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    O NATIVO RELATIVO

     Eduardo Viveiros de Castro

     O ser humano, tal como o imaginamos, não existe.

    Nelson Rodrigues

     Resumo

    Este artigo tenta extrair as implicações teóricas do fato de que a antropologia nãoapenas estuda relações, mas que o conhecimento assim produzido ele próprio umarelação! "ropõe#se, assim, uma imagem da atividade antropológica como fundada nopressuposto de que os procedimentos caracter$sticos da disciplina são conceitualmentede mesma ordem que os procedimentos investigados! Entre tais implicações, est% arecusa da noção corrente de que cada cultura ou sociedade encarna uma solução

    espec$fica de um pro&lema genrico, preenchendo uma forma universal 'o conceitoantropológico( com um conte)do particular 'as concepções nativas(! *o contr%rio, aimagem aqui proposta sugere que os pro&lemas eles mesmos são radicalmentediversos, e que o antropólogo não sa&e de antemão quais são eles!Palavras-chave Conhecimento *ntropológico, +maginação Conceitual, Cultura,Relação, "erspectivismo

    *s p%ginas a seguir foram adaptadas do arrazoado introdutório a um livro empreparação, onde desenvolvo an%lises etnogr%ficas anteriormente es&oçadas! *principal delas foi um artigo pu&licado em Mana, -s "ronomes Cosmológicos e o"erspectivismo *mer$ndio 'Viveiros de Castro .//0(, cu1os pressupostos metateóricos,digamos assim, são agora explicitados! Em&ora o presente texto possa ser lido semnenhuma familiaridade prvia com o artigo de .//0, o leitor deve ter em mente que asrefer2ncias a noções como 3perspectiva3 e 3ponto de vista3, &em como 4 idia de um3pensamento ind$gena3, remetem 4quele tra&alho!

     *s regras do 1ogo

    - 3antropólogo3 algum que discorre so&re o discurso de um 3nativo3! - nativo nãoprecisa ser especialmente selvagem, ou tradicionalista, tampouco natural do lugaronde o antropólogo o encontra5 o antropólogo não carece ser excessivamentecivilizado, ou modernista, sequer estrangeiro ao povo so&re o qual discorre! -sdiscursos, o do antropólogo e so&retudo o do nativo, não são forçosamente textos6 sãoquaisquer pr%ticas de sentido.! - essencial que o discurso do antropólogo 'o3o&servador3( esta&eleça uma certa relação com o discurso do nativo 'o 3o&servado3(!Essa relação uma relação de sentido, ou, como se diz quando o primeiro discursopretende 4 Ci2ncia, uma relação de conhecimento! 7as o conhecimento antropológico imediatamente uma relação social, pois o efeito das relações que constituemreciprocamente o su1eito que conhece e o su1eito que ele conhece, e a causa de umatransformação 'toda relação uma transformação( na constituição relacional deam&os8!

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    Essa 'meta(relação não de identidade6 o antropólogo sempre diz, e portanto faz,outra coisa que o nativo, mesmo que pretenda não fazer mais que redizer3textualmente3 o discurso deste, ou que tente dialogar    noção duvidosa    com ele!9al diferença o efeito de conhecimento do discurso do antropólogo, a relação entre osentido de seu discurso e o sentido do discurso do nativo:!

    * alteridade discursiva se apóia, est% claro, em um pressuposto de semelhança! -antropólogo e o nativo são entidades de mesma espcie e condição6 são am&oshumanos, e estão am&os instalados em suas culturas respectivas, que podem,eventualmente, ser a mesma! 7as aqui que o 1ogo começa a ficar interessante, oumelhor, estranho! *inda quando antropólogo e nativo compartilham a mesma cultura, arelação de sentido entre os dois discursos diferencia tal comunidade6 a relação doantropólogo com sua cultura e a do nativo com a dele não exatamente a mesma! -que faz do nativo um nativo a pressuposição, por parte do antropólogo, de que arelação do primeiro com sua cultura natural, isto , intr$nseca e espont;nea, e, seposs$vel, não reflexiva5 melhor ainda se for inconsciente! - nativo exprime sua culturaem seu discurso5 o antropólogo tam&m, mas, se ele pretende ser outra coisa que umnativo, deve poder exprimir sua cultura culturalmente, isto , reflexiva, condicional econscientemente! e fato, como diria ?eertz, somos todos nativos5 mas dedireito, uns sempre são mais nativos que outros!

