O papel da mídia na difusão das representações sociais

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    111Comum - Rio de Janeiro - v.6 - n 17 - p. 111 a 125 - jul./dez. 2001

    A origem da expresso representao social europia. Ela remeteao conceito de representao coletivade mile Durkheim, por longo tempoesquecido, que Serge Moscovici retomou para desenvolver uma teoriadas representaes sociais no campo da Psicologia Social.

    Foi Serge Moscovici quem primeiro mencionou a expresso repre-sentao social, apresentada em seu estudo sobre a representao socialda psicanlise, realizado na dcada de 1950 e intitulado Psychanalyse:son image et son publique. Nessa obra, Moscovici apresenta os resulta-dos de sua pesquisa, na qual procura compreender de que forma apsicanlise, ao sair dos grupos fechados e especializados atravs desua divulgao pelos meios de comunicao, adquiriu uma nova signi-ficao para grupos populares.

    Serge Moscovici elaborou pela primeira vez o conceito de represen-tao social ao realizar o estudo acima citado, e publicado em 1978 no

    Brasil sob o ttuloA representao social da Psicanlise. Nessa obra, o autormostra como a Psicanlise, uma teoria cientfica complexa, ao ser difun-dida em determinada cultura, se transforma ao mesmo tempo em quemodifica o social, a viso que as pessoas tm de si e do mundo em quevivem. Neste processo, a Psicanlise, enquanto uma teoria nova sobre ocomportamento humano, converte-se num componente da realidade co-tidiana, um objeto do pensamento social e transforma-se numa represen-tao social autnoma, sem grandes semelhanas com a teoria original.

    O conceito de Moscovici nasce da releitura crtica feita sobre as no-es de representao coletiva da teoria funcional de Durkheim, uma vezque, para o psiclogo francs, as representaes coletivas so por demaisabrangentes para darem conta da produo do pensamento na sociedade.Na definio de Moscovici, a representao social refere-se ao

    O PAPEL DA MDIA NA DIFUSODAS REPRESENTAES SOCIAIS

    Marcos Alexandre

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    posicionamento e localizao da conscincia subjetiva nos espaos soci-ais, com o sentido de constituir percepes por parte dos indivduos. Nessecontexto, as representaes de um objeto social passam por um processode formao entendido como um encadeamento de fenmenos interativos,fruto dos processos sociais no cotidiano do mundo moderno.

    Dentro dessa temtica, Moscovici analisou processos atravs dos quaisos indivduos elaboraram explicaes sobre questes sociais e como issode alguma forma relaciona-se com a difuso das mensagens pelos vecu-los de comunicao, dos comportamentos e organizao social. Nesseaspecto, o conceito de representao social trabalha com uma gama deelementos que envolve teorias cientficas, ideologias e experinciasvivenciadas no cotidiano e tambm com questes ligadas Psicologia,

    Psicanlise, Comunicao e Sociologia.Na obra de Moscovici, os aspectos conceitual e epistemolgico (en-

    quanto formas de explicao) so tomados em referncia inter-relaoentre os sistemas de pensamentos e as prticas sociais, para que seja pos-svel compreender os fenmenos complexos do senso comum e a eficciadestas representaes na orientao dos comportamentos e na comunica-o, entendendo a representao social como sistema de recepo de no-vas informaes sociais.

    Comunicao de massa e representaes sociais

    Moscovici1 afirma com clareza e objetividade que o objeto central daPsicologia Social deve ser o estudo de tudo o que se refere ideologia e comunicao do ponto de vista da sua estrutura e funo. Para os estudi-osos que adotam uma concepo de ser humano historicamente construdoe que enxergam a sociedade como um produto histrico-dialtico, a co-

    municao obrigatoriamente torna-se um problema a ser pesquisado. Eladeve ser estudada como um campo de problemas, na medida em que suaprtica requer a superao da prpria realidade. A preocupao no mais com o que comunicado, mas sim com a maneiracom que se comuni-ca e com o significado que a comunicao tem para o ser humano.

