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SENADO FEDERAL INSTITUTO LEGISLATIVO BRASILEIRO O PADRÃO DE PROGRAMAÇÃO COMO DIFERENCIAL ENTRE RÁDIOS LEGISLATIVAS: O CASO CÂMARA E SENADO ____________________________________ Tiago Aquiles Ribeiro Medeiros Pós-Graduação em Comunicação Legislativa Brasília, DF, Brasil 2015

o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

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SENADO FEDERAL

INSTITUTO LEGISLATIVO BRASILEIRO

O PADRÃO DE PROGRAMAÇÃO COMO

DIFERENCIAL ENTRE RÁDIOS LEGISLATIVAS: O

CASO CÂMARA E SENADO

____________________________________

Tiago Aquiles Ribeiro Medeiros

Pós-Graduação em Comunicação Legislativa

Brasília, DF, Brasil

2015

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O PADRÃO DE PROGRAMAÇÃO COMO

DIFERENCIAL ENTRE RÁDIOS LEGISLATIVAS: O

CASO CÂMARA E SENADO

____________________________________

por

Tiago Aquiles Ribeiro Medeiros

Monografia de Pós-Graduação apresentada ao

Curso Pós-Graduação em Comunicação Legislativa do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB, DF),

como requisito parcial para obtenção do grau de pós-graduado em Comunicação Legislativa

Pós-Graduação em Comunicação Legislativa

Brasília, DF, Brasil

2015

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Senado Federal

Instituto Legislativo Brasileiro

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia de Pós-Graduação

O PADRÃO DE PROGRAMAÇÃO COMO DIFERENCIAL ENTRE RÁDIOS LEGISLATIVAS: O CASO CÂMARA E

SENADO

elaborada por Tiago Aquiles Ribeiro Medeiros

como requisito parcial para obtenção do grau de pós-graduado em Comunicação Legislativa

COMISSÃO EXAMINADORA:

_________________________________________ Jéfferson Luís Colombo Dalmoro

(Presidente/Orientador)

_________________________________________ Rogério Mozart Dy La Fuente Gonçalves

(Avaliador)

Brasília, 2015.

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“É não ouvir rádio, jamais. Nem no

congestionamento. Nem no estádio. Nem as

edições extraordinárias, com seu falso senso

de urgência e importância.”

(Mário Sérgio Conti. Jornalismo é...)

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Agradecimentos

A minha família de Santa Maria, sempre junto comigo, ainda que há 2.119

quilômetros de distância. A minha esposa, Karolina, que sempre me dá todo o

apoio necessário. À família dela, adotada por mim aqui em Brasília. Ao meu

orientador Jefferson Dalmoro, que, com suas pontuações, viabilizou a realização

deste trabalho. Ao Rogério Dy La Fuente, por ter aceitado a missão de avaliar

esta monografia. Aos amigos que me incentivaram a continuar me capacitando.

A todos os colegas da Rádio Senado, que contribuíram de alguma forma para

que este momento chegasse. À galera da Locução, todos fundamentais para que

eu tivesse êxito até aqui. Ao ILB, pela oportunidade de fazer uma pós-graduação

de tamanha qualidade ao lado do meu local de trabalho. À Coordenação do

Curso, que nos ofereceu todas as condições de estudo e aprendizado, com um

adicional de presteza que nunca irei esquecer. A todos os professores, com os

quais aprendi coisas incríveis ao longo destes 18 meses. E aos colegas de

turma, pela boa convivência e parceria durante todo o caminho da Pós.

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................vii

INTRODUÇÃO ..........................................................................................1

1. O VEÍCULO RÁDIO, A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E A COBERTURA JORNALÍSTICA .................................................................3

1.1 Cobertura no Radiojornalismo ......................................................6

2. SEGMENTO, FORMATOS E PROGRAMAS DAS RÁDIOS CÂMARA FM E SENADO FM ..................................................................................16

2.1 Programas da Rádio Câmara FM e seus formatos .....................18 2.1.1 Programação musical da Rádio Câmara FM ...........................24 2.2 Programas da Rádio Senado FM e seus formatos......................24 2.2.1 Programação musical da Rádio Senado FM ............................29

3. PROGRAMAÇÃO DAS RÁDIOS CÂMARA FM E SENADO FM ........31

3.1 Análise da programação da Rádio Câmara FM: período de 13/07/2015 a 17/07/2015, entre 8h e 13h .........................................32 3.2 Análise da programação da Rádio Senado FM: período de 13/07/2015 a 17/07/2015, entre 8h e 13h .........................................39 3.3 Diferenças elementares na cobertura da Rádio Câmara FM e da Rádio Senado FM .............................................................................43

CONCLUSÃO .........................................................................................47

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................49

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RESUMO

Monografia de Pós-Graduação Curso de Comunicação Legislativa

Instituto Legislativo Brasileiro, DF, Brasil

O PADRÃO DE PROGRAMAÇÃO COMO DIFERENCIAL ENTRE RÁDIOS LEGISLATIVAS: O CASO CÂMARA E SENADO

AUTOR: Tiago Aquiles Ribeiro Medeiros ORIENTADOR: Jéfferson Luís Colombo Dalmoro

Data e local da defesa: Brasília, 31 de julho de 2015.

As rádios legislativas ocupam papel importante na divulgação dos

trabalhos do Poder Legislativo Federal, formado por Senado Federal e

Câmara dos Deputados. As duas emissoras representam um modelo para

as demais emissoras legislativas e emissoras públicas do país pela

importância do conteúdo da sua cobertura diária. Elas surgiram com o

objetivo de aumentar a transparência do trabalho realizado pelos

parlamentares. Porém, há diferenças nas coberturas feitas por cada uma

delas. O trabalho a seguir busca apresentar estas diferenças e como o

padrão de programação interfere diretamente neste resultado. Este é um

estudo da programação da Rádio Senado e da Rádio Câmara,

identificando suas diferenças e características próprias. Os programas,

formatos adotados e suas consequências na cobertura diária serão o

tema específico de estudo deste trabalho.

Page 8: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

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ABSTRACT

Legislative radios occupy key role in disseminating the work of the Federal

Legislative Branch, formed by the Senate and House of Representatives.

The two stations represent a model for other legislative broadcasters and

public broadcasters in the country because of the importance of the

content of their daily broadcasts. They are designed to increase

transparency of the work done by Congress. However, there are

differences in transmissions made by each of them. The research seeks to

show these differences and how the programming standard interfere

directly in this result. This is a study of programming of Rádio Senado and

Rádio Câmara, identifying their own differences and characteristics. The

programs, formats and its consequences in daily coverage will be the

specific subject of study of this work..

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INTRODUÇÃO

A programação, enquanto conjunto ordenado de tudo o que é

veiculado pela Rádio Senado opera, durante a maior parte do período

destinado à cobertura legislativa e durante a programação musical, no

modelo “Em Fluxo”. A característica principal deste modelo é a

manutenção de estilo da programação, sendo marcada temporalmente

apenas pela troca de âncora/apresentador. As únicas exceções são os

programas culturais, que aparecem na grade do fim-de-semana e das

madrugadas dos dias úteis. Já a programação da Rádio Câmara, no

mesmo período, se apresenta no modelo “Linear”, com faixas e

programas bem definidas durante toda a cobertura dos trabalhos dos

deputados, assim como na programação musical da emissora.

Assim, a pesquisa partiu da premissa de que a Rádio Câmara

apresentava uma roupagem mais definida de programação, permitindo ao

seu ouvinte comum saber com antecedência que tipo de conteúdo será

transmitido, independente do que aconteça na Casa, na maior parte das

vezes. Da mesma forma, o ouvinte teria previsibilidade de estilo musical

adequado a um horário já determinado. Já as impressões sobre a Rádio

Senado, antes da detida análise, eram de que a emissora possuía maior

liberdade de expressão em termos de formatos jornalísticos, com

conteúdos que podem ser veiculados a qualquer momento a depender da

necessidade noticiosa. Porém, o ouvinte ficaria à mercê de uma

miscelânea de conteúdos jornalísticos e musicais, por vezes, podendo

parecer desconexos.

A cobertura de rádio ainda é pouco estudada no Brasil, em

comparação aos demais veículos tradicionais de mídia. Dentro do

legislativo, há escassos trabalhos nesta área, não tendo sido encontrado

até o momento uma comparação qualitativa dos conteúdos das emissoras

de rádio do Poder Legislativo Federal.

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Há teorias publicadas nos estudos de jornalismo e de Rádio e TV

que definem o que vai ao ar nas emissoras de rádio do Senado Federal e

da Câmara dos Deputados. Também há linhas a serem seguidas de

análise destes conteúdos. Ainda assim, este trabalho poderá ser inovador

no sentido de identificar novos pontos de análise e atribuir a eles a

posição de estudo de caso que merecem, pela importância do papel de

comunicação pública confiado a estes veículos.

Este trabalho pode representar um ganho para as duas instituições

e para as duas emissoras, pois promoverá um autoconhecimento, e

apresentará um estudo sobre o que uma pode agregar em qualidade

espelhando-se na coirmã. Além disso, o trabalho pretende contribuir com

os estudos sobre o veículo Rádio e sobre o Poder Legislativo.

Para atingir estes objetivos, a pesquisa usa como metodologia a

análise de parte da programação, escolhida estrategicamente. O período

analisado compreende uma semana, de segunda a sexta-feira, no horário

das 8h às 13h. O intervalo de 5 dias é ideal para que um ciclo completo

dos trabalhos de cobertura nas duas emissoras seja estabelecido. A

cobertura de cada dia tende a se repetir ao longo das semanas de

trabalho do Congresso Nacional, na maioria dos casos.

O horário das 8h às 13h foi o escolhido para poder ser percebido

aquilo que difere uma emissora da outra. No período da tarde, geralmente

a prioridade é para a transmissão da sessão plenária das duas casas. À

noite, é comum a transmissão ao vivo seguir direto do plenário ou, na

ausência deste, a programação legislativa dá lugar a blocos musicais,

seguidos de notícias e programas culturais e informativos. O período da

manhã, quando acontece a maioria das reuniões de comissões e sessões

extraordinárias, é o momento propício para serem identificadas as

diferenças básicas entre o estilo de programação das emissoras.

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1. O VEÍCULO RÁDIO, A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E A COBERTURA JORNALÍSTICA

O rádio é o veículo de maior abrangência no território nacional.

Praticamente todo o país é atingido por essa mídia. Segundo Ferraretto

(2000), as características do rádio como meio de comunicação são:

audiência ampla, anônima e heterogênea; mensagem definida com base

em uma média de gosto1; retorno baixo, já que não existe a possibilidade

de feedback imediato2; recepção simultânea e recursos financeiros vindos

da venda de espaços comerciais, os patrocínios.

A partir da década de 1970, algumas emissoras iniciaram o

processo de segmentação. Vários motivos contribuíram para esse

fenômeno, sendo o surgimento da televisão o principal deles. A nova

mídia adicionava imagem àquilo que o rádio produzia de melhor: as

novelas e programas de auditório. Dessa forma, as rádios buscaram um

novo caminho para reverter o processo de decadência mercadológica, a

que estavam expostas.

A especialização para garantir a sobrevivência não foi o caminho encontrado apenas pelo rádio, mas, no entender do sociólogo Gabriel Cohn, de todos os meios que compõem a chamada “indústria cultural”. (...) E a especialização acabou ocorrendo pela necessidade de atender ao mercado, onde existem diversas faixas socioeconômicas que precisam ser exploradas adequadamente. (Ortriwano, 1985, p. 29).

Diferentes preferências começaram a ser consideradas pelos

radiodifusores, na busca por um filão da audiência. A TV já dominava o

público homogêneo, com variedade de gostos e estilos, enquanto o rádio

tomava outro rumo. Gisela Ortriwano (1985) define rádios segmentadas

como “emissoras que se especializam, como um todo, em oferecer

1 Segue-se aqui a teoria do Mosaico Cultural de Abraham Moles na cultura de massa, visto que

mesmo em uma emissora voltada para as classes A, B e C, que faz uma ampla cobertura jornalística, o texto radiofônico não deve ser excessivamente erudito nem excessivamente coloquial. 2 Ferraretto (2000) afirma que a interatividade do rádio não garante um retorno alto, já que nem

todos conseguem telefonar e dar a sua opinião no programa e isso nem sempre é possível.

