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O mordomo da casa branca

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O livro que originou a megaprodução cinematográfica com Forest Whitaker, Oprah Winfrey, Robin Williams, John Cusack e Cuba Gooding Jr. Wil Haygood, jornalista do Washington Post, escreveu, durante a eleição de Obama, uma série de artigos sobre Eugene Allen, mordomo negro que serviu a oito presidentes, de Truman a Reagan. Um símbolo de como os negros estiveram tão próximo, e ao mesmo tempo, tão distante do poder no período da segregação racial. Antes de falecer Eugene Allen se orgulhou de ver a posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Hoje, além do filme que liderou as bilheterias, a história ganhou as páginas deste livro que emocionará milhões de pessoas.

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A história real que originou o filme com Forest Whitaker e Oprah Winfrey

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A história real que originou o filme com Forest Whitaker e Oprah Winfrey

Wil HAygOOd

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The ButlerCopyright © 2013 by Wil Haygood

Foreword copyright © 2013 by Lee DanielsCopyright © 2013 by Novo Século Editora Ltda.

All rights reserved.

Editor-assistente Coordenação editorial

TraduçãoCapa e diagramação

Revisão

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo n° 54, de 1995)

2013IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11° Andar – Bloco A – Conjunto 1111

Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br

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Daniel LameiraMateus Duque ErthalCaio PereiraFlavio FranceschiniMarina Ruivo / Letícia Teófilo

Haygood, WilO mordomo da Casa Branca : a história real que baseou o filme

com Forest Whitaker e Oprah Winfrey / Wil Haygood ; [tradução Caio Pereira]. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2013.

Título original: The butler

1. Allen, Eugene, 1919-2010 2. Direitos civis - Estados Unidos 3. Mordomos - Estados Unidos - Biografia 4. Presidentes - Estados Unidos - Funcionários - Biografia I. Título.

Índices para catálogo sistemático:

1. Estados Unidos : Casa Branca : Mordomos : Biografia 920

13-11266 CDD-920

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Este livro é dedicado à memória de Laura Ziskin

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Prefácio: lee daniels

A jornada do mordomo

imagem em movimento

Cinco presidentes vão à luta

Agradecimentos

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sumário

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Ainda que o filme O mOrdOmO da Casa BranCa seja baseado em eventos históri-cos, o protagonista e sua família são obras

de ficção. desde o momento em que li o artigo de Wil Haygood no Washington Post, fiquei muito co-movido com a vida de Eugene Allen. lembro-me de Wil Haygood compartilhando comigo sua inspi-ração para escrever o artigo original. Bem no início da campanha eleitoral de Obama, ele tentava encon-trar um mordomo afrodescendente que tivesse sido testemunha, em primeira mão, do movimento pelos direitos civis, de perspectivas tanto de fora quanto de dentro da Casa Branca. Wil bateu à porta do Sr. Allen e foi recebido por um homem elegante e hu-milde e por sua graciosa esposa. Passaram, então, as tardes compartilhando histórias e tesouros em for-

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ma de lembranças, que repousavam discretamente na parede de seu porão.

Quando li, pela primeira vez, o roteiro escrito por danny Strong para O mordomo da Casa Branca, soube que tinha que dirigir o filme. Era inspirado por títulos como E o vento levou, e achei que, se eu pudesse captar pelo menos metade do que esse filme captou, teria em mãos uma coisa mágica. Mas o mais importante foi ter encontrado um jeito de enquadrar a história: contrastar os eventos da época, especialmente a luta pelos direitos civis de igualdade, com o que viria a ser o coração do filme, a evolução de um relacionamento entre pai e fi-lho. Enquanto o pai testemunhava diretamente o papel que cada presidente representava ao ditar o curso dos direitos civis, o filho se rebelava contra o que entendia como a subserviência de seu pai. Ele chegou a levar sua luta pela igualdade às ruas, ainda que isso significasse sacrificar a própria vida. No fim das contas, é uma his-tória de cura, tanto da nação americana quanto, mais importante, de um pai e de um filho, conforme cada um passa a respeitar o papel essencial que o outro re-presentava em um momento de grande transformação histórica. É essa a âncora emocional e universal do fil-me, e o tema que eu tanto queria explorar.

E, embora pai, filho e sua família sejam personagens fictícios no filme, pudemos emprestar alguns momen-tos extraordinários da vida real de Eugene, tecidos à

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malha do enredo – como o pesar de Jacqueline Ken-nedy ao dar uma das gravatas do presidente assassinado ao mordomo, e o convite feito por Nancy Reagan a ele e sua esposa para um jantar diplomático. Eugene Allen era um homem notável, e fico muito feliz por Wil Haygood ter tido a paixão e a perseverança de en-contrá-lo e dado vida a sua história, no artigo e neste livro, que o amplia.

