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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL VANUSA MENEGAZZI BRAGA O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS: A EXECUÇÃO DO PLANO DE MANEJO E O PAPEL DA MÍDIA CAMPO GRANDE-MS 2004

O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA … · Foto 9 - Capivara morta por caçadores com tiro no olho.....36 Foto 10 - Ancoradouro de barcos em frente ao pesqueiro às margens

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

VANUSA MENEGAZZI BRAGA

O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS: A EXECUÇÃO DO PLANO DE MANEJO

E O PAPEL DA MÍDIA

CAMPO GRANDE-MS 2004

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

VANUSA MENEGAZZI BRAGA

O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS: A EXECUÇÃO DO PLANO DE MANEJO

E O PAPEL DA MÍDIA

Dissertação apresentada como exigência para obtenção do grau de mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional à banca examinadora da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP).

Comitê de orientação:

Prof. Dr. Eron Brum (Orientador) Profa. Dra. Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas Prof. Dr. Ademir Kleber. Morbeck de Oliveira

CAMPO GRANDE-MS 2004

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Candidata: Vanusa Menegazzi Braga Dissertação defendida e aprovada em 24/09/2004 pela Banca Examinadora: __________________________________________________________ Prof. Doutor Eron Brum (orientador) __________________________________________________________ Prof. Doutor Antônio Carlos de Jesus (UNESP/Bauru) __________________________________________________________ Profa. Doutora Mercedes Abid Mercante (UNIDERP)

_________________________________________________ Profa. Doutora Mercedes Abid Mercante

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional

________________________________________________ Profa. Doutora Lúcia Salsa Corrêa

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIDERP

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DEDICATÓRIA

No período em que dividi meu tempo de trabalho e lazer com os horários

de estudo, pesquisa e viagens, para desenvolver esta dissertação (Agosto de

2002 a Setembro de 2004), questionei-me por várias vezes qual o sentido maior

do acúmulo de cultura e conhecimento em detrimento à vida pessoal. Confesso

ao contrário da maioria que conheço, o mais importante na minha concepção

sempre foi e sempre será o que produzimos efetivamente de bom nessa terra.

Refiro-me não a uma produção literária, um grande feito, um cargo, ou a uma

quantia estupenda de dinheiro que podemos ganhar quando deixamos que os

outros consumam todo nosso tempo sem questionar o que vale mesmo a pena.

Transformar a própria vida e não o mundo, sempre foi minha maior meta.

Hoje ao final desta jornada dispendiosa, maçante e sem a menor perspectiva do

que fazer com mais um título, já que sou graduada em Jornalismo e Direito, não

me sinto colaboradora para um mundo melhor e sim uma “catadora” de

informações do quão errado os homens conduzem suas vidas e se relacionam

com o meio de onde retiram o ar, a água, a luz e o próprio sustento mesmo que

de maneira indireta.

Independente de quaisquer resultados minha maior vitória hoje e minha

grande dedicatória deste trabalho está totalmente voltada aos meus quatro filhos

que carrego ainda em meu ventre, de uma só vez. Eles com certeza representam

a maior graduação ou pós que eu possa ter realizado ao longo desses trinta e

seis anos de existência, já que por tantas vezes foram adiados pelo exercício de

minhas inúmeras ocupações ao longo deste período. Espero aqui estar

definitivamente encerrando uma etapa de minha vida e iniciando outra que me

trará muito mais aprendizado pessoal e espiritual.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela força, persistência e coragem para concluir esse

trabalho.

Agradeço também a ajuda das seguintes pessoas:

À minha mãe Mirce Menegazzi;

Aos professores orientadores Doutores Eron Brum, Ademir Kleber Morbeck

de Oliveira, Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas, que incansavelmente revisaram

este trabalho;

Ao professor-Doutor Gilberto Luís Alves pelo incentivo para a continuidade

dos estudos nos momentos difíceis;

À colega de Mestrado Carmem Verônica Fanaia Miquilino pelo auxílio

incondicional e sugestões prontamente acatadas neste trabalho;

À amiga e jornalista Daniella Arruda;

Aos meus ex-alunos do Curso de Jornalismo da UNIDERP, Thiago Fraga

por colaborar na edição do vídeo produzido no Parque das Várzeas do Ivinhema e

na transcrição de alguns materiais enviados pela CESP e Flávia Franco também

colaboradora indispensável na elaboração do trabalho em Power Point,

formatação e principalmente o apoio nos momentos em que ficar sentada ao

computador já não era mais possível por causa da posição incômoda na gravidez

quadrigemelar, demonstração de grande amizade;

Ao Gerente de Conservação de Biodiversidade do IMAP/SEMA/MS Harald

Fernando Vicente de Brito pela pronta liberação das visitas ao Parque;

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Ao Gestor Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato

Grosso do Sul (SEMA) e turismólogo Leonardo Tostes Palma, que desde o início

do trabalho de pesquisa colocou-se à disposição e cumpriu ao longo destes dois

anos com amizade, lisura e dedicação, a tarefa de repassar a esta pesquisadora

os materiais necessários para a elaboração e conclusão da dissertação. Nos

momentos difíceis trouxe em mãos à minha residência relatórios atualizados que

garantiram a entrega do trabalho em tempo hábil;

Por fim agradeço ao amigo e ex-colega de trabalho, o repórter

cinematográfico da TV Morena Eduardo Almeida, a disponibilidade para captação

de imagens no Parque durante os finais de semana e feriados em que estava de

folga, garantindo a produção de muitas horas de imagens exuberantes que

ressaltam a beleza e os problemas ambientais existentes no local.

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v

“Não é na história aprendida, é na

história vivida que se apóia a memória”

(MONTENEGRO, A. T. 2001)

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LISTA DE FIGURAS

Foto 1- Família de capivaras no rio Ivinhema, área do Parque................26

Foto 2 - Casas para abrigar pesquisadores na sede do Parque...............26

Foto 3 - Ponto de partida dos barcos na sede do Parque.........................27

Foto 4 - Pesqueiro localizado em área já desocupada..............................32

Mapa 1 - Localização do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema-

MS................................................................................................33

Foto 5 - Visão panorâmica do rio Ivinhema...............................................33

Foto 6 - Vegetação aquática......................................................................34

Foto 7 - Vegetação aquática, Erva-de-Bicho e Aguapé florido..................34

Foto 8 - Desbarrancamento do rio Ivinhema devido à falta de mata

ciliar..............................................................................................35

Foto 9 - Capivara morta por caçadores com tiro no olho...........................36

Foto 10 - Ancoradouro de barcos em frente ao pesqueiro às margens do

rio Ivinhema, Mato Grosso do Sul................................................39

Mapa 2 - Croqui da carta de padrões de uso do solo da área de estudo do

Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema............................43

Mapa 3 - Limite do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema e

drenagens principais....................................................................45

Mapa 4 - Detalhamento da área de influência da Unidade de Conservação

no contexto regional.....................................................................49

Foto 11 - Mobilização dos bombeiros para início de combate a incêndio...56

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Foto 12 - Mobilização para construção de aceiros......................................57

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viii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Estados onde existe o ICMS Ecológico e recomendações para

avanço de seus procedimentos ou legislações............................11

Quadro 2 - Listagem dos impactos evidentes (checklist) na Unidade de

Conservação.................................................................................31

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ix

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.........................................................................................vi

LISTA DE QUADROS.......................................................................................viii

RESUMO...........................................................................................................xi

ABSTRACT.......................................................................................................xiii

1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................01

1.1 OBJETIVOS............................................................................................04

1.1.1 Objetivos gerais...........................................................................;..........04

1.1.2 Objetivos específicos..............................................................................04

2 – BASES TEÓRICAS.....................................................................................05

2.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E A MÍDIA...............................................05

2.1.1 Interdisciplinaridade e desenvolvimento sustentável..............................12

2.1.2 O papel ideal dos meios de comunicação na proteção

ambiental...........................................................................................................14

2.1.3 A comunicação transmitida pelos telejornais

nacionais................................................................................................17

2.1.4 A influência da comunicação na sociedade

contemporânea.......................................................................................18

2.1.5 A informação e a interdisciplinaridade....................................................20

3 – MATERIAL E MÉTODOS............................................................................22

4 - O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA- MS.......................................................................................25

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO..........................................................30

4.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS......................................................................46

4.3 O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA- MS

COMO UNIDADE DE PRESERVAÇÃO..................................................47

4.4. QUEIMADAS..............................................................................................55

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x

5 - PLANO DE MANEJO E PROPOSTAS PARA MELHORIA NO PARQUE...........................................................................................................59

6. RESULTADOS..............................................................................................67

7- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................75

ANEXOS............................................................................................................79

ANEXO I - Questionário apresentado aos moradores e visitantes do Parque

Estadual das várzeas do rio Ivinhema..............................................................80

ANEXO II - Roteiro de entrevista com pescadores, o único morador e o único

guarda do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-

MS.....................................................................................................................82

ANEXO III - Formulário para licença de pesquisa científica.............................83

ANEXO IV -. Decreto Lei nº 9.278 de 17 de dezembro de 1998 Cria o Parque

Estadual das Várzeas do rio Ivinhema..............................................................90

ANEXO V - Decreto de 17 de dezembro de 1998 Declara de utilidade pública

para fins de desapropriação as áreas do PEVRI..............................................92

ANEXO VI - Decreto de 04 de outubro de 1999 Republicado por

incorreção..........................................................................................................95

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xi

RESUMO

O Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, localizado na região

sudoeste de Mato Grosso do Sul, com uma área de 73.315,15 ha, abrange os

municípios de Ivinhema, Naviraí, Jateí e Taquarussu e limita-se no Estado do

Paraná. Localizado a 410 quilômetros da capital do Estado, Campo Grande, a

sede implantada dentro dos limites do município de Jateí, tem como vizinho mais

próximo a cidade de Ivinhema. O nome Ivinhema, de origem indígena, representa

uma característica geográfica local: “Rio de Duas Foz”. Um espaço territorial

delimitado, com características naturais relevantes, e legalmente instituído pelo

poder público para proteção da natureza, criado em 17 de dezembro de 1998 pelo

Decreto-lei nº. 9.278. O Parque representa hoje a última área de ecossistema de

planície aluvial da Bacia do Rio Paraná livre de represamento. Foi criado como

ação compensatória ambiental da CESP (Companhia Energética de São Paulo)

devido à construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (antiga Porto

Primavera). Na área de estudo, de forma geral, as atividades econômicas

desenvolvidas na região em que hoje se configura o Parque foram responsáveis

pela descaracterização e fragmentação da cobertura vegetal. As lagoas têm

grande importância para sobrevivência da fauna local, dentre as espécies da

ictiofauna encontradas nas águas represadas que formam as lagoas, pode-se

citar: o pacu, jurupoca, corimba, cascudo e o pintado; constantemente ameaçados

pela pesca predatória, que ainda acontece por falta de fiscalização. Outro sério

problema concentrado nas margens dos rios Paraná e Ivinhema, ao redor do

Parque, é a concentração de lixo, deixado pelos pescadores clandestinos.

Também se verifica a inexistência de projetos de educação ambiental ou de

quaisquer outras atividades que auxiliem na criação de mecanismos para

subsidiar e orientar os que moram e freqüentam a região compreendida pelo

Parque. De acordo com as reuniões realizadas no primeiro semestre de 2004

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xii

entre a SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), o IMAP (Instituto de Meio

Ambiente Pantanal), Comunidade Científica e Órgãos Governamentais, foram

lançadas as primeiras propostas de manejo e zoneamento para o Parque,

incluindo a recuperação da mata ciliar e um trabalho de educação ambiental,

visando reduzir os problemas a médio e longo prazo. De acordo com pesquisa

realizada por peritos da SEMA e Corpo de Bombeiros, nos últimos dois anos

ocorreram na região do Parque cinco incêndios de grandes proporções. A maioria

das vezes, causados pela ação antrópica de desmatamento, queimadas

irregulares e extração de ginseng, motivos que têm servido como objeto de

estudo e preocupação para as autoridades e ambientalistas. O mesmo não se

observa em relação à divulgação do Parque pela mídia, que na maioria das vezes

tem se pautado pela catástrofe, àquilo que já aconteceu, e não pode mais ser

remediado, quando o papel social a ser cumprido deveria ser antecipar-se aos

acontecimentos, contribuindo como agente formador de opinião da sociedade. A

mudança de enfoque dos meios de comunicação, juntamente com a elaboração e

aplicação efetiva do Plano de Manejo desta Unidade de Conservação, constituem

hoje o maior desafio a ser vencido por todos (cidadãos, órgãos governamentais e

não governamentais) para que as gerações futuras tenham o direito de conhecer

o patrimônio natural reservado pelo Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema.

Palavras-chave: Comunicação e Mobilização; Parque; Meio Ambiente -

Desenvolvimento Sustentável.

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xiii

ABSTRACT

The State Park of Fertile valleys of the River Ivinhema located in the southwestern

region of Mato Grosso of the South, with an area of 73.315,15 ha, encloses the

cities of Ivinhema, Naviraí, Jateí and Taquarussú and finishes in the State it

Paraná. Located it has 410 kilometers of the capital of the State, Campo Grande,

the implanted headquarters inside of the limits of the city of Jateí, has as

neighboring next the city to Ivinhema. The Ivinhema name, of aboriginal origin,

represents a local geographic characteristic: "River of Two Estuary". A delimited

territorial space, with excellent natural characteristics, and legally instituted for the

public power for protection of the nature, created in 17th of December 1998 for the

Decree Law n. 9.278. The Park today represents the last ecosystem area fertile

valley of the Basin of the River free Paraná of damming. It was created as ambient

compensatory action of the Energy Company of São Paulo (CESP) due to

construction of the Hidrelétrica Engenheiro Sergio Motta (old Port Spring). In the

study area, of general form, the developed economic activities in the region where

today it is configured the Park had been responsible for the uncharacterization and

spalling of the vegetal covering. The lagoons have great importance for survival of

the local fauna, amongst the found species of ictiofauna in the dammed waters

that form the lagoons, can be cited: pacú, jurupoca, corimba, cascudo and the

painted one; constantly threatened for it fishes predatory, that still more effective

happens due to a fiscalization. Another serious problem concentrated in the abrupt

declivities of the rivers Paraná and Ivinhema around of the Park is the garbage

concentration left for the clandestine fishing. Also it is verified inexistence of

projects of ambient education or any other activities that assist in the mechanism

creation to subsidize and to guide the ones that they live and they frequent the

region understood for the Park. In accordance with the meetings carried through in

the first semester of 2004 between the SEMA, the IMAP, Scientific Community

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xiv

and Governmental bodies, had been launched the first proposals of handling and

zoning for the Park, including the recovery of the ciliary bush and a work of

ambient education aiming at to reduce the problems the medium and long run. In

accordance with research carried through for connoisseurs of the SEMA and Body

of Firemen in last the two years had occurred in the region of the Park five fires of

great ratios in the area of the Park. The majority of the times, caused for the men

action of deforestation, irregular forest fires and extration of ginseng, reasons that

have served as object of study and concern for the authorities and ecologists. The

same if it does not observe in relation to the spreading of the Park for the media,

that in the majority of the times if had condute for the catastrophe, to that already it

happened, and cannot more attenuated being, when the social paper to be fulfilled

would have to be to anticipate it the events, contributing as to create agent of

opinion of the society. The change of approach of the medias, together with the

elaboration and application accomplishes of the Plan of Handling of this Unit of

Conservation, constitutes the biggest challenge today to be looser for all (citizens,

governmental bodies and not governmental) so that the future generations have

the right to know the natural patrimony reserved by the State Park of Fertile

valleys of the Ivinhema.

Word-key: Communication and Mobilization; Park;, Environment; Sustainable Development.

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1. INTRODUÇÃO

Desde o início da civilização os povos reconhecem a existência de sítios

geográficos com características especiais e tomaram medidas para protegê-los.

Esses sítios estavam associados a mitos, fatos históricos marcantes e à proteção

de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros recursos naturais, sendo que

o acesso e utilização destas áreas eram controlados por tabus, normas legais

(ANTUNES, 2000).

A participação popular, através da mobilização da mídia, é importante para

se atingir a preservação de áreas de interesse natural, conhecidas como

Unidades de Conservação.

O conceito moderno de Unidade de Conservação (UC) surgiu com a

criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, em 1872. A criação deste

Parque tinha como escopo preservar a beleza cênica, a significação histórica e o

potencial para atividades de lazer. Foi a partir da constituição desse que houve

limitação no processo de colonização do oeste americano, servindo como

exemplo para a criação de outras unidades de conservação (MILARÉ, 2000).

Para que se possa iniciar uma mobilização social é preciso antes de tudo

conhecer a realidade e promover questionamentos apresentando alternativas

para mudanças de comportamento. Uma das formas é utilizar os meios de

comunicação com intuito de preservar, levando-se em consideração a influência

que a mídia exerce na formação de opiniões e posicionamentos positivos ou

negativos quando expõe um bem comum: a natureza. Assim, para detectar e

quantificar este poder na vida do homem há de se ressaltar a importância da

utilização dos sentidos. Por exemplo, quando uma fotografia no jornal ou uma

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imagem na televisão e até mesmo um texto descritivo bem elaborado retrata as

“maravilhas” ecológicas de locais como o Parque, coloca em evidência excessiva

e desnecessária um determinado ambiente que não possui estrutura básica para

atender a demanda de visitação que surge a partir daí.

Neste aspecto a Comunicação Social, embasada no conhecimento

jornalístico de investigar, apurar, analisar e descrever os fatos, torna-se ponto de

partida para se detectar a importância dos diferentes agentes internos e externos

que interagem na região, antes de torná-la conhecida.

O estudo acha-se focado em estratégias dos meios de comunicação que

possam suscitar mobilização social na região onde se encontra o Parque Estadual

das Várzeas do Ivinhema, cenário desta investigação.

O Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema (PEVRI), criado pelo Decreto-

lei nº. 9.278 de 17 de dezembro de 1998, publicado no Diário Oficial nº. 4.921 de

18 de dezembro de 1999 (páginas 02 e 03); abrange os municípios de Ivinhema,

Jateí, Taquarussu e Naviraí, no sudoeste do Estado, rumo ao sul, com uma área

de 73.315 ha.

A área de planície passa por inundações periódicas, o que contrasta com a

composição do solo em areia e argila, ora retendo muita umidade em alguns

trechos, característica que favorece a formação de uma infinidade de lagoas e

vegetação fechada, que garantem refúgio e sossego à formação de uma

diversidade singular na avifauna.

Diante das belezas cênicas construídas pela natureza, aliada à vontade de

preservação de quem conhece ou habita a região há mais de 15 anos, surge a

importância da interferência dos meios de comunicação.

A investigação procura, além de conhecer a realidade da área (Parque),

também agir em prol do desafio ecológico da criação de novas políticas

ambientais, para atender o apelo insistente de socorro dos rios soterrados por

barrancas assoreadas, animais mortos indiscriminadamente e coibir com rigor

necessário a utilização criminosa de anzóis e linhadas fixadas nos galhos ao

longo da barranca dos rios Paraná e Ivinhema, capturando peixes sem respeitar

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medidas, peso e a época de acasalamento.

Assim, para a clareza do leitor, este estudo foi organizado em cinco

capítulos, além desta introdução. Acompanha também a dissertação um material

em vídeo produzido durante as visitas realizadas ao Parque, com duração de 12

minutos, que retrata a estrutura do local, a falta de fiscalização, a depredação dos

pesqueiros desapropriados e a caça e pesca predatórias.

No capítulo I constam os materiais e métodos que possibilitaram efetuar os

encaminhamentos da presente investigação.