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programas para uma faixa determinada de público, dando opção aos

anunciantes cujos produtos possam interessar àquele público”.

Uma emissora de rádio segmenta sua programação a partir das

necessidades de seu público-alvo. A priori, surge o formato, uma espécie

de filosofia de trabalho da emissora, que pode ser puro ou híbrido. Dentre

os puros, destacam-se cinco como os mais usados: informativo, musical,

comunitário, educativo-cultural e místico-religioso. Já os híbridos mais

encontrados são os chamados: de participação do ouvinte (mescla

informativo e comunitário) e música-esporte-notícia (informativo e

musical).

A posteriori, surge a programação, conjunto ordenado de tudo o

que é transmitido. É exatamente aí o ponto de diferenciação de uma rádio

em relação à outra. As formas mais comuns são: a programação linear,

programação homogênea em que os programas seguem uma linha

semelhante; programação em mosaico, programas bastante variados e

diferentes entre si, muito comum nos mercados pouco desenvolvidos

economicamente; e programação em fluxo, a base deixa de ser a troca de

programa e passa a ser a troca de âncora, é o modelo que mais cresce

nos grandes centros do país.

Definidas essas bases, fica simples formar as unidades básicas da

programação, os programas. Estes se dividem em dois grandes grupos de

acordo com seu objetivo: informativos e de entretenimento. Dentre os

informativos, temos noticiário, programa de entrevista, programa de

opinião, mesa-redonda e documentário. Nos programas de

entretenimento, se enquadram os programas humorísticos, as

dramatizações, programas de auditório e os musicais.

No radiojornalismo, os modelos norte-americanos foram importados

para o Brasil. O all news, especializado na transmissão de notícias e

reportagens 24 horas por dia, e o all talk, baseado na conversa com o

ouvinte, debates e entrevistas, foram utilizados por muitas emissoras

brasileiras que tinham como alvo a fatia de audiência das classes A e B.

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Esse público, geralmente de alto poder aquisitivo, tem necessidade

(profissional ou pessoal) de se manter ciente dos principais

acontecimentos do local onde vive. Essa forma de abordar o rádio

denominou-se “rádio de mobilização”3.

A segunda alternativa adotada pelos radiodifusores para a

diminuição de custos foi a formação de redes via satélite. Várias

emissoras de grandes centros do país transmitiam sua programação,

como cabeças-de-rede, para afiliadas em cidades de menor porte. Isso se

deu em rádios musicais como a Atlântida FM, de Porto Alegre, Rádio Mix

FM, Jovem Pan FM, e Rádio Transamérica FM de São Paulo, por

exemplo.

No segmento jornalismo, outras redes se destacam, como a CBN –

Central Brasileira de Notícias, do Rio de Janeiro, Bandeirantes, de São

Paulo, e Jovem Pan (ex-Panamericana), também de São Paulo. A Jovem

Pan AM deu os primeiros passos no Brasil em busca da integração

nacional através do radiojornalismo4. A emissora, criada em maio de

1944, viveu os principais períodos da história da radiodifusão brasileira,

mudando seu formato até definir-se como uma rádio 100% jornalística.

Em 1973, Antônio Augusto Amaral de Carvalho assume o total controle acionário da emissora. O rádio brasileiro em geral recuperava seu fôlego após ter perdido força, em confronto com a televisão. O radiojornalismo ganha prestígio, ao tirar proveito da agilidade em passar para o público a informação. (Porchat, 1993, p.18)

Neste cenário, chegamos a uma gama de possibilidade de

3 Gisela Ortriwano (1985) conceitua que o rádio de mobilização procura tornar o ouvinte

participante da transmissão, mantendo um ritmo sempre dinâmico. Segundo o seu conceito, o jornalismo ganha destaque, com o noticiário tendendo para assuntos locais e para a prestação de serviços à comunidade. 4 Segundo Maria Elisa Porchat (1993), dois anos antes de abandonar o título de “emissora dos

esportes” e se consolidar como uma rádio jornalística, no início de 1971, a Jovem Pan coordenou o primeiro noticiário de integração nacional que interligava todo o Brasil. As emissoras integrantes eram as rádios Itatiaia de Belo Horizonte, Continental do Rio de Janeiro, Cabuji de Natal, Tropical de Manaus, Difusora de Porto Alegre, Cruzeiro de Salvador e Nacional de Brasília. Cada uma delas tinha uma participação de três minutos ao vivo, trazendo aos mineiros, gaúchos e nordestinos que moravam em São Paulo as informações sobre seus Estados; dava às rádios regionais um noticiário nacional e internacional de qualidade e possibilitava-lhes divulgar seus Estados em rede nacional.

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construção da chamada programação radiofônica. Diretores de rádio e

outros profissionais passam a montar suas grades com programas,

buscando adequação ao que é atraente para seus dois públicos: os

ouvintes e os anunciantes. Conceitualmente, as programações de rádio

são passíveis de classificação em diversos formatos. Para este trabalho,

escolhemos Ferraretto (2014), por sua teoria definir a programação como

sendo parte de um processo de construção do conteúdo da emissora e

não apenas uma fórmula matemática de soma de programas.

A programação está no caminho da construção da identidade da

emissora, não podendo assim, se distanciar desta. Ela surge dos anseios,

necessidades e/ou objetivos do emissor, seja a rádio AM, FM, online ou

um simples podcast. A meta é atender aos mesmos anseios,

necessidades e/ou objetivos do receptor, no caso, o ouvinte. O segmento,

o formato e a programação criam a identidade da emissora.

Como este estudo se refere às Rádios Câmara FM e Senado FM,

usar-se-á conceitos de cobertura jornalística, pois esta é predominante

nas programações das duas rádios para transmitir os conteúdos

legislativos ao público. O objetivo primordial das emissoras de rádio do

Poder Legislativo Federal é levar ao cidadão as informações sobre o que

acontece no Congresso Nacional. Para isso, utiliza-se de diversos

formatos, que serão tratados com maior profundidade ao longo deste

trabalho.

1.1 Cobertura no Radiojornalismo

O termo “cobertura” pode ser entendido de duas formas: no setor

de mídia é o alcance de público que determinado veículo de comunicação

apresenta; em jornalismo significa o trabalho de apuração dos fatos,

desenvolvido por uma equipe de repórteres, editores e demais jornalistas.

Neste nível, é mais simples seguir o conceito elaborado por Rabaça &

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Barbosa (1978), em que cobertura seria o “trabalho de apuração de um

fato no local de sua ocorrência, para transformá-lo em notícia”.

Erbolatto (1986) contribui afirmando que cobertura é o “ato pelo

qual os integrantes da reportagem vão a determinado local e colhem

elementos sobre o que ocorreu”. Assim, há várias formas de se fazer

cobertura em radiojornalismo. Ao coletar os dados que servirão de pauta

no processo jornalístico, o repórter poderá veiculá-los imediatamente (ou

quase) em um boletim ao vivo ou trazê-los para a redação e repercuti-los

em uma grande reportagem, em uma futura entrevista ou, ainda, na

redação de uma notícia.

Segundo Prado (1989), a reportagem é o mais rico gênero

informativo para o rádio, devido à ausência de estrutura rígida. Porém, na

reportagem radiofônica há uma primeira divisão indiscutível: reportagem

simultânea e reportagem diferida.

A reportagem simultânea se realiza ao vivo e a criação é executada paralelamente ao desenrolar da ação reportada. O eixo criativo é dado pela própria ação que faz de fio condutor da narração. Neste tipo, trabalha-se sobre a marcha dos acontecimentos e o jornalista deve selecionar constantemente aquelas representações fragmentárias mais significativas. (Prado, 1989, p. 86).

São exemplos de reportagem simultânea os boletins ao vivo e a

transmissão externa ao vivo, ambos comuns na cobertura jornalística de

rádio. O primeiro se dá em fatos isolados e importantes que, muitas

vezes, acontecem de forma extraordinária, sendo necessária a sua

veiculação imediata em uma edição extra ou radiojornal da emissora. O

segundo caso é típico de eventos importantes previamente agendados e

exige uma equipe completa de jornalistas para realizar a transmissão e

material técnico específico.

Prado (1989) complementa que “a narração na reportagem

simultânea é forçosamente improvisada e, por isso, muito difícil”. Além

disso, o ambiente acústico provoca uma cascata de imagens sonoras que

necessitam da criatividade do ouvinte para transformá-las em imagens

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visuais particulares. Essa característica evidencia o sentido de

participação nos fatos que produz no ouvinte.

Sobre o outro estilo de reportagem comumente usado, que é

oposto à reportagem simultânea, o autor afirma:

A reportagem diferida permite a montagem. Portanto, a seleção das representações fragmentadas da realidade, se faz após o conhecimento da ação, uma vez que esta tenha sido concluída. O ordenamento das representações não precisa seguir uma sequência cronológica, mas uma ordem lógica que facilite a compreensão do fato. (Prado, 1989, p. 89)

A ideia é transmitir em poucos minutos alguma ação desenvolvida

em uma fração de tempo muito superior sem esconder a informação.

Dessa forma, a síntese é a principal vantagem da reportagem diferida.

Esse tipo de material é produzido para programas de maior duração como

radiojornais, radiorrevistas ou para antecipar um debate/entrevista.

É possível usar da criatividade para empregar da melhor forma a

flexibilidade que a reportagem diferida oferece. Prado (1989) aponta

introdução, desenvolvimento e encerramento como partes fundamentais

do material a ser produzido. A introdução teria a função de atrair a

atenção sobre o tema, podendo fornecer os dados mais atraentes que

conterá a reportagem, ressaltar o dado mais surpreendente, a situação

mais chocante, levantar elementos contrapostos, etc. O desenvolvimento

dá a ideia do fato e não sua ação (ao contrário da reportagem

simultânea), e o encerramento tem uma função redundante que resgata

os elementos mais significativos para reforçar a ideia do fato.

Na cobertura jornalística de rádio, tanto para uma reportagem

simultânea como numa diferida, é necessário preparação do repórter. Na

comunicação ao vivo, é fundamental um conhecimento profundo do tema

a tratar, para evitar uma narração cheia de lugares-comuns e frases

rebuscadas com pouca informação. Por isso e pela tensão causada

durante a transmissão, que muitas vezes é imprevisível, deve-se preparar

com uma base de dados muito superior à que será utilizada.

Page 17: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

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Na reportagem diferida, é imprescindível chegar ao local dos fatos

sabendo os motivos, antecedentes e consequências do que acontecerá

para selecionar os fragmentos interessantes. Caso contrário, uma

apuração de dados desnecessários poderia atrasar a realização da

reportagem.

Todas as formas de expressão jornalística, como o boletim ao vivo,

a reportagem, a entrevista ou a notícia, veiculadas no rádio precisam

acatar o que o meio radiofônico exige, como relata Ortriwano (1985).

O produto radiofônico – mensagem – precisa respeitar todas as características do meio e as condições de recepção, devendo estar entre as preocupações básicas do emissor o fato de a mensagem radiofônica estar destinada a ser apenas ouvida. (Ortriwano, 1985, pág. 83)

Interpretando Ferraretto (2000), entende-se que o discurso

radiofônico, pela abrangência do veículo e pelas características do rádio,

deve ser o mais preciso, conciso e claro dos discursos jornalísticos. Deve

ainda usar, com o máximo de propriedade, o repertório do público-alvo. O

quesito “precisão” se refere à transmissão dos fatos com o máximo de

exatidão. Por “clareza” percebe-se que o discurso jornalístico deva ser

apresentado de forma sistemática, permitindo o seu entendimento por

qualquer integrante da audiência. A mensagem “concisa” define aquela

que é compreendida facilmente usando o menor número possível de

palavras, devendo dosar a qualidade da informação com a quantidade de

texto. E a “propriedade” comentada é o uso, no discurso jornalístico, de

termos que integram o universo vocabular da audiência.

O uso desse discurso se dá através dos interesses da empresa de

radiodifusão. Ela é proprietária de dois produtos que interessam a dois

clientes diferentes. Enquanto a programação é elaborada para os

ouvintes, o espaço publicitário é comercializado com os anunciantes.

