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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DE ALTO PRESTÍGIO por Rodrigo Cunha Barbosa Rio de Janeiro, fevereiro de 2011.

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO … · "O importante da educação não é apenas formar um mercado de trabalho, mas formar uma nação, com gente capaz de pensar."

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DE

ALTO PRESTÍGIO

por

Rodrigo Cunha Barbosa

Rio de Janeiro, fevereiro de 2011.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DE

ALTO PRESTÍGIO

Por

Rodrigo Cunha Barbosa

Monografia apresentada

à Universidade Candido Mendes

como requisito parcial à obtenção do título de Pós- graduado em Orientação Educacional e

Pedagógica.

Professor-Orientador: Flávia Cavalcanti

Rio de Janeiro, fevereiro de 2011.

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"O importante da educação não é apenas formar um

mercado de trabalho, mas formar uma nação, com

gente capaz de pensar." (José Arthur Giannotti)

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Agradecimentos

A Deus, que me concede a cada dia, uma nova oportunidade de progredir.

Aos meus familiares, que me apoiaram ao longo da minha jornada acadêmica e de toda a

minha vida, especialmente a minha mãe Maria Zita e o meu irmão Rafael Cunha.

A minha namorada Barbara Lewis, que sempre esteve presente ao meu lado, trazendo alegria

e motivação para jamais desistir dos meus sonhos.

Aos meus amigos que me acompanharam por toda a pós- graduação e tornaram os momentos

de estudo sempre muito agradáveis.

Aos professores, que participaram de forma tão importante da minha formação profissional,

trazendo conhecimentos e verdadeiras lições de como ser um verdadeiro educador.

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Resumo

O presente estudo tem como objetivo inicial compreender o que é o efeito escola e quais

fatores influenciam na formação do prestígio escolar. Importante observar que muitas

escolas da rede pública brasileira pertencentes à localidades próximas e que recebem os

mesmos incentivos financeiros apresentam reputações totalmente distintas. Com isso

surge um questionamento: O que influencia de fato na eficácia de uma Instituição

Escolar?

Em seguida será realizado um breve histórico da Orientação Educacional com a

finalidade de perceber as modificações ocorridas ao longo do tempo, desde a concepção

do termo até a atuação dos Orientadores Educacionais no passado e no presente.

Depois, será realizada uma investigação de que forma o Orientador Educacional pode

contribuir para a formação de uma escola de alto prestígio e como esse profissional deve

agir diante dos paradigmas da atualidade.

É importante ressaltar que há uma preocupação nesse trabalho, não apenas em

identificar a postura que as escolas públicas tomam diante das dificuldades, mas

também em perceber quais mecanismos são tomados para a eliminação das diferenças

sociais e culturais existentes no interior de cada instituição escolar e de que forma o

Orientador Educacional pode contribuir na formação de alunos críticos, investigativos e

preocupados com a transformação social. É papel fundamental de qualquer escola

oferecer oportunidades iguais aos alunos, sejam eles de grupos sociais, etnias ou

religiões diferentes.

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Sumário

INTRODUÇÃO............................................................................................01

CAPÍTULO 1 – INÍCIO DOS ESTUDOS SOBRE AS ESCOLAS EFICAZES............... .....02

1.1. A Eficácia Escolar.......................................................................................05 1.2. Escolas que Fazem a Diferença.............................................................11

CAPÍTULO 2 – UM BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL..........16

CAPÍTULO 3 - A CONTRIBUIÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DE

UMA ESCOLA DE ALTO PRESTÍGIO

..........................................................................................................................22

CONCLUSÕES ....................................................................................................30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................33

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Introdução

O sistema educacional brasileiro é altamente complexo e constata a existência de uma

realidade muitas vezes obscura e que reflete algumas diferenças significativas para toda

a comunidade escolar. Nota-se que cada escola oferece aos seus alunos, uma realidade

distinta, onde as diferenças revelam traços importantes, como por exemplo, a formação

de algumas hierarquias sociais e a alta diferenciação das escolas pertencentes até mesmo

a uma localidade próxima. Algumas questões, como por exemplo, o que faz com que

uma escola seja mais procurada do que a outra, o que caracteriza o prestígio de uma

escola, quais fatores realmente influenciam no rendimento do educando, são temáticas

pertinentes e que podem ajudar a solucionar algumas barreiras existentes na formação

de boas escolas.

Tendo em vista todas as questões abordadas anteriormente, o presente estudo tem como

objetivo geral, identificar e compreender qual é o papel do Orientador Educacional na

formação de uma escola eficaz. Uma reflexão pertinente neste estudo gira em torno das

seguintes questões: Será que a concepção de Orientação Educacional hoje é a mesma

que se tinha há alguns anos atrás? O papel que o Orientador Educacional desempenha

atualmente se dá da mesma forma que em tempos passados?

O objetivo central do estudo é fazer uma relação entre o conceito de escola eficaz

associado à prática do Orientador Educacional em uma Unidade Escolar e perceber

quais são as contribuições do seu trabalho em uma escola de alto prestígio, assim como,

visualizar o seu papel significativo na recuperação de valores e atitudes e

conseguintemente na formação de uma escola considerada de alto prestígio.

O referencial teórico se baseará inicialmente em buscar esclarecimentos do que é efeito

escola e o que são escolas de alto prestígio. Em seguida, será realizado um histórico da

Orientação Educacional, com a finalidade de perceber as mudanças ocorridas ao longo

dos anos na concepção de Orientação Educacional e de que forma o Orientador

Educacional está inserido hoje no contexto escolar.

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Capítulo 1

Início dos Estudos Sobre as Escolas Eficazes

Os estudos sobre a importância da escola no desenvolvimento do aluno tiveram início

na Inglaterra e nos Estados Unidos, nos anos 60, em meio a uma preocupação em

compreender de que forma as diferenças sócio-ecnômicas dos alunos, a diversidade

cultural existente entre eles e os processos intra-escolares de ensino-aprendizagem eram

responsáveis pela formação de cada estudante.

O relatório Coleman (1966) deixou nítida a idéia de que a origem social do educando

possui um peso relevante no desempenho escolar de cada discente, sinalizando dessa

forma, que a escola possui uma influência mínima, ou pouco considerável na vida

acadêmica dos alunos. De acordo com a idéia apresentada no “Relatório Coleman”, a de

que as escolas nada faziam para ajudar na transformação social dos indivíduos, ficou

evidenciada e passou-se a julgar as escolas como meras reprodutoras das diferenças

sócio-econômicas. O “Relatório Coleman”, de fato, colaborou para a discussão da

influência dos fatores extra-escolares no rendimento dos alunos, mas trouxe também

como pontos negativos, um forte pessimismo e a descrença na instituição escolar.

Como uma resposta aos dados apresentados com a divulgação do “Relatório Coleman”

muitos pesquisadores resolveram buscar a partir de estudos aprofundados, quais

elementos realmente caracterizam uma escola de qualidade, com a finalidade de

valorizar a verdadeira função da escola, ou seja, elucidar que a instituição escolar possui

uma parcela significativa na vida dos alunos, pois ela concede a cada educando a

oportunidade de aprender e aprimorar as habilidades cognitivas, assim como, ela

oferece a capacidade de uma verdadeira transformação social, oferecendo oportunidades

iguais aos alunos, mesmo que pertencentes a grupos sociais distintos.

Uma questão chave que hoje é tratada como essencial por pesquisadores na área da

Educação, diz respeito aos mecanismos e deficiências que as escolas apresentam e

influem de alguma forma no desempenho escolar dos alunos. Essa preocupação teve

como origem, uma série de pesquisas, que ganhou ênfase desde a publicação do já

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mencionado “Relatório Coleman”. Esse relatório, contou com a participação de 645 mil

de estudantes norte-americanos e apresentou conclusões negativas em relação à

influência da escola no desempenho do educando. Os dados coletados, indicavam que a

proficiência dos alunos estaria atrelada a fatores extra-curriculares, tendo a instituição

escolar pouca ou quase nenhuma influência no desenvolvimento cognitivo dos

discentes. Segundo o relatório, as vertentes, tais como, classe social e etnia tinham

valores significativos em detrimento da pequena parcela de importância da escola.

No entanto, no final da década de 70, houve por parte dos pesquisadores uma

necessidade de se questionar as idéias que estavam sendo defendidas com o “Relatório

Coleman” que afirmavam que “as escolas não fazem diferença” e decidiram abrir a

“caixa preta” da escola, ou seja, investigar o que acontece no interior das instituições

escolares. A partir desse momento, a escola passou a ser considerada de grande

importância para compreender os fatores que interferem no desempenho dos alunos.