    Este artigo propõe as perguntas seguintes! - que acontece se recusarmos ao discursodo antropólogo sua vantagem estratgica so&re o discurso do nativo@ - que se passaquando o discurso do nativo funciona, dentro do discurso do antropólogo, de modo aproduzir reciprocamente um efeito de conhecimento so&re esse discurso@ Auando aforma intr$nseca 4 matria do primeiro modifica a matria impl$cita na forma dosegundo@ 9radutor, traidor, diz#se5 mas o que acontece se o tradutor decidir trair sua

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    própria l$ngua@ - que sucede se, insatisfeitos com a mera igualdade passiva, ou defato, entre os su1eitos desses discursos, reivindicarmos uma igualdade ativa, ou dedireito, entre os discursos eles mesmos@

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    conceitos extr$nsecos ao o&1eto6 sa&emos de antemão o que são as relações sociais, oua cognição, o parentesco, a religião, a pol$tica etc!, e vamos ver como tais entidades serealizam neste ou naquele contexto etnogr%fico    como elas se realizam, claro, pelascostas dos interessados! >e outro 'e este o 1ogo aqui proposto(, est% uma idia doconhecimento antropológico como envolvendo a pressuposição fundamental de que osprocedimentos que caracterizam a investigação são conceitualmente da mesma ordem

    que os procedimentos investigadosK

    ! 9al equival2ncia no plano dos procedimentos,su&linhe#se, supõe e produz uma não-equival2ncia radical de tudo o mais! "ois, se aprimeira concepção de antropologia imagina cada cultura ou sociedade comoencarnando uma solução espec$fica de um pro&lema genrico    ou como preenchendouma forma universal 'o conceito antropológico( com um conte)do particular   , asegunda, ao contr%rio, suspeita que os pro&lemas eles mesmos são radicalmentediversos5 so&retudo, ela parte do princ$pio de que o antropólogo não sa&e de antemãoquais são eles! - que a antropologia, nesse caso, põe em relação são pro&lemasdiferentes, não um pro&lema )nico '3natural3( e suas diferentes soluções '3culturais3(! *arte da antropologia '?ell .///(, penso eu, a arte de determinar os pro&lemaspostos por cada cultura, não a de achar soluções para os pro&lemas postos pela nossa!E exatamente por isso que o postulado da continuidade dos procedimentos umimperativo epistemológicoD!

    >os procedimentos, repito, não dos que os levam a ca&o! "ois tampouco se trata decondenar o 1ogo cl%ssico por produzir resultados su&1etivamente falseados, ao nãoreconhecer ao nativo sua condição de eleuze ao Vendredi d e 7ichel 9ournier/!endo o livro de 9ournier como a descrição ficcional de uma experi2ncia metaf$sica    oque um mundo sem outrem@   , >eleuze procede a uma indução dos efeitos da

    presença desse outrem a partir dos efeitos causados por sua aus2ncia! -utremaparece, assim, como a condição do campo perceptivo6 o mundo fora do alcance dapercepção atual tem sua possi&ilidade de exist2ncia garantida pela presença virtual deum outrem por quem ele perce&ido5 o invis$vel para mim su&siste como real por suavisi&ilidade para outrem.M! * aus2ncia de outrem acarreta a desaparição da categoriado poss$vel5 caindo esta, desmorona o mundo, que se v2 reduzido 4 pura superf$cie doimediato, e o su1eito se dissolve, passando a coincidir com as coisas#em#si 'ao mesmotempo em que estas se desdo&ram em duplos fantasm%ticos(! -utrem, porm, não ninguém, nem su1eito nem o&1eto, mas uma estrutura ou relação, a relação a&soluta

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    que determina a ocupação das posições relativas de su1eito e de o&1eto porpersonagens concretos, &em como sua altern;ncia6 outrem designa a mim para ooutro Eu e o outro eu para mim! -utrem não um elemento do campo perceptivo5 oprinc$pio que o constitui, a ele e a seus conte)dos! -utrem não , portanto, um pontode vista particular, relativo ao su1eito 'o 3ponto de vista do outro3 em relação ao meuponto de vista ou vice#versa(, mas a possi&ilidade de que ha1a ponto de vista    ou

    se1a, o conceito de ponto de vista! Ele o ponto de vista que permite que o Eu e o-utro acedam a um ponto de vista..!

    >eleuze prolonga aqui criticamente a famosa an%lise de

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    Evoquei a distinção criticista entre o !uid facti  e o !uid juris! Ela me pareceu )tilporque o primeiro pro&lema a resolver consiste nessa avaliação da pretensão aoconhecimento impl$cita no discurso do antropólogo! 9al pro&lema não cognitivo, ouse1a, psicológico5 não concerne 4 possi&ilidade emp$rica do conhecimento de uma outracultura.:! Ele epistemológico, isto , pol$tico! Ele diz respeito 4 questão propriamentetranscendental da legitimidade atri&u$da aos discursos que entram em relação de

    conhecimento, e, em particular, 4s relações de ordem que se decide estatuir entreesses discursos, que certamente não são inatas, como tampouco o são seus pólos deenunciação! Iingum nasce antropólogo, e menos ainda, por curioso que pareça,nativo!

     Io limite

    Ios )ltimos tempos, os antropólogos temos mostrado grande inquietação a respeito daidentidade e destino de nossa disciplina6 o que ela , se ela ainda , o que ela deveser, se ela tem o direito de ser, qual seu o&1eto próprio, seu mtodo, sua missão, epor a$ afora 'ver, por exemplo, 7oore .///(! iquemos com a questão do o&1eto, queimplica as demais!

