas ele não me perdooue por três anosfiquei com o grupo. Depois o bando se desfez, cadaum foi para um lugar

e ele se desinteressou de mim, acho que se sentiuvingado e meu chefeatual me pegou para escravo. Esta vida é horrível;escondido, tenhochorado e maldigo meus erros.Cássio fez uma pausa e Benedito indagou:- E as corrupções? Não esqueça que eu lhe dei

dinheiro.- Será que não foi você, Cássio, que nos mandou

matar e aquiveio só para saber se descobrimos? - falou Suelen.

- Não fui eu! - respondeu Cássio depressa. -Nãomatei ninguém nemmandei matar. Creio que nem em troca de tiros combandidos

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assassinei alguém. Um dia fui a um culto religioso ea pessoa quepregava disse que Jesus havia dito: "O que Deus uniu

o homem nãosepara". Nosso Criador uniu o espírito ao corpo e ohomem não podia

-Mas haveria a intenção, meu caro -falou MariaGorete. -Não oculpo pelos meus erros. Acho que onde eu estivesseiria fazer algumamaldade a alguém, porque eu era má. Mas se vocêtivesse sido correto

teria impedido as mocinhas de sofrerem.- Como você, eu fui corrupto - falou Eleocácio. - Eme sintoresponsável pelo que podia ter evitado e não fiz. Ficopensando que, aodeixar de prender um traficante, contribuí para ovício de jovens; ao

permitir que um ladrão permanecesse solto,possibilitei que roubassepessoas; e, no caso de um assassino, deixei quetirasse a vida física dealguém.

- Entendo você - disse Armando. - Até gostaria quealguém

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tivesse me impedido de fazer tantas maldades. Comoacho também quefoi bom eu ter morrido. Se ficasse encarnado, teria

feito muito maiscoisas erradas. Teria sido melhor para mim se eutivesse sido preso epagado pelo meu crime.

- Só que não foi assim e não adianta pensar ocontrário - falouMaria Gorete. - Não se pode mudar nada do quefizemos e isso émuito triste. O remorso dói muito. Eu maldizia você,Cássio, por ficar comparte do nosso lucro e agora, vendo-o sofrido comonós, não lhe tenhomais raiva. E, se tivesse nos prendido, sido honesto,

eu aqui só teria que obendizer, porque teria evitado que fizéssemos muitasmaldades. Sinto quepelas conseqüências dos meus erros tenhadesencadeado outros. Não sóprejudiquei a vida das meninas ali no bordel, mas,pior, as fiz

amarguradas, fiz com que aprendessem a odiar, aquerer vingança e seviciassem na bebida, fumo e prostituição. Não fizmal só ao corpo, mas aoespírito delas!

- É verdade! - exclamou Cássio. - Com meus abusosna prisão, fiz

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muitos odiar e esse moço até se vingar. Como deixei,por dinheiro, quepessoas continuassem soltas a fazer maldades.

- A gente não pensa que, quando erra ou podeimpedir que outro erree não o faz, está sendo responsável por danos,causando muitosofrimento - contou Zefa.

- Quanta irresponsabilidade quando se podeimpedir e não o faz! expressou Suellen.

-Mas sempre temos oportunidades de consertar, deconstruiroque destruímos, de reparar, aprender, sermoshonestos, nos esforçarpara fazer o bem e sermos bons - falou Mary.- Acredita mesmo nisso? - perguntou Armando.

- Sim, acredito - respondeu a socorrista. - Oremorso deve serconstrutivo. Devemos ter consciência dos nossos

erros, como também deque, se pudéssemos voltar no tempo, não oscometeríamos novamente.Lembro-lhes que Deus é nosso Pai e que nos ama, epor esse amormisericordioso não nos condena ao sofrimentoeterno. E que outras

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em seu lugar e ele ficou de pé. Todos o olharam,curiosos.Mary também o observou, o ex-escravo era de

estrutura pequena,magro, mulato e cabelos lisos.- Sente aqui - falou Mary, mostrando o local entreBenedito eAdemir. -E você, Cássio, acomode-se ali entreSuellen e Armando.Assim, faremos um círculo e poderemos conversar.Eles sentaram no chão. Suellen indagou, curiosa:- O que faz aqui, escravo Damião? Não tinha idoembora?- Fingi ir, mas estava curioso para saber o queacontecia aqui efiquei embaixo da janela escutando - respondeu

Damião. - Epor que chorou? - perguntou Ademir.

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  - Fale, Damião! Sempre achei sua alegria falsa. Vocêse sentirámelhor após desabafar - falou Suellen.

- Não tenho nada de bom para recordar, para falar -disse Damião,pensativo. Depois de um suspiro continuou a falarpausadamente. -Mas quero fazê-lo! Vou contar a vocês como foiminha vida: nasciescravo, numa grande fazenda. Era menino eambicionava servir nacasa-grande, porque senão ia para as lavouras decafé, onde o serviço erapesado. Então pedi para o feitor e para as escravasque trabalhavam nacasa para intercederem a meu favor e esperava

ansioso ser chamado.Nessa fazenda não havia muitos maus-tratos, comotínhamosconhecimento de que ocorria em outros lugares.Trabalhava-se muito,descansava-se pouco, a senzala era grande e acomida, farta. Só que

preguiçosos levavam chicotadas e o castigo parabrigas era também ochicote. Escravos fujões eram marcados com ferroquente como gado.Mas quase não havia fugas, porque não se tinha paraonde ir. Ameninada, escravos crianças, brincava pelo terreiro elogo tinha alguns

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trabalhos para fazer."O dono da fazenda tinha um filho quase da minha

idade, mais

novo dois anos. Chamava-se Alceu. E eu queriaservir-lhe. O sinhô foiescolher um negrinho para isso; fiz de tudo para serescolhido, mas elepreferiu um primo meu, que era mais velho e forte.Fiquei revoltado eresolvi impedir; planejei e executei meu plano. Fizum buraco e cobri

com palha, depois levei esse meu primo ao local.

Convidei-o para ver umninho de passarinho, sabia que ele gostava de ver.Deixei-o ir na frentepara que caísse no buraco. Dentro do buraco tinhacolocado um pedaço depau enfincado no chão, com a ponta para cima.Resultado, além de ele

torcer o pé, fez um corte grande, perdeu muitosangue. Eu me fingi deindignado e fui ajudá-lo. Levei-o para a senzala e emseguida volteicorrendo ao local e desfiz o buraco. Meu primo teriaque ficaracamado por tempo e eu fui em seu lugar para acasa-grande.

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Apresentei-me ao meu dono.Sinhô, o escolhido não pode vir, está machucado. É

um descuidado

que certamente não dará certo para cuidar dosinhozinho Alceu. Vim emseu lugar.'"E você dará certo, negrinho?' perguntou o sinhô,rindo."Darei, sim, senhor. Sou magro, mas forte e esperto!'Está bem, fique. Se você se der bem ficará; se não,voltará àsenzala.'

"Meu primo nem desconfiou que eu tinha feitoessa maldade, ocoitado ficou com a perna imóvel, teve muitas dorese até me agradeceu

por tê-lo socorrido, levando-o para a senzala."Tudo fiz para que me aceitassem na casa-grande,fazia tudo que omenino Alceu queria.

Você parece me bajular demais. Mas vou aceitá-lo,direi aopapai que quero você!', falou o sinhozinho.

"Detestava ser escravo, queria ser dono, branco eimportante.Mas como não dava, resolvi usar da inteligência parafacilitar minhavida. Quase não ia mais à senzala. Minha mãereclamava, mas estavacontente por eu estar bem.

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sinhô ia para a lavoura e passava por ali. Fiqueicomo que se vigiasse equando vi o sinhô fingi me assustar. Deu resultado,

ele me indagou:"Que faz aí, negrinho?'"Eu? Nada!', respondi, arregalando os olhos.

Que foi negrinho? Venha cá! Conte por que estávigiando a janela do quarto de Alceu.'

"Ele está lá com Mariozinho. Os dois sozinhos! Nãoquero queninguém os surpreenda. Eu estou a vigiar', respondi."Foi Alceu que omandou?'"Não, sinhô! Eu que quis!'Por quê?'

"Como não respondi e comecei a fingir que tremia,o sinhô seinteressou e ameaçou:"Fale, senão vai para o tronco!'

"Não me castigue, por Deus! Sinhô, ninguém podesaber o queacontece naquele quarto. Ia ser um escândalo.'

"O que acontece?', perguntou o sinhô.Nem eu sei!', respondi."Após mais ameaças, falei, inventando:E que eles ficam pelados fazendo coisas!' qquê?', perguntou o sinhô, assustado."E esse Mariozinho safado, sinhô. Se eu fosse o sinhômandava-o embora', falei devagar, temendo sua reação.

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Vou lá e eles vão ver!' exclamou ele, irado."Sinhô, espere! O que vai dizer aos outros? Não façaisso, escu

tei sinhozinho Alceu falar que se descobrissem ele sesuicidaria.'"O sinhô parou. O irmão dele com dezessete anoshavia se suicidado há alguns meses e falavam que era porque elegostava de homens.Aproveitei que ele pensava no que ia fazer e falei:"A culpa é do sinhozinho Mariozinho. Faça-o irembora e tudovolta ao normal, ninguém ficará sabendo.'

"Acho que vou fazer isso! E você, negrinho, não vaifalar nada',disse o sinhô.

"Não, juro que não falo. Depois nem sei o que estãofazendo.Não falo nem ameaçado com ferro quente. Sou fiel aosinhozinhoAlceu!', falei, beijando os dedos cruzados, costumepor ali de quando sefazia um juramento.

"Se falar, arranco-lhe a língua!', disse o sinhô,saindo e medeixando ali.

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  "Na tarde seguinte Mariozinho foi embora. Senti-me vitorioso eresolvi usar da palavra, da fala, para fofocar, caluniar

para resolvermeus problemas. E fazia de tal forma que ninguémsabia que era eu.Assim, as escravas da casa-grande tinham medo demim, porque tinhacomo fazer minha vontade junto de Alceu.

"Achava Deus injusto: Alceu tinha tudo, erabobinho, ocioso,enquanto eu era inteligente, esperto e escravo; estavasempre blasfemando.

"Sinhô Alceu e eu crescemos e me tornei seucapanga, um guardacostas, que era chamado de jagunço. Tinha tudo que um escravo

poderia ter e também as negrinhas. Só queria sexo enão queriaenvolvimento. Fiz muitas maldades que atéresultaram em castigos notronco para meus irmãos de raça. Às vezes sentia queerrava, mas issopassava logo e eu continuava com minhas fofocas e

calúnias."Arrumava encontros de mulheres com o sinhô, ele

não gostava denegras, mas de brancas, e estas eram prostitutas ealgumas atécasadas. E com isso tinha regalias, não fazia nada, erabem vestido ealimentado.

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  "Era como um vício, estava sempre fofocando etorcendo os fatos,mas, embora tivessem a certeza de que era eu,

ninguém provava."Um dia, fui causa de briga ferrenha entre as

negras da casa-grande. Asinhá, cansada das minhas fofocas e porque tambémsabia que era euquem arruinava encontros amorosos para seumarido, mandou castigarme.

"Era alvo de inveja, e me levaram depressa para otronco. O sinhô e osinhozinho Alceu não estavam em casa. Já tinharecebido a metade daschicotadas, quando o sinhô chegou e mandou pararimediatamente. Ao

saber que fora a esposa que mandara me castigar, meindagou o porquêdo castigo e respondi com dificuldade, pois sentiamuitas dores, éhorrível esse castigo:

A sinhá queria saber se o sinhô se encontra comoutras mulheres e

quem são elas, como eu não disse, ela mandou baterem mim até quefalasse', menti.

"Ele mandou que me tirassem do tronco e quecuidassem de mimcomo um sinhô, só que escondido da mulher; paraela, eu tinha recebido o

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conhecer pessoas, lugares, viajar de navio, ver o mar.Só que a esposa deAlceu era muito mandona e me tratava como um

empregado, eu tinhaque fazer isto e aquilo. Viajavam conosco mais duasescravas quecuidavam das crianças.

"Achei a Espanha maravilhosa. Ela herdara, juntocom outros bens,uma casa muito bonita numa cidade grande ondenos acomodamos.Havia muito trabalho, até me queixei ao sinhô Alceu,que me disse que nãopoderia fazer nada, viera para isso.

"O sinhô Alceu começou a sair muito, a ter amigosque jogavam e

bebiam. Eles resolveram ficar por ali mais tempo. Euescutava asconversas e ficava quieto, sentia falta das minhasfofocas.

"Foi então que a sinhÃomeçou a se interessar porum dos amigos desinhô Alceu. Notei e fiquei quieto; observei melhor e

percebi que ela seencontrava com ele. Resolvi me calar, porque acheique, se contasse, sinhôAlceu iria querer ir embora e não era isso que euqueria. Tive a idéia demelhorar minha posição na casa e ficar à toa. Dei aentender à sinhá que

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sabia e que queria regalias. Ela não teve medo, meolhou, depois medeu uma bofetada no rosto e me xingou. Tremi de

raiva e fui para meuquarto, nos fundos da casa. Resolvi me vingar. Sabiado seu encontro,avisei meu sinhô, contei-lhe tudo. Dessa vez nãoinventei.

"Fui com ele surpreender a sinhá. Só que ela, ativae percebendoque eu ia contar ao esposo, fez que uma das negrasque lhe serviatomasse seu lugar. Surpreendemos o amigo dele e aescrava. Olhoume,pedindo explicações. Chamei-o para um outrocômodo da casa para

conversar:"Sinhô, sua esposa percebeu que seriasurpreendida e fez quesua criada tomasse seu lugar. Pense bem, seriapreciso esse senhor

fazer isso tudo escondido? Ele é solteiro e seencontraria com essanegra com o seu consentimento. Depois, por que noquarto da sinhá? Elaé tão puritana, como permitiu que sua criada seencontrasse com um

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homem no seu aposento particular? Finja não darimportância ao fato eespere para ver.'

"Foi o que meu sinhô fez. Não tocou mais noassunto. Disse que ia saire chegar tarde. Voltou e sabíamos que a sinhá estavacom o amante. Assimque o ouvi chegar corri e encontrei sinhô Alceu comuma arma na mão,ia matar os dois. Interferi, segurei-o.Não faça um desgraça dessa, sinhô Alceu! Por Deus!'"Tirei a arma da mão dele e o amante correu e foiembora."Quando sinhô Alceu se acalmou, aconselhei:

Mande sua esposa com os filhos para o Brasil, paraa fazenda.

Fique aqui mais um tempo; fico com o senhor.'"Foi o que ele fez. Mandou de volta a esposa, osfilhos e as negras, e ficamos ele e eu. Contratei outroscriados e passei a não fazernada. Mas meu amo mudou, ele amava a esposa;passou a se embriagartodos os dias e eu comecei a cuidar de tudo. E roubei.

