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MANUAL DO VIVEIRO
FrutícolasRaul Manuel de Albuquerque Sardinha
Projecto de Desenvolvimento dos Recursos NaturaisMunicípio da Ecunha, Província do Huambo
(CE-FOOD/2006/130444)
FICHA TÉCNICA
Coordenação e Autoria do Estudo
Raul Manuel de Albuquerque Sardinha
Revisão
Instituto Marquês de Valle Flôr
(Diogo Ferreira, Gonçalo Marques e Rita Caetano)
Composição e Edição
Instituto Marquês de Valle Flôr
Concepção Gráfica
Matrioska Design, Lda
Impressão e Acabamento
Europam, Lda
Co-Financiamento
Comissão Europeia
Depósito Legal
Tiragem
1
2
ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E MAPAS 5
PREFÁCIO 7
I. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA COM PARTICULAR
REFERÊNCIA ÀS FRUTEIRAS 9
1. Factores que afectam a selecção de fruteiras
para plantação 9
1.1 Solo 9
1.2 Clima 9
1.3 Água 9
2. Material de plantação 10
3. Mercado 10
4. O Viveiro frutícola 10
4.1 Selecção das regiões e locais eleitos 10
4.2 Zona de propagação de plantas 10
4.3 Planeamento 11
5. Plantas base de propagação 11
6. Gestão da colecção de plantas mãe 12
6.1 Poda das fruteiras base 12
6 .2 Rega da colecção base 12
6.3 Nutrição da colecção de fruteiras base 12
6.4 Manutenção da colecção base 12
6.5 Substratos para a propagação 13
7. Ferramentas do viveiro 13
8. Problemas comuns nos viveiros 13
9. Gestão do viveiro 14
9.1 Problemas comuns num viveiro de produção
de fruteiras 14
9.2 Timing 15
9.3 Retroacção 15
10. Propagação de fruteiras 15
10.1 Propagação vegetativa 15
11. Pragas e doenças 28
12. Enxertias 28
12.1 Breve referência aos calendários.
A escolha dos garfos 29
12.2 Técnicas de enxertia 29
12.3 Material de enxertia 33
13. Mergulhia 33
13.1 Factores que afectam a regeneração de plantas
por mergulhia 34
13.2 Condicionamento fisiológico 35
13.3 Exemplo de alguns procedimentos 35
14. Rotinas gerais de gestão do viveiro 36
Índice
3
II. RECOMENDAÇÕES DE FRUTEIRAS MAIS APTAS
PARA O MUNICÍPIO DE ECUNHA 37
1 Café arábica (Coffea Arabica L.) 37
1.1 Exigências edáficas 37
1.2 Zonas de distribuição cultural 38
1.3 Zonas ecologicamente mais favoráveis 38
2. Citrinos (Citrus spp.) 39
2.1 Exigências climáticas 39
2.2 Exigências edáficas 39
2.3 Zonas de exploração cultural 39
2.4 Zonas mais favoráveis à cultura 39
3. Goiabeira (Psidium guajava L.) 40
3.1 Exigências climáticas 40
3.2 Exigências edáficas 40
3.3 Zonas de distribuição cultural 40
3.4 Zonas mais favoráveis à cultura 40
4. Maracujá (Passiflora edulis Sims) 41
4.1 Exigências edáficas 41
4.2 Zonas de distribuição cultural 42
4.3 Zonas mais favoráveis à cultura 42
5. Fruteiras das regiões temperadas 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44
Anexo I - Algumas misturas para o fabrico de substratos
para os viveiros de plantas frutícolas 45
4
FIGURAS
1. Esquema mostrando as relações entre a colecção
base de fruteiras classificadas e a sua distribuição
e manutenção 12
2. Estacas para plantação 15
3. Ciclo de produção de fruteiras 17
4. Modelo do ciclo de vida clonal 18
5. Enxertia 18
6. Emergência de raízes adventícias 18
7. Estacas preparadas a partir dos lançamentos 20
8. Preparação de estacas com uma serra mecânica 20
9. Preparação das estacas a partir de um lançamento
retirado da árvore-mãe 20
10. Tipos de estacas lenhosas 21
11. Fenda na base da estaca antes do tratamento
com auxina 21
12. Esquematização das etapas de enraizamento
de estacas lenhosas 23
13. Esquema indicativo dos lançamentos 24
14. Efeito da polaridade do rebento de enxertia 25
15. Efeito da polaridade da estaca utilizada 25
16. Raiz deformada de uma fruteira plantada
com sistema radicular 27
17. Etapas básicas de execução de uma enxertia
de borbulha 30
18. Enxertia de fenda simples 31
19. Enxertia de fenda dupla 31
20. Enxertia de fenda vazada ou incrustação 32
21. Esquema de execução da enxertia inglesa 33
22. Procedimentos para a enxertia inglesa quando
o garfo é de dimensão menor do que o cavalo 33
23. Procedimentos para estimular a indução de raízes 34
24. Exemplificação de indução de raízes num ramo
e nova planta resultante 35
25. Procedimentos da mergulhia por amontoa 36
26. Exemplificação das etapas de mergulhia aérea 36
27. Zonas de distribuição e zonas aconselhadas
para expansão 38
28. Zonas de ocorrência de citrinos
e zonas mais favoráveis 40
29. Zonas de distribuição geral da goiabeira
e as mais aptas para expansão 41
30. Zonas de distribuição e mais aptas para o maracujá 42
QUADROS
1. Regra geral para misturas 13
2. Causas para o fraco desenvolvimento das plantas
e sugestões de correcção 14
3. Preparativos de Selecção 19
4. Reguladores de Crescimento 21
MAPAS
1. Localização do Município da Ecunha,
Província do Huambo, Angola 9
Índicequadros, figuras e mapas
5
6
PREFÁCIOA expansão do número de fruteiras numa região em fase
de crescimento demográfico, de consolidação da sua produção
agrícola e da própria propriedade rural, é um instrumento de
particular relevância no desenvolvimento e no combate
à pobreza do agricultor. Na verdade, fazer crescer árvores
de fruto é, em todos os trópicos, uma forma de consolidar
os “quintais de casa” o que requer mais do que simplesmente
plantar e colher. As fruteiras vêm sendo, um pouco por todo
o mundo tropical, um instrumento da consolidação
da propriedade rural e da fixação camponesa. Além de ser uma
prática consuetudinária de marcar um vínculo à terra
e de afirmar a propriedade, a prática de associação benéfica
da árvore à agricultura ganhou, graças ao trabalho de inúmeros
profissionais, um estatuto reconhecido como ciência integrativa
de várias disciplinas com enormes potenciais para
a transformação do estatuto nutricional da população em
certas fases do ciclo anual de produção e para a transformação
de paisagens em vias de degradação. O papel da árvore
de fruto na sensibilização do agricultor para a importância
da árvore no ordenamento da paisagem rural é, igualmente,
importante em zonas como o Município de Ecunha, onde
a degradação do coberto arbóreo natural vem deixando
marcas preocupantes na paisagem e onde a percepção
do agricultor sobre a importância dos bens ambientais é bastante
reduzida.
Antes do lançamento do Centro Mundial para a Agrosilvicultura
(CIFOR) em Nairobi (1978), a agricultura e os cultivos arbóreos
(aqui incluídos todos os tipos de árvores, independentemente
do seu produto principal) eram tratados como sendo
mutuamente exclusivos. O estudo e observação de inúmeras
práticas vem mostrando que a integração das árvores, a começar
pelas fruteiras, cuja utilidade e benefício imediato é mais
perceptível pelos agricultores, tem um enorme potencial para
beneficiar os camponeses e o ambiente. O que falta é pôr ao
serviço do camponês o poder da ciência e os mecanismos para
acelerar a geração de conhecimento ao serviço da melhoria
da produtividade e da qualidade por forma a explorar
efectivamente este potencial.
O Projecto para o Desenvolvimento dos Recursos Naturais
do Município de Ecunha (Contrato CE-FOOD/2006/130444),
executado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF),
em associação com a Cooperativa Agrícola da Ecunha, parte
da convicção que enfrentar o problema da degradação
dos recursos naturais só é efectiva se se abordarem, de forma
integrada, várias frentes convergentes: criação de pequenas
matas comunitárias ou pequenas parcelas individuais; divulgação
de tecnologias com potencial de aumentar a eficiência
da transformação recursos lenhosos de rápido crescimento
ou no uso de lenhas e carvões; aumentar a disponibilidade
de alimentos, como são os frutos, com bom potencial alimentar
e susceptíveis de criar novas actividades e mercados.
7
Este Manual, realizado no âmbito do projecto em curso,
faz parte integrante dessa estratégia. O viveiro que está a ser
construído para concretização desse objectivo é uma estrutura
que ultrapassa, contudo, o simples objectivo de produzir plantas
para distribuir. Na verdade ele pretende ser um pólo de irradiação
para a difusão de boas plantas e práticas culturais que devem
ser seguidas para proporcionarem bons rendimentos e frutos
de boa qualidade. Ele refere as boas práticas a usar na multi-
plicação de plantas, quer por via seminal quer vegetativa,
factores que afectam a regeneração, os problemas da fertilização,
bem como uma referência breve a formas de controlo de pragas
e doenças.
Cada espécie frutícola apresenta problemas e exigências
específicas cuja satisfação é essencial para que se alcance
a sua melhor produtividade. Para que se atinja a proficiência
necessária para lidar com os problemas particulares
e especializados da produção viveirista é necessário que
os futuros viveiristas estejam primeiramente familiarizados
com os problemas básicos da produção de plantas frutícolas
que foram a preocupação deste Manual.
O autor espera que os agricultores de Ecunha e os responsáveis
do viveiro, os principais destinatários deste Manual, o usem
para reflectirem sobre as técnicas e procedimentos descritos
de uma forma crítica para que as suas reflexões e sugestões
de melhoria possam vir a ser incorporadas numa nova edição.
8
I. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA COM PARTICULAR
REFERÊNCIA ÀS FRUTEIRAS
Há muitos tipos e espécies de árvores de fruto e cada uma delas
apresenta exigências ecológicas diversificadas se bem que alguns
grupos apresentem maior plasticidade do que outros ocupando mais
do que uma grande região ecológica. O sucesso de fazer crescer uma
determinada espécie frutícola numa área particular depende de um
conjunto de factores que interessa considerar antes de tentar reproduzir
espécies em viveiro.
1. Factores que afectam a selecção de fruteiras para plantação
Qualquer produtor que planeie estabelecer um pomar ou um viveiro
que pretenda fornecer plantas para os agricultores ou comunidades
de agricultores do Município de Ecunha, deve pensar acerca dos
factores que afectam o crescimento das árvores de fruto antes
de escolher as variedades a propagar e a distribuir.
Os principais factores que afectam a selecção das fruteiras são:
1.1 Solo
Um bom solo deve suportar a árvore e deve apresentar boa drenagem.
Deve apresentar também bom teor de matéria orgânica e deve
responder igualmente à fertilização e adubação. Dadas as características
generalizadas dos solos do Município de Ecunha, de uma forma geral
pobres em nutrientes e matéria orgânica, as iniciativas de dispo-
nibilização de fruteiras requerem que o viveiro, ou a Coopecunha,
assuma uma função activa de acompanhamento e divulgação junto
dos agricultores quanto à escolha dos melhores locais de plantação
e a formulação da adubação e estrumação mais apropriadas.
Mapa 1 - localização do Município da Ecunha, Província do Huambo, Angola
1.2 Clima
As fruteiras mais aconselhadas para as zonas ecológicas do Planalto
Central são as que se expressam nos mapas de aptidão conforme
constam dos mapas apresentados no capítulo II deste Manual.
1.3 Água
Tal como se refere no Manual do Viveiro Florestal, a disponibilidade
de água é um factor importante num viveiro para a produção
de árvores de fruta. Sendo que uma pequena produção de plantas
9
Bailundo
Londuimbali
Tchindjenje
Ukuma
Ecunha
Longojo
Caala
Huambo
Mungo
Katchiumgo
TchikalaTcholoaga
frutícolas virá a ser assumida pelo viveiro florestal, as considerações
feitas sobre o abastecimento de água estão já apresentadas,
não justificando outro desenvolvimento. Mas, para alem do viveiro,
onde estas condições serão satisfatoriamente resolvidas, o problema
da disponibilidade de água nos pequenos pomares dos agricultores
deve ser satisfatoriamente equacionado sobe pena de insucesso dos
mesmos e a qualidade dos frutos não ser satisfatória. É necessário
não esquecer que o planalto apresenta, nos meses de Junho a Agosto,
condições com significativo deficit hídrico e com acentuados baixos
níveis de humidade atmosférica, o que significa que a irrigação
é necessária para garantir sucesso à produção de fruta de qualidade
para o mercado ou consumo doméstico.
2. Material de plantação
A escolha e a disponibilização de material base quanto a variedades
de potencial conhecido (veja-se ponto de fruteiras aptas para o Planalto
Central) são essenciais para a rentabilidade da produção de plantas.
Em paralelo com essa disponibilidade, a garantia de satisfação
da produção e distribuição de plantas sadias é uma condição essencial
para o sucesso do desenvolvimento da produção frutícola no Município
de Ecunha.