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    relação diferencial, disposta entre os termos que ela 3naturaliza36 tornar#se#ia ocon1unto de transformações requeridas para se descrever as variações entre asdiferentes configurações relacionais conhecidas! -u, para usarmos ainda uma outraimagem, ela se tornaria aqui um puro limite    mas não no sentido geomtrico delimitação, isto , de per$metro ou termo que constrange e define uma formasu&stancial 'recorde#se a idia, tão presente no voca&ul%rio antropológico,

    das enceintes mentales(, e sim no sentido matem%tico de ponto para o qual tende umasrie ou uma relação6 limite-tensão, não limite-contorno.0! * natureza humana, nessecaso, seria uma operação teórica de 3passagem ao limite3, que indica aquilo de que osseres humanos são virtualmente capazes, e não uma limitação que os determinaatualmente a não ser outra coisa.K!

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    nos termos formul%veis pela relação 'social, naturalmente, e constitutiva( entre o3antropólogo3 e o 3nativo3!

     >a concepção ao conceito

    +sso tudo não quereria apenas dizer que o ponto de vista aqui defendido, eexemplificado em meu tra&alho so&re o perspectivismo amer$ndio 'Viveiros de Castro.//0(, 3o ponto de vista do nativo3, como os antropólogos professam de longa data@>e fato, não h% nada de particularmente original no ponto de vista adotado5 aoriginalidade que conta a do ponto de vista ind$gena, não a do meu coment%rio! 7as,so&re a questão de o o&1etivo ser o ponto de vista do nativo    a resposta sim, enão!

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    uma experimenta#ão com ele, e portanto com o nosso! Io ingl2s dificilmente traduz$velde RoT agner6 everT understanding of another culture is an experiment Pith one3soPn './D.6.8(!

    9omar as idias ind$genas como conceitos afirmar uma intenção antipsicologista, poiso que se visa uma imagem de jure do pensamento, irredut$vel 4 cognição emp$rica,

    ou 4 an%lise emp$rica da cognição feita em termos psicológicos! * 1urisdição doconceito extraterritorial 4s faculdades cognitivas e aos estados internos dos su1eitos6os conceitos são o&1etos ou eventos intelectuais, não estados ou atri&utos mentais!Eles certamente 3passam pela ca&eça3 'ou, como se diria em ingl2s, 3cruzam a mente3(6mas eles não ficam l%, e so&retudo, não estão l% prontos    eles são inventados!>eixemos as coisas claras! Ião acho que os $ndios americanos 3cognizem3diferentemente de nós, isto , que seus processos ou categorias 3mentais3 se1amdiferentes dos de quaisquer outros humanos! Ião o caso de imaginar os $ndios comodotados de uma neurofisiologia peculiar, que processaria diversamente o diverso! Ioque me concerne, penso que eles pensam exatamente 3como nós35 mas penso tam&mque o !ue eles pensam, isto , os conceitos que eles se dão, as 3descrições3 que elesproduzem, são muito diferentes dos nossos    e portanto que o mundo descrito poresses conceitos muito diverso do nosso8.! Io que concerne aos $ndios, penso    seminhas an%lises do perspectivismo estão corretas    que eles pensam que todos oshumanos, e alm destes, muitos outros su1eitos não#humanos, pensam exatamente3como eles3, mas que isso, longe de produzir 'ou resultar de( uma converg2nciareferencial universal, exatamente a ra$ão das diverg2ncias de perspectiva!

    * noção de conceito supõe uma imagem do pensamento como atividade distinta dacognição, e como outra coisa que um sistema de representações! - que me interessano pensamento nativo americano, assim, não nem o sa&er local e suasrepresentações mais ou menos verdadeiras so&re o real    o (indigenous)no*ledge( ho1e tão disputado no mercado glo&al de representações   , nem a cogniçãoind$gena e suas categorias mentais, cu1a maior ou menor representatividade, do pontode vista das faculdades da espcie, as ci2ncias do esp$rito pretendem explorar!Iem representa#%es, individuais ou coletivas, racionais ou '3aparentemente3(irracionais, que exprimiriam parcialmente estados de coisas anteriores e exteriores aelas5 nem categorias e processos cognitivos, universais ou particulares, inatos ouadquiridos, que manifestariam propriedades de uma coisa do mundo, se1a ela a menteou a sociedade! 7eu o&1eto são os conceitos ind$genas, os mundos que eles constituem'mundos que assim os exprimem(, o fundo virtual de onde eles procedem e que elespressupõem! -s conceitos, ou se1a, as idias e os pro&lemas da 3razão3 ind$gena, nãosuas categorias do 3entendimento3!

    Como ter% ficado claro, a noção de conceito tem aqui um sentido &em determinado!9omar as idias ind$genas como conceitos significa tom%#las como dotadas de umasignificação propriamente filosófica, ou como potencialmente capazes de um uso

    filosófico!