Peguei uma quantiade dinheiro e escondi, porque não queria voltar aoBrasil, não queriaser mais escravo. Sinhô Alceu era agradecido a mimpor estarajudando-o e por ter evitado que fosse um assassino.

"Ele ficou doente, não queria se alimentar, sóbebia. Então eu

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escrevi ao seu pai contando tudo, temia quemorresse. E foi o queaconteceu: meu sinhô ficou acamado, chamei

médicos, mas não adiantou,ele desencarnou. Tive que tomar as providências,enterrei-o e avisei afamília. Dias depois chegou um irmão dele, que,vendo o que eu fizera,elogiou-me. Vendeu tudo que era do irmão e voltou.Pedi para.ficar, ele deixou e me deu uma boa quantia emdinheiro.

"Com o que tinha roubado e com o que ganheicomprei uma casa boae grande e me instalei. Só que tinha um problema:não gostava e não

queria trabalhar, e o dinheiro que sobrara não dariapara mesustentar por muito tempo. Pensei e achei umasolução. Ia enganar osoutros. Espalhei pela vizinhança que lia a sorte, quesabia do passado e dofuturo e que também ajudava a resolver

dificuldades, principalmente deamores. Tinha que fazer isso escondido, porque,embora a Inquisiçãonão agisse mais como antes, era proibido."Jogava com as palavras com os clientes:Você tem problemas com o cônjuge?'

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"Sim', respondia o consulente."Vejo outra pessoa entre vocês', falava."Se a resposta fosse não, eu partia para outrapergunta. Édoença que lhe aflige? Estou vendo!'

"E assim percebia qual era o problema e inventava.Passei tambéma dar uma de resolver dificuldades.

"Não é difícil para uma pessoa inteligente iludirquem quer seriludido. Na senzala vira muitos negros e negrasbenzer, usar ervas,fazer orações, invocar espíritos. Só que eu não sabia

fazer isso, nãotinha mediunidade e nunca vira nenhum espírito."Quero falar a vocês, meus amigos, que eu nunca

rezei nem sabiarezar. Continuava revoltado por ser negro, mesmoquando era umhomem livre.

"E foi fácil para quem sabia fofocar como eu, iludiras pessoas,obter informações e fingir que sabia fazer isso.

"Comecei até a viajar para atender pessoas emoutras cidades.Continuei cada vez melhor na arte de enganar.

Para que seu marido volte a amá-la, a ser fiel, asenhora precisa me

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dar tanto', falava uma quantia e negociava. Precisofazer umtrabalho; devo comprar objetos, ervas para isso, que

são caros.'"Não tive mais problemas financeiros. Tinha

criados, vivia bem eaumentava meus clientes. E percebi que muitostinham medo e usavadesse sentimento.

Sabe como é, poderá piorar! Seu esposo ou suaesposa seafastará de vez etc.'

"Agindo assim, atraí para perto de mim espíritosmaus e ociosos,que passaram a ajudar-me. Muitas vezes, quando eufazia chantagem, eles

iam lá e atormentavam o indivíduo, que acabavacedendo à minhachantagem."

-Chantagista! Nunca gostei de chantagens! -exclamou Suellen,interrompendo-o.- Chantagem é crime! - expressou Eleocácio.

- E pelo jeito você, Damião, sabia fazer - falouMaria Gorete. -Fazia de um modo que não parecia ser chantagem,não falava abertamente. Eu fiz isso! Dizia àsmeninas: Faça isto, senão você pode semachucar, cair, ser atropelada, seus pais podemsaber etc.

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  - Mas - falou Damião -, chantageei porque tinha osque se deixavamchantagear. Sabia que muitos pediam até dinheiro

emprestado

para me pagar, passavam dificuldades, maspagavam porque queriam.Eram pessoas sem fé verdadeira, sem crençassinceras, que nãooravam. Porque, se fossem pessoas seguras,religiosas, eu não teriaconseguido fazer isso. Esse fato sempre existiu eexiste. Porque sempre

há os malandros que sabem ou fingem saber fazeresses trabalhos e osimprudentes que procuram esse tipo de coisa, quepensam que é ajuda;existem pessoas que temem e pagam. Uns abusamdas pessoas e outros sedeixam ser usados. Não estou tentando me justificar,

mas se nãoexistisse quem procura esse tipo de trabalho, ajuda,não existiriam os queenganam. Eu não entendia disso, mas há os queentendem; trabalham junto de desencarnados enganadores como eles;imprudentes e tolos

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são os que procuram: gastam dinheiro à toa edificilmente resolvemalguma coisa.

Damião fez uma pausa, suspirou.- Mas continue, Damião! Você não fez nada de

bom? Não fezuma boa ação? - perguntou Zefa.

- Acho que não - respondeu o ex-escravo. - Se fiz,foi muitopouco. Ajudei alguns escravos na fazenda, meuscriados, dei algunsbons conselhos aos consulentes. Creio que atéauxiliei jalgumas pessoas,mas fiz muito mal. Por causadas minhas fofocas, fizdois clientes brigar,duelar, embora isso fosse ilegal, e um deles morreu.

Fico muito tristequando penso nisso. Pensa-se muito que todos osescravos erambonzinhos e coitadinhos. Dou risada disso! Muitosnão eram bons nemcoitados e alguns eram uma peste como eu. Vejo-oscomo pessoas

comuns que passaram por um aprendizado; unsaproveitaram a lição eoutros, não.- E como acabou isso? Como desencarnou?-perguntou Benedito.

- Chantageei uma senhora que contou ao marido eele me denunciou.

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Fui preso, me bateram muito. Estava na prisãopensando emchantagear para sair dali, sabia de muitos detalhes

da vida de pessoasimportantes, influentes. Aí recebi uma garrafa devinho. O carcereiro medeu.

Uma senhora bem-vestida lhe mandou, e também orecado deque sairá logo.'

"Sorri, satisfeito, e bebi o vinho; estava comvontade e a bebida eraboa, minha preferida. Foi quase no final que comeceia passar mal eentendi: tinha sido envenenado. Desencarnei comódio."

- Podemos dizer que desencarnou pelo veneno desua 1íngua -falou Maria Gorete, dando uma risadinha.

Ninguém sorriu, olharam para Damião,convidando-o comolhares a continuar, e ele o fez:

- Fui desligado do corpo morto lá mesmo na prisãopor espíritosque ali vagavam e fui para minha casa. Enterrarammeu corpo numa

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vala simples. E minha casa foi sendo invadida, umlevou um móvel,outro, alguns objetos e meses depois não restava

mais nada. Comonão tinha parentes, o governo vendeu minhapropriedade. Vinguei-meobsediando algumas pessoas que achava serem meusinimigos. Quem mematou foi uma jovem senhora que traía o marido;ficou com medo que adelatasse e ela e o amante me mandaram o vinhoenvenenado. De fato,saí logo da prisão.

"Um espírito que me odiava e que queria vingançame prendeu eme trouxe para o Umbral, para esta região, e me

levou para um julgamento. Pedi permissão para falar e convenci o juiz que poderia lheser útil.,. -Vou lhe dar uma tarefa, se sair-se bem ficará

conosco, senão, serácastigado.'

"Fui e fiz bem a tarefa. Tinha que fazer um grupobrigar. Usei daminha facilidade para fofoca, calúnia e logo o grupoestava brigando.

"Fiquei como servidor desse juiz e me especializeimais aindanesse setor, que para mim não é difícil. As pessoas,na maioria, falam

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muito, usam a linguagem indevidamente. E só darum empurrão quefalam mais que deviam. E como surgem problemas,

dificuldadespor esse fato! Mas existem os prudentes, sérios, emeu trabalho comestes não dá certo. Muitos já aprenderam a nãofofocar, não caluniar emesmo as verdades eles sabem como falar. Comestes não adianta insistir,não dão atenção a difamadores.

"Mas ultimamente tenho feito meu trabalhoforçado, já não gosto dever pessoas sendo ofendidas, caluniadas, brigando.Tenho estadoinsatisfeito! Ainda mais porque recordei alguns fatos

de minhas outrasencarnações. Fui um feitor racista, não gostava denegros. Em outra fui umprofessor com muitos conhecimentos, mas tambémracista, que falavaque era certo ter escravos.

"Reencarnei negro e escravo na tentativa de

aprender a amar araça negra. Só piorei, fiz coisas abomináveis."

- Você foi caluniador, talvez na sua próximaencarnação seja mudo expressou Ademir.- Seria um modo de não falar coisas ruins - disseDamião.

- Que adianta? Ele se vier mudo, não falará porquenão pode.

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Quero ver se ele volta normal e usa bem a linguagem- falou Eleocácio.

- Não posso fazer planos para o futuro se não sei

do meu presente- disse Damião suspirando. - Mary, por favor, deixe-me ficaraqui com vocês. Se vai ajudá-los, faça também algopor mim. Quero sairdesta vida, mudar, parar de fazer maldades.Damião chorou de novo, desta vez baixinho esentido.

- Pode ficar, Damião, respondeu Mary. - Vouajudá-lo, oumelhor, você está se ajudando não querendo maisfazer maldades equerendo se modificar. Terá oportunidade de se

melhorar.- Obrigado, Mary! Ficarei quieto. Já vou começar ame modificar,só usarei a palavra para algo útil.

Todos o olharam com simpatia. Foi aceito pelogrupo. Ficaram unsminutos em silêncio.

Os Planos

- Mem, falamos, falamos, e há dois fatos que aindanão

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entendi - disse Suellen. - Quem nos matou e por queZefa está aqui. Estesanos todos de sofrimento... foi só por que ela traiu o

marido? Ele até aperdoou; soube e não fez nada, e criou a filha comodele. Zefa agiuerrado, mas não para tanto sofrimento.

- Bem, não contei tudo, lembro a vocês que fuiinterrompida-expressou Zefa.

-É verdade, o delegado a interrompeu, mas o quepode ter feito asenhora, titia? Não acredito que tenha cometido umpecado grave - disseArmando. - Será que está aqui só para vigiar a mim eao Ademir? Será isto

possível? Não me perdoou por ter matado Julieta?Mas nunca falounada, nem me xingou.

É melhor escutá-la. Fale, Zefa! Que a atormenta?Que fez para estaraqui conosco? - perguntou Suellen.Zefa suspirou, ajiitou-se com dificuldade na cadeira e

falou:- Parei quando falava que fiz duas amigas, que nos

dávamos bem eescutávamos uma a outra. Uma era Olga, umamulher miúda, que diziaque era alegre e prestativa e sua vida mudou quandoafilha, Vanilda, morreu.

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Que tudo se modificou de repente... Ela estava emcasa lendo, quandovieram lhe falar que a filha tinha sido presa. Levou

um susto, depoisachou que fosse brincadeira, mas o filho confirmou,era sério. Olga,quando falava, lembrava-se dos acontecimentos echorava. Recordo bem oque ela dizia; tentarei repetir suas palavras:

"Zefa, senti-me mal ao ver minha filha presa,pensei que fossemorrer. Fui à Delegacia na esperança de que tudofosse um terrívelengano e de que minha doce Vanilda fosse voltarpara casa conosco.

Mas era sério. Minha filha foi acusada de ter feito umaborto numaamiga, que morreu. Não me conformava. Ficamosdesesperados, gastamosmuito dinheiro para tentar tirá-la da prisão, nãoconseguimos. Um

 juiz corrupto a acusou para livrar sua amante docrime. MinhaVanilda ficou presa. Soubemos que minha filha tinhamuitos namoradossaía com homens, e a decepção foi grande, mascontinuamos aamá-la. Vanilda sofreu muito na prisão, foi umhorror, não fez amigas lá

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dentro, era espancada, passava por situaçõesvexatórias. Forammeses difíceis e de muito sofrimento. Ficamos todos

infelizes epreocupados, ninguém da família tinha sossego. Eunão dormia maisdireito, pensava nela o tempo todo. Tudo quepodíamos fazer por Vanildafizemos. E ela dizia ser inocente. Contava sempre osmesmos fatos: quea amiga tinha ficado grávida e pagado a Suellen paralhe fazer o aborto;isso tinha sido feito na casa da moça grávida e elaficou para confortar aamiga. Suellen fez o aborto e algo deu errado; aamiga passou mal, a

aborteira fugiu e minha filha tentou socorrer acolega, levando-a para ohospital, onde morreu. Vanilda foi presa, disse averdade, mas nãotinha provas. Suellen negou, inventou até um localem que estava earrumou testemunhas que comprovaram isso.

Vanilda foi condenada.Ficamos sabendo que o juiz que a condenou eraamante dessa Suellen.Acredito... acreditamos nela; minha filha falava averdade. E foi numarebelião que mataram minha menina, a feriram commuitas facadas.

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Não ficamos sabendo quem foi; a direção do presídionos deu o corpopara o enterrarmos. Tentamos até obter mais

informações, mas nãoconseguimos. Não importa em saber quem aapunhalou; para nós quemmatou minha filha foi essa moça, Suellen, e esse juizEleocácio. São osdois os culpados! "

Zefa fez uma pausa, olhou para Suellen e Eleocácio,que estavam decabeça baixa, e continuou sua narrativa:

- Olga falava muito do encanto que Vanilda era;esta podia até terdefeitos, mas sempre foi sua menina amada. Elacontava acontecimentos

da infância e da juventude da filha e parecia que eu aconhecia, até a amei.Um dia perguntei a Olga se não havia comodesmentir, inocentar afilha. Ela achava que não. E seu sonho era que osdois, Suellen eEleocácio, parassem de fazer maldades. Logo que a

filha morreu elaaté pensou em se vingar; queria que os dois culpadossofressem,como ela e a família sofreram, mas era impossível, nomomentoparecia não haver essa possibilidade. Então Olgaqueria

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que alguém se vingasse por ela, por Vanilda. Muitasvezes ela choravasentida; queixava-se de como alguém podia fazertantas maldades econtinuar como se nada tivesse acontecido. Essa é ahistória de uma dasminhas amigas.

Zefa parou por alguns instantes, olhou para todos,que ficaram emsilêncio, depois continuou a narrar calmamente, nãoprecisava ter pressa,falava como se prestasse atenção, queria ser clara enão omitir nenhum

detalhe importante.- Minha outra amiga também tinha uma históriainteressante.chamava-se Maria José e ia ao cemitério visitar otúmulo do esposo. Noscontava sempre que o marido tinha sido um homembom, honesto e

trabalhador, e que eles haviam sido felizes juntos.Tiveram três filhos, doishomens e uma moça, que foi muito bonita. Lúcia erao nome da filha.Com dezoito anos, ela quis trabalhar em outra cidadee, por mais que seaconselhasse, se tentasse impedir, ela foi. o casalficou sozinho, porque os

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outros dois filhos tinham casado. Recebiam as cartasde Lúciacontando que o emprego era bom e até mandava

dinheiro a eles. Emborasaudosos, acreditavam que ela estivesse bem e issoos consolava.Pensaram até em visitá-la, mas a filha foi contra, nãoquis, ficarammagoados. Nas cartas contava fatos do emprego, deamigos, que elesficaram tranqüilos e entenderam que ela não osqueria por perto, que issoera coisa da idade.