3. Mercado
Esta é uma questão de particular importância se o objectivo desta
componente de intervenção do projecto se destinar, para além
da melhoria das condições alimentares da população rural, a criar uma
actividade de carácter comercial destinada fundamentalmente aos
mercados urbanos do distrito. É previsível que a melhoria das ligações
no troço rodoviário Ecunha-Huambo venham a criar boas possibilidades
de escoamento da produção para aquela cidade.
4. O Viveiro frutícola
Tal como já se referiu no Manual do Viveiro Florestal, o viveiro é o local
onde se produzem plantas com cuidados particulares até as plantas
estarem em condições para transplantação para os campos
dos agricultores.
Cada viveirista deve visar a produção de plantas uniformes e sãs, capazes
de se estabelecer rapidamente e com vigor no campo. Para fins comerciais,
e para planear quais as zonas prioritárias para a intervenção, é importante
que se considerem os seguintes factores:
4.1 Selecção das regiões e locais eleitos
Aspectos a considerar:
A disponibilidade de uma rede viária que facilite o escoamento
da fruta com preços concorrenciais e a distribuição das plantas;
A área dos pomares deve ser nivelada e protegida contra os ventos;
O solo deve estar razoavelmente drenado para evitar problemas
com a água estagnada;
O solo deve estar livre de pedras;
O local de plantação deve ter uma fonte de abastecimento
de água fiável nas proximidades;
O solo do local deve ser suficientemente fértil, sem bancadas
de laterite a pouca profundidade, de textura leve e com bom nível
de matéria orgânica e livre de doenças.
4.2 Zona de propagação de plantas
A área de produção de plantas deve providenciar condições
de crescimento adequadas (plana, de boa fertilidade e com boa
drenagem). Para plantas produzidas em vaso é essencial um substrato
equilibrado do ponto de vista físico e químico (veja-se Manual
do Viveiro Florestal);
Todas as plantas devem estar acessíveis para que sejam facil-
mente realizadas as operações diárias (rega, monda, enxertia);
10
Os plantórios em plena terra ou em vasos devem permitir a fácil
movimentação das plantas para expedição para plantação.
4.3 Planeamento
Os aspectos essenciais a equacionar pelo responsável do viveiro são:
Disponibilizar uma área adequada para armazém e um alpendre
para ferramentas;
Canteiros para atempamento ou rustificação das plantas antes
da expedição;
Bancada de envasamento bem posicionada;
Dispor de uma área de preparação de substratos;
Vedação para protecção de animais e minimização de entradas
não autorizadas;
Zona de limpeza, lavagem de pés ou botas de trabalho junto
da zona de entrada para evitar o transporte de doenças para
as plantas.
5. Plantas base de propagação
As plantas das quais se retira o material de propagação por via vegetativa,
estacas, rebentos ou gomos para enxertia são chamadas plantas base
e devem ser obtidas de colecções certificadas de germoplasma melhorado.
Em zonas como o município de Ecunha, onde a actividade frutícola
praticamente desapareceu, não existem na proximidade plantas frutícolas
de qualidade e produtividade conhecidas para alimentar uma produção
com qualquer significado e para sustentar um esforço de desenvolvimento
frutícola na região. Assim, no primeiro ano de actividade do viveiro,
a produção de plantas terá de ser lançada de uma forma modesta
e na base de:
Aquisição de plantas já enxertadas provenientes do Instituto
de Investigação Agronómica do Huambo. O projecto deve elaborar
um caderno de encargos por forma a definir as espécies e número
de plantas pretendidas, padrões qualitativos exigidos, custos envolvidos;
Instalação, com base na colecção do germoplasma frutícola
na Chianga, de uma colecção de material base de fruteiras aptas
se bem que por vezes fora da sua área mais favorável à exploração
no Planalto Central: maracujaleiro, abacateiro, citrinos, goiabeiras,
e nespereiras. Tenha-se contudo em atenção que algumas destas
fruteiras que são aqui e ali cultivadas apresentam-se com interesse
alimentar e comercial para os mercados urbanos do planalto mas
que terão menor valor concorrencial com zonas de maior aptidão
ecológica em Angola1.
Esta colecção base é necessária por forma a obter-se:
Produção abundante de estacas e rebentos de forma a obter
novas plantas enraizadas, garfos ou gomos para enxertia de plantas
de qualidade para distribuição aos agricultores;
Redução da necessidade de viagens constantes para escolha
de estacas ou rebentos quase sempre de material onde o acom-
panhamento qualitativo é praticamente impossível;
Garantia de que as estacas ou rebentos se conservam frescos
e em bom estado, para alcançar o máximo sucesso no enraizamento
das estacas ou nas enxertias;
Uma melhor conservação do potencial genético das fruteiras que
são divulgadas;
Um melhor planeamento e gestão das operações de produção
de fruteiras.
11
O fluxograma dos trabalhos que têm de ser empreendidos para criar
as bases para um verdadeiro fomento frutícola na região, é sintetizado
na figura 1 que se segue:
Fig. 1 - Esquema mostrando as relações entre a colecção base de fruteiras
classificadas e a sua distribuição e manutenção como base de um sistema
de distribuição e multiplicação para a propagação comercial
6. Gestão da colecção de plantas mãe
6.1 Poda das fruteiras base
É uma operação essencial para manter as árvores a emitir rebentos
necessários para as estacas ou gomos para a propagação vegetativa.
6 .2 Rega da colecção base
A poda frequente e a abundante rebentação induzida, provocam um
aumento do consumo de água que é necessário ser reposta mediante
bons cuidados de rega a fim de:
Assegurar o estabelecimento rápido e com sucesso da colecção;
Encorajar as árvores a crescer mais rapidamente e a produzir
mais rebentos;
Possibilitá-las a produzir rebentação ao longo de todo o ciclo
vegetativo;
6.3 Nutrição da colecção de fruteiras base
Por força das intervenções de promoção do crescimento das árvores
da colecção, as necessidades de nutrientes são acrescidas para compensar
as perdas de nutrientes fixadas no material vegetal permanentemente
retirado das árvores. Os nutrientes são fornecidos pelo recurso
ao “mulch” com que o solo é coberto, e com a cobertura do solo por
leguminosas que fornecerão azoto orgânico ao solo.
6.4 Manutenção da colecção base
O germosperma de base seleccionado como tendo o nome verdadeiro
(true to type) e livre de viroses é mantido em número restrito sob
condições protegidas para prevenir que fique infectado ou se percam
as suas características. Esta colecção é usualmente referida como
o bloco mãe. Nestes blocos as posições das plantas e da sua identificação
perfeita devem ser registadas, ab initio, em mapa. Devem ser conservadas
com etiquetas, e com contínua inspecção fitossanitária por serviços
ou técnico fitosanitarista habilitado. Neste tipo de cuidados deve ter-
se em atenção que a zona de manutenção desta colecção deve estar
separada da zona de multiplicação para evitar infecções. As árvores
devem ser mantidas com compasso largos.
Sendo esta colecção necessariamente limitada, deve fazer parte
do trabalho do viveiro e como base essencial do futuro desenvolvimento
frutícola do município, a criação de um talhão de maior dimensão, com
separação de espécies ou clones devidamente identificados e devidamente
mapeados, obtidos por multiplicação vegetativa da colecção base por
forma a que o viveiro disponha de suficiente material para propagação
e distribuição à lavoura.
12
Desenvolvimento
Germoplasma base
Fase 1Desenvolvimento
Fase 2Manutenção
Blocos de base Propagação
Plantasde progene
Fase 3Multiplicaçãoe distribuição
Blocos descendentes
13
Tipo de solo no viveiro Proporções das misturas
Para solos pesados 1 de solo local: 2 de areia:
2 de composto orgânico bem curtido
Para solos de textura média 1 de solo local: 1 de areia:
1 de composto orgânico bem curtido
Para solos de textura leve 1 de solo local: o de areia:
1 de composto orgânico bem curtido
6.5 Substratos para a propagação
Um bom crescimento e desenvolvimento das plantas no viveiro requerem
um bom substrato que normalmente é conseguido com várias misturas
de diferentes materiais: solo do próprio viveiro, solo florestal, areia,
matéria orgânica bem decomposta ou materiais como a serradura
ou vermiculite que melhoram a qualidade da mistura.
6.5.1 Características de um bom substrato
As características físicas e químicas de um substrato adequado
ao viveiro aferem-se pelos seguintes parâmetros:
Deve ser leve para facilitar o transporte;
Conserva as plantas no lugar e não retrai ou incha provocando
roturas no sistema radicular das plantas;
Apresenta uma boa capacidade de drenagem;
Retém água mas permite uma boa drenagem (isto deve-se a uma
boa proporção entre o teor de matéria orgânica, areia e de argila);
Contem os nutrientes necessários para permitir um bom cresci-
mento e desenvolvimento das plantas;
Não se encontra contaminado por ervas infestantes e agentes
patogénicos (fungos, bactérias e nemátodos) e pode ser eventual-
mente esterilizada sem mudança das suas características físicas
e químicas.
Uma regra geral para misturas que satisfazem as características físicas
convenientes é:
Quadro 1 - Regra geral para misturas
Outras composições poderão ser utilizadas conforme poderá ver
no Manual do Viveiro Florestal ou no anexo deste capítulo.
7. Ferramentas do viveiro
As ferramentas a usar devem ser simples mas de boa qualidade.
Normalmente o maior custo do material de boa qualidade é largamente
compensado pela sua maior durabilidade e qualidade das operações
que executa. A sua manutenção cuidada deve ser uma preocupação
contínua do responsável pelo viveiro: navalhas de enxertia, secadores,
pás, ancinhos, etc. devem ser conservadas limpas e em perfeitas condições
de operação.
Regadores ou mangueiras com dispersões finas ou aspersores, se a rega
se vier a fazer por rega de aspersão, devem ser usados para aplicação
uniforme de água às plantas. Quanto à lista do material base veja-se
lista do material de viveiro no Manual do Viveiro Florestal.
8. Problemas comuns nos viveiros
O objectivo de um bom viveirista é a produção económica e tão rápida
quanto possível de plantas, sadias e de estrutura uniforme, capazes
de se estabelecerem rapidamente no campo e em boas condições.
Para isso o viveirista tem de estar alertado para alguns problemas
comuns que podem interferir negativamente com aqueles objectivos,
tais como:
Falta de abastecimento fiável de água;
Atrasos no fornecimento de adubos, ferramentas entre outros;
Higiene insuficiente no viveiro;
Planeamento desadequado.
Alguns problemas relacionam-se com uma má realização das infra-
estruturas e só podem ser mitigados com inputs adequados de ordem
financeira e de mão-de-obra, mas outros resultam, simplesmente,
de falhas de gestão e que podem ser ultrapassados com alterações
simples de rotinas e de operação ou de calendários.
9. Gestão do viveiro
A plantação de plantas de qualidade requer uma gestão adequada.
Muitas pessoas negligenciam este elemento essencial. Insiste-se que
uma produção de plantas de qualidade é necessária para garantir
o futuro de uma árvore de boa qualidade produtiva. Plantas produzidas
sob condições medíocres nunca terão boas performances quando
futuramente postas no terreno.
9.1 Problemas comuns num viveiro de produção de fruteiras
Não obstante estes problemas já terem sido tratados (Veja-se Manual
do Viveirista Florestal), embora na perspectiva das plantas florestais,
lembra-se que há muitos pontos em comum com os que se colocam
às fruteiras lenhosas pelo que não se afigura necessário repeti-los. Será
suficiente lembrar que o objectivo de um bom viveirista é o de produzir
em tempo adequado (implicações no custo unitário de produção
de cada planta) plantas uniformes e sadias com um sistema radicular
forte e fibroso permitindo a sua sobrevivência e estabelecimento rápido
após plantação. Muitos destes objectivos não se concretizam por várias
razões que se listam no quadro que se transcreve abaixo.
Um bom planeamento joga aqui um papel essencial para garantir
a entrega das plantas em tempos adequados na época de plantação
e para garantir que nessa data as plantas atingiram estágios
de desenvolvimento convenientes para a sua sobrevivência pós-plantação.
Este planeamento passa por definir qual vai ser o esforço de produção
de plantas, para que possam ser previstas as datas de enxertia,
de repicagem e de germinação bem como o cálculo de sementes
a adquirir, área dos canteiros e volumes de substrato a preparar. Os
passos a dar são idênticos aos que estão explanados no Manual
do Viveiro Florestal.
Quadro 2 - Causas para o fraco desenvolvimento das plantas
e sugestões de correcção
14
Causas para o fraco
desenvolvimento
das plantas
Condições de iluminação
desadequadas
Rega desadequada
Plantas demasiado
crescidas
Sugestões de correcção
1. Proteja as plântulas da insolação directa
com ensombramento (aproximadamente 50%
nas condições do Município de Ecunha);
2. Reduza gradualmente a sombra antes de
pôr a plantas à luz directa para atempamento;
3. Plante com densidades baixas para permitir
luz suficiente nas camas de propagação.