Quando essa empresa de radiodifusão define a cobertura jornalística

como base de sua programação, ela passa a obedecer aos conceitos,

princípios e função da atividade do jornalismo, a chamada “instituição

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jornalística”, ou seja, aquilo que define as características universalizáveis

do que se pode reconhecer como sendo jornalismo. Segundo Josenildo

Guerra (2005, p.2), “a instituição representa uma ideia que aponta para

um ‘dever ser5’; a organização é o ‘ser’ desta instituição num determinado

momento, num determinado lugar.”

Sendo assim, a empresa de radiodifusão se torna uma

“organização jornalística”. As organizações apresentam características

particulares entre si, que decorrem de como é definido um modo próprio

de operação. Cada organização adquire uma personalidade a partir da

forma que assimila e aplica as diretrizes institucionais. Guerra (2005)

explana que isto ocorre em decorrência de diferentes aspectos, tais como

a maior ou melhor qualificação do corpo técnico e da infraestrutura de

trabalho; a responsabilidade moral da equipe; a existência de grupos de

pressão atuando junto à organização; entre outros.

Progredindo nessa conceituação, conclui-se que uma empresa de

radiodifusão, enquanto organização jornalística é composta, basicamente,

por três núcleos de atividade: administrativo, operacional e técnico. Os

dois primeiros são núcleos que se enquadram numa categoria que se

pode chamar de “logística”, pois cuidam do planejamento geral do

funcionamento da organização e oferecem as estruturas práticas de

realização do trabalho. O núcleo técnico corresponde à constituição

elementar do jornalismo como profissão, uma categoria que diz respeito

exclusivamente às competências requeridas dos jornalistas para a

realização do trabalho. Segundo Dóris Fagundes Haussen (1997), a

Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, teve a primazia em dar forma

jornalística ao rádio.

5 Para Guerra (2005), “instituição” – princípios, conceito e função – delimita parâmetros através

dos quais torna-se possível identificar uma atividade considerada jornalística de outra que não o seja e, em conseqüência, estabelecer, dentre aquelas do primeiro grupo, níveis diferenciados de qualificação para o jornalismo que praticam. Enquanto isso, por “organização” deve-se entender, inicialmente, o grupo de pessoas e meios efetivamente dedicados à missão de “dar vida” ao conceito, aos princípios e à função que caracterizam a “instituição” jornalística.

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Nesse sentido, a Nacional também inovou ao organizar, pela primeira vez, no país, uma redação própria para noticiários, com a rotina de um jornal impresso. No entanto, foi com o “Repórter Esso”, lançado às 12h55min de 28 de agosto de 1941, que a emissora se destacou. Voltado inicialmente para a divulgação das notícias da Guerra, permaneceu no ar durante 27 anos, até 1968. (Haussen, 1997, p. 59)

A cobertura jornalística numa emissora de rádio tem a sua principal

representação nos programas informativos da mesma. Seguindo os

formatos estipulados por Ferraretto (2000), temos o “noticiário” como o

principal dos formatos de programas no radiojornalismo. Este se subdivide

em “síntese noticiosa” que, como diz o nome, sintetiza os principais fatos

desde a sua última exibição. Predomina o texto curto e direto, com

destaque para o principal fato ao final do noticiário. Normalmente a

duração de uma síntese noticiosa é de cinco a dez minutos. O formato é

muito usado no Rio Grande do Sul, como uma forma de seguir o modelo

do “Repórter Esso”. Em outros estados, como São Paulo, a “síntese

noticiosa” é chamada de “compacto”.

Outra subdivisão do “noticiário” é o “radiojornal”. Este programa de

cunho informativo caracteriza-se assim, segundo Ferraretto (2000):

Corresponde a uma versão radiofônica dos periódicos impressos, reunindo várias formas jornalísticas (boletins, comentários, editoriais, seções fixas – meteorologia, trânsito, mercado financeiro... – e mesmo entrevistas). Os assuntos são agrupados por editorias, regiões geográficas, similaridade ou, mais recentemente, em fluxo (Ferraretto, 2000, pg. 55).

Uma síntese noticiosa ou radiojornal, se concentrarem sua

cobertura em um assunto bem determinado, como saúde, esporte ou

política, por exemplo, poderá ser chamado de “informativo especializado”.

Ainda na subdivisão de “noticiário”, temos a “edição extra”, um mini-

informativo que tem, na maioria das vezes, uma trilha forte interrompendo

a programação para que a rádio transmita um fato urgente que não pode

esperar o próximo noticiário da emissora. Por fim, o “toque informativo” é

um programa curto que vai ao ar, normalmente nas horas cheias,

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apresenta uma ou duas notícias, geralmente sobre artistas, e é típico das

rádios FM musicais.

O “programa de entrevista” possui um apresentador ou âncora que

conduz as entrevistas, emite opiniões e chama repórteres eventualmente.

A participação de protagonistas dos fatos e de analistas ocupa a maior

parte do programa. Já o “programa de opinião” se destaca pela polêmica

gerada pelo âncora e tem participação secundária de comentaristas e de

repórteres, em menor número. A “mesa-redonda” é um programa que

aborda temas da atualidade e conta com participantes especiais

convidados exclusivamente para aquela transmissão. Este formato se

divide em “painel”, quando não há uma divergência de opiniões entre os

convidados, que fazem comentários complementares uns aos outros, até

que haja uma visão ampla do assunto em discussão; e “debate”, que

incita o confronto direto de ideias entre pessoas, propositadamente

contatadas pela produção, com desacordo de conceitos e juízos.

O “documentário” é o programa jornalístico que aborda um tema

com profundidade. A produção usa pesquisa de dados e sons, incluindo

montagens e a elaboração de um roteiro prévio, com várias possibilidades

de resolução. A “radiorrevista” ou “programa de variedades” é um tipo de

programa que mescla aspectos informativos e de entretenimento,

reunindo notícias, entrevistas, quadros, músicas e humor, além da

divulgação dos chamados fait divers.

Em todos estes formatos jornalísticos, especialmente nos

noticiários, é primordial a transmissão de notícias6. E, estas notícias

deverão ter atualidade, isto é, serem divulgadas o mais breve possível em

relação ao acontecimento; ter proximidade, ocorrer o mais próximo

possível do público, ou ter a máxima importância para os habitantes do

lugar de abrangência da emissora; ter proeminência, envolvendo pessoas

importantes de acordo com o quadro de valores daquela sociedade; e ter

6 Segundo Marcelo Parada (2000, p. 27), o teste final para saber se o assunto é ou não notícia é

verificar se ele se encaixa nos seguintes tópicos: importante; trágico; raro; o último ou mais recente; o mais caro; acabou de acontecer; vai acontecer; o primeiro ou o maior.

Page 21: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

13

universalidade, interessar o maior número de pessoas possíveis em

relação às necessidades e conhecimento da audiência.

Mesclando teorias de Chantler & Harris (1998) e Ferraretto (2000),

determina-se que o fluxo dessas informações pode ter vários percursos.

Um dos pontos fixos deste trajeto na emissora de rádio é a definição da

pauta, quando os pauteiros e chefes de reportagem definem os assuntos

que serão objeto de cobertura jornalística e coordenam o trabalho dos

repórteres, a coleta de informações e a redação e edição do noticiário.

Até esse material chegar aos ouvintes, é necessário que a

informação seja conhecida pela redação. Isso se dará através de fontes

externas, que podem ser desde outros veículos de comunicação

concorrentes até internet, assessorias de imprensa e agências de

notícias. Outras fontes externas comuns são serviços de emergência e

utilidade pública, ouvintes e informantes, que podem estar entre políticos

e prefeituras até grupos de pressão da sociedade.

Entre as fontes internas, destacam-se a equipe de reportagem, os

correspondentes e enviados especiais, e, até mesmo funcionários de

outros setores da emissora, como destaca Parada (2000):

Numa rádio jornalística, todos os funcionários são repórteres. Este é o conceito: a reportagem envolve desde o dono da emissora até quem não está diretamente ligado à função de produzir e captar notícias. Eis a diferença entre a rádio viva e quente e a emissora anódina e burocrática. É do esforço coletivo, do envolvimento e do trabalho em equipe que vem a força de um prefixo. (Parada, 2000, p. 29).

A cobertura jornalística no rádio, além de formatos, envolve

gêneros jornalísticos. Wedencley Alves (2005) afirma que “gênero é uma

regularidade enunciativa que se estabelece em meio à heterogeneidade

da prática linguística”. Alves define, para fins de uma análise simplificada,

que se podem dividir os gêneros jornalísticos em três: informativo,

analítico e opinativo. O mais comum no radiojornalismo é o “informativo”,

que aparece nos noticiários com muita frequência, devido a sua

adaptação à concisão do texto radiofônico. A ideia do gênero informativo

Page 22: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

14

é exatamente a de retratar o fato com o mínimo de detalhes necessários a

sua compreensão como notícia.

O gênero interpretativo, não citado por Alves (2005), mas ratificado

por Ferraretto (2000), representa uma ampliação qualitativa das

informações a serem repassadas, situando o ouvinte no acontecimento.

Segundo Rabaça & Barbosa (1978), isso se consegue constituindo

elementos adicionais à informação a tal ponto que ela contenha os

seguintes subsídios: “a dimensão comparada, a remissão ao passado, a

interligação com outros fatos, a incorporação do fato a uma tendência e

sua projeção para o futuro”. Este gênero aparece em boletins, com

recursos de sonoplastia; notícias no estilo manchetado; debates e

entrevistas, além das grandes reportagens.

A empresa de radiodifusão ou o âncora ainda pode usar do

jornalismo opinativo para exibir um julgamento a respeito de um

acontecimento ou assunto, indo além da simples interpretação dos fatos.

O gênero opinativo também está presente em comentários e editoriais.

Por fim, o jornalismo analítico é o exercício da crítica por um profissional

especializado, que tenha um poder de análise considerável sobre

determinado assunto.

No gênero analítico, o que mais conta é a expertise, a palavra do especialista, e é isso que o legitima. No gênero opinativo, é o cabedal argumentativo que sustenta o seu objetivo de convencimento e persuasão. No último caso, dados, documentos e depoimentos, quando utilizados, estão a serviço da força retórica que o autor quer imprimir ao texto. (Alves, 2005).

No radiojornalismo, a estrutura da notícia está intrinsecamente

ligada às, já citadas, características: concisão, precisão, clareza e

propriedade. Dessa forma, o texto, na maioria das vezes, é curto,

permitindo a rápida compreensão pelo ouvinte, uma vez que ao contrário

dos meios impressos, não há a possibilidade de ler a notícia várias vezes,

até o entendimento completo. Geralmente, a notícia radiofônica,

apresenta no primeiro período as informações equivalentes ao lide do

Page 23: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

15

jornal: o que, quem, onde e quando. O como e o por quê são

desenvolvidos ao longo dos demais períodos em ordem decrescente de

importância, porém, um detalhe mais significativo pode encerrar a notícia.

Esse é o produto final da cobertura jornalística. Tal cobertura é

facilitada pela modernização técnica e administrativa a que empresas de

radiodifusão, enquanto organizações jornalísticas, têm acesso. A

possibilidade de fazer boletins ao vivo de qualquer lugar, a qualquer

momento é maior do que décadas atrás e a notícia torna-se cada vez

mais instantânea. No entanto, a chance de erro aumenta à medida que há

menos tempo para preparação da notícia. Daí, a importância do trabalho

de apuração e checagem das informações7 antes da veiculação, como

afirma Sandro Vaia:

Uma declaração mal ouvida, ou mal transcrita, ou citada fora de um contexto, ou uma informação mal apurada, num mercado como esse, pode significar uma revoada de milhões, um negócio arruinado, uma operação desastrosa. Por isso, a angústia da rapidez soma-se à preocupação obsessiva com a exatidão. (Vaia in: Nogueira, 1994, p. 97).

7 Sobre a checagem de informações, Maria Elisa Porchat (1993, p.26) comenta que este é um

cuidado básico. Embora o imediatismo seja o grande triunfo do rádio, toda notícia deve ser checada antes de ir para o ar. A “‘barriga”, ou notícia “furada”, não pode jamais acontecer. Em notícias de impacto emocional, que possam alarmar a população, a responsabilidade da emissora exige um cuidado maior na checagem da informação.