As entrevistas foram aplicadas aos únicos dois moradores do Parque na

região já desapropriada, também foram ouvidos os pescadores que estavam no

entorno do Parque, em limite permitido próximo da barranca do Rio Paraná, assim

como os pescadores encontrados em áreas irregulares e até mesmo em algumas

lagoas localizadas dentro do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema.

O capítulo II apresenta de forma descritiva as maravilhas do local e

complementa com depoimentos dos habitantes as informações divulgadas pelos

meios de comunicação (jornais e TV) sobre a realidade do Parque.

No Capítulo III aborda-se a caracterização do Parque Estadual das

Várzeas do Rio Ivinhema no que tange a composição do solo, vegetação

aquática, fauna, flora e toda biodiversidade que o cerca. Todos os depoimentos

ouvidos e gravados em vídeo foram relevantes para delimitar as necessidades da

região.

O Capítulo IV trata da identificação e análise das Estratégias de

Comunicação para a Mobilização Social adotadas pelos órgãos públicos por meio

da mídia e traz dados oficiais da Secretaria de Meio Ambiente e do Corpo de

Bombeiros, que enfrentaram nos últimos dois anos cinco grandes incêndios no

Parque.

No Capítulo V destacam-se algumas sugestões de Programas e Sub-

programas para execução do Plano de Manejo. Os dois capítulos seguintes

descrevem os resultados e apresentam recomendações sobre a execução do

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Plano de Manejo e a responsabilidade da Mídia na preservação do Parque.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivos gerais

a) Identificar estratégias de comunicação, que tragam possibilidades na

agregação de valores, de novos paradigmas e na formação ou informação da

população, principalmente no uso inadequado do Parque Estadual das Várzeas

do Rio Ivinhema.

b) Analisar os elementos influenciadores do Ecossistema em estudo que tenham

de certa forma contribuído para o impacto.

1.1.2 Objetivos específicos

a) Evidenciar condições da atual situação do Parque Estadual das Várzeas do Rio

Ivinhema.

b) Identificar as estratégias de comunicação em relação à forma de divulgar os

acontecimentos na região e não só as degradações ambientais, mas também

todo o processo de desgaste que o homem tem submetido à natureza ao longo

dos anos, no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, MS;

c) Sugerir publicações midiáticas para a divulgação que possam trazer

contribuições para o monitoramento da área, envolvendo os meios de

comunicação como parceiros.

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2. BASES TEÓRICAS

2.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E A MÍDIA

Henriques (2002) menciona a criação de um programa de planejamento de

comunicação para projetos de mobilização social desenvolvido pela UFMG em

1997, pelo Departamento de Medicina Preventiva e Social, para revitalização da

bacia do Rio das Velhas, que abrange 51 municípios no Estado de Minas Gerais.

O projeto prevê uma central para a coordenação e a ligação dos municípios em

comitês para solucionar autonomamente problemas locais. O autor deixa claro

que para haver sucesso de projetos de recuperação ambiental e revitalização, é

preciso mais do que uma intervenção técnica no local. O que realmente pode

trazer bons resultados é gerar e manter vínculos, que se transformem em uma

das formas mais persuasivas para a mobilização social chegar ao nível de co-

responsabilidade.

O mesmo autor salienta ainda que a mobilização, para ser bem sucedida,

não depende da simples difusão de informações, como muitos acreditam, muito

embora a visibilidade, a divulgação e a presença na mídia sejam elementos

decisivos. Ressalta ainda que o desafio imposto pelos projetos de mobilização

impõe que se procure evidenciar o diferencial da comunicação, através de uma

reflexão sobre as funções e características que deve assumir, para que não seja

um fim em si mesma e esteja condizente com a proposta ética. O objetivo é

mostrar que a comunicação, planejada a partir de um horizonte ético, passa a ser

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um dos principais instrumentos para auxiliar o movimento em seu processo de

transformação da realidade.

A influência da mídia como meio de comunicação e em especial as de

publicações em jornais, revistas e TVs que se caracterizam pelo tipo de

comunicação de massa têm papel fundamental para difundir a matéria, dar

legitimidade à causa, de modo a instigar a força de convocação da opinião

pública.

Para Toro e Werneck (1996), a mobilização é considerada um processo de

convocação de vontades para a mudança da realidade, através de propostas

comuns estabelecidas em consenso. É possível compreender a demanda pela

comunicação estrategicamente, uma vez que as pessoas precisam sentir-se

como parte do movimento e abraçar verdadeiramente sua causa. Na mesma

obra, os autores demonstram encontrar-se num dilema por acreditarem que a

excessiva preocupação com o planejamento pode causar a institucionalização e

burocratização, a ponto de impedir uma vinculação espontânea dos indivíduos

entre os instrumentos de comunicação e o acesso do público às informações.

O desafio da comunicação, ao mobilizar, é tocar a emoção das pessoas,

sem, contudo, manipulá-las, porque se assim for feito, ela será autoritária e

imposta.

Ao ampliar esses desafios têm-se as questões culturais, históricas e

políticas, que também determinam a vontade de participar e se engajar em algum

movimento.

Já no Continente Europeu, segundo Antunes (2000), existe outro conceito

de área natural protegida, tendo em vista que, após milênios de colonização

humana, muito pouco restou dos seus ambientes originais. Mas apesar da

degradação, a paisagem alterada ainda apresentava importantes atributos de

beleza cênica, ameaçada pelo crescimento urbano e pela agricultura de larga

escala, sem contar que existiam poucas áreas de domínio público. Também o

preço da terra tornava inviável a desapropriação para a criação de Unidade de

Conservação.

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Diante dessa realidade, a alternativa adotada foi a criação de mecanismos

jurídicos e sociais para regular o uso das terras privadas. Dentre esses

mecanismos destacam-se: os acordos para preservar certas práticas do uso do

solo, os contratos para a recuperação de atributos cênicos e biológicos e os

acordos entre proprietários e organizações civis para manter uma rede de trilhas

para pedestres em áreas privadas.

Nessas iniciativas pode-se perceber que a conservação da biodiversidade,

como um objetivo per se, não aparecia como motivação para a criação dessas

primeiras modalidades de área protegida. No Brasil, a primeira iniciativa para a

criação de uma área protegida ocorreu em 1876, como sugestão do engenheiro

André Rebouças inspirada na criação do Parque de Yellowstone: um parque

nacional em Sete Quedas e outro na Ilha do Bananal. No entanto, data de 1937 a

implantação do primeiro o Parque Nacional de Itatiaia (Antunes, 2000).

Cumpre, primeiramente, ressaltar que na literatura especializada, muitas

vezes as áreas naturais protegidas e as unidades de conservação são chamadas

de “espaços protegidos”, no sentido de serem áreas onde o uso dos recursos

naturais e mesmo o acesso do público sofrem uma série de restrições (Santos,

2000).

Assim, faz-se necessário explicitar a diferença entre “área natural

protegida” e “unidade de conservação”. Na grande maioria dos países, as áreas

popularmente chamadas de “parques e reservas” são tratadas como áreas

protegidas. No Brasil, país que se orgulha de possuir uma das legislações

ambientais mais avançadas e completas do planeta – a despeito da sua

implementação apenas parcial – há uma adequada diferenciação entre o que são

áreas naturais protegidas e os “parques e reservas” do senso comum.

Além da contextualização prevista pela lei, a co-responsabilidade, segundo

Franco (1995), é de suma importância para que haja vinculação entre público e

comunicação o sentimento de responsabilidade pelo sucesso do projeto,

entendendo que a participação de cada um como parte torna-se essencial no

todo. Essa co-responsabilidade tem origem nos sentimentos de solidariedade e

compaixão. A ação comunicativa possibilita a criação, a manutenção ou o

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fortalecimento dos vínculos, já que o enfraquecimento torna-se indesejável.

Segundo Henriques 2002, as áreas naturais protegidas são todos os

espaços criados com o objetivo de conservar a diversidade biológica, os recursos

naturais, culturais, históricos e paisagísticos e promover o desenvolvimento

sustentável de uma região. Incluem terras públicas e particulares (Lei nº 9.985 de

18 de julho de 2000). No Brasil, existem sete tipos de áreas protegidas: Unidades

de Conservação (UC’s); Reservas Legais; Áreas de Preservação Permanente;

Reservas da Biosfera; Sítios do Patrimônio Natural Mundial; Sítios Hamsar (áreas

úmidas e alagadas); e áreas protegidas por mecanismos diferentes de leis ou

convenções internacionais (Antunes, 2000).

O Brasil possui uma lei específica para as UCs (Lei nº. 9.985, editada em

18 de julho de 2000). Essa lei ficou conhecida como a Lei do SNUC (Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), porque institui o sistema

citado e define áreas protegidas em seu artigo 2°, como:

... espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos sob regimes especiais de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (Brasil, 2002).

Os objetivos perseguidos pela unidade de conservação são:

1) preservar a biodiversidade da fauna e flora para o desenvolvimento de

pesquisas, visando sua utilização racional;

2) ser utilizada como referência para estudos comparativos das

transformações que ocorrem nas áreas adjacentes;

3) proteger os recursos hídricos;

4) proteger paisagens de relevante beleza, preservando o que

denominamos de paisagem ecológica;

5) subsidiar atividades de educação ambiental;

6) evitar a conturbação e preservar áreas verdes urbanas.

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Porém um dos principais problemas relacionados à preservação ambiental

é o de ordem econômica. Segundo Leff (1998), a questão econômica é fundada

na racionalização de recursos escassos, na lógica do mercado e no equilíbrio de

fatores produtivos, resultando numa sociedade de consumo. O aprofundamento

nesse caso passa pelo quesito investimento.

Uma das alternativas encontradas para se viabilizar a UC é através do

ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) verde ou ICMS

ecológico, repassado pelo Estado aos municípios que possuem em seus

territórios Unidades de Conservação, incluindo as Reservas Particulares do

Patrimônio Natural, de acordo com o Decreto 974/91, que regulamenta a lei. Este

imposto teve origem no Paraná, sendo seguido pelos estados de São Paulo e

Minas Gerais. Esta medida foi extremamente interessante, especialmente por

provocar uma mudança da visão dos municípios frente ao conceito de

conservação, acenando com uma perspectiva de fonte de renda na preservação

de ecossistemas.

O ICMS é o imposto mais importante em nível estadual. Cada estado tem

seu próprio perfil de distribuição do ICMS aos municípios, embora tenha de seguir

o Art. 158, parágrafo único da Constituição Federal, onde no mínimo 3/4 dos

recursos repassados obedecerá ao critério do Valor Adicionado (que corresponde,

para cada município, ao valor das mercadorias saídas, acrescido do valor das

prestações de serviço no seu território, deduzido o valor das mercadorias

entradas, em cada ano civil). O 1/4 restante será repassado de acordo com o que

dispuser a lei estadual (Loureiro, 1997).

O ICMS Ecológico representa uma iniciativa que pode ser adotada por

qualquer Estado brasileiro. O perfil atual da distribuição do ICMS permite esta

possibilidade sendo que em 8 estados o critério do repasse pelo Valor Adicionado

Fiscal está acima dos 75% determinados pela Constituição Federal, 5 Estados já

possuem o critério ambiental em funcionamento e 14 necessitariam de rearranjos

novos entre os vários critérios em utilização, posto já estarem no limite da sua

possibilidade de legislar.

O benefício do ICMS ecológico se dá sob forma de repartição de uma

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porcentagem do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a

que os municípios têm direito constitucionalmente, aos municípios que possuem

em seu território Unidades de Conservação ou Mananciais de Abastecimento

Público para municípios vizinhos, e que por isso têm restrições de uso de seu

território. A Lei do ICMS Ecológico incentiva os municípios para que promovam

ações de preservação dos recursos naturais, com a proteção legal de áreas

naturais ou o tratamento de lixo e esgotos sanitários, destinando maior parcela do

ICMS a estes municípios. O repasse do ICMS obedece a uma fórmula técnica

definida na legislação.

De acordo com a legislação vigente, os objetivos principais do ICMS

Ecológico são:

• compensar os municípios que possuem porções de seu território

protegidas por unidades de conservação que implicam restrições de

uso do solo, e

• incentivar a criação, implantação e manutenção de unidades de

conservação pelos próprios municípios, contribuindo para

descentralizar e consolidar a política de proteção de ecossistemas

naturais.

Incentivar o município significa fazer uma aliança muito útil com a

população, pois no momento em que a existência de áreas a serem protegidas

significa um retorno de recursos financeiros e de outros benefícios para a

comunidade, ela será a primeira a se interessar em proteger e manter intacto um

patrimônio, como bem de todos. Mas muitas vezes este recurso não chega ao seu

destino, o que pode ser observado no Parque Estadual das Várzeas do rio

Ivinhema, que não tem recebido fiscalização adequada nem funcionários que

possam colaborar na manutenção e conservação do local, como prevê o art.2º da

Lei do ICMS Ecológico1.

Fazer evoluir os procedimentos ou mesmo a legislação dos estados onde

já existe o ICMS Ecológico é fundamental, posto já existir massa crítica disponível

1 ICMS Ecológico, Lei nº 9491/90, Artigo 2º, Decreto Lei 974/91.

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para tal. É necessário também trabalhar por sua manutenção no contexto do

Sistema Tributário Nacional e após a Reforma Tributária.

Face às especificidades de cada estado e seu arcabouço legal disponível,

no quadro 1, discriminam-se os estados e algumas recomendações que poderiam

representar o avanço na gestão do instrumento de política.

Quadro 01 - Estados onde existe o ICMS ecológico e algumas recomendações para o avanço de seus procedimentos ou legislações:

Estados Recomendações

Paraná Aprimorar o processo de avaliação, tábuas específicos e planos de metas negociadas com os municípios.

Minas Gerais Garantir o ICMS Ecológico e operar o critério qualitativo

São Paulo Reformular a legislação atual e aprimorar os critérios

Rondônia Adoção de variáveis qualitativas/apurar regulamentação

Amapá Regulamentar e implementar o ICMS Ecológico.

Rio Grande do Sul

Alterar a legislação visando dar plenitude ao ICMS Ecológico.

Mato Grosso do Sul

Implementar os critérios qualitativos em relação as áreas protegidas e otimizar a utilização o ICMS Ecológico visando a consolidação do sistema Estadual de Unidades de Conservação.

Mato Grosso Implementar os critérios qualitativos em relação as áreas protegidas e otimizar a utilização o ICMS Ecológico visando a consolidação do sistema Estadual de Unidades de Conservação.

Pernambuco Reformular a regulamentação do ICMS Ecológico introduzindo metodologia adequada ao cumprimento da Lei.

Tocantins Na fase de preparação da implementação da sua Lei, deveria incluir já, na primeira fase a avaliação da qualidade das unidades de conservação e terras indígenas.

Fonte: SEMA 2003

É importante ressaltar que o estudo da inter-relação entre a situação real

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que se encontra o parque e a comunidade residente em torno, ou seja, nas

fazendas vizinhas, tem objetivo de realizar possíveis intervenções que busquem

minimizar o impacto causado por décadas de degradação, seja pela forma

imprópria de uso e ocupação do solo, a citar como exemplo a drenagem de

extensas áreas para a implementação da pecuária extensiva, seja pela falta de

conscientização ambiental da sociedade e de governantes (CESP, 2000-2003).

2.1.1 Interdisciplinaridade e Desenvolvimento Sustentável

O artigo “O Pantanal que a mídia não mostra”, no tópico sobre a fragilidade

das relações entre a sociedade-natureza, dispõe sobre problemas que afetam o

Pantanal, região de fauna e flora tão rica quanto o Parque e cita trecho do resumo

executivo do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (PCBAP 1997)

(Brum, 2003: 164)

A inserção da sociedade sem um adequado dimensionamento dos níveis de intervenção na natureza, tornando o ambiente irreversivelmente comprometido, é um dos grandes desafios para o desenvolvimento sustentável. O conhecimento da potencialidade dos recursos naturais deve acompanhar o conhecimento da fragilidade potencial dos ambientes em que tais recursos ocorrem. Deste modo, o planejamento ambiental envolve o estudo das relações entre a sociedade e a natureza, precisando, para tanto, conhecer a história dessa sociedade, sua cultura, suas relações econômicas e a base de sua sustentabilidade (Peruzzo e Almeida, 2003).

Banducci e Brum apud Peruzzo e Almeida (2003) consideram que a

exploração das matas e as atividades de caça não se exercem, nesses lugares,

pela livre vontade e determinação dos homens. Há de se respeitar as forças que

controlam e protegem a natureza. Do contrário, aquele que comete excessos, que

invade com seus machados e foices locais proibidos deve estar sujeito às

pesadas sanções.

A possibilidade de se usar a interdisciplinaridade como uma das formas de

se ampliar horizontes e garantir a elaboração de estudos que implicam mais

conhecimento da teoria, o domínio da metodologia, bem como a capacidade de

operacionalizar o instrumento técnico de apoio para que este trabalho proposto se

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complemente como um todo, garante minuciosidade em várias áreas e aspectos,

numa ótica segmentada e diversa.

É necessário para entender o funcionamento do todo, compreender o

mecanismo funcional de cada um dos componentes em relação aos demais.

A mídia pode com certeza ser responsabilizada pelo processo massificador

que exerce ao expor a natureza de forma contemplativa, sem se preocupar se

existe algum tipo de infra-estrutura para receber o turista que vai procurar aquele

local projetado na tela como um “pedaço do paraíso”.

As agências de turismo encontraram aí um filão de ouro. Uma gama

enorme de alternativas para mostrar o Brasil para o próprio brasileiro e para o

mundo. Os vídeos com imagens fabulosas de rios, ilhas, cachoeiras e matas

começaram a despertar a curiosidade da população e os prejudicados pela falta

de infra-estrutura foram sobretudo os pontos eleitos turísticos.

As belezas dos lugares falam por si, mais do que qualquer propaganda

institucional para vender pacotes de viagem; a natureza precisava de um kit

básico de proteção, de cuidados para permanecer viva, já que intacta não seria

mais possível.

Essa mobilização em busca da sustentabilidade do ambiente consiste na

prática, na criação e adoção de novas medidas em prol da natureza e novos

posicionamentos. A existência de uma área de proteção ambiental,

necessariamente, não significa estar essa Unidade de Conservação livre das

agressões e má utilização por parte do desenvolvimento urbano feito sem uma

política capaz de organizar e manter o progresso.

Entre a evolução e o aperfeiçoamento, a relação entre o homem e a forma

com que se relaciona com o meio ainda é muito conflituosa e imprecisa. Através

de um consenso social que deve ter início com um processo de reeducação da

comunidade, a sobrevivência das espécies pode se manter em harmonia. A

extração disciplinada garante o desenvolvimento e a possibilidade de contribuição

através de pesquisas, nova legislação que regulamente com vigor cada área do

planeta.

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2.1.2 O papel ideal dos meios de comunicação na proteção ambiental

Seguindo Barbeiro e Lima (2002), há de ser ressaltada a importância dos

veículos de comunicação, principalmente os eletrônicos, como prestadores de

serviços na proteção do meio ambiente.

Com objetivo singular de divulgar informações dos acontecimentos à

população, os meios de comunicação lutam pelo imediatismo, ocupando também,

parte significativa de sua programação com informações sobre trânsito, estradas,

clima, aeroportos, rodoviárias, pagamento de impostos, direito do consumidor,

mercado financeiro, oferta de empregos, agenda cultural. Na última década,

detecta-se com facilidade o aumento da preocupação em expor os problemas e

desafios enfrentados pela natureza por causa da ação predatória do homem

contra o ambiente. Parcela significativa da programação de canais abertos e

fechados tem reservado espaços em horários considerados nobres, para aos

poucos prestar um serviço de educação ambiental à população de forma

subliminar, ampla e abrangente, e até mesmo didática, explicando o que é, onde

está localizado, como funciona, para que serve, quais as conseqüências da

destruição, locais destruídos e locais preservados.