1. Regue no princípio da manhã ou no fim
da tarde para evitar queimar as folhas;
2. Regue as raízes nos vasos ou na terra e não
sobre as folhas;
3. Use um dispersor fino no regador ou se se
tratar de mangueira garanta que dispõe de um
dispersor fino para evitar que comece
a descalçar as plantas;
4. Garanta que o sistema radicular está
abastecido de água e que esta é suficiente
para atingir o fundo dos sacos mas sem que
escorra porque isso representa uma lavagem
dos nutrientes que se perdem;
5. Assegure-se que a drenagem está a correr
de forma satisfatória.
1. Assegure-se que as plantas produzidas são
lotadas em 3 classes: qualidade A; qualidade
B e C (plantas a rejeitar e que nunca devem
ser expedidas para o campo).
9.2 Timing
O factor mais decisivo na fixação do tempo adequado para a plantação
é a disponibilidade hídrica do solo. A menos que haja irrigação,
e em muitas zonas da Comuna do Quipeio os agricultores dispõe
de irrigação, a altura mais favorável para plantação situa-se nos dois
meses que antecedem o fim da época de chuva ou seja nos meses
de Abril e Maio.
Um outro ponto a considerar quando se prepara o plano de trabalho
no viveiro e a sua conjugação com o plano de distribuição de plantas
para o agricultor, é o método de reprodução e multiplicação adoptado.
É importante considerar que se se tratar de uma espécie de enraizamento
fácil o ciclo de produção de plantas é muito mais rápido do que quando
se tem de socorrer à enxertia feita em plantas produzidas por semente.
Fig. 2 - À esquerda estacas de marmeleiro preparadas para plantação ao ar livre
no início da primavera. À direita as estacas já enraizadas e prontas para ir para
a terra depois de um verão de crescimento.
9.3 Retroacção
Uma boa gestão do viveiro não termina com a produção de plantas
e a sua expedição para os agricultores. A apreciação do comportamento
do material disseminado, das suas características produtivas e das
características organoléticas das diferentes variedades faz parte de uma
boa gestão do viveiro. É um elemento motivador e justificador quanto
à introdução de novas variedades, da procura de métodos de propagação
mais expedidos e económicos e uma forma de apreciação das reacções
do mercado. Quer isto dizer que o responsável pelo viveiro frutícola
deve manter um contacto tão estreito quanto possível com os agricultores
e, com eles, fazer uma apreciação crítica quanto ao comportamento
dos pomares que vão sendo plantados.
10. Propagação de fruteiras
Há dois métodos principais de propagação de fruteiras arbóreas:
Por via vegetativa ou assexuada;
Por semente ou sexuada.
Ambas as formas ocorrem nas plantas vivas na natureza. De facto,
na natureza, algumas plantas reproduzem-se principalmente por via
vegetativa enquanto outras dependem quase exclusivamente
da reprodução sexuada (sementes). Para o viveirista ou o melhorador
de plantas é desejável ser capaz de manipular a reprodução sexuada
e a vegetativa.
Geneticamente as duas vias de propagação diferem; as sementes contêm
os genes da mãe (de onde colectamos a semente) e do pai (que contribui
com o pólen) que é quase sempre desconhecido. Quanto à propagação
vegetativa o material de reprodução é geneticamente idêntico à planta
mãe de onde é colectado.
10.1 Propagação vegetativa
A propagação vegetativa refere-se à propagação de novas plantas
directamente das espécies ou variedades existentes sem recurso a sementes,
para além da que é necessária para servir de suporte à enxertia.
15
Há quatro usos principais da propagação vegetativa:
O estabelecimento de bancos clonais para a produção de sementes;
O estabelecimento de bancos clonais ou de germoplasma;
A propagação de material especialmente melhorado ou de carac-
terísticas particulares que nos interessa propagar (ex: híbridos
excepcionais cujas características geralmente se perde com
a propagação por semente, como sucede a muitas fruteiras);
Propagação massal de material seleccionado.
As principais vantagens da propagação vegetativa são:
Obtenção de árvores com as características requeridas de uma
forma relativamente rápida. A descendência tem as mesmas quali-
dades e características da árvore-mãe;
Obtenção de árvores que atingem um estádio de produção
de frutos muito mais célere.
Há várias formas de propagação vegetativa. Os três tipos principais
de propagação vegetativa: as estacas, a enxertia e a mergulhia. Os três
métodos são referidos como macropropagação em alternativa aos
métodos de micropropagação ou de cultura de tecidos. A propagação
por via de estacas é a mais barata e sempre que possível a preferida.
A mergulhia é uma variação da propagação por estacas na qual as raízes
se formam antes da separação do ramo da planta-mãe. Na enxertia,
o garfo feito da árvore que se deseja propagar é unido ao cavalo (parte
que está já com raiz) de origem genética diferente.
O método a usar em cada situação específica e planta a trabalhar
é uma questão de experiência disponível para cada espécie mais
o propósito e as condições disponíveis para a propagação. O guia que
se apresenta restringe-se a abordar as metodologias básicas e conceitos,
que naturalmente não dispensa que o pessoal de viveiro que vier a ser
afecto ao trabalho de propagação de fruteiras efectue uma aprendizagem
em ambiente de trabalho com técnico especializado.
10.1.1 Manuseamento do material de propagação vegetativa
O material de propagação vegetativa é geralmente muito mais sensível
à dissecação ou outros acidentes do que as sementes. É por isso
particularmente importante prestar atenção aos cuidados de manu-
seamento. Tenha assim em atenção os procedimentos seguintes:
O material de propagação deve ser conservado ao abrigo da inso-
lação solar directa;
O material, principalmente os gomos, devem ser tirados na altura
mais próxima possível da operação;
Períodos longos de armazenamento devem ser evitados;
Se o armazenamento for necessário, deve ser feito numa sala
ou estufa fria e húmida;
Durante o transporte e a armazenagem devem adoptar-se medidas
de prevenção contra a dissecação;
O material deve ser manuseado com cuidado por forma a que
os gomos não sejam danificados;
Todas as flores e gomos florais devem ser removidos do material;
O material vegetativo possui polaridade, i. e. diferenças fisiológicas
entre as extremidades distal e proximal. Na propagação vegetativa
onde seja difícil distinguir entre as duas extermidades um dos extremos
a parte de baixo ou acima do eixo de crescimento normal do ramo
deve ser marcada.
10.1.2 Estacas
Em propagação vegetativa designa-se por estaca uma porção de tronco,
raiz ou folha de uma árvore-mãe que é induzida a formar raízes
e lançamentos por intervenção de meios químicos, mecânicos e/ou
manipulação ambiental. Na maior parte dos casos a nova planta
independente é um clone, que é idêntico à planta mãe.
Quanto ao uso de estacas que, como se disse, é o material e o método
mais barato, ocorrem alguns constrangimentos como os que se referem:
16
Quais são os obstáculos?
As estacas não serem as mais adequadas;
Não estarem disponíveis as quantidades de estacas pretendidas;
Os lançamentos só estarem disponíveis uma vez por ano;
As estacas não enraizarem bem;
O pomar do germoplasma base envelhece produzindo menos
lançamentos.
Que medidas são usadas para ultrapassar as dificuldades?
Podar as plantas para encorajar a emissão de bons lançamentos;
Plantar muitas fiadas de cada clone; melhore a fertilidade do solo;
Regar durante a estação seca (cacimbo) e proteger o solo com
“mulch” para reduzir a evaporação da água do solo;
Fazer uma poda intensiva das plantas-mãe, introduzir som-
breamento, protecção do solo e fertilizar para repor os níveis
de fertilidade do solo;
Interplantar os talhões de germoplasma com leguminosas
herbáceas de cobertura ou com uma espécie arbórea de uso misto
(forragem, carvão ou lenha) como a Leucaena sp. separando os clones
o que torna mais simples a sua gestão;
Não deixar que as plantas do stock base do germoplasma cresçam
desenvolvendo-se excessivamente em altura.
10.1.3 Enxertia
Esta operação consiste na junção de uma peça do tronco do rebento
(a estaca ou garfo) com outra planta quase sempre da mesma espécie,
não obrigatoriamente da mesma variedade (o cavalo) e que está
na terra ou em vaso e que providencia o sistema radicular. Esta operação
de enxertia é normalmente feita para:
Propagar variedades que não podem ser directamente propagadas
por outros meios;
Obter os benefícios das plantas que providenciam a raiz (ou por
serem mais resistentes a doenças ou insectos radiculares, serem mais
resistentes a determinados condicionantes climáticos ou meteo-
rológicos, por exemplo);
Mudança dos cultivares existentes, com ou sem plantação de uma
nova árvore;
Aceleração da maturidade reprodutiva das plantas;
Reparação de partes danificadas da árvore.
Fig. 3 - Ciclo de produção de fruteiras
Rebentos/garfos
Chama-se rebento, ou mais vulgarmente garfo, a uma pequena peça
de um rebento ou lançamento com vários gomos dormentes que quando
unidos com a planta portadora de raiz (cavalo) constituiram a parte
superior da árvore enxertada.
Cavalo
Designa-se por cavalo a parte inferior do enxerto, que sustenta o sistema
radicular da árvore enxertada. Este é obtido por via seminal ou por
estaca que é posta a enraizar.
17
Estacas para produçãodirecta de plantas
Fruteiras com qualidadeidêntica ao material base
Produção de plantaspor semente
Plantas enxertadas
Sementes
Germoplasma Base(Colecção base
de fruteirasde qualidade)
Estacas para enxertia:estacas e gomos
Fig. 4 - Modelo do ciclo de vida clonal ilustrando o crescimento e desenvolvimento
de um clone vegetativamente propagado
Fig. 5 - Nas plantas enxertadas a parte aérea deriva do crescimento
e desenvolvimento de um ou mais gomos no rebento. O sistema radicular
é uma extensão do sistema radicular do cavalo obtido por via seminal ou por
estaca. A zona de união do enxerto mantém-se toda a vida da árvores.
10.1.4 Mergulhia
É um método de propagação em que a formação de raízes é induzida
num ramo enquanto o mesmo permanece ligado à árvore. Quando
as raízes se formaram no ramo este é separado da árvore mãe tornando-
se numa planta independente com as suas raízes próprias. Este sistema
de propagação é habitualmente utilizado nas seguintes situações:
Propagação de plantas cujas estacas não enraízam facilmente;
Produção de plantas de boa dimensão em pouco tempo;
Produção de plantas quando não se dispõe de um mínimo de meios
de propagação;
Produção de plantas que naturalmente se reproduzem por mergulhia.
Enraizamento de estacas
Esta fase é feita usualmente encorajando a formação de raízes adventícias
na própria estaca. A estaca enraizada torna-se depois da diferenciação
do seu sistema radicular numa planta independente.
Fig. 6 - Emergência de raízes adventícias em estacas de ameixeira
18
cavalo com o sistemade suporte da raiz
Pontos vegetativosde crescimento
Fase reprodutiva
Frutos
Semente
Flores
Fase vegetativa
Gomos Garfos Estacas Explants
o gomozona de enxertia dá origem à copa
dá origem à raiz
por estacapor via seminal
As estacas postas a enraizar podem estar em quatro estádios de desen-
volvimento: inteiramente lenhificadas, semi-lenhificadas, pouco
lenhificadas e herbáceas. Na propagação com estacas caulinares,
os segmentos dos lançamentos com gomos laterais e terminais são
obtidos na expectativa de que, sob condições apropriadas as raízes
adventícias se desenvolvam e produzam uma planta independente.
As estacas herbáceas são de lançamentos muito juvenis; estes secam
muito rapidamente pelo que é necessário conservá-los em propagadores
com atmosfera húmida ou sob rega muito fina até que se forme
o sistema radicular e as plantas possam absorver água pelo sistema
radicular.
As estacas lenhificadas são aquelas consideradas em estado maduro,
em que os gomos estão numa fase dormente depois da abcisão
das folhas e antes que novos lançamentos emirjam antes da primavera.
Estas estacas são as menos custosas de enraizar e os procedimentos
técnicos são os mais simples. A sua preparação é fácil e não são facilmente
perecíveis. Podem, por isso, ser expedidas para longas distâncias, se tal
for necessário, de forma fácil e não necessitam de equipamento especial
durante o enraizamento. As estacas enraizadas são também facilmente
transplantadas.
A preparação das estacas processa-se durante a estação de dormência
(as espécies não se apresentam em crescimento - época de cacimbo,
ou logo antes de começar a época das chuvas) e da estação
de crescimento prévia. Deve dizer-se, contudo, que para certas espécies
fruteiras como a figueira, e certos cultivares de ameixeira podem usar-
se estacas de dois ou mais anos. O comprimento das estacas varia
consideravelmente oscilando de 10 a 76 cm. Quando se usam estacas
longas, para que sirvam de suporte enraizado à enxertia, elas permitem
a inserção do gomo ou do rebento da cultivar pretendida. Nestas estacas
incluem-se dois nós; a parte basal da estaca é justamente abaixo
do nó e a secção de topo 1,3 a 2,5 cm acima do nó.
Nas operações correntes, os práticos limitam-se, quase sempre,
a considerar como mais importantes apenas dois tipos: as estacas
herbáceas e as lenhificadas ou duras em termos de gíria. Para estas
os preparativos de selecção são:
Quadro 3 - Preparativos de Selecção
19
Estacas lenhificadas
Todas as folhas são seccionadas
Ramos juvenis. Partes centrais ou
basais dos lançamentos (estacas
basais) ou partes do fim das
estacas (estacas das pontas)
Comprimento de 10-76 cm com
pelo menos dois nós;
Diâmetro entre 6-25 mm
Corte basal feito justamente
abaixo do nó.