    >ecisão irrespons%vel, dir#se#%, tanto mais que não são só os $ndios que não sãofilósofos, mas, su&linhe#se com força, tampouco o presente autor! Como aplicar, porexemplo, a noção de conceito a um pensamento que, aparentemente, nunca achounecess%rio se de&ruçar so&re si mesmo, e que remeteria antes ao esquematismofluente e variegado do s$m&olo, da figura e da representação coletiva que 4 arquiteturarigorosa da razão conceitual@ Ião existe um &em conhecido a&ismo histórico epsicológico, uma ruptura decisiva entre a imaginação m$tica pan#humana e o

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    universo da racionalidade hel2nico#ocidental 'Vernant .//0688/(@ Entre a &ricolagemdo signo e a engenharia do conceito 'vi#

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    * analogia feita nessa passagem entre as concep#%es ind$genas e os o"jetos dasci2ncias ditas naturais! Esta uma perspectiva poss$vel, e mesmo necess%ria6 deve#sepoder produzir uma descrição cient$fica das idias e pr%ticas ind$genas, como sefossem o&1etos do mundo, ou melhor, para que se1am o&1etos do mundo! 'L precisonão esquecer que os o&1etos cient$ficos de atour são tudo menos entidades 3o&1etivas3e indiferentes, pacientemente 4 espera de uma descrição!( -utra estratgia poss$vel

    a de comparar as concep#%es ind$genas 4s teorias cient$ficas, como o faz Oorton,segundo sua tese da similaridade './/:6:FD#:GF(, que antecipa alguns aspectos daantropologia simtrica de atour! -utra ainda a estratgia aqui advogada! Cuido quea antropologia sempre andou demasiado o&cecada com a 3Ci2ncia3, não só em relaçãoa si mesma    se ela ou não, pode ou não, deve ou não ser uma ci2ncia   , comoso&retudo, e este o real pro&lema, em relação 4s concepções dos povos que estuda6se1a para desqualific%#las como erro, sonho, ilusão, e em seguida explicarcientificamente como e por que os 3outros3 não conseguem 'se( explicarcientificamente5 se1a para promov2#las como mais ou menos homog2neas 4 ci2ncia,frutos de uma mesma vontade de sa&er consu&stancial 4 humanidade! *ssim asimilaridade de Oorton, assim a ci2ncia do concreto de vi#

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    de compreensão5 do mesmo modo, os complexos sistemas de aliança ou de posse daterra deveriam ser vistos como imaginações sociológicas indígenas! L claro que ser%sempre necess%rio descrever o Qula como uma descrição, compreender a religiãoa&or$gine como um compreender, e imaginar a imaginação ind$gena6 preciso sa&ertransformar as concep#%es em conceitos, extra$#los delas e devolv2#los a elas! E umconceito uma relação complexa entre concepções, um agenciamento de intuições

    pr#conceituais5 no caso da antropologia, as concepções em relação incluem, antes demais nada, as do antropólogo e as do nativo    relação de relações! -s conceitosnativos são os conceitos do antropólogo! "or hipótese!

     Ião explicar, nem interpretar6 multiplicar, e experimentar

    RoT agner, desde seu he nention of /ulture, foi um dos primeiros antropólogosque sou&e radicalizar a constatação de uma equival2ncia entre o antropólogo e onativo decorrente de sua comum condição cultural! >o fato de que a aproximação auma outra cultura só pode se fazer nos termos daquela do antropólogo, agner concluique o conhecimento antropológico se define por sua 'o"jetiidaderelatia'  './D.68(. +sto não significa uma o&1etividade deficiente, isto , su&1etiva ou

    parcial, mas uma o&1etividade intrinsecamente relacional , como se depreende do quese segue6

    * idia de cultura !!!W coloca o pesquisador em posição de igualdade com aquele queele pesquisa6 am&os 3pertencem a uma cultura3! Como cada cultura pode ser vistacomo uma manifestação espec$fica !!!W do fenJmeno humano, e como 1amais sedesco&riu um mtodo infal$vel de 3graduar3 diferentes culturas e arran1%#las em tiposnaturais, assumimos que cada cultura, como tal, equivalente a qualquer outra! 9alpostulado chama#se 3relatividade cultural3! !!!W * com&inação dessas duas implicaçõesda idia de cultura, isto , o fato de que os antropólogos pertencemos a uma cultura'o&1etividade relativa( e que somos o&rigados a postular que todas as culturas seequivalem 'relatividade cultural(, leva#nos a uma proposição geral a respeito do estudoda cultura! Como atesta a repetição da idia de 3relativo3, a apreensão de outra culturaenvolve o relacionamento relationshipW entre duas variedades do fenJmeno humano5ela visa a criação de uma relação intelectual entre elas, uma compreensão que inclua aam&as! * idia de 3relacionamento3 importante aqui porque mais apropriada a essaaproximação de duas entidades 'ou pontos de vista( equivalentes que noções como3an%lise3 ou 3exame3, que traem uma pretensão a uma o&1etividade a&soluta 'agner./D.68#:(!

    -u, como diria >eleuze6 não se trata de afirmar a relatividade do verdadeiro, mas sima verdade do relativo! L digno de nota que agner associe a noção de relação 4 deponto de vista 'os termos relacionados são pontos de vista(, e que essa idia de umaverdade do relativo defina 1ustamente o que >eleuze chama de perspectivismo! "oiso perspectivismo    o de ei&niz e Iietzsche como o dos 9uQano ou =uruna    não um

    relativismo, isto , afirmação de uma relatividade do verdadeiro, mas umrelacionalismo, pelo qual se afirma que a erdade do relatio é a rela#ão.

