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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
VANUSA MENEGAZZI BRAGA
O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS: A EXECUÇÃO DO PLANO DE MANEJO
E O PAPEL DA MÍDIA
CAMPO GRANDE-MS 2004
UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
VANUSA MENEGAZZI BRAGA
O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS: A EXECUÇÃO DO PLANO DE MANEJO
E O PAPEL DA MÍDIA
Dissertação apresentada como exigência para obtenção do grau de mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional à banca examinadora da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP).
Comitê de orientação:
Prof. Dr. Eron Brum (Orientador) Profa. Dra. Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas Prof. Dr. Ademir Kleber. Morbeck de Oliveira
CAMPO GRANDE-MS 2004
FOLHA DE APROVAÇÃO
Candidata: Vanusa Menegazzi Braga Dissertação defendida e aprovada em 24/09/2004 pela Banca Examinadora: __________________________________________________________ Prof. Doutor Eron Brum (orientador) __________________________________________________________ Prof. Doutor Antônio Carlos de Jesus (UNESP/Bauru) __________________________________________________________ Profa. Doutora Mercedes Abid Mercante (UNIDERP)
_________________________________________________ Profa. Doutora Mercedes Abid Mercante
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
________________________________________________ Profa. Doutora Lúcia Salsa Corrêa
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIDERP
ii
DEDICATÓRIA
No período em que dividi meu tempo de trabalho e lazer com os horários
de estudo, pesquisa e viagens, para desenvolver esta dissertação (Agosto de
2002 a Setembro de 2004), questionei-me por várias vezes qual o sentido maior
do acúmulo de cultura e conhecimento em detrimento à vida pessoal. Confesso
ao contrário da maioria que conheço, o mais importante na minha concepção
sempre foi e sempre será o que produzimos efetivamente de bom nessa terra.
Refiro-me não a uma produção literária, um grande feito, um cargo, ou a uma
quantia estupenda de dinheiro que podemos ganhar quando deixamos que os
outros consumam todo nosso tempo sem questionar o que vale mesmo a pena.
Transformar a própria vida e não o mundo, sempre foi minha maior meta.
Hoje ao final desta jornada dispendiosa, maçante e sem a menor perspectiva do
que fazer com mais um título, já que sou graduada em Jornalismo e Direito, não
me sinto colaboradora para um mundo melhor e sim uma “catadora” de
informações do quão errado os homens conduzem suas vidas e se relacionam
com o meio de onde retiram o ar, a água, a luz e o próprio sustento mesmo que
de maneira indireta.
Independente de quaisquer resultados minha maior vitória hoje e minha
grande dedicatória deste trabalho está totalmente voltada aos meus quatro filhos
que carrego ainda em meu ventre, de uma só vez. Eles com certeza representam
a maior graduação ou pós que eu possa ter realizado ao longo desses trinta e
seis anos de existência, já que por tantas vezes foram adiados pelo exercício de
minhas inúmeras ocupações ao longo deste período. Espero aqui estar
definitivamente encerrando uma etapa de minha vida e iniciando outra que me
trará muito mais aprendizado pessoal e espiritual.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela força, persistência e coragem para concluir esse
trabalho.
Agradeço também a ajuda das seguintes pessoas:
À minha mãe Mirce Menegazzi;
Aos professores orientadores Doutores Eron Brum, Ademir Kleber Morbeck
de Oliveira, Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas, que incansavelmente revisaram
este trabalho;
Ao professor-Doutor Gilberto Luís Alves pelo incentivo para a continuidade
dos estudos nos momentos difíceis;
À colega de Mestrado Carmem Verônica Fanaia Miquilino pelo auxílio
incondicional e sugestões prontamente acatadas neste trabalho;
À amiga e jornalista Daniella Arruda;
Aos meus ex-alunos do Curso de Jornalismo da UNIDERP, Thiago Fraga
por colaborar na edição do vídeo produzido no Parque das Várzeas do Ivinhema e
na transcrição de alguns materiais enviados pela CESP e Flávia Franco também
colaboradora indispensável na elaboração do trabalho em Power Point,
formatação e principalmente o apoio nos momentos em que ficar sentada ao
computador já não era mais possível por causa da posição incômoda na gravidez
quadrigemelar, demonstração de grande amizade;
Ao Gerente de Conservação de Biodiversidade do IMAP/SEMA/MS Harald
Fernando Vicente de Brito pela pronta liberação das visitas ao Parque;
iv
Ao Gestor Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato
Grosso do Sul (SEMA) e turismólogo Leonardo Tostes Palma, que desde o início
do trabalho de pesquisa colocou-se à disposição e cumpriu ao longo destes dois
anos com amizade, lisura e dedicação, a tarefa de repassar a esta pesquisadora
os materiais necessários para a elaboração e conclusão da dissertação. Nos
momentos difíceis trouxe em mãos à minha residência relatórios atualizados que
garantiram a entrega do trabalho em tempo hábil;
Por fim agradeço ao amigo e ex-colega de trabalho, o repórter
cinematográfico da TV Morena Eduardo Almeida, a disponibilidade para captação
de imagens no Parque durante os finais de semana e feriados em que estava de
folga, garantindo a produção de muitas horas de imagens exuberantes que
ressaltam a beleza e os problemas ambientais existentes no local.
v
“Não é na história aprendida, é na
história vivida que se apóia a memória”
(MONTENEGRO, A. T. 2001)
vi
LISTA DE FIGURAS
Foto 1- Família de capivaras no rio Ivinhema, área do Parque................26
Foto 2 - Casas para abrigar pesquisadores na sede do Parque...............26
Foto 3 - Ponto de partida dos barcos na sede do Parque.........................27
Foto 4 - Pesqueiro localizado em área já desocupada..............................32
Mapa 1 - Localização do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema-
MS................................................................................................33
Foto 5 - Visão panorâmica do rio Ivinhema...............................................33
Foto 6 - Vegetação aquática......................................................................34
Foto 7 - Vegetação aquática, Erva-de-Bicho e Aguapé florido..................34
Foto 8 - Desbarrancamento do rio Ivinhema devido à falta de mata
ciliar..............................................................................................35
Foto 9 - Capivara morta por caçadores com tiro no olho...........................36
Foto 10 - Ancoradouro de barcos em frente ao pesqueiro às margens do
rio Ivinhema, Mato Grosso do Sul................................................39
Mapa 2 - Croqui da carta de padrões de uso do solo da área de estudo do
Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema............................43
Mapa 3 - Limite do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema e
drenagens principais....................................................................45
Mapa 4 - Detalhamento da área de influência da Unidade de Conservação
no contexto regional.....................................................................49
Foto 11 - Mobilização dos bombeiros para início de combate a incêndio...56
vii
Foto 12 - Mobilização para construção de aceiros......................................57
viii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Estados onde existe o ICMS Ecológico e recomendações para
avanço de seus procedimentos ou legislações............................11
Quadro 2 - Listagem dos impactos evidentes (checklist) na Unidade de
Conservação.................................................................................31
ix
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.........................................................................................vi
LISTA DE QUADROS.......................................................................................viii
RESUMO...........................................................................................................xi
ABSTRACT.......................................................................................................xiii
1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................01
1.1 OBJETIVOS............................................................................................04
1.1.1 Objetivos gerais...........................................................................;..........04
1.1.2 Objetivos específicos..............................................................................04
2 – BASES TEÓRICAS.....................................................................................05
2.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E A MÍDIA...............................................05
2.1.1 Interdisciplinaridade e desenvolvimento sustentável..............................12
2.1.2 O papel ideal dos meios de comunicação na proteção
ambiental...........................................................................................................14
2.1.3 A comunicação transmitida pelos telejornais
nacionais................................................................................................17
2.1.4 A influência da comunicação na sociedade
contemporânea.......................................................................................18
2.1.5 A informação e a interdisciplinaridade....................................................20
3 – MATERIAL E MÉTODOS............................................................................22
4 - O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA- MS.......................................................................................25
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO..........................................................30
4.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS......................................................................46
4.3 O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA- MS
COMO UNIDADE DE PRESERVAÇÃO..................................................47
4.4. QUEIMADAS..............................................................................................55
x
5 - PLANO DE MANEJO E PROPOSTAS PARA MELHORIA NO PARQUE...........................................................................................................59
6. RESULTADOS..............................................................................................67
7- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................75
ANEXOS............................................................................................................79
ANEXO I - Questionário apresentado aos moradores e visitantes do Parque
Estadual das várzeas do rio Ivinhema..............................................................80
ANEXO II - Roteiro de entrevista com pescadores, o único morador e o único
guarda do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-
MS.....................................................................................................................82
ANEXO III - Formulário para licença de pesquisa científica.............................83
ANEXO IV -. Decreto Lei nº 9.278 de 17 de dezembro de 1998 Cria o Parque
Estadual das Várzeas do rio Ivinhema..............................................................90
ANEXO V - Decreto de 17 de dezembro de 1998 Declara de utilidade pública
para fins de desapropriação as áreas do PEVRI..............................................92
ANEXO VI - Decreto de 04 de outubro de 1999 Republicado por
incorreção..........................................................................................................95
xi
RESUMO
O Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, localizado na região
sudoeste de Mato Grosso do Sul, com uma área de 73.315,15 ha, abrange os
municípios de Ivinhema, Naviraí, Jateí e Taquarussu e limita-se no Estado do
Paraná. Localizado a 410 quilômetros da capital do Estado, Campo Grande, a
sede implantada dentro dos limites do município de Jateí, tem como vizinho mais
próximo a cidade de Ivinhema. O nome Ivinhema, de origem indígena, representa
uma característica geográfica local: “Rio de Duas Foz”. Um espaço territorial
delimitado, com características naturais relevantes, e legalmente instituído pelo
poder público para proteção da natureza, criado em 17 de dezembro de 1998 pelo
Decreto-lei nº. 9.278. O Parque representa hoje a última área de ecossistema de
planície aluvial da Bacia do Rio Paraná livre de represamento. Foi criado como
ação compensatória ambiental da CESP (Companhia Energética de São Paulo)
devido à construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (antiga Porto
Primavera). Na área de estudo, de forma geral, as atividades econômicas
desenvolvidas na região em que hoje se configura o Parque foram responsáveis
pela descaracterização e fragmentação da cobertura vegetal. As lagoas têm
grande importância para sobrevivência da fauna local, dentre as espécies da
ictiofauna encontradas nas águas represadas que formam as lagoas, pode-se
citar: o pacu, jurupoca, corimba, cascudo e o pintado; constantemente ameaçados
pela pesca predatória, que ainda acontece por falta de fiscalização. Outro sério
problema concentrado nas margens dos rios Paraná e Ivinhema, ao redor do
Parque, é a concentração de lixo, deixado pelos pescadores clandestinos.
Também se verifica a inexistência de projetos de educação ambiental ou de
quaisquer outras atividades que auxiliem na criação de mecanismos para
subsidiar e orientar os que moram e freqüentam a região compreendida pelo
Parque. De acordo com as reuniões realizadas no primeiro semestre de 2004
xii
entre a SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), o IMAP (Instituto de Meio
Ambiente Pantanal), Comunidade Científica e Órgãos Governamentais, foram
lançadas as primeiras propostas de manejo e zoneamento para o Parque,
incluindo a recuperação da mata ciliar e um trabalho de educação ambiental,
visando reduzir os problemas a médio e longo prazo. De acordo com pesquisa
realizada por peritos da SEMA e Corpo de Bombeiros, nos últimos dois anos
ocorreram na região do Parque cinco incêndios de grandes proporções. A maioria
das vezes, causados pela ação antrópica de desmatamento, queimadas
irregulares e extração de ginseng, motivos que têm servido como objeto de
estudo e preocupação para as autoridades e ambientalistas. O mesmo não se
observa em relação à divulgação do Parque pela mídia, que na maioria das vezes
tem se pautado pela catástrofe, àquilo que já aconteceu, e não pode mais ser
remediado, quando o papel social a ser cumprido deveria ser antecipar-se aos
acontecimentos, contribuindo como agente formador de opinião da sociedade. A
mudança de enfoque dos meios de comunicação, juntamente com a elaboração e
aplicação efetiva do Plano de Manejo desta Unidade de Conservação, constituem
hoje o maior desafio a ser vencido por todos (cidadãos, órgãos governamentais e
não governamentais) para que as gerações futuras tenham o direito de conhecer
o patrimônio natural reservado pelo Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema.
Palavras-chave: Comunicação e Mobilização; Parque; Meio Ambiente -
Desenvolvimento Sustentável.
xiii
ABSTRACT
The State Park of Fertile valleys of the River Ivinhema located in the southwestern
region of Mato Grosso of the South, with an area of 73.315,15 ha, encloses the
cities of Ivinhema, Naviraí, Jateí and Taquarussú and finishes in the State it
Paraná. Located it has 410 kilometers of the capital of the State, Campo Grande,
the implanted headquarters inside of the limits of the city of Jateí, has as
neighboring next the city to Ivinhema. The Ivinhema name, of aboriginal origin,
represents a local geographic characteristic: "River of Two Estuary". A delimited
territorial space, with excellent natural characteristics, and legally instituted for the
public power for protection of the nature, created in 17th of December 1998 for the
Decree Law n. 9.278. The Park today represents the last ecosystem area fertile
valley of the Basin of the River free Paraná of damming. It was created as ambient
compensatory action of the Energy Company of São Paulo (CESP) due to
construction of the Hidrelétrica Engenheiro Sergio Motta (old Port Spring). In the
study area, of general form, the developed economic activities in the region where
today it is configured the Park had been responsible for the uncharacterization and
spalling of the vegetal covering. The lagoons have great importance for survival of
the local fauna, amongst the found species of ictiofauna in the dammed waters
that form the lagoons, can be cited: pacú, jurupoca, corimba, cascudo and the
painted one; constantly threatened for it fishes predatory, that still more effective
happens due to a fiscalization. Another serious problem concentrated in the abrupt
declivities of the rivers Paraná and Ivinhema around of the Park is the garbage
concentration left for the clandestine fishing. Also it is verified inexistence of
projects of ambient education or any other activities that assist in the mechanism
creation to subsidize and to guide the ones that they live and they frequent the
region understood for the Park. In accordance with the meetings carried through in
the first semester of 2004 between the SEMA, the IMAP, Scientific Community
xiv
and Governmental bodies, had been launched the first proposals of handling and
zoning for the Park, including the recovery of the ciliary bush and a work of
ambient education aiming at to reduce the problems the medium and long run. In
accordance with research carried through for connoisseurs of the SEMA and Body
of Firemen in last the two years had occurred in the region of the Park five fires of
great ratios in the area of the Park. The majority of the times, caused for the men
action of deforestation, irregular forest fires and extration of ginseng, reasons that
have served as object of study and concern for the authorities and ecologists. The
same if it does not observe in relation to the spreading of the Park for the media,
that in the majority of the times if had condute for the catastrophe, to that already it
happened, and cannot more attenuated being, when the social paper to be fulfilled
would have to be to anticipate it the events, contributing as to create agent of
opinion of the society. The change of approach of the medias, together with the
elaboration and application accomplishes of the Plan of Handling of this Unit of
Conservation, constitutes the biggest challenge today to be looser for all (citizens,
governmental bodies and not governmental) so that the future generations have
the right to know the natural patrimony reserved by the State Park of Fertile
valleys of the Ivinhema.
Word-key: Communication and Mobilization; Park;, Environment; Sustainable Development.
1. INTRODUÇÃO
Desde o início da civilização os povos reconhecem a existência de sítios
geográficos com características especiais e tomaram medidas para protegê-los.
Esses sítios estavam associados a mitos, fatos históricos marcantes e à proteção
de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros recursos naturais, sendo que
o acesso e utilização destas áreas eram controlados por tabus, normas legais
(ANTUNES, 2000).
A participação popular, através da mobilização da mídia, é importante para
se atingir a preservação de áreas de interesse natural, conhecidas como
Unidades de Conservação.
O conceito moderno de Unidade de Conservação (UC) surgiu com a
criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, em 1872. A criação deste
Parque tinha como escopo preservar a beleza cênica, a significação histórica e o
potencial para atividades de lazer. Foi a partir da constituição desse que houve
limitação no processo de colonização do oeste americano, servindo como
exemplo para a criação de outras unidades de conservação (MILARÉ, 2000).
Para que se possa iniciar uma mobilização social é preciso antes de tudo
conhecer a realidade e promover questionamentos apresentando alternativas
para mudanças de comportamento. Uma das formas é utilizar os meios de
comunicação com intuito de preservar, levando-se em consideração a influência
que a mídia exerce na formação de opiniões e posicionamentos positivos ou
negativos quando expõe um bem comum: a natureza. Assim, para detectar e
quantificar este poder na vida do homem há de se ressaltar a importância da
utilização dos sentidos. Por exemplo, quando uma fotografia no jornal ou uma
2
imagem na televisão e até mesmo um texto descritivo bem elaborado retrata as
“maravilhas” ecológicas de locais como o Parque, coloca em evidência excessiva
e desnecessária um determinado ambiente que não possui estrutura básica para
atender a demanda de visitação que surge a partir daí.
Neste aspecto a Comunicação Social, embasada no conhecimento
jornalístico de investigar, apurar, analisar e descrever os fatos, torna-se ponto de
partida para se detectar a importância dos diferentes agentes internos e externos
que interagem na região, antes de torná-la conhecida.
O estudo acha-se focado em estratégias dos meios de comunicação que
possam suscitar mobilização social na região onde se encontra o Parque Estadual
das Várzeas do Ivinhema, cenário desta investigação.
O Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema (PEVRI), criado pelo Decreto-
lei nº. 9.278 de 17 de dezembro de 1998, publicado no Diário Oficial nº. 4.921 de
18 de dezembro de 1999 (páginas 02 e 03); abrange os municípios de Ivinhema,
Jateí, Taquarussu e Naviraí, no sudoeste do Estado, rumo ao sul, com uma área
de 73.315 ha.
A área de planície passa por inundações periódicas, o que contrasta com a
composição do solo em areia e argila, ora retendo muita umidade em alguns
trechos, característica que favorece a formação de uma infinidade de lagoas e
vegetação fechada, que garantem refúgio e sossego à formação de uma
diversidade singular na avifauna.
Diante das belezas cênicas construídas pela natureza, aliada à vontade de
preservação de quem conhece ou habita a região há mais de 15 anos, surge a
importância da interferência dos meios de comunicação.
A investigação procura, além de conhecer a realidade da área (Parque),
também agir em prol do desafio ecológico da criação de novas políticas
ambientais, para atender o apelo insistente de socorro dos rios soterrados por
barrancas assoreadas, animais mortos indiscriminadamente e coibir com rigor
necessário a utilização criminosa de anzóis e linhadas fixadas nos galhos ao
longo da barranca dos rios Paraná e Ivinhema, capturando peixes sem respeitar
3
medidas, peso e a época de acasalamento.
Assim, para a clareza do leitor, este estudo foi organizado em cinco
capítulos, além desta introdução. Acompanha também a dissertação um material
em vídeo produzido durante as visitas realizadas ao Parque, com duração de 12
minutos, que retrata a estrutura do local, a falta de fiscalização, a depredação dos
pesqueiros desapropriados e a caça e pesca predatórias.
