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O PAPEL DA APMF COMO ENTIDADE REPRESENTATIVA DA COMUNIDADE ESCOLAR
PROENÇA, Fabiane[1]
SANTOS, Silvia Alves dos[2]
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar a importância do papel das instancias colegiadas junto às escolas, em especial no Colégio Estadual Unidade Pólo – Ensino Fundamental e Médio de Ibiporã, com ênfase na atuação da APMF na efetivação das políticas educacionais da escola pública, pois hoje percebe-se que o papel da APMF nas escolas do Paraná, especificamente, não pode ser mais de simples angariadoras de recursos e promotoras de eventos. É necessário ultrapassar em discussões com a comunidade escolar, a visão neoliberal que subestima o papel do povo organizado. É preciso que a APMF possa gerir seus próprios projetos e desenvolver novas ações nas escolas, dentro de uma perspectiva de gestão participativa e democrática. Não se pode pensar a escola numa gestão democrática como utopia. Precisa-se que a comunidade escolar tome consciência das condições concretas e das contradições existentes, para que possa tornar viável um projeto de democratização das relações no interior da escola. A utopia de uma escola participativa está em romper com a idéia de que os problemas escolares podem ser resolvidos nos estritos limites da escola. Portanto este projeto de intervenção é uma oportunidade de se organizar e fortalecer a APMF, através da participação de todos os segmentos da escola, nas discussões necessárias para que ocorra, efetivamente, a participação da comunidade escolar nos processos decisivos da gestão da escola pública.
PALAVRAS-CHAVE: escola, APMF, comunidade, participação
ABSTRACT
The objective of this article is to analyze the importance of the paper of the instances school I join the schools, especially in the School State Undead Pólo - I Teach Fundamental and Medium of Ibiporã, with emphasis in the performance of APMF in the to execute of the educational politics of the public school, because today it is noticed that the paper of APMF in the schools of Paraná, specifically, it cannot belong more to simple recruiters of resources and promoters of events. It is necessary to surpass in discussions with the school community, the neoliberal vision that underestimates the paper of the organized people. It is necessary that APMF can manage your own projects and to develop new actions in the schools, inside of a perspective of administration participativa and democratic. One cannot think the school about a democratic administration as utopia. He/she is necessary that the school community takes conscience of the concrete conditions and of the existent contradictions, so that you/he/she can turn viable a project of democratization of the relationships inside the school. The utopia of a school to participate is in breaking with the idea that the school problems can be resolved in the strict limits of the school. Therefore this intervention project is an opportunity to be organized and to strengthen APMF, through the participation of all the segments of the school, in the necessary discussions so that it happens, indeed, the school community's participation in the decisive processes of the administration of the public school.
WORD-KEY: school, APMF, community, participation
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento deste artigo objetiva os encontros, jornadas
pedagógicas e grupos de estudo que vêem abordando a importância das instâncias
colegiadas na gestão democrática da escola pública, como meio de se efetivar as
políticas educacionais, em especial pela APMF (Associação de Pais, Mestres e
Funcionários) do Colégio Estadual Unidade Pólo – Ensino Fundamental e Médio, de
Ibiporã/PR, onde foi investigada a atual situação da APMF, como ocorre esta participação
no interior da escola e quais os meios possíveis de um maior envolvimento da
comunidade escolar na gestão da escola pública.
Percebeu-se assim, que se faz necessário que as instâncias colegiadas apresentem-se como espaços públicos e institucionais que permitam a articulação de soluções locais para os problemas do cotidiano escolar, a fim de superar as práticas monolíticas ou pretensamente harmoniosa de gestão escolar.
Tentou-se analisar a importância da participação da comunidade escolar
na gestão da escola pública, pois o respaldo para uma gestão democrática – entendida
como uma abertura para a comunidade – é assegurado, legalmente, na Carta
Constitucional de 1998, “Gestão democrática do ensino público, na forma da lei”, através
do Art. 206, Inciso VI. É garantido, também, na LDB, Lei 9.394/96, nos Artigos 14 e 15,
que destacam a autonomia institucional como importante forma de flexibilização da
estrutura administrativa e pedagógica. Os documentos oficiais atualmente apontam para a
necessidade de participação dos profissionais da educação e membros da comunidade
tanto na administração escolar como na elaboração do Projeto Político Pedagógico de
cada instituição.
Tal pesquisa fortaleceu a idéia da necessidade de organização e
fortalecimento da APMF do Colégio Estadual Unidade Pólo, buscando a participação de
todos os segmentos da escola, nas discussões necessárias para que ocorra,
efetivamente, a democratização da gestão e do acesso ao conhecimento, a transparência
nas decisões estabelecidas ou implantadas na escola tem que ser do conhecimento de
todos, a descentralização e não hierarquização e a participação da comunidade escolar
com envolvimento e compromisso nos processos decisivos da gestão da escola pública.
A atuação da APMF na efetivação das políticas educacionais da escola
pública, especificamente no Paraná, não pode ser mais de simples angariadoras de
recursos e promotoras de eventos. É necessário ultrapassar em discussões com a
comunidade escolar, a visão neoliberal que subestima o papel do povo organizado. É
preciso que a APMF possa gerir seus próprios projetos e desenvolver novas ações nas
escolas, dentro de uma perspectiva de gestão participativa e democrática.