    +ndaguei o que aconteceria se recus%ssemos a vantagem epistemológica do discursodo antropólogo so&re o do nativo5 se entend2ssemos a relação de conhecimento comosuscitando uma modificação, necessariamente rec$proca, nos termos por elarelacionados, isto , atualizados! +sso o mesmo que perguntar6 o que acontecequando se leva o pensamento nativo a srio@ Auando o propósito do antropólogo deixade ser o de explicar, interpretar, contextualizar, racionalizar esse pensamento, e passa

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    a ser o de o utilizar, tirar suas conseqB2ncias, verificar os efeitos que ele pode produzirno nosso@ - que pensar o pensamento nativo@ "ensar, digo, sem pensar se aquiloque pensamos 'o outro pensamento( aparentemente irracional8G, ou pior ainda,naturalmente racional80, mas pens%#lo como algo que não se pensa nos termos dessaalternativa, algo inteiramente alheio a esse 1ogo@

    evar a srio , para começar, não neutralizar! L, por exemplo, pJr entre par2nteses aquestão de sa&er se e como tal pensamento ilustra universais cognitivos da espciehumana, explica#se por certos modos de transmissão social do conhecimento, exprimeuma visão de mundo culturalmente particular, valida funcionalmente a distri&uição dopoder pol$tico, e outras tantas formas de neutralização do pensamento alheio!

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    pior ainda, imaginando que ele daria acesso 4 ess2ncia $ntima e )ltima das coisas,detentor que seria de uma ci2ncia esotrica infusa! Nma antropologia que !!!W reduz osentido meaningW 4 crença, ao dogma e 4 certeza cai forçosamente na armadilha deter de acreditar ou nos sentidos nativos, ou em nossos próprios 'agner ./D.6:M(!7as o plano do sentido não povoado por crenças psicológicas ou proposições lógicas,e o 3fundo3 contm outra coisa que verdades! Iem uma forma da doxa, nem uma

    figura da lógica    nem opinião, nem proposição   , o pensamento nativo aquitomado como atividade de sim&olização ou pr%tica de sentido6 como dispositivo auto#referencial ou tautegórico de produção de conceitos , isto , de s$m&olos querepresentam a si mesmos 'agner ./D0(!

    Recusar#se a pJr a questão em termos de crença parece#me um traço crucial dadecisão antropológica! "ara marc%#lo, reevoquemos o -utrem deleuziano! -utrem aexpressão de um mundo poss$vel5 mas este mundo deve sempre, no curso usual dasinterações sociais, ser atualizado por um Eu6 a implicação do poss$vel em outrem explicada por mim! +sto significa que o poss$vel passa por um processode erifica#ão que dissipa entropicamente sua estrutura! Auando desenvolvo o mundoexprimido por outrem, para valid%#lo como real e ingressar nele, ou então paradesmenti#lo como irreal6 a 3explicação3 introduz, assim, o elemento da crença!>escrevendo tal processo, >eleuze indicava a condição#limite que lhe permitiu adeterminação do conceito de -utrem6

    EWssas relações de desenvolvimento, que formam tanto nossas comunidades comonossas contestações com outrem, dissolvem sua estrutura, e a reduzem, em um caso,ao estado de o&1eto, e, no outro, ao estado de su1eito! Eis por que, para apreenderoutrem como tal, sentimo#nos no direito de exigir condições especiais de experi2ncia,por mais artificiais que fossem elas6 o momento em que o exprimido ainda não possui'para nós( exist2ncia fora do que o exprime   -utrem como expressão de um mundoposs$vel './0/a6::G(!

    E conclu$a recordando uma m%xima fundamental de sua reflexão6 * regra que

    invoc%vamos anteriormente6 não se explicar demais, significava, antes de tudo, não seexplicar demais com outrem, não explicar outrem demais, manter seus valoresimpl$citos, multiplicar nosso mundo povoando#o de todos esses exprimidos que nãoexistem fora de suas expressões '>eleuze ./0/a6::G(!

    * lição pode ser aproveitada pela antropologia! 7anter os valores de outrem impl$citosnão significa cele&rar algum mistrio numinoso que eles encerrem5 significa a recusade atualizar os poss$veis expressos pelo pensamento ind$gena, a deli&eração deguard%#los indefinidamente como poss$veis    nem desrealizando#os como fantasiasdos outros, nem fantasiando#os como atuais para nós! * experi2ncia antropológica,nesse caso, depende da interiorização formal das condições especiais e artificiais deque fala >eleuze6 o momento em que o mundo de outrem não existe fora de sua

    expressão transforma#se em uma condição eterna, isto , interna 4 relaçãoantropológica, que realiza esse poss$vel como irtual 8D! e porcos e corpos

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    Realizar os poss$veis nativos como virtualidades o mesmo que tratar as idias nativascomo conceitos! >ois exemplos!

    1. Os porcos dos índios. L comum encontrar#se na etnografia americana a idia deque, para os $ndios, os animais são humanos! 9al formulação condensa uma ne&ulosade concepções sutilmente variadas, que não ca&e aqui ela&orar6 não são todos os

    animais que são humanos, e não são só eles que o são5 os animais não são humanos otempo todo5 eles foram humanos mas não o são mais5 eles tornam#se humanosquando se acham fora de nossas vistas5 eles apenas pensam que são humanos5 elesv2em#se como humanos5 eles t2m uma alma humana so& um corpo animal5 eles sãogente assim como os humanos, mas não são humanos exatamente como a gente5 eassim por diante! *lm disso, 3animal3 e 3humano3 são traduções equ$vocas de certaspalavras ind$genas    e não esqueçamos que estamos diante de centenas de l$nguasdistintas, na maioria das quais, ali%s, a cópula não costuma vir marcada por um ver&o!7as não importa, no momento!