"Numa tarde, receberam o recado de que era parairem ao hospital,que a filha estava lá, internada. Foram, apavorados.

Acharam que fosseengano, a filha não estava na cidade. Mas era Lúcia.Ela tinha sidoespancada e estava com um ferimento profundo nacabeça. Nãoentenderam como podia a filha estar ferida na cidadeem que eles

moravam e por que havia sido encontrada nosubúrbio, só com asroupas do corpo e a-carteira com documentos. Umasemana depoisLúcia saiu do hospital. Tratavam-na com muitocarinho, mas, embora osferimentos estivessem cicatrizados, ela não serecuperou. Vivia como um

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robô, ela fazia tudo que lhe mandavam; ria, chorava,falava pouco.

"o esposo de Maria José, Laurindo, fez algumas

investigações edescobriu que Lúcia mentira para eles, que ela forauma prostituta e quemorara com Benedito e Maria Gorete no bar daestrada. Foi uma grandedecepção a do casal. Eles choraram muito eresolveram cuidar da filhacom todo o amor e fazer justiça. Foram à Delegacia ea denúncia acabou emnada. o delegado disse que não podiam provar, poislá

no bordel não ficava ninguém obrigado e que a filhadevia ter brigado comalgum cliente e levado uma surra, e que prostitutasempre estava errada e

metida em confusões."Como Laurindo começou a rodear o bar e planejar

narrar osfatos à imprensa, incomodou os donos. Um dia, aovoltarem de umaconsulta médica da filha, encontraram a casarevirada, tudo quebrado, os

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objetos de valor tinham sido roubados. Ficaramdesesperados ecompreenderam o porquê ao ler um bilhete pregado

numa das portas.Num pedaço de papel estava escrito que era só umaviso e para não seintrometer. Entenderam o recado e, emboradesgostosos, querendo justiça, ficaram calados, temendo que esses bandidospudessem fazermal a seus outros dois filhos. Laurindo, que sofria docoração,desencarnou.

"Maria José sofreu muito; amava o marido e teveque cuidar dafilha sozinha, e esta lhe dava muito trabalho. Eu dei

dinheiro a ela, que alevou a bons médicos, mas não tinha jeito de serecuperar. E Lúcia, queera bonita, ativa e saudável ficou deficiente; às vezesela falava deacontecimentos ocorridos naquele bar, naquele antro.E, pelo que ela

dizia, entenderam que ela ficara lá obrigada e que asurra fora por isso.Maria José sentiu mais ainda. Minha amiga queria sevingar e não sabiacomo, guardava mágoa e tinha pena das outrasgarotas que estavamcom aquele casal. Mas nada podia fazer.

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reconheci a voz de Magali e Armando e, como

falavam meu nome,resolvi escutar sem que me vissem. Foi terrível !Lembro bem aquelaconversa:

-Magali, como ter paciência? Tenho dívidas etitia só me dá umapequena quantia por mês, falou Armando em tombaixo, mas nervoso.

Ela lhe dá muito dinheiro! Você que gasta demais.Por que nãocorta os gastos com suas amantes?, perguntouMagali, irada.

"Gastamos, querida! Você e meus filhos gastam

também. Issonão importa, mas sim que necessitamos de maisdinheiro e isso sóteremos quando tia Zefa morrer. Você tem quereconhecer, Magali, quesou um gênio, matei Julieta e me tornei o únicoherdeiro de titia, disse

Armando rindo."Não sei como teve coragem de planejar e executar

tudo. Você eAdemir foram geniais. Assassinaram Julietaeninguém desconfiou. Mas,mesmo você sendo herdeiro, essa fortuna me parecedistante, tia Zefa estábem e não creio que irá morrer logo.

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  "Por isso que estou apressando as coisas!, exclamouArmando.Troco os remédios da titia. É fácil, sou eu que os

compro. Eu jogofora os que ela deveria tomar e coloco outros nolugar. Ela está tomando ummedicamento que mandei manipular para aumentarainda mais a pressão. E omédico não entende por que o tratamento não surteefeito. Mas eu esperoque os meus dêem logo resultado, falou Armando.

"Você tem dado a ela aquela droga que faz a pessoaficar com oraciocínio confuso?, perguntou Magali.

Tenho e custa caro, por isso espero receber logo anotícia de que

titia morreu para eu ficar com toda a sua fortuna,respondeu meu sobrinho."Senti as pernas tremerem, escutar tudo aquilo foi

muito cruel.Não quis que me vissem, saí de novo sem fazerbarulho e, atônita, fui parao açougue. Comprei a carne, pedi para marcar e para

eu telefonar. Ligueipara casa e disse a Mariinha que ia almoçar com umaamiga e que sóretornaria à tarde. Dei um tempo para que Armandofosse embora eretornei à minha casa.

A senhora não ia almoçar com uma amiga?,perguntou Mariinha.

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Resolvi não ir mais, vou para o quarto me deitar, nãoestou mesentindo bem, respondi.

"Acostumada com meus esquecimentos, Mariinhanão deuimportância e me deixou ir descansar. Eu queria ficarsozinha e pensar.

"Entrei no quarto, joguei todos os remédios novaso sanitário eguardei as cartelas, mas depois me arrependi.Poderia ser uma prova deque Armando queria me matar.

"Pensei muito no que fazer, não sabia como agir.Senti-me muito só etriste."

- Que horror! -falou Suellen, interrompendo. -Você, Armando,planejou matar sua tia, talvez a única pessoa que oamava!

- Para mim isso era segredo, não sabia que asenhora conheciaesses fatos. Estou envergonhado! Mas tudo isso éverdade. Tinha muitasdívidas e estava sendo pressionado a pagá-las, entãoqueria receberlogo a herança. Como titia estava demorando amorrer, resolvi apressar

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sua morte. Dava-lhe remédios adulterados... um queprejudicava seuraciocínio e até alguns comprimidos que

aumentavam a pressão arterial- falou Armando com a cabeça baixa.

- Que ingrato! Fez mal a quem lhe fazia o bem. Issoé pior quefazer mal a quem nos deseja o pior - expressou MariaGorete.

- Mal é mal, quem o faz é maldoso! E ser maldoso éa pior coisa queexiste! -exclamou Ademir.

- Vamos ficar quietos! Continue, Zefa, acho queestou começando aentender por que morremos - falou Eleocácio.

- Fiquei dias pensando - continuou Zefa a falar. -

Comprei osremédios que o médico me receitara e me senti bem.E resolvi agir.Achei que não adiantaria ir à Polícia, não iriamacreditar em mim, eu nãotinha provas e estava com fama de confusa,esclerosada, caduca. Eles

iam achar que era tudo imaginação e eu ainda seriaridicularizada.

"A primeira providência foi dar uma modificada nomeu testamentoDepois que Julieta morreu, fiz um deixando todos osmeus bens parameu sobrinho. Acrescentei uma cláusula na qual, emcaso de morte do

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Armando, ficaria tudo para sua filha. O advogadonão estranhou e nãocomentei com ninguém. Evitei encontrar Armando e

Magali, nãoqueria vê-los, e continuei fingindo estar esquecida.

"Lembrei que Adauto, antes de nos casarmos,conhecera umapessoa que era um matador profissional. E quandoAdauto mudou decidade, eles passaram a se corresponder. Eu nãoachava certo essaamizade, mas meu marido me dizia:

Zefa, se você conhecesse Antônio, não pensariaassim; ele éeducado, gentil e amigo. Já tentei lhe mostrar queestá errado e ele não me

escuta, mas gosto dele e ele de mim. Somos amigos!

"Procurei nos objetos que guardava de Adauto e,aliviada, acheiumas cartas e, o mais importante, o endereço dessematador. Escrevi a

ele dizendo que necessitava de seus serviços.Antônio, o assassino, merespondeu dizendo que não fazia mais esse serviço,mas que o filho,tão bom quanto ele, podia realizar e que era umprazer poder atender aesposa de um grande amigo. Acertei com Toninhopor carta e planejei

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tudo."Como resolvi vingar a morte de minha Julieta,

quis também

ajudar minhas amigas, me vingaria por elas. Faria justiça por nóstrês, por mim, Olga e Maria José; e também pornossas filhas, quetiveram a vida arruinada por maldades de pessoasque continuavammaldosas e felizes.

"Contratei um detetive para saber mais dados docasal domeretrício, conversei mais com elas para obter maisdetalhes. Olga sabia detudo que me interessava sobre Suellen e o juiz. Saícom José, falei a ele

que queria ir até a casa de um antigo empregado efoi essa adesculpa para bater à porta de Suellen. Indaguei-lhe,ela não soube meresponder, pois eu inventara nomes. Mas, para fazeramizade,comecei a conversar com ela e acabei oferecendo

uma jóia, venderia porum valor pequeno.

"Sabe como é querida, disse-lhe, estou velha,preciso dedinheiro para comprar remédios, para as despesas dacasa. Moro numamansão, mas passo por dificuldades financeirasdesde que fiquei viúva.

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Pensei até em alugar quartos para encontros, masestá difícil.

"Suellen, que comprou a jóia, julgou-se esperta; era

um lindo anel deesmeralda, e ela interessou-se pelo quarto. Eleocácionão queria seexpor e seria mais fácil se seus encontros fossemnum lugar respeitável,tudo ficaria mais simples.

"Assim, todas as sextas-feiras, das dezenove até asvinte e umahoras, eu alugava um quarto a preço irrisório para ocasal de amantes. O juiz entrava com o carro e guardava na garagem paranão ficarexposto na rua e não ser reconhecido. Suellen vinha

de ônibus."O detetive me deu uma informação importantesobre o casal do bar:Benedito colecionava selos e gostava muito dessehobby.

"Toninho chegou, era um rapaz educado, gentil emuito bonito;

veio à noite em casa conversar comigo e acertardetalhes. Contei meuplano a ele, que o achou ótimo.Mas e se não vierem todos?, indagou ele.

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Aqui estão os endereços, veja se é possível matá-

los se nãovierem. Mas estes devem morrer: Armando eAdemir; os outros, só se forpossível.

Só não farei se for impossível. Valho o que mepagam. Souhonesto e gosto de fazer bem feito meu trabalho. Soucomo meu pai e meorgulho de ser bom no que faço.

Quero lhe pagar! Aqui está! O dinheiro que pediu eum poucomais, porque não serão mais seis, e sim sete. Queroque me mate!,

exclamei.Mas por quê?, perguntou ele.Com eles morrendo aqui em casa, serei suspeita.

Não seimentir, irei falar e prejudicar você, e não quero irpara a prisão. Não é justo! Mandei matar bandidos, mas a lei é falha e

serei presa. Estouvelha e doente, irei morrer mesmo logo. Só estouabreviando meusdias. Você fará isso?"Farei!, respondeu Toninho com firmeza.

"Queria morrer! Desde que Julieta morreu, minhavida não tinha

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tirado todo o disponível do banco, e isso semArmando saber. "Nasexta-feira, dei folga para Maninha.

Vou passar o sábado e domingo com Armando, nacasa dele. Evocê terá uma folga merecida!

"Mariinha fingiu acreditar, porque ela sabia quenão gostava depernoitar na casa deles. Achando que eu ficaria bem,resolveu folgar.

"E, para que Armando e Ademir viessem naquelanoite em casa,telefonei para meu sobrinho na quinta-feira einventei uma história.

"Armando, achei uma promissória de um ex-amigode Adauto. E

uma quantia razoável e telefonei a ele, que me disseque devia mesmo essaquantia ao meu esposo e não vai pagar. Discutimos eele disse que querfalar comigo pessoalmente. Combinamos um jantaramanhã, sexta-feira, àsvinte horas. Mas pensei bem e não vou, mas sim

você. Sabe melhor queeu cobrar dívidas e o que conseguir receber é seu.Quero que seuempregado, o Ademir, vá com você. Preocupo-me,não sei o que essehomem é capaz de fazer, depois é bom iracompanhado, pois ele logo irá

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saber que você não está de brincadeira e quer receberessa dívida:

"Sabia que ao falar em dinheiro Armando faria

qualquer coisa,ainda mais que seria dele o que recebesse.Combinamos que ele iriacom Ademir e passaria em casa para pegar apromissória às dezenove evinte. Tinha certeza de que meu sobrinho não seatrasaria, ele sabia queeu gostava de pontualidade.

"Mariinha foi embora na sexta-feira à tarde e eufiquei ansiosa,torcendo para que tudo desse certo.

"Como combinamos, Toninho chegou em casa logodepois de a

empregada ter saído. Conversamos tomando chá, eleme disse que

seu pai falava sempre bem do meu marido, gostavadele. E que foi porordem do pai que aceitou o serviço. Que matar paraele era trabalho eque não gostava muito de faze-lo, mas que nemsempre se fazia o quese queria.

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  "Sigo a profissão do meu pai, dona Zefa, emboratenhamos umafazenda e trabalhemos nela, mas não dá muito lucro

e para aumentar arenda fazemos alguns trabalhos para amigos. Honromeus compromissos,por isso a senhora pode ficar descansada, farei tudopara merecer o querecebi. Só não estou gostando de matar a senhora.

Faça isso Toninho! Por Deus!, implorei. Será omaior favorque fará à esposa do amigo de seu pai. Não queroficar vivendo depoisdisso tudo. Minha vida não tem objetivo, sonho nemilusão. Não tenhomarido, minha única filha foi assassinada por meu

sobrinho, que eu ameicomo filho e a quem sempre ajudei. Depois é maisgarantido, assim nãopoderei denunciá-lo. Faça seu serviço comocombinamos."Farei!, respondeu Toninho.

"Até duvidei que ele fizesse, era educado demais,

tinha bonsmodos, sorriso suave, só os olhos demonstravamfrieza. Ele, depois detomar o chá, subiu para o andar de cima e ficouesperando numquarto.

"Logo Suellen chegou, foi para o quarto doencontro esperar pelo juiz

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e em seguida, às dezenove horas, Eleocácio estava noportão. Abripara ele como fizera das outras vezes e, após ele ter

guardado o carro nagaragem, eu a fechei.

"Repassara todos os detalhes enquanto aguardava.Não falara nada àsminhas amigas, só pedira a Maria José para telefonarno sábado à tardeao bar, dizendo que o casal havia sido preso. Pedique fizesse isso paraque as garotas que ali estavam fossem soltas sem aburocraciadaPolicia.