No capítulo I constam os materiais e métodos que possibilitaram efetuar os
encaminhamentos da presente investigação.
As entrevistas foram aplicadas aos únicos dois moradores do Parque na
região já desapropriada, também foram ouvidos os pescadores que estavam no
entorno do Parque, em limite permitido próximo da barranca do Rio Paraná, assim
como os pescadores encontrados em áreas irregulares e até mesmo em algumas
lagoas localizadas dentro do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema.
O capítulo II apresenta de forma descritiva as maravilhas do local e
complementa com depoimentos dos habitantes as informações divulgadas pelos
meios de comunicação (jornais e TV) sobre a realidade do Parque.
No Capítulo III aborda-se a caracterização do Parque Estadual das
Várzeas do Rio Ivinhema no que tange a composição do solo, vegetação
aquática, fauna, flora e toda biodiversidade que o cerca. Todos os depoimentos
ouvidos e gravados em vídeo foram relevantes para delimitar as necessidades da
região.
O Capítulo IV trata da identificação e análise das Estratégias de
Comunicação para a Mobilização Social adotadas pelos órgãos públicos por meio
da mídia e traz dados oficiais da Secretaria de Meio Ambiente e do Corpo de
Bombeiros, que enfrentaram nos últimos dois anos cinco grandes incêndios no
Parque.
No Capítulo V destacam-se algumas sugestões de Programas e Sub-
programas para execução do Plano de Manejo. Os dois capítulos seguintes
descrevem os resultados e apresentam recomendações sobre a execução do
4
Plano de Manejo e a responsabilidade da Mídia na preservação do Parque.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivos gerais
a) Identificar estratégias de comunicação, que tragam possibilidades na
agregação de valores, de novos paradigmas e na formação ou informação da
população, principalmente no uso inadequado do Parque Estadual das Várzeas
do Rio Ivinhema.
b) Analisar os elementos influenciadores do Ecossistema em estudo que tenham
de certa forma contribuído para o impacto.
1.1.2 Objetivos específicos
a) Evidenciar condições da atual situação do Parque Estadual das Várzeas do Rio
Ivinhema.
b) Identificar as estratégias de comunicação em relação à forma de divulgar os
acontecimentos na região e não só as degradações ambientais, mas também
todo o processo de desgaste que o homem tem submetido à natureza ao longo
dos anos, no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, MS;
c) Sugerir publicações midiáticas para a divulgação que possam trazer
contribuições para o monitoramento da área, envolvendo os meios de
comunicação como parceiros.
5
2. BASES TEÓRICAS
2.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E A MÍDIA
Henriques (2002) menciona a criação de um programa de planejamento de
comunicação para projetos de mobilização social desenvolvido pela UFMG em
1997, pelo Departamento de Medicina Preventiva e Social, para revitalização da
bacia do Rio das Velhas, que abrange 51 municípios no Estado de Minas Gerais.
O projeto prevê uma central para a coordenação e a ligação dos municípios em
comitês para solucionar autonomamente problemas locais. O autor deixa claro
que para haver sucesso de projetos de recuperação ambiental e revitalização, é
preciso mais do que uma intervenção técnica no local. O que realmente pode
trazer bons resultados é gerar e manter vínculos, que se transformem em uma
das formas mais persuasivas para a mobilização social chegar ao nível de co-
responsabilidade.
O mesmo autor salienta ainda que a mobilização, para ser bem sucedida,
não depende da simples difusão de informações, como muitos acreditam, muito
embora a visibilidade, a divulgação e a presença na mídia sejam elementos
decisivos. Ressalta ainda que o desafio imposto pelos projetos de mobilização
impõe que se procure evidenciar o diferencial da comunicação, através de uma
reflexão sobre as funções e características que deve assumir, para que não seja
um fim em si mesma e esteja condizente com a proposta ética. O objetivo é
mostrar que a comunicação, planejada a partir de um horizonte ético, passa a ser
6
um dos principais instrumentos para auxiliar o movimento em seu processo de
transformação da realidade.
A influência da mídia como meio de comunicação e em especial as de
publicações em jornais, revistas e TVs que se caracterizam pelo tipo de
comunicação de massa têm papel fundamental para difundir a matéria, dar
legitimidade à causa, de modo a instigar a força de convocação da opinião
pública.
Para Toro e Werneck (1996), a mobilização é considerada um processo de
convocação de vontades para a mudança da realidade, através de propostas
comuns estabelecidas em consenso. É possível compreender a demanda pela
comunicação estrategicamente, uma vez que as pessoas precisam sentir-se
como parte do movimento e abraçar verdadeiramente sua causa. Na mesma
obra, os autores demonstram encontrar-se num dilema por acreditarem que a
excessiva preocupação com o planejamento pode causar a institucionalização e
burocratização, a ponto de impedir uma vinculação espontânea dos indivíduos
entre os instrumentos de comunicação e o acesso do público às informações.
O desafio da comunicação, ao mobilizar, é tocar a emoção das pessoas,
sem, contudo, manipulá-las, porque se assim for feito, ela será autoritária e
imposta.
Ao ampliar esses desafios têm-se as questões culturais, históricas e
políticas, que também determinam a vontade de participar e se engajar em algum
movimento.
Já no Continente Europeu, segundo Antunes (2000), existe outro conceito
de área natural protegida, tendo em vista que, após milênios de colonização
humana, muito pouco restou dos seus ambientes originais. Mas apesar da
degradação, a paisagem alterada ainda apresentava importantes atributos de
beleza cênica, ameaçada pelo crescimento urbano e pela agricultura de larga
escala, sem contar que existiam poucas áreas de domínio público. Também o
preço da terra tornava inviável a desapropriação para a criação de Unidade de
Conservação.
7
Diante dessa realidade, a alternativa adotada foi a criação de mecanismos
jurídicos e sociais para regular o uso das terras privadas. Dentre esses
mecanismos destacam-se: os acordos para preservar certas práticas do uso do
solo, os contratos para a recuperação de atributos cênicos e biológicos e os
acordos entre proprietários e organizações civis para manter uma rede de trilhas
para pedestres em áreas privadas.
Nessas iniciativas pode-se perceber que a conservação da biodiversidade,
como um objetivo per se, não aparecia como motivação para a criação dessas
primeiras modalidades de área protegida. No Brasil, a primeira iniciativa para a
criação de uma área protegida ocorreu em 1876, como sugestão do engenheiro
André Rebouças inspirada na criação do Parque de Yellowstone: um parque
nacional em Sete Quedas e outro na Ilha do Bananal. No entanto, data de 1937 a
implantação do primeiro o Parque Nacional de Itatiaia (Antunes, 2000).
Cumpre, primeiramente, ressaltar que na literatura especializada, muitas
vezes as áreas naturais protegidas e as unidades de conservação são chamadas
de “espaços protegidos”, no sentido de serem áreas onde o uso dos recursos
naturais e mesmo o acesso do público sofrem uma série de restrições (Santos,
2000).
Assim, faz-se necessário explicitar a diferença entre “área natural
protegida” e “unidade de conservação”. Na grande maioria dos países, as áreas
popularmente chamadas de “parques e reservas” são tratadas como áreas
protegidas. No Brasil, país que se orgulha de possuir uma das legislações
ambientais mais avançadas e completas do planeta – a despeito da sua
implementação apenas parcial – há uma adequada diferenciação entre o que são
áreas naturais protegidas e os “parques e reservas” do senso comum.
Além da contextualização prevista pela lei, a co-responsabilidade, segundo
Franco (1995), é de suma importância para que haja vinculação entre público e
comunicação o sentimento de responsabilidade pelo sucesso do projeto,
entendendo que a participação de cada um como parte torna-se essencial no
todo. Essa co-responsabilidade tem origem nos sentimentos de solidariedade e
compaixão. A ação comunicativa possibilita a criação, a manutenção ou o
8
fortalecimento dos vínculos, já que o enfraquecimento torna-se indesejável.
Segundo Henriques 2002, as áreas naturais protegidas são todos os
espaços criados com o objetivo de conservar a diversidade biológica, os recursos
naturais, culturais, históricos e paisagísticos e promover o desenvolvimento
sustentável de uma região. Incluem terras públicas e particulares (Lei nº 9.985 de
18 de julho de 2000). No Brasil, existem sete tipos de áreas protegidas: Unidades
de Conservação (UC’s); Reservas Legais; Áreas de Preservação Permanente;
Reservas da Biosfera; Sítios do Patrimônio Natural Mundial; Sítios Hamsar (áreas
úmidas e alagadas); e áreas protegidas por mecanismos diferentes de leis ou
convenções internacionais (Antunes, 2000).
O Brasil possui uma lei específica para as UCs (Lei nº. 9.985, editada em
18 de julho de 2000). Essa lei ficou conhecida como a Lei do SNUC (Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), porque institui o sistema
citado e define áreas protegidas em seu artigo 2°, como:
... espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos sob regimes especiais de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (Brasil, 2002).
Os objetivos perseguidos pela unidade de conservação são:
1) preservar a biodiversidade da fauna e flora para o desenvolvimento de
pesquisas, visando sua utilização racional;
2) ser utilizada como referência para estudos comparativos das
transformações que ocorrem nas áreas adjacentes;
3) proteger os recursos hídricos;
4) proteger paisagens de relevante beleza, preservando o que
denominamos de paisagem ecológica;
5) subsidiar atividades de educação ambiental;
6) evitar a conturbação e preservar áreas verdes urbanas.
9
Porém um dos principais problemas relacionados à preservação ambiental
é o de ordem econômica. Segundo Leff (1998), a questão econômica é fundada
na racionalização de recursos escassos, na lógica do mercado e no equilíbrio de
fatores produtivos, resultando numa sociedade de consumo. O aprofundamento
nesse caso passa pelo quesito investimento.
Uma das alternativas encontradas para se viabilizar a UC é através do
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) verde ou ICMS
ecológico, repassado pelo Estado aos municípios que possuem em seus
territórios Unidades de Conservação, incluindo as Reservas Particulares do
Patrimônio Natural, de acordo com o Decreto 974/91, que regulamenta a lei. Este
imposto teve origem no Paraná, sendo seguido pelos estados de São Paulo e
Minas Gerais. Esta medida foi extremamente interessante, especialmente por
provocar uma mudança da visão dos municípios frente ao conceito de
conservação, acenando com uma perspectiva de fonte de renda na preservação
de ecossistemas.
O ICMS é o imposto mais importante em nível estadual. Cada estado tem
seu próprio perfil de distribuição do ICMS aos municípios, embora tenha de seguir
o Art. 158, parágrafo único da Constituição Federal, onde no mínimo 3/4 dos
recursos repassados obedecerá ao critério do Valor Adicionado (que corresponde,
para cada município, ao valor das mercadorias saídas, acrescido do valor das
prestações de serviço no seu território, deduzido o valor das mercadorias
entradas, em cada ano civil). O 1/4 restante será repassado de acordo com o que
dispuser a lei estadual (Loureiro, 1997).
O ICMS Ecológico representa uma iniciativa que pode ser adotada por
qualquer Estado brasileiro. O perfil atual da distribuição do ICMS permite esta
possibilidade sendo que em 8 estados o critério do repasse pelo Valor Adicionado
Fiscal está acima dos 75% determinados pela Constituição Federal, 5 Estados já
possuem o critério ambiental em funcionamento e 14 necessitariam de rearranjos
novos entre os vários critérios em utilização, posto já estarem no limite da sua
possibilidade de legislar.
O benefício do ICMS ecológico se dá sob forma de repartição de uma
10
porcentagem do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a
que os municípios têm direito constitucionalmente, aos municípios que possuem
em seu território Unidades de Conservação ou Mananciais de Abastecimento
Público para municípios vizinhos, e que por isso têm restrições de uso de seu
território. A Lei do ICMS Ecológico incentiva os municípios para que promovam
ações de preservação dos recursos naturais, com a proteção legal de áreas
naturais ou o tratamento de lixo e esgotos sanitários, destinando maior parcela do
ICMS a estes municípios. O repasse do ICMS obedece a uma fórmula técnica
definida na legislação.
De acordo com a legislação vigente, os objetivos principais do ICMS
Ecológico são:
• compensar os municípios que possuem porções de seu território
protegidas por unidades de conservação que implicam restrições de
uso do solo, e
• incentivar a criação, implantação e manutenção de unidades de
conservação pelos próprios municípios, contribuindo para
descentralizar e consolidar a política de proteção de ecossistemas
naturais.
Incentivar o município significa fazer uma aliança muito útil com a
população, pois no momento em que a existência de áreas a serem protegidas
significa um retorno de recursos financeiros e de outros benefícios para a
comunidade, ela será a primeira a se interessar em proteger e manter intacto um
patrimônio, como bem de todos. Mas muitas vezes este recurso não chega ao seu
destino, o que pode ser observado no Parque Estadual das Várzeas do rio
Ivinhema, que não tem recebido fiscalização adequada nem funcionários que
possam colaborar na manutenção e conservação do local, como prevê o art.2º da
Lei do ICMS Ecológico1.
Fazer evoluir os procedimentos ou mesmo a legislação dos estados onde
já existe o ICMS Ecológico é fundamental, posto já existir massa crítica disponível
1 ICMS Ecológico, Lei nº 9491/90, Artigo 2º, Decreto Lei 974/91.
11
para tal. É necessário também trabalhar por sua manutenção no contexto do
Sistema Tributário Nacional e após a Reforma Tributária.
Face às especificidades de cada estado e seu arcabouço legal disponível,
no quadro 1, discriminam-se os estados e algumas recomendações que poderiam
representar o avanço na gestão do instrumento de política.
Quadro 01 - Estados onde existe o ICMS ecológico e algumas recomendações para o avanço de seus procedimentos ou legislações:
Estados Recomendações
Paraná Aprimorar o processo de avaliação, tábuas específicos e planos de metas negociadas com os municípios.
Minas Gerais Garantir o ICMS Ecológico e operar o critério qualitativo
São Paulo Reformular a legislação atual e aprimorar os critérios
Rondônia Adoção de variáveis qualitativas/apurar regulamentação
Amapá Regulamentar e implementar o ICMS Ecológico.
Rio Grande do Sul
Alterar a legislação visando dar plenitude ao ICMS Ecológico.
Mato Grosso do Sul
Implementar os critérios qualitativos em relação as áreas protegidas e otimizar a utilização o ICMS Ecológico visando a consolidação do sistema Estadual de Unidades de Conservação.
Mato Grosso Implementar os critérios qualitativos em relação as áreas protegidas e otimizar a utilização o ICMS Ecológico visando a consolidação do sistema Estadual de Unidades de Conservação.
Pernambuco Reformular a regulamentação do ICMS Ecológico introduzindo metodologia adequada ao cumprimento da Lei.
Tocantins Na fase de preparação da implementação da sua Lei, deveria incluir já, na primeira fase a avaliação da qualidade das unidades de conservação e terras indígenas.
Fonte: SEMA 2003
É importante ressaltar que o estudo da inter-relação entre a situação real
12
que se encontra o parque e a comunidade residente em torno, ou seja, nas
fazendas vizinhas, tem objetivo de realizar possíveis intervenções que busquem
minimizar o impacto causado por décadas de degradação, seja pela forma
imprópria de uso e ocupação do solo, a citar como exemplo a drenagem de
extensas áreas para a implementação da pecuária extensiva, seja pela falta de
conscientização ambiental da sociedade e de governantes (CESP, 2000-2003).
2.1.1 Interdisciplinaridade e Desenvolvimento Sustentável
O artigo “O Pantanal que a mídia não mostra”, no tópico sobre a fragilidade
das relações entre a sociedade-natureza, dispõe sobre problemas que afetam o
Pantanal, região de fauna e flora tão rica quanto o Parque e cita trecho do resumo
executivo do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (PCBAP 1997)
(Brum, 2003: 164)
A inserção da sociedade sem um adequado dimensionamento dos níveis de intervenção na natureza, tornando o ambiente irreversivelmente comprometido, é um dos grandes desafios para o desenvolvimento sustentável. O conhecimento da potencialidade dos recursos naturais deve acompanhar o conhecimento da fragilidade potencial dos ambientes em que tais recursos ocorrem. Deste modo, o planejamento ambiental envolve o estudo das relações entre a sociedade e a natureza, precisando, para tanto, conhecer a história dessa sociedade, sua cultura, suas relações econômicas e a base de sua sustentabilidade (Peruzzo e Almeida, 2003).
Banducci e Brum apud Peruzzo e Almeida (2003) consideram que a
exploração das matas e as atividades de caça não se exercem, nesses lugares,
pela livre vontade e determinação dos homens. Há de se respeitar as forças que
controlam e protegem a natureza. Do contrário, aquele que comete excessos, que
invade com seus machados e foices locais proibidos deve estar sujeito às
pesadas sanções.
A possibilidade de se usar a interdisciplinaridade como uma das formas de
se ampliar horizontes e garantir a elaboração de estudos que implicam mais
conhecimento da teoria, o domínio da metodologia, bem como a capacidade de
operacionalizar o instrumento técnico de apoio para que este trabalho proposto se
13
complemente como um todo, garante minuciosidade em várias áreas e aspectos,
numa ótica segmentada e diversa.
É necessário para entender o funcionamento do todo, compreender o
mecanismo funcional de cada um dos componentes em relação aos demais.
A mídia pode com certeza ser responsabilizada pelo processo massificador
que exerce ao expor a natureza de forma contemplativa, sem se preocupar se
existe algum tipo de infra-estrutura para receber o turista que vai procurar aquele
local projetado na tela como um “pedaço do paraíso”.
As agências de turismo encontraram aí um filão de ouro. Uma gama
enorme de alternativas para mostrar o Brasil para o próprio brasileiro e para o
mundo. Os vídeos com imagens fabulosas de rios, ilhas, cachoeiras e matas
começaram a despertar a curiosidade da população e os prejudicados pela falta
de infra-estrutura foram sobretudo os pontos eleitos turísticos.
As belezas dos lugares falam por si, mais do que qualquer propaganda
institucional para vender pacotes de viagem; a natureza precisava de um kit
básico de proteção, de cuidados para permanecer viva, já que intacta não seria
mais possível.
Essa mobilização em busca da sustentabilidade do ambiente consiste na
prática, na criação e adoção de novas medidas em prol da natureza e novos
posicionamentos. A existência de uma área de proteção ambiental,
necessariamente, não significa estar essa Unidade de Conservação livre das
agressões e má utilização por parte do desenvolvimento urbano feito sem uma
política capaz de organizar e manter o progresso.
Entre a evolução e o aperfeiçoamento, a relação entre o homem e a forma
com que se relaciona com o meio ainda é muito conflituosa e imprecisa. Através
de um consenso social que deve ter início com um processo de reeducação da
comunidade, a sobrevivência das espécies pode se manter em harmonia. A
extração disciplinada garante o desenvolvimento e a possibilidade de contribuição
através de pesquisas, nova legislação que regulamente com vigor cada área do
planeta.