Page 24: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

16

2. SEGMENTO, FORMATOS E PROGRAMAS DAS RÁDIOS CÂMARA FM E SENADO FM

As duas emissoras de rádio oficiais do Congresso Nacional têm

segmentações semelhantes. Seus objetivos se coadunam e ambas

adotam formatos semelhantes de propagação de conteúdo. As rádios

legislativas enfocadas neste estudo dividem seu espaço majoritário entre

a cobertura legislativa, subdividida entre transmissão ao vivo dos

trabalhos legislativos (prioritariamente reuniões de comissões, audiências

públicas e sessões plenárias) e programas jornalísticas com conteúdo

focado nos debates e decisões parlamentares, e programação musical.

Há espaço também, ainda que reduzido quantitativamente, a programas

de caráter comunitário, durante a semana, e culturais,

predominantemente aos sábados e domingos. Algumas diferenças

pontuais, porém importantes, no trabalho das rádios Câmara FM e

Senado FM serão tratadas ao longo desta pesquisa, mas antes faz-se

necessário narrar um breve histórico.

A Rádio Câmara FM iniciou suas transmissões em Brasília em 20

de janeiro de 1999 para dar transparência aos trabalhos da Câmara dos

Deputados. A emissora foi criada pela Resolução número 22 de 1997.

Desde então, a emissora oferece aos ouvintes a transmissão ao vivo das

votações em Plenário, a cobertura jornalística das atividades

parlamentares, programas voltados à formação de cidadania, campanhas

de utilidade pública, radionovelas, além de uma programação cultural e

musical comprometida com a diversidade do país.

De acordo com informações postadas no site oficial da emissora,

todo material jornalístico produzido está disponível na internet e é baixado

e reproduzido por mais de 2 mil emissoras parceiras em todo o país. O

próximo projeto da Rádio Câmara é a ampliação do sinal, hoje disponível

via satélite, pela internet e em sinal aberto de FM em Brasília, na

frequência de 96,9. Durante a execução deste trabalho, a Rádio Câmara

Page 25: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

17

estava presente em frequência modulada em Cuiabá (MT) e Bauru (SP).

O projeto de expansão inclui outros 18 municípios que também

poderão ouvir a Rádio Câmara por meio de parcerias com os legislativos

estaduais e municipais. De acordo com notícia publicada no site da

Câmara dos Deputados, o Ministério das Comunicações já liberou para a

consignação para canais de rádios FM para Rio Branco (AC), Salvador

(BA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Belém (PA), Campo Grande (MS),

Macapá (AP), São Luís (MA), Teresina (PI), Montenegro (RS), Mogi Das

Cruzes (SP), Ourinhos (SP), Penápolis (SP), Santos (SP), Divinópolis

(MG), Montes Claros (MG), Uberlândia (MG), Santarém (PA), Ponta

Grossa (PR) e Quatro Barras (PR)

Já a Rádio Senado surgiu com o intuito de articular uma série de

iniciativas desenvolvidas pelo Senado Federal, como o Jornal do Senado

produzido para a Voz do Brasil, os boletins telefônicos veiculados por

meio de ligação gratuita e o serviço de som do Senado, conhecido como

Dim-Dom, pelo qual era veiculado o áudio das Sessões Plenárias, os

avisos de interesse do público interno, e música brasileira.

Em 1996, por decisão do então Presidente do Senado José

Sarney, foi criada uma comissão para desenvolver projeto de instalação

de uma emissora, inicialmente de FM. E em 29 de janeiro de 1997, foi

criada a Subsecretaria de Rádio Senado, com o objetivo prioritário de

transmitir o áudio das reuniões das comissões e das sessões plenárias do

Senado Federal e do Congresso Nacional. À nova emissora coube, ainda,

divulgar as demais atividades do Senado, incluindo as ações de sua

Presidência e dos senadores.

Diferentemente da Rádio Câmara, a Rádio Senado prioriza sua

expansão para as capitais. Hoje, ela está presente com sinal em

frequência modulada em outras nove cidades, além de Brasília (DF). São

elas: Cuiabá (MT), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Macapá (AP),

Manaus (AM), Natal (RN), Rio Branco (AC), São Luís (MA) e Teresina

(PI). A distribuição de conteúdo também acontece por meio de newsletter

Page 26: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

18

para emissoras conveniadas em todo o Brasil, em uma rede que inclui

rádios comunitárias, educativas, públicas, estatais, além de rádios online

e podcasters. Estas emissoras cadastradas também participam em rede

de coberturas eventuais, como eleições, por exemplo.

2.1 Programas da Rádio Câmara FM e seus formatos

Os programas da Rádio Câmara FM serão apresentados a seguir

com uma breve explicação, mesclando informações oficiais presentes no

site da Rádio Câmara com a compreensão do autor deste trabalho

durante o período de audição da emissora. Para evitar dubiedade

conceitual na pesquisa, Ferraretto (2014) é a principal fonte deste

trabalho para a categorização de programas e nomenclatura de formatos

e segmentos de rádio.

A Música do Dia é um programete musical com, aproximadamente

10 minutos de duração. Um locutor conta uma história relevante, verídica

ou não, sobre aquela data e apresenta em seguida uma música para

ilustrar o que acabou de ser contado. O desanúncio da música retoma o

assunto em uma frase de encerramento. O programa vai ao ar

diariamente, às 4h50.

Na sequência, o Brasil Caipira traz notícias sobre o trabalho

legislativo na Câmara dos Deputados, junto de músicas caipiras,

conversas com artistas e ouvintes e entrevistas com parlamentares. Ainda

são apresentados quadros informativos sobre educação, agricultura

familiar, direitos do cidadão, além de informações sobre o trânsito nas

cidades onde a Rádio Câmara é transmitida. O programa vai ao ar de

segunda a sexta-feira, das 5h às 7h.

O Com a Palavra, é um programa que pode ser considerado

Page 27: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

19

radiojornal ou informativo especializado8. O programa é apresentado ao

vivo, de segunda a sexta-feira, a partir das 7h30 da manhã, podendo

chegar a duas horas de duração, a menos que seja interrompido por

transmissão ao vivo de um trabalho legislativo. A atração traz entrevistas

com parlamentares, cientistas políticos, representantes da sociedade civil

e demais especialistas sobre os principais temas em debate na Câmara

dos Deputados. Ainda acompanha o dia-a-dia da atividade parlamentar

com reportagens factuais sobre o trabalho legislativo. O programa

também apresenta resumos e faz balanços dos trabalhos da semana,

tendo uma versão mais próxima do soft news, às sextas-feiras, com

quadros diferenciados, voltados a temas culturais.

O Brasil em Debate consta da programação oficial da Rádio

Câmara FM. O programa é produzido em conjunto com a TV Câmara e

tem seu conteúdo exibido nos dois veículos. Trata-se de um programa de

debates, onde os dois convidados geralmente são deputados federais

com visões opostas sobre um tema importante que esteja em destaque na

Casa. O programa tem aproximadamente 20 minutos de duração e

aparece na grade oficial do site da Rádio Câmara, embora durante o

período da pesquisa não tenha sido exibido nos horários previstos.

Outra atração feita em parceria com a TV Câmara é o Palavra

Aberta. Neste programa de entrevistas9, um apresentador faz perguntas a

um deputado sobre um determinado tema específico de atuação do

parlamentar. A duração da entrevista varia de 10 a 15 minutos. O

programa aparece com horários fixos na grade oficial de programação,

mas foi exibido mais vezes do que o previsto no período de análise da

8 Segundo Ferraretto (2014, p.83), “o informativo especializado pode adotar a forma de uma síntese noticiosa ou de um radiojornal, diferenciando-se destes pela especificidade dos assuntos tratados. O informativo especializado concentra-se em uma área de cobertura especializada.” Apresentamos esta classificação ao Com a Palavra devido ao fato de o programa tratar quase

exclusivamente de política durante todo o período pesquisado. 9 Tanto o Palavra Aberta quanto os demais programas de entrevistas exibidos pela Rádio Câmara obedecem ao conceito de Ferraretto (2014, p.83). O autor afirma que neste tipo de programa “é fundamental a figura do apresentador que conduz as entrevistas, chama repórteres e, quando necessário, emite opiniões. No entanto, a interpelação de protagonistas dos fatos ou de analistas ocupa a maior parte das emissões.” No caso do programa citado, devido ao tempo curto, somente a opinião do deputado é destacada.

Page 28: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

20

programação da emissora. Os temas são variados e atemporais, trazendo

os deputados como especialistas ou ativistas do assunto em questão.

Um programa no mesmo formato deste é o Conversa sobre

Política. O foco é um tema relacionado à política, mesmo que não seja

tratado diretamente pela Câmara dos Deputados. Um especialista é

convidado a falar sobre um tema variado, que esteja ou já tenha sido

objeto de decisão ou discussão pelo Parlamento. Informações

aprofundadas são passadas aos ouvintes sobre assuntos como

preparação para os Jogos Olímpicos, morte de jovens, política no futebol,

relações entre Brasil e Venezuela, entre outros.

O programa Câmara é Notícia é uma síntese noticiosa10

apresentada por um locutor e que traz as notícias mais recentes da

Câmara dos Deputados. A síntese tem duração média de 10 minutos e é

apresentada em horários variados do dia. Notas em texto corrido a

respeito dos trabalhos legislativos e reportagens gravadas dão o tom do

noticiário. O ritmo é ditado pela apresentação sóbria e pela marcação da

trilha de fundo na leitura das informações e cabeças de reportagem. O

objetivo deste recurso sonoro é manter o ouvinte alerta às informações

mais importantes, seguindo teoria de Del Bianco:

Os ruídos, os efeitos, a música estão a serviço de ideias, sentidos, discursos construídos na mente do ouvinte. Ao contrário da televisão, em que as imagens são limitadas pelo tamanho da tela, as imagens do rádio são do tamanho da imaginação do ouvinte. Os sons no rádio criam um mundo visual acústico. (Del Bianco, In: Magnoni, 2010. p. 98)

Às terças-feiras, 21h30, entra no ar o Expressão Nacional. O

programa é um debate semanal, apresentado pela TV Câmara e

retransmitido pela Rádio Câmara. São convidados deputados com

opiniões contrárias ao tema em discussão, além de especialistas na área.

10 Quanto à síntese noticiosa, Ferraretto (2014) afirma que este tipo de noticiário pretende sintetizar os fatos ocorridos desde a sua última transmissão. O texto curto e direto predomina, mas devido à influência das rádios do centro do país, há elementos de radiojornal, como reportagens factuais ao longo do programa.

Page 29: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

21

Assim, como os demais programas exibidos pela TV e pela rádio, a

linguagem é bem adequada aos dois, em praticamente todos os

momentos, exceto quando é utilizado recurso visual de difícil tradução

para o texto falado, como slides com imagens e gráficos. O programa tem

duração de uma hora e seu horário de início depende da extensão da

sessão plenária.

Nas noites de quinta-feira, às 20h30, é exibido o programa Palavra

de Especialista. Trata-se de um programa de entrevistas sobre temas da

atualidade com um especialista no assunto. A apresentadora faz uma

introdução do assunto e encaminha as perguntas pertinentes com um

estudioso sobre a questão em destaque. Bem-estar, comportamento e

temas menos densos e complexos são tratados com profundidade. O

programa tem duração média de 15 minutos.

Outro programa semanal que se destaca na programação é o

Câmara Ligada. É um espaço voltado para a juventude, com temas do

interesse desta parcela da população. O confronto de ideias nem sempre

acontece, podendo a mesa-redonda11 transformar-se em um painel. São

convidados deputados, especialistas sobre o tema em destaque na

semana, além de uma atração musical identificada com esta geração. Os

jovens participam ativamente do programa como protagonistas dos

debates e também em uma plateia formada por estudantes do ensino

médio. A maioria dos temas é ligada aos direitos humanos, participação

política e inclusão social. O programa é exibido pela TV Câmara e

retransmitido pela Rádio Câmara, às sextas-feiras, às 17h.