"Os minutos pareciam passar lentamente, até que oArmando chegou

com Ademir. Recebi-os contente e pedi queArmando entrasse com ocarro e o deixasse na garagem aberta que ficava no jardim. Olheipara meu sobrinho, depois para seu empregado, enão tive ne-nhumapena, eles haviam matado minha Julieta sem

nenhuma piedade.Convidei-os a subir comigo para meu quarto eexpliquei tudo de novo,tinha que os manter ali até que o casal do barchegasse. Falei, fingindomepreocupada:

Armando, meu querido sobrinho, tenha cuidado, émuito dinheiro e

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esse velho pode ser perigoso. Marquei com ele o jantar às vinte horas.Terá uma surpresa ao vê-lo em meu lugar.

"A campainha tocou."Vou atender a porta, me esperem aqui, mas não

mexam em nada,voltarei logo para lhe dar os documentos, falei.

"Eles ficaram esperando, desci rápido e abri o

portão, recebi comsimpatia Benedito e Maria Gorete.Entre com o carro, está havendo uma festa no

quarteirão decima e as crianças estão alvoroçadas, poderãodanificar seu veículo.

"Eles entraram, fechei o portão e os convidei a

permanecer nasalinha, que eu ia buscar minha coleção."Subi e falei ao Armando:

É um casal que veio ver alguns selos que tenho.Desçam efiquem esperando com eles na salinha, vou abrir ocofre e pegar osdocumentos.

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  "Olharam um para o outro e saíram. Armandosabia abrir meucofre, mas só descobri isso quando não tomei mais os

remédios que eleme dava. Dei por falta de dinheiro que neleguardava. Os doisfizeram minha vontade, meu sobrinho sempre fazia.

"Não me preocupei com o barulho dos tiros. Avizinhança estavafazendo uma festa, eu havia sido convidada, deidesculpas e disseque não ia. Mas dei dinheiro para a meninada da ruacomprar fogos deartifício e sabia que ia haver muito barulho, já oescutava. Depois, com asalinha fechada, os tiros não seriam ouvidos. E

realmente ninguémouviu."Quando eles desceram, bati na porta do quarto

onde Toninhoestava e desci para o térreo. Escondi-me atrás de umarmário e aguardeique ele descesse com Suellen e Eleocácio. E desceram

logo. Omatador entrou armado no quarto do casal, obrigou-os a se vestirem edescer. Quando entraram na salinha eu também o fize fechei a porta.

"Toninho sorriu para mim e eu fiz um sinalafirmativo com a cabeça e eleatirou.

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  "Pensei por um tempo que não tivesse morrido,que ficara ferida;sentia dores terríveis e só ouvia gemidos dos outros.

Fiqueiterrivelmente perturbada, sofri muito, chorei, medesesperei, pedia paramorrer. Aqui, o escuro me apavorava. Creio que foidepois de muitotempo que percebi que estávamos todos juntos. Comas visitas debondosos socorristas foi que entendi que meu corpotinha morrido e eucontinuava viva. Tenho sofrido muito, e vê-los sofrernão me trouxe prazerou alívio. Não falei nada de ter sido eu a mandante, eo remorso

veio forte e foi a pior dor, a que não passa, a que nãome dá sossego.Remorso por ter me tornado assassina, por ter me

suicidado. Achoque não tenho nem lágrimas para chorar. Aqui fiqueie foi... é bemmerecido meu padecimento. Quando encarnada, tivea ilusão de que aomorrer tudo acabaria, eu não ia existir mais. Queengano! Se todos

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queriam saber, agora já sabem, fui eu quem osmandou matar. Porvingança! É só isso que tenho para dizer."

O silêncio foi total. Suellen até pensou que aquelaquietude chegava adoer no íntimo. É que cada um esteve por instantes asós consigo mesmo.Por momentos ninguém se atreveu a falar nem a seolhar, até que...

Marystá resolvido o mistério do sobrado! - exclamou

Cássiosuspirando.

- Quem era esse Toninho?- Que aconteceu com esse matador de aluguel?Indagaram Maria Gorete e Ademir ao mesmo

tempo. E foi Maryquem respondeu:

- Tenho aqui anotado nas minhas informações. Vouler para vocês:

Toninho, mais conhecido por Tonho do Furo, saiu dacasa de Zefa etrancou a porta e o portão; o fez sem ninguém ver.

- Eu dei uma cópia das chaves - interrompeu Zefa. -Mas continueMary, por favor. Quero saber o que Toninho fezdepois.

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  - Foi à estação, embarcou no trem até uma cidadepróxima, de lá paraa cidade em que mora. Ao passar por uma ponte de

um grande rio, jogouas chaves fora. Ele está ainda encarnado e nunca foipreso.

- Como pôde fazer isso? Matar sem odiar, pordinheiro... - perguntouSuellen.- Você também fez isso - expressou Maria Gorete.

- É verdade! - exclamou Suellen. - Temos liberdadede fazer oque queremos; issó é livre-arbítrio, não é, Mary?

- Sim, é livre-arbítrio, e podemos usá-lo para obem, positivo,para o mal, negativo. Por isso o que acontece conosco

é de nossa totalresponsabilidade. As decisões de nossa vida sãonossas, embora possamossempre dar desculpas de termos interferências.

- Esse Tonho do Furo terá que responder pelos seuserros? -perguntou Cássio.

- Certamente que sim - respondeu Mary. - Todosnós colhemos oque plantamos, temos as reações de nossas ações.

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- Será que ele vai ser preso? Ou desencarnará semter ido para aprisão? - perguntou Benedito.

- Não fui presa quando encarnada e estou aqui háanos confinadaneste lugar. Chegará o dia em que esse matador teráque prestar contasde seus atos - falou Suellen.

- Ou desencarnará, será um dos moradores doUmbral e continuará comsuas maldades. Comigo foi assim e poderá ser comele - disse Damião.

-Mary, como isso é possível?-perguntou Ademir.- Ao desencarnarmos, somos atraídos para lugaresque fizemos pormerecer. O Umbral só existe porque há quem ohabita. Aqui não e só paraos que sofrem, muitos vêm para cá e continuam a sermaldosos, se

enturmam, organizam cidades e continuam vivendoentre disputas eorgias - respondeu Mary.- Eles se sentem bem, são felizes? - perguntouArmando.

- Dizem estar bem, aparentam ser alegres. Mas afelicidade é só

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para quem tem a consciência tranqüila, quando senteDeus dentro de si.Essa vida cansa e a insatisfação vem forte. Damião

tem razão, muitosagem com maldade, desencarnam e podem seenturmar com afins aquinesta zona umbralina e por tempo continuar no erro.Só que nada é parasempre. Há tempo para plantar e a colheitaobrigatória chega. Aocometermos um erro, um dia sentiremos a culpa. Eonde há culpa hásofrimento.

- Sabe que não tenho raiva desse Toninho, ouTonho do Furo. Se eumatei uma pessoa só e sofri tanto, imagine quando

ele for pagar pelosassassinatos que fez... - expressou Ademir.- No Plano Espiritual não existe tempo

determinado para os mesmoserros. Cada caso é um caso. Mas você, Ademir, estácerto, esse matadorprofissional terá que responder pelos seus crimes -

falou a socorrista.- Mary, que mais está escrito nas suas anotações? -

perguntouMaria Gorete.

- Só tem mais uma: Olga e Maria José prometeramnão falar o quesabiam, entenderam a amiga e foram gratas, sempreoraram por ela e

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pelos seus entes queridos falecidos e cuidaram doseu túmulo. Quandoli não entendi, mas depois que Zefa contou, podemos

compreender. Asamigas, ao saber do crime, entenderam que Zefa sevingou por elas eficaram caladas.

- Mary, é tão bom você estar aqui conosco. Você ésocorrista?Que é ser uma? - perguntou Benedito.

- Socorristas são pessoas que trabalham auxiliandoo próximo.

Desencarnados, quando adaptados ao PlanoEspiritual, depois de terestudado para conhecer como é a existência sem ocorpo físico equerendo ser úteis, trabalhar para o bem-estar deoutros, têm oportunidadede faze-lo. Denominamos mais os desencarnados que

ajudam, mas achoque todos que fazem o bem, que socorrem sãosocorristas. E, paralevarmos um socorro, devemos nos solidarizar com osofredor. Devemosser condescendentes com seu estado. Quando elesofre, tem

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necessidade de encontrar alguém que o ampare e,quando encontra,adquire confiança, e essa pessoa que ajuda passa

então a lhemostrar que tudo pode ser mudado e enumerar asvantagens que cada umterá com essa mudança. É isso que estou tentandofazer aqui.Mary fez uma pausa e após indagou:

-Zefa, como você planejou tudo? Pensou em todosos detalhes... Deonde tirou idéias para esses crimes?

- Tenho que reconhecer que a senhora, titia, foigenial. Não a julgava capaz - expressou Armando.

- Minha Julieta - falou Zefa - gostava muito de ler.

Tanto lia livros deestudo como de entretenimento, ela admirava muitouma escritora delivros de crimes, lia todos e às vezes comentava-oscomigo, mas na épocaeu não prestava atenção. Depois de sua morte, ouseja,

desencarnação, passei a lê-los, sentia-me assim maisperto de minhafilha. Os livros de estudo eram para mim difíceis deentender, entãopassei a ler esses de histórias de assassinatos. Gostei,achei a autoramuito engenhosa. Quando fiquei sabendo que minhafilha tinha sido

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- Agora entendo o porquê do meu orientador,Alfredo, ter meescalado para este trabalho. Eu sou essa escritora. Fuieu que escreviesses livros!-Ó!- Você? !Foram expressões de espanto.

- Agora entendo que você, como os outrossocorristas que nosvisitam, é uma pessoa comum, só que está querendose melhorar, trabalharpara o bem, ser útil e aprender. Vocês não são santos

nem seresexcepcionais. Devem ter feito coisas boas e outrasnem tanto. Porfavor, Mary, não entristeça. Eu também, quandoencarnada, li algunsdos seus livros, eles não recomendam o crime, nofinal deles os bandidos,

criminosos, eram castigados-falou Suellen.- Se você é essa escritora, quero lhe dizer que,

embora eutenha tirado a idéia dos seus livros, você não temculpa nenhuma-disse Zefa.

- Eu sei! Não tenho culpa, nunca quis que ninguémfosse assassinado

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-exclamou Mary.- Mas se aborreceu ao saber! - expressou MariaGorete.

- Achamos sempre que quem está em condição deajudar nãotem problemas. Você, Mary, deve ter tido suasdificuldades - opinouAdemir.

- Também fui seu fã - falou Cássio. - Sempre sonheiem poderdescobrir os crimes como seus personagens. Tenhomuito prazer emconhecê-la, mesmo sendo este encontro aqui, nomeio de tristezas edores.- Por que você, Mary, não fala de si para nós? -

perguntou Suellen.Todos olharam para Mary, convidando-a a falar, eela sentiuvontade de desabafar, dizer o que se passava no seuíntimo, e começoua narrar:

- Foi um choque para mim escutar Zefa falar que

tirou dos meuslivros a idéia para planejar este crime. Não haviaentendido quandomeu orientador me pediu para vir aqui, achei umatarefa de muitaresponsabilidade, tenho companheiros muito maiscompetentes para

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realizar este trabalho. Ele me escolheu e tive receiode não o fazer acontento, mas Alfredo, o orientador, disse que eu

deveria vir e queme caberia realizar este auxílio. Agora entendo oporquê. Tudo queaconteceu tem a ver comigo, com o trabalho que fizquando encarnada.Mesmo tendo consciência de que não tive culpa,idéias macabrasforam tiradas dos livros que escrevi. Este trabalhoestá sendo paramim uma oportunidade de tentar ajudar alguém queentendeu erroneamenteo que foi feito para distrair. Vocês têm razão, meusamigos. Sim,

chamo-os de amigos, porque nestas horas juntos, nasquais conversamoscom sinceridade e cada um falou de si, dizendo oque se passava noíntimo, um laço de amizade nos uniu. E você,Suellen, tem razão; aqui,depois que desencarnei, não falei com ninguém o

que se passa comigo.Vou contar minha vida a vocês. Fui uma pessoacomum, de famíliaestruturada, de classe média; nunca me faltou nada,tive muitos amigos.Desde pequena gostava de ler, escrever e inventar.Minha mãe me

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chamava de mentirosa e um dia, por ter imaginado efalado algo sobrenossa empregada, fiquei de castigo. Uma tia ao nos

visitar pediu à minhamãe para conversar comigo.

"Mary, disse ela carinhosamente, você é inteligente,linda esadia, nada lhe falta. Por que mente?"Chorei, não queria mais sermões. Ela me abraçou.Você tem imaginação fértil! É isso, querida! Nãochore! É quepenso e falo, e eles não me entendem!, queixei-me.Pois não falemais o que pensa! É isso, meu bem, quando vocêpensar, em vez de falar, escreva! Pegue um caderno etudo que imaginar

escreva nele e será um segredo nosso. Só eu possoler. Combinado?"Alegrei-me com a idéia e comecei a fazer isso, e titiaàs vezes liae opinava.

Querida, se você deixasse para o final este pedaço.Assim,

quando eu lesse não iria saber quem matou a barata."E, da morte da barata, passei à morte de pessoas.

"Embora fosse extrovertida e animada, tive umaadolescência comalguns problemas de relacionamento, minhas amigasme achavam comidéias revolucionárias e modernas. Meus pais seaborreciam com isso.

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Chateada, pus-me a escrever mais ainda. Comeceiafazer históriascompletas e imaginava-as em livros. Então, comecei

a sonhar em serescritora, editar livros. Tive ajuda, mas não foi fácileditar o primeiro.Para uma mulher, naquela época tudo era maiscomplicado. Casei com umhomem maravilhoso, que muito me ajudou, e escrevisempre. Gostava defazê-lo, vivia cada história. Meus livros fizeramsucesso e isso era minhaalegria. E continuei imaginando. Via uma mulherbonita ou alguémdiferente e criava um personagem. Uma senhoraidosa vestida

estranhamente era para mim motivo para imaginar eescrever. Viajeimuito, conheci muitos lugares e pessoas.Desencarnei com muita idade."Mary fez uma pausa e suspirou. Maria Goreteindagou-lhe, curiosa:

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- Você fez alguma maldade? Algo de que pudessese arrependeramargamente?

- Não! - respondeu Mary depressa. - Nada fiz deerrado, masmuito deixei de fazer. Podemos nos arrependertambém pelo bem quepoderíamos ter feito e não fizemos. Tive tudo epoderia ter agidomelhor, ter sido mais caridosa, e não fui. Isso me

incomodou, masdepois compreendi que só se sentir arrependida,incomodada, e nadafazer é continuar na inércia, assim tratei logo decomeçar a fazer, atrabalhar, a ser útil e, o mais importante, a aprender.Mas para eu

entender tudo isso demorou um tempo...- Mary, você sofreu depois que desencarnou?-

perguntou Suellen,espantada.

- Como já disse, meu corpo morreu quando estavaidosa, foi comodormir e acordar num lugar estranho.