Nos anos 50 e 60, houve por parte dos países desenvolvidos um grande interesse para a

questão do financiamento público em educação. Um número considerável de pesquisas

passou a defender que a escola pouco acrescentava na vida acadêmica do aluno, sendo

os fatores extra-escolares os principais responsáveis pelo desempenho de cada

educando. Como exemplos dessas linhas de investigação, podem ser citados, o

“Relatório Coleman” (EUA e Inglaterra), o “Projeto Talent” e o “Relatório Plowden”

(ambos realizados na Inglaterra) e o grande estudo comparativo da Organização para

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Bressoux, 1994.). As metodologias

utilizadas nessas linhas investigativas buscavam perceber a importância dos recursos

financeiros, materiais, humanos e as características de cada estudante. Cabe ressaltar,

que os processos internos, assim como, as relações interpessoais entre os sujeitos

existentes no processo educativo não eram levados em conta. Apenas os recursos, que

atualmente não são considerados fundamentais eram abordados. Por um tempo essas

idéias permaneceram vivas e tiveram como ícone de apoio as teorias formuladas pelo

sociólogo Pierre Bourdieu na França.

Segundo Bressoux (1994.), o resultado foi então o surgimento de um forte

determinismo sociológico aliado a um pessimismo pedagógico, na medida em que não

havia saída para os sócio e economicamente desfavorecidos, sendo que a escola

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funcionava apenas como um espaço de reprodução das desigualdades sociais. Apenas

no final dos anos 70 que esse tipo de pensamento foi contestado. Com uma nova visão a

respeito da importância da escola para a formação do sujeito, as pesquisas na área de

Educação passaram a contemplar a investigação dos processos que aconteciam

internamente nas escolas e as pesquisas de cunho qualitativo passaram a ganhar vigor.

Essa abordagem metodológica buscava abrir a “caixa preta da escola”, não levando

apenas em conta o modelo “entrada-saída”, mostrando que as escolas sempre

acrescentam fatores positivos para o desenvolvimento acadêmico de cada educando.

Dessa forma o modelo que antes era apenas o de “entrada-saída”, passou a ser

considerado como “entrada-processo-saída” e o lema que foi instituído, a partir do

“Relatório Coleman”, como “schools make no difference” (“as escolas não fazem

diferença”), passou a ser “schools do make difference” (“ as escolas fazem diferença”).

A nova forma de buscar entender o que realmente acontece dentro das instituições

escolares, compreendendo os fatores que determinam a eficácia dessas escolas, ou seja,

a capacidade de agregar valores ao rendimento dos educandos através de políticas e

práticas educacionais conscientes passou a ser denominada como “Escola Eficaz”

(“School Effectiveners Research Paradigm”). Os estudos acerca desta temática tiveram

como ponto de partida, a divulgação do “Relatório Coleman”, realizados nos anos

50/60. Atualmente, essas investigações ganharam um forte impulso, devido às novas

interpretações de informações coletadas anteriormente e a realização de novos estudos.

Esse crescente avanço se dá em virtude, essencialmente pela busca das famílias em

encontrar para os seus filhos, as melhores instituições de ensino e a cobrança de

resultados pelo poder público, tendo em vista, o alto custo da escola atrelada à sua

importância social.

Importante salientar, que a pesquisa educacional, só conseguiu aprimorar a qualidade

dos dados coletados, devido à utilização, pelos sociólogos da educação, de novas

ferramentas estatísticas. Essas novas metodologias permitem que se avalie o

desempenho do aluno, a partir de certo momento de escolarização, comparando com sua

situação na entrada, o efeito devido à escola e o valor agregado (“added value”).

Uma definição possível de escola eficaz, talvez a mais simples, é apresentada por

Mortimore (1991). Segundo esse autor, a escola eficaz é aquela aonde o progresso do

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aluno vai além do que seria esperado, levando em consideração as suas características

ao ingressar na escola. Assim, a escola eficaz adiciona valor (“value added”) ao

resultado escolar do aluno, comparativamente ao que ele teria em outra escola.

Para medir a eficácia da escola ou determinar o valor agregado por ela, são utilizadas

técnicas estatísticas adequadas, como a modelagem multinível para o controle das

diferenças dos grupos de entrada e das individualidades dos alunos (rapazes ou moças,

grupos étnicos, origem social, entre outros exemplos). Essas técnicas permitem obter

informações mais apuradas para determinar se uma escola é mais ou menos eficaz e, a

partir das características individuais de cada discente, o real efeito da escola.

1.1. A Eficácia Escolar

O presente trabalho procura identificar quais são os fatores que exercem influência

direta e indireta sobre o cotidiano escolar e que conseqüentemente afetam igualmente o

processo de aprendizagem dos alunos. A seguir serão apresentados alguns aspectos

considerados de extrema importância para a realização de um trabalho de qualidade.

A estrutura física de uma instituição educativa é uma dimensão importante, pois se

refere à infra- estrutura da escola (nº e tamanho das salas destinadas ao trabalho

pedagógico), e ao seu estado de conservação. No entanto, segundo estudos específicos,

esta dimensão, em geral, não interfere diretamente no clima da instituição de ensino,

mas pode atuar positivamente mediante outros fatores importantes. Uma equipe

competente não realiza um bom trabalho apenas em um local conservado e amplo. O

esforço deve ser para transformar o caos em ordem, ou seja, um local desorganizado em

uma escola organizada e limpa, onde todos os indivíduos possam se sentir bem. Uma

escola que realiza um bom trabalho fará de tudo para preservar nos alunos e nos demais

profissionais a valorização do local onde estão. Willms (1992) observa que os

elementos relacionados à infra-estrutura como idade e condições do prédio podem ter

um efeito indireto, na medida em que facilitam o ensino e contribuem para a motivação

e o senso de responsabilidade dos funcionários.

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Se a literatura internacional não dá muita importância para a relação da infra-estrutura

com o desempenho escolar, o mesmo não pode ser feito em pesquisas realizadas aqui no

Brasil. Como apontam Soares (2000) e Barbosa (2001), as diferenças no que se refere à

infra-estrutura escolar entre o sistema público de ensino brasileiro e os países

desenvolvidos são gritantes, o que faz delas um elemento importante para a

compreensão da realidade das escolas brasileiras. Ao contrário do que a literatura

internacional aponta, pode-se dizer que a infra-estrutura das escolas brasileiras tem uma

influência decisiva no rendimento dos seus alunos. Dessa maneira, torna-se necessário

que as pesquisas realizadas em qualquer universo no Brasil levem em consideração

elementos como: número de alunos nas turmas; estado de conservação do prédio e a

adequação das instalações; recursos didáticos disponíveis; existência e qualidade da

biblioteca. Esses itens são elementos essenciais dentro de uma escola e a sua não-

existência ou a sua existência de forma precária podem interferir diretamente no

desempenho escolar.

Um aspecto importante na constituição interna de uma escola é a organização

administrativa e diz respeito à forma como a escola é estruturada, podendo refletir

positivamente ou de forma negativa em todos que nela trabalham. Uma escola

organizada, com um quadro completo de profissionais e conscientes das

responsabilidades a serem cumpridas, somente facilitará o trabalho a ser desenvolvido.

A questão da gestão administrativa e pedagógica é outro elemento que aparece com

freqüência na literatura internacional (Coleman e Hoffer, 1987). Para esses autores, a

liderança profissional do diretor significaria a sua capacidade de comandar a construção

e a execução do projeto pedagógico, de organizar o funcionamento da escola e de

interagir com os vários sujeitos que se encontram na escola, construindo a legitimidade

de suas ações.

Para Levine e Lezzote (1990), no que se refere às questões administrativas, o primeiro

elemento para se determinar a competência de liderança do diretor seria a sua

capacidade de captar e administrar os recursos financeiros, garantindo um bom

funcionamento da escola. Esse item, no entanto, não aparece com frequência na

literatura internacional, fato que está ligado à infra-estrutura das escolas e situação

financeira confortável dos estabelecimentos de ensino nos países de primeiro mundo.

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De acordo com Soares (2000), o dirigente escolar pode conseguir um ambiente com

forças centrípetas, com todos unidos em prol do aprendizado dos alunos, ou centrífugas,

cada um empenhado apenas em fazer o seu trabalho, sem o interesse maior e sem troca

de informações.

