O museu como um instrumento de reflexão social

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Revista portuguesa com textos sobre museologia.

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  • MIDAS2 (2013)Varia

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    Genoveva Oliveira

    O museu como um instrumento dereflexo social................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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    Referncia eletrnicaGenoveva Oliveira, O museu como um instrumento de reflexo social, MIDAS [Online], 2|2013, posto onlineno dia 01 Abril 2013, consultado no dia 16 Fevereiro 2015. URL: http://midas.revues.org/222; DOI: 10.4000/midas.222

    Editor: Alice Semedo, Raquel Henriques da Silva, Paulo Simes Rodrigues, Pedro Casaleirohttp://midas.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em:http://midas.revues.org/222Documento gerado automaticamente no dia 16 Fevereiro 2015. Revistas MIDAS

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    Genoveva Oliveira

    O museu como um instrumento de reflexosocialIntroduo

    1 O estudo realizado para este artigo baseou-se em revises bibliogrficas como um materialessencial. A anlise e interpretao seguiram os objetivos do estudo proposto. O tratamentometodolgico dos documentos que se observa neste artigo reporta mediao em museus e funo social do museu que destacaremos neste trabalho, sublinhando projetos internacionaisde diferentes pases como um exemplo pertinente a refletir.

    2 Em 1958, teve lugar, no Rio de Janeiro, um Seminrio Regional da UNESCO com a finalidadede discutir a funo educativa dos museus. Esta reunio foi um marco de suma importnciano processo de transformao da instituio museolgica na Amrica Latina. Mas as ideiaspreconizadas no encontro do Chile de 19721 vieram trazer uma nova abordagem. Os museusso espaos privilegiados de educao no formal e tm um papel importante na formaode todos, no campo da cultura. A Declarao de Qubec de 1984 sistematizou os princpiosfundamentais da Nova Museologia. A Declarao de Caracas, resultado do Seminrio deEstudos Museolgicos, realizado no perodo de 16 de Janeiro a 6 de Fevereiro de 1992, tevecomo finalidade fazer um balano da situao dos museus na Amrica Latina. Desenvolveuuma avaliao crtica deste percurso e reafirmou o museu como uma forma de comunicaoentre os elementos do tringulo - territrio, patrimnio, sociedade -, servindo de instrumentode dilogo, de interao das diferentes foras sociais, econmicas e polticas; um instrumentoque possa ser til na sua especificidade e funo ao homem indivduo e homem social,para que este possa enfrentar os desafios que vm do presente e para o futuro (Horta 1995,32-35).

    3 Para Arajo e Bruno (1995, 19), foi o conceito de museu integral que criou uma novaperspetiva de atuao, abrindo as fronteiras tradicionais, trazendo benefcios, mas tambmdespertando os muselogos para problemas como a crise de identidade institucional, quandoos museus passaram a confundir-se com outras formas de ao cultural.

    4 Alexandre Beites (2011, 19) considera o museu como um agente de gesto de informao,que deve incentivar um dilogo franco com a sua comunidade, conhecendo a sua opinio einteragindo, visando um processo de construo comum de cultura.

    A mudana de paradigma5 O museu integral confunde-se com o centro cultural, abrigando outras reas de conhecimento.

    O seu acervo deixa o espao sagrado e vai revelar-se em outros lugares anteriormente jamaispensados, como os centros comerciais, ruas, praas e praias (Lima 2001, 6). Rompe fronteiras,ganha o ttulo de espao vivo pela nova dinmica que se prope e pela prpria conceode vida que essa rotura e vivacidade que proporciona. Como frum, insere-se numa visocrtica, dialtica. E por tudo isso ficamos defronte do museu e interrogamo-nos se ele ainda museu. Olhando pela tica dos paradigmas emergentes acreditamos que estamos diante de umnovo museu, o museu do nosso tempo. Boaventura Santos (1988, 25) refere sobre os novosparadigmas:

    No paradigma emergente o conhecimento total, tem como horizonte a totalidade universal de quefala Wigner ou a totalidade indivisa de que fala Bohm. Mas sendo total, tambm local. Constitui-se em redor de temas que em dado momento so adotados por comunidades interpretativasconcretas como projetos de vida locais.

    6 O autor refere aquilo que Rachel Mason (2001) tambm sublinha - a necessidade de, nummundo global, continuar a defender o local. Boaventura Santos salienta ainda:

    A fragmentao ps-moderna no disciplinar e sim temtica. Os temas so galerias por onde osconhecimentos progridem ao encontro uns dos outros. Ao contrrio do que sucede no paradigma

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    atual, o conhecimento avana medida que o seu objeto se amplia, ampliao que, como a darvore, procede pela diferenciao e pelo alastramento das razes em busca de novas e maisvariadas interfaces (Santos 1988, 32).

    7 O autor estabelece conexes com a teoria da construo rizomtica de Deleuze e Guattari(2004). A ideia de rizoma leva-nos a interrogar as normas rgidas e os objetivos pr-fixados,propondo novas leituras. O museu sugere novas e diferenciadas relaes com a sociedade,atribuindo a si prprio, tambm, a funo de formar o ser humano para o exerccio da cidadania,atravs das mediaes entre o acervo exposto e o pblico.