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  Onde estou? Que faço aqui? Estou num hospital?,indaguei,aborrecida.

"Tudo era muito simples e estava com outrasmulheres no quarto.Tentaram me orientar, mas, contrariada, quis ir paraminha casa e fui.Todos nós temos nosso livre-arbítrio, que érespeitado, e aodesencarnarmos isso não muda. Ao ter meu corpofísico morto, fuifacilmente desligada dele por amigos e levada a umabrigo, uma casa deauxílio a recém-desencarnados. Não quis ficar e pelaminha vontadeforte fui atraída para minha casa, isto é, voltei.

Vivendo agora com umcorpo que chamamos de perispírito, nós noslocomovemos fácil pelavontade, vamos de um lugar a outro em segundos.Quem aprende aviver aqui no Plano Espiritual sabe bem fazer isso.Mas os que não

sabem, como eu naquela época, podem, ao pensarforte, usar semsaber desse tipo de locomoção.

"Voltei para minha casa, que confusão, agi como seestivesseencarnada. Só que tudo mudara, sofri e fiqueiperturbada. Foi um

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período complicado, ora achava que estava louca,ora não conseguiaentender o que se passava e chorava, eu, que nunca

tinha gostado dechorar. Não sabia dizer quanto tempo estava ali, sódepois soube queforam três anos. É muito ruim viver nessa ilusão, queimprudentementecriamos temendo enfrentar a realidade. Pensavaestar encarnada e nãoqueria aceitar o fato de que meu corpo, que tantoamava, morrera.

"Até que um dia, cansada, orei com fé e pedi aDeus que enviasseuma pessoa para me ajudar. Estava ajoelhadarezando e chorando,

escutei:

Senhora!"Olhei para quem me chamara e reconheci uma

antiga empregada dequem gostava muito. Ela me abraçou.Vou ajudá-la!Você está morta!, balbuciei.

"Estava tão cansada que nem tive medo; depois, oolhar dela era tãotranqüilo que me refugiei nos seus braços.-A senhora também!, respondeu ela.

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A morte é isto? Uma confusão? Não posso crer!,exclamei.

Senhora, continuamos vivos quando o corpo físico

morre; issoaconteceu há tempo com seu corpo, ela tentou meexplicar.Não foi assim que me ensinaram, que aprendi, falei.

Foi um equívoco o que aprendeu. Mas que importaisso agora?Venha comigo, vou levá-la para um lugar onde serefará, aprenderácomo viver sem o corpo físico e logo estará bem.

"Ela me levou para o abrigo novamente, dessa veznão achei tãoruim ficar perto de outras pessoas, estava cansada edesiludida; eu,

que sempre gostara de conversar, fiquei quieta. Foirealmente umagrande decepção a minha desencarnação. Demoreipara me adaptar,chorava e não gostava muito do lugar, emborareconhecesse queestava bem pior vagando.

"Amigos vieram me visitar e um deles me animou:Onde está seu otimismo? Por favor, volte a ser o

que era. queimporta é que continuemos vivos e com nossaindividualidade, e aqui émaravilhoso. Aceite o fato e estará bem.

"Foi o que fiz. Quando pude ver os jardins, abiblioteca, passei a

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conversar, tudo mudou em mim, e para melhor.Aprendi a viver comodesencarnada e pedi para trabalhar num Posto de

Ajuda e, compermissão, vim. Queria... quero aprender a servir,num lugar onde existamexemplos de humildade, na esperança de vir a serum dia humilde."

- Nunca pensei que por não se aceitar a morte sesofresse - falouSuellen.

- Mary deve ter sofrido por ter acreditado que amorte fossediferente do que é na realidade - falou Armando.

-Não devemos procurar desculpas - expressouMary. - Conheço

tantas pessoas que como eu tinham uma idéiaequivocada do queocorria após a morte do corpo e aceitaram bemquando fizeram essamudança de planos. Gostava de maneira errada detudo que era meu, dacasa, das jóias, até dos meus chapéus. Liguei-me a

coisas materiais e a elasfiquei presa.

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  - Ter objetos ou ser rico é causa de sofrimentodepois da morte docorpo físico?-perguntou Zefa.

- Não - respondeu Mary. - Possuir ou não bensmateriais não nosfaz sofrer, mas sim a maneira pela qual nosapegamos a eles. Nãodevemos ficar possuídos nem pelo que julgamos ternem pela vontade deter. Podemos ter externamente o que queremos e nãonos deixar serpossuídos, ficar apegados a nada. Nosso bem-estarestá no modo peloqual possuímos seja este pouco seja nada. Além domais, tiveoportunidade de conhecer o que realmente acontece

conosco após amorte do corpo e não dei importância. Um dia, umamigo nosso, domeu marido e meu, trouxe da França um livro paranós de presente ecomentou, entusiasmado:

Está em voga em Pais, na França, usar de

fenômenos sobrenaturaispara que almas de mortos conversem com os vivos. Ehá umcientista... sim, é um estudioso, um professorpoliglota... que escreveu estaobra com ajuda de espíritos. Sim, meus amigos,espíritos é o nome que eles

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deram a pessoas que tiveram o corpo morto e oschamam também dedesencarnados. E bem interessante!

"Agradecemos o presente e prometemos ler, depoisde ele ter idoembora, comentei com meu esposo:Esses franceses sempre ditando modas!

"Meu marido pegou o livro, era O Livro dosEspíritos, de autoria deAllan Kardec. Leu somente algumas páginas.Comentou, ironizando:

Querida, esse Allan Kardec é quase tão engenhosocomo você.Que imaginação! Se ele resolver escrever romancesserá um granderival seu!

"Não dei importância, e ele colocou o livro naestante. Mesesdepois, como íamos receber uns amigos quefreqüentavam a nossaigreja, peguei o livro e dei para a empregada, paraque sumisse comele. E assim perdi uma grande oportunidade de

conhecer esse assunto. E aempregada, em vez de jogar fora, leu, e foi ela queme socorreu. Comotudo teria sido diferente se eu tivesse lido ecompreendido esse livro, queaqui sei que é verdadeiro."Mary suspirou, fez uma pausa e continuou:

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 Julieta havia livros desse francês - falou Zefa. - Agoraentendo queeu também perdi uma grande oportunidade de

aprender. Talvez, setivesse lido, nada disso tivesse ocorrido.

- Não deixa o "se" incomodá-la, Zefa. O fatoaconteceu e pronto -falou Maria Gorete.- Sinto-me melhor agora, falar me fez bem -expressou Mary.

- O que achei mais interessante nessas nossasconversas é quetodos nós temos uma história, e os socorristas nãosão seres perfeitos quepodem tudo, são seres humanos que podem tererrado e querem acertar.

Será que um dia eu poderei ajudar? - perguntouAdemir.- Certamente que sim - respondeu Mary.

- Isso é uma grande bondade de Deus! - exclamouEleocácio. -Ter oportunidades! Não quero recusar mais as queDeus me der! Se

você, Mary, aprendeu, eu... nós também poderemosaprender.Admiro você, Mary.

- Eu também admiro você! Poderia dar uma desanta e ter contadopara nós que foi sempre maravilhosa, isso e aquilo,mas foi sincera. Acho

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que está mesmo aprendendo a ser humilde - falouSuellen.

Mary sorriu, enxugou algumas lágrimas, e ficaram

todos porinstantes quietos.

Orientando

- Mary, como são os lugares em que moram os bons?Tenhocuriosidade de saber - falou Cássio.

- São lugares bonitos, simples, com muita

vegetação, onde não seprecisa ter medo de outro ser humano, pois não hámaldades. Chamamosesses agrupamentos, que são parecidos com cidadesterrestres, deColônias, e as menores, de Casa de Auxílio, Abrigos,Postos deSocorro etc.

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- São seres perfeitos que vão para lá?- indagou Zefa.- Não, mas aqueles que querem melhorar, tornar-se

bons. A primeira

coisa que devemos eliminar ao irmos para lá é oegoísmo, ter o propósitode não errar mais - explicou a socorrista.- Lá é escuro? - Darnião quis saber.

- Não, há claridade - respondeu Mary. - Nosabrigos por aqui é bemclaro, nas Colônias o sol brilha mais que na Terra, sevêem melhor asestrelas. Não existe escuridão nas Casas de Auxílio.- Como é viver na Colônia? - indagou Suellen.

- Maravilhoso! Há lugares lindos de lazer,bibliotecas espaçosas commuitos livros, jardins encantadores, ruas arborizadas

e casasconfortáveis. Temos ajuda, esclarecimento para tudoque precisamos. Háordem, respeito, alegria e muita paz. As escolas sãolugaresprazerosos de estudo e todos trabalham quandoadaptados.

- Trabalho? É tão estranho pensar que após a mortedo corpo setrabalha-comentou Damião.

- O trabalho nos impulsiona ao progresso. Ficarocioso é castigo parao espírito ativo. Sim, há trabalho! Se fazem muitascoisas por ládisseMary.

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- Você está aqui nos ajudando, está trabalhando,não é? -perguntou Maria Gorete.- Sim, estou fazendo uma tarefa- respondeu asocorrista.

- Mary, não entendo. Se lá na Colônia é tão bonito,tão agradável,por que você deixou tudo para vir aqui tentar nos

auxiliar?- indagou Ademir.Mary suspirou, pensou uns instantes e respondeu:

- Viver nas Colônias é estar em lugares lindos. Mascomo possoestar bem lá e saber que irmãos que sofrem não têm apossibilidade de

serem felizes também? Não seria egoísmo ser feliz enão quererauxiliar outros? Se os bons que tiveram pormerecimento estar felizes emlugares lindos e de prazeres não se preocupassemcom irmãos quesofrem, estariam num lugar onde não existiria amore esses lugares não

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seriam bons assim. Mesmo aqueles que têm trabalholá e não vêm aqui noUmbral trabalham para o bem-estar de outros.

- Mary, que necessitamos fazer para ir com você alugares assim? -perguntou Eleocácio.

- Querer com sinceridade melhorar, mudar a formaerrada de agir,querer acertar-respondeu a interpelada.- Pedir perdão? - indagou Benedito.

- Rogar perdão é reconhecer que errou, é pedir umanova chance,uma oportunidade de reparar o erro - explicou asocorrista.

- Se eu não tivesse matado Julieta, nada disso teriaacontecido. Ao

cometermos um erro desencadeamos outros. Eumatei e fui assassinado!Zefa, sinto muito por tudo. Pelo meu ato errado, quelevou você aerrar! Perdoe! Me perdoe!

Ademir falou baixo no começo, após, alto e numtom sentido, chorando

levantou-se, caminhou até Zefa e ajoelhou aos seuspés. Zefapassou as mãos com carinho nos cabelos dele.Expressou, comovida:

- Perdôo você, Ademir! Perdôo de coração, porqueeu tambémtenho necessidade de rogar perdão. Você me perdoa?

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  - Perdôo! Embora seja eu que devo pedir clemênciaa você -respondeu Ademir.

- Quero pedir perdão a todos - expressou Zefa. -Você meperdoa, Suellen?- Perdôo - respondeu ela.- Me perdoa, Eleocácio?

E assim falou o nome de todos, que responderamcom sinceridade eemocionados que perdoavam. Foi então queBenedito percebeu eexclamou:

- Ademir, você saiu do seu lugar! Caminhou atéZefa!

Ademir levantou-se e todos também se ergueramde suas cadeiras ederam passos. Riram e choraram. Cássio e Darniãopermaneceram

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sentados, observando, e ficaram contentes por eles.Por minutos elesandaram pela salinha. Até que Eleocácio falou:

- Vamos sentar novamente! Vamos voltar aconversar. Estamoscontentes, mas temos que decidir o que iremos fazerdaqui para afrente.

- Você tem razão, Eleocácio. Não quero sair por aípelo Umbral -disse Suellen.Sentaram e Ademir falou:- Foi a força do perdão que nos soltou!- Mary, por que ficamos presos? - perguntou MariaGorete.

- Vocês, meus amigos, sentiram-se culpados, viram

o falecimento deseu corpo e, como cadáveres não se mexem, ficaramcomo estavam;mas isso não acontece com todos, esse fato é raro.Não foi porquemorreram juntos que ficaram aqui. Cada pessoa éum caso. Por

exemplo, num acidente em que desencarnaram centoe oitentapessoas, o que acontecerá com elas após dependeráde cada uma.Muitas entre essas cento e oitenta serão socorridas,outras demorarãomais para serem desligadas. Algumas irão vagar,outras irão para o

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Umbral, e pode acontecer de umas ficarem no localdo acidente. Creio quevocês necessitavam ficar juntos para se perdoarem e

permaneceremno Umbral até que quisessem se modificar paramelhor. Ao seremtrazidos para a zona umbralina e deixados numcanto, acreditaram estarainda no sobrado onde tiveram seu corpo físicomorto, e, pensandofortemente na sala, a plasmaram pela vontade e aquipermaneceram -explicou Mary.

- Ao pedir perdão e perdoar me senti bem melhor,como há muito nãome sentia - disse Maria Gorete.

- Pedir perdão é fácil, mas tem que ser de modosincero. E nós ofizemos -expressou Suellen.

- Concordo com você, Suellen, só que reparar oserros, quitaressas dívidas, é que deve ser difícil! Porque não éassim, Mary: temos que

reparar o que fizemos? - falou Ademir.- Em vez do sofrimento eterno nos é dada a

oportunidade deconsertar, de refazer; isso é misericórdia-expressouMary.

- Por que será que não atendi os bons conselhos? -indagou Ademir.

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- Recebi bons exemplos e educação, meus pais meensinaram bonsprincípios, escutava na igreja ensinamentos cristãos e

fiz o mal.

- Creio que quase todos nós temos oportunidadesde escutar bonsconselhos, mas damos atenção a quem queremos -disse Mary.

- Eu, quando planejava assassiná-los, sonhei com Julieta - falou

Zefa. - Acordei em seguida e me lembrei comdetalhes de tudo. Minhafilha me abraçava e falava: "Mamãe, não faça isso!Um erro não justificaoutro. Não retribua maldade com maldade! Perdoe!Esqueça! Euperdoei! Tenha paciência, que virá, quando chegar a

hora, para perto demim e do papai. Por favor, mamãe, desista dessepecado!" Mesmoficando impressionada com o sonho que me pareceutão real, não deiatenção nem fiz o que ela me pediu.

- Você, Zefa, deve ter se encontrado com sua filhaquando seu

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  - Devemos crer no que é real - expressou asocorrista. - Quemestá sempre iludido pode até sentir momentos

agradáveis, mas poderáestar sempre preocupado e insatisfeito, esperandoalgo que lhe tragafelicidades, fatos que não dependem dele.Procurando o que éverdadeiro, tornamo-nos felizes pelo queconquistamos, por fatos quepodemos conseguir por nós mesmos. Só depende denós sermos bons epraticar o bem. Sabem o que descobri nestes anosaqui no PlanoEspiritual? Que ser feliz consiste em pequenas coisasque realizamos

para o bem. Em fazer bem feito, com amor ospequeninos atos queresultam em uma ajuda.- Isso não é difícil? - perguntou Damião.