“Se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a
escola que temos aí”. (Paro, 2004, p.10) Não se pode pensar a escola com uma gestão
democrática como utopia. Precisa-se que a comunidade escolar tome consciência das
condições concretas e das contradições existentes, para que possa tornar viável um
projeto de democratização das relações no interior da escola. A utopia de uma escola
participativa está em romper com a idéia de que os problemas escolares podem ser
resolvidos nos estritos limites da escola.
A democratização dos sistemas de ensino e da escola implica aprendizado e vivência do exercício de participação e de tomadas de decisão. Trata-se de um processo a ser construído coletivamente, que considera a especificidade e a possibilidade histórica e cultural de cada sistema de ensino: municipal, distrital, estadual ou federal de cada escola. (Caderno do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, 2004, vol.5: 23)
Uma vez que todo projeto político pedagógico escolar deve ser
desenvolvido com a participação da comunidade escolar e por tratar-se de uma maneira
de organizar o funcionamento da escola quanto aos aspectos políticos, administrativos,
financeiros, tecnológicos, culturais, artísticos e pedagógicos, com a finalidade de dar
transparência às ações, possibilitando à comunidade escolar a aquisição de
conhecimentos, saberes e idéias que no desenvolvimento do processo educacional exista
dialogo e transformação desta escola, implica na busca da construção de uma nova
estrutura pública, com processos de participação e de gestão que envolva a toda a
comunidade interna e externa, tomando as decisões coletivamente, para construir
autonomia e fortalecer as ações da APMF, visando finalmente uma gestão democrática.
O objetivo deste trabalho visa de modo geral analisar como são
construídas as relações de integração família-escola-comunidade por meio da APMF.
Já de maneira específica, o projeto de intervenção pedagógica à
comunidade escolar, ressaltou a importância da participação da mesma na efetivação da
gestão democrática na escola pública, bem como possibilitou à comunidade escolar,
através de grupos de estudo, o entendimento da importância da atuação da APMF na
gestão participativa e finalmente, neste artigo, pretende-se analisar com seus
representantes como pode ser a atuação e o envolvimento da comunidade escolar na
busca de melhorias da qualidade de ensino, visando uma escola pública, gratuita e de
qualidade.
Assim, pode-se visualizar este artigo como a oportunidade de
intervenção, organização e fortalecimento da APMF do Colégio Estadual Unidade Pólo,
buscando a participação de todos os segmentos da escola, nas discussões necessárias
para que ocorra, efetivamente, a democratização da gestão e do acesso ao
conhecimento, a transparência nas decisões estabelecidas ou implantadas na escola que
têm que ser do conhecimento de todos, a descentralização e não hierarquização e a
participação da comunidade escolar com envolvimento e compromisso nos processos
decisivos da gestão da escola pública.
1. Políticas Voltadas Para a Gestão da Escola
Já no final do séc. XIX visualiza-se decisivas transformações sociais,
políticas, econômicas, culturais e educacionais no Brasil, muito embora no período das
reformas pombalinas e no império, ocorreram tentativas de organização no sistema
público de Educação, somente neste período foram efetivas. Segundo Saviani (2004) sob
o ponto de vista da escola pública, a atividades das políticas educacionais no Brasil,
iniciou-se a partir de 1890, com o surgimento dos grupos escolares em São Paulo,
portanto com a proclamação da república, “o Estado assume a função de urbanizar,
higienizar e educar o povo”. Iniciou-se a tentativa de se construir um país organizado,
progressista e civilizado, firmando a “idéia de que educar era mais importante que
instruir”.
De acordo com documentos elaborados pelo MEC a partir de 1995, criou-
se uma concepção de educação e de conhecimento responsáveis pelo aumento da
produtividade, redução da pobreza e inserção do país na "sociedade globalizada",
retomando a Teoria do Capital Humano, proposta por Schultz nas décadas de 50 e 60,
onde os investimentos feitos em capital humano poderiam contribuir para a redução da
pobreza e, deste modo, colocar o país em novos patamares de desenvolvimento.
(LEHER, 1998).
A perspectiva de educação formadora de pessoas com disponibilidade
para aprender e contribuir para o desenvolvimento social está presente nos Parâmetros
Curriculares Nacionais:
(...) a sociedade brasileira demanda uma educação de qualidade, que garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem e na qual esperam ver atendidas suas necessidades individuais, sociais, políticas e econômicas. (Brasil, MEC, 1997: 19)
A valorização da educação começa a ganhar materialidade, a partir da
Conferência de Educação para Todos, realizada em 1990, em Jomtien na Tailândia, onde
decorreu-se a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos, do qual o Brasil é
um dos países signatários, e a elaboração de planos nacionais responsáveis pela
universalização e valorização da educação básica.
Os documentos do MEC analisados até o presente, mesmo não
correspondendo especificamente à gestão escolar, abordam a necessidade de revisão
acerca da forma de organização e administração dos sistemas e unidades escolares, a
fim de que a escola possa obter melhor produtividade e satisfação dos objetivos
pretendidos.