Pode-se usar como exemplo os programas produzidos no Brasil pela Rede

Globo de televisão: Globo Ecologia, Globo Repórter, além da inserção de

reportagens especiais no Jornal Hoje, Jornal Nacional, Jornal da Globo e Bom Dia

Brasil e jornais locais diários, veiculados pelas afiliadas da Rede Record, SBT,

Rede Bandeirantes, TV Cultura e também programação integral exibida em canal

fechado como a Directv, Discovery Channel, National Geographic entre outros.

Atualmente, a tecnologia está preparada para resolver qualquer dificuldade

de acesso. As TVs utilizam com freqüência: helicópteros, aviões, equipamentos

via satélite para estabelecer links na transmissão ao vivo, assim como a arte

através da computação gráfica e da edição não linear que permite fusões de

imagens e outros recursos que chamam a atenção de telespectadores do mundo

inteiro.

Utilizar a natureza como bandeira é um serviço importante a ser prestado à

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sociedade, mas na maioria das vezes a divulgação do tema está relacionada à

sazonalidade dos interesses. Os flashes sobre o assunto por vezes flutuam em

meio a um emaranhado de assuntos menos importantes, passando uma

mensagem fria, publicitária, tendenciosa e facilmente despercebida ou

desprezada pelo próprio telespectador, como mais uma propaganda que

interrompe os horários das novelas ou os telejornais.

O assunto torna-se notícia quando já é catástrofe, ou seja, quando o

assoreamento, o fogo, a contaminação ou a mortandade de animais silvestres ou

aquáticos pode ser vista em larga escala. Dessa feita, a preocupação com meio

ambiente eclode em entrevistas frenéticas voltadas apenas aos ecólogos,

turismólogos, sendo que a população que ocupa a região raramente conhece ou

sabe da existência de um estatuto que regulamenta o relacionamento entre

homem e natureza, garantindo a sobrevivência de um a e conservação de outra.

A superexposição no terreno árido da escolha do “importante” para

determinado momento é totalmente questionável do ponto de vista ético. Vazquez

(1985: 123) define norma como:

... meio de regular o comportamento dos indivíduos de acordo com a necessidade e o interesse de determinada comunidade, e, por conseguinte, justifica-se na medida em que está de acordo com ele. Portanto toda norma para ser justificável, deve ser situada num contexto humano concreto, isto é, no quadro de uma comunidade histórico-social determinada.

Ainda segundo Vazquez (1985: 97), ao citar Bunge, informa que o código

moral é o conjunto ou o sistema articulado de normas que possuem coerência

interna sem contradições. Assim, uma norma se justifica cientificamente quando

não só se adapta à lógica, mas também aos conhecimentos científicos já

estabelecidos, ou é compatível com as leis científicas conhecidas.

Dado que a história da moral tem um sentido ascensional, com um

crescimento do domínio dos homens sobre si mesmos, por sua relação cada vez

mais consciente, livre e responsável com respeito aos outros, pela

regulamentação de seus atos de tal maneira que os interesses pessoais

combinem cada vez melhor com os interesses da comunidade. Dentro desse

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processo ascensional, uma norma ou um código moral tem um caráter relativo e

transitório (Vazquez, 1985).

O princípio Kantiano, por exemplo, verdadeiramente humanista, trata

sempre o homem como um fim e não como um meio, que se apresenta com uma

forma universal abstrata e uma aplicação limitada, enquanto não se verificam as

condições reais para sua plena e universal realização. Isso significa que uma

norma ou código moral não pode ser considerado como algo imóvel e fixo. Logo,

uma norma moral se justifica dialeticamente quando contém aspectos ou

elementos, que no processo ascensional moral, se integram em um novo nível de

moral superior.

A prática da comunicação horizontal é mais viável no caso dos modelos

interpessoais (individuais e em grupo) do que no caso dos modelos impessoais

(massas). Óbvia explicação técnica para esse fato é a dificuldade intrínseca de se

alcançar retroalimentação na comunicação de massa. Mas a explicação principal

é política: os meios de comunicação de massa, em sua maioria, são instrumentos

viciados das forças conservadoras e mercantilistas, utilizados para controlar os

meios de produção nacional e internacionalmente.

O diálogo nem sempre é possível e, poder-se-ia acrescentar, o monólogo

nem sempre é evitável, sendo até mesmo necessário, algumas vezes,

dependendo de diversos propósitos e circunstâncias. Segundo Melo et al. apud

Peruzzo e Almeida (2003), esses dois elementos poderiam ser vistos como dois

extremos de uma linha contínua. Idealmente todas as formas de comunicação

deveriam ser horizontais. Na prática nem sempre esse ideal é possível e talvez

nem sempre seja desejável. Assim, quando a comunicação vertical tiver de

permanecer ainda em cena, não deveria de forma alguma ser exercida de forma

manipuladora, enganadora, exploradora e coercitiva.

Com base nas teorias acima mencionadas, há de se ressaltar que a

comunicação de forma geral deveria ser composta, sobretudo, por critérios morais

e éticos, seguindo os anseios e carências da sociedade, desvinculados de

qualquer sentido unicamente capitalista e tendencioso. Os fatos tornam-se

notícias de forma cíclica, mas sem fundamentos de princípios, ordenamentos e

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prioridades preservacionistas. O que interessa às empresas jornalísticas é o que

vende, o comercial, o populista. Ideologias, conjecturas, probabilidades de

extinção não são notícia. O desastre e o extermínio sim. Muito mais fácil e

educativo seria apresentar e ressaltar o belo para que permaneça como tal. Mas

como chamar a atenção das pessoas com tal proposta “tão desinteressante”? O

tema precisa de um “gancho”, um enfoque maior, grandioso, atraente e é assim

que a imprensa coloca a natureza em segundo plano, sem a mínima cerimônia de

deixá-la fenecer para transformá-la em notícia.

2.1.3 A comunicação transmitida pelos telejornais nacionais

A obra de Ramos (1995) destaca a importância que a mídia televisiva deu

para a Rio 92, relatando a quantidade e a freqüência das matérias veiculadas e os

telejornais e emissoras que mais deram importância merecida ao assunto. Foram

assistidos ao todo 60 programas, no período de 04 de maio a 11 de junho de

1992, que de alguma forma abordaram a problemática ambiental ou citaram a

conferência, mesmo que o assunto principal da reportagem não tenha sido o

evento. Os telejornais foram gravados em videocassete, no formato VHS. Os

dados obtidos foram contabilizados em três fases de pesquisa: preparação,

realização e repercussão. De uma maneira geral o resultado confirmou, segundo

o autor, uma tendência esperada: a fase de preparação funcionou como uma

espécie de aquecimento, criando expectativa em relação ao evento, na fase de

realização o evento passou a ser o principal assunto, ganhando definitivamente o

destaque dos telejornais para, logo em seguida cair no esquecimento, ou seja,

apresentando uma repercussão insignificante a curto prazo.

Outro dado interessante destacado durante a pesquisa é que as emissoras

Globo e Manchete prepararam uma sofisticada operação para dar cobertura ao

evento, com envolvimento de técnicos e jornalistas, para realizarem várias

entradas ao vivo. Os apresentadores no estúdio abriam o tema com as

chamadas, colocando o repórter ao vivo no Rio Centro (na Conferência da ONU)

ou no Fórum Global (na Conferência paralela realizada pelas ONGs –

Organizações Não Governamentais), os repórteres sintetizavam os principais

assuntos do dia e chamavam reportagens especiais já gravadas por outros

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repórteres sobre os temas mencionados. As matérias eram distribuídas ao longo

dos telejornais em todos os blocos, de forma com que “parecesse” que os

assuntos tratados nos eventos estavam sendo amplamente divulgados.

Essa narrativa nos remete aos dias de hoje, ao mesmo comportamento da

imprensa dedicado ao ambiente onze anos depois da Eco 92, que continua a

tratar os assuntos de forma superficial, sem dar continuidade, de maneira que

caiam no esquecimento. Ganham destaque no momento catastrófico, levanta-se o

possível culpado pelo dano e encerra-se a matéria com uma trilha e imagens

marcantes. O assunto parece ter morrido ali, naquela imagem, naquela frase, na

música triste reforçando o estado de degradação. Mas o pedido de socorro é

inepto, esquecido entre tantos outros interesses maiores da política, da economia,

da saúde, do esporte, a natureza se perde mais uma vez. Ganha destaque e

perde novamente a chance de ser retomada de maneira digna, instrutiva,

educativa ou, no mínimo, de ser retratada com continuísmo e verdade absoluta, já

que tudo que acontece é sempre tão relativo e passageiro.

2.1.4 A influência da comunicação na sociedade contemporânea

A evolução nos processos de comunicação, proporcionada pelo

desenvolvimento tecnológico, é um dos fatores responsáveis pela nova etapa no

relacionamento do homem com o ambiente. Como observa Beltrão e Quirino

(1989: 58):

... jamais a humanidade assistiu a tão radical revolução como a que se processou nos últimos cinqüenta anos com o estabelecimento formal do sistema dos meios de comunicação de massa. Imprimindo velocidade, ubiqüidade e penetrabilidade à mensagem, em escalas e níveis jamais alcançados, os meios técnicos, sobretudo os eletrônicos, criaram uma espécie de pseudônimo entre os homens e o mundo objetivo real – (e) são vistos como a envolver o homem moderno numa espécie de realidade substituta.

Nesta perspectiva de pensamento pode-se dizer que o domínio da

informação está diretamente ligado ao poder de inferir e reorientar as relações

humanas e da sociedade com a natureza. Portanto, é com grande influência dos

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meios de comunicação que a humanidade hoje toma conta dos problemas

ambientais e procura rediscutir os seus modelos de desenvolvimento e sua

atuação no ambiente. Nos últimos anos têm se verificado um aumento

significativo de publicações, documentários, campanhas de publicidade sobre o

ambiente, mas é, sobretudo, por meio dos jornais impressos e da televisão que as

questões ambientais, mesmo de forma superficial, têm chegado ao conhecimento

de segmentos da sociedade que não tinham antes acesso ao tema, já que, até

então, estavam restritas às comunidades científicas, aos seminários, às palestras,

às publicações em revistas especializadas, técnicas e livros.

É a partir da constatação da importância desses veículos da mídia em levar

a informação a todos os lugares indistintamente de escolaridade ou classe social,

que surge o interesse em investigar de que forma isso vem sendo realizado, e

qual a participação de massa real vem despertando interesse na formação de

opinião sobre a problemática ambiental.

O papel dos meios de comunicação na sociedade de massa

contemporânea tem sido amplamente pesquisado e debatido em vários estudos

que procuram analisar sua influência na formação de opinião e atuação como

elemento de controle social, político, ideológico e cultural.

Melo (1971: 72) assim caracteriza os meios de comunicação:

... os meios de comunicação social constituem, paradoxalmente, meios de elite e de massas. Como instrumentos mecânicos eletrônicos que difundem imagens de acesso potencial a todos os indivíduos da sociedade, eles são meios que atingem as massas, atuando entre elas e o mundo...No entanto, é preciso considerar que, embora atingindo a massa, os meios de comunicação social são meios de elite. Ou seja, são meios controlados pela elite.

Peterson e Rivers (1966: 76) entendem os meios de comunicação como:

... um adjunto das outras instituições, prestando-se ao exercício de poder por parte das mesmas. Têm sido usados especialmente pelas ordens políticas, religiosas e econômicas... Em toda sociedade ou os governantes ou os grupos mais poderosos tem usado as comunicações para estabilizar a ordem social e para consolidar o poder.

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Pesquisas realizadas por vários estudiosos da comunicação, como

Lazarsfeld, Klapper, Merton, Katz, Hovland, Maccoby, Ball-Rockeach e De Fleur,

Lins da Silva entre outros, revelam que, pela natureza complexa da comunicação,

os efeitos que ela gera dependem de uma interação entre os meios; as

mensagens; as intenções do comunicador; as preferências e predisposições do

receptor; as condições gerais que interpenetram todo o processo comunicacional

(Beltrão e Quirino, 1986).

Os meios de comunicação são instituições com muito prestígio na sociedade,

superando com grande vantagem as instituições fundamentais da República, dos

poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e das organizações da sociedade civil.

Portanto, além da interferência que causa na vida dos indivíduos, não se pode

deixar de considerar que atua decisivamente na estrutura social, criando

necessidades e motivações, reforçando padrões culturais e sociais, interferindo

na ação política.

2.1.5 A informação e a interdisciplinaridade

A estruturação da Ciência Ambiental tem início a partir do pressuposto básico

de que a investigação ambiental é por excelência interdisciplinar, uma vez que os

modelos tradicionais de análise compartimentalizada em áreas distintas do

conhecimento se mostram insuficientes para a abordagem dos problemas

complexos que envolvem o ambiente.

A ampla e irrestrita difusão de informações sobre a problemática ambiental

são, portanto, um elemento essencial para a consecução dessa desejada prática

interdisciplinar, ainda mais se considerarmos que o problema da interligação entre

as diversas áreas do conhecimento se acentua à medida que, muitas vezes, as

particularidades temáticas e o vocabulário específico de cada área dificultam os

entendimentos recíprocos, tornando-se um fator limitante para o alcance de uma

visão globalizante do meio ambiente. A esse propósito, Moraes (1990: 97) nos

lembra que:

Não há em nosso campo uma padronização mínima da linguagem, aos mesmos termos se atribuem conteúdos diferentes.

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O termo ecologia, por exemplo, aparece em alguns contextos discursivos como um objeto. Porém, em outros contextos aparece como um método, em outros ainda como ciência, e mesmo em alguns como questão política.

Essa situação expõe a dificuldade que ainda permeia a busca da

interdisciplinaridade na Ciência Ambiental, sendo que nesse “conjunto de

contextos” se insere a comunicação social, evidenciando-se aqui um paradoxo: ao

mesmo tempo em que desempenha um papel de elemento de ligação nos

esforços para a constituição de uma base de entendimento comum diante das

diferentes leituras sobre o ambiente, a comunicação de massa é responsável

tanto pela omissão quanto pela difusão indiscriminada de mensagens ambientais.

E, o que é mais grave, muito dessas mensagens, de forte apelo persuasivo,

reflete interesses meramente corporativos e não coletivos, como se deveria supor,

uma vez que o meio ambiente engloba toda a coletividade.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

Na pesquisa foram utilizadas referências bibliográficas, fontes essenciais

para os resultados objetivos, bem como o método dedutivo através da observação

direta, entrevistas semi-estruturadas e análise de conteúdo.

Entrevistas

A aplicação no início do mês de maio de 2003 de um questionário aos

visitantes, praticantes de pesca irregular e aos poucos moradores da planície de

inundação do dique marginal do rio Paraná, além do guarda do Parque, foi

fundamental para aprofundar a pesquisa.

Ao todo foram entrevistados dez pescadores, três deles pescando em

lagos dentro do Parque (flagrados em vídeo) onde alegaram ter desconhecimento

da proibição extrativista no local.

Foram ainda entrevistados o Sr. Francisco Fogaça e a esposa, que moram

próximo a um pesqueiro situado às margens direita do rio Paraná há mais de 20

anos. Mesmo após a desocupação da área pelos patrões, eles continuaram no

local, seguindo as normas de preservação indicadas pela Secretaria do Meio

Ambiente de MS. O maior sonho do morador é se transformar em mais um guarda

do Parque e continuar no local

O Sr. Arnaldo Fogaça, guarda do Parque, declarou morar na região há

quase 20 anos. Hoje ele é a única referência de fiscalização contínua no local,

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apesar da falta de infra-estrutura e equipamentos.

Pesquisa

A pesquisa teve início oficialmente com a primeira visita técnica em 11 de

abril de 2002. Nessa ocasião, delimitou-se a área de estudo, através da

participação no 2º Encontro da Gestão Compartilhada da APA das Ilhas e

Várzeas do Rio Paraná, promovido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

A segunda visita técnica ao Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema,

abrangendo os municípios de Ivinhema, Taquarussu, Jateí, Naviraí, situados no

estado de Mato Grosso do Sul, ocorreu no período de 05 a 08 de maio de 2003,

com acompanhamento de um cinegrafista contratado pela discente, para captar

imagens da atual situação em que se encontra a área e, ainda, uma discente do

4º semestre do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UNIDERP.

Durante essa visita técnica foi elaborado um vídeo, editado com duração

de 22 minutos, em sistema mini DV, e conservadas as imagens brutas no sistema

VHS (quase 6 horas de imagens). Essa reportagem foi exibida pela net canal 14

das TVS Universitárias e canal 11 da rede Record no Programa Uniderp em Ação,

horário comprado pela UNIDERP para exibição de reportagens aos domingos,

das 9 às 10 da manhã.

O trabalho, reduzido para 10 minutos, também foi apresentado no III

Encontro de Pesquisa e Iniciação Científica da UNIDERP (III ENPIC) –

desenvolvimento para a qualidade de vida (10 a 12 de setembro de 2003). Na

oportunidade foi apresentada esta pesquisa (11 de setembro de 2003 às 17 horas

no Bloco II) em sistema DVD.

O vídeo

Foram feitas imagens do local, e coletados dados. O ponto de partida foi a

sede até o final do Parque, no Estado do Paraná, sendo percorridos 35 km de rio.

As atividades de campo iniciavam às 5h, finalizando às 17h, durante o período

mencionado e no mesmo horário.

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Para o percurso do Rio Ivinhema, no trecho mencionado, utilizou-se

embarcação fluvial, cedida pela administração do Parque Estadual, bem como o

piloto.

A maior dificuldade é o acesso ao local, principalmente porque há a

necessidade de se atravessar essas fazendas. As estradas são de terra, não

possuem qualquer sinalização e estão em péssimo estado de conservação. Os

nomes das fazendas são a única referência para chegar até a área do Parque.

Faz-se necessário que a viagem seja feita durante o período diurno, com o tempo

aberto, sem chuvas.

O percurso em terra foi realizado em um veículo Toyota, também cedido

pela administração do Parque Estadual. A equipe foi acompanhada pelo motorista

Sr. Arnaldo Fogaça, também guarda do Parque.

Para o registro dos resultados, ainda parciais, foram utilizados os seguintes

materiais: equipamentos eletrônicos como máquina fotográfica, câmera filmadora

profissional, bloco de anotação, aparelho de GPS, objetivando resgatar dados

mais precisos sobre a região.

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4. O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-MS

O Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema foi criado pelo Decreto-lei

nº. 9.278 de 17 de dezembro de 1998, visando proteger a fauna e flora,

especialmente as espécies ameaçadas de extinção, tais como o cervo-do-

pantanal (Blatocerus dichotomus), o bugio (Alouatta fusca), a lontra (Lutra

longicaudis), a anta (Tapirus terrestris), a jaguatirica (Leopardus pardalis) e a

onça-pintada (Panthera onça); garantir a conservação dos remanescentes da

Floresta Estacional Semidecidual Aluvial e Submontana, dos ecossistemas

pantaneiros e dos recursos hídricos; garantir a proteção dos sítios históricos e

arqueológicos; ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais

atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental; incentivar as

manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional

e assegurar o caráter de sustentabilidade da ação antrópica na região, com

particular ênfase na melhoria das condições de sobrevivência e qualidade de vida

das comunidades da APA e entorno (MATO GROSSO DO SUL, 1999)2.