- Ora, Damião-falou Armando. - Se você nãotivesse cometidotantos erros não teria sofrido. Quem se esforça paraser bom e consegue,

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também recebe as conseqüências, que são boas. Asreações são de boasações também, senão, não veríamos socorristas

trabalhando e felizes.Penso que o trabalho construtivo é um meio deevitar que façamos omal.

- Há espíritos que trabalham e são maus - falouDamião. - Vocêainda não viu uma cidade umbralina, lá há trabalho,e até chefestrabalham.

- O trabalho nos faz vencer a preguiça! Ser ocioso éum vício.Mesmo sem saber, esses espíritos que citou estãovencendo um vício -

falou Cássio.- Eu disse trabalho construtivo - repetiu Armando.- Pelo trabalho edificante temos oportunidades de

aprendermuito. E no Plano Espiritual Superior não há lugarpara ociosos -falou Mary.

- Eu quero mudar-expressou Eleocácio. - Tive,encarnado, muitasfacilidades que me levaram a errar. Meios deprejudicar, cinismo paraenganar e dinheiro para comprar e venderconsciências.

- Mas poderia ter usado isso de outra forma - falouSuellen. -

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Poderia ter usado o dinheiro para saciar fome, vestir,educar, darremédios. Ter feito amigos e os auxiliado quando

necessitassem.Deveria ter ajudado em vez de prejudicar.

- Usamos das circunstâncias como queremos. Odinheiro éneutro, por ele se fazem tantos erros, mas muitosacertos - falou Zefa.

- Que irá acontecer conosco, Mary? Não quero maisficar aqui. Porfavor, me leve com você - implorou Suellen.

- Sim, vou levá-los para o Casarão da Paz, lá sesentirão bem,melhorarão - falou Mary.

- Aquela fortaleza do vale? Ficaremos presos lá? -

perguntouDamião.- Não, Damião, lá ninguém fica preso. Vocês ficarão

so se quiserem- respondeu a socorrista.

- Só pelo fato de ser abrigado lá ficarei bonito,sadio? - indagou

Cássio.- Vocês melhorarão aos poucos - respondeu Mary. -

Receberãotratamento, estarão limpos e a recuperaçãodependerá de cada um.Levará um tempo para estarem bem de novo. O erro,o pecado,

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sobrado. Não tendo mais para essa sustentação, estesobjetos irãoenfraquecendo e desaparecerão-respondeu a

socorrista.- E se alguém se abrigar aqui? - perguntou Cássio.Se o leitor quiser conhecer mais sobre este assunto,

pode consultar os livros do codificador AllanKardec. A Gênese. capítulo XIV: "Os fluidos - Açãodos Espíritos sobre os fluidos - Criaçõesfluídicas - Fotografia do pensamento"; e O Livro dosMédiuns, capítulo VIII: "Laboratório doMundo Invisível", de cuja questão 129 transcrevemosum pedaço: "O Espírito age sobre a matéria;tira da matéria cósmica universal os elementosnecessários para formar, como quiser, objetos coma aparência dos diversos corpos da Terra. Pode

também operar, pela vontade, sobre a matériaelementar, uma transformação íntima que lhe dêcertas propriedades. Essa faculdade é inerente ãnatureza do Espírito, que a exerce muitas vezes demaneira instintiva e portanto sem o perceber,quando se faz necessário (Nota da Médium).

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- Ele, não tendo a impressão forte como vocêstiveram da sala em queforam assassinados, não sustentará isso e este local,que é a cópiadaquela sala, voltará a ser como era antes de vocêsestarem aqui -esclareceu Mary.

- Você está nos ajudando, fazendo um bem enormea nós... e seformos ingratos? Você se ressentirá? - indagou MariaGorete.

Mary pensou por instantes, recordou-se de umapalestra que

ouvira alguns dias antes sobre ingratidão e lhe veio àmente o que opalestrante falara: "Não devemos fazer nadadesejando ser compensados;quem faz para ser acredita que sofreu algum dano,

pelo fato de terfeito o bem. Quem espera ser recompensado, o faz

por algo em troca,faz por egoísmo, faço isto por aquilo, por umaespécie de indenização.Não se deve achar que se recebeu uma ingratidão,porque quemassim pensa não está com boas intenções, não fezalgo com amor,pelo prazer de ser bom".

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Mary respondeu tranqüilamente e todos prestaramatenção:

- A gratidão ou ingratidão dos outros não faz parte

do meu ser. Oque interessa a mim é que eu seja grata, pois tenhoobrigação de ser,mas não tenho por que esperar que o outro seja peloque eu vier a lhefazer de bom. Não faço esperando nada em troca,minhas ações quevocês julgam boas, porque os ajudo, não sãonegociáveis. Tento fazero bem pelo prazer, amor, sem nada querer por isso.Estou, meusamigos, aprendendo a fazer o bem pelo bem, semnenhuma outra

intenção. Ao fazer este trabalho, não me julgoprejudicada, nem julgo que me tiraram algo, assim sendo não tenhopor que receber nada.Espero que ao fazer o bem me tornarei boa um dia.Porque quem ébom não precisa de nada, já possui infinita riqueza.

Eu tenho que serboa, praticar o bem sem me importar com o queoutros façam de meusbenefícios.

- Obrigado, Mary! Você nos dá um grandeexemplo! - exclamouAdemir.

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  - O melhor que temos a fazer é seguir o exemplo donosso ben-feitorse ele fez, podemos fazer também - respondeu a

socorrista.- Talvez seja difícil retribuir o bem a você, mas

entendi, há outrosnecessitados que poderei auxiliar. Se eu puder, querovoltar ao Umbralum dia para ajudar - falou Benedito.

Escutaram barulho lá fora, entenderam que era osocorro que chegavaZefa e Suellen choraram baixinho. Ademir ajoelhou eorou umPai-Nosso. Todos estavam emocionados. Mary osolhou com amor.

Mary saiu da sala e foi receber os companheiros.Eram três,cumprimentaram-na e ela sentiu-se aliviada.Acompanharam-na de volta à

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sala, todos ficaram em silêncio. Com exceção deCássio e Damão, osoutros foram amparados, andavam com dificuldades

em virtude daimobilização em que permaneceram.

- Adeus, sala! Adeus, Umbral! É bom deixá-la! -exclamouSuellen.

- Eu que maldisse muito este lugar agora entendoque era aqui olocal em que devia ficar para aprender - disseArmando.

- Também não tenho mais raiva, o local não era oculpado, esim nós. Mas saio daqui aliviada. Umbral nuncamais! - expressou

Maria Gorete.Viram uma condução; Cássio a examinou eperguntou:- Não é um carro nem carruagem. Que é isto?-Um veículo de locomoção-explicou um dossocorristas. - Vamos entrar, sentem-se e logo estaremos no nosso

Posto de Auxílio. -Obrigado, samaritanos-agradeceu Damião. -Samaritanos?-perguntou Ademir.- Eles também são chamados assim - falou Damião.

Acomodaram-se no veículo. São muitos os meiosde transporte

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usados pelos socorristas para se locomover noUmbral. São váriosnas inúmeras regiões da zona umbralina do nosso

extenso planeta. Este erasimples, com muitas rodas pequenas dandoflexibilidade parapassar pelos filetes de água, buracos e pedras. De umtipo que pareceuma caixa retangular grande, só a parte dianteiratem uma espécie devidro que dá visão so para quem está dentro, do ladode fora não seconsegue ver nada do seu interior. Locomove-se poruma energia aindadesconhecida,dos encarnados, rarefeita como oveículo. Matéria

parecida com a de que é composto nosso perispírito.Normalmente épintado de um tom claro e tem de doze a vintelugares. Um fato inte-ressante é que, se for atacado, tem dispositivo dedefesa, mas ossocorristas preferem sempre sair rápido do local.

Pode essa conduçãoficar suspensa até um metro do chão, usando esseprocesso paraatravessar buracos, furnas pelo caminho. Anda devinte a quarentaquilômetros por hora, mas, necessitando, chega a sermais veloz.

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  O grupo acomodou-se e Mary ficou com eles.Ninguém falou nada. Oalívio era grande, estavam contentes por sair daquele

lugar ondehaviam sofrido muito.

O portão do Casarão da Paz se abriu. O veículoparou, Mary osconvidou a descer:-Podemos sair, aqui será o abrigo de vocês.

-O nosso céu! - exclamou Zefa.Desceram e ficaram um ao lado do outro, pertinho,olhandoencantados. Suellen foi o mais depressa queconseguiu até uma árvoree a abraçou.

- Como esta árvore é bonita! Que bom rever uma!

Sentir anatureza!

- Você está pisando na grama, Suellen ! - advertiuDamião. - Acho quenão pode!

Suellen então percebeu que, para abraçar a árvore,pisava no

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gramado; afastou-se dois passos, ficando no caminhode pedras,abaixou-se e passou a mão na grama que havia

pisado, como sepedisse desculpas. Depois voltou para perto dogrupo.- Obrigado, Mary, pelo auxílio! - exclamou Benedito.

- Não se consegue ajudar alguém quando ele nãoquer ajuda.Quando queremos sempre achamos quem nosauxilie - respondeuMary.

- Como é lindo o céu! Meu Deus, como é bom olharpara oinfinito! -exclamou Zefa.

- Sentir o calor do sol é um prazer imenso! Só agora

entendoisso! -expressou Ademir.- Podemos usufruir de tantas coisas belas e simples

e que passamdespercebidas. O céu, o sol, as flores são belezas quenos dão prazer ealegria! - falou Maria Gorete suspirando.

- O, Deus, obrigado! Entendo agora sua bondadeem não condenarseus filhos a sofrimentos eternos! - disse Ademirajoelhando-se nochão.

- Obrigado também, Deus, por permitir quereparemos nossos

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erros em trabalhos edificantes. E irmão socorrendoirmão. Seu filhoauxiliando outro! -exclamou um socorrista.

Outros trabalhadores vieram ajudá-los,encaminhando-os àsenfermarias. As mulheres para a feminina e oshomens para a masculina,onde seriam higienizados, medicados, alimentados epoderiamdescansarem leitos confortáveis e limpos.Alfredo veio cumprimentar Mary. Esta, ao vê-lo,disse emocionada:

- Obrigado ! Tentei fazer o melhor. E compreendi oporquê de ter sidoescalada para fazer este trabalho. Sei que você meajudou, estou contente

por ter conseguido fazer a contento.

-Parabéns! Agora vá descansar -falou Alfredo,sorrindo.

Mary foi para o seu quarto, que também é chamadode váriasmaneiras. Higienizou-se, alimentou-se de um caldo,orou e depois sedeitou. Pensou em tudo que passou, agradeceu aoPai, nosso criador, edormiu. Sonhou que estava escrevendo. 5 Escreviahistórias diferentes e o

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resultado a deixou feliz. Acordou disposta, recordouo sonho eexclamou: "Literatura! Acho que devo fazer algo

pelos livros, emreparação!"

Lembrou o livro que tinha lido dias antes de fazeressa tarefa noUmbral; era O Problerna do Ser, do Destino e da Dor,de Léon Denis.Indentificou-se com os capítulos: "O pensamento" e"A disciplina dopensamento e a reforma do caráter". Sabia até de corum pedaço, querecitou em voz baixa:

"O pensamento é criador. Assim como opensamento do Eterno

profeta sem parar no espaço os germens dos seres edos mundos,também o do escritor, do orador, do poeta, do artistafaz brotarincessante florescência de idéias, de obras, deconcepção que vãoinfluenciar, impressionar para o bem ou para o mal,

conforme suanatureza, a multidão humana.

"É por isso que a missão dos obreiros dopensamento, que trabalhamcom a palavra, é ao mesmo tempo grande, temível esagrada.

"É grande e sagrada, porque o pensamento dissipaas sombras do

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caminho, resolve os enigmas da vida e traça ocaminho da humanidade,sua chama aquece as almas e embeleza os desertos

da existência.- Não estranhe, leitor amigo, por Mary ter sonhado.

O perispírito é cópia do corpo físico ou este édaquele. Os reflexos do corpo material só aos poucosvão sendo vencidos. Os trabalhadoresde Postos de Socorro quase todos dormem paradescansar, embora vão com o tempo diminuindo ashoras que dormem e alguns só o façam raramente.Com anos de treino, muitos trabalhadores dobem não dormem mais, por isso não sonham. Eu,Antônio Carlos, há muito não durmo econfesso a vocês que às vezes sinto falta dos sonhosagradáveis. Mary, depois de muitas horas

em que desprendeu muitas energias, dormiu paradescansar. Quem dorme pode sonhar.Temos vistopor muitos relatos que desencarnados sonham,alguns têm pesadelos, são os que não entenderamsua mudança de plano e que cometeram erros.Socorristas abrigados dormem para se refazer, são

sonos reparadores, e eles sonham também. Marygostava muito de escrever e compreendeu que nãoera o termo certo "gostava", no passado, e sim"gosta", no presente. Desencarnados sonhamcom afetos, cenas que viveram nos momentos felizese também com os desagradáveis. E os quetrabalham para o bem têm quase sempre sonhosbons. Sonhar que está escrevendo, para uni escritor

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que ama fazê-lo, é sempre prazeroso (N. A. E).- Recentemente a Petit Editora, com o intuito dedivulgar as mais importantes obras da Doutrina

Espírita, editou a obra O Problema do Ser, doDestino e da Dor, de Léon Denis, dividida em trêsvolumes, facilitando a leitura e o entendimento desteprecioso livro. A parte a que Mary se referiuestá no terceiro O Problema da Dor (N.A.E).

É temível, porque seus efeitos são poderosos tantopara a descidaquanto para a ascensão.

"Mais cedo ou mais tarde, toda criação do espíritoreverte aoseu autor com suas conseqüências acarretando-lhe,conforme o caso, osofrimento, uma diminuição, uma privação daliberdade ou aindasatisfações íntimas, uma dilatação, uma elevação do

seu ser."Animada, foi para sua tarefa no posto, tinha muito oque fazer.

Caminhando

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dias passaram e eles reagiram, logo não tinham

mais osferimentos, davam passeios pelo jardim, iam orar nosalão da prece.Estavam diferentes: limpos, penteados, corados ecom melhor expressão.Conversaram muito um com o outro, tornaram-seamigos.Mary sempre que podia ia visitá-los. Ademircomentou:

- Como se trabalha por aqui ! O trabalho é muito eos trabalhadorespoucos. Lembro os dizeres de Jesus quando rogou aDeus trabalhadores

para a messe.- Mary, lembro agora que você nos disse que sedeve passar denecessitado a servidor. Acho que já fiquei à toademais. Quero metornar útil! Assim que for possível, quero ajudar! -expressou

Benedito.- Conversei com Otália- contou Suellen -, uma

senhora muitobondosa que trabalha neste posto. Ela me disse queveio para cá porquetinha um neto aqui abrigado. Veio cuidar dele e deoutros; ele ficou bom e

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foi transferido, e ela ficou. Disse que vê em cadanecessitado um filho,um neto de alguém e que poderia ter sido dela.