Os elementos ideológicos e mercadológicos incentivados pelo MEC para
superar a crise de eficiência da escola, consistem em uma gestão adjetivada como
"democrática". Conforme o Plano Nacional de Educação:
(...) no exercício de sua autonomia, cada sistema de ensino há de implantar gestão democrática. Em nível de gestão de sistema na forma de Conselhos de Educação que reúnam competência técnica e representatividade dos diversos setores educacionais; em nível das unidades escolares, por meio da formação de conselhos escolares de que participe a comunidade educacional e formas de escolha da direção escolar que associem a garantia da competência ao compromisso com a proposta pedagógica emanada dos conselhos escolares e a representatividade e liderança dos gestores escolares. (Brasil, MEC, 1998: 157)
Reforçando a "gestão democrática", consta dentre os objetivos do Plano
Nacional:
(...) democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (Brasil, MEC, 1998: 157)
É nítido no documento introdutório dos PCNs, o interesse em consolidar
uma perspectiva de gestão democrática, eficiente e moderna, a fim de possibilitar a
implementação do novo perfil curricular definido para a escola básica, especificamente
para o ensino fundamental. A gestão escolar seria vista, como instrumento de efetivação
dos PCNs e também valorizada a partir de sua função educativa (Brasil, MEC, 1998: 21).
Desse modo:
(...) é essencial a vinculação da escola com as questões sociais e com os valores democráticos, não só do ponto de vista da seleção e tratamento dos conteúdos, como também da própria organização escolar. As normas de funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem a atuação das pessoas na escola são determinantes da qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa sobre a formação dos alunos."(Brasil, MEC, 1997: 19)
Essa afirmação deve ser entendida dentro das tendências
"modernizadoras" de gestão que se colocam em nível mundial, que de modo geral
propõem uma maior produção com menores gastos, a descentralização enquanto gestão
em nível local, o envolvimento da comunidade e a busca permanente de inovações.
É evidente a necessidade de rever a perspectiva de gestão escolar
presente na gestão dos sistemas e unidades escolares a fim de promover a expansão
eficiente do sistema escolar, combater os baixos índices de permanência na escola e
acompanhar as demandas sociais por "novas competências". De acordo com um
documento do MEC que apresenta os resultados obtidos através de suas políticas, é
preciso reformar a gestão escolar para "garantir suporte para uma vertiginosa expansão,
sustentada na qualidade da oferta". (BRASIL, MEC, 1999)
O Ministério da Educação (MEC), por intermédio da Secretaria de
Educação Infantil e Fundamental (SEIF), pretende qualificar a educação básica como
direito social. Por essa razão, ao desenvolver suas ações, toma como referência três
principais diretrizes:
a) Democratização do acesso e garantia da permanência de crianças e
jovens nas escolas brasileiras;
b) Democratização da gestão;
c) Construção da qualidade social da educação.
Em relação à democratização do acesso e garantia de permanência de
crianças e jovens nas escolas, as ações da SEIF estão voltadas a:
a) Ampliar o atendimento em todos os níveis da educação básica,
estabelecendo ações articuladas e dinâmicas com estados,
municípios, sociedade civil organizada e demais setores sociais;
b) Vincular o acesso e a permanência não somente à ampliação da rede
física, mas também à consolidação de alternativas de sustentabilidade:
políticas de transporte, de material escolar e de merenda; programas
de renda mínima; outras ações destinadas à geração de emprego e
renda;
c) Criar condições para a ampliação do ensino fundamental para nove
anos, garantindo o ingresso de crianças de seis anos no ensino
fundamental.
Em relação à democratização da gestão, as ações da Secretaria têm o
propósito de:
a) Estimular os sistemas de ensino ao entendimento da participação
como um mecanismo gestor da qualidade social da educação,
incentivando-os à criação de canais coletivos de formulação, de
gestão e de fiscalização das políticas educacionais;
b) Subsidiar os sistemas de ensino com instrumentos que promovam o
fortalecimento da gestão democrática, capacitando dirigentes,
gestores, conselheiros e trabalhadores em educação;
c) Incentivar a organização da sociedade civil em relação à garantia do
efetivo direito à educação e à consolidação de mecanismos de gestão
democrática nas instituições escolares de todo o país.
Já em relação à qualidade social da educação, as ações da Secretaria
envolvem a criação de canais institucionais capazes de:
a) Conduzir os sistemas de ensino à reflexão sobre o papel social da
escola na construção e apropriação coletiva do conhecimento, bem
como a práticas voltadas à democratização do saber;
b) Orientar esse sistema no sentido de garantir aos profissionais da
educação formação inicial e continuada, plano de carreira, salários e
condições de trabalho digno;
c) Promover, junto a esses mesmos sistemas, uma reflexão sobre a
necessidade dos currículos escolares contemplarem os "conteúdos do
social": questões relativas à terra, à sustentabilidade ambiental, à
empregabilidade e à qualidade de vida.
No sentido do mencionado, a SEIF vem materializando intenções políticas
em atitudes concretas, a exemplo da elaboração de um novo desenho do Plano Plurianual
(PPA) que, já traduzindo a ótica da inclusão e da qualidade social da educação, assegura,
por meio de programas e recursos orçamentários específicos, o fortalecimento dos
diferentes níveis da educação básica.
Vale ainda ressaltar que, a princípio, a Secretaria está concentrando
esforços, em três principais eixos de atuação:
a) Formação inicial e continuada dos profissionais da educação
b) Ampliação do ensino fundamental para nove anos;
c) Redefinição do financiamento da educação básica.