Nas estacas basais o
seccionamento de topo é feito
entre 15-25 mm acima do nó
Estacas herbáceas
Remover as folhas das partes
inferiores
Rametes jovens. Recolher sempre
as zonas das pontas. As melhores
estacas têm sempre um certo
grau de flexibilidade mas são
suficientemente lenhificadas para
quebrar quando rapidamente
dobradas
Comprimento de 75-125 mm
com dois ou mais gomos
Corte basal feito justamente
abaixo do nó
Na Figura 7 exemplifica-se as diferentes estacas utilizadas para
enraizamento.
Fig. 7 - Estacas preparadas a partir dos lançamentos
Atende-se que na preparação de estacas com internós curtos pouca
atenção é dada à posição da secção basal, especialmente quando são
preparadas muitas estacas e, normalmente, com o uso de uma serra
mecânica. Nestes casos é útil evitar a dissecação das estacas o que
se faz embebendo os topos com cera. O diâmetro das estacas varia
entre os 0,6 e 2,5 ou mesmo os 5 cm conforme as espécies.
Fig. 8 - Preparação de estacas com uma serra mecânica. Este método é muito
mais rápido do que aquele feito com uma tesoura de poda e em muitos casos
igualmente bons resultados.
Há, no entanto, outras intervenções que podem e devem ser realizadas
nos lançamentos para preparar as estacas principalmente as que
referimos:
Remova a madeira que tenha lascado ou esmagada pois mais
facilmente apodrece;
Reduza a dimensão da estaca se o lançamento é bastante longo;
Corte a base perpendicularmente ao eixo pois caso contrário
o sistema radicular ficará assimétrico;
Corte as estacas onde é mais provável que se desenvolvam as raízes
(i.e. justamente abaixo do nó);
Remova o látex ou mucilagens que se desenvolvam na zona
de corte porque elas podem impedir a entrada das auxinas;
Seccione as folhas largas nas zonas superiores e remova qualquer
material morto;
Remova as folhas da secção inferior mas deixe sempre uma
no topo;
Retire os pequenos ramos laterais que ficaram subterrados;
Em espécies com duas folhas opostas, remova um ou dois gomos
para produzir uma planta que não tenha uma forquilha na base.
Fig. 9 - Como preparar as estacas a partir de um lançamento retirado da árvore-
mãe
20
Nó singular 2 nós nós múltiplos estaca dividida ao meio
Não esqueça a forte polaridade das estacas. Especialmente para
as estacas lenhificadas não se esqueça que é importante não as colocar
de cabeça para baixo. Se for necessário faça um entalhe na parte basal.
Os diferentes tipos de estacas utilizadas exemplificam-se na fig. 10.
As estacas lenhificadas são maiores e não secam tão rapidamente
podendo sobreviver em solo húmido, habitualmente em caixas
de germinação ou mesmo em solo húmido até formação das raízes.
Neste tipo de estacas é mais fácil que elas enraízem retirando-lhes
as folhas e quase sempre se aumenta a taxa de sucesso com a passagem
da extremidade que vai para o solo por produtos indutores, auxinas
e co-factores da formação de raízes como sejam, entre outros, os ácidos
indolacético e giberélico. Nestes casos a base da estaca é pura
e simplesmente enfiada no substrato humedecido e com sombreamento
adequado, pelo menos nas épocas do dia de mais forte insolação.
Fig 10 - Tipos de estacas lenhosas
Quadro 4 - Reguladores de Crescimento
Em muitas espécies, ou variedades, aconselha-se a abrir uma fenda
na base da estaca que vai para o solo antes de a passar pela auxina pois
a experiência mostrou que a taxa de enraizamento é significativamente
maior.
Fig. 11 - Fenda na base da estaca antes do tratamento com auxina
21
Quatro tipos de estacas lenhificadas:
a-c: Estacas basais (a-mallet; b-heel;
c-recta); d-estacas de topo
Ramo indicando
as partes de onde
tirar as estacas
REGULADORES DE CRESCIMENTO QUE INFLUENCIAM
A INICIAÇÃO DAS RAÍZES
AUXINAS São compostos que podem induzir o alonga-
mento das estacas;
CITOQUININAS São reguladores do crescimento que promovem
a divisão celular na presença de níveis óptimos
de auxina;
GIBERLINAS São compostos que podem estimular a divisão
ou o alongamento celular ou ambos numa planta
intacta;
ÁCIDO ABSSISICO Pode inibir o crescimento; Ajuda a regular
a dormência, o controlo estomático e outras
funções na planta;
ETILENO É um gás envolvido na regulação do amadure-
cimento, dormência e outros processos
de desenvolvimento.
O grau de lenficação, o estágio de crescimento, a estação do ano em
que se retira a estaca e um conjunto de outros factores onde se incluem
as condições de temperatura, insolação e humidade utilizada nos
propagadores, ou na terra se a propagação se processar ao ar livre, são
muito importantes para garantir um enraizamento satisfatório.
É assim importante, se se tratar de uma espécie para a qual não exista
conhecimento como sucede com o “loengo”, que o viveirista conserve
registos detalhados dos procedimentos que experimenta, as condições
ambientais e as condições de desenvolvimento das estacas por forma
que possa reproduzir as condições em que obteve os melhores resultados.
Independentemente do aumento da taxa de sucesso ao enraizamento
atente-se que as estacas juvenis apresentam sempre uma taxa
de sucesso superior às mais velhas. De lembrar também que é essencial
ter particular atenção à polaridade da estaca. Isto quer dizer que
as estacas devem ser colocadas na terra com os gomos dirigidos com
as pontas para cima tal e qual como se apresentam naturalmente
na árvore. Caso contrário as raízes têm a tendência de ficar orientadas
contrariamente ao esperado e a planta tornar-se-á inviável.
Nem todas as plantas têm o mesmo comportamento à multiplicação
vegetativa e à formação de raízes adventícias. Nesta conformidade elas
são divididas em três classes:
1. Aquelas em que os tecidos proporcionam todas as substâncias,
incluindo as auxinas, essenciais para a iniciação das raízes. Nestas,
quando se cortam as estacas e as colocamos sob condições ambientais
próprias formam-se rapidamente raízes;
2. Aquelas em que ocorrem naturalmente os co-factores de iniciação
radicular em quantidades suficientes, mas em que as auxinas são
insuficientes. Nestas a aplicação de auxinas promove de forma muito
positiva o desenvolvimento das raízes;
3. Aquelas em que falta um ou mais do que um dos co-factores mesmo
quando a auxina possa ocorrer ou não em abundância.
A aplicação externa de auxina não produz, habitualmente, efeito dada
a ausência de um dos indutores. A respeito deste último grupo certos
especialistas em reprodução vegetativa (Hassing2, 1973) postularam
que a falta de iniciação de raízes em resposta à aplicação de auxina
(ou de auxina nativa) pode ser devida a uma ou mais situações:
a. Falta das auxinas necessárias para sintetizar o conjunto de auxinas
fenólicas;
b. Falta de activadores auxínicos;
c. Presença de enzimas inibidores;
d. Falta de substratos fenólicos;
e. Separação física de reagentes enzimáticos devido à compar-timentação
celular.
22
Fig. 12 - Esquematização das etapas de enraizamento de estacas lenhosas. Topo
esquerdo: Preparação das estacas a partir de lançamentos de um ano em estágio
dormente e sem folhas (comprimento comum 15 a 20 cm sendo a secção basal
justamente abaixo do nó); Topo direito: Tratando as estacas com promotor
de enraizamento; na 1ª imagem as estacas são passadas numa preparação
comercial de talco; na 2ª imagem as estacas permanecem em embebição numa
solução diluída de um promotor de enraizamento; Faixa central a começar
da esquerda: As estacas podem ser plantadas imediatamente mas para muitas
espécies a taxa de sucesso aumenta deixando-se formar um calus de cicatrização
numa caixa de serradura humedecida ou em musgo; enterramento das estacas
no solo ou em substrato adequado se se usarem estufas; Faixa inferior:
Enterramento das estacas usando uma colher de viveirista; à direita algumas
semanas após plantação as estacas começam a apresentar o desabrolhamento
dos gomos e a emitir folhas. (adp. Hudson, T. H et. al.(1990) Plant Propagation.
Prentice_Hall).
Factores que afectam a regeneração de plantas pelo processo
das estacas
Há grandes diferenças entre espécies, e mesmo dentro das espécies,
quanto ao comportamento na formação de raízes. Testes empíricos
com cada cultivar são necessários para determinar essas diferenças.
Para muitas espécies e variedades há já uma base extensa
de conhecimentos enquanto que, para outras, a informação é escassa
e parcial ou mesmo nula (como sucede com muitas espécies úteis
da mata de miombo produtoras de frutos). Não obstante o montante
de conhecimentos existente sobre algumas espécies, é bastante útil
que os viveiros que se dedicam à produção de plantas por via vegetativa
tenham apoio, ou contacto próximo, com os serviços de investi-
gação/experimentação. Em qualquer caso, e independentemente
do apoio que possa ter desses serviços, é importante que o viveirista
tenha em atenção um conjunto de factores que são importantes para
o sucesso da sua actividade e para que se alcancem elevados valores
de radicação de estacas no viveiro.
Os factores que o viveirista tem de ter em atenção são:
Selecção das estacas a partir das plantas mães
1. Condições ambientais e fisiológicas das plantas mães, nomeadamente
a existência de stresses hídricos, temperatura, luz (intensidade,
fotoperíodo, qualidade da insolação), nível de vigor vegetativo,
enriquecimento em CO2, (relação C/N), teores de carbohidratos, nutrição
mineral e seccionamento anelar;
2. Rejuvenescimento e condicionamento das plantas mães antes
de retirar as estacas;
3. Tipo de atempamento da estaca;
4. Estação da intervenção.
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24
Tratamento das estacas
1. Armazenamento das estacas;
2. Reguladores de crescimento;
3. Nutrição mineral das estacas;
4. Lixiviação dos nutrientes;
5. Fungicidas;
6. Nível de execução do corte para evitar o esmagamento dos tecidos.
Condições ambientais durante o enraizamento
1. Condições hídricas das condições de enraizamento;
2. Temperatura;
3. Luz (insolação, fotoperíodo, qualidade);
4. Aplicação de técnica aceleradas de crescimento;
5. Fotossíntese das estacas;
6. Meio de enraizamento.
Fazer o corte das estacas
A boa preparação das estacas é uma condição prévia de sucesso para
o enraizamento. Em termos genéricos é importante:
1. Usar ferramentas bem afiadas;
2. Dois terços das estacas devem ficar inseridas no substrato;
3. Que a base da estaca seja cortada perpendicularmente e a parte
superior cortada em bisel;
4. Regar com frequência de preferência usando aspersão muito fina
ou o nevoeiro artificial;
5. Que quando as estacas estejam enraizadas (perceptível pelo seu
alongamento) sejam transplantadas para recipientes (sacos, tabuleiros,
vasos, etc.) para desenvolvimento futuro, antes de serem transplantadas
para os locais definitivos.
Localização dos lançamentos para obtenção das estacas
A localização dos lançamentos de onde se extraem as estacas, ou
os rebentos ou gomos para as enxertias, devem ser particularmente
atendidas pelo responsável do viveiro que deve supervisar a sua obtenção.
Assim deve, de todo, evitar:
A recolha de lançamentos dos ramos horizontais ou lançamentos
com hábito de crescimento aplanado;
A colheita de lançamentos das zonas mais adultas das árvores
porque as suas estacas enraízam mais dificilmente;
A colheita de estacas demasiado grossas porque a sua capacidade
de enraizamento é mais difícil e problemática.
Fig. 13 - Esquema indicativo dos lançamentos que deve escolher quer
na produção de estacas quer para obtenção dos rebentos ou gomos para enxertia
O conhecimento hoje disponível mostra que enxertias ou estacas
provenientes de ramos laterais ou com hábitos aplanados típicos
dos ramos laterais produzem árvores mal conformadas, o que diminui
a sua produção ou dificulta sempre as operações de colheita.
Fig 14 - Efeito da polaridade do rebento de enxertia. À esquerda: Um cafeeiro
enxertado bem conformado, à direita outro mal conformado porque enxertado
com um garfo de um ramos lateral.
Fig. 15 - Outra ilustração do efeito da polaridade da estaca utilizada. Além
da posição do lançamento após enraizamento veja-se a diferença
no desenvolvimento do sistema radicular.
O que poderia ter corrido mal?
Em termos sintéticos e como guia para o viveirista, o diagnóstico
dos problemas podem sintetizar-se de acordo com a listagem feita
abaixo:
As estacas têm gomos florais mas nenhum ou poucos gomos
vegetativos;
As estacas foram retiradas de partes já muito velhas da planta;
As estacas não foram seccionadas das árvores em tempo
apropriado;
As estacas ficaram secas antes do enraizamento se ter iniciado
ou durante o processo de enraizamento;
Os níveis hormonais na estaca eram bastante baixos para promover
a iniciação e desenvolvimento radicular; o tratamento com as auxinas
não foi suficiente (tratamento muito curto, o teor de auxina muito
baixo ou a auxina já deteriorada);
O meio de enraizamento não era o adequado para a formação
de raízes naquela espécie ou clone;
As estacas foram postas a enraizar com na secção distal no meio
de enraizamento;
As estacas foram atacadas pelos fungos;
As condições ambientais para o enraizamento não eram
as apropriadas, por exemplo: muito húmidas (falta de arejamento)
ou muito secas, ou desadequação da temperatura durante a formação
de raízes.