14
2.1.2 O papel ideal dos meios de comunicação na proteção ambiental
Seguindo Barbeiro e Lima (2002), há de ser ressaltada a importância dos
veículos de comunicação, principalmente os eletrônicos, como prestadores de
serviços na proteção do meio ambiente.
Com objetivo singular de divulgar informações dos acontecimentos à
população, os meios de comunicação lutam pelo imediatismo, ocupando também,
parte significativa de sua programação com informações sobre trânsito, estradas,
clima, aeroportos, rodoviárias, pagamento de impostos, direito do consumidor,
mercado financeiro, oferta de empregos, agenda cultural. Na última década,
detecta-se com facilidade o aumento da preocupação em expor os problemas e
desafios enfrentados pela natureza por causa da ação predatória do homem
contra o ambiente. Parcela significativa da programação de canais abertos e
fechados tem reservado espaços em horários considerados nobres, para aos
poucos prestar um serviço de educação ambiental à população de forma
subliminar, ampla e abrangente, e até mesmo didática, explicando o que é, onde
está localizado, como funciona, para que serve, quais as conseqüências da
destruição, locais destruídos e locais preservados.
Pode-se usar como exemplo os programas produzidos no Brasil pela Rede
Globo de televisão: Globo Ecologia, Globo Repórter, além da inserção de
reportagens especiais no Jornal Hoje, Jornal Nacional, Jornal da Globo e Bom Dia
Brasil e jornais locais diários, veiculados pelas afiliadas da Rede Record, SBT,
Rede Bandeirantes, TV Cultura e também programação integral exibida em canal
fechado como a Directv, Discovery Channel, National Geographic entre outros.
Atualmente, a tecnologia está preparada para resolver qualquer dificuldade
de acesso. As TVs utilizam com freqüência: helicópteros, aviões, equipamentos
via satélite para estabelecer links na transmissão ao vivo, assim como a arte
através da computação gráfica e da edição não linear que permite fusões de
imagens e outros recursos que chamam a atenção de telespectadores do mundo
inteiro.
Utilizar a natureza como bandeira é um serviço importante a ser prestado à
15
sociedade, mas na maioria das vezes a divulgação do tema está relacionada à
sazonalidade dos interesses. Os flashes sobre o assunto por vezes flutuam em
meio a um emaranhado de assuntos menos importantes, passando uma
mensagem fria, publicitária, tendenciosa e facilmente despercebida ou
desprezada pelo próprio telespectador, como mais uma propaganda que
interrompe os horários das novelas ou os telejornais.
O assunto torna-se notícia quando já é catástrofe, ou seja, quando o
assoreamento, o fogo, a contaminação ou a mortandade de animais silvestres ou
aquáticos pode ser vista em larga escala. Dessa feita, a preocupação com meio
ambiente eclode em entrevistas frenéticas voltadas apenas aos ecólogos,
turismólogos, sendo que a população que ocupa a região raramente conhece ou
sabe da existência de um estatuto que regulamenta o relacionamento entre
homem e natureza, garantindo a sobrevivência de um a e conservação de outra.
A superexposição no terreno árido da escolha do “importante” para
determinado momento é totalmente questionável do ponto de vista ético. Vazquez
(1985: 123) define norma como:
... meio de regular o comportamento dos indivíduos de acordo com a necessidade e o interesse de determinada comunidade, e, por conseguinte, justifica-se na medida em que está de acordo com ele. Portanto toda norma para ser justificável, deve ser situada num contexto humano concreto, isto é, no quadro de uma comunidade histórico-social determinada.
Ainda segundo Vazquez (1985: 97), ao citar Bunge, informa que o código
moral é o conjunto ou o sistema articulado de normas que possuem coerência
interna sem contradições. Assim, uma norma se justifica cientificamente quando
não só se adapta à lógica, mas também aos conhecimentos científicos já
estabelecidos, ou é compatível com as leis científicas conhecidas.
Dado que a história da moral tem um sentido ascensional, com um
crescimento do domínio dos homens sobre si mesmos, por sua relação cada vez
mais consciente, livre e responsável com respeito aos outros, pela
regulamentação de seus atos de tal maneira que os interesses pessoais
combinem cada vez melhor com os interesses da comunidade. Dentro desse
16
processo ascensional, uma norma ou um código moral tem um caráter relativo e
transitório (Vazquez, 1985).
O princípio Kantiano, por exemplo, verdadeiramente humanista, trata
sempre o homem como um fim e não como um meio, que se apresenta com uma
forma universal abstrata e uma aplicação limitada, enquanto não se verificam as
condições reais para sua plena e universal realização. Isso significa que uma
norma ou código moral não pode ser considerado como algo imóvel e fixo. Logo,
uma norma moral se justifica dialeticamente quando contém aspectos ou
elementos, que no processo ascensional moral, se integram em um novo nível de
moral superior.
A prática da comunicação horizontal é mais viável no caso dos modelos
interpessoais (individuais e em grupo) do que no caso dos modelos impessoais
(massas). Óbvia explicação técnica para esse fato é a dificuldade intrínseca de se
alcançar retroalimentação na comunicação de massa. Mas a explicação principal
é política: os meios de comunicação de massa, em sua maioria, são instrumentos
viciados das forças conservadoras e mercantilistas, utilizados para controlar os
meios de produção nacional e internacionalmente.
O diálogo nem sempre é possível e, poder-se-ia acrescentar, o monólogo
nem sempre é evitável, sendo até mesmo necessário, algumas vezes,
dependendo de diversos propósitos e circunstâncias. Segundo Melo et al. apud
Peruzzo e Almeida (2003), esses dois elementos poderiam ser vistos como dois
extremos de uma linha contínua. Idealmente todas as formas de comunicação
deveriam ser horizontais. Na prática nem sempre esse ideal é possível e talvez
nem sempre seja desejável. Assim, quando a comunicação vertical tiver de
permanecer ainda em cena, não deveria de forma alguma ser exercida de forma
manipuladora, enganadora, exploradora e coercitiva.
Com base nas teorias acima mencionadas, há de se ressaltar que a
comunicação de forma geral deveria ser composta, sobretudo, por critérios morais
e éticos, seguindo os anseios e carências da sociedade, desvinculados de
qualquer sentido unicamente capitalista e tendencioso. Os fatos tornam-se
notícias de forma cíclica, mas sem fundamentos de princípios, ordenamentos e
17
prioridades preservacionistas. O que interessa às empresas jornalísticas é o que
vende, o comercial, o populista. Ideologias, conjecturas, probabilidades de
extinção não são notícia. O desastre e o extermínio sim. Muito mais fácil e
educativo seria apresentar e ressaltar o belo para que permaneça como tal. Mas
como chamar a atenção das pessoas com tal proposta “tão desinteressante”? O
tema precisa de um “gancho”, um enfoque maior, grandioso, atraente e é assim
que a imprensa coloca a natureza em segundo plano, sem a mínima cerimônia de
deixá-la fenecer para transformá-la em notícia.
2.1.3 A comunicação transmitida pelos telejornais nacionais
A obra de Ramos (1995) destaca a importância que a mídia televisiva deu
para a Rio 92, relatando a quantidade e a freqüência das matérias veiculadas e os
telejornais e emissoras que mais deram importância merecida ao assunto. Foram
assistidos ao todo 60 programas, no período de 04 de maio a 11 de junho de
1992, que de alguma forma abordaram a problemática ambiental ou citaram a
conferência, mesmo que o assunto principal da reportagem não tenha sido o
evento. Os telejornais foram gravados em videocassete, no formato VHS. Os
dados obtidos foram contabilizados em três fases de pesquisa: preparação,
realização e repercussão. De uma maneira geral o resultado confirmou, segundo
o autor, uma tendência esperada: a fase de preparação funcionou como uma
espécie de aquecimento, criando expectativa em relação ao evento, na fase de
realização o evento passou a ser o principal assunto, ganhando definitivamente o
destaque dos telejornais para, logo em seguida cair no esquecimento, ou seja,
apresentando uma repercussão insignificante a curto prazo.
Outro dado interessante destacado durante a pesquisa é que as emissoras
Globo e Manchete prepararam uma sofisticada operação para dar cobertura ao
evento, com envolvimento de técnicos e jornalistas, para realizarem várias
entradas ao vivo. Os apresentadores no estúdio abriam o tema com as
chamadas, colocando o repórter ao vivo no Rio Centro (na Conferência da ONU)
ou no Fórum Global (na Conferência paralela realizada pelas ONGs –
Organizações Não Governamentais), os repórteres sintetizavam os principais
assuntos do dia e chamavam reportagens especiais já gravadas por outros
18
repórteres sobre os temas mencionados. As matérias eram distribuídas ao longo
dos telejornais em todos os blocos, de forma com que “parecesse” que os
assuntos tratados nos eventos estavam sendo amplamente divulgados.
Essa narrativa nos remete aos dias de hoje, ao mesmo comportamento da
imprensa dedicado ao ambiente onze anos depois da Eco 92, que continua a
tratar os assuntos de forma superficial, sem dar continuidade, de maneira que
caiam no esquecimento. Ganham destaque no momento catastrófico, levanta-se o
possível culpado pelo dano e encerra-se a matéria com uma trilha e imagens
marcantes. O assunto parece ter morrido ali, naquela imagem, naquela frase, na
música triste reforçando o estado de degradação. Mas o pedido de socorro é
inepto, esquecido entre tantos outros interesses maiores da política, da economia,
da saúde, do esporte, a natureza se perde mais uma vez. Ganha destaque e
perde novamente a chance de ser retomada de maneira digna, instrutiva,
educativa ou, no mínimo, de ser retratada com continuísmo e verdade absoluta, já
que tudo que acontece é sempre tão relativo e passageiro.
2.1.4 A influência da comunicação na sociedade contemporânea
A evolução nos processos de comunicação, proporcionada pelo
desenvolvimento tecnológico, é um dos fatores responsáveis pela nova etapa no
relacionamento do homem com o ambiente. Como observa Beltrão e Quirino
(1989: 58):
... jamais a humanidade assistiu a tão radical revolução como a que se processou nos últimos cinqüenta anos com o estabelecimento formal do sistema dos meios de comunicação de massa. Imprimindo velocidade, ubiqüidade e penetrabilidade à mensagem, em escalas e níveis jamais alcançados, os meios técnicos, sobretudo os eletrônicos, criaram uma espécie de pseudônimo entre os homens e o mundo objetivo real – (e) são vistos como a envolver o homem moderno numa espécie de realidade substituta.
Nesta perspectiva de pensamento pode-se dizer que o domínio da
informação está diretamente ligado ao poder de inferir e reorientar as relações
humanas e da sociedade com a natureza. Portanto, é com grande influência dos
19
meios de comunicação que a humanidade hoje toma conta dos problemas
ambientais e procura rediscutir os seus modelos de desenvolvimento e sua
atuação no ambiente. Nos últimos anos têm se verificado um aumento
significativo de publicações, documentários, campanhas de publicidade sobre o
ambiente, mas é, sobretudo, por meio dos jornais impressos e da televisão que as
questões ambientais, mesmo de forma superficial, têm chegado ao conhecimento
de segmentos da sociedade que não tinham antes acesso ao tema, já que, até
então, estavam restritas às comunidades científicas, aos seminários, às palestras,
às publicações em revistas especializadas, técnicas e livros.
É a partir da constatação da importância desses veículos da mídia em levar
a informação a todos os lugares indistintamente de escolaridade ou classe social,
que surge o interesse em investigar de que forma isso vem sendo realizado, e
qual a participação de massa real vem despertando interesse na formação de
opinião sobre a problemática ambiental.
O papel dos meios de comunicação na sociedade de massa
contemporânea tem sido amplamente pesquisado e debatido em vários estudos
que procuram analisar sua influência na formação de opinião e atuação como
elemento de controle social, político, ideológico e cultural.
Melo (1971: 72) assim caracteriza os meios de comunicação:
... os meios de comunicação social constituem, paradoxalmente, meios de elite e de massas. Como instrumentos mecânicos eletrônicos que difundem imagens de acesso potencial a todos os indivíduos da sociedade, eles são meios que atingem as massas, atuando entre elas e o mundo...No entanto, é preciso considerar que, embora atingindo a massa, os meios de comunicação social são meios de elite. Ou seja, são meios controlados pela elite.
Peterson e Rivers (1966: 76) entendem os meios de comunicação como:
... um adjunto das outras instituições, prestando-se ao exercício de poder por parte das mesmas. Têm sido usados especialmente pelas ordens políticas, religiosas e econômicas... Em toda sociedade ou os governantes ou os grupos mais poderosos tem usado as comunicações para estabilizar a ordem social e para consolidar o poder.
20
Pesquisas realizadas por vários estudiosos da comunicação, como
Lazarsfeld, Klapper, Merton, Katz, Hovland, Maccoby, Ball-Rockeach e De Fleur,
Lins da Silva entre outros, revelam que, pela natureza complexa da comunicação,
os efeitos que ela gera dependem de uma interação entre os meios; as
mensagens; as intenções do comunicador; as preferências e predisposições do
receptor; as condições gerais que interpenetram todo o processo comunicacional
(Beltrão e Quirino, 1986).
Os meios de comunicação são instituições com muito prestígio na sociedade,
superando com grande vantagem as instituições fundamentais da República, dos
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e das organizações da sociedade civil.
Portanto, além da interferência que causa na vida dos indivíduos, não se pode
deixar de considerar que atua decisivamente na estrutura social, criando
necessidades e motivações, reforçando padrões culturais e sociais, interferindo
na ação política.
2.1.5 A informação e a interdisciplinaridade
A estruturação da Ciência Ambiental tem início a partir do pressuposto básico
de que a investigação ambiental é por excelência interdisciplinar, uma vez que os
modelos tradicionais de análise compartimentalizada em áreas distintas do
conhecimento se mostram insuficientes para a abordagem dos problemas
complexos que envolvem o ambiente.
A ampla e irrestrita difusão de informações sobre a problemática ambiental
são, portanto, um elemento essencial para a consecução dessa desejada prática
interdisciplinar, ainda mais se considerarmos que o problema da interligação entre
as diversas áreas do conhecimento se acentua à medida que, muitas vezes, as
particularidades temáticas e o vocabulário específico de cada área dificultam os
entendimentos recíprocos, tornando-se um fator limitante para o alcance de uma
visão globalizante do meio ambiente. A esse propósito, Moraes (1990: 97) nos
lembra que:
Não há em nosso campo uma padronização mínima da linguagem, aos mesmos termos se atribuem conteúdos diferentes.
21
O termo ecologia, por exemplo, aparece em alguns contextos discursivos como um objeto. Porém, em outros contextos aparece como um método, em outros ainda como ciência, e mesmo em alguns como questão política.
Essa situação expõe a dificuldade que ainda permeia a busca da
interdisciplinaridade na Ciência Ambiental, sendo que nesse “conjunto de
contextos” se insere a comunicação social, evidenciando-se aqui um paradoxo: ao
mesmo tempo em que desempenha um papel de elemento de ligação nos
esforços para a constituição de uma base de entendimento comum diante das
diferentes leituras sobre o ambiente, a comunicação de massa é responsável
tanto pela omissão quanto pela difusão indiscriminada de mensagens ambientais.
E, o que é mais grave, muito dessas mensagens, de forte apelo persuasivo,
reflete interesses meramente corporativos e não coletivos, como se deveria supor,
uma vez que o meio ambiente engloba toda a coletividade.
22
3. MATERIAL E MÉTODOS
Na pesquisa foram utilizadas referências bibliográficas, fontes essenciais
para os resultados objetivos, bem como o método dedutivo através da observação
direta, entrevistas semi-estruturadas e análise de conteúdo.
Entrevistas
A aplicação no início do mês de maio de 2003 de um questionário aos
visitantes, praticantes de pesca irregular e aos poucos moradores da planície de
inundação do dique marginal do rio Paraná, além do guarda do Parque, foi
fundamental para aprofundar a pesquisa.
Ao todo foram entrevistados dez pescadores, três deles pescando em
lagos dentro do Parque (flagrados em vídeo) onde alegaram ter desconhecimento
da proibição extrativista no local.
Foram ainda entrevistados o Sr. Francisco Fogaça e a esposa, que moram
próximo a um pesqueiro situado às margens direita do rio Paraná há mais de 20
anos. Mesmo após a desocupação da área pelos patrões, eles continuaram no
local, seguindo as normas de preservação indicadas pela Secretaria do Meio
Ambiente de MS. O maior sonho do morador é se transformar em mais um guarda
do Parque e continuar no local
O Sr. Arnaldo Fogaça, guarda do Parque, declarou morar na região há
quase 20 anos. Hoje ele é a única referência de fiscalização contínua no local,
23
apesar da falta de infra-estrutura e equipamentos.
Pesquisa
A pesquisa teve início oficialmente com a primeira visita técnica em 11 de
abril de 2002. Nessa ocasião, delimitou-se a área de estudo, através da
participação no 2º Encontro da Gestão Compartilhada da APA das Ilhas e
Várzeas do Rio Paraná, promovido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
A segunda visita técnica ao Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema,
abrangendo os municípios de Ivinhema, Taquarussu, Jateí, Naviraí, situados no
estado de Mato Grosso do Sul, ocorreu no período de 05 a 08 de maio de 2003,
com acompanhamento de um cinegrafista contratado pela discente, para captar
imagens da atual situação em que se encontra a área e, ainda, uma discente do
4º semestre do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UNIDERP.
Durante essa visita técnica foi elaborado um vídeo, editado com duração
de 22 minutos, em sistema mini DV, e conservadas as imagens brutas no sistema
VHS (quase 6 horas de imagens). Essa reportagem foi exibida pela net canal 14
das TVS Universitárias e canal 11 da rede Record no Programa Uniderp em Ação,
horário comprado pela UNIDERP para exibição de reportagens aos domingos,
das 9 às 10 da manhã.
O trabalho, reduzido para 10 minutos, também foi apresentado no III
Encontro de Pesquisa e Iniciação Científica da UNIDERP (III ENPIC) –
desenvolvimento para a qualidade de vida (10 a 12 de setembro de 2003). Na
oportunidade foi apresentada esta pesquisa (11 de setembro de 2003 às 17 horas
no Bloco II) em sistema DVD.
O vídeo
Foram feitas imagens do local, e coletados dados. O ponto de partida foi a
sede até o final do Parque, no Estado do Paraná, sendo percorridos 35 km de rio.
As atividades de campo iniciavam às 5h, finalizando às 17h, durante o período
mencionado e no mesmo horário.
24
Para o percurso do Rio Ivinhema, no trecho mencionado, utilizou-se
embarcação fluvial, cedida pela administração do Parque Estadual, bem como o
piloto.
A maior dificuldade é o acesso ao local, principalmente porque há a
necessidade de se atravessar essas fazendas. As estradas são de terra, não
possuem qualquer sinalização e estão em péssimo estado de conservação. Os
nomes das fazendas são a única referência para chegar até a área do Parque.
Faz-se necessário que a viagem seja feita durante o período diurno, com o tempo
aberto, sem chuvas.