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    sistem%tica de tal atitude, que consiste em reduzir o discurso ind$gena a um con1untode proposições, selecionar aquelas que são falsas 'alternativamente, 3vazias3( eproduzir umaexplica#ão de por que os humanos acreditam nelas, isto !ue são falsasou vazias! Nma explicação, tam&m por exemplo, pode ser aquela que conclui que taisproposições são o&1eto de um em&utimento ou aspeamento por parte de seusenunciadores '

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    pecaris são humanos quando de fato eles não o são! L in)til perguntar#se se os $ndiost2m ou não razão a esse respeito6 pois 1% não o 3sa&emos3@ 7as o que preciso sa&er 1ustamente o que não se sa&e    a sa&er, o !ue os $ndios estão dizendo, quandodizem que os pecaris são humanos!

    Nma idia como esta est% longe de ser evidente! - pro&lema que ela coloca não reside

    na cópula da proposição, como se 3pecari3 e 3humano3 fossem noções comunspartilhadas pelo antropólogo e pelo nativo, e a )nica diferença residisse na equação&izarra entre os dois termos! L perfeitamente poss$vel, diga#se de passagem, que osignificado lexical ou a interpretação sem;ntica de 3pecari3 e 3humano3 se1am mais oumenos os mesmos para os dois interlocutores5 não se trata de um pro&lema detradução, ou de decidir se os $ndios e nós temos os mesmos natural )inds 'talvez,talvez(. - pro&lema que a idia de que os pecaris são humanos parte do sentidodos 3conceitos3 de pecari e de humano naquela cultura, ou melhor, essa idia que overdadeiro conceito em pot2ncia    o conceito que determina o modo como as idiasde pecari e de humano se relacionam! "ois não h% 3primeiro3 os pecaris e os humanos,cada qual de seu lado, e 3depois3 so&revm a idia de que os pecaris são humanos6 aocontr%rio, os pecaris, os humanos e sua relação são dadossimultaneamente:M!

    * estreiteza intelectual que ronda a antropologia, em casos como esse, consiste naredução das noções de pecari e de humano exclusivamente a vari%veis independentesde uma proposição, quando elas devem ser vistas    se queremos levar os $ndios asrio    como variações insepar%veis de um conceito! >izer que os pecaris sãohumanos, como 1% o&servei, não dizer algo apenas so&re os pecaris, como se3humano3 fosse um predicado passivo e pac$fico 'por exemplo, o g2nero em que seinclui a espcie pecari(5 tampouco dar uma simples definição ver&al de 3pecari3, dotipo 3suru&im3 'o nome de( um peixe! >izer que os pecaris são humanos dizeralgo so&re os pecaris e so"re os humanos,  dizer algo so&re o que pode ser ohumano6 se os pecaris t2m a humanidade em pot2ncia, então os humanos teriam,talvez, uma pot2ncia#pecari@ Com efeito, se os pecaris podem ser conce&idos comohumanos, então deve ser poss$vel conce&er os humanos como pecaris6 o que ser

    humano, quando se 3pecari3, e o que ser pecari, quando se 3humano3@ 2uais asconse!31ncias disto4  Aue conceito se pode extrair de um enunciado como os pecarissão humanos@ Como transformar a concepção expressa por uma proposição dessetipo em um conceito@ Esta a verdadeira questão!

    *ssim, quando seus interlocutores ind$genas lhe dizem 'so& condições, como sempre,que ca&e especificar( que os pecaris são humanos, o que o antropólogo deve seperguntar não se 3acredita ou não3 que os pecaris se1am humanos, mas o que umaidia como essa lhe ensina so&re as noções ind$genas de humanidade e de3pecaritude3! - que uma idia como essa, note#se, ensina#lhe so&re essas noções eso&re outras coisas6 so&re as relações entre ele e seu interlocutor, as situações em quetal enunciado produzido 3espontaneamente3, os g2neros de fala e o 1ogo de

    linguagem em que ele ca&e etc! Essas outras coisas, porm    e gostaria de insistirso&re o ponto    estão muito longe de esgotar o sentido do enunciado! Reduzi#lo a umdiscurso que 3fala3 apenas de seu enunciador negar a este sua intencionalidade, e, deque&ra, o&rig%#lo a trocar seu pecari por nossohumano! - que um pssimo negóciopara o caçador do pecari!