Estes considerandos mostram que as bases científicas da formação
das raízes adventícias permanece ainda obscura e o seu desenvolvimento,
principalmente para espécies que não passaram ainda por um processo
de domesticação, como sucede com muitas espécies do miombo
produtoras de frutos com interesse alimentar e comercial como
o “loengo”, requerem um input sério dos sectores de investigação/
experimentação antes que a actividade do viveiro possa abalançar-se
na reprodução de algumas espécies com interesse local.
25
26
10.2 Produção de plantas por via sexuada
Quando o processo de multiplicação for o de enxertia, quase sempre
por dificuldades de enraizamento, é necessário dispor-se de plantas
enraizadas de espécies compatíveis, habitualmente a mesma espécie,
e que são obtidas por via seminal.
10.2.1 Sementeira
As técnicas e procedimentos a usar são as mesmas descritas no Manual
do Viveiro Florestal pelo que se remete para ele a aprendizagem das
mesmas.
10.2.2 Transplantação (Repicagem) das plântulas
A transplantação envolve a movimentação das plântulas dos seminários
para recipientes individuais com o objectivo de ter as plântulas a crescer
individual e vigorosamente por se ter evitado a competição. A operação
e os processos são idênticos às já descritas no manual já mencionado
e elaborado no contexto deste projecto. Há, no entanto, pequenas
diferenças que resultam de objectivos diferentes entre o repovoamento
florestal e o das fruteiras. Os passos dos procedimentos são:
1. À medida que as plântulas se tornam maiores nos plantórios,
nos vasos ou tabuleiros, elas devem ser transplantadas para recipientes
maiores para possibilitar o seu desenvolvimento e evitar que as raízes
fiquem deformadas, o que fará perigar o futuro das árvores na plantação;
2. Se a operação não for feita em tempo, a densidade por área das
plantas fica exagerada e começam a perder vigor;
3. A repicagem deve efectuar-se quando as duas primeiras folhas abrem;
4. Os seminários devem ser bem regados nas vinte e quatro horas que
precedem a repicagem;
5. As plântulas devem ser levantadas com uma haste plana ou um sacho
de plantação. Só plantas sãs e bem conformadas devem ser repicadas;
6. Segure sempre as pequenas plântulas pelas folhas e nunca pelos
troncos, uma vez que estes são muito frágeis;
7. No caso de raízes muito longas pode-as com uma tesoura bem afiada
ou mesmo com as unhas;
8. Não faça a repicagem ao sol ou com ventos secos muito fortes.
Para a plantação faça as cavidades bem fundas nos plantórios ou nos
recipientes e no seu centro se for esta a opção. As raízes não devem
ficar dobradas ou com as pontas viradas para cima. O buraco deve ser
fechado com delicadeza pressionando o solo com o dedo à volta da
planta. Tenha cuidado para não deixar espaços de ar à volta das raízes.
Após a repicagem as plântulas devem ser regadas e sombreadas
imediatamente após a operação.
10.2.3 A plantação nos recipientes
Apesar deste assunto já ter sido tratado no Manual do Viveiro Florestal
assinalam-se os seguintes pontos:
1. O viveirista tem a capacidade de escolher o tipo de recipiente
e tamanho mais conveniente, embora no caso de Ecunha haja condicio-
namentos de mercado que são susceptíveis de limitá-la;
2. A definição prévia da dimensão pretendida para as plantas a distribuir
ao agricultor. Esta é importante na decisão quanto à dimensão
dos recipientes a utilizar;
3. A escolha de recipientes muito pequenos, atendendo a que
normalmente o tempo de permanência no viveiro é mais longa do que
para as plantas florestais. Este facto leva à produção de plantas com
raízes deformadas que inviabilizam o futuro produtivo e a vida útil
da árvore;
4. As plântulas devem ser colocadas nos recipientes na profundidade
certa.
27
Fig. 16 - Raiz deformada de uma fruteira plantada com sistema radicular
já enrolado por longa permanência no vaso ou por uso de recipiente desadequado
10.2.4 Rega
Seguir as orientações e procedimentos descritos no Manual do Viveiro
Florestal.
10.2.5 Nutrição
As exigências das fruteiras são na sua generalidade maiores do que as
das plântulas florestais, principalmente porque a sua biomassa é superior.
É assim importante que:
1. A composição do substrato seja suficiente para alimentar a planta
sem necessidade de suplementos adicionais;
2. Plantas muitos exigentes e de maior dimensão, como são as fruteiras
para plantação, e que permanecem nos recipientes por tempo mais
longo, correm o risco de esgotar o solo obrigando a adições suplementares
de nutrientes. Para orientação quanto aos sintomas de falta de nutrientes
siga as descrições desenvolvidas no manual já mencionado;
3. Alguns nutrientes podem ser lixiviados (arrastados para fora
do alcance das raízes) porque as plantas são regadas a partir do topo
do vaso. Para diminuir este risco não faça regas excessivas com muita
água a sair dos furos de drenagem nos vasos;
4. As plântulas em pequenos vasos tendem a esgotar os nutrientes do
substrato mais cedo do que se o viveirista escolher vasos de maior
dimensão;
5. Quando tenha de efectuar adição suplementar de nutrientes lembre-
se que a aplicação de nutrientes líquidos é mais económica que
os adubos granulados.
10.2.6 Poda das raízes
As razões da sua necessidade e procedimentos para a sua realização
são idênticas às já descritas para as plântulas florestais pelo que
não serão repetidas.
10.2.7 Rustificação
Este é um processo destinado a fazer com que as plantas gradualmente
fiquem aptas a resistir às condições de campo pós plantação e que são,
naturalmente, mais adversas do que as de viveiro. Esta operação envolve
a exposição das plantas à insolação directa e à gradual redução
da frequência de regas. Este processo de adaptação deve iniciar-se cerca
de um a dois meses antes da plantação. A rustificação deve atingir
os seguintes objectivos:
Os troncos ficam mais duros e lenhificados;
As copas tornam-se relativamente mais curtas mas mais vigorosas;
O sistema radicular torna-se mais compacto e bem desenvolvido;
O processo necessita ser cuidadosamente vigiado para evitar
o emurchecimento forte das plantas e mesmo a morte.
10.2.8 Classificação
Quando estiver a preparar as plantas para expedição é essencial
seleccionar as fruteiras que se apresentam sãs com os seguintes atributos:
O lançamento da parte aérea deve ter uma a duas vezes mais
comprimento que as raízes (isto é do recipiente);
Um tronco forte, bem lenhificado e o colar da base bem
desenvolvido;
Uma copa simétrica e bem conformada;
Um sistema radicular com muitas raízes finas em conjugação com
a raiz principal.
11. Pragas e doenças
Várias doenças atacam as fruteiras no viveiro. O seu controlo é essencial
para que seja possível produzir plantas de qualidade sendo necessário
garantir que as plantas distribuídas à lavoura não vão ser veículos
de disseminação de pragas e doenças.
As doenças comuns em viveiro são:
Térmitas;
Grilos;
Lagartas cortadoras;
Gafanhotos;
Afídeos;
Cochenilas.
Se bem que os insectos possam ser retirados manualmente, isto
só é viável quando o seu número é muito reduzido. Quando sucede
uma praga ou doença, o viveirista deve entrar em contacto com
os serviços de assistência à agricultura ou contactar com os serviços
do Instituto de Investigação Agronómica no Huambo para uma prescrição
de tratamento adequada à natureza e intensidade da praga.
12. Enxertias
As origens da enxertia remontam aos tempos históricos. Há evidências
que mostram que a arte de enxertar era já praticada pelos chineses tão
cedo como 1000 a.C. No tempo dos romanos a enxertia era popular.
No período da Renascença (1350 - 1600 d.C.) a enxertia voltou
a mostrar renovado interesse principalmente com uma expansão
na Europa de novas espécies e variedades que eram mantidas
ou propagadas por enxertia.
Em termos de terminologia é bom que se distingam dois termos:
Enxertia e borbulhia, mais frequentemente chamada enxertia de borbulha.
A diferença é que no caso da borbulhia o garfo é reduzido a um único
gomo. Ao longo dos anos os produtores de fruteiras aprenderam que
algumas plantas são difíceis de enraizar por estaca mas que podem
com facilidade transmitir por enxertia as características da planta que
querem propagar. Ao longo dos tempos foram-se desenvolvendo muitas
técnicas de enxertia por garfo e de borbulhia bem como novos
equipamentos de enxertia na procura de melhorias de produtividade
na produção de plantas. Este pequeno manual não pretende abarcar
a extensão que as diferentes formas de enxertia englobam hoje mas,
simplesmente, lembrar alguns elementos considerados importantes.
Acresce que a aptidão frutícola do planalto central é limitada quando
comparada com outras grandes regiões Angolanas. Limitamo-nos assim,
a referir alguns elementos críticos que devem ser interiorizados pelo
responsável do futuro viveiro de Ecunha e a começar a ser praticados
antes que a fruticultura nesta área tenha um significado importante
no conjunto das actividades agrícolas.
Muito do sucesso da enxertia depende não só da aptidão do enxertador
e da sua habilidade em executar uma boa enxertia, mas também
de um conjunto de procedimentos, antes e depois da enxertia e, inclusive,
da correcção da escolha da época e tempo em que a operação
é executada.
Para qualquer operação de enxertia com sucesso há cinco requisitos
importantes a ter em consideração:
O cavalo e o garfo devem ser compatíveis, devendo ser capazes
de se unirem. Normalmente, mas nem sempre, plantas botanicamente
próximas, por exemplo duas cultivares de mangueira, podem ser
enxertadas. Plantas menos relacionadas como uma mangueira e uma
laranjeira, não podem ser utilizadas para uma boa combinação.
A zona cambial do garfo deve ser colocada em contacto com
a do cavalo. As superfícies cortadas têm de ser mantidas forte-
mente juntas mediante fita própria de enxertia, pregagem ou juntas
próprias para garantir a união. A cicatrização rápida da união
da enxertia é fundamental para que o garfo possa ser alimentado
de água e nutrientes do cavalo na altura em que os gomos comecem
a desabrochar.
28
29
A operação de enxertia deve ser feita no tempo em que o cavalo
e o garfo estejam num estágio fisiológico próprio. Normalmente isto
significa que os gomos do garfo devem estar dormentes enquanto
os tecidos da zona de união do enxerto devem ser capazes de produzir
tecido do callus necessário à cicatrização de toda a zona de união.
Para as plantas decíduas (aquelas que perdem a folha no inverno
ou na estação seca), os tecido dos garfos estão dormentes no inverno
(estação seca ou cacimbo), data em que devem ser colectados e ser
mantidos dormentes a baixa temperatura. Os cavalos podem estar
dormentes ou em crescimento activo, dependendo do método
de enxertia utilizado.
Imediatamente depois da operação de enxertia ser efectuada,
todas as superfícies cortadas devem ser protegidas de dissecação.
Isto é feito cobrindo a união do enxerto com adesivo ou cera
de enxertia ou colocando os enxertos em material húmido ou numa
cobertura própria.
É necessário proporcionar atenção aos enxertos e ter alguns
cuidados após a operação. Lançamentos provenientes do cavalo
abaixo do enxerto podem frequentemente sufocar o desejado
desenvolvimento do garfo e em alguns casos, os lançamentos
do garfo crescem tão vigorosamente que se desprendem se não
forem suportados ou mesmo cortados.
12.1 Breve referência aos calendários. A escolha dos garfos
A escolha deve incidir sobre:
os ramos do ano;
ramos sãos, isentos de doenças, viroses ou bacterioses;
os ramos dos pés-mãe que representam tipicamente a variedade
a reproduzir.
Para os enxertos de Primavera, a recolha dos ramos considerados para
fornecer os garfos serão realizados em Julho (na altura das podas dos
talões e prolongamentos) quando a vegetação está em repouso completo.
Estes ramos são colocados inclinados, semi-enterrados, num solo são,
com exposição norte, para que os gomos evoluam o mais lentamente
possível, esperando a enxertia. Poderá pô-los numa câmara de frio
se a mesma estiver disponível. Para os enxertos de Verão, é nos
momentos precedentes à enxertia que os ramos porta-garfos são
recolhidos e desfolhados para limitar a sua dissecação por evaporação.
Para prolongar a sua boa conservação durante alguns dias, podem
embrulhar-se numa serapilheira húmida e colocá-los em lugar fresco.
12.2 Técnicas de enxertia
Dada o grande número de técnicas e formas de enxertia apresentaremos
as formas mais comuns e com maior probabilidade de uso nas fruteiras
que estarão mais aptas para o Municipio de Ecunha.
12.2.1 Enxertia de borbulhia com olho dormente
Pelas suas múltiplas vantagens é a mais praticada de todas. Citam-se
como grandes vantagens:
execução rápida;
resultados geralmente muito bons;
ferida de enxertia reduzida.