O percurso em terra foi realizado em um veículo Toyota, também cedido
pela administração do Parque Estadual. A equipe foi acompanhada pelo motorista
Sr. Arnaldo Fogaça, também guarda do Parque.
Para o registro dos resultados, ainda parciais, foram utilizados os seguintes
materiais: equipamentos eletrônicos como máquina fotográfica, câmera filmadora
profissional, bloco de anotação, aparelho de GPS, objetivando resgatar dados
mais precisos sobre a região.
25
4. O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS
O Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema foi criado pelo Decreto-lei
nº. 9.278 de 17 de dezembro de 1998, visando proteger a fauna e flora,
especialmente as espécies ameaçadas de extinção, tais como o cervo-do-
pantanal (Blatocerus dichotomus), o bugio (Alouatta fusca), a lontra (Lutra
longicaudis), a anta (Tapirus terrestris), a jaguatirica (Leopardus pardalis) e a
onça-pintada (Panthera onça); garantir a conservação dos remanescentes da
Floresta Estacional Semidecidual Aluvial e Submontana, dos ecossistemas
pantaneiros e dos recursos hídricos; garantir a proteção dos sítios históricos e
arqueológicos; ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais
atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental; incentivar as
manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional
e assegurar o caráter de sustentabilidade da ação antrópica na região, com
particular ênfase na melhoria das condições de sobrevivência e qualidade de vida
das comunidades da APA e entorno (MATO GROSSO DO SUL, 1999)2.
Este Parque é a primeira Unidade de Conservação de uso indireto criada
no Estado de Mato Grosso do Sul. A sede do Parque está localizada no município
de Jateí, abrigando pesquisadores e técnicos que se revezam na ocupação
destas casas, cumprindo etapas de estudo do parque para elaboração do Plano
de Manejo, cuja conclusão estava prevista para dezembro de 2003. 2 Publicado no Diário Oficial de Mato Grosso do Sul nº 4921 de 18 de dezembro de 1999 (página 02 e 03)
26
FOTO 1 - Família de capivaras no rio Ivinhema, área do Parque. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
FOTO 2 - Casas para abrigar pesquisadores na sede do Parque. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
O local possui 65 quilômetros de extensão, ocupados antes por 45
propriedades rurais, entre ranchos de pesca e fazendas, sendo que a maioria é
de pequenas propriedades ao longo dos Rios Ivinhema e Paraná. (CESP)
Na época, o ainda governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Wilson
27
Barbosa Martins assinou o Decreto, levando-se em conta a inexistência neste
Estado de Unidades de Conservação que protejam as amostras representativas
de seus biomas. Ademais, é dever do Estado a proteção ao ambiente, a
preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas naturais, a proteção de
belezas cênicas e de espécies em perigo e as ameaçadas de extinção, de acordo
com a Constituição Federal de 1988 e a Constituição do Mato Grosso do Sul.
Outra consideração na elaboração do Decreto foi a de que as várzeas e
ecossistemas associados do Rio Ivinhema caracterizam-se como último trecho
livre e representativo desse ambiente, em território brasileiro, abrigando também
fragmentos remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual do Domínio
Atlântico, conforme mapa de vegetação do IBGE, no ano de 1993 e que sua
proteção constitui-se como prioridade para a região, sendo inclusive recurso
natural raro (Prefeitura Municipal de Taquarussu, 2003).
A criação do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema, justificou-se para
implantação de uma unidade de conservação, neste Estado e apresenta-se como
elemento fundamental na política adotada pelo Governo, em 1998, para garantir a
esta e futuras gerações a proteção de recursos naturais existentes.
FOTO 3 - Ponto de partida dos barcos na sede do Parque. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
28
Desde a criação do Parque do Ivinhema em 1998 até dezembro de 2003,
foram elaborados 10 relatórios, para que se pudesse chegar a um plano de
manejo adequado. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso do
Sul (SEMA, 2003:.67) previa a conclusão deste plano de manejo até dezembro de
2003, onde deveria constar:
I - elaboração do zoneamento ambiental, a ser regulamentado por instrução normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, definindo as atividades a serem permitidas ou incentivadas em cada zona e as que deverão ser restringidas e proibidas;
Il - utilização dos instrumentos legais e dos incentivos financeiros governamentais, para assegurar a proteção da biota, o uso racional do solo e outras medidas referentes à salvaguarda dos recursos ambientais;
Ill - aplicação de medidas legais destinadas a impedir ou evitar o exercício de atividades causadoras de degradação da qualidade ambiental;
IV - divulgação das medidas previstas neste Decreto, objetivando o esclarecimento da comunidade local sobre a APA e suas finalidades;
V - incentiva ao reconhecimento de Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN, instituídas pelo Decreto n.º 1.922, de 5 de junho de 1996, junto aos proprietários, cujas propriedades encontram-se inseridas, no todo ou em parte, nos limites da APA.
Ficam proibidas ou restringidas na APA, entre outras, as seguintes atividades:
I - implantação de atividades industriais potencialmente poluidoras, que impliquem danos ao meio ambiente e afetem os mananciais de água;
II: - realização de obras de terraplanagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas importarem alteração das condições ecológicas locais, principalmente nas zonas de vida silvestre;
III - exercício de atividades capazes de provocar acelerada erosão das terras, o assoreamento das coleções hídricas ou o comprometimento dos aqüíferos;
IV - exercício de atividades que impliquem matança, captura ou molestamento de espécies raras da biota regional;
V - despeje, nos cursos d’água abrangidos pela APA, de efluentes, resíduos ou detritos, capazes de provocar danos ao meio ambiente.
A APA será implantada, administrada e fiscalizada pelo Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente (IBAMA), em articulação com os demais órgãos federais,
29
estaduais e municipais, e organizações não-governamentais. Mas, para que haja
uma interação científica aliada ao amparo jurídico para preservação e
manutenção do equilíbrio sustentável da natureza a formação de parcerias é de
suma importância.
O Parque faz parte da área de proteção ambiental que compreende um
trecho extenso até as Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, criada por Decreto do
Governo Federal em 1997, com uma área de um milhão e oito mil hectares,
abrangendo 26 municípios, sendo 14 em Mato Grosso do Sul e 12 no estado do
Paraná. No interior dessa APA está inserido o primeiro parque estadual de Mato
Grosso do Sul - Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema. Com base no
mesmo propósito de preservação, já foram realizados dois encontros de gestão
compartilhada entre os dois estados para discutir projetos e manejos que
permitam o desenvolvimento de atividades econômicas sem causar prejuízo ao
ambiente.
O Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema, assim como o Parque
Nacional da Ilha Grande, no estado do Paraná, divisa com Mato Grosso do Sul,
foram criados como medida de compensação ambiental depois da inundação
causada pela Usina Engenheiro Sérgio Motta, antigo Porto Primavera, na divisa
dos Estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
O trabalho de pesquisa a campo inicia-se com uma viagem de 410 km, cuja
duração é de aproximadamente sete horas, em direção à região sul do Estado de
Mato Grosso do Sul, utilizando-se a BR-163 até o trevo do município de Fátima do
Sul, atravessando, ainda, o município de Deodápolis, BR-376, denominada
Rodovia Deodápolis-Ivinhema, partindo para a estrada MS-141 até a entrada do
Parque Estadual.
O trecho da estrada MS-141 que dá acesso ao Parque Estadual encontra-
se em precário estado de conservação, não sendo pavimentado e condicionado a
tráfego temporário, bem como não há qualquer tipo de sinalização, tornando-se
intransitável nos períodos de chuva. Nessas épocas, uma opção de acesso é o
transporte hidroviário, seguindo os diferentes portos que estão situados às
margens do rio Paraná.
30
Frisa-se que durante o acesso ao Parque Estadual, existem propriedades
rurais que, obrigatoriamente, são atravessadas pelos visitantes do local.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO
O Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema possui área total de 73.314
hectares e se encontra entre as coordenadas 230 000E UTM e 7470 000N UTM,
tendo como limites os rios Guiraí, lvinhema, Araçatuba, Curutuba e Baía ao Norte,
o rio Laranjaí ao Sul, o rio Paraná a Leste e diversas propriedades a Oeste.
A área do Parque está situada na bacia do rio Paraná, no sudeste do estado
de Mato Grosso do Sul, entre as micro-regiões de Iguatemi e Nova Andradina,
abrangendo os municípios de Naviraí, Jateí e Taquarussu.
O nome Parque das Várzeas do Ivinhema está relacionado ao ecossistema
local, caracterizado por uma planície alagada, conhecida por varjão, representada
por dois compartimentos geomorfológicos: a planície de inundação do Rio Paraná
e de seu tributário, o rio Ivinhema, com seus lagos e canais marginais e o baixo
terraço.
A região é caracterizada por uma paisagem rodeada de aguapés floridos e
outras plantas aquáticas (Foto 7), algumas de uso medicinal, como a erva-de-
bicho (Foto 8) que tem uma goma parecida com a da babosa e serve para
combater alergias e coceiras.
No local, durante a pesquisa, foram detectados várias ações antrópicas
prejudiciais ao ecossistema (quadro 2).
31
Quadro 02 - Listagem dos Impactos Evidentes (checklist) na Unidade de Conservação.
Impactos Evidência (1)
Nome do Lugar onde se observou
o impacto
Possíveis Atividades que
Originam o ImpactoErosão
X Estrada no limite Norte do parque
(ponto 18)
Falta de obras de contenção
Compactação do Solo X
Diversos pontos do parque
Pecuária Extensiva
Presença de espécies exóticas
X
Diversos pontos do parque
(especialmente, próximo às antigas
sedes das fazendas)
Desmatamento
Lixo espalhado nas trilhas e estradas
X
Diversos pontos do parque
Atividades domésticas, deixado
por turistas e caçadores
Mata de Galeria Ausente
X
Diversos pontos do parque
Desmatamento e Queimadas
Assoreamento
X
Algumas áreas drenadas
(principalmente, na área pertencente a
antiga Faz. Stª Adélia)
Escoamento laminar em áreas de pasto
Secagem de áreas de banhados
X
Diversos pontos do parque
Construção de drenos
Queimadas X Diversos pontos do parque (ex-sede da
Faz. Stª Maria)
Criação de pasto e para uso doméstico
Lixo no leito dos rios X
Ivinhema, canais de Araçatuba e Iputã e rio Baía
Resquício de material utilizado em
pesca Extração de madeira, raízes e plantas
X Fazenda Monte Santo
Comércio de Ginseng
Caça e pesca ilegal X Rio Ivinhema e toda área do
parque
Comércio clandestino e prática
esportiva Fonte: SEMA – IMAP 2003.
Na região interna do Parque constatou-se a existência de 15 pesqueiros
desativados e depredados, tendo em vista a desocupação da área após a
32
implantação legal do Parque, transformando, de forma negativa, a paisagem do
local e, conseqüentemente, degradando o ambiente do Parque.
Também foi verificada a existência de ilhas e lagos que ainda são explorados
pela pesca e caça predatória, cuja localização mais precisa destes em análise é
de 5 km após a sede do Parque, ainda no rio Ivinhema, rumo ao rio Paraná.
FOTO 4 - Pesqueiro localizado em área já desocupada.
Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
33
MAPA 1 - Localização do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-MS. Fonte: CESP, 2000-2003.
FOTO 5 - Visão panorâmica do rio Ivinhema. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
1 – Naviraí 2 – Jateí 3 – Novo Horizonte do Sul 4 - Taquarussu
34
FOTO 6 - Vegetação Aquática Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
FOTO 7 - Vegetação aquática, Erva-de-Bicho e Aguapé florido. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
Em meio às margens, ainda protegidas do assoreamento causado pelo
homem, verifica-se que em alguns trechos o barulho do motor não incomoda o
descanso das aves, como um tucano encontrado pela equipe pousado estático no
alto de uma árvore à beira do rio, esquentando-se com o sol da manhã. Durante o
35
percurso pode-se encontrar também com facilidade filhotes de bugio, espécie de
macaco, que ao contrário das aves, agita-se com a presença humana,
escondendo-se entre as árvores, como forma de auto-defesa.
A pesquisa a campo foi realizada no início de maio de 2003, pouco antes
da entrada do inverno, época em que a temperatura da água ao amanhecer entra
em choque com a do ambiente causando evaporação visível, tomando o leito do
rio com uma névoa. Nesse mesmo período constatou-se que as ondas formadas
pelo vento contribuíam para manter a sensação de frio, por meio da evaporação
excessiva. Em direção ao lado norte do Parque, a composição do solo que forma
os barrancos é de terra argilosa, o que não impede que os barrancos acabem
cedendo à força das águas, transformando-se em esculturas sem forma definida
(Foto 8).
FOTO 8 - Desbarrancamento do rio Ivinhema devido a falta de mata ciliar. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
36
No encontro dos rios Ivinhema e Paraná começa um novo trecho do
Parque em direção à região sul, abrangendo uma área de 25 quilômetros, situada
na margem direita do Rio Paraná.
Nesse trecho da descida do rio, não é difícil encontrar famílias de capivaras
esquentando-se ao sol, durante a manhã. Contudo, esses mamíferos dóceis, que
não se assustam mais com o barulho do motor dos barcos, tornam-se presas
fáceis para caçadores. Com facilidade podem ser encontrados, na região, animais
feridos e mortos pela ação humana e de animais predadores como a onça.
Durante a vistoria técnica foi encontrada uma capivara ferida,
aparentemente com arranhões provocados por predadores felinos, e outro animal
da mesma espécie morto, atingido com um tiro no olho direito e deixado no leito
do rio pelo predador. A capivara tinha sido abatida e o caçador nem mesmo
preocupou-se em levar sua caça, matando pelo simples prazer de tal ato. A presa
abatida serviria de alimento aos urubus (Foto 09).
FOTO 9 - Capivara morta por caçadores com tiro no olho. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
Constata-se que o homem ainda mata animais silvestres de forma
indiscriminada, demonstrando que não há rigor no cumprimento da legislação,
37
concebida por uma infra-estrutura ainda inadequada, sem fiscalização dos órgãos
competentes, que deveriam zelar pela preservação e conservação do ambiente
para as próximas gerações.
As universidades têm uma contribuição valiosa, desenvolvendo pesquisas
científicas para identificar os problemas da avifauna existente no Parque. A
FBDS, do Rio de Janeiro, está monitorando cinco onças que habitam o Parque,
através de coleiras com aparelhos eletrônicos rastreadores, como forma de
controlar presa e predador na cadeia alimentar do ecossistema. As visitas dos
técnicos da FBDS são realizadas a cada três meses e os resultados parciais da
coleta de dados são remetidos ao IMAPE/MS (Instituto de Meio Ambiente e
Pesquisa-MS) através de relatórios.
Após a indenização e desocupação dos pesqueiros o Parque conta apenas
com três moradores fixos: o guarda do Parque Arnaldo Fogaça e a esposa,
vivendo na sede do Parque, e no rio Paraná, a 20 quilômetros da sede, mora o
irmão de Arnaldo, o ex-caseiro Francisco Fogaça, conhecido por Sr. Chico. Ele
continuou na área desde o pedido de desocupação há dois anos, com
recomendações de não desmatar mais o local. Assim, sem ter para onde ir, o ex-
caseiro permaneceu no local, respeitando as regras impostas pela nova estrutura
política ambiental da área. O proprietário do pesqueiro, onde o Sr. Chico reside, já
recebeu a indenização pela desapropriação da área, como os demais ex-
proprietários de terra da região onde está situado o Parque.
Um dos problemas constatados durante a pesquisa, é que depois de 30
anos morando neste local, cuidando do pesqueiro, aos 62 anos o Sr. Chico teme
o desemprego e pede durante a entrevista para que possa ter oportunidade de
continuar morando no local, com objetivo de tornar-se mais um guarda do Parque
à beira do rio Paraná.
A sede do Parque localiza-se a 10 quilômetros de distância do ponto onde
o rio Ivinhema encontra-se com o rio Paraná. Nesse trecho, as árvores que
margeiam o rio se apresentam como uma vegetação compacta que chega até a
água, demonstrando que, aparentemente, as barrancas estão livres do
desmoronamento.
38
No período de estiagem, a profundidade do rio Ivinhema, no trecho que
circunda o Parque, varia entre 3 e 5 metros, entretanto, na época de chuvas, o
volume de água dobra, garantindo à região a formação de aproximadamente 100
lagoas. A Lagoa do Pintado é uma delas, considerada berçário natural para
reprodução dos peixes e de difícil acesso por meio de embarcações, devido ao
excesso de vegetação aquática que recobre a água.
Nesse trecho, a cor da água é mais escura que a do rio Ivinhema, por
causa dos depósitos de matéria orgânica, fonte da alimentação dos peixes.
Segundo o guarda do Parque, Sr. Arnaldo Fogaça, nessa lagoa existe a presença
de um predador originário dos rios da Amazônia, o Tucunaré, que veio parar
nessa região há pouco mais de 10 anos, trazido por piscicultores. Por causa das
vazantes, os peixes dessa espécie escaparam, povoando alguns trechos e lagoas
do Ivinhema.
A alteração do nível das águas do rio Ivinhema responsável pela formação
de ilhas está cada vez mais comprometida pela degradação ambiental que é
visível em toda a região do Parque.
A Colônia de Pesqueiros, situada a quatro quilômetros da sede do Parque,
é uma das áreas mais impactadas pela ação antrópica. O local foi desativado em
outubro de 2000, para garantir a preservação do Parque, contudo, é fácil
constatar a quantidade de cimento e tijolos que recobrem o barranco caindo no
rio, antes utilizado para facilitar o acesso dos barcos à colônia hoje depredada,
caracterizando crime ambiental, de acordo com a legislação vigente, Lei de
Crimes Ambientais ou Lei da Natureza – Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1.998.
Segundo informações do Sr. Arnaldo Fogaça, guarda do Parque, mesmo
com a realização de rondas freqüentes no local, nada impede que ocorram
saques e ações predadoras nos 45 pesqueiros desativados.
39
FOTO 10 - Ancoradouro de barcos em frente aos pesqueiros desativados às margens do rio Ivinhema, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.
Quanto mais se aproxima do estado do Paraná (região sul), verifica-se que
o terreno perde a característica argilosa, tornando-se arenoso. As margens do rio
Paraná alargam-se, sendo que em alguns pontos, mais de dois quilômetros
separam o Parque do Ivinhema do Estado do Paraná, onde podem ser
encontrados vários pescadores ou seus instrumentos, como, por exemplo, uma
garrafa de plástico sinalizando a colocação de anzóis para captura de peixes de
couro, comprovando a prática da pesca ilegal na região, bem como o acúmulo de
lixo deixado nas margens do rio, demarcando a presença constante e
desordenada do homem numa APA.
Através das abordagens, durante as entrevistas, constatou-se que a
maioria dos pescadores é proveniente do Estado do Paraná, que atravessa o rio e
entra ilegalmente na área de preservação do Parque, sob alegação de
desconhecimento de qualquer proibição de atividades extrativistas no local.