Logo depois, os dois veículos seguem ouvindo a opinião da

população em debates de interesse público. O programa Participação

Popular vai ao ar às sextas-feiras, às 18h, ao vivo tanto pela Rádio quanto

pela TV Câmara. Deputados federais e especialistas sobre o tema em

11 Categorização de Ferraretto (2014, p. 84) define mesa redonda como programa que tem sua base na opinião de convidados ou participantes. Pode ser subdividida em painel, quando as opiniões postas se complementam e mesmo que haja divergências o foco é fornecer um quadro geral sobre o assunto; e debate, quando o objetivo é trazer pontos de vista conflitantes proporcionando o confronto de opiniões.

Page 30: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

22

destaque são levados ao estúdio. O debate conta com perguntas e

opiniões de pessoas comuns que, por vezes, são abordadas na rua e

questionadas sobre suas dúvidas e apontamentos sobre o tema da

semana. Também são disponibilizadas formas de envio de perguntas e

comentários por telefone 0800, e-mail e mensagens pelas redes sociais.

Na noite de sexta-feira, às 20h30, um resumo dos

pronunciamentos feitos pelos deputados na tribuna da Câmara Federal é

apresentada no programa Fatos e Opiniões. A resenha tem duração de

meia hora e traz os discursos editados por tema. São destacados os

temas mais importantes debatidos e votados pelos deputados nos últimos

cinco dias. Um apresentador contextualiza no início do programa os

principais temas tratados na semana e chama os trechos de discursos

dos deputados, identificando cada um deles e resumindo a ideia que virá

em seguida na voz do parlamentar.

O principal produto jornalístico da Rádio Câmara vai ao ar de

segunda a sexta-feira, às 19h40. O programa em questão é o Jornal da

Câmara, exibido dentro de A Voz do Brasil. Este radiojornal clássico e

tradicional do rádio brasileiro é apresentado por diversas equipes. A parte

referente ao Poder Executivo é feito pela Empresa Brasil de Comunicação

(EBC), o período reservado ao Poder Judiciário é produzido pela Rádio

Justiça, e a parcela referente ao Poder Legislativo é dividido entre as

rádios Câmara e Senado.

No período de destaque aos trabalhos dos deputados, dois

apresentadores narram as principais notícias do dia na Câmara em 20

minutos. São apresentadas notícias redigidas em formato manchetado12,

trechos de pronunciamentos em plenário e nas comissões, além de

reportagens aprofundando os fatos mais importantes daquela data.

12 Ferraretto (2014, p.133) define texto manchetado como um aprimoramento dos radiojornais dos anos 1940 e 1950, no qual dois ou três locutores são responsáveis pela apresentação das notícias. Esta prática é conhecida no país como leitura ponto-a-ponto. Porém, o autor adverte que este estilo não deve ser confundido com uma mera divisão do conteúdo entre várias vozes. Este tipo de redação possui uma técnica própria “lembrando manchetes da imprensa, uma complementando a outra na conformação da descrição ou da narrativa dos fatos, opiniões ou serviços”.

Page 31: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

23

Também são exibidas peças institucionais da Câmara dos Deputados,

como campanhas visando a promoção da cidadania e anunciando formas

de participação do cidadão nas decisões e debates realizados na Casa.

Os formatos e programas exibidos aos fins de semana pela Rádio

Câmara agrupam atrações culturais, musicais, reprises de programas que

foram ao ar durante a semana e também uma radiorrevista em destaque:

Feijoada Completa. O programa traz músicas, informação e opinião sobre

os temas em destaque. A apresentação é feita de forma descontraída,

com o objetivo de amenizar a densidade dos temas já tratados durante os

dias da semana. A atração é dividida em quatro blocos, cada um tratando

de um assunto em evidência na Câmara dos Deputados. O programa vai

ao ar aos sábados, às 9h, e tem duas horas de duração.

Outros destaques dos fins de semana são os programas musicais

e culturais. Alguns deles são o Anjos da Noite, sobre blues, soul e outras

vertentes da música negra norte-americana. O programa é exibido nas

noites de segunda-feira e tem reprise na madrugada de sábado. Também

no sábado, às 7h, vai ao ar Pauta Musical, que traz clássicos da música

erudita. O Aplauso é exibido no mesmo dia, às 11h, com músicas e

entrevistas com artistas em proeminência no cenário musical brasileiro. O

Talentos abre espaço para nomes consagrados e também revelações da

MPB. As entrevistas são gravadas pela TV Câmara e exibidas também

pela rádio. Este horário (sábado, às 23h) é dividido com o Palco Brasil,

programa que apresenta um compacto da gravação de shows realizados

em Brasília (DF).

No domingo, às 8h30, é exibido o Casa da Árvore, programa

voltado para o público infantil. Ao meio-dia, vai ao ar O Samba da Minha

Terra, faixa musical exclusiva para o ritmo samba. À noite, é exibido o

Tanto Mar, programa que se dedica à música portuguesa. Fechando a

lista de programas musicais da emissora, o Marco Zero é destinado a

apresentar os lançamentos da música internacional. A atração é exibida

às quintas-feiras, às 22h.

Page 32: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

24

2.1.1 Programação musical da Rádio Câmara FM

Quando não há programa informativo, musical ou cultural sendo

exibido, a Rádio Câmara veicula a sua programação musical. O

diferencial da emissora está no formato utilizado para estas transmissões.

O formato é intitulado música-notícia pelos apresentadores da rádio.

Cada bloco musical tem duas músicas. O locutor anuncia intérprete

da primeira canção da sequência, logo no início do bloco. Ao final das

duas músicas, ele desanuncia o bloco e apresenta uma reportagem sobre

as atividades do dia na Câmara dos Deputados. Ao final da reportagem,

por vezes, é exibida uma edição do programa Palavra Aberta. Em outras

ocasiões, é veiculada outra reportagem ou um intervalo composto por

peças institucionais para, então, ser anunciada a primeira música do

próximo bloco musical.

Este estilo intitulado música-notícia organiza as faixas em que não

há programa previsto nem transmissão ao vivo de trabalho legislativo. Ao

mesmo tempo em que não privilegia determinadas reuniões de

parlamentares em detrimento de outras, consegue apresentar

resumidamente boa parte do trabalho que acontece na Casa, seja com

reportagens de agenda ou com entradas ao vivo de repórteres direto das

comissões reunidas ou do Plenário. As transmissões legislativas ao vivo e

uma análise mais aprofundada dos blocos aqui citados terão destaque no

capítulo 3.

2.2 Programas da Rádio Senado FM e seus formatos

A apresentação dos programas da Rádio Senado FM seguirá a

Page 33: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

25

mesma linha da Rádio Câmara FM. Serão usadas informações oficiais do

site da emissora para a categorização e a percepção pessoal do

pesquisador para a descrição das atrações veiculadas nos horários de

realização da pesquisa. Assim como no exemplo anterior, as

transmissões ao vivo dos trabalhos legislativos serão explicitadas amiúde

no próximo capítulo.

A programação de segunda a sexta-feira começa com o toque

informativo Senado em 2 Minutos13. O noticiário faz um breve resumo das

principais notícias do Senado Federal no dia anterior. As edições que vão

ao ar a 1h e às 5h são reprises da edição original, apresentada às 23h do

dia anterior.

Logo depois, às 6h, entra no ar o programa Senado É Mais Brasil.

O programa adota o formato radiorrevista e se aproxima do segmento

comunitário, em uma linguagem afinada com a construção da cidadania e

a resolução de problemas dos ouvintes das nove capitais que sintonizam

a emissora, além de Brasília (DF). A atração é voltada à divulgação de

notícias e reportagens de temas como direitos humanos, participação

social e apresenta as informações com foco na transformação causada no

cidadão. A apresentação é feita com estilo mais próximo do ouvinte, com

um vocabulário menos técnico, mas sem perder a precisão nas

informações. O programa tem meia hora de duração e é exibido de

segunda a sexta-feira.

Em seguida, às 7h, entra no ar o Conexão Senado. O radiojornal

de duas horas de duração apresenta o resumo do que será destaque no

dia do Senado Federal. São veiculadas matérias de agenda sobre o

trabalho das comissões e do plenário, além de reportagens sobre os

principais debates e assuntos institucionais. Também são destacadas as

votações e debates do dia anterior, por reportagens e entrevistas com

13 De acordo com Ferraretto (2014, p.83), toque informativo é um espaço típico das emissoras musicais, onde são apresentadas algumas notícias, geralmente nas horas cheias. O Senado em 2 Minutos é apresentado somente quando a programação musical está no ar, apesar de a Rádio Senado não ser uma emissora essencialmente musical.

Page 34: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

26

senadores e especialistas. Ainda há espaço para quadros temáticos,

comentaristas especializados e boletins de emissoras conveniadas e

agências internacionais.

No período da tarde, vai ao ar o radiojornal Senado Notícias – 1ª

Edição. O programa estritamente informativo começa às 13h40 e tem 20

minutos de duração. Com uma trilha de forte marcação e condução de

dois locutores, são apresentadas as reportagens com resumo do que

aconteceu nas comissões no período da manhã, as últimas votações e

matérias com previsão para as atividades legislativas da tarde e da noite.

O programa pode atrasar ou ser cancelado, caso uma atividade legislativa

relevante esteja em curso no horário previsto para a edição ir ao ar.

Às 22h, é exibido o Senado Notícias – 2ª Edição. Diferentemente

da edição anterior, este radiojornal traz um resumo de todo o dia,

podendo incluir material mais aprofundado e reportagens mais longas. Em

dias com intensa atividade legislativa, sua duração pode chegar a meia

hora, embora o mais usual seja o padrão de 20 minutos. O programa é

geralmente apresentado por um locutor em dupla com o editor do

noticiário. O programa pode não ser exibido, caso os trabalhos legislativos

se estendam até depois das 22h30.

Nas segundas-feiras pela manhã, dois setores institucionais do

Senado Federal tem espaço informativo na Rádio Senado. Às 6h30, são

exibidos dois programas em sequência: o Pautas Femininas traz um

resumo dos debates promovidos pela bancada de senadoras da atual

legislatura; em seguida, o Espaço da Ouvidoria traz as respostas da

ouvidora do Senado Federal para as questões enviadas pela população à

Casa. Os dois programas são reprisados, também em sequência, às

quintas-feiras, às 21h, caso não haja transmissão ao vivo de trabalhos

legislativos. Já nas sextas-feiras, às 13h30, é apresentado o programa

Projetos da Semana, um resumo semanal de proposições legislativas,

editado e apresentado pelo Serviço de Produção da Rádio Senado. A

atração é reprisada aos sábados, às 8h.

Page 35: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

27

Também na sexta-feira, é exibido o programa Senado em Revista,

às 17h. O programa traz um resumo dos principais fatos ocorridos durante

a semana no Senado Federal, por meio de reportagens sobre os fatos da

semana, quadros com os pronunciamentos mais marcantes de cada dia

no Plenário, além de entrevistas com senadores e especialistas sobre

temas em destaque nas discussões e decisões dos parlamentares. Ainda

são exibidos quadros com informações sobre política internacional,

indicadores econômicos, agenda cultural das cidades que fazem parte da

Rede Senado de Rádio e a agenda legislativa da semana seguinte. Em

uma inciativa para aumentar a quantidade de horas dedicadas à cobertura

legislativa, o programa passou a ser reprisado aos sábados, às 11h e às

23h, e aos domingos, às 10h e às 23h.

Apesar do nome do programa e da periodicidade sugerirem que se

trata de uma radiorrevista (vide Capítulo 1), este trabalho classificará o

Senado em Revista como um radiojornal, pelo caráter estritamente

informativo e interpretativo dos conteúdos exibidos no programa. Até

mesmo o quadro mais próximo da editoria Variedades é tratado de forma

informativa, trazendo a agenda de shows e espetáculos culturais em 10

capitais brasileiras.

Logo após o Senado em Revista, é exibido o programa

Reportagem Especial. O material apresenta a apuração da equipe de

reportagem da emissora, tratando de um tema em profundidade. Há

variedade de fontes e ampla pesquisa, sendo possível caracterizar o

programa como documentário14. As reportagens especiais da Rádio

Senado já foram reconhecidas em várias premiações de jornalismo pelo

Brasil. O programa é semanal e tem duração de meia hora. Devido à

complexidade de alguns temas, o programa pode ser dividido em vários

capítulos e fracionando a exibição em mais de uma semana. A

14 Ferraretto (2014, p.84) afirma que o documentário radiofônico é pouco utilizado no Brasil e aborda um tema em profundidade. De acordo com o autor, este tipo de programa “baseia-se em uma pesquisa de dados e arquivos sonoros, reconstituindo ou analisando um fato importante. Inclui ainda recursos de sonoplastia, envolvendo montagens e a elaboração de um roteiro prévio”.