Lee Daniels

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Cartaz do filme no Brasil

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A jORNADA DO MORDOMO

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Ele estava lá fora, em algum lugar. devia ser um senhor de idade atualmente. Trabalhara durante “décadas” na Casa Branca. Talvez ti-

vesse morrido praticamente sozinho, e prestaram-lhe apenas uma curta nota nos obituários. Mas ninguém era capaz de confirmar se seria esse o caso. Eu podia estar procurando um fantasma. Na verdade, procurava um mordomo. E não conseguia parar de procurar.

Sim, um mordomo.É um termo tão antiquado e anacrônico: o mordomo.

Alguém que serve as pessoas, que vê sem ver; alguém que sabe decifrar o humor das pessoas que serve. A fi-gura nas sombras. Os amantes do cinema se apaixona-ram pelo mordomo como figura cinematográfica no filme Irene, a Teimosa, de 1936, no qual William Powell estrelava como o mordomo de um lar caótico. Mais

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recentemente, a figura do mordomo e de outras perso-nalidades dos bastidores foram popularizados na amada série de TV Downton Abbey. O meu mordomo era um cavalheiro chamado Eugene Allen. durante 34 anos, ele serviu na casa localizada em Washington, d.C., na avenida Pensilvânia, 1600, uma que o mundo inteiro conhece como a Casa Branca.

Finalmente, depois de conversar com muitas, muitas pessoas, em ambas as costas dos Estados Unidos, e de fazer dúzias e dúzias de ligações, encontrei o homem. E ele estava bem vivo. Morava com a esposa, Helene, numa rua quieta da região Nordeste de Washington. Eugene Allen trabalhara – como mordomo – durante oito administrações presidenciais, de Harry Truman a Ronald Reagan. Foi tanto uma testemunha da história quanto um desconhecido para ela.

– Vamos entrar – disse ele, abrindo a porta de sua casa naquele dia frio de novembro, em 2008. Tinha acabado de tomar as medicações da manhã. Já tinha servido café da manhã à esposa. Contava 89 anos de idade, e estava prestes a revelar para mim sua história (e a do país) de um jeito totalmente novo.

Foi assim que a vida de um mordomo da Casa Bran-ca – que viraria notícia no mundo depois que um ar-tigo escrito por mim apareceu na capa do Washington Post, três dias após a eleição histórica de Barack Oba-ma, em 4 de novembro de 2008 – se desenrolou.

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Tudo começou numa noite de verão de 2008 em Chapel Hill, Carolina do Norte. Já passava da meia- -noite, e o discurso tinha sido terminado, analisado e comentado. Mais um candidato democrata à presidên-cia pregava a diversos estudantes e eleitores sobre por que deveriam votar nele. As arquibancadas do dean dome, na Universidade da Carolina do Norte, estavam abarrotadas. O candidato, que detinha uma disposição delicada, mas confiante, estava a caminho. A plateia era composta por gente de diversas etnias e idades. A voz gutural de Stevie Wonder foi reconhecida instan-taneamente quando saltou para fora dos alto-falantes. Alguns dos presentes mais velhos eram veteranos do movimento – no caso, o movimento pelos direitos ci-vis: anos 1960, segregação, almas corajosas assassinadas e enterradas em todo canto do Sul. Agora, lá estava o candidato, perante o público, mangas da camisa dobra-das, segurando o microfone.

– Estou concorrendo devido ao que o dr. King chamou de urgência ardente do presente, porque acre-dito que isso significa que já é tarde o suficiente, e esse momento, Carolina do Norte, está se aproximando.

As palavras tinham um movimento todo típico de igreja, e o então senador Barack Obama levantava a

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multidão das arquibancadas sem grande esforço. O ba-rulho e os aplausos indicavam aceitação. Mas estavam no Sul, ele era negro, a Casa Branca parecia ainda um sonho distante. A história e seus demônios estavam em todo lugar, embora o candidato parecesse inacessível a eles.

Eu era um dos escritores que cobriam a campanha de Obama naquela noite para o Washington Post, voan-do de estado a estado ao longo de um período de sete dias. Após o comício e discurso em Chapel Hill – e de-pois de entrevistar algumas pessoas lá dentro –, era hora de ir para o ônibus que levaria os jornalistas de volta ao hotel. O ar estava doce e adorável. de repente, ouvi algo muito estranho: alguém chorava, e estava por per-to. Virei o rosto e procurei enxergar em meio à escuri-dão. Pouco à frente, num banco, estavam sentadas três moças, universitárias. Fui em direção a elas e perguntei se havia algo errado, se havia algo que eu podia fazer.