Este Parque é a primeira Unidade de Conservação de uso indireto criada

no Estado de Mato Grosso do Sul. A sede do Parque está localizada no município

de Jateí, abrigando pesquisadores e técnicos que se revezam na ocupação

destas casas, cumprindo etapas de estudo do parque para elaboração do Plano

de Manejo, cuja conclusão estava prevista para dezembro de 2003. 2 Publicado no Diário Oficial de Mato Grosso do Sul nº 4921 de 18 de dezembro de 1999 (página 02 e 03)

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FOTO 1 - Família de capivaras no rio Ivinhema, área do Parque. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

FOTO 2 - Casas para abrigar pesquisadores na sede do Parque. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

O local possui 65 quilômetros de extensão, ocupados antes por 45

propriedades rurais, entre ranchos de pesca e fazendas, sendo que a maioria é

de pequenas propriedades ao longo dos Rios Ivinhema e Paraná. (CESP)

Na época, o ainda governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Wilson

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Barbosa Martins assinou o Decreto, levando-se em conta a inexistência neste

Estado de Unidades de Conservação que protejam as amostras representativas

de seus biomas. Ademais, é dever do Estado a proteção ao ambiente, a

preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas naturais, a proteção de

belezas cênicas e de espécies em perigo e as ameaçadas de extinção, de acordo

com a Constituição Federal de 1988 e a Constituição do Mato Grosso do Sul.

Outra consideração na elaboração do Decreto foi a de que as várzeas e

ecossistemas associados do Rio Ivinhema caracterizam-se como último trecho

livre e representativo desse ambiente, em território brasileiro, abrigando também

fragmentos remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual do Domínio

Atlântico, conforme mapa de vegetação do IBGE, no ano de 1993 e que sua

proteção constitui-se como prioridade para a região, sendo inclusive recurso

natural raro (Prefeitura Municipal de Taquarussu, 2003).

A criação do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema, justificou-se para

implantação de uma unidade de conservação, neste Estado e apresenta-se como

elemento fundamental na política adotada pelo Governo, em 1998, para garantir a

esta e futuras gerações a proteção de recursos naturais existentes.

FOTO 3 - Ponto de partida dos barcos na sede do Parque. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

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Desde a criação do Parque do Ivinhema em 1998 até dezembro de 2003,

foram elaborados 10 relatórios, para que se pudesse chegar a um plano de

manejo adequado. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso do

Sul (SEMA, 2003:.67) previa a conclusão deste plano de manejo até dezembro de

2003, onde deveria constar:

I - elaboração do zoneamento ambiental, a ser regulamentado por instrução normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, definindo as atividades a serem permitidas ou incentivadas em cada zona e as que deverão ser restringidas e proibidas;

Il - utilização dos instrumentos legais e dos incentivos financeiros governamentais, para assegurar a proteção da biota, o uso racional do solo e outras medidas referentes à salvaguarda dos recursos ambientais;

Ill - aplicação de medidas legais destinadas a impedir ou evitar o exercício de atividades causadoras de degradação da qualidade ambiental;

IV - divulgação das medidas previstas neste Decreto, objetivando o esclarecimento da comunidade local sobre a APA e suas finalidades;

V - incentiva ao reconhecimento de Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN, instituídas pelo Decreto n.º 1.922, de 5 de junho de 1996, junto aos proprietários, cujas propriedades encontram-se inseridas, no todo ou em parte, nos limites da APA.

Ficam proibidas ou restringidas na APA, entre outras, as seguintes atividades:

I - implantação de atividades industriais potencialmente poluidoras, que impliquem danos ao meio ambiente e afetem os mananciais de água;

II: - realização de obras de terraplanagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas importarem alteração das condições ecológicas locais, principalmente nas zonas de vida silvestre;

III - exercício de atividades capazes de provocar acelerada erosão das terras, o assoreamento das coleções hídricas ou o comprometimento dos aqüíferos;

IV - exercício de atividades que impliquem matança, captura ou molestamento de espécies raras da biota regional;

V - despeje, nos cursos d’água abrangidos pela APA, de efluentes, resíduos ou detritos, capazes de provocar danos ao meio ambiente.

A APA será implantada, administrada e fiscalizada pelo Instituto Brasileiro

de Meio Ambiente (IBAMA), em articulação com os demais órgãos federais,

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estaduais e municipais, e organizações não-governamentais. Mas, para que haja

uma interação científica aliada ao amparo jurídico para preservação e

manutenção do equilíbrio sustentável da natureza a formação de parcerias é de

suma importância.

O Parque faz parte da área de proteção ambiental que compreende um

trecho extenso até as Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, criada por Decreto do

Governo Federal em 1997, com uma área de um milhão e oito mil hectares,

abrangendo 26 municípios, sendo 14 em Mato Grosso do Sul e 12 no estado do

Paraná. No interior dessa APA está inserido o primeiro parque estadual de Mato

Grosso do Sul - Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema. Com base no

mesmo propósito de preservação, já foram realizados dois encontros de gestão

compartilhada entre os dois estados para discutir projetos e manejos que

permitam o desenvolvimento de atividades econômicas sem causar prejuízo ao

ambiente.

O Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema, assim como o Parque

Nacional da Ilha Grande, no estado do Paraná, divisa com Mato Grosso do Sul,

foram criados como medida de compensação ambiental depois da inundação

causada pela Usina Engenheiro Sérgio Motta, antigo Porto Primavera, na divisa

dos Estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.

O trabalho de pesquisa a campo inicia-se com uma viagem de 410 km, cuja

duração é de aproximadamente sete horas, em direção à região sul do Estado de

Mato Grosso do Sul, utilizando-se a BR-163 até o trevo do município de Fátima do

Sul, atravessando, ainda, o município de Deodápolis, BR-376, denominada

Rodovia Deodápolis-Ivinhema, partindo para a estrada MS-141 até a entrada do

Parque Estadual.

O trecho da estrada MS-141 que dá acesso ao Parque Estadual encontra-

se em precário estado de conservação, não sendo pavimentado e condicionado a

tráfego temporário, bem como não há qualquer tipo de sinalização, tornando-se

intransitável nos períodos de chuva. Nessas épocas, uma opção de acesso é o

transporte hidroviário, seguindo os diferentes portos que estão situados às

margens do rio Paraná.

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Frisa-se que durante o acesso ao Parque Estadual, existem propriedades

rurais que, obrigatoriamente, são atravessadas pelos visitantes do local.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO

O Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema possui área total de 73.314

hectares e se encontra entre as coordenadas 230 000E UTM e 7470 000N UTM,

tendo como limites os rios Guiraí, lvinhema, Araçatuba, Curutuba e Baía ao Norte,

o rio Laranjaí ao Sul, o rio Paraná a Leste e diversas propriedades a Oeste.

A área do Parque está situada na bacia do rio Paraná, no sudeste do estado

de Mato Grosso do Sul, entre as micro-regiões de Iguatemi e Nova Andradina,

abrangendo os municípios de Naviraí, Jateí e Taquarussu.

O nome Parque das Várzeas do Ivinhema está relacionado ao ecossistema

local, caracterizado por uma planície alagada, conhecida por varjão, representada

por dois compartimentos geomorfológicos: a planície de inundação do Rio Paraná

e de seu tributário, o rio Ivinhema, com seus lagos e canais marginais e o baixo

terraço.

A região é caracterizada por uma paisagem rodeada de aguapés floridos e

outras plantas aquáticas (Foto 7), algumas de uso medicinal, como a erva-de-

bicho (Foto 8) que tem uma goma parecida com a da babosa e serve para

combater alergias e coceiras.

No local, durante a pesquisa, foram detectados várias ações antrópicas

prejudiciais ao ecossistema (quadro 2).

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Quadro 02 - Listagem dos Impactos Evidentes (checklist) na Unidade de Conservação.

Impactos Evidência (1)

Nome do Lugar onde se observou

o impacto

Possíveis Atividades que

Originam o ImpactoErosão

X Estrada no limite Norte do parque

(ponto 18)

Falta de obras de contenção

Compactação do Solo X

Diversos pontos do parque

Pecuária Extensiva

Presença de espécies exóticas

X

Diversos pontos do parque

(especialmente, próximo às antigas

sedes das fazendas)

Desmatamento

Lixo espalhado nas trilhas e estradas

X

Diversos pontos do parque

Atividades domésticas, deixado

por turistas e caçadores

Mata de Galeria Ausente

X

Diversos pontos do parque

Desmatamento e Queimadas

Assoreamento

X

Algumas áreas drenadas

(principalmente, na área pertencente a

antiga Faz. Stª Adélia)

Escoamento laminar em áreas de pasto

Secagem de áreas de banhados

X

Diversos pontos do parque

Construção de drenos

Queimadas X Diversos pontos do parque (ex-sede da

Faz. Stª Maria)

Criação de pasto e para uso doméstico

Lixo no leito dos rios X

Ivinhema, canais de Araçatuba e Iputã e rio Baía

Resquício de material utilizado em

pesca Extração de madeira, raízes e plantas

X Fazenda Monte Santo

Comércio de Ginseng

Caça e pesca ilegal X Rio Ivinhema e toda área do

parque

Comércio clandestino e prática

esportiva Fonte: SEMA – IMAP 2003.

Na região interna do Parque constatou-se a existência de 15 pesqueiros

desativados e depredados, tendo em vista a desocupação da área após a

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implantação legal do Parque, transformando, de forma negativa, a paisagem do

local e, conseqüentemente, degradando o ambiente do Parque.

Também foi verificada a existência de ilhas e lagos que ainda são explorados

pela pesca e caça predatória, cuja localização mais precisa destes em análise é

de 5 km após a sede do Parque, ainda no rio Ivinhema, rumo ao rio Paraná.

FOTO 4 - Pesqueiro localizado em área já desocupada.

Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

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MAPA 1 - Localização do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-MS. Fonte: CESP, 2000-2003.

FOTO 5 - Visão panorâmica do rio Ivinhema. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

1 – Naviraí 2 – Jateí 3 – Novo Horizonte do Sul 4 - Taquarussu

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FOTO 6 - Vegetação Aquática Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

FOTO 7 - Vegetação aquática, Erva-de-Bicho e Aguapé florido. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

Em meio às margens, ainda protegidas do assoreamento causado pelo

homem, verifica-se que em alguns trechos o barulho do motor não incomoda o

descanso das aves, como um tucano encontrado pela equipe pousado estático no

alto de uma árvore à beira do rio, esquentando-se com o sol da manhã. Durante o

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percurso pode-se encontrar também com facilidade filhotes de bugio, espécie de

macaco, que ao contrário das aves, agita-se com a presença humana,

escondendo-se entre as árvores, como forma de auto-defesa.

A pesquisa a campo foi realizada no início de maio de 2003, pouco antes

da entrada do inverno, época em que a temperatura da água ao amanhecer entra

em choque com a do ambiente causando evaporação visível, tomando o leito do

rio com uma névoa. Nesse mesmo período constatou-se que as ondas formadas

pelo vento contribuíam para manter a sensação de frio, por meio da evaporação

excessiva. Em direção ao lado norte do Parque, a composição do solo que forma

os barrancos é de terra argilosa, o que não impede que os barrancos acabem

cedendo à força das águas, transformando-se em esculturas sem forma definida

(Foto 8).

FOTO 8 - Desbarrancamento do rio Ivinhema devido a falta de mata ciliar. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

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No encontro dos rios Ivinhema e Paraná começa um novo trecho do

Parque em direção à região sul, abrangendo uma área de 25 quilômetros, situada

na margem direita do Rio Paraná.

Nesse trecho da descida do rio, não é difícil encontrar famílias de capivaras

esquentando-se ao sol, durante a manhã. Contudo, esses mamíferos dóceis, que

não se assustam mais com o barulho do motor dos barcos, tornam-se presas

fáceis para caçadores. Com facilidade podem ser encontrados, na região, animais

feridos e mortos pela ação humana e de animais predadores como a onça.

Durante a vistoria técnica foi encontrada uma capivara ferida,

aparentemente com arranhões provocados por predadores felinos, e outro animal

da mesma espécie morto, atingido com um tiro no olho direito e deixado no leito

do rio pelo predador. A capivara tinha sido abatida e o caçador nem mesmo

preocupou-se em levar sua caça, matando pelo simples prazer de tal ato. A presa

abatida serviria de alimento aos urubus (Foto 09).

FOTO 9 - Capivara morta por caçadores com tiro no olho. Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

Constata-se que o homem ainda mata animais silvestres de forma

indiscriminada, demonstrando que não há rigor no cumprimento da legislação,

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concebida por uma infra-estrutura ainda inadequada, sem fiscalização dos órgãos

competentes, que deveriam zelar pela preservação e conservação do ambiente

para as próximas gerações.

As universidades têm uma contribuição valiosa, desenvolvendo pesquisas

científicas para identificar os problemas da avifauna existente no Parque. A

FBDS, do Rio de Janeiro, está monitorando cinco onças que habitam o Parque,

através de coleiras com aparelhos eletrônicos rastreadores, como forma de

controlar presa e predador na cadeia alimentar do ecossistema. As visitas dos

técnicos da FBDS são realizadas a cada três meses e os resultados parciais da

coleta de dados são remetidos ao IMAPE/MS (Instituto de Meio Ambiente e

Pesquisa-MS) através de relatórios.

Após a indenização e desocupação dos pesqueiros o Parque conta apenas

com três moradores fixos: o guarda do Parque Arnaldo Fogaça e a esposa,

vivendo na sede do Parque, e no rio Paraná, a 20 quilômetros da sede, mora o

irmão de Arnaldo, o ex-caseiro Francisco Fogaça, conhecido por Sr. Chico. Ele

continuou na área desde o pedido de desocupação há dois anos, com

recomendações de não desmatar mais o local. Assim, sem ter para onde ir, o ex-

caseiro permaneceu no local, respeitando as regras impostas pela nova estrutura

política ambiental da área. O proprietário do pesqueiro, onde o Sr. Chico reside, já

recebeu a indenização pela desapropriação da área, como os demais ex-

proprietários de terra da região onde está situado o Parque.

Um dos problemas constatados durante a pesquisa, é que depois de 30

anos morando neste local, cuidando do pesqueiro, aos 62 anos o Sr. Chico teme

o desemprego e pede durante a entrevista para que possa ter oportunidade de

continuar morando no local, com objetivo de tornar-se mais um guarda do Parque

à beira do rio Paraná.

A sede do Parque localiza-se a 10 quilômetros de distância do ponto onde

o rio Ivinhema encontra-se com o rio Paraná. Nesse trecho, as árvores que

margeiam o rio se apresentam como uma vegetação compacta que chega até a

água, demonstrando que, aparentemente, as barrancas estão livres do

desmoronamento.

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No período de estiagem, a profundidade do rio Ivinhema, no trecho que

circunda o Parque, varia entre 3 e 5 metros, entretanto, na época de chuvas, o

volume de água dobra, garantindo à região a formação de aproximadamente 100

lagoas. A Lagoa do Pintado é uma delas, considerada berçário natural para

reprodução dos peixes e de difícil acesso por meio de embarcações, devido ao

excesso de vegetação aquática que recobre a água.

Nesse trecho, a cor da água é mais escura que a do rio Ivinhema, por

causa dos depósitos de matéria orgânica, fonte da alimentação dos peixes.

Segundo o guarda do Parque, Sr. Arnaldo Fogaça, nessa lagoa existe a presença

de um predador originário dos rios da Amazônia, o Tucunaré, que veio parar

nessa região há pouco mais de 10 anos, trazido por piscicultores. Por causa das

vazantes, os peixes dessa espécie escaparam, povoando alguns trechos e lagoas

do Ivinhema.

A alteração do nível das águas do rio Ivinhema responsável pela formação

de ilhas está cada vez mais comprometida pela degradação ambiental que é

visível em toda a região do Parque.

A Colônia de Pesqueiros, situada a quatro quilômetros da sede do Parque,

é uma das áreas mais impactadas pela ação antrópica. O local foi desativado em

outubro de 2000, para garantir a preservação do Parque, contudo, é fácil

constatar a quantidade de cimento e tijolos que recobrem o barranco caindo no

rio, antes utilizado para facilitar o acesso dos barcos à colônia hoje depredada,

caracterizando crime ambiental, de acordo com a legislação vigente, Lei de

Crimes Ambientais ou Lei da Natureza – Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1.998.

Segundo informações do Sr. Arnaldo Fogaça, guarda do Parque, mesmo

com a realização de rondas freqüentes no local, nada impede que ocorram

saques e ações predadoras nos 45 pesqueiros desativados.

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FOTO 10 - Ancoradouro de barcos em frente aos pesqueiros desativados às margens do rio Ivinhema, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Vanusa Menegazzi Braga, 2003.

Quanto mais se aproxima do estado do Paraná (região sul), verifica-se que

o terreno perde a característica argilosa, tornando-se arenoso. As margens do rio

Paraná alargam-se, sendo que em alguns pontos, mais de dois quilômetros

separam o Parque do Ivinhema do Estado do Paraná, onde podem ser

encontrados vários pescadores ou seus instrumentos, como, por exemplo, uma

garrafa de plástico sinalizando a colocação de anzóis para captura de peixes de

couro, comprovando a prática da pesca ilegal na região, bem como o acúmulo de

lixo deixado nas margens do rio, demarcando a presença constante e

desordenada do homem numa APA.

Através das abordagens, durante as entrevistas, constatou-se que a

maioria dos pescadores é proveniente do Estado do Paraná, que atravessa o rio e

entra ilegalmente na área de preservação do Parque, sob alegação de

desconhecimento de qualquer proibição de atividades extrativistas no local.

Em entrevista, o aposentado Odair Colombo afirmou que veio de Londrina-

PR e atravessou 320 quilômetros em busca de lazer. Em vistoria técnica ao

trecho, acompanhando a ronda do Sr. Arnaldo, constataram-se mais sinalizações

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com garrafas plásticas nos galhos à margem do rio, deflagrando a presença do

“espinhal”, um fio de nylon cheio de ramificações de linha de pesca com anzóis

nas pontas, estirado de uma margem a outra. Foram recolhidos 36 anzóis, mais

que o dobro permitido pela legislação ambiental para a pesca. O uso do “espinhal”

é proibido no Estado de Mato Grosso do Sul e, portanto, não pode ser utilizado na

APA. O guarda do Parque, Arnaldo Fogaça, leva 20 minutos para recolher a linha

e limpar os anzóis. Em menos de dois quilômetros depois, é encontrado outro

“espinhal”, desta vez bem maior, comportando 45 anzóis.

Além disto, durante esse período, foi encontrado também um barco

ancorado com equipamentos de pesca. Os pescadores, quando questionados

sobre a sua presença em área de preservação ambiental, alegaram não ter

conhecimento da proibição da pesca na área do Parque.

No trecho final do Parque, local que deveria ser referência da preservação

ambiental, pode-se visualizar uma completa degradação: um pesqueiro

depredado está sendo consumido pelas águas do rio Paraná, ocorrendo

progressivo desmoronamento, pela falta de vegetação para conter a força das

águas. Suspenso na barranca, rumo ao leito do rio, um cano de esgoto demonstra

que muito lixo já foi depositado nas águas, sem contar a grande quantidade de

pisos e azulejos, restos da construção abandonada, que ainda contribuem para o

problema do assoreamento, resultando no acúmulo de toneladas de areia no

fundo do rio Paraná.