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    O termo comunicao deriva do latim communicare, com o sentido detornar comum, partilhar, repartir, trocar opinies, associar ou conferenci-ar (Rabaa & Barbosa2). A comunicao o processo da troca de experi-ncias para que se torne patrimnio comum. Ela modifica a disposiomental das partes envolvidas e inclui todos os procedimentos por meiodos quais uma mente pode afetar outra. Isso envolve no somente aslinguagens oral e escrita, como tambm a msica, as artes plsticas e c-nicas, ou seja, todo comportamento humano.

    Diariamente somos bombardeados e envolvidos por informaes, atra-vs de imagens e sons que, de uma forma ou de outra, tentam criar, mu-dar ou cristalizar atitudes ou opinies nos indivduos. o efeito dos mei-os de comunicao de massa (MCM) em nossas relaes sociais. o que

    McLuhan3 chamou de mundo retribalizado, onde as pessoas passam a serconstantemente massacradas por inmeras e variadas informaes, vin-das de todas as partes do mundo.

    A comunicao de massa dirigida a um grande pblico (heterogneoe annimo), por intermedirios tcnicos sustentados pela economia demercado, a partir de uma fonte organizada, geralmente uma grande em-presa (ampla e complexa), com muitos profissionais e aparelhagem tcni-ca, extensa diviso de trabalho e correspondente grau de despesas.

    Os MCM atingem simultaneamente uma vasta audincia, em um cur-to espao de tempo, envolvendo milhares de pessoas no processo. Essaaudincia, alm de heterognea e geograficamente dispersa, constitudade membros annimos para a fonte, mesmo que a mensagem, em funodos objetivos do emissor, ou da estratgia mercadolgica do veculo, sejadirigida especificamente a uma determinada parcela do pblico, isto ,um s sexo, uma faixa etria, um determinado grau de escolaridade.

    As funes bsicas dos MCM so informar, divertir, persuadir e ensi-

    nar. A classificao, segundo Barbosa e Rabaa4 falha, pois ignora ospossveis propsitos e necessidades inconscientes, que certamente exis-tem tanto na fonte como nos receptores das mensagens. Para CharlesWright5, os objetivos da comunicao de massa compreendem:

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    1. Deteco prvia do meio ambiente, com coleta e distribuio deinformaes;

    2. Interpretao e orientao, com seleo e avaliao do material pro-duzido para divulgao;

    3. Transmisso de cultura, de valores e normas sociais de uma geraopara outra, de membros de um grupo para outro;

    4. Entretenimento, atos comunicativos com inteno de distrair oudivertir o receptor.

    Cada uma das atividades, enumeradas acima, pode exercer funes etambm disfunes, que seriam os resultados indesejveis do ponto devista da sociedade ou de alguns de seus membros.

    A difuso de mensagens pelos MCM gera a cultura de massa, conceitoque tambm apresenta controvrsias. Para Barbosa e Rabaa6, algunstericos, como Adorno e Horkheimer, chegam a discordar do prprio usoda expresso cultura de massa, pois esta pode levar compreenso en-ganosa de ser uma cultura surgida espontaneamente da prpria massa,isto , uma forma atual de arte popular, e propem em seu lugar a expres-so indstria cultural, apontando as concepes ideolgicas que proliferamno campo dos MCM.

    Num confronto das diversas posies, favorveis ou no comunica-o de massa, Barbosa e Rabaa7 relacionam, em sua obra Dicionrio deComunicao, os principais argumentos positivos e negativos a respeito doconceito, segundo a viso do terico da comunicao Umberto Eco, comalguns acrscimos nossos.

    Aspectos positivos:

    1. Democrtica, pois liberta o homem na medida em que proporcionaoportunidades, destruindo as antigas barreiras de classe, tradio e gosto,misturando e confundindo tudo, dissolvendo as distines culturais;

    2. Proporciona diverso para as massas cansadas que compem a for-a de trabalho;

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    3. Divulgam os atos de corrupo;4. Proporcionam cultura para milhes de pessoas, permitindo ao ho-

    mem mdio dispor de uma riqueza de informaes, nunca antes vista,divulgando obras culturais a preos muito baixos.