Uma dimensão importante que deve ser valorizada na escola é a existência de

programas e projetos pedagógicos. Os programas e projetos realizados nas escolas

devem vislumbrar algo que fuja do que os alunos já estudam no cotidiano. Ir além do

que o conteúdo programático coloca é desafiar os alunos a procurarem descobrir novas

informações. Importante que os educandos tenham um currículo formal a ser seguido,

mas os projetos visam complementar o que muitas vezes não foi possível incluir nas

aulas, trabalhando de uma forma diferenciada e atrativa aos alunos. Os projetos

pedagógicos podem ser considerados fatores de influência significativa, pois os alunos

ao participarem ativamente de algum projeto da escola, se colocam como seres atuantes,

preocupados com a instituição em que estão inseridos e se sentem mais estimulados a

buscarem melhores resultados.

Nas escolas consideradas eficazes, o período destinado ao processo de ensino-

aprendizagem, ou seja, o tempo em que o aluno está envolvido em atividades

pedagógicas representa um grande diferencial no rendimento escolar dos estudantes.

Importante destacar que algumas escolas oferecem aos seus alunos uma educação de

tempo integral e apresentam um trabalho significativo, sendo realizadas em um turno as

aulas da grade curricular comum, enquanto no contra- turno os alunos realizam

atividades pautadas no desenvolvimento motor, artístico, cultural e que complementam

o processo educativo, tornando a educação não apenas restrita a determinadas áreas do

conhecimento. Soares (2002) aponta que:

“Os programas que apresentam melhores resultados em relação ao desempenho escolar são os que possuem uma ênfase nos aspectos cognitivos, ou seja, enfatizam processos que desenvolvem as habilidades cognitivas. Ainda segundo esse autor, essa ênfase pode ser percebida através de atividades que desenvolvem o raciocínio lógico e a capacidade crítica dos alunos, priorizando a criatividade, a auto-expressão, a participação, a aprendizagem de conceitos e o reconhecimento de ambigüidades” (p. 24).

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Um aspecto importante a ser ressaltado diz respeito à relação estabelecida entre

diretores e professores. A relação estabelecida entre docentes e diretores influencia

diretamente no trabalho pedagógico. Em uma escola que os profissionais não se sentem

à vontade e constantemente são submetidos a cobranças exageradas, há um

descontentamento dos educadores e uma relação de desconfiança, pois passam a

considerar o diretor como um adversário. Importante que a relação entre eles seja de

troca; o professor deve seguir as regras da instituição, mas deve também ter autonomia

para planejar e lecionar com liberdade. Quando esta relação é movida pelo medo, as

chances dessa instituição fracassar são grandes e com isso torna- se necessário rever as

condutas tomadas por ambos os profissionais. Dependendo da relação estabelecida, o

trabalho do professor pode melhorar e refletir no desempenho do educando.

Em uma instituição educativa é necessário que haja a participação (gestão democrática)

de todos os funcionários. Em uma escola que somente o diretor tem “voz”, o trabalho de

certa forma fica limitado. Uma instituição escolar de qualidade procura valorizar

constantemente o que cada indivíduo considera importante e estabelece uma relação de

troca de experiências, onde antes de qualquer decisão é realizado um acordo e são

estabelecidas as medidas necessárias para a realização dos objetivos pré- estabelecidos

anteriormente. Algumas escolas estão adotando os “Conselhos Escolares”, que são

responsáveis em agir pela melhoria da instituição escolar, formando um vínculo de

trabalho entre os professores, pais, alunos e funcionários, auxiliando de certa forma no

trabalho do diretor e tornando o trabalho coletivo um forte meio de se alcançar o

progresso. Para Sammons et al. (1995), sinais de confiança e colaboração entre os

membros da equipe são importantes para se constatar que há uma meta dentro da escola.

Um ambiente produtivo de trabalho não deve ser caracterizado apenas através da figura

do diretor da escola, mas também através dos professores.

Uma questão que merece destaque é a relação estabelecida entre os discentes e os

professores. O principal responsável pelo aprendizado de um aluno em uma escola é o

professor. Se a relação entre eles for de intolerância e falta de respeito, pode- se dizer

que o aluno não se interessará pelas aulas e nem o professor se esforçará para lecionar

aulas produtivas. Essa relação deve ser de comprometimento. O educando deve se

esforçar cada vez mais para absorver os conhecimentos necessários, adotando uma boa

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postura e realizando as tarefas solicitadas. O educador deve avaliar a sua postura e

tentar perceber se a metodologia utilizada está sendo coerente com o nível de

desenvolvimento da turma. Cabe lembrar que muitos educandos se espelham nos

professores e trilham caminhos inspirados em relações positivas ou negativas que

tiveram na escola.

É necessário destacar também que a relação entre a escola e a comunidade é um aspecto

de fundamental importância para o bom andamento das atividades realizadas na

instituição educativa. A participação dos pais nos acontecimentos da escola tem sido

muito baixa, principalmente nas reuniões com os professores. O desinteresse acontece

em ambos os lados. Lareau (1987), em um estudo qualitativo que se tornou clássico,

mostrou que a participação da família tem uma ligação direta com o desempenho

escolar da criança. A autora também indicou o fato de que o interesse dos pais e a forma

desse interesse são percebidos pelos professores, em especial durante as reuniões e

eventos escolares. A escola muitas vezes cria barreiras para que os pais não participem

do que acontece e os pais quando são chamados para festas, reuniões e eventos, também

não comparecem. Discutir com a comunidade os problemas locais e de que forma eles

podem ser resolvidos, ajuda a manter um vínculo de cooperação e ajuda mútua. Os pais

presentes na escola estarão mais próximos do processo educacional dos filhos e

juntamente com os professores encontrarão formas e mecanismos condizentes com o

nível e a capacidade de cada aluno. De acordo com Sammmons (1995):

“Há um consenso entre pesquisadores e educadores no que diz respeito à importância da participação dos pais e da comunidade nas atividades escolares. Várias pesquisas têm mostrado que as escolas que conseguem êxito nesta questão obtêm uma melhora significativa no desempenho dos seus alunos” (p.36).

É importante que todos os atores envolvidos no processo educacional, sejam seres

participantes e comprometidos com a proposta da escola. O trabalho realizado pela

unidade escolar depende da cooperação entre os indivíduos. Com a participação de

todos, o clima escolar será propício ao ensino, sem a existência de rivalidades ou

disputas. Uma escola de prestígio, consegue transmitir a idéia de que cada profissional

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que ali atua, tem o seu devido valor, seja ele da equipe de limpeza, da cozinha ou do

setor pedagógico. Todos devem estar unidos em prol do progresso e da missão que a

escola possui.

Uma dimensão que merece atenção especial é a expectativa dos docentes em relação aos

discentes. A confiança por parte dos professores em relação aos alunos reflete

consideravelmente no rendimento escolar dos estudantes, independente do nível sócio-

econômico de cada educando. Em um ambiente escolar em que os educadores não

acreditam no potencial dos seus alunos, o processo educacional se transforma em

pessimismo pedagógico e as experiências vividas não se tornam significativas. Com

isso, o professor não tem estímulo para realizar novas atividades, pois acredita que os

seus alunos não serão capazes de absorver o conteúdo ensinado. Conseqüentemente as

aulas não serão produtivas, dinâmicas e não proporcionarão o estímulo necessário aos

alunos.

Outro elemento que pode ser analisado como constituinte das características do clima

interno das escolas é a expectativa em relação ao desempenho futuro dos alunos. São

vários os autores que destacam a importância das expectativas dos professores em

relação à aprendizagem dos alunos para a eficácia das escolas (Creemers, 1996). Esses

autores constatam que em todas as escolas de sucesso estudadas esse elemento está

presente de forma marcante, o que parece significar que as altas expectativas dos

professores eficazmente se traduzem em ações educativas que assegurem o

cumprimento destas.

A literatura especializada mostra que a expectativa dos professores em relação ao

desempenho dos alunos pode gerar um clima agradável tanto na sala de aula, quanto nos

diversos espaços da escola, o que é propício ao incremento do ensino e da

aprendizagem. Quando os professores possuem grandes expectativas, cria-se um “ciclo

virtuoso”, em que o resultado é o efeito altamente positivo para o desempenho escolar

(Mortimore, 1996).

Um aspecto que merece destaque e que é facilmente notado nas escolas de alto

prestígio, diz respeito às regras estipuladas no interior de uma unidade escolar e que

contribuem significativamente em diversas questões. É importante que as regras sejam

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criadas com a participação de todos os integrantes de uma escola. Um ambiente que

prioriza a ordem e os bons costumes conseguirá mostrar aos seus alunos a importância

do cumprimento dos deveres e da responsabilidade em obedecer a determinadas

exigências. Reynolds (1996) aponta para a necessidade de uma escola ao mesmo tempo

relaxada, firme e organizada, para que os professores possam oferecer um clima

organizado e tranqüilo dentro da sala de aula, aqui no Brasil ainda estamos em busca de

uma escola pelo menos disciplinada.