Em entrevista, o aposentado Odair Colombo afirmou que veio de Londrina-
PR e atravessou 320 quilômetros em busca de lazer. Em vistoria técnica ao
trecho, acompanhando a ronda do Sr. Arnaldo, constataram-se mais sinalizações
40
com garrafas plásticas nos galhos à margem do rio, deflagrando a presença do
“espinhal”, um fio de nylon cheio de ramificações de linha de pesca com anzóis
nas pontas, estirado de uma margem a outra. Foram recolhidos 36 anzóis, mais
que o dobro permitido pela legislação ambiental para a pesca. O uso do “espinhal”
é proibido no Estado de Mato Grosso do Sul e, portanto, não pode ser utilizado na
APA. O guarda do Parque, Arnaldo Fogaça, leva 20 minutos para recolher a linha
e limpar os anzóis. Em menos de dois quilômetros depois, é encontrado outro
“espinhal”, desta vez bem maior, comportando 45 anzóis.
Além disto, durante esse período, foi encontrado também um barco
ancorado com equipamentos de pesca. Os pescadores, quando questionados
sobre a sua presença em área de preservação ambiental, alegaram não ter
conhecimento da proibição da pesca na área do Parque.
No trecho final do Parque, local que deveria ser referência da preservação
ambiental, pode-se visualizar uma completa degradação: um pesqueiro
depredado está sendo consumido pelas águas do rio Paraná, ocorrendo
progressivo desmoronamento, pela falta de vegetação para conter a força das
águas. Suspenso na barranca, rumo ao leito do rio, um cano de esgoto demonstra
que muito lixo já foi depositado nas águas, sem contar a grande quantidade de
pisos e azulejos, restos da construção abandonada, que ainda contribuem para o
problema do assoreamento, resultando no acúmulo de toneladas de areia no
fundo do rio Paraná.
A falta de compromisso entre o homem e a natureza pode ser mostrada de
forma ampla e simples pelo trabalho da mídia, que parece precisar sempre de
uma catástrofe para expor qualquer local aos olhos da apreciação e do juízo
equivocado pelo desconhecimento da realidade. Uma avaliação que costuma ser
limitada através da descrição momentânea dos fatos, deixando de perceber a
extensão e a gravidade do dano. A falta de conscientização é cíclica e ordenada
pela própria ignorância e descaso dos meios de comunicação, que não exercem a
função ambiental que se espera para a preservação do que ainda existe.
Verifica-se que as principais atividades econômicas desenvolvidas na área
estão relacionadas à produção agropecuária, tanto em número de
41
estabelecimentos, quanto em arrecadação de ICMS. Em termos de produção,
merece destaque a pecuária bovina de corte, nos municípios de Jateí e Naviraí,
havendo em poucas e pequenas áreas do entorno da Unidade, destinadas ao
plantio por arrendatários, culturas temporárias como o milho, o trigo e a soja. No
município de Novo Horizonte do Sul, destaca-se a pecuária leiteira, atividade
originária de um antigo assentamento rural onde predominam pequenas
propriedades (0 a 10 hectares) (Mapa2).
Durante as pesquisas pode-se constatar que ainda existem na área do
Parque, aproximadamente mil cabeças de gado, distribuídas em fazendas
localizadas no município de Taquarussu entre os estados de Mato grosso do Sul
e Paraná, que constituem 5% da área ainda não indenizada pela CESP,
compromisso assumido desde a criação do Parque.
Na área de entorno o plantio de soja sem a consciência ambiental
adequada gera detritos tóxicos prontos a contaminar as águas e os animais da
região.
A falta de licenciamento ambiental para o plantio assim como a reforma de
pasto através da utilização de queimadas e ainda a extração do ginseng para
exportação sem mencionar a caça e pesca predatórias, ameaçam a conservação
do Parque.
Além dessas atividades, a pesca se desenvolve na área de influência do rio
Paraná, conforme dispõe a CESP (2000-2003). Ainda de acordo com a CESP, a
atividade econômica e produtiva está vinculada à pecuária, que predomina no
entorno direto da Unidade tanto em área quanto em produção, da criação ao
abate de bovinos. A pecuária leiteira comercial ocorre em pequena escala, assim
como o cultivo de produtos temporários, como o trigo, a soja e o milho.
Os Relatórios Técnicos da CESP elaborados a partir de 2000, também
informam que a pesca artesanal nos rios Ivinhema e Paraná se constitui em
importante alternativa para o sustento da população ribeirinha, especialmente
daquela residente na comunidade de Porto Caiuá e nas barrancas próximas ao rio
Paraná (trecho sul do Parque).
42
É importante destacar que a atividade de pesca vem passando por uma
forte crise, devido às restrições implementadas pelos órgãos ambientais e pela
redução na quantidade de peixes que, para alguns, é reflexo direto das barragens
construídas ao norte da Unidade.
43
MAPA 02 - Croqui da carta de padrões de uso do solo da área de estudo do Parque estadual das várzeas do rio Ivinhema. Fonte: Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, 2003.
Hidrograficamente o Parque das Várzeas do Rio Ivinhema localiza-se no
trecho fluvial de baixo curso do rio Ivinhema e, como o próprio nome o diz, em
ambiente de várzea desta unidade hidrográfica. A maior parte dos limites desta
44
unidade de conservação é constituída por drenagens. Ao norte tem como limite o
afluente da margem direita denominado Guiraí, o trecho do rio Ivinhema
compreendido entre a foz do rio Guiraí e o canal de Araçatuba, o canal de
Araçatuba, o rio Curutuba e o baixo curso do Rio Baía. A leste tem como limite as
barrancas do Rio Paraná. Já a oeste verifica-se que seus limites estão associados
a dois critérios distintos: na área referente ao limite centro-oeste a noroeste este
se associa ao limite aproximado das áreas com influência fluvio-lacustre,
enquanto, a parte sudoeste apresenta uma linha seca nas coordenadas 84º 10’
39” e 09º 23’ 11” e daí até o próprio rio Ivinhema até a sua foz mais ao sul. Ao Sul
tem-se a foz principal do rio Ivinhema (Mapa 03).
45
MAPA 03 - Limite do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema – MS e drenagens principais. Fonte: Cartografia CESP 2000
O canal de Araçatuba, o Rio Curutuba, o Rio Baía e o Rio Ivinhema com os
seus afluentes, o Rio Guiraí, Córrego Fumaça, Rio Curupaí, Córrego Nhundaí,
conformam os principais canais ativos da rede de drenagem na área do Parque. É
interessante apontar que a maior parte desses afluentes do rio Ivinhema
apresenta poucos tributários, predominando os de primeira ordem. O rio Laranjaí,
Rio Guiraí
Rio Ivinhema Rio Baía
Rio Paraná
Rio Ivinhema
46
também afluente do rio Ivinhema, em trecho de baixo curso tem apenas a sua foz
como parte da unidade de conservação. São observadas, ainda, a presença de
pequenos canais de drenagem com hierarquia de primeira ordem que
desembocam e se espraiam nas áreas de banhados e várzeas. Em escala
regional, o rio Ivinhema, bem como os seus maiores afluentes, podem ser
classificados como rios conseqüentes, os quais têm os seus cursos determinados
pela declividade geral do terreno, normalmente coincidindo com o mergulho das
camadas. Esses rios formam cursos retilíneos e paralelos fluindo rumo às partes
baixas. (Suguio e Bigarella, 1990).
Além dos canais acima citados, as inúmeras lagoas e banhados configuram
os demais corpos d’água que completam a rede de drenagem na área dessa
Unidade de Conservação. São observadas ainda na região áreas com grande
concentração de pequenas depressões secas ou com pequena lâmina d’água,
normalmente com vegetação denominada dales. Por fim uma outra feição é ainda
associada ao ambiente de várzea e zona de transição várzea terraços, vereda.
(CESP)
4.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS
O Estado do Mato Grosso do Sul encontra-se na confluência dos principais
sistemas atmosféricos da América do Sul, possuindo mais de um tipo de regime
pluviométrico: área com regime do tipo “Brasil Central” e outras com regime do
tipo “Brasil Meridional”.
Sob o ponto de vista da dinâmica atmosférica, em seus diferentes ritmos de
sucessão dos tipos de tempo com base nos “tipos de fluxo de invasão polar”,
propostos por Monteiro e Tarifa (apud Zavantini, 1992), a análise climatológica
apontou que na Bacia do Rio Paraná (Alto Curso), as crescentes chuvas de
outono e primavera no setor sul (Guaíra) ratificam a tendência verificada a nível
anual, assim como o equilíbrio nos totais de outono-inverno-primavera de Três
Lagoas-MS. Já o decréscimo pluvial de inverno-primavera em Paranaíba-MS,
valida a tendência negativa anual constatada no setor norte do compartimento.
Essa tendência envolve também a área central da Bacia do Alto Paraná,
47
conforme demonstram os dados sazonais dos municípios de Água Clara e de
Dourados e os dados de inverno e primavera em lvinhema.
No extremo sul do Estado, a freqüência de participação das massas polares
e frentes atinge valores que variam entre 44% e 69%. Como a soma da
freqüência das correntes do leste (20% a 30%) e do oeste (10% a 20%) é inferior
àqueles limites, pode-se afirmar que esta porção sul-mato-grossense está sob o
controle das correntes extratropicais, com passagens do eixo principal chegando
a 50 vezes e domínio de tempo entre 70 e 90 dias. (CESP)
Os índices pluviométricos no vale do rio lvinhema giram em torno dos 1.300 a
1.500 milímetros, com fortes variações de um ano para outro. As chuvas são no
período de primavera-verão e no período outono-inverno os índices ficam ao
redor dos 400/500 mm. Este comportamento reflete-se no regime de cheias dos
corpos d’água que delineiam a rede de drenagem na área da Unidade de
Conservação em estudo.
4.3 O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-
MS COMO UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
O Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema é considerado, segundo a
legislação ambiental, uma unidade de conservação de uso sustentável e, assim,
dentro desta classificação uma APA.
A APA é uma área dotada de características biológicas, ecológicas e
paisagísticas que exigem proteção especial, com restrições de ocupação e uso
dos recursos naturais (Mapa 04).
De acordo com a Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000, que define conceitos
normativos aplicáveis, unidade de conservação é “espaço territorial e seus
recursos ambientais incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção”.
48
Na forma do artigo 14 da Lei nº 9.985/2000, constitui o grupo das unidades
de uso sustentável, as seguintes categorias de unidade de conservação: a) Área
de Proteção Ambiental; b) Área de Relevante Interesse Ecológico; c) Floresta
Nacional; d) Reserva Extrativista; e) Reserva de Fauna; f) Reserva de
Desenvolvimento Sustentável; e g) Reserva Particular do Patrimônio Natural.
As áreas de proteção ambiental devem ser criadas por decreto, que,
necessariamente, conterá: sua denominação, limites geográficos, principais
objetivos e proibições e restrições de uso de recursos ambientais. Não há
proibição de habitação, residência e atividades produtivas nas APAS, contudo,
estas devem ser orientadas e supervisionadas pela entidade ambiental
encarregada de assegurar o atendimento das finalidades da legislação
instituidora. A única exigência que é feita pelo Poder Público é que as atividades
sejam compatíveis com o Plano de Manejo e que sejam executadas de maneira
sustentável.
Nas áreas de proteção ambiental, as seguintes atividades estão limitadas
ou proibidas: a) A implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente
poluidoras, capazes de afetar mananciais de água; b) A realização de obras de
terraplanagem e abertura de canais, quando essas iniciativas importarem em
sensível alteração das condições ecológicas locais; c) O exercício de atividades
capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou um acentuado
assoreamento das coleções hídricas; d) O exercício de atividades que ameacem
extinguir na área protegida as espécies raras da biota regional, ou seja, o
conjunto de componentes vivos de um ecossistema.3
3 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Lúmen Júris, Rio de Janeiro – RJ, 2002. p. 422-439. 6ª ed.
49
Nova Andradina Iguatemi
Naviraí Jateí
Itaquiraí
Eldorado
Mundo Novo
Japorã
Iguatemi
Tacuru
Sete Quedas
Paranhos
Coronel Sapucaia
Novo Hor. do Sul Taquarussu
Bataiporã
Anaurilândia
Bataguassu Nova Andradina
Angélica Deodápolis
Glória dos Dourados
Ivinhema
Localização aproximada da UC
MAPA 04 - Detalhamento da área de influência da Unidade de Conservação no contexto regional. Fonte: CESP, 2000-2003.
O objetivo é estabelecer uma convivência mais harmônica entre a
conservação desses recursos e o desenvolvimento regional integrado, através da
proteção da diversidade biológica, disciplinando o processo de ocupação para
que seja assegurada a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
As atividades turísticas e recreativas, bem como outras formas de
ocupação de área são admitidas, desde que se harmonizem com os objetivos
específicos de cada APA e respeitem os limites constitucionais, podendo ser
estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada
localizada nesta categoria (Antunes, 2000). Essa categoria compreende áreas de
propriedade privada sob supervisão governamental, podendo incluir trechos de
domínio público.
A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo
órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos
órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente,
conforme se dispuser no regulamento desta Lei.
50
Todas as áreas naturais protegidas oficialmente são chamadas de
Unidades de Conservação. No decorrer desta pesquisa é possível verificar que as
UCs são divididas em dois grupos: Unidades de Conservação de Proteção
Integral ou de Uso Indireto Sustentável e Unidades de Conservação de Uso
Sustentável ou Uso Direto Sustentável, conforme prevê o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, com características peculiares a cada uma, possuindo
ainda o total de 12 categorias que foram descritas minuciosamente no
desenvolvimento do trabalho (Brasil, 2002).
Os recursos naturais e culturais devem, portanto, contar com o necessário
manejo ambiental para assegurar sua contribuição ao desenvolvimento que,
considerando a adoção de política de criação de áreas silvestres, pode ser
unificada através dos seguintes objetivos: 1) manter a diversidade natural; 2)
conservar os recursos genéticos; 3) proporcionar educação ambiental; 4)
conservar os recursos hídricos; 5) proteger investimentos; 6) manter e produzir
fauna silvestre; 7) proporcionar recreação; 8) manejar os recursos madeireiros; 9)
conservar belezas cênicas; 10) proteger sítios históricos e culturais; 11) assegurar
qualidade ambiental; 12) proporcionar flexibilidade de tecnologia; 13) assegurar o
crescimento econômico regional (Antunes, 2000).
Acordos e compromissos ambientais
As conferências internacionais sobre temas ambientais reúnem governos, e
com freqüência, seus máximos representantes em busca de acordos que reflitam
um compromisso com o desenvolvimento sustentável. Esse é o propósito da
Cúpula de Johannesburgo, mas também foi essencial em reuniões anteriores. A
Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, na África do Sul,
convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem seus antecedentes
na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo em 1972, e na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992.
Em 1972, houve uma importante Declaração de Princípios por parte dos
governos que participaram do encontro. Essa reunião colocou a questão na
agenda mundial e detalhou a responsabilidade dos seres humanos na
51
conservação do meio ambiente. Há 30 anos foi algo inovador. Ao concluir essa
primeira Conferência também foi adotado um plano de ação no qual se traçavam,
entre outras, metas de avaliação do impacto ambiental e de educação sobre a
importância da conservação. Duas décadas depois, a Conferência do Rio,
também conhecida como Cúpula da Terra, introduziu o tema do desenvolvimento
sustentável como elemento central da estratégia para conservar o planeta.
No Rio de Janeiro ficou evidenciada a dificuldade em negociarem-se
acordos relacionados com o ambiente entre países com interesses e prioridades
estratégicas diversas. Mesmo assim, ao término dessa reunião - da qual
participaram mais de uma centena de chefes de Estado e de governo e delegados
de 170 países - foram subscritos cinco documentos, considerados um marco. A
Cúpula da Terra produziu uma Declaração do Rio, que em seu primeiro princípio
dizia: "Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas
com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva
em harmonia com a natureza".
Também gerou um Convênio sobre a Diversidade Biológica ou
Biodiversidade, uma Declaração de Princípios sobre o Manejo, a Conservação e o
Desenvolvimento Sustentável das Florestas e uma Convenção Marco sobre a
Alteração do Clima, cujos textos foram objeto de intensas negociações. Porém, o
documento mais importante foi a Agenda 21 ou Programa 21, um plano de ação
para atingir o desenvolvimento sustentável no século XXI. O documento explica
claramente os principais desafios que implica essa meta e traça pautas de ação
para atingi-la. Um dos objetivos da Conferência de Johannesburgo é avaliar o
cumprimento das ações previstas pela Agenda 21. Entretanto, durante meses
foram publicados balanços que revelam o não-cumprimento dessas metas por
parte da comunidade internacional.
Há 30 anos, a Organização das Nações Unidas convocou a primeira
conferência mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Em 2002, às
vésperas de uma nova Cúpula sobre esse tema, na África do Sul, o desafio é
estabelecer uma estratégia de ação que permita salvar o planeta. A primeira
reunião convocada pela ONU foi a Conferência as Nações Unidas sobre Meio
Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em junho de 1972.
52
Nessa época, este tema ainda não fazia parte da agenda internacional nem
era uma preocupação dos governos, que em sua maioria careciam de uma
institucionalidade para o setor. Na declaração final de Estocolmo ressaltava-se a
responsabilidade dos humanos na conservação de seu meio ambiente. Foi o
início de um debate que ainda não acabou. Como conseqüência da Conferência
de 1972 foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Passaram-se 20 anos antes do próximo encontro. Em 1992, foi realizada a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
conhecida também como Cúpula da Terra, na cidade do Rio de Janeiro. Esta foi a
reunião internacional de mais alto nível até então: participaram 172 países e um
número inédito de 107 chefes de Estado e de governo, junto a dezenas de
milhares de delegados e representantes da sociedade civil. Eles assistiram à
assinatura de uma série de compromissos, sendo o mais importante deles a
Agenda 21.
De fato, uma contribuição fundamental desta Cúpula da Terra foi a difusão
do conceito de desenvolvimento sustentável, entendido como aquele que permite
atender às necessidades atuais sem comprometer as capacidades que terão as
futuras gerações para satisfazer suas próprias necessidades. A Conferência do
Rio, precedida da Cúpula da Infância, impulsionou o desenvolvimento de uma
série de conferências mundiais patrocinadas pela ONU. E passaram-se outros
dez anos antes que o meio ambiente voltasse a ser objeto de uma convocação de
alto nível.
Entre 26 de agosto e 4 de setembro de 2002, a cidade sul-africana de
Johannesburgo foi a sede da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável. O encontro também foi chamado de Cúpula Rio+10, pois aconteceu
uma década depois da anterior, e um de seus objetivos foi avaliar o cumprimento
dos compromissos assumidos na época. Também existia o desafio de lançar uma
nova estratégia que permitisse avançar realmente para um desenvolvimento mais
sustentável. Seria possível alcançar esta meta? Esta foi a grande pergunta que
pairou sobre a Rio+10.
Como forma mais efetiva da realização de mudanças, foi criada a Lei nº
53
9.985, de 18 de julho de 2000, que regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e
VII da Constituição Federal, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências.