    Aspectos negativos:

    1. extremamente conformista, isto , encoraja uma viso passiva eacrtica da sociedade;

    2. Valoriza, em demasia, a informao da atualidade, entorpecendo aconscincia histrica;

    3. Difunde uma cultura homognea, destruindo as caractersticas cul-

    turais de cada grupo etrio;4. conservadora, pelo fato de trabalhar somente o que j foi assimi-

    lado, seguindo apenas as leis do mercado;5. A fim de no poupar esforo para o entendimento das mensagens,

    nivela superficialmente a sua produo.

    Atualmente as indstrias da mdia esto passando por grandes mudan-as econmicas e tecnolgicas, gerando um importante impacto na pro-

    duo e na difuso das mensagens. A produo e circulao das mensa-gens na sociedade atual extremamente dependente das atividades dasindstrias da mdia. O papel das empresas de comunicaes fundamen-tal na formao do indivduo moderno, pois difcil imaginar, nos dias dehoje, o que seria viver num mundo sem livros e jornais, sem rdio eteleviso, e sem os inmeros outros meios atravs dos quais as formassimblicas so rotineira e continuamente apresentadas a ns (Thompson8).

    As preocupaes de ordem social com o fenmeno da comunicao

    de massa acompanharam a sua disseminao. A mdia foi, nos anos quesucederam a Segunda Grande Guerra, compreendida como resultado dadominao tcnica e econmica (Adorno) ou da dominao estatal(Althusser). A partir dos anos 60, a Sociologia e a Psicologia passam aestudar o poder exercido pela mdia, apontando para o espao social que

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    constitui o mercado consumidor de informao, classificando-o, nome-ando e reconhecendo sua influncia na formao da nova sociedade. Hoje,a perspectiva psicolgica e sociolgica da comunicao lana novas idi-as sobre a questo do poder (Guareschi9). A questo da ideologia enquan-to instrumento do poder poltico praticamente abandonada, e no seulugar ficam reflexes sobre a influncia das representaes sociais (defi-nidas como a reproduo de percepes ou do contedo dos pensamen-tos comuns a uma coletividade) na tendncia de dissoluo das socieda-des no sentido sistmico e mesmo institucional, onde os valores eramditados pelas estruturas sociais. Os anos 80 viram o fortalecimento doindividualismo, num primeiro momento uma tendncia narcisista, onde ocontrole social era feito por cada indivduo sobre si mesmo num processo

    de personalizao, isto , a quebra da socializao disciplinar. Nesta so-ciedade h um mnimo de coero, o mximo de escolha privada poss- vel, e de compreenso. A tendnciapsicologizantevinda do domnio doconsumo e da publicidade atuam fortemente seduzindo e impondo, deforma subliminar, algumas representaes sociais. Por exemplo, as men-sagens publicitrias continuam nos vendendo a imagem que todas as messo belas, que todas as famlias so felizes, que os donos de automveisimportados tm mais poder e charmdo que os que possuem carros popu-

    lares, que voc o que consome e ser valorizado por isso.Nos anos 90 surgem interpretaes mais otimistas, evidenciando uma

    aspirao autonomia, na qual os indivduos livres de um controle diretodas estruturas sociais agiriam de forma no exclusivamente racional, cons-tituindo a base das representaes sociais e da ligao ou visgo social,a sensibilidade coletiva originria da forma esttica (Maffesoli10).

    No percurso da transformao do fenmeno social neste final desculo, os meios de comunicao de massa se tornam instrumentos

    fundamentais na produo da nova coeso social, exatamente por-que lidam com a fabricao, reproduo e disseminao de represen-taes sociais que fundamentam a prpria compreenso que os gru-pos sociais tm de si mesmos e dos outros, isto , a viso social e aauto-imagem. No contexto da sociedade individualista a ideologia

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    se transformou em publicidade e as representaes libertaram-sedefinitivamente do real.

    Tal liberdade de representaes com relao realidade coloca ques-tes de peso sobre os efeitos da globalizao da tecnologia para os grupossociais minoritrios ou excludos e tambm para as comunidades rurais(Guareschi11 ). Questes como esta evidenciam a necessidade do estudoda atual formao, reproduo e permanncia do imaginrio social, a an-lise das representaes sociais e como elas so geradas pelos meios decomunicao de massa.