A falta de compromisso entre o homem e a natureza pode ser mostrada de

forma ampla e simples pelo trabalho da mídia, que parece precisar sempre de

uma catástrofe para expor qualquer local aos olhos da apreciação e do juízo

equivocado pelo desconhecimento da realidade. Uma avaliação que costuma ser

limitada através da descrição momentânea dos fatos, deixando de perceber a

extensão e a gravidade do dano. A falta de conscientização é cíclica e ordenada

pela própria ignorância e descaso dos meios de comunicação, que não exercem a

função ambiental que se espera para a preservação do que ainda existe.

Verifica-se que as principais atividades econômicas desenvolvidas na área

estão relacionadas à produção agropecuária, tanto em número de

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estabelecimentos, quanto em arrecadação de ICMS. Em termos de produção,

merece destaque a pecuária bovina de corte, nos municípios de Jateí e Naviraí,

havendo em poucas e pequenas áreas do entorno da Unidade, destinadas ao

plantio por arrendatários, culturas temporárias como o milho, o trigo e a soja. No

município de Novo Horizonte do Sul, destaca-se a pecuária leiteira, atividade

originária de um antigo assentamento rural onde predominam pequenas

propriedades (0 a 10 hectares) (Mapa2).

Durante as pesquisas pode-se constatar que ainda existem na área do

Parque, aproximadamente mil cabeças de gado, distribuídas em fazendas

localizadas no município de Taquarussu entre os estados de Mato grosso do Sul

e Paraná, que constituem 5% da área ainda não indenizada pela CESP,

compromisso assumido desde a criação do Parque.

Na área de entorno o plantio de soja sem a consciência ambiental

adequada gera detritos tóxicos prontos a contaminar as águas e os animais da

região.

A falta de licenciamento ambiental para o plantio assim como a reforma de

pasto através da utilização de queimadas e ainda a extração do ginseng para

exportação sem mencionar a caça e pesca predatórias, ameaçam a conservação

do Parque.

Além dessas atividades, a pesca se desenvolve na área de influência do rio

Paraná, conforme dispõe a CESP (2000-2003). Ainda de acordo com a CESP, a

atividade econômica e produtiva está vinculada à pecuária, que predomina no

entorno direto da Unidade tanto em área quanto em produção, da criação ao

abate de bovinos. A pecuária leiteira comercial ocorre em pequena escala, assim

como o cultivo de produtos temporários, como o trigo, a soja e o milho.

Os Relatórios Técnicos da CESP elaborados a partir de 2000, também

informam que a pesca artesanal nos rios Ivinhema e Paraná se constitui em

importante alternativa para o sustento da população ribeirinha, especialmente

daquela residente na comunidade de Porto Caiuá e nas barrancas próximas ao rio

Paraná (trecho sul do Parque).

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É importante destacar que a atividade de pesca vem passando por uma

forte crise, devido às restrições implementadas pelos órgãos ambientais e pela

redução na quantidade de peixes que, para alguns, é reflexo direto das barragens

construídas ao norte da Unidade.

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MAPA 02 - Croqui da carta de padrões de uso do solo da área de estudo do Parque estadual das várzeas do rio Ivinhema. Fonte: Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, 2003.

Hidrograficamente o Parque das Várzeas do Rio Ivinhema localiza-se no

trecho fluvial de baixo curso do rio Ivinhema e, como o próprio nome o diz, em

ambiente de várzea desta unidade hidrográfica. A maior parte dos limites desta

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unidade de conservação é constituída por drenagens. Ao norte tem como limite o

afluente da margem direita denominado Guiraí, o trecho do rio Ivinhema

compreendido entre a foz do rio Guiraí e o canal de Araçatuba, o canal de

Araçatuba, o rio Curutuba e o baixo curso do Rio Baía. A leste tem como limite as

barrancas do Rio Paraná. Já a oeste verifica-se que seus limites estão associados

a dois critérios distintos: na área referente ao limite centro-oeste a noroeste este

se associa ao limite aproximado das áreas com influência fluvio-lacustre,

enquanto, a parte sudoeste apresenta uma linha seca nas coordenadas 84º 10’

39” e 09º 23’ 11” e daí até o próprio rio Ivinhema até a sua foz mais ao sul. Ao Sul

tem-se a foz principal do rio Ivinhema (Mapa 03).

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MAPA 03 - Limite do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema – MS e drenagens principais. Fonte: Cartografia CESP 2000

O canal de Araçatuba, o Rio Curutuba, o Rio Baía e o Rio Ivinhema com os

seus afluentes, o Rio Guiraí, Córrego Fumaça, Rio Curupaí, Córrego Nhundaí,

conformam os principais canais ativos da rede de drenagem na área do Parque. É

interessante apontar que a maior parte desses afluentes do rio Ivinhema

apresenta poucos tributários, predominando os de primeira ordem. O rio Laranjaí,

Rio Guiraí

Rio Ivinhema Rio Baía

Rio Paraná

Rio Ivinhema

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também afluente do rio Ivinhema, em trecho de baixo curso tem apenas a sua foz

como parte da unidade de conservação. São observadas, ainda, a presença de

pequenos canais de drenagem com hierarquia de primeira ordem que

desembocam e se espraiam nas áreas de banhados e várzeas. Em escala

regional, o rio Ivinhema, bem como os seus maiores afluentes, podem ser

classificados como rios conseqüentes, os quais têm os seus cursos determinados

pela declividade geral do terreno, normalmente coincidindo com o mergulho das

camadas. Esses rios formam cursos retilíneos e paralelos fluindo rumo às partes

baixas. (Suguio e Bigarella, 1990).

Além dos canais acima citados, as inúmeras lagoas e banhados configuram

os demais corpos d’água que completam a rede de drenagem na área dessa

Unidade de Conservação. São observadas ainda na região áreas com grande

concentração de pequenas depressões secas ou com pequena lâmina d’água,

normalmente com vegetação denominada dales. Por fim uma outra feição é ainda

associada ao ambiente de várzea e zona de transição várzea terraços, vereda.

(CESP)

4.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS

O Estado do Mato Grosso do Sul encontra-se na confluência dos principais

sistemas atmosféricos da América do Sul, possuindo mais de um tipo de regime

pluviométrico: área com regime do tipo “Brasil Central” e outras com regime do

tipo “Brasil Meridional”.

Sob o ponto de vista da dinâmica atmosférica, em seus diferentes ritmos de

sucessão dos tipos de tempo com base nos “tipos de fluxo de invasão polar”,

propostos por Monteiro e Tarifa (apud Zavantini, 1992), a análise climatológica

apontou que na Bacia do Rio Paraná (Alto Curso), as crescentes chuvas de

outono e primavera no setor sul (Guaíra) ratificam a tendência verificada a nível

anual, assim como o equilíbrio nos totais de outono-inverno-primavera de Três

Lagoas-MS. Já o decréscimo pluvial de inverno-primavera em Paranaíba-MS,

valida a tendência negativa anual constatada no setor norte do compartimento.

Essa tendência envolve também a área central da Bacia do Alto Paraná,

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conforme demonstram os dados sazonais dos municípios de Água Clara e de

Dourados e os dados de inverno e primavera em lvinhema.

No extremo sul do Estado, a freqüência de participação das massas polares

e frentes atinge valores que variam entre 44% e 69%. Como a soma da

freqüência das correntes do leste (20% a 30%) e do oeste (10% a 20%) é inferior

àqueles limites, pode-se afirmar que esta porção sul-mato-grossense está sob o

controle das correntes extratropicais, com passagens do eixo principal chegando

a 50 vezes e domínio de tempo entre 70 e 90 dias. (CESP)

Os índices pluviométricos no vale do rio lvinhema giram em torno dos 1.300 a

1.500 milímetros, com fortes variações de um ano para outro. As chuvas são no

período de primavera-verão e no período outono-inverno os índices ficam ao

redor dos 400/500 mm. Este comportamento reflete-se no regime de cheias dos

corpos d’água que delineiam a rede de drenagem na área da Unidade de

Conservação em estudo.

4.3 O PARQUE ESTADUAL DAS VÁRZEAS DO RIO IVINHEMA-

MS COMO UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

O Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema é considerado, segundo a

legislação ambiental, uma unidade de conservação de uso sustentável e, assim,

dentro desta classificação uma APA.

A APA é uma área dotada de características biológicas, ecológicas e

paisagísticas que exigem proteção especial, com restrições de ocupação e uso

dos recursos naturais (Mapa 04).

De acordo com a Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000, que define conceitos

normativos aplicáveis, unidade de conservação é “espaço territorial e seus

recursos ambientais incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais

relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de

conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se

aplicam garantias adequadas de proteção”.

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Na forma do artigo 14 da Lei nº 9.985/2000, constitui o grupo das unidades

de uso sustentável, as seguintes categorias de unidade de conservação: a) Área

de Proteção Ambiental; b) Área de Relevante Interesse Ecológico; c) Floresta

Nacional; d) Reserva Extrativista; e) Reserva de Fauna; f) Reserva de

Desenvolvimento Sustentável; e g) Reserva Particular do Patrimônio Natural.

As áreas de proteção ambiental devem ser criadas por decreto, que,

necessariamente, conterá: sua denominação, limites geográficos, principais

objetivos e proibições e restrições de uso de recursos ambientais. Não há

proibição de habitação, residência e atividades produtivas nas APAS, contudo,

estas devem ser orientadas e supervisionadas pela entidade ambiental

encarregada de assegurar o atendimento das finalidades da legislação

instituidora. A única exigência que é feita pelo Poder Público é que as atividades

sejam compatíveis com o Plano de Manejo e que sejam executadas de maneira

sustentável.

Nas áreas de proteção ambiental, as seguintes atividades estão limitadas

ou proibidas: a) A implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente

poluidoras, capazes de afetar mananciais de água; b) A realização de obras de

terraplanagem e abertura de canais, quando essas iniciativas importarem em

sensível alteração das condições ecológicas locais; c) O exercício de atividades

capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou um acentuado

assoreamento das coleções hídricas; d) O exercício de atividades que ameacem

extinguir na área protegida as espécies raras da biota regional, ou seja, o

conjunto de componentes vivos de um ecossistema.3

3 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Lúmen Júris, Rio de Janeiro – RJ, 2002. p. 422-439. 6ª ed.

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Nova Andradina Iguatemi

Naviraí Jateí

Itaquiraí

Eldorado

Mundo Novo

Japorã

Iguatemi

Tacuru

Sete Quedas

Paranhos

Coronel Sapucaia

Novo Hor. do Sul Taquarussu

Bataiporã

Anaurilândia

Bataguassu Nova Andradina

Angélica Deodápolis

Glória dos Dourados

Ivinhema

Localização aproximada da UC

MAPA 04 - Detalhamento da área de influência da Unidade de Conservação no contexto regional. Fonte: CESP, 2000-2003.

O objetivo é estabelecer uma convivência mais harmônica entre a

conservação desses recursos e o desenvolvimento regional integrado, através da

proteção da diversidade biológica, disciplinando o processo de ocupação para

que seja assegurada a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

As atividades turísticas e recreativas, bem como outras formas de

ocupação de área são admitidas, desde que se harmonizem com os objetivos

específicos de cada APA e respeitem os limites constitucionais, podendo ser

estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada

localizada nesta categoria (Antunes, 2000). Essa categoria compreende áreas de

propriedade privada sob supervisão governamental, podendo incluir trechos de

domínio público.

A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo

órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos

órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente,

conforme se dispuser no regulamento desta Lei.

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Todas as áreas naturais protegidas oficialmente são chamadas de

Unidades de Conservação. No decorrer desta pesquisa é possível verificar que as

UCs são divididas em dois grupos: Unidades de Conservação de Proteção

Integral ou de Uso Indireto Sustentável e Unidades de Conservação de Uso

Sustentável ou Uso Direto Sustentável, conforme prevê o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação, com características peculiares a cada uma, possuindo

ainda o total de 12 categorias que foram descritas minuciosamente no

desenvolvimento do trabalho (Brasil, 2002).

Os recursos naturais e culturais devem, portanto, contar com o necessário

manejo ambiental para assegurar sua contribuição ao desenvolvimento que,

considerando a adoção de política de criação de áreas silvestres, pode ser

unificada através dos seguintes objetivos: 1) manter a diversidade natural; 2)

conservar os recursos genéticos; 3) proporcionar educação ambiental; 4)

conservar os recursos hídricos; 5) proteger investimentos; 6) manter e produzir

fauna silvestre; 7) proporcionar recreação; 8) manejar os recursos madeireiros; 9)

conservar belezas cênicas; 10) proteger sítios históricos e culturais; 11) assegurar

qualidade ambiental; 12) proporcionar flexibilidade de tecnologia; 13) assegurar o

crescimento econômico regional (Antunes, 2000).

Acordos e compromissos ambientais

As conferências internacionais sobre temas ambientais reúnem governos, e

com freqüência, seus máximos representantes em busca de acordos que reflitam

um compromisso com o desenvolvimento sustentável. Esse é o propósito da

Cúpula de Johannesburgo, mas também foi essencial em reuniões anteriores. A

Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, na África do Sul,

convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem seus antecedentes

na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em

Estocolmo em 1972, e na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992.

Em 1972, houve uma importante Declaração de Princípios por parte dos

governos que participaram do encontro. Essa reunião colocou a questão na

agenda mundial e detalhou a responsabilidade dos seres humanos na

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conservação do meio ambiente. Há 30 anos foi algo inovador. Ao concluir essa

primeira Conferência também foi adotado um plano de ação no qual se traçavam,

entre outras, metas de avaliação do impacto ambiental e de educação sobre a

importância da conservação. Duas décadas depois, a Conferência do Rio,

também conhecida como Cúpula da Terra, introduziu o tema do desenvolvimento

sustentável como elemento central da estratégia para conservar o planeta.

No Rio de Janeiro ficou evidenciada a dificuldade em negociarem-se

acordos relacionados com o ambiente entre países com interesses e prioridades

estratégicas diversas. Mesmo assim, ao término dessa reunião - da qual

participaram mais de uma centena de chefes de Estado e de governo e delegados

de 170 países - foram subscritos cinco documentos, considerados um marco. A

Cúpula da Terra produziu uma Declaração do Rio, que em seu primeiro princípio

dizia: "Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas

com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva

em harmonia com a natureza".

Também gerou um Convênio sobre a Diversidade Biológica ou

Biodiversidade, uma Declaração de Princípios sobre o Manejo, a Conservação e o

Desenvolvimento Sustentável das Florestas e uma Convenção Marco sobre a

Alteração do Clima, cujos textos foram objeto de intensas negociações. Porém, o

documento mais importante foi a Agenda 21 ou Programa 21, um plano de ação

para atingir o desenvolvimento sustentável no século XXI. O documento explica

claramente os principais desafios que implica essa meta e traça pautas de ação

para atingi-la. Um dos objetivos da Conferência de Johannesburgo é avaliar o

cumprimento das ações previstas pela Agenda 21. Entretanto, durante meses

foram publicados balanços que revelam o não-cumprimento dessas metas por

parte da comunidade internacional.

Há 30 anos, a Organização das Nações Unidas convocou a primeira

conferência mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Em 2002, às

vésperas de uma nova Cúpula sobre esse tema, na África do Sul, o desafio é

estabelecer uma estratégia de ação que permita salvar o planeta. A primeira

reunião convocada pela ONU foi a Conferência as Nações Unidas sobre Meio

Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em junho de 1972.

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Nessa época, este tema ainda não fazia parte da agenda internacional nem

era uma preocupação dos governos, que em sua maioria careciam de uma

institucionalidade para o setor. Na declaração final de Estocolmo ressaltava-se a

responsabilidade dos humanos na conservação de seu meio ambiente. Foi o

início de um debate que ainda não acabou. Como conseqüência da Conferência

de 1972 foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Passaram-se 20 anos antes do próximo encontro. Em 1992, foi realizada a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

conhecida também como Cúpula da Terra, na cidade do Rio de Janeiro. Esta foi a

reunião internacional de mais alto nível até então: participaram 172 países e um

número inédito de 107 chefes de Estado e de governo, junto a dezenas de

milhares de delegados e representantes da sociedade civil. Eles assistiram à

assinatura de uma série de compromissos, sendo o mais importante deles a

Agenda 21.

De fato, uma contribuição fundamental desta Cúpula da Terra foi a difusão

do conceito de desenvolvimento sustentável, entendido como aquele que permite

atender às necessidades atuais sem comprometer as capacidades que terão as

futuras gerações para satisfazer suas próprias necessidades. A Conferência do

Rio, precedida da Cúpula da Infância, impulsionou o desenvolvimento de uma

série de conferências mundiais patrocinadas pela ONU. E passaram-se outros

dez anos antes que o meio ambiente voltasse a ser objeto de uma convocação de

alto nível.

Entre 26 de agosto e 4 de setembro de 2002, a cidade sul-africana de

Johannesburgo foi a sede da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento

Sustentável. O encontro também foi chamado de Cúpula Rio+10, pois aconteceu

uma década depois da anterior, e um de seus objetivos foi avaliar o cumprimento

dos compromissos assumidos na época. Também existia o desafio de lançar uma

nova estratégia que permitisse avançar realmente para um desenvolvimento mais

sustentável. Seria possível alcançar esta meta? Esta foi a grande pergunta que

pairou sobre a Rio+10.

Como forma mais efetiva da realização de mudanças, foi criada a Lei nº

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9.985, de 18 de julho de 2000, que regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e

VII da Constituição Federal, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza e dá outras providências.

No contexto em estudo, o Parque surge com amparo legal na Lei de

Regulamentação do SNUC, prevista no artigo 11, parágrafo 4º, que estabelece:

”As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão

denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal”.

A Lei do SNUC, apesar de ser uma grande estratégia na preservação e

conservação do ambiente, enfrenta vários problemas, como, por exemplo, parte

das áreas de proteção integral ser constituída de unidades com menos de 100 mil

hectares, nas quais se torna mais difícil manter populações geneticamente

viáveis, quando se trata de espécies de grande porte que necessitam de grandes

territórios e têm baixa densidade natural.

Ademais, um dos principais problemas enfrentados nas Unidades de

Conservação, principalmente nas de uso sustentável indireto, é o pequeno

número de funcionários do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis) por área. Há outros fatores limitantes, como a

inacessibilidade às áreas, falta de meios de transporte e de equipamentos.

As principais prioridades estabelecidas pelo órgão na área de Unidades de

Conservação para os próximos anos são: a) fortalecimento institucional das

organizações públicas e privadas responsáveis pelas áreas protegidas; b)

avançar com monitoramento da diversidade biológica em Unidades de

Conservação; c) criação de novas áreas e implantação efetiva das já criadas; d)

ampliação do número de Unidades de Conservação protegidas sob a forma de

mosaicos; e) ampliação das terras de proteção no entorno das Unidades de

Conservação; f) resolução dos problemas fundiários nas Unidades de

Conservação de uso indireto; g) inserção das Unidades de Conservação nos

planos de desenvolvimento regionais, estaduais e municipais; h) aumento e

capacitação do quadro de funcionários; i) incentivo à educação ambiental; j)

capacitação dos moradores das RESEXs (reservas extrativistas) para exploração

sustentável dos recursos, autofiscalização e elaboração de planos de

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desenvolvimento; l) abertura de concessão privada para exploração sustentável

de FLONAs (florestas nacionais); m) Desenvolvimento regional (para geração de

emprego e renda); n) desenvolvimento do ecoturismo; o) ampliação dos recursos

financeiros para as áreas de conservação (Antunes, 2000).