Esta técnica está na origem do tronco, ponto de partida da maioria das
nossas formas fruteiras e do garfo de olho dormente que é descrito
como sendo o mais praticado, pois que o do olho em vegetação
é de emprego limitado nos nossos viveiristas.
Modo operatório
recolha de ramos porta-borbulhas pouco tempo antes da enxertia;
desfolha total, conservando apenas 1,5 cm de pecíolo;
eliminação da base e extremidade do ramo (os seus gomos não
são viáveis);
sobre o cavalo - o local onde se fixa o garfo, é antecipadamente
isolado. Pratica-se uma incisão longitudinal e outra transversal,
formando um T. Levantam-se os ângulos do T com a espátula
e o alojamento da borbulha está pronta;
A recolha da borbulha faz-se de formas diferentes segundo
a habilidade do enxertador; em geral o ramo porta-borbulha é seguro
ao contrário e corta-se transversalmente a casca cerca de 1 cm acima
do olho escolhido. Do outro lado do olho à volta 1 cm sensivelmente,
introduz-se a lâmina da navalha de enxertia entre o lenho e a casca
até ao corte transversal. Se o gomo é recolhido com uma lasca
de lenho demasiado espessa, retira-se mas sem ferir o olho. Segura-
se a borbulha que se tem, pelo seu pecíolo, e faz-se descer no seu
prolongamento com a ajuda de navalha de enxertia. Ata-se de seguida
com a ráfia começando-se pela parte superior e descendo para melhor
se conseguir que o gomo fique bem seguro, mas sem o cobrir.
Pouco tempo depois pode-se constatar o resultado ou o fracasso
do trabalho:
se o pecíolo ficou amarelo e caiu, como as outras folhas da época,
o garfo pegou;
se o pecíolo secou e não caiu, o garfo não pegou.
Nem todas as espécies têm o mesmo tipo de alimentação de seiva, pelo
que convém enxertar primeiro aquelas cuja paragem da seiva é precoce.
Fig. 17 - Etapas básicas de execução de uma enxertia de borbulha
12.2.2 Enxertia de fenda simples
Utilizada para as Pereiras, Macieiras, Ameixoeiras, Cerejeiras, Marmeleiros,
Laranjeiras, Abacateiros etc… em porte-elevado ou porte-médio, esta
enxertia pratica-se sobretudo no início da estação de crescimento após
o início das primeiras chuvas ou mesmo em Agosto, sendo igualmente
realizável em Maio na altura do declínio da vegetação. É útil para
melhorar rapidamente a qualidade das fruteiras de uma pomar
já implantado.
Modo operatório
Em fins de Agosto, podam-se os cavalos de 1 a 3 cm de diâmetro
na altura requerida (segundo a forma em vista). Este trabalho efectua-
se com o serrote e apara-se a ferida com a navalha de enxertia.
A partir dos ramos porta-garfos recolhidos e postos em estrati-
ficação, prepara-se o garfo utilizando a parte media do ramo. Seccio-
na-se uma porção do ramo composta por 3 gomos bem constituídos.
Prossegue-se a preparação do garfo, talhando-se a sua base em
forma de cunha (os golpes começam de cada lado do primeiro gomo
de madeira).
Com a ajuda da navalha e por vezes com um pequeno maço, fende-
se o cavalo longitudinalmente sobre um só lado.
Deve-se deixar a ponta da navalha encaixada na fenda, e fazer
penetrar o garfo afastando os bordos da mesma por pressão basculante
da navalha.
A espessura das cascas dos cavalos e garfos sendo diferentes, não
podem coincidir exteriormente. Para se assegurar que as zonas
geradoras ficam em contacto o garfo deve ser ligeiramente introduzido.
Deve-se atar a enxertia com uma ligadura de ráfia.
Envolver todo o conjunto com uma quantidade suficiente de pasta
de enxertar, sem esquecer a cabeça do cavalo. Esta protecção
é indispensável, favorecendo a cicatrização e protegendo as feridas
das intempéries.
30
corte transversal
gom
os v
iáve
is
borbulhacolocada
cavalo
31
Para evitar que os pássaros poisem sobre os garfos há pouco tempo
colocados, fixa-se um raminho ou arco protector que também
permitirá apoiar a vegetação do garfo.
Fig. 18 - Enxertia de fenda simples
12.2.3 Enxertia de fenda dupla
Variante da anterior, convém a cavalos sensivelmente mais grossos
de 3 a 8 cm de diâmetro sobre os quais se colocam 2 garfos frente
a frente; neste caso a fenda do cavalo é transversal. Para responder
às proporções da fenda assim aberta, os garfos são talhados em bisel
plano da mesma espessura de cada lado.
O processo termina com a atadura, o envolvimento e a colocação dum
raminho protector.
Observação
Note-se que estes dois sistemas de enxertias deixam uma cavidade
entre o garfo e a fenda do cavalo; e evidentemente, um ponto fraco
onde a cicatrização é difícil.
Fig.19 - Enxertia de fenda dupla
12.2.4 Enxerto de fenda vazada ou incrustação
Este processo consiste numa enxertia em fenda melhorada, mesmo
no que respeita à ferida do cavalo e à sua melhor cicatrização, sendo
no entanto um processo mais delicado.
Modo operatório
O procedimento é o mesmo que é usado para a enxertia de fenda
simples. As diferenças situam-se essencialmente na confecção do garfo
e no encaixe no cavalo. Este pode ser mais ou menos grosso e pode
receber um ou vários garfos.
cavalo
contactoentre câmbiossó num ponto
câmbio do garfo
garfo mal instaladosem contactoentre os câmbios
cascacâmbiolenho
garfo muito grossodo lado de dentro,câmbios sem contacto
bom contactoentre câmbiosde frentede lado
garfo
fenda
enxertia de fenda simples
Fig. 20 - Enxertia de fenda vazada ou incrustação
Sobre o cavalo retira-se uma lasca de madeira e em cunha triangular,
mas sem o abrir.
A partir do último gomo do garfo, este é talhado em bisel formando
cunha; a talha de bisel e as suas proporções devem corresponder
ao entalhe feito no cavalo, pelo que o ramo do garfo deve, por
consequência, ser suficientemente volumoso.
A colocação do garfo no cavalo constitui uma verdadeira junção
de marceneiro; o olho da base deve estar ligeiramente por baixo
do corte do cavalo e as partes colocadas em contacto devem aderir
fortemente.
Deve-se terminar com uma atadura sólida, respeitando o gomo,
assim como o envolvimento tradicional. Pode-se eventualmente fixar
o garfo com um esteio delgado. Este modo de inserção suprime
os espaços que ficam entre o ou os garfos e o cavalo que se encontram
nos enxertos de fenda simples e fenda dupla.
Observação
Esta enxertia que se faz por cima dos cavalos com porte elevado e porte
médio, pode igualmente fazer-se sobre uma porção da raiz ou sobre
o colo da jovem planta. Este modo de proceder é chamado "enxerto
na mesa" caso ela se execute em casa durante o repouso da vegetação.
É, sobretudo, um processo muito usado para os arbustos ou árvores
ornamentais.
12.2.5 Enxertia Inglesa
Esta técnica é sobretudo conhecida pela sua utilização nas enxertias
da vinha mas é também aplicada em árvores de fruto de porte elevado
e porte médio, onde é aplicada por cima do cavalo à altura escolhida,
na condição de este ser de pequeno diâmetro porque o cavalo e o garfo
devem ser similares.
Este método permite ganhar tempo apreciável sobre o processo
em fenda ou em incrustação visto que ele se faz sobre os cavalos mais
jovens.
Esta enxertia é sobretudo utilizada para árvores de pevide e principalmente
em microenxertias como sucede, entre muitos casos com o cajueiro.
Modo operatório
Executa-se também depois do período de dormência do ciclo vegetativo
(fins de Agosto e durante Setembro no Planalto Central), recorrendo-
se aos porta garfos recolhidos durante o período de dormência
e conservados em estratificação.
Prepara-se o cavalo em fim de Agosto ou princípio de Setembro,
apara-se o golpe com a navalha e talha-se a extremidade do cavalo
em bisel alongado. Nos 2/3 superiores deste bisel, pratica-se uma
fenda vertical de cima para baixo, penetrando cerca de 2 a 3 cm.
O garfo é constituído por uma porção de ramo, com 3 gomos bem
constituídos. O seu diâmetro deve ser igual ao do cavalo. A base
do garfo é talhada em bisel da mesma forma que aquele que se
32
ENXERTIA DE FENDA VAZADA OU INCRUSTAÇÃO
CÂMBIO
enxertia de fenda simples
garfo
fenda
enxertia de fenda dupla
fenda
cavalogarfo
cavalo
de lado de frente
realizou no cavalo; o corte em bisel inicia-se alguns milímetros abaixo
e do lado oposto ao último gomo.
Tal como é feito para o cavalo, faz-se uma fenda longitudinal
aos 2/3 superiores do bisel e de cerca de 2 a 3 cm de profundidade.
Coloca-se o bisel do garfo face ao bisel do cavalo, fazendo penetrar
as linguetas de madeira que estão frente a frente; a ligação é fixada
com o adesivo de enxertia.
Fig. 21 -Esquema de execução da enxertia inglesa
Quando o diâmetro do garfo é significativamente menor do que
o do cavalo, a forma do corte é claramente diferente (Fig. 22), de forma
a conseguir que uma parte do câmbio do cavalo e do garfo fiquem em
contacto, permitindo manter a circulação da seiva e a formação
do tecido cicatricial.
Fig. 22 - Procedimentos para a enxertia inglesa quando o garfo é de dimensão
menor do que o cavalo
12.3 Material de enxertia
Compõe-se dos seguintes utensílios: serrote, navalha de enxertia, tesoura
de enxertar, pequeno maço. É necessário prevenir-se com ligaduras tais
como ráfia ou fita de enxertar, assim como pastas para proteger
e desinfectar as feridas esperando a sua cicatrização.
13. Mergulhia
A mergulhia é um método de propagação vegetativa pelo qual se faz
induzir o desenvolvimento de raízes adventícias num ramo enquanto
este se encontra ainda ligado à planta. Logo que haja raízes desenvolvidas,
destaca-se a parte do ramo já enraizada que se torna uma nova planta
com o seu próprio sistema radicular. A mergulhia é um meio natural
de reprodução, tal como sucede na amoreira e groselha e foi ainda
muito utilizada no cajueiro antes do aperfeiçoamento da micro-enxertia.
Pode ser induzida artificialmente em muitos tipos de plantas.
33
a) corte oblíquolongo (2,5 a 6cm)feito no cavalo
b) Um 2ª corteque se iniciaa 1/3 da distânciada ponta
c) Puxadosos extremosfaz-se o entalhe
d) Primeirocorte no garfo
e) Segundopara fazero entalhe
g) O garfo éfinalmenteatado e engraxado
f) Os entalhesdo cavalo e o garfosão ajustados
Garfo
CavaloTecidos cambiais
só fazem contacto
de um lado
Usos da mergulhia
São quatro os usos principais da mergulhia:
Para propagação de espécies que se reproduzem naturalmente por
este método (mirtilos, framboesas, etc.);
Propagação de clones cujas estacas não enraízam facilmente mas
cuja importância e valor económico justifica o custo desta forma
de propa-gação, nomeadamente certos clones de macieira e pereira.
Certas fruteiras tropicais como mangueiras e litchia são igualmente
propagadas por este método;
A mergulhia é útil para produção de plantas de boa dimensão
em muito curto tempo. Este processo de propagação é usado com
muita frequência em estufas para propagar plantas como a borracheira
e plantas ornamentais como o croton;
A mergulhia é valiosa para a produção de um número relativamente
pequeno de plantas de boa dimensão com um mínimo de estruturas
de propagação, particularmente quando o espaço disponível não
é limitante.
13.1 Factores que afectam a regeneração de plantas por mergulhia
13.1.1 Nutrição
O ramo permanece preso à planta durante a fase de enraizamento
e é continuamente alimentado com água e minerais através do xilema
que permanece intacto. Como o floema é geralmente interrompido
pela acção de cisão anelar, incisão ou dobragem do propágulo, a base
do ramo onde se pretende induzir as raízes acumula carbohidratos
e auxinas que são necessários à indução das raízes.
A indução das raízes adventícias nos ramos intactos, é afectada, contudo,
por vários outros factores.
13.1.2 Evitar stress
Como o propágulo permanece ligado à planta mãe e continua a actuar
como um lançamento, o stress hídrico associado com o corte da estaca
é evitado. Não só o acesso contínuo aos nutrientes e carbohidratos
permanece constante com a ligação à planta-mãe mas também
a lavagem de nutrientes e metabolitos pela rega é evitada. Isto
é particularmente importante para espécies que são difíceis de enraizar
ou que são sujeitas a chuvas frequentes ou a sistemas de rega por
aspersão. A grande senescência das folhas e a ocorrência de abcisão do
petíolo em estacas foliares recalcitrantes sob aspersão é, por exemplo,
um indicador sobre a predição da capacidade de radicação de cultivares
de abacateiro. Contudo, com a mergulhia, o problema da queda das
folhas sob cobertura em aspersão é evitada.