As regras devem existir dentro de uma instituição escolar não apenas com um sentido

punitivo, mas com a intenção de se educar. A partir do momento em que todos os

alunos e funcionários estiverem de acordo com as normas e perceberem que elas foram

criadas para melhorar a convivência entre todos os indivíduos, a realidade será

diferente, não será comum a existência de escolas depredadas e tantos funcionários

insatisfeitos. Soares (2002) aponta para os seguintes aspectos:

“A falta de pessoal dentro das escolas, as carências sociais e econômicas dos alunos e de seus pais, as políticas públicas de ensino, entre outros, são todos elementos que vêm contribuindo diretamente para as dificuldades disciplinares das escolas públicas brasileiras” (p. 22).

1.2. Escolas que Fazem a Diferença

Características Freqüentemente Citadas em Estudos sobre Escolas Eficazes:

Os recursos materiais (equipamentos e tecnologias) facilitam e enriquecem o trabalho

realizado pelos professores. Diante do progresso da humanidade, não há como pensar

que a escola e os profissionais que nela atuam ficaram estagnados às mudanças. Novas

tecnologias estão presentes para ajudar o professor e diversos programas de informática

foram criados para atender os objetivos educacionais. É importante com isso, que o

profissional esteja capacitado a todas essas novas tecnologias, com intuito do progresso

ser um aliado às inúmeras dificuldades existentes e não uma barreira ao avanço

educacional.

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Um item muito importante para a realização de um trabalho de qualidade se refere aos

recursos humanos que a escola disponibiliza, ou seja, consiste no preparo (qualificação)

dos professores e demais funcionários da escola. Torna- se necessário que os

trabalhadores de uma instituição escolar, de todos os campos, estejam constantemente

em processo de qualificação. Levine (1996) e Reynolds (1996) acreditam que um

elemento importante é a oportunidade oferecida aos professores para a realização de

cursos de capacitação, treinamento e atualização. Cada dia são descobertas novas

informações, o que se vive hoje não é mais o que se tinha no passado, a necessidade de

renovação e aceitação às inúmeras transformações se tornam necessárias e, para isso, os

funcionários devem estar sempre engajados em realizar cursos, reciclagens e

capacitações, adicionando dessa forma novos saberes aos seus currículos. De acordo

com MacGilchrist (1997):

“O investimento na capacitação dos professores é determinante para uma melhora no desempenho do aluno, na medida em que a atualização do professor determina a aprendizagem do aluno. Esses cursos devem ser de capacitação pedagógica para professores recém-formados, devido à pequena experiência prática com a sala de aula, e de atualização para os professores com maior tempo de carreira, por estarem há mais tempo longe das universidades”(p.28 ).

Cabe ressaltar que o clima escolar é fundamental para se alcançar o prestígio escolar.

No que se refere às relações mantidas na escola, a presença do respeito e das boas

relações são fatores marcantes das escolas de alto prestígio. Um lugar acolhedor, onde

as pessoas se sintam bem, faz com que a vontade de estudar e de trabalhar seja mais

intensa. O clima de uma instituição escolar deve ser de harmonia, paz e de cooperação.

Diante de cada dificuldade, se todos participarem e pensarem juntos em soluções, a

equipe se sentirá mais forte e unida, motivada e certamente capaz de resolver o que for

preciso.

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Como indica Bressoux (1994), o que se percebe é que efetivamente existe um “clima

interno”, isto é, a escola não é apenas um aglomerado de professores trabalhando

isoladamente nas salas de aula.

Um ambiente de trabalho organizado é destacado por praticamente todos os autores aqui

revisados como de grande importância para um aumento do rendimento do trabalho e da

motivação de toda a equipe e, conseqüentemente, para um aumento do desempenho

escolar. Essa organização deve estar presente tanto dentro da sala de aula, como coloca

Reynolds (1996), como nas dependências da escola, como sugere Mortimore (1996).

Toda escola que apresenta um ensino de qualidade possui um diferencial pedagógico.

Uma escola de alto prestígio apresenta sempre uma equipe técnico- pedagógica

comprometida com a qualidade do ensino oferecido e os resultados conquistados se

diferenciam de forma marcante das escolas em que o trabalho de orientação não

acontece de forma expressiva. O Orientador Educacional e o Orientador Pedagógico

representam figuras importantíssimas na escola, seja na elaboração de projetos, na

aproximação da escola com a comunidade ou no apoio aos professores e alunos.

Um assunto de extrema relevância, mas que muitas vezes é ignorado diz respeito ao

tamanho das turmas. As turmas menores são consideradas propícias à realização de um

trabalho pedagógico de qualidade. Uma escola que possui as turmas cheias, o trabalho

realizado pelo professor tende a cair de qualidade, tendo em vista que a atenção dada a

cada educando não é a mesma. É difícil um profissional atender a mais de quarenta

crianças em uma sala de aula e esse é um fato comum presente em diversas escolas

públicas do Brasil.

Um aspecto que merece destaque, diz respeito ao planejamento dos conteúdos

curriculares. A necessidade de o professor planejar as aulas, estabelecer metodologias e

prever futuras dificuldades que possam realmente acontecer é de suma importância para

que as aulas sejam mais produtivas. Alguns profissionais lecionam as mesmas aulas por

diversos anos e não se atentam que o tempo passou e diversas modificações históricas e

culturais ocorreram. As aulas devem ser dinâmicas e bem elaboradas e para isso torna-

se necessário um planejamento sério e consciente. O planejamento não deve ser

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realizado apenas pelos professores, mas por todos que de certa forma se encontram

envolvidos nas atividades escolares.

A expressão missão pedagógica é utilizada para designar os objetivos e as regras

elaboradas pela equipe escolar. Os estudos de Reynolds (1996) mostraram que alunos

com altos índices de realização acadêmica normalmente advêm de escolas que possuem

uma agenda escolar e uma preocupação com o cumprimento do programa de ensino.

Cabe lembrar que o responsável pela formulação das regras e dos objetivos a serem

trilhados pela instituição escolar não é apenas o diretor, sendo uma responsabilidade de

todos os sujeitos que estão envolvidos no processo educacional. Segundo Levine

(1996), a existência de metas acadêmicas discutidas e escritas pela própria equipe é uma

característica presente nas escolas de sucesso.

Um item que merece destaque e que é marcante nas escolas de alto prestígio diz respeito

à estabilidade do corpo docente. Uma equipe que já está unida por um longo tempo

tende a ter um maior entrosamento entre os profissionais, facilitando dessa forma a

criação de projetos e a conquista de resultados positivos.

Em relação ainda à especificidade da situação das escolas brasileiras, um outro item que

deve ser observado diz respeito à questão do tempo de serviço na escola e da

estabilidade da equipe. Este construto também não é de maneira consistente abordado

pela literatura internacional, mas deve merecer destaque no quadro brasileiro. A política

de contratação de professores, através do sistema de designações, produziu uma

situação em que o quadro docente das escolas públicas é extremamente instável. Deve-

se considerar que a mudança anual de boa parte dos professores, além da demora para a

contratação das substituições, dificulta ou, até mesmo, impossibilita a formação de uma

equipe, o que afeta diretamente a eficácia escolar (Soares, 2002).

Cohen (1996), um pesquisador sobre a eficácia das escolas, sugeriu que uma boa escola

depende em primeiro lugar da qualidade de ensino no interior da sala de aula, em

segundo lugar da necessidade de uma cuidadosa coordenação e gestão dos programas e

dos currículos ao nível do estabelecimento de ensino, e em terceiro lugar, as escolas

eficazes conseguem criar um sentimento de cultura e de valores partilhados pelos alunos

e professores. De acordo com as idéias apresentadas por Cohen, é necessário que uma

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escola consiga transmitir aos seus alunos os conteúdos escolares (grade curricular

obrigatória) lecionados pelos professores em sala. Em seguida o trabalho da equipe de

Orientação Educacional e Pedagógica deve estar presente e atuante e oferecer um

suporte aos profissionais que ali atuam e por último, as boas relações devem ser

priorizadas, valorizando a união e o respeito entre os sujeitos que participam direta ou

indiretamente do processo de ensino.

Uma escola eficaz une pessoas para criar uma comunidade. Uma escola eficaz inter-

relaciona os conhecimentos que compõem o currículo, para obter coerência. Uma escola

eficaz faz adaptações da melhor maneira da estrutura física aos recursos disponíveis,

para enriquecer o clima. E uma escola eficaz conecta aprendizagem à vida, para

construir caráter (Mayer, 2000).