    8 Coelho (1997) refere que os processos de mediao decorrem de naturezas diversas e tm afinalidade de promover a aproximao entre indivduos, coletividades e obras de cultura e arte.Para o autor

    Essa aproximao feita com o objetivo de facilitar a compreenso da obra, o seu conhecimentosensvel e intelectual, com o que se desenvolvem apreciadores ou espetadores, na busca daformao de pblicos para a cultura ou de iniciar esses indivduos e coletividades na prtica efetivade uma determinada atividade cultural (Coelho 1997, 248).

    9 O museu, tal como a sociedade, est em constante fase de transmutao tendo obrigatoriamentede acompanhar a evoluo dos novos desafios que se colocam diariamente. Novas funesso propostas. Alexandre Beites (2011) sublinha que as polticas dos museus so orientadaspara o pblico, mas o discurso museolgico permanece centrado no objeto e no no indivduo,porque no prev a interao com ele:

    Este discurso , na forma e nos contedos, pensado por uma equipa multidisciplinar, masraramente inclui, no processo de planeamento, o futuro visitante (estratgia colaborativa); omuseu visto como um local de transmisso de conhecimentos e parte-se do seu postuladocientfico, para garantir que os seus contedos sejam verdade (2011, 21).

    10 O conceito de museu aberto passa por enquadrar os museus numa comunidade, queambiciona uma condio que ainda no existe, mas que futuramente e em funo da relaode demonstraes que tm vindo a acontecer, se pode antever a sua concretizao. O museureflexivo aquele que se auto examina como forma de se construir e de ser capaz de satisfazero to aspirado compromisso de construo cultural com a comunidade.

    11 Marilyn G. Hood (1983, 51) na obra Staying Away: why people choose not to visit museums,sobre estudos de pblicos, salienta um conjunto de critrios fundamentais que o museu deveoferecer para que constitua uma atrao de diferentes pblicos como a capacidade de interaosocial, fazer algo de til, o sentimento de agradabilidade, corresponder a desafios e sentir novasexperincias, a oportunidade para aprender coisas novas, ter uma atitude ativa. Naturalmente,que um museu que contenha estas caractersticas implica deter um profundo conhecimentodas suas equipas internas e o conhecimento dos seus pblicos. S possvel desenvolver estacapacidade reflexiva e de comunicao atravs de uma poltica de avaliao e auto avaliao(Falk et al 2000; Falk et al 1992; Oliveira 2012).

    O museu aberto12 Os programas de educao mais eficazes em escolas e museus conseguiram criar associaes

    sustentveis, a longo prazo e recprocas com organismos culturais e indstrias. Estasassociaes so autnticas parcerias, em que todos os atores da parceria reconhecem ascontribuies feitas pelos outros (Bamford 2006; Oliveira 2012). Por exemplo, os programasde arte com relevncia so construdos volta da noo de incluso e uma educaorelevante em arte para todos. Isto quer dizer que todas as crianas, independentementedas suas capacidades e competncias artsticas, motivao inicial, comportamento, situaoeconmica ou outros atributos, devem ter direito a receberem educao em arte de elevadaqualidade, utilizando vrias abordagens artsticas e criativas (Robinson 1999, 27-36). Isto particularmente importante em relao a iniciativas para providenciar a educao a todos e parase procurar uma maior incluso de uma variedade de grupos marginalizados dentro de umaeducao geral. Para encontrarem uma linha de trabalho em termos de qualidade na educaoartstica, os provedores dessa educao necessitam de garantir que existem programas de artepara todas as crianas. Administrar aulas apenas aos estudantes talentosos ou interessados

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    no pode ser considerado como estando a administrar uma educao para todos (Acaso 2009;Oliveira 2012).

    13 Deve-se providenciar o mesmo acesso educao artstica de alta qualidade a crianas comnecessidades especiais e uma oportunidade de se envolverem numa aprendizagem de artecom significado em todas as esferas de esforo criativo (Bahia 2009, 140-141). importanteverificar que o potencial artstico das crianas com necessidades especiais to completocomo o das outras crianas. Consequentemente, a educao artstica deve ser tratada com omesmo rigor e ambio para todas as crianas. Os programas relevantes em arte tm tendnciapara florescer em situaes onde h margem para uma flexibilidade organizacional. Dentrode setores de educao, horrios rgidos, compartimentao da aprendizagem e estruturas deavaliao restritivas tendem a limitar a extenso e a qualidade artstica e cultural (Bahia 2009,145). Do mesmo modo, dentro das organizaes culturais, os elevados custos, a restrio emlimites fsicos de uma galeria ou instalao e a falta de flexibilidade administrativa limitamo provvel sucesso do envolvimento pleno com o setor da educao. , portanto, crucial queuma administrao que aposte na qualidade da educao envolva abordagens democrticas aoplaneamento, poltica, implementao e avaliao (Robinson 1999, 27-36).

    14 Os museus passaram tambm a reconhecer que, alm das funes de preservar, conservar,expor e pesquisar so instituies ao servio da sociedade e procuram atravs das aeseducativas tornarem-se elementos vivos dentro da dinmica cultural das cidades (Sandell2002; Souza 2002). Porm, ao invs de falarmos de incluso deveramos antes defender osentido da equidade.