– Nossos pais não estão falando mais com a gen-te – disse uma delas, entre soluços –, porque estamos apoiando aquele homem.

Todas estiveram dentro do dome. As amigas confir-maram a história com a cabeça, os olhos vermelhos de tanto choro. Ela prosseguiu:

– Eles não querem que a gente apoie um negro, mas não podem mais nos impedir.

Essas palavras me acalmaram. Fiquei sentado, conver-sando com elas, por um tempo. Os soluços cessaram, e

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o olhar no rosto delas voltou logo a ser uma espécie de desafio, cheio de brilho. Pretendiam enfrentar seus pais; seriam parte do movimento que levaria aquele homem negro à Casa Branca. Talvez eu estivesse um pouco exaus-to, talvez estivesse sonhando acordado, talvez aquelas lá-grimas tivessem me tocado mais profundamente do que eu imaginara. Mas bem ali, naquela noite sulista – como se eu tivesse levado um tapa na cara – eu prometi a mim mesmo que Barack Obama chegaria à avenida Pensilvâ-nia, 1600. Prometi que ele chegaria à Casa Branca.

Poucos dias depois dessa noite em Chapel Hill, eu disse a Steve Reiss, meu editor, que Barack Obama ga-nharia a presidência, e que, já que ele ia ganhar, eu precisava encontrar alguém da época da segregação, e o mais rápido possível, para escrever sobre o que esse ainda futuro evento importante na história da América significaria para tal pessoa.

– E queria alguém que tivesse trabalhado dentro da Casa Branca – eu disse a Steve. Ele arqueou as sobran-celhas:

– Hmmm – soltou.Ele não acreditava que Obama ganharia, mas acre-

ditava nas minhas intenções. Queria que eu terminasse algumas tarefas pendentes, mas eu poderia, em seguida, sair em busca dessa pessoa fantasma. Ele se perguntava até que ponto eu iria para procurar por esse empregado da Casa Branca.

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– Está pensando na década de 1960?– Bem antes disso – respondi.Eu queria encontrar um negro ou uma negra que

tivesse trabalhado e servido dentro da Casa Branca, que tivesse lavado a louça lá, que tivesse bebido água no bebedouro para negros na América da era Jim Crow. Não me importava que as pessoas ao meu redor in-sistissem em afirmar que a América não elegeria um negro à presidência.

Um empregado negro da Casa Branca dos anos 1950? Uma atendente da residência presidencial me disse que não podia revelar nomes de ex-empregados, e que não conhecia ninguém na Casa Branca que pudesse me aju-dar nessa empreitada. Sempre surgem obstáculos, blo-queios no caminho no trabalho de repórter, e eu disse a mim mesmo que isso não era motivo para aflição. Além disso, eu tinha uma fonte em Capitol Hill, no escritório de um congressista, alguém que poderia ajudar. Mas de-pois de muito tentar, a fonte também não teve sucesso com a Casa Branca. Outros me lançavam olhares vazios ou me deixavam esperando ao telefone; nada de nomes, nem de pistas. Então, enquanto eu me perguntava se essa pessoa poderia ser encontrada, alguém me contou a respeito de uma senhora da Flórida que trabalhara na Casa Branca e poderia conhecer quem eu procurava.

Essa mulher da Flórida, ex-empregada da Casa Branca, me disse um nome.

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– Se ele tivesse falecido, eu teria ouvido falar – disse ela. – Na última vez em que eu vi Eugene Allen, ele estava na entrada do número 1600 da avenida Pensil-vânia, entrando num táxi. Tinha participado de uma reunião na Casa Branca. Trabalhou lá por muitos anos como mordomo.

Ela não sabia dizer exatamente por quanto tempo.Se Eugene Allen ainda estava vivo, eu tinha que en-

contrá-lo. Se ele estava entrando num táxi quando foi visto pela última vez pelo meu contato da Flórida, isso significava que ele devia morar na região de Washing-ton, d.C., Maryland e Virgínia. A lista telefônica esta-va recheada de pessoas com o nome de Eugene Allen. depois de fazer quarenta ligações, ainda sem encontrar esse Eugene Allen específico, comecei a imaginar se o homem ainda morava na região. As pessoas envelhecem e começam a imitar os pássaros. Mudam-se para regiões mais quentes, como Califórnia, Arizona, Flórida. E, cla-ro, morrem. As ligações continuavam a amontoar-se, sem sucesso.

– Alô, estou procurando o Sr. Eugene Allen, que tra-balhava como mordomo na Casa Branca. – Essa devia ter sido a ligação de número 56.

– Está falando com ele mesmo.

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