No que concerne ao clima escolar, Mella (2002) detectaram muitos aspectos influentes.

O respeito às opiniões do corpo docente, a existência de estruturas escolares não

autoritárias, o compromisso, o apoio individual ao aluno; compartilhamento das

responsabilidades; demonstração de afeto e tratamento pessoal, e as altas expectativas

em relação aos alunos são fatores presentes nas escolas bem sucedidas.

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Capítulo 2

Um Breve Histórico da Orientação Educacional

A Orientação Educacional passou por algumas transformações ao longo dos anos e teve

em princípio uma missão voltada para a Orientação Vocacional , em 1908, nos Estados

Unidos. Dentro dessa perspectiva, o Orientador Educacional servia como um

aconselhador, ou seja, um profissional voltado apenas para dar dicas, sem nenhuma

preocupação em desenvolver a construção de valores.

Segundo Grispun( 2002), movimentos da época teriam feito eclodir tal prática no

mundo todo, como os movimentos em prol da psicometria, da Revolução Industrial, da

Saúde Mental e das novas tendências pedagógicas.

A preocupação com a organização escolar surgiu apenas em 1912, em Detroit, nos

Estados Unidos, através de José Davis, mas com a particularidade básica de acolher

problemática vocacional e social dos alunos de sua escola (Grispun, 2002). A

Orientação Educacional teve início no Brasil em 1994, no Liceu de Artes e Ofícios,

também com a função de Orientação Vocacional.

Néreci (1976) acredita que a primeira tentativa de Orientação Educacional no Brasil

deve- se à Lourenço Filho que quando diretor do Departamento de Educação do Estado

de São Paulo criou o Serviço de Orientação Profissional e Educacional, em 1931, o qual

tinha como maior objetivo, guiar o indivíduo nas decisões importantes relacionadas ao

mercado de trabalho. Começaram a surgir também experiências isoladas nas escolas,

nos moldes americanos e europeus, sendo a pioneira Aracy Muniz Freire e Maria

Junqueira Schimit, no Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, em

1934(GRISPUN, 2002).

Apenas em 1942, com as Leis Orgânicas, do ministro de Getúlio Vargas, Gustavo

Capanema, que se abordam oficialmente referências diretas à Orientação Educacional.

Seu papel teria caráter de correção e direcionado para o atendimento aos alunos-

problema. Outra função seria a de zelar para que o descanso e o estudo dos discentes se

dessem de acordo com as instruções pedagógicas mais propícias. Também teria o papel

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de esclarecer possíveis dúvidas dos alunos e orientar seus estudos para que sozinhos

buscassem sua profissionalização. A profissão também seria regulamentada, tendo o

Orientador Educacional que fazer um curso próprio de Orientação Educacional.

(GRINSPUN, 2002).

Sem dúvida, a função principal da Orientação Educacional nesse contexto explicitado

anteriormente pela autora seria a de identificar dons, aptidões e inclinações dos

educandos, tendo com principal eixo, o ensino técnico, que servia para formar mão de

obra qualificada e especializada. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação n° 4.024 de 1961, previa- se que o ensino normal se encarregue da formação

dos Orientadores Educacionais para o primário, assim como prevê que as faculdades de

Filosofia formem esse profissional para o atendimento do Ensino Médio (IBID, 2002).

A referida lei aborda mais sobre a formação do O.E. do que o conceito da função desse

profissional. Nesta lei, a Orientação Educacional vem com a incumbência de contribuir

para a formação integral da personalidade do adolescente, para seu ajustamento pessoal

e social. Suas principais áreas de abrangência seriam as orientações escolar, psicológica,

profissional, da saúde, recreativa e familiar (GRISPUN, 2002).

Já na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº. 5692 de 1971, a Orientação Educacional

assume um papel fundamental, sendo a área da Orientação Vocacional a mais

privilegiada para atender aos objetivos de ensino da própria lei. Na década de 1980, o

orientador vai deixando as funções/denominações de atender alunos-problema, de

psicólogo e facilitador de aprendizagem e vai com o tempo ostentando com mais

autoridade técnica seu compromisso político com e na escola. A produção acadêmica na

área da Orientação vai sendo ampliada numa dimensão mais crítica e questionadora;

assim como os orientadores adotam uma função política comprometida com as causas

sociais (Grispun, 2002).

Na década de 80, os orientadores discutiram com muita veemência o que representa

profissionalmente a Orientação Educacional, assim como o papel que ela exerce

diretamente dentro e fora do ambiente escolar, porém todo esse debate ficou apenas na

teoria, pois em relação às décadas anteriores nenhuma mudança ocorreu.

É necessário perceber que a Orientação Educacional progrediu ao longo do tempo e

cabe ressaltar que cada corrente teórica formada ao longo da história da educação

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definiu a prática do Orientador Educacional de uma forma distinta (GRISPUN, 2002).

A seguir serão apontados alguns exemplos que retratam as mudanças que a concepção

de Orientação Educacional passou ao longo dos anos.

A Educação Tradicional foi e ainda é adotada em diversas escolas e tem como figura

central do processo de ensino e aprendizagem o docente. Segundo essa abordagem, o

conhecimento deve ser transmitido aos alunos através de exercícios repetitivos, cópias,

aulas expositivas e sem a participação ativa do aluno. O professor é considerado como a

fonte do saber e os conhecimentos dos discentes não são levados em consideração.

Na abordagem Tradicional há uma preocupação em vigiar os alunos e estabelecer uma

educação pautada na disciplina. É nesse sentido que a Orientação Educacional assume o

seu papel marcante, caracterizando- se por um aspecto psicológico e terapêutico,

direcionado apenas aos alunos- problema. Importante perceber que o Orientador

Educacional não realiza um trabalho em busca da melhoria de todos os educandos. Não

há uma preocupação em estabelecer laços de fraternidade e coletividade entre os alunos,

professores e funcionários. A função do Orientador Educacional é limitada, pois é

direcionada apenas para alguns alunos.

A concepção Renovada Progressista está diretamente relacionada ao movimento da

Escola Nova. Diferentemente da abordagem Tradicional, os teóricos dessa linha de

pensamento acreditam que a figura mais importante do processo de ensino e

aprendizagem deve ser o aluno. O discente deve ser livre para criar e descobrir novos

conhecimentos a partir da curiosidade.

O docente é apenas um facilitador de todo o processo e o aluno aprende através da

experiência prática. Importante destacar que não existe mais uma fixação nas questões

disciplinares e há uma valorização no interesse do aluno.

Um grande problema dessa abordagem teórica foi que muitos educadores perderam o

foco do ensino, pois deixavam de planejar as suas aulas e se baseavam apenas nas

preocupações dos alunos, deixando de abordar de forma planejada os conteúdos formais

extremamente necessários para o pleno desenvolvimento do aluno.

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De acordo com os teóricos dessa linha de pensamento, o O.E.( Orientador Educacional)

tem a função de ajudar no desenvolvimento cognitivo dos educandos. Importante

ressaltar que não há ainda uma preocupação em debater no espaço escolar os problemas

que afligem a sociedade. O Orientador Educacional ainda não busca uma forma de

integrar os diferentes sujeitos que integram a comunidade escolar.

Na educação Não- Diretiva, a principal preocupação é com a questão da afetividade. Os

conteúdos formais não são vistos como prioridade para a formação integral do ser.

Segundo os teóricos dessa abordagem teórica o discente necessita se relacionar com o

grupo e a questão dos sentimentos é considerada de suma importância. No que diz

respeito a essa linha teórica, a Orientação Educacional está associada à questão da

afetividade e cabe ao Orientador Educacional zelar pelas relações afetivas dos alunos.

A abordagem Tecnicista desenvolvida acentuadamente nos anos 70, se baseava em uma

prática pedagógica centrada em atividades mecânicas, controladas pelo professor e com

programações detalhadas. A questão central que é valorizada nessa concepção teórica é

a utilização da tecnologia. O docente passa a ser um mero especialista, ou seja, um

profissional capaz de aplicar manuais e trabalhar a partir de técnicas.

Segundo essa abordagem metodológica, o Orientador Educacional possui a

incumbência de detectar as aptidões dos discentes e encaminhá- los para um mercado de

trabalho específico. É importante observar que não há ainda uma preocupação com a

transformação da sociedade. O aluno é formado principalmente por valores individuais

sem que haja uma preocupação com a desigualdade social.