No contexto em estudo, o Parque surge com amparo legal na Lei de
Regulamentação do SNUC, prevista no artigo 11, parágrafo 4º, que estabelece:
”As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão
denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal”.
A Lei do SNUC, apesar de ser uma grande estratégia na preservação e
conservação do ambiente, enfrenta vários problemas, como, por exemplo, parte
das áreas de proteção integral ser constituída de unidades com menos de 100 mil
hectares, nas quais se torna mais difícil manter populações geneticamente
viáveis, quando se trata de espécies de grande porte que necessitam de grandes
territórios e têm baixa densidade natural.
Ademais, um dos principais problemas enfrentados nas Unidades de
Conservação, principalmente nas de uso sustentável indireto, é o pequeno
número de funcionários do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis) por área. Há outros fatores limitantes, como a
inacessibilidade às áreas, falta de meios de transporte e de equipamentos.
As principais prioridades estabelecidas pelo órgão na área de Unidades de
Conservação para os próximos anos são: a) fortalecimento institucional das
organizações públicas e privadas responsáveis pelas áreas protegidas; b)
avançar com monitoramento da diversidade biológica em Unidades de
Conservação; c) criação de novas áreas e implantação efetiva das já criadas; d)
ampliação do número de Unidades de Conservação protegidas sob a forma de
mosaicos; e) ampliação das terras de proteção no entorno das Unidades de
Conservação; f) resolução dos problemas fundiários nas Unidades de
Conservação de uso indireto; g) inserção das Unidades de Conservação nos
planos de desenvolvimento regionais, estaduais e municipais; h) aumento e
capacitação do quadro de funcionários; i) incentivo à educação ambiental; j)
capacitação dos moradores das RESEXs (reservas extrativistas) para exploração
sustentável dos recursos, autofiscalização e elaboração de planos de
54
desenvolvimento; l) abertura de concessão privada para exploração sustentável
de FLONAs (florestas nacionais); m) Desenvolvimento regional (para geração de
emprego e renda); n) desenvolvimento do ecoturismo; o) ampliação dos recursos
financeiros para as áreas de conservação (Antunes, 2000).
Por fim, pode-se afirmar que a maior evolução conceitual nos últimos anos
foi a aproximação com a sociedade em geral, considerando a participação das
comunidades e lideranças nos âmbitos federal, estaduais e municipais, além dos
diferentes atores envolvidos com as unidades, em todas as etapas do
planejamento, por meio de reuniões e workshops participativos para definição e
implementação de ações que, freqüentemente, têm sido executadas com
parcerias entre entidades não-governamentais e governo.
55
4.4. QUEIMADAS
Da época que iniciaram os estudos, a área do Parque sofreu cinco grandes
incêndios que foram periciados pelo Comando Geral do Corpo de Bombeiros de
Mato Grosso do Sul. (Laudos do Instituto do Meio Ambiente de 17/03/2003,
30/10/2003, 22/12/2003, 19/02/2004 e 11/03/2004, disponíveis nos arquivos da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA).
Em 22 de agosto de 2002 uma equipe de bombeiros e peritos da SEMA
deslocou-se de Campo Grande com destino ao Parque Estadual das Várzeas do
rio Ivinhema, com a finalidade de investigar o incêndio florestal que se propagou
em direção à Fazenda São José do Pica Fumo, com uma área queimada de
aproximadamente seis mil hectares e uma frente de fogo de aproximadamente 14
quilômetros, e outra em direção à sede do Parque, no Porto Peroba, uma área
atingida de aproximadamente 14 mil hectares e uma frente de fogo de 16
quilômetros. Segundo o relatório do Corpo de Bombeiros, o fogo iniciou numa
região com ausência de vegetação, causado pela queda de um raio.
56
.
FOTO 11 - Mobilização dos bombeiros para inicio de combate à incêndio. Fonte: SEMA 2003 No dia 19 de setembro de 2003 o fogo consumiu sete mil hectares do
Parque, segundo relatório do Corpo de Bombeiros. Devido à distância e ausência
de guarnição nas cidades vizinhas, as equipes responsáveis por conter as
chamas deslocaram-se de Campo Grande e Dourados. De acordo com os peritos,
o fogo iniciou nas proximidades da sede da Fazenda Nossa Senhora dos
Prazeres, formando várias frentes de fogo. No local, foram encontrados sinais de
atividade antrópica, onde nitidamente houve uma retirada de vegetação arbustiva
com utilização de ferramentas agrícolas (facão ou foice), gerando um indicativo de
queima para limpeza de área, onde se concluiu que o incêndio teve causa
humana intencional.
Em novembro do mesmo ano, nova perícia do Corpo de Bombeiros foi
requisitada pela SEMA para diagnosticar a causa de outra queimada no Parque,
desta vez destruindo 1.848 hectares, com valor perimetral de 16 quilômetros,
conforme relatório emitido à SEMA. O incêndio teve início no dia 03 de novembro
e só foi extinto no dia 06 com auxílio de uma equipe do Corpo de Bombeiros da
cidade de Dourados. A zona de origem do incêndio florestal foi identificada
57
próximo à estrada que dá acesso à sede do Parque, na Fazenda Porto Peroba,
provocado por descarga elétrica enquanto se realizava um teste na rede de alta
tensão. No local, os peritos observaram que não há construção de aceiros, torres
de observação, brigada e material de combate a incêndio florestal.
FOTO 12 - Mobilização para construção de aceiros. Fonte: SEMA 2003 O quarto incêndio ocorreu em 27 de janeiro de 2004 no interior do Parque,
em direção à lagoa Vista Alegre, descendo o rio Paraná em direção ao porto
Caiuá, a 15 quilômetros da sede do Parque. No local os peritos constataram a
presença dos seguintes animais: rastro de antas, capivaras, onças, veados,
concluindo através de relatos que grande quantidade de animais correu para as
margens do rio Ivinhema para fugir das chamas. Como impacto ambiental
ocasionado pelo incêndio florestal, houve morte de animais, destruição de ninhos
de aves e vegetação. Cerca de 4.901,49 hectares da ilha Ivinhema foram
queimados, ou seja, mais de 70% da área total.
De acordo com o relatório, houve ação antrópica no local, como queimadas
58
para extração de ginseng, coleta de iscas nas lagoas, bem como extração de mel
de abelhas. Os peritos concluíram diante da existência de diversos focos de
incêndio que o material combustível consumido só poderia entrar em combustão
através do contato direto de chama ou brasa, caracterizando incêndio intencional.
Nesta ocasião, foram apreendidas quatro toneladas de ginseng em estado bruto,
retiradas clandestinamente da ilha Ivinhema, localizada na lagoa Vista Alegre. De
acordo com cálculos das polícias Militar e Ambiental de Mundo Novo e Dourados,
a comercialização ilegal do ginseng junto ao mercado japonês representaria um
lucro de 450 mil reais aos atravessadores.
Parte da raiz apreendida foi replantada em Naviraí sob a supervisão da
bióloga Nelci Aparecida Abrão, para evitar o tráfico e o desperdício da planta
medicinal, que é utilizada na fabricação de remédios e indústria de cosméticos.
Em 7 de fevereiro de 2004, o incêndio iniciou na área da Fazenda Entre
Rios, local que corresponde aos 5% da área do Parque ainda não indenizada pela
CESP. A área queimada é superior a 1.500 hectares, e segundo os peritos o fogo
foi intencional, visando queima para limpeza de pastagem, já que existe no local
grande quantidade de gado.
59
5. PLANO DE MANEJO E PROPOSTAS PARA MELHORIAS NO PARQUE
A Importância do Plano de Manejo
Os programas de manejo indicados para uma Unidade de Conservação
englobam atividades afins que têm por objetivo a racionalização das ações para o
adequado funcionamento desta unidade conforme seu enquadramento nas
definições estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(unidades de uso direto ou indireto).
A partir do conhecimento que se tem da Unidade de Conservação é
estabelecida a abrangência dos Programas de Manejo em cada uma das fases de
implementação, baseando-se nos dados que se encontram disponíveis sobre o
Parque e naqueles levantados pelas visitas de campo. A estratégia adotada
visará sugerir programas e projetos voltados a iniciar ações que busquem:
- minimizar os impactos decorrentes das atividades até então desenvolvidas;
- integrar a Unidade de Conservação com as populações vizinhas;
- fortalecer a proteção da mesma e ampliar o conhecimento sobre a Unidade.
Desta forma, o IBAMA (1996) define cinco grupos de programas de manejo
para Unidades de Conservação de Uso Indireto. São eles: Programa de
Conhecimento, Programa de Uso Público, Programa de Integração com a Área de
60
Influência, Programa de Manejo do Meio Ambiente e Programa de
Operacionalização.
Por sua vez os programas estão subdivididos em sub-programas, que
contêm, cada um deles, os objetivos respectivos, atividades previstas, etapas de
implementação, setores e instituições envolvidas.
Sugestão de Programas e Projetos de Manejo
A definição das sugestões de programas de manejo para o Parque
Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema pautou-se na fundamentação de que a
preservação da biodiversidade deve ser considerada como um conceito
integrador na preservação da natureza, ou seja, “o conhecimento, a análise e
avaliação do grau da biodiversidade surge da avaliação integrada dos
componentes abióticos e bióticos perpassando pela história de ocupação da área,
através dos aspectos de uso do solo e da sóciodiversidade existente. Reconhece-
se que a preservação da natureza não é apenas uma questão de caráter de
preservação natural em si, mas também de ordem econômica, social e
política”.(1º Relatório de Andamento, 2000).
Considerando o exposto, as sugestões propostas nesta etapa de trabalho,
enquadram-se, segundo o IBAMA (1996), em três dos cinco grupos de programas
definidos para unidades de conservação de uso indireto4. Sendo eles: Programa
de Conhecimento, Programa de Integração com a área de influência e Programa
de Operacionalização:
Programa de Conhecimento
4 Os programas referentes ao manejo do meio ambiente que visam a proteção dos recursos naturais englobados pela Unidade e também dos recursos culturais, quando couber e que possuem como maior objetivo tentar garantir a evolução natural dos ecossistemas ou suas amostras, habitats, biótipos e biocenoses e a manutenção da biodiversidade, e os programas de uso público serão indicados no final da 3ª fase do projeto tendo em vista a necessidade de um maior aprofundamento dos estudos de caracterização da unidade que serão realizados na 2ª fase.
61
Este programa tem por objetivo principal proporcionar subsídios mais
detalhados para a proteção e o manejo ambiental. Relaciona-se aos estudos,
pesquisas científicas e ao monitoramento ambiental a serem desenvolvidos na
Unidade de Conservação, que subsidiem preferencialmente o manejo. Suas
atividades e normas devem orientar as áreas temáticas das investigações
científicas e os pesquisadores, visando obter os conhecimentos necessários ao
melhor manejo da unidade. Composto do seguinte sub-programa:
- Identificar e cadastrar os grupos de pesquisas e instituições que já
executam e que pretendem executar estudos científicos na Unidade de
Conservação; este cadastro deverá seguir as orientações sugeridas pelo
modelo de planilha para cadastramento e acompanhamento de projetos de
pesquisas constante;
- Estudo da Evolução Ambiental do Quaternário na Região – em parceria
com universidades, desenvolver pesquisa que busque o aprofundamento
dos conhecimentos geomorfológicos dos terraços fluviais ao longo dos
perfis existentes nos rios Ivinhema, Guiraí, Curutuba e Paraná, dos
ambientes de várzea e lagoas;
- Realizar levantamentos sistemáticos das espécies de fauna e flora; indica-
se como área para este tipo de levantamento alguns remanescentes
florestais;
- Caracterização da ictiofauna dos principais rios do Parque - estudos nesta
linha de pesquisa vêm sendo desenvolvidos pelo Núcleo de Pesquisa em
Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura da Universidade Estadual de Maringá
(NUPELIA-UEM) ao longo dos rios Ivinhema e Paraná, o que facilitaria a
realização de um convênio técnico entre a SEMA e a UEM;
- Estudos acerca das características meteorológicas da região; conforme
orientação descrita no Encarte Diagnóstico Expedido do Parque, além do
desenvolvimento de pesquisas por universidades e outras instituições faz-se
necessário orientar o responsável pela administração do Parque sobre a
importância do acompanhamento do regime de chuvas;
- Implementação de varetas medidoras ao longo dos rios Ivinhema, Curupaí,
Fumaça e Guiraí e na Lagoa Vista Alegre que viabilizem a elaboração de
estudos sobre a cota de variação da vazão;
62
- Implementação de estações de qualidade de água nas drenagens da
Unidade de Conservação; estas estações devem ser instaladas nos pontos
de entrada destes rios no Parque e na foz dos mesmos;
- Estudos de recuperação de áreas degradadas através de propostas de
regeneração (enriquecimento de espécies) e do acompanhamento do
processo de recuperação natural nas áreas de várzeas drenadas (áreas
amostrais indicadas referem-se àquelas próximas a Sede do Parque e a
Fazenda Santa Adélia);
Programa de Integração com a Área de Influência
Consiste no desenvolvimento de ações e atitudes que visem proteger a
Unidade de Conservação dos impactos ambientais ocorridos em sua área de
influência. Para execução deste Programa, faz-se necessário a integração com a
população envolvendo nas ações os dirigentes locais, as comunidades civis
organizadas, as comunidades tradicionais e moradores das circunvizinhanças,
através de ações propostas para reduzir ou amortizar os impactos sobre a
Unidade de Conservação. É extremamente importante que a população entenda e
defenda a Unidade de Conservação, obtendo-se densidade política para sua
efetiva implantação e manejo. É composto dos seguintes sub-programas:
Sub-programa de Educação Ambiental
63
Visa criar e/ou incrementar atitudes de respeito e proteção aos recursos
naturais e culturais da Unidade de Conservação e a área de influência. Seu
objetivo maior é integrar a Unidade de Conservação no contexto educacional da
região, através do desenvolvimento de ações que visem a conscientização para a
causa ambiental. Suas atividades e normas tratam do desenvolvimento da
consciência crítica sobre a problemática ambiental, levando ao desenvolvimento
de atitudes que auxiliem na conservação dos recursos naturais. Estas atividades
e normas detalharão tais atitudes, assim como os meios que serão utilizados para
conscientizar o público em relação aos recursos naturais, de modo geral, e à
Unidade de Conservação, em particular.
As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:
- Realizar exposições e palestras nas escolas e câmaras de vereadores dos
municípios que compõem a área de influência da Unidade numa perspectiva
de fazer com que a população tenha consciência da existência do Parque, dos
objetivos para qual foi criado e de sua importância ambiental para a região;
- Elaborar e distribuir folders e panfletos contendo informações e orientações
gerais sobre o Parque;
- Preparar arquivo de slides e filmes para exibições e divulgação da UC;
Sub-programa de Incentivo a Alternativas de Desenvolvimento
64
O objetivo é levar às populações vizinhas conhecimento sobre a utilização
sustentada dos recursos, principalmente em relação às áreas que tenham relação
direta com a Unidade, tendo em vista a diminuição de impactos da utilização
direta dos recursos naturais ou atividades agropecuárias, incentivando a adoção
de técnicas mais sustentáveis e alternativas de desenvolvimento. Este programa
será desenvolvido através de parcerias, atuando a SEMA apenas como
propulsora.
As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:
- Procurar orientação acerca de programas que vêm sendo implementados
pelos órgãos responsáveis pelo desenvolvimento rural: federais, estaduais e
municipais (exemplo: EMATER, EMBRAPA, IDATERRA, etc) que podem ser
aplicados nas fazendas que fazem limite com a Unidade de Conservação;
- Promover palestras expositivas para os proprietários das fazendas limítrofes
ao Parque sobre experiências de outras áreas onde propriedades particulares
obtiveram beneficiamento ao se transformarem em Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (RPPNs);
Programa de Operacionalização
Este programa visa garantir a funcionalidade da Unidade de Conservação,
fornecendo a estrutura necessária para o desenvolvimento dos outros programas.
É composto dos seguintes sub-programas:
Sub-programa de Regularização Fundiária
Tem por objetivo o conhecimento da situação fundiária da Unidade de
Conservação e definição da estratégia para se ter a posse da área de forma
gradativa e priorizada.
65
Este sub-programa vêm sendo implementado pela SEMA e pelo
IDATERRA (Instituto de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural).
É importante ressaltar, porém, o caráter emergencial desta ação tendo em
vista a observação em campo de conflitos entre os funcionários da Unidade e os
antigos proprietários no que se refere a retirada de material e desocupação das
áreas.
Sub-programa de Administração e Manutenção
Objetiva garantir o funcionamento da Unidade de Conservação. Suas
atividades e normas relacionam-se a organização, ao controle, à manutenção da
área, e ainda àquelas relacionadas à monitoria da Unidade. Neste sub-programa
deverão ser tratados os recursos humanos necessários e a forma como vão ser
obtidos e capacitados, bem como estabelecido um programa de manutenção de
infra-estrutura e equipamento.
As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:
- Implementar o sistema de coleta seletiva de lixo doméstico na sede da UC,
liderado pelo administrador do Parque, através de orientação de como o lixo
deve ser coletado e armazenado, com escoamento deste realizado em 15 dias
a contar da data da coleta; deve-se estabelecer um acordo entre o município
responsável pela coleta de lixo da área para escoamento do mesmo;
- Estabelecer postos e sistemas de vigilância;
- Aumentar o contingente populacional responsável pela segurança do parque;
especialmente em relação a vigilância ao longo do rio Ivinhema, haja visto que
na última campanha de campo foi verificado um aumento considerável de
pesca “de espera” em diversos pontos do rio.
- Estabelecer programa de manutenção das estradas de acesso ao Parque;
especialmente, o trecho em que a MS – 141 é cortada pelo córrego Fumaça.
Sub-programa de Infra-estrutura e Equipamentos
66
Tem por objetivo garantir a instalação da infra-estrutura adequada ao
atendimento das atividades previstas nos outros programas. Deverá prever
atividades relacionadas à reforma e construção de estruturas físicas prioritárias,
bem como aquisição e recuperação do material e equipamento permanentes,
necessários para o funcionamento da unidade de conservação.
As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:
- Equipar a sede da Unidade com materiais de combate a incêndio;
- Colocação de placas em diversos pontos do limite do Parque, nas vias de
acesso e na zona de amortecimento, informando sobre a UC numa
perspectiva de educação ambiental;
- Estabelecer um sistema de circulação na Unidade (priorizando a manutenção
das estradas principais que ligam as sedes das antigas fazendas);
- Seleção de antigas sedes de fazendas para instalação de sub-sedes do
Parque, a citar como exemplo, a antiga Fazenda Santa Catarina, a sede da
antiga fazenda Santa Maria, a antiga sede da fazenda Monte Claros e da
Fazenda Monte Santo (ambas com rede elétrica);
- Equipar a Unidade com mais dois veículos tracionados visando otimizar a
segurança;
- Reativação da ponte que liga a antiga Fazenda Peroba à Fazenda Vaca
Branca, buscando facilitar a fiscalização da porção Sul do Parque. (CESP)
67
6.RESULTADOS
Até o mês de maio de 2004 foram entregues dez relatórios à Secretaria de
Meio Ambiente do estado de Mato Grosso do Sul para a elaboração do “Plano de
Manejo do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-MS”. No trabalho
coordenado com o apoio da CESP (Companhia de Energia Elétrica de São
Paulo), em conjunto com a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro),
Imap (Instituto de Meio Ambiente Pantanal) e FBDS (Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável) foram identificados aspectos da avifauna da
região, apontados dados científicos e estatísticos das peculiaridades do solo da
Bacia Hidrográfica, do clima e de toda a degradação sofrida antes e depois da
desapropriação do local. Em um dos documentos, identifica-se a seguinte citação:
... e reconhece que a conservação da natureza não é apenas uma questão de caráter de preservação natural em si, mas também de ordem econômica, social e política. A conservação da natureza passa a ser observada e analisada num viés social de proteção, uma vez que se reconhece como vital para a manutenção e melhoria da qualidade de vida das populações humanas (CESP, 2000-2003: 18).