    No estudo das representaes sociais, os aspectos conceitual eepistemolgico, enquanto formas de explicao, so tomados em refern-cia inter-relao entre os sistemas de pensamentos e as prticas sociais,

    para que seja possvel compreender os fenmenos complexos do sensocomum, e essa complexidade fruto do processo de comunicao demassa. Dessa forma, devemos discutir como o pensamento do indivduose enraza no social e como um e outro sofrem mudanas mtuas. Basea-do em Spink12, proponho um enfoque que implica em trs fatores:

    1. Compreender o impacto que as correntes de pensamento, veicula-das na mdia, tm nas representaes sociais de grupos sociais diferentes;

    2. Entender os processos constitutivos das representaes sociais e aeficcia destas representaes para o funcionamento social, isto , enten-der por um lado o papel das representaes sociais na orientao doscomportamentos e na comunicao e, por outro, entender a representa-o social como um sistema de recepo de novas informaes sociais,atravs dos mass media;

    3. Entender o papel das representaes sociais nas mudanas sociaisno que diz respeito constituio de um pensamento social compartilha-

    do, indivduos e mdia.

    O Ser de hoje diferente do de outras pocas. Ele muda porque tudomuda ao seu redor. Este novo habitatproporciona aos indivduos umarede enorme de estmulos, condicionamentos e provocaes sensoriais.

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    A civilizao moderna, com sua tecnologia, est oferecendo ao homemnovas formas de perceber, sentir, intuir e pensar. O homem de hoje umhomem-massa, onde a imagem e o som igualam os receptores. A divulga-o das informaes no difere, essencialmente, entre o indivduo inte-lectual e o no intelectual, porque a diferena dos instrumentos intelec-tuais e culturais que prevalece nas mensagens, divulgadas pelos mass me-dia, cada vez mais encurtada. At h algumas dcadas, as elites cultu-rais eram crculos impenetrveis. Segundo Gutierrez13, de uma civilizaode privilegiados estamos passando a uma civilizao de massas, j que,superadas as diferenas de classe, a massa, atualmente, protagonista dahistria e, portanto, sua cultura, a cultura que ela produz e consome, um fato positivo (op. cit., p. 19).

    A mdia como difusora de novas representaes sociais

    A comunicao, sob a perspectiva da representao social, o fen-meno pelo qual uma pessoa influencia ou esclarece outra que, por suavez, pode fazer o mesmo em relao primeira. Seus elementos bsicosso o emissor, o receptor, a mensagem, o cdigo e o veculo. Atualmente,o estudo cientfico da comunicao ganhou grande impulso, depois de

    constatada a extraordinria importncia econmica, social, poltica e ide-olgica do processo comunicacional. No Brasil se destacam os estudoscomandados por Jos Marques de Mello, que muito tem contribudo parao desenvolvimento das pesquisas sobre os fenmenos da comunicaode massa em nosso pas e na Amrica Latina.

    Mas o processo de comunicao, para os estudiosos do conceito deMoscovici, no somente o reflexo do tipo de relaes sociais queimperam numa sociedade. um fenmeno bsico e universal de in-

    fluncia recproca. Ela faz parte de um processo mais amplo, o dainformao, atravs da difuso de conhecimentos numa escala nuncaantes imaginada. Impossvel analisar, avanar, aproveitar astecnologias, os recursos, sem levar em conta sua tica, suaoperacionalidade, seu benefcio para com a coletividade.

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    A informao o maior investimento do comunicador. Ela se tor-na fundamental para o conhecimento, tanto para os profissionais damdia como para outras profisses. Conhecer para desenvolver e de-pois retornar o desenvolvimento em forma de informao, este oprocesso, que tem como princpio bsico a objetividade na transmis-so e difuso das mensagens.

    Voltando idia da comunicao como uma rede de relaes, pareceque o homem moderno est ficando cada vez mais eficiente na recepoe decifrao de mensagens que os antigostm dificuldade em entender eretransmitir, com eficincia e agilidade, a outros receptores.

    Isto explica a reao dos veculos no sentido de dar um tompessoalaosprogramas mais inteligentes de comunicao de massa. Mesmo nas cartas

    promocionais que convidam o leitor a fazer a assinatura de determinadapublicao, nota-se uma tentativa deliberada de tratar o receptor indivi-dualmente, como se estivesse numa conversa particular com ele, se pos-svel com o nome impresso no material de marketing. Atravs da mesma

    frmula, atuam alguns programas radiofnicos, que apresentam um tomconfidencial, como se quisessem criar a iluso de que o locutor tem umarelao pessoal com o ouvinte.