2. O Papel das Instâncias Colegiadas
Instâncias colegiadas são as formas de representação dos segmentos da
escola: discentes, docentes, pais e comunidade, são espaços conquistados pela própria
comunidade, e através deles a gestão democrática ganha força e auxilia na
transformação da realidade escolar, obviamente condicionados aos relacionamentos
estabelecidos entre eles a direção da escola.
Segundo Veiga (1998: p.113):
Podemos considerar que a escola é uma instituição na medida em que a concebemos como a organização das relações sociais entre os indivíduos dos diferentes segmentos, ou então como o conjunto de normas e orientações que regem essa organização. (...) Por isso torna-se relevante as discussões sobre a estrutura organizacional da escola, geralmente composta por conselho Escolar e pelos conselhos de Classe que condicionam tanto sua configuração interna, como o estilo de interações que estabelece com a comunidade.
Abranches (2003: 14), confirma que para a efetivação do processo
democrático, as instancias colegiadas são extremamente necessárias:
Os órgãos colegiados têm possibilitado a implementação de novas formas de gestão por meio de um modelo de administração coletiva, em que todos participam dos processos decisórios e do acompanhamento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, envolvendo as questões administrativas, financeiras e
pedagógicas.
Tendo em vista que cada colegiado tem participação especifica nos
documentos que o regularizam, será abordado de maneira sintética, as principais
características de cada colegiado, com ênfase na APMF.
2.1 Conselho Escolar
Órgão colegiado, que representa a Comunidade Escolar, de natureza
deliberativa, consultiva, avaliativa e fiscalizadora, fornece parecer do trabalho de
organização e realização do trabalho pedagógico e administrativo da instituição de ensino,
em conformidade com as políticas e diretrizes educacionais da SEED, observando a
Constituição, a LDB, o ECA, o Projeto Político-pedagógico e o Regimento Escola/Colégio,
para o cumprimento da função social e específica da escola.
2.2 Conselho de Classe
Colegiado de natureza consultiva e deliberativa em assuntos didático–
pedagógicos cujos objetivos são: avaliar a apropriação pelos alunos dos conteúdos
curriculares estabelecidos no Projeto Político Pedagógico da Escola, reflexão da relação
professor/aluno e analise da prática pedagógica, com busca de alternativas que garantam
a efetivação do processo ensino aprendizagem.
2.3 Grêmio Estudantil
Órgão de representação do corpo discente da escola, que representa sua
vontade coletiva e promove a ampliação da democracia, desenvolvendo a consciência
crítica. Não possui fins lucrativos, pois objetiva apenas representar os estudantes,
defender seus direitos, estreitar a comunicação dos alunos entre si e com a comunidade
escolar, promovendo atividades educacionais, culturais, cívicas desportivas e sociais,
realizar intercâmbio de caráter cultural e educacional com outras instituições. Local
apropriado e privilegiado para empreender a educação democrática e desenvolver a ética
e a cidadania na prática.
2.4 APMF – Associação de Pais, Mestres e Funcionários
Órgão de representação dos pais, mestres e funcionários da instituição de
ensino, sem caráter político, partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos, pessoa
jurídica de direitos privado, onde os dirigentes e conselheiros cumprem suas delegações
sem qualquer remuneração e por prazo indeterminado. (Estatuto da APMF, 2003: Art. 2º)
Com regulamentação definida e estruturada em 1978, substituiu a antiga
Caixa Escolar que foi criada em 1956, com a finalidade de arrecadação de fundos para a
assistência escolar. Possibilita a aproximação da comunidade com o projeto político-
pedagógico da escola, principalmente no suporte aos programas culturais esportivos e de
pesquisa. Auxilia na discussão sobre ações de assistência ao educando, aprimorar o
ensino e proporcionar a integração família-escola-comunidade.
Como atribuição deve acompanhar o desenvolvimento da proposta
pedagógica, sugerindo alterações necessárias ao conselho escolar, que podem ou não
serem acatadas
Atualmente, a APMF tem funções mais amplas, pois além de “gerenciar” o
financeiro da escola, e acompanhar o desenvolvimento das Propostas Pedagógicas
estimula a criação e o desenvolvimento de atividades para pais, alunos professores,
funcionários, assim como para a comunidade, após análise do Conselho escolar, mobiliza
a comunidade escolar, com a finalidade de expressar expectativas e necessidades.
(Estatuto da APMF, 2003).
Art. 4º: I – § - A APMF é um órgão jurídico e deve manter atualizado os documentos da legislação vigente: CNPJ, Raís, certidão negativa de débitos de INSS, cadastro no tribunal de contas, (...)
Aparentemente, apesar de todo empenho, esta participação ainda parece
tímida no Colégio Estadual Unidade Pólo. Veiga (1998) explica que normalmente a
comunidade não esta preparada pedagógico ou estruturalmente para uma participação
mais efetiva. Obviamente, existem outros motivos, segundo Galina (2007: 41)
(...) desconhecimento do poder de atuação, falta de apoio por parte dos dirigentes escolares, falta de hábito e experiência de participação, nível de escolaridade da população, indisponibilidade de tempo, entre outros.
A forma como a escola trata os pais, ora chamando-os apenas para
festas, ora convocando mães para trabalhos domésticos, é duramente criticada por Veiga
(1998). Afirma ainda que tal comportamento só teria aproveitamento se utilizados na
criação e exercício da cidadania, e não apenas como obrigação ou prestação de serviços
gratuitos.