    E nesses termos, ó&vio que o etnógrafo tem de acreditar 'no sentido de confiar( emseu interlocutor6 pois se este não est% a lhe dar uma opinião, mas a ensinar#lhe o quesão os pecaris e os humanos, a explicar como o humano est% implicado no pecari!!! *

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#back30http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#back30

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    pergunta, mais uma vez, deve ser6 para que serve essa idia@ Em que agenciamentosela pode entrar@ Auais suas conseqB2ncias@ "or exemplo6 o que se come, quando secome um pecari, se os pecaris são humanos@

    E mais6 carece ver se o conceito constru$vel a partir de enunciados como esse seexprime de modo realmente adequado pela forma Y Z! "ois não se trata tanto de

    um pro&lema de predicação ou atri&uição, mas de definir um con1unto virtual deeventos e de sries em que entram os porcos selvagens de nosso exemplo6 os pecarisandam em &ando!!! t2m um chefe!!! são &arulhentos e agressivos!!! sua aparição s)&ita e imprevis$vel!!! são maus cunhados!!! comem aça$!!! vivem so& a terra!!! sãoencarnações dos mortos!!! e assim por diante! Ião se trata com isso de identificar osatri&utos dos pecaris a atri&utos dos humanos, mas de algo muito diferente! -s pecarissão pecaris e humanos, são humanos naquilo que os humanos não são pecaris5 ospecaris implicam os humanos, como idia, em sua dist5ncia mesma diante doshumanos! *ssim, quando se diz que os pecaris são humanos, não para identific%#losaos humanos, mas para diferenci%#los de si mesmos    e a nós de nós mesmos!

    >isse anteriormente que a idia de que os pecaris são humanos est% longe de ser

    evidente! "or certo6 nenhuma idia interessante evidente! Esta, em particular, não não#evidente porque se1a falsa ou inverific%vel 'os $ndios dispõem de v%rios modosde erific0-la(, mas porque diz algo não#evidente so&re o mundo! -s pecaris não sãoevidentemente humanos, eles o são não#evidentemente! +sto quereria dizer que talidia 3sim&ólica3, no sentido que

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    Nma professora da missão na aldeia deW eve#se notar, entretanto, que esse exemplo de cosmologiaperspectivista não foi o&tido no curso de uma discussão esotrica so&re o mundooculto dos esp$ritos, mas em uma conversação em torno de preocupaçõeseminentemente pr%ticas6 o que causa a diarria infantil@

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    - 3relativismo3 da mulher piro    um relativismo 3natural3, não 3cultural3, note#se    poderia ser interpretado segundo certas hipóteses a respeito da economiacognitiva das sociedades não#modernas, ou sem escrita, ou tradicionais etc! Iostermos da teoria de Ro&in Oorton './/:6:K/#ss!(, por exemplo! Oorton diagnostica oque chamou de paroquialismo de visão de mundo '*orld-ie* parochialism( comoalgo caracter$stico dessas sociedades6 contrariamente 4 exig2ncia impl$cita de

    universalização contida nas cosmologias racionalizadas da modernidade ocidental, ascosmologias dos povos tradicionais parecem marcadas por um esp$rito de grandetoler;ncia, mas que na verdade uma indiferen#a 4 concorr2ncia de visões de mundodiscrepantes! - relativismo aparente dos "iro não manifestaria, assim, sua largueza devistas, mas, muito ao contr%rio, sua miopia6 eles pouco se importam como as coisassão alhures:8!

    O% v%rios motivos para se recusar uma leitura como essa de Oorton5 entre outros, o deque o dito relativismo primitivo não apenas intercultural, mas intracultural e3autocultural3, e que ele não exprime nem toler;ncia, nem indiferença, mas simexterioridade a&soluta 4 idia criptoteológica de 3cultura3 como con1unto de crenças'9ooQer .//85 Viveiros de Castro .//:(! - motivo principal, entretanto, est%perfeitamente prefigurado nos coment%rios de ?oP, a sa&er, que essa idia doparoquialismo traduz o de&ate de

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    Rece&ido em .G de 1aneiro de 8MM8*provado em .D de fevereiro de 8MM8Eduardo Viveiros de Castro professor de etnologia no 7useu IacionalU NR=, emem&ro da Equipe de Recherche en Ethnologie *mrindienne '"aris(!

    Iotas. - fato de o discurso do antropólogo consistir canJnica e literalmente em um textotem muitas implicações, que não ca&e desenvolver aqui! Elas foram o&1eto de atençãoexaustiva por parte de correntes recentes de reflexão auto#antropológica! - mesmo sediga do fato de o discurso do nativo não ser, geralmente, um texto, e do fato de ele serfreqBentemente tratado como se o fosse!8 - conhecimento não uma conexão entre uma su&st;ncia#su1eito e uma su&st;ncia#o&1eto, mas uma relação entre duas relações, das quais uma est% no dom$nio doo&1eto, e a outra no dom$nio do su1eito5 !!!W a relação entre duas relações elaprópria uma relação '