    15 A incluso tem sido o grande apangio da escola portuguesa (e no s) e dos museusnas ltimas dcadas, mas vemos claramente com frequncia que h uma situao diferenterelativamente s polticas educativas e capacidade de as pr na prtica, resultando, por vezes,em profunda excluso. Como Ramos refere (in Niza 2012, 6-7) a cultura escolar arraigou-se de uma poltica da vida e da identidade pessoal em que a autonomia da escola serve, noessencial, para dar corpo a uma tica da obedincia consentida e da padronizao social. Niza(2012, 50) sublinha que se deve estabelecer uma guerra aberta iluso dos grupos homogneose exige a necessidade da recapitulao de contedos, no sentido de criar a possibilidade deproduzir, j a partir da infncia os vrios processos sociais em que se d a construo dacultura toda. Na promoo da sua diferena individual, Niza (2012, 66) refere que todos osalunos devem participar na delineao, organizao e avaliao da vida da turma e das tarefasescolares. Niza apresenta uma proposta em que aprender dispensa a funo de ensinar as liesformais iguais para todos, no sentido de se descobrir na individualizao do percurso escolare no convvio cultural a condio da melhoria das capacidades cognitivas. Ramos (2012, 8)expe que Niza questiona a escola para todos no sentido que esta, como tem sido colocadana prtica, pretende homogeneizar mais do que criar espaos crticos para a individualidadedando a possibilidade dos alunos comparticiparem nas funes de ensino e da escola, de osacompanhar em projetos de trabalho e na resoluo de problemas, criando espaos para orelevo do valor cognitivo da controvrsia conceptual atravs da linguagem, criando novasformas de tutoria entre os alunos, fundamentadas na colaborao e na reciprocidade solidria.Paralelamente, os museus que se apropriaram do escola para todos para o adaptar a museupara todos sofrem, por vezes, das mesmas dificuldades e constrangimentos.

    16 O exemplo dos museus ingleses suscita em ns um profundo interesse pelo esforo que setem observado nos ltimos anos relativamente ao sentido de museu aberto. Esto a vivenciaro que muitos pensam ser a sua maior mudana em cento e cinquenta anos, tendo ultrapassadoa vocao tradicional da interpretao das colees. O Centro de Museus e Galerias realizouem 2002 uma avaliao nacional para o Departamento de Educao do Museu e Galeria deEducao da Fase 1 do Programa. Cartwright Hall em Bradford e o Castel Museum em York. Aavaliao d-nos algumas evidncias do impacto desse projeto. As crianas nas escolas forammotivadas pela sua interao com os objetos e cobriram as paredes da sua sala de aula comdesenhos, fotografias, poemas e pensamentos. A experincia deu-lhes a inspirao para seremcriativos. Os professores referiram que lentamente o projeto ajudou as crianas a construirnovos significados, a melhorar o vocabulrio, ou seja, as crianas desenvolveram aptides na

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    lngua e audio, observao e investigao, pois o acesso ao museu foi promovido de formasignificativa (Dodd 2002, 90-92).

    17 Nos museus na Gr-Bretanha, a nfase est a afastar-se do que era o nico interesse em relaoao paradigma da exposio, que conta histrias sobre os objetos. Os curadores dos museus, osgestores e os diretores esforam-se para satisfazer os requisitos dos novos e mltiplos pblicos,na continuidade daquilo que em 1975, o muselogo checo Jan Jelinek preconizava:

    A backward glance at museum development shows that museums only fully develop their potentialfor action when they are actually involved in the major problems of contemporary society.Museums are institutions intended to serve society and only thus can they continue to exist andfunction (1975, 52-60).

    18 A maior influncia na alterao das condies materiais dos museus ingleses nos ltimosvinte anos tem sido a Lotaria Nacional. Since 1995 the Heritage Lottery Fund (HLF) hasinvested 1.4bn in museums and galleries (Tait 2008, 2). O apoio do financiamento da lotariateve efeitos de arrastamento. O impacto local incentivou outros financiadores, autoridadeslocais, fundaes beneficentes, dadores privados, empresrios e governo com exceo doDepartamento de Cultura, Imprensa e Desporto (DCMS), para contribuir e responder credibilidade dos planos de negcios, insistncia cada vez maior da HLF (Tait 2008, 2).

    19 Nos ltimos anos da dcada de 1990, os museus ingleses comearam a ter preocupaessociais. O Museu da Cincia em Londres analisou questes como a SIDA e os efeitos defumar no trio do museu. Foram preparadas exposies temporrias que davam respostaaos problemas sociais. A Casa Museu de Carlisle tambm acrescentou ao seu programaanual esta preocupao social (Tait 2008, 2-3). Esta posio dos museus faz-nos pensar seestamos agora na idade do "ps-museu", expresso j utilizada por vrios investigadores,nomeadamente Eilean Hooper-Greenhill (2007) e Marstine (2005). Estaro agora os museusa afirmar-se como uma fora potente em termos sociais e de revitalizao urbana? No artigosobre Conhecimento e Inspirao Democrtica escrito para a Archives, Museums andLibraries (Museums, Libraries and Archives Council), em 2006, John Holden e SamuelJones de Demos referem: Because of the knowledge they hold and the inspiration they offer,museums, libraries and archives are essential to our social and economy survive (cit. porTait 2008, 3). Os objetos que recolhem tm a capacidade de oferecer novas interpretaes domundo.