    O mtodo mais completo de comunicao entre as pessoas o da

    linguagem. Emissor e receptor no inventaram o meio de comunicaoque utilizam, mas receberam do grupo ou sociedade a que pertencem. Ocomportamento comunicativo tem um campo de ao amplo. A lingua-gem no pode ser tratada separadamente do complemento humano, nemdo padro emisso-recepo (estmulo e resposta). Sob influncia da Psi-cologia, da Sociologia, da Comunicao e da representao social, hojeem dia se reconhece que os estmulos e respostas no ocorrem isolada-mente, mas agrupam-se em padres, ou seja, no se pode restringir os

    estudos desses fenmenos apenas a uma questo fontica, semntica,semiolgica. Segundo J. L. Arangurem14, para o ser humano, a linguagem uma coisa mgica e subjetiva.

    Toda linguagem, inclusive a cientfica, tem uma dimenso tantoemotiva quanto cognitiva, isto , transmite uma significao emocional.

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    Cada palavra, por mais descritiva que pretenda ser, contm uma carga deemoo. A objetividade da linguagem jornalstica ou cientfica apresenta-secom uma roupagemde distncia, ou em termos emocionais, de imparcialidade.

    Os comunicadores quase sempre querem produzir aprendizagem nosreceptores. Se no houver esta inteno, sero utilizados os hbitosexis-tentes no receptor, criando mensagens para fortalec-los. Aqui cabe oexemplo dos anunciantes, representados pelas agncias de publicidade,que controlam as razes sugeridas ao pblico para a compra dos produ-tos. Mas o consumidor tambm influencia o anunciante atravs da respos-ta(feedback ). Se o pblico compra mais (resposta positiva), o anunciantemantm suas mensagens. Se o pblico deixa de comprar (resposta negati-va), o anunciante reformula suas mensagens ou contrata outra agncia.

    A palavra comunicao tornou-se popular no ambiente universitrio. Forado meio acadmico, a revoluo tecnolgica nesta rea de conhecimentocriou ou desenvolveu maior necessidade de competncia no exerccio desuas atividades. Jornais, revistas, rdios e TVs, h muito, so mercadosdo comunicador profissional, agora ampliado pela atuao dos consulto-res de marketinge relaes pblicas.

    Outro grupo de profissionais responsvel pela avaliao do impactodos diversos produtos de comunicao. Pesquisadores de opinio pblica

    (com suporte da representao social), assessores de imprensa e gerentesde comunicao, desempenham papis no que poderia ser classificado deindstria da comunicao.

    fcil apontar diferenas nas atividades de um jornalista, publicitrioou relaes pblicas. Ao mesmo tempo, um processo bsico caracteriza otrabalho desses profissionais e os une de maneira significativa. Cada um responsvel pela criao, emisso ou avaliao do impacto de mensagensque se destinam a produzir efeito sobre uma ou mais audincias (pblicos).

    Se a comunicao se destina a influenciar o comportamento, precisocompreender as variveis e os processos que determinam o comportamentoe suas mudanas. Embora se separem emissor e receptor, na atividadeprofissional de jornalismo, ambos so sistemas correspondentes, pois soorganismos humanos que existem em condies parecidas. A anlise do

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    comportamento, segundo o ponto de vista dos especialistas em Comuni-cao, aplica-se a fontes e receptores. Mas existem muitas formas para setrabalhar este assunto, e uma delas desenvolvida atravs da representa-o social, que procura ligar e relacionar os fatores pessoal e social queentram no processo.

    Um dos fenmenos mais importantes nesse final de milnio a substi-tuio das ideologias pelo culto s celebridades. Hoje em dia o parecer vale mais do que o Ser, o entretenimento conquistou a realidade, cada vez mais a fico compete com as histrias da vida real, no basta serhomem, tem que ser artista.