Page 36: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

28

reportagem especial é reprisada sábado, às 10h, e domingo, às 17h.

Assim como na Rádio Câmara, o principal produto jornalístico da

Rádio Senado é a sua participação dentro de A Voz do Brasil, com o

Jornal do Senado. O programa é apresentado como um resumo de

notícias do Senado Federal, podendo ser gravado ou ao vivo, a depender

do ritmo dos trabalhos legislativos. São apresentadas reportagens com o

que de mais importante aconteceu no dia no Senado, além de

pronunciamentos de senadores da tribuna do plenário. Os resultados das

votações são destacadas com reportagens gravadas ou com boletins ao

vivo durante a exibição do jornal. O espaço do Senado Federal dentro do

noticiário nacional tem duração de 10 minutos. Este fortalecimento do

jornalismo nas emissoras legislativas vai na contramão do movimento

iniciado pelas rádios comerciais, como explica Meditsch:

Como um dos formatos de programação mais caros do atual espectro radiofônico, o radiojornalismo também é um dos mais vulneráveis a uma possível crise econômica na indústria tradicional da mídia. As emissoras especializadas em informação no Brasil têm pautado a sua atuação pela redução de custos e pela busca de resultados cada vez mais imediatos, o que explica a total ausência de investimentos nas possibilidades abertas pela tecnologia digital para a programação informativa. (Meditsch, In: Magnoni, 2010. p. 221)

A Rádio Senado conta ainda com uma gama de programas

musicais e culturais especializados, todos com duração padronizada de

meia hora. O Improviso traz as vertentes do jazz nacional, sendo exibido

aos sábados, às 18h, com reprises às segundas, às 3h, e sextas, às 23h.

O Escala Brasileira, por sua vez, trata da música nacional em diversas

vertentes, trazendo entrevistas com músicos. O programa é exibido aos

domingos, às 19h, com reprises nas terças, às 3h, e quintas, às 23h.

Também sobre música brasileira, o programa Brasil Regional

apresenta estilos de todas as regiões do país. A atração vai ao ar aos

domingos, às 8h, e é reprisado quinta, às 3h, e terça, às 23h. Já o Cena

do Samba é um programa musical que apresenta clássicos do gênero

Page 37: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

29

brasileiro e vai ao ar aos sábados às 14h, com reprise domingo às 12h. O

único programa não-musical da lista é o Autores e Livros, que entrevista

autores sobre o mundo da literatura. O programa é exibido aos sábados,

às 17h, e reprisa aos domingos, às 9h.

Outros dois programas musicais da Rádio Senado têm uma hora

de duração. O Somtemporâneo traz músicas de artistas brasileiros da

nova geração, ainda desconhecidos do grande público. O programa é

exibido no sábado, às 21h, e tem reprise quarta, às 23h, e sexta, às 3h.

No caminho oposto, o Hora de Ouro apresenta somente clássicos da Era

do Rádio no Brasil, com músicas gravadas entre as décadas de 1930 a

1960. Esta faixa especial vai ao ar aos sábados, às 7h, sendo reprisada

segunda, às 23h, e quarta, às 3h.

2.2.1 Programação musical da Rádio Senado FM

Quando não há transmissão legislativa ao vivo e nenhum dos

programas citados acima está no ar, a Rádio Senado apresenta sua

programação musical. Os blocos são compostos exclusivamente por

músicas nacionais, seja interpretadas por cantores brasileiros ou

compostas por artistas locais e cantadas por estrangeiros.

O formato padrão dos blocos determina a execução de três

músicas. O último bloco de cada hora pode ter duas ou quatro músicas,

dependendo do tempo disponível na programação. No início do bloco, o

locutor apresenta os intérpretes de todas as canções que virão a seguir.

Ao final da sequência, no desanúncio, são citados novamente os

intérpretes, seguidos dos compositores e do nome das músicas que foram

veiculadas.

Ao longo da programação musical, também é apresentado o

programete Curta Musical, que traz uma canção em destaque, antecedida

de uma história interessante sobre a música popular brasileira.

Page 38: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

30

Geralmente, os produtores do programa utilizam efemérides como base

para as ideias de novas edições. O programa vai ao ar diariamente, ao

longo da programação.

Informações sobre o Senado Federal sempre são destaque, até

mesmo quando predomina a programação musical. Nos dias de semana,

entre meia-noite e 19h, enquanto é exibida a programação musical, a

maioria dos blocos termina com uma notícia lida pelo locutor do horário.

Das 20h às 23h59, são veiculadas reportagens sobre as atividades do dia

no Senado Federal, a cada meia hora de programação musical. Nos fins

de semana, as notícias são veiculadas entre meia-noite e 6h e das 18h às

23h59. Nos demais períodos, os blocos musicais são encerrados ora com

notícia, ora com reportagem.

Page 39: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

31

3. PROGRAMAÇÃO DAS RÁDIOS CÂMARA FM E SENADO FM

A programação das emissoras de rádio do Poder Legislativo

Federal tem o objetivo de levar, da forma mais transparente e completa

possível, as informações sobre o que acontece no Congresso Nacional e

impactam na vida de cada cidadão. Para isso, se utilizam de diferentes

formatos e programas, como vimos no capítulo anterior. Mas como as

diferenças conceituais da programação adotada pelas rádios Câmara FM

e Senado FM influenciam diretamente na cobertura legislativa? E o

inverso acontece? Como a cobertura legislativa interfere no tipo de

programação das duas emissoras?

A análise das duas programações se deu pela audição de uma

semana de transmissões ao vivo das rádios. Foi tomado como base o

horário das 8h às 13h, de segunda a sexta-feira por dois motivos:

primeiro, o período de uma semana é suficiente para termos acesso a um

ciclo de trabalho legislativo e o que isso exige em termos de esforço de

cobertura das duas rádios; segundo, o horário do início da manhã até

antes do início da sessão plenária ordinária é o intervalo onde poderá

haver diferenciação mais aguda entre as emissoras.

Para uma categorização inicial, este trabalho traz a definição de

Ferraretto (2014) sobre os tipos de programação mais usuais nas

emissoras de rádio do Brasil. A primeira é a programação linear, a mais

frequente nas grandes emissoras do país, que, segundo o autor, é uma

“programação com conteúdos mais homogêneos, que seguem um

formato claro e definido. Embora as partes se diferenciem um pouco entre

si, há uma harmonia entre elas”.

Em seguida, vem a programação em mosaico, que engloba um

conjunto de conteúdos extremamente variados e diferenciados, sendo

comum em mercados pouco desenvolvidos economicamente. Por fim, a

programação em fluxo, definida assim por Ferraretto:

Page 40: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

32

Tipo de programação estruturada em uma emissão constante em que se toma todo o conjunto como uma espécie de grande programa dividido em faixas bem definidas. As mudanças de uma para outra são calcadas na troca do âncora ou do comunicador do horário. É comum em emissoras de formato semelhante ao all news dos Estados Unidos ou do segmento musical. Rádios que operam totalmente gravadas e informatizadas, com sequências de canções associadas ou não a locutores que identificam o conteúdo veiculado, constituem-se em sua forma menos elaborada. (Ferraretto, 2014, p. 81).

Tendo estes conceitos por base o trabalho avaliou que a Rádio

Câmara FM priorizou, na maior parte do período estudado, a

programação linear. Vários programas correlatos foram exibidos,

comumente tendo preferência sobre as transmissões puras das reuniões

de comissões que ocorriam na Casa. O conteúdo legislativo foi mais

divulgado através da cobertura jornalística, com o trabalho da reportagem,

do que pelo microfone direto dos parlamentares. Em poucos momentos, a

programação em fluxo teve prevalência na emissora.

Também será possível concluir ao longo deste capítulo que a

Rádio Senado FM adotou prioritariamente, no intervalo de pesquisa, a

programação em fluxo para transmissão dos trabalhos de comissão e de

sessão plenária. Até mesmo, a programação musical apresentada teve

esta característica. As transmissões ao vivo seguiam o mesmo estilo de

apresentação e a mesma sequência de fatos narrados, mudando apenas

a figura do âncora, de acordo com as escalas de trabalho dos locutores.

3.1 Análise da programação da Rádio Câmara FM: período de 13/07/2015 a 17/07/2015, entre 8h e 13h

O período de pesquisa começa no dia 13 de julho de 2015. No

horário das 8h, já estava no ar o Com a Palavra, radiojornal matinal da

emissora com apresentação de Lincoln Macário e Elisabel Ferriche. O

programa trouxe entrevistas com deputados e especialistas sobre os

Page 41: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

33

assuntos em debate na Câmara e, especialmente neste dia, trouxe

reportagens de agenda dos trabalhos legislativos.

Foram apresentados quadros especiais sobre meio ambiente e

tecnologia, sempre tendo como pano de fundo projetos aprovados pela

Câmara ou ainda em discussão pelos deputados. O programa denota

uma predominância de hard news, noticiando fatos relevantes, porém

densos e complexos.

Ainda que a linguagem dos apresentadores fosse de fácil

assimilação e de natural empatia com o ouvinte, os temas debatidos na

Câmara são de difícil compreensão. Por isso, a edição do programa deu

destaque às entrevistas já citadas, para esclarecer o cidadão a respeito

destes assuntos e dos debates gerados pelos parlamentares.

O Com a Palavra, durante o período pesquisado, deu preferência

ao cumprimento do roteiro, composto por entrevistas previamente

agendadas e reportagens gravadas, trazendo a agenda do dia nas

comissões e no plenário, os debates mais importantes da Casa e as

votações do dia anterior. A prioridade não era a entrada ao vivo de

repórteres nem a participação de ouvintes.

O estilo dos apresentadores era um misto de generalista e

especialista. Mesmo que a Rádio Câmara seja especializada em transmitir

o trabalho do legislativo, reproduzindo esta característica natural em todos

os seus programas e profissionais, os temas são variados e é necessário

transmitir conhecimento ao ouvinte acerca de toda a gama de discussões

em destaque na Casa.

Por este motivo, a apresentação do Com a Palavra é mais

coloquial do que formal. Os dois âncoras dão um tom mais próximo do

ouvinte, prestando-lhe um serviço de tradutor dos trabalhos legislativos,

tendo como foco o resultado daqueles atos no dia-a-dia do ouvinte. A

dinâmica do programa demonstra que, para atingir este resultado, a

edição não se furta de trazer especialistas para os esclarecimentos

necessários. A sonoplastia da atração é marcada por vinhetas de

Page 42: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

34

abertura, encerramento, saída e retorno de intervalo, entrada de quadros

e trilha principal do programa. O programa terminou às 9h30.

As notícias mais factuais da Câmara dos Deputados continuaram

sendo destaque em seguida, com uma edição da síntese Câmara é

Notícia. Um locutor trazia as principais reportagens do dia em um

noticiário de 15 minutos de duração. Foram apresentadas matérias de

agenda e repercussão de debates, além de uma matéria especial não-

factual de 5 minutos.

O tom dado pela apresentação foi bem mais formal do que o

programa anterior. Ajudava no ritmo do locutor a vinheta de abertura, em

tom de escalada, e a trilha marcando o tempo de locução das chamadas

de matérias. Não havia espaço para entrevistas, entradas ao vivo nem

participação de ouvintes e a síntese noticiosa cumpriu o seu caráter hard

news com um perfil mais neutro de apresentação.

Às 9h50, foi apresentado o Palavra Aberta. O programa entrevistou

um deputado sobre um tema específico dentro da sua atuação

parlamentar. Foram 10 minutos de conversa em que foi dado espaço ao

congressista para que expusesse suas ideias, com a ancoragem de um

jornalista. O programa teve boa adaptação tanto à TV quanto à Rádio

Câmara, pois limitou-se à conversa entre entrevistador e entrevistado sem

qualquer outro elemento que prejudicasse a transmissão de um dos

veículos.