    20 Uma outra questo que os museus esto cada vez mais a explorar a migrao (saliente-se osexemplos dos museus ingleses e americanos). No relatrio de 2006 da Campanha de Learningsupervisionado pelo Home Office, Chris Wood e Hannah Gould, em Inglaterra, refere-se queexistem muitas organizaes que trabalham com os migrantes. Estas pessoas revelam umaimensa diversidade cultural, espiritual, social, moral e problemas na incluso na sociedadebritnica. Estas organizaes acabam por no ter capacidade de atender a esta diversidadepor terem de dar prioridade chegada de novas pessoas com pedidos de asilo, refgio e deimigrao. Hooper Greenhill considera que os museus podem ser uma soluo para estasquestes (2007, 3-4).

    21 Na Dinamarca, iniciativas como "Curador por um dia no Trapholt, Museu de Arte Modernae Design em Kolding (Grn, 2005), "O Laboratrio de Esttica" no Art Esbjerg Museum eno Arken, Museu de Arte Moderna, perto de Copenhagen, Dinamarca (Illeris 2008, 7-10) tmcontribudo de forma importante para o desenvolvimento de novas e diferentes formas deperceber o encontro educativo entre pblicos, obras de arte, exposies, museus, educadorese, em alguns casos, os artistas. Tornou-se importante para a relao entre os museus de arte eos seus pblicos que os visitantes tenham experincias de contacto com as obras em exposio(Illeris 2008, 7-10). A fase experimental deste ambiente educacional est relacionada comuma importante tendncia que se observa nos museus do Ocidente no sentido de se iniciaremmudanas radicais inserindo prticas mais inclusivas, com base em entendimentos dinmicose complexos das relaes entre aprendizagem e mudana social (Sandell 2002, 186-190).Mesmo que estes processos paream ter comeado um pouco mais tarde nos museus de artedo que em outros tipos de museus, (Hooper-Greenhill 2007: 4) na Dinamarca, bem como emoutros pases escandinavos, muitos museus j comearam a fazer um esforo considervel com

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    iniciativas experimentais dirigidas a grupos sociais que no os pblicos tradicionais (Illeris2008, 7-10).

    22 No caso espanhol destacamos o Programa de Aproximacin Arte Contempornea do CentroGalego de Arte Contempornea que d nfase aos benefcios que as crianas tm quandovisitam centros de arte (museus, exposies, galerias de arte). Trata-se de permitir s crianasde falarem acerca do que veem, com algum que proporciona a informao e que sirva apenasde moderador da discusso. So as crianas que geram as suas interpretaes, que discutemformando assim a sua opinio, fundada no que veem e no no que se lhes conta, assim,ao mesmo tempo que aprendem respeitam o ponto de vista das outras pessoas. Os alunosexpressam-se com total liberdade, vo apreendendo uma linguagem prpria e aprendem avalorizar outras vises e opinies (Oliveira 2012, 287).

    23 No exemplo norte-americano distinguimos o Museu de Arte de Seattle que comeou por criaruma relao com as escolas em 1996, determinados em demonstrar como o museu e as artesvisuais poderiam proporcionar algo importante na vida dos estudantes. A educao artsticanas escolas desta zona era quase inexistente, sem linhas gerais de atuao para as vriasescolas, dependendo muitas vezes da boa vontade e iniciativa de um professor. Ao criaremum programa sustentado e organizado de forma sistemtica que servisse professores e alunos,a equipa do museu permitiu que este se tornasse o mais acessvel a todos e com recursos apoderem ser utilizados na sala de aula.

    24 Motivao, desenvolvimento de competncias, aspiraes crescentes e uma maioracessibilidade so fundamentais para enfrentar o impacto de longo prazo da excluso. Aeducao e as aes sociais, juntamente com o acesso informao e tomada de decises,so os passos essenciais iniciais para diluir as barreiras no mbito fsico, intelectual, emocionale at tecnolgico. A remoo dessas barreiras complexa, envolvendo uma abordagemholstica do museu. A divulgao do trabalho apenas uma das componentes de umaaproximao do museu escola, um dos muitos blocos de construo necessrios para que asdiversas comunidades comeassem a compartilhar a cultura, propriedade das colees ricas einspiradoras de museus (Oliveira 2012, 341).

    25 Cuidadosamente planeadas e estruturadas, as sesses interativas de educao esto entre asformas mais poderosas e eficazes de atender s necessidades especficas do pblico notradicional, de criar caminhos para a incluso. As atividades interativas so fundamentais parapermitir aos visitantes um olhar interrogador, sem pressupostos de conhecimento prvio. Asconversas so estimuladas ao redor das exposies. O museu tambm atua como um espelho,onde as pessoas se podem ver, fazendo conexes entre as suas prprias vidas e as experincias.