A mobilização da sociedade pela própria sociedade exige uma
responsabilidade comum e inerente ao livre arbítrio para que se possa manter a
sociedade viva. A mídia de uma forma geral vem atropelando o bom senso e a
ética em detrimento ao sistema capitalista e ao mesmo tempo popular, no sentido
de vender uma idéia ao mercado consumista. O progresso não pode ser sinônimo
de ameaça. E é neste sentido que os meios de comunicação têm de educar a
comunidade divulgando as belezas, mas também a necessidade de se ter o belo
68
por muitas gerações, mantidas as características primárias concebidas pela
natureza.
Diante da pesquisa a campo realizada e dos 13 relatórios elaborados pelas
universidades do Rio de Janeiro, UERJ e FBDS, em parceria com a
SEMA/IMAPE-MS pode-se relatar nesta etapa do trabalho que:
a) a área do Parque observada encontra-se abandonada quanto as
condições de infra-estrutura e de fiscalização, e apresenta um lento
processo de recuperação de seu ecossistema. A afirmação pode ser
feita com base nos depoimentos colhidos com o funcionário do Parque
Arnaldo Fogaça e o único morador nos pesqueiros do Parque Francisco
Fogaça, responsáveis pelo monitoramento do local, além dos
pescadores, colhidos durante os quatro dias de pesquisa a campo na
região, onde alegaram desconhecer que a área do Parque é de
preservação ambiental, portanto imprópria para caça e pesca ou
quaisquer tipo de extração da natureza;
b) a mídia não está valorando e nem noticiando os problemas causados
pela ação antrópica do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema, após
sua criação, constatando a necessidade de maior envolvimento da área
de Comunicação Social do estado em relação a questão ambiental.
Enquanto se explora as belezas e a preservação de regiões de potencial
turístico inquestionável como as cidades de Bonito, Jardim, Rio Verde e
a região do Pantanal Sul-mato-grossense, principalmente ressaltando o
assoreamento do Taquari, deixa de lado outras regiões de igual ou maior
potencial turístico como o Parque, que retrata uma beleza diversa que
tende a desaparecer ou consumir-se pela falta do cumprimento da
legislação ambiental;
c) a caça e pesca indiscriminada ainda existem na área de observação
(Parque), muito embora seja uma APA;
d) urge que a mídia acompanhe os problemas ambientais do local
estudado, cumprindo sua função em benefício do ambiente.
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7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Efetivação do Plano de Manejo
A conquista plena do conceito de Unidade de Conservação pelo Parque
Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema e todas suas implicações (manutenção,
conservação, desenvolvimento sustentável, uso do potencial científico, histórico e
cultural pelas gerações futuras) passa pelo cumprimento de etapas primordiais da
legislação, sendo a principal delas a elaboração de um Plano de Manejo,
conforme determina o artigo 3º do Decreto-lei nº 9.278, de 17 de dezembro de
1998.
a) O atraso na entrega dos Relatórios elaborados pela CESP e suas graves conseqüências
De acordo com a legislação, a elaboração do Plano de Manejo, prevista
para realizar-se no prazo regulamentar de três anos, é de competência da
Secretaria de Estado de Meio Ambiente, através da Fundação Estadual de Meio
Ambiente – Pantanal, com base em fundamentação técnica a ser repassada pela
Companhia Energética de São Paulo (CESP). Porém, somente nos primeiros
meses de 2004, cumprindo acordo firmado com o governo do Estado de Mato
Grosso do Sul, através da Secretaria de Meio Ambiente, a empresa entregou o
restante dos 13 relatórios elaborados, de acordo com pesquisas realizadas por
técnicos e doutores de universidades do Rio de Janeiro e do Paraná, traçando um
mapeamento minucioso e detalhado da flora, fauna, relevo e toda a geomorfologia
70
que envolvem a manutenção da vida dentro do Parque.
- De posse destes dados, a SEMA promoveu no dia 21 de maio de 2004
uma oficina para a discussão do Plano de Manejo do Parque Estadual das
Várzeas do rio Ivinhema, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, em
Campo Grande, onde estiveram presentes 40 pessoas da comunidade científica e
órgãos governamentais que decidiram lançar propostas de manejo e zoneamento
para o Parque, incluindo recuperação da mata ciliar e um amplo trabalho de
educação ambiental, visando reduzir os problemas a médio e longo prazo. No
entanto, transcorridos quase seis anos da criação da primeira UC de Mato Grosso
do Sul, o documento norteador para que oficialmente seja realizado, cumprido e
cobrado pela população providências cabíveis, está demorando o dobro do tempo
então estipulado por lei, para que o Plano de Manejo seja elaborado. O Parque
Estadual das Várzeas do Ivinhema permanece resumido a uma área de 73 mil
hectares, sujeito a toda espécie de degradação e ação antrópica.
- Elaborado o Plano de Manejo, é de fundamental importância à criação e
estruturação de um sistema gestor compartilhado para as Unidades de
Conservação Estaduais, fiscalizado pelo Estado e gerido pelos municípios
beneficiados com o repasse do ICMS Ecológico, para que haja fonte de recursos
contínua e prestação de contas, para o cumprimento das sugestões constantes
no último relatório da CESP, transcritas nesta pesquisa como “Programas,
Propostas e Sub-propostas” prontamente enumeradas pelos pesquisadores após
vistoria minuciosa na área em questão.(Programa de Operacionalização, CESP,
2004: 62).
- Apesar da longa espera, o Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema
necessita de fiscalização efetiva através de rondas constantes por água e terra,
dentro e fora da área já totalmente desocupada. Sem isso, a depredação nos 45
pesqueiros abandonados vai continuar, a caça e a pesca predatória tendem a
aumentar pela impunidade existente e o Parque pode sucumbir no anonimato por
só aparecer na mídia na época em que alguma queimada foge do controle e
ameaça pastagens de fazendas vizinhas. (Sugestão de Programas e Projetos de
Manejo, CESP, 2004: 58).
71
b) Com base na diretriz do Plano de Manejo do Parque a mídia cumpre sua missão.
A presença de uma equipe de filmagem e máquinas fotográficas na região
inibe a ação de degradação, tal qual um barco do IBAMA. As pessoas têm medo
de serem flagradas realizando atividades ilícitas contra o ambiente. Durante os
dias de trabalho a campo em que pudemos subir e descer os rios Ivinhema e
Paraná antes de amanhecer ou no final da tarde, cada nova embarcação que nos
encontrava pelo caminho diminuía a velocidade, os ocupantes nos
cumprimentavam cientes da importância da nossa presença no Parque. A visita
não parecia convencional pela reação causada. O trabalho passou a ser uma
caça implacável a aqueles que estavam colocando linhadas no rio, pescando nos
lagos e caçando as indefesas capivaras que se reúnem nas margens dos rios
Ivinhema e Paraná para se refrescarem do calor intenso.
Apesar da população que reside na região não ter formação específica na
área ambiental é curioso constatar a consciência de preservação e o amor
verdadeiro que sentem pelo local onde moram ou já viveram, hoje cheio de regras
e limites legais. O excesso de degradação acabou transformando-os em fiscais
voluntários pela sobrevivência de uma área que há décadas é garantia de
sustento e tranqüilidade.
Através de um trabalho contínuo com apresentação de palestras, slides,
vídeos e divulgação de folder em eventos especiais realizados nas escolas nos
quatro municípios onde está localizado o Parque, têm início um importante
trabalho midiático com direcionamento publicitário e jornalístico, garantindo
mesmo peso e medida para as exuberâncias e para os problemas da região. Um
alerta importante, que de modo simplista deve transmitir a seguinte mensagem:
“Hoje ainda podemos encontrar isso, mas senão reagirmos contra a destruição,
não encontraremos mais nada que possa nos orgulhar em nossa região para
exibirmos ao mundo com orgulho de quem nasce, cresce e sabe usufruir de um
bem maior oferecido gratuitamente pela natureza”. Mas para que isso ocorra é
preciso que haja abertura da mídia e novas perspectivas para participação da
comunidade. (Sub-Programa de Educação Ambiental / Propostas, CESP, 2004:
60,61).
72
c)Derrubar regras e constituir novos valores
É inegável que a imprensa brasileira, quando se trata do ambiente, tem
dado maior destaque às denúncias e à abordagem política, privilegiando as fontes
oficiais – em detrimento das abordagens sociais, econômicas e, principalmente,
científicas, e das fontes oriundas destas comunidades.
Com freqüência, a mídia não utiliza o mesmo peso e a mesma medida para
a elaboração de uma reportagem isenta, pelo menos quando o assunto em pauta
é a natureza. Mobilizar antes de tudo é expor, mostrar, deixar claro. Só a partir daí
começam a ser formar os juízos, opiniões positivas e negativas sobre
determinado sub-tema gerado pelo assunto principal: Preservação.
Não importa que a mobilização venha a passos lentos, o que importa é que
alguém dê o primeiro passo para conquistar novos e fiéis adeptos com o mesmo
objetivo – salvar, recuperar, semear. A mobilização social ideal deveria ser
voluntária, atenta, silenciosa e em busca de soluções, basta apenas ter a
sensibilidade para uma mobilização como tanto clamam os autores em teoria.
O Parque vem sendo monitorado e pesquisado nos últimos três anos,
ininterruptamente, através de imagens e coleta de dados, mas poucas pessoas
sabem o que o Parque oferece, além de ser a região muito suscetível às
queimadas, forma que vem sendo divulgado enfaticamente pela mídia. É preciso
levar estas pesquisas aos meios de comunicação e “oferecer” o assunto. Fazer
com que pelo menos um deles volte sua atenção às imagens, fotos e dados
arrecadados por tão importantes e completos relatórios descritivos da região.
A mídia depende de novidades, que são imediatamente reproduzidas por
outros veículos de informação. Assim, os fatos perdem o seu caráter de inédito e
ocupam o centro das discussões nos mais diferentes segmentos da sociedade.
Então, é imprescindível e de fundamental importância o papel desempenhado
pela mídia na conservação ambiental, como bem evidencia esta pesquisa que
realizamos no Parque Estadual das Várzeas de Ivinhema-MS.
No estado de Mato Grosso do Sul ocorreu a criação de diversas áreas de
73
proteção, entre estas, o Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema. Apesar de
ter sido criado através de decreto, há cinco anos, o Parque ainda não dispõe de
um Plano de Manejo nem de infra-estrutura para atender visitantes freqüentes,
além de contar com um sistema quase inexistente de fiscalização.
A desocupação dos pesqueiros e ressarcimento dos proprietários em 2002
não garantiram o término do uso inadequado da área. Apenas limitou formalmente
o acesso dos pescadores e caçadores a ancorarem suas embarcações e
pernoitarem no Parque, mas não as visitas constantes aos locais proibidos em
busca de caça e pesca.
Faz-se necessário a adoção de determinadas posturas dos órgãos
públicos, no sentido de que possam viabilizar a revitalização esperada. Diante da
pesquisa realizada entre 2002/2004, pode-se afirmar que é preciso mais do que
uma intervenção técnica no Parque, um trabalho progressivo de conscientização
e mudança de valores culturais. Recomenda-se cuidados no estabelecimento de
elos de comunicação que sejam eficazes para mobilizar a população e promover
mudança de valores e comportamento, tais como: a interrupção permanente da
queimada nas áreas de pastagem, a construção de aceiros para dificultar a
disseminação do fogo, o reflorestamento nas barrancas assoreadas, aquisição de
barcos, armas e materiais necessários para promover uma fiscalização intensa,
implantação de placas sinalizadoras de acesso à área, assim como nas barrancas
e lagoas, o que seria indispensável na hora de punir os que alegam
desconhecimento sobre o local ser uma APA.
A tendência natural é que os resultados não sejam obtidos em curto prazo,
pois não se muda uma cultura com algumas palavras ou linhas, fotos ou imagens
cheias de efeitos. O mais importante é provocar questionamentos e conscientizar
o homem de seu potencial de destruição infinitamente maior do que a consciência
da necessidade de recuperar.
Diante da crescente degradação e falta de política efetiva de conservação
da fauna e flora no Parque, torna-se necessário colocar em pauta e evidência a
necessidade de se discutir e promover alternativas para modificar a situação hoje
existente. Há de se ressaltar antes de tudo a urgência de conscientizar a
74
população da região sobre a importância social, política e turística do Parque, que
pode constituir, no futuro, mais uma fonte de renda aos municípios, gerando
riquezas e benefícios à comunidade local.
Até o dia 23 de setembro de 2004 foram entregues mais três relatórios pela
Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável, contratada pela CESP para
realizar levantamento da área do Parque, totalizando dezesseis fontes de
embasamento para a elaboração do Plano de Manejo. Nos relatórios recentes
constam banco de dados, programa de uso público e a delimitação da área em
seis zonas para a finalização do Plano de Manejo em estudo por técnicos da
SEMA/IMAP. com previsão de publicação para o primeiro semestre de 2005.
As seis zonas do Parque foram subdivididas em:
- Primitiva I com acesso permitido desde que haja um compromisso de
preservação;
- Primitiva II com permissão de acesso mais restrito de acordo com normas
locais;
- Zona de uso extensivo permite o uso público perante fiscalização e
programa de monitoramento ambiental;
- Zona de Recuperação com acesso restrito;
- Zona de uso intensivo onde serão instalados equipamentos, centro de
visitantes, museu;
- Zona de uso especial que prevê a criação de sub-sedes dentro do
Parque.
Com esses novos dados o Plano de Manejo depende ainda de estudo e
revisão, e após publicado em Diário Oficial deverá ser revisado a cada cinco anos
de acordo com o SNUC para saber se é necessário implantar novas
modificações.
Em agosto de 2004 a Polícia Ambiental instalou uma sede no Parque com
efetivo de cinco policiais e quatro guardas em esquema permanente de
75
revezamento, para dar início ao trabalho de fiscalização.
No início de setembro de 2004 a CESP depositou em juízo o valor
estabelecido para o pagamento da indenização de cinco por cento dos
proprietários de áreas dentro do Parque. Toda a documentação para a
transferência do domínio das terras do PEVRI para o estado de Mato Grosso do
Sul já está em tramite, o que deverá garantir a sua total desocupação5.
5 Informações prestadas pelo Gestor Ambiental do Parque: Leonardo Tostes Palma, funcionário do IMAP.
76
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Trata das repartições das receitas tributárias pertencentes aos municípios.
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77
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IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
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Laudos do Instituto do Meio Ambiente de 17/03/2003, 30/10/2003, 22/12/2003,
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Cria o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, e dá outras providências.
78
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Silvestres”, p. 134-147, Santa Maria: MMA, FNMA, FAETEC.
VAZQUEZ, A. S. Ética. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985. 267 p.
79
ANEXOS
80
ANEXO I
Questionário apresentado aos moradores e visitantes do Parque Estadual das várzeas do rio Ivinhema
1) Dados pessoais:
Local em que reside: ............................................................................................
Nome: ..................................................................................................................
Idade: (................)
Sexo: masculino [ ] feminino [ ]
Atividade profissional: ..........................................................................................
Escolaridade: ensino fundamental [ ] ensino médio [ ] ensino superior
[ ]
Pós-Graduação [ ] Outros: ......................................................
Renda familiar: .....................................................................................................
2) Como é o seu contato com a natureza?
[ ] preocupa-se com a conservação.
[ ] realiza campanhas ambientais quando solicitado.
[ ] realiza campanhas por iniciativa própria.
[ ] não se preocupa / indiferente.
[ ] outros. cite: ...................................................................................................
81
3) Número de vezes que visitou o Parque (se visitante):
[ ] primeira vez [ ] quarta vez
[ ] segunda vez [ ] quinta vez
[ ] terceira vez [ ] mais vezes. Quantas?: .................................
4) Na sua opinião existe uma fiscalização eficaz contra
depredação do Parque?
[ ] sim [ ] não
5) Se a resposta acima for negativa, o que pode ser feito para
melhorar a fiscalização do Parque?
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
6) Apesar da falta de estrutura turística da região o que o atrai
no Parque? (se visitante):
[ ] caminhadas ecológicas [ ] pesca
[ ] lazer [ ] outros ...........................................................
7) Na região do Parque Estadual das Várzeas do Rio
Ivinhema, o meio ambiente em sua opinião é:
[ ] bem conservado [ ] conservado
[ ] não é conservado [ ] mal conservado
8) Na sua opinião, o que seria necessário para conservar as
belezas naturais do Parque Estadual das Várzeas do Rio
Ivinhema?
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
9) Que regiões próximas ao Parque também merecem ser
conservadas?
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
82
10) Quais animais são vistos com freqüência na região?
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
83
ANEXO II
Roteiro de entrevista com pescadores, o único morador e o único guarda do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-Ms
1) Verificar as condições das áreas desocupadas dentro do Parque há quase
três anos, onde se localizavam os pesqueiros.
2) Verificar a existência de formas de fiscalização para que não haja utilização
inadequada da área de proteção ambiental onde está localizado o Parque
Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema.
3) Verificar a existência de associações que trabalham com a questão
ambiental e de que forma, se existirem, como são desenvolvidas estas
atividades.
4) Constatar a existência de atividades pesqueiras e se houver, de que forma
são realizadas.
5) Verificar com os moradores e visitantes do Parque se realmente há
consciência de preservação ambiental do local.
6) Verificar, com os moradores e visitantes, a expectativa da conclusão do
plano de manejo do Parque para que, depois de traçado o diagnóstico,
84
possam ser realizadas as mudanças necessárias para a total preservação
do Parque.