Por fim, pode-se afirmar que a maior evolução conceitual nos últimos anos

foi a aproximação com a sociedade em geral, considerando a participação das

comunidades e lideranças nos âmbitos federal, estaduais e municipais, além dos

diferentes atores envolvidos com as unidades, em todas as etapas do

planejamento, por meio de reuniões e workshops participativos para definição e

implementação de ações que, freqüentemente, têm sido executadas com

parcerias entre entidades não-governamentais e governo.

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4.4. QUEIMADAS

Da época que iniciaram os estudos, a área do Parque sofreu cinco grandes

incêndios que foram periciados pelo Comando Geral do Corpo de Bombeiros de

Mato Grosso do Sul. (Laudos do Instituto do Meio Ambiente de 17/03/2003,

30/10/2003, 22/12/2003, 19/02/2004 e 11/03/2004, disponíveis nos arquivos da

Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA).

Em 22 de agosto de 2002 uma equipe de bombeiros e peritos da SEMA

deslocou-se de Campo Grande com destino ao Parque Estadual das Várzeas do

rio Ivinhema, com a finalidade de investigar o incêndio florestal que se propagou

em direção à Fazenda São José do Pica Fumo, com uma área queimada de

aproximadamente seis mil hectares e uma frente de fogo de aproximadamente 14

quilômetros, e outra em direção à sede do Parque, no Porto Peroba, uma área

atingida de aproximadamente 14 mil hectares e uma frente de fogo de 16

quilômetros. Segundo o relatório do Corpo de Bombeiros, o fogo iniciou numa

região com ausência de vegetação, causado pela queda de um raio.

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56

.

FOTO 11 - Mobilização dos bombeiros para inicio de combate à incêndio. Fonte: SEMA 2003 No dia 19 de setembro de 2003 o fogo consumiu sete mil hectares do

Parque, segundo relatório do Corpo de Bombeiros. Devido à distância e ausência

de guarnição nas cidades vizinhas, as equipes responsáveis por conter as

chamas deslocaram-se de Campo Grande e Dourados. De acordo com os peritos,

o fogo iniciou nas proximidades da sede da Fazenda Nossa Senhora dos

Prazeres, formando várias frentes de fogo. No local, foram encontrados sinais de

atividade antrópica, onde nitidamente houve uma retirada de vegetação arbustiva

com utilização de ferramentas agrícolas (facão ou foice), gerando um indicativo de

queima para limpeza de área, onde se concluiu que o incêndio teve causa

humana intencional.

Em novembro do mesmo ano, nova perícia do Corpo de Bombeiros foi

requisitada pela SEMA para diagnosticar a causa de outra queimada no Parque,

desta vez destruindo 1.848 hectares, com valor perimetral de 16 quilômetros,

conforme relatório emitido à SEMA. O incêndio teve início no dia 03 de novembro

e só foi extinto no dia 06 com auxílio de uma equipe do Corpo de Bombeiros da

cidade de Dourados. A zona de origem do incêndio florestal foi identificada

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próximo à estrada que dá acesso à sede do Parque, na Fazenda Porto Peroba,

provocado por descarga elétrica enquanto se realizava um teste na rede de alta

tensão. No local, os peritos observaram que não há construção de aceiros, torres

de observação, brigada e material de combate a incêndio florestal.

FOTO 12 - Mobilização para construção de aceiros. Fonte: SEMA 2003 O quarto incêndio ocorreu em 27 de janeiro de 2004 no interior do Parque,

em direção à lagoa Vista Alegre, descendo o rio Paraná em direção ao porto

Caiuá, a 15 quilômetros da sede do Parque. No local os peritos constataram a

presença dos seguintes animais: rastro de antas, capivaras, onças, veados,

concluindo através de relatos que grande quantidade de animais correu para as

margens do rio Ivinhema para fugir das chamas. Como impacto ambiental

ocasionado pelo incêndio florestal, houve morte de animais, destruição de ninhos

de aves e vegetação. Cerca de 4.901,49 hectares da ilha Ivinhema foram

queimados, ou seja, mais de 70% da área total.

De acordo com o relatório, houve ação antrópica no local, como queimadas

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para extração de ginseng, coleta de iscas nas lagoas, bem como extração de mel

de abelhas. Os peritos concluíram diante da existência de diversos focos de

incêndio que o material combustível consumido só poderia entrar em combustão

através do contato direto de chama ou brasa, caracterizando incêndio intencional.

Nesta ocasião, foram apreendidas quatro toneladas de ginseng em estado bruto,

retiradas clandestinamente da ilha Ivinhema, localizada na lagoa Vista Alegre. De

acordo com cálculos das polícias Militar e Ambiental de Mundo Novo e Dourados,

a comercialização ilegal do ginseng junto ao mercado japonês representaria um

lucro de 450 mil reais aos atravessadores.

Parte da raiz apreendida foi replantada em Naviraí sob a supervisão da

bióloga Nelci Aparecida Abrão, para evitar o tráfico e o desperdício da planta

medicinal, que é utilizada na fabricação de remédios e indústria de cosméticos.

Em 7 de fevereiro de 2004, o incêndio iniciou na área da Fazenda Entre

Rios, local que corresponde aos 5% da área do Parque ainda não indenizada pela

CESP. A área queimada é superior a 1.500 hectares, e segundo os peritos o fogo

foi intencional, visando queima para limpeza de pastagem, já que existe no local

grande quantidade de gado.

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5. PLANO DE MANEJO E PROPOSTAS PARA MELHORIAS NO PARQUE

A Importância do Plano de Manejo

Os programas de manejo indicados para uma Unidade de Conservação

englobam atividades afins que têm por objetivo a racionalização das ações para o

adequado funcionamento desta unidade conforme seu enquadramento nas

definições estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação

(unidades de uso direto ou indireto).

A partir do conhecimento que se tem da Unidade de Conservação é

estabelecida a abrangência dos Programas de Manejo em cada uma das fases de

implementação, baseando-se nos dados que se encontram disponíveis sobre o

Parque e naqueles levantados pelas visitas de campo. A estratégia adotada

visará sugerir programas e projetos voltados a iniciar ações que busquem:

- minimizar os impactos decorrentes das atividades até então desenvolvidas;

- integrar a Unidade de Conservação com as populações vizinhas;

- fortalecer a proteção da mesma e ampliar o conhecimento sobre a Unidade.

Desta forma, o IBAMA (1996) define cinco grupos de programas de manejo

para Unidades de Conservação de Uso Indireto. São eles: Programa de

Conhecimento, Programa de Uso Público, Programa de Integração com a Área de

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Influência, Programa de Manejo do Meio Ambiente e Programa de

Operacionalização.

Por sua vez os programas estão subdivididos em sub-programas, que

contêm, cada um deles, os objetivos respectivos, atividades previstas, etapas de

implementação, setores e instituições envolvidas.

Sugestão de Programas e Projetos de Manejo

A definição das sugestões de programas de manejo para o Parque

Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema pautou-se na fundamentação de que a

preservação da biodiversidade deve ser considerada como um conceito

integrador na preservação da natureza, ou seja, “o conhecimento, a análise e

avaliação do grau da biodiversidade surge da avaliação integrada dos

componentes abióticos e bióticos perpassando pela história de ocupação da área,

através dos aspectos de uso do solo e da sóciodiversidade existente. Reconhece-

se que a preservação da natureza não é apenas uma questão de caráter de

preservação natural em si, mas também de ordem econômica, social e

política”.(1º Relatório de Andamento, 2000).

Considerando o exposto, as sugestões propostas nesta etapa de trabalho,

enquadram-se, segundo o IBAMA (1996), em três dos cinco grupos de programas

definidos para unidades de conservação de uso indireto4. Sendo eles: Programa

de Conhecimento, Programa de Integração com a área de influência e Programa

de Operacionalização:

Programa de Conhecimento

4 Os programas referentes ao manejo do meio ambiente que visam a proteção dos recursos naturais englobados pela Unidade e também dos recursos culturais, quando couber e que possuem como maior objetivo tentar garantir a evolução natural dos ecossistemas ou suas amostras, habitats, biótipos e biocenoses e a manutenção da biodiversidade, e os programas de uso público serão indicados no final da 3ª fase do projeto tendo em vista a necessidade de um maior aprofundamento dos estudos de caracterização da unidade que serão realizados na 2ª fase.

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Este programa tem por objetivo principal proporcionar subsídios mais

detalhados para a proteção e o manejo ambiental. Relaciona-se aos estudos,

pesquisas científicas e ao monitoramento ambiental a serem desenvolvidos na

Unidade de Conservação, que subsidiem preferencialmente o manejo. Suas

atividades e normas devem orientar as áreas temáticas das investigações

científicas e os pesquisadores, visando obter os conhecimentos necessários ao

melhor manejo da unidade. Composto do seguinte sub-programa:

- Identificar e cadastrar os grupos de pesquisas e instituições que já

executam e que pretendem executar estudos científicos na Unidade de

Conservação; este cadastro deverá seguir as orientações sugeridas pelo

modelo de planilha para cadastramento e acompanhamento de projetos de

pesquisas constante;

- Estudo da Evolução Ambiental do Quaternário na Região – em parceria

com universidades, desenvolver pesquisa que busque o aprofundamento

dos conhecimentos geomorfológicos dos terraços fluviais ao longo dos

perfis existentes nos rios Ivinhema, Guiraí, Curutuba e Paraná, dos

ambientes de várzea e lagoas;

- Realizar levantamentos sistemáticos das espécies de fauna e flora; indica-

se como área para este tipo de levantamento alguns remanescentes

florestais;

- Caracterização da ictiofauna dos principais rios do Parque - estudos nesta

linha de pesquisa vêm sendo desenvolvidos pelo Núcleo de Pesquisa em

Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura da Universidade Estadual de Maringá

(NUPELIA-UEM) ao longo dos rios Ivinhema e Paraná, o que facilitaria a

realização de um convênio técnico entre a SEMA e a UEM;

- Estudos acerca das características meteorológicas da região; conforme

orientação descrita no Encarte Diagnóstico Expedido do Parque, além do

desenvolvimento de pesquisas por universidades e outras instituições faz-se

necessário orientar o responsável pela administração do Parque sobre a

importância do acompanhamento do regime de chuvas;

- Implementação de varetas medidoras ao longo dos rios Ivinhema, Curupaí,

Fumaça e Guiraí e na Lagoa Vista Alegre que viabilizem a elaboração de

estudos sobre a cota de variação da vazão;

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- Implementação de estações de qualidade de água nas drenagens da

Unidade de Conservação; estas estações devem ser instaladas nos pontos

de entrada destes rios no Parque e na foz dos mesmos;

- Estudos de recuperação de áreas degradadas através de propostas de

regeneração (enriquecimento de espécies) e do acompanhamento do

processo de recuperação natural nas áreas de várzeas drenadas (áreas

amostrais indicadas referem-se àquelas próximas a Sede do Parque e a

Fazenda Santa Adélia);

Programa de Integração com a Área de Influência

Consiste no desenvolvimento de ações e atitudes que visem proteger a

Unidade de Conservação dos impactos ambientais ocorridos em sua área de

influência. Para execução deste Programa, faz-se necessário a integração com a

população envolvendo nas ações os dirigentes locais, as comunidades civis

organizadas, as comunidades tradicionais e moradores das circunvizinhanças,

através de ações propostas para reduzir ou amortizar os impactos sobre a

Unidade de Conservação. É extremamente importante que a população entenda e

defenda a Unidade de Conservação, obtendo-se densidade política para sua

efetiva implantação e manejo. É composto dos seguintes sub-programas:

Sub-programa de Educação Ambiental

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Visa criar e/ou incrementar atitudes de respeito e proteção aos recursos

naturais e culturais da Unidade de Conservação e a área de influência. Seu

objetivo maior é integrar a Unidade de Conservação no contexto educacional da

região, através do desenvolvimento de ações que visem a conscientização para a

causa ambiental. Suas atividades e normas tratam do desenvolvimento da

consciência crítica sobre a problemática ambiental, levando ao desenvolvimento

de atitudes que auxiliem na conservação dos recursos naturais. Estas atividades

e normas detalharão tais atitudes, assim como os meios que serão utilizados para

conscientizar o público em relação aos recursos naturais, de modo geral, e à

Unidade de Conservação, em particular.

As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:

- Realizar exposições e palestras nas escolas e câmaras de vereadores dos

municípios que compõem a área de influência da Unidade numa perspectiva

de fazer com que a população tenha consciência da existência do Parque, dos

objetivos para qual foi criado e de sua importância ambiental para a região;

- Elaborar e distribuir folders e panfletos contendo informações e orientações

gerais sobre o Parque;

- Preparar arquivo de slides e filmes para exibições e divulgação da UC;

Sub-programa de Incentivo a Alternativas de Desenvolvimento

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O objetivo é levar às populações vizinhas conhecimento sobre a utilização

sustentada dos recursos, principalmente em relação às áreas que tenham relação

direta com a Unidade, tendo em vista a diminuição de impactos da utilização

direta dos recursos naturais ou atividades agropecuárias, incentivando a adoção

de técnicas mais sustentáveis e alternativas de desenvolvimento. Este programa

será desenvolvido através de parcerias, atuando a SEMA apenas como

propulsora.

As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:

- Procurar orientação acerca de programas que vêm sendo implementados

pelos órgãos responsáveis pelo desenvolvimento rural: federais, estaduais e

municipais (exemplo: EMATER, EMBRAPA, IDATERRA, etc) que podem ser

aplicados nas fazendas que fazem limite com a Unidade de Conservação;

- Promover palestras expositivas para os proprietários das fazendas limítrofes

ao Parque sobre experiências de outras áreas onde propriedades particulares

obtiveram beneficiamento ao se transformarem em Reservas Particulares do

Patrimônio Natural (RPPNs);

Programa de Operacionalização

Este programa visa garantir a funcionalidade da Unidade de Conservação,

fornecendo a estrutura necessária para o desenvolvimento dos outros programas.

É composto dos seguintes sub-programas:

Sub-programa de Regularização Fundiária

Tem por objetivo o conhecimento da situação fundiária da Unidade de

Conservação e definição da estratégia para se ter a posse da área de forma

gradativa e priorizada.

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Este sub-programa vêm sendo implementado pela SEMA e pelo

IDATERRA (Instituto de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural).

É importante ressaltar, porém, o caráter emergencial desta ação tendo em

vista a observação em campo de conflitos entre os funcionários da Unidade e os

antigos proprietários no que se refere a retirada de material e desocupação das

áreas.

Sub-programa de Administração e Manutenção

Objetiva garantir o funcionamento da Unidade de Conservação. Suas

atividades e normas relacionam-se a organização, ao controle, à manutenção da

área, e ainda àquelas relacionadas à monitoria da Unidade. Neste sub-programa

deverão ser tratados os recursos humanos necessários e a forma como vão ser

obtidos e capacitados, bem como estabelecido um programa de manutenção de

infra-estrutura e equipamento.

As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:

- Implementar o sistema de coleta seletiva de lixo doméstico na sede da UC,

liderado pelo administrador do Parque, através de orientação de como o lixo

deve ser coletado e armazenado, com escoamento deste realizado em 15 dias

a contar da data da coleta; deve-se estabelecer um acordo entre o município

responsável pela coleta de lixo da área para escoamento do mesmo;

- Estabelecer postos e sistemas de vigilância;

- Aumentar o contingente populacional responsável pela segurança do parque;

especialmente em relação a vigilância ao longo do rio Ivinhema, haja visto que

na última campanha de campo foi verificado um aumento considerável de

pesca “de espera” em diversos pontos do rio.

- Estabelecer programa de manutenção das estradas de acesso ao Parque;

especialmente, o trecho em que a MS – 141 é cortada pelo córrego Fumaça.

Sub-programa de Infra-estrutura e Equipamentos

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Tem por objetivo garantir a instalação da infra-estrutura adequada ao

atendimento das atividades previstas nos outros programas. Deverá prever

atividades relacionadas à reforma e construção de estruturas físicas prioritárias,

bem como aquisição e recuperação do material e equipamento permanentes,

necessários para o funcionamento da unidade de conservação.

As propostas a serem implementadas que se enquadram neste sub-programa são:

- Equipar a sede da Unidade com materiais de combate a incêndio;

- Colocação de placas em diversos pontos do limite do Parque, nas vias de

acesso e na zona de amortecimento, informando sobre a UC numa

perspectiva de educação ambiental;

- Estabelecer um sistema de circulação na Unidade (priorizando a manutenção

das estradas principais que ligam as sedes das antigas fazendas);

- Seleção de antigas sedes de fazendas para instalação de sub-sedes do

Parque, a citar como exemplo, a antiga Fazenda Santa Catarina, a sede da

antiga fazenda Santa Maria, a antiga sede da fazenda Monte Claros e da

Fazenda Monte Santo (ambas com rede elétrica);

- Equipar a Unidade com mais dois veículos tracionados visando otimizar a

segurança;

- Reativação da ponte que liga a antiga Fazenda Peroba à Fazenda Vaca

Branca, buscando facilitar a fiscalização da porção Sul do Parque. (CESP)

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6.RESULTADOS

Até o mês de maio de 2004 foram entregues dez relatórios à Secretaria de

Meio Ambiente do estado de Mato Grosso do Sul para a elaboração do “Plano de

Manejo do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-MS”. No trabalho

coordenado com o apoio da CESP (Companhia de Energia Elétrica de São

Paulo), em conjunto com a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro),

Imap (Instituto de Meio Ambiente Pantanal) e FBDS (Fundação Brasileira para o

Desenvolvimento Sustentável) foram identificados aspectos da avifauna da

região, apontados dados científicos e estatísticos das peculiaridades do solo da

Bacia Hidrográfica, do clima e de toda a degradação sofrida antes e depois da

desapropriação do local. Em um dos documentos, identifica-se a seguinte citação:

... e reconhece que a conservação da natureza não é apenas uma questão de caráter de preservação natural em si, mas também de ordem econômica, social e política. A conservação da natureza passa a ser observada e analisada num viés social de proteção, uma vez que se reconhece como vital para a manutenção e melhoria da qualidade de vida das populações humanas (CESP, 2000-2003: 18).

A mobilização da sociedade pela própria sociedade exige uma

responsabilidade comum e inerente ao livre arbítrio para que se possa manter a

sociedade viva. A mídia de uma forma geral vem atropelando o bom senso e a

ética em detrimento ao sistema capitalista e ao mesmo tempo popular, no sentido

de vender uma idéia ao mercado consumista. O progresso não pode ser sinônimo

de ameaça. E é neste sentido que os meios de comunicação têm de educar a

comunidade divulgando as belezas, mas também a necessidade de se ter o belo

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por muitas gerações, mantidas as características primárias concebidas pela

natureza.

Diante da pesquisa a campo realizada e dos 13 relatórios elaborados pelas

universidades do Rio de Janeiro, UERJ e FBDS, em parceria com a

SEMA/IMAPE-MS pode-se relatar nesta etapa do trabalho que:

a) a área do Parque observada encontra-se abandonada quanto as

condições de infra-estrutura e de fiscalização, e apresenta um lento

processo de recuperação de seu ecossistema. A afirmação pode ser

feita com base nos depoimentos colhidos com o funcionário do Parque

Arnaldo Fogaça e o único morador nos pesqueiros do Parque Francisco

Fogaça, responsáveis pelo monitoramento do local, além dos

pescadores, colhidos durante os quatro dias de pesquisa a campo na

região, onde alegaram desconhecer que a área do Parque é de

preservação ambiental, portanto imprópria para caça e pesca ou

quaisquer tipo de extração da natureza;

b) a mídia não está valorando e nem noticiando os problemas causados

pela ação antrópica do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema, após

sua criação, constatando a necessidade de maior envolvimento da área

de Comunicação Social do estado em relação a questão ambiental.