    26 Para o trabalho de incluso social ser eficaz, o museu tem de ter como ponto de partidaum foco nas necessidades daqueles que so excludos. Se tomarmos o modelo construtivistade aprendizagem de George Hein e Mary Alexander (1998), a aprendizagem vista comoa construo de um sentido, de um significado baseado na experincia de cada um. Ossignificados que construmos dependem, portanto, das nossas experincias passadas. Aprender uma prtica ativa, social e contextual, e a motivao essencial para a aprendizagem.Subjacente a tudo isto, esto as noes da democratizao social, igualdade e competncias.A interatividade tem que ser um elemento essencial bem como a parte crtica do processo.Mas considerar a interatividade como uma soluo rpida para a criao de um museuseria subestimar a complexidade da agenda da incluso. Acima de tudo, o ConstrucionismoSocial afirma a realidade como criao social. Assim, crenas e realidades mltiplas podemser igualmente vlidas, visto definirem diversas culturas, tempos histricos, experincias devida. Os museus so, igualmente, criaes sociais e as suas definies e prticas tm sidofavorecidas por certos grupos em momentos especficos, que comungam e influenciam, nasua disseminao, diferentes conceitos do mundo. Em cada uma das diferentes noes demuseu existe sempre uma comunidade de profissionais que reclamam a verdade, sejameles colecionadores ou peritos, diretores ou curadores, educadores, visitantes e avaliadores ougestores e profissionais de marketing (Hein e Alexander 1998, 40).

    27 O Construcionismo social d importncia colaborao, reflexo e multiplicidade. Sendo osignificado tomado como relacional, o significado do museu no se limita aos seus objetos ou

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    colees, exposies e programas educacionais, publicaes ou rea comercial. Pelo contrrio,todos eles produzem significado e, nesse sentido, os visitantes so potenciais catalisadores deconstruo de significado. Atravs da organizao de exposies e programas baseados emproblemticas, fornecendo mltiplos caminhos que explorem temas como gnero, classe, sexo,expondo questes de conflito e negociao e confrontando-as a partir de outros pontos de vista um caminho possvel nessa construo do museu plurivocal (Oliveira 2012, 408-411). Osprofissionais dos servios educativos so facilitadores do conhecimento e da interpretao dodiscurso do museu, promovendo o dilogo com os diversos pblicos, criando a possibilidadede diferentes reflexes (a sua e a dos pblicos).

    28 A nvel local, o sentido de ns pode identificar no s uma comunidade, como um museu.Os museus podem ser um foco para a regenerao ps-industrial, por exemplo, mas reabilitaros ambientes urbanos pode variar muito. Por vezes, depende da natureza das comunidades edos investimentos que as autoridades locais esto dispostas a fazer nos museus de uma cidade(Tait 2008, 12).

    29 Muitos museus esto empenhados em reavaliar as suas colees e as suas histrias comconotaes contemporneas. A Internet e as tecnologias associadas obrigam a uma evoluomais rpida, submetendo o museu a avanar muito mais rapidamente do que poderia serh cinco anos atrs. As transformaes na sociedade esto a ocorrer em grande velocidadee podem exigir uma resposta rpida dos museus, como tal, a aposta na formao torna-senum desafio. Um novo grupo de pessoas no museu como um urbanista, um professor e umconsultor vm auxiliar a compreenso da essncia do objeto e a interpretao da curadoria. Aomesmo tempo, o setor continua a ter de valorizar muitos curadores tradicionais, que no estofamiliarizados com as novas tecnologias, nem com as novas exigncias sociais. No entanto,os curadores mais tradicionais necessitam de ser incentivados a criarem novos processos decomunicao (Tait 2008, 14).

    30 Os bloqueios institucionais podem tambm ser um grande obstculo. Muitos museus,particularmente os nacionais, so estruturas organizacionais complexas, de longa data e muitascom estruturas departamentais dentro delas (Tait 2008, 14). A sua complexidade muitasvezes dificulta a necessidade de assumir novas ideias, mtodos e interpretaes. Porm, asnovas tendncias incentivam a motivao em olhar para a sua comunidade local como umainspirao.

    Parcerias entre escolas e os museus31 O estudo realizado pela UNESCO em 2004, em colaborao com o Conselho para as Artes da

    Austrlia e a Federao Internacional dos Conselhos para as Artes e Organismos da Cultura,uma investigao para se determinar o impacto dos programas de arte na educao dascrianas e dos jovens em todo o mundo, prova claramente que o processo de democratizaodo gesto de criar faz-se de formas muito diversas ou simplesmente no se faz. Apesar dosresultados do estudo indicarem que a arte tem um tributo valioso para a educao integral dascrianas, especialmente no que se refere ao seu desempenho acadmico, bem-estar, atitudesem relao escola e as percees da aprendizagem, mas o carter da educao artstica variaconsideravelmente de pas para pas. Alm disso, embora a maior parte dos pases reconheao valor da educao artstica e cultural, existe uma diferena entre as polticas e a prtica(Bamford 2006; Oliveira 2012).

    32 Alguns dos pases estudados na investigao da UNESCO, tais como Cuba, Canad, PasesBaixos e Nova Zelndia apresentaram taxas elevadas, tanto na participao como na relevnciadada Educao Artstica. Nestes pases, os programas so disponibilizados a todos, tmrelevo para os vrios grupos sociais e em geral tm grande qualidade. Por outro lado, na Blgicae no Reino Unido, os programas esto geralmente acessveis, a baixos custos, maior parte daspessoas, mas apesar disso, as formas de arte experimentadas tendem a atrair uma audincia deelite e nem sempre tm relevncia nos diferentes grupos sociais e econmicos. Por exemplo,na Austrlia e nos EUA, a educao artstica de uma qualidade relevante, mas muitas vezeso acesso a estes programas est limitado a pessoas de um certo estatuto social (Bamford 2006,

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    43-45). Como referimos anteriormente, a democratizao da produo criativa por vezesinexistente.