    O entretenimento invadiu a realidade. A Guerra do Golfo, os fenme-nos Tiazinha e Feiticeira, a vida e morte da princesa Diana e Ayrton Senna,

    onde a vida se transformou num veculo de comunicao, como a televi-so, o rdio, o cinema, as revistas e jornais. Todos ns nos tornamos aomesmo tempo atores e platia de um espetculo muitas vezes mais rico,fascinante e complexo do que qualquer acontecimento jornalstico. A vidaacabou por transformar-se mesmo em um filme. o apogeu da represen-tao social.

    O cinema contribuiu para isso, assim como a televiso e o desenvolvi-mento da fotografia na imprensa. A mdia criou a mitologia da imagem.

    Os 15 minutos de fama que o artista plstico norte americano Andy Warholse referia, so perseguidos por grande parte da populao mundial. Oannimo Mark Chapman poderia ter pedido um autgrafo, pois ainda noestava certo do que faria, mas em vez disso optou por disparar sua armano ex-Beatle John Lennon. Assassinando o compositor, tornou-se prota-gonista do filme da vida.

    Os annimos ficam famosos e ganham seus minutos de celebridade,os que j so famosos viram mitos. Nossa necessidade de espetculo

    to grande que a Guerra do Golfo virou na TV uma fantasia hollywoodianacarregada de efeitos especiais. Nossa sede por escndalos to intensaque testemunhas, advogados, promotores, delegados, juizes e jurados, setransformam em artistas, como foi o Caso Escola Base, em So Paulo, ondea imprensa, segundo o jornalista Alex Ribeiro15, transformou a vida de

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    pessoas inocentes num verdadeiro inferno, tudo por causa de uma de-nncia sem sentido e propsito, realizada por uma me totalmente de-sequilibrada. Nunca se lavou tanta roupa suja em pblico. Aparecem,cada vez mais, programas de televiso especializados em mostrar pes-soas (annimas ou celebridades) dispostas a revelar um segredo, de pre-ferncia bem srdido.

    A aplicao deliberada de tcnicas teatrais na poltica, religio, educa-o, literatura, no esporte, comrcio e crime, converteu todos os aconte-cimentos em ramos da indstria do entretenimento, na qual o objetivomaior ganhar e satisfazer a audincia. Parece que a curto prazo no hsada para o fenmeno, pois a mdia mundial est conivente demais coma situao e at contribui para a evoluo do processo, muitas vezes por

    presses de anunciantes e do prprio pblico, dentro daquilo que se cha-ma de concorrncia.

    Neste incio de sculo XXI os meios de comunicao esto se multi-plicando em grande velocidade, gerando um excesso de informaes paraa sociedade. Cada vez mais a mdia induz o povo a gastar o que no tem,recorrer aos financiamentos, aos cartes de crdito ou ao cheque especi-al, linha de frente do consumismo, alimentada pelos altos juros. Grandeparte dos pases e de suas populaes, est endividada. As naes, para

    manterem a estabilidade poltica, cumprem fielmente os acordos com oFundo Monetrio Internacional (FMI), pagando as elevadas taxas dos ju-ros da dvida externa.

    Diante desse quadro mundial a mdia tem pouco espao para a verdade,pois depende das verbas publicitrias, que so manipuladas pelas grandesindstrias e conglomerados financeiros. De cada dez notcias veiculadaspela mdia, uma positiva. Ns, jornalistas, dizemos em nossa defesa quea vida assim mesmo, violenta, cruel e que no fazemos mais do que

    reproduzi-la. O tempo todo somos, como consumidores, bombardeadoscom folhetos de compra e anncios persuasivos. A briga do momento ocrescimento dos provedores de acesso Internet grtis. As empresas decomunicao esto preocupadas com a chegada dessa nova maneira deveicular informaes (publicitrias e jornalsticas) para a sociedade.

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    Concluso

    As proposies de Moscovici abrem novas perspectivas nas CinciasSociais, na medida em que suas formulaes ressaltam os processoscognitivos coletivos e no apenas individuais, identificando as dimen-ses que permeiam a apropriao dos conhecimentos cientficos e ideo-lgicos, transformando-os em realidades sociais e instrumentos prpriosde uma coletividade, no estabelecimento da comunicao social eintegrao interpessoais.