Enquanto se explora as belezas e a preservação de regiões de potencial

turístico inquestionável como as cidades de Bonito, Jardim, Rio Verde e

a região do Pantanal Sul-mato-grossense, principalmente ressaltando o

assoreamento do Taquari, deixa de lado outras regiões de igual ou maior

potencial turístico como o Parque, que retrata uma beleza diversa que

tende a desaparecer ou consumir-se pela falta do cumprimento da

legislação ambiental;

c) a caça e pesca indiscriminada ainda existem na área de observação

(Parque), muito embora seja uma APA;

d) urge que a mídia acompanhe os problemas ambientais do local

estudado, cumprindo sua função em benefício do ambiente.

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7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Efetivação do Plano de Manejo

A conquista plena do conceito de Unidade de Conservação pelo Parque

Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema e todas suas implicações (manutenção,

conservação, desenvolvimento sustentável, uso do potencial científico, histórico e

cultural pelas gerações futuras) passa pelo cumprimento de etapas primordiais da

legislação, sendo a principal delas a elaboração de um Plano de Manejo,

conforme determina o artigo 3º do Decreto-lei nº 9.278, de 17 de dezembro de

1998.

a) O atraso na entrega dos Relatórios elaborados pela CESP e suas graves conseqüências

De acordo com a legislação, a elaboração do Plano de Manejo, prevista

para realizar-se no prazo regulamentar de três anos, é de competência da

Secretaria de Estado de Meio Ambiente, através da Fundação Estadual de Meio

Ambiente – Pantanal, com base em fundamentação técnica a ser repassada pela

Companhia Energética de São Paulo (CESP). Porém, somente nos primeiros

meses de 2004, cumprindo acordo firmado com o governo do Estado de Mato

Grosso do Sul, através da Secretaria de Meio Ambiente, a empresa entregou o

restante dos 13 relatórios elaborados, de acordo com pesquisas realizadas por

técnicos e doutores de universidades do Rio de Janeiro e do Paraná, traçando um

mapeamento minucioso e detalhado da flora, fauna, relevo e toda a geomorfologia

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que envolvem a manutenção da vida dentro do Parque.

- De posse destes dados, a SEMA promoveu no dia 21 de maio de 2004

uma oficina para a discussão do Plano de Manejo do Parque Estadual das

Várzeas do rio Ivinhema, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, em

Campo Grande, onde estiveram presentes 40 pessoas da comunidade científica e

órgãos governamentais que decidiram lançar propostas de manejo e zoneamento

para o Parque, incluindo recuperação da mata ciliar e um amplo trabalho de

educação ambiental, visando reduzir os problemas a médio e longo prazo. No

entanto, transcorridos quase seis anos da criação da primeira UC de Mato Grosso

do Sul, o documento norteador para que oficialmente seja realizado, cumprido e

cobrado pela população providências cabíveis, está demorando o dobro do tempo

então estipulado por lei, para que o Plano de Manejo seja elaborado. O Parque

Estadual das Várzeas do Ivinhema permanece resumido a uma área de 73 mil

hectares, sujeito a toda espécie de degradação e ação antrópica.

- Elaborado o Plano de Manejo, é de fundamental importância à criação e

estruturação de um sistema gestor compartilhado para as Unidades de

Conservação Estaduais, fiscalizado pelo Estado e gerido pelos municípios

beneficiados com o repasse do ICMS Ecológico, para que haja fonte de recursos

contínua e prestação de contas, para o cumprimento das sugestões constantes

no último relatório da CESP, transcritas nesta pesquisa como “Programas,

Propostas e Sub-propostas” prontamente enumeradas pelos pesquisadores após

vistoria minuciosa na área em questão.(Programa de Operacionalização, CESP,

2004: 62).

- Apesar da longa espera, o Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema

necessita de fiscalização efetiva através de rondas constantes por água e terra,

dentro e fora da área já totalmente desocupada. Sem isso, a depredação nos 45

pesqueiros abandonados vai continuar, a caça e a pesca predatória tendem a

aumentar pela impunidade existente e o Parque pode sucumbir no anonimato por

só aparecer na mídia na época em que alguma queimada foge do controle e

ameaça pastagens de fazendas vizinhas. (Sugestão de Programas e Projetos de

Manejo, CESP, 2004: 58).

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b) Com base na diretriz do Plano de Manejo do Parque a mídia cumpre sua missão.

A presença de uma equipe de filmagem e máquinas fotográficas na região

inibe a ação de degradação, tal qual um barco do IBAMA. As pessoas têm medo

de serem flagradas realizando atividades ilícitas contra o ambiente. Durante os

dias de trabalho a campo em que pudemos subir e descer os rios Ivinhema e

Paraná antes de amanhecer ou no final da tarde, cada nova embarcação que nos

encontrava pelo caminho diminuía a velocidade, os ocupantes nos

cumprimentavam cientes da importância da nossa presença no Parque. A visita

não parecia convencional pela reação causada. O trabalho passou a ser uma

caça implacável a aqueles que estavam colocando linhadas no rio, pescando nos

lagos e caçando as indefesas capivaras que se reúnem nas margens dos rios

Ivinhema e Paraná para se refrescarem do calor intenso.

Apesar da população que reside na região não ter formação específica na

área ambiental é curioso constatar a consciência de preservação e o amor

verdadeiro que sentem pelo local onde moram ou já viveram, hoje cheio de regras

e limites legais. O excesso de degradação acabou transformando-os em fiscais

voluntários pela sobrevivência de uma área que há décadas é garantia de

sustento e tranqüilidade.

Através de um trabalho contínuo com apresentação de palestras, slides,

vídeos e divulgação de folder em eventos especiais realizados nas escolas nos

quatro municípios onde está localizado o Parque, têm início um importante

trabalho midiático com direcionamento publicitário e jornalístico, garantindo

mesmo peso e medida para as exuberâncias e para os problemas da região. Um

alerta importante, que de modo simplista deve transmitir a seguinte mensagem:

“Hoje ainda podemos encontrar isso, mas senão reagirmos contra a destruição,

não encontraremos mais nada que possa nos orgulhar em nossa região para

exibirmos ao mundo com orgulho de quem nasce, cresce e sabe usufruir de um

bem maior oferecido gratuitamente pela natureza”. Mas para que isso ocorra é

preciso que haja abertura da mídia e novas perspectivas para participação da

comunidade. (Sub-Programa de Educação Ambiental / Propostas, CESP, 2004:

60,61).

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72

c)Derrubar regras e constituir novos valores

É inegável que a imprensa brasileira, quando se trata do ambiente, tem

dado maior destaque às denúncias e à abordagem política, privilegiando as fontes

oficiais – em detrimento das abordagens sociais, econômicas e, principalmente,

científicas, e das fontes oriundas destas comunidades.

Com freqüência, a mídia não utiliza o mesmo peso e a mesma medida para

a elaboração de uma reportagem isenta, pelo menos quando o assunto em pauta

é a natureza. Mobilizar antes de tudo é expor, mostrar, deixar claro. Só a partir daí

começam a ser formar os juízos, opiniões positivas e negativas sobre

determinado sub-tema gerado pelo assunto principal: Preservação.

Não importa que a mobilização venha a passos lentos, o que importa é que

alguém dê o primeiro passo para conquistar novos e fiéis adeptos com o mesmo

objetivo – salvar, recuperar, semear. A mobilização social ideal deveria ser

voluntária, atenta, silenciosa e em busca de soluções, basta apenas ter a

sensibilidade para uma mobilização como tanto clamam os autores em teoria.

O Parque vem sendo monitorado e pesquisado nos últimos três anos,

ininterruptamente, através de imagens e coleta de dados, mas poucas pessoas

sabem o que o Parque oferece, além de ser a região muito suscetível às

queimadas, forma que vem sendo divulgado enfaticamente pela mídia. É preciso

levar estas pesquisas aos meios de comunicação e “oferecer” o assunto. Fazer

com que pelo menos um deles volte sua atenção às imagens, fotos e dados

arrecadados por tão importantes e completos relatórios descritivos da região.

A mídia depende de novidades, que são imediatamente reproduzidas por

outros veículos de informação. Assim, os fatos perdem o seu caráter de inédito e

ocupam o centro das discussões nos mais diferentes segmentos da sociedade.

Então, é imprescindível e de fundamental importância o papel desempenhado

pela mídia na conservação ambiental, como bem evidencia esta pesquisa que

realizamos no Parque Estadual das Várzeas de Ivinhema-MS.

No estado de Mato Grosso do Sul ocorreu a criação de diversas áreas de

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proteção, entre estas, o Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema. Apesar de

ter sido criado através de decreto, há cinco anos, o Parque ainda não dispõe de

um Plano de Manejo nem de infra-estrutura para atender visitantes freqüentes,

além de contar com um sistema quase inexistente de fiscalização.

A desocupação dos pesqueiros e ressarcimento dos proprietários em 2002

não garantiram o término do uso inadequado da área. Apenas limitou formalmente

o acesso dos pescadores e caçadores a ancorarem suas embarcações e

pernoitarem no Parque, mas não as visitas constantes aos locais proibidos em

busca de caça e pesca.

Faz-se necessário a adoção de determinadas posturas dos órgãos

públicos, no sentido de que possam viabilizar a revitalização esperada. Diante da

pesquisa realizada entre 2002/2004, pode-se afirmar que é preciso mais do que

uma intervenção técnica no Parque, um trabalho progressivo de conscientização

e mudança de valores culturais. Recomenda-se cuidados no estabelecimento de

elos de comunicação que sejam eficazes para mobilizar a população e promover

mudança de valores e comportamento, tais como: a interrupção permanente da

queimada nas áreas de pastagem, a construção de aceiros para dificultar a

disseminação do fogo, o reflorestamento nas barrancas assoreadas, aquisição de

barcos, armas e materiais necessários para promover uma fiscalização intensa,

implantação de placas sinalizadoras de acesso à área, assim como nas barrancas

e lagoas, o que seria indispensável na hora de punir os que alegam

desconhecimento sobre o local ser uma APA.

A tendência natural é que os resultados não sejam obtidos em curto prazo,

pois não se muda uma cultura com algumas palavras ou linhas, fotos ou imagens

cheias de efeitos. O mais importante é provocar questionamentos e conscientizar

o homem de seu potencial de destruição infinitamente maior do que a consciência

da necessidade de recuperar.

Diante da crescente degradação e falta de política efetiva de conservação

da fauna e flora no Parque, torna-se necessário colocar em pauta e evidência a

necessidade de se discutir e promover alternativas para modificar a situação hoje

existente. Há de se ressaltar antes de tudo a urgência de conscientizar a

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população da região sobre a importância social, política e turística do Parque, que

pode constituir, no futuro, mais uma fonte de renda aos municípios, gerando

riquezas e benefícios à comunidade local.

Até o dia 23 de setembro de 2004 foram entregues mais três relatórios pela

Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável, contratada pela CESP para

realizar levantamento da área do Parque, totalizando dezesseis fontes de

embasamento para a elaboração do Plano de Manejo. Nos relatórios recentes

constam banco de dados, programa de uso público e a delimitação da área em

seis zonas para a finalização do Plano de Manejo em estudo por técnicos da

SEMA/IMAP. com previsão de publicação para o primeiro semestre de 2005.

As seis zonas do Parque foram subdivididas em:

- Primitiva I com acesso permitido desde que haja um compromisso de

preservação;

- Primitiva II com permissão de acesso mais restrito de acordo com normas

locais;

- Zona de uso extensivo permite o uso público perante fiscalização e

programa de monitoramento ambiental;

- Zona de Recuperação com acesso restrito;

- Zona de uso intensivo onde serão instalados equipamentos, centro de

visitantes, museu;

- Zona de uso especial que prevê a criação de sub-sedes dentro do

Parque.

Com esses novos dados o Plano de Manejo depende ainda de estudo e

revisão, e após publicado em Diário Oficial deverá ser revisado a cada cinco anos

de acordo com o SNUC para saber se é necessário implantar novas

modificações.

Em agosto de 2004 a Polícia Ambiental instalou uma sede no Parque com

efetivo de cinco policiais e quatro guardas em esquema permanente de

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revezamento, para dar início ao trabalho de fiscalização.

No início de setembro de 2004 a CESP depositou em juízo o valor

estabelecido para o pagamento da indenização de cinco por cento dos

proprietários de áreas dentro do Parque. Toda a documentação para a

transferência do domínio das terras do PEVRI para o estado de Mato Grosso do

Sul já está em tramite, o que deverá garantir a sua total desocupação5.

5 Informações prestadas pelo Gestor Ambiental do Parque: Leonardo Tostes Palma, funcionário do IMAP.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Teresina, a. 7, n. 105, 16 out. 2003. Disponível em:

<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4253>. Acesso em: 17 maio 2004.

BELTRÃO, L.; QUIRINO, N. O. Subsídios para uma teoria da comunicação de massa. São Paulo: Edgar Blacher, 1989. 119 p.

BRASIL. Constituição Federal do Brasil, artigo 158 de 5 de outubro de 1988.

Trata das repartições das receitas tributárias pertencentes aos municípios.

9. ed. São Paulo: Ícone, 208 p.

BRUM, Eron. O Pantanal que a mídia não mostra. PERUZZO, C. M. K. e

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2003. 296 p.

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COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DE SÃO PAULO (CESP). Plano de Manejo do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-MS. Relatórios

Técnicos. CESP: 2000/2003. 10 CD-ROMs.

DURKHEIN, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Abril Cultural,

1973. 98 p.

HENRIQUES, M. S. (Org.) Comunicação e estratégias de mobilização social. Belo Horizonte: Gênesis, 2002. 217 p.

HORKHEIMER. M. Eclipse da razão. Editorial Labor do Brasil. (s.l, s.d). 83 p.

IAP - INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, (1997). Plano de Manejo: Estação Ecológica de Caiuá, Diamante do Norte - PR. 53 p.

IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS

RENOVÁVEIS, (1997) "Roteiro Metodológico para o Planejamento de Unidades

de Conservação de Uso Indireto" (versão 3.0), 47 p.

Laudos do Instituto do Meio Ambiente de 17/03/2003, 30/10/2003, 22/12/2003,

19/02/2004 e 11/03/2004, disponíveis nos arquivos da Secretaria Estadual de

Meio Ambiente – SEMA.

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LINS, C. E. Muito além do jardim botânico. São Paulo: Summus, 1985. 179 p.

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1998. 139 p.

MANNHEIN, K. Ideologia e utopia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. 157 p.

MATO GROSSO DO SUL. Decreto Lei nº. 9.278, de 17 de dezembro de 1998.

Cria o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, e dá outras providências.

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Diário Oficial do Estado de Mato Grosso do Sul, Poder Executivo, Campo

Grande, MS, n. 4921, 18 de dezembro de 1999. Seção 1, ps. 02 e 03.

MELO, J. M. Comunicação, opinião, desenvolvimento. São Paulo: Vozes,

1971. 149 p.

MILARÉ, E. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São

Paulo: RT, 2000. 226 p.

PERUZZO, C. M. K.; ALMEIDA, F. F. Comunicação para a cidadania. 2003. 83

p. INTERCOM. UNEB, Salvador/São Paulo.

PETERSON, J.; RIVERS. Os meios de comunicação e a sociedade moderna.

Rio de Janeiro: GRD, 1966. 187 p.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TAQUARUSSU. Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-MS. Disponível em:

<http://www.assomasul.org.br/prefeitura%5Ctaquarussu/historia.asp>. Acesso em:

10 maio 2003.

RAMOS, L. F. A. Meio ambiente e meios de comunicação. São Paulo:

Annabblume, 1995. 159 p.

SANTOS, S. C. H. Direito Ambiental: unidades de conservação, limitações

administrativas. Curitiba: Juruá, 2000. 214 p.

SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE DE MATO GROSSO DO SUL

– SEMA. Plano de Manejo do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema.

Disponível em: <http:// www.sema.ms.gov.br>. Acesso em: 10 maio de 2003.

SILVA, L.L. (1996) “Programas de Manejo”, in: “Ecologia: Manejo de Áreas

Silvestres”, p. 134-147, Santa Maria: MMA, FNMA, FAETEC.

VAZQUEZ, A. S. Ética. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985. 267 p.

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ANEXOS

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ANEXO I

Questionário apresentado aos moradores e visitantes do Parque Estadual das várzeas do rio Ivinhema

1) Dados pessoais:

Local em que reside: ............................................................................................

Nome: ..................................................................................................................

Idade: (................)

Sexo: masculino [ ] feminino [ ]

Atividade profissional: ..........................................................................................

Escolaridade: ensino fundamental [ ] ensino médio [ ] ensino superior

[ ]

Pós-Graduação [ ] Outros: ......................................................

Renda familiar: .....................................................................................................

2) Como é o seu contato com a natureza?

[ ] preocupa-se com a conservação.

[ ] realiza campanhas ambientais quando solicitado.

[ ] realiza campanhas por iniciativa própria.

[ ] não se preocupa / indiferente.

[ ] outros. cite: ...................................................................................................

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3) Número de vezes que visitou o Parque (se visitante):

[ ] primeira vez [ ] quarta vez

[ ] segunda vez [ ] quinta vez

[ ] terceira vez [ ] mais vezes. Quantas?: .................................

4) Na sua opinião existe uma fiscalização eficaz contra

depredação do Parque?

[ ] sim [ ] não

5) Se a resposta acima for negativa, o que pode ser feito para

melhorar a fiscalização do Parque?

..............................................................................................................................

..............................................................................................................................

..............................................................................................................................

..............................................................................................................................

6) Apesar da falta de estrutura turística da região o que o atrai

no Parque? (se visitante):

[ ] caminhadas ecológicas [ ] pesca

[ ] lazer [ ] outros ...........................................................

7) Na região do Parque Estadual das Várzeas do Rio

Ivinhema, o meio ambiente em sua opinião é:

[ ] bem conservado [ ] conservado

[ ] não é conservado [ ] mal conservado

8) Na sua opinião, o que seria necessário para conservar as

belezas naturais do Parque Estadual das Várzeas do Rio

Ivinhema?

..............................................................................................................................

..............................................................................................................................

9) Que regiões próximas ao Parque também merecem ser

conservadas?

..............................................................................................................................

..............................................................................................................................

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10) Quais animais são vistos com freqüência na região?

..............................................................................................................................

..............................................................................................................................

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ANEXO II

Roteiro de entrevista com pescadores, o único morador e o único guarda do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema-Ms

1) Verificar as condições das áreas desocupadas dentro do Parque há quase

três anos, onde se localizavam os pesqueiros.

2) Verificar a existência de formas de fiscalização para que não haja utilização

inadequada da área de proteção ambiental onde está localizado o Parque

Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema.

3) Verificar a existência de associações que trabalham com a questão

ambiental e de que forma, se existirem, como são desenvolvidas estas

atividades.

4) Constatar a existência de atividades pesqueiras e se houver, de que forma

são realizadas.

5) Verificar com os moradores e visitantes do Parque se realmente há

consciência de preservação ambiental do local.

6) Verificar, com os moradores e visitantes, a expectativa da conclusão do

plano de manejo do Parque para que, depois de traçado o diagnóstico,

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possam ser realizadas as mudanças necessárias para a total preservação

do Parque.