    33 Existe uma outra situao, tanto de baixa relevncia, como de pouca participao. Nessespases, a Educao Artstica e Cultural insuficientemente apoiada e inacessvel. Estainacessibilidade pode ser provocada por vrias razes, como altos custos, falta de contedocultural, isolamento geogrfico, excluso e/ou baixa qualidade. A educao artstica e aeducao cultural ideal deveriam encorajar elevados nveis de participao e oferecer umprograma que fosse por si s de alta qualidade com elevadas taxas de relevncia.

    34 Em todos os pases da Unio Europeia, com exceo dos Pases Baixos, as decises relativas criao dos currculos artsticos e culturais so tomadas unicamente, ou em parte, pelasautoridades educativas centrais. Nos Pases Baixos, cabe exclusivamente s escolas e/ous autoridades organizadoras conceber esses currculos (Educao Artstica 2009, 27-30).Na Blgica (Comunidades francesa e flamenga), Dinamarca, Irlanda, Malta, Pases Baixos,ustria e Noruega, foram criadas organizaes para desenvolver a educao artstica e culturalatravs de iniciativas especficas. Na Dinamarca, o Ministrio da Cultura criou uma agnciachamada Rede para as Crianas e para a Cultura com o objetivo de coordenar atividadesno domnio das crianas, cultura e artes e atuando como conselho consultivo do Ministrioda Cultura. Esta rede incentiva as instituies culturais a unirem esforos na conceo denumerosos projetos culturais e ajuda a desenvolver novos mtodos (Educao Artstica 2009,27-30). Dado a diversidade das organizaes envolvidas, o que se torna claro que, para seser capaz de promover programas de educao artstica nas escolas, necessrio o apoio devrias instituies, como, por exemplo, os museus.

    35 Em Inglaterra, desde 2003, o Departamento de Cultura, Media e Desporto (DCMS) e oDepartamento de Educao e Skills ingls (DFES), passaram para o Departamento de Crianas,Escolas e Famlias (DCSF). Em conjunto, patrocinou uma parceria entre museus regionaise nacionais na Inglaterra, que se destinou a aumentar e a aprofundar as relaes entre osmuseus e as escolas para reforar relaes entre os museus e as comunidades. Uma avaliaodo programa foi realizada durante 2006 e 2007. Doze museus nacionais e mais de 50 museusregionais parceiros participaram nesta fase do programa DCMS/DCSF. Desenvolveram-sedezassete projetos em toda a Inglaterra, com diferentes finalidades, mbito, dimenso, durao,nmero de parceiros e participantes e alcance geogrfico. Um certo nmero de museusregionais foi parceiro em mais de um projeto. Durante os anos de 2006-07, os museustrabalharam com 1.577 escolas e um total de 71.297 alunos. Um total de 450.357 pessoasassistiu a eventos e a exposies relacionados com os projetos (Hooper Greenhill 2007, 7-8).

    36 Nas parcerias entre o setor da educao e do museu foram observados um aumento de contactosentre estes, especialmente os que envolveram um maior nmero das sesses, ao longo de umperodo de tempo. Houve um aumento da participao do nmero de escolas secundrias e osmuseus tiveram um papel vlido no desenvolvimento do currculo escolar. Foi realizada umaapreciao positiva por parte dos professores sobre a aprendizagem e os mtodos utilizadosnos museus; estes revelaram o valor positivo dos museus para a sua prpria aprendizagem edesenvolvimento profissional; a grande maioria dos professores (96%) ficaram satisfeitos oumuito satisfeitos com a sua experincia museolgica (Hooper Greenhill 2007, 22-26).

    37 A grande maioria dos alunos (mais de 90%) usufruiu das visitas ao museu; os rapazesmais velhos mostraram mais entusiasmo; os professores continuam a valorizar a qualidadeinspiradora do trabalho do museu porque permite que os seus alunos compreendam melhor osobjetos; 99% dos professores pensam que os alunos beneficiaram da experincia museolgica;97% dos professores pensam que os alunos so suscetveis de serem inspirados para sabermais; 94% dos professores pensam que os alunos tero adquirido conhecimento relacionadocom factos; 82% dos professores consideraram que a experincia no museu suscetvel deinfluenciar a classe docente; 94% dos professores pensam que os alunos so suscetveis dedesenvolverem competncias de pensar/refletir e 89% dos professores consideram que osalunos desenvolvem capacidades comunicativas (Hooper Greenhill 2007, 31-37).

    38 O trabalho comunitrio relativamente novo, em muitos dos museus que participaramneste estudo. Alguns museus estavam a usar novas formas de envolvimento com as

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    comunidades, mas alguns no conseguiram compreender o que era necessrio para aumentaressa participao. Porm, a maioria dos lderes dos grupos estava satisfeita com as suasexperincias. Todos os resultados da aprendizagem foram considerados muito positivos. Nemtodos os museus pareciam prontos para o trabalho, necessitando de mudanas culturais internaspara inserir a aprendizagem baseada no conceito de museu da cultura na comunidade (Tait2008, 15).