Observa-se claramente em reuniões, a pouca participação da
comunidade em opinar sobre organização escolar, processo pedagógico e outros
assuntos que não sejam sobre a vida escolar dos filhos. Em resumo, se este vai bem,
ótimo, sem questionamento, caso contrário a responsabilidade é exclusivamente da
escola.
Tais fatos mostram claramente, que mesmo em situações simples do
cotidiano não existe participação consciente, e esta vai muito além do que freqüência em
reuniões, onde não ocorrem discussões verdadeiras dos problemas escolares, e não se
buscam soluções para eles.
Para que isso ocorra, se faz necessário criar condições, dar espaço e
abertura para que a comunidade interna e comunidade externa, por meio dos colegiados,
opinar, reivindicar e perceber a importância da participação. Gadotti (apud Veiga 1990:
167) afirma que uma escola pública deve “ter a qualidade da escola controlada pela
comunidade, cujas decisões a ela caibam, e não sejam entregues aos devaneios e ao
lirismo tecnológico dos planejadores”.
Segundo Paro (2005:9) essa escola, com participação e controle da
comunidade, talvez seja utópica: “toda vez que se propõe uma gestão democrática da
escola de 1º e 2º graus que tenha efetiva participação de pais, educadores, alunos e
funcionários da escola, isso acaba sendo considerado um coisa utópica, porém deve-se
lutar para que isso seja conquistado pelo desejo, luta incessante, empreendimento de
ações concretas e conjuntas com participação qualitativa.
Segundo Abranches (2003: 24), a participação qualitativa ocorre:
(...) à medida que se estabelece uma constância na prática de participar dos atos corriqueiros dos indivíduos e em seus grupos sociais. Pois é no dia-a-dia que o sujeito se depara com escolhas em que atua e cria sua própria história. È o cotidiano, reflexo da sociedade, o lugar no qual se exercitam a crítica e a transformação do próprio meio, do diário e do próprio processo histórico. A participação permite a co-responsabilização na formação de um projeto político e sela a demanda e o compromisso da sociedade civil diante da proposição de políticas públicas e rumo à constituição de um sujeito coletivo e um projeto efetivamente político para a sociedade.
A participação da APMF é muitas vezes polêmica e mal interpretada, pois
uma visão equivocada de que é apenas uma maneira de o Estado se abster da
responsabilidade de suas tarefas, pela conclusão de que por ser pública deveria ser
mantida pelo Estado. Cegalla (2005: 708), esclarece que o significado do termo “público”
é “pertencente ou relativo à coletividade, que é de uso de todos, comum”, compreende-se
que todos tem de zelar pela escola pública.
O trabalho e a participação da APMF são elementos importantíssimos da
gestão escolar, embora, polêmicos por não existir uma conscientização da comunidade.
Através desta discussão sobre a importância da participação da
comunidade na escola, a gestão democrática propõe a descentralização da educação
dando às escolas autonomia para se organizarem levando sempre a conta à realidade em
que a unidade escolar se encontra inserida.
Desta forma percebe-se que se faz necessário que as instâncias
colegiadas apresentem-se como espaços públicos e institucionais que permitam a
articulação de soluções locais para os problemas do cotidiano escolar, a fim de superar as
práticas monolíticas ou pretensamente harmoniosa de gestão escolar.
Existe grande preocupação com a qualidade do ensino, conforme visão
da educação enquanto formadora de cidadãos, que precisa-se levar em conta estrutura
didática, administrativa, uma vez que, na LDB há um vasto conjunto de determinações
que dizem respeito à gestão da educação e à democratização do ensino público:
Art.3º – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:(...)VIII – gestão democrática do ensino público na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino;(...)Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.(...)Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.
Assim, conhecer e dominar as atribuições dos representantes da
comunidade escolar na atuação da APMF, de acordo com a lei vigente, já que a gestão é
participativa e democrática, com o intuito de se alcançar esta gestão na escola pública,
deve-se romper com a idéia de que os problemas escolares podem ser resolvidos nos
estritos limites da escola e é extremamente necessário o envolvimento da comunidade
escolar.
Compreender a atuação dos representantes da APMF faz-se necessário o
estudo de seu Estatuto, visto sua regulamentação no Regimento Escolar, e discutir sobre
as ações de aprimoramento do ensino e a integração família – escola – comunidade.
È na escola que ocorre a ação pedagógica, e assim constituindo-se como
elemento-chave na institucionalização do poder, junto a outros. Assim Althusser (1996)
compreende que a escola é um dos aparelhos ideológicos do Estado, e é fundamental
para a democratização da educação, inclusive como auxiliar na luta dos indivíduos por
melhores condições de vida.
A organização das APMF, em parte constituídas pelos pais dos alunos,
mesmo ainda vinculados parcialmente a disciplina escolar, procura intervir em sua
cotidianidade, sempre em busca da identificação da contradição entre o existe e o
pretendido, no intuito de transformar conceitos e fazer com que os alunos de indivíduos
dóceis e úteis, passassem a ser cidadãos comprometidos e conscientes, e para tal se faz
necessário mudar a escola de simples instituição de ensino para um meio reeduca dor,
não somente de crianças e jovens, mas de adultos, pais, educadores e administradores,
para garantir em futuro próximo, potencial político de forte intensidade libertadora e não
alienadora.