A Educação Libertária está ligada ao conceito de autogestão. A preocupação central

dessa abordagem teórica é com os princípios de coletividade dos membros da

instituição educativa. É comum a busca de discussões e melhorias da escola por meio

dos grêmios estudantis e conselhos escolares.

A Orientação Educacional diante dessa linha de pensamento funciona como um suporte

para o docente. É importante que o Orientador Educacional colabore com o trabalho do

docente e consequentemente com o melhor funcionamento da escola.

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A abordagem Libertadora teve como maior expoente no Brasil o pensador Paulo Freire.

Essa concepção filosófica se baseia principalmente em conceber a educação como uma

ferramenta capaz de atuar diretamente contra a desigualdade social. A atividade escolar

é direcionada em temas políticos e sociais. O educador coordena as atividades e há uma

troca de conhecimentos entre alunos e professores. Os saberes prévios dos alunos são

respeitados e há uma constante busca em tornar o indivíduo crítico e consciente do seu

papel na formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

Segundo os pensadores dessa linha de investigação, a Orientação Educacional deve

buscar compreender a vivência do aluno e considerá- lo como um indivíduo histórico e

que possui uma trajetória de vida. O Orientador Educacional deve buscar uma

conscientização de todos os sujeitos que estão envolvidos no processo de ensino e

aprendizagem e se esforçar para agregar no ambiente educativo os princípios de união e

de liberdade.

A Pedagogia Crítico- Social dos Conteúdos surge a partir de uma reação de alguns

educadores que estavam insatisfeitos com a forma que a Pedagogia Libertadora

trabalhava a questão dos conteúdos formais. De acordo com os pensadores da

abordagem Crítico- Social dos Conteúdos, é necessário valorizar o saber elaborado,

historicamente acumulado e que representa fundamental importância para o

desenvolvimento cognitivo do aluno. É necessário que haja uma relação com os

conteúdos que serão trabalhados pelo professor na escola com a vida dos alunos, tendo

como eixo central as questões sociais atuais.

De acordo com a Pedagogia Crítico- Social dos Conteúdos, o Orientador Educacional é

responsável pela preparação do discente para a vida posterior (adulta) e há uma busca

constante em demonstrar aos alunos como os conteúdos formais são importantes para a

vida de todos os seres e para a democratização da sociedade.

A abordagem Construtivista evidencia que o conhecimento é construído pelo próprio

sujeito e o professor é apenas a pessoa que irá proporcionar os meios adequados para

esse processo de aprendizagem.

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Segundo os autores da abordagem Construtivista, a Orientação Educacional deve

proporcionar ambientes favoráveis para a construção do conhecimento formulado pelo

próprio discente.

Por um longo tempo, a escola se dedicou exclusivamente com o ensino dos conteúdos

formais e os alunos que não assimilavam os conhecimentos transmitidos eram

considerados problemáticos. Tendo em vista essa situação, a função do O.E. era

justamente a de promover aos alunos mecanismos de superação das dificuldades.

Atualmente há uma preocupação com o coletivo da escola e todos os alunos

representam fundamental importância para o trabalho do Orientador Educacional.

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Capítulo 3

A Contribuição do Orientador Educacional na Formação de uma

Escola de Alto Prestígio

Em todas as instituições educativas, sejam elas de alto prestígio ou de baixo prestígio,

há um conjunto de atividades, rotinas e regras que são seguidas, mas cabe lembrar que

cada local apresenta a sua especificidade. Esse conjunto de normas e costumes tem a ver

com as relações que acontecem na U.E., com as metodologias utilizadas e com os

objetivos e metas estabelecidas pela a equipe da escola. É importante salientar que cada

Instituição Escolar possui uma história, uma tradição, fatores que ao longo do tempo

fizeram com que a escola construísse uma imagem positiva ou negativa.

O conhecimento das normas e dos costumes de uma escola facilita a tomada de ações

diretas e eficazes, pois com um diagnóstico já formado da U.E. fica mais fácil de atuar

nas limitações e nas dificuldades e buscar sempre aperfeiçoar os aspectos pedagógicos,

administrativos, assim como, construir boas relações entre os sujeitos da comunidade

escolar. O Orientador Educacional que deseja realizar um trabalho de qualidade deve

conhecer muito bem as crenças, os valores, as metas e a história da escola, a fim de

pautar o seu trabalho em atitudes reais, conhecidas pelos alunos, pelos professores e

pelos pais. O O.E. pode tirar lições das experiências vividas anteriormente e não deixar

que os mesmos erros aconteçam várias vezes.

A Orientação Educacional no Brasil teve como princípio norteador um enfoque mais

psicológico, priorizando o ajustamento do educando à escola, à família e à sociedade,

sem buscar uma relação direta com o conhecimento vinculado à criticidade do aluno, ou

seja, a sua formação enquanto indivíduo.

Atualmente, a Orientação Educacional evidencia a importância de um enfoque

pedagógico, buscando oferecer ao educando oportunidades de pensar coletivamente em

ações conscientes e representativas, não apenas voltadas para o crescimento individual

do ser, mas que possibilitem a transformação da sociedade.

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O papel da Orientação Educacional na escola é essencialmente, o de mediação, ou, seja,

de oferecer uma conectividade entre os objetivos desejados e como fazer para se

tornarem reais; entre as diversas manifestações culturais e os indivíduos; entre a

sociedade de uma forma geral e os conhecimentos escolares e extra- escolares.

É importante salientar que a escola está inserida em um contexto social e as relações

entre os indivíduos e o meio se dão de forma diferenciada de como era no passado. Em

meio a um avanço importantíssimo na área tecnológica, inclusive na área educacional

com a criação de novos recursos didáticos, tais como, softwares educativos, DVD’ s

interativos e livros cada vez mais atrativos, algumas barreiras ainda atrapalham o

desenvolvimento dos alunos e de algumas instituições escolares. Se há por um lado o

avanço da ciência, o crescimento do acesso ao mundo virtual, a facilidade com que as

informações são produzidas e facilmente disseminadas, em contrapartida é comum a

falta do diálogo entre pais e filhos, o distanciamento entre alunos e professores, a

desarmonia entre indivíduos pertencentes às classes sociais distintas, as condições

precárias das estruturas físicas de algumas escolas da rede pública brasileira, a falta de

transporte escolar especialmente para os alunos das escolas rurais, além da pouca

valorização dos profissionais do magistério.

Um dos aspectos mais marcantes na sociedade atual, principalmente nas capitais

metropolitanas, diz respeito à sensação de medo causada pela violência que afeta o

Brasil. Sem dúvidas, buscar um culpado para a realidade existente não é a melhor

solução. É importante pensar perceber que a educação sozinha não modifica o mundo,

mas é um caminho para que ocorram mudanças na atual conjuntura social, política e

afetiva. O debate a respeito dos valores morais, da ética e do respeito, precisa estar em

pauta em qualquer realidade escolar. Não há mais como imaginar a não- coletividade e

o crescimento de apenas um setor da sociedade. A democracia deve estar presente,

assim como, desde os primeiros anos de escolaridade, os discentes devem compreender

o papel importante que cada indivíduo pode desempenhar na formação de uma

sociedade mais justa e humana e menos violenta.

É nesse sentido que a Orientação Educacional tem um valor crucial, o de participar da

formação de um sujeito crítico, participativo e comprometido com a cidadania. A

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Orientação Educacional se re- configurou e não se refere apenas a encontrar soluções

para os alunos com problemas. Há agora uma ligação entre os aspectos sociais,

filosóficos e antropológicos que direcionam uma nova postura para o Orientador

Educacional. No contexto atual, há a necessidade de se pensar em uma conjuntura

ampla, globalizada e altamente complexa, priorizando sempre a autonomia, o respeito, o

multiculturalismo, as diversidades, o sentimento fraterno e o crescimento individual em

sintonia com o desenvolvimento coletivo.

O trabalho de Orientação Educacional não deve ter um caráter punitivo. O essencial é

desvendar as causas de um problema ou de um fracasso. Resolver problemas

indisciplinares dos alunos com suspensões é uma atitude viciosa e que não resolve de

fato a questão. É necessário se investigar os reais motivos de uma dificuldade e realizar

uma interferência inteligente com o apoio da família e com a existência do diálogo. Ao

pautar seu trabalho nas ações citadas anteriormente o Orientador Educacional estará

contribuindo para a formação de uma escola de alto prestígio.