    39 Das provas fornecidas pelos professores, alunos, comunidade de trabalhadores e participantesenvolvidos no estudo, verificou-se que, nesta abordagem, a aprendizagem muito valorizadapelos participantes, que as consideram agradveis, experimentando muitas vezes um sentido derealizao nas suas experincias. H uma melhoria dos resultados nos jovens desfavorecidospermitindo-lhes produzir tal como os seus pares. Um outro foco das atividades zelou tambmpor jovens com necessidades educativas especiais, reduzindo o nmero de pessoas sem apoiona educao, emprego ou formao. Quando os museus estavam a trabalhar com as pessoasmais vulnerveis, especialmente jovens, tiveram a prova do poder das experincias que osmuseus podem motivar e inspirar para a aprendizagem. Aos jovens com uma vida catica, porvezes uma instabilidade transitria, foi dado espao para refletir e pensar no seu prprio autodesenvolvimento. A longo prazo, foram criadas as oportunidades para a estabilidade.

    40 Para muitos dos professores, no presente estudo, a visita ao museu foi sentida como umcatalisador para a aprendizagem, porque foi memorvel e inspiradora. As visitas foramintegradas no currculo, os alunos foram capazes de aproveitar as suas experincias comas colees do museu, muitas vezes desconhecidas, para os seus trabalhos escolares,proporcionando ambientes de verdadeira matria-prima para a imaginao, como, porexemplo, em escrita criativa. No entanto, h mais trabalho a ser feito, nomeadamentecomunicar o valor dos museus aos professores, especialmente aos professores do ensinosecundrio, para o currculo e para a forma como a aprendizagem oferecida pelos museus podefacilitar uma mais ampla abordagem aprendizagem adotada pelo reformas do currculo (Tait2008, 15).

    41 Muitos dos projetos que participaram no estudo vieram promover ativamente odesenvolvimento profissional dos professores. 78% dos professores envolvidos neste estudoconsideraram que o museu tinha ajudado no seu desenvolvimento profissional e que aexperincia museolgica tinha auxiliado a aumentar os seus conhecimentos e a compreenso,aumentando a sua confiana em relao aos temas, atravs desses materiais, tendo sidoexpostos a novos mtodos de ensino, novas ideias que poderiam ser levadas para a salade aula e a novas competncias que poderiam utilizar no ensino (Hooper Greenhill 2007,31-37). Um pequeno nmero de professores entendeu que a experincia museolgica osajudou a ver os seus alunos de forma diferente, tornando-os mais conscientes da importnciado desenvolvimento do aluno como indivduo. Estes resultados so positivos em funo damudana do currculo, sugerindo que os professores esto a encontrar no museu uma valiosafonte de aprendizagem e inspirao, no s para os seus prprios alunos, mas tambm para siprprios (Hooper Greenhill 2007, 31-37).

    Concluso42 A anlise de Bamford (2007) foi fundamental para refletirmos sobre a importncia dos

    programas de elevada qualidade que disponibilizam uma diversidade de experincias deaprendizagem variada e atrativa com o objetivo de encorajar a criana a revelar as suas ideias.Sabe-se que todas as crianas possuem um potencial para a expresso artstica e, portanto, anfase posta na produo e no desempenho. Os programas de qualidade fazem conexesartsticas com o ambiente local. Essa ligao aumenta a relevncia do projeto. Atravs dautilizao de artistas locais e de obras de arte, de museus locais e outras instituies culturais,os professores esperam que as crianas faam as suas ligaes pessoais com a arte. Outrosprogramas associados podem exercer uma forte influncia nas mudanas sociais e podem serutilizados para incrementarem a autoestima das crianas e tratarem de questes de justia e deigualdade social dentro da comunidade.

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    43 Analogamente, consideramos que o testemunho de Siza (2012) revelador da extensssimanecessidade de analisarmos verdadeiramente o conceito de incluso e de equidade, da formacomo a escola tem vinculado os princpios de uniformidade, homogeneizao e normalizaodos comportamentos, que na prtica se revelam atravs de um modelo organizacionalprofundamente seletivo e discriminatrio e que esse modelo por vezes repetido pelasinstituies culturais como os museus. Tal como Niza, defendemos uma cultura por via dadiferena que permita um lugar para a individualidade. Quando chegarmos a esse momento deensinamento e de crescimento como seres humanos e profissionais, deixaremos de continuarincessantemente a defender o estandarte da incluso, porque esta ser uma prtica jincorporada.

    44 Relativamente ao exemplo dos museus, a avaliao mostra como a investigao nestasinstituies pode contribuir para um eficaz nmero de alteraes na coeso comunitria ena incluso social, na reviso do currculo, na implementao de Excelncia e Prazer nasescolas, no desenvolvimento profissional de professores, no desenvolvimento das escolas edo currculo (Hooper Greenhill 2007, 44). Houve evidncias no estudo ingls mencionadoque os museus no esto apenas a tentar resolver os problemas bsicos, fsicos e materiaisdas barreiras culturais, mas podem, muitas vezes, responder s complexas necessidades desub-representao de certos pblicos. Naturalmente, o caso ingls conta com o apoio LotariaNacional, tendo surtido uma grande influncia na alterao das condies materiais dosmuseus ingleses nos ltimos vinte anos. Houve um desejo genuno entre os museus envolvidospara analisar questes de incluso social atravs do desenvolvimento de estratgias paratrabalhar com pessoas e grupos vulnerveis, em risco de excluso social, para chegar a novospblicos ou fazer a diferena na vida das pessoas, atravs de metodologias como melhorara sua aprendizagem, desenvolver capacidades ou facilitar a sua participao numa sociedademais ampla. Os projetos dos museus foram avaliados pelos participantes e trabalhadores doensino/museu com o objetivo de desenvolver competncias sociais, de comunicao e paradesenvolver a confiana, por exemplo, no uso de espaos pblicos e facilitar a integrao nacomunidade (Hooper-Greenhill 2007, 44).