A organização e dinâmica das APMFs, ainda são limitadas, e não
conseguem atingir através de suas ações no espaço escolar, nas posturas administrativas
na administração pedagógica, seu objetivo principal que é potencializar a participação
democrática.
As APMFs têm conseguido ótimos resultados na ratificação da
organização dos quadros, programas, métodos e táticas apresentadas pela escola
enquanto educadora/domesticadora dos indivíduos, com ações que encontram-se em
sintonia apenas com os detentores do poder, oprimindo os trabalhadores que a freqüenta.
3. Gestão Democrática
Deve-se definir Gestão Democrática, como prática político-pedagógica e
administrativa, onde através da articulação entre os diversos segmentos da unidade
escola, o gestor modifica as relações de poder, transformando-as em ações colegiadas,
transparentes e autônomas.
Porém, hoje quando se pensa em gestão nota-se que seu significado vai
além de “ação ou efeito de gerir; gerência; administração” (Luft, 2000: 532). Segundo
Cury (apud Borges, 2007: 117):
Sendo a transmissão do conhecimento (ação da escola) um serviço público, o princípio associa-se à democracia. (...) lembrando que gestão é um termo latino
que vem de gestio, que por sua vez vem de gerere - trazer em si, produzir. Fica claro que gestão não é só o ato de administrar um bem fora de si (alheio), mas é algo que traz em si, porque nele está contido. E o conteúdo deste bem é a própria capacidade de participação, sinal maior da democracia. Só que aqui é a gestão de um serviço público, o que (re) duplica o seu caráter público (re/pública).
A democracia, termo que, embora muito utilizado, é pouco compreendido
na realidade, acaba sendo necessário de forma gritante com a participação na gestão, e
sua discussão sob a visão da comunidade, implica em conscientização da cidadania, pois
o principal protagonista no processo democrático é ninguém mais que o cidadão, mas o
cidadão consciente de suas responsabilidades como um todo.
Segundo Dalmo Dallari (1998, p.14):
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do próprio grupo social.
Uma vez que o sistema capitalista é excludente, dentre tantas coisas que
faltam, faltam também direitos básicos e condições mínimas para a população exercer
sua cidadania e mesmo com os pequenos avanços suprindo as necessidades do povo,
porém continua reproduzindo desigualdades, constituindo-se em um obstáculo para o
binômio democracia/cidadania.
Somente os livros não ensinam o real significado de cidadania e
democracia, se faz necessária a convivência, na vida social e pública, através dos
relacionamentos que estabelecemos uns com os outros, que exercitamos nossa
cidadania. Assim, a escola é um espaço de construção de relacionamentos e de
convivência entre indivíduos de diferentes grupos. Saviani (1999: 54) ressalta que:
A relação entre educação e democracia se caracteriza pela dependência e influência recíprocas. A democracia depende da educação para seu fortalecimento e consolidação e a educação depende da democracia para seu pleno desenvolvimento, pois a educação não é outra coisa senão uma relação entre pessoas livres em graus diferentes de maturação humana.
Após analise do conceito de democracia e cidadania e contextualizando
com a realidade vivenciada na escola hoje, constata-se que sua efetividade ainda é uma
idéia utópica em nossa sociedade. Surgem questões contraditórias, que geram angustia
principalmente entre os docentes das escolas públicas, misto de impotência e insatisfação
em face das dificuldades encontradas para a escola e educação desempenharem seu
verdadeiro papel, proporcionar uma educação emancipadora, tornando individuo
autônomo, critico, transformador da sociedade.
Portanto a escola precisa repensar seus métodos didático-pedagógicos,
visto que nem sempre conseguem atingir os objetivos quanto à formação da criticidade e
da autonomia por parte dos educandos, rever as práticas administrativas, as relações de
poder e as atitudes individuais que têm dificultado o processo democrático.
Atualmente constata-se maior distribuição de tarefas em nível interno das
escolas, porém nem sempre de maneira democrática. Geralmente o diretor ainda é
considerado autoridade máxima e o único com autonomia para decidir, mas
paralelamente sua autonomia esbarra no cumprimento de leis superiores, o que o torna
“um mero preposto do estado”, (PARO, 2005). Tal fato mostra que essa pseudo-
autonomia do diretor é também uma pseudo-autonomia da própria escola, privando a
comunidade usuária de uma das instâncias pelo qual poderia se apropriar do saber e da
consciência crítica.
Enfim, a escola tem sido um espaço de muitas contradições, existe o
discurso democrático e de inserção da comunidade no processo decisório, mas ainda não
se criaram condições para essa prática.
Desde 1990, a escola adotou a gestão democrática e passou a estimular
a formação das instâncias colegiadas com a participação da comunidade, muito embora
não tenham dadas as condições ideais para o exercício e a participação propriamente
dita, caindo no mesmo impasse, a escola deixa de cumprir sua função de formar um
cidadão consciente e oferecer-lhe instrumentos para transformar as relações sociais e o
meio em que vive, e este objetivo poderia ser conquistado com a implantação da gestão
democrática.
Com a Constituição de 1988, a gestão democrática da educação foi
legitimada, assim como pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em
seu artigo 14:
Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na Educação Básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político-pedagógico da escola;II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares e equivalentes.