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    de interrogatório policial6 l% que devemos tomar o m%ximo cuidado para que nossashistórias se1am 3plaus$veis3!K L assim que interpreto a declaração de agner './D.6:G(6 Estudamos a culturaatravs da cultura, e portanto as operações, se1am quais forem, que caracterizamnossa investigação devem ser tam&m propriedades gerais da cultura!D  Ver, so&re isso, =ullien './D/6:.8(! -s pro&lemas reais de outras culturas são

    pro&lemas apenas poss$veis para a nossa5 o papel da antropologia o de dar a essapossi&ilidade 'lógica( o estatuto de virtualidade 'ontológica(, determinando    ou se1a,construindo    sua operação latente em nossa própria cultura!/ "u&licado em ap2ndice 4 :ogi!ue du ;ens '>eleuze ./0/a6:GM#:K85 ver tam&m>eleuze ./0/&6:::#::G, :0M(! Ele retomado, em termos praticamente id2nticos, emseu quase#)ltimo texto, 2u(est-ce !ue la eleuze ./0/a6:GG(!.. Esse 3ele3 que -utrem não uma pessoa, uma terceira pessoa diversa do eu e dotu, 4 espera de sua vez no di%logo, mas tam&m não uma coisa, um 3isso3 de que sefala! -utrem seria mais &em a quarta pessoa do singular    situada, digamos assim,na terceira margem do rio   , anterior ao 1ogo perspectivo dos pronomes pessoais'>eleuze .//G6K/(!.8 Aue faria o que pensa porque a &ifurcação de sua natureza, ainda que admitida poruma questão de princ$pio, distingue, na pessoa do antropólogo, o 3antropólogo3 do3nativo3, e portanto v2#se expulsa de campo antes do 1ogo! * expressão &ifurcação danatureza de hitehead './0F6 cap! ++(5 ela protesta contra a divisão do real emqualidades prim%rias, inerentes ao o&1eto, e qualidades secund%rias, atri&u$das aoo&1eto pelo su1eito! *s primeiras são a meta própria da ci2ncia, mas ao mesmo temposeriam, em )ltima inst;ncia, inacess$veis5 as segundas são su&1etivas e, em )ltimainst;ncia, ilusórias! +sto produz duas naturezas, das quais uma seria con1etura e aoutra, sonho 'hitehead ./0F6:M5 ver a citação e seu coment%rio em atour.///608#K0, :.G n! F/ e n! GD(! 9al &ifurcação a mesma presente na oposição

    antropológica entre natureza e cultura! E quando o o&1eto ao mesmo tempo umsu1eito, como no caso do nativo, a &ifurcação de suanatureza transforma#se nadistinção entre a con1etura do antropólogo e o sonho do nativo6 cognição vs! ideologia'Hloch(, teoria prim%ria vs! secund%ria 'Oorton(, modelo inconsciente vs! consciente'vi#

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    poss$vel fantasmada so& o modo de uma não#contemporaneidade histórica entre oantropólogo e o nativo    tem#se então a primitivização de -utrem, seu congelamentocomo o&1eto 'do( passado a&soluto!8/ *lexiades cita seu interlocutor em espanhol    9odos los animales son Ese E1a!Iote#se 1% aqui uma torção6 3todos3 os animais 'o etnógrafo mostra que h% numerosasexceções( não são 3humanos3, e sim (?se ?ja(,etnJnimo que pode ser traduzido como

    3pessoas humanas3, em oposição a 3esp$ritos3 e a 3estrangeiros3!:M Ião estou aqui me referindo ao pro&lema da aquisição ontogentica de 3conceitos3 ou3categorias3, no sentido que a psicologia cognitiva d% a estas palavras! *simultaneidade das idias de pecari, humano e de sua identidade 'condicional econtextual( , do ponto de vista emp$rico, uma caracter$stica do pensamento dosadultos dessa cultura! *inda que se admitisse que as crianças começam por adquirir oumanifestar os 3conceitos3 de pecari e de humano antes de serem ensinadas que ospecaris são humanos, resta que os adultos, quando agem ou argumentam com &asenesta idia, não reencenam em suas ca&eças tal suposta seqB2ncia cronológica,primeiro pensando nos humanos e nos pecaris, depois em sua associação! *lm dissoe so&retudo, tal simultaneidade não emp$rica, mas transcendental6 ela significa que ahumanidade dos pecaris um componente a priori  da idia de pecari 'e da idia dehumano(!:.  *s noções de import;ncia, de necessidade, de interesse são mil vezes maisdeterminantes que a noção de verdade! Não, de forma alguma, por!ue elas asu"stituam, mas por!ue medem a erdade do !ue digo '>eleuze .//M6.KK, 2nfasesminhas(!:8 E com efeito, a rplica da mulher piro id2ntica a uma o&servação dos [ande,consignada no livro que a &$&lia dos antropólogos da persuasão de Oorton6 Nmavez, ouvi um zande dizer de nós6 39alvez l% no pa$s deles as pessoas não se1amassassinadas por &ruxos, mas aqui elas são 'Evans#"ritchard ./KD68KF(! *gradeço a+ngrid e&er a lem&rança!:: Como advertia ?ell './/D6.M.( em um contexto semelhante, a magia não umaf$sica equivocada, mas uma 3meta#f$sica36 - engano de razer foi, por assim dizer, ode imaginar que os praticantes da magia dispunham de uma teoria f$sica não#standard ,

    quando, na verdade, 3magia3 aquilo que se tem quando se  dispensa uma teoria f$sicaem vista de sua redund;ncia, e quando se &usca apoio na idia, em si mesmaperfeitamente pratic%vel, de que a explicação de qualquer evento dado !!!W que ele causado intencionalmente! 

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top29http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top30http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top31http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top32http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top33http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top29http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top30http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top31http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top32http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132002000100005&script=sci_arttext#top33