85
ANEXO III
Bloco 01
Dados Cadastrais
Nome do Coordenador do Projeto:
Formação Acadêmica:
Área de Conhecimento:
Instituição: Cargo:
Endereço:
Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|
DDD: Telefone:
Fax: E-mail:
Endereço Residencial:
Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|
Nome da Contrapartida Brasileira (este item deve ser preenchido quando o coordenador do projeto for estrangeiro): Formação Acadêmica:
Área de Conhecimento:
P A R Q U E E S T A D U A L D A S V A R Z E A S D O I V I N H E M A F O R M U L Á R I O P A R A L I C E N Ç A D E P E S Q U I S A C I E N T Í F I C A
86
Instituição: Cargo:
Endereço:
Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|
DDD: Telefone:
Fax: E-mail:
Endereço Residencial:
Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|
Número do processo CNPq ou título do Programa de Cooperação na Agência Brasileira de Cooperação:
Pesquisadores participantes do projeto e que terão acesso ao Parque
Nome:
Formação Acadêmica: Área de Conhecimento:
Instituição:
Endereço:
Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - | | | |
DDD: Telefone: Fax: E-mail:
Nome da Contrapartida Brasileira:
Formação Acadêmica: Área de Conhecimento:
Instituição:
Endereço:
Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - | | | |
87
DDD: Telefone: Fax: E-mail:
Número do processo CNPQ ou título do Programa de Cooperação na Agência Brasileira de Cooperação:
Obs: Fazer cópias desta página caso necessário
Bloco 02
Descrição do Projeto
Título: Projeto PARNA S.dos Órgãos No:
Palavras-chave: Custo do Projeto Fontes Financiadoras:
Resumo do Projeto (objetivo, metodologia, resultados esperados):
88
Contribuições Efetivas do Projeto para o Parque:
Identificar os locais de coleta dos dados na área do Parque (caso ainda não estejam definidos os locais de coleta, encaminhá-los posteriormente):
89
Relacionar os prováveis impactos negativos do Projeto sobre os ecossistemas do Parque:
Duração do Projeto início |___|___| / |___|___| / |___|___| e término |___|___| / |___|___| / |___|___|
Cronograma Físico de Execução
ETAPAS
MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
90
Bloco 03 Previsão de Utilização de Instalações e outras Facilidades oferecidas pelo
PARQUE (especificar período e quantidade)
Alojamentos:
Sala de Reunião:
Auditório:
Estação Metereológica:
Equipamentos de Informática:
Apoio de Campo:
Outros:
91
Bloco 04
A este Formulário deverá se Anexado
Projeto de Pesquisa
Curriculum Vitae do Coordenador do Projeto e dos demais pesquisadores participantes
Bloco 05
Declaração de Compromisso
Declaro cumprir as normas e regulamentos do Parque Nacional das Serras dos Órgãos quanto a realização de pesquisas científicas em sua área de abrangência.. Autorizo o PARNA S. dos Órgãos a utilizar o trabalho por mim realizado em benefício do próprio Parque. ___________________ _________________ ____________________________________ Local Data Assinatura
92
ANEXO IV
DECRETO LEI N. 9.278, de 17 de dezembro de 1998 Publicado no Diário Oficial n. 4921 de 18 de dezembro de 1999 (página 02 e 03)
Cria o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, e dá outras providências O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, no uso de atribuições que lhe são conferidas pelo inciso VII do artigo 89, da Constituição do Estado e o disposto no inciso III do §1º do artigo 225, da Constituição Federal e ainda a alínea “a”, da Lei n.º 4.771, de 15 de Setembro de 1965 – Código Florestal e, CONSIDERANDO ser dever do Estado a proteção ao meio ambiente, a preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas naturais, a proteção de belezas cênicas e de espécies em perigo e as ameaçadas de extinção; CONSIDERANDO a inexistência no Estado de Unidades de Conservação que protejam as amostras representativas de seus biomas; CONSIDERANDO que as Várzeas e ecossistemas associados do Rio Ivinhema caracterizam-se como o último trecho livre e representativo desse ambiente, em território brasileiro, abrigando também fragmentos remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual do Domínio Atlântico, conforme Mapa de Vegetação do IBGE (1993) e que sua proteção se constitui como prioridade para a região, sendo inclusive recurso natural raro; CONSIDERANDO que a implantação de uma Unidade de Conservação neste Estado apresenta-se como elemento fundamental na atual política adotada pelo Governo, garantindo a esta e as futuras gerações a proteção dos recursos naturais existentes, DECRETA: Art. 1º Fica criado o Parque Estadual do Rio Ivinhema, com o objetivo de preservar a diversidade biológica, proteger o patrimônio natural e cultural da região, com sua flora, fauna, paisagens e demais recursos bióticos e abióticos associados, objetivando sua utilização para fins de pesquisa científica, recreação e educação ambiental em contato com a natureza. Art. 2º O Parque Estadual do Rio Ivinhema é constituído por uma área contínua, abrangendo os municípios de Taquarussu, Jatei e Naviraí com os seguintes limites: inicia-se no ponto 1, situado à margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Baia, coordenadas UTM – n 7.481.114,779/ e.260.877,246; segue pela margem direita do Rio Paraná à jusante por uma distância de 74.715,84m, até o ponto 2, situado à
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margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Ivinhema; segue pela margem esquerda do Rio Ivinhema à montante, por uma distância de 34.960,02m, até o ponto 3, situado à margem esquerda do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, por uma linha ideal de divisa com o rumo de 84°10’39’’NW, por uma distância de 11.659,48m, até o ponto 4; segue com o rumo de 09°23’11’’NW, por uma distância de 1.250,25m, até o ponto 5; segue com o rumo de 40°36’52’’NE, por uma distância de 853,92m, até o ponto 6; segue com o rumo de 25°59’45’’NE por uma distância de 2.751,51m, até o ponto 7; segue com o rumo de 23°27’41’’NE, por uma distância de 363,02m, até o ponto 8; segue com o rumo de 12°28’24’’NE, por uma distância de 1.888,58m, até o ponto 9; segue com o rumo de 08°14’24’’NE, por uma distância de 829,88m, até o ponto 10; segue com o rumo de 01°44’43’’NW, por uma distância de 1.958,03m, até o ponto 11;segue com o rumo de 29°51’40’’NW, por uma distância de 602,85m, até o ponto 12; segue com o rumo de 15°18’50’’NW, por uma distância de 1.522,79m, até o ponto 13; segue com o rumo de 17°53’33’’NW, por uma distância de 697,53m, até o ponto 14, situado à margem direita do Rio Curupaí; segue com o rumo de 81°11’56’’NE, por uma distância de 1.296,60m, até o ponto 15; segue com o rumo de 52°23’57’’NE, por uma distância de 1.700,30m, até o ponto 16; segue com o rumo de 35°33’38’’NE, por uma distância de 1.167,91m, até o ponto 17; segue com o rumo de 55°45’01’’NW, por uma distância de 1.912,68m, até o ponto 18; segue com o rumo 13°15’38’’NE, por uma distância de 5.035,48m, até o ponto 19; segue com o rumo de 03°57’27’’NW por uma distância de 1.072,15m, até o ponto 21; segue com o rumo de 09°00’54’’NE, por uma distância de 5.497,61m, até o ponto 22; segue com o rumo de 08°53’43’’NW, por uma distância de 5.637,68m, até o ponto 23, situado à margem direita do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Guiraí à jusante, por uma distância de 33.523,93m, até o ponto 24, situado à margem direita do Rio Ivinhema, na foz do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Ivinhema à jusante, por uma distância de 26.902,16m, até o ponto 25, situado à margem direita do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, com o rumo de 59°26’08’’SE, por uma distância de 180,91m, até o ponto 26, situado à margem direita do Canal de Araçatuba, que une os Rios Ivinhema e Curutuba; segue pela margem direita do Canal de Araçatuba, no sentido Rio Ivinhema – Rio Curutuba por uma distância de 15.346,10m, e pela margem direita do Rio Curutuba à jusante por uma distância de 9.425,66m até o ponto 27, situado à margem direita do Rio Baía, na foz do Rio Curutuba; segue pela margem direita do Rio Baía à jusante, por uma distância de 2.820,76m, até o ponto 1, onde teve início esta descrição, perfazendo uma superfície de 73.345,15 hectares. Art. 3º Compete a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, através da Fundação Estadual de Meio Ambiente Pantanal a administração do Parque, bem como promover a manutenção da zona de amortecimento do mesmo. Parágrafo Único – Fica estabelecido o prazo de 03 (três) anos para a elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Ivinhema, a cargo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, através da Fundação Estadual de Meio Ambiente – Pantanal. Art.4º Para atender às necessidades imediatas de administração e viabilizar a infra – estrutura de gerenciamento do Parque, fica a Fundação Estadual de Meio Ambiente – Pantanal autorizada a elaborar um Plano Emergencial no prazo de (seis) meses, da publicação deste Decreto; Art. 5º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.
Campo Grande, 17 de dezembro de 1998.
WILSON BARBOSA MARTINS Governador
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ANEXO V
DECRETO DE 17 DE DEZEMBRO DE 1998
Publicado no diário oficial n. 4921 de 18 de dezembro de 1999 (página 04) Declara de utilidade pública para fins de desapropriação as áreas e terras que indica e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 89, incisos VII e XXI da Constituição Estadual e com fundamento no Decreto- Lei N.º 3.365, de 21 de junho de 1941, na Lei n.º 4.132, de 10 de setembro de 1962. DECRETA: Art. 1º Ficam declaradas de utilidade pública, para fins de desapropriação pelo Estado de Mato Grosso do Sul, uma área de terra com 73.000 ha. ( setenta e três mil hectares), situada entre os meridianos, nos Municípios de Taquarussu, necessária a instalação do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, Art. 2º As áreas de terra de que trata o art. 1º, são compreendidas no interior do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema que inicia-se na margem na margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Baia, coordenadas UTM – n.º 7.481.114,779/ e 260.877,246; segue pela margem direita do Rio Paraná à jusante por uma distância de 74.715,84m, até o ponto 2, situado à margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Ivinhema; segue pela margem esquerda do Rio Ivinhema à montante, por uma distância de 34.960,02m, até o ponto 3, situado à margem esquerda do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, por uma linha ideal de divisa com o rumo de 84°10’39’’NW, por uma distância de 11.659,48m, até o ponto 4; segue com o rumo de 09°23’11’’NW, por uma distância de 1.250,25m, até o ponto 5; segue com o rumo de 40°36’52’’NE, por uma distância de 853,92m, até o ponto 6; segue com o rumo de 25°59’45’’NE por uma distância de 2.751,51m, até o ponto 7; segue com o rumo de 23°27’41’’NE, por uma distância de 363,02m, até o ponto 8; segue com o rumo de 12°28’24’’NE, por uma distância de 1.888,58m, até o ponto 9; segue com o rumo de 08°14’24’’NE, por uma distância de 829,88m, até o ponto 10; segue com o rumo de 01°44’43’’NW, por uma distância de 1.958,03m, até o ponto 11;segue com o rumo de 29°51’40’’NW, por uma distância de 602,85m, até o ponto 12; segue com o rumo de 15°18’50’’NW, por uma distância de 1.522,79m, até o ponto 13; segue com o rumo de
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17°53’33’’NW, por uma distância de 697,53m, até o ponto 14, situado à margem direita do Rio Curupaí; segue com o rumo de 81°11’56’’NE, por uma distância de 1.296,60m, até o ponto 15; segue com o rumo de 52°23’57’’NE, por uma distância de 1.700,30m, até o ponto 16; segue com o rumo de 35°33’38’’NE, por uma distância de 1.167,91m, até o ponto 17; segue com o rumo de 55°45’01’’NW, por uma distância de 1.912,68m, até o ponto 18; segue com o rumo 13°15’38’’NE, por uma distância de 5.035,48m, até o ponto 19; segue com o rumo de 03°57’27’’NW por uma distância de 1.072,15m, até o ponto 21; segue com o rumo de 09°00’54’’NE, por uma distância de 5.497,61m, até o ponto 22; segue com o rumo de 08°53’43’’NW, por uma distância de 5.637,68m, até o ponto 23, situado à margem direita do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Guiraí à jusante, por uma distância de 33.523,93m, até o ponto 24, situado à margem direita do Rio Ivinhema, na foz do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Ivinhema à jusante, por uma distância de 26.902,16m, até o ponto 25, situado à margem direita do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, com o rumo de 59°26’08’’SE, por uma distância de 180,91m, até o ponto 26, situado à margem direita do Canal de Araçatuba, que une os Rios Ivinhema e Curutuba; segue pela margem direita do Canal de Araçatuba, no sentido Rio Ivinhema – Rio Curutuba por uma distância de 15.346,10m, e pela margem direita do Rio Curutuba à jusante por uma distância de 9.425,66m até o ponto 27, situado à margem direita do Rio Baía, na foz do Rio Curutuba; segue pela margem direita do Rio Baía à jusante, por uma distância de 2.820,76m, até o ponto 1, onde teve início esta descrição, perfazendo uma superfície de 73.345,15 hectares. Art. 3º As áreas de terras descritas destina-se à implantação do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, objetivando a preservação de seus recursos ambientais. Art. 4º Fica a Procuradoria-Geral do Estado autorizada a proceder amigável ou judicialmente de que trata este Decreto, devendo as despesas ocorrerem por conta de recursos da Companhia Energética de São Paulo – CESP. Art. 5º Nos termos do art. 15 do Decreto-lei n.º 3.365, de 21 de junho de 1.941, modificado pela Lei n.º 2.786, de 21 de maio de 1.956, fica o expropriante autorizado a invocar caráter de urgência, para efeito de imediata imissão na posse das propriedades abrangidas por este Decreto. Art. 6º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.
Campo Grande, 17 de Dezembro de 1.998.
WILSON BARBOSA MARTINS Governador
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ANEXO VI
DECRETO DE 04 DE OUTUBRO DE 1999
Republica-se por incorreção. Publicado no diário oficial n. 5116 de 06 de outubro de 1999 (página 02 e 03)
Declara de utilidade pública para fins de desapropriação as áreas e terras que indica e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 89, incisos VII e XXI da Constituição Estadual e com fundamento no Decreto- Lei N.º 3.365, de 21 de junho de 1941, na Lei n.º 4.132, de 10 de setembro de 1962. DECRETA: Art. 1º Ficam declaradas de utilidade pública, para fins de desapropriação, as áreas de terra de propriedade particular, com as benfeitorias e servidões nelas existentes, situadas nos Municípios de Taquarussu, Jateí e Ivinhema. Art. 2º As áreas de terra de que trata o art. 1º, são compreendidas no interior do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema que inicia- se na margem na margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Baia, coordenadas UTM – n.º 7.481.114,779/ e 260.877,246; segue pela margem direita do Rio Paraná à jusante por uma distância de 74.715,84m, até o ponto 2, situado à margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Ivinhema; segue pela margem esquerda do Rio Ivinhema à montante, por uma distância de 34.960,02m, até o ponto 3, situado à margem esquerda do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, por uma linha ideal de divisa com o rumo de 84°10’39’’NW, por uma distância de 11.659,48m, até o ponto 4; segue com o rumo de 09°23’11’’NW, por uma distância de 1.250,25m, até o ponto 5; segue com o rumo de 40°36’52’’NE, por uma distância de 853,92m, até o ponto 6; segue com o rumo de 25°59’45’’NE por uma distância de 2.751,51m, até o ponto 7; segue com o rumo de 23°27’41’’NE, por uma distância de 363,02m, até o ponto 8; segue com o rumo de 12°28’24’’NE, por uma distância de 1.888,58m, até o ponto 9; segue com o rumo de 08°14’24’’NE, por uma distância de 829,88m, até o ponto 10; segue com o rumo de 01°44’43’’NW, por uma distância de 1.958,03m, até o ponto 11;segue com o rumo de 29°51’40’’NW, por uma distância de 602,85m, até o ponto 12; segue com o rumo de
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15°18’50’’NW, por uma distância de 1.522,79m, até o ponto 13; segue com o rumo de 17°53’33’’NW, por uma distância de 697,53m, até o ponto 14, situado à margem direita do Rio Curupaí; segue com o rumo de 81°11’56’’NE, por uma distância de 1.296,60m, até o ponto 15; segue com o rumo de 52°23’57’’NE, por uma distância de 1.700,30m, até o ponto 16; segue com o rumo de 35°33’38’’NE, por uma distância de 1.167,91m, até o ponto 17; segue com o rumo de 55°45’01’’NW, por uma distância de 1.912,68m, até o ponto 18; segue com o rumo 13°15’38’’NE, por uma distância de 5.035,48m, até o ponto 19; segue com o rumo de 03°57’27’’NW por uma distância de 1.072,15m, até o ponto 21; segue com o rumo de 09°00’54’’NE, por uma distância de 5.497,61m, até o ponto 22; segue com o rumo de 08°53’43’’NW, por uma distância de 5.637,68m, até o ponto 23, situado à margem direita do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Guiraí à jusante, por uma distância de 33.523,93m, até o ponto 24, situado à margem direita do Rio Ivinhema, na foz do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Ivinhema à jusante, por uma distância de 26.902,16m, até o ponto 25, situado à margem direita do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, com o rumo de 59°26’08’’SE, por uma distância de 180,91m, até o ponto 26, situado à margem direita do Canal de Araçatuba, que une os Rios Ivinhema e Curutuba; segue pela margem direita do Canal de Araçatuba, no sentido Rio Ivinhema – Rio Curutuba por uma distância de 15.346,10m, e pela margem direita do Rio Curutuba à jusante por uma distância de 9.425,66m até o ponto 27, situado à margem direita do Rio Baía, na foz do Rio Curutuba; segue pela margem direita do Rio Baía à jusante, por uma distância de 2.820,76m, até o ponto 1, onde teve início esta descrição, perfazendo uma superfície de 73.345,15 hectares. Art. 3º As áreas de terras descritas destina-se à implantação do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, objetivando a preservação de seus recursos ambientais . Art. 4º Fica a CESP – COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO autorizada a promover a desapropriação das referidas áreas na forma da legislação vigente, em seu próprio nome, assumindo todos os ônus e encargos das referidas desapropriações amigáveis ou judiciais. Art. 5º Como as desapropriações serão feitas em seu próprio nome, deverá a CESP– COMPANHIA ENERGETICA DE SÃO PAULO na forma do acordo celebrado nos autos da Ação Civil Pública n.º 7696 e 3292, na Comarca de Anaurilândia, 76/96 e 188/96, da Comarca de Bataguaçu, 45/96, 173/96, 135/96 e 60/96, da Comarca de Brasilândia, 311/96 e 613/96, da Comarca de Três Lagoas, transferir o domínio dos imóveis desapropriados para o Estado de Mato Grosso do Sul, bem como as obras a serem executadas, mediante termo de entrega e recebimento. Art. 6º As desapropriações de que trata este Decreto, a serem promovidas pela CESP, serão necessariamente homologadas pelo TERRASUL – DEPARTAMENTO DE TERRAS E COLONIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL, antes do pagamento de sua indenização, em fase da necessidade de retificação dos domínios. Art. 7º Nos termos do art. 15 de Decreto-Lei n.º 3.365 de 21 de junho de 1941, modificado pela Lei n.º 2.786, de 21 de maio de 1956, fica o expropriante autorizado a invocar caráter de urgência, para efeito de imediata imissão na posse das propriedades abrangidas por este Decreto. Art. 8º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 9º Fica revogado o Decreto de 17 de dezembro de 1998 que declarou de utilidade pública para fins de desapropriação, as áreas de terras nele mencionadas, e demais disposições em contrário. Campo Grande, 4 de outubro de 1.999. JOSÉ ORCÍRIO MIRANDA DOS SANTOS Governador