Quando me admirei,Otália me disse sorrindo: "Suellen, é bomcompreender e vivenciarque todos na Terra somos irmãos, é amando a nós e atodos que nossentiremos parte do Universo e filhos de Deus".- Fico contente em vê-los bem! - exclamou Mary.

Chegou o dia em que iam ser transferidos. OCasarão da Paz étransitório. Ali os socorridos ficam abrigados até quemelhorem,- "A messe é verdadeiramente grande, mas os

operários poucos. Rogai, pois, ao Senhor da messe,

que mande operários para sua messe." (Mateus 9:37,38) (N.A.E).

depois são removidos para outros Postos e Colônias.Mary despediu-se

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deles com abraços afetuosos desejando-lhes que sesentissem cadavez melhor.

Mary pensava cada vez mais em trabalhar comliteratura.comentou com Alfredo, que opinou:

-Mary, creio que você deve voltar à atividade deescrever. Temospela Terra várias Colônias que se dedicam a essatarefa. Estápara vencer seu tempo de trabalho no Casarão daPaz. Certamenteseria um enorme prazer que renovasse seu período eficasse conosco.Mas talvez você deva estudar, fazer estágio numaColônia dessas,

aprendendo e trabalhando em prol da literaturaedificante.- Obrigada, Alfredo, pelo conselho. Tenho pensado

muito eacho que tenho que reparar faltas nesse campo. Seposso fazer algo debom pela literatura, só tenho que agradecer a

oportunidade. Quero irestudar e trabalhar. O livro ensina, e esseensinamento pode ser bomou ruim. A vendagem principalmente de revistaspornográficas égrande. Temos que melhorar com atrativos os livrosbons - falouMary, entusiasmada.

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  - Estou percebendo que você, Mary, está a par dasituação. Vocêdeve mesmo ir para uma Colônia e colocar esse

entusiasmo no seutrabalho-disse Alfredo sorrindo.

Mary continuou trabalhando no posto até vencer otempo que lhe foradeterminado.

Quando chegou o dia de partir, Mary despediu-sedoscompanheiros; estava emocionada. Alfredo, emnome de todos, lhedesejou êxito.

- Será sempre um prazer receber você aqui noCasarão da Paz.Não se esqueça de nós. Venha nos visitar.

"Por que", pensou Mary, "mudar é sempre difícil?Estou contente porter feito um bom trabalho aqui e pela oportunidadeque tive deaprender, por ter feito tantos amigos, e ao mesmotempo triste pordeixá-los, por me separar deles. Despedidas sempre

me comovem. Efazer algo novo me deixa apreensiva. Tudo é estágionesta vida!"

- Normalmente para os iniciantes nos trabalhosconstrutivos no Plano Espiritual é

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determinado o tempo para certos trabalhos e locais,embora isso não seja regra geral. Éestabelecido isso para que as Casas de Socorro se

organizem, não ficando com excesso ou escassez deajudantes, embora seja muito difícil ter excesso.Nada impede que um trabalhador fique o períodoquequiser, renovando esse tempo. Aqui ouvimos muito:"Vou servir no posto tal por dez anos, por cinco,por dois"; "Vou fazer isso por tanto tempo" etc.(N.A.E.).

Foi recebida com muito carinho na Colônia daLiteratura. Nirce a

acompanhou, servindo de cicerone. A Colônia erauma construção só,muito bem dividida, de cores suaves e com algunspilares. Havia flores dediversas tonalidades em pequenos canteiros. Maryachou muitobonito um pátio que ficava ao ar livre, com muitosbancos, e dali tinha

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uma visão maravilhosa do infinito. Ela se encantoucom o lugar. Apósconhecer tudo, Nirce a levou à sua sala.

Seu gabinete, como Mary designou o espaço a elareservado,tinha uma escrivaninha, um pequeno armário e duaspoltronas. Elacolocou seus pertences no lugar. Estava muito felizpor estar ali. Tinha umhorário marcado com o dirigente da Colônia. Este aesperava nosalão azul, local em que se recebem visitas e osrecém-chegados. Ele arecebeu com carinho:

-Mary, seja bem-vinda entre nós! Logo maisteremos uma palestra e

a convido a assistir. Depois terá trinta e quatro horaslivres antes deiniciar seu estudo. Não freqüentará as aulas paraaprender a escrever, issovocê já sabe, mas sim o que escrever. Terá muitasatividades. Fará muitasexcursões por toda a Terra, conhecerá muitas coisas,

mastambém trabalhará bastante.

- Farei de tudo para servir do melhor modo queconseguir. Anseiopor aprender - respondeu Mary.

Após receber mais algumas informações, Mary foipara o

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auditório, onde ouviu a interessante palestra, edepois, aproveitandosuas horas livres, foi visitar amigos e parentes que

haviam convividocom ela no período encarnado e amigos que fez noPlano Espiritual.Foi gratificante ao seu coração rever afetos, saberdeles, trocar notíciase carinhos.

Mary também visitou os nove amigos do socorroque fizera,queria ter notícias, revê-los. Para saber onde estavampediu- Em quase todos os países da Terra, existe uma

Colônia que se dedica à literatura, e às vezesmais de uma. São normalmente simples, não grandes

nem parecidas. Sendo na maioriaColônias móveis, isto é, não são fixas, mudam delocal conforme suas necessidades. Não são cercadase só se consegue vê-las se entrar-se na sintonia delas.Há bibliotecas informatizadas, com muitostítulos, réplicas de livros de encarnados e outros dedesencarnados, que só no Plano Espiritual é

possível ler. São destaques os salões de palestras esalas de aulas. Gabinetes, alojamentos, quartos,salas ou salinhas etc.: são nomes dados a um espaçopequeno que cada um, seja professor,trabalhador, seja estudante, tem para si. Para estagiarnuma Colônia assim é preciso não ter maisreflexos do corpo físico. Nelas não se alimenta, nãose dorme, e o tempo é bem aproveitável

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(N.A.E.).

informações, pois não estavam juntos, embora a

maioria estivesse namesma Colônia. E marcou uma visita a cada umdeles.

Foi rever primeiro Maria Gorete, que estavamorando na escola daColônia, freqüentava uma sala de aula especial emque se reuniam pessoas

que precisavam de esclarecimentos mais profundossobre sexo. Outros que,como ela, haviam praticado abuso sexual, sepervertido. Maria Goreterecebeu Mary contente, abraçou-a com carinho.

- Que visita mais agradável! Oro por você todos osdias, pedindo aDeus que a abençoe.

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  - Suas orações transformam-se em fluidos que têmme ajudado nastarefas do dia-a-dia. Obrigada! -respondeu Mary

sorrindo. Mas fale devocê. Que tem feito?

- Sinto-me muito bem aqui, tento não recordaraqueles anossofridos que passei naquela salinha, no Umbral. Selembro, é paraagradecer o auxílio que tive e firmar o propósito denão errar mais,para não ser atraída para esses lugares tristes. Queroestudar, passar a serútil para fixar bem o que aprendo aqui. Meu objetivoé me encontrarcom todas as pessoas que prejudiquei, me reconciliar

com elas e, sepossível, ajudá-las, mas para isso preciso saber agirpara fazer comsegurança e certo. Mary, agora compreendo comosomos responsáveisquando fazemos alguém odiar, ter rancor. Fiz isso!Só estarei realmente

bem quando pedir perdão a todos, e como ficareifeliz se forperdoada... Sei que alguns não me perdoarão, masinsistirei comcarinho. Tento também entender os problemas quetenho com o sexo,quero vencer meu vício sexual.- A imprudência está no abuso - falou Mary.

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  - Como é triste não reconhecer isso! - exclamouMaria Goretesuspirando. - Mas estou otimista, o que fiz está feito,

não se deve seamargurar pelo que não tem retorno. Mas sim agorater boa vontade defazer o bem, reparar, construir, edificar. Querocaminhar para oprogresso, dar grandes passos.

- Não seria melhor, Maria Gorete, dar pequenospassos, mas nocaminho certo, que grandes fora dele? Você já fezalgo muitoimportante, arrependeu-se do mal, pensa em sereparar com o bem eplaneja fazê-lo. Acho que você está certa, o passado

não se muda,mas podemos planejar o futuro e construir agora, nopresente, comamor, tudo o que nos cabe fazer.

- E fazer com segurança para que nossos atos sejambonsmesmo! E você tem razão, não quero deixar o queposso obrar nopresente só para depois, se tenho condições, e estas agente consegue

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arrumar, de fazer agora, de realizar as pequenastarefas com amor,como se fossem grandes. Compreendi isso, Mary, e

lhe agradeço.Despediram-se com um abraço. Mary

compreendeu que sempreque conversamos com alguém tentando ajudar,esclarecer, somosorientados. Ela achou uma conclusão para algo quehá tempomatutava. Estava ela só fazendo pequenas tarefas esonhando em realizaruma grande. Estaria de fato sendo útil?Compreendeu: ninguém fazbem uma ação grande se não treinar nas pequenas. Eque o importante é

fazer grandemente as que julgamos insignificantes.Mary foi para a outra parte da escola, onde, por termarcadohorário, estavam no jardim Suellen, Armando eBenedito. Abraçaram-secontentes.- Mary, que bom revê-la! Estava querendo visitá-la,

mas minhaorientadora me disse para esperar, que você viria nosver. Queria,agora que estou bem, agradecer-lhe-expressouSuellen, emocionada. -Falem de vocês. Que estão fazendo? - indagou Mary.Os três abriram a boca para falar, mas foi Suellenquem respondeu: -

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Estou estudando como viver desencarnada. Depoisquero fazerum curso para aprender a dar valor à vida em todos

os seus estágios.Abortar nunca mais! Depois devo tentar reencarnar! -Tentar? - perguntou Mary.

- Lembro a você, Mary, que fiz muitos abortos eagora entendo queesse ato não só mata o feto, mas impede um espíritode reencarnar. Possoter o retorno das minhas ações e minha futura mãenão me querer efazer comigo o que fiz a outros - respondeu Suellen.

- Mas você poderá reencarnar e ajudar mães a terfilhos, escl areceroutros para que não abortem - falou Mary.

- Será que, na ilusão da carne, não esquecerei isso efarei tudo denovo? Tenho medo! -expressou Suellen.

- Então se prepare mais para reencarnar - falouMary, acon-selhando.

-É que não gosto muito de estudar! - respondeu

Suellen. -Estudarse tornará um hábito se cultivado. Esforce-se! E você,Armando, queestá fazendo?

- Também não gosto de estudar, mas estou meesforçando paraaprender. Pedi para ir a um Posto de Socorro pertodo Umbral. Terei

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permissão após terminar de aprender o básico.Espero ansioso. Sabe,Mary, pude visitar minha família. Só Érica está bem.Ela fez emuma das propriedades que herdou de tia Zefa umacreche e cuidade várias crianças. Minha esposa e meus dois filhosvivem de pequenosgolpes, fazem coisas erradas. Entristeci e me sintoresponsável, elesseguem meu exemplo. Como o exemplo é importante

na educação deum indivíduo. Quero trabalhar no Umbral paraaprender e não errarmais, e porque tudo indica que Magali e meus doisfilhos, se nãomudarem, ao desencarnarem irão para lá, entãotalvez eu possa auxiliá-los.

Estou com o propósito de fazer bem feita minhatarefa. Não esqueçoque fui auxiliado pelo seu trabalho e de outros.

- Armando, você gostará de trabalhar no Umbral.Desejo-lhe êxito -disse Mary e, virando-se para Benedito, indagou:- E você, amigo, quais são seus planos?

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tratamento numa ala do hospital. Ela estranhou eindagou, antes de vê-lo, aum dos coordenadores do local:

- Por que Damião está aqui? Quando o tiramos doUmbral nãoestava ferido nem perturbado.

- Damião abusou do dom da palavra. Aqui, logoque começou aentender que muito errou, foi-lhe mostrado, a seupedido, comoestavam as pessoas que receberam sua maldade. Eleviu que umasestavam bem, que perdoaram, mas que outras, não;elas tinham-lhe

rancor ou ódio e sofriam. Damião entristeceu edeixou de falar,não quer mais fazê-lo. Pediu para reencarnar mudo eentre pessoaspobres. Aqui está para tentar compreender que o

remorso não deveser destrutivo nem punitivo. O certo seria ele repararsuas faltasfazendo uso da palavra para ensinar, dar bonsconselhos, ajudar, mas elenão quer. Como o livre-arbítrio é respeitado, aqui sótentamosesclarecê-lo.

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  Mary agradeceu ao coordenador e foi ver Damião,que a abraçouchorando.

- Damião, estou contente por revê-lo, mas gostariaque falassecomigo.- Alegro-me em vê-la! - balbuciou ele comdificuldade.

-Tem certeza de que é isso que quer? Reencarnarmudo? -perguntou Mary.

- Não confio em mim! Quero ser mudo! - falouDamião devagare enxugou algumas lágrimas; depois, com esforçocontinuou: -Minha vontade atua no meu perispírito, não quero

falar, não soudigno de fazê-lo. Mas digo a você: muito obrigado!Tenho a certeza de quenão estou me punindo, mas me privando de algo quetem sido paramim há tempo motivo de erro. Acredito que so coma dor aprenderei.

Aqui tenho aproveitado bem as lições para não merevoltar. Destavez quero dar valor à oportunidade da reencarnação.Mary o abraçou e falou carinhosamente:

- Aprender pelo amor é mais fácil e todos têm essaoportunidade,mas a dor também ensina. Desejo-lhe que aprendapara um dia você ser

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um professor.- Obrigado!

Dali Mary foi a um Posto de Socorro onde estavam

Eleocácio eCássia, os dois estagiavam nessa Casa de Auxílio.Trabalhavam eestudavam numa sala de aula especial com outrosque haviam infringido,encarnados, as leis cívicas, morais econseqüentemente espirituais. Osdois a receberam contentes.

- Mary, estava há muito tempo querendo revê-lapara agradecermais uma vez - expressou Eleocácio.- Como estão vocês? Gostam daqui? - perguntou ela.

- Preferiria estar na Colônia - respondeu Cássio. -

Mas é aquique Eleocácio e eu temos que ficar um tempo paraaprender. EstaCasa de Socorro auxilia muito os encarnados queestão presos numa

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 grande casa de detenção e os desencarnados que sesentem presos.