    Moscovici busca explicitar como os saberes, ao nvel social, permitema coletividade processar um dado conhecimento veiculado pela mdia,transformando-o numa propriedade impessoal, pblica, que permite a cada

    indivduo manuse-lo e utiliz-lo de forma coerente com os valores e asmotivaes sociais da coletividade qual pertence. Para ele, a PsicologiaSocial deve se interessar pela cognio social, isto , pela criao, entre osindivduos, das representaes consensuais do universo.

    Para Moscovici, a formao das representaes sociais depende daqualidade e do tipo de informaes sobre o objeto social que o indivduodispe, do seu interesse pessoal sobre aspectos especficos do objeto e dainfluncia social no sentido de pressionar o indivduo a utilizar informa-

    es dominantes no grupo. Ele prope uma relao particular entre siste-mas de comunicao e as representaes sociais, apoiado no cartercirculante e mvel de sua teoria. As representaes sociais se modificamou se atualizam dentro de relaes de comunicao diferentes. Dessa for-ma, a mdia, integrada por um grupo de especialistas formadores e sobre-tudo difusores de representaes sociais, responsvel pela estruturaode sistemas de comunicao que visam comunicar, difundir ou propagardeterminadas representaes.

    Podemos dizer que a principal diferena entre o conceito de represen-tao social e outros conceitos sua dinmica e histria especficas, ouseja, as representaes sociais esto associadas s prticas culturais, reu-nindo tanto o peso da histria e da tradio, como a flexibilidade da rea-lidade contempornea, delineando a teoria de Moscovici como estru-

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    turas simblicas desenhadas tanto pela durao e manuteno, como pelainovao e constantes transformaes.

    Notas1. MOSCOVICI, S. A representao social da psicanlise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.2. BARBOSA, G. & RABAA, C. Dicionrio de Comunicao. So Paulo: tica, 1987.3. McLUHAN, M. Os meios de comunicao como extenses do homem. So Paulo: Cultrix, 1969.4. BARBOSA, G. & RABAA, C. Dicionrio de Comunicao. So Paulo: tica, 1987, p. 164.5. WRIGHT, C. Comunicao de massa: uma perspectiva sociolgica. 2a ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1973,p. 147.6. BARBOSA, G. & RABAA, C. Dicionrio de Comunicao. So Paulo: tica, 1987, p. 164.7. Idem, p.165.8. THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna. Teoria social crtica na era dos meios de comunicao demassa. 3a ed. Petrpolis (RJ): Vozes, 1999, p. 219.

    9. GUARESCHI, P. Comunicao & poder. A presena e o papel dos meios de comunicao de massaestrangeiros na Amrica Latina. 11a ed. Petrpolis (RJ): Vozes, 1998.10. MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declnio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de

    Janeiro: Forense Universitria, 1987.11. GUARESCHI, P. Comunicao & poder. A presena e o papel dos meios de comunicao de massaestrangeiros na Amrica Latina. 11a ed. Petrpolis (RJ): Vozes, 1998.12. SPINK, M.J. O estudo emprico das representaes sociais. In: SPINK, M. J. (ed.), O conhecimen-to no cotidiano: as representaes sociais na perspectiva da psicologia social. So Paulo: Brasiliense, 1993.13. GUTIERREZ, F. Linguagem total: uma pedagogia dos meios de comunicao. So Paulo: Summus, 1978.14. ARANGUREN, J. L. Comunicao humana. So Paulo, ed. USP; Rio de Janeiro, Zahar, 1975, p.15.15. RIBEIRO, A. Caso escola base. Os abusos da imprensa. So Paulo: tica, 1995.

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    ResumoNeste artigo propomos uma abordagem do conceito de representao

    social desenvolvido pelo psiclogo francs Serge Moscovici, como tam-bm destacamos a influncia que a comunicao de massa exerce na for-mao, difuso e transformao das representaes sociais.

    Palavras-chaveRepresentao social, mdia, comunicao de massa e psicologia soci-

    al.Abstract

    The purpose of the following article is to present na approach of theconcept of social representation developed by the french psychologist

    Serge Moscovici. In addition, we also wish to highlight the influence thatmass communication has in the formation, dissemination, as well as anyeventual changes in social representations.

    Key-wordsSocial representation, media, mass communication e psychology.