Este artigo confere aos sistemas de ensino autonomia para promover a
gestão democrática, ao mesmo tempo em que se enfatiza o princípio da participação,
tanto dos profissionais da educação na definição dos processos pedagógicos, como da
comunidade nos conselhos, deixando bem claro que sem a concretização desses
princípios, não há possibilidade de exercício da democracia.
Após muitas reivindicações em prol de direitos, feitas pela própria
sociedade, através de organização de diferentes categorias, a legitimação deste
autonomia se tornou concreta. Um desses movimentos, foi o ocorrido na década de 80,
pelos docentes, quando funcionários assalariados expressavam um sentimento novo: sua
percepção como sujeitos de direitos em face de um poder que não os reconhecia como
sujeitos de equivalência. Esse movimento teria expressado um desafio para os sistemas
públicos de educação, já que criou condições favoráveis ao debate produtivo com
diferentes setores envolvidos. (OLIVEIRA, 1997)
Segundo Abranches (2003: 47), essa discussão não é recente:
(...) experiências de democratização da escola são encontradas em projetos educacionais da Escola Nova, na década de 1920. A discussão na Escola Nova tinha uma proposta educativa explícita de desenvolver na criança os sentimentos comunitários que garantiriam a vida democrática, além de permitir a colaboração da família na obra da escola, mesmo que essa participação representasse um caráter assistencialista da escola junto à comunidade.
Apesar disso, a gestão democrática só conheceu realmente seu apogeu
no Brasil na década de 80, quando no Congresso Mineiro de Educação, surgiu à proposta
de implantação dos conselhos escolares com objetivo de combater os resquícios ainda
existentes de autoritarismo e por acreditar que a participação da comunidade resultaria
em melhoria para a qualidade do ensino.
A gestão democrática, expressão da conquista desses movimentos
populares, é tema presente em todas as escalas administrativas e principio de
reivindicação em diversos setores sociais, muito embora existam contradições entre o que
se estabelece como ideal e o que se aplica com a denominação de “democracia”,
defendem a participação e transparência como fatores essenciais da gestão democrática,
pois todos os envolvidos no processo educacional devem participar da gestão, assim
como todas as ações e decisões tomadas devem ser de conhecimento de todos.
Para se construir uma escola cidadã, autônoma e participativa, o projeto
político-pedagógico deve ser construído coletivamente, onde a gestão democrática é
responsável pela administração, elaboração e acompanhamento do projeto de educação,
que deve ser fundamentado em um paradigma de homem e de sociedade.
A gestão é entendida como um “fazer coletivo que leva em consideração
a sociedade em que vivemos e suas constantes mudanças, às quais irão influenciar a
qualidade e a finalidade da educação”. (Projeto Político-pedagógico, 2007).
E como valor e princípio da gestão democrática elege-se ainda o aluno
como sujeito do processo, o Conselho escolar como eixo do poder, a coerência entre o
discurso e a prática e o compromisso com a defesa dos direitos humanos.
Tal projeto elenca alguns elementos essenciais à prática da gestão
democrática:
a) Autonomia: resgate do papel e lugar da escola como eixo do
processo educativo autônomo, não como mera reprodutora de ordens
e decisões elaboradas fora de seu contexto.
b) Participação: condição para a gestão democrática. Todos contribuem,
com iguais oportunidades, para algo que pertence a todos: a escola
pública, e não diz respeito apenas à comunidade interna, mas também
à externa.
c) Clima organizacional: determina a vontade dos membros de participar
ou alienar-se do processo educativo, depende das relações
estabelecidas no interior das escolas, e para que exista é fundamental
a clareza dos objetivos das ações, que as pessoas sejam situadas
como sujeitos cidadãos capazes de se comprometer e participar com
autonomia.
Deve-se ficar claro que a participação nos colegiados, como uma nova
forma de gestão não tira do diretor sua autoridade e responsabilidade pela escola, pois
através dos colegiados, poderá contar com o apoio de outras pessoas envolvidas no
processo educacional para conseguir implementar os projetos de melhoria na escola e no
ensino, transformando-o em um gestor preocupado com a formação do cidadão
consciente, participativo. Deixará de exercer uma ação individual e passará a considerar o
coletivo.
A gestão democrática abre espaço para que os colegiados participem nas
decisões e na gestão da escola, não acontece de maneira simples e plenamente
satisfatória, devido aos obstáculos que ainda se contrapõem à participação coletiva
exigida na democracia. Paro (2005: 19) afirma que “uma sociedade autoritária, com
tradição autoritária, com organização autoritária e, não por acaso, articulados com
interesses autoritários de uma minoria, orienta-se na direção oposta à democracia”.
Segundo Cicesk e Romão (2004: 91), outros fatores dificultam a
participação da comunidade, um deles é a falta de programas sérios, consistentes e
permanentes, que possibilitem a capacitação dos segmentos escolares, um dos
pressupostos para a gestão democrática, já que a participação exige aprendizado,
especialmente na nossa sociedade, que historicamente tem estado à margem dos
processos decisórios.
Muito embora existam os colegiados instituídos, regulamentação, espaço
dentro das escolas, discurso em prol da democracia e exercício da cidadania, as
limitações existem, pois segundo constatou-se no Colégio Estadual Unidade Pólo, em
Ibiporã que a realidade mostra a dificuldade dos pais, trabalhadores em diversas áreas
em participarem de reuniões, ou não terem conhecimento para opinar e decidir, ou
alegações conformistas de que está bom. Então o problema vai além, pois é necessário
criar condições concretas para que essa participação ocorra de fato, para que a classe
trabalhadora tenha condições de se apropriar da escola e que a escola, por sua vez, se
esforce para democratizar o saber sem que isso lhe seja imposto, para que todos tenham
condições de intervir com segurança e autonomia.