Segundo Grispun (2002) a Orientação faz um trabalho de interdisciplinariedade entre

fatos/ soluções, ações/ razões e emoções que levem o indivíduo a agir de determinada

maneira, mesmo a própria Instituição a agir de determinada forma. Com a citação

exemplificada anteriormente, pode- se notar que o papel do Orientador Educacional é de

fundamental importância para a formação de escolas eficazes, ou seja, ambientes

escolares que toda a equipe se esforça para conseguir descobrir as causas dos problemas

dos alunos e conseguir agir de forma positiva visando uma educação de qualidade

favorável a toda comunidade escolar.

A escola deve se esforçar, para oferecer aos seus alunos, mesmo que pertencentes à

classes sociais distintas, as mesmas oportunidades, o acesso à cultura e uma educação

de qualidade. A formação do indivíduo depende em grande parte, das experiências

vividas por ele e das relações sociais permeadas em sua vida. A escola, a família e os

amigos são responsáveis em proporcionar esses momentos de aprendizado e troca de

saberes fundamentais para o desenvolvimento sócio-afetivo do educando.

É importante destacar que uma educação de qualidade consegue integrar o saber, a

ciência, a cultura e a técnica aos conhecimentos válidos para a vida do ser humano. A

educação integral representa bem essa idéia, a de associar os conteúdos escolares

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importantes para a formação profissional aos aspectos lúdicos, artísticos, musicais

extremamente importantes para o desenvolvimento do aluno enquanto indivíduo.

O Orientador valoriza a dinâmica das relações e nesse sentido estão presentes conflitos,

tensões, divergências; estão presentes as diferenças, as igualdades, os limites e as

possibilidades. Podemos então resumir este trabalho do orientador nesta perspectiva de

mediador, dinamizador, com ações voltadas para a escola como Instituição, com ações

voltadas para o projeto pedagógico desta Instituição, e com ações, e em especial para o

aluno- principal protagonista do processo de ensino- aprendizagem. (Grispun, 2002).

Pode-se entender com as palavras escritas anteriormente, que o O.E. atua como

dinamizador das relações existentes em uma unidade escolar e é um fato marcante nas

escolas de alto prestígio a presença de um clima agradável e acolhedor. Em meio a uma

sociedade marcada por realidades contrastantes, seja nos aspectos sociais ou culturais, o

O.E. possui um papel decisivo, pois poderá desenvolver um trabalho voltado para o

estímulo à aquisição de novos saberes , à aproximação entre a escola e a família, e à

valorização de princípios básicos para a vida em sociedade, como por exemplo,

desenvolver no contexto escolar atitudes de respeito, cidadania e ética.

Um projeto elaborado pelo O.E. de uma escola que vise o crescimento do aluno

enquanto cidadão, deve priorizar a formação investigativa, reflexiva e crítica do

educando, a fim de que, os conteúdos assimilados se tornem úteis para a sua vida social.

Segundo Placco (1994) O Orientador Educacional, um dos educadores da escola deverá

participar de uma ação educacional coletiva, assessorando o corpo docente no

desencadeamento de um processo em que a sincronicidade é desvelada, tornando- se

consciente, autônoma e direcionada para um compromisso com uma ação pedagógica

competente e significativa para os objetivos propostos no projeto pedagógico da escola.

Entende- se com o pensamento citado no parágrafo anterior, que o Orientador

Educacional trabalha em busca da participação de todos os sujeitos da comunidade

escolar, buscando compreender como se dão as relações de poder, a origem dos

problemas e quais mecanismos serão utilizados para que as metas estabelecidas

consigam ser alcançadas. É importante salientar que o Orientador Educacional trabalha

em conjunto e em harmonia com o Orientador Pedagógico, com o a Supervisor Escolar,

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com os docentes, com os funcionários, com os pais e principalmente com os alunos. Ao

buscar a coletividade de todos os atores presentes no processo de ensino e

aprendizagem, o Orientador Educacional estará contribuindo para aumentar o nível de

satisfação e mutualidade entre os sujeitos e as conseqüências com certeza serão

positivas para formação do prestígio escolar.

O Orientador Educacional, hoje, assume uma postura mais voltada para os aspectos

pedagógicos e não apenas centrado em um enfoque psicológico, como acontecia

antigamente. Para que o O.E. esteja sempre atualizado às novas questões da atualidade e

consiga realizar um trabalho eficaz, é necessário, que ele realize constantemente cursos

de reciclagem, formações continuadas e busque conciliar a teoria à prática. De acordo

com Sacristán (1997) a escola pode muito bem ensinar a decodificar as situações

complexas, a produzir cidadãos mais responsáveis, capazes de reivindicar igualdade e

solidariedade. A escola pode tornar- se um instrumento de conscientização cidadã.

A Orientação Educacional deve evidenciar na escola, alguns conceitos importantes para

a vida em sociedade, como por exemplo, a solidariedade, a parceria e a coletividade, a

fim de que os educandos possam se sentir responsáveis pela transformação social, pela

defesa do meio ambiente e pela luta por oportunidades iguais para todos os indivíduos.

Importante destacar também que o Orientador Educacional deve procurar trocar

experiências, informações e metodologias com os demais sujeitos da comunidade

escolar, a fim de tornar o seu trabalho mais refinado e de qualidade.

O Orientador Educacional é um pesquisador da realidade e deve se esforçar para que os

seus projetos estejam de acordo com a proposta do projeto político- pedagógico e com a

realidade da escola. Ao agir tendo como base uma visão real, mas sem deixar de desejar

o melhor para a escola, no sentido de confiar na capacidade dos professores, pais,

alunos e funcionários, o Orientador Educacional estará depositando esperança e desejo

de conquistar um ensino de qualidade e por mais que algumas vezes possa se parecer

utopia, o desejo de mudança e a busca pela felicidade plena são fatores importantes para

se iniciar a construção de um ambiente escolar eficaz e que contribuirá para a

transformação social.

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De acordo com as idéias de GRISPUN (2002), atualmente o Orientador Educacional

possui um papel mediador junto aos demais educadores da escola, buscando assim, o

resgate de uma educação de qualidade nas Unidades Escolares. Cabe lembrar que a

idéia de coletividade hoje está muito presente e o trabalho do Orientador Educacional

terá resultados melhores se estiver acompanhado de um corpo docente qualificado, de

uma gestão competente, de uma Orientação Pedagógica eficaz, de uma Supervisão

Escolar comprometida e conhecedora dos respaldos legais da Lei que ampara à

educação no Brasil e de uma organização administrativa propícia à realização de um

bom trabalho.

Essas novas concepções começam a surgir no início da década de 1990, quando

diversos fatos permitem tal processo, passando a educação e a orientação a andarem

juntas, sendo os orientadores, os coadjuvantes na prática docente (Grispun, 2002, p. 27).

O Orientador Educacional do presente tem uma grande importância no contexto escolar

e segundo a Lei 9394/ 96 não existe a obrigatoriedade da Orientação, mas por efetiva

coerência profissional, o orientador tem espaço propício junto aos demais protagonistas

da escola para a realização de um trabalho pedagógico integrado, compreendendo

criticamente as relações que se estabelecem no processo educacional (GRISPUN, 2002,

P. 28).

Para a melhoria do aprendizado dos discentes, é necessário que haja uma

interdisciplinaridade, ou seja, uma disciplina auxiliando e complementado a outra e os

conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada e sem a tradicional segmentação

curricular. O diálogo entre os educadores também é de extrema importância para que

uma escola desenvolva um ensino de qualidade. As idéias dos educadores precisam ter

uma continuidade e demonstrar que o conhecimento é formado pelo acúmulo de

experiências e pelas informações obtidas nos diversos campos do saber.

“O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto pedagógico. Isso significa ajudar nosso aluno por inteiro: com utopias, desejos e paixões. (...) a Orientação trabalha na escola em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação para atender aos excluídos (...), mas para entendê-lo,

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através das relações que ocorrem (...) na instituição Escola.” (GRINSPUN, 2002, p. 29)

É comum em muitas escolas públicas brasileiras, a existência de alunos que convivem

com problemas familiares, que trabalham desde cedo para ajudar nas despesas do lar,

que se alimentam precariamente e não desfrutam de oportunidades dignas de saúde e

lazer. Tendo em vista essas questões, é necessário que o Orientador Educacional

priorize o acompanhamento desses alunos, procure o apoio dos seus familiares e

interfira significativamente no desenvolvimento desses educandos.

O fracasso escolar é uma questão que merece uma atenção especial, pois as dificuldades

encontradas pelos discentes podem ser causadas por diversos motivos. É importante que

o O.E. realize um diagnóstico na escola para descobrir quais alunos apresentam

dificuldades de socialização e de aprendizagem, porém cabe ressaltar que os projetos e

as atividades propostas pelo Orientador Educacional são destinados a todo corpo

discente.