Às 10h, teve início a programação musical, no mesmo formato

apresentado no capítulo anterior. Os blocos apresentavam duas músicas,

com anúncio do primeiro intérprete no início do bloco e desanúncio dos

intérpretes, compositores e título da canção ao final do bloco. Logo

depois, uma vinheta identificava que o locutor chamaria uma reportagem.

Logo após a matéria, era exibida uma edição do Palavra Aberta.

Esta sequência (bloco musical – reportagem – Palavra Aberta) foi

repetida até às 12h32, quando passou a ser transmitida a reprise do

programa Expressão Nacional. O tema do programa foi Parlamentarismo.

Page 43: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

35

Foram convidados dois deputados, com visões divergentes sobre o tema,

além de especialistas em Ciência Política. O programa foi ancorado da TV

Câmara e apresentado também pela Rádio Câmara.

Porém, ao contrário do Palavra Aberta, foram utilizados recursos

que dificultaram a compreensão de quem acompanhava pela rádio. Em

momentos do programa, imagens de gráficos foram apresentadas e bem

explicadas para os telespectadores da TV, que tinham acesso à

visualização em tempo real, mas os ouvintes da rádio não conseguiam

compreender facilmente os dados apresentados. O Expressão Nacional

se estendeu até depois das 13h, horário limite da audição desta pesquisa.

Na terça-feira, dia 14 de julho de 2015, o Com a Palavra manteve

sua dinâmica de apresentação e de conteúdo apresentado. O diferencial

deste dia foi o anúncio pelo apresentador que o programa poderia ser

interrompido antes do final para a transmissão de sessão extraordinária,

que estava marcada para às 9h. Porém, o programa seguiu sua

sequência de notícias, reportagens e entrevistas até o seu horário

previsto de 9h30.

Em seguida, às 9h34, iniciou uma edição do Câmara é Notícia com

sua apresentação característica. A síntese foi interrompida às 9h39 para a

exibição da sessão plenária extraordinária da Câmara dos Deputados. O

âncora contextualizou os principais fatos que seriam tema de debate e

votação na sessão. O som da Rádio Câmara passou para o plenário, de

onde foram transmitidos em tempo real todos os pronunciamentos dos

deputados durante a sessão.

Os trabalhos foram interrompidos às 10h36 para o início de uma

sessão solene em homenagem aos 21 anos do Plano Real. O âncora da

rádio interveio e direcionou a transmissão ao vivo da emissora para a

reunião da CPI da Petrobrás, que ouvia um depoimento naquele instante.

O estilo de apresentação se caracterizava por algumas intervenções

pontuais durante os trabalhos da comissão. Ao meio-dia, foi encerrada a

Page 44: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

36

reunião da CPI e o locutor fez um resumo das respostas da depoente,

apresentadas poucos minutos antes.

A programação musical da Rádio Câmara teve início às 12h04. O

esquema do dia anterior foi repetido no primeiro bloco, com 2 músicas

seguidas de uma reportagem e uma edição do Palavra Aberta. O bloco

seguinte teve 2 músicas, reportagem, mas o Palavra Aberta não foi

exibido. Possivelmente, a equipe de estúdio já esperava o início da

sessão plenária que, de fato, começou ás 12h47. A programação foi

interrompida e a transmissão passou para o plenário da Câmara. A

sessão se estendeu até depois das 13h.

Na quarta-feira, 15 de julho de 2015, o Com a Palavra trouxe os

destaques do dia na Câmara dos Deputados. As manchetes

apresentadas pelos locutores, às 8h, traziam a agenda com sessão

solene, reuniões de CPIs, audiências públicas, entre outros destaques. O

programa seguiu seu roteiro de entrevistas, quadros e reportagens. O

encerramento foi às 9h26.

No minuto seguinte, a Rádio Câmara passou a transmitir a sessão

solene em homenagem aos 90 anos do jornal O Globo. Durante as

intervenções do locutor para cobrir espaços vazios na transmissão, ele

apresentava um resumo do último pronunciamento feito na tribuna. Esta

transmissão do plenário foi até às 10h08.

Às 10h10, entrava no ar o Câmara é Notícia. A síntese apresentou

as principais notícias em destaque na Câmara e no Congresso Nacional,

com notas, reportagens e pequenos trechos de entrevistas. O noticiário foi

exibido até às 10h27. Às 10h30, iniciou a edição do Palavra Aberta,

conversando com um deputado sobre tema de sua atuação no

Congresso. A entrevista teve duração de 10 minutos.

Logo depois, teve início a programação musical da Rádio Câmara.

Os blocos com 2 músicas, seguidos de reportagens foram exibidos até às

11h06. Neste momento, iniciou a sessão do Congresso Nacional. Durante

a transmissão ao vivo direto do plenário, houve intervenções pontuais do

Page 45: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

37

locutor para situar o ouvinte do que estava ocorrendo. A sessão foi

encerrada às 11h52 e, logo em seguida, um repórter entrou ao vivo do

salão verde da Câmara dos Deputados, com informações atualizadas

sobre os trabalhos que estavam em andamento na Casa.

O âncora do horário chamou, exatamente ao meio-dia, o áudio da

Comissão de Defesa do Consumidor, que ouvia o ministro da Fazenda,

Joaquim Levy, em uma audiência pública. Após contextualização do

locutor sobre os motivos que levaram à realização daquele debate e

sobre as respostas já emitidas pelo ministro, foi exibido um trecho dos

questionamentos dos deputados e resposta do convidado.

No minuto seguinte, o locutor interrompeu a transmissão da

Comissão de Defesa do Consumidor e chamou o áudio da reunião da

Comissão de Desenvolvimento Urbano. Foi ao ar um trecho de,

aproximadamente, um minuto até nova interrupção do âncora. Às 12h04,

ele acionou outra locutora, que estava no plenário, para a transmissão ao

vivo de sessão plenária extraordinária da Câmara dos Deputados.

A sessão foi transmitida até a sua suspensão, que ocorreu às

12h26. Em seguida, a Rádio Câmara voltou a transmitir a audiência

pública que recebia o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na Comissão

de Defesa do Consumidor. A transmissão desta reunião seguiu até depois

das 13h.

A análise da quinta-feira, 16 de julho de 2015, começou às 8h com

o programa Com a Palavra. Na pauta, temas como a reforma política e as

votações do plenário, além dos debates nas comissões. Neste dia, o

programa manteve o estilo das edições anteriores. A única diferença foi a

duração reduzida. O Com a Palavra terminou às 9h04 para o início dos

trabalhos no plenário.

Às 9h05, teve início a transmissão da sessão extraordinária da

Câmara dos Deputados. Durante as duas horas seguintes, os deputados

se revezaram na tribuna discursando sobre temas diversos. Na ordem do

dia, foram aprovados projetos importantes. A cada aprovação confirmada,

Page 46: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

38

o locutor interrompia a transmissão e dava detalhes sobre a lei em

questão e a sequência da tramitação da proposta.

A ordem do dia encerrou às 11h36 e o locutor aproveitou o término

do período de votações para fazer mais um resumo de tudo o que havia

sido aprovado pelos deputados na sessão. Os parlamentares seguiram se

dirigindo à tribuna para fazer os seus pronunciamentos. A sessão durou

até um pouco além das 13h.

O último dia de análise da programação da Rádio Câmara foi a

sexta-feira, 17 de julho de 2015. Às 8h, o Com a Palavra já estava no ar

fazendo um balanço da semana legislativa e também do primeiro

semestre. Foram veiculadas reportagens e notícias diversas. Em um tom

mais informal do que nos demais dias da semana, o programa teve

espaço para temas não-legislativos, com análise de biografias de músicos

da banda Legião Urbana. O bate-papo em tom descontraído durou

aproximadamente meia hora. Ao final da edição, o âncora anunciou que o

Com a Palavra voltaria ao ar somente após o recesso parlamentar, em 3

de agosto.

Às 9h32, entrou no ar o Câmara é Notícia. A síntese noticiosa

apresentou notas e reportagens sobre os principais assuntos debatidos

na Câmara dos Deputados naquela semana. O tom formal foi mantido e a

ancoragem seguiu o padrão dos dias anteriores. Em seguida, foi ao ar

uma edição do Palavra Aberta.

A partir das 10h, a Rádio Câmara apresentou sua programação

musical, repetindo o formato veiculado nos dias anteriores: blocos com

duas músicas, seguido por 1 ou 2 reportagens e edição do Palavra

Aberta. As reportagens eram substituídas, às vezes, por notas lidas pelo

locutor seguidas de trechos de entrevistas de deputados. Ao longo da

programação, também rodaram quadros especiais, voltados para temas

como meio ambiente, tecnologia e economia. Esta programação seguiu

até às 13h.

Page 47: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

39

3.2 Análise da programação da Rádio Senado FM: período de 13/07/2015 a 17/07/2015, entre 8h e 13h

O período pesquisado inicia às 8h de segunda-feira, 13 de julho de

2015. Já estava no ar o programa Conexão Senado, o principal

radiojornal da emissora com 2 horas de duração. O foco da atração é

transmitir no início da manhã as principais informações do dia no Senado

Federal. São veiculadas reportagens, notícias, entrevistas, informações

de prestação de serviço, como previsão do tempo, notícias locais e

situação do trânsito nas cidades com recepção da emissora em FM.

Pelo fato de o Senado Federal ser o gerador de algumas das

notícias mais importantes do país, todos os dias, o programa não pode

fugir de um estilo hard news, tendo conteúdo legislativo em toda a sua

edição. Porém, para se aproximar do ouvinte, são veiculadas informações

de interesse público mais leves e amenas ao longo do noticiário.

O radiojornal tem a participação ativa de ouvintes, por meio do

aplicativo de telefone whatsapp, com o envio de notícias de suas cidades

e comentários sobre o que está sendo veiculado no programa. A

reportagem é acionada, na maioria das vezes, por gravações do dia

anterior, mas também acontece a participação ao vivo em ocasiões que

sejam necessárias estas intervenções.

Os apresentadores Adriano Faria e Jeziel Carvalho são, assim

como a dupla do Com a Palavra, da Rádio Câmara, especialistas no

acompanhamento diário dos trabalhos legislativos e, por força da

amplitude dos assuntos tratados no Senado, apresentam e comentam

com desenvoltura todos os assuntos que são destacados no programa. O

estilo de apresentação é mais coloquial do que formal, embora o perfil de

ambos seja neutro no microfone. A sonoplastia do programa se

caracteriza por uma trilha suave, usada como fundo em quase toda a

Page 48: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

40

edição, exceto em entrevistas ao vivo, quadros com a participação de

convidados, exibição de material gravado ou notas que exijam um tom de

sobriedade acima do usual.

Uma entrevista com o senador Fernando Collor, do PTB de

Alagoas, sobre os 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente se

estendeu além do horário do programa e, por isso, o radiojornal terminou

às 9h08. Na sequência, o locutor do horário assumiu a transmissão ao

vivo anunciando que, em breve, teria início uma audiência pública da

Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal. A programação

seguiu com música até o início dos trabalhos legislativos.

Às 9h18, o locutor interrompeu o bloco musical e anunciou a

abertura da audiência pública, que debatia com especialistas o tema

sobre doenças degenerativas do sistema nervoso. A reunião da CDH

durou toda a manhã de segunda-feira e foi transmitida na íntegra pela

Rádio Senado até depois das 13h.

Na terça-feira, 14 de julho de 2015, o programa Conexão Senado

já estava no ar às 8h. No exato momento do início da análise, estava

sendo encerrada a entrevista com o senador Otto Alencar, do PSD da

Bahia, dentro do quadro Conversa com o Senador. O radiojornal seguiu

com as reportagens e notícias mais importantes do dia para os trabalhos

do Senado e terminou às 8h59.

Exatamente às 9h, o locutor do horário citou a previsão de reuniões

de comissões que iniciariam em poucos minutos. Até que uma delas

iniciasse, a programação seguiria com um bloco musical. Dali a 10

minutos, o bloco foi encerrado e novo lembrete foi feito de que, a qualquer

momento, teria início a transmissão de uma das comissões com reunião

agendada para aquele horário.