Mary, temos visto alguns inocentes na prisão, só quenada é injusto,foram criminosos em outras existências e não forampunidos. Está sendomuito bom para mim ver esses fatos e tentar ajudar.Talvez, quem sabedepois de ver, de sentir tudo isso, ao reencarnar eunão faça maisinjustiças. Antes de voltar ao plano físico quero fazerum tratamentopara saber por que fui homossexual. Não quero serna próxima vez.Eleocácio sorriu, estava tranqüilo e falou:

- Mary, estou aprendendo muito aqui. Tive abênção de pedirperdão a Vanilda e a mais duas pessoas queprejudiquei. Fui perdoado.Quero encontrar os outros e rogar perdão. Sabe o quefiz no domingo?Fui visitar minha família. Estão bem, o esposo de Iva

é uma boa pessoa.Logo terminaremos nosso estágio aqui, mas pedipara ficar, querotrabalhar mais neste lugar. Depois vou pedir paraestudar parareencarnar. Sou agradecido pelo muito que recebo,não merecia estaraqui, estou pela bondade de Deus.

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  - Eleocácio, você merece, sim; está se esforçando,tem se saídobem, nosso instrutor até o elogiou -falou Cássio.

- Isso é ótimo, o trabalho construtivo é uma bênçãoque nãodevemos desprezar. Desejo êxito a vocês! - exclamouMary,despedindo-se.

Dali ela foi rever Ademir, que estava em uma outraColônia. Ele arecebeu emocionado.

- Minha querida socorrista! Que bom revê-la! Estámuito bem,mais bonita com esta roupa. Alegro-me que tenhavindo me ver.primeiramente, meu muito obrigado. Como o

trabalho de socorrista éimportante! Quero servir no Umbral. Certamentetenho muito queaprender para realizar a contento um trabalho dessaresponsabilidade.- Que bom vê-lo bem! Que está fazendo? - perguntouMary.

- Aprendo! Estamos agrupados numa sala de aula,nós, espíritos queabusamos do termo religioso. Repartimos o tempoentre estudo etrabalho. Ajudamos outros que erraram como nós. Ebem triste usar deuma religião para esconder as imprudênciascometidas. Quero

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aprender a seguir uma sem fanatismo, comsinceridade, e por elafazer o bem para mim e para o próximo. Quero ter

paz, pacificar para serpacificador. Será que almejo muito?

- Não, acho que deve planejar e executar. Sóplanejar e nãofazer é sonhar em vão, não aproveitar asoportunidades. Quandoqueremos, trabalhando para isso com honestidade eamor, conseguimose você, Ademir, conseguirá. São os que procuram apaz, ospacíficos, os pacificadores, que serão chamadosfilhos de Deus - ex-pressou Mary tranqüilamente.

- Mary, pedi para ficar nesta Colônia porque aquitenho comovisitar mais meus familiares. Como é bom vê-los!Eles nunca meesqueceram, falam de mim com carinho. Só que nãosabem dos errosque cometi nem que sofri tanto tempo depois da

minha desencarnação.Acho que, se minha esposa soubesse, se pudesse,teria querido sofrer nomeu lugar. Mas isso não é possível, não é?

- Não, Ademir, não é - respondeu Mary. - Sepudéssemos pagardívidas, sofrer em lugar de outro, e se Deus aceitasse,Ele seria injusto.

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Ninguém sofre por outro, somos donos absolutosdos nossos atos.Ninguém pode renunciar ao egoísmo em nosso

lugar, ninguém podeamar por nós e nós não podemos fazer isso pelooutro. Entendeu?Se não erramos no lugar do outro, não podemosreceber a reaçãopor ele. Só a gente tem que desfazer o que fez deerrado e realizar oque não fez de acertos.

Como Mary tinha que visitar Zefa, despediu-se deAdemir,desejando-lhe que conseguisse realizar seus planos.Ele a abraçoucom carinho. Ela foi então para a Colônia onde estão

abrigadosex-suicidas. Essas Colônias são muitas espalhadaspela Terra.Infelizmente são muitos os imprudentes que matamseu corpo físico. E Zefa foiconsiderada suicida, não foi ela que cometeu o ato,mas pagou,

mandou outro fazer. Também em certos lugaresesses socorridosficam em Colônias comuns, só que em locaisseparados dos outros, sóse agrupam quando estão bem e adaptados. Mas amaioria dos ex-suicidas, depois do socorro, vai para Colôniaspróprias, onde tem

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um estudo diferenciado para que aprenda a dar maisvalor à vida e aosestágios de encarnação.

A colônia em que Zefa estava era muito agradável,com muitos jardins, recantos de rara beleza onde água jorra dasfontes, há floresdiversas em canteiros e árvores dando sombra. E erano jardim queZefa a esperava.-Mary! Que alegria!Abraçaram-se.- Como está, Zefa?

- Estou bem, graças a você. Muito obrigado. Mase você, comoestá? - perguntou Zefa carinhosamente.-Bem, obrigada. Aqui é muito bonito - respondeuMary.

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  - Estou muito bem aqui e sou grata por tudo quetenho recebido.Esta Colônia tem muitos departamentos, muitas

salas de aulas, bibliotecassalões para palestras e o hospital é enorme. Os queestão melhor,como eu, estudam e ajudam nas enfermarias.- E suas amigas Olga e Maria José, sabe delas? -indagou Mary.

- Vanilda veio me ver, disse que tinha que passarpor aquelessofrimentos, foi reação de ações erradas do passado.Olga desencarnoulogo depois de mim, sofreu também por não terperdoado. Maria José anos depois se tornou espírita, perdoou de

coração, arrependeu-sepor ter tido tanto rancor e quando desencarnou foisocorrida.Elas vieram me visitar e lamentamos juntas nãotermos perdoado.Continuamos amigas. Lúcia também fez suapassagem de plano, mora

com os pais, está bem.-Tem visto seu esposo e Julieta? - perguntou Mary.

-Eles vêm me visitar. Mary, que terrível enganocomete quempensa que, matando-se, ficará junto de afetos noPlano Espiritual. Osdois, meu esposo e minha filha, moram juntos emoutra Colônia, estão

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bem, são felizes e trabalham; eu ainda não possoestar junto deles.Pedi perdão a eles também, a Adauto por tê-lo

traído, e ele me disseque sempre soube e que tinha me perdoado. A Julieta me perdooupor ter me vingado por ela. Minha filha me disse quetudo fez para tirar asidéias de vingança de mim, até num esforço enormefez que eurecordasse de um encontro com ela, que me pediapara não cometeraqueles assassinatos. Foi o sonho que tive. Eles medisseram quetinham sempre notícias minhas quando estive noUmbral e que

infelizmente não podiam me ajudar. Quando não sequer o auxílio não éfácil tê-lo. Às vezes queremos uma coisa, masnecessitamos de outra.Eu os amo muito, é sempre uma alegria imensa revê-los. Esperoaprender a dar valor ao período encarnado, à vida, e

amar cada vezmais. Estou aqui falando só de mim, quero saber devocê, escutá-la.Ainda está servindo no Casarão da Paz?

- O tempo de meu trabalho Ia venceu e pedi paraestudar e trabalharcom literatura. Quero aprender e servir nessa área,amo escrever. Além

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do mais, nesse meio literário certamente terei maisfacilidade de ajudar sepor ventura alguém, pelos meus escritos, cometeu

erros.

-Como eu? Sinto por isso, Mary. Desculpe-me - falouZefa.

- O que fiz está feito! - exclamou a visitante. - Masficareicontente se puder socorrer alguém que fez algum atoindevido por tê-loslido. Mas meu objetivo maior é aprender e, comovocê, sou muita

grata por isso.-É bonita essa colônia de estudo? - indagou Zefa.- Muito linda! Diferente daqui. Admiro essa

diversidade doslocais no Plano Espiritual - respondeu Mary.

- Fico contente por você, Mary, e desejo de coraçãoque esteja

cada vez melhor e que esse estudo lhe sejaproveitoso.- Obrigada, Zefa! Também desejo que você melhoresempre.

Abraçaram-se. Mary a olhou agradecida; Zefa foraa únicados nove a perguntar como ela estava, a quererescutá-la. Pensou:

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"Sempre queremos falar e nem sempre ouvir".Mary voltou à Colônia que seria seu lar por um

bom tempo.

faltavam duas horas para se iniciar sua primeiraaula. Sentou-se numbanco no pequeno e bem-cuidado jardim e se pôs apensar na palestraque ali escutara, a primeira a que fora naquelacolônia de estudo.Quem a proferiu foi um estudioso que, encarnado,fora escritor bem-sucedido. Escrevera muito e bem, livros queensinam, esclarecem; fora umautor edificante, que conseguira passar, pelos seusescritos, todo o seuamor ao Criador.

Ele falou de sua experiência, que não fora fácil;tivera que aban-donar muitas coisas, companheiros, pela verdade;fora perseguido,mas continuara firme nas suas convicções. Amaraprofundamente oque fazia e continuava amando. Um grande exemplo

a ser seguido: seum consegue, todos poderão também. E Maryguardou como tesouroa oração que esse senhor fez no final, a qual, comoele disse, era a preceque costuma fazer e que fazia desde encarnado.Mary memorizou o que julgou para ela mais importante:

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"Deus, guia-me por entre as trevas.Ilumina meu caminho.Dá-me forças para caminhar pelo estreito caminho

da salvação.Orienta-me para não me julgar nem pior nem melhorque ninguém.Que nenhuma injustiça me faça injusto.Que as ingratidões não me tornem ingrato.Que nenhuma maldade que eu venha receber mefaça mal.

Que eu possa, meu Deus, preferir receber todas asinjustiças e

maldades a fazer uma só.Ajuda-me a servir, mesmo nos pequenos atos, eauxilia-me avencer o egoísmo de querer ser servido.O, meu Deus! Que eu seja feliz servindo com Amor,sem, contudo,esquecer de fazer a felicidade de outros.

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Faze de minha vida um luminoso reflexo de TuaLuz!"

Mary suspirou, estava contente por estar ali, pela

oportuni-dade de aprender, fazer o que gostava. Estava nahora de ir para suaprimeira aula. Levantou-se do banco, sorriu eexclamou baixinho:"Obrigada, meu Deus!"

Ao terminar a leitura deste livro, provavelmentevocê tenha ficado com algumas dúvidas eperguntas a fazer, o que é um bom sinal. Sinal de queestá em busca de explicações para avida. Todas as respostas que você precisa estão nas

Obras Básicas de Allan Kardec.Se você gostou deste livro, o que acha de fazer comque outras pessoas venham a conhecê-lotambém? Poderia comentá-lo com aquelas do seurelacionamento, dar de presente a alguém quetalvez esteja precisando ou até mesmo emprestaràquele que não tem condições de comprá-lo. O

importante é a divulgação da boa leitura,principalmente a literatura espírita. Entre nessacorrente!

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Conheça um trecho

da magnífica obraA mansão da a pedra tortaDe autoria do Espírito Antonio CarlosPsicografado por Vera Lúcia Marinzeckde Carvalho

- É necessário estarmos preparados - explicou ogaroto.

Desceram a escada devagar, não se ouvia barulhonenhum na casa.Entraram na biblioteca e Cirilo trancou a porta pordentro.

- Assim, evitaremos que alguém entre aqui. Agora.Ana, me mostre coose abre a passagem.Ela foi até a estante.

- E este livro aqui - mostrou. - Olhe como se taz,vire para a esquerda,depois duas para a direita e após empurre-o para

trás.- É complicado! Espere que vou tomar nota - falou

Cirilo, tirando umcaderninho do bolso. - Preciso anotar tudo, talvezencontremos maispassagens secretas pela casa. É incrível você terdescoberto isto. ainda

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mais num livro de Latim. O que você queria numlivro de Latim?

Ana não respondeu. Os dois pararam

maravilhados quando viram aestante se abrir.

- Vamos nos-dar as mãos e não as largaremos paranada, assim não nosperderemos um do outro. Pegue você uma lanterna ecu a outra - disse Cirilotodo excitado corn a excursão que fariam.

A passagem dava para um pequeno quadrado edepois para uma escada.Desceram vinte degraus. O local estava úmido e frioe à medida quedesciam sentiam o ar carregado. Ali não estavamuito sujo e havia poucas

teias de aranha. A escada era estreita, mas cabia osdois. que seguravam asmãos fortemente.

Chegaram a um outro quadrado, ou um pequenocômodo. onde haviaduas passagens que davam para dois corredores.

- Vamos por este aqui - disse Ana, lembrando do

sonho que a levou àgruta.- Não, vamos por este=. - exclamou Cirilo, resoluto.

As paredes daquele subsolo eram de pedras enada havia nelas.Entraram num corredor estreito e baixo. Nãoprecisavam se abaixar,

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mas alguém de estatura maior, certamente.necessitaria. Após uns passos.viram portas de madeira, de ammos us lados.

Cirino. eufórico, como se descobrisse uma novabrincadeira, forçou aprimeira porta e ela abriu. Ana arrepiou-se.Iluminaram la dentro. Era umcômodo quadrado com resto de palhas num canto e

um banco de madeira nooutro. Não tendo nada de interessante, Cirilo fechoua porta que fez umbarulho que pareceu enorme diante do silencio quereinava. Só se ouvia arespiração dos dois excursionistas aventureiros.

Cirilo forçou a porta do outro lado. abriram sem

dificuldades, eraigual a outra e nada havia dentro do cômodo. Eramquatro portas.aproximaram-se de outra. mas esta não abriu, omenino a iluminou e viu umferrolho.

- Vamos. Ana, abra! Força - disse Cirilo pegando alanterna de sua mão.

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  Ana fez força e o ferrolho cedeu, empurrou aporta. Iluminaramo ambiente e ajovcrn segurou para não gritar. No

meio do compartimentohavia um esqueleto. Poucas roupas o cobriam, ruasdemonstrava ter sidoum homem. Cirilo entrou e ia mexer. ela não deixou.-Não, Ciro, não mexa! Vamos embora daqui!

- Ora. Ana, é só um esqueleto! Devem ser os ossosdo tarado que amãe prendeu.Ave Maria! Também preso aqui só pode ter morrido!Ninguémviveria muito aqui. Que horror! Quero voltar!- Não! Agora que estamos aqui, olharemos tudo.Tentou abrir a outra porta. - Vamos, Ana. abra!

Ela tentou e não conseguiu.- Está trancada - disse, ofegante.- Tem alguém aí dentro! - Cirilo bateu na porta. -Que idéia. Cirilo. Como pode ter alguém aí?- Que pena que esteja trancada. Talvez tenha outrosesqueletos oufantasmas.

Estou com medo - balbuciou Ana, toda trêmula.Ora- falou o menino, autoritário-, não banque a

garota medrosa. Nãosabe que fantasmas não ficam presos? Agora, vamospor ali.

Seguiram por um corredor que terminava emtriângulo e cada ladotinha uma passagem.

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