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ANEXO III

Bloco 01

Dados Cadastrais

Nome do Coordenador do Projeto:

Formação Acadêmica:

Área de Conhecimento:

Instituição: Cargo:

Endereço:

Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|

DDD: Telefone:

Fax: E-mail:

Endereço Residencial:

Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|

Nome da Contrapartida Brasileira (este item deve ser preenchido quando o coordenador do projeto for estrangeiro): Formação Acadêmica:

Área de Conhecimento:

P A R Q U E E S T A D U A L D A S V A R Z E A S D O I V I N H E M A F O R M U L Á R I O P A R A L I C E N Ç A D E P E S Q U I S A C I E N T Í F I C A

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Instituição: Cargo:

Endereço:

Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|

DDD: Telefone:

Fax: E-mail:

Endereço Residencial:

Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - |___|___|___|

Número do processo CNPq ou título do Programa de Cooperação na Agência Brasileira de Cooperação:

Pesquisadores participantes do projeto e que terão acesso ao Parque

Nome:

Formação Acadêmica: Área de Conhecimento:

Instituição:

Endereço:

Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - | | | |

DDD: Telefone: Fax: E-mail:

Nome da Contrapartida Brasileira:

Formação Acadêmica: Área de Conhecimento:

Instituição:

Endereço:

Cidade: UF: País CEP: |___|___|___|___|___| - | | | |

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DDD: Telefone: Fax: E-mail:

Número do processo CNPQ ou título do Programa de Cooperação na Agência Brasileira de Cooperação:

Obs: Fazer cópias desta página caso necessário

Bloco 02

Descrição do Projeto

Título: Projeto PARNA S.dos Órgãos No:

Palavras-chave: Custo do Projeto Fontes Financiadoras:

Resumo do Projeto (objetivo, metodologia, resultados esperados):

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Contribuições Efetivas do Projeto para o Parque:

Identificar os locais de coleta dos dados na área do Parque (caso ainda não estejam definidos os locais de coleta, encaminhá-los posteriormente):

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Relacionar os prováveis impactos negativos do Projeto sobre os ecossistemas do Parque:

Duração do Projeto início |___|___| / |___|___| / |___|___| e término |___|___| / |___|___| / |___|___|

Cronograma Físico de Execução

ETAPAS

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

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Bloco 03 Previsão de Utilização de Instalações e outras Facilidades oferecidas pelo

PARQUE (especificar período e quantidade)

Alojamentos:

Sala de Reunião:

Auditório:

Estação Metereológica:

Equipamentos de Informática:

Apoio de Campo:

Outros:

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Bloco 04

A este Formulário deverá se Anexado

Projeto de Pesquisa

Curriculum Vitae do Coordenador do Projeto e dos demais pesquisadores participantes

Bloco 05

Declaração de Compromisso

Declaro cumprir as normas e regulamentos do Parque Nacional das Serras dos Órgãos quanto a realização de pesquisas científicas em sua área de abrangência.. Autorizo o PARNA S. dos Órgãos a utilizar o trabalho por mim realizado em benefício do próprio Parque. ___________________ _________________ ____________________________________ Local Data Assinatura

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ANEXO IV

DECRETO LEI N. 9.278, de 17 de dezembro de 1998 Publicado no Diário Oficial n. 4921 de 18 de dezembro de 1999 (página 02 e 03)

Cria o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, e dá outras providências O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, no uso de atribuições que lhe são conferidas pelo inciso VII do artigo 89, da Constituição do Estado e o disposto no inciso III do §1º do artigo 225, da Constituição Federal e ainda a alínea “a”, da Lei n.º 4.771, de 15 de Setembro de 1965 – Código Florestal e, CONSIDERANDO ser dever do Estado a proteção ao meio ambiente, a preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas naturais, a proteção de belezas cênicas e de espécies em perigo e as ameaçadas de extinção; CONSIDERANDO a inexistência no Estado de Unidades de Conservação que protejam as amostras representativas de seus biomas; CONSIDERANDO que as Várzeas e ecossistemas associados do Rio Ivinhema caracterizam-se como o último trecho livre e representativo desse ambiente, em território brasileiro, abrigando também fragmentos remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual do Domínio Atlântico, conforme Mapa de Vegetação do IBGE (1993) e que sua proteção se constitui como prioridade para a região, sendo inclusive recurso natural raro; CONSIDERANDO que a implantação de uma Unidade de Conservação neste Estado apresenta-se como elemento fundamental na atual política adotada pelo Governo, garantindo a esta e as futuras gerações a proteção dos recursos naturais existentes, DECRETA: Art. 1º Fica criado o Parque Estadual do Rio Ivinhema, com o objetivo de preservar a diversidade biológica, proteger o patrimônio natural e cultural da região, com sua flora, fauna, paisagens e demais recursos bióticos e abióticos associados, objetivando sua utilização para fins de pesquisa científica, recreação e educação ambiental em contato com a natureza. Art. 2º O Parque Estadual do Rio Ivinhema é constituído por uma área contínua, abrangendo os municípios de Taquarussu, Jatei e Naviraí com os seguintes limites: inicia-se no ponto 1, situado à margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Baia, coordenadas UTM – n 7.481.114,779/ e.260.877,246; segue pela margem direita do Rio Paraná à jusante por uma distância de 74.715,84m, até o ponto 2, situado à

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margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Ivinhema; segue pela margem esquerda do Rio Ivinhema à montante, por uma distância de 34.960,02m, até o ponto 3, situado à margem esquerda do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, por uma linha ideal de divisa com o rumo de 84°10’39’’NW, por uma distância de 11.659,48m, até o ponto 4; segue com o rumo de 09°23’11’’NW, por uma distância de 1.250,25m, até o ponto 5; segue com o rumo de 40°36’52’’NE, por uma distância de 853,92m, até o ponto 6; segue com o rumo de 25°59’45’’NE por uma distância de 2.751,51m, até o ponto 7; segue com o rumo de 23°27’41’’NE, por uma distância de 363,02m, até o ponto 8; segue com o rumo de 12°28’24’’NE, por uma distância de 1.888,58m, até o ponto 9; segue com o rumo de 08°14’24’’NE, por uma distância de 829,88m, até o ponto 10; segue com o rumo de 01°44’43’’NW, por uma distância de 1.958,03m, até o ponto 11;segue com o rumo de 29°51’40’’NW, por uma distância de 602,85m, até o ponto 12; segue com o rumo de 15°18’50’’NW, por uma distância de 1.522,79m, até o ponto 13; segue com o rumo de 17°53’33’’NW, por uma distância de 697,53m, até o ponto 14, situado à margem direita do Rio Curupaí; segue com o rumo de 81°11’56’’NE, por uma distância de 1.296,60m, até o ponto 15; segue com o rumo de 52°23’57’’NE, por uma distância de 1.700,30m, até o ponto 16; segue com o rumo de 35°33’38’’NE, por uma distância de 1.167,91m, até o ponto 17; segue com o rumo de 55°45’01’’NW, por uma distância de 1.912,68m, até o ponto 18; segue com o rumo 13°15’38’’NE, por uma distância de 5.035,48m, até o ponto 19; segue com o rumo de 03°57’27’’NW por uma distância de 1.072,15m, até o ponto 21; segue com o rumo de 09°00’54’’NE, por uma distância de 5.497,61m, até o ponto 22; segue com o rumo de 08°53’43’’NW, por uma distância de 5.637,68m, até o ponto 23, situado à margem direita do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Guiraí à jusante, por uma distância de 33.523,93m, até o ponto 24, situado à margem direita do Rio Ivinhema, na foz do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Ivinhema à jusante, por uma distância de 26.902,16m, até o ponto 25, situado à margem direita do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, com o rumo de 59°26’08’’SE, por uma distância de 180,91m, até o ponto 26, situado à margem direita do Canal de Araçatuba, que une os Rios Ivinhema e Curutuba; segue pela margem direita do Canal de Araçatuba, no sentido Rio Ivinhema – Rio Curutuba por uma distância de 15.346,10m, e pela margem direita do Rio Curutuba à jusante por uma distância de 9.425,66m até o ponto 27, situado à margem direita do Rio Baía, na foz do Rio Curutuba; segue pela margem direita do Rio Baía à jusante, por uma distância de 2.820,76m, até o ponto 1, onde teve início esta descrição, perfazendo uma superfície de 73.345,15 hectares. Art. 3º Compete a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, através da Fundação Estadual de Meio Ambiente Pantanal a administração do Parque, bem como promover a manutenção da zona de amortecimento do mesmo. Parágrafo Único – Fica estabelecido o prazo de 03 (três) anos para a elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Ivinhema, a cargo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, através da Fundação Estadual de Meio Ambiente – Pantanal. Art.4º Para atender às necessidades imediatas de administração e viabilizar a infra – estrutura de gerenciamento do Parque, fica a Fundação Estadual de Meio Ambiente – Pantanal autorizada a elaborar um Plano Emergencial no prazo de (seis) meses, da publicação deste Decreto; Art. 5º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.

Campo Grande, 17 de dezembro de 1998.

WILSON BARBOSA MARTINS Governador

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ANEXO V

DECRETO DE 17 DE DEZEMBRO DE 1998

Publicado no diário oficial n. 4921 de 18 de dezembro de 1999 (página 04) Declara de utilidade pública para fins de desapropriação as áreas e terras que indica e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 89, incisos VII e XXI da Constituição Estadual e com fundamento no Decreto- Lei N.º 3.365, de 21 de junho de 1941, na Lei n.º 4.132, de 10 de setembro de 1962. DECRETA: Art. 1º Ficam declaradas de utilidade pública, para fins de desapropriação pelo Estado de Mato Grosso do Sul, uma área de terra com 73.000 ha. ( setenta e três mil hectares), situada entre os meridianos, nos Municípios de Taquarussu, necessária a instalação do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, Art. 2º As áreas de terra de que trata o art. 1º, são compreendidas no interior do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema que inicia-se na margem na margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Baia, coordenadas UTM – n.º 7.481.114,779/ e 260.877,246; segue pela margem direita do Rio Paraná à jusante por uma distância de 74.715,84m, até o ponto 2, situado à margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Ivinhema; segue pela margem esquerda do Rio Ivinhema à montante, por uma distância de 34.960,02m, até o ponto 3, situado à margem esquerda do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, por uma linha ideal de divisa com o rumo de 84°10’39’’NW, por uma distância de 11.659,48m, até o ponto 4; segue com o rumo de 09°23’11’’NW, por uma distância de 1.250,25m, até o ponto 5; segue com o rumo de 40°36’52’’NE, por uma distância de 853,92m, até o ponto 6; segue com o rumo de 25°59’45’’NE por uma distância de 2.751,51m, até o ponto 7; segue com o rumo de 23°27’41’’NE, por uma distância de 363,02m, até o ponto 8; segue com o rumo de 12°28’24’’NE, por uma distância de 1.888,58m, até o ponto 9; segue com o rumo de 08°14’24’’NE, por uma distância de 829,88m, até o ponto 10; segue com o rumo de 01°44’43’’NW, por uma distância de 1.958,03m, até o ponto 11;segue com o rumo de 29°51’40’’NW, por uma distância de 602,85m, até o ponto 12; segue com o rumo de 15°18’50’’NW, por uma distância de 1.522,79m, até o ponto 13; segue com o rumo de

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17°53’33’’NW, por uma distância de 697,53m, até o ponto 14, situado à margem direita do Rio Curupaí; segue com o rumo de 81°11’56’’NE, por uma distância de 1.296,60m, até o ponto 15; segue com o rumo de 52°23’57’’NE, por uma distância de 1.700,30m, até o ponto 16; segue com o rumo de 35°33’38’’NE, por uma distância de 1.167,91m, até o ponto 17; segue com o rumo de 55°45’01’’NW, por uma distância de 1.912,68m, até o ponto 18; segue com o rumo 13°15’38’’NE, por uma distância de 5.035,48m, até o ponto 19; segue com o rumo de 03°57’27’’NW por uma distância de 1.072,15m, até o ponto 21; segue com o rumo de 09°00’54’’NE, por uma distância de 5.497,61m, até o ponto 22; segue com o rumo de 08°53’43’’NW, por uma distância de 5.637,68m, até o ponto 23, situado à margem direita do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Guiraí à jusante, por uma distância de 33.523,93m, até o ponto 24, situado à margem direita do Rio Ivinhema, na foz do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Ivinhema à jusante, por uma distância de 26.902,16m, até o ponto 25, situado à margem direita do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, com o rumo de 59°26’08’’SE, por uma distância de 180,91m, até o ponto 26, situado à margem direita do Canal de Araçatuba, que une os Rios Ivinhema e Curutuba; segue pela margem direita do Canal de Araçatuba, no sentido Rio Ivinhema – Rio Curutuba por uma distância de 15.346,10m, e pela margem direita do Rio Curutuba à jusante por uma distância de 9.425,66m até o ponto 27, situado à margem direita do Rio Baía, na foz do Rio Curutuba; segue pela margem direita do Rio Baía à jusante, por uma distância de 2.820,76m, até o ponto 1, onde teve início esta descrição, perfazendo uma superfície de 73.345,15 hectares. Art. 3º As áreas de terras descritas destina-se à implantação do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, objetivando a preservação de seus recursos ambientais. Art. 4º Fica a Procuradoria-Geral do Estado autorizada a proceder amigável ou judicialmente de que trata este Decreto, devendo as despesas ocorrerem por conta de recursos da Companhia Energética de São Paulo – CESP. Art. 5º Nos termos do art. 15 do Decreto-lei n.º 3.365, de 21 de junho de 1.941, modificado pela Lei n.º 2.786, de 21 de maio de 1.956, fica o expropriante autorizado a invocar caráter de urgência, para efeito de imediata imissão na posse das propriedades abrangidas por este Decreto. Art. 6º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.

Campo Grande, 17 de Dezembro de 1.998.

WILSON BARBOSA MARTINS Governador

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ANEXO VI

DECRETO DE 04 DE OUTUBRO DE 1999

Republica-se por incorreção. Publicado no diário oficial n. 5116 de 06 de outubro de 1999 (página 02 e 03)

Declara de utilidade pública para fins de desapropriação as áreas e terras que indica e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 89, incisos VII e XXI da Constituição Estadual e com fundamento no Decreto- Lei N.º 3.365, de 21 de junho de 1941, na Lei n.º 4.132, de 10 de setembro de 1962. DECRETA: Art. 1º Ficam declaradas de utilidade pública, para fins de desapropriação, as áreas de terra de propriedade particular, com as benfeitorias e servidões nelas existentes, situadas nos Municípios de Taquarussu, Jateí e Ivinhema. Art. 2º As áreas de terra de que trata o art. 1º, são compreendidas no interior do Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema que inicia- se na margem na margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Baia, coordenadas UTM – n.º 7.481.114,779/ e 260.877,246; segue pela margem direita do Rio Paraná à jusante por uma distância de 74.715,84m, até o ponto 2, situado à margem direita do Rio Paraná, na foz do Rio Ivinhema; segue pela margem esquerda do Rio Ivinhema à montante, por uma distância de 34.960,02m, até o ponto 3, situado à margem esquerda do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, por uma linha ideal de divisa com o rumo de 84°10’39’’NW, por uma distância de 11.659,48m, até o ponto 4; segue com o rumo de 09°23’11’’NW, por uma distância de 1.250,25m, até o ponto 5; segue com o rumo de 40°36’52’’NE, por uma distância de 853,92m, até o ponto 6; segue com o rumo de 25°59’45’’NE por uma distância de 2.751,51m, até o ponto 7; segue com o rumo de 23°27’41’’NE, por uma distância de 363,02m, até o ponto 8; segue com o rumo de 12°28’24’’NE, por uma distância de 1.888,58m, até o ponto 9; segue com o rumo de 08°14’24’’NE, por uma distância de 829,88m, até o ponto 10; segue com o rumo de 01°44’43’’NW, por uma distância de 1.958,03m, até o ponto 11;segue com o rumo de 29°51’40’’NW, por uma distância de 602,85m, até o ponto 12; segue com o rumo de

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15°18’50’’NW, por uma distância de 1.522,79m, até o ponto 13; segue com o rumo de 17°53’33’’NW, por uma distância de 697,53m, até o ponto 14, situado à margem direita do Rio Curupaí; segue com o rumo de 81°11’56’’NE, por uma distância de 1.296,60m, até o ponto 15; segue com o rumo de 52°23’57’’NE, por uma distância de 1.700,30m, até o ponto 16; segue com o rumo de 35°33’38’’NE, por uma distância de 1.167,91m, até o ponto 17; segue com o rumo de 55°45’01’’NW, por uma distância de 1.912,68m, até o ponto 18; segue com o rumo 13°15’38’’NE, por uma distância de 5.035,48m, até o ponto 19; segue com o rumo de 03°57’27’’NW por uma distância de 1.072,15m, até o ponto 21; segue com o rumo de 09°00’54’’NE, por uma distância de 5.497,61m, até o ponto 22; segue com o rumo de 08°53’43’’NW, por uma distância de 5.637,68m, até o ponto 23, situado à margem direita do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Guiraí à jusante, por uma distância de 33.523,93m, até o ponto 24, situado à margem direita do Rio Ivinhema, na foz do Rio Guiraí; segue pela margem direita do Rio Ivinhema à jusante, por uma distância de 26.902,16m, até o ponto 25, situado à margem direita do Rio Ivinhema; segue, atravessando o Rio Ivinhema, com o rumo de 59°26’08’’SE, por uma distância de 180,91m, até o ponto 26, situado à margem direita do Canal de Araçatuba, que une os Rios Ivinhema e Curutuba; segue pela margem direita do Canal de Araçatuba, no sentido Rio Ivinhema – Rio Curutuba por uma distância de 15.346,10m, e pela margem direita do Rio Curutuba à jusante por uma distância de 9.425,66m até o ponto 27, situado à margem direita do Rio Baía, na foz do Rio Curutuba; segue pela margem direita do Rio Baía à jusante, por uma distância de 2.820,76m, até o ponto 1, onde teve início esta descrição, perfazendo uma superfície de 73.345,15 hectares. Art. 3º As áreas de terras descritas destina-se à implantação do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, objetivando a preservação de seus recursos ambientais . Art. 4º Fica a CESP – COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO autorizada a promover a desapropriação das referidas áreas na forma da legislação vigente, em seu próprio nome, assumindo todos os ônus e encargos das referidas desapropriações amigáveis ou judiciais. Art. 5º Como as desapropriações serão feitas em seu próprio nome, deverá a CESP– COMPANHIA ENERGETICA DE SÃO PAULO na forma do acordo celebrado nos autos da Ação Civil Pública n.º 7696 e 3292, na Comarca de Anaurilândia, 76/96 e 188/96, da Comarca de Bataguaçu, 45/96, 173/96, 135/96 e 60/96, da Comarca de Brasilândia, 311/96 e 613/96, da Comarca de Três Lagoas, transferir o domínio dos imóveis desapropriados para o Estado de Mato Grosso do Sul, bem como as obras a serem executadas, mediante termo de entrega e recebimento. Art. 6º As desapropriações de que trata este Decreto, a serem promovidas pela CESP, serão necessariamente homologadas pelo TERRASUL – DEPARTAMENTO DE TERRAS E COLONIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL, antes do pagamento de sua indenização, em fase da necessidade de retificação dos domínios. Art. 7º Nos termos do art. 15 de Decreto-Lei n.º 3.365 de 21 de junho de 1941, modificado pela Lei n.º 2.786, de 21 de maio de 1956, fica o expropriante autorizado a invocar caráter de urgência, para efeito de imediata imissão na posse das propriedades abrangidas por este Decreto. Art. 8º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 9º Fica revogado o Decreto de 17 de dezembro de 1998 que declarou de utilidade pública para fins de desapropriação, as áreas de terras nele mencionadas, e demais disposições em contrário. Campo Grande, 4 de outubro de 1.999. JOSÉ ORCÍRIO MIRANDA DOS SANTOS Governador