13.1.3 Tratamento do tronco
A formação de raízes é induzida mediante manipulação do ramo onde
se pretende induzir a formação de raízes como se mostra na figura 23.
A dobragem da estaca, a sua quebra ou um estrangulamento do ramo
interrompe a descida da seiva elaborada que transporte produtos como
açúcares, auxinas e outros factores de crescimento. Estes materiais
acumulam-se acima do nível de interrupção da seiva incentivando
a formação das raízes.
Fig. 23 - Um dos procedimentos usados para estimular a indução de raízes
provocando a acumulação de hidratos de carbono e auxinas na zona de dobragem
34
Ramo dobrado em forma de V
ou ligeiramente com um corte.
Pode também fazer um incisão anelar
ou um estrangulamento com um arame
O lançamento cortado ou partido
no lado mais baixo
13.1.4 Exclusão de luz
A exclusão da luz na parte da estaca destinada à formação das raízes
é uma norma constante de todas as técnicas de mergulhia. Nestes
procedimentos deve-se distinguir entre “branqueamento”, que
é a cobertura de uma parte intacta do lançamento já formado
e a “estiolação”, que é o efeito produzido à medida que o lançamento
se desenvolve e alonga na ausência de luz. Lançamentos intactos
de algumas plantas são capazes de emitir raízes unicamente depois
do “branqueamento” enquanto outras necessitam da interrupção
do floema para interromper o fluxo da seiva elaborada. Contudo,
o maior estímulo para a indução de raízes resulta quando os lançamentos
em desenvolvimento são completamente cobertos de meio de enrai-
zamento, o que é imprescindível quanto se trata de mergulhias feitas
longe do solo. Uma medida importante para o sucesso de iniciação
de raízes em plantas de difícil indução parece ser o branqueamento
e a estiolação.
13.2 Condicionamento fisiológico
A iniciação e desenvolvimento de raízes durante a mergulhia deve estar
associada com condições fisiológicas particulares no tronco relacionadas
com a época do ano. Para muitos tipos de mergulhia, a época do ano
propícia está associada com o movimento de carbohidratos e outras
substâncias para as raízes no fim do ciclo sazonal de crescimento.
13.2.1 Rejuvenescimento
Designa-se por rejuvenescimento às técnicas utilizadas para provocar
lançamentos do ano, lançamentos juvenis que são mais propícios ao
enraizamento. Habitualmente as técnicas utilizadas envolvem a poda
ultra severa das plantas-mãe e o uso de fita preta de PVC para cobrir
a base dos lançamentos, o que melhora significativamente a capacidade
de enraizamento de algumas espécies como a macieira. Os procedimentos
utilizados para melhorar a capacidade de enraizamento das estacas
aplicam-se igualmente à mergulhia. Um exemplo é o uso de substâncias
promotoras de enraizamento como ácido indol-butirico (IBA), aplicado
durante a mergulhia (embora os métodos de aplicação sejam diferentes)
que é também benéfico para o aumento da taxa de sucesso. A aplicação
do ácido, sob a forma de pó, disperso em lanolina ou sob a forma líquida
na zona de dobragem ou nas quebraduras parciais efectuadas para
provocar a acumulação dos hidratos de carbono, são uma prática que
tem mostrado ser eficaz. A formação de raízes depende de ser igualmente
proporcionada humidade permanente, bom arejamento e evitando
o aumento da temperatura pela incidência da luz solar na zona
de enraizamento.
13.3 Exemplo de alguns procedimentos
Neste pequeno manual apresentamos exclusivamente alguns dos
procedimentos mais comuns e que podem ser aplicados com estruturas
simplificadas e para propagação de algumas espécies, principalmente
de fruteiras da floresta natural, de que se desconhecem as formas
de multiplicação ou porque se desconhece a sua biologia, se encontram
ameaçadas e que é urgente evitar em termos de conservação dos
recursos naturais.
A - Mergulhia simples
Fig. 24 - Exemplificação de indução de raízes num ramo e nova planta resultante
35
B- Mergulhia por amontoa
Fig. 25 - Procedimentos da mergulhia por amontoa
C - Mergulhia aérea ou mergulhia chinesa
Este processo é utilizado para propagar de forma rápida um conjunto
importante de espécies frutícolas tropicais e subtropicais incluindo
a lichia e lima (Citrus aurantifolia), para um conjunto importante
de espécies do género Ficus spp. e o philodrendron, entre outras.
É também aplicável para enraizar um conjunto de pinheiros,
nomeadamente no estabelecimento de pomares clonais seminais.
Envolvendo a zona destinada à formação de raízes com filme
de polietileno e folha de alumínio é possível efectuar mergulhias ao ar
livre. A anelação do lançamento é feita no inicio da estação
de crescimento e em alguns casos no fim daquela estação com
lançamentos parcialmente lenhificados. Os lançamentos com idade
superior a um ano podem ser utilizados em alguns casos, mas
o enraizamento é menos satisfatório e as plantas produzidas são, em
regra, mais difíceis de manusear depois de enraizadas. Os procedimentos
da operação desde a anelação e a preparação do meio de enraizamento
estão documentados na Fig. 26.
Fig. 26 - Exemplificação das etapas de mergulhia aérea
14. Rotinas gerais de gestão do viveiro
Em África, onde ocorrem com frequência fogos incontrolados, uma das
primeiras preocupações do responsável do viveiro deve ser a protecção
36
a) Um canteirode multiplicaçãocomeça pelaplantaçãode uma estacaenraizada
b) A planta-mãecresce duranteuma estaçãode crescimentopara ficar bemestabelecida
c) O topo é removidoa 2,5cm do solojustamenteantes do iniciodo crescimento
h) A soca base é removidano princípio da estaçãoseguinte enquanto outrasplantas-mães estãopreparadas para o novo ciclo
f) Os lançamentosjá enraizados sãocortados tão juntoda base quanto possível
d) Quando os novoslançamentos têm8 a 13cm, junta-se teráou serraduraformando-se um montículo
e) No fim da estaçãoas raízes na basedos lançamentosestão formadas
do viveiro contra os fogos, construindo um aceiro devidamente limpo
de vegetação herbácea à sua volta. Esta faixa de protecção deve estar
no exterior da cortina de abrigo ao viveiro.
É aconselhável conservar o viveiro limpo e arrumado para facilitar
as diferentes operações culturais, a movimentação do pessoal
e do equipamento e, ainda, porque é uma forma de evitar
o desenvolvimento de pragas e doenças bem como o aparecimento
de roedores.
As ferramentas em uso no viveiro devem ser lavadas depois do uso
e devidamente conservadas e guardadas no armazém.
Um outro elemento importante para uma boa gestão do viveiro
é a manutenção dos registos das operações, procedimentos e datas.
Esta informação é um precioso auxiliar do planeamento, monitorização
e apoio à decisão.
Alguns elementos importantes a registar e a manter em arquivo são:
Datas de sementeira, de repicagens, de enxertias e de plantação;
Calendários das diferentes operações e actividades;
Objectivos devidamente quantificados;
Tarjetas. Lembre-se que quase sempre os vendedores ou o pessoal
de expedição de plantas do viveiro não são fruticultores e que,
por isso, todas as plantas devem ter uma etiqueta. A etiqueta deve
conter, além da perfeita identificação da espécie/variedade, o destino
onde vai ser plantada por forma a poder ter-se uma possibilidade
de analisar o comportamento, no campo do material produzido;
Observações sobre o comportamento das diferentes espécies/
variedades ou linhas parentais;
Consistência das qualidades produzidas e da classificação que
é atribuída;
Ocorrência e identificação de pragas e doenças e medidas
de controlo;
Distribuição de plantas, quantidades e destinos.
II. RECOMENDAÇÕES DE FRUTEIRAS MAIS APTAS
PARA O MUNICÍPIO DE ECUNHA3
1 Café arábica (Coffea Arabica L.)
O café arábica é uma planta de zonas subtropicais de temperatura
média anual compreendida entre os 18ºC e 21ºC, não devendo situar-
se abaixo dos 4-5º nem acima dos 31ºC.
Em latitudes baixas, já de tendência equatorial, somente em altitudes
acima dos 1300 m/ /1500 m encontrará as temperaturas adequadas.
Muito sensível à geada, no Planalto Central de Angola, onde existem
condições ecológicas aceitáveis, a plantação deverá estabelecer-se nas
terras altas, suficientemente afastadas dos vales e depressões, onde
em geral se verifica incidência do fenómeno na época seca. As exigências
hídricas da cultura oscilam entre os 1200 mm e 1500 mm de chuva,
e que se distribuam durante um período de 9 a 10 meses, intercalando
com um período seco de 2 a 3 meses, que é benéfico a fim de estimular
a floração. Relativamente a períodos de seca mais prolongados (de 4
a 5 meses no Planalto Central) será vantajoso sempre que possível,
recorrer a uma ou outra rega suplementar.
1.1 Exigências edáficas
O café arábica requer um solo profundo, de excelente drenagem interna,
bem estruturado e provido de nutrientes minerais. Prefere solos de
texturas medianas ou medianas/finas, franco ou franco-argiloso, com
boa capacidade para a água utilizável, sendo de destacar a importância
que representa a selecção de locais apropriados para a cultura, porque
de tal dependerá a duração e produtividade do cafezal.
37
1.2 Zonas de distribuição cultural
O café arábica é uma cultura que está estreitamente ligada ao Planalto
Central (Fig. 27), desde que há longas décadas as primeiras plantações
se estabeleceram na serra da Chicuma (Ganda) e na área do Andulo,
irradiando seguidamente para diversos outros pontos da região planáltica,
e disseminando-se por pequenas plantações a nível da exploração
familiar, com maior incidência nas zonas do Andulo-Nhareia, Bailundo-
Luimbale, Chinguar-Bela Vista e mais intensamente na referida área da
Chicuma.
1.3 Zonas ecologicamente mais favoráveis
Adapta-se melhor a zonas de maior altitude do Planalto Central, dando
aí preferência aos solos jovens ou pouco evoluídos, bem providos de
reserva mineral, que se relacionam, nas áreas de relevo mais acidentado
e em geral enquadrando-se na Montanha Marginal, com as formas de
sopé e encostas de vertente mais suavizadas como ocorrem em áreas
do Quipeio. Na delimitação das zonas ecologicamente mais favoráveis,
onde ficam incluídas as áreas de distribuição actual da cultura, tomaram-
se em linha de conta os aspectos seguintes:
altitudes acima dos 1300 m/1400 m, que se relacionam com
temperaturas médias inferiores a 20ºC, normalmente compreendidas
entre 19°C a 20°C;
três a quatro meses frios, com temperatura média variável entre
16°C e 18°C;
relativamente fraca incidência de geadas, tendentes a ocorrer nas
superfícies baixas da base dos vales e encostas adjacentes (situações
a excluir das áreas de cultura do café).
Apesar de se definir uma zona considerada como mais favorável,
é manifesta a marginalidade do meio para o café arábica, dado que
a uma estação chuvosa de sete meses, com uma precipitação de 1300
mm/1400 mm, se segue um período de deficiência hídrica de quatro
a cinco meses, e daí a importância de se seleccionarem solos profundos
e estruturados, com boa capacidade para a água utilizável, em geral
correlacionando-se nestas áreas planálticas com solos Paraferralíticos
(Tipoparaferrálicos ou Eutroparaferrálicos). Por uma questão de conser-
vação da humidade e manifesta necessidade do sombreamento artificial
(a Grevillea é uma espécie bem testada nas zonas do Planalto Central),
salienta-se também a importância que possam ter uma ou duas regas
suplementares em momento oportuno da época seca e sempre que tal
for possível, além do interesse no revestimento do solo por uma camada
de folhelho (“mulching»).
Fig. 27 - Zonas de distribuição e zonas aconselhadas para expansão.
38
Café Arábicazonas de distribuição cultural
Café Arábicazonas mais favoráveis à cultura
1
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45 6
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1
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9
10 11 12
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17 18
2. Citrinos (Citrus spp.)
2.1 Exigências climáticas
Os citrinos adaptam-se a meios climáticos envolvendo duas estacões
de características diversas, ou seja, uma época quente de temperatura
média elevada (20°C a 25°C), alternando com uma época invernal de
temperaturas baixas, mas não muito acentuadas. Em Angola, porém,
a não ocorrência de temperaturas nocturnas suficientemente baixas
(inferiores a 14°C) associadas a baixas humidades relativas, não favorece
a coloração característica dos frutos, tal como é típico das regiões
subtropicais e mediterrânicas. Neste aspecto os planaltos do sul
(Lubango-Humpata) e o SE do território (Baixo Cubango) consideram-
se como as zonas mais favorecidas, adquirindo os frutos um determinado
grau de coloração alaranjada, mas não totalmente. Os citrinos necessitam
de regular o abastecimento de humidade, relacionado com uma queda
pluviométrica bem distribuída (1000 m a 1500 m) no período chuvoso,
e em complemento a rega periódica na estação seca.
2.2 Exigências edáficas
Deverão seleccionar-se para a cultura os solos profundos e bem drenados,
de texturas ligeiras ou medianas, considerando-se muito convenientes
os arenosos ou arenosos-francos no horizonte superficial, passando
a franco-arenosos ou francos nos horizontes inferiores. As terras de
baixa, quando dominadas por solos leves de origem aluvionar, bem
drenadas e defendidas das cheias, facilmente abrangíveis por redes
de rega por gravidade e assegurado o controlo do lençol freático dentro
de limites de profundidade convenientes, são seguramente as que
melhor convêm à citricultura.