    45 Fazer bem em educao entendido como o mais eficaz meio de combate pobreza edesinteresse. Coloca-se a tnica na necessidade de assegurar que todos os jovens estoativos, capazes de atingir o seu pleno potencial, independentemente da sua origem oucircunstncias. O estudo ingls e os outros exemplos internacionais mencionados refora o queos estudos anteriores ilustraram que os museus so capazes de contribuir para este objetivo. Osmuseus fornecem uma elevada qualidade nas abordagens da aprendizagem focalizada. Muitasdelas implicam uma cuidadosa investigao sobre as abordagens e atividades para servir osinteresses e objetivos dos alunos e das comunidades participantes. A aprendizagem facilitadapela dinmica e nas formas imaginativas.

    46 Os museus esto bem posicionados para apoiar o aumento da nfase nas polticas educacionais,para responder s necessidades individuais dos alunos e desenvolver um currculo que motivee envolva todos os alunos, incentive a sua curiosidade e o prazer em aprender e que os ajudea ter xito (Hooper-Greenhill 2007).

    47 Para as escolas inglesas, a influncia do conceito de Excelncia e Prazer encorajou o progressodo projeto e permitiu desenvolver um currculo rico e emocionante, que ensina de forma eficaze faz uso da criao de fortes relaes entre os indivduos, para que o conhecimento dos alunose as suas competncias possam ser utilizados em todo o processo de aprendizagem.

    48 O museu de comunicao ou museu aberto aquele que espelha uma constante auto anlise,a partir do seu prprio ncleo interior, num processo de construo permanente, mas que temigualmente a capacidade de se relacionar com outras instituies e de reavaliar o seu processo,em debate com a comunidade. A experincia inglesa relatada demonstra este desafio perante arelao com diferentes comunidades mostrando uma nova dinmica museolgica, mas tambmuma participao ativa dos pblicos, tendo revelado ser positiva pelas diferentes aprendizagense resultados obtidos.

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    Notas

    1 Mesa-Redonda de Santiago do Chile, ICOM, 1972. Os Princpios de Base do Museu Integralconsideraram que a tomada de conscincia pelos museus, da situao atual, e das diferentes soluesque se podem vislumbrar para melhor-la, uma condio essencial para sua integrao na vida dasociedade. Desta maneira, consideraram que os museus podem e devem desempenhar um papel decisivona educao da comunidade (Primo 1999, 95- 104).

    Para citar este artigo

    Referncia eletrnica

    Genoveva Oliveira, O museu como um instrumento de reflexo social, MIDAS [Online],2|2013, posto online no dia 01 Abril 2013, consultado no dia 16 Fevereiro 2015. URL: http://midas.revues.org/222; DOI: 10.4000/midas.222

    Autor

    Genoveva OliveiraLicenciada em Histria e Cincias Sociais, mestre em Histria Regional e Local (Histria deArte/Museologia), Doutoramento em Histria de Arte/Museologia, investigadora do Centro deInvestigao de Histria de Arte e Investigao Artstica (CHAIA) da Universidade de vora,colaborando nas reas de investigao da museologia e educao artstica. Tem experincia do ensinosecundrio e universitrio, formao em educao artstica e museologia, participa em diversosprojetos de investigao, tendo apresentado j diversos artigos cientficos e diversas comunicaes emPortugal e no estrangeiro. [email protected]

    Direitos de autor

    Revistas MIDAS

    Resumos

    Cada vez mais, o museu reafirma-se na contemporaneidade como um museu aberto, decomunicao que atende funo do homem como indivduo e do homem como um sersocial. Os museus revelam o desejo de procurar novos pblicos ou procuram realizar adiferena na vida das pessoas. O progresso dos ltimos anos tornou possvel conhecer ascaractersticas de diferentes pblicos, o que pode facilitar a aprendizagem e o conhecimento deuma variedade de competncias cognitivas, como o pensamento divergente, a anlise crtica,uma melhor compreenso do passado, a complexidade do mundo e as questes ambientais.Atravs de diferentes exemplos de projetos em museus, pretendemos neste artigo refletir sobrea problemtica social da mediao nos museus.

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    The museum as a social reflection toolIncreasingly, the museum re-asserts itself as an open, communicative museum which servesman as an individual and man as a social being. Museums show a desire to reach out to newaudiences, or to make a difference in peoples lives. Learning in museums is a by-productof the free interaction of leisure-oriented visitors with exhibitions and their surroundings.Progress in recent years has made it possible to design features in public environments whichcan facilitate the voluntary learning of a variety of cognitive skills, such as divergent thinking,critical analysis, better understanding of the past, the complexity of the natural world andcritical environmental issues. Through different examples of museum projects, we intend, inthis article, to reflect on the issue of social mediation in museums.

    Entradas no ndice

    Keywords :mediation, equity, evaluation, museums and educationPalavras-chave :mediao, equidade, avaliao, museus e educao