Uma questão de extrema importância que também pode ser tratada pelo O.E. de uma

escola é a de trabalhar a importância da afetividade, da coletividade e da troca de

conhecimentos. É preciso que os alunos compreendam que os saberes não são

transmitidos apenas pelos educadores. Um educando aprende com o outro, e por isso, os

vínculos de respeito e de amizade precisam estar presentes em uma Unidade Escolar.

De acordo com Vygotsky (1987), todas as funções psíquicas superiores aparecem duas

vezes no decurso do desenvolvimento da criança: a primeira vez nas atividades

coletivas, nas atividades sociais, ou seja, como funções interpsíquicas; a segunda, nas

atividades individuais, como propriedades internas do pensamento da criança, ou seja,

como funções intrapsíquicas.

O Orientador Educacional é fundamental para o desenvolvimento da escola como um

todo, pois ele possui relação direta com os diferentes segmentos da comunidade escolar.

A seguir serão exemplificadas as diferentes formas de articulação que o Orientador

Educacional realiza:

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Relação do O.E. com o alunos: O Orientador Educacional pode buscar o avanço

intelectual e afetivo dos alunos, oferecendo- lhes uma visão de coletividade e de

desenvolvimento da sociedade.

Relação do O.E. com os professores: É necessário que o professor tenha uma figura de

apoio não só para trabalhar com os alunos que apresentam dificuldades, mas que haja

uma colaboração na formação de projetos educativos para todos os discentes.

Relação do O.E. com a direção: O Orientador Educacional deve estar presente na

decisões tomadas pela direção da escola tornando dessa forma o trabalho mais integrado

e propício a dar bons resultados.

Relação do O.E. com os pais: A aproximação dos pais com a escola é essencial para o

desenvolvimento de cada aluno e da Instituição Escolar. É muito importante que o

Orientador Educacional não fique apenas criticando o educando, é necessário que ele

ofereça soluções e possibilidades de progresso e motive os pais a participarem

ativamente da vida escolar de sues filhos. O O.E. deve buscar esse contato com os

responsáveis e isso acarretará em conseqüências positivas para o desenvolvimento do

aluno e da escola.

O Orientador Educacional deve se esforçar para ter uma relação transparente e amigável

com todos os sujeitos da escola, a fim de que todos possam perceber nele o esforço pela

luta das questões democráticas, em defesa das minorias desfavorecidas e o

comprometimento com o futuro dos alunos independente de classe social, gênero ou

raça. Ao pautar o seu trabalho nas atitudes citadas anteriormente, há uma grande

probabilidade de se formar uma escola de alto prestígio e uma sociedade mais humana e

solidária.

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Conclusões

O presente estudo buscou investigar quais são os fatores que caracterizam uma boa

escola, quais mecanismos são realizados pelas instituições escolares para fazer com que

as oportunidades possam ser as mesmas para todos os alunos e de que forma o

Orientador Educacional possui um papel decisivo na formação de uma escola de

qualidade.

Pode- se concluir com a pesquisa bibliográfica acerca do tema que é possível realizar

um trabalho de qualidade no setor público e em qualquer outra realidade, desde que os

sujeitos do processo educacional estejam comprometidos e envolvidos com o trabalho.

E nesse sentido, o estudou apontou para a necessidade de um articulador entre os

diferentes sujeitos da comunidade escolar, que é o Orientador Educacional. Esse

profissional participa do processo de formação de uma escola de alto prestígio, na

medida em que ele resgata nos indivíduos, valores e práticas que muitas vezes são

esquecidos pela sociedade. O trabalho do Orientador Educacional em um contexto

escolar deve priorizar o diálogo, a valorização das pessoas, o ato político do ensino, e a

criticidade do educando.

A comunidade escolar como um todo deve estar presente no processo de ensino,

procurando sempre melhorias e exigindo um serviço de qualidade, que é um direito de

todo o cidadão. A educação precisa assumir o seu papel transformador, de eliminar as

enormes diferenças educacionais, socioeconômicas e culturais, concedendo a

oportunidade do indivíduo não apenas ser preparado para o mercado de trabalho, mas

que ele possa ser crítico e buscar sempre as melhores opções que lhe ofereçam uma

qualidade de vida. O Orientador Educacional favorece o desenvolvimento de uma

escola, pois ele tem a possibilidade de realizar uma mediação entre educadores,

familiares e alunos e tornar essa relação respeitosa, recíproca e de colaboração.

É comum, um indivíduo pertencente a uma classe social desfavorecida sofrer

preconceito e ser julgado como fracassado apenas por possuir um baixo poder

aquisitivo, no entanto, o estudo apresentou idéias, que apesar das diferenças sociais,

culturais e educacionais existentes, algumas escolas estão conseguindo minimizar essas

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disparidades entre os indivíduos, realizando um trabalho de forma eficaz com a parceria

da família e alcançando resultados positivos. As escolas que recebem um grande

número de alunos socioeconomicamente desfavorecidos e com famílias que apresentam

baixos índices de escolaridade não estão condicionadas ao fracasso e não são

necessariamente de baixo prestígio. Assim como qualquer outra instituição escolar, elas

apresentam condições de desenvolver um ensino de excelência, desde que, as regras e

os objetivos sejam traçados, compreendidos e cumpridos com responsabilidade e

competência por todos os integrantes da comunidade escolar. Dessa forma o papel do

Orientador Educacional é fundamental, pois ele poderá elaborar um projeto, com vistas

à valorização de todos os indivíduos da escola sem distinção de gênero, raça ou classe

social.

O processo de avaliação é fundamental para se observar os aspectos que estão trazendo

resultados positivos para todo o sistema de ensino, assim como, para cada unidade

escolar. Diante de uma sociedade marcada por inúmeras diferenças sociais e culturais, é

necessário que o processo de avaliação seja realizado constantemente e que consiga

detectar os avanços e as dificuldades encontradas pelas escolas, de alto e de baixo

prestígio, para realização de um bom trabalho. Uma escola precisa assumir uma postura

crítica, perceber se está oferecendo o melhor para os alunos, pais e funcionários e

verificar se as metas estão condizentes com a realidade local. A avaliação não deve

possuir um aspecto punitivo, como era compreendida no passado, ela precisa ter como

foco o desenvolvimento do aluno e da escola, assim como, o trabalho do Orientador

Educacional, deve estar pautado na construção de sentimentos e valores e focar a idéia

de que o processo educacional não é apenas uma forma de transmissão de conteúdos. O

discente pode e deve vivenciar atitudes de cidadania e ética com a finalidade de se

perceber como ser social e buscar na escola todo o suporte necessário para a sua

ascensão enquanto cidadão.

A escola pública deve estar pautada nos ideais democráticos e oferecer a oportunidade

do aluno progredir independente do seu nível social. De acordo com o estudo realizado,

uma escola eficaz é aquela que consegue minimizar as diferenças sociais e culturais

entre os indivíduos, proporcionando o conhecimento e a aquisição dos valores morais e

éticos para a melhoria de toda a sociedade.

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As diferenças culturais trazidas pelos alunos para a escola são marcantes e caracterizam

um grande distanciamento entre a cultura popular e a erudita, ou seja, os criadores e

quem as utiliza. Cabe à escola, tentar eliminar as diferenças culturais e sociais e

proporcionar as mesmas oportunidades de aprendizado para todos os discentes, agindo

sem preconceito e acreditando no potencial dos alunos. O Orientador Educacional deve

elaborar projetos que visem aos educandos à aquisição de valores culturais, discutindo

diferentes visões de mundo a partir de uma ótica multicultural e de respeito às

diferenças.

É importante destacar, que o estudo sobre as escolas eficazes aponta que não existe um

modelo pronto a ser cumprido, pois cada realidade apresenta as suas peculiaridades, mas

algumas questões são fundamentais para o bom funcionamento de uma instituição

escolar, como por exemplo: um clima agradável na escola, uma boa relação entre todos

os sujeitos pertencentes à comunidade escolar, a formação dos professores e de todos os

membros da equipe técnico- pedagógica, o tempo destinado ao processo de ensino-

aprendizagem, a realização de projetos, o cumprimento de objetivos pré- estabelecidos,

a capacidade do Orientador Educacional de promover uma re-significação das atitudes e

dos hábitos, priorizando o aspecto cognitivo em harmonia com os valores importantes

para a vida em sociedade. Se uma escola conseguir agrupar esses fatores de forma

consciente e comprometida haverá uma maior probabilidade do trabalho ser realizado

com qualidade.

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