Mais um bloco musical de 3 canções foi executado e no

desanúncio, às 9h24, o locutor informou que duas comissões estavam em

andamento. A Rádio Senado passou a transmitir ao vivo a reunião da

Comissão de Ciência e Tecnologia, que promovia audiência pública sobre

Page 49: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

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entraves ao desenvolvimento das Tecnologias da Informação no Brasil. O

debate foi transmitido até às 9h39. Neste momento, o locutor anunciou

que a reunião da CCT poderia seguir sendo ouvida pelo canal 2 da Rádio

Senado na internet. Ele relatou também que, a partir daquele instante,

passaria a ser transmitida ao vivo a reunião da Comissão de Assuntos

Econômicos, que recém havia começado com a sabatina de um indicado

a ocupar cargo de direção da Comissão de Valores Mobiliários.

Às 10h17, o locutor interveio para cobrir espaço na programação,

enquanto permanecia o silêncio da votação secreta da indicação para a

CVM. O locutor forneceu informações a respeito do que estava ocorrendo

na Comissão e do que previa a programação da segunda parte da

reunião. Em seguida, foram chamados o ministro do Planejamento,

Nelson Barbosa, e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, para

serem interpelados pelos senadores do colegiado. A transmissão da

Comissão de Assuntos Econômicos seguiu até depois das 13h.

A quarta-feira, dia 15 de julho de 2015, já tinha o Conexão Senado

no ar às 8h pela Rádio Senado. O programa manteve seu formato de

reportagens, entrevistas, notícias factuais e prestação de serviços até às

8h59. Logo em seguida, o locutor do horário anunciou a transmissão do

debate na Comissão de Serviços de Infraestrutura sobre entraves ao

programa de concessão de portos do Governo Federal. O convidado era

o ministro da Secretaria de Portos, Edinho Araújo.

Às 11h27, foi interrompida a transmissão da Comissão de

Infraestrutura e a Rádio Senado passou a transmitir ao vivo a sessão do

Congresso Nacional, que acontecia no plenário da Câmara dos

Deputados. O áudio do plenário esteve no ar até às 11h51, quando o

presidente da sessão encerrou os trabalhos. Imediatamente, a

transmissão ao vivo passou para a Comissão de Constituição e Justiça,

que sabatinava um indicado para ocupar função no Conselho Nacional de

Justiça. Todas as passagens de transmissão foram feitas pelo locutor do

horário, contextualizando o que estava ocorrendo e a previsão dos

Page 50: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

42

próximos passos a serem dados na reunião que passaria a ser

transmitida. A reunião da CCJ seguiu no ar até depois das 13h.

Na quinta-feira, dia 16 de julho de 2015, a análise começou pelo

Conexão Senado, às 8h. O programa, mais uma vez manteve o seu

padrão informativo até o seu término às 8h58. Às 9h, iniciou a

transmissão ao vivo da reunião da Comissão de Agricultura e Reforma

Agrária, que debateu os serviços prestados de assistência técnica para a

agricultura familiar. A reunião da CRA foi transmitida até o final, às 11h14.

Em seguida, o locutor anunciou a realização de reunião na

Comissão de Relações Exteriores. Uma repórter entrou ao vivo com

informações direto da comissão. O colegiado ouvia o comandante do

Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas-Boas, falando sobre a

Amazônia e fiscalização das fronteiras. A repórter informou o que já havia

sido realizado e o que ainda estava previsto para acontecer na audiência

pública. Após o boletim de 2 minutos, a transmissão passou para a CRE

até às 12h26.

Na sequência, o locutor anunciou que estava sendo realizada a

CPI do HSBC e que, em seguida, teria início a sessão plenária do Senado

Federal. Foram lidas notícias curtas sobre os trabalhos legislativos e, às

12h32, o áudio do plenário passou a ser transmitido. A sessão seguiu

sendo exibida ao vivo até depois das 13h.

Na sexta-feira, dia 17 de julho de 2015, às 8h, estava no ar o

Conexão Senado. A última edição da semana do radiojornal trouxe as

reportagens mais importantes dos últimos dias e também um balanço do

primeiro semestre legislativo. Também foram divulgadas informações

sobre as cidades que recebem sinal FM da Rádio Senado. Quadros

temáticos foram ao ar sobre temas diversos, sempre encontrando ponto

em comum com discussões e decisões do Senado Federal. Neste dia, o

programa encerrou às 8h58.

Às 9h, foi iniciada a programação musical, com o lembrete de que

estava prevista a realização de sessão plenária não-deliberativa, podendo

Page 51: o padrão de programação como diferencial entre rádios legislativas

43

iniciar a qualquer momento. Foram ao ar dois blocos musicais, com 3

canções em cada. O locutor anunciou, às 9h27, o início da sessão

plenária do Senado Federal de sexta-feira. Os discursos duraram até às

10h e, no encerramento da sessão, o locutor leu a lista de todos os

senadores que presidiram a sessão e todos os que se pronunciaram na

tribuna. Ainda foi lembrado que os áudios dos discursos estavam

disponíveis no site da emissora. A partir daí, até às 13h, foi ao ar a

programação musical da Rádio Senado, entremeada com notícias sobre

os trabalhos legislativos.

3.3 Diferenças elementares na cobertura da Rádio Câmara FM e da Rádio Senado FM

Um diferencial elementar entre as programações da Rádio Senado

e da Rádio Câmara aconteceu exatamente às 10h40 de quarta-feira, 15

de julho de 2015. A Rádio Câmara FM transmitia programação musical,

com blocos seguidos por reportagens e edições de seus programas de

entrevistas e sínteses noticiosas. Ao mesmo tempo, estavam sendo

realizadas nos corredores da Casa pelo menos 9 reuniões de comissões

(Figura 1 – a inscrição “ao vivo” refere-se à transmissão da TV Câmara ou

à possibilidade de acompanhar os debates pela internet).

Assim, é possível verificar que a Rádio Câmara não prioriza a

transmissão de suas comissões. O conteúdo legislativo é divulgado

prioritariamente pelo trabalho jornalístico e da produção de programas

especiais sobre o trabalho dos deputados e as discussões e decisões da

Casa.

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Figura 1 - Print screen da agenda legislativa da Câmara em 15-07-2015, às 10h44

Ao contrário, a Rádio Senado transmite comissões ao vivo durante

todas as manhãs e também à tarde, quando não há sessão plenária. A

prioridade dada é para os discursos e discussões diretas dos senadores,

com o mínimo de intervenção e mediação dos profissionais do veículo. O

espaço para os resumos, reportagens e repercussões está restrito a

faixas exclusivas da programação, onde entram os radiojornais e toques

informativos.

No mesmo horário citado acima (10h30 de quarta-feira, 15 de

julho), o Senado Federal sediava 5 reuniões de comissões (Figura 2). Na

imagem, é possível ver na coluna à esquerda, a lista das reuniões em

andamento naquele instante. A Rádio Senado transmitia ao vivo os

debates da Comissão de Serviços de Infraestrutura.

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Figura 2 - Print screen da agenda legislativa do Senado em 15-07-2015, às 10h45

Outra diferença básica nas transmissões da Rádio Câmara FM e

da Rádio Senado FM é o estilo de ancoragem. Os locutores da Rádio

Câmara tem a possibilidade de intervir no meio da transmissão, seja de

comissões ou de plenário, para fazer contextualizações. Eles se tornam

apresentadores da transmissão legislativa, como define Klöckner:

É o profissional que comanda, no ar, o programa de rádio. O apresentador é quem dá unidade e personalidade à programação, é o elo entre a rádio e o ouvinte, criando o contexto para cada assunto, tornando a notícia mais acessível. (Klöckner, 1997, p.77)

Já a Rádio Senado apresenta as transmissões ao vivo dando

preferência irrestrita à voz dos parlamentares. Os locutores se notabilizam

pela formalidade na condução da transmissão e atuam como corretores

de espaços deixados vazios, como silêncios entre pronunciamentos,

preenchidos com informações relevantes ao ouvinte e referentes ao que

está acontecendo naquele momento no Senado Federal.

Os dois pontos citados nesta seção do trabalho ajudam a elucidar o

desfecho das questões do início do capítulo. A Rádio Câmara exerce uma

liberdade maior na cobertura legislativa, o que a permite dar destaque a

sua produção própria e um poder de mediação informativa na cobertura

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legislativa. Sua programação linear prova exatamente isso. O foco do

conjunto de tudo que é levado ao ar pela emissora denota foco na

tradução e resumo ao ouvinte do que acontece na Câmara dos

Deputados.

Para isso, utiliza-se de diversos formatos jornalísticos e os

apresenta em sequência, priorizando esta produção ampla e diversificada

à transmissão pontual de discussões específicas, que deixaria outras sem

o mesmo espaço. O que poderia ser interpretado como redução do

espaço legislativo na programação também pode ser visto como

pluralidade de assuntos dividindo o mesmo espaço de divulgação.

A Rádio Senado segue o caminho oposto. O foco é dado na

transmissão pura do trabalho parlamentar e a produção da equipe de

profissionais da emissora é um apoio ao bom entendimento e à correta

recepção deste conteúdo pelo ouvinte. A produção jornalística é restrita

aos espaços previamente definidos, colocadas em horários que não se

chocam com as transmissões de comissões e plenário.

Os recursos utilizados pela emissora são a boa coordenação da

agenda dos trabalhos e sintonia entre equipe de estúdio e de retaguarda,

além de farto material de apoio para a manutenção da qualidade

informativa nos momentos onde a ancoragem é necessária. O ponto

positivo desta abordagem é a maior transparência do que é veiculado aos

ouvintes, ainda que ao custo de menor atratividade ao ouvinte comum de

rádio. A programação em fluxo está caracterizada, pois a transmissão se

repete ao longo do dia (comissões pela manhã, plenário à tarde e

programação musical à noite) tendo apenas a troca de ancoragem de

acordo com a escala.

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CONCLUSÃO

Este trabalho teve como foco uma análise comparada entre as

programações das rádios Câmara FM e Senado FM. Foi perceptível ao

longo do estudo que as duas emissoras têm uma finalidade semelhante,

adotando formatos diferentes. É possível concluir que as diferenças visam

um melhor aproveitamento dos espaços na programação para divulgar da

melhor forma o trabalho dos congressistas.

Os conteúdos dos programas das duas emissoras se assemelham

e possuem objetivos correlatos. Desde a programação matinal, antes do

período pesquisado, apresentam a ideia de aproximação com o ouvinte

que mora longe das grandes capitais, ainda que as emissoras não

tenham o alcance necessário para impactar de forma mais direta este

público, a preocupação com esta parcela de cidadãos se mostra forte nas

duas rádios.

A programação musical privilegia a música brasileira, seja nos

blocos normais veiculados ao longo do dia e da noite, seja nos programas

musicais produzidos pelas equipes das duas emissoras. A Rádio Câmara

ainda tem uma abertura a músicas estrangeiras na sua programação,

possuindo também programas semanais com foco nos gêneros de outros

países.

Os programas jornalísticos privilegiam o gênero informativo nas

suas edições de radiojornais. O maior ganho da Rádio Câmara é na

parceria com a TV Câmara, que proporciona um aumento considerável do

número de programas jornalísticos sobre os trabalhos dos deputados. Um

ponto a ser melhorado é a adequação das diferenças de linguagem entre

os dois veículos. Porém, na maioria dos casos, este problema é

equacionado pela boa qualidade de âncoras e entrevistadores.

A Rádio Senado também tem os seus destaques na cobertura

jornalística, principalmente no enfoque dado a temas importantes nas

reportagens especiais, além de boa capacidade de resumo das atividades

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legislativas em radiojornais ao longo do dia. Porém, a especialidade da

emissora está nas transmissões ao vivo e na capacidade de produção de

materiais de apoio sobre as votações de comissões e plenário.

Por fim, as diferenças conceituais das duas emissoras na cobertura

dos fatos matinais, durante a semana de análise, só reforça aquilo que

cada uma tem como pontos fortes. A Rádio Câmara prioriza a diversidade

de formatos de programas e pluralidade de atores dos fatos legislativos

em uma cobertura descentralizada. Já a Rádio Senado concentra

esforços nas transmissões ao vivo, dando o máximo de transparência aos

fatos tidos como mais importantes, ainda que outros necessitem ficar

inicialmente em segundo plano, para serem recuperados mais adiante nas

edições jornalísticas ao longo do dia.

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