Paro (2005) propõe a adoção de uma atitude ousada que contribuiria para
tornar efetiva a participação dos pais: criar um dispositivo constitucional de isenção de
horas de trabalho nas empresas nos dias em que os pais precisarem comparecer à
escola para participar de reuniões ou tratar de assuntos relacionados à escolarização do
filho, de forma que essa participação não lhes traga prejuízo nos vencimentos, destaca
que assim é que se pensa a utopia da participação coletiva; essas seriam as condições
concretas de participação das camadas trabalhadoras nos destinos da educação escolar.
Se queremos uma escola transformadora, temos que transformar a escola que temos aí. E a transformação dessa escola passa necessariamente por sua apropriação por parte das camadas trabalhadoras. É nesse sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola. (PARO, 2005: 10)
Ciceski e Romão (2004) defendem as condições que consideram
necessárias para a participação, e a politização do cidadão seria uma forma de torná-lo
capaz de atuar no contexto atual de redefinição dos espaços escolares. Para isso, é
necessário adotar uma prática contínua de reflexão e ação. Esse processo é definido
como:
(...) construção cotidiana e permanente de sujeitos sócio-políticos capazes de atuar de acordo com as necessidades desse novo que - fazer pedagógico - político, redefinição de tempos e espaços escolares que sejam adequados à participação, condições legais de encaminhar e colocar em prática propostas inovadoras, respeito aos direitos elementares dos profissionais da área de ensino. É necessário ainda que conheçamos as experiências, já vividas, tomemos conhecimento de seus limites e avanços e, num processo contínuo de prática e reflexão, superemos suas falhas, aperfeiçoando seus aspectos positivos e criando novas propostas para os problemas que persistem. (CICESKI e ROMÃO, 2004: 66).
Os espaços de participação, como os colegiados, associações e
agremiações, consagram-se como grandes conquistas nas escolas. No entanto, quando
não se oferecem condições concretas para essa participação, nega-se o exercício da
cidadania tão propagada pela própria escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito embora o Estado não tenha se abstido totalmente das atividades de
capacitação dos colegiados, as ações devem ser mais constantes, em especial quanto ao
acompanhamento dos resultados e à elaboração de políticas públicas destinadas à
organização escolar democrática.
A essa exigência de transformação de relações e práticas sociais,
pedagógicas e administrativas, a escola tem se tentado se adequar de maneira a adotar
uma forma de gestão que amplie os espaços de participação e de diálogo com os
diversos segmentos que compõem a comunidade escolar. Essa mudança de
comportamento na administração escolar já é perceptível, ainda que distante do ideal.
Percebe-se um esforço por parte dos diretores escolares tornarem visível o caráter
democrático de sua gestão, porém, muitas vezes, o que ocorre é um conservadorismo
disfarçado, mesmo de forma inconsciente, pois o conceito de democracia não é unânime,
mas está em construção.
O ato de convocar a comunidade para repassar decisões que já foram
previamente tomadas pela escola ou de reunir professores para divulgar ações
pedagógicas que já foram articuladas pela equipe pedagógica não expressa exatamente a
opção por uma gestão de caráter democrático, embora atitudes como essas sejam
comuns em muitas escolas que se dizem democráticas.
As instâncias colegiadas tentam lentamente participar das decisões da
escola, mas ainda com muita insegurança, até mesmo por falta de conhecimento do seu
papel na esfera da administração escolar, ou como alguns pais alegam, falta de tempo ou
conhecimento do assunto.
Constatou-se com os membros da APMF da escola em Ibiporã, que
apesar de não haver conhecimento mais profundo de seus Estatutos, consideram boa sua
participação no colegiado.
Constatou-se também que a Direção da escola sempre quem marcava as
reuniões, demonstrando falta de mobilização, autonomia e iniciativa dos colegiados,
caracterizando a falta de conhecimento de seu poder e de seu campo de atuação, mas
apesar das dificuldades apontadas, deve-se reconhecer que houve também um avanço
qualitativo na atuação da APMF.
Concluí-se que os espaços de participação representados pelo Conselho
de Classe, Conselho Escolar, em especial da APMF são importantíssimas para a gestão
escolar democrática, e como democracia é sinônimo de diálogo, envolvimento e
participação, os colegiados devem ser cada vez mais valorizados, incentivados e
priorizados no interior das escolas.
Sabe-se que ainda há um longo caminho a percorrer para a efetiva
democratização das relações e dos espaços escolares, porém é necessário também
entender que o caminho está sendo trilhado e as pequenas conquistas começam dar
resultados. Mas é preciso combater as causas que impedem sua participação, realizando
um trabalho de politização e conscientização que envolva a comunidade no processo de
reflexão e ação. O trabalho é árduo, mas só por meio da conscientização, compreensão
da representatividade e compromisso responsável de toda a comunidade com o bem
comum é que a almejada gestão democrática será conquistada.
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[1] Docente da Rede Estadual do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2008.
[2] Docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Área de Política e Gestão da Educação, Orientadora do Trabalho.