2.3 Zonas de exploração cultural
Os citrinos, sobretudo a laranjeira e a tangerineira, têm larga dispersão
no território, relacionando-se com a pequena exploração hortofrutícola,
a «chitaca» como é conhecida localmente, que se dissemina pelas
superfícies planálticas do Huambo-Bié, Lubango-Humpata, Cela-Quibala
e Malange-Cacuso. Por outro lado, torna-se característica a sua
distribuição tradicional em redor dos aldeamentos rurais, juntamente
com outras fruteiras, como é norma nas províncias de Cabinda, Zaire,
Uige e ainda nalgumas áreas do Bié. Além deste aspecto de distribuição
generalizada, que revela uma melhor ou pior adaptação às condições
mesológicas locais, pode afirmar-se que a nível global do território
os citrinos poderão prosperar um pouco por toda a parte. Todavia
apontam-se na Figura 28 as zonas de mais vincada potencialidade
cultural em correspondência com as superfícies planálticas
e subplanálticas, evidenciando-se alguns locais de concentração onde
se dispõem pomares ordenados nas áreas do Huambo (Chinguri), Bié
(Catabola, Gamba e Nhareia), Cubal-Caimbambo, Lubango (Humpata,
Leba, Chibia) e Malange. São ainda de destacar os pomares que
se distribuem nas baixas fluviais da faixa litoral, salientando-se os das
zonas de Caxito (Lifune, Dande e Icau), Dondo (Lucala-Mucoso), Benguela
(Catumbela, Cavaco e Dombe Grande) e Namibe (Bentiaba, Giraul,
Bero e Curoca).
2.4 Zonas mais favoráveis à cultura
Apesar da amplitude que a exploração de citrinos poderá revestir há
que ter em conta que faltam condições de meio ambiental favoráveis
a uma conveniente pigmentação dos frutos, inviabilizando-se deste
modo a sua comercialização para o exterior. Todavia é de realçar
o elevado interesse agro-industrial desta cultura, podendo encaminhar-
se a sua produção para a transformação em sumos, concentrados
de sumos e extractos, além do consumo interno da fruta em fresco
cujo contributo para a dieta alimentar deve ser salientada. Nesta óptica
delimita-se na figura 28 o espaço territorial que do ponto de vista
ecológico melhores condições oferece para a citricultura, tendo em
devida conta o interesse em seleccionar as áreas favoráveis à implantação
de pomares ordenados e onde, simultaneamente, se torne viável o seu
beneficiamento com o regadio. Na delimitação das zonas mais favoráveis
à citricultura entrou-se em linha de conta com os aspectos característicos
seguintes:
39
estações do ano alternadamente quentes e frescas;
estação chuvosa de cerca de sete meses não demasiadamente
pluviosa;
não ocorrência de geadas ou então a sua incidência e localizada
(depressões e fundos de vale);
grau de insolação excedendo as 2000 horas/ano e valores
da humidade relativa de razoáveis a elevados (50% a 80%).
Não deixando de se tomar em consideração que os citrinos têm uma
larga capacidade de adaptação, a nível do território angolano, a verdade
é que, relativamente ao espaço delimitado como mais favorável, poderão
privilegiar-se determinadas áreas como oferecendo melhores condições
de meio e que de algum modo já se consagraram ao longo dos tempos,
como sejam as zonas do Lubango-Chibia, Cubal-Caimbambo-Bocoio,
Lucala-Mucoso e Dande- Lifune.
Fig 28 - Zonas de ocorrência de citrinos e zonas mais favoráveis
3. Goiabeira (Psidium guajava L.)
3.1 Exigências climáticas
Fruteira característica das regiões tropicais quentes ou moderadamente
quentes e que tenham duas estações bem diferenciadas, sendo a das
chuvas com período de duração e valor da precipitação variáveis (dando
contudo preferência a quantitativos compreendidos entre os 900 mm
e 1200 mm). Em relação à estação seca, não é conveniente uma humi-
dade atmosférica muito reduzida, bem como uma vincada amplitude
térmica diurna.
3.2 Exigências edáficas
É uma fruteira que se adapta facilmente a diversos tipos de solos,
preferindo todavia os de textura mediana ou ligeira, desde que espessos
e bem drenados, rejeitando por outro lado os de textura pesada
e compactos. Em solos férteis das baixas fluviais com boa permeabilidade
e arejados, as produções tornam-se abundantes.
3.3 Zonas de distribuição cultural
Em Angola a goiabeira tem uma distribuição geográfica muito ampla,
mas todavia bastante dispersa. As zonas de mais significativa
concentração (Figura 29) relacionam-se com as áreas de actividade
agrícola mais intensa e diversificada, sobretudo aquelas que circundam
os principais aglomerados populacionais, disseminando-se a goiabeira,
a par de outras fruteiras, pelas pequenas explorações horto-frutícolas
que se implantam à volta dos principais centros urbanos (Lubango,
Benguela, Huambo, Bié, Luanda, Dalatando, Malange) e ainda com certa
difusão nos subplanaltos do Cuanza Sul e Benguela.
3.4 Zonas mais favoráveis à cultura
A delimitação das manchas que figuram na Figura 29, que do ponto
de vista ecológico representam as zonas mais favoráveis à cultura,
obedeceu aos critérios seguintes:
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Citrinoszonas de exploração cultural
Citrinoszonas mais favoráveis à cultura
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45 6
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15
16
17 18
alternância de uma estação de chuvas de sete a oito meses, com
uma estação seca bem marcada, mas na qual a temperatura média
é inferior a 19°C-20°C;
valores da precipitação média anual acima dos 500 mm-600 mm,
tornando-se evidente que em relação à faixa seca do litoral a cultura
deverá incidir nas superfícies húmidas (orlas das lagoas e baixas
aluviais enxutas mas de subsolo húmido);
humidade relativa média anual superior a 65% e livre de ocorrência
de geadas.
No aspecto edáfico seleccionaram-se os solos Fersialíticos e Ferralíticos
bem conservados, além dos Aluviosolos enxutos e de texturas médias
e ainda os solos arenosos, preferivelmente com conteúdo razoável
de matérias orgânica, como sendo os mais aptos.
Fig. 29 - Zonas de distribuição geral da goiabeira e as mais aptas para expansão
4. Maracujá (Passiflora edulis Sims)
O género Passiflora está representado em Angola pelas duas espécies
P. edulis Sims e P. quadrangularis L., a primeira caracterizada pelos seus
frutos, sensivelmente do tamanho de goiabas, de colorações arroxeada
e amarelada, conhecidos respectivamente por «maracujá roxo»
e «maracujá brasileiro», e a segunda de frutos volumosos lembrando
o melão e daí a designação de «maracujá melão». O interesse da cultura
vai para a variedade de pigmentação roxa, pela elevada produtividade
e por constituir matéria-prima de grande valia para a produção
de sumos. A sua vasta dispersão denota o poder de adaptação aos mais
variados ambientes climáticos, exigindo apenas boas condições
de luminosidade, ausência de geadas e que na estação seca não se
verifiquem descidas acentuadas da temperatura e da humidade relativa.
Quanto às exigências hídricas, esta cultura dá preferência a uma
precipitação de valores médios entre os 1000 mm e os 1200 mm, bem
distribuída, devendo compensar-se a deficiência de água do período
seco com a rega periódica.
4.1 Exigências edáficas
É uma planta que prefere solos de texturas médias ou médias/ligeiras,
férteis e com nível razoável de matéria orgânica, ligeiramente ácidos
desde que profundos, arejados e de permeabilidade moderada
ou elevada, não tolerando a ocorrência de camada ou camadas compactas
que provoquem retenções de humidade no subsolo. Em solos de baixa
o maracujá tem excelente adaptação desde que bem drenados até
profundidade conveniente e que ao longo do perfil se verifique boa
capacidade de infiltração.
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Goiabeirazonas de distribuição cultural
Goiabeirazonas mais favoráveis à cultura
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4.2 Zonas de distribuição cultural
A partir de meados dos anos sessenta verificou-se em determinadas
zonas das províncias do Huambo e Bié, uma notável expansão da cultura
do maracujá em resultado da implantação de uma unidade industrial
de concentrado de sumo no Huambo, tendo-se constituído plantações
de certo vulto, privilegiando a variedade de maracujá roxo, nas áreas
do Bailundo, Alto Hama, Huambo e Caála (Figura 30). É de realçar
a boa adaptação da cultura às condições mesológicas do Planalto
Central, sobretudo quando recaiam em superfícies de sopé das vertentes
naturalmente drenadas e de solos Paraferralíticos bem conservados,
obtendo-se os melhores resultados quando tais superfícies recebem
plena luminosidade e se encontram suficientemente afastadas dos vales
onde é normal a incidência de geadas nos meses de Junho e Julho.
4.3 Zonas mais favoráveis à cultura
Na Fig. 30 delimita-se o espaço territorial que do ponto de vista
ecológico oferece melhores condições de adaptação ao maracujá.
A sua definição obedeceu ao critério seguinte:
temperatura média anual de 19°C a 23°C, com amplitudes térmicas
anuais de 4°C a 5°C;
temperatura média da época fresca de 17°C a 21°C e a do mês
mais frio de 16°C a 21°C;
ausência de geadas ou então com ocorrência no bimestre Junho-
Julho e normal incidência nos vales;
grau higrométrico do ar compreendido entre os 60% e 75%
e valores da insolação de 2100 a 2600 horas/ano;
estações seca e chuvosa bem definidas, esta última com a duração
de sete meses e valores da precipitação compreendidos entre
1000 mm a 1400 mm.
Relativamente à mancha cartograficamente representada na figura 30
deverão privilegiar-se as regiões planálticas de média altitude
(1200m a 1400m) bem como a faixa sub-planáltica que lhe é contígua
do lado ocidental, devido sobretudo às temperaturas mais amenas
do período do «cacimbo» e também pela maior representatividade
de solos apropriados para a cultura. Altitudes acima dos 1500m/1600m
consideram-se já um tanto marginais, devido sobretudo ao rigor
dos meses frios que afectam o crescimento da planta e a maturação
do fruto.
Fig 30 - Zonas de distribuição e mais aptas para o maracujá
Maracujázonas de distribuição cultural
Maracujázonas mais favoráveis à cultura
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13
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16
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5. Fruteiras das regiões temperadas
Várias populações da Comuna do Quipeio quando questionadas sobre
que espécies fruteiras estariam interessadas em plantar referiram-se
a fruteiras temperadas como a maçã e a pêra. É preciso lembrar que
em relação a fruteiras de regiões temperadas há duas situações bem
distintas. No litoral do Namibe, há a considerar uma época fresca
de seis meses, de temperaturas médias de 18-19ºC, sendo a do mês
mais frio de 17ºC e a época quente de igual período e de temperaturas
médias oscilando entre os 22ºC e os 23ºC. Esta é a razão porque
a oliveira e a vinha vegetam em boas condições de produtividade
e regular periodicidade. Por sua vez o Planalto da Humpata, onde
ocorrem temperaturas baixas na época seca de cinco a seis meses, com
médias de 14ºC e temperaturas que não vão além dos 18ºC na época
quente, verificando-se no mês mais frio, Junho, valores de 14ªC,
as pomóideas revelam uma adaptação vegetativa aceitável. No entanto,
as temperaturas não atingem as temperaturas frias exigíveis para
proporcionarem condições ideais de produtividade e qualidade.
De acentuar ainda que quer numa ou noutra situação o recurso
ao regadio é condição essencial a produções que sejam compensadoras.
No caso concreto do Município de Ecunha o clima não é suficientemente
frio para que sejam satisfeitos os padrões exigíveis pelo que a sua
plantação deverá de todo ser desaconselhada.
44
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
ALGUMAS MISTURAS PARA O FABRICO
DE SUBSTRATOS PARA OS VIVEIROS DE PLANTAS
FRUTÍCOLAS
Substratos com base em misturas com casca de pinheiro
Mistura Aa. Solo 1 parteb. Areia 2 partesc. Casca de pinheiro 2 partes
Mistura Ba. Casca de pinheiro 1 parteb. Serradura 1 partec. Solo florestal 1 parte
Mistura Ca. Casca de pinheiro 1 parteb. Areia 1 parte
Mistura Da. Casca de pinheiro 1 parteb. Areia 1 partec. Solo 1 parte
Mistura Ea. Casca de pinheiro 3 partesb. Solo 3 partesc. Composto/estrume 3 partesd. Areia 1 parte
A fertilização suplementar que pode ser adicionada por cada volume
correspondente a um carro de mão:
Superfosfato simples 45 g
Calcário 45 g
Sulfato de potássio 25g
Borato de sódio 0,45g
Oxido de zinco 0,45g
Sulfato de cobre 0,90g
Para reforço de fertilização em cobertura e para fertilização foliar use:
Nitrato de amónio 60g
Muriato de potássio 60g
Superfosfato simples 80g
Estes fertilizantes devem ser dissolvidos em 20 l de água.
45
ANEXO I
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